9
Menú principal Scripta Nova REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES Universidad de Barcelona. ISSN: 11389788. Depósito Legal: B. 21.74198 Vol. XVI, núm. 418 (6), 1 de noviembre de 2012 [Nueva serie de Geo Crítica. Cuadernos Críticos de Geografía Humana] A IDEOLOGIA ESPACIAL CONSTITUTIVA DO ESTADO NACIONAL BRASILEIRO Everaldo Batista da Costa Departamento de Geografia da Universidade de Brasília [email protected] Júlio César Suzuki Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo [email protected] A ideologia espacial constitutiva do Estado nacional brasileiro (Resumo) No debate sobre a construção do Estado nacional brasileiro, partimos do pressuposto de que esse processo consolidouse no cerne de uma valorização fragmentária de suas variantes estéticas, conformando uma controversa ideologia espacial de sentido identitário à nação. Progresso, modernização e integração territorial emergem como palavras de ordem no elo entre a nação imaginada, no Brasil Imperial, e a nação tal como se concretiza, ao longo do século XX, apesar do discurso e das ações em resgate à cultura síntese de brasilidade. Evidenciase, nesse escopo, uma tendência a se pensar a nação mais como produto cultural de uma elite (fragmentos de cidades coloniais e do barroco consagrados) do que por meio de símbolos da formação de territórios híbridos representantes da totalidade de seus construtores: os antagônicos protagonistas. Palavras chave: Estado nacional brasileiro, ideologia espacial, integridade territorial, identidade nacional. La ideologia espacial constitutiva del Estado nacional brasileño (Resumen) En el debate sobre la construcción del Estado nacional brasileño partimos del presupuesto de que ese proceso se consolidó en el centro de una valoración fragmentada de sus variantes estéticas, conformando una ideologia espacial controvertida que da sentido de identidade a la nación. Progreso, modernización e integración territorial emergen como palabras de orden en el enlace entre la nación imaginada, en el Brasil Imperial, y la nación tal y como se concreta a lo largo del siglo veinte, a pesar del discurso y de las acciones de rescate de la cultura que sintetiza lo que se considera brasileño. Se evidencia, en ese objetivo, una tendencia a pensar la nación más como producto cultural de una élite (fragmentos de ciudades coloniales y del barroco consagrados) que a través de lós símbolos de la formación de territórios híbridos, que son representantes de la tatilidad de sus constructores, a su vez, lós protagonistas antagônicos. Palabras clave: Estado nacional brasileño; ideologia espacial; integridad territorial; identidad nacional. The Spatial Ideology for Brazilian national State constitution (Abstract) In the debate on Brazilian national state construction, we assume that this process was consolidated at the core of a fragmentary valorization of its aesthetic variants, forming a controversial spatial ideology with sense of identity to the nation. Progress, modernization and territorial integration emerge as watchwords on the link between the imagined nation in Imperial Brazil, and the nation as it concretizes itself throughout the twentieth century, although the speech and actions for rescue of brazilianness culture. It becomes evident, in that scope, a tendency to think the nation more as a cultural product of an elite (established pieces of colonial towns and baroque) than think it by symbols of hybrid territories formation representing the totality of its builders: the antagonistic protagonists. Key words: Brazilian national state, spatial ideology, territorial integrity, national identity. Devese considerar, preliminarmente, a escassez de análises que relacionam a consolidação do poder do Estado a suas variantes estéticas, elementos substanciais da sustentação da própria administração. Como estratégia, essas variantes estéticas são favorecedoras de uma ideologia[1] espacial necessária não apenas para adjetivar, mas para dar sentido histórico e identitário a um Estado nacional. Ao considerar que distintas ideologias permearam a construção dos Estados nacionais, tanto os que passaram pelo processo de unificação, quanto os envolvidos em lutas de independência, respectivamente, a leste e a oeste do Atlântico, cabe um posicionamento sobre os mais notórios elementos caracterizadores do Brasil como Estadonação, tema maior deste artigo. Para tanto, partese do pressuposto de que as cidades e a arte do Brasil colonial sintetizam a relação histórica entre território e poder na Colônia, bem como são elementos constitutivos da ideologia espacial que consolida o Brasil como Estadonação, no decorrer dos séculos XIX e XX e no contexto de uma trajetória politicoeconômica controversa. O país nasce mais como espaço a ser conquistado, dominado e complexizado em nome de uma unidade, do que como síntese de relações processuais que formaram sua sociedade, a heterogeneidade do seu povo. No entanto, outro pressuposto desta análise é o de que os objetos estéticos da colonização portuguesa na América (materializados nas cidades coloniais), desde sua apresentação, são cultuados sem a carga de dominação que carregaram desde a sua gestação. O jugo colonial ali permanece, na matéria e na dinâmica das cidades e da arte, para ser decifrado em nome das minorias étnicas negligenciadas. Esses bens precisam ser lidos como objetos híbridos da luta pelo controle territorial, e não como meras caricaturas da história do território. A produção de uma identidade nacional baseada no resgate do passado caricaturizado possibilita apagar memórias contraditórias e ocultar a concretude da expansão ultramarina, em que “a produção do exótico substitui a marca do poder pelos afagos da curiosidade”[2]. A ideia é analisar o território como constituído por dominantes e dominados, caracterizado por símbolos de propriedade material e imaterial. Nessa acepção, reside o Estado nacional como elemento resultante do processo histórico relacional entre comunidades e natureza, no cerne do colonialismo como dimensão objetiva da experiência histórica da nação, que forjou territórios específicos regidos por estratégias políticas regionais; ou seja, não podem ficar ausentes as relações de subordinação de territórios, recursos e populações do espaço não europeu[3]. Se uma nação é, fundamentalmente, uma realidade geohistórica que se realiza por meio de elementos definidos, e se para que ela exista não basta que seja uma comunidade territorial, precisamente porque é um produto da história, toda nação só se concretiza nas vidas em comum, produtoras de “culturas híbridas”[4]. Por isso, a experiência da colonização deve ser tratada como algo partilhado tanto pelos conquistadores quanto pelos dominados – porém, a ideologia espacial na formação do Estado nacional brasileiro contradiz essa leitura. Logo, ao representar um Estadonação, as cidades ou a arte trazem a história contada por alguém, que está ligada a uma sociedade, moldado por essa trajetória e suas experiências cotidianas, quando “a cultura e suas formas estéticas derivam da experiência histórica”[5]. No bojo dessas contradições, metodologicamente, serão apontados dois notórios momentos e elementos da ideologia espacial constitutiva do Estado nacional brasileiro: 1. primeiramente, será analisada a busca da integridade do território como condição fundante da nova nação, que ganha corpo no período Imperial (transferência

A Ideologia Espacial Constitutiva Do Estado Nacional Brasileiro

Embed Size (px)

DESCRIPTION

A Ideologia Espacial Constitutiva Do Estado Nacional Brasileiro

Citation preview

  • 7/13/2015 A ideologia espacial constitutiva do Estado nacional brasileiro

    http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-418/sn-418-6.htm 1/9

    Menprincipal

    Scripta Nova REVISTAELECTRNICADEGEOGRAFAYCIENCIASSOCIALES

    UniversidaddeBarcelona.ISSN:11389788.DepsitoLegal:B.21.74198 Vol.XVI,nm.418(6),1denoviembrede2012

    [Nueva serie de Geo Crtica. Cuadernos Crticos de Geografa Humana]

    AIDEOLOGIAESPACIALCONSTITUTIVADOESTADONACIONALBRASILEIRO

    EveraldoBatistadaCostaDepartamentodeGeografiadaUniversidadedeBraslia

    [email protected]

    JlioCsarSuzukiDepartamentodeGeografiadaUniversidadedeSoPaulo

    [email protected]

    AideologiaespacialconstitutivadoEstadonacionalbrasileiro(Resumo)

    NodebatesobreaconstruodoEstadonacionalbrasileiro,partimosdopressupostodequeesseprocessoconsolidousenocernedeumavalorizaofragmentriade suas variantes estticas, conformando uma controversa ideologia espacial de sentido identitrio nao. Progresso, modernizao e integrao territorialemergemcomopalavrasdeordemnoeloentreanaoimaginada,noBrasilImperial,eanaotalcomoseconcretiza,aolongodosculoXX,apesardodiscursoedas aes em resgate cultura sntese de brasilidade.Evidenciase, nesse escopo, uma tendncia a se pensar a naomais como produto cultural de uma elite(fragmentosdecidadescoloniaisedobarrococonsagrados)doquepormeiodesmbolosdaformaodeterritrioshbridosrepresentantesdatotalidadedeseusconstrutores:osantagnicosprotagonistas.

    Palavraschave:Estadonacionalbrasileiro,ideologiaespacial,integridadeterritorial,identidadenacional.

    LaideologiaespacialconstitutivadelEstadonacionalbrasileo(Resumen)

    En el debate sobre la construccin del Estado nacional brasileo partimos del presupuesto de que ese proceso se consolid en el centro de una valoracinfragmentada de sus variantes estticas, conformando una ideologia espacial controvertida que da sentido de identidade a la nacin. Progreso,modernizacin eintegracinterritorialemergencomopalabrasdeordenenelenlaceentrelanacinimaginada,enelBrasilImperial,ylanacintalycomoseconcretaalolargodelsigloveinte,apesardeldiscursoydelasaccionesderescatedelaculturaquesintetizaloqueseconsiderabrasileo.Seevidencia,eneseobjetivo,unatendenciaapensarlanacinmscomoproductoculturaldeunalite(fragmentosdeciudadescolonialesydelbarrococonsagrados)queatravsdelssmbolosdelaformacindeterritrioshbridos,quesonrepresentantesdelatatilidaddesusconstructores,asuvez,lsprotagonistasantagnicos.

    Palabrasclave:Estadonacionalbrasileoideologiaespacialintegridadterritorialidentidadnacional.

    TheSpatialIdeologyforBraziliannationalStateconstitution(Abstract)

    InthedebateonBraziliannationalstateconstruction,weassumethatthisprocesswasconsolidatedatthecoreofafragmentaryvalorizationofitsaestheticvariants,formingacontroversialspatialideologywithsenseofidentitytothenation.Progress,modernizationandterritorialintegrationemergeaswatchwordsonthelinkbetweentheimaginednationinImperialBrazil,andthenationasitconcretizesitselfthroughoutthetwentiethcentury,althoughthespeechandactionsforrescueofbraziliannessculture.Itbecomesevident,inthatscope,atendencytothinkthenationmoreasaculturalproductofanelite(establishedpiecesofcolonialtownsandbaroque)thanthinkitbysymbolsofhybridterritoriesformationrepresentingthetotalityofitsbuilders:theantagonisticprotagonists.

