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II Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo Teorias e práticas na Arquitetura e na Cidade Contemporâneas Complexidade, Mobilidade, Memória e Sustentabilidade Natal, 18 a 21 de setembro de 2012 1 A inserção de nova arquiteturaem contexto com preexistência crítica: estudo da obra do Escritório Marroquim Arquitetos Ltda. The insertion of the new architecturein context with the critical preexistence: a study of the Marroquim Architect’s Office works La inserción de la “nueva arquitectura” en contexto con “preexistencia crítica”: estudio de la obra de la Oficina Marroquim Arquitectos Ltda. 1 Flávia Marcarine ARRUDA Pesquisadora do Laboratório Patrimônio & Desenvolvimento - Patri_Lab; graduanda do curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Espírito Santo - UFES; [email protected] 2 Renata Hermanny de ALMEIDA Coordenadora do Laboratório Patrimônio & Desenvolvimento - Patri_Lab; professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo e do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo - UFES; [email protected] RESUMO Integrante da pesquisa “Cidade no Brasil: o papel do passado em intervenções urbanas, 1950-2010”, a análise da produção do Escritório Marroquim Arquitetos Ltda., sediado na cidade de Vitória, estado do Espírito Santo, tem por objetivo verificar uma de suas hipóteses, qual seja, de que, a despeito da formação modernista de filiação racionalista adquirida nas escolas, no período 1980-2010, a arquitetura no Brasil se particulariza pelo reconhecimento e adoção de referentes físico-geográficos e histórico- culturais para pensar o novo, e não pela sua rejeição, como pressuposto no ideário moderno de linhagem funcionalista. Para isso, com procedimento, o estudo da experiência projeto e obra construída é empreendido a partir de identificação, registro, descrição, interpretação e categorização de operações projetivas em que a relação entre arquitetura e sítio urbano com preexistência crítica seja orientadora da projetação. Em sua totalidade, o estudo segue um conjunto de passos visando uma abordagem ao mesmo tempo qualitativa e sistêmica, a partir de “situações tipo”, no que se refere ao peso do contexto de inserção de nova arquitetura: dimensão ambiental, histórica, social e cultural. Este escrito focaliza quatro obras, todas situadas em área de valor histórico, urbanístico e ambiental, correspondente ao Novo Arrabalde, projetado por Saturnino de Brito em 1896. A intenção é ressaltar uma peculiar habilidade na manipulação de elementos do âmbito urbano-arquitetônico, compreendida como a expressão da busca contínua por uma acomodação duplamente reveladora e respeitosa do existente. PALAVRAS-CHAVE: Intervenção urbana, Marroquim Arquitetos, Arquitetura Contemporânea, Preexistência crítica. ABSTRACT

A inserção de “ nova arquitetura ” em contexto com “ preexistência crítica ” : estudo da obra do Escritório Marroquim Arquitetos Ltda

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Trabalho vinculado ao Patri_Lab de autoria de Flávia Marcarine Arruda, antiga pesquisadora, e Renata Hermanny de Almeida, coordenadora do laboratório. Este trabalho foi publicado nos Anais do II ENANPARQ - II Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, evento realizado nos dias 18 a 21 de setembro de 2012, na cidade de Natal/RN - Brasil.

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A inserção de “nova arquitetura” em contexto com “preexistência crítica”: estudo da obra do Escritório Marroquim

Arquitetos Ltda. The insertion of the “new architecture” in context with the “critical preexistence”: a

study of the Marroquim Architect’s Office works

La inserción de la “nueva arquitectura” en contexto con “preexistencia crítica”: estudio de la obra de la Oficina Marroquim Arquitectos Ltda.

1 Flávia Marcarine ARRUDA Pesquisadora do Laboratório Patrimônio & Desenvolvimento - Patri_Lab; graduanda do curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Espírito Santo - UFES; [email protected]

2 Renata Hermanny de ALMEIDA Coordenadora do Laboratório Patrimônio & Desenvolvimento - Patri_Lab; professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo e do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo - UFES; [email protected]

