Upload
simonepugliesi
View
41
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Peça de teatro
Citation preview
1
A Maldição
dos fabulosos
Grimm
Por: Rafael Magalhães
2
PERSONAGENS
JACOB GRIMM
WILL GRIMM
RAINHA MÁ
CHAPEUZINHO
CAÇADOR
LACAIO
BRANCA DE NEVE
LOBISOMEM
3
CENA I
Jacob está deitado, encostado confortavelmente em um tronco de árvore. O rapaz tem seu
rosto coberto por um chapéu que acolhe os doces sonhos que desfruta. Uma voz suave e
meiga rompe o silêncio, ela balbucia uma canção triste e tocante, Jacob permanece
dormindo, embalado pela doce melodia que aos poucos revela sua dona. Surge uma moça
delicada de ar primaveril, ela está coberta com um manto vermelho, nas mãos á moça
carrega uma cesta de palha. Ela cantarola sua canção, como se fizesse uma prece pedindo
que o medo lhe deixe seguir. Mas o medo a persegue e nem a canção cantada cada vez mais
alto, cada vez mais forte o inibe, e tudo ao redor se torna maior, as sombras se tornam
monstros cruéis, sons de animais viram ameaças contundentes e toda a floresta cinza de ar
macabro e de solo infértil parece ganhar vida. Ela rodopia perdida nas asas da sua
imaginação. A menina busca um caminho que a leve para fora do lugar, gira com uma
intensidade que de pouco em pouco se torna mais e mais intensa, até que caí sobre Jacob.
Jacob – Santo Deus!
Chapeuzinho – Ó por favor, perdoe-me! Como posso eu ser tão desastrada?
Jacob – Você quase me matou de susto!
Chapeuzinho – Você não sabe como estou envergonhada.
Jacob – Devia prestar mais atenção onde põe esses pés pesados.
Chapeuzinho – Eu estava tão distraída que nem mesmo vi você aqui...
JACOB ANDA DE UM LADO PARA OUTRO NA TENTATIVA DE RECONHECER O
LUGAR ONDE SE ENCONTRA.
Chapeuzinho - juro que não fiz por mal...
JACOB CONTINUA INVESTIGANDO O LUGAR
Chapeuzinho – Minha vovozinha sempre me diz para prestar mais atenção...
JACOB MOSTRA-SE INQUIETO ANDA DE UM LADO Á OUTRO
Chapeuzinho – Mas não sei por que eu sempre acabo me distraindo com...
4
Jacob – Quieta! (PAUSA) Me diga uma coisa; a onde nós estamos?
CHAPEUZINHO NADA DIZ
Jacob – Você não me escutou, perguntei onde nós estamos?
CHAPEUZINHO CONTINUA SEM RESPONDER
Jacob – O que há com você? Porque não diz nada?
Chapeuzinho – Você disse pra eu ficar quieta
Jacob – Esqueça isso. Onde nós estamos?
Chapeuzinho – Você não sabe onde está?
Jacob – Não! Você deve estar pensando que eu sou algum louco, mas é que...
Chapeuzinho – Não! Eu jamais pensaria isso
Jacob - é que tem algo neste lugar que me intriga
Chapeuzinho – E o quê é?
Jacob – Este lugar. Todo este lugar!
CHAPEUZINHO VAI PARA O CANTO OPOSTO Á JACOB
Chapeuzinho – Coisas estranhas acontecem nessa floresta
Jacob – Coisas estranhas? Que tipo de coisas estranhas?
Chapeuzinho – as crianças de onde eu moro ao entrarem nessa floresta não voltam mais para
suas casas...
Jacob – Não voltam...?
Chapeuzinho – Não.
Jacob – E por que não voltam?
Chapeuzinho – Ninguém sabe.
Jacob – Não podemos ficar aqui nem mais um minuto, temos que sair logo deste lugar
Chapeuzinho – Não, eu não posso ir.
Jacob – Você só pode estar maluca.
Chapeuzinho – Você não vai me perguntar?
Jacob – Ah! Sim! Claro! Como faço para sair da floresta?
Chapeuzinho – Não é isso.
5
Jacob – E o que é então?
Chapeuzinho - Eu estava falando, se você não vai me perguntar por que eu não posso ir
embora daqui.
Jacob – Não!
Chapeuzinho – Por que não?
Jacob – Tenho medo da sua resposta!
CHAPEUZINHO SE PÕE A CHORAR
Jacob – Não pense você que me importo por você estar chorando
CHAPEUZINHO CONTINUA CHORANDO
Jacob – Por mim você pode passar o dia inteiro aí, se debruçando em lágrimas.
CHAPEUZINHO CHORA MAIS ALTO
Jacob – Eu tenho que seguir o meu caminho.
CHAPEUZINHO SOLUÇA DE TANTO CHORAR
Jacob – Se você quer ficar, o problema é seu.
JACOB ESTÁ PRESTES A SAIR, MAS AO OLHAR PARA TRÁS E VER CHAPEUZINHO
CHORANDO ELE RETORNA
Jacob – Vamos! Por que você está chorando?
Chapeuzinho – Você não entenderia
Jacob – Bom, sendo assim...
JACOB INICIA SUA PARTIDA
Chapeuzinho – espere! Tenho que entregar essa cesta para minha vovozinha
Jacob – Esqueça a cesta, se não vai acabar como as outras crianças.
6
Chapeuzinho – É que minha vovozinha está muito doente
Jacob – Doente?
Chapeuzinho – Sim. E precisa que eu leve essa cesta para ela
Jacob – Precisa?
Chapeuzinho – Por isso não posso ir, tenho que correr esse risco pela minha vovozinha.
Jacob – Risco?
Chapeuzinho – Mas se tivesse alguém corajoso que pudesse fazer isso por mim
Jacob – Corajoso?
Chapeuzinho – Alguém como você que me ajudasse a cumprir essa tarefa
Jacob – Eu?
Chapeuzinho – Eu tinha pensado em alguém como você, mas já que você está se oferecendo.
Jacob – Não, eu só estava...
Chapeuzinho – Não sabe o quanto eu e meus pais ficamos gratos com a sua bondade.