    Keywords:Braziliannationalstate,spatialideology,territorialintegrity,nationalidentity.

    Deveseconsiderar,preliminarmente,aescassezdeanlisesquerelacionamaconsolidaodopoderdoEstadoasuasvariantesestticas,elementossubstanciaisdasustentaodaprpriaadministrao.Comoestratgia,essasvariantesestticassofavorecedorasdeumaideologia[1]espacialnecessrianoapenasparaadjetivar,masparadarsentidohistricoeidentitrioaumEstadonacional.

    AoconsiderarquedistintasideologiaspermearamaconstruodosEstadosnacionais,tantoosquepassarampeloprocessodeunificao,quantoosenvolvidosemlutasdeindependncia,respectivamente,alesteeaoestedoAtlntico,cabeumposicionamentosobreosmaisnotrioselementoscaracterizadoresdoBrasilcomoEstadonao,temamaiordesteartigo.Paratanto,partesedopressupostodequeascidadeseaartedoBrasilcolonialsintetizamarelaohistricaentreterritrioepodernaColnia,bemcomosoelementosconstitutivosdaideologiaespacialqueconsolidaoBrasilcomoEstadonao,nodecorrerdossculosXIXeXXenocontextodeumatrajetriapoliticoeconmicacontroversa.Opasnascemaiscomoespaoaserconquistado,dominadoecomplexizadoemnomedeumaunidade,doquecomosntesederelaesprocessuaisqueformaramsuasociedade,aheterogeneidadedoseupovo.

    Noentanto,outropressupostodestaanliseodequeosobjetosestticosdacolonizaoportuguesanaAmrica(materializadosnascidadescoloniais),desdesuaapresentao,socultuadossemacargadedominaoquecarregaramdesdeasuagestao.Ojugocolonialalipermanece,namatriaenadinmicadascidadesedaarte,paraserdecifradoemnomedasminoriastnicasnegligenciadas.Essesbensprecisamserlidoscomoobjetoshbridosdalutapelocontroleterritorial,enocomomerascaricaturasdahistriadoterritrio.Aproduodeumaidentidadenacionalbaseadanoresgatedopassadocaricaturizadopossibilitaapagarmemriascontraditriaseocultaraconcretudedaexpansoultramarina,emqueaproduodoexticosubstituiamarcadopoderpelosafagosdacuriosidade[2].

    Aideiaanalisaroterritriocomoconstitudopordominantesedominados,caracterizadoporsmbolosdepropriedadematerialeimaterial.Nessaacepo,resideoEstadonacional comoelemento resultante doprocessohistrico relacional entre comunidades e natureza, no cernedo colonialismocomodimensoobjetivadaexperincia histrica da nao, que forjou territrios especficos regidos por estratgias polticas regionais ou seja, no podem ficar ausentes as relaes desubordinaodeterritrios,recursosepopulaesdoespaonoeuropeu[3].

    Seumanao, fundamentalmente,umarealidadegeohistricaquese realizapormeiodeelementosdefinidos,eseparaqueelaexistanobastaquesejaumacomunidadeterritorial,precisamenteporqueumprodutodahistria,todanaosseconcretizanasvidasemcomum,produtorasdeculturashbridas[4].Porisso, a experincia da colonizao deve ser tratada como algo partilhado tanto pelos conquistadores quanto pelos dominados porm, a ideologia espacial naformaodoEstadonacionalbrasileirocontradizessaleitura.Logo,aorepresentarumEstadonao,ascidadesouaartetrazemahistriacontadaporalgum,queest ligada a uma sociedade, moldado por essa trajetria e suas experincias cotidianas, quando a cultura e suas formas estticas derivam da experinciahistrica[5].

    Nobojo dessas contradies, metodologicamente, sero apontados dois notrios momentos e elementos da ideologia espacial constitutiva do Estado nacionalbrasileiro:

    1. primeiramente, ser analisada a busca da integridade do territrio como condio fundante da nova nao, que ganha corpo no perodo Imperial (transferncia

  • 7/13/2015 A ideologia espacial constitutiva do Estado nacional brasileiro

    http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-418/sn-418-6.htm 2/9

    da Corte Portuguesa ao Brasil - 1808) e avana quando o pas rompe os laos com a metrpole (1822), passando, da condio de colnia e integrante do vastoimprio portugus para o percurso que culminou na independncia e perodo republicano, a partir de 1889[6]. Neste quadro de formao nacional, h umEstado em construo e um territrio a se ocupar, o Brasil identificado como um espao terrestre a ser civilizado e no com o seu povo[7].

    2. um segundo marco dessa ideologia espacial a ser enaltecido assenta-se no resgate das cidades e da arte que sintetizam a relao entre territrio e poder. Ochamado Movimento Modernista Brasileiro, de 1922, traz o momento simblico da leitura do Brasil como Estado nacional. Trata-se, duplamente, de umareleitura do pas em relao aos movimentos culturais e artsticos que ocorrem no exterior, e de busca de novas razes nacionais, objetivando a valorizao doque haveria de mais autntico no pas[8]. Nessa sequncia, na dcada de 1930, perodo do Estado Novo[9] do governo getulista, adqua-se um aparato estatalcom rgos e programas que visou atender esse novo momento histrico da nao em construo, como o IBGE[10] e o SPHAN[11]. A ideologia espacialatinente ao Estado Novo corresponde mistificao das cidades-arte do interior do territrio (resgatadas pelos modernistas), bem como do litoral nordestino,que se tornam os smbolos primeiros do Estado em constituio.

    Aintegridadeterritorial:constitutivosinequanondaideologiadoEstadonacional

    Inicialmente, fazse necessria uma demarcao conceitual de nao, para a qual nos valemos da concepo de Benedict Anderson: Dentro de um espritoantropolgico, proponho a seguinte definio: uma comunidade poltica imaginada e imaginada como sendo intrinsecamente limitada e, ao mesmo tempo,soberana[12].BenedictAndersonacredita,ento,queanaoimaginada,poisosmembrosmesmodamenordasnaesjamaisconseguiro,sequer,ouvirfalardatotalidadedeseuscompanheiros,emboratodostenhamemmenteaimagemconstrudavivamentedeumacomunho.basilaroutraexplicaodoautor:

    (...)elaimaginadacomoumacomunidadeporque,independentementedadesigualdadeedaexploraoefetivasquepossamexistirdentrodela,anaosempreconcebidacomoumaprofundacamaradagemhorizontal.Nofundo,foiessafraternidadequetornoupossvel,nestesdoisltimossculos,quetantosmilhesdepessoastenhamsedispostonotantoamatar,massobretudoamorrerporessascriaesimaginriaslimitadas[13].

    Nosentidotambmdeumacomunidadeimaginadalimitadaehorizontal,HomiBhabhadumadefiniosegundoaqual,enquantolocalidadedacultura,anaoestmaisvinculadatemporalidadedoquehistoricidade:

    (...)umaformadevidaquemaiscomplexaqueacomunidade,maissimblicaquesociedade,maisconotativaquepas,menospatriticaquepatrie,maisretricaquearazodeEstado,maismitolgicaqueaideologia,menoshomogneaqueahegemonia,menoscentradaqueocidado,maiscoletivaqueosujeito,maispsquicadoqueacivilidade,maishbridaquearticulaodediferenaseidentificaesculturaisdoquepodeserrepresentadoemqualquerestruturaohierrquicaoubinriadoantagonismosocial[14].

    Emacrscimosduasconceitualizaesdadas,podemosdizerqueaideiadenaovinhaacompanhadadoreforodemarcaodoterritrioparaaforjadeumanacionalidademais vinculada aos aspectos da vidamaterial. Entidades polticas definemse, no sculoXIX e em umnovo quadro, como naes, e o territriodespontacomoenterepresentativoconcreto(derecursos,noincio,edeculturalimitadamente,aposteriori)daideologiaqueoconstitui.BenedictAnderson,aoavaliarasorigensdonacionalismocolonialrecente,afirmaumasemelhanafundamentalcomosnacionalismoscoloniaisdeumapocaanterior.Paraoautor,oisomorfismoentreaextensoterritorialdecadanacionalismoeaextensoterritorialdaunidadeadministrativaimperialanteriorcorrelacionasecomageografiadetodasasperegrinaescoloniaisdiferenasocorreramfaceaambiescentralizadorasdoabsolutismometropolitanoeporproblemasconcretosdecomunicaoetransporte(atrasotecnolgicoevidente).

    Tambmsefaznecessriocompreenderque,desdequefoiinventadooregimefederativonocontextodaIndependnciaamericana(finaldosculoXVIII)paraconstruir a unidade das treze colnias emancipadas da Inglaterra, o modelo representa um sistema extraeuropeu de organizao do Estado, marcado pelacoexistnciadeduassoberanias:adaUnio(controledefunescomuns)eadosestados(unidadesfederadas,queseocupamdoresto)[15].

    EssaobrasingulardeengenhariapolticaconcretizousecomoumavertentedoEstadodemocrtico,inicialmentenosEstadosUnidos,edepoisnoCanadenaAustrlia,estendendosetambmparaasjovensrepblicaslatinoamericanasnodecorrerdosculoXIX.Aorigemcolonialcomumaessespasespareceterinicialmenteestimuladoacriaodeestruturassuperpostas:umacentralizadora,herdadadaantigametrpole,eoutrabaseadanasautonomiasregionaiselocais,essasautonomiasalimentavamsededificuldadesdecomunicaopreexistentes e de diversidades econmicas e culturais. Essa superposio ou coexistncia gerou uma tenso permanente entre as foras centrpetas da centralizao e as forascentrfugasdadescentralizao[16].

    Logo,nohemisfrioocidental,entreosanos1776e1838,variadasentidadespolticasdefiniramse,demodoautoconsciente,comonaese,comasurpreendenteexceodoBrasil,comorepblicas[17].Ocasobrasileirosurpreendenocontextodestasnovasnaes,poisachegadadafamliareal,em1808,nafugaaocerconapolenicoenocontextodoamadurecimentoeendurecimentodocapitalismoingls,marcaoinciodeumaeraImperialqueseprolongaatofimdosculoXIXamploperodoemquesetentaconsolidarumanaoatravsdojugoterritorial.

