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A construção da identidade cultural de Maringá por meio de uma plataforma digital: Projeto Maringá Histórica
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Tema do ensaio: A construção da identidade cultural de Maringá por meio de uma
plataforma digital: Projeto Maringá Histórica
Autor: Miguel Fernando Perez Silva
E-mail: [email protected]
Currículo: Bacharel em Turismo e Hotelaria pelo Centro Universitário de Maringá -
CESUMAR (2008) e Especialista em História e Sociedade do Brasil pela
Universidade Estadual de Maringá - UEM (2010). Autor do livro "Sala dos suplícios:
o dossiê do caso Clodimar Pedrosa Lô" e da cartilha educacional “Maringá:
urbanização e arborização. A história da arborização da cidade canção”. É instituidor
do Projeto Maringá Histórica (http://maringahistorica.blogspot.com). Escreve colunas
para a Revista ACIM e Gazeta Maringá. Atua como Gestor de Eventos da
Associação Comercial e Empresarial de Maringá.
16 de setembro de 2011
Maringá - PR
2
A construção da identidade cultural de Maringá por meio de uma plataforma
digital: Projeto Maringá Histórica
Introdução
Iniciar estudos em busca de conhecimento específico é um ato complexo.
Atuar em segmentos não consolidados é uma realidade para historiadores e
pesquisadores de diferentes áreas. A identidade cultural1 de uma região, em suma,
está em constante desenvolvimento e, assim, não comporta uma “verdade absoluta”,
mas versões que justapõem o mesmo acontecimento.
Para tanto, o processo de entendimento histórico de uma cidade está
balizada, antes de tudo, na necessidade primária de organização de seus arquivos.
Segundo Schellenberg “os documentos deviam ser agrupados por fundos, isto é,
todos os documentos originários de uma determinada instituição, tal como uma
entidade administrativa, uma corporação ou uma família (...).”2 Dentro desse
contexto, Priscila Fraiz apontou “(...) o Estado francês, já no século XIX, incluía em
sua legislação, sobre arquivos, os fundos de natureza privada de origem familiar.
Entretanto, a incorporação do conceito de arquivo privado pela arquivística dar-se-á
somente no século XX.”3 Nesse bojo, Bourdieu alerta que “um cuidado essencial por
parte dos historiadores, ao trabalhar com os arquivos individuais, está na
intencionalidade subjacente à produção dos arquivos pessoais.”4 Esse tratamento foi
nominado por Bourdieu como ilusão biográfica, a qual é manuseável perante aos
interesses pessoais.
Estando os acervos devidamente organizados em suas instituições de origem,
o pesquisador e historiador deve se eximir das “ilusões biográficas” a fim de buscar
a imparcialidade. Os resultados das pesquisas, bem como as fontes primárias,
1 Entende-se como a forma a qual os indivíduos atribuem significado às suas realidades simbólicas e/ou
concretas, pautadas por questões da vida cotidiana. HELLER, Agnes. O Cotidiano e a História. Paz e Terra: Rio de Janeiro, 2000. 2 SCHELLENBERG, T. R. 1973. Arquivos modernos: princípios e técnicas. Tradução de Nilza Teixeira Soares. Rio
e Janeiro: Fundação Getulio Vargas, p. 345. 3 FRAIZ, Priscila. A dimensão autobiográfica dos arquivos pessoais: o arquivo de Gustavo Capanema. Revista
Estudos Históricos, Vol. 11, Nº. 21, FGV: 1998. 4 BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In: AMADO, J.; FERREIRA, M. de M. (Orgs.). Usos e abusos da
história oral. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996. P. 183-191
3
devem estar à disposição da grande massa, no intuito de estabelecer conexões com
a sua identidade histórica.
O entendimento de patrimônio histórico e cultural está inserido no quesito
onde o Estado se organiza mediante a criação de uma identidade própria. A
construção desse patrimônio pressupõe valores, norteadores de políticas públicas a
determinados registros documentais.5 Menezes argumenta ainda que esses valores
são “produzidos, postos em circulação, consumidos, reciclados e descartados”.6
Então, há a necessidade de extrapolar os desejos públicos e desenvolver projetos
de preservação e aprendizado histórico onde iniciativas independentes ganhem
força junto à dimensão acadêmica, a qual endosse a proposta junto a comunidade.
