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II Encontro de Pesquisa em Informação e Mediação (II EPIM): anais. Marília: Linha de Pesquisa “Gestão, Mediação e Uso da Informação”; Londrina: Grupo de Pesquisa “Interfaces: Informação e Conhecimento”, 2015. A BIBLIOTERAPIA E A BIBLIOTECA INFANTIL DE LONDRINA Jeferson Abilio da Silveira Instituto Federal do Paraná (IFPR) Sueli Bortolin Universidade Estadual de Londrina RESUMO Aborda a atuação do aplicador de biblioterapia, especificamente no Projeto “Livro é o Melhor Remédio”, realizado nas décadas de 1980 e 1990 pela Biblioteca Infantil de Londrina, em hospitais desse município. O Projeto objetivava narrar histórias para crianças acamadas e utilizava, além do suporte livro, fantoches, músicas, entre outros. Sua equipe era composta de funcionários da referida Biblioteca, em diversas formações, que levavam cultura, alegria e conforto às crianças. A metodologia desta pesquisa tem o foco qualitativo, é exploratória e para a coleta de dados foi aplicada a entrevista narrativa. Foram entrevistadas duas aplicadoras de biblioterapia e, com suas respostas, foi possível concluir que, apesar do desconhecimento do termo biblioterapia, na época, a equipe da Biblioteca Infantil de Londrina realizava, com vigor e com resultados positivos, um trabalho biblioterapêutico. A principal constatação disso foi que, posteriormente, muitas das crianças passaram a frequentar o espaço da Biblioteca. Palavras-chave: Biblioterapia. Biblioteca infantil. Leitura em hospitais. THE BIBLIOTHERAPY AND THE CHILDREN'S LIBRARY OF LONDRINA ABSTRACT Addresses the performance of bibliotherapy applicator, more specifically the Project “Book is the Best Meddicine”, held in the 1980s and 1990s by the Children’s Library of Londrina, in hospitals that municipality. The Project aimed to narrate stories for bedridden children and used in addition to the book support, pippets, music and

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II Encontro de Pesquisa em Informação e Mediação (II EPIM): anais. Marília: Linha de Pesquisa “Gestão, Mediação e Uso da Informação”; Londrina: Grupo de Pesquisa “Interfaces: Informação e Conhecimento”, 2015.

A BIBLIOTERAPIA E A BIBLIOTECA INFANTIL DE LONDRINA

Jeferson Abilio da Silveira

Instituto Federal do Paraná (IFPR)

Sueli Bortolin

Universidade Estadual de Londrina

RESUMO

Aborda a atuação do aplicador de biblioterapia, especificamente no Projeto “Livro é o Melhor Remédio”, realizado nas décadas de 1980 e 1990 pela Biblioteca Infantil de Londrina, em hospitais desse município. O Projeto objetivava narrar histórias para crianças acamadas e utilizava, além do suporte livro, fantoches, músicas, entre outros. Sua equipe era composta de funcionários da referida Biblioteca, em diversas formações, que levavam cultura, alegria e conforto às crianças. A metodologia desta pesquisa tem o foco qualitativo, é exploratória e para a coleta de dados foi aplicada a entrevista narrativa. Foram entrevistadas duas aplicadoras de biblioterapia e, com suas respostas, foi possível concluir que, apesar do desconhecimento do termo biblioterapia, na época, a equipe da Biblioteca Infantil de Londrina realizava, com vigor e com resultados positivos, um trabalho biblioterapêutico. A principal constatação disso foi que, posteriormente, muitas das crianças passaram a frequentar o espaço da Biblioteca.

Palavras-chave: Biblioterapia. Biblioteca infantil. Leitura em hospitais.

THE BIBLIOTHERAPY AND THE CHILDREN'S LIBRARY OF LONDRINA

ABSTRACT

Addresses the performance of bibliotherapy applicator, more specifically the Project “Book is the Best Meddicine”, held in the 1980s and 1990s by the Children’s Library of Londrina, in hospitals that municipality. The Project aimed to narrate stories for bedridden children and used in addition to the book support, pippets, music and

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II Encontro de Pesquisa em Informação e Mediação (II EPIM): anais. Marília: Linha de Pesquisa “Gestão, Mediação e Uso da Informação”; Londrina: Grupo de Pesquisa “Interfaces: Informação e Conhecimento”, 2015.

more. His team consisted of said library staff in various formations leading culture, joy and comfort to children. The methodology of this study is the qualitative, is exploratory focus and data collection was applied to narrative interview. We interviewed two applicators biblioterapy and their responses it was conclude that, despite the lack of the term biblioterapy, then results one bibliotherapeutic work. The main finding of this was that, later, many of the children started attending the space of the Library.

Keywords: Biblioterapy. Children’s library. Reading in hospitals.

