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U�IVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA E DE CIÊ�CIAS DA EDUCAÇÃO
A ESTRUTURA U�IVERSAL DE COMPET�CIAS:
ESTUDO EXPLORATÓRIO DA PERCEPÇÃO SOBRE A IMPORTÂ�CIA E A FREQUÊ�CIA DOS
COMPORTAME�TOS
Iury Tavares
MESTRADO I�TEGRADO EM PSICOLOGIA (Secção de Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das
Organizações)
2009
U�IVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA E DE CIÊ�CIAS DA EDUCAÇÃO
A ESTRUTURA U�IVERSAL DE COMPETÊ�CIAS: ESTUDO EXPLORATÓRIO DA PERCEPÇÃO SOBRE A
IMPORT�CIA E A FREQU�CIA DOS COMPORTAME�TOS
Iury Tavares
Dissertação orientada pela Professora Doutora Maria Eduarda Duarte
MESTRADO I�TEGRADO EM PSICOLOGIA (Secção de Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das
Organizações)
2009
AGRADECIME�TOS
À Professora Doutora Maria Eduarda Duarte por toda a amizade e por toda a
ajuda disponibilizada ao longo deste árduo ano. Não poderia ter ficado em melhores
mãos. E se hoje esta dissertação é real, à professora o devo. É com imensa admiração e
humildade que lhe agradeço.
Daniela Cardoso, minha amiga, minha irmã. És e serás sempre o meu doce. Por
todas as horas de riso, de choro, de lamentos desde o dia um até ao dia de hoje. Por tudo
o que aprendi contigo e por tudo o que te ensinei. Por tudo o que vivemos e que ainda
iremos viver. Que a vida nos mantenha sempre juntos, já que do meu coração não mais
sairás.
João, és o meu companheiro de guerra, meu guardião e meu amigo eterno do
peito. Sem dúvida que foi uma dádiva ter-te conhecido e dádiva maior foi ter tido a
oportunidade de partilhar toda uma vida contigo. Laços tão fortes são raros e o nosso é
especial. És diferente, único, genuíno e o teu espaço jamais poderá ser ocupado por
outra pessoa. Quem nos via e quem nos vê. Continuem a ver-nos, pois vamos continuar!
Cátia, mais vale tarde do que nunca! E que tarde tão bom! Quem te conhece
sabe-o bem. Com ou sem frio, com ou sem casaco, com ou sem bacardi, com ou sem
costela, és bastante especial para mim. A rir, a chorar, a partilhar e a ajudar, cada
momento nosso eu prolongo na minha memória e no meu coração. Prolonguemos
também esta realidade na nossa vida.
A nós os quatro, venham as limas para saborearmos, venham os palcos dos bares
irlandeses, venham as sangrias e os microfones da vida.
A todos os meus amigos queridos, dentro e fora da faculdade, a todos os
anónimos que participaram na minha vida, embora não dê para referenciar todos, cada
um existe em mim sempre, para sempre.
Ao meu irmão. És a minha estrela guia, o meu ponto de referência, meu orgulho
e fonte de inspiração. És o meu amor, a minha vida. Guardo-te sempre, minha riqueza.
Amo-te sempre meu irmão. Meu amigo. Meu tudo.
Minha mãe. Linda mãe. És a força, a coragem e o reflexo de tudo o que eu faço.
És o apoio, a luz no escuro, o cobertor, o incenso e a vela. Tudo o que eu sou, tudo em
que acredito, tudo o que me faz crescer, acreditar, viver. Havendo palavra para
descrever o quanto te amo, jamais a poderia utilizar com medo de banalizar algo que é
tão profundo e sincero. És meu pilar.
Aos meus avós que são a minha pura admiração e orgulho. Sou abençoado por
vos ter presente diariamente na minha vida. E tão feliz que vocês sempre me fizeram e
continuam a fazer. Não há felicidade maior do que aquela que eu tenho cada vez que
vos abraço e vos sinto. Amo-vos muito.
Aos meus tios. Os melhores tios do mundo. A minha tia morena, a minha tia
Lisete, o meu tio Luís e a minha Tia São. Foi o que eu já vos disse: se vocês soubessem
o quanto vos amo, nem teria piada. E se hoje estou aqui, a vocês tudo devo. Mal
ganhámos a batalha e já estamos todos prontos para a guerra! O que faria eu sem vocês?
Há melhor do que a nossa família? Não creio.
E a Deus. Seja feita a Vossa Vontade. Obrigado por fazer a minha.
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
ÍNDICE
Introdução ............................................................................................................................... 1
I – Enquadramento Teórico .......................................................................................................... 2
1.1. Incursões no conceito “Competências”: da origem à actualidade .............................. 2
1.2. A Estrutura Universal de Competências ..................................................................... 7
II – Parte Experimental ............................................................................................................... 12
2.1. Participantes ............................................................................................................... 12
2.2. Instrumentos ............................................................................................................... 14
2.2.1. Entrevista de Visão ..................................................................................... 14
2.2.2. Estrutura Universal de Competências ......................................................... 14
2.2.3. Inventário de Comportamentos Profissionais ............................................. 15
2.3. Procedimento ............................................................................................................. 16
2.4. Análise e Discussão dos Resultados .......................................................................... 17
Conclusão .................................................................................................................................... 25
Bibliografia ................................................................................................................................. 29
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
RESUMO O presente estudo explora a relação entre a percepção que os indivíduos têm da
importância e da frequência comportamentos no local de trabalho. A Estrutura
Universal de Competências de Bartram foi utilizada como suporte teórico. 78
Indivíduos, trabalhadores da Portway Handling Portugal, participaram no estudo. Os
resultados obtidos sugerem que a percepção dos indivíduos sobre a importância e a
frequência dos comportamentos não varia consoante os anos de experiência profissional
(hipótese 1). Por esta razão não foi possível verificar se os indivíduos com pouca
experiência profissional utilizam a frequência dos comportamentos verificados por
indivíduos mais experientes para lhes atribuir maiores níveis de importância (hipótese
2), e se os indivíduos com mais experiência profissional utilizam a importância que
atribuem aos comportamentos para os manifestar com maior frequência (hipótese 3).
Implicações dos resultados obtidos são discutidas.
Palavras-Chave: Competências, Estrutura Universal de Competências,
Percepção, Importância, Frequência.
ABSTRACT The present study explores the relation between individuals’ perception of the
importance and the frequency of the behaviors within their job setting. Bartram’s
Universal Competency Framework was used as the theoretical model. 78 Portway
Handling Portugal workers participated in the study. The results suggest that the
professional experience doesn’t influence the individuals’ perception of the importance
or the frequency of their behaviors (hypothesis 1). For this reason it wasn’t possible to
verify if the individuals with less professional experience base their perceptions of
importance on the frequency of the behaviors shown by more experienced individuals
(hypothesis 2), and if individuals with more professional experience use their perception
of importance to manifest behaviors more frequently (hypothesis 3). Implications of the
results are discussed.
Keywords: Competencies, Universal Competency Framework, Perception,
Importance, Frequency.
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
1
INTRODUÇÃO
A forma como se encara o trabalho está a alterar-se, atribuindo-se cada vez mais
importância aos trabalhadores. A estratégia organizacional tem implicações no
desenvolvimento da força de trabalho - ou expansão, ou downsizing, ou relocações,
mudanças culturais, orientação para a qualidade ou para a inovação. É então necessário
alterar os comportamentos das pessoas consoante os resultados que se pretende alcançar.
As competências passam a consideradas como determinantes para o desempenho de um
conjunto de actividades que visam a obtenção de determinados objectivos. Ao
identificar a competência adequada, os seus requisitos, e fornecer meios para as pessoas
desenvolverem as competências potenciais que são relevantes, a organização poderá
criar as condições necessárias para o alcance dos seus objectivos (Bartram, Kurz &
Bailey, 2000).
Segundo Bartram et al. (2000), Competências são os meios (comportamentos)
utilizados pelo indivíduo para atingir determinado resultado enquanto Competência é o
resultado que o indivíduo obtém através dos meios (comportamento) que utiliza.
