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Publicação BIMESTRAL N.º 242 julho-agosto 2016 ISSN 0871-5688 O PREÇO - 0,10 (IVA incluído) A fé não vai de férias P. e Dário Balula Chaves [email protected] O verão está aí e com o verão chegam as férias. Com certeza, anda por aí muita gente a pensar como vai fazer para ter umas boas férias. Aqui ficam três sugestões para umas férias bonitas e proveitosas. Tempo para a saúde física e espiritual As férias podem ser aproveitadas para descansar o corpo e refrescar o espírito. Andamos tão cansados e agitados com os problemas da vida do dia a dia no meio de uma socieda- de materialista, que tantas vezes nos encontramos vazios e insatisfeitos. Nas passagens da nível dos cami- nhos de ferro havia um letreiro que dizia «Páre, escute e olhe». Este pode ser um bom programa para as nossas férias: sermos capazes de parar, para escutar o nosso coração e contemplar a beleza de Deus que está presente nos acontecimentos, na Natureza e nos outros. E, então, seguir em frente com otimismo e coragem, dando um novo rumo à nossa vida. Férias: um luxo só para poucos Para a maior parte das pessoas que vivem no mundo, a vida é uma luta contínua pela sobrevivência e contra a fome e a pobreza. Para estas pessoas não há férias. No mundo atual, milhões e milhões de pessoas vivem sem o mínimo de dignidade humana e são vítimas da sociedade injusta em que vivemos. Não pode- mos fechar os olhos e o coração e ficar indiferentes perante os dramas da Humanidade. Lembro-me de uma canção que eu gostava muito de cantar: «Como posso ser feliz, se ao pobre meu irmão, eu fechar o cora- ção, meu amor eu recusar?» Como cristãos e como seres humanos, somos chamados a ser solidários e a construir um mundo mais fraterno e mais justo para todos. A fé não vai de férias As férias não são tempo de pre- guiça espiritual. Há pessoas que só rezam quando lhes convém ou lhes apetece. Durante as férias deixam de rezar e de ir à igreja porque não fazem qualquer esforço para isso. Faz-me lembrar a história do fato domingueiro. Antigamente as pes- soas durante a semana andavam todos sujos a trabalhar. Mas, quando chegava o domingo, aprumavam-se e vestiam o fato domingueiro para ir à igreja. Ao fim do dia, punham de novo o fato no cabide dentro do armário e voltavam para a sua vida normal. Não podemos ser cristãos de domingo e pôr a nossa fé no cabide durante a semana. Outros parece que têm uma fé do tipo pisca-pisca. A fé deles acende e apaga como o pisca-pisca do carro. Fica acesa quando Deus atende os seus caprichos; mas se Deus não lhes faz a vontade, a fé deles apaga- -se logo; ficam revoltados e deixam de rezar. A fé de pisca-pisca não tem valor nenhum. Acolhamos o convite do Papa Francisco: «Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação em que se encontre, a renovar o seu encontro pessoal com Jesus Cristo, ou, pelo menos, a deixar-se encontrar por Ele e de O procurar dia a dia sem cessar» (A Alegria do Evangelho, 3).

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Publicação BIMESTRAL

N.º 242 julho-agosto 2016

ISSN 0871-5688 PREÇO - 0,10 (IVA incluído)

A fé não vai de férias

P.e Dário Balula [email protected]

O verão está aí e com o verão chegam as férias. Com certeza,

anda por aí muita gente a pensar como vai fazer para ter umas boas férias. Aqui &cam três sugestões para umas férias bonitas e proveitosas.

Tempo para a saúde física e espiritual

As férias podem ser aproveitadas para descansar o corpo e refrescar o espírito. Andamos tão cansados e agitados com os problemas da vida do dia a dia no meio de uma socieda-de materialista, que tantas vezes nos encontramos vazios e insatisfeitos.

Nas passagens da nível dos cami-nhos de ferro havia um letreiro que dizia «Páre, escute e olhe». Este pode ser um bom programa para as nossas férias: sermos capazes de parar, para escutar o nosso coração e contemplar a beleza de Deus que está presente nos acontecimentos, na Natureza e nos outros. E, então, seguir em frente com otimismo e coragem, dando um novo rumo à nossa vida.