1 INTRODUÇÃO

Dentro da Biblioteconomia, a biblioterapia é a prática responsável por utilizar

o livro como intervenção terapêutica. Nessa vertente da profissão, o bibliotecário

desempenha o papel de aplicador de biblioterapia, selecionando não apenas livros,

mas todo tipo de textos que serão trabalhados como forma de leitura terapêutica.

Para isso, o bibliotecário deve atuar em conjunto com profissionais das áreas de

Psicologia, de Terapia Educacional, entre outras.

A seleção do material a ser utilizado pelo aplicador de biblioterapia é uma das

preocupações da prática. O bibliotecário deve conhecer o texto que está

recomendando, a fim de evitar efeitos negativos no leitor. Ele precisa estar

preparado para trabalhar com a leitura e com os diversos gêneros da literatura, e

saber lidar com as reações e os efeitos que ela pode causar no leitor, especialmente

quando se propõe a trabalhar com a leitura terapêutica.

Os primeiros trabalhos envolvendo a biblioterapia surgiram por volta do século

XIX, antes mesmo da utilização do termo. Porém, foi somente a partir do início do

século XX, em bibliotecas hospitalares dos Estados Unidos, que a biblioterapia se

difundiu como intervenção terapêutica no tratamento de doentes mentais (RATTON,

1975, p.198-199).

Dentre os vários conceitos empregados por estudiosos, ao longo do tempo,

entendemos por biblioterapia a:

[...] seleção e prescrição de livros de acordo com as necessidades

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dos pacientes, condução da terapia baseada em comentários de leitura, e avaliação dos resultados. Sua utilização é considerada atualmente na profilaxia. Educação, reabilitação e na terapia propriamente dita, em indivíduos nas mais diversas faixas etárias, com doenças físicas ou mentais (RATTON, 1975, p.199-200).

Desde então, o livro vem sendo trabalhado como forma de terapia. Nos

hospitais, ele é muito utilizado por causa da sua capacidade de provocar no paciente

um estado de serenidade. A leitura possui caráter sedativo, que ameniza a dor e o

desconforto do paciente por meio do envolvimento construído com o texto. “A função

terapêutica da leitura admite a possibilidade de a leitura proporcionar a pacificação

das emoções. [...] A leitura do texto literário, portanto, opera no leitor e no ouvinte

efeito de placidez, e a literatura possui a virtude de ser sedativa e curativa.”

(CALDIN, 2001, p.32).

A criança, sujeito foco deste trabalho, pode ainda não apresentar uma

capacidade cognitiva e/ou emocional substancialmente desenvolvida, portanto,

trabalhar a leitura terapêutica com esse tipo de leitor exige do profissional

conhecimento da literatura e da condição em que a criança se encontra para que,

assim, seja feita a seleção de textos mais adequados a cada caso.

Oliveira et al. (2011) consideram que, somente a leitura de um livro por parte

do bibliotecário não fará dele um biblioterapeuta. O bibliotecário deve atuar em

parceria com outros profissionais, como psicólogos, assistentes sociais e

pedagogos, que o ajudarão na seleção correta da leitura para cada situação. Os

autores alertam para a importância do bibliotecário conhecer o seu leitor e estar

atento as suas angústias, para que possa propor um tratamento biblioterápico

adequado e eficiente.

Em virtude da dúvida por parte de alguns autores quanto ao bibliotecário

trabalhar com a biblioterapia, a presente pesquisa objetivou investigar a atuação de

aplicadores de biblioterapia, da Biblioteca Infantil de Londrina. Para tal, recorremos à

técnica da entrevista narrativa e entrevistamos membros do Projeto “Livro é o Melhor

Remédio”, criado em 1986 pela Biblioteca Infantil de Londrina, em comemoração à

Semana Nacional do Livro e da Biblioteca. O Projeto tinha como finalidade levar a

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arte e a leitura para crianças acamadas nos hospitais de Londrina por intermédio do

teatro de fantoches, do livro e da literatura infantil.

Ademais, objetivamos:

• Analisar o conhecimento teórico e prático do aplicador de biblioterapia.

• Levantar as experiências dos aplicadores de biblioterapia pela

Biblioteca Infantil de Londrina.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Ouaknin (1996, p.11) explica que, a palavra biblioterapia tem em sua

composição dois termos de origem grega: biblio, que significa livro, e therapeia, que

significa terapia. Biblioterapia seria, então, a prática da terapia por intermédio do

livro. “Em bibliotecas antigas e medievais encontravam-se inscrições sobre a

atuação do livro como remédio da alma.” (RATTON, 1975, p.198, grifo nosso).

Porém, não é somente o livro que se enquadra no processo terapêutico. O

aplicador de biblioterapia pode se valer de textos, contos, anedotas e outros escritos

registrados em suportes que não sejam o livro. Fantoches, brinquedos, jogos

recreativos e lúdicos também podem ser utilizados em conjunto com a leitura.

Também os textos que não estão registrados e que são propagados de boca em

boca devem ser apropriados e utilizados.

