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A importância do concentrado na dieta de bovinos leiteiros
Rodrigo de Almeida Universidade Federal do Paraná
André Ostrensky Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Agosto/2017 Palmeira-PR
10º Simpósio Produção de Leite Cooperativa Witmarsum
Concentrados vs. Rações
Definições MAPA ü Ração: é a mistura composta por ingredientes
e aditivos, destinada à alimentação de animais de produção, que constitua um produto de pronto fornecimento e capaz de atender às exigências nutricionais dos animais a que se destine (IN 15/2009);
ü Concentrado: é a mistura composta por ingredientes ou aditivos que, quando associada a outros ingredientes, em proporções adequadas, constitua uma ração (IN 42/2010).
Concentrados vs. Rações
Definições mais usuais ü Ração: produto “pronto para uso”, que
adicionado ao volumoso compõe uma “dieta”;
ü Concentrado: produto que contém uma concentração maior de nutrientes (por exemplo, PB), para ser diluído em uma fonte primária de energia, normalmente milho grão moído.
Concentrados: fatores que influenciam
ü Os principais fatores que influenciam o resultado do uso de rações para bovinos de leite são:
ü Da dieta: • Composição; • Manejo alimentar; • Níveis nutricionais;...
Ração Dieta Resultadopossível(LeiteeRMCA)Boa Boa BomBoa Ruim ProvavelmentenãoRuim Boa ProvavelmentenãoRuim Ruim Certamentenão
Concentrados: fatores que influenciam
ü Os principais fatores que influenciam o resultado do uso de rações para bovinos de leite são:
ü Da ração: • Ingredientes e qualidade das matérias-primas; • Inclusão de aditivos; • Níveis nutricionais; • Apresentação: peletizada x farelada; • Processo de produção; • Armazenamento; • Forma de utilização; • Preços.
Concentrados
ü Nas fábricas de rações do sul do país tipicamente há três categorias de concentrados para bovinos leiteiros; os mais comerciais, os intermediários e os de 1ª linha, que podem receber adjetivos como “Elite”, “Premium”, “Especial”, “Alta Energia”, “Alta Produção”, etc.
ü Os concentrados de 1ª linha, além de obviamente mais caros, normalmente têm composição mais estável, não variando muito independente das mudanças nas cotações dos ingredientes.
Dieta típica Campos Gerais PR
Ingredientes KgMO/vaca/dia %MS KgMS/vaca/dia %inclusão
Silagemdemilho 30,0 32 9,60 38,1%
Pré-secadodeazevém 6,0 45 2,70 10,7%
Fenodeaveia 0,5 85 0,43 1,7%
RaçãoB18Pel 8,0 89 7,12 28,3%
Farelodesoja 2,0 90 1,80 7,15%
Caroçodealgodão 2,0 90 1,80 7,15%
Polpacítrica 1,5 86 1,29 5,1%
Bicox 0,30 100 0,30 1,2%
Salmineral 0,15 100 0,15 0,6%
Total 50,45 25,19 100%
% Ração = 28,3%, mas % Concentrado = 49,5% Relação Volumoso:Concentrado = 50:50
Composição típica de um concentrado para vacas leiteiras no sul do Brasil
Ingredientes Kg/ton
Milhogrãomoído 500
Farelodesoja 220
Farelodetrigo 150
Sorgo/trigo 50
Farelodeglúten 30
Calcário 30
Outros* 20
Total 1000
*Outros = fosfato, sal comum, premixes micromineral e vitamínico, podendo contar com aditivos tamponantes, adsorventes e outros.
Matérias-primas utilizadas
Estimativa de consumo de matérias-primas para produção de ração de bovinos de leite, em relação ao total
Ingrediente Outros (mil t/ano)
Leite (mil t/ano)
Total (mil t/ano)
Milho 40.042,0 3.052,0 7,1% 43.094,0
Soja farelo 13.829,0 1.036,0 7,0% 14.865,0
Trigo e derivados 102,0 114,0 54,1% 216,0 Sorgo 1.997,0 - 0,0% 1.997,0 Algodão farelo 408,5 275,0 40,2% 683,5
Milho glúten farelo 21% 190,6 194,4 50,5% 385,0
Milho glúten farelo 60% 75,6 0,8 1,0% 76,4
Deriv. arroz, soja, cana, citros 904,8 426,6 32,0% 1.331,4
Sindirações (2016)
Matérias-primas utilizadas
Estimativa de consumo de matérias-primas para produção de ração de bovinos de leite, em relação ao total
Ingrediente Outros (mil t/ano)
Leite (mil t/ano)
Total (mil t/ano)
Ureia pecuária 53,0 54,0 50,5% 107,0
Sal 257,1 21,6 7,7% 278,7
Calcário calcítico 1.001,0 155,0 13,4% 1.156,0
Fosfato bicálcico 332,0 27,0 7,5% 359,0
Leite soro, lactose 68,2 17,8 20,7% 86,0
Premixes 276,4 24,1 8,0% 300,5
Total 63.100,0 5.400,0 7,9% 68.500,0
Sindirações (2016)
Milho no Concentrado
ü Milho é o grão de cereal tipicamente incluído nos concentrados produzidos nas fábricas de rações brasileiras.
