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ANO 4 N O 30 R$ 15,00 5,00 CHÂTEAU SMITH HAUT LAFITTE | HESTON BLUMENTHAL | BMW | JÉROME DREYFUSS JOANA D’ARC

A Magazine #30

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Revista A Magazine edição 30 (nacional)

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AAA

ANO

4 N

O 30

R$

15

,00

5,00

CHÂTEAU SMITH HAUT LAFITTE | HESTON BLUMENTHAL | BMW | JÉROME DREYFUSS JOANA D’ARC

MA

GAZ

INE

NO 30

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editorial

4 MAGAZINE

joana d’arcSanta, guerreira, mulher. A inspiração do fotógrafo Mick Mazzei

para compor o ensaio desta edição foi baseada em uma mulher que, se-guindo “a vontade divina”, lutou pela França comandando um exército de 4 mil homens na famosa Batalha de Orléans, no século 15. Discipli-nada, a Joana d’Arc de Mazzei desfila por Paris com postura de guer-reira e atitude de mulher moderna e sensual. De bandeira em punho, ela marca seu espaço e define seu lugar no mundo. Très chic!

Chic também ficou o perfil do chef tecnoemocional Heston Blumen-thal — misto de mestre-cuca e cientista maluco. Segundo o enogour-met Marco Merguizzo, Blumenthal coloca a pequena Bray no mapa gourmet e transforma o Reino Unido de túmulo gastronômico em vi-brante berço de experimentações culinárias. Simplesmente demais!

E, falando de experimentações, o BMW Group — com sede em Mu-nique, na Alemanha — está fortemente empenhado na construção de um veículo urbano com baixa emissão de CO2. A palavra de ordem por lá é sustentabilidade. Prometido para 2013, o projeto, batizado de Me-gacity, está focado em mudanças que tragam novas soluções para a mo-bilidade pessoal em áreas urbanas sem prejudicar o nosso já combalido meio ambiente. Confira a matéria “BMW — O futuro mora ao lado”.

Enjoy

Fran OliveiraDiretor Editorial

[email protected]

fotografia Mick Mazzei / styling angela skalla

hair/Makeup orlando@staMMhaus coM produtos da artistry

Model Madeline Mg Models paris

trataMento de iMagens wMfusion.coM.br

Page 5: A Magazine #30

O sucesso da suaviagem de negócios

tem um só dest ino.

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Page 6: A Magazine #30

6 MAGAZINE

publisher diretora executiva

diretor editorial diagramação

projeto gráfico revisão

colaboradores

diretor comercial

executivo de conta representante comercial

diretor de planejamento diretor financeiro

assistentes

marketing e circulação

a magazine online

assinaturas

tratamento de imagens ctp, impressão e acabamento

distribuição

Cesar Foffá

Lourdes Foffá

Fran Oliveira

In Loco Comunicações

Fran Oliveira

Luiz Volpi

Aimée Louchard, Isabelle Mascetti, Marco Merguizzo, Marilane Borges,

Mick Mazzei, Raphael Cintra, Reynaldo Pasqua, Sérgio Pinheiro

Marcelo Foffá ([email protected])

Claudia Lima, Noemia Cavalcanti, Zaíra Melo

Essencial Media (11) 3834-0349, Território Nacional

Athayde de Almeida

Sergio Pereira

Reggiane Fortunatti e Keliane Santos

Marcelo Foffá

www.amagazine.com.br

Simone Marques ([email protected])

Eloprecisão Digital

Gráfica e Editora Aquarela

Dinap e Correios

A Magazine é uma publicação mensal de A Magazine Editora e Publicidade

Ltda., uma empresa do grupo Metromídia Comunicação. Redação: Calçada

das Hortênsias, 39, Centro Comercial Alphaville, Barueri, SP, CEP 06453-017,

tel.: (11) 4208-1600. Assinaturas: Tel.: (11) 4191-2397 e assinatura@amagazine.

com.br. As opiniões e os artigos contidos nesta edição não expressam, neces-

sariamente, a opinião dos editores. É proibida a reprodução em qualquer meio

de comunicação das fotos e matérias publicadas.

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sumário

20 arte 28 basquiat 36 moda 48 dreyfuss 54 joias 62 spa

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20 arte 28 basquiat 36 moda 48 dreyfuss 54 joias 62 spa 68 perfil 76 haut lafitte 84 marrocos 90 munique 100 motor 108 náutica

41016 1834607482

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editorial

acessórios

exposição

trends

design

moda consumo

evento

catwalk

seções

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acessórios

por marilane borges

10 MAGAZINE

Bag in the cityEsqueça esse frio invernal e concentre-se no que será tendência dentro

de alguns meses, principalmente nos novos modelos de bolsas que serão

usados na estação mais colorida e florida do ano. Para captar esse espírito, a

Victor Hugo se inspirou nos tons cítricos, hit da nova coleção primavera/verão

2011, que traz modelos de bolsas em formatos e tamanhos inusitados. Todas

influenciadas e desenhadas com peles exóticas, como as de avestruz, píton

e jacaré, que oferecem toque aveludado e maleabilidade extra. Na palheta

de tons, as cores fetiche da estação -- Branco Snow, Rosa Confetti, Azul

Ocean, Verde Aqua, Vermelho Spicy, Blush Pink --, além do retorno clássico

do nugget vintage marrom, algo recomendado somente para as fashion-

cosmopolitas, antenadas em acessórios modernos. www.victorhugo.com.br

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acessórios

por fran oliveira

12 MAGAZINE

PERFORMANCE GARANTIDA A coleção Galactic ocupa um lugar à parte no mundo Breitling, desenhado

num look mais “citadino” do que qualquer instrumento da marca, cada

Galactic possui todavia as melhores vantagens em termos de fiabilidade e

de precisão. O maior desta coleção é o Galactic 41, um relógio destinado

àqueles cuja atividade não exige as funções de um cronógrafo mas que

desejam ter no pulso um relógio não só bastante esportivo mas também

elegante para o dia a dia. Uma outra particularidade do Galactic 41 é o seu

calendário de janela dupla que permite indicar claramente a data, também se

beneficia do melhor da tecnologia Breitling: coroa e fundo de rosca, vidro de

safira anti-riscos com tratamento anti-reflexo em ambas as faces. Sempre a

nível da performance, o Galactic 41 foi construído para resistir a uma pressão

de 30 bars, o equivalente a uma profundidade de 300 metros.

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acessórios

por fran oliveira

14 MAGAZINE

novo design. nova fragrânciaKenzo Homme Woody Eau de Toilette é mais que um novo perfume

masculino. Criado pelo perfumista Olivier Polge, ele traz em sua

composição essências que personificam a masculinidade. Sua fra-

grância revela aromas da pimenta preta de Madagascar e do alecrim da

Tunísia, pautada pelas duas fortes essências amadeiradas: o cedro do

Atlas e o vetiver do Haiti. O frasco em forma de bambu reveste-se de um

castanho-mate com vibrantes folhas entalhadas. As embalagens de 30

ml, 50 ml e 100 ml custam, respectivamente, R$ 155, R$ 212 e R$ 290.

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exposição

por marilane borges

16 MAGAZINE

Charme dos anos 80 Do purista Issey Miyake ao visionário Thierry Mugler, passando pela mulher

ultrassofisticada, vista por Sonia Rykiel e Lagerfeld (ainda para Chloé),

ou as criações assimétricas e desconstruídas de Rei Kawakubo para

Comme des Garçons, esse é o tom da exposição História Ideal da Moda

Contemporânea, Volume I, em cartaz até outubro no Museu da Moda e das

Artes Decorativas de Paris, que coloca em evidência a efervescência dos

anos 70 e 80, revelando as novidades que o prêt-à-porter antecipava para

as décadas seguintes. Frutíferos, ousados e criativos, os anos 70 e 80 foram

o laboratório de ideias, utilizado pela maior parte dos estilistas reputados

da atualidade e que corrobora com a teoria da história das roupas. Esse

primeiro volume da mostra encerra sua lição de estilo colocando no pódio

Jean Paul Gaultier nos anos 90. www.lesartsdecoratifs.fr

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trends

por isabelle mascetti

18 MAGAZINE

bens e serviços de luxoComo pesquisadora, percebi que são dois os

principais fatores que conduzem à compra de

bens e serviços de luxo: o status e o prazer.

Muitos autores qualificam o status como uma

motivação ilegítima, e eu não poderia discordar

de maneira mais assertiva. O status está ligado à

dinâmica do glamour, que é aquela onde busco o

melhor de mim, eu mais bonita, mais inteligente,

mais atraente, para me projetar e me mostrar ao

outro. O ser humano vive entre esse falso dilema

de se identificar e pertencer a um grupo e, ao

mesmo tempo, se diferenciar

dentro desse mesmo grupo.

Nada mais autêntico que essa

necessidade de acolhimento.

Esse movimento fica bem

claro na adolescência quando

buscamos fazer parte de um

grupo rejeitando aquilo que

antes nos informava quem

somos, a família.

  Já o prazer é estimulado e

está ligado ao chamado novo

luxo, aquele das experiências e

da vontade de se sentir único.

Existem três formas básicas de estímulo do prazer no

mercado de luxo: por meio de aspectos sensoriais,

principalmente aqueles ligados ao olfato e à visão

(sentidos sobre os quais temos menor controle);

aspectos de relação, o vínculo que estabelecemos

com os vendedores ou donos de loja, já que são

produtos que requerem maior envolvimento na

compra; e, por último, o significado que o objeto

ou serviço tem para o consumidor. É nesse último

aspecto, o do significado, que temos novidades.

Geralmente o prazer por significado pode vir

da autorrecompensa, como um prêmio para

compensar um sentimento ou fato ruim que precisa

ser superado, ou da autogratificação, como um

prêmio para celebrar uma conquista, quase como

colocar uma medalha no peito. A novidade que

temos é que há algum tempo conseguimos migrar

do consumo com prazer por autorrecompensa para

o consumo por autogratificação, principalmente

entre as mulheres. Elas estão se presenteando

mais, se premiando mais. E isso pode ser notado

nas mudanças da compra de joias. Antigamente, as

mulheres passivamente recebiam de seus maridos

adornos que informavam sobre a fortuna do eleito.

Hoje, elas querem saber qual o significado das

formas daquela joia, o que ela representa, o que a

pedra transmite, enfim, como toda aquela estética

está relacionada a um conjunto de valores. E, assim,

a joia se torna ainda mais especial.

 Além disso, hoje a joia entra na vida da mulher

em momentos de celebração. Foi-se o tempo em

que as mulheres queriam apenas se vingar de uma

traição colocando alguns débitos no cartão do

marido. Sim, presenciei algumas dessas compras,

que eram bem frequentes. Agora, elas chegam

às joalherias celebrando seus romances, suas

conquistas de trabalho e de criação dos filhos,

querendo marcar aquele e esse momento com

peças eternas cheias de significado. Quem já notou

esse movimento foi a primeiríssima joalheria em

termos de vendas e tradição, a Cartier, que lançou

os famosos “momentos Cartier”. É interessante

notar que este consumo, associado à tendência de

personalização, faz com que muitas mulheres se

tornem designers dos seus acessórios, querendo

mostrar o seu olhar sobre as peças que vão trazer

beleza, significado e força cada vez que elas forem

às ruas com as suas joias. E aí se combinam as

duas dinâmicas: a de status — por que não colocar

para fora o melhor de mim? — com o prazer de me

celebrar, e vira aquele tão ouvido “você merece!”. A

Page 19: A Magazine #30

arte | galeria jérôme de noirmont n basquiat n xtras

Galeria Jérôme de Noirmont

Page 20: A Magazine #30

“Depois da minha família, minha coleção de arte é a coisa mais importante que tenho”, confidencia Jérôme de Noirmont, um homem idealista e visionário, fundador, junto com sua esposa, Emmanuelle, da Galeria Jérôme de Noirmont. Fugindo do circuito convencional das artes parisienses – Marais e Saint-Germain-de-Prés –, a galeria está situada numa das avenidas mais luxuosas de Paris, a Matignon, e conta em seu portfólio com artistas franceses e estrangeiros de renome internacional, como Andy Warhol, Jeff Koons, Pierre et Gilles, Valérie Belin ou ainda talentos emergentes, videoastas e performers, além de expoentes das artes contemporâneas vindos de origens diversas e com obras produzidas em diferentes suportes, como pintura, fotografia ou escultura. Inaugurada em 1994, a Galeria Jérôme de Noirmont é conhecida por representar artistas renomados ou não e colocá-los em evidência em importantes coleções públicas e privadas. O “casamento formal” de Jérôme e Emmanuelle de Noirmont aconteceu quatro antes do pacto com as artes.

arte Jérôme e Emmanuelle de Noirmont formam um dos casais parisienses mais

cults que a arte contemporânea tratou de unir

por Marilane Borges, especial de paris

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MAGAZINE 21

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Ele, antigo antiquarista parisiense, apaixonado pelo ofício das artes e com apurado olho estético; ela, brilhante aluna de uma renomada escola de comércio francesa, trabalhava há anos com mecenato empresarial. Desde o primeiro encontro foi amor à primeira vista. Casaram-se e três filhos depois decidiram investir no tumultuado mercado criativo. Arte contemporânea, filhos e negócio familiar. Essa é a filosofia dos Noirmont, que dividem todas as decisões a dois, mas “onde a individualidade de cada um é preservada para o bem dos negócios e da vida em comum”, afirmam, em uníssono, Jérôme e Emmanuelle. A história parece ter seguido um padrão, já que os pais de Emmanuelle trabalhavam juntos desde que ela nasceu. Abraçando o modelo de negócio old school, o casal voltou-se para as artes contemporâneas – mais uma paixão em comum – e resolveu apostar nesse mercado, que, na época, ainda estava em evolução. Como nem só de beleza vive uma galeria de arte, era preciso investir em estratégias bem

planejadas de comunicação, apostando em novas formas de promover a galeria, sem, contudo, esquecer que a credibilidade nesse métier é fundamental. Tanto para os artistas como para o galerista.

