163
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL IMPLANTAÇÃO DA REDE DE PESQUISA DA CADEIA PRODUTIVA DO BABAÇU - REDE BABAÇU PALMAS - TO

A CADEIA PRODUTIVA DO BABAÇU NO BRASIL

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Texto versa sobre a cadeia produtiva do babaçu no Brasil, em especial na microrregião do Bico do Papagaio.

Citation preview

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

    PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL

    IMPLANTAO DA REDE DE PESQUISA DA CADEIA PRODUTIVA

    DO BABAU - REDE BABAU

    PALMAS - TO

  • 2015

    DOCUMENTO 1

    AVALIAO DO PROCESSO DE IMPLEMENTAO DO PLANO NACIONAL DA

    SOCIOBIODIVERSIDADE NA MESORREGIO DO BICO DO PAPAGAIO

    RESUMO - RESUMO

    PALMAS - TO

    2011

  • AVALIAO DO PROCESSO DE IMPLEMENTAO DO PLANO NACIONAL DA

    SOCIOBIODIVERSIDADE NA MESORREGIO DO BICO DO PAPAGAIO

    RESUMO

    O Plano Nacional para Promoo das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade (PNPSB)

    tem como objetivo promover e fortalecer as cadeias dos produtos da sociobiodiversidade

    brasileira, com agregao de valor e consolidao de mercados sustentveis. O presente

    trabalho avaliou o processo de implementao do PNPSB, investigando a sua efetividade no

    fortalecimento da cadeia produtiva do babau, no mbito da mesorregio do Bico do

    Papagaio. Para tanto, a tcnica Delphi de Polticas foi utilizada na aplicao de questionrios

    aos atores envolvidos (Movimentos Sociais, Comunidades Extrativistas e Setor Pblico). A

    pesquisa revelou a complexidade existente no mbito dessa poltica, observando-se vrias

    discusses num processo de implementao de poltica pblica e de avaliao. Deste modo,

    reconhecer os gargalos fundamental implementao almejada pelos atores sociais

    envolvidos.

    PALAVRAS-CHAVE: Politica, Extrativismo, Comunidades, Desenvolvimento.

    EVALUATION OF THE IMPLEMENTATION PROCESS OF THE NATIONAL

    SOCIOBIODIVERSITY IN MESOREGION BICO DO PAPAGAIO

    ABSTRACT

    The National Plan for the Promotion of socio-biodiversity Chain Products (PNPSB) aims to

    promote and strengthen the bonds of the products of Brazilian biodiversity, with value added

    and consolidation of sustainable markets. This study evaluated the implementation process

    PNPSB, investigating its effectiveness in strengthening the productive chain of babassu,

    within the middle region of the Parrot's Beak. For this, the Delphi technique was used in the

    Policy application of questionnaires to stakeholders (Social Movements, Communities and

    Public Sector). The research revealed the complexities that exist within that policy, observing

    the various discussions in the process of implementing and evaluating public policy so that

    people recognize the bottlenecks is crucial to the implementation desired by the social actors

    involved.

    KEYWORDS: Politics, Extraction, Communities, Development

  • DOCUMENTO 2

    ARRANJOS PRODUTIVOS DO COCO DE BABAU E QUALIDADE DE

    VIDA NA REGIO DO BICO DO PAPAGAIO - TO

    Parte da dissertao apresentada ao Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade Federal do Tocantins como requisito parcial para obteno do ttulo de mestre em Desenvolvimento Regional. Orientador: Dr. Waldecy Rodrigues.

    PALMAS - TO

    2012

    RESUMO

  • A extrao vegetal a atividade mais tradicional na regio do Bico do Papagaio/TO,

    especialmente a explorao de madeiras e de leo do babau. A ocorrncia da palmeira

    Attalea spp., sinonmia Orbignya spp., conhecida como babau, oferece ocupao e

    complemento de renda para centenas de famlias por meio do seu extrativismo. Neste estudo,

    utilizou-se questionrios e entrevistas para mensurar o ndice de condies de vida ICV das

    quebradeiras, dos catadores e dos artesos que trabalham na atividade do coco de babau na

    referida regio, com objetivo de identificar os modelos extrativistas de babau existentes,

    comparando-os, entre si, de forma a analisar e a identificar qual(is) deste(s) modelo(s) podem

    trazer uma melhor qualidade de vida para as comunidades envolvidas. Nos resultados e

    discusses deste estudo, constatou-se que dentre os modelos de aproveitamento de babau

    analisados e comparados, o modelo do projeto Arte Norte, dispe de melhor qualidade de vida

    para os artesos envolvidos.

    Palavras chave: Economia ecolgica, Extrativismo vegetal, Polticas Pblicas, Qualidade de

    vida.

  • ABSTRACT

    The extraction plant is the most traditional activity in the Bico do Papagaio/ TO, especially

    the exploitation of timber and babassu oil. The occurrence of palm Attalea spp., Synonymy

    Orbignya spp., Known as babassu, occupation and provides additional income for hundreds of

    families through its extraction. In this study, we used questionnaires and interviews to

    measure the index of living conditions - ICV of breakers, the collectors and artisans working

    in the babassu coconut activity in that region, aiming to identify models extractive babassu

    existing comparing them with each other, in order to analyze and identify which one (s)

    thereof (s) model (s) can bring a better quality of life for the communities involved. In the

    results and discussion of this study, it was found that among the models use babassu analyzed

    and compared, the project model Arts North, offers better quality of life for the artisans

    involved.

    Key words: Ecological Economics, Extraction plant, Public Policy, Quality of Life.

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AGERP-MA: Agncia Estadual de Pesquisa Agropecuria e de Extenso Rural do

    Maranho.

    APA-TO: Alternativas para a Pequena Agricultura no Tocantins

    ASMUBIP: Associao Regional Mulheres Trabalhadoras Rurais

    CENTRU-MA: Centro de Educao e Cultura do Trabalhador Rural

    COAPIMA: Coordenao das Organizaes e Articulaes dos Povos Indgenas no Maranho

    EMBRAPA COCAIS-MA: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

    IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    ICMBio: Instituto Chico Mendes de Conservao da Biodiversidade

    MDA: Ministrio do Desenvolvimento Agrrio

    MMA: Ministrio do Meio Ambiente

    MIQCB: Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babau

    SEAGRO-TO: Secretaria da Agricultura, da Pecuria e do Desenvolvimento Agrrio

    SEPLAN: Secretaria do Planejamento do Tocantins

    SETAS-TO: Secretaria de Trabalho e Assistncia Social

    UFT: Universidade Federal do Tocantins

  • Pgina 8 de 163

    INTRODUO

    A Amaznia Legal Brasileira formada por nove Estados Acre, Amap, Amazonas, Mato

    Grosso, Par, Rondnia, Roraima, Tocantins, e parte do Maranho (a oeste do meridiano de 44).

    Tem uma rea total de 5.217,423 km, cerca de 60% do territrio brasileiro. Tem uma populao

    total de 25,1 milhes de habitantes, sendo 68,2% urbana e 31,8% rural. Tem uma densidade

    demogrfica de 6,02 habitantes por km (IBGE, 2012).

    A Amaznia Legal um mosaico de fitogenias e diversidade biolgica, com seus 18 bilhes

    de rvores, adiciona-se a isto um mosaico de povos, culturas e etnias. Nela esto localizados os

    cocais ou babauais, com maior ocorrncia nos estados do Maranho, Tocantins, Mato Grosso e

    Par.

    As pessoas que moram nas reas rurais, formadas em sua maioria por povos, comunidades

    tradicionais e agricultores familiares, que, dos recursos naturais, dependem a sua sustentao. Porm,

    suas condies de vida, muitas vezes precria, e o analfabetismo distanciam estas pessoas do

    processo de incluso social e de oportunidades dignas para melhorar a sua qualidade de vida.

    A Mesorregio do Bico do Papagaio compreende 66 municpios (25 no Par, 16 no Maranho

    e 25 no Tocantins) distribudos em oito microrregies, com rea total de 140.109,5 km2 e com

    populao de 1.436.788 habitantes (IBGE, 2012).

    A partir da dcada de 1960, com a construo de Braslia e a abertura da rodovia Belm

    Braslia, esta Mesorregio passou a sofrer grandes modificaes em sua base produtiva. Os

    programas governamentais implantados nos anos 1970, como o Polamaznia e o Polocentro,

    promoveram o aumento da fronteira econmica, acelerando o processo de modernizao agrcola

    com a introduo de novas tecnologias. No entanto, a despeito dessas iniciativas, esse modelo de

    desenvolvimento produziu algumas sequelas significativas, como a concentrao fundiria, disputas

    de terras e expulso de pequenos produtores para os centros urbanos (BRASIL, 2010).

    A extrao vegetal a atividade mais tradicional na regio, especialmente a explorao de

    madeiras e de leo do babau. A ocorrncia da palmeira Attalea spp., sinonmia Orbignya spp.,

    conhecida como babau, oferece ocupao e complemento de renda para centenas de famlias por

    meio do seu extrativismo.

    As reas de babau estimadas no pas esto localizadas nos seguintes estados: Maranho

    69,1%, Piau 6,9%, Mato Grosso 8,6%, Tocantins/Gois 4,0%, Minas Gerais 5,7% e outros estados

    4,0%. Os babauais esto presentes principalmente nos estados do Maranho, Piau, Tocantins e

    Cear, somando uma rea de 18,5 milhes de hectares com potencial de gerao de renda para

  • Pgina 9 de 163

    muitas famlias (MDA, 2011). Estes dados demonstram o quanto expressiva a funo das florestas

    de babau na conservao das espcies animais e vegetais, pois a presena da palmeira do coco de

    babau apresenta alta relevncia nos aspectos sociais, econmicos e ambientais. Pois o extrativismo

    do babau tem sua representatividade na cultura local alm de gerar ocupao e complemento de

    renda para as famlias localizadas nas referidas reas de ocorrncia.

    O manejo do babau ocorre nas entressafras de outras culturas agrcolas da regio,

    aproveitando a mo-de-obra local e reduzindo o xodo rural.

    Este contexto, tambm favoreceu a implantao de vrias indstrias de processamento de

    coco de babau, nas reas de principal ocorrncia desse fruto, como nos estados do Maranho, Piau

    e antigo norte de Gois, hoje Tocantins.

    O nmero de indstrias de babau instaladas no Maranho, entre as dcadas de 50 e 60, era

    de aproximadamente 50 empresas de mdio e grande porte. Atualmente, existem menos 10 indstrias

    em atividade, localizadas nos estados do Tocantins (Tobasa Bioindustrial de Babau S/A) e no

    Maranho (Oleama, FC Oliveira, Saponleo, Iovesa e Sabo Princesa), onde a presente realidade

    demonstra claramente os efeitos que a reduo da produo de babau causou para o setor.