Do ponto de vista psicológico torna-se então vital perceber como lida o
indivíduo com as exigências organizacionais, como percepciona as competências
necessárias em termos de importância aquando do desempenho da sua função e qual a
frequência com que as manifesta.
A primeira parte do estudo apresenta uma revisão teórica circunscrita sobre o
conceito Competência, baseada na Estrutura Universal de Competências de Bartram. Na
segunda parte são apresentados os resultados obtidos através da aplicação de
questionários sobre a percepção da importância e da frequência dos comportamentos no
local de trabalho. Para tal foi utilizada uma amostra de conveniência constituída por 78
participantes, trabalhadores da Portway Handling Portugal. Na terceira parte é
apresentada a conclusão sobre relação entre a importância que os indivíduos atribuem às
competências consideradas necessárias para o desempenho de determinada função e a
frequência com que essas competências são manifestadas no contexto de trabalho.
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
2
I. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
1.1. Incursões no conceito "Competências": da origem à actualidade
As competências têm-se tornado parte integrante na gestão das pessoas. E para
gerir eficazmente é necessária uma forma de avaliar consistentemente potencialidades,
necessidades de desenvolvimento e a potencial contribuição dos indivíduos. As
competências têm sido cada vez mais utilizadas pois permitem responder às
necessidades organizacionais e criar medidas cada vez mais eficazes através da
avaliação do comportamento observável (Bartram et al., 2000).
Actualmente existe ainda alguma confusão no que respeita as descrições
comportamentais utilizadas para avaliação. Ao longo da literatura têm havido diversas
tentativas de definir tais comportamentos, diferindo consoante a orientações teóricas dos
autores.
Dulewicz (1989) descreve os comportamentos enquanto dimensões, conjuntos
de comportamentos específicos, observáveis e verificáveis através de assessment
centres. Woodruff (1992) descreve conjuntos de comportamentos padronizados que o
indivíduo necessita de demonstrar para que possa desempenhar a sua função e tarefas
subjacentes com competência.
A palavra competência foi introduzida por Boyatzis com a publicação do livro
Competent Manager: A Model for Effective Performance (1982), fazendo distinção
entre os resultados das tarefas exigidas numa função e os comportamentos necessários
para obtenção desses resultados, definindo competência como os atributos subjacentes
de uma pessoa que levam a um desempenho eficaz, incluindo esses atributos traços de
personalidade, motivos, habilidades, auto-imagem e conhecimentos, enfatizando os
comportamentos em oposição aos resultados obtidos. Assim, as competências passam a
ser definidas como dimensões discretas do comportamento, e importantes para o
desempenho de determinada função. O desempenho será influenciado pela facilidade e
pela eficiência com que o indivíduo demonstra os comportamentos necessários. Porém,
o termo Competência começou a ser utilizado por McClelland (1973) quando
argumentou a troca de testes de avaliação da inteligência por testes de avaliação de
competências, definindo-as como características individuais, observáveis e mensuráveis,
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
3
que poderão revelar diferenças entre níveis de desempenho médios e superiores
(Spencer, McClelland & Spencer, 1994).
De acordo com McClelland & Boyatsis (1980), a avaliação das competências em
instrumentos psicológicos é cada vez maior. Os autores defendem que estas medidas de
avaliação são vantajosas pois são mais orientadas para a função do que os testes
tradicionais, envolvendo aptidões gerais transversais a diferentes funções. Argumentam
também que as medidas de competência em comparação com os testes tradicionais
fornecem uma maior variedade de testes e respostas, resultando em maiores quantidades
de informação disponível para feedback, acerca dos comportamentos e as necessidades
de desenvolvimento nas mais variadas situações, incluindo medidas operacionais que
aparentam ser mais válidas no que respeita a distinção de performance de uma forma
não discriminatória. Os autores consideram que os modelos de avaliação através de
competências são o mecanismo que irá aumentar a precisão da avaliação psicológica em
contexto organizacional, resultando num desempenho mais eficaz.
McClelland (1973) também postula que as os resultados obtidos através da
avaliação das competências apresentam uma maior validade do que testes de
inteligência. De acordo com o autor, dever-se-á afastar da definição da competência
enquanto conhecimento ou atitude, definindo-a em termos de atributos, valores,
aptidões e características pessoais. Para o autor, são estas características que distinguem
uma performance típica de uma performance elevada. Segundo esta linha de
pensamento, diferentes competências prevêem altos níveis de desempenho em
diferentes funções, havendo um número bastante limitado de competências que prevêem
um desempenho elevado transversal a qualquer função. Uma competência poderá então
resultar num alto desempenho em determinada função e não em outra.
Desta forma as competências dizem respeito ao conjunto de comportamentos
instrumentais no desempenho eficaz de determinada função e na obtenção dos
resultados desejados. São acções observáveis que poderão incluir características de
personalidade, aptidões, motivações, interesses, entre outros (Bartram et al., 2000).
Assim, modelos de competências baseados nos comportamentos observáveis são úteis
na descrição de atributos exigidos, através de comportamentos necessários para o
desempenho de uma função sendo o foco da análise os comportamentos discretos e não
nos resultados ou os atributos pessoais (Bartram et al., 2000).
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
4
Ao definir construtos em termos de comportamentos, as competências poderão
tornar-se numa ferramenta poderosa para avaliar o desempenho das pessoas. Esta
avaliação segue parâmetros de estandardização que permitem discutir questões de
desenvolvimento e de potencial de carreira e expressar a cultura e os valores da
organização em termos de comportamentos que os empregadores desejam (Bartram et
al., 2000).
Um modelo de competências refere-se a um grupo de competências necessárias
para uma determinada função, sendo que o número de competências que o modelo
abrange dependerá da natureza e da complexidade da função e dos valores da
organização. Bartram e colaboradores (2000) definem quatro grandes conjuntos de
variáveis:
- Competências enquanto conjuntos de comportamentos desejáveis, em que
desejável é definido em termos dos produtos resultantes desses comportamentos. São os
comportamentos que os indivíduos utilizam para atingir os seus objectivos específicos,
que podem ser acções para obter determinado resultado, ou acções que suportam
aspectos gerais da cultura organizacional.
- Competência Potencial representa o potencial que o indivíduo tem para se
comportar de forma competente no local de trabalho. Esta é em parte influenciada pelos
seus próprios atributos pessoais (disposições), que incluem aspectos intrínsecos
(aptidões, interesses, valores, motivos e estilo pessoal) bem como os conhecimentos
e/ou habilidades (aquisições).
- Requisitos de Competência são os elos entre o potencial de competência e a
própria competência surgem do impacto dos requisitos de competência
(comportamentos). Em qualquer contexto de trabalho, há factores que tendem a facilitar
ou a encorajar alguns comportamentos, e factores inibidores de outros. Estes factores
variam desde comunicação de instruções pelos superiores até aos arranjos físicos de
espaço onde se desenrola o trabalho; desde a relação entre os colegas de trabalho, até à
disponibilização de recursos e materiais necessários. Assim, um indivíduo poderá
conseguir agir de forma competente num contexto de trabalho e não conseguir em outro.
Este fenómeno dá-se, não porque o indivíduo não tem disposições e aquisições
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
5
necessárias, mas porque a situação torna difícil ou impossível a sua verificação. Como
consequência, os resultados desejados poderão não ser alcançados. Em conjunto, várias
barreiras e facilitadores situacionais actuam para definir o que o indivíduo precisa para
conseguir fazer com que os seus comportamentos atinjam os resultados desejados.
Como tal, este conjunto de condições define os requisitos de competências e, por
implicação, as competências necessárias para atingir os objectivos desejados, dadas as
situações bloqueadoras e apoios provindos do meio.
- Resultados são os produtos pretendidos através do comportamento, que foram
definidos de forma implícita ou explícita pelo indivíduo, pelos seus superiores ou pela
própria organização.
