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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO PARA A CIÊNCIA E A MATEMÁTICA MARLISA BERNARDI DE ALMEIDA A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NO CURSO DE PEDAGOGIA: Constatações sobre a Formação Matemática para a Docência nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Maringá 2009

A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NO CURSO ......MARLISA BERNARDI DE ALMEIDA A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NO CURSO DE PEDAGOGIA: Constatações sobre a Formação Matemática

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁCENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO PARA A CIÊNCIA E A MATEMÁTICA

MARLISA BERNARDI DE ALMEIDA

A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NO CURSO DE

PEDAGOGIA: Constatações sobre a Formação Matemática para a Docência nas Séries

Iniciais do Ensino Fundamental.

Maringá2009

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MARLISA BERNARDI DE ALMEIDA

A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NO CURSO DE

PEDAGOGIA: Constatações sobre a Formação Matemática para a Docência nas Séries

Iniciais do Ensino Fundamental.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência e a Matemática do Centro de Ciências Exatas da Universidade Estadual de Maringá, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação para a Ciência e a Matemática.Área de concentração: Ensino de Ciências e Matemática.

Orientadora: Profa. Dra. Maria das Graças de LimaCo-orientadora: Profa. Dra. Regina Maria Pavanello

Maringá2009

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DEDICATÓRIA

Ao meu esposo, Luiz Ederson de Almeida, que foi meu companheiro de todas as horas, meu anjo da guarda; pelo amor e carinho, compreensão e contribuição nos momentos mais difíceis; por respeitar, incentivar e, sobretudo, possibilitar a realização deste sonho. Eu nunca esquecerei a sua paciência, a sua dedicação, sua confiança e sua doação! Sei que a minha ausência jamais poderá ser preenchida. Mas, por tudo o que fez por mim, este trabalho é dedicado a você. Ter um esposo assim é um privilégio, é essencialmente um presente de Deus!

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AGRADECIMENTOS

Um dia a gente aprende que o que realmente importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.

William Shakespare

Agradecimentos especiais:

A Deus, por conceder força, proteção e sabedoria para concluir este trabalho. Tudo é do Pai,

toda honra e toda glória, é Dele a vitória alcançada em minha vida!

Aos meus familiares: esposo, pai, mãe e irmã que me apóiam, intercedem, torcem e vibram

comigo em cada conquista, fazendo-me reconhecer quem sou e acreditar que posso ser

melhor. Obrigada pelo amor, apoio, compreensão e incentivo. Amo vocês!

A professora orientadora, Dra. Maria das Graças de Lima, pelos momentos de orientações

necessárias, pela paciência, disponibilidade e, principalmente, pela oportunidade de

crescimento intelectual e profissional, sempre me incentivando.

As professoras integrantes da banca de exame de qualificação – Professoras Drªs.

Regina Maria Pavanello e Ettiène Guérios – as quais aceitaram amavelmente o convite e

cujas críticas pertinentes e sugestões valiosas contribuíram para a elaboração final deste

trabalho.

Ao coordenador do Programa, Professor Dr. Marcos César Danhoni Neves, pelo seu

exemplo e dedicação e à secretária Tânia, pela paciência e simpatia em atender prontamente

às nossas necessidades e entender nossos momentos difíceis.

Aos demais professores do Mestrado, pelas lições de competência, coragem e ousadia e as

reflexões que juntos realizamos.

A minha amiga, Luciana Del Castanhel Peron, pela amizade, pelo respeito, pelo convívio,

pelo exemplo e pela confiança em mim depositados, pelos momentos de dor e de muitas

alegrias que passamos juntas.

Aos alunos, professores e diretor da Universidade onde realizamos a pesquisa, os quais

autorizaram a valiosa coleta de dados, de suma importância para a realização deste trabalho.

Aos colegas de trabalho, em especial Andréa, Maria Solange, Sirlei e Sandra, pelo apoio,

compreensão e auxílio em minhas ausências, pelo incentivo, pelas palavras de conforto diante

das dificuldades e pelas alegrias em todas as ocasiões.

Enfim, a todos os que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho.

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RESUMO

A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NO CURSO DE PEDAGOGIA:

Constatações sobre a Formação Matemática para a Docência nas Séries Iniciais do Ensino

Fundamental.

Como ocorre a formação inicial do pedagogo para a sua atuação na disciplina de Matemática

nas séries iniciais do Ensino Fundamental? Com essa questão de pesquisa o presente trabalho

realiza um estudo de caso em uma instituição de ensino superior no centro-oeste do Paraná,

com o objetivo principal de investigar a formação inicial em matemática recebida pelos

alunos concluintes do curso de Pedagogia e analisar se esta formação os prepara efetivamente

para o exercício da docência em Matemática nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental. A

metodologia utilizada privilegia a pesquisa qualitativa. É usada como referência a revisão da

literatura acerca da formação inicial de professores e do ensino de Matemática, análise do

currículo do curso de Pedagogia e da ementa da disciplina destinada ao ensino de Matemática,

depoimentos e resolução de problemas matemáticos dos alunos que estão concluindo o curso

de Pedagogia. Os resultados das análises documentais e dos dados coletados, revelam que

historicamente o curso de Pedagogia possui um currículo inchado, com disciplinas em

demasia as quais não fornecem aos futuros professores as bases necessárias para a formação

docente, enquanto a formação matemática fica relegada a uma carga horária totalmente

insuficiente para atender as necessidades de seus alunos nas três vertentes do conhecimento.

A investigação nos alerta que os organizadores do currículo do curso de Pedagogia precisam

urgentemente repensar a forma como vem acontecendo a dinâmica de trabalho referente à

formação matemática de seus alunos ao longo do curso. Os resultados indicam que esta

formação é insuficiente e inadequada, visto que o pouco tempo disponibilizado para ela não

está sendo bem aproveitado devido a ser realizado durante o curso um trabalho superficial

referente aos conteúdos elementares de Matemática e as questões metodológicas. A pesquisa

revela que a maioria dos alunos conclui o curso de Pedagogia sem ter os conhecimentos

matemáticos necessários para a prática docente e indica possíveis caminhos a serem trilhados

pelo curso de Pedagogia para que esta realidade seja modificada.

Palavras-chave: Formação inicial de Professores. Formação Matemática. Curso de

Pedagogia.

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ABSTRACT

THE INITIAL FORMATION OF THE TEACHER AND THE PEDAGOGIC

COURSE : Checking on the Mathematical Formation for teaching in the Initial Series of

Basic School.

How occurs the initial formation of teacher for its performance in disciplines of Mathematics

in the initial series of Basic School? With this question of research the present work carries

through a study of case in an institution of superior education in the center-west of Paraná,

State with the main objective to investigate the mathematical initial formation received by the

final students of the Pedagogic course and to analyze if that formation, effectively prepare

them for teaching Mathematics in the Initial Series of Basic School. The used methodology

privileges the qualitative research in interlocution with the quantitative one. It is used as

reference a revision of literature concerning the initial formation of professors and the

education of Mathematics, analysis of the resume of the Pedagogic course and the summary

of disciplines destined to the education of Mathematics, depositions and resolution of

mathematical problems of the students who are concluding the Pedagogic course . The results

of the documentary analyses and the collected data, disclose that historically the Pedagogic

course has a swelled resume, not supplying for the future professors the necessary bases of

the teaching formation, being the mathematical formation relegated to a total insufficient of

credit hours to attend the students necessities in the three sources of the knowledge. The

inquiry alert that the coordinate of the resume of the Pedagogic course urgently need to

rethink the form as the dynamics of work is happening to the Mathematical formation of its

pupils throughout the course. The results indicate that it is insufficient and inadequate, since

the little time allowed for this formation is not being used to advantage well had to be carried

through during the course a referring superficial work to the elementary contents of

Mathematics and the methodological questions. The research verifies that the majority of the

pupils concludes the course of Pedagogic without having the necessary mathematical

knowledge for the practical teacher and indicates possible ways to be trod for the course of

Pedagogic so that this reality is modified.

Keywords: Initial formation of Teachers. Mathematical formation. Pedagogic Course.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 Domínios de Conhecimento – Base do Professor de Matemática 70

Gráfico 1 Médias de Proficiência em Matemática - Brasil -1995 a 2005. 76

Figura 1 Currículo Pleno do Curso de Pedagogia 91

Tabela 1 Faixa etária dos alunos que cursam Pedagogia 86

Tabela 2 Formação Educação Básica 87

Tabela 3 Atuação Profissional 87

Tabela 4 Tempo de Atuação Profissional 88

Tabela 5 Motivo da escolha do curso 100

Tabela 6 Sentimento em relação à Matemática 101

Tabela 7 Dificuldades em relação à Matemática 104

Tabela 8 A que se devem as dificuldades que encontravam na Matemática 105

Tabela 9 Atualmente, como encara a Matemática? 107

Tabela 10 O que faltou ser trabalhado na disciplina de Metodologia do

Ensino da Matemática 116

Tabela 11 O curso atendeu as necessidades e expectativas em relação à

Matemática 117

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Tabela 12 Motivos do curso não ter atendido as necessidades e expectativas 118

Tabela 13 Formação Inicial que receberam no curso de Pedagogia referente à

Matemática

119

Tabela 14 Resultados da análise referente aos problemas aplicados 1 a 5. 151

Tabela 15 Resultados da análise referente aos problemas aplicados 6 a 10. 151

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 12

1 FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL: APORTES HISTÓRICOS 16

1.1 DOS JESUÍTAS AOS MILITARES: EMBATES E DEBATES NA

TRAJETÓRIA DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DAS SÉRIES INICIAIS DO

ENSINO FUNDAMENTAL ............................................................................................ 16

1.2 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CENÁRIO DA LDB 9394/96 .............. 40

1.3 QUESTÕES REFERENTES À FORMAÇÃO DO PROFESSOR NAS SÉRIES

INICIAIS .......................................................................................................................... 42

1.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO DOS PEDAGOGOS PARA AS

SÉRIES INICIAIS ........................................................................................................... 49

2 FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA ENSINAR MATEMÁTICA ............. 57

2.1 CONHECIMENTO MATEMÁTICO PRESENTE NAS DIRETRIZES

CURRICULARES DE PEDAGOGIA ............................................................................. 58

2.2 CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DOS CONHECIMENTOS E SABERES

NECESSÁRIOS À FORMAÇÃO MATEMÁTICA INICIAL DOS PEDAGOGOS ..... 65

3 A PESQUISA ............................................................................................................... 75

3.1 PROBLEMÁTICA, JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS DA PESQUISA ................. 75

3.2 METODOLOGIA ...................................................................................................... 79

3.3 FICHA DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS ......................................................... 83

3.4 OS SUJEITOS DA PESQUISA ................................................................................. 85

4 ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................................ 89

4.1 PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E EMENTA DA DISCIPLINA DE

METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA: UMA FORMAÇÃO

POSSÍVEL? ..................................................................................................................... 89

4.2 O CONHECIMENTO MATEMÁTICO E AS CONDIÇÕES DA FORMAÇÃO

INICIAL. .......................................................................................................................... 100

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4.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

MATEMÁTICO ............................................................................................................... 122

4.4 DIAGNÓSTICO SOBRE A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DAS SÉRIES

INICIAIS: O QUE SABEM SOBRE MATEMÁTICA ................................................... 125

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 154

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 162

APÊNDICES ................................................................................................................... 173

APÊNDICE 1 ................................................................................................................... 173

APÊNDICE 2 ................................................................................................................... 176

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INTRODUÇÃO

O interesse em estudar a formação Matemática, para a docência nas séries iniciais do

Ensino Fundamental, surgiu da inquietação da pesquisadora em sua prática docente no ensino

de Matemática com alunos recém-chegados do Ensino Fundamental (1ª. a 4ª. séries). Tal

inquietude foi gerada ao longo de dez anos de ininterrupta atuação em salas de aula como

professora de Matemática do Ensino Fundamental, principalmente ao que se tem

frequentemente observado, em relação aos alunos que ingressam nas quintas séries, aliado aos

dados relativos a disciplina de Matemática, apresentados pelo Ministério da Educação que

dizem respeito ao baixo desempenho de alunos nas avaliações realizadas em âmbito nacional

e internacional.

Foi a experiência docente com esses alunos e também com a formação inicial de

professores desse nível de ensino que motivou a escolha do Mestrado em Educação para a

Ciência e o Ensino de Matemática e pelo tema em questão.

A experiência como professora de Matemática de escolas públicas do Ensino

Fundamental, mostra que frequentemente alunos oriundos das quartas séries, em sua maioria,

demonstram certa antipatia pela disciplina de Matemática e apresentam dificuldades em

conceitos e conteúdos matemáticos básicos que fazem parte do currículo das séries iniciais.

Além disso, nota-se comumente, que os alunos apenas estudam os conteúdos

superficialmente, mas não os apreendem.

Através de sondagens feitas a nível de curiosidade, enquanto professora de

Matemática desses alunos, foi possível perceber algumas das causas que levam a esta

“deficiência” na prática pedagógica em relação à Matemática. Por conseguinte, ao conversar

com alunos e com alguns professores que trabalham neste nível de ensino, pode-se aferir que

dentre as muitas causas apresentadas, a que interessa e a que mais instiga é a falta de

conhecimento por parte do professor do conteúdo a ser ensinado.

A origem das preocupações com este objeto de estudo, ainda que de maneira

superficial, remonta porém ao período de estudante do curso de Pedagogia. A partir daí, pode-

se perceber muitas das falhas que ele apresenta principalmente no que se refere à formação

específica para os conteúdos das séries iniciais do Ensino Fundamental.

No contexto conflitante1 e altamente angustiante de aluna de um curso de Pedagogia,

por força das inúmeras atividades acadêmicas (provas e trabalhos) e das atribuições

1 Era conflitante porque havia concluído uma graduação em Matemática que dava muita ênfase ao conteúdo, e ingressou em um curso que de acordo com sua concepção não dava relevância a esta questão.

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profissionais, estas preocupações ficaram brevemente segregadas. Entretanto, no último ano

do curso, foi possível realizar uma oficina com o tema Resolução de Problemas para os

egressos do curso de Formação de Docentes do Ensino Médio e alunos do curso de

Pedagogia. Conseguindo observar atentamente a relação pedagógica que estes tinham com a

Matemática, a qual não era nada satisfatória.

Durante esta oficina e o contato frequente com os professores das séries iniciais do

Ensino Fundamental, constantemente chamava atenção o medo e a aversão demonstrados, em

relação aos conteúdos disciplinares de Matemática.

Esta experiência adquirida na oficina realizada no último ano do curso de Pedagogia

fez aumentar a preocupação referente a formação do professor para atuar na disciplina de

Matemática nesse nível de ensino, principalmente no que se refere a formação recebida no

Ensino Superior.

A experiência como professora no Ensino Médio no curso de Formação de Docentes

Sequencial na disciplina de Metodologia de Ensino da Matemática tornou as preocupações

ainda maiores, pois afinal de contas, aqueles futuros professores, que já haviam concluído o

ensino médio anteriormente, e retornavam agora para fazer dois anos de estudos

complementares para serem professores das séries iniciais, em sua maioria, não tinham o

domínio das operações básicas da Matemática, quisera de outros conceitos considerados

elementares.

Movida por todas estas inquietações e um tanto quanto angustiada com a realidade

presente no contexto educacional referente a formação de professores, decidiu-se pesquisar

como vem ocorrendo à formação inicial do pedagogo para a sua atuação na disciplina de

Matemática nas séries iniciais do Ensino Fundamental.

Sabe-se que a formação de professores é um campo de pesquisa que tem sido bastante

árduo e cheio de inquietações e muitas dessas repousam sobre: o que ensinar; como ensinar

(métodos e práticas que devem ser adotados); quais recursos utilizar; e, ainda, sobre os

conhecimentos necessários aos professores para o ensino da Matemática. Além disso, em

âmbito mundial, até a década de setenta não existiam muitas pesquisas em torno da formação

de professores. Essas ganharam espaço significativo a partir da década de 80 (Fiorentini et al,

2003 e Curi, 2005).

Porém, observa-se, que esse avanço não está acontecendo com pesquisas acerca da

formação inicial de professores para ensinar Matemática nos anos iniciais do Ensino

Fundamental, principalmente no tocante à formação matemática inicial do pedagogo para

atuar neste nível de ensino. Somente nos últimos dois anos (2007 e 2008), conforme pesquisa

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feita nas bibliotecas digitais das universidades públicas brasileiras que oferecem mestrados e

doutorados na área de educação matemática verifica-se que este tema ganhou considerável

relevância entre as dissertações e teses.

Esta escassez de pesquisas neste tema específico de interesse incentivou ainda mais a

pesquisar e a produzir reflexões sobre a formação matemática inicial do pedagogo para atuar

nesse nível de ensino.

A presente investigação constitui-se numa pesquisa qualitativa caracterizada como um

estudo de caso, em uma instituição pública de ensino superior no interior do Estado do

Paraná, avaliando a formação específica dos graduandos do curso de licenciatura em

Pedagogia, para conteúdos disciplinares de Matemática e a contribuição do curso no que se

refere à formação Matemática, para atuação nas primeiras séries (anos) do Ensino

Fundamental.

Acredita-se que a formação inicial é a componente base da formação do professor, em

decorrência dessa hipótese, resolveu-se investigar como ela vem acontecendo no curso de

Pedagogia, mais especificamente na área da formação Matemática.

Considerara-se o presente estudo relevante porque ele pode contribuir para a melhor

compreensão das dificuldades enfrentadas pelos concluintes do curso de Pedagogia, no que se

refere à formação Matemática para atuar nas séries iniciais do Ensino Fundamental, e

possibilitar através do diagnóstico da realidade presente, mudanças significativas ao curso. O

trabalho está apresentado em quatro seções, de acordo com a estrutura indicada a seguir.

Na seção 1, Formação de Professores no Brasil: aportes históricos, apresenta-se um

breve histórico da formação de professores no Brasil, abordando os principais avanços bem

como os retrocessos e embates enfrentados nesta trajetória. Entende-se que a formação

específica estudada está inserida em um contexto amplo de formação de professores, a qual

traz embutida, em seu processo histórico, avanços e retrocessos. Essa trajetória histórica é

importante ser estudada, para se ter uma visão crítica de como a formação de professores no

Brasil vem sendo abordada ao longo do tempo.

Para realizar tal estudo, tomou-se como base os atos normativos e a literatura da qual

se teve acesso, referentes à formação de professores, mais especificamente aqueles que tratam

da formação para as séries iniciais do ensino fundamental e do curso de Pedagogia.

A seção 2, Formação de Professores para Ensinar Matemática, destina-se à revisão

da literatura sobre a formação de professores, enfatizando o que as investigações já existentes

revelam sobre o conhecimento do professor para ensinar Matemática nas séries iniciais,

tomando como foco, a importância do conhecimento do conteúdo a ser ensinado. Dentre os

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autores estudados que sustentam nosso foco, podemos citar: Shulman (1986), Ponte (2002),

Blanco (2003) e Serrazina (2002).

Fez-se um breve estudo de alguns autores que tratam do tema: conhecimentos e

saberes docentes, abordando as diferentes denominações que são utilizadas por eles. A análise

realizada neste capítulo levou a adotar as idéias de Shulman (1986) e daqueles que se alinham

a ele, como fundamentação teórica principal. Acreditando que o conhecimento do conteúdo

da disciplina a ser ensinado é essencial para a formação de professores e antecede qualquer

outro tipo de conhecimento.

Tomado, portanto, a trajetória histórica da formação de professores e a literatura sobre

os conhecimentos necessários para esta formação, foi elucidado na seção 3, A Pesquisa, o

interesse e justificativa pelo tema, os objetivos, as decisões relativas à metodologia a ser

utilizada em sua realização e os sujeitos da pesquisa.

A seção 4, Análise dos Resultados, dedica-se à apresentação das análises dos dados

coletados referentes ao estudo do Projeto Político Pedagógico do curso de Pedagogia, a grade

curricular e a ementa da disciplina que trata da formação Matemática durante o curso.

Apresenta também depoimentos dos alunos referentes à formação que estão recebendo para

trabalhar com os conteúdos disciplinares de Matemática e a avaliação que os concluintes do

curso de Pedagogia fazem desta formação. Apresenta também a análise dos dados referentes

aos conhecimentos que foram aprendidos durante o curso e aqueles os quais os concluintes do

curso de Pedagogia apresentam dificuldades, conforme demonstrado na resolução dos

problemas propostos.

Finalmente, a seção 5, apresenta Considerações Finais na qual traz reflexões sobre a

formação de professores para ensinar Matemática nas séries iniciais, destacando algumas

recomendações com base na literatura concernente ao assunto e as muitas inquietações que se

manifestaram durante a realização da investigação.

Acredita-se que as questões relativas ao processo de formação inicial de professores de

atuação multidisciplinar são bastante complexas e que abordam diferentes aspectos inerentes a

ela. Por isso, há necessidade de estudos que possibilitem uma compreensão mais profunda de

cada um dos aspectos que a envolvem.

Espera-se que este trabalho possa contribuir para a ampliação dos debates sobre esse

tema e venha desestabilizar certas ideias que estão arraigadas no curso de Pedagogia há

muitas décadas e que esta desestabilização venha provocar transformações positivas

referentes à formação Matemática dos futuros professores das séries iniciais do Ensino

Fundamental.

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1 FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL: APORTES HISTÓRICOS

Vale insistir que a competência docente não é nata (‘dom’) e neutra, mas sim construída e inserida num tempo e num espaço. O que significa afirmar que ela varia nos diferentes momentos históricos[...]. (Fusari, 1992, p. 27)

Ao estudar a questão da formação inicial de professores pedagogos para o trabalho

com conteúdos matemáticos, se tem consciência de que a mesma encontra-se inserida em um

contexto muito mais amplo que é o da formação de professores de um modo geral.

Por isso acredita-se que para discutir a formação inicial de professores, é fundamental

reportar ao caráter histórico deste assunto. A justificativa de uma visão histórica em um

estudo sobre a formação inicial de professores e pedagogos fundamenta-se em Tardif (2000),

que considera que os saberes docentes evoluem com o passar do tempo e de acordo com o

momento histórico.

Este estudo fundamentou-se na legislação educacional, visando reconstituir no plano

legal as mudanças, os embates e as propostas de formação de professores e pedagogos no

campo das políticas educacionais governamentais, bem como, a bibliografia produzida por

autores que têm contribuído para a reflexão nessa formação, no período histórico que

compreende desde a colonização do Brasil até aos dias atuais.

Cumpre ressaltar que o objetivo dessa seção é o de inicialmente elaborar um histórico

da formação docente no Brasil, enfocando aquela destinada aos professores para as séries

iniciais, buscando entender como esta formação foi se modificando ao longo dos tempos, em

uma tentativa de fornecer subsídios para melhor compreender a problemática e as questões

atuais da formação de professores deste nível de escolaridade.

1.1 DOS JESUÍTAS AOS MILITARES: EMBATES E DEBATES NA TRAJETÓRIA DA

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL

No Brasil, a responsabilidade pela formação do professor dos anos iniciais está

centrada nos cursos de Pedagogia. Mas, historicamente, nem sempre foi assim.

Analisando-se a história brasileira a partir da chegada dos portugueses ao Brasil,

detecta-se o jesuíta como a primeira figura representativa do professor. Romanelli (1999)

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aponta que os jesuítas foram os educadores por excelência durante um longo tempo nessas

terras.

A escolarização no Brasil-Colônia2 teve como função catequizar e instruir os

indígenas. Romanelli (1999) assinala que os jesuítas fundaram colégios para a formação

gratuita de sacerdotes para a catequese, subsidiados pelo Estado Português. Nesse período

(1549 – 1808), os jesuítas eram os únicos educadores de profissão. Seu plano de estudos

procurava atender à diversidade de interesses e capacidades: o ensino do idioma português, a

doutrina cristã e a escola de ler e escrever.

Segundo Ranghetti (2008), neste período da história (Brasil-Colônia), a economia

brasileira centrava-se na produção agrícola, por isso o ensino não tinha utilidade, visto que

visava à educação literária, humanista, com o propósito de desenvolver a inteligência.

Tanuri (2000) esclarece que durante todo o período colonial, desde os colégios jesuítas

passando pelas aulas régias implantadas pelas reformas pombalinas até os cursos superiores

criados a partir da vinda de D. João VI, em 1808, praticamente não se manifesta

espontaneamente nenhuma preocupação com a questão da formação de professores.

É somente no 1º Império, em 15 de outubro de 1827, com a promulgação da Lei Geral

do Ensino, que essa preocupação aparecerá legalmente pela primeira vez.

De acordo com Curi (2005, p. 40) o “Curso Normal foi instituído em 15 de outubro de

1827, pela primeira Lei da Educação do Brasil, de cunho nacional”. Segundo a autora, por

meio desta lei, o ensino público no Brasil foi organizado em quatro graus distintos:

Pedagógicos (primário), Liceus (nível de preparo ao ginásio), Ginásios (humanidades) e

Academias (ensino superior), apontando-se, a partir desta data, a necessidade da

obrigatoriedade do professor possuir licença para exercer o magistério.

No entanto, como afirma Tanuri (2000, p. 63) em relação a essa lei de 1827:

Pouco resultou das providências do Governo central referentes ao ensino de primeiras letras e preparo de seus docentes de conformidade com a Lei geral de 1827. As primeiras escolas normais brasileiras só seriam estabelecidas, por iniciativa das Províncias [...].

Além disso, conforme aponta Ranghetti (2008), mesmo após a Lei geral de 1827, para

ser professor era necessário apenas prestar um exame, porém não se exigia formação

pedagógica: dominando os conteúdos discriminados na lei, qualquer pessoa poderia ensinar.

2 Período que compreende de 1549 a 1808. Dentre as diretrizes políticas ditadas por D. João III (1548) encontrava-se a que se refere à conversão dos indígenas à fé católica pela instrução, estando diretamente relacionada à política organizadora dos colonizadores.

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Somente sete anos, após a promulgação da Lei geral de 1827, foi criada a primeira

escola normal brasileira (1833), em Niterói, Rio de Janeiro, visando a uma melhora no

preparo docente. Entretanto, Tanuri (2000) esclarece que esta escola teve uma curtíssima

duração, sendo suprimida em 1849:

Na verdade, em todas as províncias as escolas normais tiveram uma trajetória incerta e atribulada, submetidas a um processo contínuo de criação e extinção, para só lograram algum êxito a partir de 1870, quando se consolidam as idéias liberais de democratização e obrigatoriedade da instrução primária, bem como de liberdade de ensino. Antes disso, as escolas normais não foram mais que um projeto irrealizado. (TANURI, 2000, p. 64)

Consoante a sociedade de então, a escola normal era, nesse início (1833), conforme

aponta Werebe (1970), destinada exclusivamente aos homens, uma vez que o papel da mulher

se resumia às lidas do lar.

Na época em que a escola normal foi instituída (1833), não era preciso nem ao menos

frequentar o curso normal para ser professor. Segundo Monarcha (1999), se uma pessoa “de

bem” exercesse o magistério por dois anos e fosse aprovado em concurso promovido pelas

Províncias, se tornaria professor vitalício. De acordo com Curi (2005), o professor que lesse

corretamente, escrevesse com caligrafia satisfatória e efetuasse as quatro operações, mesmo

com dificuldades ou com alguns erros era aprovado.

Analisando a história da formação docente brasileira descrita por Tanuri (2000),

Monarcha (1999) e Romanelli (1999), pode-se aferir que nos primeiros 50 anos do Império, as

poucas escolas normais que existiam no Brasil não passaram de ensaios rudimentares e muito

mal sucedidos.

Tanuri (2000) afirma que, a partir de 18703 começou a haver uma valorização das

escolas normais, bem como o enriquecimento de seu currículo, visto que as transformações de

ordem ideológica, política e cultural desta época devido ao crescimento da vida urbana,

conquista de novos mercados e consequente abertura tímida ao capitalismo, afetaram

fortemente o setor educacional. Logo, as escolas normais passaram a ser exigidas com maior

constância e de certa forma mais valorizadas.

3 Nessa época, apesar da vitória do Brasil na Guerra do Paraguai, o ônus econômico, social e político fortalece as reações ao regime monárquico que entra em declínio e as idéias republicanas disseminam-se, mesmo que ainda, timidamente.

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Neste ideário de transformações, destaca-se aqui a disciplina de Matemática nos

cursos normais. Segundo Tanuri (2000) em 1880 as grades curriculares já englobavam as

disciplinas de Aritmética, Álgebra e Geometria4.

Neste contexto, o ensino normal se revestiu de um caráter elitista, atendendo

principalmente às mulheres burguesas, que aí encontravam a oportunidade “permitida” pela

sociedade para prosseguir seus estudos e para se preparar para serem “mães e esposas”.

Segundo Pimenta e Gonçalves (1990), formar a professora significava referendá-la como

dama do lar, com o sentido do ser ligado à subserviência.

De acordo com Pimenta e Gonçalves (1990), no período de transição compreendido

entre o Império e a Primeira República, podia-se constatar a presença de duas vertentes para o

exercício do magistério: a primeira, que procurava conciliar magistério, com as tarefas

específicas de dona de casa e mãe e a outra que visualizava o magistério feminino como uma

solução, uma vez que os homens estavam se distanciando das escolas primárias, devido à

precária remuneração.

Neste período de transição ocorreram muitas transformações, nos âmbitos sócio-

político e econômico, acarretando novas demandas, ocasionadas pela necessidade de uma

maior e melhor capacitação de trabalhadores e consequente avanço na formação de

professores, principalmente para capacitá-los para o ensino profissional. Os processos de

industrialização e de urbanização foram responsáveis pela expansão escolar que procurava

atender às novas exigências, objetivando equacionar o desenvolvimento da economia do país,

para expandir o capitalismo.

Tanuri (2000), ressalta que as primeiras escolas normais, foram destinadas

exclusivamente aos homens (sexo masculino). Entretanto, neste período de pequenas

mudanças no cenário educacional brasileiro o magistério feminino apresentava-se como

solução para o problema de mão-de-obra para a escola primária, pouco procurada pelos

homens devido à baixa remuneração.

O magistério, conforme aponta Tanuri (2000), não possuía nesta época de transição

Império - República, o estatuto de profissão, mas, sobretudo de vocação, valorizando-se mais

a idoneidade moral do professor do que sua competência teórica e didática, sendo que o peso

dessa “história” perdura até os dias atuais.

Tanuri (2000) ressalta que as escolas normais, embora não tivessem chegado a atingir

a complexidade dos estudos secundários, começavam a apresentar leves sinais de progressos.

Caberia à República a tarefa de desenvolver e aprimorar as escolas normais efetivando sua

4 Geometria era oferecida apenas para as classes de meninos

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implantação como instituição responsável pela qualificação do magistério primário. Todavia,

o novo regime não trouxe mudanças significativas para a formação de professores, e se deram

continuidade às ideias que já vinham do império.

Um grande destaque deste período é a reforma paulista de 12/03/1890 de Bernardino

de Campos, que trouxe alterações significativas, tais como: amplitude do currículo, ênfase nas

matérias científicas, prolongamento do curso para quatro anos e exigência de uma cultura

enciclopédica avaliada por exames.

Conforme aponta Tanuri (2000) a fase que se segue a Primeira Guerra e se prolonga

por toda a década de 1920, é de preocupação pela problemática educacional tanto em âmbito

nacional como internacional, sendo caracterizada por esforços da iniciativa estadual pela

difusão e remodelação do ensino.

Foi nesse decênio que houve a divulgação dos princípios e fundamentos do

movimento escolanovista5, que reforçou a necessidade de uma revisão crítica dos padrões de

escola normal existentes no Brasil. A orientação dada pelo escolanovismo requeria

conhecimentos sobre o desenvolvimento e a natureza da criança, os métodos e técnicas de

ensino e os amplos fins do processo educativo.

Destaque-se de acordo com Wachowicz (1984), que no Estado do Paraná em 1923,

houve uma reforma que tinha a preocupação com a formação técnico-profissional, na qual

foram instituídas as várias especialidades6 da disciplina de Metodologia de Ensino. Ressalta-

se também que as ideias e princípios escolanovistas norteavam o conjunto de normas didático-

pedagógicas e inspiravam a introdução de novas disciplinas de formação profissional, como:

história da educação e sociologia. O responsável por essa reforma estadual foi Lisímaco da

Costa.

Saviani (1991) aponta que a influência da abordagem escolanovista, resultou na

ampliação da ênfase nos conteúdos pedagógicos, no caráter científico da educação e na

suposta neutralidade dos procedimentos didáticos. Considerada ingênua por Saviani (1991)

essa tendência ficou isolada naquele contexto histórico-social. Entretanto, Tanuri (2000, p.

72) aponta que:

5 O ideário da Escola Nova veio para contrapor o que era considerado “tradicional”. Os seus defensores lutavam por diferenciar – se das práticas pedagógicas anteriores. No fim do século XIX, muitas das mudanças que seriam afirmadas como originais pelo “escolanovismo” da década de 20, já eram levantadas e colocadas em prática como: centralidade da criança nas relações de aprendizagem, o respeito às normas higiênicas na disciplinarização do corpo do aluno e de seus gestos, a cientificidade da escolarização de saberes e fazeres sociais e a exaltação do ato de observar, de intuir, na construção do conhecimento do aluno.

6 As especialidades seriam de acordo com as disciplinas ministradas no ensino primário da época.

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Graças à atuação dos profissionais da educação, mediante publicações, conferências, cursos, debates, inquéritos, divulgavam-se ideias da escola renovada e formava-se uma nova consciência educacional, relativa ao papel do Estado na educação, à necessidade de expansão da escola pública, ao direito de todos à educação. [...] A tentativa de introdução de tais ideias na legislação escolar levou a novas e significativas remodelações no âmbito da escola normal [...].

A partir de 1930, conforme apontam Pimenta e Gonçalves (1990), o país estava

passando por profundas transformações político-econonômicas e sociais. Com a crise

internacional da economia, a sociedade que se pautava no modelo agrário-rural se urbaniza e

se industrializa, configurando a aceleração do capitalismo industrial, gerando a necessidade de

que os operários tenham um mínimo de instrução e qualificação.

Além disso, com a maior divulgação e defesa, por parte de alguns intelectuais como

Anísio Teixeira7, das ideias escolanovistas começam-se a instalar no país significativas

mudanças no campo educacional e consequentemente na formação de professores.

Segundo Romanelli (1999), a derrubada do governo do Presidente Washington Luiz,

em outubro de 1930, e o início da denominada era Vargas, foram o ponto culminante da

ruptura com um período caracterizado pela crise política, econômica e social que preteriu a

oligarquia em favor da veiculação dos ideais liberais.

Assim, cresce consideravelmente a demanda por escolarização da população

trabalhadora, que, segundo Pimenta e Gonçalves (1990, p. 98), “se organiza e reivindica

escolas, na medida em que ela é condição de acesso ao mercado de trabalho e, portanto, de

sobrevivência”.

A década de 30, segundo Romanelli (1999), possibilitou a criação de novas demandas

educacionais, tanto em termos quantitativos, quanto da própria estruturação do ensino, tendo

em vista as necessidades emergentes da época – o país adotara o modelo industrial.

Além disso, nesse período, assiste-se no País a um conflito entre os denominados

“Pioneiros da Educação”, que, levantando a bandeira da Escola Nova, defendiam a laicidade,

7 Anísio Teixeira foi um dos precursores do Movimento dos Pioneiros e um dos mais importantes protagonistas da Educação Brasileira. Anísio Teixeira, ao analisar a importância da educação, como centro de uma política de desenvolvimento social, criticou nossos sistemas arcaicos de ensino, com seus métodos obsoletos, as falhas na organização das escolas e a formação equivocada dos professores, enfim, tocou em todos os pontos que se referem à educação. Nada passou incólume aos olhos daquele pensador. Já em 1933 ele falava das duas tendências sociais que modelavam a vida moderna: ciência e democracia. Ciente das mudanças que ocorriam no mundo e preocupado com os destinos do país, e por decorrência, com a educação do nosso povo, ele trouxe para si a árdua missão de defender a escola pública. Saiba mais no site: http://www.prossiga.br/anisioteixeira/ que faz parte do programa Prossiga, do CNPQ.

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a democratização e a gratuidade do ensino público, e os “defensores da ideologia católica”,

ligados aos interesses da escola privada.

Em meio a esta turbulência de ideias, Curi (2005), destaca que em 1931 apareceu no

Curso Normal, pela primeira vez, uma disciplina com o nome de Matemática, unificando as

disciplinas de Aritmética e Geometria.

Em 1932, pode-se afirmar que houve um marco, na educação brasileira com o

lançamento do Manifesto dos Pioneiros8 da Educação Nova, que tinha como signatários

Fernando Azevedo, Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Paschoal Lemme, entre outros, e que

propunham a reconstrução da educação no País. Esse Manifesto, entre outras questões,

pretendia romper com a escola tradicional, alicerçada, sobretudo, na ideologia católica e abria

caminho para a Escola Nova, propondo principalmente a unificação da formação do

magistério em nível superior e a priorização do ensino primário.

Brzezinski (1996, p.18), destaca:

[...] a institucionalização da formação de professores para o ensino médio e normal, pelo menos na letra da lei, resultou dos acontecimentos educacionais impulsionados pela reconstrução social, via educação, adotada pelos Pioneiros da Escola Nova, cujos princípios estão consubstanciados na carta magna da educação de 1932, que se tornou pública em forma de Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova. Os Pioneiros faziam parte dos movimentos sociais de educadores que empreendiam a luta para a criação da universidade no País.

Esse movimento ressaltava a importância da formação de professores primários em

nível superior, já que era notório o descaso para com a preparação desses profissionais, em

todos os níveis. Os pioneiros consideravam que, unindo os princípios e os ideais se elevariam

a cultura dos professores e, consequentemente, a qualidade do ensino. Isto é, via-se “a

impossibilidade de se organizar o sistema e dar-lhe unidade de ação sem a unidade de

formação de professores, os quais, de todos os graus de ensino, devem ter formação

universitária” (ROMANELLI, 1999, p.149). Procurava-se combater o analfabetismo, dando

prioridade à educação primária o que, consequentemente, levou à reformulação da formação

para o magistério, que continuava sob a responsabilidade dos estados.

8 Redigido por Fernando de Azevedo e assinado por mais de vinte e seis educadores e intelectuais, o documento dirigido ao povo e ao governo trazia a marca da diversidade teórica e ideológica do grupo que o concebeu. Mas, apresentava ideias consensuais, como a proposta de um programa de reconstrução educacional em âmbito nacional e o princípio da escola pública, leiga, obrigatória e gratuita e do ensino comum para os dois sexos (co-educação). Movia-se, ainda, no âmbito das concepções educacionais de recorte escolanovista, enfatizando os aspectos biológicos, psicológicos, administrativos e didáticos do processo educacional.

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Segundo Monarcha (1999), no advento dos anos 30, no campo da escola normal

ocorreram avanços significativos na formação de docentes: ampliação curricular, prioridade

das disciplinas científicas, no aumento da duração do curso, para quatro anos; na exigência de

exames para o ingresso nos cursos de formação de professores.

Nesse quadro de avanços, observou-se certa valorização do magistério e de sua

institucionalização como profissão, que passa, na época, a se tornar mais controlada e

hierarquizada.

Os reformadores estavam assumindo o entendimento de que sem assegurar, de forma

deliberada e sistemática por meio da organização curricular, a preparação pedagógico-didática

não se estaria, em sentido próprio, formando professores.

Tanuri (2000) aponta que a partir de então a preocupação central do currículo da

escola normal deslocava-se dos conteúdos a serem ensinados para os métodos e processos de

ensino, valorizando as chamadas Ciências da Educação.

Entretanto, na prática, a maioria das escolas normais do país ainda trazia a marca da

força do modelo até então vigente e dominante centrado na preocupação com o domínio dos

conhecimentos a serem transmitidos.

Destaca-se que a década de 30 ficou marcada, dentre outros aspectos, no contexto

educacional, pela implementação da reforma Francisco Campos e pelos debates em torno da

criação das universidades brasileiras, influenciados em parte pelo ideário da escola nova.

Uma nova fase também se abriu com o advento, na década de 30, dos Institutos de

Educação, concebidos como espaços de cultivo da educação encarada não apenas como objeto

do ensino, mas também da pesquisa. Nesse âmbito, segundo Romanelli (1999), as duas

principais iniciativas foram o Instituto de Educação do Distrito Federal concebido, estruturado

e implantado por Anísio Teixeira, em 1932, e dirigido por Lourenço Filho; e o Instituto de

Educação de São Paulo implantado, em 1933, por Fernando de Azevedo. Ambos, sob

inspiração do ideário da Escola Nova.

De acordo com Tanuri (2000), os Institutos de Educação do Distrito Federal e de São

Paulo foram ambos elevados ao nível universitário, tornando-se a base dos estudos superiores

de educação: o Instituto de Educação Paulista foi incorporado à Universidade de São Paulo,

fundada em 1934, e o Instituto de Educação do Rio de Janeiro foi incorporado à Universidade

do Brasil, no Distrito Federal, criada em 1935.

Em 1937, devido a um Golpe do Estado, Getúlio Vargas decreta a instauração de um

período ditatorial e, com isso, os princípios democráticos, defendidos pelo escolanovismo, são

marginalizados. As novas medidas discricionárias desencadeiam uma política educacional

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menos democrática, fato que inviabilizou a continuidade das propostas liberais, defendidas

pelos pioneiros da Escola Nova.

Apesar do regime ditatorial de Vargas, foi neste período, segundo Tanuri (2000), que

se organizaram os Cursos de Formação de Professores para as escolas secundárias,

generalizados para todo o país a partir do Decreto-Lei nº1190, de 04 de abril de 1939, o qual

deu organização definitiva à Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil. Essa

faculdade era avaliada como a primeira instituição em nível superior que se propunha a

oferecer uma formação de professores, de qualidade, para atuação no nível do ensino

secundário. De acordo com Damis (2002), nessa época, a formação dos profissionais de

educação no Brasil, em nível superior, embora prevista, ficava geralmente, apenas, no papel,

isto é, somente como uma intenção que, via de regra, não foi concretizada.