O termo biblioterapia foi utilizado pela primeira vez no ano de 1916, em um

artigo publicado no Atlantic Monthy, por Samuel Mechord Grothers. As bibliotecas

hospitalares dos Estados Unidos empregavam a prática biblioterapêutica em

programas que abordavam os aspectos psiquiátricos da leitura no tratamento de

seus pacientes, principalmente àqueles que sofriam de alguma doença mental

(RATTON, 1975, p.199).

De acordo com a autora supracitada (1975, p.199), em 1961, o Webster’s

Third International Dictionary apresentou como definição do termo biblioterapia,

posteriormente adotada como oficial pela Associação para Bibliotecas de Hospitais e

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Instituições, o uso de material de leitura selecionada como adjuvante terapêutico em

Medicina e Psicologia; e ainda, guia de solução de problemas pessoais por

intermédio da leitura dirigida.

Desta maneira, podemos dizer que biblioterapia é a prática da leitura dirigida

de textos selecionados pelos aplicadores de biblioterapia como forma de amenizar

uma situação dolorosa, ou um estado de angústia, e auxiliar no tratamento de

doenças e perturbações mentais.

A leitura é elemento indispensável e indissociável na biblioterapia. Na

literatura, encontramos inúmeros artigos que abordam o uso da biblioterapia em

hospitais como método terapêutico aplicado no tratamento de crianças acamadas.

Bernardino, Elliott e Rolim Neto (2012, p.199) acreditam que:

[...] a leitura dirigida de textos literários, e contato dialogado as ajudariam [as crianças] a superar o medo, a tristeza e a focalização na doença, proporcionando um alívio e melhor aceitação do tratamento, a partir da inserção ao universo da fantasia mediada pela contação de histórias.

A presença do aplicador de biblioterapia lendo um texto, ou contando uma

história, distrai a criança e a afasta da rotina do hospital. A leitura envolve a criança

em um “mundo imaginário”, fazendo com que ela se esqueça da sua condição,

mesmo que por alguns instantes, voltando a brincar e a sorrir. Quem conhece o

ambiente hospitalar sabe que momentos de alegria e descontração não são comuns.

Oliveira et al. (2011) consideram que, assim como as demais profissões, a

Biblioteconomia sofreu mudanças ao longo do tempo. Principalmente com o avanço

da tecnologia, profissionais de várias áreas tiveram que se adaptar para não se

tornarem obsoletos. O mesmo aconteceu com o bibliotecário que, além de

armazenar e disseminar informação, também assumiu um papel social e

humanístico perante a comunidade.

Dentro desse novo papel, o bibliotecário desenvolve várias funções, entre

elas a de aplicador de biblioterapia. Caldin (2010 apud GUEDES; BAPTISTA, 2013,

p.245) argumenta que, o bibliotecário que se dispõe a aplicar a biblioterapia precisa

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ter um perfil social. Ademais, esse profissional deve possuir estrutura emocional,

ética e moral para o trabalho. A autora ressalta que, o profissional que apresentar

essas características, poderá atuar como aplicador de biblioterapia, e não como

biblioterapeuta. Para atuar como biblioterapeuta, o bibliotecário também deverá

possuir formação na área de Psicologia.

Além de ser emocional e moralmente estável, o aplicador de biblioterapia

deve possuir artifícios capazes de envolver a criança e estimular a sua imaginação.

Especialmente a contação de histórias exige criatividade e sensibilidade por parte do

aplicador de biblioterapia. Não é tarefa fácil cativar a atenção da criança. Um

profissional apático e inerte enfrentará muitos obstáculos para trabalhar com esse

tipo de público.

Para poder proporcionar todas as emoções da história é necessário que o contador [aplicador de biblioterapia] crie um clima de envolvimento e de encanto. É preciso saber dar as pausas, o tempo para o imaginário de cada criança construir seu cenário, visualizar os seus monstros, criar os seus dragões, adentrar pela sua floresta, vestir suas princesas e príncipes, pensar na cara do rei, da rainha e seus súditos (BERNARDINO; ELLIOTT; ROLIM NETO, 2012, p.201).

É aceitável que alguns autores e profissionais questionem a atuação do

bibliotecário como aplicador de biblioterapia. Embora a graduação possa oferecer

disciplinas com conceitos básicos sobre Psicologia (isso se deve ao fato de que uma

das atividades do bibliotecário compreende traçar perfis de usuários por intermédio

dos estudos de usuários) a formação do bibliotecário não contempla estudos mais

aprofundados sobre a personalidade do indivíduo, embora seja possível encontrar

na literatura, pesquisas acerca dos aspectos motivacionais, entre eles o emocional,

que influenciam o comportamento do usuário no momento da busca pela

informação.

