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A festa de Nossa Senhora do Rosário como espaço sócio-político e cultural (1920 – 1954)
Bianca Silva Lopes Costa Mestranda no Programa de Pós-Graduação
em História Regional e Local pela UNEB – Campus V.
Email: [email protected] Palavras-Chave: História Cultural, religiosidade, identidade
RESUMO
Esta pesquisa analisou a festa de Nossa Senhora do Rosário em Itaberaba-BA entre os
anos de 1920-1954. Tomando como foco os diferentes significados de mundo, do viver
social e os processos simbólicos que foram produzidos e reproduzidos por meio da festa
religiosa imprimindo-lhes identidade. Dentre as práticas que foram analisadas está os
rituais que antecedem à festa, a preparação do corpo espiritual: novenas, a missa, a
organização para a procissão, as vestimentas, os recursos; além das quermesses e
situações que ocorriam no próprio festejo. Este trabalho evidenciou como homens,
mulheres e crianças construíram e reconstruíram suas identidades e suas sociabilidades,
a partir da multiplicidade de vivências e simbolismos ocorridos no festejo. Além disso,
identificou como a festa postulou experiências e consequentemente significações, para
os sujeitos sociais que dela participaram.
INTRODUÇÃO
No século XX percebe-se em toda a Chapada Diamantina a realização de festas,
principalmente as religiosas, as quais reuniam toda a comunidade em torno das
celebrações. Em Itaberaba, cidade do interior da Bahia situada na mesma região, as
pessoas vivenciavam expressivas práticas sócio-religiosas e culturais praticadas por uma
população singularmente religiosa e devota a Nossa Senhora do Rosário. Em adoração a
Santa acontecia um significativo ritual marcado por hinos, rezas, apresentações, atos de
contrição, o que significava o momento de celebração da vida, de enfrentamento da
realidade adversa que a sociedade estivesse passando naquele momento. Um
significativo espetáculo acontecia na cidade durante os festejos em homenagem a Nossa
Senhora do Rosário, destacando-se principalmente pela pompa que evidenciava.
As proximidades da festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário em Itaberaba era
considerado pela comunidade como um novo tempo, este inaugurava momentos
ímpares para aquelas pessoas que através do trabalho, do canto, da missa, na quermesse
ou nas suas performances exprimiam os seus sentimentos mais íntimos no festejar. No
entanto, tal relação com o festejo até meados de 1920 não possuía o mesmo
brilhantismo que veio a expressar e exibir nas décadas seguintes. Anteriormente a
mesma acontecia a partir de algumas solenidades, como comunhões, cantos e missas. O
Pároco Campeiro de Souza (1922) em um dos seus relatos sobre as celebrações da
paróquia, indignado com a frieza de sentimentos dos fiéis e do desleixo dos mesmos
com as comemorações religiosas, expressou as seguintes palavras:
A minha impressão ao entrar na vida paroquial desta freguesia foi bastante desanimadora quinze a vinte pessoas ouviam a missa dos domingos e dias santos (...) celebrei com solenidades as festas do Santíssimo Sagrado Coração de Jesus, da Conceição e do Natal (...) assim passou-se o primeiro ano de paróquia nesta freguesia de gente alheia a todo e qualquer sentimento festivo religioso (...) Organizei uma comissão para realizar a festa da padroeira e eles tendo aceitado o meu convite prometeram fazer a festa com máxima solenidade, não ligando depois a mínima importância a sua promessa e ao seu compromisso, outubro me vieram oferecer para fazer a festa (...) e mais uma vez provaram a sua aversão a causa de Deus. ( LIVRO DE TOMBO, 1922, p. 12-14)
A partir da década de 1926 Itaberaba viu renascer o festejo que viria a ser o mais
importante daquela região. Esse ressurgir foi fruto do projeto dos dirigentes religiosos
que viam nas comemorações festivas a possibilidade de ascensão da fé católica e do
crescimento do número de fiéis, que na percepção dos padres necessitavam de
evangelização para a comunhão com Deus e consequentemente zelo para com as causas
religiosas. Nesse sentido, a festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário volta
resplandecente consolidando as aspirações dos dirigentes católicos naquela região,
tornando-se, “instrumento de comunicação e de conhecimento enquanto veículo
simbólico quanto ao sentido dos signos e do mundo...” (BOURDIEU, 1998, p. 28)
seguiu cumprindo os seus objetivos doutrinários e alimentando os anseios dos sujeitos
sociais. Demonstrando grande alegria no empreendimento religioso para arrebanhar os
fiéis, o padre escreveu o grande acontecimento que marcou a espiritualidade daquela
gente: Fiz o mês de Maria e Rosário pregando todos os dias e com aula de catecismos diários conseguindo elevar assim o número de alunos a cento e quarenta meninos e meninas (...) a primeira comunhão que se fez constituiu a festa mais bela que este povo se lembra ter assistido
aqui. Setenta crianças receberam pela primeira vez a Jesus no Santíssimo Sacramento da Eucaristia, sendo que trinta se achavam vestidas de anjo, sendo todos os cantos executados pelos comungantes... ( LIVRO TOMBO, 1926, p.12)
Ultrapassando os limites do eclesiástico, a festa para a comunidade ganha novos
sentidos e ao se apropriar da mesma, aquelas pessoas a redimensiona e lhes imprime
suas identidades. Segundo Brandão (1978) a festa incorpora os mesmos sujeitos, os
mesmos objetos e a mesma estrutura das relações de uma comunidade, porém a
transfigura, a partir dos variados objetivos que seus participantes têm em relação à
mesma. O interessante é que a festa, segundo o autor, “se apossa da rotina e não a
rompe, mas excede sua lógica, e é nisso que ela força às pessoas ao breve ofício ritual
da transgressão” (BRANDÃO, 1978, p.26).
Abordagens relacionadas à cultura vêm sendo muito contempladas nas produções
historiográficas atuais. A temática “Festas”, devido à amplitude de suas manifestações
nas diversas sociedades e os significados advindos das relações ocorridas no interior das
mesmas, tem se constituído como importante objeto de pesquisa. Considerando a
possibilidade de uma pesquisa historiográfica fundamentada na História Cultural
busquei no município de Itaberaba, região da Chapada Diamantina o objeto de estudo
desta pesquisa. Este artigo investigou os diferentes significados de mundo, do viver
social e os processos simbólicos que foram produzidos e reproduzidos por meio da festa
religiosa imprimindo-lhes identidade. Dentre as práticas que foram analisadas está os
rituais que antecedem à festa, a preparação do corpo espiritual: novenas, a missa, a
organização para a procissão, as vestimentas, os recursos; além das quermesses e
situações que ocorriam no próprio festejo.
Esta pesquisa utilizou a história oral, a qual permitiu o registro de testemunhos e o
acesso a histórias dentro da história e, dessa forma, ampliou as possibilidades de
interpretação do passado (ALBERTI, 2006). Os testemunhos dos sujeitos sociais que
vivenciaram ou conheceram de alguma forma a festa em louvor a Nossa Senhora do
Rosário foram importantes fontes históricas, pois constituíram um cabedal infinito, onde
múltiplas variáveis – temporais, topográficas, individuais, coletivas – dialogaram entre
si, revelando lembranças, algumas vezes de forma explicita outras vezes de forma
velada (DELGADO, 2006). Tais narrativas permitiram amplas interpretações acerca do
objeto de estudo, como as aspirações, realizações, significados em torno da celebração a
Padroeira.