Esse decreto de 1939 é muito importante para este estudo, pois se constitui no

primeiro marco legal do Curso de Pedagogia, pois instituiu o curso no bojo da organização da

Faculdade Nacional de Filosofia, da Universidade do Brasil, dividida em quatro seções:

Filosofia, Ciências, Letras e Pedagogia, que incluía mais uma, a Didática.

Essa faculdade visava a dupla função de formar bacharéis e licenciados para várias

áreas, entre elas, a área pedagógica. Silva (1999) argumenta que a padronização do curso de

Pedagogia nesta data é decorrente da concepção normativa da época, que alinhava todas as

licenciaturas ao denominado “esquema 3+1” (3 anos de bacharelado mais um ano de

didática), pela qual era feita a formação de bacharéis nas diversas áreas das Ciências

Humanas, Sociais, Naturais, nas Letras, Artes, Matemática, Física, Química. Seguindo este

esquema, o curso de Pedagogia oferecia o título de bacharel a quem cursasse três anos de

estudos em conteúdos específicos da área, quais sejam fundamentos e teorias educacionais; e

o título de licenciado, que permitia aos concluintes deste curso atuar como professor, aos que,

tendo concluído o bacharelado, cursassem mais um ano de estudos, dedicados à Didática e a

Prática de Ensino. O então curso de Pedagogia dissociava o campo da ciência Pedagogia, do

conteúdo da Didática, abordando-os em cursos distintos e tratando-os separadamente.

Dentre outros aspectos, no contexto educacional, observa-se então que a pedagogia,

antes mesmo de se constituir como um curso adentrou o contexto universitário pela via dos

Institutos de Educação. Sendo que estes foram pensados a partir de uma concepção de

pedagogia como ciência, visando proporcionar ao futuro professor a necessária formação para

a docência e, também, para a pesquisa. Além disso, a instituição do Curso de Pedagogia no

final da década de 30 decorreu de um longo processo de tentativas dos legisladores em definir

as bases da formação do professor, em especial, daquele que iria atuar no ensino secundário.

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A intencionalidade da criação dessa faculdade não era apenas a formação de

professores da escola secundária, mas também o favorecimento da preparação para a

pesquisa, superando, desse modo, o caráter utilitário e prático dos institutos meramente

profissionais e buscando, assim, assegurar o desenvolvimento da pesquisa científica, o que

não foi satisfatoriamente alcançado. Uma das explicações dada a esta frustração se deve ao

fato de que a formação oferecida ao Bacharel é diferente da formação oferecida ao

Licenciado.

Destaca-se que, segundo Silva (1999), o curso de pedagogia foi criado no Brasil como

consequência da preocupação com o preparo de docentes para a escola secundária e não para

a escola primária, pois a formação destes professores se fazia exclusivamente nas Escolas

Normais.

No Brasil, o Curso de Pedagogia, ao longo de sua história, como aponta Silva (1999)

teve definido como seu objeto de estudo e finalidade precípuos os processos educativos em

escolas e em outros ambientes, sobremaneira a educação de crianças nos anos iniciais de

escolarização, além da gestão educacional. Merece ser salientado que, nas primeiras propostas

para este curso, a ele se atribuiu o estudo da forma de ensinar, definido inicialmente como

lugar de formação de técnicos em educação. Por isso o Curso Normal continuava a ser o

principal responsável pela formação de professores primários.

É importante destacar que neste período, em consequência da tendência da Escola

Nova, havia muitos livros destinados ao Curso Normal que se preocupavam com a motivação

no ensino, enfatizando o uso de jogos e materiais didáticos. Curi (2005, p. 50), afirma que:

O livro de Aguayo (1935) Didática da Escola Nova traduzido em 1935, apresentava vários capítulos sobre tópicos gerais da Psicologia e outros temas curriculares, entre eles o ensino da Aritmética, com sugestões didáticas para professores. Esse autor destacava a importância de se respeitar a liberdade da criança na realização dos procedimentos de cálculos, a utilização da vida real nos problemas aritméticos e a observação dos processos de raciocínio na resolução dos problemas em vez da apresentação por parte dos professores de solução dos mesmos.

Segundo Tanuri (2000) o currículo do curso normal nesta época centrava-se

exclusivamente nas disciplinas pedagógicas. Enquanto isso, a Escola Normal, que funcionava

no Brasil desde o século XIX, continuava sem diretrizes, apesar da Constituição de 1934

conter as ideias dos pioneiros, que proclamavam a organização de um sistema nacional de

estrutura unificada, como dever do estado. Tais princípios foram adiados em consequência do

golpe de Estado que instituiu o Estado Novo, promulgando nova Carta em 1937.

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Brzezinski (1999, p. 89) faz um apontamento crítico sobre este período da história da

formação de professores no Brasil:

Diante da frustração dos ideais de Anísio Teixeira identifica um exemplo de manifestação de poder autoritário, de arbitrariedade e de dominação na história da educação brasileira, agora sob o jugo do Estado Novo de Getúlio Vargas. Nesse governo, o centro de referência de formação de professores com o preparo específico do “professor primário” na universidade não logrou êxito. A Escola Normal continuou sendo o locus principal de preparo desse professor. O nível superior foi reservado, exclusivamente, para formar o professor do secundário, inclusive o professor da Escola Normal.

Formar o “professor primário” em nível superior em 1935, como desejava Anísio

Teixeira, sem dúvida evidenciava uma concepção ideal de formação numa época em que não

existia sequer número suficiente de professores formados pelas escolas normais para dar

atendimento a demanda do ensino primário.

Da forma como Brzezinski (1999) argumenta, a identidade do curso de pedagogia

encontra-se no projeto de Escola de Professores, idealizada por Anísio Teixeira, cuja

prioridade seria formar “professores primários” com nível superior. Nota-se que a formação

de docentes para o início da escolarização implica aprofundamentos de estudos, que não se

esgotam nos currículos da Escola Normal. Segundo esse entendimento, a formação de

professores primários constitui a identidade conferida ao curso de pedagogia. Esta, entretanto,

como se pode perceber, apesar dessa evidência, não foi assumida pelo curso de Pedagogia,

criado oficialmente no Brasil em 1939.

Em 1942, conforme aponta Tanuri (2000), foi elaborada a Reforma Capanema,

composta por um conjunto de Leis Orgânicas do Ensino, que delinearam as políticas

educacionais nesse período, sobretudo, implantando os denominados ramos de ensino.

Segundo Ranghetti (2008), em 1945, o Brasil vivencia um processo de

redemocratização, após um longo período de lutas contra o arbítrio e a favor da

democratização que, finalmente, foi concretizada, por meio da promoção de eleições e a

consequente extinção do Estado Novo. Em decorrência desse novo contexto, Getúlio

renuncia, premido pelas pressões dos militares. No campo educacional, observa-se a volta de

discussões e debates voltados para a democratização da educação, assim como a defesa dos

princípios referentes a igualdade e a descentralização, que foram incorporados ao novo texto

constitucional de 1946, que restabelecia o Estado Democrático .

Após a queda de Getúlio Vargas, o Decreto-Lei n°.8530/46, normatizou o ensino

normal que, como ocorria com outros cursos técnico-profissionais, não viabilizava o acesso

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ao ensino superior. De acordo com Pimenta e Gonçalves (1990, p. 99), a Lei Orgânica do

Ensino Normal instituída por este decreto em 1946 apresentava as seguintes finalidades:

I – Prover a formação do pessoal docente necessário às escolas primárias;II – Habilitar administradores escolares destinados às escolas;III – Desenvolver e propagar os conhecimentos e técnicas relativos à educação da infância.

Segundo Pimenta e Gonçalves (1990), a referida lei organizava a Escola Normal em

dois ciclos: aquelas destinadas à formação de regentes de ensino primário, em Escolas

Normais Regionais; e aquelas destinadas à formação de professores primários, em

estabelecimentos denominados Escolas Normais, organizados em quatro e três anos,

respectivamente. Pimenta e Gonçalves (1990, p.99) destacam ainda:

Além desses dois tipos de escolas, foi prevista ainda a criação dos “institutos de educação”, onde além dos cursos de formação, existiam o “jardim de infância” e o curso primário. Nos institutos eram também ministrados os cursos de especialização, destinados à preparação de professores para a educação pré-primária, ensino complementar e ensino supletivo, desenho, artes e música, além de diretores, orientadores e outros especialistas para as escolas primárias.

Nesse período (1946)9, havia, de acordo com Pimenta e Gonçalves (1990), um número

significativo de professores leigos (empíricos), principalmente pelo fato de se determinar um

limite em relação à idade (faixa etária inferior a 25 anos) para o ingresso no curso normal e,

também, a falta de um crescimento proporcional entre os cursos de habilitação e a demanda,

dificultando certos nivelamentos no quadro do magistério nacional. Assim, muitos professores

não puderam qualificar-se, continuando a atuar na carreira do magistério sem uma formação

adequada. Essa situação reforçava a falta de atenção para com a formação docente, o que

acarretou muitas consequências desfavoráveis, entre as quais, a precariedade de seu salário e

de suas condições de trabalho.

Tanuri (2000) afirma que apesar da expansão do curso pretendida pela Lei Orgânica

de 1946, não se conseguiu promover uma formação adequada para atuarem no ensino

primário, sendo que foram apontadas várias críticas referentes ao funcionamento e as reais

finalidades das escolas normais.

9 Um fator importante a considerar para o avanço da formação docente no país, foi a Segunda Guerra Mundial. Até então, o Brasil importava tudo, inclusive professores, mas a economia de guerra obrigou o país a “formar” seus profissionais. (Pimenta; Gonçalves, 1990)

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Além disso, Tanuri (2000, p. 75), destaca que “a Lei Orgânica do Ensino Normal não

introduziu grandes inovações, apenas acabando por consagrar um padrão de ensino normal

que já vinha sendo adotado em vários estados”. Sendo que a preocupação com a metodologia

do ensino, continuava a se fazer presente.

De acordo com Tanuri (2000), a euforia do desenvolvimento dos anos 50, possibilitou

tentativas de modernização do ensino, tanto na escola de nível médio quanto superior,

atingindo também o ensino primário e consequentemente a formação de seus professores.

Pimenta e Gonçalves (1990) esclarecem que somente a partir de 1953, pelo Decreto-

Lei nº 1.821, de 12 de março, as Normalistas tiveram assegurada sua equiparação aos cursos

secundários para efeito de ingresso em qualquer curso superior. Portanto, a formação docente

para o ensino primário permaneceu a cargo das Escolas Normais Ginasiais (antigas Escolas

Normais Regionais), Escolas Normais Colegiais (antigas Escolas Normais) e Institutos de

Educação. Estes foram autorizados a oferecer cursos de formação de professores para as

escolas normais, segundo as normas dos cursos pedagógicos das Faculdades de Filosofia,

Ciências e Letras.

Após a queda de Vargas, segundo Tanuri (2000), o projeto da primeira Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), organizada pela Comissão Clemente

Mariani, deu entrada na Câmara Federal em 1948. Sua tramitação no Congresso Nacional foi

muito polêmica, e após uma longa trajetória de 13 anos, acabou gerando um texto normativo

centrado nas prerrogativas da União e que contemplava tanto os interesses dos católicos

quando dos liberais. No entanto, o substitutivo Carlos Lacerda, aprovando a equivalência dos

diplomas, a assessoria técnico-científico e subsídios financeiros às escolas particulares,

enterrou qualquer possibilidade em se implementar um sistema de ensino público e de

qualidade.

Finalmente, em dezembro de 1961, após vários debates e conflitos, foi promulgada a

primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n°4024, a qual reorganizou o

ensino da seguinte forma:

1 Ensino pré-primário, composto de escolas maternais e jardins de infância;2 Ensino primário de 4 anos, com chance de ser acrescido de 2 anos ou mais, com programas de artes aplicadas;3 Ensino médio, subdividido em dois ciclos: o ginasial de 4 anos e o colegial de 3 anos, ambos por sua vez compreendendo o ensino secundário e o ensino técnico (industrial, agrícola, comercial e de formação de professores);4 Ensino superior, com a mesma estrutura já consagrada antes. (ROMANELLI 1999, p. 181)

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Esta nova forma de organização promoveu a flexibilização da estrutura do ensino e

determinou a equivalência de todos os cursos de ensino técnico, o que possibilitou o acesso ao

ensino superior, a todos os egressos deste nível.

Em decorrência da promulgação do referido documento normativo, o debate sobre a

formação de professores foi resgatado e questões como elevação da qualidade do ensino e do

tempo de capacitação entraram em cena. Nessa perspectiva, foi discutida, também, a

formação de professores do ensino primário, em nível superior.

De acordo com Cabral (2005), a partir dessa legislação (4.024/61), cada estado poderia

optar por suas políticas de educação, mas a formação de professores continuava, ainda, no

esquema estabelecido em 1946, que possibilitava a diversidade dos níveis: ginasial

(ministrados em escolas normais de grau ginasial); colegial (ministrados em escolas normais

de grau colegial ou em Institutos de Educação) e pós-normal (cursos de especialização em

Institutos de Educação). Devido a essa hierarquização, segundo Cabral (2005) cresce a

desigualdade na formação dos docentes do país, sendo esse um dos maiores problemas

detectados na primeira LDBEN brasileira.

No início dos anos 60, o Brasil vivenciava uma crise marcada pelo esgotamento do

modelo nacional-desenvolvimentista. A inflação crescente, os graves problemas da estrutura

econômica e as exigências da reforma agrária provocaram mudanças no sistema econômico.

Com isso, houve um aumento da demanda social por educação.

Segundo Pimenta e Gonçalves (1990), o trabalho do professor, tradicionalmente

feminino, vai gradativamente sofrendo as pressões econômicas da época, visto que já não é

mais “luxo” a mulher trabalhar fora. Agora a mulher precisa trabalhar e o magistério traz uma

vantagem que é permitir a conciliação com o trabalho de dona de casa. Essas raízes históricas

ajudam a entender as dificuldades da profissionalização da professora, e ajudam a explicar a

“perda da abnegação e de dedicação” antes consideradas fatores inerente a um bom ensino.

(PIMENTA; GONÇALVES, 1992, p. 103)

Este contexto sócio-político e econômico da época levou também a um aumento da

demanda para as Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras que passaram a buscar uma

melhoria na capacitação e na qualificação, no campo da formação docente.

Com o advento da Lei n° 4.024/1961 e a regulamentação contida no Parecer do

Conselho Federal de Educação (CFE) nº. 251/1962, manteve-se o “esquema 3+1” (três anos

de bacharelado mais uma ano de didática), para o curso de Pedagogia.

Em 1961, fixara-se o currículo mínimo do curso de bacharelado em Pedagogia,

composto por sete disciplinas indicadas pelo CFE e mais duas escolhidas pela instituição.

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Esse mecanismo centralizador da organização curricular pretendia definir a especificidade do

bacharel em Pedagogia e visava manter uma unidade de conteúdo, aplicável como critério

para transferências de alunos, em todo o território nacional.

Regulamentada pelo Parecer CFE nº. 292/1962, a licenciatura para as disciplinas

didáticas do ensino superior previa o estudo de três disciplinas: Psicologia da Educação,

Elementos de Administração Escolar, Didática e Prática de Ensino, esta última na forma de

Estágio Supervisionado. Mantinha-se, assim, a dualidade, bacharelado e licenciatura em

Pedagogia, ainda que, nos termos daquele Parecer, não devesse haver a ruptura entre

conteúdos e métodos, manifesta na estrutura curricular do esquema 3+1.

Com o Golpe de Estado de 1964, Romanelli (1999) aponta que a sociedade brasileira

passou por momentos conturbados marcados, principalmente, pelo arbítrio, censura e

repressão, devido à instauração do regime militar, que abalou a sociedade cívica como um

todo e, a educação, de modo especial e impactante.

Nessa direção, foram estabelecidos os Acordos MEC-Usaid10, que, em síntese,

representaram a intervenção do governo americano no campo educacional brasileiro. A

formação docente, nessa época, passou a ser vista sob uma ótica pragmática e tecnicista11

orientada pela concepção taylorista de divisão do trabalho. Nesse contexto, começaram a

atuar nas escolas e nos sistemas de ensino, os especialistas em educação, que representavam,

de certa forma, o princípio taylorista de desconexão entre concepção e execução. Assim, esse

especialista planejava, concebia, mandava e, o professor, somente executava, sendo

expropriado do seu saber, tornando-se mero reprodutor de tarefas, previamente determinadas..

Segundo Tanuri (2000), essa opção pelo taylorismo, “tratava-se de tornar a escola

‘eficiente e produtiva’, ou seja, de torná-la operacional com vistas à preparação para o

trabalho, para o desenvolvimento econômico do país, para a segurança nacional”. (TANURI,

2000, p.79). Nesta conjuntura o acordo MEC-USAID influenciou mais as medidas

pedagógicas e didáticas, do que as políticas educacionais.

Nesse contexto, a educação passa a ser vista como meio de crescimento econômico e

social, por isso mesmo, ideias empresariais e mercantis são implementadas no campo

10 Segundo Romanelli (1999) foram acordos produzidos, nos anos 1960, entre o Ministério da Educação brasileiro (MEC) e a United States Agency for International Development (USAID). Visavam estabelecer convênios de assistência técnica e cooperação financeira à educação brasileira.

11 A tendência tecnicista, implantada com a reforma pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 5692/71, surge com ênfase nas tecnologias do ensino enfatizando o ensino técnico e profissionalizante. Para saber mais ler: Behrens (2000).

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educacional, tais como: a racionalidade, a eficiência e a produtividade. Os cursos normais

foram perdendo, ainda mais, sua consistência; esse fato acarretou um grande desinteresse nos

seus alunos e egressos que, realmente, queriam exercer o magistério, e foi um desperdício

público. Em decorrência do exposto, os Cursos Normais deixaram de ser locus de formação

docente. “Ao tornar compulsória a profissionalização no nível médio, transformou o

magistério numa das habilitações do ensino de segundo grau, descaracterizando as Escolas

Normais e os Institutos de Educação”. (NUNES, 2002, p.14)

A partir de 1967, as lutas empreendidas pelos movimentos estudantis, no mundo todo,

inclusive no Brasil, intensificaram-se, redundando, em 1968, no conhecido Movimento de

Maio de 68, que impactou a educação e a sociedade em âmbito internacional, muito embora

tenham ocorrido em contextos diferenciados.

A Reforma Universitária (Lei n° 5.540/68) foi responsável pela instituição das

Faculdades de Educação, que se responsabilizaram pela formação docente. As licenciaturas,

que passaram a totalizar 480 horas, eram realizadas em dois semestres, contemplando as

seguintes disciplinas: Psicologia da Educação, Didática, Prática de Ensino, e Estrutura e

Funcionamento do Ensino de 1° e 2° Graus.

Essa Reforma determinou mudanças marcantes e impactantes no curso de Pedagogia

que passou a formar os especialistas, através das denominadas habilitações: Supervisão,

Orientação, Administração e Inspeção Educacional, assim como outras especialidades

necessárias ao desenvolvimento nacional e às peculiaridades do mercado de trabalho. Assim,

instituiu na formação, desse profissional, uma base comum e outra diversificada. Além disso,

o curso de Pedagogia passou a formar docentes para o nível de 1º grau, em nível superior,

desde que frequentassem a disciplina “Metodologia e Prática de Ensino de 1º Grau”.

Por isso tem-se que o segundo marco importante para o Curso de Pedagogia foi o

Parecer do Conselho Federal de Educação (CFE) nº. 252 de 11 de abril de 1969, de autoria do

professor Valnir Chagas12, membro do Conselho Federal de Educação. Esse Parecer foi

acompanhado da Resolução CFE nº. 2/69, que se incumbiu de fixar o currículo mínimo e a

duração do curso. Essa regulamentação manteve a formação de professores para o Ensino

12 Valnir Chagas, segundo Brzezinski (1996), atuou longamente no Conselho Federal de Educação (1962-1976), constituindo-se como um dos principais legisladores da educação nessas duas décadas. Além das atividades como professor e conselheiro, foi um dos organizadores da Universidade de Brasília (UnB), em cuja Faculdade de Educação também lecionou por várias décadas, antes de se aposentar em 1991. No contexto da história das políticas educacionais, ficou amplamente conhecido pelos inúmeros pareceres que relatou, pelas indicações que encaminhou e pela sua incisiva participação na Reforma Universitária de 68 e na organização da LDB de 71. Brzezinski (1996) dedicou-se ao estudo da legislação elaborada por Chagas, constatando que cada um dos seus pareceres representou uma reformulação do Curso de Pedagogia e constituiu o que denominou de “Sistema Chagas, orgânico, coerente e sequencial”, cujo ponto de partida foi o Parecer nº. 251/1962.

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Normal e introduziu oficialmente as habilitações para formar os especialistas responsáveis

pelo trabalho de planejamento, supervisão, administração e orientação, que se constituíram, a

partir de então, como um forte meio de identificar o pedagogo. As habilitações foram

amplamente difundidas, tornando-se nucleares para o curso ao longo de grande parte de sua

trajetória. De acordo com o Parecer CFE nº. 252 de 11 de abril de 1969, o Curso de

Pedagogia passou a conferir apenas o grau de licenciado, abolindo o de bacharel, pautado pelo

núcleo central do curso que focava o pedagógico a serviço da docência.

Como licenciatura, permitia o registro para o exercício do magistério nos cursos

normais, posteriormente denominados magistério de 2º grau. Brzezinski (1996, p. 45) ressalta

que:

[...] os egressos da licenciatura em pedagogia seriam os futuros professores da Escola Normal que formava ‘professores primários’. No entanto, o currículo dessa licenciatura, como o estabelecido em 1939, não contemplava o conteúdo do curso primário. Certamente, os licenciandos aprendiam esse conteúdo por encanto, ou talvez pela ‘prática’, caso o futuro bacharel já fosse professor primário. Essa estruturação do curso de pedagogia facilitou a adoção da premissa ‘quem pode o mais pode o menos’, isto é, se os licenciados em pedagogia estavam habilitados a formar professores de professores primários, por ‘osmose’ adquiririam o domínio dos conteúdos do curso primário.

Nessa perspectiva, os Cursos de Pedagogia, que continuavam formando os técnicos de

educação e os professores para as Escolas Normais passam a ser, ao mesmo tempo, objeto de

disputa para a formação do professor primário e objeto de crítica acerca da sua natureza e

função.

O debate sobre formação superior do professor primário, formação do técnico de

educação no âmbito da pós-graduação e formação dos professores de ensino secundário,

preferencialmente no contexto dos cursos das demais seções da Faculdade de Filosofia,

acirrou, segundo Silva (1999), os problemas envolvendo a identidade do Curso de Pedagogia

o que viria a desencadear a partir de então uma grande discussão em torno do curso.

Dentro desta trajetória de retrocessos e poucos avanços na formação de professores,

segundo Pinheiro (1973), as principais preocupações do período no âmbito da escola normal

encontram-se, de um lado uma alegada descaracterização profissional dessas escolas e

desperdício de recursos, tendo em vista o desinteresse de seus egressos pelo exercício do

magistério e de outro, está a falta de preparo adequado do professor da escola normal, já que

as Metodologias e a Prática do Ensino Primário não estavam geralmente incluídas nos

currículos dos cursos de Pedagogia até 1969 e nem mesmo se exigia dos professores dessas

disciplinas, em muitos estados, a prática docente nas várias séries do ensino primário. Além

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disso, já se começava a perceber a perda da relevância dos cursos normais no âmbito das

instituições que levavam seu nome e dos Institutos de Educação.

Com isso, Tanuri (2000) aponta que o Curso Normal começava a se descaracterizar

como instituição adequada para formação do professor das séries iniciais, sendo que este

processo se acentuaria progressivamente com as mudanças impostas pelo regime militar e

com a deterioração das condições de trabalho e de remuneração dos professores primários.

As reformas empreendidas pelos governos militares são fortemente balizadas por

recomendações advindas de agências internacionais e relatórios vinculados ao governo norte-

americano. Sob a ideia do ajuste a nova etapa de desenvolvimento, marcada pela política

desenvolvimentista da ditadura e pela intensificação da internacionalização do capital, a

educação é alçada a formação de “capital humano”. A partir deste período expande-se o

tecnicismo na educação, exigindo adequações no campo educacional efetivadas mediante

mudanças na legislação do ensino.

Neste contexto, em 1971 foi promulgada a Lei de nº. 5692/71, a qual modificou o

ensino primário e secundário (ginásio e demais habilitações), alterando sua denominação

respectivamente para primeiro grau e segundo grau. O ensino primário foi agregado ao ensino

ginasial, constituindo, o ensino de 1º grau. O ensino secundário e os ramos técnicos de nível

médio (incluída a escola normal) formaram um único ensino de 2º grau. No bojo da

profissionalização obrigatória adotada para o segundo grau, transformou o Curso Normal

numa das habilitações desse nível de ensino, abolindo de vez a profissionalização antes

ministrada em escola de nível ginasial.

A lei 5692/71, extinguiu a formação de docentes em Cursos normais, de nível ginasial.

O Curso Normal passou a ser apenas um dos ramos da profissionalização de 2º grau,

assumindo a denominação de Habilitação Específica para o Magistério de 1º Grau, constituída

por uma base comum de formação, obrigatória em todo o país. Como um curso técnico, passa

a ser comparado a outros cursos como secretariado, eletricidade, contabilidade, o que

descaracterizou sua função precípua: formar professores para o ensino das séries iniciais do

primeiro grau. Segundo Saviani (1991), essa lei foi na época a expressão da visão economista,

tecnicista e sistêmica da educação.

Segundo Monarcha (1999), a Habilitação Específica do Magistério (HEM) foi

organizada em duas modalidades básicas: uma com a duração de três anos (2.200 horas), que

habilitaria a lecionar até a 4ª série; e outra com a duração de quatro anos (2.900 horas),

habilitando ao magistério até a 6ª série do 1º grau. O currículo mínimo compreendia o núcleo

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comum, obrigatório em todo o território nacional e para todo o ensino de 1º e 2º graus,

destinado a garantir a formação geral; e uma parte diversificada, visando a formação especial.

O antigo Curso Normal cedeu lugar a uma habilitação de 2º Grau. A formação de

professores para o antigo ensino primário foi, pois, reduzida a uma habilitação dispersa em

meio a tantas outras, configurando um quadro de precariedade bastante preocupante.

Desapareciam os Institutos de Educação, sendo que a formação de especialistas e professores

para o curso normal passou a ser feita exclusivamente nos cursos de Pedagogia.

Nesse momento, segundo Tanuri (2000) mais uma vez, foram feitas muitas críticas às

escolas normais, então, transformadas em simples habilitação de 2º grau, sobretudo, devido ao

fato de ter ocorrido um aligeiramento no currículo, prejudicando, especificamente, as

disciplinas pedagógicas que acarretou tanto o esvaziamento de reflexões sobre a educação,

quanto sua diretividade propedêutica para o nível superior.

Curi (2005) aponta que como o ingresso na Habilitação Específica do Magistério

(HEM) passou a dar-se, via de regra, na terceira série, reduziu-se a carga horária destinada às

disciplinas pedagógicas, esvaziando-se a habilitação em termos de conteúdo pedagógico

consistente.

O modelo de formação de professores das séries iniciais do primeiro grau, construído a

partir da Lei 5692/71, provocou muitas críticas. Trabalho publicado pelo antigo Centro

Nacional de Formação Profissional (CENAFOR) em 1986 (citado por Tanuri 2000, p. 82)

sintetiza bem o teor das críticas que a HEM recebia no período:

Dispersa no meio de tantas outras, a habilitação ao magistério assumiu caráter propedêutico e descaracterizou-se: se antes de 1971 o curso era acusado de hipertrofiar os aspectos instrumentais, em detrimento do conteúdo básico, geral e específico, hoje ele não trata adequadamente qualquer desses aspectos. O magistério continua entre as habilitações fracas em conteúdo científico, ao mesmo tempo que abriu mão de suas antigas exigências em relação aos aspectos instrumentais. A antiga sistemática de formação do magistério primário em escolas normais foi destruída e, em seu lugar, nasceu um padrão em quase tudo incompetente. A habilitação para o magistério não forma nem para aquilo que seria minimamente necessário ao professor da escola elementar: a capacidade de ensinar a ler, escrever e calcular.

De acordo com Pimenta e Gonçalves (1990), após a promulgação da Lei 5.692/71, é

possível identificar algumas características da Habilitação Específica do Magistério que

empobrecem o curso e mostram que os conteúdos ministrados eram inadequados às

necessidades da formação do professor. O curso acabou ficando sem identidade própria, pois

foi apenas uma habilitação a mais no 2º grau. Os autores argumentam também que o curso a

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partir de então ficou ainda mais pobre e esvaziado em conteúdo, pois não respondia nem a

uma formação geral adequada, nem a uma formação pedagógica consistente. Para amargar, a

habilitação era tida como de “segunda categoria”, para onde se dirigem os alunos com menor

compreensão intelectual e científica.

Pimenta e Gonçalves (1990) apontam a falta de aprofundamento das disciplinas de

metodologias das diferentes áreas de ensino, a falta de articulação didática entre o conteúdo

entre as disciplinas do Núcleo Comum e da parte profissionalizante, e nem entre estas.

Destacam ainda a concepção do estágio como atividade meramente burocrática, preocupada

apenas com o preenchimento de fichas. Estes problemas permanecem na organização do

sistema de ensino.

Segundo Fusari (1992, p. 28)

A partir de meados dos anos 70, [...], a formação dos educadores para a Pré-escola e para as quatro primeiras séries da Escola Fundamental entrou em decadência absoluta, na medida em que não conseguiu formar, de maneira competente, profissionais para trabalharem bem com a realidade das escolas públicas em geral.

Durante a década de 1970, mediante a aprovação da Lei nº. 5.692/71, uma série de

outros dispositivos legais foram elaborados com a finalidade de regulamentar a reforma do

sistema de ensino. Nesse contexto, Valnir Chagas, principal mentor dessa reforma, organizou

um conjunto de indicações que visavam transformar o Curso de Pedagogia em curso de

estudos superiores de educação.

Dentre as indicações formuladas, ressalta-se a de nº. 70/1975, que defendeu “formar o

especialista no professor”, deslocando os estudos de formação do pedagogo para a pós-

graduação, aberta aos egressos de qualquer licenciatura. Tal proposição deixou claro que a

ideia do legislador era extinguir o Curso de Pedagogia no âmbito da graduação. Apesar do

Ministério de Educação homologar essa indicação, a mesma foi revogada, prevalecendo até

1996 o Parecer CFE nº. 252/69 como o segundo marco legal do curso.

O final da década de 70 e o início da década de 80 foram particularmente

representativos das inúmeras críticas sofridas pelo curso.

Contrapondo-se àquela formação específica dos cursos específicos, a Pedagogia

propôs a discussão de temas gerais voltados a educação e também não atingiu o objetivo

esperado.

Neste período, receptor de inúmeras críticas, o curso de Pedagogia, principalmente no

que se referia à formação, apontava a fragmentação de forte caráter tecnicista e a ênfase na

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divisão técnica do trabalho na escola. As críticas foram construídas, principalmente, no seio

do movimento pela reformulação do curso, desencadeado na década de 80 por professores,

instituições universitárias e organismos governamentais, que buscavam imprimir, no contexto

desse movimento, as lutas pela democratização da sociedade e contra o regime militar.

De acordo com Brzezinski (1999), a influência do movimento em prol da renovação

do curso de Pedagogia fez-se sentir na defesa das concepções de base comum nacional na

formação dos profissionais da educação e da docência como base de formação do educador.

Essas concepções, em especial a da docência como base de formação, adentraram o interior

de algumas Faculdades de Educação, que experimentaram reformulações curriculares,

suprimindo as habilitações referentes aos especialistas e buscando trabalhar

predominantemente com a formação do professor, incluindo o das séries iniciais do 1º grau,

na época, hoje Ensino Fundamental. Ou então assumiam a formação de pedagogos de forma

integrada, na intenção de favorecer uma ação conjunta desses profissionais na escola.

Nessa direção, com o aval do Conselho Federal de Educação, que passou a aceitar

propostas curriculares alternativas ao disposto no segundo marco legal do curso, muitas

instituições, progressivamente, foram incorporando na década de 80, novas habilitações ao

Curso de Pedagogia, voltadas essencialmente para a docência. O debate crescente, construído

ao longo do movimento de renovação do curso, foi progressivamente firmando a concepção

de identificar a pedagogia com a docência, na perspectiva de que o ensino deve ser a base da

formação de todo educador.

Cabe salientar que desde o início da década de 80, a Associação Nacional pela

Formação de Profissionais da Educação (ANFOPE), conduziu o movimento pela

reformulação dos cursos de formação dos profissionais da educação, levantando a bandeira de

um Curso de Pedagogia baseado na formação de professores para os anos iniciais do ensino

fundamental.

Nesta longa trajetória percorrida pelo movimento de educadores que se aglutinaram

em torno da Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE),

de acordo com Silva (1999), acabou-se por se consolidar a posição de que “a docência

constitui a base da identidade profissional de todo profissional da educação”, ou seja, de que o

curso de Pedagogia deve se encarregar da formação para a docência nos anos iniciais da

escolaridade e da formação unitária do pedagogo. Bem ou mal, essa é a prática que ocorreu e

vem ocorrendo na maioria das instituições de ensino superior do país.

Acrescente-se, finalmente, que experiências relativas à formação, em nível superior,

de professores para o início da escolaridade vêm-se desenvolvendo pontualmente na última

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década, em alguns estados do país, em Institutos Superiores de Formação de Professores.

Embora em escala reduzida, tais experiências devem ser registradas como reflexo das

preocupações pertinentes à melhoria da qualidade da formação e como tendência cada vez

mais destacada de elevar essa formação ao nível superior.

As discussões cresceram reafirmando a necessidade de tomar a ação docente como

fundamento do trabalho pedagógico, em contraposição à perspectiva da identidade do

pedagogo se constituir a partir da habilitação como especialista. Ao Curso de Pedagogia

caberia favorecer ao seu egresso uma sólida formação em que a docência, a gestão, a

supervisão e a orientação educacional fossem assumidas como um todo orgânico e o trabalho

pedagógico fosse considerado o principal articulador curricular.

Todavia, há que se ressaltar que o debate, sempre crescente, nunca foi consensual.

Apesar de prevalecer a concepção que toma a docência como o núcleo forte da pedagogia,

pelo menos duas outras tendências circulam no debate. Em síntese, segundo Kuenzer e

Rodrigues (2007) as três concepções podem ser assim formuladas: pedagogia centrada na

docência (licenciatura - professor); pedagogia centrada na ciência da educação (bacharelado -

pedagogo); e pedagogia centrada nas duas dimensões, formando integradamente o professor e

o pedagogo.

Nesta trajetória da formação de professores das séries iniciais do Ensino Fundamental,

que acontece em dois níveis: Ensino Médio - na Habilitação Específica para o Magistério,

com muitos ranços e pouquíssimos avanços; e superior, no criticado curso de Pedagogia.

Tanuri (2000, p. 85) faz um breve resumo de como se encontrava a formação docente neste

momento histórico.

Apesar de todas as iniciativas registradas nas duas últimas décadas, o esforço ainda se configurava bastante pequeno no sentido de investir de modo consistente e efetivo na qualidade da formação docente. O mais grave é que as falhas na política de formação se faziam acompanhar de ausência de ações governamentais adequadas pertinentes a carreira e a remuneração do professor, o que acabava por se refletir na desvalorização social da profissão docente, com consequências drásticas para a qualidade do ensino em todos os níveis.

O que se pode inferir é que ao longo deste período tecnicista a formação do professor

foi sendo paulatinamente esvaziada do conteúdo (saber), do método (saber fazer), restando

apenas quando muito, uma técnica sem competência.

Em relação a este período, Curi (2005) destaca que foram produzidos documentos

curriculares e materiais instrucionais que provavelmente tiveram influências na formação de

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professores polivalentes. Além destes documentos oficiais, Curi (2005) aponta que na década

de 80 surgem algumas obras relacionadas à formação de professores que tematizam o ensino

de Matemática em alguns capítulos ou em publicações específicas, dentre elas destaca-se:

Didática Especial organizado por Piletti (1983), contendo um capítulo de autoria de Pires que

trata do ensino de Matemática. Segundo Curi (2005) há uma intenção em aprofundar

conceitos matemáticos e também questões metodológicas.

Além deste livro, Curi (2005) aponta outro: Didática da resolução de problemas de

autoria de Luiz Roberto Dante (1987). Na realidade muitos destes livros publicados na época

são utilizados por formadores de professores das séries iniciais até os dias atuais. Estes

autores, assim como os de outras áreas, emergem a partir da década de 1980, quando a

procura pelos cursos de formação continuada aumentam à medida que se reconhece que a

formação inicial não conseguiu produzir o conhecimento esperado sobre a docência.

Segundo Silva (1999), a partir da década de 1980, os cursos de Pedagogia

configuraram-se em duas grandes tendências: a) formação de licenciados especialistas

(administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação

básica, em nível de graduação), habilitados conforme o Parecer CFE 252/69, a saber: docentes

das disciplinas pedagógicas nos cursos de Magistério em nível médio, administradores

escolares, supervisores e orientadores educacionais, e até mesmo inspetores educacionais; b)

formação de licenciados para o exercício do magistério dos Anos Iniciais do Ensino

Fundamental e/ou Educação Infantil, em alguns casos, incluindo a formação para o magistério

das disciplinas pedagógicas do nível médio.

Em relação à Habilitação Específica para o Magistério, cumpre destacar que no

Paraná, a partir de 1983, iniciam-se inúmeros processos de reformulação curricular em todos

os níveis de ensino, inclusive nesta habilitação, que são concluídas entre 1989 e 1990 e

implantadas entre 1990 e 1991. Essas reformulações curriculares estavam pautadas na

tendência histórico-crítica da educação e possibilitou algumas mudanças em nível curricular

retomando a ênfase dada aos conteúdos que tratavam da formação intelectual e não mais

profissional. Esta tendência acreditava que este enfoque formaria um aluno mais crítico.

Segundo documento da Secretaria de Educação (2005), o curso de Magistério no

Estado do Paraná passou pelas reformas educacionais já mencionadas anteriormente, mas teve

suas particularidades definidas, sobretudo a partir de 1991, primeiro ano da implantação do

currículo, elaboradas nos últimos anos da década de 80.

No período de implantação da proposta de 1992 a 1996, várias experiências educativas

bem-sucedidas foram desenvolvidas nos cursos de Magistério das escolas estaduais, como

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também foram constatadas dificuldades, principalmente a permanência ainda de práticas

tradicionais de ensino e avaliação.

Segundo Kuenzer e Rodrigues (2007), o período compreendido entre 1990 e 2000,

principalmente em sua segunda metade, trouxe mudanças significativas nos setores societários

e produtivos, decorrentes da revolução técnico-científica, do processo de globalização da

economia, do adentramento do neoliberalismo e da consequente instalação do Estado mínimo.

Observa-se, então, em 1995, uma mudança radical nos rumos da Educação do Paraná,

que acatou o que as tendências em nível internacional e nacional indicavam no sentido de

adequação da educação ao capitalismo de acumulação flexível. Assim, em outubro de 1996, a

SEED-PR ordena o fechamento das matrículas de todos os cursos profissionalizantes,

inclusive do Magistério.

Em outubro de 1996, adiantando-se às mudanças que seriam provocadas pela

aprovação da atual LDB, promulgação em 20/12/1996, o Estado do Paraná adiantava-se à

legislação federal. As matrículas nos cursos de Magistério já em 1996 foram suspensas;

contudo nem todas as escolas que ofereciam esta habilitação foram fechadas porque algumas

escolas não obedeceram a essa orientação e, com base em amparo legal (Lei Federal),

mantiveram os cursos funcionando.

Segundo o documento da Secretaria de Educação do Paraná (2005), os professores

coordenadores dos cursos de Magistério tiveram um papel de destaque nessa luta, porque

enfrentaram um aparato discursivo e persuasivo muito forte de defesa das reformas como

mudanças boas e modernas: ameaças de não serem mais financiadas ou modernizadas.

Mesmo assim, quatorze escolas mantiveram seus cursos. De acordo com o referido

documento, foram oito anos de pressão constante para que tudo desse errado nestas escolas, o

que não ocorreu. Ao contrário, essas escolas ganharam respeitabilidade e atualmente

contribuem na elaboração da proposta de retomar a oferta dos cursos de Magistério na rede

pública estadual.

A extinção dos cursos de Magistério da rede pública de ensino, que ocorreu não

somente no Estado do Paraná, mas no país inteiro, fez com que as escolas privadas

assumissem cada vez mais tais cursos de formação docente. Assim, a formação continuada

oferecida por época da implementação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s),

principalmente nas grandes capitais e cidades de médio porte, era realizada pelas Instituições

públicas e particulares.

A partir de então se amplia em todo o país o debate sobre a formação de professores.

Assim, conforme aponta Tanuri (2000), num momento em que a escola normal é posta em

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nível superior, em que se discute o locus ideal de formação de professores questionando-se o

projeto pedagógico bem como os saberes e conhecimentos que estão envolvidos nessa

formação é imprescindível perceber as nuances históricas desta trajetória.

Desde a década de 1990, até aos dias atuais as discussões em torno da formação

continuam intensas e polêmicas, principalmente no tocante à formação de professores, tanto

em nível médio como em nível superior. E é isto que será analisado a partir de agora.

