40
VIRGiNIA BELlNOVSKI LI<;:A A ARTE ENQUANTO ESTETICA DA SENSIBILIDADE INFANTIL Monografia apresentacta Ao Centro de P6s-Graduac;ao, Pesquisa e Extensao, do Curso de Educag80 Infantil e Alfabetiz8gao da Universidade Tuiuti do Parana. ProF Orientadora: Ana Maria Macedo Lopes Escher. CURITIBA 2003 "

A ARTE ENQUANTO ESTETICA DA SENSIBILIDADE INFANTILtcconline.utp.br/media/tcc/2016/03/A-ARTE-ENQUANTO-ESTETICA-DA... · A ARTE ENQUANTO ESTETICA DA ... opresente estudo focaliza historicamente

  • Upload
    phamdat

  • View
    250

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

VIRGiNIA BELlNOVSKI LI<;:A

A ARTE ENQUANTO ESTETICA DA SENSIBILIDADE INFANTIL

Monografia apresentacta Ao Centro deP6s-Graduac;ao, Pesquisa e Extensao, doCurso de Educag80 Infantil eAlfabetiz8gao da Universidade Tuiuti doParana.ProF Orientadora: Ana Maria MacedoLopes Escher.

CURITIBA2003

"

"QUANDO CONSEGUIRMOS ACOMPANHAR A

CONSTRU(;AO DO PENSAMENTO DA CRIAN(;A EINEVITAVEL 0 SURGIMENTO DA PAIXAO POR ELAS.

POIS COMO E QUE SERES TAO PEQUEN05, EM IDADE E

TAMANHO, SAO CAPAZES DE ESTABELECER TANTAS

INTERLIGA(;OE5, COMPONDO, DECODIFICANDO UMA

IMPRESSIONANTE QUANTIDADE DE INFORMA(;OES ? "

MONIQUE DEHEINZELIN

III

SUMARIO

1. INTRODUCAO ..

......... V

.... 01

RESUMO .

2. HISTORIA DA ARTE .. ...06

3. A ARTE COMO BASE DA EDUCACAO INFANTIL 10

3.1 ESTETICA, SENSIBILIDADE E ARTE .. . 14

3.2 ARTE X VALORES CUL TURAIS: UMA COMBINAc;:Ao POSSiVEL

E PERFEITA .. ......................... 17

4. PRATICA PEDAGOGICA: UMA VlsAo ATRAVES DA

METODOLOGIA TRIANGULAR DE ANA MAE BARBOSA... . 19

5. ARTE ENQUANTO LlNGUAGEM .. .. 23

6. PROPOSTA DOS REFERENCIAIS CURRICULARES NACIONAIS

DE EDUCACAO INFANTIL: UMA REFLExAo A PARTIR DO

COTIDIANO DAS CRIANC;:AS DA EDUCAc;:Ao INFANTIL... .. 28

CONSIDERACOES FINAlS

REFERENCIAS .

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

...... 31

. 35

.... 36

IV

RESUMO

o presente estudo focaliza historicamente aspectos da arte e as influencias

culturais que ela safre na vida de crianC;8s na educa98.0 infantil, pais trabalhar com

propostas artisticas vai alem das confecgoes de lembrancinhas em sala de aula,

onde S8 faz necessario desmistificar tal 8g80, resgatando a Arte en quanta produc;ao

social e cultural.

A criant;a exprime em sua arte 0 seu modo - e 0 faz pel os seus proprios

modos - e faz 0 melhor, dentro de sua capacidade. Nao S8 deve entao, esquecer

que 0 estfmulo para criar mais e dar flexibilidade a produC;80 artistica nao surge do

produto artistico em si, mas sim de urna sensibilidade crescente a experiencias e

vivEmcias.Cultivar esta sensibilidade e urna das tarefas mais importantes na edUC8gaO

do indivfduo. A melhor motiva9ao que poderemos proporcionar e, justamente, deixar

para a crianga tudo aquilo que ela deseja expressar, da maneira como preferir faze-

10. E essa expressao nao tem 0 objetivo de fazer artistas, mas deve constituir-se em

fator importante no desenvolvimento infantil, independente daquilo que

convencionalmente julgamos como "bonito ou feio", "certo ou errado" pois como

sabemos a crianga e essencialmente criadora.

v

1. INTRODUc;:Ao

Oesde sua forma mais primitiva a atitude de apreensao da realidade tern par

finalidade estreitar os lacros que unem 0 homem ao universo que 0 cerea,

acompanhando continuamente a mudan~a de ambos. No desenvolvimento deste

processo, revelaram-se ao homem, diferentes dimens6es de sua atua9ilo e

existencia, dentre elas sua relac;ao com a beleza, a arte e a estatica. Para Sanchez

Vasquez "estetica e a ciencia de urn modo especiflco de apropriaq8o da reafidade,

vincufando a outros modos de apropriaq8o humana do mundo e com as condiqoes

hist6ricas, sociais e cufturais em que ocorre."(1999, pA7).

Mas ao considerar a atitude estatica como uma maneira de ver 0 mundo e

suas contingencias, 80 inves de segmentar as limites entre obras de arte, produto

estetica e cotidiano, e necessaria propor uma maneira de S8 enxergar para ah~m da

superficie, contemplando estes conceitos nao apenas como fatores isolados, mas

como a propria associayao em rede que os configura.

Presenciamos no final do seculo XX um marco significativo de busca, no

contexte educativo, de tentativas de estender e ampliar a educayao a todas as

dimens6es humanas, sem subestimar nenhuma delas. Sendo entao a arte uma

linguagem universal, logo desempenha um papal importante em todo 0 tipo de

ensino; por outro lado, e um meio pelo qual se desenvolve a com preen sao mutua

entre os povos.

Oesde 0 inicio da hist6ria da humanidade, a arte tern sido uma pratica e uma

realidade em todas as manifastar;(6es culturais. Alias, como n6s conhecemos certas

culturas, se nao atrav8s das suas manifestayoes artisticas? Pois segundo Fusari a tJ

arte e uma das mais inquietantes e eloqOentes produqaes do homem". (FUSARI,

1993: 99).

Tanto a ciencia quanta a arte, respondem a essa necessidade atrav8S da

construC;c30 de objetos de conhecimento que, junta mente com as relac;oes sociais,

politicas e economicas, sistemas filos6ficos e eticos, formam 0 conjunto de

manifestat;oes simb61icas de uma determinada cultura.

Ci€mcia e arte sao, assim, produtos que expressam as representac;6es

imaginarias das distintas culturas, que S8 renovam atrav8S dos tempos, construindo

o percurso da historia humana. Sendo assim S8 faz necessaria quebrar a ideia de

que a ciemcia como disciplina aut6noma, distinta da arte e produto recente da

cultura ocidental e a que torna a aprendizagem significativa e que gerou uma

concepg8o ilusoria, segundo qual a ciencia seria produto do pensamento racional e

a arte, pura sensibiHdade. "A arte e representag80 do mundo cultural com

significado, imaginac;ao; e interpretac;ao, e conhecimento do mundo, e tambem,

express80 dos sentimentos, da energia interna, da efus80 que se expressa, que se

manifesta, que se simboliza. A arte e movimento na dialetica da relayao homem-

mundo" (FUSARI, 1993: 19). Portanto, a educac;ao em arte tern a necessidade de

ser entendida enquanto algo que propicia 0 desenvolvimento do pensamento

artistico e da percep980 estatica, que caracterizam um modo proprio de ordenar e

dar senti do a experiencia humana resgatando a sensibilidade, a percepg80 e a

imaginag8o, tanto ao realizar formas artisticas quanto na ac;ao de apreciar e

conhecer as formas produzidas por ele e pelos colegas, pel a natureza e nas

diferentes culturas, de forma a responder as necessidades de desenvolvimento da

personalidade da crianya e do adolescente, sensibilizando-os para os valores

estaticos.

Malba Tahan, um dos mais importantes educadores brasileiros no campo da

matematica, disse, no inicio da decada de trinta, que a solul'ao de um problema

matematico e um verdadeiro poema de beleza e simplicidade. Para um cientista,

uma formula pode ser "bela"; para um artista plastico, as relat;6es entre a luz e as

formas sao "problemas a serem resolvidos plasticamente". Parece que ha muito

mais coisas em comum entre estas duas formas de conhecimento do que sonha

nossa va filosofia.