ü Sua inclusão pode variar de 20%, nas rações mais comerciais, a 60%, nas rações Alta Energia.
ü Quando incluído em menores percentuais, é substituído por grãos de cereais mais baratos, como sorgo, trigo e triticale, ou por subprodutos, como farelo de trigo, casca de soja, farelo de glúten de milho, etc.
Milho no Concentrado ü Há um consenso, que independente da
sua inclusão, o milho grão deve ser o mais processado quanto possível!
ü Para o milho grão brasileiro, que tem um endosperma com maior vitreosidade, isto é ainda mais importante!
ü Processamento indicado: peneiras <3,0 mm, e se possível, próximo a 2,5 mm.
Milho no Concentrado ü A decisão do grau de processamento do
grão de milho depende também... 1) da capacidade da fábrica em relação ao
volume de ração produzido; e 2) da ração produzida para outras
espécies, que exigem maior ou menor granulometria.
(pets < suínos terminação < suínos reprodução & bovinos leiteiros < frangos)
Quanto mais processado o grão de milho, maior a digestibilidade do amido no trato total
Ferraretto et al. (2013)
Quanto mais processado o grão de milho, maior a digestibilidade do amido no trato total
Ferraretto et al. (2013)
Ferraretto et al. (2013)
Quanto mais processado o grão de milho, maior a digestibilidade ruminal do amido
Milho grão finamente moído
Alliance Dairies, FL, EUA
Definição de Amido ü Polissacarídeo (ou carboidrato) de
reserva dos vegetais; ü Principal carboidrato presente nas
dietas de aves e suínos (grãos de cereais);
ü Em bovinos leiteiros confinados, também é o principal nutriente energético;
ü Formado por amilose e amilopectina; ü Presença da matriz proteica; ü Importância do processamento do
grão.
Grão de Milho
No milho brasileiro predominam híbridos com maior % de endosperma duro, com maior vitreosidade
Teores médios de amido em diversos grãos de cereais
Fonte: Adaptado de Zeoula & Caldas Neto (2001)
Grão de cereal % Médio de Amido
Milho 72,1
Sorgo 70,0
Cevada 59,3
Triticale 69,0
Trigo 64,8
Aveia 47,9
Lembrete importante:
ü Apesar do grão de milho ter maior concentração de amido, o endosperma e a matriz proteica dos grãos de trigo e cevada são mais facilmente penetrados pelos microrganismos.
ü Já nos grãos de milho e de sorgo, a matriz proteica é resistente a adesão e penetração dos microrganismos.
ü Por isso, os grãos de cereais de inverno têm maior degradabilidade ruminal.
Micrografia de grânulos de amido (A) Endosperma farináceo (B) Endosperma vítreo
Compactação das células do endosperma característica microestrutural mais importante
Narváez-Gonzáles et al. (2006)
Alimentos % Médio de Amido
Polpa cítrica 1,3
Casca de soja 1,0
Farelo de soja 3,7
Farelo de algodão 4,8
Caroço de algodão 0,3
Feno de gramínea 3,9
Silagem de milho 20-35
Fonte: Adaptado de Zeoula & Caldas Neto (2001)
Teores médios de amido em diversos alimentos
Hoje, em dietas típicas do sul do Brasil, o amido dietético somente tem 2 origens...
Ingredientes Kg/vaca/dia %MS %Amido gAmido
Silagemdemilho 29,8 30,6 33,7 3,074
Pré-secadodeaveia 6,4 52,7 1,3 0,044
Fenodeaveia 0,4 85,0 4,0 0,014
RaçãoB18AEPel 7,6 89,0 44,8 3,027
Farelodesoja 2,2 90,0 3,8 0,076
Caroçodealgodão 2,2 90,0 0,3 0,006
Polpacítrica 1,6 86,0 1,3 0,018
Bicox 0,3 100 0 0,000
Salmineral 0,15 100 0 0,000
Total 6,258
6,258 kg de amido : 25,27 kg MS = 24,8% Amido
Valores dietéticos ideais:
23-27% amido na MS ü Se <23%MS? • menor produção de leite; • menor síntese de PMicr no rúmen; • menor teor de proteína no leite; e • maior ureia no leite (NUL).