    Atualmente so estimadas 200 mil famlias envolvidas com a atividade de babau, seja na

    quebra, na cata do coco. Vendendo para as indstrias ou atravessadores, organizadas ou no em

    cooperativas. Estas comunidades cumprem papel relevante de conservar as florestas de babau,

    apesar da convivncia com os conflitos fundirios, do no cumprimento da Lei N 1.959, de 14 de

    agosto de 2008 conhecida como Lei do Babau Livre, das queimadas descontroladas, dos

    desmatamentos e em funo da pecuria extensiva e da implantao de grandes empreendimentos

    para produo de soja, cana de acar, eucalipto e ainda as usinas hidroeltricas, termoeltricas, entre

    outros.

    May (1990) concluiu que no reconhecer a utilidade de espcies naturais, como a palmeira de

    babau, assim como a funo do extrativista, significa ignorar o potencial desses recursos no

    processo de desenvolvimento. necessrio ressaltar tambm que o babau uma palmeira cujo porte

    possibilita o aproveitamento de espao para o desenvolvimento de outras culturas alimentares,

    aumentando as possibilidades de reas produtivas.

    Portanto, as comunidades que trabalham com a cata e quebra do coco de babau, atravs de

    associaes, cooperativas, organizaes no governamentais (entre outras), demandam

    acompanhamento e orientao que possam promover e fortalecer essa cadeia produtiva, o uso

    racional do coco e a conservao da palmeira, pois a baixa escolaridade ainda um fator presente nas

    comunidades extrativistas que interfere na compreenso dos extratores quanto aos procedimentos

  • Pgina 10 de 163

    burocrticos que acompanham a implementao de polticas ou projetos para benefcio da cadeia

    produtiva do babau.

    O coco de babau possibilita vrias alternativas de aproveitamento, que so fundamentais

    para o surgimento de investimentos atravs de instituies pblicas e privadas, nacionais e

    internacionais, comprometidas com a sustentabilidade da mesorregio do Bico do Papagaio e que,

    ainda favorea o desenvolvimento dessa regio com a implementao de polticas pblicas

    considerando os aspectos culturais, sociais, econmicos e ambientais da Amaznia Legal.

    Este trabalho tem como principal objetivo identificar os modelos extrativistas de babau

    existentes, comparando-os, entre si, de forma a analisar e a identificar qual(is) deste(s) modelo(s)

    podem trazer uma melhor qualidade de vida para as comunidades agroextrativistas.

    Neste contexto, por meio dos objetivos especficos, pretende-se: i) Comparar na relao com

    a indstria as vantagens e desvantagens em ser catadores de coco ou quebradeiras de coco; e ii)

    Investigar a produo de amndoas e algumas fraes derivadas do coco de babau por associaes

    e/ou cooperativas.

    No Brasil, o aproveitamento integral do coco de babau ainda restrito s indstrias, que o

    consideram vivel economicamente e ambientalmente. Neste sentido, fundamental para as

    comunidades extrativistas, identificar dentro dos modelos de aproveitamento do coco de babau,

    praticados atualmente, qual destes pode proporcionar melhor qualidade de vida e, consequentemente,

    possibilitar a ampliao da conservao das florestas naturais de babau.

    Para diagnosticar a cadeia produtiva do babau, foram utilizadas pesquisa bibliogrfica,

    pesquisa documental, observao participante e entrevistas estruturadas e semiestruturadas. Neste

    sentido, para mensurar o ndice de condies de vida (ICV) dos extrativistas de babau residentes no

    Bico do Papagaio (tocantinense), foram aplicados questionrios conforme as dimenses: ambiental,

    renda mensal, habitao, sade, escolaridade e capital social.

    O trabalho tem a seguinte estrutura. Em primeiro lugar feita uma reviso bibliogrfica dos

    principais elementos tericos a serem utilizados ao longo do trabalho. Parte-se do pressuposto que a

    partir do dilogo estabelecido entre autores seminais da Economia Ecolgica Martinez Alier,

    Georgescu-Roegen , do Ecodesenvolvimento Ignacy Sachs - com autores ligados a concepes

    humanistas de desenvolvimento, tais como Armatya Sen e Karl Polanyi, possvel compreender

    como experincias e perspectivas de desenvolvimento a partir dos atores, seus olhares e

    experincias.

    Posteriormente, trata-se do conceito de desenvolvimento comunitrio, enquanto um elemento

    especfico do processo mais ampliado de desenvolvimento, e sua relao com o capital social,

  • Pgina 11 de 163

    considerando a realidade especfica do agroextrativismo. A seguir apresentado o Plano Nacional

    da Sociobiodiversidade, onde atividade econmica do babau um elemento constitutivo.

    Posteriormente apresentado um diagnstico da cadeia produtiva do babau no Brasil, em particular

    no Estado do Tocantins.

    Nos resultados e discusses, em primeiro lugar apresentado um diagnstico da cadeia

    produtiva do babau, em segundo lugar, partiu-se deste diagnstico para as anlises socioambientais

    dos arranjos produtivos do coco de babau, separados em grupos de, i) catadores de quebradeiras de

    coco de babau que comercializam com a indstria Tobasa, ii) agroextrativistas da Comunidade Sete

    Barracas, e iii) artesos do Projeto Arte Norte. E, em terceiro lugar, confrontar as principais

    dimenses dos arranjos produtivos pesquisados.

    Assim a pesquisa foi desenvolvida nas seguintes etapas: i) Caracterizao socioeconmica da

    cadeia produtiva do babau, ii) Diagnstico socioambiental dos arranjos produtivos pesquisados, iii)

    Clculo do ICV dos arranjos produtivos pesquisados, iv) Comparao das principais dimenses dos

    arranjos produtivos pesquisados.

  • Pgina 12 de 163

    2 REVISO DE LITERATURA

    2.1 Economia Ecolgica e Modelos de Desenvolvimento

    Nas dcadas de 60 e 70, a questo ambiental e o desenvolvimento sustentvel foram inseridos

    na agenda econmica mundial, originando as discusses acerca da Economia Ecolgica, que Alier

    (2007, p.45), denomina como, [...] um campo de estudos transdisciplinar estabelecido em data

    recente, em que observa a economia como um subsistema de um ecossistema fsico global e finito.

    Neste sentido, questionamentos sobre a sustentabilidade da economia, so levantados em funo dos

    impactos ambientais causados pela disputa por energia, recursos naturais e crescimento demogrfico.

    De fato, para Alier (1998, p.268) uma economia ecolgica, [...] usa os recursos renovveis

    (gua, pesca...) com um ritmo que no exceda sua taxa de renovao, que usa os recursos esgotveis

    (petrleo...) com um ritmo no superior ao de sua substituio por recursos renovveis (energia

    fotovoltaica...). Compreende-se a economia ecolgica como um experimento fora da economia

    clssica, que considera da mesma forma aspectos biofsicos e ticos, bem como valores que a

    sociedade possui para conservar-se o grande meio de sobrevivncia que a Terra. Dentre os

    princpios da economia ecolgica, a conservao da diversidade, biolgica, silvestre e agrcola so

    prioridade, e, ainda, a preocupao com a quantidade de resduos que o ecossistema pode reciclar.

    Segundo Alier (1998) a economia ecolgica se relaciona com vrias questes, vale ressaltar

    que dentre as referidas questes algumas tem relao direta com esta pesquisa e outras de forma

    indireta, as quais destacam-se:

    Equidade com sustentabilidade riqueza e pobreza destroem os recursos naturais, conflitos

    distributivos so empecilhos para o alcance da economia ecolgica.

    Os movimentos ecolgicos tm funo relevante na luta em prol do bem estar da populao

    [...] atravs de protestos cvicos.

    Os instrumentos da economia ecolgica inicialmente, mudar a estrutura de consumo e as

    tecnologias, estabelecer objetivos para minimizar as emisses contaminantes e uso dos

    recursos, por meio de discusses cientfico-polticas democrticas e acessveis. Tais objetivos

    podem ser atingidos com a interveno de: a) proibies legais e multas ou outras sanes; b)

    incentivos e penalidades econmicas (o caso da poluio com garrafas de plstico), mercados

    de licena de contaminao, assim como, a implantao de imposto sobre a extrao em

    pedreiras. Os referidos instrumentos norteariam a economia rumo economia ecolgica.

    Politica ambiental estabelecida por acordo a administrao pblica, em seus vrios

    segmentos, poderia priorizar grupos de consumidores que so abertos s mudanas no modo

  • Pgina 13 de 163

    de vida ou j o fizeram (adeptos ao ciclismo, energia solar, consumidores de produtos

    ecolgicos e restaurao de moradias, etc.).

    Na dcada de 70, o economista romeno Nicholas Georgescu-Roegen, em sua obra The

    Entropy Law and the Economic, fez uma abordagem sobre a termodinmica e a economia,

    criticando a prpria economia como mecanicista, e que nesse processo esta no considera os limites

    dos recursos oferecidos pela natureza. Sob essa tica, a escassez dos recursos naturais so

    limitadores do desenvolvimento econmico, e a humanidade precisa redefinir suas estratgias de

    utilizao dos recursos naturais para que o planeta no entre em desequilbrio por completo.

    Portanto, para a conservao dos babauais da regio do Bico do Papagaio tambm deve ser

    estabelecido um plano levando em considerao o limite desse recurso natural e o quanto o

    extrativismo do babau representa economicamente, ainda que a renda adquirida nesta atividade no

    supra na totalidade as necessidades das famlias.

    Embora Georgescu-Roengen no utilizasse o termo economia ecolgica, o alerta em relao

    natureza como um limitante do processo de desenvolvimento econmico, condiz com os princpios

    da economia ecolgica, enquanto um campo que se preocupa com as relaes econmicas, sociais e

    ambientais.

    O desenvolvimento pode ser visto como um processo de expanso das liberdades reais que as

    pessoas desfrutam, bem como ressalta Sen (2000), mas o acesso a essas liberdades, que so

    essenciais ao processo de desenvolvimento, ainda restrito a muitos da sociedade, e quase inacessvel

    boa parte das comunidades, povos tradicionais e agricultores familiares, principalmente aquelas

    que esto numa localizao geograficamente remota, como no caso das comunidades

    agroextrativistas localizadas na mesorregio do Bico do Papagaio.

    Neste sentido, pode-se questionar, se os servios de habitao, sade e educao e a insero

    aos mercados de trabalho esto disponveis a todas as classes sociais, assim como o direito de

    participar de debates, discusses e avaliaes de polticas pblicas, ou seja, a participao nas

    questes sociais. E desse modo, [...] o mundo atual nega liberdades elementares a um grande

    numero de pessoas talvez at mesmo maioria. SEN (2000, p. 18).

    Historicamente, [...], a ideia de desenvolvimento tem sido dissociada das estruturas sociais,

    ignorando as aspiraes dos grupos constitutivos da sociedade, e por essa razo tem tido um carter

    economicista (CECHIN, 2010, p. 175). No entanto, fundamental que o processo de

    desenvolvimento considere a relao do homem com o meio (recursos naturais), na busca de

    fortalecer seus potenciais para satisfazer necessidades e ampliar perspectivas.