Jeff Koons na frança – Como não poderia deixar de ser, mais uma história veio enriquecer a trajetória e a promoção da galeria: o encontro entre Jérôme de Noirmont e Jeff Koons. A parceria com um dos maiores artistas vivos deste século foi decisiva para que muitas portas artísticas se abrissem. Jérôme comenta que, quando o descobriu, em 1997, Koons não era ainda uma celebridade do mundo artístico, mas ele decidiu nesse mesmo ano preparar sua primeira exposição individual na França. Sem grande alarde, logo depois dessa mostra, muitos projetos adquiriram forma. Em 2000, a galeria produziu uma das peças monumentais de Koons, Split Rocker – réplica gigante de um brinquedo de criança, medindo 12,5 metros, recoberta com 120 mil flores –, e logo após a apresentação ela foi vendida para uma

22 MAGAZINE

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MAGAZINE 23

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das maiores fortunas da França, o colecionador de arte François Pinault, grande admirador de Koons. Oito anos depois, a Galeria Jérôme de Noirmont fez parte do projeto que organizou a exposição de Jeff Koons, apresentada nos apartamentos reais do Rei-Sol, no Castelo de Versalhes, que tinha como mecenas as empresas de Pinault. A mostra Jeff Koons em Versalhes foi bastante criticada e muito comentada no mundo inteiro e tornou-se um dos maiores recordes de visitação em museus franceses em 2008. Quem venceu a discórdia entre os apreciadores da arte barroca de Luis XIV, que contestavam o dadaísmo kitsch de Koons, foi o próprio artista, que ficou célebre graças ao idealismo de Jérôme de Noirmont.

Criando laços – Essa interação que temos com os artistas é o que há de mais interessante nesse segmento, afirma Jérôme. “Trabalhar com arte é uma das únicas possibilidades de ter uma ligação com a criação, porque é com esse contato direto que podemos vislumbrar a alma do criador a partir de longas conversas no atelier do artista”, declara. O objetivo de estreitar relações

para poder proporcionar visibilidade às personalidades artísticas que representa é imprescindível para o galerista, que conta com informações privilegiadas e pode escolher quais obras serão apresentadas em exposições monográficas, por exemplo. Essa é uma das premissas básicas da Galeria Jérôme de Noirmont, que se destaca pela longa duração – entre seis semanas e dois meses – das obras expostas em suas paredes. Além de dar origem a várias publicações e catálogos – a galeria também é uma editora –, todos produzidos em estreita colaboração com os artistas. “O trabalho de um galerista necessita de esforços díspares”, afirma Jérôme, “porque é preciso ter engajamento emocional e financeiro para poder expor as peças mais espetaculares dos artistas.” Vale ressaltar que engajamento e olhar visionário são a marca registrada desse galerista. Um ano antes de ganhar o Leão de Ouro na Bienal de Veneza em 1999, pelo seu vídeo Turbulent, a artista iraniana Shirin Neshat, que vive em Nova York, juntou-se à galeria. Desde então, Jérôme de Noirmont decidiu financiar seu projeto da época, Rapture, que se tornou um sucesso mundial; e seus vídeos Munis

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e Faezeh (2008), inspirados no Women without men. Essa sensibilidade para captar o que é representativo, tanto na arte como na vida, é a essência do trabalho de Jérôme e como ele mesmo diz: “Cabe a nós, galeristas, compreender os artistas e tentar ajudá-los mostrando suas obras para o maior número de pessoas”.

exposições no rio de Janeiro – Proporcionar ao público obras extraordinárias como Spaceman, exposta nos jardins do Palais Royal em Paris, em 2000, ou ainda It Takes Two e Silver Back, reveladas em Paris durante a Feira Internacional de Arte Contemporânea (FIAC), em 2006 e 2007, ambas de David Mach, são exemplos concretos do desejo de Jérôme de Noirmont, que tem reproduzido muitas das grandes esculturas e instalações de Mach. Além disso, a galeria organizou todas as retrospectivas dos artistas franceses Pierre et Gilles no mundo inteiro, desde a que foi apresentada no New Museum, em Nova York (2000), até a exposição comemorativa dos 30 anos de carreira da dupla no museu Jeu de Paume, em Paris (2007). Recentemente,

a mostra Pierre et Gilles – A Apoteose do Sublime foi apresentada no Oi Futuro, Rio de Janeiro, que ficou em cartaz até janeiro deste ano. Outras participações da Galeria Jérôme de Noirmont em terras brasileiras ocorreram durante o Ano da França no Brasil (2009) com algumas obras de Valérie Belin, emprestadas para a exposição Meias Verdades, no Oi Futuro, Rio de Janeiro; a mostra individual de Brigitte Nahon, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, e a instalação externa da escultura Le Passage, em 2002.

Colecionador de arte, amante da cultura e amigo dos artistas que representa, Jérôme de Noirmont se entrega de corpo e alma ao mercado das artes, participando de vários comitês, ora como membro, ora como associado de organismos que legitimam seu desejo de apoiar talentos emergentes. Para ele, envolver-se na produção das obras e nos projetos de representação internacional dos artistas é um exercício que demanda alianças exclusivas e uma relação permanente de longo prazo, afinal, como galerista Jérôme diz que vive somente para tornar isso real. A

Galeria Jérôme de Noirmont: 36-38Avenue Matignon, Paris 8

Telefone + 33 (0)142 898 900 www.denoirmont.com

MAGAZINE 25

Page 26: A Magazine #30

26 MAGAZINE

trends

por reynaldo pasqua

luxury interactive 2010O Luxury Interactive é um congresso que reúne os

líderes das grandes marcas de luxo globais para

discutir o futuro e compartilhar suas experiências

de mercado. O foco do evento é o luxo no mundo

on-line e nas mídias digitais. É um evento que ganha

destaque a cada ano, porque é nesse universo

que os chamados affluent consumers – topo da

cadeia consumidora do luxo – estão formando

sua decisão de consumo. Esta edição foi dedicada

nos segmentos de moda, joalheria, hotelaria e

cosméticos. Logo no meu primeiro dia em Nova

York, notei a velocidade, a

tecnologia, o consumo e

as muitas aglomerações de

pessoas. A correria do dia

passa uma sensação de que a

“Big Apple” vai engolir você, em

vez de, como dizem por lá, você

“ morder a maçã”.

Com a presença de

pessoas importantes da

indústria do luxo, o evento

mostrou objetividade nos

assuntos e nas apresentações;

a expressão “time is money”

foi levada a sério até mesmo com a exposição

dos números no final de cada dia. Entre as marcas

presentes estavam Louis Vuitton, Gucci, Kenneth

Cole, Diane von Fürstenberg, David Yurman, Estee

Lauder, The Ritz-Carlton Hotel e Neiman Marcus.

O evento aconteceu no Sentry Centers, na Third

Avenue, próximo da Grand Central Station. Os

palestrantes mais aguardados eram Gerald Barnes,

presidente/CEO da Neiman Marcus, Tom Davis,

vice-presidente e-commerce da Kenneth Cole, e

Maryssa Miller, diretora de e-commerce da Lacoste.

A primeira apresentação foi de Gerald Barnes.

O tema principal foi a importância da integração da

informação, atendimento e produto. Os produtos

são disponibilizados nas lojas físicas e na loja on-

line de forma integrada, com isso, o consumidor

pode comprar no site e trocar na loja, e vice-versa.

Outra virtude da integração é que os vendedores

das lojas possuem o histórico de compra dos

clientes através de ambos os canais de venda.

No momento do atendimento nas lojas, com o

acesso ao histórico do cliente, é possível sugerir

os produtos mais adequados. Com isso, obtém-

se aumento de vendas e fidelização. Segundo

a Neiman Marcus, a maioria dos clientes que

compram nas lojas físicas pesquisa antes no site.

Aqueles que compram on-line são, em média, dez

anos mais novos que os compradores das lojas.

Mesmo com um público mais jovem, o padrão

econômico entre consumidores de loja e on-line é

o mesmo. Quando questionado qual o valor mais

alto já gasto em sua loja virtual, a resposta foi 50

mil dólares em uma única compra.

Desde o início de seu e-commerce, há dez

anos, todos os canais de venda passaram a

vender mais. Não houve canibalismo com a

abertura das vendas pelo site, pelo contrário,

aumentaram as vendas off-line e on-line

simultaneamente. Segundo o CEO, “people

just buy more”, ou seja, as pessoas passaram a

comprar mais pela facilidade e disponibilidade

de comprar quando e onde desejam. “Segundo

a McKinsey Consultoria, os consumidores que

encontram suas marcas preferidas em múltiplos

canais de venda consomem quatro vezes mais

produtos dessas marcas”, citou Gerald Barnes.

A Neiman Marcus trabalha muito bem sua

clientela de e-commerce e possui uma base

de 2 milhões de e-mails cadastrados, enviando

diariamente informações sobre lançamentos,

novidades e promoções.

Page 27: A Magazine #30

MAGAZINE 27

por reynaldo pasqua

Na palestra da Kenneth Cole, Tom Davis

apresentou um comparativo sobre o mundo

tecnológico em que vivemos, começando com

o nascimento no ano de 2000 da Amazon.com,

Hotmail e Napster. Em 2002, o surgimento do

Skype, Ebay e iTunes (Apple) e, entre 2006

e 2008, Facebook e Twitter. Na parte de

hardware, tivemos o surgimento em 2001 do

CD; em 2003, do DVD; em 2004, do Internet

Explorer; em 2006, do BlackBerry, GPS e TV

LCD/plasma; e, em 2008, do iPhone e Blu-

Ray. Ou seja, nos últimos dez anos surgiram

todas as novidades que ocupam nosso tempo

de trabalho, lazer e entretenimento. Assim, ele

concluiu que vivemos em um mundo volátil, com

surgimento de informações instantâneas. Dentro

desse quadro, e em retrospecto, ele apresentou

três empresas que souberam crescer nesse novo

mundo: Apple, Amazon e Google. A Apple pelo

lançamento de produtos incríveis, a Amazon pela

logística e pelo atendimento ao consumidor, e a

Google por todas essas características (acima). As

vendas on-line crescem 20% ao ano nos Estados

Unidos, 134 bilhões de dólares em 2009.