Valores dietéticos ideais:
23-27% amido na MS ü Se >27%MS? • queda do pH ruminal (acidose subclínica); • maior predisposição à laminite; e • menor teor de gordura no leite.
Implicações
ü As nossas rações possuem hoje altos teores de amido?
ü Provavelmente sim; hoje as inclusões de milho variam de 30% a 60%.
ü Mas isto não é necessariamente uma desvantagem, pois na proporção correta (23-27%) o amido aumenta a produção de leite e de proteína!
ü Mas as nossas dietas possuem hoje altos teores de amido? Não necessariamente; com a inclusão de ingredientes como casquinha, polpa e caroço podemos evitar ultrapassar o limite de 27%.
ü Alguns poucos rebanhos, que preferem não usar coprodutos como polpa e caroço, e que usam muita silagem de milho com alta % de grãos, aí sim podem ter amido alto (>28%).
Implicações
Amido Fecal
ü Não diferencia a origem do amido (do milho da ração ou da silagem).
ü Coletar 15-20 sub-amostras de material fecal de um lote de vacas.
ü Valor da análise = R$83,40 (Fund. ABC) ü Valores ideais de amido fecal = 2-3%,
mas até 5% é aceitável. ü Para cada aumento de 1 ponto percentual
acima de 5%AF, estima-se que há uma perda aproximada de 0,5L de leite.
Amido Fecal
Amido Fecal Projeto CHR Hansen - Fundação ABC - UFPR
Variáveis Carambeí Castrolanda Arapoti # Rebanhos 5 9 6 Tempo de ensilagem (d) 251 233 157 %Amido Silagem (%) 32,6 30,0 28,1 %Amido TMR (%) 22,1 24,4 23,6 %Amido Fezes (%) 2,69 3,97 4,02 Digest. Apar. Amido (%) 96,6 95,0 94,9
Diferenças híbridos de milho brasileiros vs. norte-americanos
ü No Brasil, predominantemente híbridos de milho com endosperma vítreo, enquanto que nos EUA, predominam os híbridos de milho com endosperma farináceo.
Processamento
ü Método mais usado no Brasil: moagem! ü Método mais usado nos EUA: floculação! ü Alternativas à floculação: moer o mais
fino possível, silagem de grão úmido de milho e milho reidratado!
Sorgo grão moído
Silagem de grão úmido de milho
Silagem de grão úmido de milho
Milho grão reidratado
Earlage – Silagem da espiga de milho úmida
Grão de milho floculado
Processamento
ü É a combinação de diferentes agentes:
Moagem x tempo x temperatura x umidade x pressão
Moagem PeleTzação Expansão Extrusão
Processamento
ü É a combinação de diferentes agentes:
Processo PeleQzação Expansão Extrusão
Tempo(s) 9–240 5–12 5–10
Temperatura(ºC) 40–95 120–160 120–200
Pressão(kgf/cm2) 2 15–35 30–37
Umidadecond.(%) 14–18 15–25 20–30
Klein (2009)
Moagem
ü Atentar para o tipo de moinho (normalmente de martelo) e moagem separada ou conjunta;
ü Analisar Diâmetro Geométrico Médio (DGM) = tamanho médio das partículas dos ingredientes (< 600 µm);
ü Mas, monitorar também o Desvio Padrão Geométrico (DPG) = distribuição das partículas da ração (< 2,0).
Peletização !!Ração exposta a 70-80oC por alguns
minutos; resumo do processo:
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Peletização ü Influência de ingredientes sobre a
produtividade e a qualidade do pellet Ingrediente/nutriente ProduQvidade QualidadeGorduraadicionada ↑ ↓Fibra ↓ ↑Proteínabruta ↔ ↑Amidomilho/sorgo ↔ ↔Amidocereaisinverno ↓ ↑Leiteempó/açúcar ↓ ↑Altoteordecinzas ↓ ↓AgluTnantes ↔↓ ↑
Klein (2009)
Peletização
ü Vantagens e desvantagens
Reduçãodedesperdício;Aumentaadensidade(transporte);Favoreceuniformidadedeconsumo(reduzsegregação);Facilitapreensãoração(raçãonaordenha);Aumentaadurabilidadedaração;Podefavorecerdispersãodeingredientesembaixainclusão;PodehaverganhonadigesTbilidade(10-20%);Podecontribuirparareduçãodacontaminaçãodaração;
Peletização
ü Vantagens e desvantagens
Aumentodocustodaração(+R$30-40,00/t);Riscodedanosaingredientessensíveis(levedurasvivasevitaminas).
Teor de PB do Concentrado
ü Boa parte da proteína de um concentrado vem do suplemento proteico, tipicamente o farelo de soja.