No entanto, Pinto (2005, p.42) salienta a prerrogativa de que, apesar da

biblioterapia ser um campo de atuação para o bibliotecário, é preciso que esse

profissional possua conhecimentos na área de Psicologia ou de Psicoterapia e

ressalta a necessidade do bibliotecário trabalhar em parceria com demais

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profissionais que pertençam a essas áreas. Nesse contexto, Almeida e Bortolin

(2013) ressaltam que:

Sendo a Biblioterapia um programa de atividades que envolve leituras e outros métodos de reflexões, planejados e conduzidos para um tratamento, pode ser acompanhada por uma orientação médica, e também ser mediada por um bibliotecário e outros profissionais preparados para as finalidades prescritas e propostas pela equipe médica.

Vale aqui reforçar que trabalhar com a biblioterapia exige uma equipe

multidisciplinar, no sentido de que os saberes de uma profissão complementam o da

outra.

2.1 BIBLIOTECA INFANTIL

Diversos são os gêneros de biblioteca. Abordaremos nesta investigação a

biblioteca infantil, ou infantojuvenil. Para Bortolin (2001, p.35), “[...] uma biblioteca

infanto-juvenil deve ser um ambiente de aprendizagem espontânea e lúdica, imersa

na ‘filosofia de aprender brincando’.”

A autora define a biblioteca infantil como sendo um espaço em que a criança

e o adolescente podem aprender brincando com as palavras, com os livros, com os

jogos e brinquedos recreativos que fazem parte do universo das bibliotecas infantis.

Do mesmo modo, Melo e Neves (2005) conceituam a biblioteca infantil como sendo:

[...] um espaço lúdico por excelência, pois é o lugar de brincar com os livros e com as letras, do faz de conta, do contar e do ouvir histórias. É o local onde se pode dançar, desenhar e ouvir músicas, ela deve ser um convite a brincadeiras, viajar no mundo da imaginação.

A biblioteca infantil trabalha com a faixa etária mais jovem de leitores, que

pouco ou nunca tiveram contato com o livro. A cultura brasileira não contempla a

prática da leitura. O brasileiro lê pouco e não incentiva o seu filho a ler. Muitas

crianças só têm contato com o livro quando ingressam na escola.

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Os principais frequentadores de uma biblioteca infantil são crianças que estão

na fase inicial de aprendizado (algumas delas ainda nem sabem ler). Nessa fase, é

imprescindível que a prática da leitura seja estimulada. A criança que cresce com

gosto pela leitura tende a se tornar um ser humano melhor, porque a leitura

desenvolve seu raciocínio e amplia a visão que tem do mundo.

O contato com o livro possibilita o desenvolvimento da linguagem, cultural e cognitivo nas crianças, pois estabelece novos padrões de raciocínio abrindo novos espaços através dos quais as crianças possam se expressar exercitando a criatividade. Nesse sentido, viabiliza a produção do conhecimento a partir do crescimento do seu repertorio (sic!) cultural tendo acesso a outras visões de mundo que possibilitem estabelecer novas relações com o mundo que o cerca (MELO; NEVES, 2005).

Corroborando com o pensamento de Melo e Neves, Panet (1985, p.62)

evidencia a importância da biblioteca infantil no desenvolvimento da criança. “Se for

concedida à criança oportunidade de frequentar a Biblioteca desde cedo, e se

houver na Biblioteca um ambiente agradável e um centro cultural recreativo aquela

crescerá intelectualmente e não ficará à mercê dos acasos da vida.”

Os autores supracitados concordam quanto ao fato da biblioteca possibilitar o

desenvolvimento intelectual e cognitivo da criança. No entanto, devemos ter em

mente que o principal objetivo de uma biblioteca infantil é incentivar a leitura. Bortolin

(2001, p.41) chama atenção para esse fato ao defender a ideia de que, “[...] a

biblioteca infanto-juvenil deve buscar satisfazer as necessidades de educação, lazer

e informação de seus usuários, mas em especial, responsabilizar-se em promover o

gosto pela leitura.”

Da mesma forma, Melo e Neves (2005) atentam para a verdadeira finalidade

desse gênero de biblioteca: “A Biblioteca Infantil tem como função essencial

desenvolver o gosto, e o hábito da leitura.” Nesse sentido, os autores chegam ao

consenso de que a biblioteca infantil deve promover a recreação e o aprendizado

para a criança, mas que sua maior preocupação seja estimular a prática e o gosto

pelo ato de ler.

Os profissionais que trabalham em bibliotecas infantis devem ser capacitados

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para lidar com esse tipo de público. A leitura não deve ser imposta pelo profissional

mediador de leitura, caso contrário ela será vista como obrigação, e não como

prazer. Desse modo, Bortolin (2001, p.40) descreve como sendo:

[...] prioritária a integração entre o público infanto-juvenil e os mediadores, pois julgamos que esta interação seja essencial na motivação para a leitura; nesse sentido, é necessário que o mediador estabeleça na biblioteca um “clima” de respeito e confiança, passando a sugerir leituras e também a acatar leituras sugeridas por este público.