    Em1822,pstransfernciadaCortePortuguesaaoBrasil,opasrompeuos laoscomametrpoleepassa,ento,dacondiodecolniae integrantedovastoimprioportugusparaopercursoqueculminounaindependnciaeperodorepublicano,apartirde1889.RessaltaDemtrioMagnoliqueoEstadoImperial(ps1825) construiuse como argamassa de uma entidade oligrquica de tipo prnacional, que manteve o trfico negreiro, atendeu aos interesses das oligarquiasregionais,estabelecidasnolongoperododeocupaofiliformedoterritriobrasileiro,ataocupaodahinterlndia,naconhecidacolonizaodeexpansonadireodointerior,aonorte,aosuleaoeste.

    Aaberturaderotas,afundaodepovoadosefortificaes,ausurpaodeterrasindgenaseavalorizaoeconmicadenovasreasgeravaminteresseseativosnegciosvoltadosparaaapropriaodosimensosfundosterritoriaisdisponveis(...)Nomomentodarupturadoslaoscoloniais,onovoImprioBrasileironodispunhadeumterritriounificadoprvio,masdeumconjuntoheterogneode territrios coloniais herdadosda colonizao.Aunidade territorial aparece, ento, como umdesafio e umprograma histrico. Esseprograma,contudo,correspondiaaosinteressesconcretosgeradospelamarchadeapropriaoevalorizaodeterrasempreendidapeloscolonos[18].

    Porm, a busca por esta unidade (ou integridade) territorial contrapese identidade brasileira que s possvel atravs de diferentes identidadespoliticoeconmicas,queexpressaramtrajetriasdiversasedelimitadasregionalmente.DeveficarentendidoqueadeclaraododesejodeemancipaopolticadametrpolenooequivalentedaconstituiodoEstadonacionalbrasileiroafirmasequeoreconhecimentodonexoentreaemergnciadesseEstado(oImperial)comadanaoemcujonomeelefoiinstitudoumadasquestesmaiscontroversasdahistoriografianacional[19].Inclusive,pois,asnaesnopossuemumadatadenascimentoclaramenteidentificvel,eamortedelas,quandochegaaocorrer,nuncanatural.Comonoexisteumcriadororiginaldanao,suabiografianuncapodeserescritadeformaevanglica,avanandonotempoaolongodeumacadeiageneracionistadeprocriaes[20].

    UmaimportantehistoriografiacomeaasedelinearnoperodoImperialbrasileiro,cujoobjetivoeraatribuiraoEstadoqueseconsolidavaumabasedesustentaoemtradieseemumavisoorganizadadoqueseriaoseupassadodaresultaatribuiraorompimentodoBrasilcomPortugalumsentidodefundaodoEstadoedanaoacriaodoInstitutoHistricoeGeogrficoBrasileiro,noanode1838,incorporaessamisso[21].

    AformaodoEstadonacionalbrasileiroestemgermenoplanodovivido territorialmentenoImprio,masossentidosdenaoounacionalidadevoganharescoponosculoXX,pormeiodeumaideologiaespacialquenosediferenciatantodesteprimeiromomento,comoveremos.Issosedeveaofatodeque,noBrasil,a construo do territrio (bem como sua representao regionalizao e regionalismos de gnese) dotado de tessituras sociais produzidas em arquiplagos,pressupondoespecficas territorialidades (noescopodaszonaseconmicasantigazonadaminerao,zonadoacar, amplo territriodo tabaco,doaniledacachaa,o trajetodos tropeiros, a zonadas especiarias, dentreoutrosdemenor envergadura) estabeleceumarcosde identidades territoriais e paisagsticas desteuniversoiberoamericano.Asrotasdetrnsito,ouseja,fatoresdacirculaoterritorialnacolnia,estimularamessamescladediferenciaesregionais,masquemantinhamvinculadososcolonos,emconcordnciaoualteridade,aduasrepresentaesmaiores:adaAmricaouadaprpriaMetrpole.

    LendoatentamenteosAutosdadevassada InconfidnciaMineira, o que encontramos?Os envolvidos so filhosdeMinas, naturais deMinas.A terra era o Pas deMinas,percebidocomo continenteoucomocapitania.Os filhosdeMinasviamse, tambm,preciso lembrar,comofilhosdaAmrica (...)Eisas identidadespolticascoletivas:amineira(expressodoespecficoregional),aamericana(expressodarelaodealteridadecomosmetropolitanos,oseuropeus)e,evidentemente,aportuguesa[22].

    Emresumo,ainstalaodonovoEstado,aemancipaopolticadaselitesagrriaseurbanasbrasileiraseumterritriodegrandedimensocomricasreservaseemarquiplagosouenclavesdepopulaesfortementedivididaspelaescravido,oamplocontextocontroversodosculoXIX,naexcolniaportuguesanaAmrica,emquesedesfralda,timidamente,umaideiadenao.

  • 7/13/2015 A ideologia espacial constitutiva do Estado nacional brasileiro

    http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-418/sn-418-6.htm 3/9

    NestequadrodeformaonacionaltemseumterritrioaocupareumEstadoemconstruo,masapopulaodisponvelnoseajustaidentificaodeumanaoconformeosmodelosidentitriosvigentesnoscentroshegemnicos.Nocontexto,aoabandonarseocaminhodeconstruodanacionalidadepropostoporJosBonifcio(cujoeixorepousavanagradativaaboliodasrelaesescravistas),comeaatomarcorpoumaconcepoquevaiidentificaropasnocomsuasociedade,mascomseuterritrio.Isto,oBrasilnoserconcebidocomoumpovoesimcomoumaporodoespaoterrestre,noumacomunidadedeindivduos,mascomoummbitoespacial[23].

    Porisso,asagadoImprionoBrasilparecepartirdeumprojetonacional,emqueseconstruiropasoveioideolgicoquedcorpoaoperodo[24].Nesseprocesso,valorescaroselitesoprenunciados,dentreeles,odasacralizaodoprincpiodamanutenodaintegridadedoterritrionacional,questonorteadorada ao estatal[25]. No perodo psindependncia, ser o Estado o guardio da soberania brasileira e o ente responsvel pela busca da construo danacionalidade,entendidacomoopovoamentodopas,opovovistocomoinstrumentoenoprotagonistadesseprojetodeconstruodanao[26].

    A referncia que se segue nos apresenta o importante escopo geral da transformao da antiga colnia emmetrpole interiorizada que visava, a todo custo, aidentificaoeaunificaodoterritrio,dadaainseguranaquelhesrepresentavaascontradiesdasociedadecolonial:

    Ospolticosdapocaerambemconscientesdainseguranadastensesinternas,sociais,raciais,dafragmentao,dosregionalismos,dafaltadeunidadequenoderamargemaoaparecimentodeumaconscincianacionalcapazdedarforaaummovimentorevolucionriodispostoareconstruirasociedade.Nofaltavammanifestaesexaltadasdenativismoepressesbemdefinidasdeinteresseslocalistas.Noentanto,aconscinciapropriamentenacionalviriapelaintegraodasdiversasprovnciaseseriaumaimposiodanovaCortedoRiode Janeiro (18401850) conseguida aduraspenaspormeioda lutapela centralizaodopoder eda vontadede serbrasileiros, que foi talvezumadasprincipais foraspolticasmodeladorasdo Imprioavontadedeseconstituirede sobrevivercomonaocivilizadaeuropianos trpicos,apesarda sociedadeescravocrataemestiadacolnia,manifestadapelosportuguesesenraizadosnoCentroSulequetomaramasiamissodereorganizarumnovoImprioportugus.Adispersoefragmentaodopoder,somadasfraquezaeinstabilidadedasclassesdominantes,requeriamaimagemdeumEstadofortequeanovaCortepareciaoferecer.Ascondies,enfim,queofereciaasociedadecolonialnoeramaptasafomentarmovimentosdeliberaodecunhopropriamentenacionalistanosentidoburgusdosculoXIX:desdeavindadeD.JooVI,portugueses,europeusenativoseuropeizadoscombinavamforasdemtuoapoio,armavamse,despendiamgrandessomascomaparelhamentopolicialemilitar,sobopretextodoperigoedainfiltraodeideiasjacobinas pelaAmrica espanhola ou pelos refugiados europeus. Inseguros de seu status de homens civilizados emmeio selvageria e ao primitivismo da sociedade colonial,procuravamdetodomodoresguardarsedasforasdedesequilbriointerno.AsociedadequeseformaranocorrerdetrssculosdecolonizaonotinhaalternativaaofindardosculoXVIIIsenotransformarseemmetrpole,afimdemanteracontinuidadedesuaestruturapoltica,administrativa,econmicaesocial.Foioqueosacontecimentoseuropeus,apressoinglesaeavindadaCortetornarampossvel[27].

    Essainteriorizaodametrpoleocorreu,concretamente,pormeiodealgunseventos,sobretudodecorrelaesentreaCorteeporesinteriorizadasdoterritrio.UmdelesfoiochamadoComrciodeAbastecimentodoRiodeJaneiro(advindodasexignciasdanovaCorte),emqueaComarcadoRiodasMortes(CapitaniadeMinasGerais), cuja sede eraSo Joo delRei (antiga cidade daminerao), assumiu relevante papel na interligao comercial doCentroSul. Para almdesteprimeirovnculo, tambmfavoreceramessa interiorizaoedomnio territorial:as interrelaesde interessescomerciaiseagrrios,oscasamentosemfamliaslocais,osinvestimentosemobraspblicaseemterrasounocomrciodetropasemuaresdoSul,nonegciodocharque...processoestepresididoemarcadopelaburocraciadaCorte,osprivilgioadministrativoseonepotismodomonarca[28].NoapenasnoBrasil,masnosdiversosEstados,onacionalismorevestiusedeumcarterarticuladopresenadeterminantedosterritriosmateriais(geograficamentelegtimos)paraaconstituiodosmercadosnacionaiseinternacionaisdosculoXIX[29].