Diante dessa fotografia do mercado, a

Kenneth Cole foca sua estratégia na integração

entre as lojas físicas, e-commerce e móbile

(venda por celular). Os múltiplos canais de

venda e divulgação são todos direcionados

à satisfação do consumidor. Para a marca,

o consumidor é quem dita onde e quando

ele quer tomar uma decisão de compra. E a

Kenneth Cole procura estar presente de alguma

maneira nesse momento de decisão. O uso

da tecnologia é primordial para o sucesso de

uma marca de luxo hoje em dia. Os aparelhos

celulares Smartphones serão maiores em

número do que os computadores pessoais até

2013. O Facebook já poderia ser considerado

o terceiro país do mundo em população, com

quase 500 milhões de pessoas, perdendo

apenas para a China e Índia. Na Kenneth Cole,

1,5% das vendas da marca já são efetuadas

via celular, com a expectativa de dobrar esse

número em 12 meses. Segundo Tom, nos

próximos anos as marcas que estiverem

com essa integração mais amadurecida terão

claramente uma vantagem no mercado.

Reforçando a declaração de Gerald

Barnes, da Neiman Marcus, 73% dos

consumidores pesquisam on-line e compram

off-line. A causa é porque as pessoas, quando

desejam um produto, querem a disponibilidade

imediata, querem tocar e provar o produto.

Porém, a sedução de compra ocorreu on-

line. Mesmo assim, o mercado virtual cresce

porque, quando familiarizados com a marca,

os consumidores passam a valorizar as

facilidades desse canal de venda, como a

praticidade e a segurança de fazer compras

sem sair de casa. A palestra da Ebay

surpreendeu pelos números em volume de

vendas e acessos ao site. Com 20 milhões de

consumidores, 4 milhões de vendedores, 160

milhões de transações por ano e a presença

em 30 países. As marcas mais desejadas são:

Coach, Gucci, Louis Vuitton, Nike, Chanel,

Ralph Lauren, Anthropologie e Burberry. Os

itens mais pesquisados são: eyewear, sapatos,

vestidos de casamento, roupas vintage,

sandálias e trajes de praia.

Outro perfil muito comprador é o das

pessoas que gostam de se vestir bem,

porém não são fanáticas por moda e roupas.

Acreditam no valor das grifes, mas são

consumidores mais práticos do que fanáticos.

Para finalizar o congresso, a palestra da

Lacoste mostrou que realmente a marca está

moderna e ativa com as novas tecnologias. É

pioneira no m-commerce – venda por celular –,

lançado em 2009, que já no primeiro ano teve

750 mil acessos, gerando aproximadamente

7.500 vendas. Com o surgimento do iPad, da

Apple, as vendas ultrapassaram as vendas

pelo iPhone, já em maio de 2010.

A mensagem deste congresso, sem dúvida,

é que as novas tecnologias serão cada vez mais

parte do nosso dia a dia. Consequentemente, vão

refletir a maneira como pesquisamos produtos e

quando e onde realizaremos nossas decisões

de compra. O mercado de luxo precisa estar

atento e sempre acompanhar o comportamento

do seu consumidor. As empresas presentes no

evento, líderes de mercado, estão trabalhando

exatamente nisso, sendo pioneiras e investindo

na perpetuação das suas marcas. A

Reynaldo Pasqua é Diretor Online da CARMIM. [email protected]

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Sentado numa cadeira Skaï, vestindo terno e gravata escuros, pés descalços sobre um chão com resquícios de pintura, Basquiat fixa o fotógrafo com ar insolente e entediado. Essa imagem difundida à exaustão pela imprensa internacional pode ser vista em todos os pontos estratégicos na cidade suíça de Bâle como publicidade da retrospectiva inicial em homenagem ao nascimento de Jean-Michel Basquiat, batizada simplesmente de “Basquiat”, em cartaz até setembro de 2010. A primeira aparição dessa fotografia foi no New York Times, em 1985, quando o artista tinha apenas 24 anos, mas já era rico e uma celebridade exibida. Notas de 100 dólares podiam ser vistas jorrando de seus bolsos e muitas outras se encontravam espalhadas no seu loft no SoHo. Era uma época próspera e de excessos. Seu pai, um dia, anunciou a quem quisesse ouvir e se assegurou de que um jornalista estivesse presente para registrar a frase: “Meu filho tinha como projeto de vida ser célebre... Ele conseguiu”.

BasquiatPara festejar os cinquenta anos de nascimento de Jean-Michel Basquiat, a Fondation Beyeler, na Suíça, faz uma grande retrospectiva em homenagem ao artista underground que influenciou sua geração

por Marilane Borges, especial da suíça

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Em Basel, tudo começa com a apresentação de Boy and Dog, uma tela gigante realizada pelo artista, aos 21 anos, que se encontra no foyer desse museu privado. Foi em 1983 que o marchand de artes Ernst Beyeler convidou o jovem artista para expor em sua galeria homônima. Na contracorrente da arte conceitual e minimalista em voga, Basquiat apresentou suas obras figurativas e expressivas, entre as quais Philistines e Self-Portrait, direcionadas à sociedade de consumo, à ilegalidade e ao racismo. Essas obras estão em evidência na retrospectiva da Fondation Beyeler, que reúne, entre outras, mais de 150 telas, todas em grande formato, e objetos emprestados por museus reputados – MoMa, Whitney Museum, Centre Georges Pompidou – e por grandes fundações internacionais, como o Museu de Arte Moderna da cidade de Paris, que concebeu e colaborou com o sucesso da exposição.

Em 1977, o jovem artista encontrou Andy Warhol no restaurante SoHo WPA, um dos lugares mais hypes da vida noturna nova-iorquina. E foi nessa época que Basquiat começou a inundar os muros de Manhattan com suas tags semipoéticas, semimilitantes, assinadas apenas por SAMO (Same old shit). Autodidata, filho de imigrantes, o pai haitiano e a mãe porto-riquenha, ele foi descoberto imediatamente por galeristas internacionais e seu sucesso foi rápido e fulgurante. No espaço de oito anos, fez emergir uma obra de amplitude até então desconhecida, que reunia milhares de pinturas e mais de 2 mil desenhos. Em maio de 1981, o italiano Emilio Mazzoli organizou

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a primeira exposição particular do pintor em Modena, na Itália, que seria seguida de outra em março de 1982, em Nova York, na casa de Annina Nosei. Em junho de 1982, Basquiat expõe suas obras cheias de silhuetas esqueléticas e máscaras com caretas na Documenta de Kassel, em meio a artistas já consagrados como Cy Twombly, Andy Warhol e Gerhard Richter.

Paredes, portas, janelas, maços de cigarros, embalagens de Corn Flakes, tudo se tornava suporte artístico para o jovem de alma atormentada. “Basquiat pintava tudo que caísse em suas mãos”, relata Mary Ann Monforton, uma amiga do artista. Ao lado de seus autorretratos e de figuras heroicas e solitárias, guerreiros, policiais, músicos, reis, como que saídos de uma história de quadrinhos, contavam histórias com seus desenhos alucinantes. Fato similar ocorria com os músicos de jazz Charles Parker e Max Roach e esportistas negros, como Cassius Clay, que permeavam seus rabiscos, cheios de anotações enigmáticas e incongruentes, como se fizessem parte de um universo surrealista que só o artista conseguia decifrar. Grande colorista, Basquiat utilizou a cor para estruturar suas composições, como a tela de acrílico In Italian, de 1983, onde o rosa, o amarelo, o verde-maçã e o azul-pastel semitransparentes são expressões de sua técnica. Intenso e cheio de energia, Basquiat tornou-se o mestre do excesso em tudo que fez, tanto em suas telas como em sua vida privada, pena que seu sucesso não durou mais que oito anos e desapareceu ainda jovem como o artista, que morreu de overdose aos 27 anos. A

Fondation Beyeler Baselstrasse 101, Basel, Suíça www.beyeler.com

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DESIGN

por marilane borges

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Puro décorO Museu das Artes Decorativas de Bordeaux deu uma garimpada em suas

coleções contemporâneas e abriu um espaço totalmente voltado para o design

-- objetos e mobiliário —, onde uma das galerias foi dedicada especialmente às

cadeiras, colocando em evidência a evolução desse móvel e sua importância

decorativa. Alguns dos modelos que podem ser apreciados nesse espaço

são as peças La Mamma, de Gaetano Pesce, ou Tongue, de Pierre Paulin,

entre outras. O design francês dos anos 80 está bem representado com

as criações de Philippe Starck, Martin Szekely, Garouste et Bonetti, Andrée

Putman, Olivier Gagnère, com modelos históricos que marcaram época e

testemunham a diversidade da criação do mobiliário do século 20. Grandes

representantes e distribuidores do design, como a empresa belga Quattro

Benelux e a italiana Magis e Jasper Morrison, cederam várias das muitas

peças que compõem essa exposição permanente. www.bordeaux.fr

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moda | joana d’arc n jérôme dreyfuss

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na página ao lado, chapéu nicki Marquardt. colar codello. bolsa Mango. vestido irene luft

joana d’arcfotografia Mick Mazzei / styling angela Skalla

hair/makeup OrlandO@StaMMhauS com produtos da artistry

model Madeline mg models paris

tratamento de imagens wmfusion.com.br

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saia Marcel ostertag. top stephanie caubert. sapatos harlot. lenço codello e luvas roeckl

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casaco irene luft. langerie valisère. luva roeckl. sapatos harlot. na página ao lado, casaco annette goertz

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vestido susanne Wiebe e jaqueta noir

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top stephanie caubert. casaco e bota annette goertz. legging splendid. pulseira Mango

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capa diMitri. vestido ireneluft. sapatos sportMax e luvas roeckl

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cinto firetrap. vestido irene luft.

botas ilse jacobson. chapéu nicki Marquardt.

luvas roeckl. colar codello

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vestido lecoanet heMant. casaco MaxMara

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Jovem estilista e designer de bolsas parisiense, ele inaugurou recentemente sua nova boutique de It-bags na capital da moda, Nova York, e ainda continua atônito com a repercussão publicitária de suas bolsas na cidade, sobretudo depois que Sarah Jessica Parker surgiu com uma “Twee Mini”, modelo Moka, e essa aparição pública fez com que a peça se tornasse, em menos de uma semana, sold out. Dreyfuss não gosta de falar no assunto e prefere reforçar em seu discurso que ele é apenas um pequeno artesão, “para mim, não é importante saber se uma celebridade usa minhas criações, o que me interessa de fato é ver nas ruas pessoas normais com minhas bolsas. Isso é muito mais fascinante”, afirma. Parece que nem mesmo a Big Apple vai conseguir afetar sua modéstia a toda prova.

Jérôme DreyfussO criador mais copiado de Paris acaba de inaugurar sua butique

no coração fashion de Nova York, o SoHo, com suas bolsas exclusivas disputadas por celebridades e anônimos

por Marilane Borges

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No dia em que a boutique foi inaugurada, ele diz que ficou emocionado quando viu seu nome na fachada da loja nova-iorquina, “foi como se estivesse escutando Gainsbourg cantar: Eu vi New York, New York, USA...” Num espaço de 250 metros quadrados, totalmente dedicado às bolsas, situado no SoHo, a primeira coisa que chama a atenção é o carpete com a frase escrita em letras gigantes: “Come and meet your new french lover”. Impossível resistir a esse sedutor apelo, sobretudo porque tudo ao redor é decorado com bolsas de todos os tamanhos, cores, padronagens e formatos, algo irresistível, especialmente para as mulheres. O ambiente não tem muitos móveis, mas é cheio de luminosidade, com um pequeno jardim nos fundos. No seu interior, decorado com prateleiras, com cabides de madeira e suportes de aço escovado, os clientes podem visualizar as novas coleções de todos os modelos sugeridos e desfilar com suas futuras It-bags, que têm como marca registrada o estilo despojado e inventivo do seu criador.

Ele é um dos estilistas mais promissores desta nova geração de designers e, em 1998, encantou todos com sua coleção de prêt-à-porter, conquistando o prêmio “Criador do futuro”. Apesar disso, em 2002, Jérôme Dreyfuss abandonou as passarelas para se dedicar exclusivamente ao design de bolsas. Depois de sua experiência no prêt-à-porter, que lhe rendeu grande visibilidade internacional, mas alguns percalços financeiros e administrativos que o impediram de prosseguir na carreira de estilista, Dreyfuss decidiu se especializar no desenho de bolsas e, para seu espanto, o sucesso se repetiu.