1.2 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CENÁRIO DA LDB 9394/96

O período compreendido entre 1990 e 2000, principalmente a partir de 1995, trouxe

mudanças significativas ao setor educacional tendo como embasamento o neoliberalismo e a

consequente instalação do Estado mínimo. Passa-se a criticar o Estado máximo e paternalista,

com o intuito de implementar a reestruturação capitalista, através do enxugamento da

máquina estatal e da transferência à esfera privada da administração e produção de bens e

serviços, entre eles o da educação e da formação de professores.

Dentro deste contexto, ocorre o processo de construção e tramitação da nova Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A tramitação da atual LBD no Congresso Nacional

durou aproximadamente oito anos. Em síntese, duas propostas foram apresentadas: uma na

Câmara dos Deputados, defendida pelo Deputado Federal Florestan Fernandes, que

contemplava mais os anseios da sociedade civil e dos educadores tendo como base as

discussões que estavam sendo gestadas desde a década de 1980 nos fóruns em defesa da

escola pública, nos sindicatos e associações; e outra na Câmara do Senado, defendida pelo

Senador Darci Ribeiro, mais sintonizada com os interesses do Governo Federal e dos

organismos financeiros internacionais. Assim, eram duas propostas diferentes para o Brasil e

para a educação brasileira. A proposta do senado ganhou a votação.

Em meados de 1988, sob influência da aprovação da nova constituição, já corria no

Congresso Nacional o processo de tramitação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDB). No entanto, o texto seria aprovado na Câmara dos Deputados somente em

13 de setembro de 1993, depois de receber 1.263 emendas. O projeto original, modificado em

longas negociações na correlação das forças políticas e populares, foi para a avaliação do

Senado reduzido, contendo 298 artigos. O relator no Senado Federal dá seu parecer; a

Comissão de Educação do Senado aprovou o então Projeto de Lei 101/93 no dia 20 de

novembro de 1994.

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Entretanto, uma ação atropelou o processo: o senador Darcy Ribeiro apresenta um

substitutivo ao projeto, alegando inconstitucionalidade de vários artigos. Contando com uma

espécie de consenso entre os senadores, o substitutivo Darcy Ribeiro, que continha apenas 91

artigos, é colocado em evidência, considerado mais enxuto e não detalhista. Assim, no dia 14

de fevereiro de 1996 é aprovado na Câmara do Senado o Parecer nº 30/96, de Darcy Ribeiro.

Depois de quase dez anos de discussão, o projeto de Darcy Ribeiro acabou vencendo

com algumas emendas, concessões que não são relevantes para a centralidade de um projeto

da LDB. Segundo avaliação de Saviani (1991) o substitutivo Darcy Ribeiro representava um

projeto de educação nos moldes das políticas neoliberais que foi percebido nos dez anos pós

LDB, com a racionalidade da reforma do estado e com a nova concepção de república em que

o capital mercantil, o lucro, a mais valia, a coisificação do ser humano se destacam.

Segundo Brzezinski (2005), especialmente, no campo educacional, a promulgação da

Lei 9394/96 (LDBEN), resultado da versão conservadora que foi aprovada no Senado,

determinou um pool de reformas em todos os níveis e modalidades de ensino que, em síntese,

objetivavam adequar a educação ao novo contexto sócio-político e econômico.

Assim, no contexto do neoliberalismo é promulgada a segunda Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional, nº. 9.394/96, que redefine o sistema educativo brasileiro.

Com a aprovação da LDB, Lei nº 9.394, em dezembro de 1996, desencadeou-se ainda

mais ações do Ministério da Educação (MEC) e do Conselho Nacional de Educação (CNE),

no sentido de redefinir a formação do profissional do magistério, segundo as novas

possibilidades colocadas pelo texto legal.

A reforma para a formação de professores inscreveu-se nas reformas educacionais. A

partir da promulgação da LDB 9394/96 um número nunca antes produzido de leis,

regulamentações, decretos, resoluções e pareceres foram definindo, formatando,

disciplinando, controlando e desonerando o Estado da formação de professores, acentuando

gravemente a fragilidade desta formação agora entregue, em sua maioria, a iniciativa do setor

privado da educação.

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1.3 QUESTÕES REFERENTES À FORMAÇÃO DO PROFESSOR NAS SÉRIES INICIAIS

Sobre a atual LDB há muito que discutir e analisar, pois ela trouxe, em seu texto legal,

várias modificações que afetaram todas as modalidades de ensino13, no entanto, serão

analisados, aqueles capítulos que tratam da formação de professores para atuar na Educação

Básica nas séries iniciais do Ensino Fundamental.

Na atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a formação de professores

para a educação básica é assim definida em seu artigo 62:

A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, na universidade e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade Normal. (BRASIL. Ministério da Educação. Lei 9.394, de 24 de dezembro de 1996).

Observa-se neste artigo que apesar de estabelecer como norma a formação em nível

superior, a Lei admite como formação mínima a oferecida em nível médio, nos cursos

normais, o que faz supor, dada a realidade existente, que tais cursos deveriam subsistir ainda

por muito tempo, embora fique estipulado nas disposições transitórias um prazo de dez anos

para essa formação. O que de fato não aconteceu, e este prazo foi extinto pelo novo governo

na Resolução do CNE/CEB n° 01/2003 de 20/08/2003, dado que muitos professores ainda não

tinham conseguido buscar uma formação superior no prazo estabelecido pela Lei.

Além disso, analisando a LDB 9394/96 em seu art. 62, acredita-se que ela flexibiliza a

formação em nível médio e superior ao definir o patamar mínimo para o exercício da docência

das séries iniciais de escolarização: Médio Normal e o patamar desejável e ideal: Ensino

Superior. Interpretando desta forma, a Lei não deixa margem para dúvidas, como bem reflete

o Relator do Parecer n° 03/2003 de 11 de março de 2003 do CNE/CEB quando esclarece:

Aqueles que frequentam um curso Normal, de nível médio, praticam um contrato válido com a instituição que o ministra. Atendidas as disposições legais pertinentes, a conclusão desse curso conduz a diploma que, por ser fruto de um ato jurídico perfeito, gera direito. No caso, o direito gerado é a prerrogativa do exercício profissional, na educação infantil e nos anos iniciais de escolarização. Os professores que lograram obter formação de nível médio, na modalidade Normal incorporam a seu patrimônio individual a prerrogativa do magistério. Nossa Constituição Federal, a Lei Maior de nosso país, diz que o ato jurídico perfeito gera direito adquirido, e que a lei não pode prejudicá-lo.

13 Para saber mais ler: DEMO, Pedro. A nova LDB: ranços e avanços. 8.ed. Campinas: Papirus, 1999.

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(BRASIL. Ministério da Educação. Parecer CNE/CEB n° 3, de 11.03.2003, p. 2).

Nesta lógica de raciocínio, há documentos emitidos pelo governo federal que ratificam

a continuidade da oferta do Curso Médio Normal, entre eles podem ser citados:

a) Resolução CNE/CEB n°03, de 8 de outubro de 1997, que fixa Diretrizes para os

novos Planos de Carreira e de Remuneração do Magistério dos Estados, Distrito Federal e dos

Municípios, conforme se observa no Art. 4 inciso I;

b) Lei n° 10.172 - Plano Nacional de Educação, item 10.3, meta 7 e 10;

c) Resolução do CNE/CEB n° 01/2003 de 20/08/2003, referida anteriormente, que

dispõe sobre os direitos dos profissionais da educação com formação na modalidade médio

normal, estabelecendo que mesmo depois de 2007, está garantido o direito constitucional de

acesso e permanência dos professores diplomados por esta modalidade à carreira do

magistério, pondo fim a polêmica sobre a exigência exclusiva de se formar o professor no

ensino superior, entendimento este que não está contemplado na LDB. A referida resolução

destaca que:

As pessoas que foram legalmente habilitadas para o exercício do magistério por força de ato jurídico perfeito têm assegurado o reconhecimento de seu título profissional por toda a vida, tendo incorporado irreversivelmente essa prerrogativa a seu patrimônio pessoal, não podendo ser impedidos de exercer a profissão docente na esfera da habilitação específica. (BRASIL. Ministério da Educação Resolução do CNE/CEB n° 01, de 20.08.2003, p. 7).

Apesar disto, acredita-se que a Lei de certa forma contempla a formação em nível

superior, entretanto, admite uma formação com nível inferior bem como possibilita que a

iniciativa privada assuma em maior escala o espaço referente à formação de professores de

Educação Infantil e das séries iniciais do Ensino Fundamental. A Lei 9394/96 cria um novo

estabelecimento de ensino, os Institutos Superiores de Educação (ISE) que, paralelamente as

universidade, incumbem-se da formação de professores. É possível perceber que parte

significativa dos professores que cursaram o normal médio deu sequência a seus estudos,

caracterizando-se atualmente como um público-alvo e de interesse do Ensino a Distância.

A partir de então, podemos inferir, embasados em Freitas (2002) que especialmente na

denominada Década da Educação14 (1997–2007), assistiu-se aos professores e aos futuros

professores frequentando cursos de qualidade duvidosa e em grande parte pagos por eles.

Freitas (2002, p. 148) faz uma análise deste percurso:

14 Ver Plano Nacional da Educação.

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Todo esse processo tem se configurado como um precário processo de certificação e/ou diplomação e não qualificação e formação docente para o aprimoramento das condições do exercício profissional. A formação em serviço da imensa maioria dos professores passa a ser vista como lucrativo negócio nas mãos do setor privado e não como política pública de responsabilidade do Estado e dos poderes públicos. O ‘aligeiramento’ da formação inicial dos professores em exercício começa a ser operacionalizado, na medida em que tal formação passa a ser autorizada fora dos cursos de licenciatura plena como até então ocorria e como estabelece o art. 62 da LDB. Vivemos, portanto, ao contrário do que prega o discurso oficial, um processo de ‘desprofissionalização’ do magistério.

Ainda segundo Freitas (2002), o objetivo primordial desta política, estabelecida pela

atual LDB, é o de retirar das universidades a responsabilidade pela formação de professores,

dado que estas vêm sendo alijadas intencionalmente de todas as políticas relativas à formação

de professores, tanto inicial como continuada.

Constata-se assim, que a LDBEN 9394/96, ao deliberar quanto a formação de

professores de educação infantil e das séries iniciais afirmando que esta deveria ser realizada

nos Institutos Superiores de Educação ISEs (Art.62o e 63o) e em Cursos Normais Superiores,

atende prontamente aos interesses privatistas.

A regulamentação dos Institutos Superiores de Educação como espaço de formação

dos profissionais da educação em relação ao seu significado político é entendida por Kuenzer

como:

Formação aligeirada e de baixo custo, a concentrar formação específica e formação pedagógica em espaço não-universitário, que pode terceirizar a realização de cursos ou a força de trabalho, ou até mesmo ser virtual. Assim, o governo responde à demanda de formação em ‘nível superior’ de um grande contingente de professores para cobrir as necessidades de universalização do Ensino Fundamental e de expandir, na medida dos recursos disponíveis, uma versão secundarista e propedêutica, portanto barateada, de Ensino Médio. (KUENZER, 1999, p. 181).

Tanuri (2000) afirma também que a regulamentação dos Institutos Superiores de

Educação, a partir da Resolução do Conselho Nacional de Educação, nº1 de 30 de setembro

de 1999, tem trazido incertezas acerca de suas consequências para a qualificação de docentes,

pois se teme um nivelamento por baixo em face da ênfase em uma formação eminentemente

prática, desvinculada da possibilidade de pesquisa, e devido aos padrões de qualificação

docente inferiores àqueles exigidos nas universidades.

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Destaca-se, que no início da vigência da atual LDBEN, formar o professor no ensino

superior era um consenso nacional, mas a possibilidade de formar fora da ambiência

universitária e dos Cursos de Pedagogia tem se constituído em motivos de grandes

divergências entre os educadores e as instituições formadoras.

Ainda em relação ao que dispôs o artigo 62 e 63 da atual LDBEN, Freitas (2002)

menciona que a criação de novos cursos e instituições, como os Institutos Superiores de

Educação e o Curso Normal Superior, foi uma estratégia adotada pelo governo brasileiro,

como sendo a segunda etapa da reforma no campo da formação de professores com intuito de

cumprir as exigências dos organismos internacionais.

O fato é que os Institutos Superiores de Educação (ISE) e o Curso Normal Superior

existem, estão funcionando e ganhando espaço notório em diversas regiões do País,

constituindo um evidente caso de superposição com os cursos de Pedagogia das universidades

que formam professores da Educação infantil e das Séries Iniciais do Ensino Fundamental.

Todos estes embates referentes a formação de professores pós LDBEN 9394/96, levam

a considerar que, ao invés de o Governo Federal investir em programas já existentes, procura

superar as deficiências apostando na criação de uma outra instância de formação de

professores, esvaziando significativamente as atividades de formação docente desenvolvidas

nas universidades.

Muitos documentos normativos foram elaborados, nesse período, no que tange à

formação docente, dentre os quais destacam-se: a Resolução MEC 02/97 (que resgata os

antigos Esquemas I e II, responsáveis pela formação de professores para a educação

profissional, no período da Ditadura), que, reeditada em nova versão, permite a

complementação pedagógica para qualquer graduado/bacharel que queira lecionar para as

séries iniciais do ensino fundamental15; a regulamentação dos cursos sequenciais, que

diplomam em nível superior, egressos de “licenciaturas curtas” de 1600 horas, concorrendo

com os cursos de graduação e não proporcionando a qualidade de formação para o futuro

docente. Por sua vez, o Decreto nº 2.306/97 alterou a estruturação e a organização do ensino

superior, estabelecendo diversos formatos: Universidades, Centros Universitários, Faculdades

Integradas, Faculdades e Institutos Superiores, o que interferia sobremaneira no locus da

formação docente.

Para essa discussão interessa apontar que por força de um decreto, determinou-se que

os cursos de Pedagogia deveriam abrir mão da formação de professores das séries iniciais,

15 Este decreto foi revogado pelo Decreto nº 3.860, de 09.07.2001.

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tornando-a atribuição exclusiva do Curso Normal Superior (parágrafo 2o. do artigo 3 do

decreto presidencial n o 3.276 de 6 de dezembro de 1999).

Contudo, tal decreto teve resposta contrária imediata, por meio de um documento

denúncia16, assinado por várias entidades que historicamente representam docentes do ensino

superior e discutem as políticas educacionais no país e também a formação de docentes em

todos os níveis de escolaridade. Dentre outros questionamentos, o documento aponta para as

graves consequências de sua manutenção:

Remete a formação de professores exclusivamente para cursos aligeirados, de cunho estritamente técnico, segregada da formação geral dos demais profissionais da educação, cria um mercado cativo para as instituições privadas de ensino com a possibilidade de financiamento público, inclusive com a utilização de verbas do Fundef; desperdiça uma capacidade instalada, com recursos humanos e materiais financiados ao longo do tempo pelo poder público, como são os cursos de Pedagogia nas universidades. (ANFOPE et al, 1999, p. 340).

As associações e entidades representativas dos docentes, depois de muita pressão,

conseguiram que o Governo aprovasse em 7 de agosto de 2000 o Decreto nº. 3.554, que

substituiu do parágrafo 2, artigo 3, o termo “exclusivamente” por “preferencialmente”,

permitindo às universidades continuar formando docentes, em consonância com a

Constituição Nacional, que confere autonomia a essas instituições.

Nota-se que, se por um lado, a indicação de qualificação superior para os docentes das

séries iniciais representou um avanço, por outro, o locus preferencial da ocorrência dessa

formação é o nível mais baixo da hierarquia do ensino: os Institutos Superiores de Educação

e, neles, o Curso Normal Superior.

Pelo exposto pode-se concluir que a visão de que a formação de professores não deve

ser prioridade, especialmente das Universidades, é compartilhada tanto pelas autoridades que

formulam a política educacional quanto pelos organismos internacionais que a “financiam”,

por outro lado, conclui-se também que, em nome da racionalização econômica, coloca-se

como horizonte o aligeiramento, pelo rebaixamento das exigências e das condições de

formação já abordadas. O Curso Normal Superior, a ser ofertado nos Institutos Superiores de

Educação, caracteriza-se principalmente por um percurso curricular menos denso, mais

específico, mais prático e de menor duração.

16 Este documento foi publicado por ocasião da realização do Fórum em Defesa da Formação de Professores, em 8/12/99.

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Essas medidas de adequação dos cursos de formação às orientações dos organismos

internacionais buscam, em curto prazo, resultados no que diz respeito ao número de

certificações, notadamente, sem considerar a qualidade na formação.

Além disso, observa-se que os artigos 62, 63, 64 e o artigo 67 da atual LDB afetam

diretamente o curso de Pedagogia, o qual é o foco da pesquisa. Tais artigos afetam o curso,

pois contrariaram frontalmente a forma como este estava sendo concebido pelas instituições

de ensino superior e pelas entidades envolvidas no movimento de sua redefinição, quando da

implementação do Projeto Pedagógico, trazendo à tona mais uma vez a recorrente questão em

torno da identidade do curso, apontada por Silva (1999).

Por isso, desde o estabelecimento das diretrizes e bases da educação nacional por meio

da Lei 9.394, o curso de Pedagogia, responsável pela formação acadêmico-científica do

campo educacional na graduação, tornou-se um dos temas mais polêmicos dentre aqueles a

serem regulamentados pela legislação complementar.

Analisando o artigo 64 da LDBEN 9394/96, percebe-se que este acaba mantendo a

formação tradicional dos especialistas feita no curso de Pedagogia dando margem para que

esta formação seja feita em nível de pós-graduação. Esse artigo estabelece que:

A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. (BRASIL. Ministério da Educação. Lei 9.394, de 24 de dezembro de 1996).

É importante ressaltar que por Pós-Graduação entende-se os cursos de Especialização

também. Em primeiro lugar, como se pode verificar, a LDBEN 9394/96 admite que o curso

de Pedagogia continue formando profissionais para administração, planejamento, inspeção,

supervisão e orientação educacional para a educação básica, não mais em forma de

habilitações, mas agora podendo formar num único curso de Pedagogia os chamados gestores

educacionais.

Entretanto, a Lei 9394/96 admite também que esta formação seja feita em nível de

pós-graduação por qualquer outro profissional da educação que assim o queira, deixando

assim, de certa forma, o curso de Pedagogia em total desvantagem no oferecimento destes

estudos. Pois, porque cursar quatro anos para obter uma qualificação de gestor educacional se

pode fazer outro curso e obter a mesma qualificação em um nível mais elevado na pós-

graduação?

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Em segundo lugar, o que é observado, de acordo com Silva (1999) é que as novas

figuras institucionais (Instituto Superior de Educação e o curso Normal Superior) destinadas à

formação dos docentes para a educação básica, bem como a fixação de duas instâncias

alternativas à formação de profissionais da educação para administração, planejamento,

supervisão e orientação educacional para a educação básica (graduação em Pedagogia ou o

nível de pós-graduação), estabelecidas principalmente na atual LDB compõem uma situação

que pode gerar, gradativamente, a extinção do curso de pedagogia no Brasil. Sendo que tal

possibilidade de um efetivo esvaziamento do curso, trouxe como consequência uma vigorosa

reação do movimento dos educadores.

O quadro que levou a reação é complexo. As novas determinações legais não só

extinguem diversas funções que cabiam, historicamente, ao curso de Pedagogia, mas,

principalmente, colocam-se contra a multidimensionalidade intrínseca a sua natureza. Na

extinção das funções deste curso, inclui-se a preparação pedagógica do magistério de nível

médio, que se encontra em processo de extinção, dado que, nas suas disposições transitórias, a

nova lei estabelece um prazo para a admissão única e exclusiva de docentes formados em

ensino superior. Também a formação dos especialistas em educação (profissionais da

educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional)

não se apresenta como alternativa duradoura para o curso, uma vez que tal formação tende a

ser cada vez mais adotada em nível de pós-graduação.

Esta é apenas uma das incoerências da lei, pois num resgate histórico sobre o

surgimento da “base comum nacional”, que aborda o artigo 64, ve-se que a ideia veio

justamente para contrapor a formação do pedagogo como especialista sem habilitação docente

e também para criticar a ideia de um currículo mínimo. De acordo com o documento final do

Encontro Nacional dos Cursos de Formação de Professores.

A base comum nacional dos Cursos de Formação de Educadores não deve ser concebida como um currículo mínimo ou um elenco de disciplinas, e sim como uma concepção básica de formação do educador e a definição de um corpo de conhecimento fundamental... Todas as licenciaturas (pedagogia e demais licenciaturas) deverão ter uma base comum: são todos professores. A docência constitui a base da identidade profissional de todo educador. [grifos nossos] (Documento Final. XII Encontro Nacional. ANFOPE, 2004, p. 10)

Entretanto o que se pode observar no cenário pós LDBEN conforme aponta Kuenzer e

Rodrigues (2007) foi: cada curso fez sua mudança sem nenhuma uniformidade fazendo cair

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por terra o que demanda o artigo 64 quando chama a atenção para uma base comum nacional

de formação.

Nota-se, assim, que apesar de há muitos anos se discutir a formação de professores e

da necessidade de reconhecer a identidade destes como importantes no processo formativo, é

possível dizer que não houve avanços. Se consider que inovar é modificar, o que foi

modificado de fato até então em relação à formação de professores e pedagogos?

Desta forma é preciso reconhecer o momento histórico pelo qual se está passando,

caracterizado não por mudanças, mas pela crise da formação docente que, como se viu, é fruto

de uma trajetória intensa que deixou marcas profundas no sistema educacional. Marcas que se

devem reconhecer, ainda não foram resolvidas.

1.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO DOS PEDAGOGOS PARA AS SÉRIES

INICIAIS

Procura-se expor aqui de modo sucinto, alguns pontos principais destas discussões e

regulamentações legais que vem acontecendo nos últimos anos no tocante à formação de

pedagogos, os quais são os sujeitos da pesquisa.

Ao inserir nesta relevante e atual discussão, da-se conta de que as análises e propostas

de formação do pedagogo que são debatidas no contexto atual encontram-se fundamentadas

em uma polarização entre duas posições antagônicas: uma que se pauta na defesa de um

percurso curricular definido pela docência como base de formação; e a outra que defende um

currículo centrado nas ciências da educação, com ênfase nas teorias do conhecimento.

A primeira é defendida pela Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da

Educação (ANFOPE), há mais de duas décadas; a segunda é defendida por alguns pedagogos

que se dedicam à causa da pedagogia em nosso país tais como: Libâneo e Pimenta. E, ainda,

há uma terceira posição, adotada pelas políticas educacionais governamentais, cuja ênfase está

na dimensão prática da formação.

Todavia, a polêmica em torno do curso de Pedagogia não é nova, como afirmado

anteriormente ao acompanhar a sua história; contudo, ela foi acirrada com as propostas de

mudanças nas políticas atuais para a formação de professores e pedagogos como se verá a

seguir.

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Ao analisar o documento publicado pela ANFOPE17 verifica-se que se defende para o

Pedagogo o exercício profissional nas séries iniciais, como já foi visto que ocorreu em

décadas passadas na história da formação de professores. Logo, para os defensores desta

proposta, se é permitido à Universidade oferecer o Curso de Pedagogia que forma, no

entendimento atual, os gestores educacionais (antigos coordenadores, diretores, supervisores e

orientadores de professores de séries iniciais e educação infantil), pode também e deve

habilitá-los para a docência nos mesmos níveis educacionais, descaracterizando-o como um

curso de Bacharelado.

De acordo com Libâneo (2001), não defensor desta proposta, há uma tradição na

história da formação de professores no Brasil segundo a qual pedagogo é alguém que ensina

algo. Essa tradição teria se firmado no início da década de 30, com a influência tácita dos

chamados Pioneiros da Educação Nova18, tomando o entendimento de que o curso de

Pedagogia seria um curso de formação de professores para as séries iniciais da escolarização

obrigatória. Como aponta Libâneo (2001, p. 6), o raciocínio é simples:

[...] educação e ensino dizem respeito a crianças, inclusive porque ‘peda’, do termo pedagogia, é o grego paidós, que significa criança. Ora, ensino se dirige a crianças, então quem ensina para crianças é pedagogo. E para ser pedagogo, ensinador de crianças, é preciso fazer um curso de pedagogia. Foi essa a ideia que permaneceu e continua viva na experiência brasileira de formação de professores.

Libâneo (2001), argumenta que apesar de esta ser uma ideia defendida pela maioria,

não foi isso que aconteceu ou que vem acontecendo, se o fosse quem sabe não se teria

resolvido inúmeros problemas em relação à formação de professores das séries iniciais.

Como foi visto na história da formação de professores, desde a década de 1980, os

Cursos de Pedagogia incorporaram duas grandes tendências:

a) a formação de licenciados especialistas, habilitados nos moldes do Parecer CFE

252/69, a saber: docentes das disciplinas pedagógicas nos cursos de Magistério em nível

médio, administradores escolares, supervisores e orientadores educacionais;

b) a formação de licenciados para o exercício do magistério dos Anos Iniciais do

Ensino Fundamental e/ou Educação Infantil e, em alguns casos, incluindo a formação para o

magistério das disciplinas pedagógicas do nível médio.

17 Proposta da ANFOPE para a minuta de resolução sobre diretrizes da Pedagogia. 2005. 18 Pioneiros da Educação Nova: Florestan Fernandes, Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo e outros intelectuais da época.

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Esta última tendência, configurada em novas habilitações profissionais, passou a ser

dominante na década de 1990 ainda que conviva, em muitos casos, com o antigo modelo.

Este dualismo fica ainda presente e consagrado pelas disposições atuais dos Decretos

3.276/99 e 3.554/2000, da Resolução nº01/99 do CNE/CP, do Parecer CNE/CES, nº133/2001,

das Resoluções CNE/CP nº1/2002 e nº.2/2002, que instituem, respectivamente as Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica em Nível

Superior, Curso de Licenciatura de Graduação Plena, bem como nas Diretrizes Curriculares

Nacionais de Pedagogia, consubstanciadas na Resolução CNE/CP nº 01, de 15 de maio de

2006.

É necessário destacar que apesar de todas as discussões, tendências e divergências

acirradas sobre a identidade da pedagogia e em relação à profissão do pedagogo e seu campo

de atuação, segundo Brzezinski (1996) a identidade do pedagogo precisa ser definida, uma

vez que desde a sua origem o objetivo e a finalidade do curso de Pedagogia mantêm-se

ambíguos, polêmicos e controversos.

Moreira e Silva (2002) afirmam que, sem clareza acerca da identidade do profissional,

não se faz diretriz coerente, não se tem grade curricular bem definida, logo, não se alcança a

base comum nacional, que está posta no artigo 64 da LDBEN, pois para que assim seja, é

preciso ter um ponto em comum para dele saírem propostas específicas para os campos

isolados.

Além disso, é importante destacar que, após a Lei 9394/96 que determina a criação de

Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de graduação e a formação docente

em nível Superior, todos os cursos de graduação tiveram suas Diretrizes Curriculares

Nacionais (DCN’s) definidas, com exceção do curso de Pedagogia que, apesar de algumas

tentativas anteriores junto ao Conselho Nacional de Educação (CNE), só em maio de 2006

teve uma Resolução aprovada.

Esses pareceres expressavam a tentativa de incorporação, por parte do CNE, das mais

diversas pressões recebidas. Após tantas discussões presentes nos inúmeros pareceres

enviados, somente em dezembro do mesmo ano chegou-se ao Parecer CNE/CP nº 5/2005 para

vias de aprovação do Ministério da Educação (MEC). Esse parecer representava concessões

entre CNE e alguns projetos em disputa e de certa forma antagônicos, pelo curso, conforme

visto anteriormente.

Por irregularidades legais esse parecer teve que retornar ao CNE para reexame e

concordância de seu artigo 14, que trata da formação do especialista em educação no curso de

Pedagogia, com a legislação superior LDB 9394/96, no seu artigo 64.

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O artigo 14 do Parecer CNE/CP 05/2005 (Brasil, 2005, p. 24) diz que a formação dos

especialistas (Orientação e Supervisão Educacional, entre outras) em habilitações entraria em

regime de extinção na graduação e passaria a ocorrer na pós-graduação lato sensu, designadas

para os devidos fins e aberta para todos os licenciados. Já a LDB 9394/96 artigo 64, diz que a

formação desses especialistas estava garantida no curso de graduação em Pedagogia ou na

pós-graduação lato sensu.

Com as devidas adequações, em fevereiro de 2006 o CNE envia ao MEC o Parecer

CNE/CP nº 3/2006, que resulta, meses depois, na Resolução CNE/CP 1/2006, que Institui

Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação (DCNP) em Pedagogia,

licenciatura.

Estas diretrizes expressam, de acordo com Triches (2007), uma correlação de forças

entre projetos distintos e antagônicos para a reformulação do curso de Pedagogia. Como

observado ao longo da história do curso identifica-se como as principais posições defendidas

para as DCNP (2006): ANFOPE e demais adeptos; um grupo auto-titulado de Manifesto dos

Educadores Brasileiros e o grupo dos especialistas. Em linhas gerais, foram descritos

resumidamente, os projetos defendidos por esses grupos.

A ANFOPE e seus apoiadores entendem que a Pedagogia trata do campo teórico

investigativo da educação, do ensino e do trabalho pedagógico que se realiza na práxis social.

Defendem o que denominam de pedagogia plena, ao mesmo tempo licenciatura e

bacharelado, ou seja, o curso deveria formar o docente e o especialista, o segundo sobre a

base do primeiro. A base de formação, portanto, seria a docência, o locus as Universidades e

Faculdades de Educação e os três grandes eixos da formação, segundo Triches (2007) são a

docência, a gestão e a produção de conhecimento. Com base nessa perspectiva, o campo de

atuação seria a docência nas mais diversas modalidades19 de ensino em espaços escolares e

não-escolares, bem como na gestão educacional e na produção e difusão do conhecimento do

campo educacional.

O grupo do Manifesto dos Educadores Brasileiros expressa a posição de pelo menos

150 educadores que o assinaram. Entre os signatários estão intelectuais, pesquisadores da

área, educadores e estudantes do país que se posicionaram contra as DCNP. Pode-se indicar

como líderes do Manifesto alguns educadores de renome como José Carlos Libâneo, Selma

Garrido Pimenta, Maria Amélia Santoro Franco, entre outros. O grupo do Manifesto dos

19 Professores nos níveis de Educação Infantil (EI), Anos ou Séries Iniciais do Ensino Fundamental (AIEF, SIEF), Ensino Médio e Profissionalizante, Gestores educacionais dos mesmos níveis de ensino, Gestores educacionais de empresas, hospitais e outras organizações que requeiram a presença de um gestor educacional (pedagogo).

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Educadores Brasileiros compreende o curso de Pedagogia como campo científico e

investigativo, constituindo-se prioritariamente como uma ciência e, somente por isso, como

um curso. Por tal motivo vê o curso como bacharelado, no qual deve ser garantida a pesquisa.

O locus do curso seriam as Universidades, Faculdades, Centros e Departamentos de

Educação. Entre suas atribuições ganha realce a formação do gestor. Alegam não ser possível

formar num só curso bons professores e bons especialistas e, portanto, a formação docente

para a Educação Infantil (EI) e Séries Iniciais do Ensino Fundamental (SIEF) deveria ocorrer

em cursos específicos de licenciaturas podendo partilhar o mesmo espaço do curso em

Pedagogia.

Segundo Triches (2007), o grupo dos especialistas, organizados na Federação

Nacional de Entidades Representativas de Supervisores Educacionais (FENERSE), formada

por entidades representativas como associações e Sindicatos da Supervisão Escolar, defendem

a formação dos Profissionais de Educação nos termos do art. 64 da LDB 9394/96, ou seja, os

denominados especialistas do ensino deveriam ser formados na graduação em Pedagogia.

Criticando a redução do curso à formação do professor, entendem que o pedagogo ficaria

desconfigurado, sem identidade profissional, com sobrecarga de funções e sem o devido

reconhecimento. Para a FENERSE, o curso de Pedagogia seria espaço de formação docente e

do especialista. A área de atuação é a mesma defendida pela ANFOPE, com exceção da

gestão, pois neste caso permanece o especialista e a divisão hierárquica do trabalho dentro dos

estabelecimentos de ensino.

Fazendo um paralelo entre as diferentes propostas apresentadas e a Resolução

CNE/CP nº. 1/2006, constata-se que esta incorpora grandemente os princípios da ANFOPE,

com exceção da compreensão de que o curso deveria constituir-se também como bacharelado.

Os especialistas, depois de muita pressão, conseguiram inserir o artigo 14 no Parecer CNE/CP

nº 3/2006, que contempla a principal bandeira do grupo, isto é, a de que os especialistas,

administradores, supervisores, orientadores e inspetores, deverão ser formados no Curso de

Pedagogia. Destaca-se que isso não se deu por compreensão dos argumentos que levaram a

sua inclusão e, sim, por questões legais.

A contribuição menos aceita foi a do Grupo do Manifesto dos Educadores Brasileiros.

Este grupo propunha dois cursos: um de licenciatura para a formação docente para séries

iniciais do Ensino Fundamental e Educação Infantil e um de bacharelado para a formação do

Pedagogo. No segundo se localizariam explicitamente a formação do gestor e a produção de

conhecimento. Esta proposição não foi contemplada e a Resolução reforça a tarefa do curso

de formar preliminarmente o professor.

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Conforme explicitado, o curso passa a ser exclusivamente uma licenciatura, que

formará docentes para atuarem na educação infantil (EI) e anos iniciais do ensino fundamental

(AIEF). Essas duas modalidades não se farão por opção das instituições de ensino por uma ou

outra e, sim, para as duas. Além dessas, o curso também formará docentes para o Ensino

Médio na modalidade Normal (EMN) (antigo curso de magistério) e para outros cursos de

Educação Profissional (EP) voltados para a educação. Ou seja, de início o formado neste

curso será docente (entendido como sinônimo de professor) para quatro modalidades

diferentes.

Se fosse parar por aqui a compreensão das DCNP (2006) não seria complicada, porém

ainda no artigo 2º, no § 1º, essa docência deixa de ser prática docente de sala de aula e assume

outra dimensão mais abrangente:

Compreende-se a docência como ação educativa e processo pedagógico metódico e intencional, construído em relações sociais, étnico-raciais e produtivas, as quais influenciam conceitos, princípios e objetivos da Pedagogia, desenvolvendo-se na articulação entre conhecimentos científicos e culturais, valores éticos e estéticos inerentes a processos de aprendizagem, de socialização e de construção do conhecimento, no âmbito do diálogo entre diferentes visões de mundo. (p. 1)

É interessante apontar que essa compreensão de docência é encontrada de forma muito

semelhante no documento enviado ao CNE pela ANFOPE, ANPEd e CEDES em setembro de

2004 visando a elaboração das DCNP.20

Quanto a redação do artigo 4º da resolução a palavra participação deixa uma certa

dúvida quanto ao seu significado, pois não está claro se o curso deverá fornecer

conhecimentos que possibilitem ao professor participar/acompanhar a gestão da escola, bem

como da produção e difusão dos conhecimentos ou será sua função assumir essas duas.

Após a constatação do conteúdo do artigo 4º têm que incluir mais dois setores de

atuação (gestão e produção de conhecimento) às quatro modalidades deste licenciado,

apontadas anteriormente (EI, AIEF, EMN, EP). Atingindo então até aqui, seis campos de ação

que não acabam por aí, pois no artigo 8º, item IV (p.5) da mesma resolução é incluída a

modalidade de Jovens e Adultos para o estágio curricular obrigatório.

As DCNP 2006 (p.4) também preveem um “núcleo de aprofundamento e

diversificação de estudo” na grade do curso para outras especificidades, não chamadas de

20 VII SEMINÁRIO NACIONAL SOBRE A FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO. Contribuições para elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia. 2005.

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habilitações, previstas no projeto pedagógico de cada instituição de ensino como, por

exemplo, educação indígena, educação especial, educação no campo, entre outras.

Enfim, esse docente formado num curso de pedagogia de no mínimo 3200 horas (p. 4)

e sem previsão de duração mínima em anos, passa a ter oito possibilidades de atuação

diferente. Reforça-se que isso tudo num único curso, formando um “superpedagogo”.

Para Libâneo e Pimenta (2002), as DCNP reforçam a concepção de curso adotada

desde a sua primeira regulamentação, em 1939, ao não diferenciar a formação do professor e

do especialista e ao reafirmar que o curso de Pedagogia é uma licenciatura, contribuindo,

dessa forma, para descaracterizar a formação do Pedagogo stricto sensu.

Verifica-se que a proposta de Diretrizes para o curso de Pedagogia, [...] reincide nos mesmos problemas já tão criticados: o ‘inchaço’ do currículo, pretensões ambiciosas quanto a diversidade de profissionais a serem formados, aligeiramento da formação (dada a impossibilidade real, no percurso curricular, de conciliar formação de profissionais docentes e não -docentes), empobrecimento na oferta de disciplinas (já que, para atender ao menos seis das áreas de atuação previstas, será necessário reduzir o número de disciplinas a fim de conciliar com o total de 3.200 horas do curso). (LIBÂNEO e PIMENTA, 2002, p. 25).

Esta crítica feita por Libâneo e Pimenta, já havia sido feita por Werebe (1970) muito

antes de todas estas discussões iniciarem, entretanto apesar de não se referir a este momento

histórico, expressam a análise atual referente ao que se tem estudado em relação às legislações

vigentes ao curso:

Os cursos de Pedagogia, de onde saem os docentes das disciplinas propriamente pedagógicas [...] só chegam a propiciar aos seus alunos uma formação bastante superficial nos vários campos ligados à Educação. Por outro lado, são verdadeiramente descabidos os direitos legais concedidos aos licenciados em Pedagogia, em total desacordo com o preparo que recebem. [...] As atribuições do curso de Pedagogia são, assim, demasiado ambiciosas e, por isso mesmo, realizadas insatisfatoriamente. (WEREBE, 1970, p. 220)

Muitos desafios deverão ser superados pelo curso de Pedagogia, entre eles o desafio da

definição dos componentes de conteúdos necessários para abranger a imensa formação

proposta.

Após este estudo referente a história da formação de professores e de pedagogos mais

uma vez, defronta-se com a imposição de uma proposta que dicotomiza a formação

acadêmica e a formação profissional, recolocando a velha questão licenciatura versus

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bacharelado, o que faz concluir que nos mais de vinte anos de intensos debates sobre esse

curso, pouco ou nada se avançou. Não foram construídos elementos que permitam definir

qual é a identidade do curso de Pedagogia; não se chegou ao mínimo de consenso a respeito

do caráter científico dessa área; não construíram respostas às críticas da inconsistência e

fragmentação da formação ofertada por grande parte das instituições que separam a formação

de professores e especialistas através das habilitações; não foi alicerçado subsídios para

formar o Pedagogo com uma visão total do processo educativo, sem estar limitado a sua área

de habilitação e/ou a docência.

O conhecimento adquirido neste estudo sobre a organização do curso de Pedagogia

evidenciou que as reformas, pareceres, regulamentações, estabelecimentos de grades

curriculares e a definição das disciplinas e seus conteúdos não foram suficientes para resolver

os dilemas enfrentados ao longo dos anos em torno das especificidades do curso de

Pedagogia; das questões entre bacharelado e licenciatura, dos esforços dos educadores no

sentido de definir sua identidade.

Com muitas imprecisões, não é surpreendente identificar que os conteúdos que fazem

parte do conhecimento da matemática estejam relegados a um segundo plano na formação do

pedagogo; as horas tomadas com o grande número de habilitações oferecidas, não comportam

a organização necessária para a formação do professor, ou seja, do conhecimento das áreas

específicas.

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2 FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA ENSINAR MATEMÁTICA

Haverá uma parte da formação inicial em Matemática que é sobre Matemática e não apenas sobre como ensiná-la e que – para um futuro professor – poderá ser muito importante na relação que ele estabelece enquanto aluno (...). (Paulo Abrantes, em comunicação pessoal para Eduardo Veloso, abril, 2003).21

Apesar de muitas discussões, debates e embates a respeito da formação de professores,

intensificada a partir da década de 1980, reflexo já da formação oferecida a partir de 1970, é

um fato lamentável que estas questões eram/são tratadas intensamente na época apenas da

implementação de Reformas Curriculares.

A política de formação de professores atualmente vem sendo confrontada com uma

série de dilemas organizacionais, por se tratar de uma formação que deve ao mesmo tempo

ser científica (visar ao domínio dos saberes acadêmicos), pedagógica (visar ao domínio das

competências e das habilidades de ordem metodológica), profissional (aprender um ofício) e

pessoal (desenvolver a personalidade para ser capaz de exercer o ofício).

O ideal segundo Ponte (2002) seria adoção de práticas de formação que tivessem

relação estrutural com as práticas profissionais que se pretendem desenvolver, tentando

encontrar o equilíbrio entre teoria e ação e, ao mesmo tempo, fazer a articulação entre o

trabalho de apropriação de saberes (teoria) e a construção de competências pedagógicas

(prática).

Inseridos nessa discussão, interessa a formação inicial de professores para ensinar

Matemática nas séries iniciais do ensino fundamental.

De acordo com Curi (2005), essa preocupação é bastante presente no cenário mundial.

Inúmeros estudos abordam essa temática, entre eles, Blanco e Contreras (2002), Serrazina

(2002), Ponte (2002), Fiorentinni (2006). Nesses estudos, observam-se alguns consensos,

como por exemplo, a necessidade de conhecimentos matemáticos conceituais e

procedimentais bem construídos, além dos conhecimentos didáticos para que os professores

possam promover a aprendizagem de seus alunos.

Neste sentido, a formação do professor de Matemática, precisa pensar em um currículo

que possibilite ao futuro professor constituir, de acordo com Beatriz D’Ambrósio (1993), uma

21 Citação retirada de Curi (2005, p. 5)

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visão do que vem a ser a Matemática, a visão do que constitui a atividade matemática e a

visão do que constitui um ambiente propício a atividade matemática.