    AanlisedeCaioPradomapeiaa remodelaodavidamaterialdoBrasilcoma transfernciadaCorte,quandocomeamaseexpandirasforasprodutivasnoterritrioe,tambm,justificaaenvergaduraimperialbrasileiranamodelaoespacialquesevisavaunificarpolticaeeconomicamente.

    Asegundametadedosc.XIXassinalaomomentodemaior transformaoeconmicanahistriabrasileira (...)queresulta,emltimaanlise,daemancipaodopasda tutelapolticaeeconmicadametrpoleportuguesa.Masaprimeirametadedosculodetransio,fasedeajustamentonovasituaocriadapelaindependnciaeautonomianacional(...)Hcontudoumfundomais slidoeumprogressoefetivo.OBrasil inaguravasenumnovoplanoquedesconheceranopassado, enasciapara avidamodernade atividadesfinanceiras.Umincipientecapitalismodavaaquiseusprimeirosemodestospassos.Aincorporaodasprimeirascompanhiasesociedades,comseuritmoaceleradoeapesardosexagerosecertoartificialismo,assinalaassimmesmoo inciodeumprocessodeconcentraodecapitaisqueemboraaindaacanhado,representapontodepartidaparaumafaseinteiramentenova.Eleservirdemotorparaaexpansodasforasprodutivasdopascujodesenvolvimentoadquireumritmoaprecivel.Semcontarosgrandesempreendimentoscomoestradasdeferroeempresasdenavegaoavapor, instalavamse,emboraaindamuitorudimentares,asprimeirasmanufaturasdecertovultoocomrcio,emtodasassuasmodalidades, se expande.Mas sobretudo na agricultura que se observar este crescimento da produo brasileira.A lavoura do caf, gnero ento de largas perspectivas nosmercadosinternacionais,contarcomumabasefinanceiradecrdito,bemcomoumaparelhamentocomercialsuficientequelhepermitiroaconsidervelexpanso[30].

    Nessecontextocreditcio,nosentidodasnovaspossibilidadeseconmicasedabuscadeuminteriorasecivilizaremnomedonovoEstado:

    (...)preocupouseaCorteemabrirestradase,fatoquaseindito,emmelhorarascomunicaesentreascapitanias,emfavoreceropovoamentoeadoaodesesmarias.Tinhamcomofobsessivaaproveitaras riquezas (...)precisavam incrementarocomrcioemovimentarmeiosdecomunicaoe transporte.Almdosestrangeiros,continuaramosviajanteseengenheirosnacionaisaexplorarointeriordopas,arealizarlevantamentosemapastopogrficosparaoquefoiespecialmentecriadaumarepartionoRiodeJaneiro.LevantouseumacartahidrogrficadascapitaniascompreendidasentreoMaranhoeoParforamenviadasexpediesparaexaminarosriostributriosdoAmazonas.TentaramdaracessoaocomrciodoMatoGrossopelosriosArinos,CuiabeTapajs,ligandoMatoGrossoporviafluvialeterrestrecomSoPaulo.AtravsdoGuapor,MamoreMadeira,encontraramocaminhoqueporiaemcontatooAmazonascomossertesdointeriordopas.Concentramseprivilgios,estatutoseisenesdeimpostosparaumacompanhiadenavegaofluvial.O Tocantins e o Araguaia foram explorados, embora no se tivesse chegado a organizar uma companhia de navegao regular. Em Gois, vrios capitalistas se reuniram ecomearamotransporteregularpelosseusrios.TambmforammaisbeminvestigadososriosDoce,Belmonte,Jequitinhonha,oRibeirodeSantoAntniodoCerrodoFrio,emMinasGerais.Abriramsecaminhosdo interiorparaIlhuseparaoEspritoSantoeoutrodeMinasNovasparaPortoSeguro.As tradiesdacolonizaoportuguesaeoaf deintegraoeconquistados recursosnaturaisdelineavama imagemdogovernocentral forte,necessrioparaneutralizaros conflitosda sociedadeeas forasdedesagregaointernas[31].

    Podemosafirmarque a ideologiana forjadoEstadonacional, apesardenocoincidir coma transfernciadaCorte, deslinda,por ter ali seu epicentro, daquelemomento,permanecendoenraizadanoterritrioaseconquistar,asedominareasecomplexizarlgicaevidentedesdeosprimrdiosdostrssculosanterioresdecontrole colonial do territrio.A dinmica da vidamaterial de expropriao da colnia transpassa a histria doBrasil, independente domomento poltico.NaavaliaodosculoXIX,sobretudotendocomomarcodivisriodedoisgrandesmomentosdapolticaedaeconomiabrasileiraoanode1850(anodapromulgaodaLei deTerras e perodo derradeiro daAbolio daEscravatura respectivamente, instrumentos de instituio da propriedade privada da terra e do trabalhoassalariado,noBrasil),CaioPradoressalta:

    Umltimofatodemogrficoegeoeconmicoquecumpreregistraraprogressivaocupao,noCentroSul,dograndevcuodeixadoentreosncleospovoadosdeMinasGerais,GoiseMatoGrosso,eaqueles,deorigemespanhola,fixadosaolongodosriosParaguaieParan(hojecompreendidosnaRepblicadoParaguai).EstemiolodeterritriosdesertoscompreendidosdentrodoslimitesaindatericosdoBrasil,comeaaserpovoadonasegundametadedosculopassadoporfazendasdegado.AorigemdospovoadoresdaregioMinasGerais,maisdensamenteocupadaporefeitodaintensamineraodosc.XVIII,agorapraticamenteextinta.Nasuamarchaparaosudoeste,osmineirosocuparoprimeiroochamadoTringuloMineiro,oterritriosituadononguloformadopelaconflunciadosriosParnabaeGrande,formadoresdoParan.Estaregio,queemmeadosdosculonocontavamaisdeuns6.000habitantes, compreendidos4.000 ndios semicivilizados, reunir em finsdo Imprio acimade200.000 indivduos, comumcentro urbano j de certaimportncia:Uberaba.OavanodopovoamentoseguirdaparaaregioqueformaosuldaprovnciadeMatoGrosso,descendopelorioParan.Estaprovncia,quenocontavaporocasiodaIndependncia37.000habitantes,epoucomaisqueistoemmeadosdosculo(asestatsticasoficiaisdo40.000),somaremfinsdoImprioacimade200.000equasetodo,senotodoesteconsidervelaumentosepodecomputarnaregiopastorilSul,ondetambm,emcertospontos,seexploraaervamatenativaqueaseencontra.ONortedasminasdeourodecaraparasempre.Aprincipalcidadenoser,alis,maisacapitalqueportradioseconservaremCuiab,antigocentromineradordecadente,masCorumb,quepertenceaoSul[32].

    Essa avaliao nos direciona ao questionamento do papel da histria na leitura de uma identidade nacional, quando os argumentos de ndole geogrfica vopossibilitaraelaboraodediscursoslegitimadoresondeopasvistocomoumespao,emais,umespaoaserconquistadoeocupado[33].NosculoXIX,odiscursoengendradoemtornodanoodecivilizao,cabendomonarquiabrasileiraamissocivilizacional:civilizaropasserialevaroavanoaossertes,ocuparaterraretirandoadabarbrie[34].Porassimavaliar,ligadaextinodotrficonegreiroestavaabuscadobranqueamentodoBrasil,relegandoaltimoplanoolugardoindgenaedonegrolibertononovoterritrioemconstruo.Asubmissodaspopulaeslocaisaparececomodecorrncianaturaldoprocesso,umresultadotidocomodealtapositividade.Integrarondioaoseapropriardesuaterraerapartedoprojetocivilizatrioimperial.Povoarasreaspioneirascomcolonosbrancos tambm contribua para os objetivos almejados, num quadro que se acelera conforme avana a conscincia acerca da extino do trficonegreiro[35].

    AelevaodoBrasilcondiodeReinoUnidoaPortugaleAlgarvesinovounadefiniodosreferenciaispolticos,foiummomentoparamaterializaopolticadoiderionacional.Onovoreinotransformara,aindaqueapenasnoplanosimblico,umconglomeradodecapitaniasatadaspelasubordinaoaopoderdeum

  • 7/13/2015 A ideologia espacial constitutiva do Estado nacional brasileiro

    http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-418/sn-418-6.htm 4/9

    mesmoprncipenumaentidadepolticadotadadeprecisaterritorialidadeedeumcentrodegravidadeque,almdeslodonovoreino,eraotambmdetodooimprio[36].Ento,anaoimaginadaseconcretizarianaesferadoEstadoReinoUnidoaPortugaleAlgarves.Nessaperspectiva,ficaclaroqueaideiadenaovinculaseaumarelaodepoderederepresentaonoepeloterritriorelaoestaquevemcarregadadeumimaginrioqueproduzidoaolongodahistriabrasileira,qual seja:dabarbriedohomemda terra edaexploraodos recursos (a ideiadeheranaoumemria consolidasepormeiode lugareseobjetosimpressosnoterritrioapenasnosculoXX,comoveremos).

    preciso teremmentequenasprimeirasdcadasdosculoXIXoconceitodenao,aindaquecarregadodeenormefluidez,espalhavase rapidamentepelouniversoAtlntico,deslocandoseparaocentrodosideriospolticos.Aindaquecomportandograndesvariaesdecontedo,essaideiasemprecontemplavaduasvariveisdefinidorasdacomunidadecujanaturezapretendiaexpressar:umaherana(memriaehistria)eumterritrio,amboscomunsaosmembrosdanao[37].

    Maisqueindicarumaideologiaespacialemqueanaobrasileiradeslindadeumterritrioaseunificarmaterialmente,objetivamostrazeralgunselementosdeumperodoemqueopovoeaculturaqueoconstituaemsuaquase totalidadepouco foramcontempladosnesseprojetonacional.Anacionalidadedeveria serinerentenoaumacartografiado territrio aoqual estariam ligadoshabitantes desprezados,mas aosmembros efetivosdesses grupos, aos homens,mulheres ecrianas,brancos,pardos,negrosoundiosqueseconsiderassemparticipantesdeumanacionalidade,pois,comotais,osmembrosdeumanacionalidadegozariamdeautonomiacultural[38].

    EricHobsbawmdeixanosumarefernciasntesedessacorridapelaconstruodenaesnosculoXIX,nasdiferentespartesdomundo,ocorridaanteumfortecunhoideolgicoespacial.