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Tanto que dessa dedicação especial nasceu há alguns meses sua segunda boutique própria em Nova York, depois do sucesso de sua bem-sucedida matriz em Paris. Desde o princípio, ele não queria que suas criações fossem apenas mais uma coleção de bolsas no mercado. Desejava algo marcante, único. Foi assim que, além de utilizar tintura natural em seus produtos, Dreyfuss registrou a marca, até então não batizada, com o nome de Agricouture, dando início à sua patrulha ecológica em prol da preservação do couro dos animais. Para que suas criações tivessem personalidade, ele humanizou todas as bags, dando nomes masculinos, como Aldo, Carlos, Max, Gilbert... O designer descreve que tudo começou quando estava no seu atelier escutando uma música do grupo Gnawa Diffusion, “a letra da canção que estava ouvindo dizia: ‘Eu queria ser uma cadeira num salão de beleza para mulheres...’ Foi o tilt que precisava, nesse mesmo momento decidi que queria ser uma bolsa para ser levado para todos os lugares pelas mulheres”, relata, entusiasmado. Parece mesmo que Dreyfuss conseguiu seduzir as mulheres, porque tanto as estilosas parisienses quanto as ultrafashions nova-iorquinas, sejam celebridades, sejam anônimas, confirmam o mesmo veredito: todas desejam ter uma das bolsas desenhadas por ele, de preferência, um dos seus modelos únicos e exclusivos! A

Boutique Jérome Dreyfuss

www.jerome-dreyfuss.com

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joias | diamantes

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Com perdão do trocadilho, que atire a primeira pedra a mulher que nunca desejou adornar o dedo anular com um anel de diamantes. A pedra preciosa mais conhecida do mundo exerce em qualquer garota um poderoso fascínio desde a infância. Que menina, nas brincadeiras, nunca provocou a amiguinha exibindo um anelzinho de lata com uma pedra de vidro que a fantasia transformava em um caríssimo diamante imperial de muitos quilates? Apresentadas desde pequenas a esta obra-prima da natureza, mulheres de diferentes culturas ao redor do globo reconhecem a força da mensagem associada a um diamante. A pedra marca momentos que ficam na memória para sempre: os 15 anos, o noivado, o casamento, as bodas... “É sempre um presente carregado de emoção, e por isso mesmo inesquecível”, atesta Christian Hallot, embaixador da marca brasileira H.Stern. Em funcionamento há 65 anos, a rede de joalherias comercializa joias com 40 pedras preciosas. Mas o diamante continua o preferido de 10 entre 10 mulheres e está presente em 15% de todas as peças vendidas. O segredo desse sucesso, segundo Hallot, é o design bem elaborado, que torna joias com diamantes atemporais.

O diamante é considerado o rei dos minerais por ser raro, precioso e extremamente cobiçado. A origem do nome, Adamas, é grega. Significa invencível, indomável. É formado a uma profundidade entre 80 e 190 quilômetros abaixo da crosta terrestre, onde há pressão e temperatura adequadas. As pedras sobem à superfície com a ajuda de vulcões. Acabam caindo nos leitos dos rios, onde são garimpadas. Também podem ser extraídas do seio da Terra com escavações das jazidas nas chamadas minas. Há registros de que o diamante já era usado em peças de joalheria, na Índia, há 2.800 anos. Uma lenda milenar conta que o poder mágico e irresistível das flechas de Cupido vinha do diamante que

diamanteo b j e t o d e d e s e j o

A p e d r a m a i s c o b i ç a d a d a j o a l h e r i a f i c a r á m a i s r a r a

por Aimée LouchArd

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ornava a ponta de cada uma das setas. Símbolo de força e coragem, só era usado pelos reis até o século 15. Em 1477, contudo, coube ao arquiduque austríaco Maximiliam o feito de torná-lo mais conhecido e desejado. O nobre presenteou a prometida dele, a princesa Maria da Borgonha, com um anel de diamantes. Surgia assim a tradição do anel para selar o compromisso do noivado. Até o século 18, a Índia era o único fornecedor da pedra. Hoje, ela é encontrada em mais de 25 países, com destaque para o volume de produção da África do Sul, de Angola, Botsuana, do Brasil, da Austrália e do Canadá. Calcula-se que a primeira erupção que fez surgir os diamantes tenha ocorrido a 2,5 bilhões de anos e a mais recente há 45 milhões de anos. Portanto, se você tem um diamante, saiba que carrega com você um pedacinho antigo, muito antigo, deste planeta.

Ser detentora desse tesouro tem um preço. As bolsas de diamantes de Amsterdã (Holanda), Antuérpia (Bélgica) e Ramat-Gan (Israel) estabelecem o preço internacional da pedra. A unidade de medida é o quilate, que equivale a 0,2 grama ou 100 pontos. A formação do preço final leva em conta os quatro Cs: carat (quilate), clarity (transparência), cor e cut (corte ou lapidação). A pureza da pedra define o quilate. Assim, quanto menos inclusões (resíduos) de carvão houver, mais pura ela será. Embora os diamantes transparentes sejam os mais conhecidos, também existem pedras nas cores rosa, champanhe e azul. O mais belo corte para o diamante é o chamado brilhante, criado pelo joalheiro veneziano Peruzz, no fim do século 17. Essa lapidação tem forma redonda e compõe-se de 58 facetas.

Como presente ou adquirido pela própria usuária, o brilhante continua imbatível ao longo dos séculos. Quem garante é a designer carioca Francisca Bastos, que há dez anos tem a própria marca de joias. Ela ressalta que o brilhante pode ser usado em um anel solitário, na forma de ponto de luz de 1 quilate para iluminar as orelhas ou em alianças com 22 a 25 pedras engastadas num aro de ouro branco. No ateliê em Ipanema, as alianças são o carro-chefe da vitrine, com preços entre R$ 5 mil e R$ 8 mil. “É um modelo clássico que responde por 40% das vendas. Quem não tem sonha em ter uma”, destaca Francisca.

Pois se esse é também o seu sonho, convém não vacilar. A mais cobiçada das pedras da joalheria está entrando em um processo de escassez mundial. O aviso foi dado pela De Beers, o maior grupo produtor do mineral no planeta. Segundo o diretor-geral da empresa, Gareth Penny, a produção mundial estimada para 2011 será de 40 milhões de quilates, o que representará um decréscimo de 20% em relação a 2008. Ele atribui a queda na produção à estratégia das mineradoras de “colocar o pé no freio” na extração de pedras. De acordo com as projeções, o preço para o cliente nas joalherias deve crescer em 5% ao ano pelos próximos cinco anos. A maior preocupação da indústria do diamante é que não se encontram novas jazidas há 20 anos. Como recurso natural de grande valor, os diamantes devem ser cuidadosamente preservados. “Se mantivermos a produção nos níveis atuais, em 15 anos já não haverá mais como extrair diamantes comercialmente”, alertou Penny.

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Longe da pia, por favor – Embora sejam minerais sólidos, diamantes exigem cuidados para que permaneçam belos e protegidos de danos. A luminosidade de todo diamante depende da quantidade de luz que entra na pedra e o reflexo desta para o olho humano. Contudo, o menor depósito de gordura na superfície da gema pode comprometer esse brilho. Até mesmo o toque de um dedo deixará um rastro de oleosidade natural. Pelo menos a cada semestre, entregue seus diamantes a um joalheiro de confiança. Além da limpeza profissional, ele avaliará se as pedras estão firmes nos engastes e, se for o caso, fará os devidos reparos. Definitivamente, não permita limpezas ultrassônicas, pois as vibrações desse processo podem danificar irremediavelmente as suas pedras.

Para manter seus diamantes limpos entre as visitas ao profissional, dilua um pouco de detergente neutro líquido em água e aplique-o sobre a pedra com uma escovinha de cerdas naturais. Escove suavemente, enxágue e seque com um pano macio e sem fiapos. Por favor, nunca limpe os seus diamantes na pia ou perto dela. Se o fizer, certifique-se de que ela está tapada. E se usar creme nas mãos, espere

pelo menos 15 minutos antes de recolocar seus anéis. O que pode arranhar um diamante? Outro diamante. Para prevenir tais arranhões, separe no estojo de joias as peças com diamantes das demais. Diamantes também podem arranhar outras gemas, pérolas especialmente. Durante as viagens, adote um porta-joias, com compartimentos individuais para guardar as peças separadamente e em segurança.

origem certificada – Até o início do milênio, ninguém se preocupava com a origem dos diamantes que usava. Em maio de 2000, foi criado o Kimberley Process Certification Scheme. O objetivo é impedir que diamantes obtidos através de propósitos ilícitos entrem no mercado internacional. Os “diamantes de conflito” são diamantes brutos ilegalmente comercializados para financiar rebeliões em zonas de guerra, particularmente na África central e oriental, em países como Angola, Costa do Marfim, República Democrática do Congo e Serra Leoa. Estabelecido em 2002, o Processo Kimberley é uma iniciativa dos governos africanos, da indústria

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diamantífera e da sociedade civil, com o aval das Nações Unidas, para inibir a rota internacional dos “diamantes de conflito”. É um sistema inovador, voluntário e exigente que impõe restrições para certificar que os lotes de envio de diamantes brutos não contenham “diamantes de conflito”. Os olhos do mundo se voltaram para os “diamantes de conflito” durante os brutais conflitos em Serra Leoa. Iniciada no fim dos anos 1990 e terminada em 2002, essa guerra foi retratada no filme Diamante de Sangue. Estima-se que durante aquele período os diamantes ilegais representavam aproximadamente 4% da produção mundial. Graças à adoção do certificado Kimberley, os “diamantes de conflito” representam hoje menos de 1% da produção global de diamantes. Atualmente, os fornecedores de 99,8% da produção mundial de diamantes brutos são monitorados pelo processo Kimberley.

Joias de cinema – A sintonia entre divas, diamantes e cinema parece longe de terminar. Tal como um caso de amor eterno. Não foram poucas as vezes em que a sétima arte retratou ou tornou pública a paixão de grandes estrelas pelas pedras preciosas mais cobiçadas do planeta. Em 1953, a então iniciante Marilyn Monroe estrelou Os Homens Preferem as Louras, uma comédia musical sem maiores pretensões, cujo ponto alto acabou sendo a canção “Diamonds Are a Girl’s Best Friend” (em português, Diamantes São o Melhor Amigo de uma Garota). Marilyn acreditava exatamente no que cantava, tanto que compareceu à première do filme envergando

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no pescoço um colar com o Lua de Baroda, um diamante de 21 quilates em corte pera. Tempos mais tarde, rica e famosa, seguiria à risca a letra da canção que a tornou célebre, colecionando várias joias com diamantes.

Filmes também ajudaram a consolidar grifes de joias. O Tiffany Yellow é um dos maiores diamantes amarelos já descobertos. Pesa 287 quilates (57,5 gramas) e pertence à prestigiada joalheria Tiffany & Co. Em 1961, o filme Breakfast at Tiffany’s (Bonequinha de Luxo, aqui no Brasil) ajudou a badalar a imagem da loja. O Yellow Tiffany aparece nos cartazes publicitários do filme. E a inesquecível Audrey Hepburn foi uma das privilegiadas que puderam um dia usar a joia. A paixão que surgiu nos sets de filmagem entre Richard Burton e Elizabeth Taylor fez a alegria dos joalheiros. Durante o tempo em que estiveram casados, Liz aumentou consideravelmente sua coleção de diamantes. Para começar, em 1969, para demonstrar à amada o tamanho de seu amor por ela, Burton presenteou-a com um diamante azul – “em homenagem aos seus olhos”, teria dito – de 69.42 quilates (13,88 gramas), extraído da Mina Premier, na

África do Sul, a mais famosa do mundo. Após o divórcio, o diamante foi leiloado, em 1978, por US$ 5 milhões. O notório apreço de Liz Taylor pelos diamantes serviu de inspiração ao artista plástico brasileiro Vic Muniz, que na retrospectiva, apresentada no Rio de Janeiro e em São Paulo, em 2009, apresentou um retrato da atriz preenchido por centenas de pequenos diamantes. Produções milionárias também costumam encomendar joias verdadeiras para serem usadas pelas estrelas nos sets de filmagem. O colar de platina e diamantes usado por Nicole Kidman em Moulin Rouge: O Amor em Vermelho, de 2001, foi a peça mais cara já feita sob encomenda para um filme: custou US$ 1 milhão. O colar Stefano Canturi tinha 1.308 diamantes e pesava 134 quilates. Antes dele, outra joia de diamantes fez sucesso em Titanic, de James Cameron. Era o colar Coração do Oceano, mote da trama e que todos acreditavam estar no fundo do mar. Inspirado no famoso diamante Hope – que tinha sido roubado dos olhos de uma deusa indiana e espalhara um rastro de maldição e sangue –, o enorme diamante azul não passa de um truque de cinema: é uma réplica perfeita de zircônia. A