RESUMO Integrante da pesquisa “Cidade no Brasil: o papel do passado em intervenções urbanas, 1950-2010”, a análise da produção do Escritório Marroquim Arquitetos Ltda., sediado na cidade de Vitória, estado do Espírito Santo, tem por objetivo verificar uma de suas hipóteses, qual seja, de que, a despeito da formação modernista de filiação racionalista adquirida nas escolas, no período 1980-2010, a arquitetura no Brasil se particulariza pelo reconhecimento e adoção de referentes físico-geográficos e histórico-culturais para pensar o novo, e não pela sua rejeição, como pressuposto no ideário moderno de linhagem funcionalista. Para isso, com procedimento, o estudo da experiência – projeto e obra construída – é empreendido a partir de identificação, registro, descrição, interpretação e categorização de operações projetivas em que a relação entre arquitetura e sítio urbano com preexistência crítica seja orientadora da projetação. Em sua totalidade, o estudo segue um conjunto de passos visando uma abordagem ao mesmo tempo qualitativa e sistêmica, a partir de “situações tipo”, no que se refere ao peso do contexto de inserção de nova arquitetura: dimensão ambiental, histórica, social e cultural. Este escrito focaliza quatro obras, todas situadas em área de valor histórico, urbanístico e ambiental, correspondente ao Novo Arrabalde, projetado por Saturnino de Brito em 1896. A intenção é ressaltar uma peculiar habilidade na manipulação de elementos do âmbito urbano-arquitetônico, compreendida como a expressão da busca contínua por uma acomodação duplamente reveladora e respeitosa do existente.

PALAVRAS-CHAVE: Intervenção urbana, Marroquim Arquitetos, Arquitetura Contemporânea,

Preexistência crítica.

ABSTRACT

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A member of the research “City in Brazil”: the role of the past in the urban interferences, 1950-2010”, the production analysis of the Marroquim Architect’s Office, located in the city of Vitoria - in the Espírito Santo State in Brazil, aims to verify one of its hypothesis in which accounts that despite the formation of modernist affiliation rationalist acquired in schools, in the period between 1980-2010, the architecture in Brazil particularizes itself on the recognition and adoption of related physical-geographical, historical and cultural to the new thinking, not for its rejection, as assumed in the lineage of modern ideas of functionalism. To do so, as a procedure, the study of the experience - design and built work - is undertaken from identifying, recording, description, interpretation and categorization of projective operations in which the relationship between architecture and urban site with preexisting critical is guiding the design by. In its entirety, the study follows a series of steps towards a systemic approach and qualitative doubly from such situations, with regard to the significance of the context of inserting of a new architecture: environmental, historical, social and cultural dimensions. This writing focuses on four buildings, all of them situated in an area of historical, urbanistic and environmental value, correspondent to Novo Arrabalde, designed by Saturnino de Brito in 1896. The intention is to stand out the particular hability in the manipulation of elements of the urban-architectural sphere, comprehended as an expression of the continual search for acommodation which is both revealing and respectful with the existing.

KEY-WORDS: Urban interferences, Marroquim Architects, Contemporary Architecture, Critical

preexistence.

RESUMEN:

Integrante de la investigación “Ciudad en Brasil: el papel del pasado en intervenciones urbanas, 1950-2012”, el análisis de la producción de la Oficina Marroquim Arquitetos, establecido en la ciudad de Vitória, Espírito Santo, tiene como objetivo verificar una de sus hipótesis, a saber, que, a pesar de la formación modernista de filiación racionalista recibida en las escuelas, en el periodo 1980-2010, en Brasil la arquitectura se particulariza por el reconocimiento y adopción de referentes físico-geográficos y histórico-culturales para pensar el nuevo, y no por su rechazo, como presupuesto en el ideario moderno de linaje funcionalista. A partir de esta hipótesis, como procedimiento, el estudio de la experiencia – proyecto y obra construida – es conducido por identificación, registro, descripción, interpretación y categorización de operaciones proyectivas en que la relación entre arquitectura y sitio urbano con preexistencia critica sea orientadora de la práctica. En su totalidad, el estudio sigue un conjunto de pasos con vistas a un abordaje al mismo tiempo cualitativa y sistémica, desde “situaciones tipo”, en cuanto al peso del contexto de inserción de arquitectura nueva: dimensión ambiental, histórica, social y cultural. Este escrito se centra en cuatro obras, todas situadas en área de valor histórico, urbanístico y ambiental, correspondiente al Novo Arrabalde, proyectado por Saturnino de Brito en 1896. La intención es destacar una habilidad particular en el manejo de elementos del ámbito urbano-arquitectónico, comprendida como la expresión de una búsqueda continua de una acomodación doblemente reveladora y respetosa del existente.

PALABRAS-CLAVE: Intervención urbana, Marroquim Arquitectos, Arquitectura Contemporánea,

Preexistencia critica.

1 INTRODUÇÃO

Este artigo se esforça em analisar a inserção de “nova arquitetura”, produzida pelo Escritório Marroquim Arquitetos Ltda., - sediado na cidade de Vitória, estado do Espírito Santo - em

contexto com “preexistência crítica”i. O objetivo é reconhecer o posicionamento frente ao contexto adotado pelo Escritório no campo do pensamento e da práxis projetual.