  • Pgina 14 de 163

    Martinez Alier (1998, p.101) ressalta, [...] que com grande xito introduziram a expresso

    Sustainable Development na poltica internacional, [...] e, depois, a Comisso de Brundtland das

    Naes Unidas, queriam combinar conscientemente essas duas ideias: desenvolvimento econmico e

    capacidade de sustento. No campo terico, combinar as ideias de desenvolvimento econmico e

    capacidade de sustento algo exequvel, mas encontrar experincias prticas que relacionem essas

    ideias um desafio global. No contexto atual, buscar alternativas prticas e adequadas realidade

    local, torna-se substancial, no livro O ecologismo dos pobres, que Martinez Alier, indica algumas

    alternativas:

    Em relao s guas, optar pela colheita de chuva atravs de pequenas represas; a utilizao

    de mtodos tradicionais de irrigao baseados em tanques;

    Em relao s florestas, questiona-se sobre o controle das matas, pois entreg-las s

    comunidades locais seria uma alternativa mais justa e sustentvel;

    E, ainda, o estimulo positivo agroecologia nos pases industrializados.

    Atualmente, a palavra sustentabilidade possui vrios significados que, dentre eles, fortaleceu

    o conceito que nos remete sustentabilidade como alternativa para combater a degradao ambiental

    - discusso que associa a conservao dos recursos naturais para as geraes futuras e perspectivas

    de desenvolvimento.

    Ao longo da histria, a humanidade imaginou ter domnio sobre os recursos naturais, mas a

    ao antrpica persiste e distancia o homem da compreenso sobre as leis da natureza. Para Dale e

    Carter (1955 p. 155 apud Shumacher, 1997, p. 197): O homem, civilizado ou selvagem, um filho

    da natureza no o senhor dela. Tem de ajustar suas aes a certas leis naturais se quiser manter

    seu domnio sobre o ambiente. O homem no percebe que ultrapassar os limites sinalizados pela

    natureza tem impacto direto na sua permanncia no planeta. E, assim, utiliza o solo e a vegetao,

    causando a desertificao e o desaparecimento de espcies animais, e isto se traduz como o processo

    de civilizao, todavia, gerou mais conflitos do que qualidade de vida para a populao mundial.

    Entretanto, para intervir na questo ambiental, dever-se-ia, primeiramente, sensibilizar as

    pessoas quanto ao conceito de sustentabilidade, levando-as reflexo no que se refere sua relao

    com a natureza, a qual tambm faz parte. Para tanto, imprescindvel compreender os pilares nos

    quais o desenvolvimento sustentvel est estruturado e as mudanas necessrias em prol do

    desenvolvimento e da conservao dos recursos naturais.

    Segundo Sachs (2008) os cinco pilares do desenvolvimento sustentvel so: 1 - Social,

    fundamental por motivos tanto intrnsecos quanto instrumentais, por causa da perspectiva de

  • Pgina 15 de 163

    disrupo (ruptura) social que paira de forma ameaadora sobre muitos lugares problemticos do

    nosso planeta; 2 Ambiental, com as suas duas dimenses (os sistemas de sustentao da vida como

    provedores de recursos e como recipientes para a disposio de resduos); 3 - Territorial,

    relacionado distribuio espacial dos recursos, das populaes e das atividades; 4 - Econmico,

    sendo a viabilidade econmica a condition sine qua non para que as coisas aconteam; 5 - Poltico, a

    governana democrtica um valor fundador e um instrumento necessrio para fazer as coisas

    acontecerem; a liberdade faz toda a diferena.

    Os referidos pilares esto intrinsecamente ligados e interferem, de modo simultneo, nas

    condies de vida humana, mas, deve-se oferecer ao pilar ambiental uma ateno diferenciada, em

    funo dos recursos naturais disponibilizarem tantos meios para se viver, e ao mesmo tempo ter o

    papel de receptor dos resduos. Do mesmo modo, os princpios de igualdade, equidade e

    solidariedade devem estar impregnados no conceito de sustentabilidade, pois so indispensveis e,

    em mdio ou longo prazo, podem impactar no pensamento econmico.

    Por consequncia, desponta a necessidade de incorporar estratgias que impulsionem a

    sustentabilidade. De acordo com Sachs (2008), [...] teremos que desenvolver e utilizar tecnologias

    sustentveis; estabilizar a populao global, visando o equilbrio econmico e a sustentabilidade

    ambiental; e, ainda, ajudar os pases mais pobres a sair dessa condio. Estas so metas

    consideradas bsicas e condicionantes para o alcance da sustentabilidade, a trajetria global, na qual

    a humanidade est inserida, demandando mudanas essenciais s prticas de sustentabilidade, assim

    como, ao bom desempenho ambiental, social e econmico.

    Porm, a prioridade seria voltar os esforos para cooperar com as regies mais pobres do

    planeta, as retirando da situao de misria. E, por conseguinte, atacar o problema da

    superpopulao, por meio do uso de tecnologias sustentveis, que busquem agregar todas as cincias,

    com vistas continuidade da existncia das espcies do planeta.

    Nos dias atuais, essa dinmica permanece e ganha impulso devido s demandas construdas

    pela prpria sociedade. O uso do solo e das pessoas est sob o domnio de grandes grupos

    econmicos, investidores de empreendimentos (joint ventures) em diversos segmentos do mercado.

    Contudo, indispensvel modificar a forma de utilizao do solo e do processo de industrializao,

    atravs de tecnologias sustentveis adequadas realidade local e que busquem a permanncia do

    homem no planeta, visando compensar ou mitigar a ao antrpica na natureza.

    Para Sachs (2008) necessitamos de um comprometimento global comparvel para custear a P

    & D em tecnologias sustentveis, tais como energia limpa, variedades de sementes resistentes seca,

    criao de peixe ambientalmente segura, vacinas para doenas tropicais, aperfeioamento do

    monitoramento remoto e da conservao da biodiversidade e muito mais.

  • Pgina 16 de 163

    Neste sentido, promover e socializar pesquisas e tecnologias que ofeream segurana

    alimentar e sade para as populaes, e, que ainda conserve a biodiversidade, ser uma medida,

    sobretudo inclusiva para as comunidades extrativistas de babau (entre outras tradicionais) da

    mesorregio do Bico do Papagaio, pois estas mantm uma relao estreita com sua regio, com o

    meio em que vivem e com o seu ambiente.

    Todavia, os sistemas de produo integrada carecem de adaptaes conforme sua realidade,

    em vrias escalas, iniciando pela agricultura familiar at chegar aos grandes empreendimentos, e,

    dessa forma, conglomerar todos na estratgia de sustentabilidade.

    Nas palavras de Sachs (2008, p. 51), todos deveriam empenhar-se em busca do [...]

    aproveitamento racional e ecologicamente sustentvel da natureza em benefcio das populaes

    locais, levando-as a incorporar a preocupao com a conservao da biodiversidade aos seus prprios

    interesses [...]. Pela complexidade socioambiental e geogrfica das comunidades extrativistas da

    mesorregio do Bico do Papagaio, so substanciais os mecanismos que proporcionem

    desenvolvimento e conservao ambiental, adequados para sua realidade e no adotar modelos

    aplicados em outras regies.

    Na obra A Grande Transformao, Karl Polany estudou e descreveu as sociedades

    primitivas compreendendo o homem como um ser social, que articula suas aes em busca de

    atender as necessidades coletivas e no somente individuais. Em suas pesquisas relacionadas s

    primeiras civilizaes, concluiu que nos sistemas econmicos o homem operava atravs de

    motivaes sociais e no econmicas, e que o lucro no era o objetivo principal destas sociedades.

    Por isso, Polany distingue quatro princpios de comportamento econmico associados aos

    modelos institucionais, que so:

    Quadro 1 - Classificao das formas de organizao da economia

    TIPOS DE

    ORGANIZAO

    ECONMICA

    DESCRIO

    DOMESTICIDADE - Consiste na produo para uso prprio ou em grupo (em grego OECONOMIA)

    RECIPROCIDADE - Corresponde a relao estabelecida entre muitas pessoas por uma sequncia

    duradoura de dons.

    - Obtm-se em respeito, em estima ou em reconhecimento diante dos outros

    membros.

    REDISTRIBUIO - O produto da atividade de cada um partilhado com as outras pessoas que vivem

    com ele.

    - Inmeros exemplos mostram que a redistribuio tambm tende a enredar o

  • Pgina 17 de 163

    sistema econmico propriamente dito em relaes sociais.

    MERCADO - O mercado o local de encontro para a finalidade da permuta o da compra e

    venda.

    Fonte: Livro: A Grande Transformao adaptado pelo autor.

    O quadro acima pode ser conferido na obra A Grande Transformao, o mesmo esclarece o

    modo de vida das sociedades no mercantis e o quanto a implantao de uma economia de mercado,

    bem como o processo de industrializao impactou no desenvolvimento econmico e social da

    sociedade. Assim compreende-se que os princpios dessas sociedades no eram associados

    meramente economia, o bem estar em comum, por exemplo, era a meta maior.

    Com o advento da indstria no sculo XVIII, a adoo de tecnologias sustentveis tornou-se

    um impasse diante da fora do mercado, visto que [...] a produo das mquinas numa sociedade

    comercial envolve uma transformao que a da substncia natural e humana da sociedade em

    mercadorias (POLANY, 2000, p. 61).

    Polany apresenta os trs estgios que no sculo XVIII, configurou-se a sociedade industrial: i)

    comercializao do solo, ii) elevao da produo de alimentos para atender nacionalmente uma

    produo industrial crescente e iii) ampliao do sistema de produo excedente aos demais

    territrios.

    O mecanismo autorregulador do mercado levou o homem e a natureza a se ajustarem lei da

    oferta e da procura, tornando-os mercadorias ou produtos para comercializao. Do mesmo modo, a

    fora de trabalho foi negociada por meio de um salrio, assim como a terra poderia ser usada

    mediante o pagamento de um aluguel.

    2.2 Desenvolvimento Comunitrio, Capital Social no Agroextrativismo

    O desenvolvimento comunitrio intercorre, sobretudo, quando os membros de determinada

    comunidade internalizam e praticam alguns princpios inerentes ao capital social, (participao,

    confiana, cooperao, solidariedade, organizao e iniciativa). Conforme Bourdieu (1999, p. 65) o

    conceito de capital social est baseado, no: [...] o conjunto de recursos atuais ou potenciais que esto

    ligados posse de uma rede durvel de relaes mais ou menos institucionalizadas de

    interconhecimento e de inter-reconhecimento ou, [...] vinculao a um grupo, como conjunto de

    agentes que no somente so dotados de propriedades comuns [...], mas tambm so unidos por

    ligaes permanentes e teis.

  • Pgina 18 de 163

    Desse modo, atravs de um processo de conscientizao das potencialidades e recursos de

    uma comunidade que se institui o capital social, o qual deve ser cultivado a partir de objetivos que

    visem benefcios coletivos e relevantes para o seu desenvolvimento comunitrio. Para tanto, [...] o

    volume do capital social que um agente individual possui depende ento da extenso da rede de

    relaes que ele pode efetivamente mobilizar e do volume do capital (econmico, cultural ou

    simblico) que posse exclusiva de cada um daqueles a quem est ligado (BOURDIEU, 1999 p. 66).