Aceitar uma sugestão de leitura por parte da criança demonstra o interesse

que o bibliotecário tem por ela. A maioria das crianças gosta de atenção. Essa

atitude do bibliotecário pode ser fundamental para estabelecer um vínculo de

confiança com a criança, que o ajudará a desenvolver nela o gosto pela leitura.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A presente pesquisa caracteriza-se como um estudo exploratório.

Parafraseando Gil (2008, p.27), a pesquisa exploratória objetiva esclarecer e

desenvolver conceitos e ideias, formular hipóteses a respeito de um assunto

geralmente pouco explorado. Esse tipo de pesquisa apresenta certa flexibilidade

quanto ao planejamento e execução: exclui técnica quantitativa de coleta de dados,

envolve levantamento bibliográfico, entrevistas não padronizadas e estudos de caso.

A pesquisa é de abordagem qualitativa. Uma pesquisa é considerada de

abordagem qualitativa, na concepção de Silva e Menezes (2005, p.20), a partir do

momento em que:

[...] há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito [...] que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte de coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. [...] Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem.

Em outras palavras, toda pesquisa que se propõe a investigar a subjetividade

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do sujeito-objeto da pesquisa segue a abordagem qualitativa, pois subjetividade não

se avalia em números, mas em interpretações e sentidos que se fazem a partir da

atuação desse sujeito na realidade.

Para a coleta de dados, utilizamos o método da entrevista narrativa, no lugar

da entrevista estruturada ou semiestruturada. A entrevista narrativa permite

respostas mais gerais, possibilitando a coleta de um número muito maior de

experiências subjetivas. Daí o fato de a questão da entrevista narrativa ser chamada

de questão gerativa de narrativa. “As narrativas [...] permitem ao pesquisador

abordar o mundo empírico até então estruturado do entrevistado, de um modo

abrangente.” (FLICK, 2009, p.164).

Hermanns (1995, p.183 apud FLICK, 2009, p.165) descreve a dinâmica da

entrevista narrativa da seguinte forma. Dela:

[...] solicita-se, na forma de uma narrativa improvisada, a história de uma área de interesse da qual o entrevistado tenha participado (...) (sic!) A tarefa do entrevistador é fazer com que o informante conte a história da área de interesse em questão como uma história consistente de todos os eventos relevantes, do início ao fim.

As considerações de Hermanns vêm corroborar com as de Flick no que se

refere à abrangência da técnica da entrevista narrativa. Ao solicitar que o

entrevistado relate a história da área de interesse de sua pesquisa, o pesquisador

espera obter como resposta uma narrativa de todos os fatos considerados

relevantes para o entrevistado. A partir disso, o pesquisador terá a liberdade de

trabalhar com os fatos que mais lhe forem pertinentes.

Com base no exposto, para a coleta de dados desta pesquisa foram aplicadas

duas questões gerativas de narrativas. Os participantes desta pesquisa foram dois

membros que fizeram parte do Projeto “Livro é o Melhor Remédio”, realizado pela

Biblioteca Infantil de Londrina. As questões giraram em torno da ciência do termo

biblioterapia, bem como de toda a dinâmica e funcionalidade do Projeto, incluindo a

trajetória de seus membros. A princípio, a intenção era entrevistar outros dois

profissionais com formação bibliotecária que fizeram parte do Projeto. Infelizmente,

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por motivos particulares os bibliotecários não puderam ser entrevistados.

Para tal procedimento, empregamos o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE). O TCLE, segundo Witter (2010, p.23-25), é um documento que

informa e esclarece o sujeito quanto aos motivos e objetivos da pesquisa, a

metodologia que será utilizada, a voluntariedade da participação (bem como a

possibilidade de desistência a qualquer momento), os riscos e benefícios da mesma,

o campo para consentimento em que o sujeito declara estar ciente e de acordo com

a realização da pesquisa, entre outros requisitos.

Após a coleta de dados, realizamos a transcrição das entrevistas e fizemos

uma síntese comparativa das respostas das duas participantes (que aqui

chamaremos de Participante A e Participante B, para preservar a identidade das

mesmas).

A síntese comparativa foi elaborada seguindo tópicos acerca do

conhecimento que as participantes tinham, ou não, sobre o termo biblioterapia, o

envolvimento dos membros da equipe com o Projeto “Livro é o Melhor Remédio”, a

importância do Projeto tanto para as crianças, quanto para os aplicadores e uma

relação das respostas com a revisão de literatura levantada a respeito do tema

biblioterapia.

Na próxima seção faremos um breve relato sobre a Biblioteca Infantil de

Londrina, lócus desta pesquisa. Logo depois, procederemos com a síntese

comparativa das respostas.

3.1 BIBLIOTECA INFANTIL DE LONDRINA

Em virtude da escassez de literatura e do fato de haver pouco registro

histórico sobre a Biblioteca Infantil de Londrina, nos apoiamos basicamente em

matérias do jornal Folha de Londrina, no Portal da Prefeitura de Londrina e um

material intitulado Programa de Necessidades para a Biblioteca Municipal Infantil de

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Londrina (PREFEITURA..., 2015). Desses documentos, foi possível caracterizar a

Biblioteca quanto a sua criação, objetivo, produtos e serviços oferecidos.

