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Meu mundo caiu:Des-construção de olhares

A construção social da deficiência tiago moita

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Meu mundo caiu:Des-construção de olhares

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Poemas Preliminares por Manoel de Barros

“Eu tenho vontade de fazer como os dois homens que vi sentados na terra escovando osso.No começo achei que aqueles homens não batiam bem.Depois aprendi que aqueles homens eram arqueólogos.E que eles queriam encontrar nos ossos vestígios de antigas civilizações.Logo pensei de escovar palavras.Porque eu havia lido em algum lugar que as palavras eram conchas de clamores antigos(...) As palavras possuem no corpo muitas oralidades remontadas e muitas significâncias remontadas.Eu queria então escovar as palavras para escutar o primeiro esgar de cada uma”

( Escova)

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“A gente morava na última casa de uma rua.Depois o mato começava.Descobri nesse tempo que os apelidos pegam mais quando trovam.Depois descobri naquele lugar a palavra abandono.A palavra funcionava dentro e fora das pessoas.Eu não sabia se era o lugar que transmitia o abandono às pessoas ou se eram elas que transmitiam o abandono ao lugar.” (Abandono)

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Uma imagem

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Objetivos:Objetivos:

• Provocar o estranhamento e a desnaturalização de conceitos tais como:NormalidadeDiferençasProblematizar as identidades hegemônicas

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Alguns Pressupostos:Alguns Pressupostos:• As diferenças são uma construção social;• Os diferentes entendidos enquanto o Outro

da normalidade;• A questão eficiência/deficiência,

normal/anormal, homem/mulher, hetero/homo está impregnado pelos jogos do poder;

• É necessário desestabilizar o monopólio das formas de existir;

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“Jorge Luis Borges, um dos mais conhecidos escritores argentinos, ditou grande parte de sua obra. Ele soletrou cada página de A cegueira, um relato de sua vida como escritor cego.A cegueira foi considerada a inspiração de Borges. Como não enxergava, sua inspiração viria de sentidos pouco explorados pelas pessoas com visão. Essa possível explicação para a genialidade literária é a que mais agrada as pessoas não deficientes.Borges seria um exemplo do deficiente que supera a lesão e se transforma em um gênio literário. De desvantagem, a cegueira passaria a ser entendida como um estímulo à literatura.

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Mas não era assim que Borges descrevia a sua deficiência. Para ele, “a cegueira deve ser vista como um modo de vida:é um dos estilos de vida de um homem”.Afirmar a cegueira como um modo de vida é reconhecer seu caráter trivial para a vida humana.Ser cego é apenas uma das muitas formas corporais de estar no mundo.Mas, como qualquer estilo de vida, um cego necessita de condições sociais favoráveis para levar à diante seu modo de viver a vida.

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A deficiência visual não significa isolamento ou sofrimento, pois não há sentença biológica de fracasso por alguém não enxergar.O que existe são contextos sociais pouco sensíveis à compreensão da diversidade corporal como diferentes estilos de vida.(...)O corpo com deficiência somente se delineia quando contrastado com uma representação do que seria um corpo sem deficiência”

( Débora Diniz: “O que é deficiência”)

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• “A primeira tarefa para se compreender a construção da deficiência é que ela não diz respeito às pessoas cegas, surdas, em cadeiras de rodas, mas diz respeito a uma construção social de corporeidade e de funcionalidade ancorada em uma construção histórica da normalidade.

(Júlia Clímaco)

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• “Historicamente, a diferença tem sido oprimida pela imposição de normas rígidas e inflexíveis, há muito estabelecidas e reproduzidas, bem como constantemente recriadas. Essas normas excluem inúmeras possibilidades e condenam a experiência a circular em um terreno muito reduzido de normal, com um espectro reduzido de variações e diferenças na sociedade contemporânea.”

(idem.)

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• “A idéia de norma e normalidade tem sua gênese no séc. XVIII e XIX, em conexão com o processo de industrialização e de transformação capitalista” (Márcia Lise Lunardi)

• A normalidade enquanto algo dado.• Considerar o normal como algo

historicamente construído, permite-nos historicisar o que concebemos como anormal.

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Dois Critérios que Definem a Norma: Norma enquanto regra de conduta, em

oposição à desordem;

Norma enquanto regularidade funcional, em oposição a morbidade e a patologia;

( Foucault,2002)

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• A norma qualifica, hierarquiza, corrige.O discurso da normalidade procura produzir sujeitos.