Figura 1 - Relação entre Competência Potencial, Requisitos de Competência e Competências
(Bartram et al., 2000)
Competência
Potencial:
Pontos Fortes e
Fracos
Factores Situacionais:
Estratégia
Organizacional
Requisitos de
Competências:
Facilitadores e Inibidores Competências:
Comportamentos
Desejados
Resultados dos
Comportamentos
De acordo com esta abordagem, a competência é contextual. Os
comportamentos (desejáveis ou não) surgem da interacção entre características
individuais e situacionais. As organizações definem o que pretendem enquanto
competência (i.e. quais os comportamentos necessários para produzir resultados e
produtos compatíveis com a estratégia organizacional) e os indivíduos têm ou não o
potencial para satisfazer as necessidades das organizações. A forma como a experiência,
a aprendizagem e o treino poderão desenvolver competências, dependerá tanto do
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
6
potencial do indivíduo como da natureza das oportunidades de desenvolvimento
disponíveis.
Competências são então qualidades enquanto competência é um estado.
(Bartram e tal., 2000). De acordo com o autor, as competências relacionam-se com o
potencial do indivíduo para o seu desenvolvimento e poderão ser utilizadas para prever
o que o indivíduo deveria ser capaz de alcançar. Competência é o que se alcança e
refere-se ao passado ou onde o indivíduo se encontra actualmente. Os indivíduos
demonstram a sua competência através da aplicação das suas competências em contexto
de trabalho.
Por todas estas razões, cada vez se valoriza mais a utilização de modelos de
competências em avaliação (Lucia & Lepsinger, 1999; Schippmann, 1999). Estes
modelos podem ser genéricos ou específicos. Os modelos genéricos têm uma vasta
investigação, o que poupa tempo e dinheiro para se elaborar um modelo a partir do zero.
São particularmente úteis nos casos em que existem poucos titulares de uma função.
Porém, poderão ter um nível de aceitação reduzido, não sendo capazes de captar um
conjunto de competências específicas da organização. A própria linguagem destes
modelos poderá ser bastante generalizada. Também a forma como são apresentados
poderá resultar na crença de que deverão ser aplicados na totalidade, o que impõe o
dilema acerca de quais as competências mais ou menos relevantes.
Os modelos específicos ultrapassam muitos dos problemas anteriormente
descritos. A condução de uma análise de funções encoraja o envolvimento e reflecte
com maior exactidão a cultura específica da organização, através do estilo e da forma
como as competências são definidas. Também proporciona o enquadramento necessário
à descrição dos principais níveis profissionais existentes na organização podendo assim
fundamentar uma estratégia de Recursos Humanos mais orientada.
Embora a utilização de um modelo à medida possa parecer a melhor solução,
nem sempre é possível devido a limitações de tempo, orçamento e expertise. A opção
ideal consiste, talvez, na condução de um estudo das funções, identificando os
agrupamentos de comportamentos, em conciliação com um modelo genérico para
verificar a existência de possíveis lacunas ou sobreposições. A escolha do modelo de
competências a utilizar depende das necessidades organizacionais.
De forma a minimizar ou até eliminar estas lacunas que poderão existir na
escolha de um modelo de competências, Bartram e colaboradores (2000) desenvolveram
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
7
um modelo universal de competências, cuja utilização poderá ser utilizada na avaliação
de qualquer função – a Estrutura Universal de Competências (Bartram 2005; Bartram et
al., 2000).
1.2. A Estrutura Universal de Competências de Bartram
A estrutura Universal de Competências (Bartram, 2005; Bartram et al., 2000)
representa uma perspectiva que se foca nas competências que fundamentam e suportam
o desenvolvimento da avaliação cujo objectivo é colocar o indivíduo certo na função
certa. A estrutura incorpora um modelo de performance no trabalho que define as
relações entre as competências e o seu potencial, os requisitos de competências e as
próprias competências.
De acordo com os autores, as competências são definidas enquanto
comportamentos desejados que apoiam a obtenção dos objectivos organizacionais. A
competência potencial deriva das disposições individuais e os requisitos envolvem os
facilitadores e as barreiras que afectam a performance no trabalho. A Estrutura
Universal de Competências aborda as formas como as pessoas e as características do
trabalho interagem e as implicações relativas à forma como se pode lidar com a
performance no trabalho.
Os objectivos passam pela descrição detalhada e compreensiva de uma lista de
competências específicas da função, e de como estas se relacionam com os objectivos
organizacionais, criando uma linguagem comum para descrever o mundo do trabalho,
tornando fácil o desenvolvimento de soluções apropriadas para cada função e também
para auxiliar os consultores de recursos humanos a mapear as competências discretas a
avaliar, facilitando a transparência de conhecimento e de forma a entender como o
trabalho se relaciona com os atributos psicológicos. Assim, cria-se uma imagem clara
acerca do que pode ser feito em termos de avaliação e desenvolvimento, aumentando o
seu potencial e acrescentando valor.
A Estrutura Universal de Competências baseia-se nos seguintes pressupostos
(Bartram et al., 2000):
- O mundo do trabalho difere quantitativamente e não qualitativamente nas
diferentes culturas. Assim, embora as pessoas difiram no grau em que os
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
8
comportamentos são valorizados ou eficazes, os seus comportamentos podem ser
definidos utilizando as mesmas dimensões.
- Podem ser identificados mais de cem comportamentos-chave que representam
a abrangência e os componentes de competências que são críticas para diferentes tipos
de funções e de objectivos. Estes componentes permitem capturar 90% ou mais dos
comportamentos que são de interesse para as organizações, tanto agora como durante a
próxima década.
- O conteúdo de qualquer modelo não deverá ser totalmente fixo, já que os seus
elementos poderão ser alterados ao longo do tempo.
- Diferentes conjuntos de competências diferem ao nível superficial mas podem
ser consideradas como pertencentes a uma mesma estrutura profunda. Os estudos
focaram-se no mapeamento desta estrutura profunda e na demonstração de como esta
poderá ser válida na construção de um número alargado de “modelos superficiais”.
Assim, um conjunto particular de competências, quer seja produzido para uma função
específica ou criado para utilização de um modelo genérico, é uma representação
superficial de uma estrutura profunda. Pode-se então considerar a estrutura profunda
para construir construtos e relações entre construtos e a estrutura superficial para as
descrições específicas das competências. O necessário será então apenas alterar algumas
características da estrutura superficial do modelo, enquanto a estrutura profunda
permanecerá inalterada. O conteúdo descrito é relativo à estrutura superficial, enquanto
os construtos descritos pertencem à estrutura profunda.
A Estrutura Universal de Competências é definida em termos de uma estrutura
profunda, composta por três camadas. A camada da base consiste num conjunto de mais
de cem componentes de competências. A estrutura profunda define as relações entre
estes componentes, o seu mapeamento num conjunto de vinte dimensões de
competências (camada média) que por sua vez se encaixam num conjunto de oito
grandes factores1 de competência (camada do topo).
1 Eight Big Factors (Bartram et al., 2000)
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
9
Esta estrutura fornece material para conjuntos de competências específicas para
cada função. Estes conjuntos representam descrições de nível superficial e poderão ser
definidas em vários graus de agregação (correspondentes ao nível dos componentes, ao
nível das dimensões ou ao largo nível de factores da estrutura) (Bartram, 2005; Bartram
et al., 2000).
A construção dos blocos de componentes é definida em relação a cinco níveis
distintos de complexidade das funções 2 , através de indicadores comportamentais e
outras informações. Estes níveis fornecem a base para gerar conjuntos de competência
correspondentes a diferentes camadas do trabalho dentro de uma organização (desde o
trabalhador manual até ao nível hierárquico mais elevado).
A camada de base contém mais de cem componentes de competências (Bartram,
2005; bartram et al., 2000). Estes podem ser considerados competências decompostas
de tal forma que nenhuma competência se confunde com outra. Como tal, representam
blocos de construção para a criação de conjuntos específicos de competências.
A camada média é composta por um conjunto de vinte dimensões de
competências importantes, sendo elementos genéricos de um modelo de competência
(Bartram 2005; Bartram et al., 2000). São particularmente úteis para avaliação em
recrutamento, selecção e performance. A tabela 1 apresenta um exemplo de como as
dimensões de competências se relacionam com camada de topo correspondente aos oito
grandes factores de competências. A vantagem das dimensões de competência é que
estas dão cobertura a todo o domínio de competências na camada média da estrutura.