A Biblioteca Pública Municipal Infantil de Londrina foi criada e inaugurada no dia 10 de dezembro de 1984, pelo Governador José Richa e pelo então Prefeito do município Dr. Wilson Rodrigues Moreira. A Biblioteca Infantil localiza-se anexo à Biblioteca Pública Municipal de Londrina, à Avenida Rio de Janeiro n. 413, numa área de 200m2 (ALVES, 1989, p.1).

Inicialmente, a Biblioteca Infantil ocupava três salas de uma dependência

localizada nos fundos da Biblioteca Pública de Londrina. Posteriormente, uma das

salas foi cedida à Biblioteca Pública para abrigar o setor de Processamento Técnico.

Além de auxiliar na pesquisa escolar, a Biblioteca Infantil de Londrina oferece

aos alunos das escolas de primeiro grau, mediante visitas agendadas, diversas

atividades lúdicas, como a Hora do Conto, teatro de fantoches, oficinas de pintura,

modelagem e dobradura, jogos recreativos e música (ALVES, 1989, p.4).

Segundo diferentes matérias do jornal Folha de Londrina (WERLE, 2004;

SATO, 2008; ONOZATO, 2009, CARREIRA, 2012), nos primeiros anos de sua

criação, a Biblioteca Infantil costumava realizar, principalmente no período das férias

escolares, diversas atividades destinadas ao público infantojuvenil, entre elas a

contação de histórias, Campeonato de Ludo, oficinas de pintura e colagem, exibição

de filmes, Mostra "Poesia Visual", em comemoração ao Dia Nacional da Poesia, e

lançamentos de livros infantis de autores locais e nacionais. Todas as atividades

eram desenvolvidas com o propósito de incentivar o gosto pela leitura.

Conforme consta no Portal da Prefeitura de Londrina, as atividades culturais e

recreativas que a Biblioteca Infantil desenvolve têm por objetivo despertar e

incentivar o hábito da leitura, estimular a cultura, o lazer e a arte, incentivar o uso do

livro e da Biblioteca e promover a integração da Biblioteca Infantil com a

comunidade. O público-alvo da Biblioteca Infantil de Londrina são crianças e

adolescentes até a faixa etária dos 15 anos, da comunidade londrinense. Hoje, o

acervo da Biblioteca é composto por obras da literatura infantil e infantojuvenil, livros

didáticos, periódicos, gibis e pastas com datas comemorativas, totalizando onze mil

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volumes.

Ao longo dos seus 30 anos, a Biblioteca Infantil de Londrina continua a

atender crianças de toda a região londrinense, auxiliando no ensino e na pesquisa

escolar e, principalmente, promovendo e incentivando a leitura por meio de

atividades lúdicas e recreativas.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta seção apresentaremos uma síntese comparativa das respostas das

duas participantes desta pesquisa. Para permitir melhor compreensão e identificar a

importância do Projeto "Livro é o Melhor Remédio" tanto para as crianças acamadas,

quanto para os aplicadores de biblioterapia dividimos a síntese em subseções.

4.1 QUANTO AO CONHECIMENTO DO TERMO BIBLIOTERAPIA

A Participante A afirmou não conhecer o termo biblioterapia e que as ações

que realizou durante a época do Projeto foram por instinto. A Participante B afirmou,

inicialmente, conhecer o termo, dizendo que a prática da biblioterapia já a

acompanha desde algum tempo, mas que o mesmo soa como algo novo e até

diferente, o que nos causa a impressão da Participante B estar confundindo o

conhecimento atual do termo com a aplicação da prática que fez, independente da

terminologia.

4.2 QUANTO AO ENVOLVIMENTO DA EQUIPE

As Participantes A e B relataram a satisfação e a alegria dos membros que

fizeram parte do Projeto “Livro é o Melhor Remédio”. As duas Participantes também

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comentaram sobre a comoção e o envolvimento emocional que tiveram com as

crianças durante as visitas, por causa da situação em que essas crianças se

encontravam. A Participante A relatou o respeito que a equipe tinha com as crianças

nos dias em que não queriam participar das atividades e a preocupação por parte da

equipe em dar atenção para essas crianças que, aos poucos, acabavam se soltando

e interagindo.

A participante A enfatizou o seu interesse em revigorar o Projeto com visitas

semanais aos hospitais. As duas Participantes relataram a preocupação da equipe

em relação às crianças que estavam tomando soro, com sonda, levando atividades

especiais para elas. A Participante B comentou o interesse da equipe em levar

lembrancinhas para as crianças nos dias de visita. A Participante B afirmou que

foram anos felizes para toda a equipe e comentou a importância das parcerias que

tiveram no Projeto “Livro é o Melhor Remédio”, ressaltando a importância do Projeto

na vida de cada um dos envolvidos. A Participante B relatou que as visitas e o

estado das crianças eram temas de discussão depois do trabalho, demonstrando o

engajamento da equipe com o Projeto.