• É à partir da normalidade que se constrói o outro.É na relação com a norma que vemos surgir a pessoa com deficiência.

• A norma, nesse sentido, tem pretensões de poder, de controle.(Foucault)

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“ Todos sabemos (embora nem todos confessemos) que em nosso contexto social esse tipo ideal-que, na verdade faz o papel de um espelho virtual e generoso de nós mesmos- corresponde, no mínimo, a um ser: jovem do gênero masculino,branco, cristão,heterossexual,física e mentalmente perfeito, belo e produtivo.A aproximação ou semelhança com essa idealização em sua totalidade ou particularidade é perseguida, consciente ou inconscientemente, por todos nós

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uma vez que o afastamento dela

caracteriza a diferença significativa, o desvio, a anormalidade.E o fato é que muitos de nós, embora não correspondendo a esse protótipo ideologicamente construído, o utilizamos em nosso cotidiano para categorização/validação do outro”

( Lígia Amaral)

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A naturalização desse evento, e a representação da deficiência como algo que desvia do padrão, inferior e incapaz faz com que a exclusão seja aceita como algo normal,universal e atemporal.

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O Modelo Social da DeficiênciaO Modelo Social da Deficiência

• A deficiência é definida em sua relação com uma sociedade incapacitante;

• Deficiência como a experiência da subalternidade, resultado da “obsessão pela normalidade” que caracteriza as nossas relações sociais;

• Diferencia lesão física(impairment) e invalidação social(disability), privilegiando a segunda como objeto de estudos

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• Em uma reviravolta epistemológica, faz da compulsão da normalidade em transformar toda as diferenças em mesmice(mesmidade segundo Skliar) o objeto de análise.

• Questiona os limites de uma inclusão não subordinada ao modelo hegemônico

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II Geração do Modelo SocialII Geração do Modelo Social• Contribuições Feministas;• Atentam para a convergência de outras variáveis

de desigualdade, como raça, gênero, orientação sexual;

Três pontos principais:• Crítica ao princípio da igualdade pela

independência;• A emergência dos corpos com lesão;• O cuidado como um valor;

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Por uma Pedagogia da AlteridadePor uma Pedagogia da Alteridade

• “As histórias que se contam na escola têm papel central na produção de quem somos”(Moita Lopes)

• A subjetividade é constituída na alteridade.

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• Assim sendo, quais as implicações na vida dos estudantes quando elegemos uma identidade como modelo, quando adotamos em nossos discursos a possibilidade de haver uma única forma de existir?

Após o que foi exposto, poderíamos

afirmar que a deficiência é algo individual,um dado biológico irrefutável?

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• Partindo do princípio que a deficiência é uma construção social, podemos afirmar que a escola está implicada na produção da deficiência?

• Porque a escola mostra-se resistente ao processo de inclusão das pessoas com deficiência?

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Ensinar é Preciso,Aprender não é PrecisoEnsinar é Preciso,Aprender não é Preciso

• “ A resistência se forma no exato momento do encontro entre a “lógica do ensino” configurada pela organização, programação e planejamento dos saberes e a “lógica da aprendizagem” que se configura na ordem da descoberta, na liberdade de aprender e na singularidade das condutas de aprendizagem”

(Reinoldo Marquezam)

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O Currículo na Diversidade

• “A questão central que serve de pano de fundo para qualquer teoria do currículo é de saber qual o conhecimento deve ser ensinado”(Tomaz Tadeu da Silva:”Documento de Identidade:uma introdução às teorias do currículo.p.15)”

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• Nas teorias do currículo, a pergunta “o que” ensinar está intimamente relacionada com as expectativas em torno do tipo de pessoas que pretendemos formar.

• Currículo enquanto : prática de significação relações sociais relações de poder produtor d identidades

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Um OlharUm Olhar• “Eu tive uma namorada que via errado.O que

ela via não era uma garça na beira do rio.O que ela via era um rio na beira de uma garça.Ela despraticava as normas.Dizia que seu avesso era mais visível do que um poste.Com ela as coisas tinham que mudar de comportamento(...)Chegou de ir no oculista.Não era um defeito físico falou o diagnóstico.Induziu que poderia ser uma disfunção da alma.Mas ela falou que a ciência não tem lógica....” (Manoel de Barros)

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Obrigada!!!Obrigada!!!

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