Destarte, a festa em homenagem a Nossa Senhora do Rosário como representação de
uma coletividade produziu durante o tempo significados, os quais não ficaram
registrados apenas nas memórias dos vários sujeitos sociais, mas também de forma
impressa. Assim, este trabalho contemplou a pesquisa documental, a qual analisou
documentos como os do arquivo da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário. Livros de
Tombo e outros registros da Diocese trouxeram as impressões dos religiosos da
Paróquia, tais como o reviver da festa da Padroeira, seus esforços para a dinamização e
excelência da festa no sentido espiritual, além é claro da expansão da mesma durante o
tempo. O jornal local e também as fotografias, evidenciaram informações, impressões e
situações que ocorreram no festejo os quais possibilitaram conhecimentos relevantes
para compreender a dinâmica sócio - política e religiosa da festividade.
A FESTA DO ROSÁRIO EM ITABERABA CONJUNTURA SOCIAL
A cidade de Itaberaba na década de 1930 crescia em um contexto político-econômico
fundamentado na dinâmica marcada pela construção de obras públicas, pavimentação
das vias, patrocínio de festas, incentivo ao comércio, com a possibilidade permanente da
energia elétrica, pois a energia até meados da década de 1940 só permanecia acesa até
as dez horas da noite, além de específicas permanências do século XIX, como a
existência de pequenas propriedades, nas quais eram produzidos bens de consumo para
a comunidade. Economicamente ainda que possuísse a característica principal baseada
na agricultura e pecuária, a cidade lutava contra as constantes secas que castigava muito
a vida da população, pois não possuía água encanada, dependendo do trem ou de
carroças que trazia esse tão escasso e necessário recurso natural. (O ITABERABA,
1945.)
Nessa conjuntura as pessoas viviam em uma relação de intimidade com a vida religiosa
e durante a festa em comemoração à Senhora do Rosário, uma grande proximidade
coletiva acontecia entre as pessoas. A imagem e os significados em torno do sagrado
regiam a vida social e nesse espaço os sentidos foram construídos: Segundo Araújo
(2008): (...) as manifestações festivas potencializam um momento especial, no qual uma coletividade projeta e re(cria) significados para o mundo, lhe imprime identidade, sentido, conflito, valores e especificidades. (ARAÚJO, 2008, p.20)
O reino do sagrado no festejo produzia o efeito contagiante de aproximação entre as
pessoas e nessa celebração os sujeitos sociais por intermédio de suas performances
redefiniam as suas identidades. De acordo com Borges (1998) essa festa historicamente
perpassa por todo o período colonial chegando até o Brasil Império e a sua promoção
estava a cargo dos escravos, negros alforriados e livres congregados nas Irmandades do
Rosário. Em Itaberaba, a festa não estava circunscrita somente a negros, como em
outras partes do país. Nem especificamente ligada a uma irmandade, como nos relata D.
Maria Santos1, A festa de Nossa Senhora do Rosário aqui na cidade não tem uma irmandade própria, a que ajudava para a organização da festa era a irmandade coração sagrado do menino Jesus, quem realmente fazia as coisas era a comissão organizadora...
O festejo se evidenciava pela estética da celebração, pelo ritual elaborado pelos devotos
e vaqueiros, além do banquete que era servido nas casas para os participantes da
população. Logo ao chegar à paróquia e incitar a população para a realização do festejo,
o pároco Campeiro de Souza nunca imaginaria como a homenagem à Santa Padroeira
veio a se expandir e consequentemente passar por mudanças.
As transformações foram ocorrendo ao longo dos anos de 1920 a 1954, à medida que as
pessoas se aproximavam mais da Santa e da vida religiosa. Em 1920 poucas famílias
deram importância às pregações e solicitações do pároco Campeiro de Souza, porém já
em 1926, O mês de Rosário constituiu um dos acontecimentos mais solenes da vida religiosa da Paróquia neste ano, porquanto o culto da Padroeira achava-se já há tempos em total esquecimento. Fiz ver ao povo a necessidade de revivê-lo no que fui atendido, sendo feitas todas as noites com mordomos e da maneira mais brilhante. Para auxiliar-me nos exercícios do mês de Rosário veio a meu convite a esta cidade o Frei João Baptista Fernando que organizou um coro duplo com quarenta e tanto cantores entre moças e crianças, acto este que agradou sumamente ao povo (...) as noites foram solenizadas com o oferecimento de flores pelas crianças à Virgem Santa...(Pe. Aristides Pedreira do Couto Ferraz. In: Livro de Tombo, 1926, p. 14)
Nesse momento, muitas pessoas já participavam do culto à Padroeira, por todos os
cantos naqueles dias festivos crianças, mulheres e homens evidenciavam no seu próprio
espaço de vivências e no seu cotidiano, um profundo sentimento religioso. O exercício
da fé cristã individualmente e coletivamente foi se construindo, impregnado de crenças
e de devoção a Padroeira, as mensagens de esperança na melhoria das condições de
vida, a cada festejo ganhavam corpo fazendo parte das promessas e dos rituais da festa, Embora a seca esteja atrofiando a véspera da maior festa religiosa desta cidade, serão prestadas as homenagens devidas a nossa querida protetora, ainda que seja com mais simplicidade ou mesmo uma festa de penitência, o nosso povo dará o sinal de seu amor e veneração à mãe de Deus, que misericordiosa atenderá a suplica deste povo que padece os horrores da seca. ( O ITABERABA, 1931, P.06)
1 A Sra. Maria Santos reside no município de Itaberaba, possui 72 anos e durante algum tempo foi secretária da igreja, atualmente trabalha nas causas paroquiais sem remuneração. Informação obtida em 15 de julho de 2008.
Ao inserir suas necessidades particulares como petição e ao mesmo tempo vivenciar o
tempo do festejar, a festa se imbuía do caráter penitente, que segundo os costumes
locais eram carregados de simbolismos identitários, tais como o jejum e a oração das
senhoras em favor das chuvas para a plantação e colheita de grãos típicos da região.
Além disso, durante a festa na novena dos vaqueiros que participavam do festejo, estes
intercediam por melhorias nas condições de vida e honravam a Santa através do seu
melhor, ou seja, prestando suas homenagens a partir de suas formas particulares, como
o desfile pela cidade a cavalo e durante a procissão. “Todos aos pés de Maria
Santíssima, implorando a sua misericórdia contra a seca, contra a guerra, pelas chuvas e
pela paz.” (O ITABERABA, 1936, p. 20)
Constituía-se dessa forma um modo ímpar de adorar a Santa, uma religiosidade
intercambiável, que “não se esgotava unicamente no esmero em cumprir as obrigações
religiosas, mas que se construía sobre a prática de uma religião dentro das necessidades
individuais e sociais” a partir de suas próprias formas de adoração ao santo católico
(BAROJA, 1978, p. 11).
O festejo acontece desde a fundação da cidade e vem evidenciando processos cujas
relações sociais obedecem aos rituais e os símbolos. Nessa perspectiva, uma série de
operações profanas e sagradas acontecia, desenvolvendo um rico universo de
religiosidade e cultura popular nesse momento. Através dos rituais, simbologias e atos
performáticos os sujeitos sociais se exprimiam. Assim foram produzidos sentidos e
significados relativos à sua existência no mundo social, o que instrumentaliza a
compreensão da dinâmica sócio-cultural da região. De acordo com Geertz (1989): Os conceitos religiosos espalham-se para além de seus contextos especificamente metafísicos, no sentido de fornecer um arcabouço de idéias gerais em termos das quais pode ser dada uma forma significativa a uma parte da experiência (...) as disposições e motivações que uma orientação religiosa produz lançam uma luz derivativa, lunar sobre os aspectos sólidos da vida secular de um povo. (GEERTZ,1989, p. 140 – 141)
Nesse sentido, as práticas durante a homenagem não se limitavam apenas aos atos
litúrgicos, mas ao exercício constante de interceder e agradecer pelas graças alcançadas.