2.1 CONHECIMENTO MATEMÁTICO PRESENTE NAS DIRETRIZES

CURRICULARES DE PEDAGOGIA

Se perguntar a um matemático qual o seu trabalho, ele responderia “fazer

matemática”. Se fosse pedido explicitar o seu fazer matemático, ele resumiria a tradução

desse “fazer matemática” enumerando alguns verbos como: investigar, especular, fazer

conjecturas, buscar padrões, estabelecer analogias e relações, resolver problemas, enfrentar

novidades, modelar matematicamente situações, testar hipóteses, argumentar, provar, validar

abstraindo e generalizando. Seria uma lista longa de palavras de um mesmo tipo, toda ela

consistindo de verbos que expressam uma ação. Entre tais verbos não existe uma hierarquia

pré-definida ou uma ordenação linear.

Agora, se perguntar a um professor de matemática qual o seu trabalho, com certeza

responderia “ensinar matemática”. Provavelmente ele responderia também com verbos, tais

como: ensinar os alunos a aprender matemática, preparar aulas dinâmicas, utilizar recursos

didáticos disponíveis, ou criá-los para facilitar a aprendizagem dos alunos, elaborar algum

material concreto que possa motivar e impressionar os alunos, selecionar alguns exercícios e

treinar para resolvê-los objetivamente, trabalhar com os alunos problemas e exercícios

envolvendo conteúdos matemáticos, preparar e corrigir avaliações diagnósticas e

quantificáveis, entre outros.

Pode-se dizer, parafraseando Brzezinski (1998), que o professor de Matemática é o

profissional que detém domínio suficiente do conhecimento matemático e o utiliza com o

objetivo de transmitir sistematicamente conteúdos de conhecimentos matemáticos produzidos

e acumulados historicamente pela humanidade e, ao mesmo tempo, a de assegurar aos alunos

a apropriação ativa destes conhecimentos.

Considerando estas ideias iniciais, o professor de Matemática deve ter uma formação

matemática suficiente para que esteja bem preparado para o magistério no nível de ensino que

pretende atuar. Brzezinski (1998, p. 162) afirma que:

[...] a Escola Normal, a Pedagogia e as Licenciaturas Específicas, têm uma especificidade própria e que possuem identidade sócio-política expressa no

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seu objetivo primordial: formar professores para atuarem na escola a fim de transmitir saber para a maioria da população brasileira.

Segundo Duval (2003, p. 11):

[...] o objetivo do ensino da matemática, em formação inicial, não é nem formar futuros matemáticos, nem dar aos alunos instrumentos que só lhes serão eventualmente úteis muito mais tarde, e sim contribuir para o desenvolvimento geral de suas capacidades de raciocínio, de análise e de visualização.

Por isto, nesta discussão sobre a formação de professores de Matemática se faz

necessário destacar a diferença presente entre “Matemática Escolar e Matemática Acadêmica”

a qual é muito bem abordada e explorada por Moreira e David (2005). Os autores usam as

expressões Matemática Científica e Matemática Acadêmica como sinônimos, que se referem

à Matemática como corpo científico de conhecimentos, segundo como a produzem e a

percebem os matemáticos profissionais. E, Matemática Escolar, referindo-se ao conjunto dos

saberes validados, associados especificamente ao desenvolvimento do processo de educação

escolar básica em Matemática.

Moreira e David (2005) entendem que a Matemática Escolar (entendida como aquela

que é trabalhada com os alunos da educação básica) inclui tanto os saberes produzidos e

mobilizados pelos professores em sua ação pedagógica na sala de aula, quanto resultados de

pesquisas que se referem à aprendizagem e ao ensino escolar de conceitos matemáticos,

técnicas, processos. Com esta abordagem, eles tomam a Matemática Escolar para além de

uma disciplina ensinada na escola, e a apresentam como um conjunto de saberes associados

ao exercício da profissão docente22.

As diferenças entre a Matemática Acadêmica e a Matemática Escolar são

significativas e substantivas e devem se fazer presente quando discutimos a formação de

professores. De acordo com Moreira e David (2005, p.21):

A prática do matemático tem como uma de suas características mais importantes, a produção de resultados originais de fronteira. Os tipos de objetos com os quais se trabalha, os níveis de abstração em que se colocam as questões e a busca permanente de máxima generalidade nos resultados fazem com que a ênfase nas estruturas abstratas, o processo rigorosamente lógico-dedutivo e a extrema precisão de linguagem sejam, entre outros, valores essenciais associados à visão que o matemático profissional constrói do

22 Nesta questão encontra-se a transposição didática, ou seja, transposição que o professor deverá fazer do saber científico para o saber escolar.

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conhecimento matemático. Por sua vez, a prática do professor de Matemática da escola básica desenvolve-se num contexto educativo, o que coloca a necessidade de uma visão fundamentalmente diferente. Nesse contexto, definições mais descritivas, formas alternativas (mais acessíveis ao aluno em cada um dos estágios escolares) para demonstrações, argumentações ou apresentação de conceitos e resultados, a reflexão profunda sobre as origens dos erros dos alunos etc.tornam-se valores fundamentais associados ao saber matemático escolar.

Além disso, é importante ressaltar que uma das distinções importantes que os autores

apontam entre a Matemática Acadêmica e a Matemática Escolar é a que se refere ao papel e

aos significados das definições e das demonstrações:

No caso da Matemática Científica, devido a sua estruturação axiomática, todas as provas se desenvolvem apoiadas nas definições e nos teoremas anteriormente estabelecidos (e evidentemente nos postulados e conceitos primitivos). Isso exige uma formulação extremamente precisa para as definições, pois ambiguidades na caracterização de um objeto matemático podem produzir contradições na teoria. As definições formais e as demonstrações rigorosas são elementos importantes tanto durante o processo de conformação da teoria – nos momentos em que a comunidade avalia e eventualmente acata um resultado novo, garantindo-se, então, a sua incorporação ao conjunto daqueles já aceitos como válidos – quando no processo de apresentação sistematizada da teoria já elaborada. (MOREIRA e DAVID,2005, p. 22)

Ressalta-se a importância de reconhecer como distintas as formas de saber

correspondentes à Matemática Acadêmica e à Matemática Escolar, especialmente nas relações

entre formação e prática do professor. Moreira e David (2005) chamam a atenção para não se

perceber a Matemática Escolar como mero subconjunto da Matemática Acadêmica, o que

levaria a uma consequente desqualificação do conhecimento matemático escolar. Embora seja

isso o que é feito hoje.

A ideia de conhecer como distintas as duas formas de saber, correspondentes à

Matemática Escolar e à Matemática Acadêmica, é fundamental para a formação e a prática do

professor de Matemática. A discussão, a investigação e as pesquisas dessas faces do

conhecimento matemático podem trazer grandes contribuições para a formação docente e para

o desenvolvimento da Matemática, como ciência e como disciplina escolar.

Outra discussão pertinente quando se trata do tema formação de professores é a ideia

de que frequentemente é considerado necessário um conhecimento matemático mais

aprofundado e substancial para se ensinar nas séries finais do ensino fundamental (11 a 14

anos) e no ensino médio (15 a 17 anos), conforme apontam as Diretrizes Curriculares para o

Curso de Matemática (2002).

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Porém, para se lecionar nos anos iniciais do ensino fundamental, permanece ainda

aquela crença de que não é preciso ter muito conhecimento. Werebe (1970, p. 212) já alertava

sobre esta incoerência na formação de professores:

A ideia de que o professor primário precisa saber pouco porque ensina noções elementares é falsa. As funções que exerce são complexas e de grande responsabilidade e os papéis sociais que deve desempenhar exigem dele uma visão universal e científica do mundo em que vive e da sociedade a que serve e, por conseguinte, a sua formação deve incluir sólida cultura geral e boa cultura pedagógica.

Percebe-se, entretanto, que apesar de aceitarem as grandes responsabilidades exigidas

pelo professor dos anos iniciais do ensino fundamental, as Diretrizes Curriculares para o

Curso de Pedagogia (2006), estudadas no capítulo anterior, não trazem definições claras sobre

o conhecimento matemático que deve ser tratado no curso, principalmente em relação aos

conteúdos das disciplinas que deverão lecionar nas séries iniciais do Ensino Fundamental. O

que talvez demonstra a permanência desta crença.

O curso de Pedagogia possui um currículo que abrange uma formação geral

caracterizada pela História da Educação; História da Filosofia da Educação; História das

Políticas Educacionais. Isto é, conteúdos que permitam compreender a organização do sistema

de ensino, mas dificultam a formação para a sala de aula e a formação específica em

determinadas áreas do conhecimento, que é o caso da Matemática, História, Geografia,

Língua Portuguesa, só para exemplificar.

Como já foi constatado no capítulo anterior, o Pedagogo tem uma formação muito

ampla, o que acaba deixando apenas como mais um suplemento da formação, os conteúdos

referentes às disciplinas que deverá lecionar nas séries iniciais do Ensino Fundamental, dentre

elas a Matemática, como aponta o artigo 5º das Diretrizes Curriculares do Curso de Pedagogia

(2006, DCNP, p.2):

Art. 5º O egresso do curso de Pedagogia deverá estar apto a: I - atuar com ética e compromisso com vistas à construção de uma sociedade justa, equânime, igualitária; II - compreender, cuidar e educar crianças de zero a cinco anos, de forma a contribuir, para o seu desenvolvimento nas dimensões, entre outras, física, psicológica, intelectual, social; III - fortalecer o desenvolvimento e as aprendizagens de crianças do Ensino Fundamental, assim como daqueles que não tiveram oportunidade de escolarização na idade própria; IV - trabalhar, em espaços escolares e não-escolares, na promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educativo; V - reconhecer e respeitar as manifestações e necessidades físicas, cognitivas, emocionais,

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afetivas dos educandos nas suas relações individuais e coletivas; VI - ensinar Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia, Artes, Educação Física, de forma interdisciplinar e adequada às diferentes fases do desenvolvimento humano; VII - relacionar as linguagens dos meios de comunicação à educação, nos processos didático-pedagógicos, demonstrando domínio das tecnologias de informação e comunicação adequadas ao desenvolvimento de aprendizagens significativas; VIII - promover e facilitar relações de cooperação entre a instituição educativa, a família e a comunidade; IX - identificar problemas socioculturais e educacionais com postura investigativa, integrativa e propositiva em face de realidades complexas, com vistas a contribuir para superação de exclusões sociais, étnico-raciais, econômicas, culturais, religiosas, políticas e outras; X - demonstrar consciência da diversidade, respeitando as diferenças de natureza ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas sexuais, entre outras; XI - desenvolver trabalho em equipe, estabelecendo diálogo entre a área educacional e as demais áreas do conhecimento;XII - participar da gestão das instituições contribuindo para elaboração, implementação, coordenação, acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico; XIII - participar da gestão das instituições planejando, executando, acompanhando e avaliando projetos e programas educacionais, em ambientes escolares e não-escolares; XIV - realizar pesquisas que proporcionem conhecimentos, entre outros: sobre alunos e alunas e a realidade sociocultural em que estes desenvolvem suas experiências não-escolares; sobre processos de ensinar e de aprender, em diferentes meios ambiental- ecológicos; sobre propostas curriculares; e sobre organização do trabalho educativo e práticas pedagógicas; XV - utilizar, com propriedade, instrumentos próprios para construção de conhecimentos pedagógicos e científicos; XVI - estudar, aplicar criticamente as diretrizes curriculares e outras determinações legais que lhe caiba implantar, executar, avaliar e encaminhar o resultado de sua avaliação às instâncias competentes.

Com toda essa imensa bagagem de conteúdos pretendida para o curso de Pedagogia, o

que pensar então em termos de conteúdos matemáticos para as séries iniciais, visto que o

curso traz uma gama enorme de saberes?

Curi (2005) aponta que em relação aos conteúdos matemáticos presentes nos cursos de

pedagogia não há uniformidade (base comum) e nem ao menos apontamentos legais que

direcionem o tratamento que deverá ser dado ao trabalho com os saberes disciplinares de

matemática para as séries iniciais do ensino fundamental.

A autora verificou a existência de vários problemas em relação às grades curriculares e

também as ementas das disciplinas destinadas a Matemática, dentre eles o fato de que não há

presença efetiva de disciplinas destinadas ao tratamento dos conhecimentos matemáticos, nas

três vertentes propostas por Shulman23, nestes cursos de formação.

Curi (2005) também constatou parecer haver uma concepção dominante na formação

de professores e pedagogos de que o professor das séries iniciais do ensino fundamental não

23 Será visto este assunto com mais profundidade posteriormente.

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precisa saber matemática, basta que ele saiba apenas como ensiná-la. Entende-se que para

saber ensinar, é necessário saber o que se está ensinando.

Tendo em vista o estudo aqui feito a respeito da legislação educacional, concorda-se

com Rodrigues (2005, p.70) quando afirma que:

[...] os documentos oficiais brasileiros não se preocupam em apontar quais conteúdos matemáticos deveriam ser contemplados na formação de professores de atuação multidisciplinar nas séries iniciais, abrindo dessa maneira possibilidades para que os cursos de formação desses professores elaborem seus programas e selecionem conteúdos”.

Considerando as DCNP (2006) e frente aos questionamentos inicialmente levantados,

observa-se que, em relação ao conhecimento necessário para o ensino de matemática, a

formação do professor das séries iniciais em nível superior não oferece suporte suficiente para

preparar adequadamente estes futuros professores.

D´Ambrosio (1999, p. 62) propõe “um currículo baseado em literacia, materacia e

tecnoracia” como uma resposta educacional às expectativas por justiça social. O autor define

literacia como a capacidade de processar informação escrita (de qualquer que seja sua

natureza); materacia entendida como a capacidade de interpretar códigos e sinais e de propor

e utilizar modelos na vida cotidiana; tecnoracia é a capacidade de usar e combinar

instrumentos – simples ou complexos – avaliando possibilidades e limitações a necessidades e

situações.

Isso significa que o sujeito que frequenta os bancos escolares, não apenas deve

dominar questões referentes à leitura, escrita e cálculo, mas também deve saber decodificar,

codificar situações, ser alfabetizado tecnologicamente, trabalhar com representações,

modelos, saber utilizar diferentes tipos de ferramentas quando necessário.

Certamente, uma proposta tendo estas bases irá exigir do professor uma formação

adequada que lhe permita adaptar essas sugestões ao seu dia-a-dia de sala de aula.

Outra exigência para o professor de matemática nas séries iniciais, e pautada nos

Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s - das séries iniciais, é a incorporação – ao que já

vem sendo ensinado - do estudo de recursos estatísticos, inseridos no que se denomina de

tratamento de informações; do estudo e exploração da álgebra e do pensamento algébrico; a

exploração do espaço e suas representações; a iniciação ao uso de calculadoras, entre outros.

Retomando aquilo que os PCN’s das séries iniciais sugerem, e resgatando que o contar

e operar com os números não é unicamente o que se deve explorar nos níveis iniciais de

ensino, Araújo (1994, p.14) diz:

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O conhecimento do número, das operações com os mesmos, das propriedades dessas operações têm a sua importância de ordem prática. A álgebra sintetiza e expressa generalizações relativas às operações com os números. A geometria, com sua abordagem menos abstrata, favorece a integração com os outros conteúdos. Medida se expressa através dos números e geometria também através da medida. (...) Não se trata, então, de deixar em segundo plano esse ou aquele tema, mas considerar a relevância de cada um no processo de desenvolvimento.

Verifica-se, a partir da lista de aptidões necessárias ao pedagogo estabelecidas nas

DCNP (2006), que os papéis atribuídos aos pedagogos se concentram, evidentemente em uma

preocupação pedagógica com a escola, ficando a formação para trabalhar com as disciplinas

das séries iniciais do Ensino Fundamental apenas como apêndice.

Observa-se que em relação ao conhecimento necessário para o ensino de matemática a

formação do professor das séries iniciais em nível superior não oferece suporte suficiente para

preparar adequadamente estes futuros professores. Mesmo a legislação federal indicando a

necessidade de se abordar os conteúdos das disciplinas (dentre eles dos conteúdos de

Matemática), na formação de professores polivalentes e de forma articulada com sua didática

e a necessidade de garantir a dimensão pedagógica aos professores especialistas, o tempo

destinado à dimensão pedagógica é insuficiente.

A Resolução do CNE/CP 01/2002, no Parágrafo único, do art. 11, (p. 5) que define o

tempo das dimensões pedagógicas estabelece que:

Parágrafo único. Nas licenciaturas em educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental deverão preponderar os tempos dedicados à constituição de conhecimento sobre os objetos de ensino e nas demais licenciaturas o tempo dedicado às dimensões pedagógicas não será inferior à quinta parte da carga horária total.

Mesmo sendo insuficiente, observa-se que nas DCNP (2006) nem ao menos o que

indica esta resolução foi contemplado. Sendo possível constatar que os pedagogos perderam a

essência da formação para a atuação nas séries iniciais.

Assim, torna-se necessária uma formação em termos de conteúdo, sendo que

certamente, uma discussão em termos metodológicos também é importante.

Neste sentido nos cabe indagar: Quais os conhecimentos e saberes são necessários a

formação inicial dos professores (pedagogos) das séries iniciais do ensino fundamental? O

que dizem os pesquisadores sobre a formação inicial matemática dos futuros professores?

Procurando obter respostas para estas questões inicia-se o segundo item desta seção.

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2.2 CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DOS CONHECIMENTOS E SABERES

NECESSÁRIOS À FORMAÇÃO MATEMÁTICA INICIAL DOS PEDAGOGOS

Acredita-se que as questões referentes a que conhecimentos o professor deve possuir e

que formação deve receber são pertinentes a este trabalho, por isso,fez-se uma breve

discussão sobre elas. Para tal estudo, considera-se a visão de alguns pesquisadores que se

dedicam a estas questões, tais como Shulman (1986), Gauthier (1998), Tardif (2002), Ponte

(2002), Serrazina (2002, 2003), Curi (2005), Pires (2002), Garcia Blanco (2003) e Veloso et

al (2005). A intenção é colocar em evidência as contribuições destes autores para a formação

inicial de professores, sem a pretensão de explorar exaustivamente as diferentes tipologias e

classificações desse campo de pesquisa.

Lee Shuman (1986) é o autor que mais tem contribuído expressivamente para o

progressivo fortalecimento do campo educacional dos saberes docentes e como pesquisador

do programa Knowledge Base24, tem sido referência para as reformas educativas, não somente

norte-americanas, mas também estrangeiras, dada a influência de seus trabalhos nas pesquisas

e nas políticas de outros países.

De acordo com Garcia Blanco (2003, p.56), “os marcos teóricos propostos por

Shulman e seus colaboradores têm sido a base para o estudo de muitos pesquisadores” no que

se refere ao aprofundamento no conhecimento do professor em sua formação profissional.

A abordagem das concepções desse pesquisador parte de seu texto de 1986, “Those

Who Understand: The Knowledge Growth in Teaching”. Nesse texto Shulman distingue três

categorias de conhecimentos presentes no desenvolvimento cognitivo do professor: o

conhecimento do conteúdo da disciplina, o conhecimento didático do conteúdo da disciplina e

o conhecimento do currículo. Segundo Sztajn (1997), trabalhos posteriores apesar de fazerem

uma revisão das três categorias inicialmente propostas, mantiveram as propostas originárias

de seu trabalho de 1986.

Shulman (1986) trouxe importantes contribuições para o estudo do conhecimento

profissional que os professores devem possuir e que fundamentam sua prática. Ao debruçar-

se sobre o knowledge base, Shulman (1986) afirma que há um ponto cego com relação ao

conteúdo que caracteriza essas pesquisas, denominado pelo autor de “paradigma ausente”, ou

24 Segundo Shulman (1986), “Knowledge base” (base de conhecimento) é o corpo de compreensões, conhecimentos, habilidades e disposições de que um professor necessita para atuar efetivamente numa dada situação de ensino.

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“paradigma perdido”, conforme aponta Curi (2005), ou seja, perdem-se questões sobre o

conteúdo das lições ensinadas, as questões feitas e as explicações oferecidas.

A primeira vertente do conhecimento apontada por Shulman (1986) é o subject

knowledge matter (conhecimento do conteúdo da matéria ensinada). Assim, para Shulman

(1986), a primeira fonte do Knowledge base é o conhecimento do conteúdo que será objeto de

ensino. Esse conhecimento repousa em dois fundamentos: a literatura acumulada na área e o

conhecimento filosófico e histórico sobre a natureza do conhecimento no campo de estudo. O

autor explica que o professor tem responsabilidades especiais em relação ao conhecimento do

conteúdo, servindo como fonte primária do entendimento do aluno com a relação à disciplina.

Isso significa que o modo pelo qual esse entendimento é comunicado leva ao aluno o que é

essencial sobre um assunto e o que é periférico.

Esse conhecimento não se resume somente à detenção bruta dos fatos e conceitos do

conteúdo, mas também a compreensão dos processos de sua produção, representação e

validação epistemológica, o que requer entender a estrutura da disciplina compreendendo o

domínio atitudinal, conceitual, procedimental, representacional e validativo do conteúdo.

A segunda vertente do conhecimento apresentada por Shulman (1986) é o pedagogical

knowledge matter (conhecimento pedagógico da matéria) que consiste nos modos de formular

e apresentar o conteúdo de forma a torná-lo compreensível aos alunos, incluindo “[…] as

analogias de maior impacto, ilustrações, exemplos, explanações e demonstrações – em uma

palavra, as maneiras de se representar e reformular o conteúdo de tal forma que se torne

compreensivo aos demais”. (tradução da autora) (SHULMAN, 1986, p.9)

Este é também o conhecimento que se refere à compreensão docente do que facilita ou

dificulta o aprendizado discente de um conteúdo em específico. Assim, o conhecimento do

conteúdo pedagógico também inclui o entendimento do que faz a aprendizagem de determinado

tópico fácil ou difícil, bem como as concepções errôneas dos estudantes e suas implicações na

aprendizagem.

Argumentando que ensinar é antes de tudo entender, Shulman (1986) considera que o

alicerce do knowledge base vai além do conhecimento da disciplina por si mesma, para uma

dimensão do conhecimento da disciplina para o ensino. Para o autor a chave para distinguir a

base do conhecimento do ensino repousa na interseção de conteúdos e didática, na capacidade

que um professor tem de transformar o conhecimento do conteúdo que ele possui, em formas

que sejam pedagogicamente eficazes e possíveis de adaptação às variações de habilidade e

contexto apresentados pelos alunos.

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A terceira vertente do conhecimento proposta por Shulman (1986) é o curricular

knowledge (conhecimento curricular), o qual se dispõe a conhecer a entidade currículo como o

conjunto de programas elaborados para o ensino de assuntos e tópicos específicos em um dado

nível, bem como a variedade de materiais instrucionais disponíveis relacionados àqueles

programas.

Na busca de melhor correlação para explicar o curricular knowledge, Shulman sugere

a analogia: os professores precisam dominar o conhecimento curricular para poder ensinar aos

seus alunos, da mesma forma que um médico precisa conhecer os remédios disponíveis para

poder receitar. Nas palavras de Shulman (1986), o currículo seria, portanto, análogo à

farmacopeia, ou seja, é dele que o “[…] professor retira suas ferramentas de ensino que

apresentam ou exemplificam específicos conteúdos ou avaliam a adequação dos avanços

estudantis”. (tradução da autora) (SHULMAN, 1986, p.10).

Com estas vertentes do conhecimento, Shulman (1986) pretendeu dar destaque ao fato

que ele mesmo apresentou de “paradigma ausente”, pois os procedimentos e as metodologias

de ensino estavam (e estão, pelo no curso de Pedagogia analisado) sendo muito mais

enfatizados do que o estudo essencial dos objetos de ensino (os conteúdos).

Gauthier e colaboradores (1998) estudaram e analisaram as pesquisas sobre o ensino

com a finalidade de identificar convergências em relação aos saberes mobilizados na ação

pedagógica e de examinar as implicações, formular problemáticas, avaliar resultados e

esboçar uma teoria geral da pedagogia.

Gauthier et al (1998) usa a expressão “conhece-te a ti mesmo”, do oráculo de Delfos,

para dizer que ainda se sabe muito pouco a respeito dos fenômenos que são inerentes ao

ensino. Argumenta que, ao “contrário de outros ofícios que desenvolveram um corpus de

saberes, o ensino tarda a refletir sobre si mesmo” (GAUTHIER et al, 1998, p.20). Para ele

avançar na pesquisa de um repertório de conhecimentos sobre o ensino possibilita enfrentar

dois obstáculos que historicamente se interpuseram à pedagogia: de um ofício sem saberes e

de saberes sem ofício.

Gauthier et al (1998) afirma que, apesar do ensino ser uma atividade que se realiza

desde a antiguidade, ainda sabe-se muito pouco sobre ele e que se convive com certas pré-

concepções que contribuem para o enorme erro de manter o ensino numa cegueira conceitual.

Segundo Gauthier (1998), tomar os saberes referentes ao conteúdo, à experiência e à cultura é

essencial para a prática docente, entretanto, concebê-los como exclusivos é contribuir para a

perpetuação de um ofício sem saberes. Os saberes sem ofício contribuíram para a

desprofissionalização da atividade docente ao reforçar para os professores a ideia de que a

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Page 68: A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NO CURSO ......MARLISA BERNARDI DE ALMEIDA A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NO CURSO DE PEDAGOGIA: Constatações sobre a Formação Matemática

pesquisa universitária “[...] não podia fornecer nada de realmente útil, e que,

consequentemente, era muito mais pertinente que uns continuassem se apoiando na

experiência pessoal, outros na intuição, outros no bom senso [...]”. (GAUTHIER et al, 1998,

p. 27)

O desafio da profissionalização docente, conforme Gauthier et al (1998) é evitar esses

dois erros: ofício sem saberes e saberes sem ofício. Ao admitir que as pesquisas já revelam a

presença de um repertório de conhecimentos próprios ao ensino, o autor propõe um ofício

feito de saberes.

Gauthier et al (1998) aponta para a existência de diferentes tipos de saberes e os

classifica em: disciplinares, referentes ao conhecimento do conteúdo a ser ensinado;

curriculares, os quais dizem respeito à transformação da disciplina em programa de ensino;

das Ciências da Educação, relacionados ao saber profissional específico que não está

diretamente relacionado com a ação pedagógica; da Tradição Pedagógica, referente ao saber

de dar aulas que será adaptado e modificado pelo saber da experiência podendo ser validado

pelo saber da ação pedagógica; da experiência, que se refere aos julgamentos privados

responsáveis pela elaboração, ao longo do tempo, de uma jurisprudência particular e por fim o

da ação pedagógica, referente ao saber experiencial testado e tornado público.

Outro autor que analisa a questão dos saberes profissionais e sua relação na

problemática da profissionalização do ensino e da formação de professores é MauriceTardif

(2002).

Considerando que os saberes são provenientes de diferentes fontes e que os

professores estabelecem diferentes relações com eles, tipologicamente Tardif (2002) os

classifica em: saberes da formação profissional (das ciências da educação e da ideologia

pedagógica), compreendido como o conjunto de saberes transmitidos pelas instituições de

formação de professores; os saberes disciplinares, correspondentes aos diversos campos do

conhecimento sob a forma de disciplina - são saberes sociais definidos e selecionados pela

instituição universitária e incorporados na prática docente; os saberes curriculares, que

correspondem aos discursos, objetivos, conteúdos e métodos a partir dos quais a instituição

escolar categoriza e apresenta os saberes sociais por ela definidos e selecionados como

modelos da cultura erudita e de formação para a cultura erudita; e, por fim, os saberes

experienciais, que são aqueles saberes que brotam da experiência e são por ela validados,

incorporando experiência individual e coletiva sob a forma de habitus e de habilidades, de

saber-fazer e de saber-ser.

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Ponte (2002), pesquisador português que também se dedica ao estudo da formação de

professores, especialmente os de matemática, apresenta cinco tipologias, que segundo ele, são

primordiais na formação inicial do professor: A primeira é a formação pessoal, social e

cultural, a qual segundo Ponte (2002) é, muitas vezes, deixada de lado nos cursos de

formação. Por isso se faz necessário que a formação inicial desenvolva um trabalho que

favoreça o desenvolvimento de capacidades de reflexão, autonomia, cooperação entre outras

capacidades e valores essenciais ao exercício do magistério. A segunda tipologia apresentada é

a formação científica, tecnológica, técnica ou artística na respectiva especialidade. Para Ponte

(2002) sem ter o domínio, com um elevado grau de competência, dos conteúdos que vai

ensinar, o professor não pode exercer adequadamente a sua função profissional. Ponte (2002,

p.4) afirma que, neste ponto, “todos estão de acordo”. Entretanto,

[...] esse acordo falha, quando se procura definir de modo específico quais são os conhecimentos e competências neste campo que o professor precisa realmente ter. Falha também, de modo ainda mais flagrante, quando se discute qual o melhor modo de os atingir nos cursos de formação inicial de professores.

A terceira categoria diz respeito à formação no domínio educacional, que traz as

contribuições das chamadas ciências da educação como: Didática, Psicologia e outras, bem

como a reflexão acerca dos problemas educacionais. É inegável que um professor necessite

destes conhecimentos os quais o professor necessita para ter sucesso no exercício de sua

profissão. A quarta tipologia é denominada de: formação para competência de ordem prática.

Para Ponte (2002), não basta apenas o professor conhecer as teorias das ciências da educação,

mas deve ser capaz de encontrar soluções adequadas para os diversos aspectos de sua ação

profissional. Estas competências devem ser desenvolvidas ao longo da sua formação inicial,

como também ao longo de sua carreira profissional.

A última tipologia refere-se à formação para capacidades e atitudes de análise crítica,

de inovação e de investigação pedagógica. Para Ponte (2002) é necessário que sejam

desenvolvidas as competências significativas no domínio da análise crítica visando a sua

transformação.

Segundo esse autor, os conhecimentos do professor sobre os objetos de ensino devem

incluir os conceitos das áreas de ensino definidos para a escolaridade na qual ele irá atuar, mas

deve ir além, tanto no que se refere à profundidade desses conceitos como à sua historicidade,

sua articulação com outros conhecimentos e o tratamento didático, ampliando assim seu

conhecimento da área.

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Garcia Blanco (2003), ao fazer uma análise de alguns autores que se dedicaram ao

estudo de quais os conhecimentos são necessários ao professor, chegou a uma síntese de

domínios de conhecimento que acredita que deva fazer parte de um programa de formação de

professores de Matemática: conhecimento da Matemática, conhecimento sobre a

aprendizagem das noções matemática e conhecimento do processo instrutivo. A autora chegou

a esta síntese tendo como referência os estudos de Llinares (1994) como indica o quadro a

seguir:

Quadro 1 – Domínios de Conhecimento –Base do Professor de Matemática

1. CONHECIMENTO DE MATEMÁTICA

1.1. Conhecimento de e sobre a Matemática

1.2. Conhecimento de e sobre a atividade matemática

1.3. Conhecimento sobre o curriculum matemático

2. CONHECIMENTO SOBRE A APRENDIZAGEM DAS

NOÇÕES MATEMÁTICAS

3. CONHECIMENTO DO PROCESSO INSTRUTIVO

3.1. Conhecimento sobre o planejamento do ensino

3.2. Conhecimento sobre as representações e recursos

instrucionais

3.3. Conhecimento sobre as rotinas instrucionais

3.4. Conhecimento das características das interações

3.5. Conhecimento sobre as tarefas acadêmicas(Llinares 1994, citada por Garcia Blanco 2003, p. 72)

Os autores estudados, do ponto de vista tipológico, apresentam classificações

diferentes; porém estas não são tão singulares a ponto de serem excludentes. As peculiaridades

estão localizadas nos interesses investigativos.

Analisar as produções referentes aos conhecimentos e saberes docentes, mesmo que

partindo de perspectivas conceituais e tipológicas diferentes, permitiu a constatação de que é

preciso garantir que as formações cultural, científica, pedagógica e disciplinar estejam

vinculadas à formação prática.

Assim, acredita-se que mais do que alterar currículos ou publicar materiais de apoio, é

necessário investir na formação de professores, pois estes caracterizam-se como elementos

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fundamentais na mudança positiva que se quer ver acontecer. Neste sentido, Serrazina (2003,

p.68) identifica o papel crucial que os cursos de formação devem assumir.

Como o ensino deve apontar para a construção dos conhecimentos das crianças, com vista a encorajá-las a um futuro desenvolvimento, a formação de professores deve desenvolver essas capacidades no futuro professor.[...] Assim, os cursos de formação de professores devem ser organizados de modo a permitir-lhes viver experiências de aprendizagem que se quer que os seus alunos experimentem e que constituam um desafio intelectual. Podemos afirmar que aprender matemática num curso de formação de professores é importante, mas desenvolver uma atitude de investigação e de constante questionamento em matemática é ainda mais importante.

Certamente investir somente na formação inicial de professores é insuficiente, haja

vista que há outras questões pertinentes à qualidade de ensino de Matemática. No entanto, é

imprescindível que esta seja o fio condutor da formação, pois ao se conseguir que os

acadêmicos, quando professores, adentrem a sala de aula mais seguros dos conteúdos que vão

lecionar, certamente as melhorias no processo de ensino e aprendizagem começarão a fluir.

Serrazina (2002) ressalta que o conhecimento necessário para ensinar Matemática

inclui a compreensão de ideias fundamentais da Matemática e seu papel no mundo atual. Ela

aponta que o conhecimento matemático dos futuros professores das séries iniciais envolve os

conceitos e algoritmos das operações, as conexões entre os diferentes procedimentos, os

diferentes conjuntos numéricos e a compreensão dos diferentes erros que os alunos cometem.

Serrazina (2002, p.11) aponta a importância de se conhecer o objeto de ensino,

argumentando enfaticamente que:

O professor precisa se sentir à vontade na matemática que ensina. Para isso tem de conhecer bem os conceitos, técnicas e processos matemáticos que intervêm neste nível de escolaridade. Necessita ter uma boa noção do que são as grandes ideias da matemática e qual o seu papel no mundo hoje[...] o futuro professor necessita ter uma profunda compreensão da matemática que não se limite a um conhecimento tácito do tipo saber fazer, mas se traduza em conhecimento explícito. Este envolve ser capaz de conversar sobre a matemática, não apenas descrever os passos para seguir um algoritmo, mas também explicitar os juízos feitos e os significados e razões para certas relações e procedimentos.

Pires (2002) considera que, pela importância e especificidade dos conhecimentos

matemáticos dos futuros professores, o que estes devem conhecer de Matemática não é

equivalente ao que seus alunos irão aprender. Seus conhecimentos devem ir muito mais além.

Aponta que, além de conhecimentos da Matemática, o professor deve possuir conhecimentos

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sobre a Matemática e considera que os conhecimentos destes professores devem incluir a

compreensão do processo de aprendizagem dos conteúdos pelos alunos. A autora ressalta

principalmente que a proposição de boas situações de aprendizagem depende primeiramente

do conhecimento que o professor tem do conteúdo a ser ensinado.

De acordo com Veloso et al (2005), o conhecimento matemático necessário a um

professor de Matemática necessita de particularidades específicas.

Enquanto utilizador da matemática para consumo próprio se pode fazer recurso ao saber matemático sem em cada momento nos questionarmos porque o fazemos deste ou daquele modo, quando se ensina matemática há que não só saber usar a matemática como igualmente ter presente em cada momento os significados e fundamentos dos conhecimentos em presença. Um nível adequado de conhecimento para o ensino envolve sermos capazes de falar sobre matemática, não apenas descrevendo os passos/etapas de um dado procedimento, por exemplo, um algoritmo, mas também explicando o significado e as razões para esse mesmo procedimento.

Para esses autores conhecer um conceito matemático passa, por exemplo, por conhecer

as suas diversas definições, formas de representação e evolução histórica. Segundo eles, não

basta apenas saber os passos de um procedimento e a sua aplicação correta mas é igualmente

necessário saber a justificação desse procedimento, a sua origem histórica e outros

procedimentos equivalentes, em particular utilizados noutras civilizações, quando for o caso.

Acrescentam que, o professor não poderá ajudar os outros a aprender matemática quando ele

próprio não possui compreensão da matemática e de como ensiná-la. Para o autor, cabe à

formação matemática dos futuros professores garantir o desenvolvimento de tal compreensão.

Tendo como alicerce as ideias desses autores é certamente consensual a ideia de

qualquer professor de Matemática deve saber mais Matemática do que aquela que se vai

ensinar. Embora os autores nem sempre apresentem os mesmos pontos de vista sobre os

conhecimentos necessários para o professor ensinar Matemática, têm clareza de que durante

sua preparação para ensinar os professores devem conhecer com profundidade os conteúdos

matemáticos que irão ensinar; a estrutura interna e a natureza da Matemática; sua inserção no

currículo; os processos de ensino e aprendizagem da Matemática; e o currículo da Matemática

da escola básica.

Considera-se, portanto, que a competência básica de todo e qualquer professor é o

domínio do conteúdo específico, haja vista que o conteúdo específico de Matemática continua

sendo um importante instrumento de trabalho do professor na construção das habilidades e

competências matemáticas requeridas pelo aluno e pela sociedade. Somente a partir deste

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domínio é possível construir a competência pedagógica. Contudo, esta premissa está se

perdendo, principalmente no curso de Pedagogia que foi analisado.

Ao defender a importância da formação no conteúdo específico (o que ensinar) e a sua

íntima articulação com o conteúdo pedagógico (como ensinar), leva-se em conta que a

licenciatura não pode abrir mão de discutir por que ensinar e para quem ensinar. Somente

articulando esses elementos (o que ensinar, como ensinar, por que ensinar e para quem

ensinar) a licenciatura dará ao futuro professor as condições mínimas necessárias para que ele

desenvolva um trabalho com os saberes matemáticos que esteja em sintonia com as novas

demandas que a sociedade vem exigindo da educação escolar.

A consideração a respeito das especificidades do conhecimento matemático com as

quais o professor vai trabalhar é, segundo Curi (2005), um desafio para os programas de

formações de professores. As investigações sobre o conhecimento matemático nas três

vertentes apontadas por Shulman (1986) devem exercer uma forte influência, principalmente

pelo fato dos cursos de formação de professores (pedagogos) em nosso país não conferirem,

segundo Curi (2005), destaque aos conhecimentos referentes às áreas de conhecimento

Por isso, é urgente a necessidade de resgatar e aprofundar nossa reflexão sobre o que

deve conhecer um professor para ensinar Matemática nas séries iniciais do Ensino

Fundamental, evitando cair no reducionismo da ‘metodologização’, ou seja, que saber como

ensinar é suficiente e que o conteúdo aprende-se ao ensinar.

A conotação dada aos conteúdos da Educação Básica, segundo Pires (2002), não deve

ser tratada apenas como revisão, pois isto acaba causando desinteresse por parte dos futuros

professores. Para a autora se faz necessário construir conhecimento aprofundado e consistente

para a ampliação do universo de conhecimentos matemáticos em relação a outras disciplinas e

adaptá-las às atividades escolares próprias das diferentes etapas do ensino fundamental.

Pires (2002) destaca ainda que os cursos de formação de professores de Matemática

devem dar um tratamento especial aos conteúdos matemáticos com ênfase no processo de

construção desses conhecimentos, sua origem, seu desenvolvimento de forma articulada com

sua didática, em que os futuros professores possam consolidar e ampliar os conteúdos com os

quais trabalharão no Ensino Básico.

Assim sendo, a formação inicial deve proporcionar aos futuros professores

experiências enriquecedoras e desafiadoras, permitindo-lhes ser criativos, tanto na resolução

de problemas e nas investigações, como na formação de novos conceitos. Os professores

necessitam possuir conhecimentos variados que se repartam por várias áreas e contemplem,

entre outros, os seguintes: conhecimento dos conteúdos específicos, conhecimento didático

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relacionado com o conteúdo específico, conhecimento curricular e conhecimento sobre

aprendizagem (SHULMAN, 1986).

Desta forma, a formação inicial pode constituir-se em um espaço de desenvolvimento

de uma consciência e reflexão críticas que permitam ao futuro professor a aquisição e

aprofundamento de conhecimentos, a reconstrução de concepções e atitudes e o

desenvolvimento das suas competências práticas. Salienta-se que esta formação deve assentar

numa boa preparação, tanto de matemática como de didática, para desenvolver

profissionalmente o futuro professor.

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3 A PESQUISA

Nesta parte do trabalho será elucidada a problemática da investigação, os objetivos da

pesquisa e a metodologia adotada.

3.1 PROBLEMÁTICA, JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS DA PESQUISA

O interesse em estudar a formação Matemática para a docência nas Séries Iniciais do

Ensino Fundamental surgiu com uma inquietação do período em que participava como

discente do curso de Pedagogia na Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO

Campus de Laranjeiras do Sul. Naquele período, além de estudante desse curso, exercia

também a docência nas séries iniciais e finais do ensino fundamental. Na condição de

professora de Matemática das séries finais do ensino fundamental, sempre chamavam atenção

o medo e a aversão demonstrados pelos colegas, alunos e egressos do curso de Licenciatura

em Pedagogia em relação aos conteúdos matemáticos e as disciplinas a ele relacionadas.

Além do fato narrado acima, também causava estranheza que o número de disciplinas,

envolvendo a Matemática, oferecidas no curso de Pedagogia se reduzia apenas uma, mesmo

sendo constantemente ressaltada pelos professores do curso de Pedagogia a dificuldade de

aprendizagem dos alunos quanto ao desenvolvimento da Matemática.

Esta pesquisa tem origem, portanto, principalmente na vivência da pesquisadora como

docente de matemática nas séries finais do Ensino Fundamental e também da constatação das

dificuldades de alunos oriundos das quartas séries na resolução de problemas propostos nos

livros didáticos para elas, bem como na resolução de exercícios envolvendo os conteúdos

matemáticos considerados básicos para este nível de escolaridade.