Férias: um luxo só para poucos

Para a maior parte das pessoas que vivem no mundo, a vida é uma luta contínua pela sobrevivência e contra a fome e a pobreza. Para estas pessoas não há férias. No mundo atual, milhões e milhões de pessoas vivem sem o mínimo de dignidade humana e são vítimas da sociedade injusta em que vivemos. Não pode-mos fechar os olhos e o coração e &car indiferentes perante os dramas

da Humanidade. Lembro-me de uma canção que eu gostava muito de cantar: «Como posso ser feliz, se ao pobre meu irmão, eu fechar o cora-ção, meu amor eu recusar?» Como cristãos e como seres humanos, somos chamados a ser solidários e a construir um mundo mais fraterno e mais justo para todos.

A fé não vai de férias

As férias não são tempo de pre-guiça espiritual. Há pessoas que só rezam quando lhes convém ou lhes apetece. Durante as férias deixam de rezar e de ir à igreja porque não fazem qualquer esforço para isso. Faz-me lembrar a história do fato domingueiro. Antigamente as pes-soas durante a semana andavam todos sujos a trabalhar. Mas, quando chegava o domingo, aprumavam-se e vestiam o fato domingueiro para ir à igreja. Ao &m do dia, punham

de novo o fato no cabide dentro do armário e voltavam para a sua vida normal. Não podemos ser cristãos de domingo e pôr a nossa fé no cabide durante a semana.

Outros parece que têm uma fé do tipo pisca-pisca. A fé deles acende e apaga como o pisca-pisca do carro. Fica acesa quando Deus atende os seus caprichos; mas se Deus não lhes faz a vontade, a fé deles apaga--se logo; &cam revoltados e deixam de rezar. A fé de pisca-pisca não tem valor nenhum.

Acolhamos o convite do Papa Francisco: «Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação em que se encontre, a renovar o seu encontro pessoal com Jesus Cristo, ou, pelo menos, a deixar-se encontrar por Ele e de O procurar dia a dia sem cessar» (A Alegria do Evangelho, 3).

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2 FAMÍLIA COMBONIANA

JUSTIÇA E PAZ

As riquezas são para todos?

Ir. Bernardino [email protected]

Em 2014, Moçambique ainda se encontrava entre as dez nações mais pobre do mundo, de acordo com o relatório sobre o Índice do Desen-volvimento Humano (IDH), no qual ocupava a posição 178 de um total de 187 países analisados. Dados o*ciais indicam que pelo menos 54 % da po-pulação moçambicana vive na pobreza.

No entanto, Moçambique possui – entre outros recursos naturais – gran-des reservas de carvão. Nos últimos dez anos, os trabalhos de pesquisa geológica permitiram identificar depósitos de carvão mineral que alcançam os 20 mil milhões de toneladas. No Centro do país, na província de Tete, foram descobertas grandes jazidas de carvão, metalúrgico e térmico, que, segundo os peritos, poderão ser as maiores do mundo.

Desde 2007 que a empresa bra-sileira de extração mineira Vale, a segunda maior do mundo no sector, está instalada na região. Pouco tempo depois chegou a anglo-australiana Rio Tinto (que se chamava, na altura, Riversdale). Em Moatize, a cerca de 20 quilómetros da capital provincial Tete, só na primeira fase do projeto, a Vale investiu quase dois mil milhões de dólares. Em trinta e cinco anos, a empresa pretende extrair mais de dois mil milhões de toneladas de carvão. Estes megaprojetos gozam de enormes incentivos *scais, como a isenção de sisa [imposto sobre a transmissão de imóveis], taxa liberatória, imposições aduaneiras, imposto de selo, imposto de consumo especí*co, imposto sobre o valor acrescentado.