    Onacionalismoqueestabeleceuasiprpriocomoversopadronizadadaideologiaedoprogramanacionaleraessencialmenteterritorial,umavezqueseumodelobsicoeraoEstado territorial daRevoluo Francesa, ou, de qualquermodo, aquele quemais se aproximasse de efetivar o controle poltico sobre um territrio claramente definido e seushabitantes,equeestivesse,naprtica,disponvel[39].

    Cultura,identidade,territrioepoltica(elementosconstituintesdanao)nosoaquiassimiladosdeformaclivada,consideramosessainterdependnciaenquantoessnciadoprprio territrio, pois oquenospossibilita interpretlodoplanomaterial ao simblico, no trnsitode elementodedomniodoEstadoaoplanosignificantedeempoderamentocoletivo.ParalembrarEdwardSaid,devemosfalaremterritriosquesesobrepem,histriasqueseentrelaam,comunsahomensemulheres,brancosenobrancos,moradoresdasmetrpolesedasperiferias,dopassado,dopresenteedofuturo.Territriosehistriasspodemservistospormeiodahistriahumanasecularemsuatotalidade[40].

    Noprximotpico,indicaremososviesesemqueoterritrioressurge,nodiscursoeimaginativamente,comorefernciadeidentidadecoletiva,comofundamentomaterialdeumapretensaunidadeculturaldanao.Visaremosascontradiesdessabusca.

    AideologiaespacialdoEstadonaobrasileiro:identidade,cidadesearte

    oEstadoquefazanaoenoanao,oEstado[41].Essaassertivatraz,emgerme,nossoesforodeanliseaoreconheceroprotagonismodoEstadonabuscados elementos entendidos como os identitrios na representatividade da nao. Nesse contexto, somos direcionados a tais elementos identitrios que, no casobrasileiroeapslongoperododebuscapelaintegridadeterritorial(quetranspassatodaahistriadoBrasil),noinciodosculoXX,soexpressosemespecficascidadesearteconsagrados(peloEstado)comogenuinamentenacionais.

    Questescomo:odebate intelectual sobreacentralizaoeadescentralizaodopodernanovaRepblica (relaoentreEstadoeNao) identidadenacionalnovamenteaintegridadeterritorialedemogrficadopasosresquciosdaheranaescravocrataecolonial,levantavam,nofundo,umaquestomaiorsaberasrazesprofundasdenossoinsucessoinstitucionalecomosuperlasdefinitivamente[42].Opasclamavaporsuasorigensequestionavaodramadafaltadeumaidentidadesocialclara.Vislumbramos, assim,asaespolticas,noBrasil, que culminaramnaviso territorial de identidades, quando as propriedades culturaisforamtrabalhadasnaperspectivacontraditriadeesquecimentoenegligncianoprocessodeseuprprioresgate.

    Assim,tratardossentidosdanaobrasileiratornasetarefacomplexa,umavezqueanacionalidadenoapareceobjetivadanomundoconcreto,masapresentadasegundoaideologiadominantedapocacomorepresentatividadesrequeridas[43].Opressupostoquenos trazemdebateodequenoforamasmemriasdosdiversosgrupos sociaisque compuserame compemanaoque entraramemcenana construoconcreta emesmo imaginadadoBrasil, pelo inverso.Oterritrio,ascidadeseaarteaquiconsagradosemergiramnobojodeumaideologiaespacialemanadadoEstadoemconstituio,nabuscadeumaidentidadeque,tosomenteimaginariamente,seriacoletivaetotalizadora.OpoderdoEstadoesuasvariantesestticasesboam,historicamente,oBrasilnovisfragmentadodeumaideologiaespacialqueoenxergaapartadodaculturadeseusvariadoscomponentestnicos.Porisso,concordaseaquiqueanaoBrasileira,tosomente,uma realidade imaginada (uma narrativa?)[44], pois deveria ser capaz de convergir todos os indivduos do territrio para um quadro nico, perceber einstitucionalizarumpatrimnioculturalquedeveriapertencer(erepresentar)atodosessesindivduos,porserumaconstruocoletiva[45].

    Asagapelamodernidadeepelaidentidadebrasileiras

    Nao e identidade nacional compem um mesmo quadro, o qual converge para a questo da relao entre memria e tradio, com o fim de congregar,solidariamente,oesbooefetivodapopulaodeumdado territrio.Porassim tratar,deveficarevidenciadoquenaoenacionalismoconvergem ideologia(s),poltica(s)ecultura(s).Assim,arelaoentrenaoeidentidade(s)sednovisdainterligaoentreindivduoseclasses,quandoambossorepresentados,pelanao,pormeiodeobjetos,ritos,tradiesquesimbolizamdeterminadasideologias.

    Nobojodeevidente turbulncia republicana,noprimeiroquarteldosculoXX,oanode1922marco simblicodosanseiospormudanas. EventoscomoaSemanadeArteModerna,o levante tenentista,acriaodoPartidoComunistaeaindaumaconturbadaeleiopresidencial sepultaramsimbolicamenteaVelhaRepblicae inauguraramumanovapoca[46].Adcadade1920abuscapela fundaodaNaoede forjada identidadenacional, que fora corrodapelamediocridaderepublicanaqueimpediaodespertardoBrasilmoderno.Nesseprocesso,novasevelhasinterpretaessobreasrazesdanacionalidadevieramtona,buscandoascontinuidadeserupturaserecriandoopasalturadosculoXX[47].ApssedelimitarasfronteirasterritoriaisdoBrasiladuraspenaschegaraahoradesefundarocarterdenossaidentidadeenacionalidadetambmaduraspenas.

    Noperodoemtela,quandovaiemergirodebatesobreoBrasilModerno,anoodecivilizao(vigorantenosculoXIX,vistonotpicoanterior)perdeespaoparaanecessidadedemodernizao,deformaqueaideologiaespacialpermeiaosdoismomentosdaconstruodanao,emqueoordenamentoeaequipagemdoterritriorepresentamobjetivosnotriosoEstadodeveria,maisumavez,agiremproldeumprojetonacional,agora,aconstruodoBrasilmoderno[48].

    Apartirdasegundafasedomodernismo(de1924emdiante),oataqueaopassadismosubstitudopelanfasenaelaboraodeumaculturanacional,ocorrendoumaredescobertadoBrasilpelosbrasileiros[49].Osmodernistas(paulistas)acreditavamqueatingiriamauniversalidadeapartirdaleituradonacional,doencontroeafirmaodachamadabrasilidadebuscavasenacionalizarouabrasileiraropasemproldeumaprojeouniversal[50].

    DuranteachamadaRepblicaVelha(18891930),acentuaseanecessidadedepensaraorganizaodasociedadeedoEstadonoBrasil,desediscutiraquestodanacionalidadeedaregio[51].Jnaquelapoca,aintelectualidadereproduziaumBrasilaosolhosdaenaEuropa.

    OprimeiroprocessorepresentadoporumasriedeintelectuaiscomoSlvioRomero,EuclidesdaCunha,NinaRodrigues,OliveiraVianaeArthurRamosquesoprofundamentepessimistasepreconceituososemrelaoaobrasileiro,quecaracterizadoentreoutrascoisascomoapticoeindolentenossavidaintelectualsendovistacomodestitudadefilosofiaecinciaeeivadadeumlirismosubjetivistaemrbido[52].

    Somente aos poucos vo surgir pensadores que trazem uma leitura contrria a esta apresentada. Os representantes da chamada escola indianista da literaturabrasileiratem,comoautorprotagonistadestaoutraleituradopas,JosdeAlencar,queretomaasrazesnacionaisnaimagemdosindgenasedavidarural, dasrelaesnocampoessaleituradebuscadasrazesnacionaisbrasileirasdesenvolveseao longodosculoXXe tornaseprementenopensamentointelectualdanao[53].Nessaperspectiva,ochamadomovimentomodernistabrasileirode1922representaumeventoeummomentosimblicodaleituradoBrasilenquanto

  • 7/13/2015 A ideologia espacial constitutiva do Estado nacional brasileiro

    http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-418/sn-418-6.htm 5/9

    EstadoNacional.tantoumareleituradoBrasilemrelaoaosmovimentosculturaiseartsticosqueocorremnoexteriorquantoabuscadenovasrazesnacionais,quevalorizavaoquehaveriademaisautnticonopas[54].

    Nessemesmosentido,cabedestacaroutrotrabalhosimblico,desenvolvidocomottulodeManifestoRegionalista,deGilbertoFreyre,oqualnovisavaprojetaraculturabrasileira,maspreservarastradiesregionaisemsentidoamploedoNordeste,emparticular[55].Nessaproposta,teramosumagregadodistintoderegiesqueconsolidariamoBrasilenoumapanhadodeestados.

    AnecessidadedereorganizaroBrasilprimeirotemacentraldoManifestoepreocupaoconstantedepensadoresbrasileirosdofimdosculopassadoecomeodestedecorreriadofatodeelesofrer,desdequenao,asconseqnciasmalficasdemodelosestrangeirosquelhesoimpostossemlevaremconsideraosuaspeculiaridadesesuadiversidadefsicaesocial[56].

    Historicamente, podemos dizer, as propostas administrativas brasileiras so desenvolvidas com os olhos na Europa, levando pouco em considerao ascaractersticasespaciaisintrnsecasdoEstadoemformao.GilbertoFreyrefazcontrapontoaosmodernistasnosentidodereconheceraculturabrasileiraapartirdosvaloresnacionaishistricosenodaatualizaoculturalpormeiodevaloresmodernosvindosdeforadecertamaneira,oautorfazacrticaaosproblemasadvindos da modernizao conservadora brasileira o pano de fundo do autor a crtica influncia do capital estrangeiro sobre o pas e sobre a culturabrasileira[57].

    Da chamada Repblica Velha para a Repblica Nova, temos, no Brasil, a transio de um Estado descentalizado para uma crescente centralizao polticoadministrativa,oqueseacentuaaps1930essasmudanassoacompanhadaspelaformaodeumaindstriadebensnodurveis,ocrescimentoexponencialdascidadeseacrisedocaf,abancarrotadosistemapolticoexistenteentreoligarquiasagrrias(apolticadosgovernadores)[58].