Jacob – Não menina, você não entendeu, eu só...
Chapeuzinho – Para encontrar a casa da vovó é só perguntar, todos sabem onde ela mora.
Jacob – mas é que... eu não posso ir junto com você.
Chapeuzinho – Está dizendo que vai sozinho?
Jacob – Sozinho?
Chapeuzinho – Você é mesmo muito corajoso.
Jacob – Não menina! Você precisa me...
Chapeuzinho – É muita bondade, obrigado, não vamos esquecer isso.
Jacob – nem eu!
Chapeuzinho – Tenha cuidado.
ELA DÁ UM BEIJO FRATERNO NA TESTA DE JACOB E ANTES DE SAIR
Chapeuzinho – não se esqueça que não deve comer o que tem na cesta, tudo que há nela é
para a minha vovozinha. (SAI)
Jacob – Menina!
CHAPEUZINHO JÁ SE RETIROU
Jacob - Aqui faz um frio danado, - vai andando tentando aquecer-se - sai de cena –
7
CENA II
No interior de um castelo, em uma sala tomada pela escuridão, cortada apenas pela luz de
um candelabro, uma bela rainha trajando um longo vestido metalizado, põe-se a admirar sua
beleza diante um espelho rico em detalhes e de belos contornos em madeira de ébano.
Quando um homem de formas e maneiras grotescas, feio como o próprio demônio, adentra o
espaço e espreita a rainha, enquanto ela continua a admirar-se.
Rainha Má – O que faz aí, lacaio? Não me lembro de tê-lo chamado.
Lacaio – e não chamou, tens razão.
ELE CABISBAIXO SE PREPARA PARA SAIR
Rainha Má – Espere Lacaio! Venha! Vamos, não se assuste.
A RAINHA COLOCA O LACAIO DIANTE O ESPELHO
Rainha Má – Agora, olhe para o espelho e me diga o que vê.
ELE FICA INTIMIDADO, COAGIDO, COMPORTA-SE COMO UM ANIMAL,
INCOMODADO, QUERENDO FUGIR
Rainha Má – Eu vos digo o que vejo. Uma aberração, um algo qualquer que não pode ser
chamado nem de animal, muito menos de gente.
ELA SE COLOCA Á FRENTE DO ESPELHO
Rainha Má – Agora me diga o que estás vendo.
Lacaio – Vejo...
Rainha Má – Não olhe para mim, olhe para o espelho. Agora me diga...
Lacaio – eu vejo...
Rainha Má - a rainha soberana de toda a beleza.
Lacaio – Sim.
Rainha Má – Sabes por que viste assim?
8
Lacaio – Porque rainha és tu a mulher mais formosa e bela.
Rainha Má – Isso mesmo, mas acima de tudo, porque o espelho nunca mente.
Lacaio – nunca mente.
Rainha Má – Repita!
Lacaio – Nunca mente, o espelho não mente nunca.
A RAINHA SE COLOCA Á FRENTE DO ESPELHO NOVAMENTE
Rainha Má – E o que o espelho lhe diz?
Lacaio – Que és de fato do reino, a mais bela.
A RAINHA MÁ SAI DE CENA SATISFEITA COM O QUE OUVIU DO LACAIO QUE
PERMANECE NO ESPAÇO OLHANDO DE LONGE O ESPELHO.
Lacaio – coração negro, sem vida, sem vida...
CENA III
Na viela de um vilarejo, onde um nevoeiro baixo passeia lentamente por sobre a terra morta
e a noite joga seu manto negro cobrindo o céu com um luto misterioso e aterrador, aguarda
um rapaz, que demonstra certa impaciência e uma dose generosa de preocupação. Ele tenta
acalmar a multidão (plateia) que espera ansiosa a chegada de Chapeuzinho...
Caçador – Acalmem-se senhores! Não vamos pensar o pior!
Chapeuzinho chega, observa a multidão (plateia), deixa transparecer nos olhos e na face, um
medo paralisante, a respiração fica mais alta, os olhos deslizam á todo instante por sobre as
imagens ao redor sem se aterem... Vê-se claramente em seu rosto o toque da surpresa,
desaguando em expressões de espanto, instigando batidas de coração cada vez mais
aceleradas, enquanto a cabeça com pensamentos desordenados de todas as espécies tenta
entender o que está acontecendo, buscando descobrir o que aquelas pessoas fazem ali e
porque parecem tê-la esperado por tanto tempo.
9
Caçador – Ali esta ela senhores, Chapeuzinho, a nossa heroína está de volta ao nosso
vilarejo, sã e salva.
CHAPEUZINHO PUXA DISCRETAMENTE O CAÇADOR DE LADO TENTANDO
ESCONDER DO POVO A SUA LIGAÇÃO COM ELE.
Chapeuzinho – O que isso significa?
Caçador – Sorria. O povo te adora!
Chapeuzinho – Parece que sim, eu só não entendi o porque.
Caçador – É, eles não teriam motivo realmente...
Chapeuzinho – Poupe-me da ironia.
Caçador – Você bem que gostaria que fosse só ironia.
Chapeuzinho – eu só quero saber o porquê dessa gente estar aqui e...
Caçador – te esperando... Melhor, comemorando a sua chegada?
Chapeuzinho – é melhor você ir me explicando direitinho o que está acontecendo...
Caçador – Ah. Todos estão aqui por você, é melhor que dê a essa gente a devida atenção...
Chapeuzinho – Não sei o que está acontecendo, mas digo que não gosto nem um pouco
disso.
Caçador – Aproveite, porque o dia que esse povo souber a verdade sobre você...
Chapeuzinho – Quieto! Fizemos um trato, você jurou que jamais contaria nada a quem quer
que fosse.
Caçador – Alguém que traz uma história de vida como a minha, não se prende a juras ou
mesmo promessas...
Chapeuzinho – Eu sei á quais compromissos você se atem. Aos que melhor lhe sirvam.
Caçador – minha querida, você é sempre tão esperta...
Chapeuzinho – você é capaz de coisas que fogem a minha inteligência.
Caçador – isso quer dizer que te surpreendo?
Chapeuzinho – sempre e sempre para o pior.