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moda

por marilane borges

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Enigma dE modaA Somerset House, em Londres, recebe até setembro a exposição ‘20’, que

comemora os 20 anos de um dos designers mais influentes e enigmáticos

da moda contemporânea, Martin Margiela. Com uma abordagem sempre

artística e conceitual do design, a Somerset House tenta capturar a estética

única de Margiela e explorar sua visão da moda durante esses 20 anos

de criação. Por meio da incorporação de instalações, apresentadas em

fotografia, vídeo e cinema, a mostra oferece aos visitantes a oportunidade

única de desbravar o mundo criativo do estilista através de informações

sobre a marca e sua filosofia. Tal qual um exame visual dos temas que

sustentam a essência da Maison Martin Margiela desde a sua fundação,

a galeria apresenta a concepção estética do designer, muitas vezes

considerada subversiva, mas que detém uma costura de vanguarda —

discreta e inusitada —, em que seu atelier-couture reverencia a cor branca

e suas boutiques fazem da ilusão de óptica um suporte de decoração

perpetrando o imaginário MMM. www.somersethouse.org.uk

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spa | les sources de caudalie

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VinhoterapiaInstalado no domínio dos vinhedos do Château Smith Haut Lafitte, o Spa Les

Sources de Caudalie é um verdadeiro oásis com charme bucólico-chic

por Marilane Borges, especial da França

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Uma visão de horizonte embriagante, literalmente, essa é a primeira impressão que se tem do Spa Les Sources de Caudalie, rodeado por colinas repletas de vinhedos a perder de vista. Localizado nos arredores do Château Smith Haut Lafitte, que fica a 20 minutos de Bordeaux, o spa é pioneiro no conceito da vinhoterapia, tratamento baseado na utilização dos extratos das sementes da uva para a criação de produtos de beleza, indicados para o rejuvenescimento da pele e, especialmente, recomendados em massagens tonificantes. O spa, de 1.500 metros quadrados, concebido pelo arquiteto Yves Collet, foi inspirado no respeito ao ecossistema que rodeia o local. Ao aliar materiais nobres e naturais, como o mármore, a madeira e as pedras encontradas na região, Collet imaginou espaços que se abrem para os vinhedos ao redor e recebem luz natural, filtrada apenas por janelas que fazem lembrar as famosas moucharabiens, onde as mulheres árabes orientais têm o costume de se esconder para observar o que se passa no exterior, mas sem serem percebidas. Na decoração, o arquiteto optou pelas variedades dos tons ocre, fazendo um contraste suavizante com as cores bordô das uvas e o verde das plantações, presente em todos os espaços e nas 20 cabines de massagem, onde a iluminação é indireta, e o som ambiente, repousante. Na entrada de todos os espaços do spa, desde a recepção até as antessalas de atendimento, delicados cachepôs com cachos de uvas, colhidas diretamente nas vinhas do Château Smith Haut-Lafitte, são colocados

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Spa Les Sources de CaudalieChemin de Smith Haut Lafitte 33650 Martillac, França +33 (0)5 57 83 83 83www.sources-caudalie.com

à disposição dos visitantes. Um pequeno mimo para lembrar que o tempo de espera pode ser um momento relaxante e saboroso. Enormes varandas, acessíveis a partir das salas de espera, rodeiam toda a casa e servem como ponto de contato entre as cabines de tratamento, além de mostrar uma vista panorâmica magnífica das vinhas do château. Para quem prefere se exercitar ou se aquecer enquanto aguarda o momento de ser massageado, o hamman e as piscinas de banho termal com jet-stream podem proporcionar momentos agradáveis. Em dias de sol, um dos luxos que podem ser encomendados no local são as massagens exclusivas, feitas ao pé do vinhedo.

O nome de cada massagem do Spa Les Sources de Caudalie evoca a gama de variedades dos vinhos produzidos no Château Smith Haut Lafitte, como a massagem que atende por Merlot, à base de mel com esse vinho, as gommages Crushed Cabernet ou Friction Merlot, as massagens a seco, preparadas com os vinhos Vigneron e o Sauvignon ou ainda o Pulp Friction. Para relaxar completamente, o indicado é um banho de “Barrique”, com duração de 15 minutos, feito numa piscina em formato de ofurô com água quente enriquecida com algumas doses de extratos de uvas e uma massagista à disposição. Outra dica é o ritual de beleza “Corps de rêve” (Corpo do sonho), com um leque maior de possibilidades, que começa com um banho de imersão com sementes de uvas vermelhas, depois segue-se uma massagem feita com óleos biológicos, misturados com mel e vinho Merlot, e finaliza-se com uma gommage à Cabernet, que pode durar o dia inteiro e a sensação permanecer por muito tempo. Esse é o mistério desse lugar, onde o segredo do bem-estar esconde-se nas sementes das uvas, o fruto dos deuses, capaz de inspirar a beleza de momentos únicos, repletos de paz e quietude interior... A

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gastronomia | blumenthal n haut lafitte

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The crazy alchemistMisto de mestre-cuca, cientista maluco e alter

ego do cozinheiro número 1 do mundo – o espanhol Ferran Adrià –, o chef tecnoemocional Heston Blumenthal coloca a pequena Bray no mapa gourmet e transforma o Reino Unido de túmulo gastronômico em vibrante berço de

experimentações culinárias

por Marco Merguizzo

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Ele está para a alta cozinha do Reino Unido como Mick Jagger está para o rock e David Beckham para o English Team. O irrequieto londrino Heston Blumenthal, de 44 anos, é um dos gênios da culinária vanguardista da terra da Rainha Elizabeth, que até pouco tempo atrás carregava o estigma de “patinho feio” e túmulo da gastronomia mundial. “Quer comer realmente bem? Vá a um restaurante francês, e com um chef francês! Fuja da comida inglesa e dos chefs nativos!”, dizia-se antes do surgimento deste fenomenal cozinheiro autodidata. À frente do The Fat Duck, na pequena Bray, interior inglês, Blumenthal fez conhecida a sua cozinha, apontada desde 2006 como uma das melhores do mundo pela revista Restaurant, tornando-a um fervilhante e revolucionário caldeirão de experimentações gastronômicas. Melhor: ao inaugurar um novo e instigante capítulo na história da restauração inglesa, muitos críticos acreditam que esta deve ser classificada em antes de Blumenthal (a.B.) e depois dele (d.B.).

Exageros à parte, é impossível manter-se indiferente diante das inventivas criações culinárias deste craque do fogão. Assim como se vai ao cinema para ver uma comédia, um filme de ação ou um drama, o restaurante de Blumenthal oferece ao gourmet uma surpreendente e inesquecível viagem de entretenimento. Como o El Bulli, o berço da cozinha tecnoemocional, o The Fat Duck não foi concebido para saciar a fome física apenas, mas para apresentar ao comensal uma experiência gastronômica ímpar, divertida, teatral e científica que estimula o tato, a visão e, principalmente, a memória olfativo-gustativa, com seus cheiros, sabores e até sons, proporcionando a uns poucos privilegiados uma verdadeira aventura lúdica e sensorial. E é exatamente esse o objetivo do chef inglês: explorar a psicologia e a percepção de sentidos. Assim, clássicos como uma prosaica english pie ou um crème brûlée transformam-se nas mãos de Blumenthal em inusitadas preparações que brindam o paladar e os demais sentidos.

Para alcançar tais resultados, o chef passa a maior parte do tempo em seu laboratório, na companhia de cientistas e bioquímicos, criando técnicas, texturas, misturas e sabores completamente inovadores. Caso do sorvete de bacon defumado e ovos. Das hóstias de chocolate com caviar. E do salmão cozido com alcaçuz e geleia de laranja e beterraba, exemplos do verdadeiro ilusionismo cromático que seus pratos proporcionam. Adepto do uso de alta tecnologia aplicada na cozinha, não hesita em utilizar invenções e geringonças moderníssimas, dignas de filmes de ficção científica, como o flavor extractor, instrumento que concentra o sabor dos alimentos.

EstrEla tElEvisiva — Reconhecido pela abordagem científica que dá ao seu estilo de cozinhar, designada pelos críticos como gastronomia molecular ou tecnoemocional, Blumenthal não se limitou ao território da cozinha. Ganhou por isso merecida fama, virando celebridade dentro e fora das quatro linhas do Reino Unido. Apaixonado declarado pelas ciências, o craque dos fogões foi condecorado em 2006 pela Coroa Britânica com o

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título de “Master da Alquimia Culinária”. E mais: workaholic de carteirinha, transformou-se em respeitado autor de livros, além de apresentador de programas culinários campeões de audiência na tevê inglesa. Dos quatro livros assinados pelo chef, o seu primeiro, A New Approach to Cooking, lançado em 2004, é o mais célebre deles, seguido do mais recente, The Big Fat Duck Cook Book (2008).

Mas foi na telinha que Blumenthal ganhou notoriedade. Ao lado de outros “chefs pops” da atualidade, caso dos compatriotas Gordon Ramsay e Jamie Oliver, protagonizou em 2005 as séries Kitchen Chemistry with Heston Blumenthal, transmitida pelo Discovery Channel (que também viraria livro, editado pela Royal Society of Chemistry e distribuído em 6 mil escolas do Reino Unido e Irlanda) e, em seguida, Heston Blumenthal: In Search of Perfection e Further Adventures In Search of Perfection, ambas veiculadas pela BBC. Outro de seus programas, Heston’s Feasts, teve enorme audiência no Channel 4. Os episódios exibidos recriavam banquetes medievais, com maluquices como um “bolo ejaculador”, torresmo de tetas de porco e um porco inteiro recheado com linguiças. Além do Heston’s Feasts, ele comandou um segundo programa no mesmo canal, chamado Big Chef Takes on Little Chef, também de enorme sucesso. Nele, Blumenthal assume o controle de uma rede de fast-foods de beira de estrada — e falida — chamada Little Chef. Sua missão? Melhorar a comida e o cardápio e, ao mesmo tempo, injetar ânimo nos funcionários e tirar a marca do buraco.

a volta por cima — Prêmios, fama e reconhecimento de público, crítica e de seus próprios pares. Uma longa jornada até o topo da carreira, porém, foi percorrida pelo inglês. Sua genialidade, por exemplo, teria despertado ainda na adolescência. Mais precisamente numa viagem de férias feita com os pais à Provence francesa, aos 15 anos. Nessa incursão, visitou o L’Ouest de Baumaniere, até hoje tido como um dos melhores restaurantes do país. A partir de então, encantou-se pela alta gastronomia e suas alquimias. Autodidata, aos 17 de idade teve sua primeira experiência numa cozinha profissional, no restaurante de Marco Pierre White, Maniur Aux Quat’ Saisons, onde estagiou durante três meses. A seguir, estudou e debruçou-se sobre as cozinhas francesa e inglesa, trabalhando em restaurantes para obter o máximo de conhecimento e experiência possível.

Nesse tempo, seu principal hobby era gastar todo o dinheiro que ganhava durante o ano como vendedor para viajar com a mulher e comer em restaurantes estrelados da França. Chegou, até mesmo, a vender um velho carro da marca Proton numa dessas “férias gastronômicas” que fazia anualmente. “Na verdade, era uma loucura o que fazíamos. Mas valeu muito a pena ter ‘comido’ meu carro! Minha maior ambição, porém, era um dia entrar no Michelin!”, admitiria ele, anos depois. Em 1995, adquire com suas economias um pub a 40 minutos de Londres e decide abrir o The Fat Duck, ao lado do restaurante triestrelado dos irmãos Roux.