A sociedade civil moçambicana está a exigir que os rendimentos destes projetos revertam para os serviços de segurança social e bene*ciem a toda a população. «O país tem muita riqueza que está a ser gerada e por outro lado está a sair e não está a ser utilizada para criar uma economia mais articulada», declarou o economista moçambicano Nuno Castel Branco, do Instituto de Estudos Sociais e Económicos à tele-visão alemã DW. Os moçambicanos a*rmam que as promessas feitas, como a geração de emprego e a melhoria das infraestruturas, não se estão a concre-tizar. E queixam-se da poluição e das consequências ambientais da atividade mineira.

Vídeo denuncia injustiças

O vídeo-documentário «Somos Carvão?», realizado por um grupo de associações não governamentais, apre-

senta as violações dos direitos huma-nos causadas pela Vale e os impactos do Projeto ProSavana na região norte de Moçambique. «Procuramos trazer casos que ilustram graves atropelos aos procedimentos legais e uma gama de injustiças sociais, nomeadamente: os casos de usurpação de terras, inde-minizações injustas, perca de habitats, etc., por um lado e, por outro, pro-curamos tornar visível o sentimento das comunidades camponesas face o avanço do programa ProSavana, os vícios de conceção e os impactos deste programa», disse o coordenador executivo da Acção Académica para o Desenvolvimento das Comunidades Rurais (ADECRU), Agostinho Bento. Pode-se ver o documentário na Inter-net em https://youtu.be/jICcw3AupXs.

Há uns anos, em Tete, no centro de Moçambique, foram encontradas grandes

jazidas de carvão. Desde então, essa região esquecida converteu-se no centro

de investimentos das grandes empresas extrativas. Mas quem beneficia com

esses recursos naturais?

O programa ProSavana, tem vícios de conceção e causa impactos sociais e ambientais

adecru

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FAMÍLIA COMBONIANA 3

para a missão em portugal e na europa

P.e Claudino Gomes [email protected]

O  pianista e comediante dinamar-quês Victor Borge diz: «O sorriso é a distância mais curta entre duas pes-soas.» Quando amamos alguém, tudo é sorrisos, logo o amor é sorrisos. Deus chama-nos a ser sempre sorrisos, por-que somos portadores do Evangelho do Amor. Um simples sorriso dado a alguém pode ser o único “abraço” que essa pessoa recebe nesse dia. Isto é ver-dadeira misericórdia. Nesta sociedade tão triste, queixosa, estressada, carre-gada de problemáticas, urge evangeli-zar ainda mais com alegria e sorrisos.

Jesus era bem-disposto. Ele mostra, no jeito de estar, nas parábolas e nos milagres, como ensinar, falar e tornar presente o Reino feliz de Deus.

Estilo missionário

Estudos na área da comunicação mostram que o conteúdo do que dizemos vale só uns 7 %, a forma como o dizemos, 38 % e a linguagem

corporal 55 %. Por aqui percebemos a importância de sermos cristãos pelo testemunho feliz.

Queremos anunciar um Deus que é amor e alegria. Muitas vezes, po-rém, fazemo-lo com uma linguagem inadequada e cara demasiado séria, até carrancuda. Se vamos evangelizar maldispostos, apresentamos o verda-deiro Deus? Ou mostramos o deus que imaginamos e criamos ao nosso modo, mas que, na realidade, não existe? (cf. A Alegria do Evangelho, 41).

Deus-Amor é transmitido por quem goza a doce alegria do Seu amor, com palavras e sorrisos e em gestos de proximidade e solicitude, que ge-ram vida digna e plena (A Alegria do

Evangelho, 2).

Ser amor para anunciar Deus Amor

O professor Fernando Batista, cria-dor do projeto Sorrisos de Deus – ver www.facebook.com/sorrisosdeDeus –

Evangelizar com sorrisos

Participantes da festa missionária na casa comboniana de Lisboa numa sessão de

risoterapia orientada pelo professor Fernando Batista

O professor Fernando Batista, casado e pai de duas crianças,

membro da Família Comboniana, evangeliza por meio do riso.