O CAÇADOR SE AFASTA. VAI ATÉ A BOCA DE CENA E DIZ PARA A PLATEIA
Caçador – Senhoras e senhores, um momento da atenção de todos, como podem ver
Chapeuzinho está de volta ao lar...
10
CHAPEUZINHO SE APROXIMA DO CAÇADOR E PARA ELE DIZ
Chapeuzinho – O que estás fazendo?
Caçador – (para chapeuzinho) – Aproveite. (para a plateia) essa adorável criança a qual
temos profunda estima, venceu os males escondidos na floresta! E por conta desse magnífico
feito, iremos festejar!
Chapeuzinho - Festejar?
Caçador – Vão todos as suas casas, tragam pão e vinho... Meus amigos músicos tragam seus
instrumentos e as moças os seus vestidos mais graciosos e enfeitem o nosso vilarejo.
Chapeuzinho – O que significa tudo isso, o que há para festejar? Você sabe que...
Caçador – Ora, o seu feito, você foi a primeira “criança” (com ironia ao falar) que voltou
com vida da floresta.
Chapeuzinho – ninguém sabia que eu estava indo á floresta, meus pais não cometeriam um
erro tão estúpido sabendo que as pessoas desconfiariam quando eu... (caindo em si) Ah!
Você! Seu...
Caçador – Ah! Sem ofensas, eu sou um homem de sentimentos fáceis de serem vencidos.
Chapeuzinho – o que você ganhou com isso?
Caçador – ainda nada, mas logo mais vou ganhar algumas moedas.
Chapeuzinho – você se arrisca por muito pouco.
Caçador – O dinheiro da sua vovozinha nunca chega...
Chapeuzinho – Fale baixo alguém pode nos ouvir!
Caçador – Eu sei do seu segredo, sei o que você e seus pais fazem com esse povo... Então
pense duas vezes antes de me...
Chapeuzinho – Eu prometi o dinheiro, minha avó está muito doente, não vai demorar pra...
Caçador – Não quero saber sobre a saúde da sua avó... quero saber do meu dinheiro...
Chapeuzinho – Eu cumpro as minhas promessas.
Caçador – Você finge que me engana e eu finjo que acredito.
Chapeuzinho – Eu tenho um plano, te conto tudo na tal festa que você armou...
Caçador - Esteja aqui! Afinal a festa é em sua homenagem... E lembre-se; com dinheiro,
segredo guardado. Sem dinheiro...
11
CENA IV
No interior do castelo, onde nem mesmo a janela consegue trazer à sala um pouco de luz, a
Rainha demonstra aflição, nem mesmo o fiel vassalo de sua beleza - o espelho –à quem
confia inteiramente, cativa sua atenção. Pelo contrário, a Rainha parece esnobá-lo de
maneira proposital. Enquanto anda de um lado para outro, alisando as mãos com
inquietação, vai á cada passo demonstrando certa fraqueza. Seu Lacaio adentra a sala
trazendo em suas rudes mãos uma bandeja de prata com uma maçã e um bule com chá.
Ao aproximar-se da Rainha, o Lacaio surpreende-se com a imponente figura real declinando
por sobre ele fazendo com que derrube a bandeja...
Lacaio – Senhora! Estás bem? Espero não tê-la...
Rainha Má – Solte-me sua besta! Como se atreve a tocar-me?
Lacaio – A senhora estava prestes á cair, eu não soube o que...
Rainha Má – Que isso não volte a se repetir!
Lacaio – não irá senhora, não irá!
Rainha Má – Apenas perdi o equilíbrio... A luz da janela fitou os meus olhos e eu fiquei um
pouco zonza.
Lacaio – Luz aqui não há senhora...
Rainha Má – Não me contrarie lacaio, toda vez que lhe vejo me pergunto porque mantenho
aqui algo da sua espécie.
Lacaio – Perdão senhora, eu vos peço.
Rainha Má – Depois que limpar essa sujeira mande fechar as frestas dessa janela.
O LACAIO AJOELHA-SE E RECOLHE OS OBJETOS DO CHÃO, UM A UM, QUANDO
RECOLHE A MAÇÃ, A RAINHA O QUESTIONA.
Rainha Má – O que é isso?
Lacaio – Uma maçã senhora.
Rainha Má – Eu sei que isso é uma maçã, lacaio estúpido. Quero saber o que ela faz aqui.
Lacaio – Faz dias que a senhora não come nada e eu pensei que...
Rainha Má – Você devia estar assombrando algum lugar, pensar não é uma tarefa que lhe
cabe bem!
Lacaio – Não é bom ficar sem comer, ao chão a senhora quase foi parar e isso...
12
Rainha Má – Você está com eles, de certo deve ter sido comprado...
Lacaio – Quem são eles que dizeis, senhora?
A RAINHA LEVA O LACAIO ATÉ A JANELA
Rainha Má – Olhe, lá vão eles. Enciumados com a minha beleza, procurando de todas as
formas manchar a dádiva que me foi entregue.
Lacaio – Não, este povo todo lhe é fiel, a senhora e a sua beleza também.
Rainha Má – E esta tal que inventaram? Essa uma que dizem ser mais bela que eu? Até
poemas fizeram para exaltar a beleza dela. Como é que a chamam?
O LACAIO NADA DIZ
Rainha Má – Como ela se chama?
Lacaio – eu não sei senhora.
Rainha Má – Vejamos se não sabes mesmo ou se mentes para acobertar o restante da tua
corja.
A RAINHA APROXIMA O LACAIO DO ESPELHO PARA QUE VEJA SUA IMAGEM
REFLETIDA, SABENDO QUE O SERVO NÃO CONSEGUE ENCARAR SUA PRÓPRIA
APARÊNCIA, ELA SE APROVEITA E USA O MEDO DO LACAIO PARA INTIMIDÁ-LO Á
DIZER A VERDADE. APAVORADO O LACAIO NÃO CONSEGUE MENTIR.
Lacaio – Branca de Neve! Branca de Neve!
Rainha Má – Branca de Neve? Não pode ser! Assim que dei fim á seu pai, o Rei, tratei de dar
o mesmo destino a minha enjoada enteada...
Lacaio – Não faça mal à menina.