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Seis anos depois, também ganharia a cotação máxima do rigoroso guia Michelin, realizando enfim o seu almejado sonho. Quatro anos se passaram e, em 2005, o Duck seria apontado pela revista Restaurant como o melhor do mundo (hoje, ocupa a terceira posição). Mas nem tudo foram flores na vida de Blumenthal. Talvez a pior passagem de sua trajetória tenha ocorrido em fevereiro do ano passado: o “toque de Midas” do chef inglês ameaçou perder o brilho e o seu prestígio ruir irreparavelmente quando alguns dos clientes do Duck tiveram um surto estomacal por conta de uma suposta intoxicação alimentar. O escândalo ganhou grande repercussão mundial, o que culminou com o fechamento do restaurante (por iniciativa do próprio Blumenthal, ressalte-se) durante algumas semanas para as devidas investigações. Suspeita da ação de um vírus desconhecido (o Noros) ou mesmo sabotagem, nada ficou comprovado e Blumenthal deu a volta por cima. Em maio deste ano, ele inaugurou em Bray o seu segundo pub: The Crown. Sempre irrequieto e cheio de planos, promete não parar por aí. Além de um novo livro e uma nova série de tevê, ele vai finalmente abrir as portas, após anos de planejamento e negociação, do seu restaurante na capital inglesa: o Dinner by Heston Blumenthal, no luxuoso hotel Mandarin Oriental londrino – o acontecimento gastronômico mais aguardado de 2010. Decerto, o chef alquimista terá um novo e surpreendente truque culinário – ou vários deles – na manga para apresentar. A

The Fat Duck – High Street, Bray, Berkshire SL6 2AQ, tel. 44 (0) 1628 580333 www.thefatduck.co.uk

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consumo

por fran oliveira

OPERA GANACHE Há cinco anos a Opera Ganache - Alta Confeitaria faz sucesso com

doces criados pelo conhecido chefe confeiteiro Rafael Barros para

eventos e casamentos e também para cardápios de sobremesas

especiais de restaurantes e hotéis. Em final de 2009 a marca fez uma

parceria com o Grupo Pão de Açúcar inaugurando sua primeira loja do

Shopping Iguatemi, com uma coleção especial de doces e novidades

temáticas. Segundo Rafael nos últimos anos a demanda de pedidos de

seus clientes para entregas em casa mostrou a importância de abrir

uma loja para o consumidor final e a oportunidade se revelou favorável

a essa boa parceria. A experiência foi um sucesso e hoje a marca abre

sua segunda loja no novo Pão de Açúcar Panambi, que acaba de ser

inaugurado no bairro do Morumbi. Pão de Açúcar Panambi, rua Dr. José

Ramon Urtiza, 1000, Morumbi. www.operaganache.com.br

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por fran oliveira

Relógio M Sport-Chronograph BMW. R$ 1.813. Eurobike, tel.: (11) 3883-7100

Tenis Tiger Mini - John Cooper Works, R$ 499. Caltabiano Mini, tel.: (11) 3092-1000

Mini Frigobar Urban Chill Box, R$ 1.200 .Caltabiano Mini, tel.: (11) 3092-1000

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A grande lebre, batizada de Hospitality, do artista britânico Barry Flanagan, é o cartão de visitas desse terroir, que abriga um dos vinhedos mais renomados do sul da França. Um local que tem como expressão máxima do seu terroir a filosofia de que, para um vinho ser poderoso, encorpado e equilibrado, é essencial que as uvas estejam em constante equilíbrio com seu ambiente natural, para que haja perfeita harmonia entre o solo e a videira. Esse preceito do Château Smith Haut Lafitte — cuja variação do último termo é “la hitte”, que significa colina em francês arcaico — teve origem no seu passado, permeado de história, que remonta a Verrier Du Bosq, ainda nos idos de 1365. Mas foi no século 18, quando o negociante e navegador escocês George Smith comprou a propriedade e a batizou com seu nome, que teve início a saga desse vinhedo em busca da excelência do Grand Cru Classé de Graves.

Smith Haut LafitteConhecido no mundo inteiro por sua nobre história, que remonta

ao século 18, este château é guardião de excelentes vinhos

por Marilane Borges, especial da França

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Situado em Martillac, rica região vinícola nos arredores de Bordeaux, o Château Smith Haut Lafitte pertence atualmente a Florence e Daniel Cathiard, ex-campeões de esqui francês, entre os anos de 1965 e 1968, que assumiram os negócios da vinícola há duas décadas e investem todo o seu tempo e dinamismo no cultivo dos seus 66 hectares, que abrigam esculturas gigantes de artistas contemporâneos, como a Vénus Bordeaux, de Jim Dine. “A recuperação do vinhedo e toda a reforma do château exigiram investimentos consideráveis, mas nós estávamos dispostos a assumir o desafio de cultivar os 11 hectares de uvas brancas e 45 hectares de uvas vermelhas”, conta Florence Cathiard. As vinhas do château estão localizadas em uma área coberta de günziennes graves, que dão excelente drenagem natural ao vinhedo, forçando as raízes das plantas a ir buscar água e oligoelementos a mais de 6 metros de profundidade. As pedras que compõem o solo local fazem a parte principal no processo de maturação dessas uvas e funcionam como refletores do sol, dando aos vinhos uma característica harmoniosa que, uma vez na boca, apresenta uma apelação elegante, fina e equilibrada. Outra parte importante nesse processo de cultivo está associada às modernas técnicas biodinâmicas de bioagricultura, que foram gradualmente integradas ao château e são, na verdade, estimuladores de defesa natural e enriquecedores do solo, arado a cavalo mecânico. Todos esses elementos foram pensados para incitar o crescimento natural e harmonioso das vinhas, que, normalmente, têm idade média de 38 anos e sua densidade de plantio chega a 9 mil pés

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de videiras por hectare. Para que essa vida útil do terreno perdure, no período da safra a colheita das uvas é feita manualmente e o fruto é transportado em microgaiolas. Primeiramente, a triagem inicial é feita numa espécie de tapete, colocado abaixo das plantas, que retém apenas as melhores uvas e rejeita as partículas vegetais e, desde 2009, a propriedade usa um tapete de triagem óptica bem mais eficiente.

O Château Smith Haut Lafitte usa tonéis de carvalho e de madeira de 110 hectolitros e 80 hectolitros perfeitamente adequados à maturação das uvas, que são esmagadas, mas não vinificadas. A propriedade se beneficia de sua própria tonelaria, instalada próximo aos vinhedos, que abastece metade das suas necessidades. Para a composição do tinto “Smith Haut Lafitte”, a extração das uvas é feita por remontagem, ou seja, são estocadas diretamente nos barris, onde efetuam sua fermentação alcoólica e malolática. Os resultados têm demonstrado uma harmoniosa integração da madeira com o aroma frutal. Com os vinhos brancos, o processo se dá

com a prensagem das sementes, feita em compressas pneumáticas em atmosfera controlada, inerte de nitrogênio, para proteger o suco da oxidação. O suco é derramado, graças à gravidade, nas cubas de aço inoxidável e o processo é iniciado 24 horas antes de o líquido ir para os barris, onde a fermentação começa com as leveduras e pode durar entre 8 e 20 dias, dependendo do clima do ano.

Enogastronomia clássica — Durante algumas décadas, todo o vinho produzido no château era destinado essencialmente à Inglaterra. No entanto, depois que a família Cathiard assumiu os negócios, há 20 anos, outros mercados têm sido explorados, em especial a Ásia. “Hong-Kong, Coreia e Japão fazem parte do negócio potencial do Château Smith Haut Lafitte. Na verdade, o mercado asiático é bastante sensível à cultura vinícola e ao vinho em si, como um dos preceitos para se ter uma saúde equilibrada. Mas vale ressaltar que, cada vez mais, temos recebido um número considerável de brasileiros

Château Smith Haut Lafitte: tonéis de carvalho e de madeira adequados à maturação das uvas

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interessados em nossos vinhos,” revela Florence. Excelente gastronomia, harmonizada com grandes vinhos, é a premissa dos melhores restaurantes do mundo, tanto que todos os chefs que ostentam estrelas possuem uma carta de vinhos à altura de sua clientela internacional. “Nosso segundo vinho, “Les Hauts de Smith”, está presente nos melhores restaurantes e, particularmente, nos bares e bistrôs gastronômicos ao redor do mundo”, conta Florence. “Os vinhos brancos, em especial, têm personalidade forte, são aromáticos e resistem muito bem aos pratos picantes e com preparações à base de curry ou sushis”, completa. Vinho e alta gastronomia sempre estiveram associados e, para confirmar isso, personalidades do circuito enogastronômico, como Enrico Bernardo, considerado o melhor sommelier do mundo em 2004, ou Alain Ducasse e seu sommelier Thomas Combescot, do Saint-Régis, em Nova York, colocam em evidência suas excelentes cartas de vinhos nos restaurantes que orquestram, porque entendem que esse é mais um dos prazeres apreciados pelos

gourmets. Em Londres, o Wonder Bar, na loja de departamentos Selfridges, em Oxford Street, há muito captou esse conceito e instalou máquinas “Enomatic”, um sistema self-service que permite ao cliente comandar e degustar grandes vinhos em taças individuais durante as compras. “As vinhas do Château Smith Haut Lafitte são compostas de 55% de Cabernet-Sauvignon, 34% de Merlot, 10% de Cabernet-Franc e 1% de Petit-Verdot; os brancos correspondem a 90% de Sauvignon, 5% de Sauvignon Gris e 5% de Sémillon”, explica Florence Cathiard. Uma exímia conhecedora do assunto e uma anfitriã perfeita que gosta de receber seus hóspedes e os apreciadores de vinhos em sua residência particular, situada entre os vinhedos do château, para falar de sua grande paixão, sempre com a delicadeza de servir seus convivas com o melhor de sua rica adega. A cultura vinícola e o famoso french paradox devem muito a essa dama do Grand Cru Classé de Graves e à beleza dos seus vinhedos, repletos de obras de arte contemporânea e das delícias de Baco. A

Florence Cathiard: “O mercado asiático é sensível à cultura vinícola, como um dos preceitos para se ter uma saúde equilibrada”

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evento

por marilane borges

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ChoComaniaPor essa novidade as chocólatras não esperavam: as duas maiores paixões

femininas, moda e chocolate, estarão juntas no 16° Salão do Chocolate,

que acontece na Porte de Versailles, de 28 de outubro a 2 de novembro,

quando Paris e o mundo inteiro sucumbem à folia do chocolate. O evento,

que tem por vocação demonstrar ao público as mais mirabolantes ideias

e receitas, agora conta com um time especial de estilistas que, com o

chocolate, desenvolve coleções efêmeras que duram apenas o tempo

da degustação! Essa nova edição propõe uma aliança entre guloseimas,

moda, vinho e café e, como é de praxe, a temática deste ano gira em torno

da moda ética e do consumo bio-ético. Afinal, a tendência do momento é

a ”green attitude” e, como chocolate e moda não têm fronteiras, só nos

resta apreciar e saborear o espetáculo. www.salonduchocolat.fr

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destino | marrocos n munique

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No fim da tarde, em Marrakech, na praça Djemaa el-Fna, um odor característico de rosas invade o ar. Quando se chega mais próximo da medina, o burburinho de vozes fica mais intenso e ouve-se o rufar de tambores. A visão dos transeuntes num intenso vaivém e os aromas variados provenientes das lojas de especiarias fazem com que o viajante descubra o privilégio de apurar os sentidos e desfrute do prazer de visitar o Marrocos,

um dos países mais exóticos e surpreendentes da África.

no reino dos sentidosMarrocos

Descubra a aura mágica de um país ensolarado, plural e surpreendente

texto e fotos de sérgio Pinheiro

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O roteiro de tais descobertas pode começar quer pelo sul, quer pelo norte, pelo mar ou até mesmo pelo deserto. Cada itinerário reserva surpresas das mais variadas. País árabe, de religião muçulmana baseada nos rígidos princípios do Alcorão, o Marrocos tem uma cultura tão peculiar e tão diferente da ocidental que o viajante fica como em um permanente estado de alerta, à espera das novidades que o aguardam a cada curva do caminho. Este reino ensolarado, no noroeste africano, surpreende também aos que imaginam encontrar apenas paisagens desérticas. A diversidade de elementos naturais é enorme. Lá, encontram-se tanto lagos cristalinos quanto cachoeiras — algumas com até 60 metros de altura —, assim como a vegetação rasteira típica dos desertos e também grandes cadeias de montanhas. Vale lembrar ainda os 1.100 quilômetros de litoral, divididos entre as águas transparentes do Oceano Atlântico e as do Mar Mediterrâneo, e para completar este tão rico mosaico tem-se a neve, que emoldura os cumes da Cordilheira do Alto Atlas.