Fora do eixo centenário, a história do Tempo Presente7 busca ampliar a
discussão sob o cenário mais próximo ao qual nos encontramos. Mesmo sob
influência de outras escolas da história, Eric Hobsbawn ressaltou: “A despeito de
todos os problemas estruturais da história do tempo presente, é necessário fazê-la.
Não há escolha. É necessário realizar as pesquisas com os mesmos (...) critérios
que para os outros tempos, ainda que seja para salvar (...) as fontes que serão
indispensáveis aos historiadores do terceiro milênio”.8 A importância de se preservar
a documentação para as gerações vindouras é inerente a pesquisa. É a base para
as produções futuras.
Entretanto, para entender as ocorrências devemos nos distanciar
cronologicamente delas, de maneira que possamos analisar seus desdobramentos.9
Acrescento, ainda, uma ressalva, a de que não podemos nos afastar
deliberadamente antes de produzirmos considerações pertinentes ou correremos o
5 JARDIM, José Maria. A invenção da memória nos arquivos públicos. Ciência da Informação, Volume 25,
Número 2, 1995 – Artigos. 6 MENEZES, Ulpiano Bezerra de. O patrimônio cultural entre o público e privado. In: Secretaria Municipal de
Cultura. O direito à memória: patrimônio histórico e cidadania. São Paulo: DPH, 1992. 7 Essa nova escola da história surgiu na Alemanha e França, a fim de privilegiar pesquisas do pós-guerra. O
interesse foi ampliado para outras fronteiras além da II Guerra Mundial, o que induziu os poderes públicos a constituir o Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), um laboratório com objetivo de estudar o tempo presente. Em 1978, sob a coordenação de François Beédarida, nasceu em Paris o Institut d’ Histoire du Temps Présent. FERREIRA, Marieta de Moraes. História do tempo presente: desafios. Cultura Vozes: Petrópolis, v.94, nº 3, p.111-124, maio/jun., 2000. 8 HOBSBAWM, Eric J. Sobre a história. São Paulo, Companhia das Letras, 1998
9 BARBOSA, Everton. PEÑA, Luciana. Jaime: uma história de fé e empreendedorismo. Editora DNP: Maringá,
2011, Posfácio do Prof. Dr. Reginaldo Benedito Dias.
4
risco de preservamos somente espectros da memória ou conteúdos influenciados
ideologicamente.
Constantemente, (re) versões têm desconstruído pesquisas até então
consideradas bem argumentadas por extensa bibliografia10. Para os profissionais
resta o trabalho de reunir o máximo de documentação a fim de buscar a
imparcialidade. É um trabalho constante, antes de tudo, interminável.
No âmbito regional, Maringá está inserida em várias dessas discussões. Com
uma história oficial de 64 anos11, o vilarejo que veio a se transformar em meio
urbano foi iniciado em 10 de novembro de 1942. Contudo, pesquisas recentes
indicam que compradores de terras (i) migraram para a região entre 1936 e 1938.
Esse trecho, por si só, demonstra as possibilidades de desconstrução. Mas no caso
da “Cidade Canção”, isso implica na proposta de uma nova vertente aos
acontecimentos do passado?
Foi com o objetivo de conhecer e disseminar a história local que, há cinco
anos, surgiu o Projeto Maringá Histórica que se transformou em um blog12, o qual é
utilizado para a publicação de textos, fotos, vídeos e documentos. Por meio de
leitores e antigos moradores, que comentam nessa plataforma, busca-se construir a
identidade histórica local, perante suas publicações quase que diárias.
Essa é a experiência da construção da identidade cultural de Maringá por
meio de uma plataforma digital: Projeto Maringá Histórica.
De quando todos participaram
Acontecimentos de grande envergadura, desde eventos sociais até tragédias,
ganharam as páginas dos jornais e as ondas radiofônicas. Em uma época que a
população ainda desprovia de meios avançados de informação, como a internet e a
televisão, esses eram os veículos primordiais.