    Naquelemomento,opaspassaaserrepensadonombitodeumprocessodeconsolidaopolticoeconmica.OnacionalismoganhampetoeoEstadosefirma.Defato,eleque tomaa si a tarefade constituir anao[59], demaneira queoEstadoNovodeGetlioVargas (19371945) produzuma forte centralizaopoliticoadministrativa.

    Noplanodaculturaedaideologia,aproibiodoensinoemlnguasestrangeiras,aintroduodadisciplinaMoraleCivismo,acriaodoDepartamentodeImprensaePropaganda(quetinhaaseucargo,almdacensura,aexaltaodasvirtudesdotrabalho)ajudamacriarummodelodenacionalidadecentralizadoapartirdoEstado[60].

    Nessepercurso,foipromovidaaregionalizaooficialdoBrasil,incorporandoanooderegionopensamentoenaprticadoesobreoEstado.Vargasdefineabrasilidadecomoosomatriodasculturasregionaisdopas,concepoqueestimulaumsurtodeconstruodeidentidadesedecriaodetradiesemdiferentespartesdoterritrionacional,comoestratgiamesmadealocaodaseliteslocaisnoprojetodeconstruodoBrasilmoderno[61].AntnioCarlosRobertMoraeslevanta algumasquestes quenos conduzem reflexo sobre identidadenacionalversus identidade regional, estratgias oligrquicasversusestratgia nacional,hegemoniapolticaversusinteressesdeumEstadoigualitrio:

    (...)operodotambmfoiriconoquetangeformulaoderepresentaesdoespao,umapocadeampladifusodeideologiasgeogrficas(...)comaentradaemcenadoconceitoderegio[nageografiabrasileira].Este, tambmumapossibilidadede identidadepeloespao,conheceumasignificativabaseobjetivade formulaonopas. IndagaracercadossujeitosecontextosdecriaoedivulgaodosdiscursosdosdiferentesregionalismospresentesnoBrasilabreoutroformidveluniversodepesquisa.Atquepontoaidentidaderegionalcumpriuumpapeldelocusderesistnciadosdominados?Atquepontofoiumaestratgiaoligrquicaparasecontraporaoprocessodecentralizaopoltica?AtquepontofoiumexpedientedoprprioEstadonacomposiodesuabasedehegemonia?Estassoquestesquedemandamumcabedalempricoaindaemelaborao[62].

    Cidadeseartecoloniaisabuscacontinuadaaosredutosdabrasilidade(perdida?)

    Foramcriados,tambmnadcadade1930pelogovernogetulistaedentrodoaparatadoestatalnecessrioaonovoEstadonao,oIBGE[63]eoSPHAN[64],paraumamelhorexplanaosobreoquadrosociogeogrficoeculturaldoBrasil.AideologiaespacialatinenteaoEstadoNovocorrespondemistificaodascidadesartedointeriordoterritrio,bemcomodolitoralnordestino,smbolosdoEstadoemconstituio[65].OinteriordoBrasilpassaaservistocomoceleirodaculturaedaidentidadenacionais,umaidentidadequeseforjapeloterritrioconcreto,pelaslembranasmateriaisdeumpassadomarcadopelacomplexizaoterritorial,deformaasereconhecerqueosertoguardou,comoqueemumdesgnio,aspossibilidadesdocarterdenacionalidadelatente.Ascidadescoloniaiseaartebarrocasoapresentadascomoelementosdenossasrazes,damemrianacionaledeidentidadegenunabrasileira.Porm,precisamoslevaremcontaque:

    Oolharquesedespertaemdireoaopassado,divertindoseecompenetrandosenasimagensdeumoutrotempo,suscitadasnosmateriaisenasobrasqueamemriaimpregnou,longedeconstituirsenumimpedimentonostlgicohistria,instauraumdesequilbrionarelaocomopresente,presentevividoerepresentadocomoprogresso[66].

    O interior doBrasil passa a ser visto comomarcoda identidadenecessria nao, locusdo enraizamento da vida colonial a ser desgarrada e recapitulada nopresenteosertorepresentaamatrizdabrasilidadeeosanturiodoverdadeirocarternacional[67].Ascidadescoloniaiseaartebarrocasovistascomoobjetosdeidentidadepeloterritrio.Omesmobarrocoqueafloraparaocultoeapersuasodefiis,nosculoXVIII,resgatadopeloEstado(comapoiodosmodernistasedoSPHAN),nosculoXX,comopossibilidadedeoutroculto:odaconscientizaodabuscadeumlugarquenosso,aconstruodaptria,aconsolidaodoEstadonao[68].

    Porm,abuscadessasvariantesestticasprojetoucidadeseelementosdopodermetropolitano(militar,religiosoeburgus)evalorouolocalnaperspectivaexgenaproduzidanoterritriocolonial.Nessesentido,ascidadeseaarterepresentativasdoEstadonacionalbrasileiroforam,naquelemomento,estemesmopatrimnioeno oBrasil.Ao pensar que as formas culturais tendem para a hibridez, so ambguas e, assim, guardam o complexo da formao do territrio, tornase fcilcompreender que somosherdeiros deumestilo segundooqual a identidade forjada , por natureza, ideolgica, quando resulta ematender aos interesses e aosprogramasdeumaminoriaprivilegiadaerepresentativadoEstadoquesequeriaconsolidar[69].

    AconsagraodascidadesedaartecoloniaispormeiodeumaestruturainstitucionalretrataopercursodeumadelimitaoterritorialeimaginriadanaoemqueoEstadopassaaatrelar(aindacomumviselitista)desenvolvimentocultura,emproldadenominadanacionalidade.

    Talprocessodeestandardizaoidentificativadanacionalidadeeatransposionaturaldosinteressesdeclassedaburguesia,comointeressesNacionaisisentosdeconflitosocial,trouxeram,junto,atransformaodasestruturasestatais,nosemaparelhosdecontrolepolticomilitarporpartedessaclasse,mas,sobretudo,emestruturasinstitucionaiscomasquaispromoveraidentificaopatritica,construindoparaissoaconsubstanciaodaconscinciacoletivaemumahistriaegeografianacionais[70].

    Assim,abuscapeloquerepresentariaoBrasilNaoficouacargodeumaeliteintelectualizadaecomsubsdiodoEstado:

    FoiparaevitarqueoBrasilpassasseumdiapelasupremadegradaodeverdestroadooseupatrimnioespiritualqueumapliadedebrasileirosdamaisaltacategoriahumanaeintelectualentreeles,RodrigoMeloFrancodeAndrade,MriodeAndrade,AfonsoArinosdeMeloFranco,LusCamilodeOliveiraNeto,LcioCosta,CarlosDrummondAndrade,SlvioVasconcelos,PauloBarreto,AirtonCarvalho,dsonMotareunidosnoSPHAN,criadosobinspiraodeLusCamilodeOliveiraNetoesegundoplanodeMriodeAndrade,lanousesobalcida,enrgicaegenerosadireodeRodrigoMeloFrancodeAndradesobrehumanatarefadereconquistarparaosbrasileirosdehoje,esobretudoasgeraesvindouras,osbensculturaisqueotempo,adesdiadealguns,aignornciademuitose,emtantoscasos,atorpezadevrios,ameaavabanirparasempredamemrianacional[71].

    TaisaesesboamoreconhecimentodoEstadoNovodequeoterritrioemsienquantodelimitaopolticaseriaumdadovagoparasecaracterizaranaobuscouse,tambm,parte(esomenteumaparte)dadiversidadequeoconstituiu.Alnguaeaeconomiaagregamsenesseentendimento,formandoumapartetotaldotodo,capazdeconformar,juntos,anaoesuamemriaaleituradaculturadeumpovoquepodedarintegridadeaoterritrionacional,quandoamemriarodeia,roaepenetraosmateriaisdecultura,nelesseapoiando,nelessearraigando,compondoocampodeumaeconomia,deumageografiaedeumaarquiteturaintrinsecamenteexistenciais[72].Aculturaaforamotriz,acausaquedvidaalmanacionalcomadifusodeideias,sentimentoseaspiraesfazperpetuarconquistasobtidas,preservabensadquiridos,protegeeampliaopatrimnioacumuladohistoricamenteaculturaainstituiomaispermanentedeumanao,poiscadaqualtemumpatrimnioespiritualquerefletesuafisionomia,fixaoseucarter[73].

    Cabe ressaltar quehquem reconhea a independncia cultural brasileira antes de sua independncia poltica, a partir do barroco que leva a la independenciaculturalydeestiloafirmandosequeapluralidadeculturaldospovosiberoamericanosestestreitamenteligadaasuasorigenspeninsulareseuropias[74].Ento,essaversodeleituradaidentidade(nocasobrasileiro)residenoprocessodecolonizao,emque,nosprimrdios,jsefiguravaumaidentidadeculturalcoma

  • 7/13/2015 A ideologia espacial constitutiva do Estado nacional brasileiro

    http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-418/sn-418-6.htm 6/9

    solidificaodevariadasexpressesartsticasligadassdistintasexpressespolticasdacolonizao,noqueserefereAmricaPortuguesaeAmricaEspanhola.Aquestoque,atadcadade1930,noBrasil,nosetinhavalorizadooureconhecidoestaarteouestascidadescomogenuinamentebrasileirasestaleituraestavaporserfeitaeofoi.

    Obarrocobrasileiro(omineiroe,aposteriori,dolitoral),nafasederesgatepeloEstado(psdcadade1930),noforacompreendidocomoprodutodeumsistemadedominaocolonialqueestabeleceuumadinmicacontraditria:artereligiosaqueamparavaumsistemaarcaicodecontroleedeexploraosemifeudal.Anteadiversidadedeculturasautctones,no interioreno litoral,ocorreua reinterpretaodaarteemseusprprios termoserammensagenschegadasdoOcidenteedecodificadasaosprpriosgostoslocais.Obarrocoaparececomosignodeumasociedadecolonialestabelecidasobreantigascivilizaesconquistadas,deformaqueseimprimiuumaestratificaosocialeculturalbaseadanalgicadomundometropolitanodeorigem[75].