Escolhi começar a minha viagem em Marrakech, passar pelo Alto Atlas, descer até as terras de Ouarzazate para atravessar algumas das portas do deserto do Saara, como Merzouga e Mhamid, cortando, pois, o país ao meio, para terminar na cidade branca de Essaouira, no Atlântico. O povo bérbere, um dos mais antigos do continente africano, ergueu a agitada e misteriosa cidade de Marrakech, onde estão alguns dos hotéis mais exclusivos do mundo. Um deles, o Sublime Ailleurs, para minha surpresa — mais uma! —, é de um brasileiro. O pernambucano Augusto Rodrigues associou-se a um grupo

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português para construir um exclusivo Jardim do Éden terrestre. Outra surpresa sublime: no hotel fala-se português, já que os novos sócios exigem que o staff local seja treinado também no idioma de Camões. Escondido num vasto palmeiral e a apenas 20 minutos do aeroporto, o hotel é como o nome sugere: uma ilha de requinte, privacidade e excelência de serviços, com três vilas particulares em estilo art déco marroquino.

Além das muitas opções de hospedagem para todos os estilos e bolsos, Marrakech oferece experiências inesquecíveis para quem, a bordo de roupas e calçados confortáveis, se dispuser a entrar no espírito da cidade. Isso significa se misturar aos locais nas ruelas da medina para descobrir o cotidiano daquela gente de pele azeitonada e sorriso contido. Esse mergulho na atmosfera de Marrakech proporciona uma autêntica festa para os nossos sentidos. Seja acariciando os milhares de modelos de tapetes kilim nas centenas de lojas grudadas umas às outras, seja degustando um apetitoso cuscuz acompanhado de carne de cabrito ou legumes, seja aprendendo a apurar o olfato e a visão para distinguir a infinita gama de cores e aromas que se desprendem dos temperos, corantes, tecidos, joias artesanais, flores, chás, frutos secos e essências, vendidos por ambulantes a cada esquina.

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A Djemaa el-Fna é a alma da cidade e passar por Marrakech sem conhecê-la é..., bem, vocês sabem, ...como ir a Roma... O nome da praça pode ser traduzido como assembleia dos mortos, pois ali, há séculos, criminosos eram executados e a cabeça deles exposta para servir de exemplo. No entanto, como a palavra “djemaa” também significa mesquita, o nome do local pode ser traduzido como “lugar da mesquita desaparecida”, em referência a uma mesquita destruída. É ponto de saltimbancos, acrobatas, encantadores de serpentes, faquires engolidores de espadas, curandeiros, músicos, dançarinos, videntes, contadores de histórias... À noite, as barracas de comida típica dominam o local e grupos tradicionais de música de todas as partes do país realizam suas apresentações ao ar livre. Depois da saída dos colonizadores franceses, em 1956, instaurou-se no Marrocos a atual monarquia, com a coroação do

sultão e rei Mohamed Ben Yusuf. O soberano foi sucedido em 1961 por seu filho Hassan II, a quem sucedeu, por sua vez, em 1999, o próprio filho e atual rei Mohamed VI, que dotou o país de infraestrutura para o turismo e apoia a democratização.

Para continuar a viagem em direção a Ouarzazate, é preciso cruzar o Alto Atlas, coroado pelas neves eternas. Com paisagens de tirar o fôlego, o roteiro pode ser cumprido em utilitários 4x4, que podem ser alugados, com ou sem motorista, nas agências especializadas em Marrakech. Foi o que eu fiz. Vale a pena! Além de ganhar privacidade, o viajante pode imprimir o próprio ritmo ao passeio e, munido de mapas, optar por rotas alternativas bem mais interessantes. Assim que chega a Ouarzazate e olha para trás, o turista tem uma visão arrebatadora e mais uma vez de contrastes surpreendentes. Em meio a campos de chá e tamareiras, surgem ao fundo as montanhas do Atlas, com os picos cobertos de neve.

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Esta terra marca o início da rota dos kasbas, construções tradicionais desta região do deserto erguidas com uma mistura de água, palha e barro. Importante centro turístico, a cidade dispõe de hotéis requintados que brindam os hóspedes com banhos de pétalas de rosas, entre outros mimos. Rosas são, aliás, uma constante no país. A arte da perfumaria tem pelo menos seis séculos entre os bérberes do Marrocos, que produz mais de 3 mil litros anuais de essência de rosas. Durante os meses de maio e junho, realiza-se na região um grande festival de celebração das colheitas, com danças e cortejos, sob chuvas de pétalas. Também típicas desta localidade são as pintoras de henna, que mantêm uma tradição herdada de mãe para filha na arte da pintura corporal. Dependendo da vontade do cliente, todo o corpo pode ser pintado. Os arabescos, desenhados à mão livre, são fantásticos. Numa mão, os desenhos saem por aproximadamente 40 reais. A henna é uma tintura proveniente das cascas e folhas da planta Lawsonia inermis, de cor castanho-avermelhada ou verde-azeitona, muito usada no norte da África para tatuagens cerimoniais. Após alguns dias, desfaz-se em contato com a água. Ouarzazate é também o centro cinematográfico do país, onde se localizam os grandes estúdios. Tornou-se a meca de celebridades depois que uma série de sucessivas megaproduções de Hollywood transformou

La Mamounia, da rede The Leading Hotels of the World. Avenue Bab Jdid, Marrakechwww.mamounia.com

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a cidade em set de filmagens. Por lá, já passaram os elencos de Gladiador, A Múmia, A Última Tentação de Cristo, Asterix e Babel, entre outros.

A cerca de 460 quilômetros de Ouarzazate fica a aldeia de Merzouga, ao sul do Marrocos. A grande atração são as dunas de Erg Chebbi, algumas com até 200 metros de altura. O isolamento de outros centros já mais influenciados pela presença árabe permitiu que os habitantes, descendentes da antiga tribo amazigh, mantivessem orgulhosos suas tradições milenares. As dunas estão situadas na fronteira com a Grande Hamada do Guir Argelino. Toda a parte lateral sul dessas dunas está rodeada por montanhas que separam o Marrocos da Argélia. Mais ao sul de Merzouga está a pequena Mhamid. É mais uma porta de entrada para o deserto do Saara, onde é possivel adquirir belíssimos tapetes e peças de artesanato confeccionadas por tribos nômades que vagueiam deserto adentro. Muito simples, sem hospedagem refinada, o vilarejo é ideal

para um pernoite ou estada de um dia. O cenário mais encantador da localidade são os jardins de tamareiras, que mais parecem estar suspensos sobre o deserto. Seguindo em direção ao oeste, cheguei ao ponto final de meu roteiro. A pacata cidade litorânea de Essaouira, conhecida entre os marroquinos como a Joia do Atlântico, tem como uma das atrações o majestoso forte português do século 16.

A cidade, toda branca pela pintura da fachada das casas nessa cor, tem um charme ímpar. Destino muito popular entre popstars e celebridades do mundo inteiro, também pode servir como ponto de partida para uma excursão à Cordilheira do Atlas. Eu, que apesar de gostar de experiências radicais e não ter o tempo lento das caravanas nem me sentir com preparo físico para a escalada, optei por acampar em um oásis. Chegar lá na corcova de um camelo e dormir sob o céu estrelado do deserto é uma sensação que não tem preço. Aconselho todo mundo a experimentar. A

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MuniqueA j o i A d A B A v i e r A

A metrópole do Rio Isar abriga uma quantidade enorme de atrações culturais e culinárias

por Fran oliveira

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Quem observar melhor alguns locais de Munique notará que a ci-dade sempre gostou de se inspirar no estrangeiro. Os exemplos mais conhecidos são o Jardim Inglês, os cafés Eisbach e Monopterus e a Torre Chinesa. Há uma atmosfera internacional também nos estúdios de cinema Bavária, onde Orson Wells, Billy Wilder e Gina Lollobri-gida já filmaram. Um maravilhoso e natural cenário está localizado a sudoeste de Munique: o Lago Chiemsee. No centro do maior lago da Baviera, em uma ilha, está o Herrenchiemsee, um dos vários castelos de Ludovico II. Construído no estilo Versalhes, usa todo o terreno da ilha como parque. “Viver e deixar viver” é o lema dos moradores de Munique. A cidade bávara dá a impressão de tranquilidade não só no legendário Viktualienmarkt, que oferece desde verduras frescas até gostosos antepastos. As alegres e imponentes fachadas das casas têm um ar mediterrâneo, assim como as cúpulas barrocas da igreja Frauenkirche. Os maravilhosos jardins e a exuberância arquitetônica do castelo residencial Nymphenburg, onde nasceu Ludovico II, o rei dos contos de fadas. “Entre a arte e a cerveja, como uma aldeia entre

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morros”, assim o poeta alemão Heinrich Heine descreveu a antiga ci-dade do Isar. Realmente, em Munique a cultura tem um papel central. A cidade tem grandes orquestras, entre elas, três de renome mundial, a ópera Bayerische Staatsoper oferece programas quase que diariamen-te. O Lehnbachhaus, a Gliptoteca, as coleções de antiguidades e a Pi-nacoteca formam uma área cultural de época única. O incomparável Deutsches Museum ilustra a ciência e o transporte. Ele não é apenas um dos primeiros museus de ciência e tecnologia do mundo, mas com seus 50 mil metros quadrados de área, também tem a oferecer o ma-ravilhoso pequeno “Kartoffelmuseum”, que não só informa detalha-damente sobre a batata em si como está direcionado a seus aspectos curiosos e artísticos. Este detalhe mostra que Munique, com toda sua atividade e abertura para o mundo, manteve-se fiel às suas antigas tra-dições bávaras. O estádio Olímpico e a Cervejaria Hofbräuhaus, as tavernas de cerveja ao ar livre e o Kultfabrik, a Pktoberfest e os shows de rock, os famosos carnavais, com centenas de bailes, a “Doidice de Munique” no calçadão e a famosa dança das mulheres do Viktualien-markt mostram que os opostos se complementam muito bem.

Clássico ou moderno, o made in germany sempre é referência de qua-lidade. As marcas de ponta entre os Alpes e o Mar do Norte mostram

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que luxo e moda provenientes da Alemanha abran-gem um amplo espectro: do clássico ao inovador. Visite as nobres lojas dos tradicionais artefatos de couro, como Goldpfeil ou Bree; as exclusivas casas de artigos para escritório da Montblanc. Passeie pe-los inúmeros outlet centers e escolha produtos de re-nome internacional em uma atmosfera requintada. Montblanc — John F. Kennedy escrevia com ela. A tradicional empresa ainda faz quase totalmente à mão o acabamento de suas nobres canetas e de ou-tros artigos para escritório com a típica estrela bran-ca, nas proximidades de Hamburgo. Dez lojas Mon-tblanc vendem seu exclusivo sortimento em Bremen, Dusseldorf, Frankfurt, Hamburgo, Hannover, Colo-nia, Leipzig, Munique, Nuremberg e Stuttgart.