A camada de topo representa oito grandes factores de competências – o modelo
Big Eight (Bartram, 2005; Bartram et al., 2000). A análise dos dados sobre as
competências apoia a perspectiva de que a variância em medidas da competência
potencial poderá ser abrangida por oito grandes factores (em conjunto com as medidas
de conhecimento especialidade e habilidades). Estes oito grandes factores parecem
reflectir construtos psicológicos subjacentes às competências. Especificamente, os oito
grandes factores podem ser identificados como g ou capacidade geral, os cinco grandes
factores de personalidade, e dois factores relacionados com a necessidade de conquista e
de controlo.
2 Anexo I – Competências e diferentes níveis de complexidade (Hunter et al., 1983, citado em Bartram et
al., 2000)
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
10
À semelhança das dimensões, os nomes dos factores são superficiais e poderão
ser adaptados. O poder destes factores encontra-se na superfície pois permite unir
competências ao longo dos maiores atributos disposicionais. Mais concretamente, o
conteúdo descritivo das competências poderá ser alterado e adaptado consoante a
função e tem carácter superficial enquanto os construtos e as suas relações que estão
subjacentes a estas descrições têm carácter profundo.
Quadro 1 – Exemplo da Relação entre a segunda e a terceira camadas da estrutura
profunda do modelo de competências (Bartram, 2005; Bartram et al., 2000)3. O atributo
disposicional associado ao factor apresentado é evidenciado em itálico.
Dimensões Comportamentos Factor
1.1. Decidir e Iniciar
a Acção
A. Toma decisões rapidamente e de forma clara que podem implicar opções difíceis ou envolver riscos
LIDERAR E
DECIDIR
9ecessidade de Poder
e Controlo
B. Assume responsabilidade por acções, projectos e pessoas C. Toma Iniciativas, age com confiança e trabalha com autonomia
D. Inicia e desenvolve actividades
1.2. Liderar e
Supervisionar
A. Dá orientações Claras
B. Estabelece padrões de comportamentos adequados
C. Delega o trabalho de forma adequada e justa
D. Motiva e dá responsabilidade a outros
E. Proporciona oportunidades de desenvolvimento e aconselhamento aos seus colaboradores
F. Recruta Colaboradores de elevado potencial
A verificação cruzada de todos os modelos competidores sugere que a cobertura
deste modelo é suficiente para abranger todos os outros modelos. Contudo, o número de
componentes não é fixo. Adições futuras e remoções poderão ser efectuadas (Bartram et
al., 2000).
A estrutura profunda com três camadas fornece meios para assegurar o rigor e a
flexibilidade, consoante os diferentes contextos de trabalho e respectivas exigências
específicas. A chave para esta abordagem é a distinção entre a estrutura profunda e a
estrutura superficial. A estrutura profunda contém o conhecimento necessário para
3 SHL Portugal Group Ltd., Versão 4.0, 2004
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
11
construir instrumentos válidos e de alta qualidade (é a tecnologia de construção)
enquanto a estrutura superficial é a informação que se apresenta ao cliente (apresentação
da tecnologia). Os componentes de competências podem ser agrupados em categorias
gerais e utilizados para construir modelos de aplicação, pois fornecem os blocos de
construções que os consultores utilizam para construir modelos para os clientes, a base
para criar modelos de competência genéricos (replicação dos modelos actuais para a
construção de novos modelos) e as formas de mapear modelos competidores nos
instrumentos de medida baseados na Estrutura Universal de Competências. Conjuntos
específicos de competências poderão ser criados reunindo conjuntos de componentes e
atribuindo títulos e definições para cada conjunto. Assim, a Estrutura Universal de
Competências poderá ser utilizada para formar conjuntos particulares de competências
de trabalho para cada sector em particular e modelos ajustados à necessidade de cada
cliente, relevando não só os aspectos do indivíduo mas a interacção destes com os
aspectos situacionais (Bartram, 2005; Bartram et al., 2000), utilizando escalas que
medem a importância atribuída a cada competência e escalas que medem a frequência
com que estas se manifestam no local de trabalho, de forma a identificar quais as
competências consideradas mais relevantes para a obtenção dos objectivos alcançados4.
Partindo de uma perspectiva organizacional, esta possibilidade permite a construção de
perfis de competência ajustados a cada função. Porém, partindo para a perspectiva do
indivíduo, como é que este percebe a importância e a frequência das competências
estipuladas pela organização? E como é que estas duas variáveis se relacionam entre si?
Propõe-se então a seguinte hipótese:
O tempo de experiência profissional afecta a percepção dos indivíduos
relativamente à importância dos comportamentos e à frequência com que estes ocorrem
no local de trabalho (hipótese 1).
Se a experiência profissional afectar a percepção dos indivíduos relativamente à
importância dos comportamentos e à frequência com que estes ocorrem, poder-se-á
considerar as seguintes hipóteses:
4 SHL Portugal Group Ltd., Versão 4.0, 2004
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
12
Indivíduos com pouca experiência profissional utilizam a frequência dos
comportamentos verificados por indivíduos mais experientes para lhes atribuir maiores
níveis de importância (hipótese 2).
Indivíduos com mais experiência profissional utilizam a importância que
atribuem aos comportamentos para os manifestar com maior frequência (hipótese 3).
II. PARTE EXPERIMENTAL
Segue-se a descrição dos procedimentos utilizados no estudo, nomeadamente a
descrição dos participantes e dos instrumentos utilizados e a apresentação, análise e
discussão dos resultados obtidos a partir de uma amostra de conveniência.
2.1. Participantes
Um total de 78 indivíduos resultantes de uma amostra de conveniência cuja
participação se deu de forma voluntária e sem recurso a qualquer sistema de
recompensa. Do total da amostra, 78 indivíduos são do sexo masculino (100%). A idade
dos participantes varia dos 20 (idade mínima) até aos 56 anos (idade máxima) com uma
média de 33,41 anos e um desvio-padrão de 7,01 anos. Relativamente à frequência,
dada a dimensão da amostra, podem-se caracterizar os anos de idade dos participantes e
respectiva experiência profissional de acordo com o quadro 2.1.
Quadro 2.1.
Caracterização da amostra por faixa etária e por experiência profissional (N=78)
Idade * 3 %
Experiência Profissional
≤ 5 Anos **
Experiência Profissional
> 5 Anos **
20-30 31 39,7 22 9
31-40 38 48,7 14 24
41-50 7 9 3 4
51-56 2 2,6 0 2
Total 78 100 39 (50%) 39 (50%)
*M = 33,41, Dp = 7,01
** M= 5,64, Dp = 3,06
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
13
Como se pode observar no quadro 2.1, a 48,7% dos participantes encontra-se no
grupo com idades compreendidas entre os 31 e os 40 anos, 39,7% no grupo com idades
compreendidas entre os 20 e os 30 anos, 9% no grupo com idades compreendidas entre
os 41 e os 50 anos e 2,6% no grupo com idades compreendidas entre os 51 e os 56 anos.
Todos os participantes desempenham a mesma função na Portway Handling de
Portugal, S.A., organização de handling de qualidade nos aeroportos de Portugal. A
função designa-se de Operador de Assistência em Escala, estando inserida nos
departamentos de placa (assistência aeronáutica) e de carga (de importação e
exportação). As exigências em termos de competências são transversais aos dois
departamentos e os indivíduos alternam frequentemente entre os departamentos. A
função é a mesma, alterando apenas as tarefas dentro de cada departamento5.
Relativamente à experiência profissional na função de Operador de Assistência
em Escala, esta varia entre os 7 meses (tempo mínimo de experiência na função) e os 20
anos (tempo máximo de experiência na função). A média de experiência profissional é
de 5,64 anos com um desvio-padrão de 3,06 anos.