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A proposta se insere na pesquisa intitulada Cidade no Brasil: o lugar do passado em

intervenções urbanas, 1950-2010ii, que tem como objetivo analisar intervenções urbanas

promovidas em cidades brasileiras no decorrer da segunda metade do século XX e da primeira década do século em curso. Recortado do arco temporal da pesquisa Cidade no Brasil, o período compreendido pelas décadas 1980 a 2010 é adotado como referência para pesquisar a produção do Escritório Marroquim.

A pesquisa está na fase de desenvolvimento da leitura interpretativa do fichamento das obras arquitetônicas previamente selecionadas. Para este artigo foram escolhidas quatro relevantes obras do Escritório, - inseridas em contextos urbanos, na área correspondente ao projeto de expansão para a cidade de Vitória (projeto Novo Arrabalde, final do século XIX), diferenciados por particularidades físicas, históricas, sociais, ou econômicas – apresentadas no texto a partir de uma ordem decrescente do grau de contaminação do contexto sobre a obra, identificando os “modos” de realizar a incorporação de nova inserção formal. O destaque para essas obras se justifica por revelarem, com maior contundência, uma postura projetual pautada no reconhecimento e na adoção da “preexistência crítica” para pensar o novo.

A literatura de Francisco de Gracia é utilizada para o desenvolvimento da pesquisa, dando apoio conceitual e metodológico no reconhecimento das possibilidades de instrumentos projetuais de diálogo com o preexistente, permitindo a classificação da intervenção em níveis,

padrões e atitudes frente ao contexto urbanoiii.

A partir desta perspectiva, busca-se contribuir para o debate acerca da relevância do papel do contexto urbano para a configuração das cidades brasileiras.

2 RELAÇÃO DA ARQUITETURA COM O PREEXISTENTE

Intervir em um espaço supõe modificá-lo. As intervenções urbanas podem acontecer em diferentes escalas, desde uma alteração no lote, até outro extremo em grandes operações urbanas. Em qualquer uma delas, contudo, alterar os espaços somente se justifica quando é feito de uma maneira mais adequada para a vida do homem.

A teoria da percepção da Gestaltiv emprega o conceito da imagem da cidadev e a necessidade individual e social pela estabilidade formal, a favor da permanência de um contexto presente na memória coletiva. Assim, intervir conscientemente na cidade pressupõe garantir a mínima estabilidade necessária para prolongar sua identidade. A escolha em projetar “nova arquitetura” a partir da interpretação da preexistência, a fim de prolongar a identidade da cidade, não pressupõe necessariamente o emprego de uma arquitetura vernacular ou

contextualista. Isso porque mesmo a arquitetura de contrastaçãovi – aquela que expressa uma individualidade, como exceção ao consenso operante - admite uma forma válida de diálogo entre a “nova arquitetura” e a preexistência edificada. Esse diálogo acontece, segundo o conceito de Figura-Fundo da Gestalt, por meio da dissonância visual que favorece a percepção do sítio, onde a “nova arquitetura” pode fazer o papel de figura e o entorno de fundo, ou vice-versa, variando de acordo com o observador.

Deve-se ter em mente que, tal teoria é aplicável em contextos com “preexistência crítica”, isto é, aqueles providos de um reconhecido valor cultural, onde há a necessidade de preservação do conteúdo referenciado nas construções interventivas, a exemplo de um sítio histórico ou de

uma área urbana consolidadavii. Em outras situações, essa teoria não se firma, como no caso

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de regiões com consolidação tão primária que não chega a se configurar como uma área de

representação cultural, onde se faz necessário a “criação de lugares” viii

.

O diálogo com o preexistente pode acontecer por três possibilidades de instrumentos projetuais: seja por meio das correspondências métricas, geométricas e de proporção, com intenção de conseguir a congruência com a morfologia urbana; seja pela reiteração de recursos figurativos ou estilísticos, para favorecer a continuidade da imagem; seja pela homologação dos elementos formais, mediante o recurso ao parentesco tipológico. Essa metodologia permite a classificação da intervenção em níveis, padrões e atitudes frente ao contexto urbano. Segundo Gracia, existem três níveis de intervenção: um primeiro nível, onde a modificação é circunscrita, isto é, limitada exclusivamente ao edifício; um segundo nível, onde acontece a modificação do lócus, estendendo-se ao nível urbano; e um terceiro nível, onde se situam operações que afetam diretamente no caráter morfológico da cidade. A classificação em padrões de atuação reconhece quais recursos de instrumentos projetuais foram mais solicitados, enquanto a classificação das atitudes frente ao contexto contempla

qual a postura escolhida para dialogar com o contextoix.

As ideias do contextualismo urbano também foram discutidas Aldo Rossix que difundiu internacionalmente a postura da continuidade crítica com a tradição disciplinar. Outros arquitetos também produziram a partir desse princípio, fundindo modernidade com a realidade local, como Álvaro Siza em Portugal, Jorn Utzon na Dinamarca, Alvar Aalto na Finlândia, O historiador Kenneth Frampton tem catalogado estes trabalhos como

“regionalismo crítico”xi.