Chefs de cozinha criativos concedem à varie-dade culinária uma leveza moderna. Consistente. Forte. Calórica — a cozinha tradicional alemã é um prato cheio. Forra o estômago e esquenta a alma. Exemplo: o temperado chucrute, o suculento assado

de porco, o joelho de porco ou o pernil à pururuca. Com batatas douradas, das quais o rei da Prússia, Frederico, o Grande, gostava tanto. Com frios em todas as variedades e pães vitaminados. Do brezel ao pumpernickel, passando pelas nozes. Das ofer-tas, cada região produz novas iguarias, conservan-do orgulhosamente as próprias receitas. No norte, os cozinheiros não misturam somente peixe e nata, mas também o fazem com peras, vagem e bacon. No sul e no oeste, acompanham a carne os saboro-sos knödel ou nhoques grandes, redondos e macios. Do leste provém a fina salsicha thüringer, com seu aroma de manjerona. Não pode faltar num grelha-do. Na região da Floresta Negra há o maravilhoso presunto; na Suábia, as massas spätzle; no Hessen, o handkäs; na região de Baden-Wurtemberg, o aspar-go; na Baviera, a mostarda doce. Há tempo que na Alemanha se dá atenção não só à qualidade nutriti-va mas também ao prazer do saudável. É a tendên-cia ao refinamento. Jovens artistas do fogão, cheios

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de imaginação, e chefs condecorados criam dos produtos tradicionais excelentes e leves pratos modernos. Para comer no restaurante do chef Harald Wohlfahrt deve-se fazer reserva com bastante antecedência. O Schwarzwaldstube, em Baiersbronn, na Floresta Negra, está ante-cipadamente lotado para muitos meses. Não é de se surpreender, pois ele consta na lista dos melhores endereços culinários da Alemanha. Há anos, o Guide Michelin, a bíblia francesa da cozinha, o honra com três estrelas. Dessa forma, Harald Wohlfahrt chefia imbatível a turma dos cozinheiros de primeira classe. Quem pôde vivenciar o entusiasmo sempre novo e a ousadia de Wohlfahrt, mesmo após quase um quarto de século ao fogão, eleva-o ao olimpo da grande cozinha europeia. Tanto faz se no prato se encontram os seus Ravióli — Mexilhões Jacó em Caldo de Açafrão com Pesto ou o Carré de Cordeiro com Limão e Coentro, Leque de Verduras Provençal e Glacê Balsâmico. Menus para o bem-estar são um prazer sensual, balanceado, claro e harmôni-co e, às vezes, quase modesto. Pelo menos à primeira vista. A

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motor | bmw

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BMWo futuro mora ao lado

A sociedade, atualmente, tem sido confrontada por desafios crescentes. Mais e mais fatores estão influenciando as implicações da ação individual e corporativa. O mundo está em um estado de agitação ambiental, econômica e social. Mas em quais mudanças devemos focar nossa atenção e como

podemos responder a elas?

por Fran oliveira, de Munique

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Mudança climática e o aquecimento global resultante são uma realidade. A década de 2000 a 2009 foi certamente a mais quente jamais registrada, ainda que os esforços mundiais para neutralizar os problemas tenham sido também os maiores de todos os tempos. A queima de combustíveis fósseis, em particular, gera dióxido de carbono (CO2), que é prejudicial ao clima e agrava ainda mais o efeito estufa, acelerando assim o aquecimento global. A fim de desacelerar a mudança climática e possivelmente até mesmo pará-la, o mais importante desafio é, portanto, reduzir significativa e rapidamente as emissões de CO2. Meios possíveis de fazer isso incluem uma mudança dos combustíveis fósseis para fontes de energia renovável, bem como o aumento da eficiência de todo o consumo de energia. Além das mudanças no nosso clima, todo o planeta é afetado acima de tudo pela iminente escassez de recursos. Matérias-primas-chave como petróleo e metais preciosos não possuem oferta ilimitada, ainda que a demanda diária

esteja aumentando. Uma das causas da diminuição dos recursos reside na crescente industrialização das nações emergentes. Mas o desenvolvimento populacional, a elevação dos padrões de vida e o uso irresponsável de matérias-primas também estão contribuindo para essa tendência. Conclusão: os preços estão subindo em todas as commodities. Em um futuro previsível — o ponto exato no tempo é contestado — será atingindo o limite global máximo de extração de petróleo (“pico de petróleo”). Desse ponto em diante o abismo entre a oferta e a demanda crescerá ainda mais e não será possível suprir todas as necessidades. É por isso que a busca por alternativas ao petróleo já está avançando a todo vapor.

SuStentabilidade como uma tendência Social — Por causa da escalada dramática dos desenvolvimentos climáticos e da redução de recursos, a humanidade está se tornando cada vez mais consciente do seu papel no sistema ecológico. Muitas pessoas já entenderam

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a mensagem: elas se veem como parte de um sistema universal e querem se comportar de forma ponderada e responsável — especialmente ao ter em mente as futuras gerações —, adotando um estilo de vida sustentável. Contudo, “sustentável” significa mais do que apenas “não agredir o meio ambiente”. Conforme geralmente compreendido, o termo “sustentabilidade” possui três aspectos: ambiental, econômico e social. Sustentabilidade ambiental descreve o objetivo de preservar a natureza e o meio ambiente para as futuras gerações, isto é, utilizando recursos responsavelmente. Sustentabilidade econômica requer comportamento econômico que ofereça uma base robusta e duradoura para o comércio, para o trabalho e para a prosperidade. Sustentabilidade social significa o desenvolvimento da sociedade para assegurar o envolvimento de cada membro de uma comunidade. Como uma das primeiras empresas a fazer isto, o BMW Group já se comprometeu com a sustentabilidade em todos esses três aspectos, tendo em vista a criação de valor agregado para a empresa, para o meio ambiente

e para a sociedade. O fato é que, também nos negócios, a sustentabilidade é percebida como cada vez mais importante e refletida em ferramentas como o Índice Dow Jones de Sustentabilidade. Tais índices compartilhados não apenas avaliam as empresas de acordo com critérios econômicos mas também levam em conta aspectos ecológicos e sociais. Nesse contexto, o BMW Group tem sido líder no seu setor nos últimos cinco anos.

urbanização creScente — As cidades requerem novas soluções para a mobilidade. Uma maior tendência que se pode observar é a crescente urbanização. Mais e mais pessoas estão se mudando do campo para os centros urbanos, vilas estão virando cidades, as fronteiras entre município e campo estão acabando. Desde 2007, mais da metade da população mundial tem migrado para as metrópoles. De acordo com previsões da ONU, a proporção da população mundial vivendo em cidades aumentará em 60% por volta de 2030, e em 2050 alcançará 70%. Mesmo hoje há mais de 130 cidades

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no mundo todo com mais de 3 milhões de habitantes.Um efeito colateral particular da urbanização é o surgimento das chamadas “megacidades”. Dependendo da definição, o termo “megacidade” ou “mega-área urbana” é usado para descrever lugares com, no mínimo, 8 milhões de habitantes. Se por um lado essas cidades estão crescendo cada vez mais rápido, também estão aumentando os desafios como superlotação e poluição. E as megacidades ainda não são parecidas: Xangai, Londres, Los Angeles e Tóquio são certamente megacidades por definição, mas são amplamente distintas em sua infraestrutura de transportes, bem como com relação às demandas de seus cidadãos por mobilidade pessoal. A influência do crescimento na infraestrutura urbana varia de cidade para cidade.

Os governos de vários países também estão tomando medidas como consequência da mudança climática e da redução dos recursos. Eles estão tentando combater o aumento da emissão de CO2 com a introdução de certificação para veículos com emissão de poluente zero,

restrições no acesso a vias públicas e uma ambiciosa legislação de frota. Os EUA, a Europa, a China e o Japão, por exemplo, estão pedindo por uma redução na emissão total de poluentes dos veículos de até 30% até 2020, em comparação com 2008. A mobilidade do futuro requer um novo equilíbrio entre exigências globais e necessidades individuais. São necessárias novas soluções para a mobilidade pessoal em áreas urbanas. Elas precisam ser reconhecidamente sustentáveis e, o máximo possível, não dificultadas por restrições, e ao mesmo tempo oferecer a possibilidade de diferenciação. Nisso tudo, a redução do consumo de combustível e da emissão de poluentes será cada vez mais importante.

O BMW Group tem reconhecido essas necessidades e tem, por si próprio, assumido o objetivo de tornar possível a emissão zero de poluentes na mobilidade. Com isso em mente, está desenvolvendo um veículo que abra novas possibilidades nesta área e possa se adaptar à evolução das necessidades do consumidor. “No futuro ainda haverá uma necessidade por mobilidade

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individual. Os clientes sempre querem decidir por si próprios quando, onde e como eles vão viajar. Mas eles vão querer fazê-lo da forma mais ambientalmente responsável possível. E o desejo de ser diferente dos outros ainda estará lá – por exemplo, um desejo de se destacar na multidão com a aquisição de produtos premium”, diz Peter Ratz, chefe de desenvolvimento do Projeto i. Lançado no fim de 2007, a missão concreta é desenvolver novos e pioneiros produtos estreitamente voltados para os desafios futuros e demandas do cliente no campo da mobilidade urbana.

O BMW Group vê a eletromobilidade como um meio possível de atender à demanda futura por mobilidade pessoal. Aqui, uma grande vantagem reside na emissão zero de poluentes locais. Como a e-mobilidade envolve a conversão de corrente elétrica em vez do combustível em propulsão, nenhum gás nocivo ao clima é criado durante a viagem. Se a energia para dirigir o veículo é obtida de uma fonte renovável, como o vento ou a força da água, a e-mobilidade é neutra climaticamente e conserva os recursos naturais, uma vez que mesmo na geração de energia necessária nenhum CO2 atinge o meio ambiente. Por um lado, veículos elétricos

contribuem dessa forma para reduzir a emissão de poluentes e aumentar a qualidade de vida nas grandes cidades. Por outro lado, a e-mobilidade responde assim à crescente necessidade do consumidor de atuar de uma maneira holística, ecologicamente sustentável e ambientalmente responsável. “A eletromobilidade permite que as pessoas se locomovam individualmente sem poluir o meio ambiente com emissões nocivas de poluentes. Nós estamos muito conscientes dos limites da eletromobilidade, mas isso não impede que superemos esses limites passa a passo, dia a dia”, afirma Martin Arlt, diretor do Centre of Competence for Electric Mobility. Os engenheiros de desenvolvimento da companhia reconheceram áreas na eletromobilidade que precisam ser melhoradas e estão trabalhando intensivamente em soluções ideais e amigáveis para o cliente. Nesse contexto, a empresa está realizando extensos projetos piloto na Alemanha, no Reino Unido e nos Estados Unidos para obter informações valiosas sobre o uso e a operação de e-veículos e para torná-los ainda mais adequados às necessidades do cliente. Como mostram os primeiros resultados dos testes do MINI E, o BMW Group está na trilha certa. A

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náutica | strand-craft 122 open

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boat and car

Monarquia constitucional e com sistema parla- mentar de governo, a Suécia tem uma economia altamente desenvolvida e leis rígidas em relação à proteção do meio ambiente. Na indústria madeireira, cada árvore cortada é compensada por mais quatro mudas, fazendo com que em 100 anos o país dobre o número de hectares de suas florestas. A Suécia, assim como o resto da Escandinávia, tem uma grande quantidade de lagos — prin- cipalmente no sul com o Vänern, o Vatern e o Malaren. Os maiores rios estão na parte central e norte, sendo que descem dos montes escandinavos e deságuam no Mar Báltico. Fundada em Grums, uma pequena cidade à margem nordeste do Lago Vänern — maior mar interno da Europa —, a empresa Strand-Craft Boats dedica-se a construir obras de arte nessa região da Escandinávia que tem longa tradição em construção de barcos.

Iate de 17 milhões de libras tem seu próprio carro, que pode ser

guardado a bordo

por raphael Cintra

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Cada barco construído tem uma personalidade. Os mínimos detalhes são meticulosamente pensados. A carpintaria, o cromado, o trabalho de laqueação, o couro, os tecidos e os acabamentos são todos de altíssima qualidade. O Strand-Craft 122 Open — iate de 38 metros, ultraluxuoso e muito rápido — é a mais recente obra de arte dessa conceituada empresa que oferece como “brinde” aos compradores um supercarro com motor V12 twin-turbo de 892 cv. Serão apenas seis modelos já com cinco possíveis compradores capazes de desembolsar 17 milhões de libras por um superiate de 122 pés empurrado por dois motores a diesel MTU Series 4000, chegando a mais de 9.300 cv. E ainda existe a opção de um motor adicional Vericor TF 50 para mais 5.170 cv extras. Para não ser superado, o supercarro alcança a velocidade de 233 milhas por hora. Essa oferta “compre um, leve dois” foi lançada recentemente e tem atraído a atenção de bilionários do mundo todo. O iate tem decoração art déco, quatro grandes salas, área de recepção, salão, sistemas de som de última geração em cada cômodo – todos personalizados. Segundo Kurt Strand, fundador da empresa, o barco e o supercarro foram construídos para os muito ricos. “Temos interesse em todo o mundo. Mais especialmente no Oriente Médio. Nosso projeto foi pensado para as pessoas que desejam o melhor do luxo”, afirma. A

O interior do iate tem decoração art déco. O estilo pode ser mudado, de acordo com o gosto do comprador

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catwalk

por marilane borges

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Romantic giRl A coleção primavera/verão da Lanvin apresentou uma mulher de silhueta

sexy e atemporal, desfilando com vestidos, saias e combinações, que

não obedecem a uma escala de tamanho, as peças podem ser curtas

ou longas sem fazer concessões. Modelos de um ombro só, tomara-

que-caia, muitos babados, transparências e rendas que dão o tom dos

figurinos da nova tendência da moda bucólica e chique.

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