Tendo em conta a dimensão da amostra e o tempo mínimo e máximo de
experiência profissional dos participantes, os anos de experiência foram distribuídos em
duas categorias: ≤5 anos de experiência profissional e >5 anos de experiência
profissional. Assim, 50% dos indivíduos que constituem a amostra tem uma experiência
profissional na função em estudo inferior ou igual a 5 anos e 50% dos indivíduos têm
uma experiência profissional superior a 5 anos. Esta categorização foi utilizada pois o
número de indivíduos com experiência profissional superior a 10 anos é residual,
representando apenas 2,6% da amostra total (2 indivíduos).
Dos 39 indivíduos que possuem menos de 5 anos de experiência de trabalho, 22
indivíduos têm entre 20 e 30 anos, 14 indivíduos têm entre 31 e 40 anos e 3 indivíduos
têm entre 41 e 50 anos de idade. Dos 39 indivíduos que possuem experiência
profissional na função em estudo superior a 5 anos, 9 indivíduos têm entre 20 e 30 anos,
24 indivíduos têm entre 31 e 40 anos, 4 indivíduos têm entre 41 e 50 anos e 2 indivíduos
têm entre 51 e 56 anos.
5 Ver Anexo II - Entrevista de Visão
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
14
2.2. Instrumentos
2.2.1. Entrevista de Visão
Foi necessário elaborar uma entrevista estruturada para aplicar a um dos líderes
de visão da função em estudo, de forma a obter informações sobre o funcionamento da
função e as suas características principais e para auxiliar na criação do perfil de
exigências.
2.2.2. Estrutura Universal de Competências
Para obtenção das competências necessárias para o desempenho da função em
estudo, foi utilizado um instrumento designado de Estrutura Universal de Competências
de Bartram (2005). Este instrumento é constituído por três camadas. A camada de topo
é constituída por oito grandes factores (e.g. Liderar e Decidir) de competências que
reflectem construtos psicológicos subjacentes às competências (Bartram et al., 2000).
Estes podem ser considerados como capacidade geral. A camada média é composta por
um conjunto de vinte dimensões de competências, representando elementos genéricos
de modelos de competências. Estas relacionam-se com os oito grandes factores da
camada de topo (e.g. associado ao factor Liderar e Decidir está a dimensão Decidir e
Iniciar a acção), dando cobertura a todo o domínio de competências existentes no
modelo (Bartram et al., 2000). A camada de base contém cento e doze componentes de
competências decompostas de tal forma que nenhuma se confunde com outra. Por tal,
representam blocos de construção para a criação de conjuntos específicos de
competências (Bartram 2005; Bartram et al., 2000).
A Estrutura Universal de Competências é uma ferramenta de análise das
competências críticas para qualquer função com escalas que medem a importância e a
frequência de cada competência. Proporciona uma linguagem comum para que os
especialistas de Recursos Humanos e os gestores das várias áreas introduzam as
competências na gestão dos seus recursos humanos, apresentando uma hierarquia
estandardizada, testada e comprovada (SHL, 2009). O instrumento foi aferido para a
população portuguesa em 2004 (SHL Portugal Group Ltd, v.4.0., 2004). Estudos
prévios sobre a Estrutura Universal de Competências revelam níveis satisfatórios de
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
15
consistência interna (α=.81) bem como correlações significativas entre as diversas
competências6.
2.2.3. Inventário de Comportamentos Profissionais
O Inventário de Comportamentos Profissionais foi construído a partir da
Estrutura Universal de Competências com o objectivo de analisar a percepção dos
indivíduos sobre a importância e a frequência das competências necessárias para o
desempenho da função em estudo. Este inventário é constituído por 26 itens que
referem-se a comportamentos típicos identificados por um líder de visão como
relevantes para o desempenho da função em estudo. Assim, a título de exemplo, os itens
1 e 2 do questionário estão associados ao factor Analisar e Interpretar e à dimensão
Aplicar Conhecimentos Especializados e Utilizar Tecnologia da Estrutura Universal de
Competências.
Associado às 26 competências foram construídas duas escalas tipo Likert de 4
pontos, uma para o grau de importância para o desempenho da função (1="nada
importante" a 4="muito importante") e uma para a frequência com que se verifica o
comportamento (1="nada frequente" a 4="muito frequente”).
A escolha de uma escala de 4 pontos está de acordo com os estudos prévios
sobre a Estrutura Universal de Competências (Bartram, 2005; Bartram et al., 2000) que
consideram apenas 4 categorias para a importância (nada importante, pouco importante,
importante e muito importante) e para a frequência (nada frequente, pouco frequente,
frequente e muito frequente) para cada comportamento.
A partir dos itens originais foram efectuadas algumas adaptações. Assim,
enquanto os verbos originalmente no presente do indicativo foram alterados para o
infinitivo, em alguns itens as competências foram ajustadas de forma a melhor se
adequarem à função em estudo. No quadro 2.2. encontram-se alguns exemplos de
adaptações efectuadas a partir dos itens originais.
6 © SHL Group plc, 2006.
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
16
Quadro 2.2.
Itens Originais (SHL Portugal Group Ltd., Versão 4.0, 2004) e adaptados para a função em estudo
Itens Originais Itens Adaptados
1. Utiliza tecnologia para atingir os
objectivos do trabalho
1. Operar o equipamento necessário
para atingir os objectivos do trabalho
2. Evidencia coordenação motora e
resistência física, bem como destreza
manual e orientação espacial adequadas
2. Ter Resistência Física
3. Rapidamente aprende novas tarefas e
memoriza informação
3. Aprender e compreender nova
informação rapidamente
Dos oito factores que constituem a Estrutura Universal de Competências, o
único factor não contemplado no Inventário de Comportamentos Profissionais foi o
Liderar e Decidir pois na função em estudo todas as decisões passam apenas pelas
chefias.
2.3. Procedimento
A recolha de dados decorreu em duas fases. A primeira fase correspondeu em
Outubro com uma entrevista com um líder de visão da função em estudo, utilizando os
cartões de competências da Estrutura Universal de Competências (SHL Portugal Group
Ltd, v.4.0., 2004). A entrevista deu-se na casa do líder após combinação prévia por
telefone. Desta entrevista resultou a reunião de 26 competências consideradas relevantes,
bem como o seu grau de importância para o desempenho da função em estudo e a
frequência com que se verificam, o que permitiu a construção do questionário de
comportamentos profissionais específico para a função em estudo, com 26 itens
referentes às 26 competências seleccionadas e as respectivas escalas de importância e de
frequência.
Os participantes responderam ao Inventário de Comportamentos Profissionais
em formato papel no local de trabalho durante o mês de Janeiro de 2009. O questionário
era constituído por uma folha de apresentação do estudo assegurando a
confidencialidade e o anonimato das respostas e por uma folha com as instruções gerais
de preenchimento do Inventário.
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
17
2.4. Análise e Discussão dos Resultados
No quadro 2.3. são apresentadas as médias, os desvios-padrão e as amplitudes
das escalas e dos itens utilizados, bem como os níveis de consistência interna. Neste
quadro pode-se verificar que as médias dos itens apresentam valores semelhantes, sendo
ligeiramente menores na escala frequência do que na escala importância. Os níveis de
dispersão também são bastante semelhantes. Os níveis de consistência interna de cada
escala e da escala total são bastante satisfatórios, todos acima dos .90.
Quadro 2.3.
Médias, Desvios-padrão e Amplitude e Alfas de Chronbach (N=78)
Escalas Alfa Média da Escala Desvio-padrão Escala Média Itens Desvio-padrão Itens Amplitudea
Importância .91 94.49 7.43 3.63 .14 1-4
Frequência .92 89.54 8.89 3.44 .15 1-4
Escala Total
.95 184.03 15.24 3.54 .17 1-4
a. A amplitude dos Itens varia de 1 a 4
Os quadros 2.4. e 2.5. apresentam os níveis de consistência de cada factor e
dimensão de competência bem como as médias e os desvios-padrão dos factores e dos
itens para cada escala.