Pedimos-lhe umas dicas…

Além-Mar

orientou sessões de Risoterapia em festas missionárias de algumas comu-nidades combonianas de Portugal. Eis alguns exercícios que ele sugere para evangelizar-nos e aos outros pelo riso:

– Quando acordas de manhã, ou tomas banho, solta umas gargalhadas, agradece a Deus o dia que vais ter e as pessoas fantásticas com quem vais estar, e oferece-te a Ele, para ser Sua presença no meio das pessoas.

– Ao lavar os dentes, olha-te ao espelho, olhos nos olhos. Com brilho no olhar, diz várias vezes o teu nome e «gosto muito de ti». Assim, treinas o teu ser-amor, para te tornares pro*s-sional do amor gratuito e são. Anuncia e comunica o amor, alinhando bem o que fazes e o que dizes.

– Calculou-se que temos cerca de 90 mil pensamentos por dia… Ao longo do dia, orienta frequentemente o pensamento para Deus, Deus Amor--Alegria-Misericórdia-Sorriso...

Professor Fernando Batista

Além-Mar

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6 FAMÍLIA COMBONIANA

linha direta

Missão com histórias de misericórdiaAs Jornadas Missionárias, que se

realizam nos dias 17 e 18 de setem-bro, no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima, têm como tema «Missão com histórias de misericórdia».

São múltiplas as realidades calcor-readas pelos missionários: da Amazónia ao Sudão, do Japão à República Centro--Africana, da Síria até Portugal… Ali, onde a realidade parece toldar o olhar e entristecer o coração, o missionário, com uma sensibilidade diferente, sente no seu coração a certeza da criatividade de Deus. Por isso, estas jornadas mis-sionárias terão mais testemunhos do

No dia 7 de maio, teve lugar no Seminário das Missões, em Viseu, o encontro anual da Associação dos Antigos Alunos Combonianos portugueses. Compareceram perto de 80 e a “conversa em família” começou pelas 11h00. Cantou-se o hino da associação, da autoria do Laureano. José Faria presenteou os presentes com um vídeo sobre a vida do jovem padre comboniano italiano Izequiel Ramin, assassinado no Brasil a 24 de julho de 1985, e cujo processo de beati*cação decorre no Vaticano. Seguiram-se os teste-munhos, como o de Camilo Guerrero, vindo da Espanha, e outros partilharam acerca dos seus percursos e êxitos pro*ssionais. Comum a todos era a grande gratidão pelos mestres combonianos, pelos companheiros de caminhada e pelas oportunidades que o percurso comboniano propor-cionou. O P.e José Vieira, superior dos Combonianos em Portugal, comunicou as conclusões do recente Capítulo Geral, realizado em Roma. E o P.e Manuel Augusto contou

Encontro de antigos alunos

Estatuto EditorialO jornal Família Comboniana é uma publicação

bimestral de inspiração missionária. Pretende promo-ver os valores da paz, da justiça, da solidariedade e do respeito pelo ambiente e os direitos humanos. Quer dar a conhecer os problemas mundiais (sociais, eclesiais, económicos e políticos), especialmente os dos países menos desenvolvidos, informar sobre o trabalho dos missionários portugueses em Portugal e espalhados pelo mundo e alimentar a vocação histórica universa-lista e solidária. Deste modo, a Família Comboniana é

que palestras, para abordar os temas «Misericórdia e desenvolvimento», «Misericórdia e voluntariado», «Miseri-córdia e a casa comum», «Misericórdia e inclusão», «Misericórdia e reconcilia-ção» e «Misericórdia e acolhimento».

No dia 18, destacam-se as presen-ças da Irmã Myri, vinda da Síria, e do bispo comboniano D. José Aguirre, da República Centro-Africana.

Para informações e inscrições, usar os contactos: telefone 218 148 428, cor-reio eletrónico [email protected] ou consultar www.opf.pt/index.php/jornadas-missionarias.

um elo com todos os missionários e um instrumento de cooperação missionária.