Esta discussao interessa particularmente ao campo da educac;ao, que

manifesta uma necessidade urgente de formular novas paradigmas que evitem a

oposir;,aoentre arte e ciencia, para fazer frente as transformac;oespoliticas, sociais e

tecno-cientificas que anunciam 0 ser humano do SEkulaXXI.

Atualmente vivemos uma fragilidade muito grande em relar;,ao a educac;ao

pois, a vida de hoje e extremamente fragmentada. Em tres minutos de TV podemos

ver um seqOestro internacional, 0 roubo na cidade, a creme que devo comprar, a

guerra, a emot;ao do flash da novela au do filme que passara logo mais. E assim

desaprendemos a ver... Segundo Manuel Moran, "as meios de comunicac;ao,

principalmente as audio-video-graficos, desenvolvem formas sofisticadas de

comunica.yao sensorial, multidimensional, de superposi.yao de linguagens e

mensagens que facilitam a aprendizagem e condicionam outras formas e espac;os

de comunicac;ao"(1993:30), conseguindo assim a alienac;ao das pessoas, sem

questionamentos, frente a este valor moral e estetico que se e transmitido como

unica verdade.

Assim, 0 perceber e a registrar as impressoes sabre a mundo se dao num

processa continuo que vai se modificando na medida que as crian9as tern contata

com as diferentes linguagens, materiais expressivas, intervenc;oesdos adultas e de

outras crianc;as. Para que este processo seja desencadeado, tenha significado para

as criangas e possibilite leituras e expressoes sobre 0 mundo, sao necessarias

intervengoes pedag6gicas desafiadoras.

Cada vez mais a verdadeiro educador a chamado a responsabilidade da

verdadeira educagao buscando a relagao - aprender a aprender, buscando desafios

pois alam da aprendizagem pelos sentidos, podemos sim, estimular as nossas

crian<;:asatraves do que Forquin chama de alfabetizaqao cultural, envolvendo

Hist6ria da Arte e a Apreciar;:80:

-... 0 papel das atividades esteticas na aprendizagem domeio ambiente consiste em dar ~nfase aos aspectos ma;sdire/amente sensoriais e senslveis: ensinar as crian~as,atraves de exercicios sistematicos de varia~Oes deestimulos, por exemplo, a perceberem as aparencias comoaquilo que sao, e ni§o como indicadores com vistas acomporlamentos utifitarios. Isto porque em nossa percepr;i§ocomum costumamos perceber mal, muito depressa, muitosuperficialmente..." (1982: 28)

A importancia atribuida pela reforma educativa a educa980 estatica e artistica

na educag80 infantil, vern acentuar a idei8 de que estas desempenham urn papel

irnportante no desenvolvimento e forma98o integral dos individuos, nomeadamente

no desenvolvimento das suas capacidades afetivas, ludicas, expressivas e

cognitivas, contribuindo como componentes importantes da forma98o pessoal e

social do individuo. Pelo entrecTUzamento cada vez maior das diferentes areas do

conhecimento humano com 0 que se define atualmente por arte, a estrutura

normativa do ensino se torna par demais rigida, direcionado seu foco a um campo

cada vez mais restrito. A melhor forma de observar e acreditar que ela pode ser urn

diferencial metodol6gico no curricula infantil, tao consciente quanta qualquer outra

disciplina, a indicar como as manifestar;:oes artisticas estao presentes no cotidiano.

Como a arte esta tambem nas ruas, vitrines, roupas, fachadas das casas ate

aquelas manifesta90es que resultam dos avan90s tecnol6gicos.

Como bern relata Herbert Read, em seu livro "Arte e Socledade" referindo-se

a arte como expressao e forma de conhecimento enquanto construc;ao humana.

Segundo este autor, a arte deve ser reconhecida como a mais segura das

formas de expressao que a humanidade ja conseguiu criar e como tal e que ela vern

propagado desde a aurora da civilizay8o. Em todas as epocas 0 homem tem feito

coisas para seu uso e tem adotado milhares de ocupa¢es exigidas por sua luta pela

vida. Tem sido interminavel sua luta pelo poder, pelo lazer e pela felicidade. Criou

Hnguas e sfmbolos e acumulou impressionante acervo de saber; nunca se

esgotaram seu engenho e sua capacidade inventiva.

E essencial reconhecermos a arte na Educayao Infantil como uma linguagem

que tern estrutura e caracterfsticas proprias que possibilita a crianc;a, no processo de

criac;ao, reformular suas ideias e construir novos conhecimentos em situac;oes onde

a imaginac;ao, a ayao, a sensibilidade, a percepc;ao, 0 pensamento e a cognic;ao sao

reativados.

2. HISTORICO DA ARTE

Desde a inicio da historia da humanidade, a arte tern sido urna pratica e urna

realidade em todas as manifestag6es culturais. Alias, como conhecemos nos, certas

culturas, S8 nao atraves das suas manifesta96es artfsticas?

A arte como base da educa~ilo foi a tese defendida por Read. em 1954,

atravss da sua obra "Educa~ilo pela Arte", que tinha como base de sua idsia a

existemcia da arte nao como urna meta da educ8gao, mas sim como seu pr6prio

processo, considerado tambem criador.

Ja Schiller, no ssculo XVIII, chamou a aten~ilo para a importilncia de uma

educac;ao estatica para a Educac;ao da Humanidade.

Os avangos cientificos fornecidos pel a psicologia evolutiva proporcionaram apedagogia urn conhecimento mais aprofundado do comportamento da crianc;a e do

adolescente. Consequentemente, estes avangos vieram contribuir tambem para dar

particular atengEio aos metodos de ensina, tendo em conta 0 desenvolvimento da

crianga.

Ao recuperar mesmo que, brevemente, a historia do ens ina de Arte no Brasil,

pode-s8 observar a integrac;:aa de diferentes arienta90es quanta as suas finalidades,

a farmac;aa e atuaC;8a das professores, mas, principalmente, quanta as paliticas

educacio.nais e os enfoques filosoficos, pedagogicos e esteticos.

o ensina de arte e identificado pel a visao humanista e filosofica que

demarcou as tendencias tradicionalista e escolanovista. Embara ambas se

contrapanham em propasic;Oes, metodos e entendimenta dos papeis do professor e

do aluno, ficam evidentes as influencias que exerceram nas ac;oes escolares de

Artes. Essas tendencias vigoraram desde a inicio do seculo e ainda hoje participam

das escolhas pedag6gicas e estaticas de professores de Arte.

Na primeira metade do saculo XX, as disciplinas Desenho, Trabalhos

Manuais, Musica e Canto Orfe6nico faziam parte dos programas das escolas

primarias e secundarias, concentrando 0 conhecimento na transmissao de pad roes e

modelos das culturas predominantes. Na escola tradicional, valorizavam-se

principalmente as habilidades manuais, os udons artisticos", as habitos de

organizac;ao e precisao, mostrando ao mesmo tempo uma visao utilitarista e

imediatista da arte. Os professores trabalhavam com exercicios e modelos

convencionais selecionados par eles em manuais e livros didaticos. 0 ensino de arte

era voltado essencialmente para a dominio tecnico, mais centrado na figura do

professor; competia a ele "transmitir" aos alunos os c6digos, conceitos e categorias,

ligados a padroes esteticos que variavam de linguagem para linguagem mas que

tin ham em comum, sempre, a reprodugao de modelos. A questao central do ensino

de arte no Brasil diz respeito a urn enorme descompasso entre a produc;ao teorica,

que tem um trajeto de constantes perguntas e formulac;oes, e 0 acesso dos

professores a essa produ,ao, que a dificultado pela fragilidade de sua forma,ao,

pel a pequena quantidade de livros editados sobre 0 assunto, sem falar nas inumeras

vis6es preconcebidas que reduzem a atividade artistica na escola a um verniz de

superficie, que visa as comemorac;6es de datas civicas e enfeilar 0 cotidiano

escolar.

Em meio a todos estes contextos surge 0 movimento Arte-Educac;ao (na

dacada de 70) propondo uma a,ao educativa criadora, ativa e centrada no aluno,

visando novas metodologias de ensina e aprendizagem de arte nas instituic;6es

educacionais. Com a Lei N.· 5692f71 - LDB - foi criado 0 componente curricular ;0" .',J,/. /~I"~ ~

•~ t'\[\tlOTEC~ ::,\~ •••,••••~,•.•••Ih",~\

Educa,8o Artistica - ande se abardaria canteudos de musica, teatro, dan98 e artes

plasticas, porem com a figura de urn unico professor que deveria abordar e dominar

tadas estas linguagens, alga impassive I de acantecer, comprometendo 0 ensino da

Arte.