Verdadeiros pactos de fé se materializavam na homenagem, fossem nas apresentações
teatrais, que ocorriam na festa após as missas e nas quais as pessoas encenavam
situações cotidianas de prestação e contraprestação de serviços, ou mesmo, através das
encenações e dos testemunhos vivos nas quais ficava evidente as dádivas recebidas,
marcadas pelo caráter de dar, receber e retribuir.
Assim, a apresentação de fogos de artifício, de espetáculos cênicos com grandes
coreografias, apresentações de filarmônicas, de cantores, acontecia em glória a Santa e
satisfazendo os fiéis em seus agradecimentos. Segundo CASCUDO (1985) os foguetes
se constituíram de grande importância para as festividades religiosas no Brasil, cuja
presença nas festas coloniais remonta ao século XVII, vindos de Portugal. Esta tradição
era a alegria dos arraiás e procissões, sendo considerados como parte essencial para as
cerimônias e imbuídos de um caráter religioso.
Esses aspectos foram evidenciados ao longo dos anos em Itaberaba, através de
manifestações sagradas e profanas na homenagem a Padroeira, pois a partir de 1926 a
festa já acontecia também fora do âmbito da igreja, ocorrendo no largo muitas danças,
músicas, jogos, comidas, leilões. A fé exercia uma função definitiva na vida das pessoas
devotas à Santa, fosse através das orações e penitências, ou peditórios e leilões, os quais
eram realizados de forma a angariar fundos para as comemorações. Eis os vários
cenários de fundo em que se desdobrou essa festa cristã. Longe de se alhearem dos
acontecimentos, as pessoas participavam ativamente, quer desfilando com suas roupas
nas procissões, quer ornamentando as ruas ou ainda nas missas com a ostentação do
luxo.
Nesse contexto já na década de 1940 a festa em plena expansão era marcada por
espetáculos mais elaborados. As alvoradas, por exemplo, eram marcadas pela animação
de instrumentos musicais e fogos. Além da função de anteceder as novenas, as mesmas
convocavam a população para participar dos festejos à noite. O hasteamento da
bandeira, símbolo da festa, cada vez mais foi sendo modificado a fim de conclamar as
pessoas para as homenagens e marcar o tempo de festejo, reflexão e contrição espiritual, Teve inicio a festa de Nossa Senhora do Rosário no dia 10 com Missa de comunhão geral e a noite, o hasteamento da bandeira, ao som do hino da Padroeira executado pela filarmônica Lyra Itaberabense, também cantado por todo o povo havendo em seguida a benção do santissímo sacramento. As novenas que começaram no dia 11, se revestiram de extraordinária pompa dada a boa vontade dos seus mordomos. (O ITABERABA, 1949, p.03)
Tanto os rituais litúrgicos dirigidos pelo líder religioso como os devocionais, partindo
das rezas, cantorias, intercessões, além dos populares: danças, comidas, jogos, etc..., que
ocorreram na festa do Rosário simboliza heranças passadas de reinados e hierarquias,
sendo reminiscências das festas coloniais. Segundo PRIORE (1994) as festividades na
época da colônia, buscavam moldar as populações à aliança entre a Igreja e o Estado,
interferindo nas formas de sociabilidade e de economia psíquica dos colonos. A festa
criava brechas de resistências, transculturalidades e utopias, era um escape para que a
população enfrentasse o seu cotidiano árduo num derivativo provisório.
A autora ressalta ainda, que durante as festas a metrópole cedia o espaço público como
forma de se mostrar e tornar presente o seu poder, destarte, em Itaberaba a festa de
Rosário também sempre fora marcada por essa ligação do poder público com a igreja,
mais especificamente a partir dos anos 1930 e principalmente nas décadas de 1940, a
presença de políticos com suas gentilezas se faziam presentes e evidentes na
homenagem a Padroeira, (O ITABERABA, 1949, p. 03).
Além disso, variadas relações se desenvolviam, tanto políticas, como sociais e
religiosas. As crianças participavam de todo o festejo nas missas, com cânticos e
apresentações, estas geralmente relacionadas ao bom comportamento sócio-religioso,
na arrumação da igreja, na arrecadação de fundos para a festa, na quermesse fosse
vendendo ou brincando. Os jovens além da participação na organização aproveitavam
esse tempo do festejar para possíveis casamentos. As senhoras cuidavam principalmente
das comidas que seriam vendidas, porém era comum serem oferecidas em muitas casas
o almoço para as pessoas que vinham de fora ou das redondezas, além disso, esse tempo
era marcado por muitos testemunhos de bençãos, muitas pessoas contavam sobre as
promessas feitas nas festas anteriores e as dádivas alcançadas, uma forma de
engrandecimento e reverência à Santa.
A rotina do mês de outubro em Itaberaba não era mais a mesma. Ao ser anunciado os
preparativos para a homenagem a Nossa Senhora do Rosário muitas pessoas das cidades
vizinhas, assim como da zona rural, vinham para o festejo. A participação de muitas
pessoas nessa festa, tanto do povo em geral quanto das autoridades políticas, expressava
publicamente a fé devotada na Santa, além de outras intencionalidades. Segundo Dona
Guiomar Alves2, Os políticos e coronéis vinham para a festa, agente via eles lá na frente da igreja na missa, eles sentava nos bancos lá da frente (..) o pessoal de lá das roças e das cidades perto daqui vinham também, até da capital veio um grupo do Corpo de Bombeiros3 na missa, foi um tempo muito bom. (D. Guiomar Alves)
Barracas de bebidas, jogos e doces compunham o espaço ao redor da igreja, a presença
de palanques começaram a ser evidenciados no festejo principalmente a partir da década
de 1940, nestes além das apresentações cênicas, políticos aproveitavam para discursar
2 Dona Guiomar Alves dos Santos tem 77 anos, hoje aposentada era zeladora da igreja e continua residindo na cidade de Itaberaba. Entrevista concedida no dia 19 de setembro de 2008. 3 D. Guiomar Alves se referiu a filarmônica do corpo de bombeiros que veio de Salvador no ano de 1950, fato este que foi noticiado também no jornal local O Itaberaba.
juntamente com os representantes clericais. Tempo de múltiplas relações sociais e de
funções políticas, a festa em louvor a Santa Rosário em Itaberaba fomentava o interesse
político, pois através da mesma, tais sujeitos sociais se projetavam fosse através da
presença nas missas e na quermesse, como também no oferecimento de bens materiais.
Já em relação à presença dos políticos estes faziam questão de estarem pessoalmente no
momento do festejo, fossem na missa ou na quermesse, sempre solícitos, como salienta
Dona Guiomar Alves4, Os políticos aqui de Itaberaba faziam questão de pegar na mão da gente e de perguntar como agente estava, outra coisa também é que eles eram muito generosos, pois pra festa de Nossa Senhora do Rosário eles davam uns presentes bem gordo.
