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1 A crise e a saúde em Portugal Lisboa, 29 de Novembro de 2013 Jorge Simões

A crise e a saúde em PortugalImpacto previsível da crise na saúde das populações Evidência empírica: correlação positiva entre saúde e crescimento económico de longo prazo

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A crise e a saúde em Portugal

Lisboa, 29 de Novembro de 2013

Jorge Simões

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Agenda

1. Contexto político, demográfico e económico

2. Política de saúde recente

3. Desempenho do sistema

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Agenda

1. Contexto político, demográfico e económico

2. Política de saúde recente

3. Desempenho do sistema

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1. Contexto político, demográfico e económico

Contexto político interno

Crise da dívida soberana nas economias europeias

Pedido de ajuda financeira externa pelo Governo português: assinatura de acordo que condiciona a política económica em Portugal, incluindo a política de saúde [Maio 2011]

Pressão política e social de diversos sectores devido às medidas de ajustamento financeiro do Estado

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Contexto político europeu

Acesso a cuidados de saúde

Directiva Europeia 2011/24/EU, sobre cuidados de saúde transfronteiriços

1. Contexto político, demográfico e económico

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Demografia

No período de 2000-2011:

aumentou a esp. de vida à nascença (de 76,7 para 80,8 anos)

aumentou índice de longevidade (42,0 para 47,4)

diminuiu mortalidade em <1 ano (de 5,5 para 3,1‰)

índice de dependência de idosos aumentou (24,5 para 29,0)

taxa crescimento natural passou a negativa (de 0,07 para -0,06%)

índice sintético de fecundidade diminuiu (de 1,46 para 1,37)

15% dos residentes em Portugal tem menos de 15 anos e 19% idade igual ou superior a 65 anos

Fonte: INE, 2012

1. Contexto político, demográfico e económico

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Demografia

Projecção para 2020:

diminuição da população em 2%

decréscimo da proporção de jovens (0-14 anos) para

os 13,8%

aumento da proporção de idosos (≥65 anos) para os

20,6%

1. Contexto político, demográfico e económico

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Fonte: INE, 2013 – elaboração própria

1. Contexto político, demográfico e económico

Produto Interno Bruto, Portugal

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1. Contexto político, demográfico e económico

Condicionantes da política de saúde

Condições impostas pelo Memorando de Entendimento

Dificuldades financeiras (do Estado em geral e do Serviço

Nacional de Saúde)

Alterações demográficas

Contexto europeu

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Agenda

1. Contexto político, demográfico e económico

2. Política de saúde recente

3. Desempenho do sistema

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2. Política de saúde recente

Memorando de entendimento Portugal e CE/BCE/FMI

Âmbito das medidas previstas

Financiamento do SNS e dos subsistemas públicos

Medicamento e sector das farmácias

Prescrição e sua monitorização

Centralização de compras e contratação pública

Cuidados primários

Serviços hospitalares

Serviços transversais

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2. Política de saúde recente

Financiamento

Aumento das taxas moderadoras do SNS e indexação à inflação; revisão do esquema de isenções:

Foco das isenções passou da doença para a condição económica

Não há evidência de problemas de acesso

Redução do custo orçamental dos subsistemas públicos de saúde:

Não é claro se será o suficiente para atingir auto-financiamento

até 2016

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2. Política de saúde recente

Medicamento

Revisão das margens de distribuição e revisão dos países de referência no sistema de preços:

Preços caíram, em média, cerca de 20% em 2011-2012

Entre Janeiro e Agosto de 2013 (face a 2012):

Consumo de medicamentos (em volume) aumentou 1,5%

A despesa diminuiu 4,1%

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2. Política de saúde recente

Prescrição

Prescrição electrónica:

evidência indicia que se está longe da implementação generalizada da prescrição electrónica

Publicação de normas sobre boas práticas clínicas e organizacionais pela DGS, OM e OMD

Incentivos ao uso de genéricos:

Médicos devem prescrever por DCI

farmacêuticos devem dispensar medicamento com o menor preço entre os que apresentem a mesma substância activa

Mas objectivo de 30% de quota de genéricos não atingido

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2. Política de saúde recente

Despesa do SNS com prestadores privados

Novo regime das convenções do SNS recentemente publicado:

Maior sensibilidade às condições de concorrência do

mercado

Opção de contratação por contratos de adesão ou concursos

públicos

Informação disponível não é completa mas sugere que objetivo

de reduzir despesa em 10% em 2011 e 10% em 2012 terá sido

atingido.