Felizmente, mudan9as come9am a ser pensadas ao final do ssculo XX com

as diretrizes e referenciais curriculares no ambito da Educa~ao Infantil que tanta

necessidade tern de ser observada pais segundo Fusari, "a educBqBo atraves da

arte e, na verdade, urn movimento educativo e cultural que busca a constituiq8o de

um ser humane completo, total, dentm dos moldes do pensamento ideafista e

democratico" (1993: 15).

A nova e alual Lei de Diretrizes e Bases de N.o 9394/96 estabelece em seu

artigo 26, paragrafo 2°.: 0 ensina da arts constituira componente curricular

obrigat6rio, nos diversos niveis da Educac;ao basica, de forma a promover a

desenvolvimento cultural dos alunos", e as parametros curriculares de Arts

reverencia ao seguinte aspecto: "Sao caracteristicas desse novo marco curricular as

reivindicac;oes de identificar a area par arte (e nae ma;s per Educac;ae Artistica) e

de inclui-Ia na estrutura curricular como area cern centeudos proprios ligados a

cultura artistica, e nao apenas como atividade"

Assim, cada vez mais temos a certeza de que a arte e importante na escola,

principal mente porque ela e importante fora dela. Per ser um conhecimento

construido pelo homem atraves dos tempos, a arte e urn patrimonio cultural da

humanidade e todo ser humano tem direito ao acesso a esse saber. Tratar pois, a

arte como conhecimento e ponto fundamental e condiC;ao indispensavel para esse

enfoque no ensino de arte, que vem sendo trabalhado ha anos nas instituigoes

escolares. Ensinar arte significa articular tres campos conceituais: a

criayao/produ<;ao, a percep~o/am3Iise e 0 conhecimento da produyao artistico-

estetica da humanidade, ccmpreendendo-a historica e cultural mente.

Apesar de todas estas tentativas e lutas ainda e possivel encontrar a arte, no

meio educacional, de modo insuficiente aos seus principios basicos que deviam

indicar para uma articulac;:aodo fazer, do representar e do exprimir.

Segundo Fusari (1993), 0 conceito de arte abrange 0 homem como um ser ao

"todo" e coletivo, que mantem rela<;6escom seus semelhantes e expressa-se para

eles e por elas dentro de seu conhecimento de vida, fazendo com que a mesma

adquira mudan<;ase transforma<;6esno decorrer dessa rela~o do homem para com

seu mundo, pois

... a arte e representar;ao do mundo cultural com significado,imaginat;ao; e interpretar;ao, e conhecimento do mundo, etamMm, expressao dos sentimentos, da energia interna, daefus30 que se expressa, que se manifesta, que sesimbo/iza. A arte e movimento na dialetica da relar;30homem-mundo. (FUSARI, 1993: 19).

Pensar arte entao, e pensar que ela deve visar urn trabalho em torno do

desenvolvimento da imaginagao criadora, da expressao, da sensibilidade e da

capacidade estetica das crian<;as,buscando uma maior conscientiza<;aopor parte de

todos nos, educadores, acerca do processo de cria<;ao em arte na Educa<;ao

Infantil.

10

3. A ARTE COMO BASE DA EDUCAI;AO INFANTIL

Precise; de foda urna exist{mcia para aprender a desenhar como as criam;as.

Pablo Picasso

Sabias sao as palavras de Picasso pois, a Arte S8 apresenta no cotidiano

infantil na forma de expresseo da sua viseD de mundo.

A linguagem da arte na educa,80 infantil tem um papel fundamental.

envolvendo as aspectos cognitivQs, sensiveis e culturais. Ate bern pouco tempo 0

aspecto cognitiv~ nao era considerado na a educ8g8o infantil e esta nao estava

integrada na educa,80 basica. A Lei de Diretrizes e Bases da Educa,80 9.394196

veiD garantir ests espa90 a educagao infantil, bern como 0 da arte neste contexto.

Para compreender a arte no espa90 da educ89ao infanti! no momenta atual,

mesma que brevemente, e preciso situar 0 panorama historico das decadas de 80 e

90. as referenciais que fundamentavam as praxis do profissional da educaC;8o

infantil eram os Cadernos de Atendimento ao Pre-escolar (1982). criados pelo

Ministerio da Educa,80 e Cultura - MEC. Os textos destes Cadernos para aquele

momenta historico tiveram contribuic;ao fundamental como subsidio para as ac;oes

dos educadores atuantes na educac;ao infanti1. Entretanto, vale ressaltar que pouco

priorizavam 0 conhecimento, centrando-se apenas nas questoes emocionais,

afetivas e pSicologicas e nas etapas evolutivas da crianc;a.

Com relac;ao a arte na educaC;8o, os pressupostos eram muito mais voltadas

a recreaC;80 do que as articula¢es com a arte, a cultura e a estetica. Como

exemplo, e possivel citar a enfase em exercicios bidimensionais que priarizava

desenhos e pinturas chapadas, au seja, os conceitos sobre arte resumiam-se a

II

simples tecnicas, elaboradas e aplicadas sem sentido e sem raZ80 de ser, pelo

simples ata de transmissao.

As reflex6es recentes sabre ensina de arte VaD no senti do de considera-Ia

como area de conhecimento e apontam para transformagoes nos seus fundamentos

(metodologia, objetivos, conteudos, papel do professora e avalia<;iio), relacionando-

as a organiz8g8o da escola em sua proposta curricular.

Como afirmam Ferraz e Fusari:

"Quando praticamos 0 ensino e aprendizagem da arte naesco/a surgem tambem queslOes que se referem aD seuprocesso educacionaf. Uma defas diz respeito aoposicionamenfo que assumimo5 sabre as modos deencaminhar esse trabalho em conson~ncia com as objetivosde um processo escolarizado que alenda as necessidadesde Gu/tura artistica no mundo contemporaneo". (1993:15)

o cantata da crian9a cam a arte desde seus primeiros anas e fundamental

para 0 desenvolvimenta da capacidade de criatividade e imagina9ao; e extrapolar.;:ao

de seus sentimentos e emogoes; entendendo aqui a arte como urn fen6meno social.

A presenga da Arte na educac;ao infantil apresenta um descompasso entre a

produ,ao te6rica existente e a pratica pedag6gica adotada par grande parte dos

educadores, para as quais as atividades desenvolvidas nas aulas de arte sao tidas

coma um passatempo, coma um enfeite para as datas comemorativas, sem

significar.;:ao para a crianga, par muitas vezes as adultos naa considerarem que a

crian9a tem campeteneia para elaborar um prod uta adequado.

Nao podemos nos esquecer do verdadeiro significado da arte na vida das

pessoas. Aa lango dos seculos, desde tempos muito anti gas, as homens tern

utilizado a desenho, a pintura, a escultura para se expressar e buscar conheeer a

munda que 0 eerea. Assim como os homens em sua hist6ria, as criangas tambem se

expressam e buseam conhecer a mundo atraves da arte.

12

Eo partanta necessaria entender que as Artes Plasticas saa linguagens que,

ainda que nao fay8 usa da palavra, possibilitam a comuniC898o, e atraves delas as

crianCY8s tambem exercitam 0 saber pensar e 0 saber fazer.

A educ8cyao em Arte propicia 0 desenvolvimento do pensamento artfstico e da

percepCY80 estetica, que caracterizam urn modo proprio de ordenar e dar sentido a

experiemcia humana: 0 aluno desenvolve sua sensibilidade, percepCY80 e

imaginac;ao, tanto ao realizar formas artisticas, quanta na 8980 de apreciar e

conhecer as formas produzidas par ele e pelos colegas. Pela natureza e pelas

diferentes culturas.

Uma sociedade 56 e artisticamente desenvolvida quando ao lado de uma

produc;ao artfstica, ha tambem a necessidade de entendimento dessa produc;ao pelo

publico. Precisamos entao, entender Arte, e na escola 0 Ensino de Arte deve levar

conhecimentos e formar individuos conhecedores de Arte.