O jornal Família Comboniana é associado da Missão Press e da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã (AIC). Não tem *ns lucrativos. É distribuído por assi-natura (não se vende nas bancas) no âmbito nacional a partir de Lisboa e das outras casas dos Missionários Combonianos em Portugal. Como publicação jornalís-tica, respeita os princípios deontológicos e a ética pro*s-sional dos jornalistas, assim como a boa-fé dos leitores.

a história e as estórias dos Combonianos em Portugal desde 1947. Seguiu-se a Eucaristia e o convívio no refeitório. Ali, os antigos alunos apoiaram com uma oferta a viagem do P.e António Ino a Moçambique. E agradeceu-se ao Isidro a sua busca de muitos antigos alunos, cujo paradeiro era desconhecido.

António Pinheiro

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FAMÍLIA COMBONIANA 7

Jubileu sacerdotal

Sou um dos primeiros missionários combonianos de nacionalidade portu-guesa que passaram pelo Seminário das Missões, em Viseu.

Nasci em Campia, Vouzela, a 25 de julho de 1940. Fui o segundo de quatro irmãos e duas irmãs. Os meus pais eram fervorosos cristãos e assim cresci alegre e feliz, seguindo o exemplo deles.

Entrei com 11 anos no seminário comboniano. Oito anos depois, entrei a fazer parte da Família Comboniana com a primeira pro*ssão religiosa, a 9 de setembro de 1959. Depois de cursar Filoso*a, em Portugal, fui concluir a Teologia em Itália. E ali fui ordenado padre, em Milão, a 26 de junho de 1966.

As origens da vocação

A minha vocação está muito ligada à forte devoção do povo português à Senhora de Fátima. Em agosto de 1950, a Virgem de Fátima, peregrina, passou pela minha paróquia e foi nessa ocasião que eu senti, pela primeira vez, o chamamento para a vida sacerdotal. A 20 de janeiro de 1951, o comboniano P.e Rino Carlesi foi o pregador na festa de São Sebastião, na minha paróquia de Campia e foi a ele que eu manifestei o meu desejo de ser missionário. Esse sonho concretizou-se quando fui fui destinado a Moçambique e à diocese de Nampula, para onde parti a 2 de outubro de 1966.

Primeiro campo de trabalho

Depois de aprender a língua do povo macua, os seus usos e costumes, fui destinado à missão de São João de Deus, em Alua, que tinha sido erigida seis meses antes. Não havia nenhuma estrutura paroquial. Vivíamos com o

povo e como o povo, em simples pa-lhotas. Fomos muito bem acolhidos. A missão era um centro religioso e de promoção humana, por meio da edu-cação, da saúde e do desenvolvimento loca. Seguiamos como lema civilizar e cristianizar, isto é, fazer bons portu-gueses e bons cristãos.

Escolhemos algumas prioridades de trabalho: a assistência e visita aos doentes, e eram tantos, a catequese para adultos e adolescentes e o acompanha-mento dos cerca de quinze mil alunos das 120 escolas-capelas, a construção do posto médico, da casa paroquial e o salão que serviria como igreja. Foram anos de intenso trabalho, com algu-mas privações e di*culdades e muitas alegrias e aventuras de toda a espécie.

Muitas vezes deparei com leões e leopardos, e outros animais ferozes, nas visitas às comunidades e escolas mas, graças a Deus, eles sempre me

respeitaram, deixando somente um grande susto. Hoje essa paróquia é uma das mais ^orescentes da nova diocese de Nacala.

Seguiram-se outras missões, e os tempos da Guerra Colonial e da guerra civil, de perseguição aos missioná-rios… Em 1987, fui enviado para o Maláui, onde *quei até 1995, na for-mação religiosa das lideranças e das comunidades cristãs.

A missão em Terras de Santa Cruz

Em *ns de 1996, fui destinado ao Brasil, para trabalhar na animação mis-sionária. Voltei a Moçambiquem em julho de 2005, e trabalhei na promoção vocacional e animação missionária. Estou no Brasil desde 2008 e a missão tem sido ajudar este povo maravilhoso e carente a ser mais feliz e fraterno.

P.e Martinho Moura

O P.e Martinho Lopes Moura foi ordenado em Milão, em 1966. As celebrações das bodas de ouro sacerdotais decorreram em Curitiba, no Brasil,

a sua atual missão.