    Coleman (1998) tambm ressalta, [...] O conceito de capital social como um recurso para a

    ao, uma forma de introduzir a estrutura social no paradigma da ao racional. As formas de

    organizao social so examinadas: obrigaes e expectativas, os canais de informao, e as normas

    sociais [...]. Partindo deste princpio, o capital social entendido como fator preponderante ao

    desenvolvimento das comunidades agroextrativistas, as quais encontram obstculos para a

    sustentabilidade de suas atividades, possivelmente em razo da ausncia de capital social.

    Para Franco (1999) No pode haver nenhuma espcie de desenvolvimento sem

    desenvolvimento social, isto , sem a gerao, ampliao ou reproduo, alterao da composio,

    em termos de qualidade e/ou de quantidade, daquilo que se chama Capital Social. A busca por

    benefcios coletivos est intrnseca aos objetivos sincronizados, o desenvolvimento comunitrio,

    configurado distinto das estratgias governamentais e acontece mediante a transformao de uma

    comunidade. Desse modo possvel antecipar o cenrio futuro conforme a gesto social, o esprito

    participativo e a reciprocidade entre seus membros tornando os atores sociais protagonistas da

    histria do seu desenvolvimento.

    O agroextrativismo ocorre quando atividades como a agricultura, cultivo de rvores frutferas,

    pesca etc., combinam-se com atividades extrativistas gerando o que se chama de conjunto de

    sistemas complexos de produo agroextrativista (WWF1 2012). O referido sistema bastante

    praticado na regio do Bico do Papagaio, em funo do perodo de entre safra do babau, o qual os

    membros das comunidades aproveitam para cultivar e comercializar outras culturas, como o feijo,

    arroz, milho, frutas e hortalias, como alternativa e nica forma de garantir a renda para o sustento de

    suas famlias.

    Neste sentido, necessrio que estas comunidades agroextrativistas, compreendam a relao

    entre sustentabilidade e desenvolvimento, e alcance o efeito das suas aes frente sustentabilidade

    das florestas de babau do Brasil. Assim, concernente reconhecer o sistema agroextrativista

    associado ao extrativismo do babau, como alternativa para o desenvolvimento dos povos e as

    comunidades tradicionais da mesorregio do Bico do Papagaio, como tambm, reconhecer a

  • Pgina 19 de 163

    relevncia do servio ambiental prestado por estas comunidades (comunidade Sete Barracas e demais

    comunidades de Quebradeiras de coco de babau distribudas no Bico do Papagaio), promovendo a

    ecologizao do meio rural.

    Na condio em que essas comunidades encontram-se, o apoio e investimento do setor

    empresarial cumprindo e praticando a responsabilidade social perante as comunidades

    agroextrativistas onde esto inseridas as empresas, e ainda, com a interveno do setor pblico por

    meio de polticas pblicas, voltadas para a sustentabilidade com base na realidade local, sero estes,

    os mecanismos primordiais para alcanar implementaes que contribuam efetivamente com o seu

    desenvolvimento sustentvel, visando projetos que impulsionem o agroextrativismo. Tambm

    importante considerar o aproveitamento integral do coco de babau, no o considerando apenas

    como uma oleaginosa, mas, tambm, como uma biomassa energtica e geradora de produtos

    tecnolgicos e de alto valor agregado, capaz de contribuir com o desenvolvimento local, de elevar a

    qualidade de vida das referidas comunidades e de ainda manter conservadas as florestas de babau da

    regio.

    No s o babau, mas todos os produtos florestais carecem de atendimento s suas demandas

    bsicas, como crdito, acesso aos mercados, capacitaes gerencial, comercial e tcnica, assim como

    o acesso s tecnologias sustentveis que promovam agregao de valor aos produtos e melhoria de

    qualidade de vida para as comunidades agroextrativistas.

    2.3 O Plano Nacional da Sociobiodiversidade

    O Governo federal participou da Conveno de Diversidade Biolgica no ano de 2002 e

    aprovou a Poltica Nacional de Biodiversidade pelo Decreto 4.339 de 22/08/2002. E, posteriormente

    alguns eventos de consultas realizados pelos ministrios que coordenam esta poltica (MDA, MMA e

    MDS) e Sociedade Civil Organizada, apresentaram propostas que deram origem primeira verso do

    Plano Nacional de Promoo das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade (PNPSB). No decorrer

    do, Seminrio Nacional de Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade: Agregao de Valor e

    Consolidao de Mercados Sustentveis, em julho de 2008, a verso final deste Plano foi discutida e

    tornou-se vlida.

    O PNPSB possibilita observar a inter-relao de iniciativas oriundas dos Governos Federais,

    Estaduais e Municipais, tambm de ONGs, Organizaes sociais, Setor empresarial e Instituies

    acadmicas, em busca de desenvolver projetos para a promoo das cadeias produtivas dos produtos

    1 O conceito do termo agroextrativismo utilizado pela ONG WWF, encontra-se Disponvel em:

    http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/reducao_de_impactos2/agricultura/agr_acoes_resultados/agro/ - ltimo acesso

    em 23.03.2012.

  • Pgina 20 de 163

    extrativistas encontrados nos biomas brasileiros. Os atores sociais envolvidos enfatizam que o

    fortalecimento deste mercado imprescindvel para o desenvolvimento sustentvel, de modo que

    possam atravs do extrativismo sustentvel viabilizar projetos de gerao ou complemento de renda,

    ocupao e conservao da biodiversidade.

    O Plano Nacional para Promoo das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade uma

    poltica pblica, que tem como gestores os Ministrios do Meio Ambiente (MMA), do

    Desenvolvimento Agrrio (MDA) e do Desenvolvimento Social e Combate Fome (MDS) e

    CONAB, entre outros parceiros do governo e Organizaes Sociais. Segundo o documento oficial do

    PNPSB, [...] O Plano tem como principal objetivo desenvolver aes integradas para a promoo e

    fortalecimento das cadeias de produtos da sociobiodiversidade, com agregao de valor e

    consolidao de mercados sustentveis [...], e ainda promover [...] produtos e servios da

    sociobiodiversidade oriundos de territrios ocupados por povos indgenas, quilombolas,

    comunidades tradicionais e agricultores familiares [...].

    Para tanto, a articulao com outras polticas pblicas fundamental, dentre elas esto: i)

    PAA Programa de Aquisio de Alimentos da Agricultura Familiar, ii) PCTAFs Poltica

    Nacional de Desenvolvimento Sustentvel dos Povos e Comunidades Tradicionais e iii) PRONAF

    Programa Nacional de Fortalecimento da agricultura Familiar. Dessa forma, pretendem viabilizar a

    integrao de aes que complementam e atendam as reais necessidades dos seus beneficirios. Os

    objetivos especficos colocados no Plano abrangem aspectos como:

    Promover a conservao, o manejo e o uso sustentvel dos produtos da sociobiodiversidade.

    Fortalecer cadeias produtivas em cada um dos biomas agregando valor aos produtos da

    sociobiodiversidade.

    Fortalecer a organizao social e produtiva dos povos indgenas, quilombolas, comunidades

    tradicionais e agricultores familiares.

    Ampliar, fortalecer e articular instrumentos econmicos necessrios estruturao das

    cadeias produtivas.

    Fortalecer redes de conhecimento integrado s aes de pesquisa, assistncia tcnica e

    capacitao.

    Fortalecer a articulao intra e interinstitucional e inter-setorial.

    Adequar o marco legal de maneira a atender as especificidades dos produtos da

    sociobiodiversidade.

    Os eixos dessas aes esto estabelecidos num conjunto de linha de operaes, que

    contemplam suas prioridades conforme a descrio apresentada no Plano, bem como atividades

    complementares para a valorao dos servios da sociobiodiversidade, as quais seguem abaixo:

  • Pgina 21 de 163

    Promoo e apoio produo e ao extrativismo sustentvel;

    Estruturao e fortalecimento dos processos industriais;

    Estruturao e fortalecimento de mercados para os produtos da sociobiodiversidade;

    Fortalecimento da organizao social e produtiva;

    Aes complementares para a valorao dos servios da sociobiodiversidade.

    As estratgias de implementao do PNPSB trazem elementos que do seu ponto de vista,

    contribuem para a eficcia e o desenvolvimento adequado de uma poltica pblica, dentre esses, trs

    elementos citados no Plano chamam ateno para:

    Evitar a duplicao de estruturas e iniciativas, valorizando e reforando o que j existe.

    Articular e fortalecer os espaos, polticas e programas j existentes em torno dos produtos da

    sociobiodiversidade, buscando a complementariedade entre as aes.

    Buscar a gesto participativa e compartilhada, articulando os setores governamental, privado

    e as organizaes sociais, nas escalas federal, regional, estadual, municipal, local. Ou seja, o

    Plano no de responsabilidade exclusiva do Governo Federal, mas de todos os segmentos

    interessados no fortalecimento das cadeias produtivas de produtos da sociobiodiversidade.

    O PNPSB composto de diretrizes estratgicas que esto de acordo com as polticas pblicas,

    com o marco regulatrio nacional e os acordos internacionais, os quais o Brasil signatrio, estando

    ajustadas s demandas sociais apresentadas em Seminrios de consulta realizadas nos biomas,

    Amaznia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlntica, Pantanal e Pampa. Eis as diretrizes mencionadas neste

    Plano:

    i) Promover a conservao e o uso sustentvel da biodiversidade;

    ii) Promover o reconhecimento dos direitos dos povos indgenas, quilombolas, comunidades

    tradicionais e agricultores familiares ao acesso aos recursos da biodiversidade e repartio justa

    e equitativa de benefcios;

    iii) Promover a valorizao e respeito da diversidade cultural e conhecimento tradicional;

    iv) Promover a segurana alimentar e nutricional a partir da alimentao diversificada;

    v) Buscar a agregao de valor socioambiental, com gerao de emprego, renda e incluso

    social;

    vi) Construir e consolidar mercados regidos por valores de cooperao, solidariedade e tica;

    vii) Adotar a abordagem de cadeias e arranjos produtivos, o enfoque participativo, territorial e

    sistmico como elementos de concepo e implementao do Plano;

    viii) Promover o empoderamento e controle social;

    ix) Promover a articulao intra e institucional, e inter-setorial;

  • Pgina 22 de 163

    x) Implementar uma estrutura de gesto com base no compartilhamento de responsabilidades

    entre os setores pblico, privado e a sociedade civil organizada. (MDA, 2011)

    Para Neves, Rodrigues e Silva2 (2011), a avaliao do processo de implementao do PNPSB

    na mesorregio do Bico do Papagaio indica alguns gargalos que devem ser dirimidos em curto prazo,

    para concretizar o objetivo maior do Plano, que o fortalecimento da cadeia produtiva do babau na

    referida mesorregio.