Faz-se necessaria investigar a natureza da relacyaa estatica. A Arte como

conhecimento, expressao e trabalho criador. Em autras palavras 0 professor de Arte

precisa posicianar-se com cJareza sobre a dimensoes esteticas e artisticas que

devem conectar-se com a Educagao Escolar. Faz-se necessario que 0 professor

organize urn trabalho consciente e consistente, revertenda assim 0 processo atuai

de como e vista a Arte nas escoias, pais a Arte e livre, nao tern parametros a seguir

e, devemas descobri-Ia em tuda compreendendo como se da 0 processo de criagao

nas criangas e suas fases de desenvolvimento criador, para que possamos propiciar

a oportunidade a crian<;a de crescer por meio de suas experiencias artistica.

Entender a Arte como conhecimento, expressao e trabalho criador. Em outras

palavras a professor de Arte precisa posicionar-se com clareza sobre a dimensoes

esteticas e artisticas que devem conectar-se com a Educagao Escolar, organizar

13

entao urn trabalho consciente e consistente, revertendo assim 0 processo atual de

como e visto a Arte nas escolas, pais a Arte e livre e nao tern parametros a seguir, e

portanto, devemos descobri-Ia em tudo.

Urn dos maiores desafios neste momento e 0 de oportunizar ao aluno a

vivencia, 0 aprender a sentir a Arte e compreends-Ia na sua dimensao historica,

aprecia-Ia esteticamente, realize-Ia e refletir sabre ela com 0 espfrito critico.

I.

3.1 ESTETICA, SENSIBILIDADE E ARTE

A arte como forma de expressao permite desenvolver a sensibilidade estatica

e a criatividade.

No processo de conhecimento artistico, do qual faz parte a apreciac;:c3o

estetica, 0 canal privilegiado de compreensao e a qualidade da experiemcia sensivel

da percep<;ao. Diante de uma obra de arte, habilidades de percep<;ao, intui<;ao,

raciocinio e imaginac;ao atuam tanto no artista quanta no espectador. Mas e

inicialmente pelo canal da sensibilidade que S8 estabelece 0 cantata entre a pessoa

do artista e a do espectador, mediado peta percep<;iio estetica da obra de arte.

Entende-se que 0 processo de conhecimento advem de relac;oes

significativas, a partir da percepgao das qualidades de linhas, texturas, cores, sons,

movimentos, etc. Quando Guimaraes Rosa, na decada de noventa, escreveu:

"Nuvens, fiapos de sorvete de coco", criou uma forma artistica na qual a metafora,

uma maneira especial de utilizagao da linguagem, reuniu elementos que, na

realidade, estavam separados, mas se juntaram numa frase poetica pela agao

criadora do artista.

Nessa apreciayao estetica importa nao apenas 0 exercicio da habilidade

intelectiva mas, principalmente, que a leitor seja capaz de se deixar tocar

sensivelmente para poder perceber, per exemplo, as qualidades de peso, luz,

textura, densidade e cor contidas nas imagens de nuvens e fiapos de servete de

coco; ao mesmo tempo, a experiemcia que essa pessoa tern ou nao de observar

nuvens, de gostar ou nao de sorvete de coco, de saber ou nao 0 que e uma

metafora fazem ressoar as imagens do texto nas suas proprias imagens internas e

permitem que crie a significagao particular que 0 texto Ihe revela.

15

A significa9ao nao esta, portanto, na obra, mas na intera9ao complexa de

natureza primordialmente imaginativa entre a obra e 0 espectador. Van Gogh disse:

"Quere pintar em verde e vermelho as paix6es humanas". as dados da sensibilidade

S8 convertem em materia expressiva de tal maneira que configuram 0 proprio

conteudo da obra de arte: aquila que e percebido atraves dos sentidos S8 transforma

em uma construg8o feita de relag6es formais atrav8S da criag80 artistic8.

o motor que organiza esse conjunto e a sensibilidade: a emog8o (emovere

quer dizer 0 que S8 move) desencadeia 0 dinamismo criador do artista. A emoyao

que provoca 0 impacto no apreciador faz ressoar, dentro dele, a movimento que

desencadeia novas combinag6es significativas entre as suas imagens internas em

cantata com as imagens da obra de arte. Mas, a obra de arte nao e resultante

apenas da sensibilidade do artista, assim como a emo9llo estetica do espectador

nao the vem unicamente do sentimento que a obra susdta nele.

Na produ~o e apreciayao da arte estao presentes habilidades de relacionar e

solucionar quest6es pro pastas pel a organizac;ao dos elementos que comp6em as

formas artisticas: conhecer arte envolve a exercicio conjunto do pensamento, da

intuiyao, da sensibilidade e da imaginayao.

Para isso a educador necessita maior clareza de uma pratica pedag6gica e

ainda 0 dominio de uma metodologia de trabalho de modo a oferecer a maior

numero possivel de informay6es, para que a crian~ possa concretizar suas ay6es

com real senti do e assim poder proporcionar a desenvolvimento das sensibilidades,

percepyao, imaginayao intui9llo e um olhar estetico e reflexivo, de maneira

simultanea e integral como indicam as autoras Ferraz e Fusari:

o maior compromisso do professor e, pol1anto, adequar aseu trabalho para 0 desenvo/vimento das expresslJes epercepg6es infantis, que assim vao configurar-se emgrandes problemafizagOes do curso de Arte. Atraves destetrabalho com 0 aprimoramento das potenciafidades

16

perspectivas das crian~as, pode-se enriquecer suasexperiencias de conhecimento artistico e estelico, E isla seda quando elas sa orien/adas para observar, ver, Duvir,tocar, enfim perceber as coisas, a natureza e as objetos asua volta. (1993, p. 56).

E portanto, necessaria levar em conta que, a crian98 pequena esta livre de

preconceitos, disponivel para a vida e atenta para tudo 0 que possa ver e locar. Nao

importa que as formas choquem pela interpreta9ao, pel a cor ou pel a propon;ao: 0

essencial e que a 8980 educativa esteja assegurada movida pelo espirito da

curiosidade, do desafio e especial mente garantindo 0 aspecto ludico movido pelo

prazer do encantamento desde a mais tenra idade.

17

3.2 ARTE X VALORES CULTURAIS: UMA COMBINAC;;Ao PERFEITA

Paulo Freire (1986), trouxe uma nova forma de ver a educ8gao com a

possibilidade de que todos possam aprender, construindo juntos 0 conhecimento.

Com esta ideia, democratiza as relagoes entre professor e aluno e caloca 0 polo do

processo educativo na traca, no processo dial6gica, como chama, e nao no

professor autoritario de antes.

Uma fung80 igualmente importante que 0 ensina da arte tern a cumprir, diz

respeito a dimensao social das manifestagoes artfsticas. A arte de cada cultur8

revela a modo de perceber, sentir e articular significados e valores que governam os

diferentes tipos de relac;oes entre as indivfduos na sociedade.

Sentir, perceber, fantasiar, imaginar, representar, fazem parte do universe

infantil e acompanham 0 ser humane por toda a vida, por isso e tao importante

discutir e garantir que a arte faga parte do dia-a-dia das criangas mostrando que a

vivEmcia artistica, 0 aprender a sentir arte, compreende-Ia na sua dimensao hist6rica,

aprecia-Ia esteticamente, realiza-la e refletir sabre ela com espirito critico levando as

criangas 0 entendimento e 0 conhecimento da arte como parte integrante da nassa

cultura, e que ela e fundamental na educac;ao de um pais que se desenvolve

permeado por tantas desigualdades sociais.

Conhecendo a arte de outras culturas, 0 aluno podera compreender a

relatividade dos valores que estao enraizados nos seus mod os de pensar e agir, que

pode criar um campo de sentido para a valorizagao do que Ihe e pr6prio e favorecer

abertura a riqueza e a diversidade da imaginagao humana. Alem disso, torna-se

capaz de perceber sua realidade catidiana mais vivamente, reconhecendo objetos e

formas que estao a sua volta, no exercicio de uma observayao critica do que existe

18

na sua cultura, podendo criar condic;6es para urna qualidade de vida melhor e na

dimensao social conhecer e vivenciar as manifesta¢es artisticas. A arte de cada

cultur8 revela 0 modo de perceber, sentir e articular significados e valores que

governam os diferentes tipos de rela<;6es entre os individuos na sociedade.

A arte solicita a visao, a escuta e as demais sentidos como partas de entrada

para urna compreensao rna is significativa das quest6es sociais. Essa forma de

comunicac;ao e rc3pida e eficaz, pois atinge 0 interlocutor atraves de urna sintese

ausente na explica9aO dos fatos. E par este dentre outros que nao podemos

entender a cultura de urn pais sem conhecer sua Arte.