A análise do quadro 2.4. revela que as médias são menores nos factores que
revelam índices de consistência interna menos satisfatórios. Já ao nível dos itens para a
escala importância, as médias não apresentam diferenças muito elevadas, sendo que a
média de respostas menos elevada refere-se ao factor Empreender e Realizar e à
dimensão Alcançar Objectivos Profissionais (M=3.52) e a média de respostas mais
elevada refere-se ao factor Organizar e Executar e às dimensões Cumprir Instruções e
Procedimentos e Apresentar Resultados e Corresponder às Expectativas do Cliente
(M=3.72), o que seria de esperar já que a função em estudo é muito operacional e com
poucas perspectivas de evolução de carreira em termos hierárquicos.
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
18
Relativamente aos factores e às dimensões em estudo, por ordem decrescente, a
percepção dos indivíduos relativamente à importância dos comportamentos é a de que é
mais importante Cumprir Instruções e Procedimentos, Apresentar Resultados e
Corresponder às Expectativas do Cliente (Factor Organizar e Executar, M=26.01),
seguido de Trabalhar com Pessoas e Aderir a Princípios e Valores (Factor Apoiar e
Cooperar, M=17.91), Lidar com a Pressão e com as Contrariedades (Factor Adaptar-se
e Tolerar, M=14.47), Apresentar e Comunicar Informação (Factor Interagir e
Apresentar, M=11.06), Alcançar os Objectivos Profissionais (Factor Empreender e
Realizar, M=10.56), Aplicar Conhecimentos Especializados e Utilizar Tecnologia
(Factor Analisar e Interpretar, M=7.29) e Aprender e Investigar e Formular Estratégias
e Conceitos (Factor Criar e Conceptualizar, M=7.17). Os maiores índices de dispersão
Quadro 2.4. Médias, Desvios-padrão e Amplitude e Alfas de Chronbach para os Factores e
Dimensões – Importância (N=78)
Importância
Factor Dimensão Itens Alfa Média Factor
Dp Factor
Média Itens
Dp Itens
Ampa
Analisar e Interpretar
Aplicar conhecimentos Especializados e Utilizar
Tecnologia 1 e 2 .32 7.29 .74 3.65 .28 2-4
Criar e Conceptualizar
Aprender e Investigar 3 .37 7.17 .93 3.58 .21 1-4
Formular Estratégias e Conceitos 21
Organizar e Executar
Cumprir Instruções e Procedimentos
4 a 8
.73 26.01 2.04 3.72 .13 1-4 Apresentar Resultados e Corresponder às Expectativas do
Cliente
22 e 23
Adaptar-se e Tolerar
Lidar com a Pressão e com as Contrariedades
9 a 12
.68 14.47 1.56 3.62 .07 1-4
Apoiar e Cooperar
Trabalhar com as Pessoas 13 a 16 .70 17.91 1.77 3.58 .10 1-4
Aderir a Princípios e Valores 17
Interagir e Apresentar
Apresentar e Comunicar Informação
18 a 20
.67 11.06 1.14 3.69 .12 2-4
Empreender e Realizar
Alcançar os Objectivos Profissionais
24 a 26
.74 10.56 1.40 3.52 .22 1-4
a. A amplitude varia entre 1 a 4
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
19
estão situados ao nível do factor Organizar e Executar (d.p.=2.04) seguido pelo factor
Apoiar e Cooperar (d.p.=1.77), correspondentes à primeira e à segunda média mais
elevada. Estes valores relevam uma vez mais o grande nível de operacionalidade da
função em estudo em que o mais importante é corresponder aos objectivos exigidos e
trabalhar em equipa e o menos importante é o planeamento, a concepção de estratégias e
a autonomia que estão a cargo das chefias.
A análise da consistência interna ao nível da importância revela níveis de
consistência insatisfatórios nos factores Analisar e Interpretar (.32) e Criar e
Conceptualizar (.37). Estes baixos níveis de consistência podem estar relacionados com
o número de itens utilizado e a própria configuração dos mesmos, com a amostra que
poderá não ser representativa e também com a função em estudo. De facto,
relativamente a esta última hipótese, estudos de Bartram et. al (2000) revelam que os
factores e as suas respectivas dimensões podem ser agrupados em cinco níveis de
complexidade, de acordo com o estudo empírico efectuado por Hunter (1983, citado em
Bartram et al., 2000). Assim, as competências subjacentes à performance competente
tendem a variar ao longo dos diferentes níveis de trabalho. Várias formas de representar
esta variação têm sido utilizadas, desde a distinção entre Blue-collar Vs. White-collar,
até sistemas de classificação mais complexos. Contudo, a maioria destes sistemas de
classificação são baseados no conteúdo de trabalho. Por tal, poderão fornecer bases úteis
para a análise de funções, mas falhar a captar semelhanças e diferenças nas
características de requisitos de competência (e.g. tipo de exigências do trabalho
relativamente às competências individuais). À medida que se move do nível um para o
nível cinco, a complexidade da função aumenta, os horizontes de tempos estendem-se e
o escopo do conhecimento e das habilidades necessários para a competência alarga-se
(Bartram et al., 2000). Assim, a função em estudo, dada a sua natureza bastante
operacional, poderá ser situada a um nível de complexidade I caracterizada pelo
trabalho predominantemente manual e rotineiro, onde existe pouca autonomia para
“Analisar e Interpretar” e “Criar e Conceptualizar”, factores normalmente relacionados
com níveis de complexidade superiores e funções mais diversificadas correspondentes a
hierarquias mais elevadas.
Os restantes factores apresentam níveis de consistência interna para a escala de
importância mais satisfatórios, com valores de .67 para o Factor Interagir e
Apresentar, .68 para o Factor Adaptar-se e Cooperar, .70 para o Factor Apoiar e
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
20
Cooperar, .73 para o Factor Organizar e Executar e .74 para o Factor Empreender e
Realizar. A mesma análise é feita para o quadro 2.5. relativamente à escala Frequência.
Também por ordem decrescente, a análise do quadro 2.5. revela que a percepção
dos indivíduos relativamente à frequência dos comportamentos é de que é mais
frequente Cumprir Instruções e Procedimentos e Apresentar Resultados e Corresponder
às Expectativas do Cliente (Factor Organizar e Executar, M=25.09), seguido de
Trabalhar com Pessoas e Aderir a Princípios e Valores (Factor Apoiar e Cooperar,
M=16.91), Lidar com a Pressão e com as Contrariedades (Factor Adaptar-se e Tolerar,
M=13.57), Apresentar e Comunicar Informação (Factor Interagir e Apresentar,
M=10.55), Alcançar os Objectivos Profissionais (Factor Empreender e Realizar,
M=10.13), Aplicar Conhecimentos Especializados e Utilizar Tecnologia (Factor
Quadro 2.5.
Médias, Desvios-padrão e Amplitude e Alfas de Chronbach para os Factores e Dimensões - Frequência (N=78)
Frequência
Factor Dimensão Itens Alfa Média Factor
Dp Factor
Média Itens
Dp Itens
Ampa
Analisar e Interpretar
Aplicar conhecimentos Especializados e Utilizar
Tecnologia 1 e 2 .21 6.68 .92 3.34 .10 1-4
Criar e Conceptualizar
Aprender e Investigar 3 .36 6.65 1.03 3.33 .21 1-4
Formular Estratégias e Conceitos 21
Organizar e Executar
Cumprir Instruções e Procedimentos
4 a 8
.77 25.09 2.39 3.58 .13 1-4 Apresentar Resultados e Corresponder às Expectativas do
Cliente
22 e 23
Adaptar-se e Tolerar
Lidar com a Pressão e com as Contrariedades
9 a 12
.74 13.53 2.02 3.38 .05 1-4
Apoiar e Cooperar
Trabalhar com as Pessoas 13 a 16 .76 16.91 2.07 3.38 .11 1-4
Aderir a Princípios e Valores 17
Interagir e Apresentar
Apresentar e Comunicar Informação
18 a 20
.76 10.55 1.41 3.52 .06 2-4
Empreender e Realizar
Alcançar os Objectivos Profissionais
24 a 26
.66 10.13 1.52 3.38 .20 1-4
a. A amplitude varia entre 1 a 5
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
21
Analisar e Interpretar, M=6.68) e Aprender e Investigar e Formular Estratégias e
Conceitos (Factor Criar e Conceptualizar, M=6.65).