    Por consequncia, da perspectiva da atividade agroextrativista, o PNPSB apresenta estratgias

    para compreenso de que princpios mais abrangentes possam direcionar as aes de governo,

    evitando, assim, a repetio de aes por vezes ineficazes e potencializando todas as iniciativas

    desenvolvidas pelas comunidades agroextrativistas de babau. Esta pesquisa revela que o Plano

    representa uma oportunidade para as organizaes sociais colocarem suas demandas e abranger

    segmentos econmicos que antes no seriam contemplados.

    Todavia, observa-se que a maior parte dos atores envolvidos nesta pesquisa concorda com as

    diretrizes e estratgias de implementao utilizadas pelo referido Plano, e ainda est aberta a dilogos

    que possam acelerar a implementao desta poltica pblica e das aes voltadas para atingir seus

    objetivos e metas propostos, contribuindo, de fato com o fortalecimento da cadeia produtiva do

    babau.

    Diante do contexto, atender as recomendaes apresentadas pelas comunidades

    agroextrativistas ser de fundamental importncia para prover e estimular os implementos essenciais

    ao desenvolvimento Plano do Nacional da Sociobiodiversidade.

    Eis as principais recomendaes apresentadas (NEVES, RODRIGUES E SILVA, 2011):

    Realizar o planejamento de comunicao que utilize vrios veculos (Rdio Comunitria,

    Carro de som, Impressos, TV e outros).

    A diminuio da burocracia (autorizao da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria -

    ANVISA para fabricao de produtos; licena de operao - LOP junto ao Instituto Natureza

    do Tocantins - NATURATINS; ausncia de registro para emisso de Nota Fiscal).

    Organizar a estrutura logstica e ampliar o investimento em rodovias e sistemas de

    transportes.

    Estimular a organizao social e produtiva entre os extrativistas.

    Ampliar e viabilizar o acesso s politicas pblicas.

  • Pgina 23 de 163

    Divulgar para a populao (consumidores potenciais) os benefcios nutricionais do coco de

    babau.

    Reconhecer e promover a valorizao do extrativismo do babau como forma de conservao

    ambiental.

    Definir, como ao prioritria do Governo Federal, o combate s elevadas taxas de

    analfabetismo que atingem muitas comunidades extrativistas.

    3 METODOLOGIA

    Partindo dos pressupostos da Economia Ecolgica, e no dilogo com o Ecodesenvolvimento,

    e com vises humanistas do processo de desenvolvimento, foram desenvolvidos os procedimentos e

    instrumentos desta pesquisa.

    Foram diagnosticados os principais arranjos produtivos da extrao do coco babau na regio

    do Bico do Papagaio TO. Neste sentido, para realizar a pesquisa, o trabalho foi dividido em trs

    etapas, a primeira consistiu em selecionar as reas rurais de 11 municpios (Aguiarnpolis,

    Tocantinpolis, Nazar, Luzinpolis, Riachinho, Carrasco Bonito, Buriti, So Miguel do Tocantins,

    Araguatins e Anans), onde esto localizadas as comunidades que praticam o extrativismo do babau

    e desenvolvem atividades significativas, com grande expresso ambiental, social e econmica para

    regio do Bico do Papagaio.

    Estabelecida diviso de reas, na segunda etapa selecionou-se o pblico alvo da pesquisa,

    conforme cada arranjo, com a seguinte distribuio:

    Projeto Arte Norte artess residentes nas cidades, Aguiarnpolis, Tocantinpolis, Nazar e

    Araguatins/TO;

    Assentamento Sete Barracas comunidade agroextrativista localizada na zona rural de So

    Miguel/TO;

    Tobasa catador homens e mulheres catadores de coco de babau que comercializam o coco

    inteiro com a indstria Tobasa, residentes da zona rural de Nazar, Anans, Luzinpolis/TO;

    Tobasa quebradeira mulheres quebradeiras de coco de babau que comercializam sua

    produo de amndoa e cascas com a indstria Tobasa, residentes na zona rural de Buriti e

    Carrasco Bonito/TO.

    Assim a pesquisa foi desenvolvida nas seguintes etapas:

    2 Neves, Rodrigues e Silva. Avaliao do Processo de Implementao do Plano Nacional da Sociobiodiversidade na Mesorregio do Bico do Papagaio. IX Encontro Nacional da ECOECO Braslia/DF, 2011.

  • Pgina 24 de 163

    I. Caracterizao socioeconmica da cadeia produtiva do babau.

    II. Diagnstico socioambiental dos arranjos produtivos pesquisados.

    III. Clculo do ICV dos arranjos produtivos pesquisados.

    IV. Comparao das principais dimenses dos arranjos produtivos pesquisados.

    3.1. Caracterizao socioeconmica da cadeia produtiva do babau.

    Foram levantados dados secundrios da extrao do coco babau no Brasil, em fontes

    especializadas, e depois os dados foram colocados em uma dimenso temporal e espacial. Os dados

    posteriormente foram trabalhados estatisticamente para verificar a evoluo da atividade no pas, nas

    mesorregies e nas unidades da federao.

    Atravs de pesquisa documental foram levantadas informaes qualitativas sobre a estrutura e

    as perspectivas de produo e tecnolgica no beneficiamento do coco babau. Tambm, foi

    pesquisado um acervo fotogrfico para demonstrar as rotas tecnolgicas do coco babau.

    3.2 Diagnstico socioambiental dos arranjos produtivos pesquisados

    Atravs de pesquisa documental e entrevistas semiestruturadas foi realizado o histrico de

    cada uma das tipologias definidas: Catadores e quebradeiras de coco com relao comercial com a

    indstria; artess do Projeto Arte Norte e agricultores familiares do Assentamento Sete Barracas.

    Foi realizado o contato com os representantes da Tobasa Bioindustrial, do Projeto Arte

    Norte/Sebrae e do Clube Agrcola Sete Barracas, para apresentar a pesquisa em questo, assim como,

    seus objetivos e dessa forma obter a autorizao e apoio para o desenvolvimento dos trabalhos. E,

    assim, verificar vrios modelos de aproveitamento do coco de babau praticados pelas as

    comunidades extrativistas da referida regio, como informado anteriormente, os produtos advindos

    desse aproveitamento proporcionam a comercializao do coco inteiro, amndoas, leo, mesocarpo,

    carvo e artesanato com alta qualidade.

    Para obter informaes relacionadas s atividades da Tobasa Bioindustrial de Babau S/A.,

    um questionrio estruturado e um roteiro de perguntas, foi aplicado aos seus representantes, aos

    fornecedores de matria prima - negociam a compra dos produtos comercializados com os

    extrativistas e aos membros das comunidades que realizam as atividades de:

    Coleta do coco de babau;

    Produo de carvo;

  • Pgina 25 de 163

    leo;

    Amndoas.

    As perguntas-chave buscaram responder as questes relacionadas comercializao,

    produo, fornecimento, relao com a indstria, relao com fornecedores e renda mensal,

    conforme abaixo descritas:

    i) Quem so os componentes da cadeia produtiva do babau?

    ii) Onde esto localizados ou residem?

    iii) O que produzem por meio da extrao do coco de babau?

    iv) O quanto fornecem de matria-prima ou produtos para indstrias qumicas,

    siderrgicas, cermicas (entre outros)?

    v) Como a relao dos fornecedores com a indstria ou outros segmentos de empresas

    que comercializam?

    vi) Como acontece a relao entre fornecedores e extrativistas?

    vii) Qual a renda mensal advinda do extrativismo do babau?

    Foram aplicados 155 questionrios e realizadas 03 entrevistas estruturadas e semiestruturadas

    distribudas territorialmente na zona rural de 10 municpios (Aguiarnpolis, Tocantinpolis, Nazar,

    Luzinpolis, Riachinho, Carrasco Bonito, Buriti, So Miguel do Tocantins e Anans), junto aos

    membros das comunidades extrativistas e representantes de indstrias da mesorregio do Bico do

    Papagaio, para levantar as condies de vida dessa populao, assim como a situao atual da cadeia

    produtiva do babau na regio.

    Quadro 02. Por tipologia, os questionrios e entrevistas tiveram a seguinte distribuio.

    Tipologia Quantidade de

    questionrios

    Quantidade de

    entrevistas

    Locais

    (Municpios) de

    Aplicao dos

    Instrumentos de

    Pesquisa

    Tamanho da

    Populao

    Catadores de coco

    com relao

    comercial indireta

    49 02 Nazar, Anans e

    Luzinpolis/TO

    1.500

  • Pgina 26 de 163

    com a Indstria

    Quebradeiras de

    coco com relao

    comercial indireta

    com a Indstria

    48 03 Buriti e Carrasco

    Bonito/TO

    500

    Artess do Projeto

    Arte Norte

    34 03 Aguiarnpolis,

    Tocantinpolis,

    Nazar e

    Araguatins/TO

    80

    Agricultores

    familiares do

    Assentamento Sete

    Barracas

    27 02 So Miguel/TO 50

    Posteriormente os dados foram tabulados utilizando o pacote estatstico SPSS (Statistical

    Package for Social) verso 15.0 e os dados por tipologia estudada foram agrupados nas seguintes

    dimenses, com seus respectivos indicadores como demonstrado no quadro abaixo.

    Quadro 03. Dimenses e indicadores do ICV

    Dimenses Indicadores

    Fatores que favorecem o

    desenvolvimento

    (intitulamentos).

    Relacionamento com os proprietrios de fazendas por parte dos extratores

    Condies educacionais das famlias dos extratores de babau

    Avaliao das condies educacionais por parte dos extratores

    Acesso a bens por parte dos extratores de babau

    Avaliao das condies de moradia

    Indicadores das condies de moradia

    Polticas Pblicas

    Avaliao das condies gerais de comercializao

    Participao em programas do Governo Federal

    Avaliao dos extratores em relao as regras de participao em programas

    do Governo

  • Pgina 27 de 163

    Avaliao dos extratores em relao Assistncia Tcnica

    Avaliao dos extratores a atuao das instituies na regio

    Caractersticas do

    Desenvolvimento (elementos de

    converso)

    Avaliao da quantidade de pessoas da famlia trabalhando com babau

    Avaliao dos pesquisados sobre as fontes da renda familiar

    Avaliao das condies gerais de trabalho por parte dos extratores

    Avaliao dos extratores em relao a sua renda

    Avaliao dos entrevistados em relao as suas condies gerais de

    produo

    Ambiental

    Avaliao da distncia at aos babauais

    Avaliao do acesso aos babauais

    Percepo da variao das distncias nos ltimos 5 anos

    Avaliao das fontes de gua por parte dos extratores

    Avaliao da conservao da floresta por parte dos extratores

    Efeitos do Desenvolvimento

    (capacitaes e

    funcionamentos)

    Avaliao dos extratores em relao s condies gerais de alimentao e

    nutrio

    Avaliao dos extratores sobre danos da atividade com o babau sobre a

    sade

    Avaliao dos extratores sobre as condies gerais de sade

    Percepo dos extratores sobre a evoluo de sua situao econmica nos

    ltimos 5 anos

    Percepo dos extratores sobre a evoluo da situao ambiental vivenciada

    nos ltimos 5 anos

    Capital Social Avaliao dos extratores sobre sua participao em organizaes

    associativas e comunitrias

    Avaliao dos extratores sobre sua participao poltica

    Avaliao dos extratores sobre sua participao em atividades culturais

  • Pgina 28 de 163

    Indicadores de capital social

    Percepo dos extratores aspectos de sua participao comunitria

    Motivao dos extratores em continuarem filiados em organizaes

    associativas e comunitrias

    Motivao dos extratores para se tornarem filiados em organizaes

    associativas e comunitrias

    O interesse conhecer a fundo as diversas experincias que as comunidades agroextrativistas

    tm com o babau, e avaliar as melhores formas de se conviver de forma sustentvel com a

    biodiversidade existente.