Rainha Má – Isso quer dizer que mais uma vez o espelho estava certo, quando vi aquela
criança em sua beleza infantil refletida sobre o meu espelho...
Lacaio – Senhora és tu a mais linda e mais bela.
Rainha Má – Venha aqui, quero ver se consegue repetir o que disse diante a tua face
desprezível.
Lacaio – Não!
Rainha Má – Vamos! Diga quem é a mais bela de todas as mulheres.
13
Lacaio – A senhora, todos sabem disso...
Rainha Má – Vamos! Olhe para o espelho!
O LACAIO FITA SEU REFLEXO NO ESPELHO E APAVORADO DIZ
Lacaio – Tu és, ó rainha, a mais linda e mais bela,
Mas Branca de Neve em encanto a supera
Rainha Má – Não há como mentir para o espelho. Agora saia, leve essas coisas com você.
Espere! Deixe esta maçã. Ela me será útil em breve.
SEGUNDO ATO
CENA I
Na viela de um vilarejo em festa, ao som de cantigas animadas e executadas por músicos
alegres e dançantes, desfilam moças alvas de vestidos simples de cores amenas que
encrespam ao rodopio contagiante das moças. Entra o caçador que dança com uma das
jovens e atiça a cantiga dos músicos. Em outro canto entra Chapeuzinho, acanhada e
desengonçada, ela é convidada pelo caçador para uma contradança.
Chapeuzinho – Você está indo longe demais com essa história...
Caçador – Não mais que você e seus pais foram com a sua.
Chapeuzinho – Maldito momento em que você nos escutou
Caçador – Ao contrário desse povo eu estou sempre atento já estava desconfiado de vocês há
algum tempo...
Chapeuzinho – E de onde vieram essas suas desconfianças?
Caçador – Você não é como as outras crianças... nunca foi de sair para brincar e quando foi
obrigada á isso perdeu a cabeça na presença dos pequeninos.
Chapeuzinho – Ainda não é suficiente para ter investigado a minha família...
Caçador – Não seria se outro tivesse essas suspeitas, mas pra mim qualquer dúvida pode
render um bom negócio...
Chapeuzinho – Então é disso que se trata...
Caçador – Sempre! Depois da desconfiança só me restava buscar os fatos e vocês me deram
eles, agora o segredo de vocês nos unem.
14
Chapeuzinho – Maldito seja!
ELES PARAM DE DANÇAR
Caçador – Agora eu quero saber do tal plano...
Chapeuzinho – Conheci na estrada que dá para a floresta um abobalhado que poderá nos ser
útil
Caçador – Abobalhado?
Chapeuzinho – Sim. Deixei com ele uma cesta com maçãs que eu deveria entregar á minha
avó, mas fiz com que o imbecil as entregasse no meu lugar.
Caçador – E o que tem isso demais? Além de ter se aproveitado da boa vontade do infeliz?
Chapeuzinho – As maçãs estão envenenadas...
Caçador – Você! Você! Você é muito mais perigosa do que eu imaginei...
Chapeuzinho – Não quero mais ficar na sombra de um capuz idiota, arraigada nesse vilarejo
cercada por essa gente estúpida...
Caçador – Você é muita má para uma criança.
Chapeuzinho – Você não se cansa não é?
Caçador – Seu caso é incrível, por fora uma criança, alva, rosto que se pode comparar com o
de um ser divino. Por dentro e na idade uma adulta de mente ardilosa...
Chapeuzinho – Culpa de uma bruxaria que me lançaram assim que nasci... Com os anos
notei que essa era minha sina, viver aprisionada num corpo de criança.
Caçador – Depois que sua vozinha comer as maçãs, qual será o próximo passo?
Chapeuzinho – a essa altura ele já deve estar bem próximo, você deve seguir para a floresta
e...
Caçador – Eu? Nós, você quis dizer.
Chapeuzinho – Não, eu quis dizer você. Não posso me arriscar na floresta...
Caçador – mas você não é uma criança e o...
Chapeuzinho – Acha mesmo que vou me arriscar? Com a minha aparência seria uma vítima
a mais, como foram todas as crianças do vilarejo...
Caçador – É como dizem; só tem medo aquele que sabe o que pode perder.
Chapeuzinho – chegue lá o quanto o antes, á essa altura o veneno já terá se misturado ao
sangue da vovó...
Caçador – Chegando a casa da vovó, o veneno já terá agido, então é só procurar pelo
dinheiro da velha?
15
Chapeuzinho – Isso! Quando você voltar repartiremos meio a meio como combinado e cada
um segue o seu caminho.
CENA II
No âmbito da floresta escura, rodeada de árvores secas, galhos finos e o chão coberto por
folhas mortas, em tronco está Branca de Neve, sentada entretida com uma espécie de sacola
improvisada, feita com um lençol branco.
Branca de Neve – Acho que dessa vez vou conseguir um bom dinheiro com essas coisas que
consegui. Já estava na hora da sorte olhar por mim, achei que passaria a vida só pegando
coisas sem valor.
Aos poucos uma luz amarela vinda de um candeeiro ilumina o chão da floresta, uma sombra
toma vida e aos poucos revela sua dona, uma senhora de muita idade que traz em uma mão
um candeeiro e na outra uma pequena cesta.
Rainha Má – Ah! Como estou cansada. Céus deem um momento de descanso para essa pobre
velha.
Branca de Neve – Senhora deixe-me ajuda-la.
Rainha Má – Ó menina não se incomode, eu sou apenas uma pobre velha teimosa...
Branca de Neve – Eu faço questão, essa cesta é muito pesada para a senhora...
Rainha Má – É o que meu netinho vive me dizendo, mas eu preciso trabalhar, não quero que
meu filho e minha nora pensem que sou uma encostada...
Branca de Neve – A senhora devia ouvir o seu neto e descansar...
Rainha Má – Quem sabe um dia um rei invente um decreto para que isso possa se realizar.
Por agora eu tenho que trabalhar pra pagar os impostos...
Branca de Neve – e o que a senhora faz?
Rainha Má – Eu vendo maçãs, maçãs deliciosas, das quais eu mesma plantei as sementes e
colhi do pé, elas foram cultivadas todas no pomar que nós temos nos fundos de casa...