4.3 QUANTO A IMPORTÂNCIA PARA AS CRIANÇAS

Segundo as Participantes A e B, o Projeto “Livro é o Melhor Remédio” era

fonte de descontração e alegria para as crianças acamadas. A Participante A relatou

o silêncio que as crianças faziam e o brilho que tinham no olhar quando a equipe do

Projeto chegava no hospital. Mesmo aquelas crianças que não estavam se sentindo

muito bem naquele dia, se animavam e participavam das brincadeiras, sorrindo. A

Participante B comentou sobre a importância do Projeto para promover o acesso à

leitura, à brincadeira e à arte para essas crianças que passavam por um momento

tão delicado na vida.

A Participante B ressaltou, ao longo da entrevista, a emoção que as crianças

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sentiam quanto ao fato de saberem que, estando em um leito de hospital, havia

pessoas que se importavam com elas, com o estado delas, com a felicidade delas.

Muitas dessas crianças, segundo a Participante B, passaram a frequentar a

Biblioteca Infantil de Londrina depois de receberem alta dos hospitais, demonstrando

a importância que o Projeto teve em suas vidas.

4.4 QUANTO A IMPORTÂNCIA PARA OS APLICADORES

As Participantes A e B comentaram sobre o prazer que era fazer parte do

Projeto “Livro é o Melhor Remédio”. A Participante A afirmou que amava o que fazia

e que nunca se preocupou em receber algo em troca. Sua intenção apenas era

proporcionar momentos de descontração e alegria para as crianças que estavam

acamadas. A Participante A comentou a sua ida semanal aos hospitais com a Hora

do Conto, quando o Projeto já não estava bem, demonstrando a importância que

atribuía à continuidade do trabalho.

Em dado momento, a Participante A confessou ter saudade do tempo em que

trabalhou na Biblioteca Infantil e no Projeto “Livro é o Melhor Remédio” e que se

emocionou, dias antes, ao lembrar da sua trajetória de 35 anos de trabalho, em

conversa com uma amiga.

A Participante B manifestou a importância que atribuía ao Projeto “Livro é o

melhor Remédio” ao afirmar que sempre enxergou a leitura como fonte de

informação, conhecimento, lazer e atividade terapêutica, mencionando a forma como

o Projeto e as demais atividades desenvolvidas na Biblioteca Infantil de Londrina

contribuíram para a sua formação profissional e pessoal, bem como para o seu

desenvolvimento afetivo, emocional, psicológico e educacional.

A Participante B manifestou o seu desejo de que as visitas aos hospitais

fossem mais frequentes na época, porque percebia a importância do Projeto como

momentos de descontração para as crianças que estavam naquela rotina difícil de

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hospital. Segundo a Participante B, o Projeto “Livro é o Melhor Remédio” foi um

marco para a Biblioteca Infantil e para todos os seus membros e colaboradores.

4.5 COMPARATIVO DAS RESPOSTAS COM O REFERENCIAL TEÓRICO

A partir das entrevistas concedidas, pudemos comprovar a importância da

prática da leitura em nossas vidas. Os relatos das Participantes A e B corroboram

com o pensamento dos autores elencados para dar embasamento teórico a este

trabalho sobre a aplicação da biblioterapia como intervenção terapêutica, capaz de

proporcionar alívio e conforto para pessoas que se encontram em situação de

sofrimento, como o caso das crianças acamadas.

Em primeiro lugar, vimos que mesmo não conhecendo o termo biblioterapia e

não possuindo curso superior, que é o caso da Participante A, qualquer pessoa pode

trabalhar com a aplicação da biblioterapia, desde que esse trabalho seja executado

em parceria com profissionais qualificados e especializados nas áreas de Psicologia

e Assistência Social, como afirmou a Participante B.

A Participante B reforçou, ao longo da entrevista, que os livros são os nossos

melhores amigos, que os livros são remédios para a alma, assim como as inscrições

encontradas nas bibliotecas medievais, citando como exemplo certos momentos em

que, estando com a “cabeça quente”, ao ler um livro, passamos a enxergar nossos

problemas de outra forma. A Participante B também enfatizou que o livro é

fundamental para o desenvolvimento de todas as artes, as quais são responsáveis

por nos tornar pessoas melhores, mais sensíveis e harmônicas.

Comparando o pensamento das duas Participantes, percebemos que o

trabalho realizado nos hospitais por intermédio do livro, do teatro de fantoches, da

Hora do Conto, das brincadeiras e dos jogos lúdicos e recreativos proporcionava às

crianças acamadas momentos de prazer, de alegria, de felicidade e de conforto,

fazendo com essas crianças se esquecessem da sua dor, do seu sofrimento e

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voltassem a brincar e a sorrir.