Esta hierarquia de factores é idêntica à verificada na escala importância, embora
apresente valores médios mais baixos. Os maiores índices de dispersão também estão
situados ao nível do Factor Organizar e Executar (d.p.=2.39) seguido pelo Factor
Apoiar e Cooperar (d.p.=2.07), correspondentes à primeira e à segunda média mais
elevadas.
À semelhança do que se verifica na escala importância, também os níveis de
consistência interna para os Factores Analisar e Interpretar e Criar e Conceptualizar
apresentam valores insatisfatórios (respectivamente .21 e .36). A razão para estes
valores vai de encontro à justificação mencionada nos valores apresentados na escala
importância. Os restantes níveis de consistência interna apresentam valores satisfatórios,
sendo o mais baixo associado ao Factor Empreender e Realizar (.66), seguido de
Adaptar-se e Tolerar (.74), Apoiar e Cooperar e Interagir e Interpretar (.76) e
finalmente Organizar e Executar (.77).
O quadro 2.6. apresenta as diferenças relativamente às escalas importância e
frequência, consoante o tempo experiência profissional dos indivíduos.
Quadro 2.6.
Médias e Desvios-padrão para os Anos de Experiência Profissional (N=78)
Escalas Experiência
Profissional Média
Desvio-
padrão
Escala Importância
≤ 5 3.65 .28
> 5 3.62 .29
Escala Frequência
≤ 5 3.47 .33
> 5 3.42 .35
A análise do quadro 2.6 revela médias mais elevadas e os menores índices de
dispersão estão associados aos indivíduos com experiência profissional igual ou inferior
a cinco anos, tanto para a escala importância (M=3.65, d.p=.28) como para a escala
frequência (M=3.47, d.p.=.33), o que revela uma tendência maior para considerar os
comportamentos mais importantes e mais frequentes nos primeiros anos de trabalho.
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
22
Porém, torna-se necessário verificar se estas diferenças são significativas, ou seja, se a
percepção dos indivíduos relativamente à importância dos comportamentos e à
frequência com que eles ocorrem no local de trabalho realmente diferem
significativamente consoante a experiência de trabalho dos indivíduos. Para tal, verifica-
se primeiro se os anos de experiência profissional seguem uma distribuição normal
(quadro 2.7.).
Quadro 2.7.
Teste de Normalidade [Categoria Experiência de Trabalho]
Kolmogorov-Smirnova Shapiro-Wilk
Estatística Df N.s. Estatística Df N.s.
Experiência Profissional .340 78 .000 .636 78 .000
a. Lilliefors Significance Correction
O quadro 2.7. revela que os anos de trabalho dos indivíduos (experiência
profissional) aproximam-se de uma curva normal (p < 0.01). De seguida, verificam-se
as diferenças entre as variâncias e as médias para as escalas importância e frequência
para verificar se existe estatística significativa relativamente às diferenças apresentadas
nas médias dos indivíduos consoante os anos de experiência profissional (quadro 2.8.).
Quadro 2.8.
Diferenças de Variâncias e Médias para os Anos de Experiência Profissional, p< .05 (N=78)
Teste de Levene Para Igualdade de Variâncias Teste-t para a Igualdade das Médias
Escalas F n.s. t df n.sa Diferença
de médias
Erro-padrão
da diferença
Intervalo de Confiança da
Diferença (95%)
Escala Importância
.103 .749 .516 76 .607 .034 .065 -.096 .163
Escala Frequência
.266 .608 .66 76 .511 .051 .078 -.103 .206
a. Distribuição Bilateral
De acordo com o teste de Levene para a igualdade de variâncias, verifica-se que
os níveis de significância são superiores a .05, demonstrando assim a igualdade das
variâncias das escalas. Da mesma forma, os níveis de significância das diferenças das
médias é superior a .05, o que revela que não há diferenças significativas entre as
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
23
médias. Desta forma pode-se afirmar que a percepção dos trabalhadores relativamente à
importância dos comportamentos e à frequência com que ocorrem no local de trabalho
não é afectada pelos anos de experiência profissional pelo que a diferença entre as
médias representada no quadro 2.6. não são significativas.
De acordo com o gráfico 2.9., existe uma correlação positiva forte significativa
entre a escala Importância e a escala Frequência.
Quadro 2.9.
Correlações Entre a Escala Importância Total e a Escala Frequência Total
Importância Frequência
Importância 1.00
Frequência .74** 1.00
** p < .01
Esta correlação bastante forte indica que quando os valores de uma escala
aumentam, os valores da outra escala também aumentam. Mais concretamente, quanto
maior a percepção da importância de um comportamento, maior a percepção da
frequência com que ele ocorre no desempenho da função em estudo. Da mesma forma,
quanto maior a percepção da frequência de um comportamento, maior a percepção de
importância. O quadro 2.10. apresenta as correlações entre as escalas para cada factor da
Estrutura Universal de Competências.
O quadro 2.10. revela que as correlações mais elevadas encontram-se no
cruzamento do mesmo Factor para a escala importância e para a escala frequência e
vice-versa, à excepção do Factor Analisar e Interpretar. Esta excepção uma vez mais
poderá ser justificada pela ausência de uma amostra aleatória representando diversos
níveis de complexidade ao nível das competências. Relativamente aos restantes Factores,
embora se verifiquem correlações entre quase todos, verifica-se que as maiores
correlações situam-se ao nível do cruzamento do mesmo Factor para cada escala,
confirmando uma vez mais a correlação positiva forte entre a escala importância e a
escala frequência. Isto significa que, por exemplo, a percepção de uma maior
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
24
importância atribuída a comportamentos relacionados com o Factor Criar e
Conceptualizar resultará na percepção de maior frequência dos mesmos
comportamentos no desempenho da função em estudo.
Quadro 2.10.
Correlações Entre a Escala Importância e a Escala Frequência para cada Factor
Importância
Analisar e Interpretar
Criar e Conceptualizar
Organizar e
Executar
Adaptar-se e
Tolerar
Apoiar e Cooperar
Interagir e Apresentar
Empreender e Realizar Frequência
Analisar e Interpretar
.29** .03 .30** .30** .45** .29** .32**
Criar e Conceptualizar
.19 .52** .49** .43** .35** .14 .44**
Organizar e Executar
.29* .42** .69** .52** 50** .38** .52**
Adaptar-se e Tolerar
.24* .29** .35** .62** .36** .32** .50**
Apoiar e Cooperar
.41** .34** .47** .41** .72** .45** .44**
Interagir e Apresentar
.27* .30** .48** .50** .58** .65** .53**
Empreender e Realizar
.15 .33** .51** .47** .46** .45** .78**
* p < .05 ** p < .01
No presente estudo, as maiores correlações estão associadas ao Factor
Empreender e Realizar (relacionado com a dimensão Alcançar os Objectivos
Profissionais e a comportamentos como Aceitar e Procurar Objectivos Exigentes e
Trabalhar Muito e Exceder o Horário de Trabalho) seguidas do Factor Apoiar e
Cooperar (relacionado com a dimensão Trabalhar com Pessoas e a comportamentos
como Adaptar-se ao Grupo de Trabalho e Construir Espírito de Equipa e Apoiar-se e
Preocupar-se com os Outros).
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
25
CONCLUSÃO
O presente estudo pretende explorar a relação entre a percepção dos indivíduos
relativamente à importância dos comportamentos essenciais para o desempenho da
função de trabalho e à frequência com que eles ocorrem, utilizando o modelo teórico da
Estrutura Universal de Competências (Bartram, 2005; Bartram et al., 2000) para
identificação dos Factores, das Dimensões e das Competências relevantes para a função
em estudo. Os resultados obtidos sugerem não haver diferenças na percepção dos
indivíduos quanto à importância dos comportamentos e quanto à frequência com que se
manifestam no local de trabalho relativamente ao tempo de experiência profissional,
infirmando assim a hipótese 1. Porém, deve-se salientar que o estudo foi constituído
através de uma amostra de conveniência bastante homogénea. Este factor poderá ter
influenciado os resultados na medida em que não se verificam diferenças ao nível de
complexidade da função e também não existem muitas categorias relacionadas com o
tempo de experiência de trabalho (Hunter, 1983, citado em Bartram et al., 2000). Uma
amostra aleatória, constituída por mais indivíduos e por mais funções, mais heterogénea
e com um maior escopo no que concerne a experiência de trabalho resultaria num maior
número de categorias relacionadas com a experiência profissional dos indivíduos, o que
poderia resultar numa alteração nos resultados do presente estudo que infirmam a
hipótese de que a experiência profissional não afecta a percepção dos indivíduos
relativamente à importância dos comportamentos e à frequência com que estes ocorrem.