Os depoimentos de D. Guiomar como os dos outros entrevistados evidenciaram o
comparecimento constante de políticos no festejo. Percebe-se que tais aparecimentos
estavam imbuídos não somente de objetivos religiosos, mas também políticos, sendo
uma forma de estar com o público e deixar serem percebidos pela população
freqüentadora da festa. Para Petruski (2008) as festas podem ser resumidas em buscas
humanas, a sintetização de sensibilidades, trajetórias históricas, visões e vivências
ocorreram marcando e resistindo ao tempo, reunindo pessoas, temas e lugares. São
lembranças da vida e de vidas, que ajudam a entender arranjos do sentir, do viver e do
agir.
No contexto Itaberabense, a festa não só foi uma vivência de fé, mas também para uma
parte ainda que pequena dos freqüentadores (os dirigentes políticos) era também uma
boa oportunidade de projeção política. Podemos perceber isso nas falas dos antigos
moradores da cidade que participavam dos festejos e mantém vivo na memória a
imagem e as iniciativas desses políticos que contribuíam com a Paróquia! Como nos
lembra D. Diurce Costa, Lembro-me até hoje quando minha avó me falou da importância de nós sempre nos lembrar daqueles (políticos) que eram atenciosos e generosos com a causa religiosa, pois assim demonstravam um coração bondoso (...)5
Desde o início das comemorações em louvor a Nossa Senhora do Rosário, a preparação
da festa acontecia mediante dois grupos: o dos eclesiásticos, cuja responsabilidade era
de organizar e celebrar os rituais sagrados; e o outro era das pessoas da comunidade,
principalmente os que estivessem mais envolvidos na igreja, que cuidavam dos
momentos profanos, nos quais predominavam os divertimentos, congregando toda a 4 Informação obtida através de entrevista realizada no dia 19 de setembro de 2008. 5 Dona Diurcires Mascarenhas Costa, 63 anos, Professora aposentada, informação obtida através de entrevista ocorrida no dia 20 de outubro de 2008.
comunidade. As etapas da festa compreendiam: as novenas, a missa, a procissão e
quermesse: apresentações teatrais, de cantores, danças e muita comida.
Esse momento da festa atraía a participação de todos que se misturavam: os
pertencentes a uma hierarquia social mais elevada incluindo aqui advogados, médicos,
professores e funcionários públicos e os de uma situação social mais simples:
empregados domésticos, indivíduos da zona rural, etc... É comum perceber nas
fotografias e nas narrativas orais a presença desses políticos entre os populares, porém
dessas uniões é importante fazer releituras dessas relações tão próximas, que ocorriam
especificamente no momento profano, ou seja, tais ocasiões de maior aproximação
ocorriam fora da igreja, pois na missa e novenas tais políticos segundo Dona Maria
Santos6 se sentavam sempre à frente e distantes das pessoas mais comuns: Na igreja havia verdadeiras castas, os políticos ficavam sentados sempre nos primeiros bancos da igreja, os mais ilustres também e as pessoas mais simples sentavam-se ao fundo da igreja. ( D. Maria Santos, 72 anos)
Será que por estarem sempre nos primeiros lugares dos bancos significava separação ou
ações intencionais para uma visualização melhor dos populares em relação a sua
presença? Por isso, ao analisar tanto as fontes orais, como as visuais percebe-se que a
festa era um momento propício para os discursos eleitorais. No entanto, se para as
pessoas públicas a festa significava propaganda política, para a maioria dos sujeitos
sociais as significações e expectativas estavam relacionadas à sua vida religiosa e social.
A comissão da festa sempre estava à frente para a organização do dinheiro e
investimento do mesmo. Esta era composta por um juiz, uma juíza e uma jovem para ser
a juíza da bandeira. Essa comissão era escolhida um ano antes para o acontecimento do
festejo, e a escolha dos juízes, segundo as narrativas, acontecia mediante o desejo e a
disponibilidade de tempo que a pessoa tivesse para realizar o trabalho de organização da
festa. Segundo Dona Diurcires Costa, A comissão escolhida para a realização da festa, podia ser qualquer pessoa, desde que tivesse tempo e vontade para trabalhar... 7
A festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário acontecia durante todo o mês de outubro
e todas as noites ocorriam às novenas e para cada noite uma equipe era responsável. As
equipes eram formadas por categorias profissionais da cidade, assim havia a noite das
6 Sra. Maria Santos nesse momento fazia questão de incentivar que mesmo na missa, os representantes políticos ficassem sempre na frente, mas no momento da quermesse eles estavam sempre por pertos das pessoas comuns participando das barracas de jogos, comendo ou conversando. 7 Relato da Sra. Diurcires Mascarenhas Costa, Professora primária aposentada, 63 anos, moradora na cidade de Itaberaba na Praça da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, seus familiares: pais, avós, tios e bisavós foram participantes ativos no festejo. D. Diurcires participava das festas e de sua organização e até nos dias atuais ainda prepara comidas para os participantes da festa.
professoras, dos comerciantes, dos motoristas, etc. As novenas que precediam à festa
eram vivenciadas por toda a comunidade sob a responsabilidade desses grupos que se
encarregavam de enfeitar, arrumar, enfim trabalhar em tudo o que fosse preciso para
ornamentação da igreja para as novenas:
A comissão da festa nas novenas, se fosse a noite da novena das crianças, por exemplo, ia nas casas dessas crianças arrecadava dinheiro e fazia a novena, e as crianças seriam homenageadas, o padre fazia a novena das crianças e assim acontecia com os vários grupos, na noite dos motoristas, que era a última tinha de acontecer no último dia havia um movimento muito grande, tinha muita gente... ( D. Diurcires, 63 anos, professora)8
A festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário, a qual atraía pessoas de diferentes
grupos sociais, não deixou de evidenciar as tensões e contradições locais. Ainda que
houvesse uma confluência de pessoas tanto da zona rural quanto da urbana, e alguns
testemunhos orais que falavam de uma suposta união, as diferenças se faziam presentes,
as palavras de Dona Maria9 evidenciaram tal situação:
As moças que vinham da zona rural para a festa se arrumavam com as melhores roupas, mas agente via que as daqui da cidade se arrumavam melhor, as da roça já tinham aquele jeito mesmo de lá. ( D. Maria Santos, 72 anos)
Vale ressaltar que participar da comissão organizadora do festejo em homenagem a
Padroeira significava estar em evidência, pois os nomes dessas pessoas apareciam em
notas publicadas no jornal, era citado pelos religiosos durante as missas, e também
porque eram tais sujeitos que faziam os contatos necessários com as pessoas que
ocupavam diferentes posições na sociedade. É interessante observar que nas décadas de
1930 e 1940, a comissão da festa era composta por pessoas que ocupavam posições de
destaque na sociedade local, tais como advogados, fazendeiros, profissionais liberais e
proprietários de estabelecimentos comerciais. Tendência que continuou a prevalecer nos
anos de 1950. Porém foi evidenciado um número maior de participação das mulheres,
principalmente porque através dos documentos da paróquia percebe-se que há um maior
número de mulheres nos movimentos religiosos da Matriz.
OS RITUAIS SAGRADOS E SIMBÓLICOS NA HOMENAGEM A PADROEIRA
As cerimônias religiosas na festa de Nossa Senhora do Rosário – novenas, missas e a
procissão – tinham diferentes tipos de rituais, porém por serem ritos fixos estabelecidos
pela Igreja Católica não eram tão divergentes de outras festas religiosas do país.