Neste ponto, destacamos as considerações das Participantes A e B em

relação às atividades lúdicas que eram desenvolvidas tanto no Projeto “Livro é o

Melhor Remédio”, quanto pela Biblioteca Infantil de Londrina no intuito de possibilitar

a inclusão e o acesso à leitura e à literatura infantojuvenil a todas as crianças,

procurando desenvolver nelas o gosto pela leitura, objetivo principal de uma

biblioteca infantil, assim como apontaram os autores consultados para a realização

desta pesquisa.

Nos relatos das duas Participantes, nos chamou atenção o envolvimento

emocional que os membros do Projeto tiveram com as crianças acamadas. Tanto a

Participante A, quanto a Participante B confessaram que a imagem da criança no

leito do hospital mexia muito com o lado emocional de toda a equipe, ao mesmo

tempo que os motivava a continuar com o trabalho. As Participantes A e B relataram

a satisfação que era proporcionar alegria para aquelas crianças, mas demonstraram

certa tristeza pela situação em que algumas crianças se encontravam e que isso

afetava diretamente o estado de espírito de cada membro do Projeto.

Em relação à escolha dos livros, não obtivemos respaldo suficiente para

avaliar os critérios de seleção por parte dos aplicadores de biblioterapia. A

Participante A relatou que, quando trabalhou com a Hora do Conto, levava uma

caixa de livros cujos títulos eram selecionados por uma bibliotecária que trabalhava

na Biblioteca Infantil de Londrina e que eram livros bons, apenas. A Participante A

confessou que as próprias crianças ajudavam na escolha do livro, no momento da

leitura, citando “A Casa Sonolenta”, escrito por Audrey Wood e ilustrado por Don

Wood, como o preferido delas. A Participante B não fez referência quanto à seleção

dos livros, dizendo apenas que pertenciam à literatura infantil.

Complementando, destacamos a preocupação da Participante B em relação à

falta de leitura e a não procura do livro nos dias atuais, bem como os desafios

enfrentados para atrair os leitores, que estão cada vez mais conectados com a

internet. A Participante B fez referência às décadas de 80 e 90, quando a literatura

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infantil era responsável pela formação de cidadãos sensíveis e equilibrados,

engajados com a educação e com a cultura, comprovando a relevância da prática da

leitura na formação social, intelectual, educacional e cultural, como visto ao longo

desta pesquisa, na literatura consultada.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar da dificuldade em afirmar com exatidão, visto que não aprofundamos

por não ser o foco desta investigação, não há, nos cursos de Biblioteconomia

brasileiros, a oferta de uma disciplina que aborde a biblioterapia, com exceção da

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em que há uma optativa que é

frequentada por discentes dessa Universidade e que a Profa. Dra. Clarice Caldin

também autoriza a participação de alunos da Universidade do Estado de Santa

Catarina (UDESC), ambas situadas na cidade de Florianópolis.

Embasados nos autores pesquisados, reforçamos a necessidade do aplicador

de biblioterapia estar preparado mental, emocional e psicologicamente para atuar

nesse campo de trabalho. Também o bibliotecário precisa atuar em parceria com

psicólogos, médicos, psiquiatras e pedagogos que irão trabalhar conforme cada

situação, desde a escolha do texto até o relacionamento pessoal com o “paciente”.

Ao final desta pesquisa, chegamos à conclusão de que cumprimos com o

objetivo proposto. Buscamos na literatura, subsídios para ressaltar a importância da

leitura na formação social, emocional, intelectual e consciente do indivíduo. Embora

não conseguimos entrevistar outros dois membros com formação bibliotecária, da

equipe do Projeto “Livro é o Melhor Remédio” (uma por estar em viagem e outra por

problemas de saúde), as participantes desta pesquisa apresentaram subsídios que

nos permitiu avaliar a necessidade de se ter profissionais qualificados e

especializados, trabalhando em parceria com o propósito de aplicar a biblioterapia.

Trabalhada como forma de intervenção terapêutica, a biblioterapia auxiliou no

tratamento de crianças acamadas, que passaram a aceitar melhor o tratamento e a

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sua condição por intermédio da leitura, de atividades lúdicas e da própria presença

das aplicadoras de biblioterapia, que foram capazes de retirar a criança de uma

realidade de angústia e sofrimento e proporcioná-la momentos de conforto e alívio

de suas dores.

Como resultado do Projeto “Livro é o melhor Remédio”, houve o

desenvolvimento do gosto pela leitura nas crianças, que passaram a frequentar a

Biblioteca Infantil de Londrina logo após se recuperam e receberem alta dos

hospitais.

Para terminar as nossas Considerações Finais, trazemos a frase carregada

de emoção da Participante A sobre um dos requisitos necessários que o aplicador

de biblioterapia deve ter quando se propõe a trabalhar com a prática da leitura

terapêutica: “Tem que gostar de fazer as pessoas felizes!”

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