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2. Política de saúde recente

Cuidados primários

Aumento global do número de utentes com médico de família (de 85,2% em 2010 para 95,1% em 2012)

mas não é claro se esse crescimento resultou numa distribuição mais uniforme ao longo do país.

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2. Política de saúde recente

Hospitais

Regularização das dívidas dos hospitais

Maioria dos hospitais do SNS não cumpriu objectivos de prazo de pagamentos para 2012

Reorganização e racionalização da rede hospitalar

Reforma não avançou

Redução dos custos operacionais dos hospitais

Diversas medidas de controlo de custos adoptadas

Dados públicos revela redução substancial dos custos da globalidade dos estabelecimentos do SNS

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2. Política de saúde recente

Outras políticas não previstas no MoU

rever a combinação de profissões da saúde nos hospitais e centros de saúde do SNS

implementar a avaliação de tecnologias da saúde baseada em custo-eficácia como um mecanismo regular para controlar o ritmo (e a qualidade) da inovação no âmbito do SNS

assegurar a liberdade de escolha pelos utentes do SNS com base em acesso não restrito geograficamente à rede do SNS

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Agenda

1. Contexto político, demográfico e económico

2. Política de saúde recente

3. Desempenho do sistema

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3. Desempenho do sistema

Impacto previsível da crise na saúde das populações

Evidência empírica: correlação positiva entre saúde e crescimento económico de longo prazo (estrutural)

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Portugal Linha de tendência

logarítmica

Fonte: OECD Health Data 2010 – elaboração própria

Turquia

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PIB per capita e Esperança Média de Vida (EMV) na OCDE (2007)

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PIB per capita e indicadores de Saúde em Portugal (1985-2010)

Fonte: OECD Health Data 2010 – elaboração própria

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Série2 Série1

3. Desempenho do sistema

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Impacto previsível da crise na saúde das populações

Recessões económicas (ciclos) não estão associadas a uma deterioração dos indicadores de saúde da população

Tipo de causas de morte altera-se nas recessões; p.e.:

• Aumenta taxa de suicídios

• Reduzem-se acidentes de viação e trabalho

• Reduz-se consumo de álcool

(Fishback, Haines & Kantor, 2007; Stuckler et al., 2011)

3. Desempenho do sistema

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Impacto previsível da crise na saúde das populações

Evidência mista da Grécia (2007 para 2009):

Negativo

• Redução de recurso a consultas médicas e dentárias;

• Deterioração na auto-avaliação do estado de saúde;

• Aumento da taxas de suicídio, homicídio e violência.

Positivo

• Redução de consumo de álcool e da condução sob efeito de álcool.

Ambíguo

• Troca de internamentos no privado por público.

(Kentikelenis et al., 2011)

3. Desempenho do sistema

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Porque varia o impacto da crise de uns países para outros?

Contexto e causas da crise

Respostas do país à crise (Mladovsky et al., 2012)

Em Portugal:

Dependerá dos incentivos e limites sobre o sistema e sobre os utentes;

Indicadores subjectivos de saúde (auto-avaliação) poderão ser “contaminados” por insatisfação generalizada;

Atenção a impacto desigual em regiões e em grupos sócio-económicos distintos.

3. Desempenho do sistema

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O que já sabemos – Ganhos em Saúde

3. Desempenho do sistema

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O que já sabemos – Acesso

3. Desempenho do sistema

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O que já sabemos – Despesa

3. Desempenho do sistema

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Despesa pública em % do total

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3. Desempenho do sistema

Conclusões

Estado de saúde das populações e o acesso aos cuidados de saúde de saúde não se deteriorou, de forma evidente, desde 2009.

Mas o equilíbrio entre as medidas de austeridade e a manutenção do estado de saúde e do acesso aos cuidados de saúde parece resultar da redução da responsabilidade pública com os encargos financeiros dos cuidados de saúde.