O leitor deve atentar-se para a existência da diferença entre uma arquitetura regionalista e uma arquitetura contextualista, ainda que ambas se preocupem em dialogar a modernidade da “nova arquitetura” com a “preexistência crítica”. A diferença é, sobretudo, da escala do entorno considerado. Enquanto a arquitetura regionalista dialoga com as condições locais e a cultura regional de uma forma mais ampla, a arquitetura contextualista faz um diálogo diretamente com o entorno próximo, aquela porção urbana que uma pessoa ou grupo percebe, no dia-a-dia, como espaço onde mora na cidade, sobre a qual pode exercer influência direta.

Em oposição, contudo, a herança moderna se manteve, deixando vestígio em intervenções marcadas por tendências homogeneizadas e inseridas como obras autônomas no tecido tradicional das cidades, uma vez que o passado era condenado e o futuro almejado buscava impor-se sem contemplações. Conceitualmente falando, isto se deve, sobretudo, à não interação do “espírito do tempo” com o “espírito do lugar”.

O historiador Nikolaus Pevsner dizia que o “espírito do tempo” permeia a vida social de um período, sua religião, seus ensinamentos, suas artes. Para Alfred Weber, sociólogo alemão, o “espírito do lugar” é basicamente a dimensão cultural, sendo peculiar a cada povo e próprio ao lugar onde estes habitam. A dimensão física e concreta agregada a esse conceito se deve ao arquiteto Christian Norberg-Schulz pela noção do genius loci. Em sua dimensão física, o “espírito do lugar”, é uma combinação de clima, geografia, e outras condições naturais ou artificiais ligadas a sua localização. Em sua dimensão cultural é uma combinação de valores,

crenças e costumes de cada povo em um determinado lugarxii.

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Porém, a atuação do Escritório Marroquim incorpora não só elementos físicos e culturais no processo de contextualização da “nova arquitetura”, como também elementos sociais, econômicos e históricos. Essa postura se enquadra no panorama da arquitetura nacional que, a partir da década de 1970, tende a se constituir por uma multiplicidade de tendências, dentre

as quais a revalorização das qualidades locais xiii. A postura do Escritório muito se deve também à sua trajetória acadêmica e profissional, e, sobretudo à experiência e repertório adquirido nas viagens que fizeram pelo mundo.

3 TRAJETÓRIA ACADÊMICA E PROFISSIONAL

Em 1978, o casal Ione Mota Marroquim de Souza e João Fernando Campello Marroquim de Souza inicia a firma Marroquim Arquitetos Ltda. em Vitória, Espírito Santo. Os dois adquiriram uma trajetória de formação e profissional muito rica. Ione, nascida em Recife, ingressou junto de Fernando, arquiteto nascido no Rio de Janeiro, na Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Pernambuco em 1969. Esta é uma escola de expressão Modernista, tanto por estar

em Recife, quanto pelo corpo docente que a compunhaxiv.

Na capital pernambucana, o movimento modernista se desenvolveu antes de estar implantado nos dois grandes centros do país, Rio de Janeiro e São Paulo. Luís Nunes, um arquiteto formado na Escola de Belas Artes do Rio, levou as novidades do estilo que estava tendo dificuldades de se concretizar nos grandes centros urbanos do momento, onde as últimas

tendências aconteciam antes. A Revolução Modernistaxv em Recife criou diferencial, na medida em que associou elementos regionais ao caráter universal dos princípios corbuserianos.

João Fernando mudou o curso de sua trajetória depois que se transferiu para a Universidade de Brasília, em 1971, onde concluiu a graduação. Na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Unb, o ensino de arquitetura interagia com situações reais, em projetos disciplinares específicos desenvolvidos para terrenos “concretos”, selecionados na cidade; diversamente do que ocorria na escola pernambucana, onde o campo mais fértil era o das ideias.

Recém-formado em 1973, Fernando é contratado como arquiteto no escritório de João Filgueiras Lima (Lelé). No ano seguinte, se muda para o Rio de Janeiro onde, com Ione, passa a trabalhar com Oscar Niemeyer. Juntos, com a equipe do arquiteto, o casal trabalhou no projeto do Centro de Negócios e Cívico de Argel e no Centro de Vivência da Universidade Científica de Argel, Argélia. Depois dessa experiência, o casal veio morar em Vitória, onde permanecem.

Em 1981, Ione Marroquim é selecionada em concurso público para lecionar junto ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo, recém-criado, em 1979. A partir de então, durante cerca de 30 anos atuando como docente, Ione contribui de maneira relevante para o contexto local, ao atuar na formação de profissionais pautando-se no conhecimento e experiência adquiridos em sua trajetória.