BRANCA DE NEVE SE AFASTA E CONSIGO DIZ
Branca de Neve – Isso me faz lembrar que estou morrendo de fome, essas maçãs cairão
bem...
16
ELA VOLTA PARA JUNTO DA VELHA SENHORA
Branca de Neve – A senhora deve ter uma família muito unida...
Rainha Má – Nós éramos muito unidos minha filha, mas parece que com a chegada da minha
nora, todos nós ficamos muito distantes.
Branca de Neve – Pelo visto a senhora não gosta da sua nora...
Rainha Má – Não, não! Eu a amo como a uma filha, a filha que eu não tive...
Branca de Neve – Não me pareceu isso, a senhora...
Rainha Má – Eu sou uma velha e os velhos ficam mais sensíveis ao sentimento e opinião dos
outros. A verdade é que...
A RAINHA SE PÕE A CHORAR
Branca de Neve – Senhora perdoe-me! Eu não quis levá-la as lágrimas!
Rainha Má – Não foi sua culpa...
Branca de Neve – Descanse aqui por um momento, até se sentir melhor...
BRANCA DE NEVE APROVEITA O MOMENTO DE DISTRAÇÃO DA SENHORA E PEGA A
CESTA DA IDOSA E A ESCONDE.
Rainha Má – Eu estou tão cansada deste fardo...
Branca de Neve – Peço novamente que me perdoe
Rainha Má – Não foi sua culpa, a verdade minha filha, é que minha nora não gosta de mim,
(PAUSA) mas eu não posso culpá-la, afinal eu sou o que sou...
Branca de Neve – Não diga isso...
Rainha Má – Mas essa é a verdade, cada um deve saber o peso do seu próprio fardo... E este
é o meu...
Branca de Neve – Aonde a senhora vai?
Rainha Má – Vou continuar a minha jornada...
Branca de Neve – mas a senhora mal descansou...
Rainha Má – Essa paradinha foi o suficiente, não posso ficar mais, ainda tenho muitas maçãs
para... Minhas maçãs... Onde estão as...?
Branca de Neve – Céus! O que houve?
17
Rainha Má – Minhas maçãs minha filha, estavam aqui, não estavam?
Branca de Neve – Na verdade deixei logo ali
Rainha Má – Aonde?
Branca de Neve – mais adiante, acho que algum bicho deve ter levado
Rainha Má – Veja minha filha, como se já não me fosse peso demais essa velhice, ainda
tenho que lidar com coisas como estas...
Branca de Neve – Tudo irá se resolver senhora, não se preocupe.
Rainha Má – Que assim seja menina, pois assim eu sigo a minha estrada...
Branca de Neve – Tome cuidado.
Rainha Má – Você é um “encanto” capaz de superar qualquer uma. Boa sorte.
Branca de Neve – Obrigada senhora. E boa viagem!
BRANCA DE NEVE CORRE PARA A CESTA, FICA ANSIOSA COM AS MAÇÃS QUE
CONSEGUIU PARA SUA REFEIÇÃO POR UM LADO, AFOBADO E RENDIDO PELA
DISTRAÇÃO ENTRA JACOB, QUE ESBARRA EM BRANCA DE NEVE NO MOMENTO
QUE ELA ABRIA A CESTA. COM A TROMBADA BRANCA DE NEVE SE DESEQUILIBRA
E DEIXA SUAS MAÇÃS CAIREM, AO MESMO TEMPO QUE JACOB TAMBÉM DEIXA
SUA CESTA IR AO CHÃO ESPALHANDO OS MIMOS QUE SERIAM ENTREGUES À
VOVOZINHA, REVELANDO NESTE INSTANTE QUE OS MIMOS SÃO FRUTAS E ENTRE
ELAS HÁ ALGUMAS MAÇÃS QUE SE CONFUNDEM COM AS DE BRANCA DE NEVE.
Branca de Neve – Perdoe-me senhor.
Jacob – Ah! Não, eu já vi esse enredo...
Branca de Neve – O que disse senhor?
Jacob – Peço que me perdoe também, eu não sei como, mas não reparei a sua presença.
Branca de Neve – Parece aflito, acalme-se por um instante.
Jacob – Não há tempo, de certo você não deve saber que nesta floresta há um mal horrível
que...
Branca de Neve – Acalme-se, por favor.
Jacob – Moça, mesmo pasmo diante tanta beleza, nem por ela eu poderia ficar calmo sabendo
que corremos perigo.
Branca de Neve – Não me leve a mal senhor, mas minha vida é assim desde que me conheço
por gente...
18
Jacob – A minha tem sido assim também. Culpa de uma maldita praga que assola á minha
família.
Branca de Neve – Sou perseguida pela minha madrasta que após ter levado meu pai á morte,
tenta de todas as maneiras fazer o mesmo á mim...
Jacob – Como alguém pode desejar mal á uma criatura tão encantadora como... Peço que me
perdoe se lhe falto com respeito é que...
Branca de Neve – Não se preocupe! Diz o meu povo que minha madrasta queria o trono que
era do meu pai...
Jacob – E ninguém deveria ficar em seu caminho, isso pode dar uma boa fábula sobre
ganância...
Branca de Neve – Como?
Jacob – Não é nada, só estava pensando alto, por favor continue...
Branca de Neve – meu pai dizia que ela tinha inveja da beleza que via em mim... E você?
Jacob – Não, eu não a invejo, pelo contrário, acho que...
Branca de Neve – Não! Digo; qual a maldição que recaí sobre sua família?
Jacob – Nós a quinta geração de Grimm não podemos dormir, nos sonhos somos levados á
terras estranhas como essa e carregamos nos corpos os perigos enfrentados nesses lugares.
Branca de Neve – Perdoe-me, mas eu...
Jacob – Eu sei, você não acredita em mim, ninguém acredita, eu também não acreditaria se
outro me contasse....
Branca de Neve – Eu ia dizer que não entendi...
Jacob – Toda vez que dormimos entramos num mundo onde coisas fantásticas acontecem á
todo tempo.
Branca de Neve – Deve ser incrível!