Só após a realização deste novo estudo se poderia confirmar ou infirmar as hipóteses de
que indivíduos com pouca experiência profissional utilizam a frequência dos
comportamentos verificados por indivíduos mais experientes para lhes atribuir maiores
níveis de importância, revelando uma motivação extrínseca e uma atribuição de
importância através da observação e imitando os comportamentos verificados como
mais frequentes (hipótese 2) e que indivíduos com uma maior experiência profissional e
com atitudes bastante enraizadas relativas à importância de cada comportamento,
poderão revelar por sua vez uma motivação intrínseca, podendo utilizar as suas crenças
pessoais relativamente à importância que atribuem a cada comportamento para o
manifestar com maior frequência (hipótese 3). Tal estudo poderá então verificar os
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frequência dos comportamentos
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casos em que a importância varia em função da frequência e os casos em que a
frequência varia em função da importância.
Esta análise dos resultados revela então a necessidade de revisão do estudo ao
nível metodológico. Como explicitado anteriormente, uma amostra aleatória e
heterogénea constituída por indivíduos que ocupam funções caracterizadas por
diferentes níveis de complexidade poderia ser útil para verificar as diferenças atribuídas
aos comportamentos relativamente à frequência e à importância. De facto, os estudos de
Hunter (1983, citado em Bartram et al., 2000) revelam que diferenças ao nível da
complexidade da função de trabalho (desde funções menos exigentes e mais rotineiras e
operacionais até funções mais exigentes, diversificadas e que exigem maior
planeamento, análise e decisão) estão directamente relacionadas com diferenças ao nível
das competências para o desempenho da função. Assim, torna-se natural formular as
hipóteses de que a importância e a frequência de cada comportamento resultam não só
do grau de complexidade da função mas também que a relação entre os oito Factores da
Estrutura Universal de Competências e as suas respectivas dimensões irá alterar em
termos dessa complexidade. Desta forma demonstra-se também a utilidade desta
Estrutura Universal de Competências que abrange e é transversal às mais diversas
funções e níveis de complexidade subjacentes, podendo ser utilizada de forma a
verificar até que ponto ou quais os factores, as dimensões e as respectivas competências
são importantes e frequentes para cada função de trabalho e como se relacionam entre si.
Dada a sua flexibilidade, este modelo permite facilmente a construção de perfis de
competências para cada função e a identificação de pontos fortes e necessidades de
desenvolvimento ao nível das competências dos indivíduos, não só através da análise
das funções mas também através da percepção dos indivíduos relativamente a cada
competência. Estas possibilidades de utilização da Estrutura Universal de Competências
têm diversas implicações ao nível do planeamento e desenvolvimento estratégico
organizacional, já que tornam possível a escolha das competências mais adequadas para
qualquer função, permitindo também adaptar as descrições das competências,
moldando-as às necessidades organizacionais e aos objectivos que se pretende alcançar,
assim como os construtos e as relações entre os construtos subjacentes às competências.
A estrutura incorpora um modelo de desempenho no trabalho que define as relações
entre as competências e o seu potencial, os requisitos de competências e as próprias
competências. (Bartram et al., 2000). Os componentes de competências podem ser
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frequência dos comportamentos
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agrupados em categorias gerais e utilizados para construir modelos de aplicação, pois
fornecem os blocos de construção que podem ser utilizados para construir modelos à
medida, a base para criar modelos de competência genéricos (replicação dos modelos
actuais para a construção de novos modelos) e as formas de mapear modelos
competidores nos instrumentos de medida baseados na Estrutura Universal de
Competências.
Conjuntos específicos de competências poderão ser criados reunindo conjuntos
de componentes e atribuindo títulos e definições para cada conjunto. Estes poderão
conter algumas ou muitas competências; poderão ser criados através do conjunto de
todos os componentes ou através do método de escolha e mistura (Bartram et al., 2000).
Assim, de acordo com os autores, a Estrutura Universal de Competências poderá ser
utilizada para formar conjuntos particulares de competências de trabalho para cada
sector em particular. A chave para esta abordagem é a distinção entre a estrutura
profunda e a estrutura superficial. A estrutura profunda contém o conhecimento
necessário para construir instrumentos de alta qualidade (é a tecnologia de construção)
enquanto a estrutura superficial é a informação que se apresenta às organizações
(apresentação da tecnologia).
Ao nível do Inventário de Comportamentos Profissionais, este deverá ser
reformulado consoante as diversas funções em estudo, adaptando-se também aos
diversos níveis de complexidade verificados nos estudos de Hunter (1983, citado em
Bartram et al., 2000). Os itens também deverão ser reformulados de forma a melhor
caracterizarem os comportamentos considerados importantes para cada função, de
forma a poderem-se estudar as diferenças para cada função. A própria configuração do
instrumento poderá ser alterada. No instrumento utilizado no presente estudo é pedido
aos indivíduos para indicarem a importância que atribuem a cada comportamento e logo
após a frequência com que o verificam. A construção de um novo instrumento em que
as duas variáveis não são imediatamente apresentadas para cada competência poderá
diminuir respostas tendenciosas, ou seja, como no presente Inventário o indivíduo
indica o grau de importância e de seguida a frequência com que se manifesta cada
competência, a resposta relativamente à importância poderá influenciar imediatamente a
resposta relativa à frequência e vice-versa.
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
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Como nota final, pode-se concluir que a Estrutura Universal de Competências é
um modelo teórico útil que incorpora um modelo de desempenho no trabalho que define
as relações entre as competências e o seu potencial, os requisitos de competências e as
próprias competências, em que as competências são definidas como comportamentos
desejados que apoiam a obtenção dos objectivos organizacionais. (Bartram et al., 2000).
A Estrutura Universal de Competências aborda as formas como as pessoas e as
características do trabalho interagem entre si e as implicações relativas à forma como se
pode lidar com o desempenho no trabalho. O facto dos blocos de construção dos
componentes serem definidos em relação a cinco níveis de complexidade do trabalho,
através de indicadores comportamentais e de outras informações, permitem gerar
conjuntos de competências correspondentes a diferentes camadas de trabalho dentro das
organizações, desde o trabalho manual até a funções superiores. Os conjuntos de
informação são propostos para cada componente de competências, fornecendo
descrições detalhadas, com âncoras comportamentais, métodos de avaliação, questões
de entrevista e exercícios ilustrativos para o desenvolvimento dos trabalhadores. Estes
fornecem fontes de materiais para a construção de conjuntos comparáveis de
informação para outros conjuntos de competências (Bartram et al., 2000).
Assim, a Utilização deste modelo teórico permite obter descrições detalhadas e
compreensivas de listas de competências e de como estas se relacionam com os
objectivos organizacionais criando uma linguagem comum para descrever o mundo do
trabalho, tornando fácil o desenvolvimento de soluções apropriadas para cada função e
também para auxiliar os consultores de Recursos Humanos a mapear as competências a
avaliar que definem claramente os procedimentos de avaliação e os seus resultados
expressos em competências discretas (Bartram et al., 2000). Desta forma, torna-se mais
fácil a verificação do que poderá ser feito em termos de avaliação e desenvolvimento,
acrescentando valor às organizações através dos indivíduos que a constituem, utilizando
esta estrutura profunda para construção de modelos de competências superficiais que se
adequam a qualquer função que se pretenda estudar para desenvolver soluções
adequadas às necessidades organizacionais e para avaliação da percepção dos
indivíduos.
A Estrutura Universal de Competências: Estudo exploratório da percepção sobre a importância e a
frequência dos comportamentos
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