Nota-se que a formação acadêmica e profissional do casal de arquitetos foi de cunho modernista, e que se deu em importantes escolas e escritórios brasileiros de arquitetura. Além disso, ambos viveram muitos anos na cidade histórica de Olinda, condição que, acredita-se, contribuiu para a formação de outra sensibilidade, afinada com as particularidades locais, ou seja, incentivadora da criação de repertório para inserir “nova arquitetura” num sítio histórico.

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Ademais, tinham bons exemplos de arquitetos, com produção em Recife, para referenciar,

como Luís Nunes, Delfim Amorim e Acácio Gil Borsoixvi

, que produziram obras voltadas para a conciliação dos preceitos universais do projeto modernista com as condições regionais, sejam elas climáticas, morfológicas, sociais, ou culturais, por exemplo.

Assim, a despeito do fundamento teórico de linhagem moderna racionalista, a produção arquitetônica do Escritório Marroquim se revela renovadora de seus paradigmas, por meio da adaptação à noção de ‘preexistência crítica”, reconhecida na preocupação com um diálogo com o entorno, geradora de uma obra particular para cada lugar, qualificando o ambiente onde se insere.

4 NOVA ARQUITETURA E PREEXISTÊNCIA CRÍTICA

A solução dos projetos de autoria do Escritório varia em consonância com os condicionantes dominantes em cada contexto, ainda que seja em uma área urbana consolidada ou, em outro extremo, em uma área em expansão.

A Escola Municipal de 1º Grau Jesus de Nazareth, atual Escola Edna de Mattos, foi concebida em 1990 e executada em 1992. Comporta um programa extenso, de uma escola para 600 alunos, com salas de aula, auditório, biblioteca, refeitório e recreio. A configuração formal parte de três volumes, um verticalizado (abrigando a torre de circulação), e outros dois horizontais conectados entre si, um retangular e outro quadrado.

Localiza-se no bairro Jesus de Nazareth, em Vitória, um bairro denso e consolidado (Figura 1), resultante da ocupação das encostas de morro de mesmo nome, onde o traçado urbano, desprovido de lógica geométrica, define-se por ruas estreitas e curtas. Neste contexto, predominam construções de um a dois pavimentos, de revestimentos opacos, com a prevalência do cheio sobre o vazio, coberturas configuradas por terraço ou telhado em meia-água, praticamente sem afastamentos laterais, inseridas em terrenos de formatos irregulares.

Figura 1: Vista da Escola Municipal

Fonte: Arquivo Douglas Bonella, 2008.

No que se refere à morfologia urbana, pode-se reconhecer a busca por uma correspondência métrica e geométrica com o existente, a partir da adoção da configuração de um edifício de volume fragmentado, solução que minimizou o impacto de uma construção de grande porte. A aproximação geométrica e tipológica com o existente é esclarecida pela visualização do conjunto das edificações existentes, configuradas como uma massa edificada em partes. Além

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disso, o projeto tenta se ajustar aos vazios (Figura 2), procurando um diálogo com a morfologia existente, respeitando a dimensão social marcante no bairro.

Com relação aos recursos figurativos e estilísticos adotados nas imediações do morro, o projeto mescla a reiteração e a ruptura desses elementos, priorizando o equilíbrio entre o existente e o novo. O uso de janelas em fita, do revestimento de pastilhas e da curva, marca a presença de uma nova arquitetura, mas que, simultaneamente, dialoga com o entorno, por meio da opacidade, da relação de cheio e vazio, do uso de cobertura aparente em um dos blocos.

Figura 2: Planta de situação Fonte: Projeto 184, 1995.

Apesar da topografia do terreno apresentar-se como determinante projetual, reconhece-se, no imbricado compositivo da escola, um refinado ajuste entre técnica, estética e ética construtiva. Aqui, a dimensão social da arquitetura se expressa qualificando uma área até recentemente marginalizada das políticas públicas urbanas.

Por ser uma intervenção que se estende ao nível urbano, pode ser classificada como uma modificação do lócus. Em relação ao padrão de atuação, se enquadra na oclusão do espaço urbano, padrão em que se delimita o espaço urbano parcialmente indeterminado. A análise permite identificar essa obra como uma arquitetura contextual de base tipológica, por estar relacionada com os princípios topológicos, com o volume, incluindo relações de proporcionalidade, os traçados geométricos; atributos formais que afetam a percepção visual – cor, textura, orientação.

O Centro de Educação e Treinamento Dom João Batista, projetado entre 1982 e 1988 e executado de 1983 a 1988, é um complexo religioso, composto por um conjunto de quatro blocos, destinado a abrigar atividades sócio-educativas e religiosas da igreja católica (alojamento e residência da arquidiocese, capela, sala de reunião e palestras, biblioteca, refeitório). Os blocos são volumes prismáticos retangulares térreos (Figura 3), dominantemente horizontais, dispostos em vários níveis segundo a topografia, configurando uma praça interna sombreada (Figura 4).