A inquietação se ampliou a partir do levantamento histórico realizado na seção I,

quando ficou constatado que a formação de professores para as Séries Iniciais do Ensino

Fundamental no decorrer da trajetória histórica, especialmente no Brasil, apresentou lacunas e

dificuldades latentes.

Percebeu-se, também, conforme aponta Curi (2004), que a pesquisa referente a

formação inicial de professores para atuar neste nível de ensino, não tem recebido toda a

atenção que merece por parte dos estudiosos, não apenas em relação à diversidade e à

relevância de suas questões, mas também com relação aos estudos que poderia subsidiar.

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Os estudos realizados por Fiorentini et al (2003) revelam a existência de um pequeno

número de investigações realizadas por educadores matemáticos que envolvem a formação de

professores para ensinar Matemática nesse nível de escolarização. Segundo os autores, até

fevereiro de 2002, havia um conjunto de 112 teses e dissertações defendidas no Brasil, das

quais apenas dez referiam-se à formação inicial de professores das séries iniciais.

Vasconcellos e Bittar (2006) ao fazerem um estudo sobre a produção dos eventos

ligados a formação de professores identificaram que foram poucas as pesquisas que tinham o

intuito de abordar algum aspecto referente à formação do professor para o ensino da

Matemática na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Além disso,

dentre as pesquisas que abordavam o assunto, não encontraram trabalhos relativos ao ponto de

vista dos graduandos em Pedagogia em relação ao que aprenderam durante o curso.

Constata-se, assim, que se sabe pouco sobre os conhecimentos matemáticos

necessários aos docentes que ensinam Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental,

o que indica ser importante intensificar as pesquisas e investigações relativas a esse tema.

Ao analisar os dados apresentados pelos relatórios do Sistema de Avaliação da

Educação Básica - SAEB (2005 e 2007) sobre a qualidade do ensino de Matemática no Brasil,

ficou evidente o baixo índice de desempenho dos alunos no que diz respeito aos saberes

trabalhados na disciplina de Matemática, principalmente nas Séries Iniciais do Ensino

Fundamental, conforme pode ser verificado no Gráfico 1 a seguir:

Gráfico 1 – Médias de Proficiência em Matemática - Brasil -1995 a 2005.

Fonte: DAEB/Inep/MEC

A análise desses dados indica que os alunos demonstram habilidades ainda bem

elementares para quem está concluindo a primeira etapa do ensino fundamental, estando num

patamar crítico e muito crítico, conforme Relatório do MEC (2005).

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Diversas justificativas são dadas para esse quadro: ausência de qualidade no ensino de

Matemática, baixos salários dos professores, precárias condições de trabalho, falta de material

didático adequado, alunos desmotivados, escolas com péssima estrutura física, estendendo-se

à condição econômica dos alunos ou da região em que eles vivem.

É inegável que estes fatores influenciam na aprendizagem dos alunos, refletindo a

realidade de um País que se preocupou em promover a inclusão escolar formal das crianças e

adolescentes sem desenvolver estratégias que resolvam, de fato, problemas históricos da

educação, as quais garantiriam a promoção de aprendizagens significativas por parte dos

alunos.

No entanto, dentre os diversos elementos que exercem influência na ação docente, esta

pesquisa pretende analisar a formação inicial do pedagogo, mais especificamente a preparação

que este futuro professor recebe para trabalhar o conhecimento Matemático com os alunos das

Séries Iniciais do Ensino Fundamental.

A problematização desta pesquisa se dá justamente orientada por todas estas

inquietações para analisar esse contexto de formação de professores do Curso de Pedagogia, a

partir do qual seus alunos também tornar-se-iam responsáveis pelos conteúdos matemáticos e

seu desenvolvimento pedagógico para a aprendizagem de crianças em início de escolarização.

Autores como Curi (2005) e Fiorentini et al (2003) apontam para a necessidade de

aprofundar esse campo investigativo, já que a formação de professores é central nas políticas

públicas do Estado e nos diversos espaços da academia, tanto para apreender as situações de

aprendizagem existentes, quanto nas proposições positivas que devem hoje empreender novos

estados qualitativos de aprendizagem. Situações que os professores e pesquisadores não

podem declinar de suas funções na luta incessante e premente para a qualidade do ensino em

todos os níveis de formação.

Entende-se que a qualidade da educação básica, principalmente nas Séries Iniciais do

Ensino Fundamental, é imprescindível para a melhoria da educação brasileira e o professor

que nela atua é fundamental, pois tem uma importância determinante na formação matemática

de seus alunos. E é evidente que para o sucesso desse trabalho, os professores precisam ser

bem preparados. Esta preparação deve estar contida na formação inicial. Deve-se ter uma

proposta pedagógica e curricular que permita uma formação adequada. Para que isto ocorra

são necessários componentes curriculares que apresentem a formação didática, a formação

pedagógica e a formação específica da área.

Conforme ressalta Mello (2000, p. 98), “[...] ninguém facilita o desenvolvimento

daquilo que não teve oportunidade de aprimorar em si mesmo. Ninguém promove a

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Page 78: A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NO CURSO ......MARLISA BERNARDI DE ALMEIDA A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NO CURSO DE PEDAGOGIA: Constatações sobre a Formação Matemática

aprendizagem daquilo que não domina [...]”. Segundo a autora, é preciso que o professor

experimente, enquanto aluno aquilo que ele deverá ensinar a seus próprios alunos.

Sabe-se que a formação de um professor está longe de acabar na formação inicial, esta

representa, no entanto, uma etapa fundamental na formação docente porque dá perspectiva e

orienta o percurso posterior.

Ponte (1998) afirma que o professor, para ensinar Matemática, deve ter uma boa

relação com a Matemática que vai lecionar, e que durante sua preparação para ensinar, os

professores devem conhecer com profundidade os conteúdos matemáticos que irão ensinar, a

estrutura interna da Matemática e a natureza da Matemática. Além de gostar de ensinar

matemática, o professor das séries iniciais deverá aprofundar o conhecimento matemático

necessário para a prática escolar.

Sendo assim, não se deseja defender apenas a construção de um currículo baseado no

modelo da racionalidade técnica, que considera “[...] que para ser bom professor basta o

domínio da área do conhecimento específico que se vai ensinar”. (PEREIRA, 1999, p. 112),

mas também levantar que uma das questões é a ausência de metodologias que favoreçam o

processo adequado de ensino da matemática. Toda disciplina que compõe o currículo escolar

possui metodologias próprias. A história da matemática, o acompanhamento de suas

pesquisas e sua contribuição para a expressão artística por meio do conhecimento didático,

poderia balizar a formação dos professores de matemática.

Segundo Ponte (1998) para que um professor consiga ensinar Matemática, não basta

que ele saiba seu conhecimento teórico; evidente que o bom conhecimento da mesma é

primordial para seu ensino, porém, esse ensino precisa estar adequado ao conhecimento

pedagógico. O mesmo se aplica à formação pedagógica que não pode desfazer-se do

conhecimento matemático. Este procedimento pode ser um caminho apresentado ao professor

de modo que ele estabeleça uma relação harmoniosa com a Matemática; deve conhecer o

aprendiz e as maneiras com que esse aprende determinado conteúdo, dominando diversas

técnicas e métodos de representá-lo; conhecer bem o contexto de trabalho e o currículo de

forma a recriá-lo quando necessário.

Ponte (2002) afirma ainda, que não é possível realizar um processo de transformação

curricular e pedagógica, sem que o professor tenha se apropriado de um conhecimento

suficiente para entender os problemas que envolvem a prática profissional.

Tendo em vista a problemática exposta, as inquietações e ideias fundamentais nas

quais se apoiam esta pesquisa, ela tem como objetivo principal:

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• investigar a formação inicial matemática recebida pelos alunos concluintes do

curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Centro Oeste

(UNICENTRO) Campos Avançado de Laranjeiras do Sul e analisar se esta

formação os prepara efetivamente para o exercício da docência em

Matemática nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental.

Tem-se como objetivos específicos desta pesquisa:

• estudar a proposta curricular e o programa do curso de graduação em

Pedagogia;

• verificar quais são os sentimentos desses formandos em relação à Matemática

e seu ensino;

• saber como os alunos que estão concluindo o curso de Pedagogia avaliam as

contribuições da formação inicial para o trabalho com os conteúdos

disciplinares de Matemática;

• levantar informações sobre a formação dos alunos que estão concluindo o

curso de Pedagogia para o trabalho com os conteúdos disciplinares de

Matemática: O que sabem estes alunos? Que dificuldades apresentam?

O estudo é de grande relevância, pois investiga um ponto nevrálgico no processo de

formação de professores que atuam nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental oriundos do

curso de Pedagogia. Investigar a formação inicial em matemática de Professores que ensinam

Matemática nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental, por certo, em muito contribuirá para

avanços na área educacional.

3.2 METODOLOGIA

A pesquisa se caracteriza como uma investigação qualitativa e está inserida na

modalidade estudo de caso. Para Campomar (1991), o estudo de caso é um tipo de pesquisa

cujo objeto é a análise de uma unidade.

Este tipo de pesquisa é utilizado pelo pesquisador quando o foco de interesse é sobre

fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de algum contexto de vida real. O

caso não significa apenas uma pessoa, grupo de pessoas ou uma escola. Segundo Fiorentini e

Lorenzato (2006, p.110):

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Pode ser qualquer “sistema delimitado” que apresenta algumas características singulares e que fazem por merecer um investimento investigativo especial por parte do investigador. Neste sentido, o caso pode ser uma instituição, um programa, uma comunidade, uma associação, uma experiência, um grupo de professores de uma escola, uma classe de alunos ou até mesmo um aluno diferente dos demais.

Para Alves (apud SOUSA e FERNANDES, 2004), um estudo de caso é “múltiplo e

único”; levando em considerações as ideias dos autores citados, esta pesquisa se insere num

estudo de caso, sendo este múltiplo porque se estudou trinta acadêmicos formandos do Curso

de Pedagogia da UNICENTRO.

A metodologia utilizada privilegia, portanto a pesquisa qualitativa sendo composta

inicialmente por dois tipos de análise: bibliográfica e documental.

O estudo bibliográfico referiu-se ao tema formação de professores, em especial ao

curso de pedagogia e formação inicial matemática para atuar nas Séries Iniciais do Ensino

Fundamental, na busca de referenciais teóricos que pudessem nortear a análise dos dados

coletados na pesquisa.

Conforme Richardson (1985), a análise documental fundamenta-se em uma série de

processos que visam estudar e analisar um ou vários documentos para descobrir as

circunstâncias sociais econômicas com as quais podem estar relacionados, além de coletar

dados, analisar e interpretar as contribuições teóricas já existentes sobre determinado assunto,

fato ou ideia.

A análise documental tornou-se indispensável, no momento em que se definiu abordar

a formação inicial de docentes das Séries Iniciais do Ensino Fundamental como o componente

a ser estudado. Isso implicou a leitura de arquivos oficiais – leis, diretrizes, pareceres,

resoluções – e arquivos escolares - projeto político-pedagógico do curso e plano de ensino

(ementa). As informações obtidas dessas leituras foram sintetizadas na forma de fichamentos

que continham anotações das reflexões realizadas à luz do referencial teórico. Com essa

análise, procura-se aprofundar os conhecimentos acerca dos parâmetros que orientam os

cursos de licenciatura, das competências e habilidades que fundamentam a formação docente.

A análise documental teve foco nos Pareceres e Resoluções do Conselho Nacional de

Educação do MEC, nos decretos e nas diretrizes curriculares do Curso de Pedagogia, nas

diretrizes específicas das áreas de formação de professores para a educação básica e no

Projeto Pedagógico do curso de Pedagogia analisado. Todos os documentos foram

encontrados no site do MEC e nas obras de autores que tratam do assunto; os demais

documentos foram disponibilizados através do site da instituição em lide.

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Estudar a proposta curricular do curso de Pedagogia e as disciplinas que tratam da

Matemática verificando a ênfase que é dada ao tratamento dos conhecimentos disciplinares de

Matemática, acreditando que é uma forma de evidenciar a pouca importância recebida pelos

conteúdos específicos. Na análise da Proposta Pedagógica e da Ementa da disciplina que trata

a Matemática no curso de Pedagogia, buscou-se verificar se o que está posto atende as

necessidades relacionadas ao conhecimento matemático necessários para a atuação desses

acadêmicos.

A concretização das diretrizes estabelecidas, bem como os limites de flexibilidade das

propostas também foram objetos de percepção durante a análise.

Para a pesquisa de campo, optou-se pela utilização dos seguintes instrumentos:

questionário misto e ficha contendo problemas para serem resolvidos.

A característica acessível do questionário foi uma das razões pela qual se usou essa

técnica para a coleta de informações sobre o grupo discente. Segundo Fachin (1993, p. 121),

“o questionário consiste num elenco de questões que são apreciadas e submetidas a certo

número de pessoas com o intuito de obter respostas para a coleta de informações”. A

acessibilidade, a garantia do anonimato, a uniformidade das questões são algumas das

vantagens apontadas pela autora.

A outra razão pela opção ao questionário deveu-se à possibilidade de rapidez no

retorno das respostas e à maior facilidade para contatar os futuros professores, visto que eles

dispõem de pouco tempo para atendimento aos pesquisadores.

Optou-se especificamente pelo questionário misto, que contém questões estruturadas

(fechadas) e semi-estruturadas (abertas). As questões fechadas objetivavam colher

informações sobre o perfil dos sujeitos da pesquisa. As questões abertas embora padronizadas

puderam ser respondidas livremente, a critério do entrevistado. A vantagem deste tipo de

questionário é permitir que o entrevistado manifeste suas opiniões, seus pontos de vista e seus

argumentos.

O questionário misto foi composto por questões distribuídas em três blocos assim

denominados:

• Identificação – com questões fechadas que coletaram informações as quais permitiram

definir os sujeitos de nossa pesquisa tendo como referência a formação e atuação

profissional;

• Relação com a Matemática – com questões fechadas e abertas buscou-se identificar

quais as concepções e crenças dos acadêmicos do curso de Pedagogia sobre a

Matemática e seu ensino.

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• Contribuição da formação inicial à prática docente – somente com questões abertas

procura investigar quais as contribuições que o curso de Pedagogia trouxe para os

acadêmicos no que se refere a sua formação matemática para atuar nas Séries Iniciais

do Ensino Fundamental.

Para análise dos dados coletados a partir do questionário procedeu-se da seguinte

forma: as questões fechadas foram tabuladas calculando-se o percentual das respostas.

Para sistematização e análise dos dados contidos no questionário, referente às questões

abertas, pautou-se na Análise de Conteúdo (BARDIN, 1979). Esta opção foi feita porque,

após a leitura de todas as respostas referentes a cada questão, percebeu-se que as mesmas

atendiam as especificidades para categorização das respostas.

As questões abertas foram classificadas em categorias que, conforme orientação de

Bardin (1979) emergiram da análise das respostas dos alunos que foram agrupadas de acordo

com frases ou palavras que tinham em comum para que fossem analisadas à luz da literatura

sobre formação de professores de Matemática.

A Análise de Conteúdo de Bardin (1979) é um conjunto de técnicas de análise de

comunicação que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das

mensagens, a qual permitiu confrontar metodologicamente a verificação e interpretação dos

significados das mensagens (manifestos ou subjacentes) presentes nas respostas dos

participantes.

De acordo com Bardin (1979), a categorização é uma operação de classificação de

elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por

reagrupamento segundo o gênero (analogia). Deste modo, a análise de conteúdo categorial é

alcançada por operações de desmembramento do texto em unidades, em categorias, segundo

agrupamentos analógicos, e caracteriza-se por um processo estruturalista que classifica os

elementos, segundo a investigação sobre o que cada um deles tem em comum. Ou seja, as

categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos (unidades de

registro) sob um título genérico, em razão dos caracteres comuns apresentados por estes

elementos.

Segundo a autora, a categorização tem como primeiro objetivo fornecer, por

condensação, uma representação simplificada dos dados brutos. As inferências finais são

efetuadas a partir do material reconstruído. Através das relações entre as categorias, e de suas

interpretações, é possível desenvolver explicações e afirmativas (proposições).

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Para os fins deste trabalho, verificou-se a frequência das respostas e procurando

relacionar as variáveis, de forma que fosse possível prosseguir com uma análise qualitativa

dos dados.

Nos depoimentos coletados foram identificadas as expressões-chave, as ideias centrais

e a recorrência de repostas semelhantes, sendo que a Análise de Conteúdo (BARDIN, 1979),

possibilitou organizar os dados em categorias quantificáveis. O critério de categorização

adotado foi o semântico, por categorias temáticas, de acordo com seus significados, a partir

das significações que a mensagem fornece.

Os dados obtidos foram categorizados de acordo com a Análise de Conteúdo de

(BARDIN, 1979), organizados em tabelas, descritos e analisados com base no referencial

teórico de pesquisadores que estudam a formação do professor que ensina Matemática nos

anos iniciais.

Como último instrumento para a coleta de dados, adotou-se um documento escrito em

que os alunos resolveram problemas organizados pela pesquisadora, sendo este instrumento

explicitado a seguir.

3.3 FICHA DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

Utilizou-se a ficha de resolução de problemas como segundo instrumento para

levantamento das informações sobre o conhecimento matemático do graduando concluinte do

curso de Pedagogia.

Foi feito o uso deste instrumento por acreditar se tratar de um mecanismo eficiente

para diagnosticar as heurísticas de pensamento dos alunos de Pedagogia (futuros professores),

suas dificuldades, erros conceituais, conhecimentos e conceitos fundamentais da matemática

que conhecem e utilizam.

Os problemas propostos nesta ficha referem-se a três dos quatro eixos norteadores do

ensino da Matemática apontado pelos PCN´s (1997): números e operações, grandezas e

medidas; tratamento da informação, sendo que o primeiro eixo foi mais abordado porque, de

acordo com as observações feitas pela pesquisadora, este eixo foi mais enfatizado nas aulas de

Metodologia do Ensino da Matemática, que os graduandos tiveram durante o curso.

Para elaborar a ficha de problemas, levaram-se em conta os critérios para seleção dos

conteúdos que o professor de Matemática deve trabalhar nas Séries Iniciais do Ensino

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Fundamental, tendo como base os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) de Matemática,

no qual se afirma que:

Há um razoável consenso no sentido de que os currículos de Matemática para o ensino fundamental devam contemplar o estudo dos números e das operações - no campo da Aritmética e da Álgebra, o estudo do espaço e das formas - no campo da Geometria e os estudos das grandezas e das medidas - que permite interligações entre os campos da Aritmética, da Álgebra e da Geometria. (BRASIL, 1997, p. 53).

Com base nessa recomendação, foram apresentadas questões que objetivam saber se

esses alunos conseguem resolver problemas envolvendo esses conteúdos, bem como analisar

quantitativamente o desempenho e as principais dificuldades apresentadas por futuros

professores de matemática na resolução de problemas envolvendo os conteúdos elementares

das Séries Iniciais do Ensino Fundamental.

Procurando, desta forma, analisar as relações que se estabelecem entre o domínio dos

conceitos matemáticos básicos necessários para a atuação nas Séries Iniciais do Ensino

Fundamental e as dificuldades encontradas pelos futuros professores quando da utilização

destes para resolução de problemas.

Pelo estudo teórico que foi realizado sobre Resolução de Problemas, constatou-se que

o termo “problemas”, no ensino da matemática, é de acordo com Nelma Araújo (2006) usado

de formas distintas por diferentes pessoas e representa diversas situações, o que causa alguns

equívocos.

Segundo Araújo (2007, adapatado de ECHEVERRÍA e POZO, 1998, p.16),

Não é tão simples dizer que um enunciado de uma situação é um problema para um aluno, pois é possível que uma mesma situação represente um problema para uma pessoa enquanto que para outra esse problema não existe, quer porque ela não se interessa pela situação, quer porque possua mecanismos para resolvê-la com um investimento mínimo de recursos cognitivos e pode reduzi-la a um simples exercício.

Por outro lado, considerando “que os problemas habitualmente propostos aos alunos

são aqueles que provêm dos livros didáticos e que são estes os que eles devem interpretar para

resolver em sala de aula” (ARAÚJO, 2007, p.72), decidiu-se, nesta investigação, que a

maioria dos problemas utilizados teria esta procedência.

Na escolha dos problemas a serem utilizados no trabalho, foram obedecidos alguns

parâmetros que vinham ao encontro dos objetivos da pesquisa: os problemas deveriam referir-

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se a conteúdos trabalhados em diferentes etapas das Séries Inicias do Ensino Fundamental e

poderiam ser resolvidos de vários modos, com a utilização de diferentes estratégias e/ou

diferentes conhecimentos matemáticos dentre os trabalhados no Ensino Fundamental.

Para a resolução de problemas, considerou-se que os alunos precisariam ter

conhecimentos prévios25, tanto do ponto de vista matemático, linguístico, como textual.

Também deveriam ser problemas que constassem de livros didáticos de matemática e

do portal do Ministério da Educação (MEC) referente a Prova Brasil sendo, portanto, os que

são habitualmente trabalhados em sala de aula pelos professores das Séries Iniciais do Ensino

Fundamental. Assim, optou-se por retirar a maioria dos problemas a serem utilizados na

pesquisa de livros didáticos os quais, em conversa prévia da pesquisadora com alguns

professores de escolas da rede pública municipal do Ensino Fundamental, da região Centro-

Oeste do Paraná, indicaram como os que mais utilizam para a preparação de suas aulas.

Por certo, na maioria dos livros didáticos, os problemas propostos não têm em geral, as

características que a comunidade da Educação Matemática pretende que estejam presentes

numa verdadeira situação-problema. Mas são esses os problemas que são propostos para os

alunos resolverem, motivo pelo qual se decidiu utilizá-los nessa investigação.

A ficha de resolução de problemas utilizada para a coleta de dados encontra-se no

apêndice e os problemas utilizados no trabalho com suas análises a priori e a posteriori, serão

apresentados de forma mais detalhada na próxima seção.

3.4 OS SUJEITOS DA PESQUISA

Após o estudo receber a aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa e do Comitê

Científico iniciou-se a coleta de dados com os alunos concluintes do curso de Pedagogia.

Foram sujeitos desta pesquisa os alunos da única turma do 4º ano (concluintes)26 do

Curso de Pedagogia (ano 2008), da Universidade Estadual do Centro oeste (UNICENTRO),

Campus Avançado de Laranjeiras do Sul.

Para que se pudesse conhecer um pouco do perfil dos participantes, o questionário

inicialmente abordou algumas perguntas de caráter pessoal e profissional. As informações

adquiridas foram organizadas em tabelas.

25 Conhecimentos prévios não devem ser confundidos com pré-requisitos.26 Serão utilizados os seguintes termos para denominar os sujeitos da pesquisa: acadêmicos, graduandos, concluintes, futuros professores.

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Para viabilizar a investigação, os graduandos de pedagogia permitiram, mediante

termo de consentimento, a utilização dos dados coletados para a pesquisa; foi garantido

também o anonimato quanto à identificação dos alunos investigados. Utilizando segundo a

ordem alfabética dos nomes dos concluintes (alunos do curso de Pedagogia) os números de 01

a 30 para identificá-los, como se segue: A01, A02...A30.

Os dados sobre os sujeitos da pesquisa foram obtidos nas respostas dadas pelos

graduandos concluintes do curso de Pedagogia, quando responderam ao questionário que

buscava informações sobre sua formação.

O questionário foi respondido por trinta alunos concluintes do curso de Pedagogia27,

sendo vinte e sete (90%) do sexo feminino e três (10%) do sexo masculino. Trabalhou-se com

o universo da pesquisa. Confirmando uma tendência do ensino brasileiro em que a maioria

expressiva dos professores que atuam no ensino fundamental e médio pertence ao sexo

feminino.

A primeira informação levantada para a caracterização do grupo foi quanto a idade:

Tabela 1 – Faixa etárias dos alunos que cursam Pedagogia

Tabela organizada por Marlisa Bernardi de Almeida - 2008

O grupo participante da pesquisa em sua maioria, é formada por alunos com idade

entre a faixa etária de vinte um a trinta anos, como se pode observar pela tabela 1. Embora a

maior concentração se encontre na faixa entre 21 e 25 anos.

Sobre a formação básica dos alunos, foram levantadas as seguintes informações:

27 A turma apresenta trinta e dois alunos no total, de acordo com o Livro Registro dos Professores.

IDADE TOTAIS

17 a 20 anos 03

21 a 25 anos 13

26 a 30 anos 08

31 a 35 anos 03

36 a 45 anos 03

Total 30

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Tabela 2 – Formação Educação Básica

Tabela organizada por Marlisa Bernardi de Almeida – 2008

A maioria dos graduandos começou os estudos quando o ensino ainda se organizava

em 1º e 2º Graus e concluíram quando passou a se denominar Ensino Fundamental e Ensino

Médio em escola pública, conforme apontam os dados tabulados na tabela 2.

É importante destacar que a maioria dos graduandos entrevistados, vinte e dois alunos,

não cursou Magistério no Ensino Médio. Apenas sete estudantes cursaram a Habilitação

Específica para o Magistério; o que significou um desdobramento de sua formação no ensino

médio. Um dos alunos entrevistados também já concluiu outro curso de graduação.

Conforme pode ser observado na tabela 3, a maioria ainda não atua como professor:

Tabela 3 – Atuação Profissional

TOTAISSim 04Não 26

Total 30Tabela organizada por Marlisa Bernardi de Almeida – 2008

Dos graduandos pesquisados, apenas quatro estão atuando em sala de aula, sendo que

dois atuam na Educação Infantil, um no Ensino Fundamental e outro na Educação de Jovens e

Adultos. Logo, a experiência que eles têm com a Matemática e seu ensino é decorrente de

seus estudos anteriores na escolaridade básica (ensino fundamental e ensino médio) e dos seus

estudos no Curso de Pedagogia.

Foi verificado ainda que dois professores destes que estão atuando não fizeram o

Magistério no Ensino Médio, são professores leigos e atuam em escolas particulares. Esse

ENSINO

FUNDAMENTAL

I

ENSINO

FUNDAMENTAL

II

ENSINO

MÉDIO

Público 28 alunos 26 alunos 26 alunos

Supletivo ............... 01 aluno 01 aluno

Particular 02 alunos 03 alunos 03 alunos

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quadro sempre esteve presente na escola particular brasileira: professores sem formação

adequada ou concluída atuando profissionalmente.

Dos que são professores, o tempo que estão atuando em sala de aula varia de seis

meses a cinco anos de efetivo exercício, conforme pode ser observado na tabela a seguir:

Tabela 4 – Tempo de Atuação Profissional

TOTAIS06 meses 0103 anos 0105 anos 0106 anos 01Total 04

Tabela organizada por Marlisa Bernardi de Almeida – 2008

Em relação aos dados sobre formação no Ensino Médio como pré-requisito, foi

observado que o perfil dos alunos do curso de Pedagogia modificou nos últimos anos,

conforma aponta Brito (2006): à medida que este curso foi se tornando lugar preferencial para

a formação de docentes para atuação nos primeiros anos do Ensino Fundamental, cresceu o

número de estudantes sem formação prévia.

Segundo Brito (2006) os alunos que cursavam Pedagogia até os anos 90 eram em sua

maioria professores ou pessoas que já haviam cursado a Habilitação Específica para o

Magistério, assim a dicotomia teoria e prática não os afligia tanto.

Através dos dados coletados inicialmente pode ser verificado que perfil dos sujeitos da

pesquisa, alunos do Curso de Pedagogia, é formado por um público predominantemente

feminino que veio procurar o curso de Pedagogia sem antes ter feito o magistério. São alunos

provenientes de cursos regulares, de escolas públicas e que, portanto vão ter os primeiros

contatos com as metodologias do ensino de Matemática no curso de Pedagogia.

Pela correlação dos instrumentos e manifestações dos sujeitos que compuseram este

estudo, a seguir é apresentada a análise dos dados coletados.

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4 ANÁLISE DOS DADOS

Segundo Pádua (2004), a pesquisa bibliográfica é a que conduz o pesquisador a

levantar o que se tem produzido e registrado sobre o tema a que se dispõe pesquisar; permite

ao pesquisador acesso a estudos de vários autores, assim com pontos de vista, informações

diversas e a cobertura, em qualquer escala, que cada autor faz ao enfocar o tema.

Pensando da mesma forma que Pádua (2004), foram realizadas as análises tendo em

vista o quadro teórico sobre a formação de professores apresentado no início deste trabalho.

Foram consideradas as respostas apresentadas ao questionário, as explicações e os registros

feitos com relação a lista de problemas. Os nomes dos sujeitos da pesquisa foram substituídos

por siglas numeradas para preservar sua identidade, evitando, no texto, a identificação de cada

um.

É apresentada a seguir a análise referente ao Projeto Político Pedagógico do curso de

Pedagogia e a ementa da disciplina de Metodologia do Ensino da Matemática, realizada com

o intuito de verificar se o que está posto atende a formação matemática dos futuros

professores, principalmente nas três vertentes do conhecimento propostas por Schulman

(1986).

4.1 PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E EMENTA DA DISCIPLINA DE

METODOLOGIA DO ENSINO DA MATEMÁTICA: UMA FORMAÇÃO POSSÍVEL?

Reitera-se que o Projeto Político Pedagógico do curso de Pedagogia da UNICENTRO

foi analisado quanto aos princípios que norteiam a formação do pedagogo, a presença da

Matemática nesta formação e o espaço reservado a este conhecimento no currículo do curso.

Como já foi apresentado na seção três, a análise documental foi feita a partir dos documentos

oficiais normativos e diretrizes estabelecidas para o curso de Pedagogia.

A ementa da disciplina foi analisada para verificar se o conhecimento matemático

previsto para ser desenvolvido seria suficiente para a prática dos alunos; e verificar ainda se

há influência dos PCN´s de Matemática. A ementa foi examinada também para analisar os

depoimentos dos egressos do curso e identificar as relações entre a teoria e a prática na

disciplina de formação em Matemática do curso de Graduação em Pedagogia. Procurando

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investigar a relação das diretrizes do curso de pedagogia, com a prática desempenhada pela

metodologia de matemática para as séries iniciais.

O curso de Pedagogia que foi investigado, assim como os outros, está voltado para a

formação de pedagogos com habilitação para atuação em escolas de Educação Infantil,

Educação Básica, Educação Superior e Gestão Escolar. Na apresentação do curso é enfatizado

ainda que além das escolas, os pedagogos também são requisitados em empresas públicas e

privadas, clínicas psicopedagógicas, pesquisa educacional, escritórios de assessoria

pedagógica e educacional, na indústria de artefatos e brinquedos educativos e em programas

de rádio e televisão educativos. Por isso são abordadas durante o curso, disciplinas que tratam

da formação do pedagogo para espaços não-escolares, como podemos citar a disciplina de

Estágio Supervisionado em Gestão de Instituições Escolares e não-escolares. Foi observado

que o curso de Pedagogia preocupa-se com o debate da atuação profissional externa à sala de

aula, sacrifica de certa forma, em suas diretrizes as metodologias de ensino, como também

apontam Gatti e Nunes (2008) em pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas referente

aos cursos de Pedagogia no Brasil.

Identificou-se que a base do curso está na docência, como estabelece o artigo nove,

inciso dois do Projeto Político Pedagógico ao perfil profissional dos seus egressos:

[...] ser eficaz na atuação nas diferentes áreas da educação formal e não formal, em atividades científico-tecnológicas do campo educacional, na produção e na difusão de conhecimentos próprios desse campo, na organização e gestão de experiências educacionais escolares e não escolares, tendo a docência como base de sua identidade profissional e para o caso específico, especialmente no que concerne à docência nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental, na educação infantil e nas disciplinas pedagógicas do Ensino Médio. [grifos nossos] (UNICENTRO, 2006, p. 2)

É importante elucidar que o curso de Pedagogia estudado sempre acatou as indicações

de formação estabelecida pela legislação vigente. Isso ocorreu até 2005, e posteriormente a

essa data, mais especificamente a partir de maio de 2006, passou por reformulações em seu

Projeto Político Pedagógico devido à instituição das novas Diretrizes do Curso de Pedagogia

estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE).

No Projeto do curso declara-se a intenção de tomar como referência as Diretrizes

Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia (DCNP) e as Diretrizes

Curriculares Nacionais para Formação de Professores da Educação Básica (DCNs) em nível

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superior, bem como outros dispositivos legais que se referem ao curso de Pedagogia e aos

cursos de ensino superior, no que diz respeito às licenciaturas.

Cabe destacar que apesar de os alunos pesquisados terem ingressado no ano de 2005,

eles foram enquadrados neste novo projeto do curso conforme aponta o artigo 7, inciso 2:

Art. 7° Fica, ainda, aprovado conforme os anexos IV e V desta Resolução, o enquadramento das seguintes turmas: [...] II – segundas séries, do ano de 2006, dos Campi Avançados de Laranjeiras do Sul e de Pitanga, período noturno. (UNICENTRO, 2006, p. 1)

Conforme estabelecido no Projeto Político Pedagógico, o curso passou a ter nova

denominação. Até 2005 era denominado apenas de Curso de Pedagogia, mas a partir de 2006

passou a denominar-se Curso de Graduação em Pedagogia: Docência e Gestão Educacional,

com uma carga horária total de 3.392 horas, tendo como período de integralização do curso de

no mínimo, quatro e, no máximo, sete anos. Ao menos nos documentos, o curso de graduação

em pedagogia havia acatado os indicativos do CNE.

No Campus Avançado de Laranjeiras do Sul o curso é oferecido em período noturno.

A matriz curricular do Curso de Graduação em Pedagogia: Docência e Gestão Educacional

está organizada segundo o Regime Seriado Anual, contudo, algumas disciplinas são

oferecidas em apenas um semestre, como pode ser verificado nos seus componentes

curriculares:

Figura 1 – Currículo Pleno do Curso de Pedagogia

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Pode-se observar que a maioria das disciplinas propostas na grade curricular não está

voltada para a formação específica do professor para atuar na Educação Infantil ou nas Séries

Iniciais do Ensino Fundamental, ela apresenta mais disciplinas relacionadas a aspectos

teóricos da educação como um todo e não privilegia as metodologias de ensino e

conhecimentos das áreas específicas das Séries Iniciais do Ensino Fundamental.

Segundo o que pode ser observado na estrutura curricular, aparentemente não é dado

prioridade para as áreas de ensino as quais serão fundamentais para o professor exercer sua

profissão, no sentido de se ensinar o conteúdo e, além disso, se trabalhar o planejar, o ensinar

e o avaliar.

Gatti e Nunes (2008) corroboram com essa observação quando apontam que nos

componentes curriculares dos cursos de Pedagogia predominam os referencias teóricos, seja

de natureza histórica, sociológica, psicológica, filosófica entre outros em detrimento dos

conhecimentos específicos para as Séries Iniciais do Ensino Fundamental.

Dentre os nove objetivos definidos no Projeto Político Pedagógico do curso, foi

observado que a questão do domínio de conteúdos não aparece em nenhum deles, podendo-se

inferir que se as Diretrizes Curriculares do Curso de Pedagogia não deixam claro isto, o

projeto dessa instituição também falha neste aspecto:

Art. 8º Os objetivos desse Curso são: I – compreender, de forma ampla e consistente, o fenômeno e a prática educativa que se dão em diferentes âmbitos e especificidades; II – compreender o processo de construção do conhecimento do indivíduo inserido em seu contexto social e cultural; III – identificar problemas sócio-culturais educacionais propondo respostas criativas às questões da qualidade de ensino e das medidas que visem superar a exclusão social; IV – estabelecer diálogo entre a área educacional e as demais áreas de conhecimento; V – articular ensino e pesquisa, apropriação e produção do conhecimento/saberes na construção da prática pedagógica; VI – desenvolver metodologias e materiais pedagógicos adequados à utilização das tecnologias da informação e da comunicação nas práticas educativas; VII – estimular o comprometimento com a ética na atuação profissional e com a organização democrática da sociedade; VIII – articular a atividade educacional nas diferentes formas de gestão educacional, na organização do trabalho pedagógico, no planejamento, na execução e avaliação de propostas pedagógicas da escola; IX – compreender os pressupostos avaliativos do processo educativo. (UNICENTRO, 2006, p. 2)

Sutilmente o inciso quinto, aponta a questão de apropriação de conhecimentos/saberes,

no entanto, é bastante amplo ao referir-se a prática educativa.

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Curi (2005) afirma que os documentos apresentam, em geral, diretrizes amplas para a

formação de professores, sendo que as pesquisas que tratam de questões mais específicas da

formação, como aquelas referentes à formação para ensinar Matemática, por exemplo, não

exercem muita influência na discussão e reorientação dos cursos de Pedagogia.

Curi (2005, p. 165) ainda destaca que:

O fenômeno descrito por Shulman (1992) como ‘paradigma perdido’ e suas contribuições sobre as vertentes no conhecimento do professor, quando se refere ao conhecimento da disciplina para ensiná-la, devem merecer investigações específicas que subsidiem os cursos de formação de professores.

Observou-se que o objetivo expresso no inciso sexto, aponta o desenvolvimento de

metodologias e materiais pedagógicos. Constata-se, contudo, o tempo destinado a essa

formação não contempla o necessário para se desenvolver estas metodologias e estes

materiais didáticos, ficando vago a questão dos reais objetivos desta prática e das

contribuições para a formação do pedagogo que irá ensinar matemática para as séries iniciais.

O que foi identificado com a organização curricular vai ao encontro da análise de Curi

(2005) que verificou que os cursos de graduação em Pedagogia elegem as questões

metodológicas como essenciais à formação de professores, o que não garante uma formação

adequada em termo de conhecimentos para se ensinar Matemática na Educação Infantil e nas

Séries Iniciais do Ensino Fundamental.

Se no passado o Curso de graduação em Pedagogia considerava primordial os estudos

teóricos em torno das disciplinas pertencentes ao campo das ciências da educação, não se

atendo tanto quanto deveria aos pressupostos práticos para a formação dos professores, pode-

se observar que hoje o cenário é outro, e o problema se agravou. A preocupação em torno das

metodologias não dispensa o conhecimento teórico. As metodologias respondem a arcabouços

teóricos.

O Curso de graduação em Pedagogia deveria propiciar a instrumentação pedagógica

específica para a docência, mas também favorecer a necessária formação teórica do pedagogo.

Quanto ao domínio de conteúdos, foi encontrado apenas uma menção no Projeto

Político Pedagógico do curso. Dentre as doze habilidades acadêmicas listadas no artigo 10

apenas uma refere-se ao domínio de conhecimento, no entanto, são observações quanto ao

conhecimento pedagógico e não específico matemático. Além disso, o objetivo é amplo e

audacioso, como pode ser verificado a seguir:

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Art. 10. O processo pedagógico de curso de Pedagogia da UNICENTRO visa formar um pedagogo com os conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes habilidades e competências: I – habilidades acadêmicas: a) conhecimento da realidade em que se inserem os processos educativos e desenvolvimento de formas de intervenção, com base na compreensão dos aspectos filosóficos, sociais, históricos, econômicos, políticos e culturais que a configuram e condicionam; b) conhecimento e avaliação das concepções filosóficas e pedagógicas das políticas educacionais e seus processos e implementação nos diversos níveis e modalidades de ensino; c) compreensão dos vários domínios do conhecimento pedagógico e os conteúdos disciplinares específicos e respectivas metodologias numa perspectiva de formação contínua e de auto-aperfeiçoamento; d) mobilização e integração de conhecimentos, capacidades e tecnologias para intervir efetivamente em situações pedagógicas concretas; e) articulação, mediante práticas participativas, de recursos humanos, metodológicos, técnicos e operativos, inclusive em equipes interdisciplinares e multiprofissionais; f) investigação de situações educativas, sabendo mapear contextos e problemas, captar e analisar as contradições, argumentar e produzir conhecimentos; g) atuação com ética e profissionalismo, com responsabilidade social para a construção de uma sociedade includente, justa e solidária; h) compreensão do desenvolvimento e da aprendizagem de pessoas inseridas em seus contextos culturais e sociais, considerando as dimensões cognitivas, afetivas, éticas e estéticas; i) articulação das teorias pedagógicas e curriculares no processo ação-reflexão, envolvendo a docência, a elaboração e avaliação de projetos pedagógicos e o desenvolvimento da organização e gestão do trabalho educativo; j) análise das situações educativas e de ensino e realização de pesquisas, de modo a produzir conhecimentos teóricos e práticos; k) promoção da articulação e integração entre saberes e processos investigativos dos diversos campos do conhecimento, visando a formação do cidadão; l) observação dos preceitos constitucionais, a legislação educacional em vigor e o Estatuto da Criança e do Adolescente, como fundamentos da prática educativa. [ grifos nossos] (UNICENTRO, 2006, p. 3)

Observa-se nas habilidades acadêmicas estabelecidas pelo Projeto do curso um quadro

que se aproxima de duas das três vertentes propostas por Shulman (1986), a que se segue:

conhecimento do conteúdo da matéria ensinada e conhecimento pedagógico da matéria.

Entretanto, esta compreensão, como se observou a partir dos depoimentos dos alunos

pesquisados, não acontece durante o curso, visto que abordar o que se pretende nesta

habilidade requerida não é possível, tendo apenas uma disciplina destinada a formação

matemática do pedagogo durante o curso.

Embora seja reconhecida a importância da formação continuada, como enfatiza a

habilidade grifada anteriormente, é preciso destacar o quão fundamental é a formação inicial

recebida no curso de graduação em Pedagogia para o trabalho com os conteúdos disciplinares

específicos de Matemática. Não se pode atribuir a formação continuada esta função, pois

certamente ela ficará sobrecarregada e não efetivará esta habilidade pretendida.

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Salienta-se que se o curso é destinado à docência, isto deve estar impresso não

somente no rol das habilidades, mas na organização curricular e na carga horária destinada às

disciplinas específicas, principalmente aquelas que atendam os conteúdos a serem abordados

nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental.