    Naquele primeiromomento (o de resgate das cidades e da arte pretensamente autnticas brasileiras), fora consagrado o patrimnio representante da burguesiacoloniale,destafeita,negligenciadasasminoriastnicasquesobrepuserampedrasobrepedranestasmesmascidadesconstrudasduranteoprocessocolonizador(oucivilizatrio). Isso representaa ideologiaespacial,maisumavez s avessasda construonanacionalidadebrasileira.A referncia seguintenos fazquestionar,justamente, o contedodeverdadepropalado sobre esse patrimnio cultural e artstico resgatado peloEstado brasileiro, na dcada de 1930: o que outrora foiverdadeironumaobradearteefoidesmentidopelocursodahistria,spodedenovovirluzquandosemodificaremascondiesemvirtudedasquaisaquelaverdadefoiliquidada:toprofunda,noplanoesttico,apenetraorecprocadocontedodeverdadeedahistria[76].

    No processo de resgate da identidade brasileira, negaramse (e muito ainda se negam) as vidas, culturas e identidades prcolonizao, e mesmo as que seconstituram(minorias)comasagadacomplexizaodo territrio.Oolharestrangeiro (europeueamericano),para fazermenoaEdwardSaid, indicaqueasregiesdistantesdomundonopossuemvida,histriaouculturadignasdemeno,nenhumaindependnciaouidentidadedignasderepresentaosemoOcidente.Ograndearquivocultural,ameuver,encontrasealiondeestoosinvestimentosintelectuaiseestticosnodomnioultramarino[77].

    A colonizao das Amricas aproximou omundo,mesmo que a custa demilhes de vidas e da precarizao da existncia humana nos lugares conquistados.Entretanto, essa experincia de desapropriao da terra e de seus atributos deve ser tratada como algo compartilhado tanto pelos conquistadores quanto pelosdominadosadecifraodamaterialidadedascidadesapontanosesseselementos,apesardeteremsidodesconsideradosnadcadade1930.Assim,aorepresentarum Estadonao, as cidades ou a arte esboam a histria contada por algum, que est ligada histria de sua sociedade, moldada por essa histria e suasexperinciascotidianas,quandoaculturaesuasformasestticasderivamdaexperinciahistrica[78].inegvelqueabuscadeumaidentidade,pornatureza,ideolgica,quandoatendeaosinteressesdeumaclasse.

    Assim,(MriodeAndrade)encontranopatrimniodascidadesdazonadamineraoumestilooriginaleniconoBrasil,tratandose,pois,deumaunidadeestilsticaqueesboavaumnotrioacervoartsticoeculturalnacional.Seria,pois,odenominadobarrocomineiro(...)osmbolodeidentidadenacionalpeloterritriodascidadescontempladasnazonadamineraodoouroedosdiamantes.Obarrocomineiro,enfim,seriaoprimeiroestiloartsticodanacionalidadetupiniquim(Natal,2007,p.199).Logo,essaarte,emMinasGerais,mais queumestilo, o smboloprimazdahistriada formaodo territrionacional,uma vez que estabelece o incio de uma tradio artstica e de umamorfologia urbanaimportantedaconstituiodeumaarteregionaledaemergnciadeumarededecidadesantigasquevosintetizaroBrasilnao[79].

    Temos,ento,umaidentidadequejnascefragmentriaefragmentada,poissereferiu,naquelemomento,aosbensdaselitescoloniais,aoseremadotadoscritriosparciaisparaaseleodoquedeveriaserpreservadoeenaltecidocomosmbolodaculturanacional:casares, igrejasepalcios ligadoselitebrancacolonial.Assim, ao territrio ordenado, agregase a fragilidade das representaesda identidade coletiva[80].Nesse quadro, podemos dizer que h, historicamente, umatendnciaasepensaranao(eascidadescoloniaisjuntoartequeguardam)maiscomoprodutoculturaldeumaeliteemenosnumaabordagemqueasesbocecomosmbolosdaformaodeterritriosoumesmodaformaosocioespacialdoBrasilemrelaoaosseusprotagonistas.

    AntnioCarlosRobertMoraes, emNotasde IdentidadeNacional, afirmaque a identidade pelo espao (noo que se aproxima do que tratamos por ideologiaespacial)vaifornecerimportanteselementosquelegitimamaformadedominaovigente.Conformeoautor,haviaumprojetoparaaselites,nabuscadaidentidadebrasileira,umhorizontereferencialunificadordetodoopovoetambmumajustificativadaunidadenacional(tomadacomoprojeto)queemsimesmalegitimaoEstadoe,ainda,colocaopovonoseudevidolugar,queodesubalterno[81].

    QueremosdizerqueacolonizaodoNovoMundofezsesobosubjugodeculturasautctonesenocontextodeformulaodenovasidentidades,asquaisforamignoradasnomomentodeseuresgate.Oqueseriaautnticoourepresentantedanaonesseprocesso?Importanosrecordarqueochamamentoaopassadopareceseraestratgiaadotadaparaainterpretaodomundopresente.Porm,nohcomoentendermosopassado,ouaprecilo,deformaapartadadomomentoatual,poisambossecomandamreciprocamenteaformacomorepresentamosouformulamosopassadomoldanossacompreensoeconcepodopresente[82].Assimcomonenhumdensestforaoualmdageografia,damesmaformanenhumdensest totalmenteausenteda lutapelageografia(pelos lugares).Essa luta complexaeinteressanteporquenoserestringeasoldadosecanhes,abrangendotambmideias,formas,imagenserepresentaes[83].

    Nabuscacontinuadaaosredutosdeumabrasilidadeperdida,parecenosqueamesmaaindanofoiencontrada.Repetidamente,esquecesedequetodasascidadesesuaartesoprodutosdasfortunasedosinfortniosdesuascivilizaes.Eseascidadescoloniaisbrasileirassoresultadodoprocessocivilizatrioaquiimplantado,comtodasassuascontradies,mandos,sacrifcioseambies,elasnopoderiamserresgatadasenquantomemrianacional(oudoEstadonao)apenaspelovisdas fortunasde seu surgimento.Hde se recuperar, valorizar e reconhecerosprincipais atingidos anteos infortniosdessemovimento sobreo territrio, quaissejam:osnegros,osindgenaseseupapelprotagonistanaconstruodestanaooquepoucotratado.OsconstitutivosdaideologiaespacialqueconsagrouoBrasilcomoEstadonaoforamepermanecemreduzidosaossmbolosdoprogresso.

    Porfim,talvezBraslia,amodernacapitalbrasileirainauguradanadcadade1960,sejaoltimoredutosimblicodabuscadoEstadopelabrasilidade.Acapitalsnteserecentedahistrianacionaldeambiopeloprogressoepelamodernizao,emquepoucoimportouopovonativoemesmoseusconstrutores(nortistasenordestinos)emmaisesseempreendimentogeopolticodeintegraoterritorial.

    PalavrasFinais:permaneceabuscapelabrasilidade

    OBrasilmudaseuquadropoliticoeconmicoapsadcadade1950e,comomesmo,uma reflexo sobreopas ressurgeparaajudaraproduzirumaautnticaculturanacionalparaopovodiversascidadessoreconhecidas,nessembito,comopatrimnionacional.DaopensarascidadescoloniaisconsagradaseBrasliacomosmbolosdaculturanacionalmodernacomAleijadinho,nasprimeiras,eNiemeyer,nasegunda,cadaqualasuapocaenquantoncleosde formaocultural individualizadas.AconstruodeBraslia,nocernedamarchaparaoOeste eda integrao territorial nacional, estabeleceudebates sobre a sagadestaempresa e pela representatividadeda arquiteturamoderna.Seobarroco representavauma snteseda influncia doOcidente em solobrasileiro, adquirindo aquifeioprpria,Brasliaseriaumaprojeomaisrecentedopasnocenriocapitalistaavanado,representandoodesenvolvimentodourbanoedaarquitetura dascidades[84],ummarconacional.

    Adcadade1950demarcamaisummomentodacorrelaoentreaideologiaespacialrecapitulandooprojetonacionaldemodernizaoedeprogressoeaspolticas territoriais queguardaram,nahistria nacional, comomais alto fio condutor, o investimento na integrao territorial. Aobjetivao do velho projetogeopolticodeinteriorizaracapital,associadoaumextensoplanovirio,completamnointerioroesforoindustrializanteoperadonasreascentraisdopas[85].Adivisoregionaldotrabalho,noBrasil,apsadcadade1950,seperfazemummercadonacionalredimensionado,baseadonaintervenoestatalenaperspectivadeumplanejamentoparaamodernizaosnessemomento,comasignificativaurbanizaoeimplantaodesistemasdeengenhariamaisvultososnoterritrionacional,queaideiadepovoganhaespaonodebatesobreaidentidadebrasileira[86].

    Progresso,modernizao,complexizaoterritorialcontinuamcomoeloentrenaoimaginadaenaotalqualelaseconcretizouanteumpovoqueassiste,distintaepassivamente,stransformaeserepresentaessocioterritoriaissubsidiadaspeloEstado.AconsolidaodopoderdoEstadofezseanteavalorizaodesuasvariantes estticas, enquanto elementos substanciais damanuteno da administrao e da estratgia para dar sentido histrico e identitrio aoEstado nacionalbrasileiro.

  • 7/13/2015 A ideologia espacial constitutiva do Estado nacional brasileiro

    http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-418/sn-418-6.htm 7/9

    Notas

    [1]MarilenaChau,emOqueideologia,entendeporesteconceitoumconjuntolgicoecoerentederepresentaes(ideiasevalores)edenormasouregras(deconduta)queindicameprescrevemaosmembrosdasociedadeoquedevempensar,valorizar,sentirefazer.Seriaumcorpoexplicativo(representaes)eprtico(normas,regras,preceitos)decarterprescritivo,normativo,regulador.Nesseentendimento,considerase,paraesteestudo,aideologiaespacialcomoasideiasevaloresouresgatadosounegligenciados,noepeloespao,ouseja,aconvergnciaentrenoesconcretaseideativasquepossibilitamaconstruodaidentidadepeloterritrio.

    [2]Said,2011,p.218.

    [3]Lander,2000.

    [4]TermoadotadoporCanclini,2008.

    [5]Said,2011,p.24.

    [6]ParaAntnioCarlosRobertMoraes(2005,p.93),asagadoImprionoBrasilpartedeumprojetonacional,noqualseconstruiropasoveioideolgicoquedcorpoaoperodo.Nesseprocesso,valorescaroselitesoprenunciados,dentreeles,odasacralizaodoprincpiodamanutenodaintegridadedoterritrionacional,questonorteadoradaaoestatal,completaoautor.Ver,tambm,Magnoli,2003,paraestaanlise.