Jacob – Não, não é. Acredite! Qualquer coisa que nos aconteça de ruim nesses sonhos,
podem nos custar a vida...
BRANCA DE NEVE RECOLHE AS FRUTAS E AS COLOCA DELICADAMENTE DENTRO
DA CESTA QUE JACOB CARREGAVA, APROVEITA E PEGA OS OUTROS ALIMENTOS
QUE PERTENCIAM A CESTA DELE E OS PÕE NA SUA.
Branca de Neve – Então é mesmo uma maldição... Parece que temos algo em comum...
Jacob – Como pode ficar tão tranquila? Mesmo que sua vida tenha sido assim... Há algo nesta
floresta que pode nos matar e...
19
ELA ENTREGA A CESTA Á JACOB
Branca de Neve – Há algo além dessas matas que também pode me tirar a vida.
Jacob – Aquela menina... Se eu soubesse que ela... Talvez eu devesse ficar mais calmo, afinal
ela me disse que o mal acontece apenas às crianças...
Branca de Neve – mas algo que faz o mal á uma criança, não se privará de fazer o mesmo á
quem quer que seja.
Jacob – foi exatamente o que eu pensei.
Branca de Neve – Você quer? ELA OFERECE Á JACOB UMA MAÇÃ
Jacob – Não, essas frutas são para a vovozinha de uma menina muito...
Branca de Neve – Uma senhora me deu também algumas maçãs, pegue essa, você precisa se
alimentar...
ELE DÁ UMA MORDIDA E VAI MOSTRANDO TONTURA, ELE TITUBEIA EM CERTOS
MOMENTOS DANDO MOSTRA DE QUE VAI CAIR Á QUALQUER MOMENTO, ATÉ QUE
DESMAIA.
Branca de Neve – Senhor, senhor!
ELA PEGA SEU ROSTO E PÕE POR SOBRE O SEU COLO
Branca de Neve – Isso deve ser obra daquela megera!
ELA O BEIJA DE MANEIRA TENRA E CULPADA.
Branca de Neve - Deus ajude-me, por favor!
ELA O PEGA PELAS PERNAS E VAI ARRASTANDO-O. OS DOIS SAEM.
20
CENA III
Na sala localizada no interior do castelo, onde aterradoras e devotadas sombras impedem a
presença dos raios de sol, o sinistro Lacaio faz seus afazeres, quando a Rainha Má entra
enfurecida, lançando aos objetos que encontra toda a sua fúria.
Rainha Má – Não é possível! Não é possível!
Lacaio – Minha senhora, precisas de algo?
Rainha Má – Entender como é possível uma pessoa ter tanta sorte
Lacaio – Perdoe-me soberana, mas não entendo.
Rainha Má – Dessa vez eu não lhe culpo, é algo que foge a compreensão de qualquer um, até
de um verme como você.
Lacaio – Quer que eu lhe traga algo, senhora?
Rainha Má – Neste momento o veneno contido naquelas maçãs devia estar correndo pelo
sangue daquela infeliz. Terei que ser mais direta se quiser dar fim aquela condenada.
O LACAIO SE ASSUSTADA COM OS DIZERES E SE APRESSA EM SAIR DA SALA.
Rainha Má – Espere Lacaio!
Lacaio – Sim.
Rainha Má – Por acaso, conheces o povo do vilarejo?
Lacaio – algumas pessoas senhora, outras apenas de nome
Rainha Má – Conheces ou já ouviu falar de uma família de caçadores?
Lacaio – Sim, conheci o senhor...
Rainha Má – Não me interessa de onde os conhece, nem mesmo a forma como os conheceu,
quero que vá ao vilarejo e traga aqui o caçador.
Lacaio – São todos caçadores nesta família senhora, qual eu devo trazer?
Rainha Má – Traga-me o primogênito.
Lacaio – Sim senhora. (ele se prepara para sair dá meia volta) O que é um primogênito,
senhora?
Rainha Má – O primeiro filho gerado pelo casal.
Lacaio – Sim senhora (ele sai)
Rainha Má – Espero que tenha entendido e que dessa vez nada atrapalhe meus planos!
21
CENA IV
Em um cômodo pequeno – casa dos irmãos Grimm – iluminado por um candelabro, onde há
a disposição poucos objetos todos eles de madeira, se encontram Will - atordoado de
preocupação - e Jacob que está sentado em uma cadeira de madeira rústica, onde tem os pés
nus imersos em uma bacia (com água) feita de metal. Will anda de um lado á outro, tentando
a todo custo acordar o irmão.
Will – Jacob! Jacob! Vamos lá, meu irmão, acorde!
EM UM DADO MOMENTO JACOB, ABRE OS OLHOS E INCLINA-SE ABRUPTAMENTE.
Will – Ainda bem! Já estava perdendo a esperança...
Jacob – Will! O Que houve?
Will – Eu me distrai e... Consequentemente eu... Eu... Eu me esqueci de você...
Jacob – Se esqueceu de mim? Quer dizer que me deixou mais tempo dormindo do que
deveria.
Will – É eu sei, foi uma desatenção grave que poderia ter lhe custado...
Jacob – A vida Will, poderia ter me custado a vida...
Will – Era o que eu ia falar, mas Jacob, isso pra mim é tão fascinante...
Jacob – Fascinante, só pode estar louco!
JACOB SE PREPARA PARA SE LEVANTAR
Jacob –(escorrega os pés molhados no chão) Ah! Não sei ainda o porque de termos que ficar
com os pés fincados na água
Will – Já expliquei inúmeras vezes, precisamos de algo que nos prenda a esse universo, a
água pode ser sentida pelo corpo mesmo quando estamos no estado de sonolência ou até
mesmo de completo...
Jacob – Chega desses assuntos complexos. Não estou me sentindo bem para isso agora.
Will – O que está sentindo?
Jacob – É como se meu corpo não estivesse totalmente acordado
Will – Pode ser que ainda não tenha dado tempo de reestabelecer as funções normais do seu...
Jacob – Já falei pra cortar essa conversa difícil!
22
Will – Tá certo. O que você sente pode ser causa do longo período em que esteve no mundo
das fábulas...