Ao se analisar os Componentes Curriculares, observa-se que das trinta e sete

disciplinas presentes no curso de Pedagogia, onze tratam da docência na Educação Infantil e

Séries Iniciais do Ensino Fundamental, equivalendo isto a um total de aproximadamente 900

horas. O mesmo ocorre, como pode ser averiguado, em outros cursos de formação que têm o

mesmo perfil deste. O curso possui a carga horária de 3392 horas, sobram então 2492 horas

para os demais estudos. O que evidencia certo descaso para com o conhecimento das áreas

específicas que recebem apenas 26,5% (900 horas), da carga horária total do curso.

O currículo do curso de Pedagogia analisado tem uma característica fragmentária,

apresentando um conjunto disciplinar bastante disperso. Mesmo dentre as disciplinas de

formação específica, predominam as abordagens de caráter mais descritivo e que se

preocupam menos em relacionar adequadamente as teorias com as práticas. As disciplinas

referentes à formação profissional específica apresentam ementas que registram preocupação

com as justificativas sobre o porquê ensinar, o que, de certa forma, contribuiria para evitar

que essas matérias se transformassem em meros receituários; entretanto, só de forma muito

incipiente registram o quê e como ensinar.

Os conteúdos das disciplinas a serem ensinadas na Educação Básica, em especial a

Matemática, comparecem apenas esporadicamente. Não são destinadas também disciplinas os

conteúdos substantivos de cada área, nem mesmo para Língua Portuguesa e Matemática. Tais

conteúdos permanecem implícitos na concepção de que são de domínio dos graduandos, o que

não é verdade.

Fica a observação do desequilíbrio na relação teoria-prática, em favor dos tratamentos

mais teóricos, de fundamentos e contextualização.

A análise do Projeto Político Pedagógico do Curso de Graduação em Pedagogia:

Docência e Gestão Educacional mostra que há o predomínio de uma formação muito

generalista, assentada nos fundamentos da educação, que não considera a necessidade de

construir conhecimentos sobre as disciplinas para ensiná-las.

Esta evidência parece reportar-se as décadas de 70 e 80, conforme aponta Shulman

(1992, citado por CURI 2005), em que a preocupação deslocou-se dos objetos de ensino para

uma forte ênfase nas metodologias. Esta modificação deslocou a preocupação sobre “o que

ensinar” para o “como ensinar”, que se reflete na formação dos professores ora analisados.

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Esta medida foi tomada a partir de 1961, quando a opção pela produção externa dos

recursos didáticos utilizados em sala de aula foi privilegiada, enquanto as experiências que

adotavam métodos de ensino modernos, tais como colégios de aplicação, colégios

experimentais, colégios vocacionais foram eliminadas. A partir desta conjuntura, o

conhecimento didático que fundamentava as experiências modernas de ensino deixa de ser

oferecido nas habilitações que formavam professores. As metodologias significaram a

tentativa em se ministrar o mesmo conhecimento a partir da experiência, pensando que tal

medida supriria a ausência do conhecimento acerca da História da Ciência, e não da

Educação.

Apesar das mudanças ocorridas no curso de Pedagogia ora analisado, a disciplina

destinada à Matemática continuou com a mesma denominação: Metodologia do Ensino da

Matemática. Sofreu alterações somente no que se refere à forma como estava organizada na

grade curricular. Até 2005 era trabalhada no terceiro ano do curso em regime anual e não

semestral, permanecendo com a mesma carga horária. A única disciplina destinada à

Matemática é oferecida em quatro aulas durante o segundo semestre do terceiro ano do curso,

totalizando apenas 68 horas, sendo pouco expressiva.

Em um curso de Pedagogia, cujos Componentes Curriculares são compostos de uma

carga horária total de 3392 horas, 68 horas equivale a apenas 2%, ou seja, uma ínfima fração

de toda a formação inicial que os alunos recebem são dedicadas ao conhecimento

Matemático.

Foi constatado, pelo exame do Currículo Pleno do curso de Pedagogia, que o tempo e

os conteúdos são exíguos para dar conta dos conteúdos e metodologias do ensino da

Matemática nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental.

A constatação deste fato faz avaliar que apenas uma disciplina oferecida neste curto

espaço de tempo, abrangendo uma parte bastante inexpressiva da formação inicial dos futuros

professores, certamente não contemplará uma construção de conteúdos matemáticos

necessários para a atuação adequada nas salas de aula para um professor iniciar na profissão,

impossibilitando assim a criação de metodologias que favoreçam a aprendizagem por parte

dos alunos. Diante das análises feitas e do acima exposto acredita-se que o curso não cumpre

dois dos grandes objetivos que foram analisados anteriormente: possibilitar o conhecimento

didático-metodológico e teórico.

Mello (2000) enfatiza que os currículos dos cursos de formação de professores

apresentam certa fragilidade, tanto nos aspectos didático-metodológicos dos conteúdos como

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nas concepções teóricas e políticas relativas à profissão docente, de modo que é necessário

fazer uma reflexão no âmbito das práticas e dos referenciais que os orientam.

Considerando a ementa e a programação proposta para a disciplina de Metodologia do

Ensino da Matemática e o número de horas destinadas a essa disciplina evidencia-se que essa

formação é muito inexpressiva, e não atinge as três vertentes do conhecimento do professor

destacadas por Shulman (1986): o conhecimento do conteúdo, o conhecimento didático do

conteúdo e o conhecimento curricular, bem como as demais categorizações realizadas por

Gauthier (1998), Ponte (2002) e Tardif (2002).

Os conteúdos curriculares básicos propostos pelos PCN’s de Matemática não são

totalmente abordados na programação proposta pela Instituição, nem no sentido de

aprofundamento nem no tratamento didático, embora exista uma proposta de discussão

curricular nas ementas, no caso o estudo dos PCN’s.

Mesmo que sua ementa traga muitos elementos que poderiam suscitar a discussão e o

trabalho com os conhecimentos matemáticos, verifica-se que nem tudo o que está posto na

ementa foi realmente efetivado no trabalho desta disciplina.

Ementa: Metodologia do Ensino da Matemática - O ensino da matemática. Planejamento e desenvolvimento de atividades para o ensino de matemática. Didática e a matemática. Construção do conhecimento matemático. Análise dos enfoques teóricos e metodológicos da matemática. A aquisição dos conceitos matemáticos e suas implicações no processo de aprendizagem. (UNICENTRO, 2006, p.10)

Foi verificado que os conhecimentos relativos à formação profissional específica em

Matemática têm em seus conteúdos uma predominância de aspectos teóricos contemplando

pouco as possibilidades de práticas educacionais associadas a esses aspectos.

A ementa traz o registro de frases genéricas não permitindo identificar conteúdos

específicos, indicando que os conhecimentos relativos à formação profissional específica em

Matemática apresentam-se de forma panorâmica e pouco aprofundada.

A ínfima carga horária destinada ao conhecimento matemático do futuro professor e a

ementa da disciplina de Metodologia do Ensino da Matemática indica que o curso oferece um

panorama sobre os conteúdos específicos sem o aprofundamento necessário para a

contextualização na perspectiva de: história da produção de determinado conhecimento

matemático, possíveis problematizações e aprofundamento suficiente para que os futuros

professores proponham desafios capazes de favorecer a aprendizagem significativa dos

alunos.

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Ao analisar o Currículo Pleno do Curso de Pedagogia e a Ementa da disciplina de

Metodologia do Ensino da Matemática, torna-se evidente que os conteúdos específicos da

disciplina de Matemática a serem ministrados em sala de aula não são objetos de estudo deste

curso de formação inicial de professores. Dessa forma, compreende-se que apesar de a

Matemática se fazer presente e necessária na formação do professor das séries iniciais, ela se

apresenta de forma justaposta e desarticulada na proposta de formação do curso de Pedagogia,

indicando que ela é incorporada ao currículo deste curso, apenas como um suplemento na

formação do Pedagogo.

Ressalte-se que a baixa carga horária destinada à formação para o ensino de

matemática é um dos componentes que contribui para seus problemas. Não se deseja defender

a construção de um currículo baseado no modelo da racionalidade técnica. Embora o

conhecimento do conteúdo específico seja necessário ao ensino, simplesmente dominar tal

conhecimento não garante que o mesmo seja ensinado e aprendido com sucesso. Posta essa

ideia, perguntamos também se o conhecimento didático não seria um caminho pelo qual essas

questões poderiam ser interpretadas. Não adiantaria ampliar a carga horária para o trabalho

com o conhecimento pedagógico e matemático apenas; se o processo não envolver o

conhecimento didático, os problemas continuarão.

Pode-se entender, após a análise do Projeto Político Pedagógico, da Grade Curricular e

da Ementa da Disciplina que trata da Matemática no curso de Pedagogia em questão, o quanto

é urgente e necessária uma mudança no currículo deste curso, de modo que seja dedicado

maior tempo para as disciplinas metodológicas, pois se o aluno não sabe o conteúdo, como

pensará em maneiras para ensiná-lo?

Entretanto, ressalta-se que não basta aumentar a carga horária de disciplinas, isso não

é sinônimo de aprendizagem, porém pode ser o início de uma garantia de espaço e tempo para

contemplar com mais ênfase o “ que” e o “como” ensinar, pensando sobre o que ensinar,

compreendido pelo conteúdo específico, no caso, matemática e, sobre como ensinar,

entendida pela fundamentação didática.

Sousa (2007, p. 67) destaca que:

[...] a organização do trabalho com a disciplina de Metodologia da Matemática deve abordar os discursos sobre a matemática e educação, sobre a realidade da sala de aula e fazer pontes entre o conteúdo matemático, sua forma de desenvolvimento e a realidade educacional.

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Levando em considerando o que Sousa (2007) propõe, observou-se que da forma

como está organizado o curso de Pedagogia ora analisado, não consegue abordar

adequadamente com seus alunos esta importante relação: conteúdo, metodologia de ensino e

realidade educacional.

Há, portanto, a necessidade de se discutirem os dados coletados a fim de vislumbrar

mudanças neste cenário de formação inicial de professores, pois no atual modelo de educação,

o processo de aprendizagem da Matemática, em seu aspecto formal e sistematizado, inicia-se

na educação básica nos primeiros anos do Ensino Fundamental, do primeiro ao quinto ano de

escolarização dos alunos, quando são construídas as bases para a formação Matemática.

Nessas séries, em geral, tem-se como professores de todas as áreas do conhecimento,

os Pedagogos, que são profissionais graduados em cursos de Licenciatura em Pedagogia. São

esses profissionais que iniciam o processo de alfabetização de estudantes das séries iniciais.

Dessa forma, torna-se necessário que o Pedagogo tenha uma formação que o

possibilite, pedagógico-didaticamente, desenvolver conhecimentos sólidos e eficazes, capazes

de garantir aprendizagens minimamente satisfatórias quanto às áreas de conhecimento em que

atua em especial da Matemática.

Küenzer e Rodruigues (2007) entendem que da maneira como o curso de Pedagogia

está organizado, este representa uma totalidade vazia. Para as autoras é impossível o curso dar

conta de uma formação de qualidade com um perfil demasiadamente ampliado, que prevê a

formação de um profissional para atuar nas diversas áreas da docência, na gestão e na

produção de conhecimento.

Analisando as DCNP (2006) e o Projeto Político Pedagógico do curso, concorda-se

com Libâneo (2002), quando este afirma que é uma incongruência formar em 3.200 horas,

num mesmo curso, três ou quatro profissionais. Na opinião de Libâneo,

para se atingir níveis mínimos desejáveis de qualidade da formação, ou se forma um bom professor, ou se forma um bom gestor ou coordenador pedagógico ou um bom pesquisador ou um bom profissional para outra atividade. Não é possível formar todos esses profissionais num só curso, nem essa solução é aceitável epistemologicamente falando. A se manter um só currículo, com o mesmo número de horas, teremos um arremedo de formação profissional, uma formação aligeirada, dentro de um curso inchado. (2002, p. 84)

O processo analisado por Libâneo é possível de ser verificado nas diretrizes do curso

de Pedagogia homologadas em 2006 e no Projeto Político Pedagógico analisado que prevê a

formação do professor, do gestor e do pesquisador em um mesmo curso.

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4.2 O CONHECIMENTO MATEMÁTICO E AS CONDIÇÕES DA FORMAÇÃO INICIAL

Passa-se agora a analisar, conforme propõe Bardin (1979), as respostas dadas e os

depoimentos dos sujeitos desta pesquisa em relação ao primeiro instrumento de coleta de

dados: o questionário.

Os sujeitos desta pesquisa revelam através dos dados coletados, que pela sua faixa

etária e por não ter cursado o Magistério durante o Ensino Médio foram, de acordo com a

LDB, buscar uma formação em nível superior para atuar nas Séries Iniciais do Ensino

Fundamental.

Percebe-se assim, que conforme aponta Brito (2006) após os anos 90 o curso de

graduação em Pedagogia foi se constituindo, apesar dos empecilhos postos em diferentes

níveis governamentais, como o principal locus da formação docente dos educadores para

atuar na Educação Básica: na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

Entretanto, nem sempre os graduandos sonham em ser professores, há vários motivos

que os levam a escolher esta graduação, como pode ser observado na tabela 5:

Tabela 5 – Motivo da Escolha do Curso

CATEGORIAS RESPOSTASGosta e se identifica com o curso 14Não gostava de matérias consideradas mais exatas 21Só passou no vestibular de Pedagogia 10Trabalha na área: professor das séries iniciais 4Complementação da formação pedagógica 5TOTAL 54

Tabela organizada por Marlisa Bernardi de Almeida – 2008

As informações levantadas por meio do questionário evidenciaram que relacionar a

formação de professores à Matemática não constitui uma tarefa fácil, haja vista que, a

inexpressiva contribuição desta área do conhecimento nos cursos de Pedagogia chega a

determinar a opção pelo curso, denunciand o a postura do futuro professor frente a sua

atuação profissional e o processo escolar não contribuiu para modificar seu pensamento.

Constatou-se que os graduandos pesquisados, futuros professores das Séries Iniciais do

Ensino Fundamental, não se identificam com as disciplinas consideradas mais exatas e por

isso fazem Pedagogia. Conforme já apontado por Brito e Gonçalez (1996), parece não haver a

noção de que o trabalho do pedagogo também demanda conhecimentos desta área.

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A pesquisa de Silva (2004) revela que muitos professores chegam a assumir que

procuram o curso de Pedagogia em razão da quase ausência da Matemática em seus

currículos. Outros, já em atuação profissional, não escondem, de acordo com a pesquisadora,

que escolhem a educação infantil ou o ensino especial para não serem obrigados a trabalhar

com uma matemática mais formal.

Curi (2005) aponta que as crenças que os professores têm com relação à Matemática e

seu ensino influencia na tomada de decisões, principalmente quando a decisão envolve a

atuação profissional.

Uma outra questão que foi analisada nos surpreendeu mais ainda, pois se torna

evidente a não apreciação da Matemática por parte dos futuros professores da Educação

Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental, como mostra a tabela 6:

Tabela 6 – Sentimento em relação à Matemática

CATEGORIAS Ensino

Fundamental

Ensino

MédioGostava da Matemática 02 ...........

Gostava da Matemática e conseguia ter uma boa

aprendizagem

05 03

Era indiferente a Matemática 05 05

Tinha horror a Matemática 02 09

Tinha horror a Matemática e apresentava dificuldades

nos conteúdos

11 04

Gostava da Matemática mas tinha dificuldades nos

conteúdos

05 09

Tabela organizada por Marlisa Bernardi de Almeida - 2008

As respostas dos alunos constataram a sua indisposição para aprender matemática; esta

rejeição se amplia no ensino médio. Há uma controvérsia nas respostas coletadas: quando

perguntados se tinham horror à matemática, uma parte afirmou que sim, e esse índice

aumentava em relação ao ensino médio. Quando perguntados porque tinham horror à

matemática, justificaram que não sabiam lidar com os conteúdos, o que significava dizer que,

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em parte, não sabiam compreender os problemas, desafios e outros assuntos abordados pela

matemática. Considerando o agrupamento de informações poder-se-ia afirmar que mais da

metade dos alunos pesquisados não gostam de Matemática.

Por entender que no curso de graduação em Pedagogia os acadêmicos têm pouco

contato com o conhecimento matemático, é de se supor que este problema seja reflexo da

dificuldade que enfrentaram na aprendizagem dos conteúdos matemáticos quando cursaram a

Educação Básica.

Para Curi (2005), os conhecimentos constituídos pelo futuro professor em sua

trajetória pré-profissional vão influenciar sua ação docente. Serrazina (2002) considera como

fatores que influenciam a forma como os professores das séries iniciais encaram o ensino da

Matemática: o conhecimento da Matemática, o interesse e o gosto por ensinar Matemática. No

entanto, as informações levantadas expressaram, em sua maioria, esta relação com o

conhecimento matemático:

A10: “Nunca tive um bom relacionamento com a Matemática”.

A12: “Meus professores de Matemática não apresentavam paciência para explicar [...]”.

A17: “Nunca consegui aprender Matemática. Para mim ela é muito difícil”.

A20: “ A Matemática sempre foi pra mim um “bicho de sete cabeças”.

A25: “ Não sou nenhum pouco fã da Matemática”.

Considerando que a maioria destes alunos nunca trabalhou como professor, seria

preciso segundo Curi (2005), “refletir sobre as formas de constituição de conhecimentos do

professor nessa etapa de sua trajetória profissional [...]”.

Ou seja, os cursos de graduação em Pedagogia deveriam pensar formas de atender a

este público que está acessando os cursos de pedagogia, sem a atuação profissional no ensino.

E mais grave, sem saber conhecimentos básicos sobre matemática.

Para Thompson (1992, apud SERRAZINA 2002, p. 13), “é difícil diferenciar o

conhecimento da Matemática dos professores dos anos iniciais do conhecimento da

Matemática que ensinam aos seus alunos, pois está muito ligado às suas crenças e concepções

sobre a Matemática e seu ensino” e essas crenças e concepções como vimos, nem sempre são

positivas, pois a relação dos alunos do curso de Pedagogia com a Matemática conforme

apontam os primeiros dados da pesquisa nem sempre é tranquila, porque a consideram muito

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difícil e suas lembranças em relação a ela são geralmente negativas, resultantes de suas

dificuldades em aprender os conteúdos matemáticos.

De fato, os números, os problemas, as fórmulas, as equações sempre estão lá; o que

algum profissional da matemática poderia fazer é explicar e discutir o conhecimento

envolvido no ensino fundamental básico com os professores que estão em atuação de modo a

traduzir e decodificar esse conhecimento aos pedagogos e demais professores.

Tal ocorrência conduz a questionar sobre a formação do professor de Matemática das

séries iniciais. Talvez uma resposta possível esteja na visão de que o professor deva

desenvolver, conforme aponta Beatriz D’Ambrosio (1993), competências sobre o que vem ser

a Matemática, do que constitui a atividade e a aprendizagem Matemática e compreender o que

constitui um ambiente propício a aprendizagem Matemática.

Estes depoimentos anunciam e denunciam que, nos cursos de formação inicial de

professores, é possível proporcionar legalmente ao futuro professor a aquisição de uma das

polivalências, como por exemplo, a de Matemática sem que seja, efetivamente, removido o

muro de desafeto que os distância desta área de conhecimento.

Caraça (2002) diz que a relação com o conhecimento matemático deve ser libertadora

do medo gerado pelo desconhecimento e não exatamente o contrário, como pode ser

observado da fala dessas alunas. O agravante diante dessas revelações é que esses graduandos

do curso de Pedagogia iniciam ou vão iniciar a criança num conhecimento pelo qual eles têm

desafeto ou indiferença. Uma forma de se libertar do medo é aprender de fato o conteúdo

matemático, pois quando se aprende, começa-se a ter mais gosto pela disciplina.

O pressuposto básico que move o empenho que se tem com esta questão da formação

inicial de professores é de que esses concluintes do curso de Pedagogia são ou serão

professores de Matemática, portanto, precisam estabelecer um relacionamento com esta área

de conhecimento que os satisfaça. Sem que isto ocorra, é provável que estarão desenvolvendo

nas crianças os mesmos bloqueios que tiveram quando aprenderam Matemática.

O outro pressuposto é de que esses alunos, em sua grande maioria, são ou serão

professores de Matemática num momento estratégico da aprendizagem da criança. Seus

alunos são ou serão as crianças de Educação Infantil e das Séries Iniciais do Ensino

Fundamental, momento em que se formam as bases para que a criança possa ter seu próprio

movimento perante a aprendizagem dos conceitos. Não está se tratando, aqui, de pré-

requisitos curriculares, mas das bases do pensamento e das linguagens que constituam um

campo semântico-afetivo para a aprendizagem pessoal e coletiva dos conceitos matemáticos.

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Quando indagados sobre a aprendizagem dos conteúdos Matemáticos, a maioria dos

graduandos revelou que apresentam dificuldades no que se refere aos conteúdos matemáticos

do Ensino Fundamental, citando alguns conteúdos que mais apresentam dificuldades, dentre

os quais podemos relacionar os que mais aparecerem nas respostas: porcentagem, frações,

divisão, multiplicação, expressão numérica, operações com números decimais e a resolução

de problemas. Ao falar do processo de ensino e aprendizagem das metodologias, expressaram

as informações contidas na tabela 7:

Tabela 7 – Dificuldades em relação à Matemática

CATEGORIAS ALUNOS

Entender, aprender os conteúdos 13

Muitas dificuldades 15

Poucas dificuldades 02Tabela organizada por Marlisa Bernardi de Almeida - 2008

Nota-se que vários dos conteúdos citados pelos graduandos, dos quais eles apresentam

dificuldades, fazem parte do currículo do Ensino Fundamental das séries iniciais. Sobre este

aspecto Torres (1998, citado por MAKAREWICZ, 2007, p. 23) enfatiza que:

A aprendizagem dos professores não começa no primeiro dia de sua formação como professor, começa em sua infância, no lar e quando esse futuro professor vai para a escola. O mau sistema escolar forma não só maus alunos, como maus professores que, por sua vez, reproduzirão o círculo vicioso e empobrecerão cada vez mais a educação.

Logo, em se tratando de formação inicial, a experiência que o estudante tem com

relação ao ensino de Matemática é em grande parte aquela decorrente de sua vivência como

aluno da educação básica.

Frota (2003) aponta que o construto de matemática, de aprendizagem matemática, de

pensamento matemático, decorre da história vivida de cada aluno e traz implícito, ou mesmo

explícito, crenças conscientes ou não, ideias próprias ou de outros, valores e sentimentos

internamente desenvolvidos, transparecendo uma visão que tem desta disciplina.

Tardif (2002) considera que o professor, ao realizar seu trabalho, apoia-se nos

conhecimentos disciplinares, didáticos e pedagógicos adquiridos na escola de formação e nos

conhecimentos curriculares direcionados em programas e livros didáticos. Tardif (2002) vai

além, considera, ainda, que os conhecimentos profissionais do professor são provenientes,

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também, de sua cultura pessoal, de sua história de vida e de sua escolaridade anterior, e do seu

próprio saber proveniente de experiências profissionais. O processo pessoal de aprendizagem

profissional da docência também tem sido identificado por Tardif como componente do

conhecimento profissional do professor.

Ponte (1998) enfatiza que o professor, para ensinar Matemática, deve ter uma boa

relação com a Matemática que vai lecionar. Talvez seja urgente a necessidade ao se pensar na

formação inicial do professor, em processos que permitam um convívio de reaproximação

coma Matemática. Serrazina (2005, p. 307) afirma que:

[...] quando os futuros professores chegam à sua formação inicial possuem um modelo implícito, um conhecimento dos conteúdos matemáticos que têm de ensinar, adquiridos durante a sua escolarização, bem como um conhecimento didático vivido durante a sua experiência como alunos.

Tendo em vista os apontamentos de Tardif (2002), Ponte (1998) e Serrazina (2005), a

formação inicial de professores deve favorecer o desenvolvimento de concepções,

sentimentos, atitudes e capacidades positivas em relação à Matemática, até para ajudá-lo a

superar os problemas anteriores. Essa formação deve encorajar os futuros professores a

refletir, questionando seus conhecimentos e dificuldades, de forma que possam vir a alterá-

las.

Em relação às dificuldades que encontraram quando “aprenderam” Matemática foi

possível levantar as informações sistematizadas na tabela 8:

Tabela 8 – A que se devem as dificuldades que encontravam na Matemática

CATEGORIAS ALUNOS

Metodologia do professor 20

Não gostar da disciplina 07

Falta de dedicação 03Tabela organizada por Marlisa Bernardi de Almeida - 2008

Embora as informações atribuam os problemas às metodologias utilizadas pelos

professores, é bom que se afirme que estes só refletem os debates travados na conjuntura

nacional entre ensino moderno e ensino convencional; entre ensino de matemática e educação

matemática; entre teoria e prática. Como o professor de matemática, na maioria das vezes,

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contribui para essa avaliação, pode-se examinar por algumas expressões sobre o professor e

sua prática:

A03: “[...] os professores não utilizavam novas metodologias e estratégias para

o aprendizado do aluno”.

A11: “Talvez um pouco mais de comprometimento meu e do meu professor”.

A15: “A maneira ou melhor a metodologia usada pelo professor”.

A26: “Muitas vezes por causa da metodologia do professor”.

Uma parte dos alunos, influenciados por uma avaliação liberal, expressam o seguinte

sobre sua trajetória pedagógica:

A17: “Hoje por ter amadurecido, acredito que o principal motivo das minhas dificuldades era a falta de atenção e comprometimento”.

A16: “Eu tinha muita timidez e aí não conseguia pedir ajuda, tinha vergonha de ir ao quadro e fazer errado por isso tenho muitas dificuldades em problemas matemáticos”.

A03: “Não gostava da matéria e com isso não me dedicava suficientemente. Estudava somente para alcançar a média para passar de ano”.

A09: “As minhas dificuldades eram pessoais, porque as minhas professoras eram muito boas”.

Conforme destaca Pais (2005), o cotidiano escolar reserva surpresas e acontecimentos

não desejáveis para uma aprendizagem satisfatória, surgindo o que foi chamado por

Brousseau (1996, citado por Pais) de efeitos didáticos28. Os efeitos didáticos são, quase

sempre, consequências diretas da ação pedagógica do professor. Segundo Pais (2005, p.116)

“eles se caracterizam como certos momentos decisivos para o sucesso ou para a continuidade

da aprendizagem quando o professor é desafiado a tomar decisões para tentar superar essas

dificuldades [..]”, caso contrário, a situação vivenciada pode indicar um fracasso de ensino.

Apesar de afetar a aprendizagem do aluno, não há garantia de que tais efeitos possam impedir

o aluno de aprender, pois a aprendizagem é um fenômeno complexo não redutível a uma

única dimensão.

28 Para saber mais ler: PAIS, Luiz Carlos. Didática da Matemática: uma análise da influência francesa. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

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O estudo feito destes efeitos nas aulas de Didática da Matemática, mostra o quão

importante é ação pedagógica do professor, por isso a importância de primeiramente ele ter

domínio dos conteúdos que vai trabalhar bem como aprender a utilizar metodologias

adequadas para efetivar a aprendizagem matemática dos seus alunos.

Nos depoimentos dos graduandos do curso de Pedagogia verifica-se que vários

relacionam suas deficiências com Matemática aos seus professores durante a sua vida escolar

e com as técnicas e procedimentos utilizados no processo de ensino e aprendizagem. Para

Libâneo (2002), as deficiências de formação inicial e a insuficiente oferta de formação

continuada, aliadas a outros fatores desestimulantes, têm resultado num grande contingente de

professores mal preparados para as exigências mínimas da profissão (domínio dos conteúdos,

sólida cultura geral, domínio dos procedimentos de docência, bom senso pedagógico).

Aprendizagem, para D’ Ambrósio (1993), é aquisição da capacidade de explicar, de

apreender e compreender, e de lidar, criticamente com situações novas. Não é o mero domínio

de técnicas, habilidades e muito menos a memorização de algumas explicações e teorias.

Portanto, conhecer a disciplina cuja aprendizagem vai mediar é fundamental ao professor,

porém, somente isso não basta.

Nesta perspectiva, o futuro professor, além do conteúdo específico necessário para o

exercício do magistério, tem a necessidade de fazer a transposição didática do conteúdo, por

isso necessita ter uma formação que contemple as três vertentes do conhecimento proposta

por Shulman (1986). Há necessidade de se favorecer, na formação inicial dos futuros

professores, uma aproximação integrada da didática, articulando domínio dos conteúdos,

metodologia e formação pedagógica.

Esta formação inicial do futuro professor deve contemplar ainda, segundo Curi (2005),

momentos em que os graduandos possam modificar suas crenças negativas em relação à

Matemática e seu ensino, por isso uma das perguntas do questionário objetivava saber se os

graduandos do curso modificaram seus sentimentos negativos em relação á Matemática.

Dentre as informações levantadas sobre a relação que estabelecem atualmente com

essa área do conhecimento, obteve-se na tabela 9 o seguinte:

Tabela 9 – Atualmente, como encara a Matemática?

CATEGORIAS ALUNOS

Necessária e importante para vida 13

Continua não gostando e acha difícil 15

Importante para a prática pedagógica 02

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A maioria dos graduandos continua não gostando de matemática: acha difícil, apesar

de a encararem como necessária e importante para a vida. Dois alunos se referiram a ela como

importante para sua prática pedagógica; não foi verificado se isso se configura na prática.

Os graduandos pesquisados comentaram que:

A21: “Continuo tendo dificuldades e não gosto da disciplina”.

A17: “Continuo não gostando. Não me identifico com a disciplina”.

A26: “Encaro a Matemática como algo fundamental para a vida na escola e na sociedade”.

A23: “A Matemática é necessária para nosso dia-a-dia”.

A25: “Encaro como algo importante para nossa vida em sociedade”.

A03: “Continuo não gostando, mas tenho plena consciência de que é necessária para minha formação”.

A04: “Preciso dominar o conteúdo para trabalhar os conteúdos com os alunos. A Matemática é essencial na minha profissão”.

Considerando o percurso que tiveram, os graduandos pesquisados têm uma visão

utilitarista da Matemática; e o pouco interesse que desperta advém desta compreensão.

Há grande influência no ensino, e como não poderia deixar de ser, também no ensino

da matemática, da concepção platônica29, que considera apenas o mundo abstrato da

matemática.

Todavia através da concepção kantiana, estudada nas aulas de didática da Matemática

de nosso curso, pode-se compreender que a Matemática apesar de ter sua origem no mundo

real, é constituída essencialmente de abstrações e generalizações, cujo entendimento não está

claro para os alunos pesquisados. A Matemática tem sua aplicabilidade, mas é essencialmente

constituída de abstrações. E isto deve ficar claro para os futuros professores. Pois o

conhecimento matemático é obtido no mundo das ideias, mas pode ser aplicado e comprovado

no mundo real.

Segundo os PCN´s (1997), a atividade matemática deve estar orientada para integrar

de forma equilibrada seu papel formativo (o desenvolvimento de capacidades intelectuais

29 Para saber mais ler: BICUDO, Maria Aparecida Viggiani. Filosofia da educação matemática concepções e movimento. Brasília: Plano, 1999. MACHADO, Nilson José. Matemática e Realidade: análise dos pressupostos filosóficos que fundamentam o ensino da matemática. São Paulo: Cortez, 1994.

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fundamentais para a estruturação do pensamento e do raciocínio lógico) e o seu papel

funcional (as aplicações na vida prática e na resolução de problemas de diversos campos de

atividades).

Conforme aponta Ball (2004):

Tão central como a compreensão dos conceitos matemáticos e dos procedimentos são a compreensão do que significa fazer matemática, a capacidade de validar as próprias respostas, a apreciação e relevância da matemática para além da utilidade quotidiano corrente. (BALL apud VELOSO, 2004, p. 36)

Mesmo tendo cursado a disciplina de Metodologia do Ensino da Matemática e estar

concluindo o curso de Pedagogia, os alunos pesquisados ainda apresentam resistência ao

ensino da Matemática. Evidentemente que isso é reflexo do ínfimo tempo dedicado ao

conhecimento desta área no currículo do curso de graduação em Pedagogia.

Através da análise das respostas pode-se partir do pressuposto que as experiências

pregressas na escola influenciam as atitudes em relação à Matemática. Estima-se também que,

para implementar medidas visando melhorar as habilidades em Matemática dos alunos que

buscam a formação em Pedagogia, é fundamental considerar aspectos não só cognitivos, mas

também psicológicos e sociais que fizeram parte do percurso desses estudantes na escola, ou

seja, acredita-se que haja necessidade de conhecer as representações dos graduandos sobre a

Matemática e o seu ensino.

As manifestações desfavoráveis à Matemática dos participantes da presente pesquisa

revelam que as dificuldades em relação à Matemática manifestadas no Ensino Superior têm

raízes anteriores que remetem às condições de ensino oferecidas até esse momento. Os

trechos evidenciam que esses futuros professores “aprenderam” Matemática com muito

sofrimento, pela memorização, com abordagens de ensino tecnicistas, o que provavelmente

contribuiu para o desenvolvimento de atitudes tão negativas.

Em relação a esse aspecto Gómez Chacón (2002) distingue duas categorias de atitudes

em relação à Matemática: atitude sobre a Matemática e atitude matemática. As atitudes sobre

a Matemática dizem respeito à valorização e apreciação desta disciplina e ao interesse por ela

e por sua aprendizagem. Nesse caso, predomina o aspecto afetivo mais do que o cognitvo e

manifesta-se através de interesse, satisfação, curiosidade, valorização.

Levando em consideração os apontamentos de Gómez Chacon (2002) pode-se

verificar que os graduandos não manifestaram interesse em relação aos conhecimentos

matemáticos, devido as suas atitudes sobre a Matemática, mesmo nesta etapa da

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formação.Além disso, pode-se inferir que a graduação em Pedagogia não os auxiliou neste

aspecto afetivo em relação à Matemática, o que poderá ter consequências negativas para o

processo ensino e aprendizagem desta disciplina.

Considerando a representação negativa da Matemática presente nos graduandos

pesquisados, acredita-se ser necessário que o curso de Pedagogia mude esta situação e evite

que os futuros professores voltem a ensinar uma nova geração a detestar a Matemática, assim

como eles detestaram durante sua passagem pela Educação Básica. Por isso, é fundamental

que o curso de Pedagogia analisado reveja sua maneira de trabalhar a formação matemática

desses futuros professores.

Se a representação que o futuro professor possui da Matemática é negativa, o

conhecimento no contexto escolar operado por ele vai transportar uma visão de matemática

difícil, inacessível, opressora, por isso é fundamental, que uma representação positiva da

Matemática seja trabalhada nos cursos de formação inicial de professores, propiciando a

prática de transposição didática dos conteúdos da Matemática e permitindo que o

conhecimento seja conectado à realização e à autoconfiança.

Curi (2005) também aponta como essencial na formação de professores das séries

iniciais desenvolver atitudes positivas em relação à Matemática, para isso os futuros

professores deverão aprimorar capacidades como: resolver problemas, perseverança na busca

de resultados, interesse em utilizar diversas representações matemáticas e “confiança em si

mesmo para aprender e ensinar matemática”. (CURI, 2005, p. 157).

Ponte (1998, p. 24) afirma que: “[...] na verdade, um professor para exercer

adequadamente a sua atividade profissional, tem de ter bons conhecimentos e uma boa relação

com a Matemática”. Como mostra a investigação realizada, esta formação não está

acontecendo com a maioria dos futuros professores que buscam a graduação em Pedagogia.

Santos (1989) ressalta que muitos dos futuros professores desenvolvem uma atitude

negativa em relação ao estudo matemático, influenciando negativamente a formação dos seus

alunos das Séries Iniciais do Ensino Fundamental.

Loureiro (2004) aponta que as experiências de aprendizagem matemática dos futuros

professores devem ser realizadas num clima de aprendizagem que contrarie todos os

constrangimentos negativos e favoreça o desenvolvimento de concepções, atitudes e

capacidades positivas em relação à Matemática. Por isso, “é decisivo ajudá-los a compreender

bem a matemática dando-lhes condições para que continuem interessados em estudar e

aprender matemática depois de licenciados”. (LOUREIRO, 2004, p. 63)

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Se a caracterização da conjuntura escolar dos graduandos do curso de graduação em

Pedagogia demonstrou uma expressiva resistência ao conhecimento matemático, pode-se

evidenciar que todos os graduandos pesquisados (100%) expressaram em suas informações

ter aprendido no curso de Pedagogia, na disciplina de Metodologia do Ensino da Matemática,

apenas a maneira lúdica de trabalhar com a Matemática. Dentre as informações coletadas

alguns indícios desse trabalho lúdico são: jogos, brincadeiras, material concreto:

A04: “Aprendi como trabalhar a Matemática de forma lúdica, tornando as aulas prazerosas”.

A15: “Trabalhar com o material dourado”.

A02: “Trabalhar com materiais concretos”.

A29: “Aprendemos métodos para aplicar a Matemática através de jogos e brincadeiras”.

A16: “Através de trabalhos, apresentações de como trabalhar a matemática com jogos e brincadeiras”.

A03: “Foi trabalhada a Metodologia do Ensino de Matemática, onde confeccionamos materiais para serem trabalhados em sala de aula”.

Por se tratar de Metodologia da Matemática, a maneira lúdica de aprender Matemática

é uma das possibilidades de orientação do trabalho pedagógica, no entanto, deveria ter sido

trabalhada outras formas e metodologias para promover a aprendizagem matemática dos

alunos das SIEF.

Não se encontra nas respostas dos graduandos, referências às outras metodologias do

ensino da Matemática, quais sejam: Resolução de Problemas, História da Matemática e

Tecnologias da Informação apontadas nos Parâmetros Curriculares de Matemática (1997, p.

42) como “caminhos para fazer a Matemática na sala de aula”.

Ressalta-se a importância do trabalho já desenvolvido pela professora que bem ou mal

reaproximou estes alunos do ensino de matemática novamente, mas reconhecemos também

que a carga horária disponibilizada é baixa. O que o futuro professor precisa é aprender a

Matemática, pois certamente se isto acontecer aprenderão a gostar desta disciplina. No

entanto, é conhecido através dos PCN´s (1997), que esta aprendizagem não se dá somente

através de uma forma metodológica como a que foi enfatizada na disciplina do curso em

questão.

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Sabe-se que os Jogos Matemáticos e as atividades lúdicas quando convenientemente

preparadas, são um recurso pedagógico eficaz para a construção do conhecimento

matemático, mas não são os únicos. Existem muitos outros recursos que devem ser

conhecidos pelos futuros professores para que venham a utilizá-los em sala de aula.

Conforme enfatizam Fiorentini e Miorim (1990, p.1),

O professor nem sempre tem clareza das razões fundamentais pelas quais os materiais ou jogos são importantes para o ensino-aprendizagem da matemática e, normalmente, não questiona se estes realmente são necessários, e em que momentos devem ser usados. Geralmente costuma-se justificar a importância desses elementos apenas pelo seu caráter “motivador” ou pelo fato de se ter “ouvido falar” que o ensino da matemática tem de partir do concreto ou, ainda, porque através deles as aulas ficam mais alegres e os alunos passam a gostar da matemática. Entretanto, será que podemos afirmar que o material concreto ou os jogos pedagógicos são realmente indispensáveis para que ocorra uma efetiva aprendizagem da matemática?

Fiorentini e Miorim (1990) apontam que os jogos pedagógicos não são os únicos

recursos didáticos disponíveis para o ensino da matemática. Carraher (1988), com base em

suas pesquisas, afirma que “não precisamos de objetos na sala de aula, mas de situações em

que a resolução de um problema implique a utilização dos princípios lógico-matemáticos a

serem ensinados” (CARRAHER, 1988, p. 179). Representando uma posição no debate

matemático, a autora afirma sobre o material didático:

“[...] apesar de ser formado por objetos, pode ser considerado como um conjunto de objetos ‘abstratos’ porque esses objetos existem apenas na escola, para a finalidade de ensino, e não têm qualquer conexão com o mundo da criança”. (CARRAHER, 1988, p. 180).

Para estes pesquisadores, o concreto para a criança não significa necessariamente os

materiais manipuláveis, mas as situações que a criança tem de enfrentar socialmente.

Neste sentido, fica claro também que não é o jogo que trabalha a Matemática, mas sim

a intervenção pedagógica que se faz com ele. A mediação e orientação do professor quanto

aos procedimentos dos alunos ao jogar, questionando sobre suas jogadas e estratégias se

fazem necessárias para que o jogar se torne um ambiente de aprendizagem e não apenas de

reprodução mecânica dos conteúdos.

O jogo e a forma de pensar que ele propicia mediante a intervenção pedagógica do

professor pode tornar o estudo de Matemática mais prazeroso, aproximando-se da Matemática

com o desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas, de investigação e

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permitindo trabalhar os conteúdos culturais inerentes ao próprio jogo, pelo uso de uma

linguagem universalmente aceita: a linguagem matemática.

Alerta-se para o fato de que o material não fala por ele só. Somente levar um material

concreto para a sala de aula não irá ajudar na aprendizagem do aluno, mas sim a maneira

como ele será trabalhado pelo professor.

A ausência do conhecimento didático na formação dos professores promoveu um

ensino de matemática sustentado apenas na exposição dos conteúdos matemáticos. Na década

dos 1970, 1980 essa metodologia foi muito forte. Era (ou é ainda) a época do “Arme e

Efetue:” O resultado desse período refletiu-se em sala de aula, quando nos tempos atuais, os

professores de matemática só conseguem, em sua maioria expressiva, desenvolver atividades

se tiverem “materiais” didáticos, ou seja, a aula gira em torno do material e não do

conhecimento que ele permite. Nesta concepção, o concreto geralmente é interpretado como

sinônimo de fácil e o abstrato como sinônimo de difícil. As metodologias introduziram esse

pensamento: seria como cortar caminho na direção do conhecimento.