    [7]Moraes,2005.Paraoautor,nosculoXX,especialmenteapsadcadade1920,quandovaiemergiroBrasilModerno,anoodecivilizao(vigorantenosculoXIX)perdeespaoparaanecessidadedemodernizaovsecomoaideologiaespacialpermeiaosdoismomentosdaconstruodanao,emqueoordenamentoeaequipagemdoterritriorepresentamobjetivosnotriosoEstadodeveria,maisumavez,agiremproldeumprojetonacional,agora,aconstruodoBrasilmoderno(Moraes,2005,p.93).

    [8]Oliven,1986.

    [9]RegimepolticoautoritrioimpostopelopresidenteGetlioVargas,queduroude1937a1945.

    [10]InstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatstica.

    [11]ServiodoPatrimnioHistricoeArtsticoNacional.

    [12]Anderson,2008,p.32.

    [13]Anderson,2008,p.34.

    [14]Bhabha,1998,p.199.

    [15]Camargo,2001,p.308.

    [16]Camargo,2001,p.308.

    [17]Anderson,2008,p.83.

    [18]Magnoli,2003,p.29,40.

    [19]Jancs&Pimenta,2000,p.132.

    [20]Anderson,2011,p.279280.

    [21]JancsePimenta,2000.

    [22]Jancs&Pimenta,2000,p.139.

    [23]Moraes,2005,p.93.

    [24]Moraes,2005,p.93.

    [25]Moraes,2005.

    [26]Moraes,2005,p.94.

    [27]Dias,2005,p.1718.

    [28]Dias,2005,p.1920.

    [29]Escolar,1996.

    [30]PradoJnior,1986,p.192193.

    [31]Dias,2005,p.3537.

    [32]PradoJnior,1986,p.204.

    [33]Moraes,2005,p.95.

    [34]Moraes,2005,p.95.

    [35]Moraes,2005,p.95.

    [36]Jancs&Pimenta,2000,p.155.

    [37]Jancs&Pimenta,2000,p.159.

    [38]Hobsbawm,1998,p.210.

    [39]Hobsbawm,1998,p.210.

    [40]Said,2011.

    [41]Roos,1966,apudHobsbawm,1989,p.211.

    [42]Camargo,2001,p.330.

    [43]Nobastaumacomunidadehistrica,umacomunidadegeogrficaoupsquicaparaquesobrevivaanao.Hdeseentenderosentidodeumacomunidadeestvel,afirmaFranklinOliveira,emMorte eMemriaNacional.A interpretaoda comunidade estvel em sua continuidade histrica e geogrfica assegura nao nascente a sobrevida que persista e dure. S a conscincianacionaldapermannciadasnaes.Aconscincianacionalonomedacomunidadeestvel.Oliveira,1967,p.26.

    [44]Nopodemosdesconsideraraperspectivadequeaforjadeumanacionalidadesedpormeiodanarrativa,quandoasprpriasnaessonarrativasopoderdenarrar,oudeimpedirqueseformemesurjamoutrasnarrativas,muitoimportanteparaaculturaeoimperialismo,econstituiumadasprincipaisconexesentreambos.(Said,op.cit.,p.11).Aculturaqueseprojetasobreumanaorepresentaoquedemelhorsuasociedadeconstituintetemaapresentaraomundo.Comotempo,aculturavemaserassociada,muitasvezesdeformaagressiva,naoouaoEstado:issonosdiferenciadeles,quasesemprecomalgumgraudexenofobia.Acultura(...)umafontedeidentidade(...)culturaumaespciedeteatroemquevriascausaspolticaseideolgicasseempenammutuamente(Said,op.cit.,p.12).

    [45]EssaanliseaprofundadaemJancs&Pimenta,2000.

  • 7/13/2015 A ideologia espacial constitutiva do Estado nacional brasileiro

    http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-418/sn-418-6.htm 8/9

    [46]Camargo,2001,p.331.

    [47]Camargo,2001,p.331.

    [48]Moraes,2005.

    [49]Oliven,1986,p.02.

    [50]Oliven,1986,p.02.

    [51]Oliven,1986,p.01.

    [52]Oliven,1986,p.01.

    [53]Oliven,1986.

    [54]Oliven,1986.

    [55]Oliven,1986.

    [56]Oliven,1986,p.02.

    [57]Oliven,1986.

    [58]Oliven,1986,p.04.

    [59]Oliven,1986,p.05.

    [60]Oliven,1986,p.05.

    [61]Moraes,2005,p.98.

    [62]Moraes,1991,p.174.

    [63]InstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatstica.

    [64]ServiodoPatrimnioHistricoeArtsticoNacional.

    [65]Umpanoramageralsobreoacervopatrimonialbrasileiropodeserpesquisadonosite:www.iphan.gov.br/ans/inicial.htm

    [66]GonalvesFilho,1989,p.95.

    [67]Moraes,op.cit.,p.97.

    [68]Costa,2011Neves,1986.

    [69]Noprocessoderesgatedaidentidadebrasileira,negaramseasvidas,culturaseidentidadesprcolonizaoemesmoasqueseconstituram(minoriastnicas)comasagadacomplexizaodoterritrio,conformeSaid,op.cit.,p.23.

    [70]Escolar,1996,p.107.

    [71]Oliveira,1967,p.82.

    [72]GonalvesFilho,1989,p.107.

    [73]Oliveira,1967,p.23.

    [74]Castedo,1996.

    [75]Stastny,1992.

    [76]Adorno,1970,p.5455.

    [77]Said,2011,p.23.

    [78]Said,2011,p.24.

    [79]Costa,2011,p.138.

    [80]Costa,2011,p.131.

    [81]Moraes,1991.

    [82]Said,2011.

    [83]Said,2011,p.39.

    [84]Oliven,1986.

    [85]Moraes,2005,p.99.

    [86]Moraes,2005.

    Bibliografia

    ADORNO,TheodorW.TeoriaEsttica.SoPaulo:MartinsFontes,1970.

    ANDERSON,Benedict.Comunidadesimaginadas:reflexessobreaorigemeadifusodonacionalismo.Trad.DeniseBottman.SoPaulo:CompanhiadasLetras,2008.

    BHABHA,HomiK.Olocaldacultura.Trad.Myriamvila.BeloHorizonte:UFMG,2005.

    CAMARGO,Aspsia.Federalismoe identidadenacional. InSACHS, IWILHEIM, JPINHEIRO,P.(orgs.).Brasil: um sculode transformaes. SoPaulo:CompanhiadasLetras,2001.

    CANCLINI, Nstor G.Culturas hbridas: estratgias para entrar e sair da modernidade. So Paulo: Edusp, 2008.

    CASTEDO,Leopoldo.ElbarrocoysudecoracindeRomaalmestizajeamericanoyalaidentidadbrasilea.RevistaBarroco,n17,p.261272,anos1993 /1996.

  • 7/13/2015 A ideologia espacial constitutiva do Estado nacional brasileiro

    http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-418/sn-418-6.htm 9/9

    CHAU, Marilena.O que ideologia.So Paulo: Brasiliense, 1981.

    COSTA, EveraldoB.Totalidade urbana e totalidademundo as cidades coloniais barrocas face patrimonializao global. So Paulo: Tese de DoutoradoorientadaporFranciscoCapuanoScarlato.SoPaulo:UniversidadedeSoPaulo,2011,444p.

    DIAS, Maria Odila Leite. A interiorizao da metrpole e outros estudos. So Paulo: Alameda Casa Editorial, 2005.

    ESCOLAR,Marcelo.Crticadodiscursogeogrfico.SoPaulo:Hucitec,1996.

    GONALVESFILHO,JosMoura.Olharememria.In:NOVAES,A.(org.).Oolhar.SoPaulo:CompanhiadasLetras,1989.p.95124.

    HOBSBAWM, Eric. A era dos imprios (1875-1914). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.

    JANCS, Istvn; PIMENTA, Joo Paulo G. Peas de um mosaico (apontamentos para o estudo da emergncia da identidade nacional brasileira. In: MOTA, C. G.(org.).Viagem Incompleta 1500-2000 - a experincia Brasileira. So Paulo: SENAC, 2000. p. 129-175.

    LANDER, Edgardo. Ciencias sociales: saberes coloniales y eurocentricos. In: LANDER, E. (org.).La colonialidad del saber: eurocentrismo y cincias sociales.Perspectivas latinoamericanas. CLACSO, Buenos Aires, 2000. p. 11-40.

    MAGNOLI, Demetrio. O Estado em busca do seu territrio.Terra Brasilis Revista de Histria do Pensamento Geogrfico no Brasil. Anos III-IV, n 4-5, Rio deJaneiro, 2003.

    MORAES, Antnio Carlos R. Notas sobre identidade nacional e institucionalizao da geografia no Brasil. Estudos Histricos, Rio de Janeiro, vol. 4, n. 8, p. 166-176, 1991.

    MORAES, Antnio Carlos R.Territrio e Histria no Brasil. So Paulo: Annablume, 2005.

    NEVES, Joel.Idias Filosficas no Barroco Mineiro.So Paulo: EdUSP, 1986.

    OLIVEIRA, Franklin.Morte e Memria Nacional. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1967.

    OLIVEN, Ruben George. O nacional e o regional na construo da identidade brasileira.Revista Brasileira de Cincias Sociais, vol. 1, n 2, 1986.

    PRADO JNIOR, Caio. Histria Econmica do Brasil. So Paulo: Brasiliense, 1986.

    SAID, Edward.Cultura e Imperialismo.So Paulo: Companhia das Letras, 2011.

    STASTNY,Francisco.Sintomasmedievalesenelbarrocoamericano.RevistaBarroco,n15,p.2128,anos1990/1992.

    CopyrightEveraldoBatistadaCostayJlioCsarSuzuki,2012.CopyrightScriptaNova,2012.

    Fichabibliogrfica:

    COSTA, Everaldo Batista da y Jlio Csar SUZUKI. A ideologia espacial constitutiva do Estado nacional brasileiro. Scripta Nova. Revista Electrnica deGeografayCienciasSociales.[Enlnea].Barcelona:UniversidaddeBarcelona,1denoviembrede2012,vol.XVI,n418(6)..[ISSN:11389788].

    ndicedeln418

    ndicedeScriptaNova Menprincipal