10
Localmente, conferir: SILVA, Miguel Fernando Perez. Sala dos suplícios: o dossiê do caso Clodimar Pedrosa Lô. Clichetec: Maringá, 2010; DIAS, Reginaldo Benedito. Da arte de votar e ser votado. Clichetec: Maringá, 2008. No âmbito global, conferir: GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão. Planeta do Brasil: 2007. 11
Fundada oficialmente em 10 de maio de 1947 por sua colonizadora, Companhia de Terras Norte do Paraná. 12
http://maringahistorica.blogspot.com
5
Com isso, um acontecimento local da década de 1950 movimentava toda a
cidade. Entre esses conglomerados populares, destaco três eventos que, por meio
do blog, geraram reversões sobre os mesmos fatos: as comemorações dos
aniversários de Maringá, um acidente aéreo ocorrido em 1957 e o reencontro dos
integrantes do Grupo Musical 30 por Cento.
. Os aniversários de Maringá se tornaram tradicionais desde a fundação oficial
da cidade, quando sua colonizadora, a então Companhia de Terras Norte do Paraná
(CTNP), tratou de organizar o evento na Praça Raposo Tavares. O local viria a se
transformar em um dos pontos de maior movimentação da cidade.13 Após as
bênçãos do Padre Emílio Clement Scherer, pronunciamento do então gerente da
CTNP Arthur Thomas, a bandeira do Brasil foi hasteada em um mastro improvisado.
Teria ocorrido dessa forma a fundação oficial de Maringá, se não fossem as
considerações efetuadas por antigos moradores que teriam presenciado o feito.
O Projeto Maringá Histórica teve acesso a um raro vídeo produzido pela
empresa cinematográfica de Londrina Rilton Filmes, de Renato Melito. A película
mostra a cidade durante as festividades do seu 10º aniversário. Entre as imagens,
sua fundação é exposta. O vídeo traz a importância do evento. Centenas de
pessoas teriam participado e, além disso, após a solenidade, um barracão foi
preparado para que a grande massa participasse de um baile regado a churrasco e
bebidas.14
O alemão Edgar Osterroht, projetista que chegou a cidade em 1951 e que
trabalhou por alguns anos na Companhia, ressaltou que além do churrasco, a
colonizadora tratou de disponibilizar dois caminhões com laranjas para o público.
Segundo Osterroht, na época, as frutas eram raras na região e acrescenta, foi mais
do que um presente.15
Felizardo Meneguetti, que chegou ao norte do Paraná na década de 1940,
rememorou o feito sob outro ângulo. Segundo ele, a CTNP convidou os habitantes
não só de Maringá como também de toda a região. Houve, antes da solenidade
oficial, uma apresentação para os potenciais compradores de lotes. Os diretores da
13
Importante ressaltar que na época as atenções ainda estavam voltadas para o “Maringá Velho”, núcleo inicial. 14
RILTON FILMES. Nome desconhecido. Londrina, 1957. 15
OSTERROHT, Edgar. Maringá: passado e futuro. Gráfica Regente: Maringá, 2007.
6
colonizadora detalharam o projeto do “Maringá Novo” e comentaram sobre todo o
desenvolvimento urbano empregado naquela área. A saber, como dito, até então,
1947, a cidade de Maringá estava, não integralmente, estabelecida em seu núcleo
inicial, que veio a ficar conhecido como “Maringá Velho”. A extensão territorial
proposta para o projeto oficial da cidade seria distante alguns quilômetros desse
local.16
Independentemente da estratégia desenvolvida pela Companhia de Terras,
apesar da solenidade, a oficialização de Maringá como distrito teve a participação
maciça da população regional. Após esse evento, o mês de maio ficou
definitivamente marcado com os tradicionais desfiles em comemoração ao
aniversário da cidade.