A Arte, como urna linguagem aguc;adora dos sentidos transmite significados

que nao podem ser transmitidos atraves de nenhum outro tipo de linguagem, tais

como a discursiva e a cientifica. Dentre as artes, as visuais, tendo a imagem como

materia-prima, tornam possivel a visualizac;ao de quem somas, onde estamos e

como sentimos. Como expressao pessoal e como cultura, e portanto urn importante

instrumento para a identificaC;8o cultural e 0 desenvolvimento individual.

Desconstruir para reconstruir, selecionar, reelaborar, partir do conhecido e

modifica-Io de acordo com a contexto e a necessidade, sao processos criadores

desenvolvidos pelo fazer ever Arte, fundamentais para a sobrevivencia no mundo

cotidiano.

Tudo isto vern confirmando que a Arte nao e apenas uma mercadoria como

querem os capitaHstas, nem quadro para pendurar na parede, como dizem com

menosprezo os preconceituosos que acham que Arte e urn luxe sem 0 qual urn pais

endividado como nosso pode passar muito bern.

19

4. PRATICA PEDAGOGICA: UMA VI SAO ATRAVES DA

METODOLOGIA TRIANGULAR DE ANA MAE BARBOSA

A arte sendo 0 produto mais especifico do homem e, provavelmente, sua

forma de expressao maior, a mais contundente. E quando 0 homem suplanta sua

condic;ao individual e temporal e consegue falar sabre seus antepassados a urn

futuro longinquo. E quando a homem torna-S8 humanidad8. Suas relac;:6es mais

simples, como urn instrumento de cac;a ou uma panel a para cozinhar, estao

impregnados de g85t05 e pensamentos, trazendo com slas, todas as vozes do

passado que persistiram par uma viagem ao tempo, reinventando-se em novo

contexte como objeto artistico para nos cantar sabre sua participac;ao na construr;ao

de uma historia.

o universe da arte caracteriza urn tipo particular de conhecimento que a ser

humane produz a partir das perguntas fundamentais que desde sempre se fez com

relagao ao seu lugar no mundo. E a expressao de representagoes imaginarias das

distintas culturas, que se renovam atraves dos tempos, na construgao do percurso

da hist6ria humana.

o conhecimento da arte abre portanto, perspectivas para que 0 aluno tenha

uma compreensao do mundo na qual a dimensao poetica esteja presente: a arte

ensina que e posslvel transformar continua mente a existencia, que e preciso mudar

referencias a cada momento, ser flexlvel. Isso quer dizer que criar e conhecer sao

indissociaveis e a flexibilidade e condigao fundamental para 0 aprender.

Como historicamente pode-se observar, a arte na educagao infantil possula

um perfil de recreagao e de desenvolvimento emotivo e motor. Hoje, a arte na

educayao infantil esta em processo de rupturas e transformayoes, exigindo das

20

polfticas educacionais, e um comprometimento com as aspectos cognitivos,

sensiveis e culturais.

Assim, a arte propoe novas formas de refletir sabre as rela~6es sociais. A arte

eo real; e uma forma de ser: e vida. E sobretudo uma linguagem especial, que fala e

ao mesma tempo aGulta e, sendo ela uma linguagem universal, logo desempenha

urn papel importante em todo a tipo de ensina; par Dutro [ado, e urn meio pelo qual

S8 desenvolve a com preen sao mutua entre as pavos.

Sendo assim a funC;8o do profissional em arte na educ8gao naD esimplesmente ministrar aulas fragmentadas de arte, mas, sobretudo de organizar urn

espa~o de cultura que possibilite a amplia<;iio das express6es e das linguagens da

crianga.

Aliado a todD este processo de mudanc;as com relageo a arte temas Dutro

fator como a industria cultural, que influencia a vida das pessoas. Sabe-se que a

vida de hoje e extremamente fragmentada. Em tres minutos de TV podemos ver um

sequestra internacional, 0 raubo na cidade, 0 creme que devo comprar, a guerra, a

emoyao do flash da novela ou do filme que passara logo mais. E assim

desaprendemos aver.. Segundo Manuel Moran, "os meios de comunicayao,

principal mente os audio-video-gn3ficos, desenvolvem formas sofisticadas de

comunicayao sensorial, multidimensional, de superposiyao de linguagens e

mensagens que facilitam a aprendizagem e condicionam outras formas e espayos

de comunicayao"(1993:30), conseguindo assim a alienayao das pessoas, sem

questionamentos, frente a este valor moral e estetico que se e transmitido como

unica verdade.

A melhor forma de observar e acreditar que a arte pode ser um diferencial

metodol6gico no curricula infantil, tao consciente quanta qualquer outra disciplina, e

21

indicar como as manifestac;oes arUsticas estao presentes no cotldiano bern como ter

a compreensiio de que as culturas do ensinar e a do aprender, estiio interligadas

como uma reuniao de processos que caracterizam a pratica pedag6gica nas artes e

tambem formam culturas.

Partindo do principia de que a Arte tem uma dimensiio formadora que va a

ser humane na sua totalidade, levanta-se a hip6tese de que processos educativos

nos quais a Arte (teatro, danC;8, artes plasticas) e contemplada e nos quais S8 supoe

a criac;ao de sensa¢es de carater estetico, carregados de vivencia pessoal, podem

contribuir para a constru9iio de valores (etica) e para uma rela9iio pedagogica que

conduza a aprendizagens significativas. Par isso S8 faz necessaria fazer usa da

Metodologia Triangular, interligando urn fazer artistico, a leitura de imagem e a

hist6ria da Arte, ou seja esta proposta S8 resume a tres vertentes que possibilitam

urn trabalho muito rico de compreensao e conhecimento desta area (artes) que e tao

importante para 0 desenvolvimento social, intelectual e cultural de nossa sociedade.

Os tres pontos essenciais proposto par Ana Mae Barbosa (1991) que pode

contribuir para 0 processo artfstico se resume em:

1°) relacionar a historia da arte numa contextualiza<;ao artistica;

2 0) fazer a leitura da imagem como relativizac;ao a interpretac;ao;

3 0) desenvolver 0 fazer artistico como procedimento criativo.

A historia da arte tern por objetivo a contextualizayao, 0 analise de obras

resgatando a sua historia, a do artista analisando sua vida, suas condic;6es

econ6micas e culturais, e tambem comparar obras deste mesmo artista,

contextualizando 0 mesmo e sua obra no meio socio-cultural, analisando toda uma

produ9iio artistica. Conhecendo a Historia da Arte a crian9a podera estabelecer

(/~"t;!) l~I~:lhH[LA .-11' ."-,-. ••~;,:!..'"

22

rela96es mais profundas com a produc;ao artistica e cultural em diferentes epocas e

sociedades, ampliando seu campo referencial.

A ieitura de imagens tem como fun9ao possibilitar a interpreta9ao de uma

obra. Perceber as farmas, as tecnicas usadas, as cores e tambem 0 que 0 artista

quis retratar na obra, enfatizando assim, 0 sensa crllieD do aluno.

No fazer artisticD esta presente 0 caminho ende 0 individuo possa descobrir

as possibilidades e limitac;6es das linguagens expressivas, estimulando a

aprendizagem da arte, sua hist6ria e leitura. Possibilita 0 desenvolvimento de urn

processo proprio de cria~o> devendo enfatizar 0 exercicio de percep<,;ao, da

fantasia, da experimentac;ao e imaginaC;8o criadora.

Os vertices deste "triangulo" nao devem ser entendidos como eta pas

estanques ou independentes, pois e no dinamismo e na intercessao dos tres

aspectos que se da 0 conhecimento e aprendizagem em Arte e atraves desta

metodologia possibilitaremos a crianc;:a 0 entendimento e 0 conhecimento dela como

parte integrante da nossa cullura. Mas para isso e necessario que os professores

estejam cada vez mais preparados e a escola mude sua pratica dando mais

importancia a Arte sem esquecer de que ela se ensina, e tambem, se aprende, pois:

~ a arte nl!Jo e apenas basico, mas fundamental na

educagl!Jode um paIs que se desenvolve. A arte nao e

enfeite, arte e cognig30, e profiss30, e uma fonna diferente

da pafavra para interpretar 0 mundo, a reafidade, 0

imaginario, e e conleudo. Como conteudo, a arie representa

o mefhor lrabalho do ser humano.~( Ana Mae).