Figura 3: Bloco 3 - Residência dos religiosos Fonte: Projeto 116, 1988.

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Situa-se em uma área com entorno provido de espaços livres de edificações (Figura 5), coberto por vegetação – conhecida como ponta Formosa, no bairro da Praia do Canto em Vitória. A vista privilegiada, associada à densa vegetação do sítio, conduziu o partido da implantação e dos volumes edificados. Procurou-se preservar a vegetação de maior porte, não promovendo grande alteração no perfil do terreno. Assim, há uma tentativa de ajuste e acomodação dos blocos na geografia, o que resulta na adoção de uma edificação composta por quatro blocos.

A inserção dos blocos nos desníveis do terreno acontece de forma harmoniosa com o ambiente, sem competição com a natureza, sobretudo devido à horizontalidade explorada no projeto. Buscando atribuir tratamento discreto e despojado na forma e na cor, apropriado ao programa do conjunto arquitetônico, optou se pelo uso do tijolo (material natural que remete a terra), como elemento portante e de vedação, associado a estruturas de concreto, e telhas de fibrocimento nas coberturas. Dessa forma, pelo material, e não pela forma, a obra dialoga com a topografia e vegetação existentes. Isso também foi fomentado por meio do uso de espaços abertos, mantendo sempre o contato com a natureza. Por meio da intervenção em um ambiente quase intocável, pode-se dizer que esse projeto propõe um desvelamento da natureza.

Figura 4: Implantação geral Fonte: Projeto 137, 1991.

Em nível de intervenção, pode-se dizer que o projeto é uma modificação do lócus quando analisado do ponto de vista aéreo, pois demonstra ser um grande artefato na Ponta Formosa, porém no nível da paisagem, percebe-se que a preocupação com a harmonia do ambiente foi tão bem sucedida que provoca a impressão de uma paisagem mantida. O padrão de atuação é,

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portanto, pautado pela continuidade de imagem da paisagem cultural, onde domina a natureza e o resultado foi uma arquitetura contextual, que faz uma simbiose com o contexto.

Figura 5: Foto aérea Fonte: Google Earth, 2011.

O Edifício Mirante da Praia, projetado em 1978 e executado um ano depois, também se insere em um contexto onde o ambiente natural é um forte condicionante. Porém, neste caso, o entorno urbano apresentava consolidada ocupação, identificável em residências unifamiliares, marcadas por diversificada linguagem – do eclético ao moderno -, e multifamiliares, edificadas em arquitetura de tendência modernista.

Está situado em um lote estreito de formato irregular (Figura 6), situado na encosta do Morro Guajuru, localizado no bairro nobre da cidade, o bairro Praia do Canto. Sua implantação possui uma relação topológica de exclusão, visto que seus limites perimetrais são autônomos em relação às edificações do entorno. Porém, nota-se a relação com a topografia, por meio do ajuste as curvas de nível.

Figura 6: Planta de situação

Fonte: Arquivo Escritório Marroquim, 1978.

A configuração volumétrica é de uma lâmina alongada discretamente côncava e de aparência maciça (Figura 7), com onze andares de pavimentos-tipo, suspensa por quatro pavimentos porosos destinados à garagem. Estende-se longitudinalmente à topografia de forma a vencer o relevo gradativamente, ou seja, a forma obedeceu, entre outros fatores, à condição estrutural viável à superação do acentuado declive.

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Figura 7: Perspectiva

Fonte: Arquivo Escritório Marroquim, 1978.

Com relação à existência de vínculos, pode-se afirmar que, de uma forma geral, no projeto não há uma busca de correspondência métrica e de proporção. O Edifício se impõe no contexto (Figura 8), sobretudo por seu alto gabarito na tentativa de maximizar o uso do solo, de maneira a corresponder à sua condição de empreendimento imobiliário. Assim, compreende-se como uma modificação do lócus. Em relação ao padrão de atuação, se enquadra na oclusão do espaço urbano, padrão em que se delimita o espaço urbano parcialmente indeterminado. A atitude frente ao contexto coloca essa obra como uma arquitetura de contrastação, conseguindo conciliar a expressão da sua individualidade com a indagação em relação ao contexto, sobretudo da topografia.

Figura 8: Vista aérea Fonte: Google Earth, 2012.

O edifício sede da FINDES (Figura 9), Federação das Indústrias do Espírito Santo, projetado em 1981, localiza-se em um lote de esquina em uma importante avenida de Vitória, a histórica Reta da Penha (Figura 10). No que se refere à inserção na cidade, a nova arquitetura foi erguida em uma área em processo de consolidação, marcada pelo início da verticalização das construções.