O material concreto ajuda a criança a fazer uma relação mais significativa e rápida

entre os conceitos abstratos que está aprendendo. Todavia é preciso saber como trabalhar

adequadamente com ele.

Um exemplo disso é o material dourado, o qual foi usado como exemplo nas respostas

dos graduandos pesquisados. O ideal é se trabalhar com este material ao mesmo tempo em

que se trabalha com o registro escrito dos números ou das operações. Os alunos precisam

estar não só manipulando, mas fazendo a relação com os conceitos de valor posicional e das

operações que estão sendo aprendidas concomitantemente com o registro escrito das mesmas.

Caso contrário, o material dourado (ou qualquer outro material) passa a ser somente um

momento de descontração dos alunos, o que não traz proveito significativo para o aprendizado

matemático das crianças.

Essa discussão evidencia que o material concreto e os jogos não são os únicos e muito

menos os mais importantes recursos na compreensão matemática, como usualmente se supõe.

Não se deseja dizer com isso que tal recurso deva ser abolido da sala de aula, pelo contrário,

mas que seu uso seja considerado como apenas uma das possibilidades para a compreensão

matemática.

As situações de ensino devem combinar material concreto com representações gráficas

(simbolizar matematicamente), de maneira que seja possível associar quantidades,

manipulação de objetos e operação mental sobre eles. Conforme aponta Carraher (1988) não é

o uso específico de material concreto, mas, sim o significado da situação, as ações da criança

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e sua reflexão e relações mentais que estabelece sobre essas ações é que são importantes na

construção do conhecimento lógico-matemático. Partindo desta ideia, é importante criar

situações que levem as crianças a desenvolver ações físicas e mentais, e que promovam a

reflexão sobre essas ações, descobrindo as propriedades lógicas subjacentes dos algoritmos de

resolução.

A intenção do trabalho com o material concreto é que a criança compreenda, aja sobre

ele, estabeleça relações mentais, registre e simbolize matematicamente, para então poder

automatizar, ou seja, realizar atividades diversas sem o uso do material concreto,

compreendendo de fato o conceito matemático que está se construindo.

O curso de Pedagogia dá prioridade à questão de uma única metodologia a ser

utilizada em sala de aula, pois como há uma disciplina apenas para o tratamento deste

conhecimento, os graduandos acabam tomando contato apenas com uma abordagem.

Observando algumas aulas da disciplina de Metodologia do Ensino da Matemática no

curso de Pedagogia em questão verifica-se que os apontamentos de Fiorentini e Miorim

(1990) e Carraher (1988) não são levados em consideração quanto à metodologia do uso de

materiais concretos. Por isso, acaba-se passando aos futuros professores uma visão errônea do

trabalho com este tipo de material.

Segundo Veloso (2004) e Ponte (2004), quando o tema da formação matemática

inicial de professores é colocado em discussão, existe uma predominância na abordagem da

questão do ponto de vista didático-metodológico; o conhecimento da Matemática fundamental

sempre fica relegada a segundo plano. E foi isso que se verificou estar acontecendo neste

curso.

A falta de um conhecimento mais amplo acerca da própria matemática e o domínio

superficial das teorias de aprendizagem podem limitar as escolhas e práticas didático-

pedagógicas destes futuros professores. A ênfase e o culto aos denominados materiais

concretos, em detrimento das questões concernentes à apropriação da linguagem matemática,

também contribuem para isso.

Na concepção de Veloso (2004), sem ter um conhecimento profundo da Matemática

fundamental, de nada serve a didática. Segundo esse mesmo autor tudo leva a crer que a

formação matemática oferecida nos cursos de graduação em Pedagogia para os futuros

professores não proporciona esse conhecimento e nem os prepara para que o adquiram ao

longo da sua vida profissional.

De acordo com Loureiro (2004, p. 89):

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[...] a problemática da formação matemática dos futuros professores do 1º ciclo e educadores da infância preocupa as comunidades de educação matemática e tem vindo a ganhar importância crescente, nomeadamente no quadro das novas orientações curriculares. Uma das ideias dominantes é a da necessidade de proporcionar aos futuros professores uma formação que os prepare para ensinar com compreensão de ideias e conceitos matemáticos e para o desenvolvimento do raciocínio e da comunicação.

Percebeu-se através dos depoimentos dos concluintes do curso de Pedagogia, no que

tange a formação Matemática, práticas formadoras esvaziadas de significados e sem uma

fundamentação sólida no que diz respeito à construção do conhecimento matemático. Reflexo

de uma formação apenas pedagógica.

Neste sentido Serrazina (2002, p. 14) aponta que:

Todos os futuros professores devem ter durante a formação experiências matemáticas que lhes desenvolvam perspectivas sobre a natureza da matemática, por meio de uma abordagem histórica e cultural, que fomentem a sua predisposição para fazer matemática e a sua autoconfiança para aprender matemática de modo independente; experiência de resolução de problemas e de desenvolvimento de atividades de investigação em matemática. Deve ser dado atenção especial ao papel das tecnologias incorporando-as nas experiências matemáticas realizadas.

As informações levantadas junto aos graduandos permitiram avaliar que a relação com

a matemática de certa forma mudou, pois a professora de metodologia trabalhou aspectos que

contribuíram para isto, mas os graduandos ainda continuam tendo muitas dificuldades em

lidar com os conhecimentos matemáticos que irão lecionar, visto que não tiveram a

oportunidade de aprofundá-los.

Loureiro (2004, p. 89) evidencia que a formação matemática dos professores deve ser

centrada no desenvolvimento da predisposição e aptidão para raciocinar matematicamente, do gosto e confiança pessoal em desenvolver atividades intelectuais que envolvem raciocínio matemático, da aptidão para discutir com outros e comunicar descobertas e ideias matemáticas [...], da predisposição para resolver problemas e da capacidade de desenvolver processos de resolução.

Pode-se inferir mediante os depoimentos dos graduandos que as práticas formadoras

parecem ainda serem influenciadas pelo (des) conhecimento dos formadores sobre as questões

específicas do ensino e aprendizagem de matemática dos anos iniciais, por entendimentos

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diferenciados dos formadores acerca da importância da formação específica para o ensino e

aprendizagem de matemática nos anos iniciais e o que nela deve ser tratado.

Segundo Mello (2000), é preciso que a formação docente propicie aos futuros

professores a oportunidade de refazer o percurso de aprendizagem que não foi

satisfatoriamente percorrido durante sua escolaridade para fazer deles bons professores, que

no futuro contribuam para a melhoria da qualidade da própria educação básica.

No caso do Curso de Pedagogia, trata-se de um momento oportuno para refletir sobre

essas questões, haja vista que as DCNP (2006) ainda estão sendo discutidas. Talvez uma

atuação dos educadores matemáticos fosse uma ação importante.

Para implementar medidas visando melhorar as habilidades em Matemática dos alunos

que buscam a formação em Pedagogia, é fundamental considerar aspectos não só cognitivos,

psicológicos e sociais que fizeram parte do percurso desses estudantes na escola, mas

influenciar as propostas curriculares dos cursos de graduação em pedagogia de modo a

ampliar as horas com esse ensino, assim como com as outras áreas do conhecimento. As

representações dos licenciandos sobre a Matemática e o seu ensino poderiam contribuir muito

para esse processo.

Acredita-se que a disciplina Metodologia do Ensino da Matemática do Curso de

graduação em Pedagogia ora analisado, que possui interface com a Matemática, deva partir

dos conhecimentos matemáticos prévios desses futuros professores e por meio da discussão

coletiva, socializar as experiências, nem sempre boas, de modo a evidenciar que fizeram o

mesmo percurso, para que sigam construindo os conceitos matemáticos de maneira

significativa e correta, contribuindo para a mudança de atitudes e da representação sobre a

Matemática e o ensino da mesma.

As informações levantadas e sistematizadas na tabela 10 evidenciaram alguns dos

pontos negativos da disciplina de Metodologia do Ensino da Matemática:

Tabela 10 – O que faltou ser trabalhado na disciplina de Metodologia do Ensino da Matemática

CATEGORIAS ALUNOS

Conteúdos específicos da Matemática 12

Maior aprofundamento dos conteúdos 12

A prática de sala de aula 4

Outras metodologias 2

TOTAL 30Tabela organizada por Marlisa Bernardi de Almeida - 2008

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As informações revelaram que o conhecimento matemático não foi trabalhado e

aprofundado de modo a permitir uma aprendizagem significativa dele, e que os graduandos

pesquisados sentem em sua formação, a falta desse conteúdo.

Esse entendimento sobre a importância do conhecimento que o professor deveria ter

acerca daquilo que se propõe ensinar, ou seja, a respeito do conhecimento do conteúdo da

disciplina conforme apontou Shulman (1986), parece ser consensual entre diversos autores da

matemática que investigam a formação inicial de professores, mas não o é para os pedagogos.

Os documentos oficiais, os quais mesmo não apontando os conteúdos que seriam

necessários para o ensino nos cursos de formação dos futuros professores, reconhecem a

importância de aprofundamento dos conteúdos específicos:

Aquilo que o professor precisa saber para ensinar não é equivalente ao que seu aluno vai aprender: além dos conteúdos definidos para as diferentes etapas da escolaridade nas quais o futuro professor atuará, sua formação deve ir além desses conteúdos, incluindo conhecimentos necessariamente a eles articulados, que compõem um campo de ampliação e aprofundamento da área. [grifos nossos] (BRASIL, Parecer CNE/CP 009/2001, p. 30)

As necessidades apontadas pelos futuros professores vem ao encontro do que propõe

as pesquisas e os documentos normativos que tratam da formação de professores para este

nível de escolaridade. Entretanto, parece que estas necessidades não estão sendo sentidas,

percebidas, muito menos entendidas e praticadas pelo curso de Pedagogia, não só neste curso

analisado, mas nos cursos em nível nacional, como apontam Gatti e Nunes (2008).

Mediante os dados levantados, pode ser constatado que o curso de Pedagogia

investigado, ainda não conseguiu articular adequadamente a relação entre os conhecimentos

específicos da matemática e os conhecimentos pedagógicos. Haja vista que para a grande

maioria dos graduandos pesquisados o curso de Pedagogia não atendeu as expectativas em

relação à Matemática e ao seu ensino, conforme indicam os seguintes dados:

Tabela 11 – O curso atendeu as necessidades e expectativas em relação à Matemática

Tabela organizada por Marlisa Bernardi de Almeida - 2008

ALUNOSSim 05Não 22Outra 03TOTAL 30

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Em relação ao porque do curso não ter atendido suas necessidades e expectativas

expuseram que:

Tabela 12 – Motivos do curso não ter atendido as necessidades e expectativas

CATEGORIAS ALUNOS

Abordagem muito superficial 09

Pouco tempo de trabalho 07

Ênfase somente na metodologia 02

Pouca abordagem dos conteúdos específicos 07

TOTAL DE ALUNOS 22Tabela organizada por Marlisa Bernardi de Almeida - 2008

As reclamações giram em torno do pouco contato e aprofundamento do conhecimento

matemático necessários para a formação dos professores que atuarão nas séries iniciais.

Alguns depoimentos podem ilustrar melhor estes dados.

A19: “Não conseguiu, é muito superficial”.

A23: “Não, foi muito pouco tempo”.

A01: “Não, foi somente um semestre e nos indicou apenas meios e recursos”.

A06: “Não, pois foram poucas as aulas”.

A11: “Foi interessante a elaboração de materiais para trabalhar com alguns conteúdos, mas ficou vago”.

A02: “Não devido ao tempo muito curto”.

A26: “Deixou a desejar quanto a conteúdos específicos pois na verdade aprendemos apenas as metodologias de como ensinar mas não aprendemos o que ensinar”.

A05: “O ensino da Matemática teria que ser uma matéria que fosse estudada de maneira detalhada e não superficial, porque muitos de nós temos dificuldades nesta disciplina.

A17: “Dentro de Pedagogia tem-se aprendido com relação a Educação como um todo, porém com relação à Matemática, infelizmente praticamente nada”.

A10: “Aprendi a usar os jogos, mas não aprendi como aplicar os conteúdos”.

Os depoimentos dos graduandos mostram que, da forma como o curso de Pedagogia

vem abordando os conteúdos e metodologias referentes à Matemática e ao seu ensino, está

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imprimindo nesses futuros professores uma identidade pedagógica esvaziada de conteúdos,

sendo que se aprende a prática do ensino, mas não o momento de seu uso. Haja vista que a

preparação, como foi constatada, se reduz a um conhecimento pedagógico abstrato porque é

esvaziado do conteúdo a ser ensinado. Isso se revelou claramente nos depoimentos dos alunos

concluintes do curso.

Outro fator que merece destaque é o número de disciplinas destinadas ao ensino de

Matemática, apenas uma, em apenas um semestre, que segundo os alunos pesquisados, é

insuficiente, diante das necessidades reais de uma formação que atenda as novas demandas

educacionais para um ensino de Matemática com qualidade:

Uma das críticas mais frequentes aos cursos de formação de professores é a desarticulação quase total entre conhecimentos específicos e conhecimentos pedagógicos. Nos cursos de formação de professores polivalentes, a crítica que pode ser feita é a da ausência de conhecimentos específicos relativos às diferentes áreas do conhecimento com as quais o futuro professor irá trabalhar. (CURI, 2005, p. 160).

As análises dos depoimentos vêm nos indicar que há um conhecimento a ser

construído pelos futuros professores, que é mais do que mera justaposição do aspecto de

conteúdo e do aspecto pedagógico.

Nos depoimentos referentes à formação inicial que estão recebendo no curso de

Pedagogia, no que se refere à Matemática escolar que irão trabalhar com os alunos da

Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental, foi constatado:

Tabela 13 – Formação Inicial que receberam no curso de Pedagogia referente à Matemática

CATEGORIAS ALUNOS

Boa formação: ênfase no aspecto metodológico 10

Formação inadequada: pouco embasamento 12

Necessidade de buscar aprender o que não tiveram no curso 08Tabela organizada por Marlisa Bernardi de Almeida - 2008

As observações giram em torno da superficialidade na abordagem do conhecimento

matemático e no pouco tempo disponível para a aprendizagem desse conhecimento.

A23: “Com certeza terei que me aprofundar no assunto se for trabalhar com essa disciplina”.

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A13: “Foi visto pouca coisa. É muito superficial”.

A24: “Aprendemos jogos e brincadeiras, mas como trabalhar os conteúdos matemáticos não vimos”.

A11: “A formação que tivemos não foi boa. Terei que correr atrás para dominar os conteúdos”.

A15: “Foi boa, nós aprendemos que para não causar traumas nas crianças deve-se trabalhar de forma lúdica”.

Como pode ser observado muitos graduandos pesquisados, afirmam que o curso

poderia ter aprofundado mais os conteúdos matemáticos; e aqueles que acreditam que o curso

ajudou, reportam-se apenas ao aspecto lúdico da aprendizagem matemática. Observa-se

também pelos depoimentos dos egressos do curso, que essa disciplina também não conseguiu

articular os conteúdos matemáticos e os conhecimentos didáticos.

Há graduandos que percebem a necessidade de ir buscar um aprofundamento maior

dos conteúdos matemáticos quando forem lecionar, entretanto, não se pode negar a

responsabilidade ímpar que a Instituição de formação deve exercer quanto à formação básica

do professor das Séries Iniciais do Ensino Fundamental.

Através da análise dos depoimentos dos graduandos do curso de Pedagogia pode-se

perceber algumas lacunas na formação matemática que ocorre durante a formação inicial

neste curso. Julga-se importante refletir sobre estes aspectos como forma de contribuir para o

aprimoramento do processo de formação inicial dos profissionais da educação. As seguintes

lacunas são consideradas as mais críticas ao desenvolvimento da aprendizagem matemática

observada no curso de Pedagogia em questão:

a) desenvolvimento aligeirado de temas matemáticos e falta de tempo para um

trabalho que realmente contemple as três vertentes do conhecimento

proposta por Shulman (1986) quais sejam: conhecimento do conteúdo,

conhecimento pedagógico do conteúdo e conhecimento curricular;

b) abordagem insuficiente quanto à compreensão de como se desenvolvem as

estruturas lógico-matemáticas das crianças;

c) desenvolvimento bastante superficial dos conteúdos matemáticos relativos

às séries iniciais do ensino fundamental.

Acredita-se que a compreensão da Matemática não pode ser transmitida como um

entretenimento é necessário o contato efetivo com o conteúdo matemático para que se possa

forma a base do pensar e agir matematicamente.

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Além disso, tem-se que a licenciatura é o local destinado à formação inicial do

professor e essa formação deve se dar nos diversos conhecimentos necessários a sua atuação.

O fato de o aluno já ter estudado conteúdos matemáticos em outras etapas da sua formação

acadêmica não retira a responsabilidade do curso de Pedagogia no tratamento dessa questão.

Contribui para se pensar a expansão da carga horária destinada ao conhecimento matemático,

pois, conforme aponta García Blanco (2003), há alguns aspectos que devem ser trabalhados

na formação de professores para ampliar seu conhecimento da matemática e que atualmente

não dá tempo: resolução de problemas em matemática; raciocínio em matemática,

comunicação em matemática e conexões dentro da disciplina da matemática e com o mundo

real.

Assim como García Blanco (2003, p.74), “acredita-se que uma formação matemática

adequada e específica é básica para o posterior desenvolvimento das outras componentes do

conhecimento do professor”.

Recorrendo as questões de investigação constantes do questionário, percebe-se que a

formação matemática recebeu um espaço mínimo e insuficiente na formação inicial dos

Pedagogos (futuros professores das séries iniciais). A desvalorização desta área do

conhecimento pode trazer prejuízos para a formação matemática não somente dos futuros

professores, mas principalmente para seus alunos das séries iniciais.

Por isso reafirma-se, com base em Curi (2005) que o tempo destinado ao tema

Matemática na formação de professores do curso de Pedagogia analisado precisa ser

ampliado, se considerar importante que esse futuro professor amplie seus conhecimentos

sobre a Matemática como área de conhecimento e não a veja apenas como mais uma das

disciplinas do currículo escolar que terá que lecionar.

De acordo com análise das respostas dos concluintes do curso de Pedagogia, percebe-

se que praticamente não houve abordagens para explorar noções sobre como as crianças

desenvolvem as suas estruturas lógico-matemáticas. Esta carência na formação dos Pedagogos

provavelmente dificultará a sua compreensão sobre o fazer matemática das crianças e de

efetivar a aprendizagem matemática delas no cotidiano escolar.

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4.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS MATEMÁTICOS

Ensinar a ler e a escrever são tarefas da escola, que segundo Araújo (2007, p. 54),

significam “desafios indispensáveis para todas as áreas/disciplinas escolares, uma vez que ler

e escrever são os meios básicos para o desenvolvimento da capacidade de aprender e

constituem competências para a formação do estudante”.

Segundo a mesma autora, ler e escrever é alfabetizar, numa primeira instância é levar

o aluno ao domínio do código escrito. Neste contexto, Araújo (2007, p.55) aponta que

“trabalhar redação e leitura é tarefa de todos os professores, não só dos que lecionam Língua

Portuguesa, pois a capacidade de entender e produzir textos são fundamentais em qualquer

disciplina, desde Português até Matemática”.

Tendo esta referência, acredita-se que um tipo de texto que pode ser considerado e

trabalhado nas aulas de matemática é o texto de problemas.

Segundo Araújo (2007) geralmente acredita-se que as dificuldades apresentadas pelos

alunos em ler e interpretar um problema matemático esteja associado a pouca competência

que eles têm para leitura da língua materna, entretanto, Smole e Diniz (2001, p. 72) apontam

que:

A dificuldade que os alunos encontram em ler e compreender textos de problemas estão, entre outras coisas, ligados à ausência de um trabalho pedagógico específico com o texto de problema, nas aulas de matemática. O estilo nos quais geralmente os problemas de matemática são escritos, a falta de compreensão de um conceito envolvido no problema, o uso de termos específicos da matemática e que, portanto, não fazem parte do cotidiano do aluno e, mesmo palavras que têm significados diferentes na matemática e fora dela, podem se constituir em obstáculos para que a compreensão ocorra.

Para Araújo (2007), a atividade com texto matemático, no caso, os problemas, envolve

a relação entre duas linguagens diferentes - as palavras e os símbolos matemáticos. Neste

sentido, somente “o professor da área pode trabalhar satisfatoriamente a combinação das

linguagens presente na resolução de problemas, pois (essas linguagens) apresentam certas

especificidades que demandam estratégias de leituras específicas”. (ARAÚJO, 2007, p. 57)

Resolver problemas como indica Polya (1977), é o feito específico da inteligência e

inteligência é o dom específico do homem e caracteriza sua natureza. Portanto aprender a

resolver problemas é a razão principal para estudar matemática.

Há a aceitação da ideia de que o principal objetivo da instrução matemática deveria ser

o de preparar os estudantes para serem competentes em resolver problemas. Os PCN’s (1997,

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p. 51) indicam como um dos objetivos do Ensino Fundamental, que os alunos sejam capazes

de “resolver situações-problema, sabendo validar estratégias e resultados, desenvolvendo

formas de raciocínio e processos, como dedução, indução, intuição, analogia, estimativa [...]”.

Para que desenvolva tal objetivo é preciso que o futuro professor tenha primeiro, ele próprio,

atingido este objetivo durante sua formação acadêmica, para que possa levar seus alunos a

atingirem tal prospectiva.

De acordo com Dante (1996), o ensino da Matemática deve fazer com que o aluno

pense produtivamente e desenvolva raciocínio lógico. Uma das formas de ensinar o aluno a

desenvolver o raciocínio lógico é propor no processo de ensino e aprendizagem a aplicação de

problemas matemáticos. O autor define por problema matemático toda situação que exige

conhecimentos matemáticos para alcançar uma solução, além disso, requerem pensamento

lógico, elaboração de planos e a execução de estratégias para se chegar a uma solução.

Sztajn (1997) define problemas como sendo “questões que alguém deseja resolver,

mas não possui um algoritmo imediato para encontrar a solução” e que “estes problemas

servem para demonstrar, formar, enriquecer e reorganizar os conceitos matemáticos que

possuímos”. De acordo com Sztajn (1997) para resolver um problema é necessário reunir os

conhecimentos matemáticos que forem relevantes e organizá-los em nova disposição, a fim de

obter a solução do problema.

Para Pozo et al (1998) um problema é uma situação que necessita para sua solução, a

utilização de técnicas conhecidas e exige a ativação de diversos tipos de conhecimentos, de

diferentes atitudes e conceitos matemáticos.

Polya (1981, p. 12) afirma:

O que é know how em Matemática? A habilidade para resolver problemas, não apenas os que são rotineiros, mas aqueles que exigem algum grau de independência, julgamento, originalidade e criatividade. Consequentemente, o primeiro e principal dever das escolas de Formação de Professores é enfatizar o trabalho metódico de Resolução de Problemas.

O autor ainda afirma que temos um conjunto de instrumentos a nosso dispor para

buscarmos a solução de um problema e que o conhecimento deles nos permite que se tornem

aptos a resolver problemas. Polya (1997) considera que dessa forma, resolvendo problemas, é

possível perceber que inúmeras vezes erramos e precisamos encontrar outros caminhos, outras

alternativas, fato que contribui para melhorar a capacidade de pensar em novas soluções.

Polya (1997) em seus estudos já clássicos focalizou sua atenção em procedimentos e

nas etapas para a resolução de problemas. Para ele estas se constituem em: compreender o

123

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problema, estabelecer um plano encontrando conexão entre os dados, colocá-lo em execução

verificando cada passo e examinar o resultado, denominado por ele de retrospecto.

Considerando que estes quatro passos conduziriam alguém ao sucesso na resolução de um

problema.

Para Pozo (1998) a resolução de problemas exige a ativação de conhecimentos factuais

e conceituais específicos, assim como o domínio de técnicas e estratégias que, de modo geral,

diferem de uma área para outra. O autor destaca também o caráter específico dos

conhecimentos envolvidos na solução de diferentes tipos de problemas. Além disso, o autor

enfatiza a necessidade de relacionar o problema em questão com os conceitos e ideias que

foram armazenadas e organizadas em nossa memória. Tal reação, de acordo com Pozo (1998)

possibilitará que a informação inicial seja transformada em uma informação que o aluno passa

a usar.

Contudo, para que estes aspectos sejam abordados de forma construtiva nas aulas de

matemática, é primordial que o professor tenha domínio dos conteúdos a serem ensinados e a

forma como estes conteúdos serão abordados.

De acordo com Pirola (2000, p. 42) é importante ativar os vários tipos de

conhecimento para a solução de um problema, visto que;

O conhecimento linguístico e factual é necessário para a tradução do problema; o conhecimento sobre esquema é necessário para a integração do problema, o conhecimento de estratégias é necessário para o planejamento da solução e o conhecimento algorítmico é necessário para a execução da solução.

E foi com a intenção de identificar quais conhecimentos são usados pelos concluintes

do curso de Pedagogia, na resolução dos problemas propostos, é que foi lançado mão deste

outro instrumento de coleta de dados: a ficha de resolução de problemas.

A intenção aqui não é fazer uma análise detalhada de cada resolução apresentada, mas

sim diagnosticar quais conhecimentos matemáticos foram utilizados e também quais etapas

das mencionadas por Polya (1977) foram utilizadas pelos alunos do curso de Pedagogia.

É evidente que apenas verificar se os alunos pesquisados sabem resolver problemas,

não garante que estes saberão desenvolver uma atitude de resolução de problemas embasada

na problematização em sua prática pedagógica. No entanto, nos leva a perceber como os

futuros professores de Matemática da Educação Infantil e séries iniciais do Ensino

Fundamental estão saindo da graduação de Pedagogia em relação à capacidade de resolver

problemas considerados simples para o nível acadêmico em que se encontram. Além disso,

124

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porque são problemas semelhantes a estes que usualmente são trabalhados em sala de aula

com os alunos e espera-se que no mínimo saibam resolvê-los com eficiência, para que possam

saber como trabalhar com eles em sua prática pedagógica e para, além disso, utilizar a

resolução de problemas como uma estratégia no ensino da Matemática.

Tendo como pressuposto especialmente as indicações de Pirola (2000) e observando a

realidade educacional da região centro-oeste do Paraná, os problemas propostos aos

graduandos de Pedagogia foram retirados de livros didáticos que são mais utilizados pelos

professores, bem como, do site do MEC referente à Prova Brasil, que também vem sendo

bastante usado por parte dos professores das Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Optou-se

por escolher problemas de diferentes fontes, para que estes atendessem de forma diversa os

conteúdos que se pretende averiguar, dado que em uma só fonte não é contemplado todos os

tipos de problemas que se deseja aplicar neste estudo.

4.4 DIAGNÓSTICO SOBRE A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DAS SÉRIES INICIAIS: O

QUE SABEM SOBRE MATEMÁTICA

Como já elucidado na seção três utilizou-se a ficha de resolução de problemas30 como

segundo instrumento para levantamento das informações sobre o conhecimento matemático

do graduando concluinte do Curso de Pedagogia.

Os problemas foram resolvidos individualmente, sendo que antes do início da

resolução foram apontadas algumas instruções, conforme consta no Apêndice 2, que

infelizmente não foram seguidas por todos, o que dificultou a análise dos dados conforme

tinha previsto, pois muitos alunos pesquisados, apenas colocaram a resposta do problema sem

expor suas estratégias de resolução.

A análise dos problemas fez-se da seguinte forma: primeiro elucidar a análise a priori

do problema proposto e em seguida a análise a posteriori, identificando: quantos alunos

resolveram o problema, quantos acertaram, quantos colocaram somente a resposta e quantos

demonstraram suas estratégias de resolução. Neste último item é que será feito uma análise

qualitativa, procurando verificar quais estratégias utilizaram e quais os conteúdos

matemáticos foram empregados na resolução, para verificar o conhecimento matemático, bem

como analisar alguns erros cometidos, procurando descobrir onde se encontram as maiores

dificuldades dos alunos pesquisados.

30 A referida ficha encontra-se no apêndice 2.

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O primeiro problema proposto foi o seguinte:

O Senhor Quintino toma: um comprimido de 4 em 4 horas e uma colher de xarope de 6 em 6 horas. Às 10 horas da manhã ele tomou os dois remédios. A que horas ele voltará, novamente, a tomar os dois remédios juntos?

É um problema retirado de Andrini (2006) que traz uma situação do cotidiano

envolvendo conteúdos de seqüência numérica e/ou mínimo múltiplo comum. Uma das

formas de resolução é por meio de seqüência numérica.

1ª resolução: Aplicação da soma das horas de cada remédio

Comprimido 4 em 4 horas: 10h ; 14h; 18h; 22h;

Xarope 6 em 6 horas: 10h; 16h; 22h

Resposta: Voltará a tomar novamente os dois remédios juntos às 22 horas.

2ª resolução: Aplicação do Mínimo Múltiplo Comum (mmc)

mmc (4; 6) = 12 horas

10 + 12 = 22 horas

Resposta: Voltará a tomar novamente os dois remédios juntos às 22 horas.

A maioria dos alunos pesquisados resolveu o problema, mesmo não obtendo êxito.

Dos dezoito alunos que resolveram o problema, apenas sete acertaram. As respostas

abaixo indicam os acertos. Observa-se, nas resoluções, que todos os alunos que resolveram o

problema utilizaram a primeira resolução apresentada, conforme se pode verificar a seguir:

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Em relação aos alunos que responderam ao problema, mas que não encontraram a

solução correta, destacam-se algumas resoluções, sendo que alguns dos erros cometidos

localizam-se nas operações básicas e em parte deve-se à distração, e a não aplicação da quarta

etapa proposta por Polya (1977) que é o retrospecto ou a verificação da solução obtida.

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Outros alunos demonstraram através de suas resoluções não ter compreendido a

questão do problema, pois apesar de terem utilizado estratégias semelhantes às resoluções

apresentadas, não conseguiram chegar a uma resposta ao problema, como pode ser observado,

em uma das resoluções selecionadas.

Acredita-se que a segunda resolução apresentada não foi utilizada pelos alunos devido

a não terem vivenciado nas aulas de matemática da educação básica e nem sequer no curso de

Pedagogia, situações em que tivessem que aplicar o conteúdo matemático denominado de:

Mínimo Múltiplo Comum (mmc) para resolver problemas, haja vista que este conteúdo é

geralmente trabalhado somente com a utilização de exercícios mecânicos, sem uma aplicação

contextualizada.

O segundo problema aplicado aos graduandos considerou que:

Um caminhão basculante tem carroceria com as dimensões indicadas na figura. Sabendo que a areia é comprada em metros cúbicos, quantas viagens serão necessárias para o caminhão entregar um pedido de 136m3

de areia?

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Este é um problema que exige a aplicação de vários conhecimentos matemáticos,

dentre eles: volume, multiplicação e divisão de números decimais. Pode-se considerar que é

um problema que exige a utilização maior do conhecimento algorítmico. Este problema

também foi retirado de Andrini (2006) o qual apresenta somente uma forma de se chegar à

solução:

Primeiro: descobrir o volume total que o caminhão pode transportar.

Volume= 3,40 x 2,50 x 0,80

Volume = 6, 8 m3

Depois: verificar quantas viagens são necessárias:

136 : 6, 8 = 20 viagens

Resposta: Serão necessárias 20 viagens.

O problema proposto é considerado “problema padrão”, pois se utiliza apenas de

conhecimento algorítmico: volume de sólidos espaciais, multiplicação e divisão de números

decimais, para se chegar à resposta, além de se ter que conhecer os princípios básicos da

Geometria.

Onze alunos não resolveram o problema, cinco colocaram apenas a resposta, sendo que

nenhum destes acertou e os demais alunos que resolveram o problema não obtiveram êxito em

suas respostas. Muitos confundiram o volume com perímetro e apenas somaram as medidas

do caminhão; outros procederam à multiplicação, mas não concluíram a resolução, sendo que

apenas três utilizaram os procedimentos algorítmicos corretos, contudo, erraram na

multiplicação e divisão de números decimais, obtendo a resposta 2 viagens e não 20. Algumas

resoluções ilustram claramente estas dificuldades e nos motivam ainda mais a evidenciar que

é urgente que o curso de Pedagogia repense a forma como vem sendo tratado o ensino de

matemática.

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Percebe-se pelas resoluções dos alunos e também por seus depoimentos, que estes

estão concluindo a graduação em Pedagogia sem ter o conhecimento matemático básico para

que possam atuar profissionalmente. Possivelmente, quando estes professores estiverem com

seus alunos estudarão pelo livro didático e conseguirão resolvê-lo: contudo, ficarão limitados

ao livro didático, não sendo capazes de explorar outras estratégias de resolução, pois

certamente terão insegurança.

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Ghirardelli Jr. (2007, p. 2) enfatiza que o pedagogo:

[...] é o principal candidato a assumir a condição de ‘professor em sala de aula’ nas séries da escola de nível fundamental. [...] o pedagogo não pode querer melhorar a relação ensino-aprendizagem na escola, ou em qualquer outro lugar [...] se ele próprio não entende a dinâmica dos conteúdos que estão nutrindo a relação ensino-aprendizagem. E tais conteúdos são a matéria, aquilo que preenche a disciplina [...]

O terceiro problema aplicado envolvia números decimais e foi retirado de Reame

(2000):

Ana comprou 3 livros de mesmo valor em reais. Pagou com duas notas de R$10,00 e uma nota de R$100,00 e recebeu R$ 7,20 de troco. Quanto custou cada livro?

As resoluções são variadas, mas optou-se por abordar apenas uma, a qual foi mais

utilizada na resolução dos alunos pesquisados:

2 x 10,00 + 100, 00 = 120,00

120,00 – 7, 20 = 112,80

112, 80 : 3 = 37, 60

Resposta: Cada livro custou R$ 37,60.

Como pode ser observado pela resolução apresentada, este problema é considerado

simples; envolve um raciocínio composto de operações básicas e traz uma situação que pode

ser vivenciada no cotidiano.

A análise das resoluções feitas pelos sujeitos da pesquisa mostrou que oito dos vinte e

seis alunos pesquisados acertaram a resolução do problema. Estes utilizaram a estratégia de

resolução anteriormente apresentada, como pode ser visto em algumas das resoluções:

131

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Dos alunos pesquisados, nove alunos desenvolveram um percurso que podia levar a

solução, mas não obtiveram a resposta correta, porque cometeram erros nas operações com

números decimais. Nestes casos, os erros cometidos aconteceram na operação básica de

subtração.

Outros oito alunos não conseguiram desenvolver o processo de resolução, revelando

que apresentam dificuldades na interpretação do referido problema, vejamos algumas destas

resoluções:

132

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Observa-se que a licenciatura em Pedagogia não está conseguindo resolver essa

questão do domínio do conteúdo, enviando para as salas de aula professores que possuem

dificuldades em resolver problemas matemáticos que envolvem conteúdos elementares.

O quarto problema aplicado envolvia a utilização de porcentagem e desconto. O

problema requeria a utilização de cálculos matemáticos e a interpretação referente a uma frase

do problema, pois a interpretação desta conduziria a resposta correta ou não do problema. O

problema também foi retirado de Reame (2000):

Carlos foi à livraria para comprar um livro de Matemática. O vendedor disse:- Aproveite para comprar hoje! Estamos dando um desconto de 10% em todos os livros.Carlos viu o preço do livro era 30 reais.Mas ao chegar ao caixa, o gerente disse:

133

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- Para você, Carlos, vamos dar um desconto especial. Além dos 10%, vamos descontar outra vez 10%. O desconto total que Carlos recebeu é o mesmo que um só desconto de 20%? Justifique sua resposta.

Resolução proposta:

10% e outra vez 10%

10% de 30,00 = 3,00

30, 00 – 3,00 = 27,00

10% de 27,00 = 2,70

27,00 – 2,70 = 24,30

Total do desconto: R$ 5,70

20%

20% de 30,00 = 6,00

30,00 – 6,00 = 24,00

Total do desconto: R$ 6,00

Resposta: Não é mesmo valor. Pois ele ganhará ao total um desconto de apenas

R$5,70 e não de R$ 6,00 caso fosse dado um desconto de 20%.

A análise referente a este quarto problema apontou que dois alunos conseguiram

resolver o problema corretamente, utilizando conhecimento matemático para tal, conforme

pode ser verificado, nas resoluções a seguir:

134

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Seis alunos, somente responderam ao problema, não realizando nenhum cálculo de

porcentagem, evidenciando o não entendimento do problema:

Dois alunos, apesar de apenas responderem ao problema, demonstraram a não compreensão do mesmo, como mostram as respostas a seguir:

135

Page 136: A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NO CURSO ......MARLISA BERNARDI DE ALMEIDA A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NO CURSO DE PEDAGOGIA: Constatações sobre a Formação Matemática

Os outros doze alunos que resolveram o problema erraram, pois descontaram o 10%

duas vezes em cima do mesmo valor de 30 reais. Algumas resoluções ilustram esta categoria.

As resoluções desses alunos revelam que apresentam dificuldades em entender o

conceito de porcentagem e o cálculo direto de descontos simples, mesmo sendo este um

conteúdo de aplicação simples no contexto da vida real.

O quinto problema envolvia o cálculo de área retangular e a divisão em partes iguais.

Este problema foi retirado do site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP) e se

refere à Prova Brasil 2007.

O administrador de um campo de futebol precisa comprar grama verde e amarela para cobrir o campo com faixas verdes e amarelas iguais em áreas e quantidades. O campo é um retângulo com 100 m de comprimento e 50 m de largura e, para cada 10m2de grama plantada, se gasta 1m2 a mais por causa da perda. Quantos m2 de grama verde o administrador deverá comprar para cobrir todo o campo?

136

Page 137: A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NO CURSO ......MARLISA BERNARDI DE ALMEIDA A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NO CURSO DE PEDAGOGIA: Constatações sobre a Formação Matemática

A resolução pode ser a seguinte:

Área total do terreno

100 x 50 = 5000 m2

Área da parte verde

5000 : 2 = 2500 m2

A cada 10 m2 gasta-se 1m2 a mais, então:

2500 : 10 = 250 m2

Total de grama verde a ser comprada:

2500 + 250 = 2750 m2

Resposta: Deverá comprar 2750 m2 de grama verde.

Somente dois alunos conseguiram resolver o problema corretamente, como pode ser

observado a seguir:

Dez alunos não resolveram o problema e doze que tentaram encontrar uma solução

para o problema, não conseguiram obter a solução correta. Destes doze alunos, sete deles

conseguiram realizar a primeira parte do problema, fazendo o cálculo da área, entretanto, não

conseguiram finalizá-lo com êxito, como pode ser verificado, em algumas das resoluções

selecionadas.

137

Page 138: A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NO CURSO ......MARLISA BERNARDI DE ALMEIDA A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NO CURSO DE PEDAGOGIA: Constatações sobre a Formação Matemática

Os outros cinco alunos dos doze que resolveram o problema, não obtiveram êxito,

principalmente na questão da área do terreno. Estes dados demonstram uma grande

deficiência desses alunos no tratamento de problemas envolvendo o cálculo de áreas de

superfícies planas, como pode ser observado em duas resoluções ilustradas a seguir.

Continuando com a análise dos problemas propostos verifica-se o desempenho dos

alunos para o problema de número seis, o qual foi retirado também do site do INEP,

138

Page 139: A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NO CURSO ......MARLISA BERNARDI DE ALMEIDA A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NO CURSO DE PEDAGOGIA: Constatações sobre a Formação Matemática

referente à Prova Brasil 2007. O problema envolvia multiplicação e a transformação de

unidades de medida do sistema métrico decimal.

Ao usar uma régua de 20 cm para medir uma mesa retangular, Henrique observou que ela cabia 27 vezes no comprimento da mesa. Qual é o comprimento desta mesa em metros?

O problema pode ter a seguinte resolução, conforme apontada pelo site de onde foi selecionado.

20cm x 27 = 540 cmTransformação para metros540 cm : 100 cm = 5, 40 m ou seja, 5m e 40 cm.

Ou

Transformação para metros20 cm : 100 cm = 0,20m

0,20 x 27 = 5,40m

Resposta: O comprimento desta mesa é de 5 metros e 40 centímetros.

Onze alunos conseguiram resolver o problema encontrando a solução esperada.

Utilizando geralmente a primeira resolução apresentada, entretanto, usaram mais do seu

conhecimento prático para obter a transformação requerida, conforme pode ser visto a seguir.

139

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Das resoluções que chegaram ao resultado correto, somente uma dela nos chamou

mais a atenção, pois o aluno realizou uma estratégia diferente para chegar a resolução do

problema, vejam:

Em se tratando do símbolo para metros (m), observa-se também que muitos alunos o

utilizam incorretamente, colocando geralmente, conforme mostrado na resposta acima (mts),

revelando que também há uma falha nesta questão durante a formação acadêmica destes

futuros professores.

Observa-se também que os principais erros advêm da falta de atenção no momento da

leitura do texto que expõe o problema a ser resolvido.

Dois dos alunos pesquisados não conseguiram chegar ao resultado esperado devido a

erros cometidos nos algoritmos matemáticos. No primeiro caso, erro de divisão por cem e no

segundo caso o aluno ao transformar os centímetros em metros, ao invés de dividir por cem,

multiplicou pelo número sessenta, provavelmente confundindo-se com a transformação em

horas (60 minutos) :

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Page 141: A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NO CURSO ......MARLISA BERNARDI DE ALMEIDA A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NO CURSO DE PEDAGOGIA: Constatações sobre a Formação Matemática

Os outros oito alunos não conseguiram obter êxito em suas resoluções, demonstrando

erros de interpretação do enunciado do problema, de compreensão e principalmente de

transformação de unidades de medida do sistema métrico decimal, conforme pode ser

verificado, em algumas resoluções a seguir.