Quando conversado com antigos moradores sobre o tema, o ano, certamente,
que vêm à tona é 1957. A cidade estava sob o comando de seu segundo prefeito,
Américo Dias Ferraz. No aniversário de dez anos de Maringá, um grande ciclo de
festividades foi organizado: tradicional desfile, presença de autoridades locais e
estaduais, solenidade de entrega do Campo de Pouso à Aeronáutica e a novidade, a
vinda da recém fundada Esquadrilha da Fumaça da Força Aérea Brasileira (FAB).17
Dez aviões da FAB foram convidados para abrilhantar a solenidade. Após
uma manobra arriscada, a aeronave de prefixo T-6-D-1634 tocou uma de suas asas
no mastro fixado na Praça Raposo Tavares, destacando-a do equipamento. Já
desgovernado, chocou-se contra a casa do motor de luz da Rede Viação Paraná-
Santa Catarina, na Estação Ferroviária. Os dois ocupantes, 1º Tenente Dagoberto
Seixas dos Anjos e o 2º Tenente Afondo Ribeiro Melo, tiveram morte instantânea. O
acidente reduziu significativamente o número de presentes na cerimônia de
transferência do aeroporto local ao Ministério da Aeronáutica.18
O blog Maringá Histórica trouxe esse assunto por mais de uma oportunidade
e sempre despertou a atenção e interesse dos leitores. Com as constantes
16
Entrevista de Felizardo Meneguetti concedida a ACIM, projeto ACIM faz história. Centro de Documentação Luís Carlos Masson. 17
MARINGÁ ILUSTRADA. Maringá: 1957 18
Idem.
7
entrevistas realizadas com antigos moradores19, impressionante, aproximadamente
sete a cada dez pessoas que habitavam a cidade naquele ano, presenciaram a
tragédia. O fato comprova que os desfiles eram, antes de tudo, um evento com
grande participação popular. Entretanto, cada qual relembra o fato a seu modo.
Maria Porcel Perez, que chegou a cidade na década de 1950, ressalta que
estava aguardando seu futuro marido, Pedro Perez, nas proximidades da Estação
Ferroviária e que uma parte do avião caiu próximo dela, logo após o choque.20
José Carlos Cecílio, pesquisador e parceiro do projeto Maringá Histórica,
trouxe o interessante relato de Celuy Damasio:
“Estamos em 10 de maio de 1957, manhã solene, autoridades
presentes festejando a data. Por volta das 9h45 os esperados
aviões dominaram o céu azul da bela aniversariante. [...] de
repente, às 10 horas, um deles sobrevoou abaixo do que
deveria, atingindo um dos mastros que tinham por única função
ostentar os “símbolos da amada terra”. Desespero, gritos, pais
escondendo os olhares curiosos das crianças, adultos
querendo enxergar, pessoas passando mal, o medo reinando,
o final da festa [...]."21
Outra consideração interessante da tragédia foi ressaltada pelo, também
colaborador do projeto, José Flauzino. Ele deixou o seguinte comentário:
“No final de 2007 encontrei Éder Hundzinski embaixo de uma
das marquises do Supermercado Condor. Chovia cântaros e
nós, coincidentemente, precisávamos daquele abrigo. [...]
recordamos felizes nossos tempos de 1º grau na Escola Santa
Maria Goretti nos anos de 1970. Inclusive falamos sobre o
assunto, motivo desta postagem. Morávamos na mesma Rua
Marquês de Abrantes, separados apenas pela Avenida
Colombo. Na frente da casa dele, com uma das pontas enfiada
na grama do jardim, uma haste se mantinha em pé. Era uma
19
A saber, o projeto ganhou espaço na Rádio CESUMAR FM (94,3), onde realiza semanalmente entrevistas com antigos moradores de Maringá. 20
Entrevista de Maria Porcel Perez concedida ao autor em julho de 2008. 21
Site visitado dia 2 de setembro de 2011 às 16h20 - http://maringahistorica.blogspot.com/2011/03/avioes-da-fab-1957.html
8
decoração estranha, incompreendida, pelo menos por mim. [...]