ü Mas praticamente todos os demais ingredientes contribuem com um pouco de proteína.
ü Mas praticamente todas as fontes proteicas têm alta degradabilidade ruminal, e isto deveria limitar a inclusão da ureia no concentrado.
Teor de PB do Concentrado
ü O teor de PB (Proteína Bruta) do concentrado é uma informação relevante, mas não é a informação mais importante!
ü Nem sempre os concentrados com alta PB são os melhores; o %PB do concentrado mais indicado para cada rebanho vai depender dos outros ingredientes da dieta!
Teor de PB do Concentrado ü Neste sistema de produção, será que um
concentrado com 24%PB é o mais indicado?
Inclusão de ureia pecuária
ü Comum nas rações mais comerciais. ü Inclusão típica; de 5 até 20 kg/ton. ü Obviamente reduz o custo do concentrado,
principalmente em épocas de alto custo do farelo de soja.
ü Não deveria ser incluído nas rações fareladas (a granel).
ü Equivalente proteico da ureia (281%). NNP Equivalente Proteico (máx.) = 42g (15 g/kg de ureia ou 1,5%)
ü Produtos destinados à alimentação animal como substâncias ou microrganismos adicionados intencionalmente, que normalmente não se consomem como alimento, tenham ou não valor nutritivo, que afetem ou melhorem as características do alimento ou dos produtos animais.
Fonte: MAPA – IN 13 (2009)
Definição de Aditivos
Aditivosü Adsorventes de micotoxinas ü Antioxidantes ü Biotina ü Colina protegida ruminalmente ü Gordura protegida ü Levedura viva ü Metionina análoga ou protegida ü Minerais orgânicos ü Monensina ü Sal aniônico ü Tamponantes como bicarbonato de sódio,
óxido de Mg (bicox) e litothamnium ü Virginiamicina
Outros Aditivosü Amilase ü Beta-caroteno ü Histidina ü Lisina ü Niacina ü Óleos essenciais ü Óleos funcionais ü OmniGen ü Outras enzimas, como xilanases, proteases,
e celulases. ü Prebioticos e probioticos ü Propilenoglicol ü Ureia de liberação lenta
Aditivos para Vacas Leiteiras
ü Aditivos de “fábrica”: monensina, biotina, leveduras vivas resistentes a peletização, adsorventes de micotoxinas, óleos essenciais, antioxidantes, virginiamicina, etc.
ü Aditivos de “fazenda”: tamponantes (bicarbonato de sódio ou bicox) e gordura protegida.
Inclusão de tamponantes
ü Bicarbonato de sódio ou Bicox (3:1 bicarb: MgO).
ü Quando incluído no concentrado (1,5-2,0%), tipicamente representa um consumo insuficiente para as vacas de alta e um aditivo desnecessário às vacas de baixa.
ü Portanto, tem um apelo mais comercial que técnico.
Inclusão de gordura protegida
ü Opção nas rações Elite ou de Alta Energia de algumas fábricas.
ü Preferência pelos sais cálcicos de ácidos graxos de óleo de palma.
ü Para inclusões relevantes (200 g/vaca/dia), deveria compor 2,5% do concentrado (25 kg/ton), o que incrementa o custo alimentar em ~R$1,00/vaca/dia.
ü Em inclusões mais modestas, impacto mais comercial do que de fato nutricional.
Vacas que comem concentrado precisam de sal mineral a parte?
ü Normalmente sim, já que somente parte das exigências de macro e microminerais são atendidos pelo concentrado.
ü Por que as fábricas não atendem 100% das exigências? 1) porque fica caro; 2) porque atrapalha a peletização; e 3) porque redundaria num consumo excessivo às vacas que comem mais ração (e num consumo baixo às vacas que comem menos ração).
Bater ração na própria fazenda?
ü Opção para as grandes fazendas. ü Com os ingredientes concentrados misturados
no vagão, a mistura não é tão boa. ü Obviamente a ração não será peletizada. ü O custo é similar ou um pouco mais caro
(depende do $ do núcleo). ü Comprar bem os insumos (qualidade e preço)
passa a ser uma nova preocupação. ü Na nossa opinião, passa a ser uma opção
interessante se substituir o milho grão moído seco (fubá) pelo milho grão úmido ou reidratado.
Conclusões Concentrados: por que usar?
!!Otimizar desempenho, especialmente para aumento da RMCA (+);
!!Reduzir necessidade de área para produção de alimentos (+);
!!Repor possível falta de alimentos volumosos (–).
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28 e 29 de setembro de 2017, Curitiba-PR Submissão de resumos até 18 de agosto
https://congresso.cbql.com.br
Agradecimentos ao Edilson, à Cooperativa Witmasum e à MSD Saúde Animal