    3.3 Clculo do ICV dos arranjos produtivos pesquisados.

    Para verificar qual modelo de aproveitamento do coco de babau considerado sustentvel

    do ponto de vista socioambiental, econmico, e que ainda contribua com a melhoria das condies de

    vida das comunidades extrativistas, foram aplicados questionrios para estimar o ndice de

    Condies de Vida - ICV inicialmente [...] Desenvolvido pela Fundao Joo Pinheiro, [...], para

    estudar a situao de municpios mineiros, que foi logo depois adequado, em consrcio com o IPEA,

    o IBGE e o PNUD, para a anlise de todos os municpios brasileiros (IPEA/IBGE/FJP/PNUD, 1998).

    Para MINAYO, HARTZ, BUSS3 (2000) o ICV um composto de 20 indicadores em cinco

    dimenses: 1) renda (familiar per capita, grau de desigualdade, percentagem de pessoas com renda

    insuficiente, insuficincia mdia de renda e grau de desigualdade na populao de renda

    insuficiente); 2) educao (taxa de analfabetismo, nmero mdio de anos de estudo [...]; 3) infncia

    (percentagem de crianas que trabalham; [...] crianas que no frequentam escola [...]; 4) habitao

    (percentagem da populao em domiclios com densidade mdia acima de duas pessoas por

    dormitrio; [...] populao que vive em domiclios durveis e [...] que vive em domiclios com

    instalaes adequadas de esgoto) e 5) longevidade (esperana de vida ao nascer e taxa de mortalidade

    infantil). O ICV sintetizado por meio de vrios artifcios metodolgicos [...] resultado da

    colaborao entre FJP/IPEA/IBGE/PNUD (1998).

    3 MINAYO, Maria Ceclia S., HARTZ, Zulmira Maria de Arajo; BUSS, Paulo Marchiori. Qualidade

    de vida e sade: um debate necessrio. Disponvel em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-

    81232000000100002&lng=pt&nrm=iso >. Acesso em: 09 de mar. 2012.

  • Pgina 29 de 163

    Entretanto, para mensurar as condies de vida das artess, quebradeiras e dos catadores de

    coco de babau no Bico do Papagaio tocantinense, foi elaborado, um questionrio com base no

    ndice de Condies de Vida - ICV do Programa Territrios Rural da Secretaria de Desenvolvimento

    Territorial (SDT/MDA). O questionrio trabalhou os aspectos subjetivos e foi aplicado conforme a

    realidade local, dessa forma, possibilitou saber quais so as suas as expectativas para o futuro, o

    modo como esto se organizando e se existem instrumentos que favoream a sustentabilidade social,

    ambiental e econmica dessas comunidades.

    O ICV um indicador que tem como propsito reproduzir as mudanas demonstradas pelas

    condies de vida, trata-se de um instrumento de acompanhamento e anlise dessas condies nos

    territrios rurais (Documento, Sistema de Gesto Estratgica ndice de Condies de Vida, da

    Secretaria de Desenvolvimento Territorial SDT/MDA/2011). Para realizar a pesquisa e

    compreender as especificidades que envolvem a realidade das artess e dos extrativistas do coco de

    babau localizados no Bico do Papagaio tocantinense, o ICV foi adaptado e reconstitudo em 06

    (seis) instncias, cada uma associa os seus respectivos indicadores, conforme abaixo:

    Quadro 04 Instncias e Indicadores de Desenvolvimento e das Condies de Vida das

    Comunidades Extrativistas de Babau

    Fatores que favorecem o

    desenvolvimento

    (intitulamentos).

    1. Mo de obra familiar em atividade dentro ou fora da unidade

    2. rea da unidade de produo familiar

    3. Escolaridade

    4. Condies da moradia

    5. Acesso a mercados

    Polticas

    6. Acesso a polticas pblicas (Pronaf, Bolsa-famlia, etc.)

    7. Acesso a crdito e assistncia tcnica

    8. Presena de instituies que favorecem o desenvolvimento rural

    Caractersticas do

    Desenvolvimento (elementos de

    converso)

    9. Renda familiar

    10. Produtividade do trabalho

    11. Produtividade da terra

    12. Diversificao da produo agrcola

  • Pgina 30 de 163

    13. Pluriatividade, diversificao nas fontes de renda familiar

    Ambiental

    14. Uso e preservao dos recursos naturais: gua

    15. Uso e preservao dos recursos naturais: solo

    16. Uso e preservao dos recursos naturais: vegetao nativa

    Efeitos do Desenvolvimento

    (capacitaes e

    funcionamentos)

    17. Estar bem alimentado / nutrido

    18. Ter boa sade

    19. Permanncia dos membros da famlia da unidade de produo

    20. Percepo sobre as mudanas na situao econmica da famlia

    21. Percepo sobre as mudanas na situao ambiental da unidade

    Capital Social (disposio para

    cooperar)

    22. Participao social (cooperativas e associaes)

    23. Participao poltica (eleies, conselhos e assembleias)

    24. Participao cultural (grupos de expresso cultural, outras

    atividades).

    Os indicadores mencionados basearam a elaborao do questionrio que foi utilizado para o

    calculo do ICV das artess e dos extrativistas de babau.

    Para tanto, o ICV foi calculado conforme a orientao do documento de referencia, Sistema

    de Gesto Estratgica ndice de Condies de Vida, da Secretaria de Desenvolvimento Territorial

    SDT/MDA/2011, o qual determina que os referidos indicadores sejam avaliados numa escala de 05

    (cinco) pontos, iniciando por 01 (hum) = pssimo at 05 (cinco) = timo, assim obtm-se a mdia

    aritmtica dos indicadores de cada instncia.

    O referido documento recomenda que, para se alcanar o ICV de um Territrio, deve-se

    seguir trs etapas, nas quais so utilizadas as informaes dos questionrios aplicados na pesquisa.

    Primeira etapa calcular a mdia aritmtica de cada indicador (mj), em cada instncia:

  • Pgina 31 de 163

    A quantidade de questionrios aplicados com respostas vlidas do indicador i.

    Segunda etapa calcular a mdia aritmtica dos indicadores de cada instncia (di).

    Terceira etapa mdia harmnica das instncia (ICV).

    Os nveis de ICV, esto classificados em, i) baixo, ii) mdio baixo, iii) mdio, iv) mdio

    alto, e v) alto ndice, de acordo a tabela abaixo:

    Tabela 1. Classificao do ICV

    ICV

    ALTO MDIO ALTO MDIO MDIO BAIXO BAIXO

    5 5-4 4-3 3-2 1-2

    3.4 Comparao das principais dimenses dos arranjos produtivos pesquisados.

    Qual a forma de trabalho com o coco babau que trs maior qualidade de vida para as

    comunidades envolvidas? Visando responder esta pergunta central para o trabalho sero feitas as

    seguintes comparaes entre os casos estudados.

    Em primeiro lugar sero comparados os ICVs de cada caso Quebradeiras, Catadores,

    Agroextrativistas e Artess.

    Depois separadamente sero comparadas as dimenses, i) Fatores que favorecem o

    desenvolvimento, ii) Polticas Pblicas iii) Caractersticas do Desenvolvimento, iv) Ambiental, v)

    Efeitos do Desenvolvimento, e vi) Capital Social, do ICV nos casos analisados.

    Por fim, alguns indicadores chaves sero comparados, com o intuito de destacar as

    especificidades na situao de cada arranjo produtivo, so eles:

  • Pgina 32 de 163

    Escolaridade;

    Renda;

    Alimentao/nutrio;

    Sade;

    Capital social.

  • Pgina 33 de 163

    4 RESULTADOS E DISCUSSES

    4.1 Catadores e Quebradeiras de Coco com relao comercial com a Tobasa Bioindustrial de

    Babau

    4.1.1. Histrico da Tobasa Bioindustrial de Babau

    A Tobasa foi fundada em 1969 pela famlia Baruque, um grupo empresarial de Minas Gerais

    que na poca dirigia uma fbrica de sabo de coco, instalada em Belo-Horizonte, cuja marca

    denominava-se sabo libans. Pelas dificuldades de abastecer esta empresa com o leo de coco de

    babau, matria-prima principal na fabricao do sabo de coco, o lder do grupo, engenheiro

    Edmond Baruque, ento empresrio e professor da Escola de Engenharia da antiga Universidade do

    Brasil no Rio de Janeiro, saiu em busca de estabelecer parcerias para o fornecimento com os

    principais produtores de leo de babau, que se localizavam nos estados do Piau, Maranho e

    Tocantins (na poca, extremo norte de Gois). Foi, ento, neste giro comercial pelo Norte e Nordeste

    que o empresrio se impressionou com os milhes de hectares de florestas nativas de palmeiras de

    babau, promovendo, a partir deste cenrio, a fundao da indstria Tobasa com o apoio da Sudam,

    no municpio de Tocantinpolis, uma vez que a regio do Bico do Papagaio j era,

    reconhecidamente, a terceira maior regio produtora de amndoas do Brasil.

    Neste contexto, em seus primeiros 20 anos de atividade, a empresa processava apenas a

    amndoa produzida, via gume do machado, pelas mulheres quebradeiras de coco, a partir do

    extrativismo tradicional existente nos trs maiores estados produtores do pas, referidos

    anteriormente, produzindo, desta forma, em sua fbrica, apenas o leo e a torta de babau. Todavia,

    com o passar dos anos, a Tobasa visualizou que a maior parte do fruto era desperdiada, pois as

    amndoas representam apenas 7% do peso do coco, o que levou a empresa a investir nas tecnologias

    de processamento integral do coco de babau, as quais pudessem permitir o aproveitamento dos 93%

    do restante da riqueza do coco para a gerao de novos produtos industriais, como as biomassas

    energticas, as farinhas amilceas, o lcool e o carvo ativado, a partir das trs fraes remanescentes

    do coco (epicarpo, mesocarpo e endocarpo).

    De modo, o empreendimento Tobasa passou a tornar-se referncia no Brasil como projeto

    empresarial nico e pioneiro, a partir da consolidao de suas tecnologias inovadoras para o

    aproveitamento integral do coco de babau, gerando em consequncia, patente, teses de mestrado e

    doutorado, em parcerias com universidades e instituies de pesquisa, com trabalhos publicados no

    Brasil e no exterior.