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Figura 9: Fachada frontal Fonte: Arquivo Escritório Marroquim, 2007.

Figura 10: Foto aérea Avenida Reta da Penha

Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves, 1976.

Como a ocupação arquitetônica da Avenida não havia sido consolidada, o projeto não podia contar com muitos referenciais para estabelecer um diálogo, e assim, a concepção do edifício lidou com uma liberdade de criação. A distribuição programática foi resolvida em duas torres verticais (Figura 11): em uma, voltada para a Avenida, foram dispostas as atividades empresariais (salas e lojas), e em outra, voltada para o fundo do terreno, as atividades de apoio (como a copa, sanitários e instalações). A torre voltada para a Avenida, com o térreo recuado, é revestida de cobogós nos andares destinados ao estacionamento e de vidro nos andares superiores. Como contraponto a essa transparência, a segunda torre é marcada pela opacidade. O uso da transparência em seu perímetro libera uma vista para a paisagem de 180°, o que demonstra uma alternativa de dialogar com entorno.

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Figura 11: Planta de situação

Fonte: Arquivo Escritório Marroquim, 2001.

Assim, por se tratar de um empreendimento institucional, é um edifício que valoriza a Avenida pela sua presença marcante. O desenho da marquise e do arremate da cobertura sinaliza a manifestação da forte personalidade do edifício. O edifício implica em uma conformação do urbano o que acontece segundo o padrão de oclusão do espaço urbano, delimitando o espaço parcialmente indeterminado. A atitude frente ao contexto permite classificar o edifício FINDES como uma arquitetura de contrastação, visto que expressa sua individualidade, mas também procura resgatar o entorno por meio da visibilidade da paisagem.

6 CONSIDERAÇOES FINAIS

As soluções dadas aos projetos revelam de que maneira a importância do contexto para a concepção de uma obra é fundamental na arquitetura produzida pelo Escritório Marroquim. Assim, parte de cada obra relaciona o edifício com o lugar, adotando diferentes soluções na implantação, volumetria, proporção, tipologia e linguagem arquitetônica, de forma a integrar-se cuidadosamente no sítio. Sem trair as concepções corbuserianas presentes na trajetória profissional, o casal Marroquim introduz recursos de contextualismo em suas obras, ao buscar referenciar de alguma forma a imagem familiar e convencional do local onde se insere a arquitetura.

Assim, a relevância da produção do Escritório se justifica pela coerência existente mesmo se

tratando de obras diversificadasxvii, particularizadas pelo contexto. Essa coerência obtida está pautada no processo projetual, isto é, uma ação guiada por princípios, e não necessariamente como resultado de uma reprodução formal. Logo, o traço de união da produção não é tanto seu resultado físico, mas, sobretudo, seu procedimento de projetação.

É importante ressaltar que as obras contempladas neste artigo estão inseridas na área “Novo Arrabalde”, projeto de expansão (Figura 12), de autoria de Saturnino de Brito do final do século XIX, para a cidade de Vitória, uma cidade de valor crítico, onde a paisagem é marcada por um forte elemento: a presença de morros. Muniz Freire, que governou o estado do Espírito Santo de 1892-96, disse sobre a Vitória de sua época: “Circulada pelo mar e por

montanhas, a área urbana pode-se considerar quase esgotada” xviii.

De alguma forma a nova arquitetura se relaciona com as montanhas, seja por uma tentativa de preservação do relevo – como é presente no projeto da Escola Jesus de Nazareth, do Centro de

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Treinamento Dom João Batista e do Edifício Mirante –, ou seja, pelo resgate dessa paisagem por meio da visão – Edifício FINDES.

Figura 12: Localização dos projetos no plano do Novo Arrabalde Fonte: MENDONÇA et al 2009. P:12.

Nota-se que existe um esforço em estabelecer continuidade entre a “nova arquitetura” e a “preexistência crítica" mediante uma investigação particularizada do lugar. Apesar desse constante esforço, sabe-se que a atividade projetual encontra limitações, de níveis diferentes, relativos à configuração das cidades brasileiras, onde imperam os lotes, as imposições urbanísticas e econômicas.

Essa postura contextualista não é teorizada pelo Escritório Marroquim, o que não quer dizer que não tenham uma ideologia, e sim que não explicitam além da atividade projetual. Essa sensibilidade à percepção da realidade histórica, física e sociocultural é canalizada no modo de pensar, que se evidencia nas suas obras. Neste sentido, pode-se afirmar, essas são referência e perspectiva crítica para o fazer arquitetônico no Espírito Santo.

7 REFERÊNCIAS

BASTOS, Maria Alice Junqueira. Brasil: Arquitetura após 1950. São Paulo: Perspectiva, 2010.