Segundo Petruski (2006),
8 Dona Diurcires Mascarenhas Costa, 63 anos, Professora aposentada, informação obtida através de entrevista ocorrida no dia 20 de outubro de 2008. 9 Dona Maria Santos, 72 anos relatando sobre situações em que era perceptível a demarcação de diferenças entre os participantes do festejo.
Os símbolos, como as imagens, estão presentes nos rituais e chegam até aos homens por meio dos sentidos, que trabalham a imaginação, gerando significados com intensidades distintas de indivíduo para indivíduo, que podem evocar, manifestar e tornar presente uma outra realidade com um segundo significado, indireto, figurado, escondido, suscitando uma identificação e uma energia transformadora, estabelecendo uma identidade entre aqueles que deles participam.
A festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário constituiu-se como um acontecimento
urbano que se encontrava sob a direção da igreja, a qual era composta por rituais que se
dividiam em cerimônias religiosas e festejos profanos. A comemoração na igreja era
antecedida pelas novenas, segundo Frei Beckauser, para os cristãos, as novenas devem
ser vistas como exercício de fé e oração. Sua origem é bíblica, estando ligada à
circunstância na qual a Mãe de Jesus, Maria, e os Apóstolos teriam permanecido nove
dias e nove noites em oração, aguardando a vinda do Espírito Santo. Esse momento para
muitas pessoas, relata-nos Dona Diurcires10, se configurava como “momento de pensar
sobre a nossa vida e as coisas espirituais”.
Durante a realização das novenas muitos cânticos eram entoados, com acompanhamento
de instrumentos musicais e a visita de corais, a principal música a ser cantada era o hino
a Padroeira. De acordo com PETRUSKI (2008), o canto constitui-se como um elemento
de grande importância para uma celebração litúrgica, pois expressa e ressalta a busca do
amparo material para o homem, a escolha de um cântico é de fundamental atenção dos
representantes da igreja, pois são vistos como uma oração, ou mais precisamente nas
palavras de Frei VIER (1968) são expressões de arte, ocupando um lugar proeminente,
fazendo parte necessária ou integrante da liturgia solene.
Após as novenas, o encerramento do momento sagrado ocorria no adro da Igreja, nas
quermesses, ou seja, depois do sagrado o momento profano. Estas dimensões
constituem formas distintas de ser e viver no mundo, capazes de promover mudanças
espaciais. Segundo Petruski (2008) são perspectivas que se opõem. O profano é o
comum, o secular, algo destituído de um significado que remete à realidade
transcendente. O sagrado é aquilo que está à parte. Para Durkheim (1989), A coisa sagrada é, por excelência, aquela que o profano não deve, não pode impunemente tocar. Certamente, essa interdição não poderia desenvolver-se a ponto de tornar impossível toda comunicação entre os dois mundos; porque se o profano não pudesse de nenhuma forma entrar em relação com o sagrado, esse não serviria para nada.
Eliade (1999) ressalta que o homem tem conhecimento do sagrado porque ele se
manifesta no mundo profano através da hierofania, ou seja, a revelação de alguma coisa
sagrada na realidade vivenciada pelo homem. O autor concebe a hierofania como: 10 Informação obtida através de entrevista concedida pela Sra. Diurcires Costa, no dia 20 de outubro de 2008.
A manifestação do sagrado em que um objeto qualquer se torna ‘outra coisa’ e, contudo, continua a ser ele mesmo, porque continua a participar do meio cósmico envolvente. Uma pedra sagrada não é menos pedra e aparentemente nada a distingue de todas as demais. No entanto, para aqueles, cujos olhos, uma pedra se revela sagrada, sua realidade imediata transmuda-se numa realidade sobrenatural. Assim, para aqueles que têm uma experiência religiosa, toda a natureza é suscetível de revelar-se como sacralidade cósmica. E, o Cosmo, na sua totalidade, pode tornar-se uma hierofania. (ELIADE, 1999, p. 33)
De acordo com Rosendahl “o sagrado também se manifesta no espaço por meio dos
rituais de construção que representam repetições de hierofanias primordiais conhecidas”
(ROSENDAHL, 1999, p.14). Para PETRUSKI (2008) nesse caso, o homem pode
vivenciar a sua manifestação quando participa de cerimônias litúrgicas, as quais
canalizam a experiência do sagrado e lhe fornecem a moldura, como é o caso das
novenas, das missas e da procissão.
A dimensão profana da festa religiosa em Itaberaba, acontecia a partir dessas
quermesses e as homenagens do vaqueiro, ou melhor, das festas populares. O jornal O
ITABERABA trazia em suas manchetes, noticiando as corridas de argolinhas, as
barracas de comidas e jogos, a apresentação do bumba-meu-boi, assim como, as
filarmônicas que entoavam várias músicas para as pessoas.
Naquele momento acontecia uma multiplicidade de situações e relações, as quais
evidenciaram traços daquela sociedade. Na quermesse podiam ser vistos os cidadãos
mais ricos da cidade, misturados aos mais simples, os políticos trafegavam
tranquilamente com seus familiares. Havia as barraquinhas de jogos, nas quais as
pessoas se divertiam muito, além destas a de comidas que eram vendidas, e o dinheiro
arrecadado com a venda era direcionado para as obras da igreja e para a festa do
próximo ano.
Aconteciam também as apresentações teatrais cujos enfoques textuais perpassavam por
temáticas relacionadas a assuntos religiosos. A narrativa de D. Guiomar evidencia tais
situações: Em um palco armado tinha umas apresentações, eu me lembro que teve uma vez que se apresentou umas pessoas, e tinha umas que estavam vestidas de diabo e que vinha atentar as outras, eu sei que eu fiquei com medo. Essas apresentação de teatro sempre tinha a ver com as coisas da igreja. (D. Guiomar, 77 anos)11
Havia também as apresentações de cantores, as músicas cantadas envolviam um
repertório variado tanto de músicas religiosas como seculares. Algumas pessoas
11 Entrevista ocorrida com a Sra. Guiomar Alves, 77 anos, no dia 19 de setembro de 2008.
dançavam, porém tudo de forma contida, pois não poderia haver excessos, já que os
padres estavam por perto sempre atentos a tudo que ocorriam. Todas as situações que geradas na quermesse eram momentos propícios à dinamização
de relações sociais, pois diferentes interesses circulavam e eram compartilhados. A
representatividade nos momentos da quermesse expressava o universo social, político e
religioso da cidade de Itaberaba.
No dia destinado oficialmente para homenagear Nossa Senhora do Rosário, a
comemoração em Itaberaba começava bem cedo, com a alvorada festiva, momento em
que também havia uma queima de fogos e quando o tocar do sino chamava a atenção de
todos para a missa. Isto se configurava como momento da espetacularização, ou seja, o
excessivo barulho alcançaria grandes distâncias. Essa alvorada matinal, Está ligada com o tempo dos favores divinos e da justiça humana. Simboliza o tempo em que a luz ainda está pura, os inícios, onde nada ainda está corrompido, pervertido ou comprometido. A manhã é ao mesmo tempo símbolo de pureza e de promessa: é a hora da vida paradisíaca e da confiança em si, nos outros e na existência. (CHEVALIER, 1992, p.27)
Para essa missa que ocorria nas primeiras horas da manhã, o templo deveria estar bem
preparado para as celebrações do dia assim a igreja recebia uma ornamentação ostensiva
para receber as pessoas. Nos bancos principais eram postos arranjos de flores que
também ficavam na porta principal. Era colocado um tapete estendido até o altar e a
representação da Padroeira, que ficava localizada no lado direito. A imagem era
enfeitada com muitos arranjos de flores delicadas, muitas destas vinham exclusivamente
de Feira de Santana. Um fato interessante é que na década de 1950, as comissões da
festa desse período muitas vezes queriam enfeitar a Santa com flores apenas de uma cor,
assim para a cerimônia mandavam buscá-las na capital como evidenciou Dona Diurcires
Costa12. Outros presentes como: vasos, maços ou flores individuais e velas eram
colocadas próximas a Santa. Para a Igreja, a vela simboliza direção e luz.