2l

5. ARTE ENQUANTO LlNGUAGEM

Urn dos objetivos da arte e comunicar imagens e mundos indiziveis,

realidades e estratos de vida atraves do espirito do artista. Nesse sentido, a

expressao da arte exige a arte de expressao. A grandeza de uma obra nao esta.

exclusivamente, no fato dela revelar emoc;:oes, sentimentos, mas, tambem, no fato

dela toc8r e despertar son has, emoc;:oes, sens8yoes e vis6es nos espectadores.

A arte e simbolo e linguagem. Enquanto simbolo, ela representa e remete °espectador para alem dela. Assim, sua visibilidade sobrepoe-se aD invisivel para

sustenta-Io e S8 sustentar. Enquanto linguagem, ela comunica em silencio a

pluralidade do seu ser, S8 renovando e S8 complexificando com as interpretagoes

que sabre ela sao elaboradas. Nesse aspecta, a arte seria a femix da linguagem e,

ainda que nao fac;a usa da palavra, possibilita a comunica9ao e, atraves dela as

crianc;as tambem exercitam 0 saber fazer a partir de tecnicas diversificadas

Sua representac;ao da realidade surge quando a crianc;a rabisca ou desenha

no papel, na areia, na terra, na agua; neste momento, ela esta utilizando a

linguagem da arte para se expressar. Esses trabalhos de expressao nao sao apenas

impress6es que a crianya deixa sobre 0 suporte, mas explicitam 0 seu

desenvolvimento intelectual, emocional e perceptiv~. Para Lowenfeld ( 1954), este

periodo da vida e extrema mente importante para 0 desenvolvimento de atitudes

sobre 0 pr6prio eu e para 0 estabelecimento da noc;ao de que 0 mundo e urn lugar

empolgante e aprazivel para se viver.

A crianya e urn sujeito curiosa e inicia 0 conhecimento sobre 0 rnundo

atraves dos senti dos, do movirnento, da curiosidade ao que esta ao seu redor, da

imitac;ao, da brincadeira e do jogo simb6lico. Assim vai percebendo e registrando as

impress6es que tern desse mundo a sua volta ao mesmo tempo que as vai

modificando a medida que tem contato com as diferentes linguagens, materiais

expressivos, intervent;6es dos adultos e de seus proprios colegas.

Gardner (1997) expressa em seu pensamento que "0 desenvolvimento

artistico envolve a educa9ao dos sistemas de fazer, pensar e sentir; 0 individuo se

torna capaz de participar do processo artistico, de manipular, compreender e

relacionar-se com os meios simbolicos de maneiras especificas". (1997:286)

Des sa maneira podemos entender 0 quanto 0 contato com as lingua gens

pode diversificar as atividades e proporcionar condi90es de amadurecimento do

individuo envolvido neste processo de maneira livre e inspiradora pois, arte e

liberdade devem andar de maos dad as. Arte nao gosta de amarras, de 1i90es de

boas maneiras e nem de fiear cal ado ou inerte nos quadrilateros do mundo.

Assim para 0 desenvolvimento do trabalho com as diferentes linguagens da

desenho, da pintura, da colagem, da historia em quadrinhos, da mode lag em e da

constru9ao tridimensional a professor deve fazer com que a crian9a entre em contato

com os diversos tipos de materiais para desenvolver-se como completam Ferraz e

Fusari: " ... pode-se ajudar a crian9a a conhecer os materiais, as tecnicas, os modos

utilizados nas constru90es artisticas da visualidade bi e tridimensional, as fun90es e

finalidades das obras e formas, enfim, ajuda-Ias a entender a vida cultural e artistica

em que vivem"(1993, p.112). Ou seja, 0 educador nao deve trabalhar a linguagem

pela linguagem, mas sim no contexto das rela90es sociais desenvolvidas pelo

homem pais os mesmos encontram-se intima mente ligados aos contextos culturais:

eles nutrem a cultura, mas tambem sao nutridos por ela.

Nas series inieiais das escolas, ha 0 contato com 0 material plastico, digamos

artlstico: cola, papeis, tintas, pinceis, massa de modelar, areia, tocos de madeira,

25

brilhos, sucatas e outros. No entanto, muitas vezes nao he uma ordenagao ou

assentamento da experiencia adquirida em fungao do desenvolvimento da

linguagem como forma de expressao permanente e viva.

Para Ferraz e Fusari (1993), "...a experimenta,iio, a cria,iio, a atividade

ludica e imaginativa que sempre estao presentes nas brincadeiras, no brinquedo e

no jogo, sao tambem os elementos besicos das aulas de arte ..."

Assim, a atividade artistica bem conduzida pelo professor agu98 a

criatividade, incentiva a coragem, fragmenta as bloqueios, possibilita a seguranga e

a desenvoltura, mobiliza e conduz ao aprendizado.

No entanto, a escola, organizagao social que repete e amplia 0 modelo

familiar e 0 torna institucional de enfase ao processo ensino-aprendizagem do

conteudo, utilizando-se primeiramente do veiculo oral e posteriormente a leitura e a

escrita. Eo ai que surgem as grandes dificuldades, pais como diz Ana Mae, alfabelizar

nao e apenas fazer as criangas juntarem as letras. A leltura verbal somente adquirire

sentido quando a leitura do meio ambiente sob 0 ponto de vista estetico, socio-

cultural a tiver precedido.

E imprescindivel considerar que a agao educativa advenha da leitura das

relagoes entre a vivencia e a experiencia. Uma resposta as necessidades individuals

e socia is.

Muito bem se discutem as parametros curriculares nacionais e os temas

transversais. A educag8.o atraves da arte amplia a horizonte dos individuos. Leva-os

atraves do fazer a aprender a ser, aprender a se posicionar diante da sociedade.

Aprender a refletir sabre seu pr6prio desenvolvimento e espelhar-se ampliando sua

capacidade de execug8.o e ilimitando os seus possiveis fazeres.

26

No entanto, nao podemos nos esquecer dos 10% de brasileiros, muitos ainda

jovens e segregados par urn unico motivo: a deficiemcia sob a 6tica dos "limitados"

As artes neste casa, desenvolvem a discriminac;c3o visual, estimulam 0 raciocinio

logieD, a aquisiC;80 de memorias, incentivam a percepgao e a motricidade e as

capacidades de decisao e comunic8c;8o. Aprende-se visualizando, realizando

interagoes entre 0 real (contextual) e 0 imaginario atraves do fazer artistica num

processo triangular como 0 proposto par Ana Mae.

Em S8 falando de Artes Visuais temas a consciencia de que elas expressam,

comunicam e atribuem sentindo as sensay6es, sentimentos, pensamentos e

realidade por meio da organizac;ao de linhas, form as, pontos, tanto bidimensional

como tridimensional, alem de volume, espac;o, cor e luz na pintura, no desenho, na

escultura, na gravura, na arquitetura, nos brinquedos, bordados, entalhes etc. amovimento, 0 equilibrio, 0 ritmo, a harmonia, 0 contraste, a continuidade, a

proximidade e a semelhanc;a sao atributos da criaC;ao artfstica. A integra~o entre os

aspectos sensiveis, afetivos, intuitivos e cognitivos, assim como a promoc;ao de

interac;ao e comunicac;ao social, conferem carater significativo as Artes Visuais.

As Artes Visuais devem entao ser concebidas como uma linguagem que tem

estrutura e caracteristicas proprias, cuja aprendizagem, no ambito pratico e reflexivo,

se da por meio da articulaC;80 dos seguintes aspectos:

fazer artistico - centrado na explora9ao, expressao e comunicac;ao de

produ9ao de trabalhos de arte por meio de praticas artisticas, propiciando

o desenvolvimento de um percurso de cria9ao pessoal;

• apreciagao - percepgao do sentido que 0 objeto propoes, articulando-o

tanto aos elementos da linguagem visual quanto aos materiais e suportes

utilizados, visando desenvolver, por meio da observagao e fruigao, a

27

capacidade de construg8o de sentido, reconhecimento, analise e

identificac;ao de obras de arte e de seus produtores;

• refiex80 - considerado tanto no fazer artistico como na apreciacyao, e um

pensar sabre todos as conteudos do objeto artistico que S8 manifesta em

sala de aula, compartilhando perguntas e afirmag6es que a crianc;a realiza

instigada pelo professor e no cantata com suas proprias produc;6es e as

dos artistas.