  • Pgina 34 de 163

    Atualmente, a Tobasa Bioindustrial dispe de um complexo industrial implantado desde

    1969, estando instalada e operando h 42 anos desde o antigo Gois e hoje estado do Tocantins, na

    cidade de Tocantinpolis, microrregio do Bico do Papagaio, gerando 160 empregos diretos no

    complexo industrial e em torno de 1.500 empregos indiretos (extrativistas) na rea florestal.

    Alm de todos os benefcios sociais estabelecidos por lei, a Tobasa fornece moradia gratuita

    maioria de seus funcionrios em sua vila residencial. Estimula o esporte entre colaboradores atravs

    do time, Tobasa Futebol Clube, campeo da Copa do Trabalhador Sesi/Senai em 2008, municipal,

    estadual e regional, participando, inclusive, de competies nacionais at 2011.

    No campo da educao, participa do comit gestor da Escola de Informtica e Cidadania de

    Tocantinpolis, que tem como objetivo desenvolver cursos de informtica e de formao psicossocial

    em cidadania s comunidades carentes da cidade. Tambm apoia as associaes de bairros e artesos

    de Tocantinpolis por meio do Projeto Arte Norte (atravs do fornecimento de babau fatiado e

    carvo granulado da casca do babau para confeco das peas de artesanato) em parceira com o

    SEBRAE como membro mantenedor no desenvolvimento do artesanato na regio norte do

    Tocantins.

    Vista Area do Complexo Industrial:

    Fonte: Tobasa Bioindustrial S/A 2012

    Na sua estrutura industrial, possui uma logstica de processamento integrado para o

    aproveitamento completo do coco de babau, desde silos armazenadores de coco, mquinas e

    equipamentos mecnicos de descorticagem e de processamento de corte transversal do fruto, at a

    distribuio mecanizada em suas fbricas de leo, sabo, lcool, carvo ecolgico e carvo ativado,

  • Pgina 35 de 163

    com uma capacidade de produo projetada para apresentar um crescimento sustentado, com um

    nvel de tecnologia industrial que permite garantir qualidade fsico-qumica compatvel, ou at

    mesmo superior, aos melhores carves ativados disponveis nos mercados nacional e internacional

    conforme reforou o representante da empresa entrevistado nesta pesquisa.

    Sob o ponto de vista de instalaes inovadoras, pioneiras e patenteadas, destaca-se o processo

    de extrao mecnica das amndoas do coco por via seca (mquina de corte transversal do coco),

    considerado revolucionrio por descortinar um universo tcnico e socioeconmico totalmente

    inovador para a economia babaueira no Brasil, pois rompe com o processo tradicional do

    extrativismo do babau via gume de machado, neste caso invivel para a indstria. Os

    representantes da Tobasa ressaltaram o respeito e a considerao pelo trabalho das centenas de

    quebradeiras de coco da regio e ainda informaram que no realizam coleta de coco nas reas onde

    desenvolvem suas atividades.

    A empresa tambm detentora da primeira destilaria de lcool de babau em escala

    industrial, onde os processos biotecnolgicos de desenvolvimento contaram, parcialmente, com a

    assistncia tcnica do Instituto Nacional de Tecnologia (INT) e com a parceria cientfica da

    COPPE/UFRJ, gerando inclusive tese de doutorado em engenharia qumica (Baruque Filho, 2000),

    sendo a concepo do projeto bsico de engenharia, bem como de sua execuo e montagem,

    coordenada pela equipe tcnica da prpria empresa.

    Relaes institucionais e parcerias com os setores pblico e privado:

    Embrapa Cocais e Plancies Inundveis (com sede em So Lus/MA)

    A Tobasa, por assumir a responsabilidade por projetos de P&D da cadeia produtiva do

    babau, apoia e investe, como lder, num projeto de desenvolvimento de mudas de palmeiras de

    babau no Stio Cocal, de sua propriedade, localizado em Tocantinpolis. Trata-se de um estudo

    piloto de avaliao da capacidade de sequestro de carbono da atmosfera, com vistas a identificar a

    contribuio da floresta de babau na reduo do efeito estufa, em parceria com a Embrapa Cocais e

    o Instituto RIA. Os principais beneficiados com a implantao deste projeto sero as comunidades

    extrativistas envolvidas na cadeia produtiva do coco de babau, populao em geral e o bioma

    amaznico.

    A parceria com instituies de pesquisa e desenvolvimento se estende a projetos acadmicos,

    como o Projeto Rede Babau, que tem, como objetivo principal, implantar uma rede nacional de

    pesquisa sobre o babau, de modo que se estabeleam aes de cooperao entre a Embrapa

  • Pgina 36 de 163

    Cocais/MA, TOBASA/TO, GCT Bio/MG e UFT/Programa de Desenvolvimento Regional, sobre a

    sustentabilidade quanto ao aproveitamento extrativista do coco de babau sob o ponto de vista

    econmico, social e ambiental.

    Recentemente, Embrapa Cocais, Tobasa e UFT reforaram sua parceria com o

    desenvolvimento de um novo e longo projeto intitulado Melhoramento Gentico do

    Babau/Embrapa Cocais, focado no melhoramento gentico do coco, que ter a durao de,

    aproximadamente, 20 anos, o qual envolver vrias unidades da Embrapa. As etapas do Projeto

    sero: i) identificao e seleo das reas e das populaes naturais, ii) avaliao e seleo dos

    indivduos/palmeiras nas populaes, iii) formao de mudas e aquisio de 03 reas de 20 hectares

    para experimento e iv) avaliao do experimento de prognies de meio-irmos.

    Ministrio do Desenvolvimento Agrrio/MDA

    Dentre os programas e polticas pblicas que o MDA desenvolve na mesorregio do Bico do

    Papagaio, a Tobasa participa e apoia, em suas aes, o Plano Nacional da Sociobiodiversidade, cujo

    objetivo promover e fortalecer as cadeias dos produtos da sociobiodiversidade brasileira, com

    agregao de valor e consolidao de mercados sustentveis. A participao da empresa em

    workshops, em reunies do Grupo de Trabalho (GT) do babau, que foi implantado no estado do

    Tocantins pela Secretaria Estadual de Agricultura, bem como em reunies na Secretaria de

    Agricultura Familiar/SAF-MDA em Braslia, visa buscar a sua contribuio para os estudos e as leis

    que visem sustentabilidade ambiental, social e econmica do babau.

    Este apoio reforado Secretaria de Agricultura Familiar/SAF-MDA atravs do Programa

    Talentos do Brasil4, que [...] promove e estimula a troca de conhecimentos, valorizando a identidade

    cultural, proporcionando a gerao de emprego e renda, assim como agregando valor produo de

    grupos de artesos rurais. oportuno lembrar que a estruturao desses grupos produtivos focada

    na gesto participativa; deste modo, a Cooperativa Nacional Marca nica (Coopeunica) foi criada

    justamente para viabilizar a emancipao financeira e a comercializao da produo artesanal com

    maior regularidade.

    Na regio do Bico do Papagaio Tocantinense, a Coopbabau integra a Coopeunica atravs do

    Projeto Arte Norte (inserido no Programa Talentos do Brasil), que envolveu inicialmente,

    aproximadamente oitenta artesos dos municpios de Aguiarnpolis, Tocantinpolis, So Bento,

    Luzinpolis, Nazar e Araguatins, tendo como gestor o SEBRAE/TO. Neste contexto, a Tobasa

    4 Fonte: http://www.mda.gov.br/portal/saf/programas/talentosdobrasil/2297450 - ltimo acesso 15 de set. 2012.

  • Pgina 37 de 163

    apoia o projeto Arte Norte, fornecendo (i) fatiados do coco de babau (fatia de coco obtida pelo

    corte do fruto no sentido transversal) e (ii) carvo granulado para a confeco de artesanatos como

    biojias e peas de decorao, lembrando que a Coopbabau tem, entre seus clientes, o Grupo Po de

    Acar e Lojas Tok Stok, e ainda, esto vislumbrando um possvel apoio da empresa TAM Linhas

    Areas no desenvolvimento de um projeto para aquisio e implementao das mquinas utilizadas

    na confeco das peas.

    Federao das Indstrias do Estado do Tocantins/FIETO

    A Tobasa uma empresa filiada FIETO, enquanto indstria que se encontra instalada e em

    operao no estado Tocantins; alm de sua frequncia nas atividades da Federao, participa,

    constantemente, de editais do SENAI-TO, os quais promovem prmios e apoios financeiros s

    empresas que apresentem projetos inovadores de desenvolvimento tecnolgico industrial, com vistas

    contribuio na inovao da indstria brasileira. Assim, a Tobasa, disputando com centenas de

    empresas espalhadas por todo o Brasil, ganhou por duas oportunidades o apoio financeiro para seus

    dois projetos industriais, quais sejam, (i) Cogerao de Energia Trmica no Processo de Carbo-

    ativao do Endocarpo do Coco de Babau, em 2009 e (ii) Fabricao de Carvo Ativado de Alta

    Performance, por processo termodinmico inovador, a partir do endocarpo do coco de babau, em

    2011.

    A Tobasa foi a primeira e nica empresa do estado do Tocantins a aprovar e ganhar, em

    disputa nacional de 2009, um projeto em parceria com o Senai, garantindo ao Tocantins, pela

    primeira vez e de forma indita, marcar a sua presena no cenrio brasileiro de inovao industrial.

    Neste contexto tecnolgico, alm de a empresa promover o avano da tecnologia industrial para o

    estado, com gerao de patente e modernizao industrial, h, tambm, os benefcios econmicos,

    sociais e ambientais, uma vez que a planta industrial modernizada possibilitar a empresa aumentar

    sua escala de produo, gerando, em consequncia, mais empregos diretos e indiretos, maior

    circulao de riqueza nas reas florestais, bem como ampliao do raio de conservao florestal das

    palmeiras de babau. No que tange ao mercado consumidor de seus produtos industriais, mormente o

    carvo ativado, existe um benefcio colateral ao pas, uma vez que a Tobasa, com a execuo de seu

    segundo projeto inovador, produzir carvo ativado de alta performance, permitindo a substituio

    de carves ativados importados para diversos segmentos deste mercado consumidor.