A imagem da Santa, devido o seu tamanho, ficava em destaque em relação às demais
existentes no interior da Igreja, já que é a Padroeira da cidade. A primeira missa do dia
era celebrada logo às 07:00, ocorrendo a missa solene às 10:00 horas13. É importante
ressaltar que a festa do Rosário em Itaberaba evidenciou uma cartografia de classes. Na
voz de D. Guiomar Alves:
12 Entrevista com a Sra. Diurcires M. Costa, 63 anos, professora aposentada, que concedeu seu testemunho no dia 20 de outubro de 2008. 13 BECKHAUSER ressalta que �a missa ou celebração eucarística é um ato solene com que os católicos celebram o sacrifício de Jesus Cristo na cruz, recordando a última ceia. Vem do latim Mitere, que significa enviar, remeter, e tem o sentido de missão. Os primeiros nomes dados pelos cristãos a esta cerimônia foram Ceia do Senhor e Fração do Pão�.( BECKHAUSER, 2006, p. 29)
As pessoas mais comuns como eu, agente gostava de ir mais na missa bem cedinho, pois a de dez da manhã era muito luxuosa, não é que agente não fosse na de dez não, tinha gente mais humilde que ia, eu já fui mas ficava lá no meu canto quietinha (...) Agora agente arranjava a melhor roupa para vestir, tanto nas novenas como na missa e na procissão (D. Guiomar Alves, 77 anos)
As indumentárias e a posição social de pessoas demarcavam seus lugares no festejo,
principalmente nas cerimônias religiosas, onde nos primeiros bancos sempre se
sentavam os mais abastados, como os políticos e famílias com significativas posses.
O inicio da cerimônia solene geralmente ocorria com a entrada da cruz levada pelo
sacristão, e logo em seguida vinham os celebrantes e outras pessoas que traziam o pão,
o vinho e o Missal14. Os devotos recebiam o programa referente à missa, porém a cada
ano mudanças eram feitas, e tudo o que fosse ocorrer como as leituras dos textos
religiosos15 e os cânticos deveriam passar pela aprovação do Pároco, pois tudo deveria
estar relacionado com a vida da Santa. Toda a linguagem que ocorre nesse momento é
simbólica, Sendo que os cristãos, para sua comunicação com Deus dela participam de diferentes formas, pois, nesse ritual, além de ouvirem a palavra fazem uso de gestos e sinais através dos quais se busca a unicidade coletiva. (PETRUSKI, 2008, p.161)
Todos esses gestos e posturas que ocorreram nesse momento não se configuram apenas
em relações linguísticas, mas também uma situação que envolve o poder simbólico16.
As práticas simbólicas que ocorreram na missa, como a celebração no altar17, as leituras,
os gestos, os candelabros com as velas acesas, o ritual do incenso, no qual o altar é
ungido pelo Pároco, esse ato torna-o mais sacralizado. Todos esses simbolismos
influenciam os sentidos do ser humano, nesse momento é possível estar mais próximo
da Santa tornando-se assim mais puro e santificado, além disso, esta é uma celebração
mais coletiva e expressiva. Para a Igreja e para o homem são formas de estar e falar com
Deus.
14 De acordo com PETRUSKI �O Missal Romano foi promulgado pelo Papa Pio V, em 1570. Nele estão as normas para a celebração eucarística que vigoraram até a realização do Concílio Vaticano II, que promulgou os fundamentos da reforma geral do Missal, cujos textos e os ritos deveriam ser ordenados de modo a exprimirem mais claramente as realidades sagradas que eles significam, estando mais próximos dos cristãos.� PETRUSKI, 2008, p.158 15 PETRUSKI salienta que �as primeiras publicações de missais e textos litúrgicos em latim, aconteceram no início do século XVIII, como meio de facilitar a participação dos fiéis na celebração, para tanto eles deveriam adquiri-los, pois assim participariam no ato litúrgico. Muitos compravam somente para tê-lo consigo como um objeto sagrado, pois não conseguiam lê-lo porque o índice de pessoas que não possuíam acesso à leitura era bastante alto. ( PETRUSKI,2008, p.162) 16 BOURDIEU, Pierre. A economia da trocas simbólicas. São Paulo. Editora da EDUSP.1998, p. 23-24. 17 BECHAUSER salienta que este �é o lugar de sacrifício, ele é antes de tudo a mesa sagrada da ceia do Senhor, intimamente ligada ao sacrifício da cruz, por isso ele merece reverência, não podendo ser visto como uma mesa qualquer� (2006, p.32)
Segundo AZEVEDO (1969), O ritual da missa, a partir do século XVII, começou a não ser mais identificado como um exercício de devoção individual, mas sim como um ato que exige a participação de todos. Para tanto, algumas medidas foram adotadas para fazer com que os assistentes se tornassem participantes do mistério celebrado. A primeira diz respeito à mudança de posição do altar, favorecendo a visão de todos que estão no interior da Igreja, dessa forma a utilização do púlpito para a realização da homilia foi suprimida. (AZEVEDO, 1969, p.25)
Na missa ocorria também a Homilia, na qual o Sacerdote realizava a pregação que
enfatizava geralmente sobre a boa maneira de se viver em sociedade, além é claro dos
valores morais e espirituais. Assim, a Homilia era o momento propício para que os
homens pudessem se relacionar mais intimamente com os princípios divinos, além
disso, por meio dessa linguagem espiritual, “garantir a uniformização de
comportamentos entre os cristãos, agindo contra a influência do esquecimento, haja
vista a diversidade de pessoas que participavam da festa” (PETRUSKI, 2008, p.164).
O sacerdote sempre ocupou nesses momentos de celebração religiosa o lugar central,
em Itaberaba comumente era considerado um ser santo, digno de todo respeito. Brandão
salienta que o Padre, Tanto nas missas como em outros locais de atuação, o sacerdote age como o representante legítimo da Igreja institucionalizada. Na prática religiosa na cidade legitima os valores da sua ordem social. Ele se considera o possuidor dos meios e dos modos legítimos de manipulação local do sagrado no campo específico do religioso. ( BRANDÃO, 1985, p. 124)
Após a missa, na parte da tarde ocorria à procissão, a qual marcava a culminância da
festa evidenciando uma rica ostentação tanto pelas vestimentas, quanto pelos andores,
como pelas alas. Em relação ao vestir-se, o período contemplado nesta pesquisa, 1920-
1954, percebe-se a utilização do véu por parte das mulheres. Além dos vestidos, os véus
simbolizavam não apenas a hierarquia social, a qual pertencia, mas também a condição
civil, ou seja, as mulheres casadas usavam o véu preto e as solteiras o véu branco. O
Sacerdote aqui em Itaberaba, como em outras paróquias brasileiras, em relação à
vestimenta, usava roupas brancas. Segundo Petruski (2008) esse ato simbolizava os
mistérios celebrados, que se referem aos diversos tempos litúrgicos.