A arte e portanto um modo privilegiado de conhecimento e aproxima9fio entre

individuos de cultur8S distintas, pOis faverece 0 reconhecimento de semelhanC;8s e

diferenty8s expressas nos produtos artisticos e conceP90es esteticas, num plano que

va; al8m do discurso verbal: uma crianc;a da cidade, ao observar uma danga

indigena, estabelece urn cantata com 0 indio que pode revelar mais sabre 0 valor e

a extenS80 de seu universo do que uma explana.y8o sobre a funy80 do rito nas

comunidades indigenas. E vice-versa.

Nessa perspectiva, a area de Arte tern uma funy80 importante a cumprir. Ela

situa a fazer artistico como fato e necessidade de humanizar a homem historico,

brasileiro, que conhece suas caracteristicas tanto particulares, tal como se mostram

na cria.y8o de uma arte brasileira, quanto universals, tal como se revel am no ponto

de encontro entre 0 fazer artistico dos alunos e 0 fazer dos artistas de todes as

tempos, que sempre inauguram formas de tornar presente e inexplicavel.

28

6. PROPOSTA 00$ REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A

EOUCACAO INFANTIL: UMA REFLEXAo A PARTIR DO

COTIDIANO DAS CRIAN9AS

A educ8C;:80 em arte propicia 0 desenvolvimento do pensamento artistico e da

percep9Bo estetic8, que caracterizam urn modo proprio de ordenar e dar sentido a

experiencia humana: a aluno desenvolve sua sensibilidade, percepC;8o e

imaginac;ao, tanto aD realizar formas artisticas quanta na 8yaO de apreciar e

conhecer as formas produzidas par ele e pelos colegas, pela natureza e nas

diferentes culturas.

Esta area tambem favorece ao aluno relacionar -S8 de forma criativa com as

outras disciplinas do curricula. Par exemplo, 0 aluno que conhece arte pode

estabelecer relagoes mais amplas quando estuda urn determinado period a historico.

Urn aluno que exercita continuamente sua imaginaCY30 estara mais habilitado a

construir um texto, a desenvolver estrategias pessoais para resolver um problema

mate matico.

Os documentos oficiais para Educa,Bo Infantil - RCNEI (1999) - Referencial

Curricular Nacional para a EducaCY30 Infantil - chegaram as escolas propondo que se

observe tanto principios gerais de organizacyc3o da escola quanto principios

especificos relacionados aos objetos de conhecimento, mas par seu carater de

referencia geral para os educadores, propoe que a relac;:ao entre essas duas

demand as devera $er constru<;ao de cada unidade escolar. Reconhecendo que essa

articulayao das demandas nao e trivial e que algumas escolas a buscam ja ha algum

tempo, estudar estes processos pode contribuir para 0 enfrentamento do desafio

colocado pelos RCNE!.

29

A proposta de trabalho apresentada no ReNEl, no que se refere as Artes

Visuais e bastante ampla. Se analisarmos que esta area e uma linguagem que,

ainda que nao facta usa da palavra, possibilita a comunicaC;ao, e atrav8s dela as

crianc;as tambem exercitam 0 saber pensar e 0 saber fazer a partir das tecnicas

diversificadas. E preciso lembrar que:

"0 fazer artislico em artes visuais esla significalivamentepresenle no colidiano infanlil. A crian~a rabisca, desenha nochao, na areia, nos muros, pinta seus objetos, seu corpo;uliliza varios materiais que encontra ao acaso, gravetos,pedras, carvao. Ao brincar de desenhar, exercita aconslru~ao e a representa~ao de mundo, seteciona imagensvisuais que the sao significativas, exercita 0 saber fazer."( Referencial Curricular National de Educa~ao Infantil).

Portanto, este e 0 grande desafio: representar atraves das diversas

lingua gens plasticas. As criangas que estao expostas as diferentes linguagens

expressivas em urn ambiente enriquecido diariamente pela arte serao melhores

leitoras do mundo, terao melhores condic;5es para conhecer e apreciar as

manifestac;5es artisticas, alem de ampliarem suas formas de expressao e

representac;ao do mundo.

Os trabalhos de expressao plastica nao sao apenas impress6es que a crianc;a

deixa sabre um material, mas sobretudo evidenciam a seu estagio de elaborac;ao

mental, 0 que e resultado das intera¢es entre a crianc;a e os objetos. Assim,

quando a crianc;a se expressa, ela esta explicitando 0 seu nfvel de desenvolvimento

intelectual, emocional e perceptivo, permitindo essa linguagem a ampliac;ao de

varias faculdades do pensamento (16gica, matematica, sensa90es e percep95es).

A articulaC;8o das artes plasticas aos conteudos de varias areas do

conhecimento possibilita oportunidades legitimas de expressao pessoal, pois cada

30

urn tern "seu jeito" de S8 expressar. Nesse sentido passam todos par diferentes

momentos de experiencias au etapas muito individuais.

Outro ponto a que S8 refere os referenciais diz respeito a 8980 educativa par

parte do professor e que a mesma deve garantir que: "8 crian98 possa compreender

e conhecer a diversidade da produ~ao artistica na medida em que estabelece

cantata com as imagens das artes nos diversos meies, como livros de artes,

revistas, visitas exposi~6es, contato com artistas, filmes, etc." (ReNEI, 1998, p. 107)

Assim, a disciplina Arte em Educa~ao InfantiI devera garantir que os alunos

conhe9am e vivenciem aspectos tecnicos: artes visuais, musica, danga, teatro, artes

audiovisuais. Para iS80 e necessario que 0 professor organize urn trabalho

consistente, atraves de atividades artisticas, esteticas, relacionando a arte com 0

conteudo a ser trabalhado. E passivel atingir-se urn conhecimento mais amplo da

arte aprofundando 0 ver, ouvir, mover-se, sentir, pensar, descobrir, exprimir, fazer, a

partir dos elementos da natureza e da cultura, analisando-os, refletindo, farmando,

transformando-os.

Portanto, a arte tern uma func;:ao lao importante quanto ados outros

conhecimentos no processo de ensino/aprendizagem e esta relacionada com as

demais areas e tern suas especificidades.

31

CONSIDERACOES FINAlS

A educayao e, par certo, uma atividade profundamente estatica e criadora em

si propria. Eta tern 0 sentido do jogo, do brinquedo, em que nos envolvemos

prazerosamente em busca de uma harmonia. Na educayao joga-se com a

construyao do sentido - do sentido que deve fundamentar nossa compreensao do

mundo e da vida que nele vivemos. No espayo educacional comprometemo-nos com

a nossa "vi sao de mundo", com nossa palavra. Estamos ali em pessoa - uma pessoa

que tern as seus pontcs de vista, suas opini6es, desejos e paix6es. Nao somos

apenas veiculos para a transmissao de ideias de terceiros: repetidores de opini6es

alheias, neutros e objetivos. A relay030 educacional e sobretudo, uma relac;ao de

pessoa a pessoa, humana e envolvente.

A interac;:ao entre a concepc;:ao de arte e a concepc;:ao de educac;:ao

encaminha-se na confluencia do que conhecemos como arte-educaC;:8e, conceito

este que aponta para 0 entendimento de uma questao mais ampla que e a arte no

espac;:o educative: um projeto pedag6gico com uma pratica em arte.

Como e um universe amplo, uma vez que diz respeito aD que e humano e

envolve 0 fazer e 0 pensar, 0 en sino da arte nao poderia deixar de interagir com

Qutras areas do conhecimento. Oessa forma, 0 trabalho de prodUC;:80 e ensino da

arte a ser desenvolvido pela escola devera configurar-se numa concepC;:80 onde arte

e educac;:ao sejam praticas que se relacionam com outras, pretendendo a criac;:ao de

novas praticas na arte e na vida.

Oesde as primeiras culturas, 0 ser humano surge dotado de urn dom singular:

mais do que "homo faber", ser fazedor, ele e um ser formadof. Ele e capaz de

estabelecer relacionamentos entre multiplos eventos que ocorrem ao redor e dentro

32

dele. Relacionando as fatos, ele os configura em sua experiencia do viver e Ihes da

urn significado. Nos seus questionamentos, ou nas soluc;6es que encontra, ao 89ir,

ao imaginar, ao sonhar, sempre 0 homem relaciona e forma.