O P.e Martinho Lopes Moura na missão em Moçambique

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8 FAMÍLIA COMBONIANA

Jovens em missão (JIM)

«FAMÍLIA COMBONIANA»Propriedade: Missionários Combonianos do Coração de Jesus Pessoa Colectiva n.º 500139989Diretor: Bernardino Frutuoso (CP 10020)Redação: Fernando Félix (CP 2838)/Carlos Reis (CP 4073)Gra%smo: Luís FerreiraArquivo: Amélia Neves

Redação e Administração: Calç. Eng. Miguel Pais, 91249-120 LISBOARedação: Tel. 213 955 286 E-mail: [email protected]: Manuel Ferreira HortaAdministração: Fax: 213 900 246E-mail: [email protected]

Nº de registo: 104210Depósito legal: 7937/85Impressão:Jorge Fernandes, Lda.Rua Quinta do Conde Mascarenhas, 92825-259 CHARNECA DA CAPARICATiragem: 29.500 exemplares

O JIM – Jovens em Missão começa uma nova etapa. O P.e Leonel vai partir para o Chade, depois de onze anos à frente deste movimento juvenil missionário da Família Comboniana. Dissemos obrigado ao P.e Leonel e ele disse--nos obrigado. O JIM continua o seu caminho.

O futuro prepara-se hoje

De 4 a 6 de junho, tivemos na Maia um encontro de responsáveis e animadores JIM para formação, avaliação e programação. Reunimo-nos 25 pessoas, entre membros da Família Comboniana e jovens animadores leigos.

Na formação, procurámos conhecer mais e melhor a realidade juvenil hoje em Portugal e na Europa. Avaliámos, depois, o ano de atividades pastorais que está a terminar e programámos para o futuro.

Programação JIM para o futuro

Na conclusão deste ano JIM, em que seguimos o tema «Misericórdia, qual é o teu nome?», teremos em julho o Missão Jovem e o Semp’ábrir e, em agosto, o Missão Mais.

Para o novo ano de atividades, a começar em setembro, as perspetivas são otimistas. Vamos preparar, como em todos os anos passados, um guião com o itinerário formativo. No ano pastoral 2016-2017, versará sobre o tema «Maria, au-rora da nova criação». Orientar-nos-á para a amizade com a nossa Mãe, em Ano Mariano no centenário das aparições em Fátima, e apresentará também a dimensão ecológica da nossa «casa comum», à luz da encíclica do Papa Francisco Louvado sejas.

Sempre em progresso

Um aspeto que queremos melhorar é o nosso serviço de animadores de grupos JIM. Para isso, vamos começar por melhorar e fortalecer os laços entre os membros das equipas. Aplicando os três rr – Rezar, Re^etir e Refeição – queremos ser melhores para realizar com entusiasmo os três pp: Pouco, Pequeno e Possível.

A boa vontade é grande e o entusiasmo é sem limites. Queremos horizontes largos e possíveis, no bonito caminho JIM de fé e missão.

O caminho de fé e missão do JIM

P.e Carlos Nunes, mccj [email protected]

De alguma maneira, este foi também um encontro de despedida do P.e Leonel no que se relaciona com a organização e orientação JIM.

Ele deixou-nos algumas dicas para o futuro. «Ca-racóis, não!» foi a imagem que me *cou na mente e no coração, porque a acho tão verdadeira, cativante e desa*ante…

Ele resumiu a sua experiência de onze anos JIM em três pontos: a Cruz, como sendo o caminho que seguiremos, como Jesus e Comboni; a equipa, como essencial ao cresci-

mento do JIM, e que se vai construindo com criatividade e na diversidade; e o espírito de missão, que temos de viver, pois é isso que queremos propor, transmitir e partilhar com os jovens JIM e os que desa*amos para o ser.

Na conclusão do encontro, o P.e Leonel disse: «Ca-racóis, não! Os caracóis saem da concha, espreitam a realidade e, à mais pequena contrariedade ou di*culdade, encolhem-se imediatamente e escondem-se na sua con-cha de isolamento. Não podem ser assim os animadores JIM nem os jovens JIM!»

«Caracóis, não!»