A procissão em louvor a Nossa Senhora do Rosário em Itaberaba ocorria fora do
Templo e a mesma refletia diversas representações sociais. Naquele momento o devoto
poderia exercer sua veneração e ao mesmo tempo expressar seus sentimentos, anseios e
aliviar suas tensões pessoais fosse através das posições ocupadas na procissão, ou nas
idealizações de estar próximo do Santo. Damatta (1986) concebe essa prática como
especial, pois
Nela se observam, num mesmo instante, elementos sagrados e profanos que se mesclam, porque a imagem do Santo está com o povo. E é quem recebe na rua, e não na Igreja, suas orações, cânticos e penitências. (DAMATTA, 1986, p.65)
De acordo com AMARAL (1998) as práticas das procissões iniciaram-se no Brasil a
partir dos Jesuítas no governo geral de Tomé de Souza (1549-1553). Ao longo do
período colonial, tais manifestações se constituíram de diferentes formas, Priore (1994)
ressalta que muitas delas ocorreram através de autos e dramatizações que brincava com
o imaginário coletivo através das representações nelas apresentadas. Em Itaberaba essas
teatralizações não ocorriam de forma tão profana. No entanto, não deixou de evidenciar
os sentidos e as expressões próprias que cada participante vivenciava naquele momento.
Como ressalta Priore, sobre a festa religiosa:
Expressão teatral de uma organização social, a festa também é fator político, religioso ou simbólico. Os jogos, as danças e as músicas que a recheiam não só significam descanso, prazeres e alegria durante sua realização, mas têm importante função social: permitem (...) aos espectadores e atores introjetar valores e normas de vida coletiva, partilhar sentimentos coletivos e conhecimentos comunitários.¨ (PRIORE, 1994, p.10)
Os andores exteriorizavam ostentação e sacralização e eram ornamentados a partir de
vários objetos, o da Padroeira era o principal. Segundo Chartier a imagem se configura
“como instrumento de um conhecimento mediato que faz ver um objeto ausente através
da sua substituição por uma imagem capaz de o reconstruir em memória e de o figurar
tal como ele é” (CHARTIER, 1985, p.20).
Muitos aqui em Itaberaba disputavam quem levaria tal andor, podendo ser qualquer
pessoa que fazia parte dos segmentos sociais da cidade. Toda a procissão era
acompanhada por músicas sacras, cantadas por todos os devotos, vale ressaltar, que toda
a cidade era conclamada a se preparar para a passagem da Santa. O periódico de 1945
noticiou tal fato, Ouçam o nosso apelo: Todos os habitantes da cidade além da pintura das suas casas enfeitem as fachadas das mesmas com flores, bandeirinhas e tapetes para a passagem da bela procissão de domingo dia 21 de outubro, dia do encerramento da Festa do Rosário, da Festa de Itaberaba ( O ITABERABA, 1945, p. 08)
O Pároco Campeiro de Souza já na década de 1920 evidencia nos registros da Paróquia
o momento ímpar da procissão
A tarde às cinco horas sahiu em artístico andor a imagem da padroeira que percorreu as principais ruas da cidade abençoando os seus devotos. A noite às oito horas procedeu-se a coroação da Virgem do Rosário cujo acto produziu uma comoção imensa aos fiéis. A Senhora desceu de seu trono por um aparelhamento feito engenhosamente pelo zeloso Frei João Baptista para ser coroada por
duas inocentes crianças (...) Nunca se viu nesta freguesia uma concorrência igual: foi a voz geral... ( LIVRO DE TOMBO, 1926, p. 15)
Na realização dessa prática percebia um envolvimento muito grande entre as pessoas,
sendo caracterizado como fenômeno comunitário, contudo as disposições hierárquicas
se faziam presentes. Dona Guiomar Alves18 ao falar sobre a Procissão ressaltou sobre os
lugares que cada grupo ocupava na mesma sem perceber que tais posições, na verdade,
obedeciam a uma específica hierarquia: Logo na parte da frente vinha os padres que guiava a procissão, depois vinha os andô com as pessoas que já tinha visto antes para carregar, também tinha umas crianças que se vestia de anjo e atrás delas vinha umas meninas mocinhas que era as cruzadinhas, ai vinha as autoridades e pessoas de famílias importantes da cidade e atrás de tudo todo mundo. ( D. Guiomar Alves, 77 anos)
É relevante destacar também que havia uma diversificação no conjunto da Procissão,
além de crianças vestidas de anjos19, integrantes de grupos religiosos dentro da Igreja:
como as Filhas de Maria, a cruzada eucarística e outros vestiam roupas da mesma cor, o
que poderia simbolizar as cores dos movimentos religiosos ao qual pertenciam. Estavam
presentes nesse momento, músicas, orações do terço e ladainhas. As pessoas seguiam o
percurso saciadas com aquele momento sagrado, e cumprindo-o completava-o com a
coroação da Padroeira e uma salva de palmas finalizando aquela etapa festiva.
Os preparativos para a próxima homenagem começavam quando terminavam as
festividades do ano vigente, momento no qual se fazia um balanço da festa que findava
e se apontavam, ainda que de maneira informal, possibilidades para o próximo ano.
Neste último momento, também eram escolhidos os próximos dirigentes para a próxima
festa. Aos escolhidos caberia organizar a estrutura geral do evento, ou seja, programar
as reuniões em que seriam discutidas as propostas, montagem de equipes de pessoas
para trabalhos de iluminação, ornamentação da igreja: a escolha das flores, das toalhas,
dos convidados, além destes, também entrava na pauta de discussão a festa fora do
âmbito do templo: montagem das barraquinhas de comidas, jogos e bebidas, as
18 Entrevista com a Sra. Guiomar Alves, 77 anos, no dia 19 de setembro de 2008. 19 Segundo PETRUSKI �no Brasil a prática de vestir crianças de anjos para participarem de procissões se remete a presença dos jesuítas, que foram os responsáveis pela implantação dessa prática durante o período colonial. Os inacianos vestiam os órfãos portugueses de anjinhos e punha-os para tanger instrumentos em procissões sertão adentro, a fim de atraírem pessoas para questões da fé. Essa era uma herança do catolicismo português, pois, em Portugal, as crianças já acompanhavam as procissões fazendo cantorias e louvores aos santos. A valorização da criança na Igreja Católica desponta entre os séculos XVII e XVIII, seguindo a trilha da Reforma Religiosa, que a colocou como o centro das preocupações da sociedade cristã, relacionando-a a um elemento fortalecedor do casamento e da família. Foi nesse período que o culto ao Menino Jesus foi criado e introduzido como mais um dos rituais dessa instituição�. In: (PRIORE, 1994, p. 56 )
apresentações teatrais e musicais, fazer a divulgação do evento, enfim todas as medidas
possíveis para o próximo ano.
A CONSTRUÇÃO DAS IDENTIDADES NA EXPERIÊNCIA DO SAGRADO
A festa de Nossa Senhora do Rosário tinha que ser um acontecimento notório, Reis
(1991) evidencia que numa: Visão barroca do catolicismo, o santo não se contenta com a prece individual. Sua intercessão será tão eficaz quanto maior for a capacidade dos indivíduos de se unirem para homenageá-lo de maneira espetacular. (REIS, 1991, p.61).
Assim, acontecia evocando uma série de operações profanas e sagradas ao mesmo
tempo, no interior e fora da igreja, na procissão, enfim toda uma liturgia e simbolismos.