Sem saber defini-lo, perguntei ao Éder o que era aquilo. Ele
disse „sabe de um avião da esquadrilha da fumaça que caiu
uma vez aqui em Maringá num aniversário da cidade? É a
hélice do avião que caiu‟. O pai do Eder [...] fez dela uma
espécie de troféu.”22
Outro leitor do blog, o antigo morador de Maringá, Miguel Taiti:
“No dia dessa fatalidade, eu me encontrava cerca de duzentos
metros da Estação Ferroviária, conversando com outros
garotos. Eu estava com 12 anos de idade. Vi o avião dando um
voo rasante sobre a Avenida Duque de Caxias, bater no mastro
da praça do qual saiu um pedaço da asa para, depois, chocar-
se contra a casa de força (máquina) da ferrovia. Foi
simplesmente uma cena terrível que até trago na minha mente.
Vi os pedaços do que restou dos corpos dos pilotos. [...].”23
O vídeo produzido pela Rilton Filmes que mostra exatamente o desfile de
aniversário de Maringá, em 1957, não trouxe imagens do acidente. De se esperar,
com cunho institucional, mostrou a cidade como uma região em pleno
desenvolvimento econômico. Entretanto, pequenos trechos registraram o palanque
das autoridades e os carros alegóricos circulando pela Avenida Brasil. A multidão
que se alastrou por toda a via e arredores transparecia estar ansiosa para saudar os
aviões.
A tragédia marcou 1957 e os anos vindouros. Mesmo os que não
presenciaram o ocorrido foram alertados por aqueles que assistiram. Conforme
ressaltado pelos comentários inseridos no blog Maringá Histórica, houve uma
constatação de um evento trágico que repercutiu em gerações posteriores, como o
caso da hélice que ficou exposta na residência de Éder Hundzinski.
Outro exemplo de publicação do Projeto Maringá Histórica que gerou
integração entre personagens foi a postagem referente ao grupo musical “30 por 22
Site visitado dia 2 de setembro de 2011 às 16h20 - http://maringahistorica.blogspot.com/2011/03/avioes-da-fab-1957.html 23
Site visitado dia 2 de setembro de 2011 às 16h48 – Idem.
9
cento”, considerado, na década de 1970, a banda mais jovem do Brasil. Na foto
registrada entre 1973 e 1976, três crianças, uma delas empunhando o violão,
posaram ao lado do então secretário municipal de educação, Cláudio Ferdinandi, 1ª
dama Bárbara Barros e o prefeito de Maringá Silvio Barros. Os comentários partiram
dos próprios jovens presentes na imagem daquele ano:
Erálceo Alberto Hundzinski reconheceu os personagens presentes na foto e
destacou os demais integrantes do grupo musical:
“Linda lembrança da música dos anos de 1970 de Maringá.
Entre D. Bárbara e Silvio Barros está o baterista „Fininho‟
(Edvaldo Elieser Gomes da Silva [...]), o menorzinho é o
percussionista Ney Mendes (que parece estar ausente de
Maringá). O mais cabeludo é o guitarrista Eros (Eros Antonio
Hundzinski [...]) e com o violão o Kido (Euclides Garcia de
Oliveira, [...], falecido tragicamente em acidente
automobilístico, com sua mãe [...] em 19/09/1995. [...].”24
Um dos integrantes do grupo musical, Edvaldo Eliezer, deixou sua
consideração:
“Amigos, passados quase 40 anos, posso afirmar que essa foi
a melhor época da minha vida. Predominava a inocência e o
talento fantástico dessa galera. As vezes me pergunto: Por que
paramos se tudo conspirava a favor? [...] Valeu 30 por cento.”25
Por fim, o relato emocionante do companheiro que não era visto pelos amigos
há anos, Ney Mendes:
“Olá Fininho, Eros, Erácleo e outros tantos velhos amigos. Aqui
quem escreve é Ney Mendes, o último a entrar para a banda.
Fiquei emocionado com a foto na casa do Silvio Barros. [...]
não imaginava que existia uma foto tão expressiva e marcante
quanto esta que está no site. Éramos apenas 4 crianças, hoje
somos cinquentões. A vida realmente é veloz demais.