BROWNE, Enrique. Outra arquitectura en América Latina. México: Gustavo Gili, 1988.

BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. 5 ed. São Paulo: Perspectiva, 2010.

CURY, Isabelle (Org.). "Carta de Petrópolis". Cartas Patrimoniais. 3 ed. Rev. aum. - Rio de Janeiro: IPHAN, 2004.

DE GRACIA, Francisco. Construir en lo Construido: La arquitectura como Modificación. 2 ed. Madrid: Editorial Nerea, 1992.

FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. Lisboa: Edições 70, 1982.

MENDONÇA, Eneida Maria Souza. ... [et al.]. Cidade prospectiva: o projeto de Saturnino de Brito para Vitória. Vitória: EDUFES; São Paulo: Annablume, 2009.

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MONTANER, Josep Maria. Depois do movimento moderno: Arquitetura da segunda metade do século XX. Barcelona: Gustavo Gili, 2009.

NASLAVSKY, Guilah. Arquitetura Moderna em Pernambuco entre 1945-1970: uma produção com identidade regional? Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – USP.

REVISTA PROJETO. São Paulo: Projeto Editores Associados Ltda., n. 116, p. C-18, C-19, novembro 1988.

REVISTA PROJETO. São Paulo: Projeto Editores Associados Ltda., n. 184, p. 70-71, abril 1995.

ROWIE, Colin. Ciudad collage. 2 ed. Barcelona: GG Reprints, 1998.

SABBAG, Haifa Yazigi. Sentido do sagrado. Revista Projeto. São Paulo: Projeto Editores Associados Ltda., n. 137, p. 35-37, dezembro 1990/janeiro 1991.

SCHULZ, Christian Emanuel Norberg. Principles of modern architecture. United Kingdom: Andreas Papadakis Publisher, 2000.

SOUZA, Bethânia Gonçalves de. Dialogando com a arquitetura de Ione e Fernando Marroquim. Monografia (Graduação). Vitória: Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Espírito Santo, 2000.

ZEIN, Ruth Verde. O lugar da crítica: Ensaios oportunos de arquitetura. Porto Alegre: Centro Universitário Ritter dos Reis, 2001.

NOTAS

i Entende-se “Nova Arquitetura” e “Preexistência Crítica” como categorias, sendo “Nova Arquitetura” a inserção formal – projeto e obra - que passa a existir em uma estrutura urbana, transformando-a; e “Preexistência Crítica” espaços de representatividade cultural, entendidos e diferenciados em seu sentido operacional como área crítica. CURY, 2004, p. 285-87. ii Pesquisa em desenvolvimento, iniciada em 2006, realizada no Laboratório Patrimônio & Desenvolvimento –

Patri_Lab, na Universidade Federal do Espírito Santo – UFES. iii Ver mais em: DE GRACIA, 1992.

iv Ver mais sobre Brandolini e Croset.

v Trata-se da qualidade visual particular da cidade, da aparente clareza ou legibilidade da paisagem citadina

compreendida visualmente como uma estrutura de símbolos reconhecíveis. LYNCH, 1982, p. 12-13. vi

Arquitetura de contrastação é diferente da arquitetura descontextualizada, visto que essa se resolve à margem de qualquer indagação em relação ao contexto. Enquanto que aquela, apesar de expressar sua individualidade, possui uma postura comprometida com o contexto. DE GRACIA, 1992. vii Uma área urbana consolidada, segundo o Projeto de Lei 3057, corresponde à zona urbana que possua densidade demográfica superior a 50 (cinquenta) habitantes por hectare e malha viária implantada. viii

BROWNE, 1988, p. 107. ix Definições postas textualmente em: DE GRACIA, 1992.

x Sobre obra recente de Rossi veja ARNELL, Peter; BICKFORD, Ted. Obras y proyectos. Barcelona: Gustavo Gili S.A.,

1986. xi FRAMPTON, 1997.

xii BROWNE, Enrique. 1988.

xiii ZEIN, 2001, p. 82-84. xiv

As principais informações sobre a trajetória profissional dos arquitetos Marroquim foram retiradas da monografia de graduação da Bethânia Gonçalves de Souza, 2000. xv

BRUAND, 2010, p. 77-79. xvi

Os arquitetos Delfim Amorim (português, formado em arquitetura pela Escola do Porto em 1947) e Acácio Gil Borsoi (formado pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil – FNA, em 1949) também lecionaram na Escola de Arquitetura em Pernambuco para o casal Marroquim. O maior desafio foi interagir princípios do Modernismo com elementos regionais, buscando relações estreitas com o meio e culturas locais. NASLAVSKY xvii ZEIN, 2001, p. 86-87. xviii

MENDONÇA … [et al.], 2009, p. 46.