Segundo Woodward (2008) “a identidade é marcada por meio de símbolos”; Cada
grupo que participava do festejo através das representações simbólicas encontrava
sentido e significação de suas experiências e de quem eram os mesmos. Os vaqueiros,
por exemplo, ao estarem naquele momento vestidos a caráter desfilando pelas ruas,
participando da devoção à Padroeira davam sentido as suas próprias posições.
Na festa as relações sociais eram produzidas e reproduzidas por meio dos rituais e
símbolos, os quais corporificavam as normas e os valores sociais, levando assim a uma
“unificação cultural” DURKHEIM (1989). O tempo de adoração a Santa congregava
uma multiplicidade de valores e de referenciais sócio-culturais, no qual os sentidos para
ser e estar no mundo social eram construídos. A variedade de idéias e valores eram
cognitivamente apropriados e compartilhados. Mesmo na distinção dos ideais dos
grupos ali presentes: ricos e pobres, mulheres e homens, religiosos e não religiosos, Há certo grau de consenso sobre como classificar as coisas a fim de manter alguma ordem social. Esses sistemas partilhados de significação são, na verdade, o que se entende por cultura: a mesma no sentido dos valores públicos, padronizados, de uma comunidade, serve de intermediação para a experiência dos indivíduos. Ela fornece, antecipadamente, algumas categorias básicas, um padrão positivo, pelo qual as idéias e valores são higienicamente ordenados. E, sobretudo, ela tem autoridade, uma vez que cada um é induzido a concordar por causa da concordância dos outros. (DOUGLAS, 1966, p.38-39)
Aquele momento expressava uma linguagem por meio da qual, através das posturas,
símbolos, rituais e relações sociais, as pessoas falavam delas mesmas e sobre seus
lugares no mundo encontravam assim, pertencimento e significação.
As pessoas durante a festa na sua relação com o sagrado participavam de um tempo, o
qual exercia como função primordial a reatualização do tempo mítico, reversível e
recuperável. No momento festivo devocional, o fiel evocava e recriava o tempo inicial.
Destarte vivenciar o tempo da festa religiosa não significava apenas a comemoração de
um acontecimento, mas a sua reatualização, uma forma de reviver o tempo original e
promover a purificação. (COUTO, 2006, p. 1-2)
Couto ainda salienta que na experiência com o sagrado no tempo da festa o ritmo
regular do cotidiano é quebrado, ali ocorrem sociabilidades e o sentimento de
pertencimento e identidade em um especifico grupo social. Estar naquele momento para
muitos significava uma variedade de motivações, fossem religiosas ou sociais. Como
evidenciou D. Guiomar Alves20
Fazer a festa de Nossa Senhora do Rosário pra muita gente era uma forma de agradecer pelas coisas que Ela dava, no tempo que era de muita seca, eu me lembro que agente rogava muito pra Santa mandar chuva e muitas vezes as preces da gente era atendida, outras vezes não, mas devia ser porque nós não tava correto nas coisas da vida, mas ela era boa.
Outras idealizações se refletiam também naquele espaço, como a oportunidade
de conseguir estabelecer um eixo de ligação entre o céu e a terra, pois para muitos era
um privilégio estarem presentes na adoração a Santa, porque a relação com o sagrado
poderia ser direta e mais próxima. Muitos também viam ali a possibilidade de novas
relações fossem de amizades ou não, ou ainda o desejo de serem vistos ou ouvidos,
Dona Joselita Costa21, relembra que:
As pessoas que participavam da comissão buscavam através de vários meios, como as rifas, batendo nas portas angariar recursos para a festa, e tais pessoas eram muito respeitadas e era gente membro da igreja e de respeito na sociedade. Todo mundo sabia quem eram os organizadores.
Interesses políticos e destaque social eram também evidenciados no festejo. Alguns
exemplares do jornal “O Itaberaba”, traziam a relação das pessoas que haviam doado
algum bem ou estavam empenhados na realização da celebração: O Sr. Vigário entusiasmado com os seus prezados paroquianos, entregou-nos a lista abaixo para ser publicada. Pessoas que ofereceram garrotes: Drs. José Dias Laranjeira, Antonio Leone, Antonio Saraiva e Almir Mata Pires; Coronéis: Joaquim M. Sampaio, Ismael Boaventura, Ramiro Pimentel (...). DIGNO DE NOTA: Quantias oferecidas à Matriz, alguns dos quais várias vezes já haviam doado satisfatoriamente, Cel. Luiz Serra e Dr. Renato Cincurá... (O ITABERABA,1945, p. 11)
Enfim a celebração a Nossa Senhora do Rosário em Itaberaba para cada um dos
participantes possuiu diversas funções e significados, as pessoas regozijavam-se na
alegria de cumprir o trato com a Santa e ao mesmo tempo vivenciar uma multiplicidade
de situações que os saciavam. Contudo, as suas identidades foram construídas ou 20 Informação com a Sra. Guiomar Alves, 77 anos, no dia 19 de setembro de 2008. 21 A Sra. Joselita Mascarenhas Costa, 65 anos, Professora aposentada atualmente residente à cidade de Vitória da Conquista era participante ativa da festa, participando da organização da mesma. Informação obtida no dia 10 de agosto de 2008.
reconstruídas a partir de suas relações com o sagrado que as dinamizou a partir de
rituais e simbolismos que expressavam diversas experiências e sentimentos no mundo
social.
A festa de Nossa Senhora do Rosário em Itaberaba em sua multiplicidade de formas e
movimentos, postulou experiências e consequentemente significações. Através dela os
sujeitos sociais exprimiram seu poder imaginativo e criativo, saciaram seus anseios
sociais através das suas várias performances, puderam chegar mais próximo do sagrado.
A festa lhes possibilitou uma relação entre o mundo festivo religioso, através dela
imprimiram seus sentimentos e idéias, encontraram sentido e significação para o seu
existir e para o seu universo social.
A dinâmica da festividade em louvor a Nossa Senhora do Rosário evidenciou que tanto
na preparação do corpo espiritual com as novenas, a missa e a procissão, como nos
momentos profanos, o envolvimento da população era intenso. A cada culminância de
um festejo, o próximo já era anunciado e intimado através da queima de fogos a
proporcionar o brilhantismo daquela que terminava, mas não se encerrava ali, pois os
seus participantes levavam da mesma as interações, sociabilidades e significações. Na
festa e fora dela papéis foram definidos e redefinidos, desejos foram alcançados ou
modificados, mas enfim a experiência era válida.
Sucedendo seus rituais litúrgicos e simbólicos, marcada pelos hinos, rezas,
apresentações, atos de contrição e interesses particulares a festa de Nossa Senhora do
Rosário interferiu, modificou e (re)construiu experiências sociais e culturais na
sociedade itaberabense.
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Entrevistas
l Diurcires Mascarenhas Costa, 63 anos. Entrevista realizada em 20/10 / 2008
l Dona Guiomar Alves dos Santos, 77 anos. Entrevista realizada em 19/ 09/ 2008
l Joselita Mascarenhas Costa, 65 anos. Entrevista realizada em 10 /08/ 2008
l Maria Silva Santos, 72 anos. Entrevista realizada em 15 /07/ 2008.
Jornais
l O Itaberaba – Diretores: M. Fagundes & Irmãos: 1926, 1928, 1934, 1940, 1942, 1944, 1945, 1946, 1948, 1950, 1952, 1954.
Paróquia de Nossa Senhora do Rosário
l Livros de Tombo ( Secretaria Eclesiática da Diocese de Itaberaba): 1918 - 1950