Reconhecendo nao 56 a necessidade da arte, mas a sua capacidade

transformadora, as educadores estaraa contribuindo para que 0 acesso a ela seja

urn direito do homem. Aceitar que 0 fazer artistico e a fruic;ao estetica contribuem

para 0 desenvolvimento de criangas e de jovens e ter a certeza da capacidade que

eles tern de ampliar 0 seu potencial cognitiv~ e assim conceber e othar 0 mundo de

modos diferentes. Esta postura deve estar internalizada nos educadores, a tim de

que a pratica pedag6gica tenha coerencia, possibilitando ao educando conhecer 0

seu repert6rio cultural e entrar em contato com outras referencias, sem que haja a

imposiyao de uma forma de conhecimento sobre outra, sem dicotomia entre reflexao

e pratica.

Se faz necessario expor 0 ensino da arte de modo a romper barreiras de

exclusao, visto que a pratica educativa esta embasada nao no talento ou no dom,

mas na capacidade de experienciar de cada um. Dessa forma, estimula-se os

educandos a se arriscarem a desenhar, representar, danyar, tocar, escrever, pois

trata-se de uma vivencia, e nao de uma competic;ao. Uma proposta em arte que

parta deste principia traz para as suas atividades um grande numero de

interessados. Estas crianyas e estes jovens se reconhecerao como participantes e

construtores de seus pr6prios caminhos e saberao avaliar de que forma se dao os

atalhos, as vielas, as estradas. A arte fara parte de suas vidas e tera urn sentido,

deixando de ser aquela coisa incompreensivel e elitista, distante de sua realidade.

A concepyao de arte no espayo implica numa expansao do conceito de

cultura, ou seja, toda e qualquer prodw;ao e as rnaneiras de conceber e organizar a

33

vida social sao levadas em consideraC;ao. Cada grupo inserido nestes processos

configura-se pelos seus val ores e senti dos, e sao atores na construc;ao e

transmissao dos mesmos. A cultura esta em permanente transformac;ao, ampliando-

se e possibilitando ac;oes que valorizam a produc;ao e a transmissao do

conhecimento.

Os educadores poderao abrir espa90s para manifestagoes que possibilitam 0

trabalho com a diferenc;a, 0 exercicio da imaginac;ao, a auto-expressao, a descoberta

e a invenc;ao, novas experiEmcias perceptivas, experimentac;ao da pluralidade,

multiplicidade e diversidade de valores, sentido e intenc;oes.

Mas para que todas estas questoes acima relacionadas tenham exito se faz

necessario e urgente 0 repensar de urn curriculo especifico para a educac;ao infantil,

nao linear ou sistemico, considerando 0 contexte hist6rico-social, as necessidades e

interesses das crianc;as, no qual educadores, crianc;as, instituic;ao e comunidade,

enfatizando os aspectos cognitivos, sensiveis e culturais em arte.

A partir desta vi sao, especificamente para a arte na educac;ao infantil esta 0

educador em arte, que atua em consonancia com os demais educadores da

institui9ao, aprofundando conceitos e linguagens da arte. Assim 0 momento e de

construc;ao e ressignificaryao de um curriculo voltado a estes pequenos que tanto

nos surpreendem em suas ac;5es.

Cabe entao, negar a divisao entre teoria e pratica, entre razao e percepc;ao.

E preciso promover a interac;ao entre saber e pratica relacionados a hist6ria, as

sociedades e as culturas, possibilitando uma relac;ao ensino/aprendizagem de forma

efetiva, a partir de experiencias vividas, multiplas e diversas. Considera-se tambem

nesta proposta a vertente !udica como processo e resultado, como conteudo e forma

essencial.

Cabe a todos as profissionais que atuam direta au indiretamente, com a

ensino da arte, uma reflexao nao somente dos processos de sala de aula, mas

tambem do seu papel como cidadaos, protagonistas de uma historia.

35

REFERENCIAS

BARBOSA, A. M. Arle - Educaqiio: conflitos e acertos. Sao Paulo: Max Limonad,1985.

A Imagem no Ensino da Arle. Sao Paulo: Porto Alegre,Perspectiva/lochpe, 1991.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educaqiio Naciona/. Lei nO9.396/96, de 20 deDezembro de 1996. In: Parametros curricu/ares nacionais. Brasilia: MEC/SEF, v. 6,1997.

BRASIL. Ministerio da Educaqao e do Desporto. Secreta ria de EducaqaoFundamental. Referencia/ curricular nacional para a educaqiio infanti/' Brasilia:MEC/SEF, 1998.

FORQUIN, J. C. A educaqao artistica, para que? In: PORCHER, L. (org). Educaqiioartistica: luxo au necessidade? Sao Paulo: Summus, 1982.

FREIRE, P. Educaqiio: a sonho possivel. In . 0 educador vida e morte.Ed. Carlos R Brandao. Rio de Janeiro. Ediqoes Graal, 1986.

FUSARI, M. F. de R, FERRAZ, M. H. C. de. A arle na educaqiio escolar. Sao Paulo:Cortez, 1993.

GARDNER, H. As aries e 0 desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artes Medicas:1997.

HAUSER,A. A arte e a sociedade. Sao Paulo: Editorial Presenqa, 1984.

LOWENFELD, V. A crianqa e sua arle. Sao Paulo: Mestre Jou, 1954.

7

19"'7"'0,...----. Desenvolvimento da capacidade criadora. Sao Paulo: Mestre Jou,

MORAN, J. M. A Escola do Amanhii: desafio do presente. Educaqao, Meios deComunicac;ao e conhecimentos. Tecnologia Educacional, v. 22, Jul/out, p. 28-34,1993.

READ, H. A arle de agora, agora. Lisboa: Editora Perspectiva, 1999.

___ . Arle e sociedade. Lisboa: Editora Perspectiva, 1998.

VASQUEZ, A. S. Convite a estMica. Sao Paulo: Civilizaq80 brasileira, 1999.

THIESSEN, M. L. & BEAL, A. R Pre - Esco/a, Tempo de Educar Sao Paulo: EditoraAtica,1998.

36

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

ALVES, R.. A alegria de ensinar Sao Paulo: Cortez, 1994.

____ . Est6rias de quem gosta de ensinar Sao Paulo: Cortez,1992.

AZEVEDO, F. A. G .. Sabre a Dramaticidade no Ensino de Arte: Em Busca de umCurricula Reconstrutivista. In: Sam Gesto Forma e Cor. Dimens5es da Arte e seuEnsino. C/Arte, Belo Horizonte, 1995.

ARNHEIM, R.. Arte e percepqao visual: uma psicologia da visao criadora. 5.ed. SaoPaulo: Pioneira, 1989.

BARBOSA, A. M .. A Imagem do Ensino da Arte. Sao Paulo: Perspectiva, 1991. 134.

Arte-Educaqao Pos-Colonialista no Brasil: AprendizagemTriangular. In: Ensino da Arte em Foco. (org) Santa Catarina, USSC,1994.

COUTINHO, R. G .. Por que a Historia dos Fundamentos da Arte-Educaqao. In:Ensino de Arte: Reflexoes (org.). ETFPE - ANARTE - Regional, Pernambuco, 1994.

FERRAZ, M. H. C. de FUSARI, M. F. de R.. Arte na Educaqao Escolar. Sao Paulo:Cortez, 1992.

LOWENFELD, V .. Desenvolvimento da capacidade criadora. Sao Paulo: Mestre Jou,1970.______ . A crianqa e sua arte. Sao Paulo Mestre Jou, 1978.

MARTINS, M .. Didiltica do ensino da arte : a lingua do mundo. Sao Paulo FTD,1998.

OSTROWER, F .. Criatividade e processos de criaqao. Rio de Janeiro: EditoraCampus, 1983.

PARSONS, M. J .. Compreender a Arte: Uma Abordagem a Experiencia Estetica doPonto de Vista do Desenvolvimento Cognitivo, Lisboa, Editorial Presenqa, 1992.

PERROTTI, E .. A crian,a e a produqao cultural. In: ZIBERMAN, R. ( org) A produqaocultural para a crianqa. Porto Alegre: Mercado Alberto, 1982.

PILLAR, A.. Fazendo artes na alfabetizaqao. Porto Alegre' Kuarup, 1993.

PILLAR, A .. A Educaqao do Olhar Porto Alegre: Mediaqao, 1999.

TREVISAN, A.. Como apreciar a arte. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1990.