24
Site visitado dia 2 de setembro de 2011 às 16h50 - http://maringahistorica.blogspot.com/2010/06/serie-quem.html 25
Idem.
10
Acompanhei também a morte do Kido, e chorei muito por ele.
Parabéns aos idealizadores do Maringá Histórica, é sem dúvida
um espaço que tem tudo para resgatar o passado vibrante
desta cidade. [...]”26
Existem outros exemplos de integração entre os fatos publicados no Maringá
Histórica e seus leitores. Além da preservação imagética, o blog se transformou em
uma plenária sobre a identidade cultural do cidadão maringaense. Uma linha tênue é
estabelecida entre a história, memória e a oralidade de cada um dos que visitam o
blog. Essa discussão transcorre por meio dos comentários publicados e sugestões
de assuntos poucos ressaltados, ou até desconhecidos, da história local. Em
algumas oportunidades, fotos, sem indexação, são divulgadas para que os leitores
possam auxiliar na identificação do evento registrado. Em grande parte delas há
sucesso.
Contudo, qual a conexão do Maringá Histórica com a maioria dos jovens,
comprovadamente, sem interesse pela preservação da história local? Essa
plataforma está conseguindo reverter esse pré-conceito?
Consonância entre passado e futuro
A dinâmica de regiões com menos de cem anos de existência oficial ocasiona
na preservação de poucos bens materiais e imateriais.27 As estruturas, muitas de
grande valor histórico e pouco conhecido, perdem espaço para prédios do período
contemporâneo. Notoriamente, o prejuízo, em curto prazo, é pequeno. Entretanto,
no longo prazo, as gerações futuras vão sendo descaracterizadas, perdendo assim,
sua identidade cultural. Em rápida expressão: eis o resultado do desinteresse pela
história local. Segundo Ghirardello e Spisso, essa é uma noção ultrapassada e
equivocada sobre preservação e tombamento.28
26
Site visitado dia 2 de setembro de 2011 às 16h55 - http://maringahistorica.blogspot.com/2010/06/serie-quem.html 27
GHIRARDELLO, Nilson; SPISSO, Beatriz (Org.). Patrimônio Histórico: como e por quê preservar? Crea-SP - Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de São Paulo: 3ª edição. 28
Idem.
11
Com essa preocupação em mente, dentro da rápida dinâmica de
desenvolvimento urbano de Maringá, surgiu o Projeto Maringá Histórica. Na ânsia de
conhecer e disseminar a história local para o grande público, buscou-se uma
consonância entre o passado e o presente e, utilizando-se da internet, um blog foi
criado. Por que um blog?
Utilizar-se dessa ferramenta, gratuita, é uma proposta para atingir o público
mais jovem, que se beneficia da internet para desenvolver outras ações. Entretanto,
buscando maior integração junto aos leitores, o blog, após as atualizações quase
que diárias, envia e-mails para o grupo cadastrado, informando essas novas
postagens. Na outra via, a disseminação da história de Maringá tem atingido seu
objetivo, não só para o público jovem, como para todos os usuários da internet.
Hoje, dentro do maior portal de buscas, o Google, quando as palavras chave são
“história de Maringá”, o blog Maringá Histórica aparece em 3º lugar.29
Esse espaço de integração entre, mais uma vez, passado e presente, traz à
tona fatos (des) conhecidos e busca criar debate entre personagens que tiveram
algum envolvido no evento em pauta, além de despertar o interesse do jovem por
sua história. Neste ensaio apresentamos três experiências: as comemorações dos
aniversários de Maringá, acidente aéreo ocorrido em 1957 e o reencontro do Grupo
Musical 30 por Cento.
É certo que a ferramenta precisa ser aprimorada, mas o fato é que ela se
consolidou em momento oportuno, a qual a cidade enfrenta a maior expansão
imobiliária de toda sua história.30
Deixando a discussão imobiliária para outra oportunidade, o Projeto Maringá
Histórica ainda é um piloto do portal de entretenimento histórico cultural a qual pode
vir a se transformar. Com a média de 500 visitas dia, a ferramenta é, antes de tudo,
uma peça fundamental para pesquisas dos mais variados temas dentro das quase
900 postagens.