Jacob – Isso já aconteceu outras vezes e eu nunca me senti assim
Will – O que aconteceu enquanto estava lá?
Jacob – Não me lembro ao certo, tudo que me lembro agora é de ter comido uma maçã e ter
caído num sono profundo.
Will – Dormindo dentro do sono, isto não é bom Jacob!
Jacob – Como assim?
Will – Não percebe? O que acontece quando dormimos?
Jacob – Somos levados á um mundo estranho que decidimos chamar de mundo das fábulas
Will – O que acha que pode acontecer lá, enquanto você dorme?
Jacob – Não! Não!
Will – Sim, é possível que você seja levado á um terceiro mundo do qual ainda não
conhecemos e...
Jacob – Não!
Will – Pode ficar preso nesse terceiro mundo para sempre!
Jacob – Preciso voltar ao mundo das fábulas e... E o que Will?
Will – E evitar que seu sono leve você a um terceiro mundo...
Jacob – Ótimo foi o que eu pensei. E agora?
Will – Agora?
Jacob – É, como faço para voltar?
Will – Não sei, tente dormir, pode-ser que volte para o ponto onde estava no mundo das
fábulas...
Jacob – É, pode ser que dê certo.
JACOB SENTA-SE NOVAMENTE NA CADEIRA DE MADEIRA, PÕE NOVAMENTE OS
PÉS NUS DENTRO DA BACIA.
Will – Jacob!
Jacob – o que é Will?
Will – Traga boas estórias.
23
TERCEIRO ATO
CENA I
No castelo, a Rainha Má conversa com o Caçador.
Caçador – Então é isso, a senhora quer que eu traga essa tal de Branca de Neve?
Rainha Má – Quero que me traga o coração de Branca de Neve.
Caçador – Mas eu não posso fazer isso, sou um caçador de animais...
Rainha Má – Então encare-a como faz com as suas presas.
Caçador – Não é a mesma coisa.
Rainha Má – Se conseguir pensar o contrário terás uma boa recompensa.
Caçador – É uma tarefa difícil, não pode ser feita por qualquer um...
Rainha Má – Por isso eu o procurei, caçador.
Caçador – Mesmo sendo um caçador experiente senhora, não estamos falando de um...
Rainha Má – Estamos falando de uma recompensa da qual não poderá desprezar e que
futuramente não poderá se esquecer.
Caçador – Falamos da tarefa, mas até agora não sei quanto isso irá me render
Rainha Má – Diga o que quer caçador, posso lhe dar a quantia que desejar...
Caçador – Parece então que já podemos pensar numa parceria...
Rainha Má – Só espero que não se esqueça de que quero o coração de Branca de Neve e
caçador; o seu êxito lhe trará riqueza, poder e o que mais desejar.
Caçador – Perdoe-me rainha, mas não consigo entender porque chamou justamente á mim
para cumprir essa tarefa...
Rainha Má – Branca de Neve fez dessa floresta seu refúgio, se escondendo de tudo e de
todos, é preciso alguém com suas habilidades para encontrá-la...
Caçador – Venho de uma família de caçadores senhora, poderia ter chamado qualquer
outro...
Rainha Má – Está querendo passar o serviço á outro, caçador?
Caçador – Não senhora! Apenas gosto de saber quais as circunstâncias das minhas parcerias
Rainha Má – Digamos que temos algo em comum...
Caçador – Então, saiba que se trata de uma honra, bela rainha. Trarei a vossa encomenda. E
espero que não poupe esforços em me agradar...
Rainha Má – Que assim seja.
24
CENA II
Objetos amontoados, papiros jogados ao chão, algumas velas espalhadas pelo espaço
responsáveis pela pouca luminosidade do local; um casebre apertado e empoeirado. Neste
lugar reside um homem, de traços fortes, muitas rugas, vestido com roupas simples e
desgastadas, cobertas por um casaco que parece um paletó, todas as peças são de cores
escuras. Ele está envolvido em alguns experimentos, mostra-se bastante ansioso, desesperado
em dados instantes, tem o semblante assustado, a respiração ofegante, seu corpo treme, seus
olhos fitam fixamente a infusão que está preparando. Quando duas batidas na porta,
(localizada na coxia) o distraem.
O HOMEM SE LEVANTA DA CADEIRA COM DIFICULDADE SEGUE ATÉ A PORTA;
RECOSTA-SE NA PORTA, RESPIRA E INICIA A TAREFA NOVAMENTE. AO ABRIR
JACOB CAI PARA DENTRO DA CASA. O HOMEM SE ASSUSTA. VERIFICA O ESTADO
DE JACOB. NOTA QUE ESTÁ INCONSCIENTE E PROCURA ALGO PARA DAR ELE,
ACHA UM POTE ABRE E DESPEJA UM POUCO NA BOCA DE JACOB, QUE APÓS
ALGUNS SEGUNDOS COMEÇA A TOSSIR, VOLTANDO A CONSCIÊNCIA.
Jacob - Will!
APÓS ALGUNS INSTANTES NOTA A PRESENÇA DO HOMEM
Jacob – Senhor desculpe-me a invasão, mas preciso saber se estamos onde... Onde... Meu
Deus, como eu posso saber se estou onde eu deveria estar se não sei o nome do lugar...?
Lobisomem – Se já está bem, é melhor você... Vá... Vá embora.
Jacob – Sim, mas antes... Eu... Eu não me lembro de nada senhor, por favor como vim parar
nesse lugar?
Lobisomem – A porta, batidas na porta, eu abri, você caiu, desmaiado, estava desmaiado.
Jacob – O senhor não me parece muito bem, espere, beba um pouco de água...
Lobisomem – Preciso que me faça um... No centro da mesa tem uma infusão...
Jacob – Uma infusão, sim, pelo que vejo um mecanismo bem rústico, porém, muito bem
construído, está usando a condensação para apurar o...
Lobisomem – veja se está pronta...
Jacob – as folhas parecem já bem absorvidas pelo líquido...
25
Lobisomem – Um... Um pouco para beber...
Jacob – Ah! Claro. Aqui senhor...