Estas respostas revelam o quanto é necessária uma reflexão mais intensa no que se

refere à formação matemática dos pedagogos para o trabalho com os conteúdos disciplinares

de Matemática, pois de acordo com Mello (2000, p.98), “[...] para que a aprendizagem escolar

seja uma experiência intelectualmente estimulante e socialmente relevante, é indispensável a

mediação de professores com boa cultura geral e domínio dos conhecimentos que devem

ensinar [...]”.

O sétimo problema referia-se a aplicação do conteúdo frações, mais especificamente

soma e subtração de frações envolvendo também frações de quantidades. O problema foi

retirado de Andrini (2006):

141

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Numa prova de Inglês, Bickman acertou 4/9 das questões e errou 15 questões. Qual era o número total de questões desta prova?

Para resolver o problema, há diversas maneiras. Inclusive fazendo uso de desenhos.

Optou-se pela resolução envolvendo somente cálculos, por considerar que os

graduandos deveriam estar em um nível de conhecimento operatório formal (PIAGET, 1975).

Porém, ressalta-se que a solução pictórica é totalmente condizente com a questão em se

tratando de crianças do ensino fundamental:

→ (correspondem)

9/9 – 4/9 → 5/9

15 questões → 5/9

Então, 1/9 →3 problemas

9/9 → 3 x 9 = 27 problemas

Resposta: Eram 27 o número total de questões da prova.

Observando a resolução deste problema, percebe-se que, para chegar à solução, os

alunos deveriam dispor de conhecimentos matemáticos muito importantes relacionados a

frações como: noção de parte e todo, o próprio significado da fração (o denominador, o

numerador), cálculo de fração de quantidades.

Um aluno conseguiu encontrar a solução, utilizando apenas desenho, contudo,

demonstrando compreensão do problema e dos conhecimentos matemáticos básicos referentes

às frações, conforme pode ser verificado a seguir:

142

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Uma quantidade significativa de alunos (dez) não resolveu o problema; quatro apenas

colocaram a resposta, mas estava errada. O que chamou a atenção foi que a maioria das

respostas foram iguais, muitos dos alunos que apenas colocaram a resposta, colocaram o valor

dezenove.

A princípio não foi compreendido o porquê desse erro, entretanto, analisando as

respostas dos outros onze alunos que tentaram resolver o problema, mas não obtiveram êxito

em sua solução, verificou-se que o valor dezenove é devido a soma do número de questões

erradas (quinze) com o numerador da fração que corresponde as questões certas.

A maioria das resoluções referentes a este problema revelou que os alunos acabaram

“misturando” o que é quantidade e a fração daquela quantidade. Enfim, demonstram não ter

compreendido o conceito de fração. Isto pode ser observado nas resoluções abaixo.

143

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Muitas das “dificuldades” encontradas pelos alunos das Séries Iniciais do Ensino

Fundamental referentes ao conteúdo frações, bem como as de outros conteúdos, podem ser

geradas pela própria “dificuldade” dos professores das séries inicias de lidar com as

especificidades do conhecimento matemático e com as características da atividade cognitiva

implicada nesses procedimentos matemáticos.

Segundo Goutard (1964 apud GARCIA BLANCO, 2003, p. 18) as frações não são

algo que se tenha que saber, mas sim algo que se tenha que compreender, e não é possível

compreendê-las antes de ter uma suficiente experiência com elas. Estes futuros professores

revelaram que não tiveram experiência suficiente com as frações, ou se tiveram, esta não foi

significativa a ponto de fazê-los compreender e utilizar este conhecimento para resolver

problemas. Os resultados permitem inferir que os futuros professores que erraram esta

questão não construíram a ideia de fração, ou seja, não sabem o que representam seu

numerador e seu denominador.

Destaca-se que, segundo os depoimentos dos acadêmicos pesquisados, eles elaboraram

vários jogos matemáticos envolvendo frações durantes as aulas de Metodologia do Ensino de

Matemática. Entretanto, as resoluções apresentadas anteriormente, revelam que esta atividade

não os auxiliou a ampliar ou até mesmo a construir o conhecimento básico sobre o conteúdo

em questão, pois as resoluções dadas ao problema mostram que eles não aprenderam o caráter

da aplicabilidade do conteúdo tão pouco como fazer uso do conhecimento para resolver

problemas matemáticos desta natureza.

Conforme aponta Curi (2005), houve épocas em que sequer havia a disciplina de

Matemática nos cursos de formação de professores das séries iniciais. E pelo que pode-se

verificar nas respostas apresentadas pelos alunos, ainda hoje é possível afirmar que os futuros

professores (pedagogos) concluem cursos de formação sem conhecimentos de conteúdos

matemáticos com os quais irão trabalhar, tanto no que concerne a conceitos quanto aos

procedimentos e a própria linguagem Matemática que utilizarão em sua prática docente.

144

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Continuando a análise referente ao conteúdo frações, explora-se o oitavo problema

proposto aos graduandos cujo assunto, apesar de ser o mesmo do problema anterior, abordou

um conhecimento mais prático e utilizado informalmente por muitas cozinheiras e

cozinheiros. O problema foi retirado e adaptado de Imenes (2006) :

Numa receita de biscoitos, os ingredientes são:

♦ 41

Kg de açúcar

♦ 31

Kg de margarina

♦ 21

Kg de farinha de trigo

a) Quanto será necessário de cada ingrediente para fazer três receitas?

Há várias maneiras de se resolver o problema: fazendo uso de esquemas,

transformando as frações em números decimais, utilizando o algoritmo de multiplicação de

frações, entre outros. Para resolvê-lo fez-se a opção pelo algoritmo de multiplicação de

frações.

Para fazer três receitas, basta apenas multiplicar cada fração por três.

41

. 3 = 43

kg de açúcar

31

. 3 = 33 , ou seja, um inteiro, 1kg de margarina.

21

. 3 = 23 kg de trigo

Apenas cinco alunos conseguiram resolver o problema e encontrar a solução, sendo

que esta foi semelhante ao exemplo acima. Entretanto, observa-se que os alunos não têm o

costume de demonstrar por escrito e matematicamente suas estratégias de resolução, como

pode ser visto nas seguintes respostas.

145

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Catorze alunos que resolveram o problema não obterem êxito em suas soluções devido aos

erros cometidos em alguns algoritmos básicos de resolução de frações como: multiplicação de

frações, soma de frações com denominadores iguais.

Um aluno que tentou resolver problema demonstrou não ter compreendido, pois ao

invés de somar ou multiplicar por três cada medida, procedeu a soma de todas as medidas

fracionárias juntas, como pode ser observado.

146

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A maioria dos alunos revelou não dominar o conhecimento matemático necessário

para a resolução do problema proposto, bem como outros conhecimentos que se desdobram

dele como sua relação com os números decimais, pois as respostas revelaram que não sabem

fazer a transformação de fração em números decimais, demonstrando defasagens conceituais

referentes ao conteúdo abordado.

O penúltimo problema proposto aos graduandos do curso de Pedagogia foi o

seguinte:

Uma pesquisa eleitoral estudou as intenções de voto nos candidatos A, B e C, obtendo os resultados apresentados no gráfico abaixo:

a) Qual o número de pessoas entrevistadas?

Salienta-se que este problema apresenta mais três questões para serem respondidas,

entretanto, será feito a análise somente da primeira questão.

Este problema foi retirado de Andrini (2006) que apresentava a seguinte resolução:

Somar todas as intenções de votos de cada candidato:

700 + 850 + 400 + 750 = 2.700

Resposta: 2.700 pessoas.

Dos quatro blocos de conteúdos matemáticos sugeridos pelos PCN´s, o referente ao

Tratamento da Informação foi o mais recentemente incluído para estudo desde as séries

iniciais. Rodrigues (2005) aponta, com base nos PCN´s, que os assuntos relativos a esse bloco

devem ser trabalhados nas séries inicias de maneira a estimular os alunos a fazer perguntas, a

estabelecer relações, a construir justificativas e a desenvolver o espírito de investigação.

Oito alunos não resolveram o problema, colocando pontos de interrogação, outros seis

apenas colocaram a resposta, mas esta estava errada. O que chamou a atenção foi que quatro

Intenção de Voto

0100

200300400

500600700

800900

A B C Indecisos

Candidatos

Expe

ctat

iva

de v

otos

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destes alunos que apenas colocaram a resposta do problema, responderam com o valor

novecentos, que se refere ao valor máximo que aparece no eixo da Expectativa de Votos,

demonstrando não ter conhecimento matemático suficiente para ler e interpretar o gráfico de

barras proposto.

Dois alunos que resolveram o problema não conseguiram chegar à solução esperada,

devido a erros nos algoritmos matemáticos bem como na interpretação do gráfico, como pode

ser observado a seguir:

Dos alunos pesquisados dez acertaram o problema e, para isso, fizeram uso do

algoritmo da adição para chegar a solução, conforme verifica-se nas seguintes resoluções:

148

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O último problema proposto se referia aos conhecimentos matemáticos elementares

de números naturais relativos a antecessor e sucessor, maior que e menor que. Há aqueles que

o classificam como problema de raciocínio lógico.

João é mais velho que Pedro, que é mais novo que Carlos; Antônio é mais velho do que Carlos , que é mais novo que João. Antônio não é mais novo do que João e todos os quatro meninos têm idades diferentes. Qual é o mais jovem deles?

O referido problema também foi retirado de Andrini (2006) e apresenta a seguinte

resolução:

idade de João > idade de Pedro

idade de Pedro < idade de Carlos

idade de Antônio > idade de Carlos

idade de Carlos < idade de João

idade de Antônio > idade de João

Portanto, em ordem crescente de idades temos: Antônio, João, Carlos e Pedro.

Resposta: Pedro é o mais jovem.

Oito alunos não responderam e três alunos apenas colocaram a resposta que estava

errada. É o que evidencia a seguinte resposta.

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No entanto, este foi o problema que teve mais acertos por parte dos alunos

pesquisados: sete alunos apenas colocaram a resposta e esta estava certa e os outros oito

resolveram o problema e conseguiram obter êxito em sua solução.

Apesar de a maioria dos futuros professores terem conseguido chegar a solução do

problema, não utilizaram em suas resoluções símbolos matemáticos como maior que (>) e

menor que (<), fizeram uso do raciocínio lógico sem expressar matematicamente sua

resolução. A maioria somente colocou a resposta ou fez esquemas simples, conforme pode ser

verificado em algumas resoluções.

Fazendo uma tabulação dos dados que foram analisados referentes aos problemas

aplicados, infere-se que os resultados encontrados mais uma vez evidenciam que os alunos

apresentam muitas falhas em sua formação acadêmica referentes aos conteúdos matemáticos

elementares.

Os dados coletados permitiram que se identificasse que o conhecimento matemático

da maioria dos acadêmicos formandos do curso de Pedagogia não corresponde ao esperado.

Como pode ser observado na tabela a seguir, em um percentual expressivo, alguns formandos

mostraram um conhecimento superficial, visto que não identificaram algumas estruturas

essenciais para resolução dos problemas propostos, pois não conseguiram centrar e utilizar os

cálculos aritméticos de forma adequada aos enunciados dos problemas.

Salienta-se que não fizemos a análise do problema em si, mas sim das respostas e

estratégias dadas a ele. Sendo que a justificativa da escolha dos problemas foi feita no início

desta seção.

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Tabela 14 – Resultados da análise referente aos problemas aplicados 1 a 5.

PROBLEMACATEGORIAS

1 2 3 4 5

Não resolveram o problema. 02 11 ---------- 01 10

Apenas colocaram a resposta e esta estava certa.

03 ---------- ---------- 02 ----------

Apenas colocaram a resposta e esta estava incorreta.

03 05 01 06 02

Resolveram o problema e conseguiram obter a solução correta.

07 ---------- 08 02 02

Resolveram o problema, mas não conseguiram obter a solução por erros de cálculos.

07 03 09 03 ----------

Resolveram o problema e não conseguiram obter a solução correta devido ao não entendimento do problema.

04 07 08 12 12

Tabela organizada por Marlisa Bernardi de Almeida - 2008

Tabela 15 – Resultados da análise referente aos problemas aplicados 6 a 10.

ProblemaCategorias

6 7 8 9 10

Não resolveram o problema. 01 10 03 08 08

Apenas colocaram a resposta e esta estava certa.

01 ---------- 02 ---------- 03

Apenas colocaram a resposta e esta estava incorreta.

03 04 02 06 07

Resolveram o problema e conseguiram obter a solução correta.

11 01 05 10 08

Resolveram o problema, mas não conseguiram obter a solução devido a não aplicação correta do algoritmo matemático.

02 ---------- 13 02 ---------

Resolveram o problema e não conseguiram obter a solução correta devido ao não entendimento do problema.

08 11 01 ---------- ----------

Tabela organizada por Marlisa Bernardi de Almeida - 2008

151

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Esperar-se-ia, pelo menos, que os futuros professores tivessem um conhecimento

matemático compatível com os conteúdos trabalhados até a oitava série do Ensino

Fundamental, para que pudessem ter maior autonomia intelectual e segurança profissional na

mediação das aprendizagens dos alunos das séries iniciais.

Entretanto, os resultados mostram que os alunos concluintes do curso de Pedagogia

não costumam usar estratégias exploratórias para resolver problemas, nem explicitar seus

raciocínios e apresentam dificuldades em conteúdos considerados básicos para o nível de

escolaridade em que se encontram.

Segundo Ghirardelli (2007, p.3):

[...] Hoje, o pedagogo que chega na sala de aula para fazer o trabalho que foi feito pela normalista no passado, está informado por psicopedagogias de todo tipo e estudou metodologia da matemática [...]. No entanto, ele próprio tem dificuldade de dividir números com casas decimais, jamais conseguiu extrair uma raiz quadrada [...] Como podem ensinar? Podem se esconder em um pseudo-saber dado nos cursos de pedagogia? Podem ficar agachados atrás do biombo do título de curso superior?

Verifica-se que a formação matemática trabalhada no curso é insignificante perante a

necessidade que se impõe à formação nesta área, ao levar em conta que para ensinar

matemática elementar não é suficiente a formação escolar matemática que tiveram e, também,

não somente os fundamentos gerais da educação e do ensino que são contemplados na quase

totalidade dos currículo do curso de Pedagogia estudado.

O ensinar matemática de modo que a criança desenvolva o pensamento e linguagem

próprios desta área requer não só os fundamentos psicológicos do desenvolvimento cognitivo

e os métodos de ensino supostamente adequados a este, mas também, e antes de tudo os

fundamentos da matemática elementar. Os conhecimentos de Psicologia e sobretudo, dos

métodos e dos conteúdos específicos servem como apoio de um ensino que tem grandes

possibilidades para uma aprendizagem significativa dos alunos.

Não somente para a matemática, mas para todas as áreas do currículo escolar este

círculo vicioso do não aprofundamento das questões da aprendizagem das áreas específicas

deveria ser rompido, pelo menos na formação superior. Mas quando nem mesmo nesta é

conferido um espaço no currículo para estudar essas questões, resta-nos pouca expectativa de

que esporádicos e breves períodos de formação continuada resolverão este problema de

formação de base.

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Ghirardelli (2007, p.3) faz uma crítica aos cursos de Pedagogia que vem ao encontro

dos resultados obtidos nesta pesquisa:

[...] o curso de pedagogia, como ele ocorre em nossa sociedade atualmente, não prepara bem os pedagogos. [...] Como está, tais cursos não formarão o pedagogo como diplomata do trabalho educacional e também não formarão o professor.

Destaca-se que o curso não contribui com estes futuros professores no sentido de

desenvolverem habilidades e competências necessárias à resolução de problemas as quais

deverão trabalhar com seus alunos.

Além disso, o curso de Pedagogia analisado, da forma como está organizado,

demonstra não estar realizando uma formação adequada aos seus alunos, formação esta

imprescindível para a execução de uma prática pedagógica que leve em consideração as

discussões atuais sobre o ensino e aprendizagem de Matemática movida pela resolução de

problemas.

Conforme enfatiza Ghirardelli (2007):

Os que são responsáveis pelos cursos de pedagogia não percebem ou não querem perceber, que quem se matricula nesses cursos fez poucos pontos no vestibular [...] não raro, são estudantes que mostram que não sabem as matérias da escola média, talvez nem mesmo as matérias dos oito anos iniciais do ensino básico. Como serão professores? Não há um modo de, em trabalho de emergência, melhorar isso? E não há um modo de, no futuro próximo, fazer o curso de pedagogia lembrar o aluno, de maneira forte, que ele precisa saber matemática [...] em seu nível básico, pois não poderá ser um bom articulador de didáticas gerais se não for um bom articulador de didáticas específicas? [...]

Evidentemente que apenas averiguar os saberes e não saberes dos futuros professores

certamente não trará melhorias imediatas a esta formação, mas com certeza servirá para ‘abrir

os olhos’ daqueles que não querem ver como realmente está a formação inicial de professores

no que se refere à Matemática.

Em termo de abrangência da formação matemática no Curso, praticamente a maioria

dos conteúdos previstos pelos PCN´s de Matemática (Brasil, 1997), não foram abordados na

formação inicial destes futuros professores. Observa-se através dos dados levantados com a

resolução de problemas que essa carência de conteúdos é bastante significativa.

153

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Aprender a ensinar é um processo que continua ao longo da carreira docente e que, não obstante a qualidade do que fizermos nos nossos programas de formação de professores, na melhor das hipóteses só poderemos preparar os professores para começar a ensinar. (ZEICHNER, 1993, p. 55)31

Conforme a discussão apresentada neste texto é inegável a importância do papel

desenvolvido pelo Pedagogo quanto ao ensino da Matemática nas séries iniciais do Ensino

Fundamental. Assim justifica-se a importância de se discutir a formação desse profissional na

área da Matemática durante o seu processo de formação no curso de Pedagogia.

Na realização desta pesquisa, ganham realce alguns problemas que precisam ser

urgentemente enfrentados no âmbito da formação docente. Precisam ser tratados tanto no

nível de políticas públicas como no cotidiano das instituições formadoras, por meio de seus

projetos político-pedagógicos.

A propósito do momento em que no âmbito da formação dos professores, várias

políticas públicas têm sido adotadas com o intuito de melhorar esta formação, tornam-se

muito oportunas as constatações deste estudo, que vem referendar o cenário preocupante no

qual insere-se a formação inicial dos Pedagogos (professores da Séries Iniciais do Ensino

Fundamental) .

Reafirma-se que a formação inicial de professores deve ser examinada de forma

contextualizada, visto que suas questões estão, em muitos aspectos, inseridas na ampla crise

da educação brasileira.

Nesse sentido, a formação inicial de professores é uma das facetas dessa problemática,

relacionada às condições econômicas, políticas e sociais que configuram a sociedade.

Entretanto, apesar das questões mais gerais que envolvem toda a educação brasileira, são

importantes, pertinentes e necessários estudos e pesquisas que investiguem a formação dos

professores e suas questões, por diferentes perspectivas e vieses de análise, em seus aspectos

específicos e gerais, relacionando-os e complementando-os, o que amplia e enriquece o

debate.

31 Citação retirada de Oliveira (2007, p. 186).

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Considera-se necessário e fundamental entender, também, que não é possível abranger

na formação inicial o conjunto das necessidades do professor. E nem ser ingênuo em crer que

só mudanças na formação inicial dos professores, isoladamente, garantiriam uma melhoria

significativa do aprendizado escolar em matemática. À formação inicial não se pode atribuir

toda a responsabilidade sobre o fracasso escolar em matemática, pois trata-se de um dos fios

que compõem uma trama muito complexa.

Assim como nos diz Arroyo (1996), a boa formação de professores não pode ser

entendida e nem equacionada como um remédio milagroso contra todos os males da

educação. Mas, por outro lado, não se pode desconsiderar o peso significativo dessa

formação, ao pensar em estratégias para conseguir melhorias na formação matemática dos

alunos. Ela deve ocupar lugar de importância no processo formativo, desde que proporcione

um bom suporte para o ingresso e atuação inicial na profissão.

Este estudo possibilitou constatar, ao fazer a revisão da literatura, que parece ser muito

mais expressiva, em educação matemática, a produção de conhecimento acerca da formação

continuada de professores dos anos iniciais, ou formação em serviço, se comparada a que se

dirige à formação inicial de professores e suas questões. É grande a incidência de pesquisas

que discutem e apresentam estratégias de formação voltadas para o professor que já se

encontra atuando na sala de aula. Apesar da importância da formação continuada, esse fato

parece indicar que é preciso que se dê maior atenção à formação inicial para o ensino de

matemática nos anos iniciais, especialmente a que se refere aos Pedagogos.

O propósito principal deste trabalho foi investigar se a formação matemática recebida

pelos alunos do curso de Pedagogia da UNICENTRO Campos Avançado de Laranjeiras do

Sul, os prepara efetivamente para o exercício da docência em Matemática nas Séries Iniciais

do Ensino Fundamental.

Tomando-se como referência para nossa investigação o curso de Pedagogia da

Universidade Estadual do Centro–Oeste (UNICENTRO) – Campus Avançado de Laranjeiras

do Sul, pode-se constatar diversos problemas inerentes a essa etapa da formação, os quais

poderão ter implicações negativas na qualidade do trabalho pedagógico dos futuros docentes,

em relação aos conteúdos disciplinares de Matemática.

Como principais constatações decorrentes das análises feitas ao longo do trabalho,

destacam-se a precariedade da formação oferecida no curso de Pedagogia, em parte devida a

inexistência (apenas 2% de toda carga horária do curso) da formação específica para o ensino

de matemática nas séries iniciais, neste curso. Parecem ser pouco abordados a geometria, as

grandezas e as medidas e o tratamento da informação, que constituem blocos de conteúdos

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relevantes a serem abordados nos anos iniciais, entendidos como articuladores das diferentes

áreas da matemática e com aplicações em diferentes práticas sociais.

Cumpre ressaltar que a ênfase dada aos conteúdos disciplinares não implica na defesa

de um ensino centrado nos conteúdos. Deseja-se apenas destacar a importância do domínio

consistente desses saberes, por parte do professor, pois é a partir deste saber que se pode ir

além. Acredita-se que com o domínio dos conteúdos que vai ensinar o professor poderá estar

criando métodos e técnicas diferenciadas que venham ao encontro das necessidades de

aprendizagem dos alunos.

Outro fator que merece destaque é a carga horária destinada a formação matemática no

Currículo Pleno do Curso, a qual é insuficiente para a realização de uma formação matemática

que contemple as três vertentes do conhecimento propostas por Shulman (1986) e que atenda

as necessidades reais de uma formação voltada às novas demandas educacionais.

Verifica-se pela análise da ementa e dos depoimentos dos concluintes do curso de

Pedagogia, que a formação pedagógica para o ensino de matemática parece ser, em geral,

restrita à exploração dos materiais concretos, observando-se, com pouca frequência, uma

diversidade maior de recursos de formação.

Além disso, foi constatado também que o curso de Pedagogia investigado dá

prioridade a metodologia de jogos e brincadeiras a serem utilizadas em sala de aula, em

detrimento de outras metodologias apontadas pelos PCN´s e de uma abordagem mais

profunda dos conteúdos de Matemática que serão trabalhados pelos professores na sua futura

prática educativa.

Acredita-se que o domínio de novas estratégias de ensino é fundamental para a

construção de aprendizagens significativas, bem como na superação das dificuldades

apresentadas por alunos com deficiências de aprendizagem. Mas questiona-se: como esses

professores poderão adotar metodologias diversificadas que atendam de fato a aprendizagem

dos alunos sem conhecer e ao menos ter domínio dos conteúdos que irão ensinar?

O estudo dos depoimentos e das resoluções dos problemas propostos indica que os

concluintes do curso de Pedagogia ora analisado, apresentam dificuldades nos conteúdos os

quais terão que ensinar a seus alunos e que a formação Matemática recebida durante o curso

não foi suficiente para sanar as lacunas referentes à disciplina de Matemática decorrentes de

sua educação na Escola Básica. Haja vista que os alunos em fase de conclusão do curso de

Pedagogia apresentam um alto grau de dificuldade no tratamento de problemas envolvendo o

cálculo de áreas de superfícies planas, o trabalho com frações, o cálculo de taxas de

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porcentagens, o cálculo de volumes de sólidos, bem como a interpretação e resolução de

problemas simples envolvendo adição e multiplicação de números naturais e decimais.

Os futuros professores (concluintes do curso de Pedagogia) não tiveram êxito na

resolução da maioria dos problemas propostos no segundo instrumento de coleta de dados,

envolvendo os conteúdos matemáticos que fazem parte do currículo das séries iniciais do

Ensino Fundamental.

Estes resultados demonstram que esses alunos estão chegando à Universidade com

essas dificuldades e que a licenciatura em Pedagogia não está conseguindo saná-las, formando

professores que têm dificuldades em resolver problemas que deverão trabalhar com os seus

alunos.

A constatação de que muitos dos conteúdos de Matemática, que deveriam ser

trabalhados ao longo da sua formação inicial, não estão sendo discutidos na licenciatura,

aliada ao fato de os alunos apresentarem dificuldades em resolver problemas envolvendo

alguns dos saberes que terão que lecionar, mostra a fragilidade com que essa questão vem

sendo tratada, justificando o fato de que a maioria dos alunos considera que o curso de

Pedagogia não os preparou para o trabalho com os saberes disciplinares de Matemática.

Dessa forma o curso de Pedagogia imprime a esse profissional uma identidade

pedagógica esvaziada de conteúdos, sendo que se aprende a prática do ensino, mas não a sua

substância, pois a preparação como foi constatado, se reduz a um conhecimento pedagógico

abstrato porque é esvaziado do conteúdo a ser ensinado.

Os resultados da pesquisa apontam que há problemas gravíssimos na forma como o

curso de Pedagogia está organizado no que diz respeito à formação Matemática, pois se

verifica que não consegue dar suporte tanto teórico quanto prático para estes futuros

professores.

Este estudo levou a percepção de que as propostas de formação inicial dos Pedagogos

(professores das Séries Iniciais do Ensino Fundamental) historicamente não têm sido

adequadas, principalmente no que se refere à formação inicial para ensinar Matemática.

Os referenciais curriculares para os cursos de Pedagogia, que destacam como objetivo

geral da formação de professores a profissionalização por meio do desenvolvimento de suas

competências de modo a permitir que no cumprimento de suas funções estejam contempladas

as dimensões técnicas, sociais e políticas que são igualmente importantes e imprescindíveis ao

desenvolvimento de nosso país apresentam-se amplos, e não aprofundam as questões

disciplinares e pedagógicas de cada uma das áreas.

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Por isso a necessidade dos organizadores do currículo do curso, diante dos dados

levantados, repensarem e reorganizarem a dinâmica de trabalho que se refere à formação

Matemática de seus alunos.

Considera-se urgente que se pense em relações estreitas entre o perfil necessário a um

professor para ensinar matemática e sua formação para os anos iniciais. Ou seja, o perfil do

professor a ser formado deve guiar a formação e ser a referência para se traçarem ações

efetivas que possam superar as deficiências desses cursos.

Não se trata de defender um modelo único de formação. E não se pode esquecer que

não há um modelo único de professor bem sucedido. É preciso responder aos diferentes

perfis e possibilidades de cada contexto, orientando a formação matemática dos professores

de forma a proporcionar experiências formativas efetivas.

Nesse sentido, a formação deve orientar os futuros professores de acordo com o que se

espera dele como professor: “aprender a pensar, a refletir criticamente, a identificar e resolver

problemas, a investigar, a aprender, a ensinar”. (MIZUKAMI, 2003, p. 42).

Não se deseja concluir este trabalho prescrevendo receitas que poderiam resolver os

problemas inerentes à formação inicial do professor que atua nas séries iniciais do ensino

fundamental – cujos reflexos se fazem presentes na qualidade do ensino de Matemática, e

vem à tona nas avaliações de desempenho desenvolvidas pelo MEC-, mas, apresentar algumas

questões, cuja reflexão pode auxiliar os responsáveis pelo curso de Pedagogia a encontrarem

um caminho para melhorar à formação inicial do futuro professor para o trabalho com os

saberes disciplinares de Matemática.

Em primeiro lugar, é importante ressaltar que os professores do curso de Pedagogia e

os demais envolvidos com esta licenciatura devem tomar conhecimento dos resultados desta e

de outras pesquisas que dizem respeito ao tratamento dos conhecimentos disciplinares de

Matemática, bem como conhecer o trabalho dos professores dessas séries e suas dificuldades

no trabalho com esses conhecimentos, pois, só conhecendo a realidade em que atuam esses

profissionais, a licenciatura poderá desenvolver estratégias de trabalho que ajudem a

modificar positivamente os números caóticos apresentados nesse estudo.

Em segundo lugar, os responsáveis pela licenciatura em pedagogia devem refletir se é

aceitável que os seus alunos continuem concluindo a formação inicial apresentando tantas

dificuldades no tratamento de problemas envolvendo os conhecimentos elementares de

Matemática, bem como procurar conhecer quais são os motivos que os desencadeiam.

Em terceiro lugar, deve-se levar em conta que o número de disciplinas destinadas à

formação matemática, bem como, a forma como se vem trabalhando o ensino de Matemática

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ao longo do curso é insuficiente e inadequada, visto que o pouco tempo disponibilizado para

esta disciplina nota-se não estar sendo bem aproveitado, dando prioridade apenas às questões

metodológicas, em detrimento de um trabalho mais aprofundado com os conteúdos de

Matemática propriamente ditos.

Por último, questiona-se até que ponto os próprios professores universitários

(formadores de professores) têm conhecimento e domínio dos conteúdos elementares de

Matemática, bem como, das questões relativas à aprendizagem lógico matemática da criança,

as vertentes do conhecimento propostas por Shulman (1986), os estudos atuais sobre o ensino

e aprendizagem de Matemática, as diversas metodologias de ensino que podem ser utilizadas

no ensino de Matemática, as tendências da Educação Matemática que auxiliam na

aprendizagem, e outras questões pertinentes que são de suma importância para a formação de

professores, as quais foram brevemente abordadas especialmente na seção dois deste trabalho.

Dada a resposta negativa, a inserção de educadores matemáticos no curso de Pedagogia seria

uma ação importante e imprescindível para a melhoria significativa da formação matemática

dos seus graduandos.

É importante deixar claro que a reflexão acerca desses elementos não esgota as

discussões acerca da temática em questão, configurando-se apenas como um ponto de partida

para que se promova uma melhoria efetiva na qualidade da formação do professor para o

trabalho com os conhecimentos disciplinares de Matemática nas séries iniciais do ensino

fundamental.

Tem-se clareza de que a formação inicial é apenas a base da formação do professor,

entretanto, torna-se imprescindível que a formação inicial possibilite ao futuro professor uma

apropriação consistente dos diversos saberes necessários a sua prática profissional, o que,

certamente, será um passo fundamental para a superação das deficiências que, há muito

tempo, vem se fazendo presentes no ensino de Matemática.

Entretanto, acredita-se que a licenciatura é o local destinado à formação inicial do

professor, e essa formação deve se dar nos diversos saberes necessários a sua atuação. O fato

de o aluno já ter estudado esse conteúdo em outra etapa da sua formação não retira a

responsabilidade do curso de Pedagogia no tratamento dessa questão.

Considera-se fundamental que o curso de Pedagogia prepare o professor das séries

iniciais de forma que ele seja matematicamente competente, já que nas séries iniciais da

escolarização as crianças constroem e desenvolvem conceitos e formam certos hábitos de

raciocínio e pensamento matemático.

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Naracato et al (2004) discorrem sobre a necessidade de se repensar a formação

matemática dos estudantes de Pedagogia. Assim, destacam a importância da disciplina de

Fundamentos e Metodologia do Ensino da Matemática como instigadoras de inúmeras

reflexões. Asseguram que sem a presença de disciplinas voltadas à Educação Matemática,

com uma carga horária compatível, será impossível contemplar questões fundamentais que

envolvem o ensino da Matemática.

É preciso uma discussão profunda acerca do que deve ser tratado, em matemática e

seu ensino, considerando-se a realidade de tempo que se tem, e as questões nodais do ensino e

aprendizagem de matemática, estabelecendo efetivas relações entre a formação dos

professores e sua futura prática em matemática, nos anos iniciais.

É possível que um forte investimento na formação de formadores e o compromisso do

formador com a própria formação, junto a uma discussão profunda acerca do que deve ser

tratado na formação inicial de professores para o ensino de matemática nos anos iniciais,

possam contribuir para superar os problemas trazidos no decorrer do texto desta dissertação.

Para amenizar os prejuízos decorrentes dessa má formação inicial recebida na

Universidade referente ao conhecimento matemático, poderiam ser ofertados minicursos ou

oficinas nas quais os futuros professores estariam vivenciando estes conteúdos matemáticos

tendo como base as três vertentes propostas por Shulman (1986).

Adianta-se que o desdobramento deste trabalho será a análise do resultado de um

curso de extensão que será dada a estes futuros professores e suas possíveis consequências

para a formação matemática dos egressos do curso de Pedagogia ora analisado. Com isso

pretende-se, dentre outros objetivos mostrar aos organizadores do currículo deste curso de

Pedagogia que é possível fornecer uma bagagem de conhecimentos do conteúdo matemático

elementar ao mesmo tempo em que se aprende os conhecimentos pedagógicos e curriculares,

pois acredita-se que as três vertentes do conhecimento abordadas por Shulman (1986) devem

estar interligadas num trabalho de formação de professores e é isto que se propõe a

desenvolver futuramente.

Salienta-se que as pesquisas que na área de educação precisam dedicar-se a

acompanhar os professores egressos de diferentes cursos e modalidades de formação. Sendo

que o desempenho em matemática nos anos iniciais diante das questões da prática, se

confrontadas com estudos como este realizado, pode contribuir para a melhoria da formação

inicial dos professores e para a qualidade do trabalho docente em matemática, nos anos

iniciais.

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Configura-se, o estudo dos concluintes do curso de Pedagogia, como uma questão

relevante para as pesquisas no campo da educação matemática e que esta deve ser

intensificada. Tendo em vista os resultados obtidos neste trabalho não se pode ignorar que

repensar o modelo de formação do professor é um passo indispensável para a melhoria da

qualidade do ensino de forma geral, e para o ensino da Matemática, em particular.

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APÊNDICE 1

Questionário aplicado aos estudantes do 4º Ano de Pedagogia da UNICENTRO.

Identificação

Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino

Idade: ( ) 17 a 20 anos ( ) 21 a 30 anos ( ) 31 a 40 anos ( ) 41 a 50 anos ( ) + 51anos

Formação Acadêmica: Ensino Fundamental – 1ª à 4ª série( ) Público ( ) Particular ( ) Supletivo

Ensino Fundamental – 5ª à 8ª série( ) Público ( ) Particular ( ) Supletivo

Ensino Médio ( ) Público ( ) Particular ( ) Supletivo

Cursou Magistério no Ensino Médio( ) Sim ( ) Não

Está atuando em sala de aula: ( ) Sim Há quanto tempo:......................... ( ) Não

Se professor(a), série(s) a(s) qual (is)leciona:...........................................................Disciplina(s):...................................................................................................................

Já conclui outro curso de Graduação? .....................Se afirmativo, qual?.............

Em que ano você ingressou no curso de Pedagogia da UNICENTRO?........................................Por que escolheu cursar Pedagogia? (Dentre as alternativas assinale aquelas com as quais mais se identifica) ( ) Gosta, se identifica com o curso.( ) Não gostava de matérias consideradas mais exatas, como por exemplo a Matemática.( ) Só passou no vestibular de Pedagogia.( ) Trabalho na área: professor das séries iniciais. ( ) Complementação da formação pedagógica.( ) Aumento de Salário. ( ) Outros

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Em relação à Matemática

1- Quando eu estava no Ensino Fundamental ( ) eu gostava da Matemática ( ) eu gostava da Matemática e conseguia ter uma boa aprendizagem. ( ) era indiferente à Matemática ( ) tinha horror a Matemática ( ) tinha horror a Matemática e apresentava dificuldades nos conteúdos.( ) eu gostava da Matemática, mas tinha dificuldades nos conteúdos. ( ) Outros

2- Quando eu estava Ensino Médio ou Magistério( ) eu gostava da Matemática ( ) eu gostava da Matemática e conseguia ter uma boa aprendizagem. ( ) era indiferente à Matemática ( ) tinha horror a Matemática ( ) tinha horror a Matemática e apresentava dificuldades nos conteúdos.( ) eu gostava da Matemática, mas tinha dificuldades nos conteúdos. ( ) Outros

3- Você lembra da Matemática que aprendeu no Ensino Fundamental? Ela auxilia você em seu trabalho de professor? Por quê?

4- As minhas dificuldades quando era estudante do Ensino Fundamental em relação à

Matemática eram:

5- A que se deve, no seu ponto de vista, as dificuldades que encontrava na Matemática no seu tempo de estudante do Ensino Fundamental ?

6- Atualmente, como você “encara” a Matemática?

7- Você já teve contato com a maioria dos conteúdos presentes nas propostas curriculares de

escolas públicas ou particulares? ( ) Sim ( ) Não

Se sim, de que forma?( ) Atividades de sala de aula.( ) Exposição de algum professor.( ) Livros didáticos.( ) Estágios.( ) Outros

8- Você acredita que o curso de Pedagogia forneceu uma preparação para o trabalho com os conteúdos disciplinares de Matemática? ( ) Sim( ) NãoJustifique:

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9- Você encontra dificuldade para trabalhar com algum conteúdo matemático específico? Comente a respeito.

10- No curso de Pedagogia o qual frequenta, quais ou qual a disciplina que trabalha a Matemática e/ou o Ensino da Matemática? ( ) Metodologia do Ensino da Matemática( ) Didática da Matemática( ) Estatística aplicada à Educação( ) Outras:

11- O que você aprendeu com essa(s) disciplina(s)?

12- O que faltou ser trabalhado adequadamente na(s) disciplina(s) que trata da Matemática no

curso de Pedagogia?

13- O curso de Pedagogia com essa(s) disciplina(s) conseguiu atender suas necessidades e expectativas em relação à Matemática e /ou ao seu ensino? Por quê?

14- Comente a respeito da formação inicial que está recebendo no curso de Pedagogia, no que se refere à Matemática escolar que vai lecionar.

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APÊNDICE 2

Ficha de Problemas para os estudantes do 4º Ano de Pedagogia da UNICENTRO

INSTRUÇÕES Leia cuidadosamente cada problema. Use apenas caneta para resolver cada problema. Resolva todos os problemas, mesmo aqueles sobre os quais você tiver dúvidas. Somente a resposta não terá validade para o trabalho de pesquisa. Por isso, não apague nada, nem os cálculos, nem os esquema ou os desenhos que utilizar para a resolução do problema. Se possível, explique, com suas palavras, o raciocínio que utilizou para resolver o problema. Se perceber que resolveu algo errado, passe um traço por cima e resolva novamente. Você pode utilizar o verso da folha se necessário ou uma outra folha fornecida pela pesquisadora.

1) O Senhor Quintino toma: um comprimido de 4 em 4 horas e uma colher de xarope de 6 em 6 horas. Às 10 horas da manhã ele tomou os dois remédios. A que horas ele voltará, novamente, a tomar os dois remédios juntos?

2) Um caminhão basculante tem carroceria com as dimensões indicadas na figura.

Sabendo que a areia é comprada em metros cúbicos, quantas viagens serão necessárias para o caminhão entregar um pedido de 136m3 de areia?

3) Ana comprou 3 livros de mesmo valor em reais. Pagou com duas notas de R$10,00 e uma nota de R$100,00 e recebeu R$ 7,20 de troco. Quanto custou cada livro?

4) Carlos foi à livraria para comprar um livro de Matemática. O vendedor disse:- Aproveite para comprar hoje! Estamos dando um desconto de 10% em todos os livros.Carlos viu o preço do livro era 30 reais.Mas ao chegar ao caixa, o gerente disse:- Para você, Carlos, vamos dar um desconto especial. Além dos 10%, vamos descontar outra vez 10%. O desconto total que Carlos recebeu é o mesmo que um só desconto de 20%? Justifique sua resposta.

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5) O administrador de um campo de futebol precisa comprar grama verde e amarela para cobrir o campo com faixas verdes e amarelas iguais em áreas e quantidades. O campo é um retângulo com 100 m de comprimento e 50 m de largura e, para cada 10m2de grama plantada, se gasta 1m2 a mais por causa da perda. Quantos m2 de grama verde o administrador deverá comprar para cobrir todo o campo?

6) Ao usar uma régua de 20 cm para medir uma mesa retangular, Henrique observou que ela cabia 27 vezes no comprimento da mesa. Qual é o comprimento desta mesa em metros?

7) Numa prova de Inglês, Bickman acertou 4/9 das questões e errou 15 questões. Qual era o número total de questões desta prova?

8) Numa receita de biscoitos, os ingredientes são:

♦ 41

Kg de açúcar 31

Kg de margarina 21

Kg de farinha de trigoa) Quanto será necessário de cada ingrediente para fazer três receitas?

9) Uma pesquisa eleitoral estudou as intenções de voto nos candidatos A, B e C, obtendo os resultados apresentados no gráfico abaixo:

a) Qual o número de pessoal entrevistadas?

b) O candidato B pode se considerar eleito? Por quê?

c) O candidato A ainda tem chance de vencer as eleições? Por quê?

d) Um estatístico afirmou que há uma forma matemática de o candidato C assumir a liderança. Descubra que raciocínio ele fez e explique.

10) João é mais velho que Pedro, que é mais novo que Carlos; Antônio é mais velho do que Carlos, que é mais novo que João. Antônio não é mais novo do que João e todos os quatro meninos têm idades diferentes. Qual é o mais jovem deles?

Intenção de Voto

0100

200300400

500600700

800900

A B C Indecisos

Candidatos

Expe

ctat

iva

de v

otos

177