Da média de visitas, segundo a ferramenta interna do blog, o Google
Analytics, que afere as origens das visitas, mais de 50% dos leitores tem a idade
29
Pesquisa realizada em setembro de 2011 (Google.com.br) 30
Entrevista de João Preis concedida ao autor em 15 de outubro de 2011. Segundo Preis, o desenvolvimento imobiliário dos anos 2000 superou a movimentação do segmento ocorrida na década de 1980.
12
entre 15 e 30 anos. Com essa colocação, o desejo de despertar o interesse do
jovem pela história local tem logrado êxito.
Por fim, o blog tem mostrado para autoridades políticas locais e estaduais,
bem como a classe empresarial, que é possível estabelecer conexões entre passado
e futuro criando um elo consonante com o presente. Apesar de não estar
enquadrado em nenhuma lei de incentivo à cultura, o Maringá Histórica se mostra
capaz de disseminar a ideia da preservação histórica por meio de arquivos
imagéticos para outras regiões do Paraná.
A experiência da preservação imagética e pesquisa conjunta da história de
uma cidade, por meio de uma ferramenta (blog) e virtual, se mostraram viáveis e
eficientes para auxiliar na construção da identidade cultural de Maringá.
Referências
BARBOSA, Everton. PEÑA, Luciana. Jaime: uma história de fé e
empreendedorismo. Editora DNP: Maringá, 2011, Posfácio do Prof. Dr. Reginaldo
Benedito Dias.
BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In: AMADO, J.; FERREIRA, M. de M. (Orgs.).
Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio
Vargas, 1996.
DIAS, Reginaldo Benedito. Da arte de votar e ser votado. Clichetec: Maringá, 2008
Entrevista de Felizardo Meneguetti concedida a ACIM, projeto ACIM faz história.
Centro de Documentação Luís Carlos Masson.
Entrevista de Maria Porcel Perez concedida ao autor em julho de 2008.
Entrevista de João Preis concedida ao autor em 15 de outubro de 2011.
FERREIRA, Marieta de Moraes. História do tempo presente: desafios. Cultura
Vozes: Petrópolis, v.94, nº 3, p.111-124, maio/jun., 2000.
13
FRAIZ, Priscila. A dimensão autobiográfica dos arquivos pessoais: o arquivo de
Gustavo Capanema. Revista Estudos Históricos, Vol. 11, Nº. 21, FGV: 1998.
GHIRARDELLO, Nilson; SPISSO, Beatriz (Org.). Patrimônio Histórico: como e por
quê preservar? Crea-SP - Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia do Estado de São Paulo: 3ª edição.
GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma
corte corrupta enganaram Napoleão. Planeta do Brasil: 2007.
HELLER, Agnes. O Cotidiano e a História. Paz e Terra: Rio de Janeiro, 2000.
HOBSBAWM, Eric J. Sobre a história. São Paulo, Companhia das Letras, 1998
JARDIM, José Maria. A invenção da memória nos arquivos públicos. Ciência da
Informação, Volume 25, Número 2, 1995 – Artigos.
MARINGÁ ILUSTRADA. Maringá: 1957.
MENEZES, Ulpiano Bezerra de. O patrimônio cultural entre o público e privado.
In: Secretaria Municipal de Cultura. O direito à memória: patrimônio histórico e
cidadania. São Paulo: DPH, 1992.
OSTERROHT, Edgar. Maringá: passado e futuro. Gráfica Regente: Maringá, 2007.
Projeto Maringá Histórica – http://maringahistorica.blogspot.com (diversos
acessos)
RILTON FILMES. Nome desconhecido. Londrina, 1957.
SILVA, Miguel Fernando Perez. Sala dos suplícios: o dossiê do caso Clodimar
Pedrosa Lô. Clichetec: Maringá, 2010
SCHELLENBERG, T. R. 1973. Arquivos modernos: princípios e técnicas.
Tradução de Nilza Teixeira Soares. Rio e Janeiro: Fundação Getulio Vargas.