    Universidade Federal do Tocantins/UFT

  • Pgina 38 de 163

    A Tobasa, por sua tradio de investimento em P&D, vem intensificando suas parcerias

    acadmicas com a UFT, podendo-se enumerar os seguintes projetos em andamento:

    i) Curso de Zootecnia, campus de Araguana, onde diversos projetos cientficos de insero das

    farinhas amilceas do mesocarpo de babau, em substituio aos tradicionais cereais

    utilizados, como milho e sorgo, na alimentao de bovinos, com excelentes resultados

    comprovados por testes de campo na universidade e nas fazendas da regio, resultando em

    teses de mestrado e publicaes cientficas especializadas no tema;

    ii) Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional - instituiu a Rede Babau aprovada

    pelo CNPq em 2010 (parceria com a Embrapa/Cocais, a Tobasa e a GCT/Bio), tem o

    objetivo de interligar pesquisas relacionadas cadeia produtiva do babau, de modo que

    estabelea aes de cooperao entre a Embrapa Cocais, Universidade Federal do Tocantins

    e empresas sobre sua sustentabilidade econmica, social e ambiental. As referidas pesquisas

    esto possibilitando levantar dados e parmetros que esto contidos e analisados em artigos e

    dissertaes de mestrado;

    iii) Curso de graduao de engenharia de alimentos, relativo ao Projeto EcoNutrio, em parceria

    com a Embrapa/Agroindstria de Alimentos, cujo objetivo ser estudar e identificar as

    propriedades do mesocarpo do coco de babau, visando fortalecer a cadeia de alimentos da

    sociobiodiversidade por meio de sua valorizao sustentvel.

    Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ:

    A Tobasa tambm est presente em trabalhos cientficos desenvolvidos no Rio de Janeiro, os

    principais em desenvolvimento, so, (i) com o Grupo de Biocatlise, do Instituto de Qumica e da

    COPPE/UFRJ, que objetiva a produo de enzimas proteolticas a partir da torta do coco de babau

    (subproduto da prensagem da amndoa na produo do leo de babau) para o tratamento biolgico

    de guas e efluentes residuais com alto teor de protena e (ii) com a Faculdade de Farmcia, cuja

    pesquisa cientfica objetivar a produo de um fitoterpico, a partir do leo do coco de babau, para

    o auxlio no tratamento de reduo do volume aumentado da prstata (tumor benigno), encontrando-

    se em fase inicial.

    Relao com fornecedores de coco de babau Estrutura

  • Pgina 39 de 163

    A matria-prima recebida pela Tobasa atravs da emisso de nota fiscal de entrada. A

    seguir, apresenta-se a descriminao da coleta de coco de babau, com as definies de modelos de

    fornecedores com os seus respectivos porcentuais relativos coleta do ano de 2011:

    i) Fornecedores Fazendeiros - proprietrios de terras que, com seus prprios empregados, coletam o

    coco inteiro e o fornecem, depositando diretamente nos containers da Tobasa, com a periodicidade,

    anual ou bienal (representa 5,33% do fornecimento) ;

    ii) Fornecedores Fazendeiros - proprietrios de terras que contratam empregados especificamente

    para a coleta do coco inteiro e o fornecem depositando diretamente nos containers da Tobasa, com

    a periodicidade, anual ou bienal (representa 3,55% do fornecimento);

    iii) Fornecedores Chacareiros - proprietrios ou arrendatrios de terras (pequenos), onde, com seus

    prprios familiares, coletam o coco inteiro e o fornecem depositando diretamente nos containers da

    Tobasa, ou, com seu prprio transporte, o entregam na indstria: periodicidade anual ou bienal

    (representa 0,59% do fornecimento);

    iv) Fornecedores de Coco (A) - pessoa fsica com turmas de catadores que, com caminho, vo de

    regio em regio comprando o coco inteiro, j retirado dos cocais, transportando-os at os

    containers da Tobasa, com a periodicidade de julho a fevereiro (representa 14,42% do

    fornecimento);

    v) Fornecedores do Coco (B) - pessoa fsica com turmas de catadores que, com caminho, vo de

    regio em regio comprando das fazendas ou propriedades o coco inteiro, retirando-o dos cocais e

    transportando-o at os containers da Tobasa, com a periodicidade de julho a fevereiro (representa

    38,38% do fornecimento);

    vi) Fornecedores Independentes do Coco - pessoas fsicas que vo, de regio em regio, trabalhando

    em fazendas e propriedades para limpar o coco inteiro, retirando-o dos cocais e transportando-o at

    os containers da Tobasa, ou vendendo-o aos fornecedores do coco, periodicidade de julho a

    fevereiro (representa 20,64% do fornecimento); e

    vii) Compradores Independentes do Coco - pessoas fsicas que vo, de regio em regio, comprando

    das fazendas e propriedades o coco inteiro, retirando-o dos cocais e transportando-o at os

    containers da Tobasa, ou vendendo-o aos fornecedores do coco, com a periodicidade de julho a

    fevereiro (representa 17,09% do fornecimento).

  • Pgina 40 de 163

    A matria-prima tambm recebida pela Tobasa atravs da emisso de nota fiscal de entrada.

    A descriminao da coleta e da compra da amndoa do coco de babau advm da prpria

    quebradeira de coco tradicional, como, tambm, dos mercados de secos e molhados localizados

    nos assentamentos, nas cidades e nas comunidades de produo.

    A rea de abrangncia da Tobasa compe as comunidades extrativistas de quebradeiras e

    catadores de coco de babau, circundantes e situadas na regio do Bico do Papagaio, estado do

    Tocantins, incluindo, neste caso, as comunidades indgenas e ribeirinhas da Amaznia Legal, estando

    situadas nos seguintes municpios: Aguiarnpolis, Luzinpolis, Nazar, Santa Terezinha,

    Cachoeirinha, Araguatins, So Miguel, Axix, Buriti, Esperantina, Stio Novo, Itaguatins, Anans,

    Riachinho, So Bento, Maurilndia, Sampaio, Carrasco Bonito, So Sebastio, Praia Norte, Angico e

    Augustinpolis.

    As quebradeiras e catadores de babau, alm da venda do coco e da amndoa, em algumas

    comunidades extraem, artesanalmente, azeite in natura e mesocarpo, como, tambm, produzem

    carvo para consumo prprio, e ainda confeccionam artesanato. Alm de fornecerem 20.000

    toneladas de coco inteiro e 600 toneladas de amndoa anualmente para a Tobasa, algumas

    associaes fornecem outros produtos como azeite in natura, mesocarpo, artesanato e carvo em

    feiras e exposies, sendo que, pontualmente, vendem diretamente, para algumas indstrias de

    babau, o leo de babau.

    Por meio de uma relao comercial, porm, cooperativa conforme as consideraes do

    engenheiro Marco Antnio Leime, gestor da rea florestal da empresa, a relao comercial baseada

    na compra e venda, onde os fornecedores utilizam veculos para transportar a produo e vend-la

    para a indstria e/ou cooperativas.

    Tabela 03. Comparao de ganhos das atividades extrativas relacionadas com o babau

    Fornecedores da Tobasa - Tocantins 2012.

    Atividade Produtividade

    diria mdia

    Preo mdio

    praticado

    Ganho

    mdio

    dirio

    Ganho mdio

    mensal

    Ganho mdio

    anual *

  • Pgina 41 de 163

    Catador 2 m / dia R$ 25,00 / m R$ 50,00 R$ 1.000,00 R$ 7.000,00

    Quebradeira 10 kg / dia R$ 1,60 kg R$ 16,00 R$ 384,00 R$ 2.688,00

    Fonte: Tobasa Bioindustrial de Babau S/A.

    (*) A atividade em regra se desenvolve em 7 meses por ano.

    Segundo informaes da Tobasa Bioindustrial, um catador ganha, mantendo sua atividade em

    mdia sete meses por ano com uma regularidade na cata de 2 m/dia (dois metro cbicos por dia) e 5

    dias por semana, com preo de venda do coco de R$ 25,00/m = R$ 50,00/dia, equivalendo a R$

    250,00 (duzentos e cinquenta reais) por semana, uma mdia de R$ 1.000/ms (hum mil reais por

    ms). Uma quebradeira ganha por ms, mantendo em mdia uma regularidade de quebra e

    fornecimento de 10 Kg/dia, 6 dias por semana, preo de venda R$ 1,60 = R$ 16,00/dia, equivalendo

    a R$ 96,00 por semana, uma mdia de R$ 384/ms.

    A partir de suas duas matrias-primas, a amndoa e o coco inteiro de babau, a Tobasa gera

    os seguintes produtos industriais:

    leo e torta (derivados do processo de prensagem das amndoas produzidas por quebradeiras

    e pela mquina de cortar coco inteiro pelado) o leo comercialmente destinado s indstrias

    de fabricao de sabo e sabonetes, a torta utilizada como rao de bovinos e sunos;

    Farinhas amilceas (derivadas do mesocarpo) as farinhas amilceas podem ser aplicadas no

    setor de rao de bovinos, em alimentao humana, nas indstrias qumicas e na fabricao

    de lcool e de bebidas finas;

    Fibra (derivada do epicarpo) utilizada como biocombustvel slido de caldeiras e

    equipamentos de secagem, substituindo lenha de cerrado e derivados de petrleo;

    Farinhas orgnicas (derivadas do corte do coco pelado) as farinhas orgnicas podem ser

    comercializadas nos segmentos de rao de bovinos;

    Carvo ativado (derivado do processo de carbo-ativao do endocarpo) um insumo

  • Pgina 42 de 163

    nobre largamente utilizado nos mais diversos segmentos industriais, inclusive em aplicaes clnicas,

    destacando-se a empresa como fornecedor lder, pela alta qualidade de seu carvo ativado, no

    mercado de filtros e purificadores residenciais de gua para consumo humano.

    Figura 3. rea de abrangncia da Tobasa Bioindustrial Tocantinpolis/Tocantins

  • Pgina 43 de 163

    Fonte: Tobasa Bioindustrial S/A - 2012

  • Pgina 44 de 163

    Tabela 4. Anlise Swot da Tobasa Bioindustrial

    Pontos Fortes Pontos Fracos

    - Experincia de mais de 40 anos na

    industrializao do coco de babau;

    - know-how da rede de fornecimento de

    amndoa e de coco de babau (relaes

    pessoais e institucionais, tecnologia de

    coleta, respeitabilidade junto s

    comunidades extrativistas);

    - Domnio da tecnologia industrial de

    aproveitamento integral do coco de

    babau, pioneira no Brasil e no mundo;

    - Domnio dos processos industriais

    inovadores de produo de lcool e de

    carbo-ativao;

    - Marca forte nos mercados em que

    atua, principalmente nos de leo e de

    carvo ativado, sendo classificada,

    pelos respectivos segmentos;

    - um dos trs mais tradicionais

    fornecedores de leo de babau do pas;

    - Considerada a marca lder do Brasil

    em qualidade dos carves ativados

    especiais comercializados no setor de

    filtros e purificadores de gua

    residencial.

    - Matria-prima da Tobasa totalmente

    proveniente das terras de terceiros (pequenos,

    mdios e grandes fazendeiros) e do trabalho dos

    extrativistas, levando a empresa a ser

    relativamente dependente destes dois segmentos

    populacionais;

    Oportunidades Vulnerabilidades

    - uma empresa que industrializa

    produto da Sociobiodiversidade (coco

    de babau) e pelas necessidades que

    nosso pas e o mundo inteiro

    necessitam de conservar as suas

    florestas naturais e de fomentar e

    - A concorrncia predatria e ilcita das

    siderrgicas na compra do coco de babau para

    fins de substituio do carvo vegetal;

    - A concorrncia do leo de palmiste importado da

    Malsia (PKO) que derruba as co