ELE BEBE RAPIDAMENTE
Jacob – Essas folhas contidas nessa infusão, são muito fortes senhor, é melhor beber mais
devagar
Lobisomem – A infusão tem que ser tomada... Assim que pronta... Se não...
Jacob – perde o efeito esperado... (depois que o homem toma) E então senhor, sente-se
melhor?
Lobisomem – Já, o efeito é rápido, pena não ser definitivo...
Jacob – Talvez não tenha os ingredientes certos
Lobisomem – Você parece bem entendido nesse assunto
Jacob – Sou escritor. Jacob Grimm (estende a mão para cumprimentá-lo – o homem não
corresponde) Acabo pesquisando sobre muitos assuntos.
Lobisomem – Não sei se tem ingrediente certo para o que eu preciso.
Jacob – O senhor precisa de ar, não há uma só fresta por aqui...
JACOB PROCURA UMA FRESTA, NOTA A PAREDE DE MADEIRA E TENTA SOLTAR
UMA RIPA.
Lobisomem – Não! Não faça isso.
Jacob – Isso fará bem para os seus...
Lobisomem – Não, você não entende... Por favor! Vá embora antes que... Vá! (JACOB SAI)
Lobisomem – A infusão já não, não dá mais os mesmos resultados...
O LOBISOMEM RASGA A CAMISA, PODE-SE NOTAR UM GRANDE VOLUME DE
PÊLOS NOS BRAÇOS E NO PEITO. A LUZ CAI EM RESISTÊNCIA ATÉ O BLACKOUT.
APÓS O BLACKOUT OUVE-SE UM UIVO.
26
CENA III
No mesmo local onde ocorreu os festejos em comemoração ao retorno de Chapeuzinho. O
Caçador e Chapeuzinho discutem o futuro de sua parceria.
Chapeuzinho – Quer dizer então que a rainha quer o coração da enteada e contratou você
para realizar a tarefa?
Caçador – Não só isso, mas me ofereceu pelo serviço a quantia que eu desejar. Por tanto
tenho que dizer adeus minha criança.
Chapeuzinho – Como assim? O que você quer dizer com “adeus”?
Caçador – A sociedade que fiz com a rainha me parece muito mais lucrativa que a nossa, por
tanto...
Chapeuzinho – Não! Isso é o que parece, mas há algo aí que você não está atentando.
Caçador – Estou atentando as muitas moedas de ouro que vou pedir pelo coraçãozinho da
princesa...
Chapeuzinho – Isso é o que a rainha quer que você pense...
Caçador – Do que você está falando?
Chapeuzinho – Não percebe? A rainha vai contratá-lo para matar branca de neve, em troca
ela não te dará nada há não ser um aposento no castelo...
Caçador – Acha que ela vai me nomear rei?
Chapeuzinho – o lugar que será dado á você não será nos aposentos reais, mas uma sala
fétida, apertada que você vai dividir com outros homens de caráter semelhante ao seu.
Caçador – Você pode ser mais clara? Você tá me deixando muito confuso!
Chapeuzinho – Você é um estúpido! Não sei o que me fez propor sociedade á alguém como
você...
Caçador – Olha aqui! Ou você me diz de uma forma bem objetiva o que está pensando ou
terminamos a nossa conversa por aqui.
Chapeuzinho – A rainha sabe que todos os plebeus adoram branca de neve e desejam que ela
ocupe o poder como era a vontade do falecido rei.
Caçador – Por isso ela quer tirar branca de neve do seu caminho...
Chapeuzinho – Só que se ela fizer isso o povo não ira perdoá-la...
Caçador – Sim, por isso ela me contratou
Chapeuzinho – Pra fazer o serviço que ela não pode e para assumir a culpa que ela não quer
carregar diante o povo
27
Caçador – O quê?
Chapeuzinho – Todo o povo vai clamar por justiça, nenhum homem nessas ou em terras
próximas ira perdoar a morte de branca de neve
Caçador – Não! Você está confundindo as coisas...
Chapeuzinho – Pense bem, a rainha ganha muito mais acusando você pela morte da
princesinha do que gastando fortunas para lhe pagar pelo serviço...
Caçador – Parece que sim, mas...
Chapeuzinho – É um prato cheio; ao mesmo tempo que ela tem alguém para acabar com
branca de neve ainda tem alguém para lançar á ira do povo.
Caçador – Meu Deus! Onde eu me meti?
Chapeuzinho – Espere, não se desespere, há um jeito de sair disso com vida e com alguma
vantagem
Caçador – Me diga o que é! Vamos!
Chapeuzinho – Tem que jurar que dará continuidade ao acordo que tinha comigo
Caçador – Claro! Se me disser como vou até a casa da vovó e vou caçar a branca de neve ao
mesmo tempo!
Chapeuzinho – Nós iremos á floresta...
Caçador – Entendi! E nós nos separamos, eu mato a branca de neve, enquanto...
Chapeuzinho – Não, se fizer isso a rainha irá culpá-lo e com sorte vai passar a vida num
calabouço!
Caçador – Então o que eu faço?
Chapeuzinho – Entregue a rainha o coração de um animal qualquer e lhe diga que é o
coraçãozinho de branca de neve...
Caçador – E você o que vai fazer enquanto eu...?
Chapeuzinho – Não vamos nos separar, preciso de você para garantir que o mal que há na
floresta não me...
Caçador – Entendi, entendi, a tal praga que lançaram sobre você... Mas o que eu vou fazer se
a rainha notar que aquele não é o coração da sua doce enteada?
Chapeuzinho – Quando ela descobrir você já estará longe daqui...
Caçador – Parece uma boa ideia criança...
28
CENA IV
No casebre humilde de paredes desgastadas, pouca luminosidade e de objetos variados
espalhados por todo o chão, a porta encontra-se aberta e o espaço parece vazio.
JACOB ENTRA NO ESPAÇO AOS POUCOS TOMANDO DEMASIADO CUIDADO
Jacob – Senhor? Senhor! Eu estive pensando e... É melhor que eu fique... Senhor? Senhor?
PEDIDOS DE SOCORRO SÃO LANÇADOS E CHAMAM A ATENÇÃO DE JACOB. ELE
SEGUE O SOM DOS CHAMADOS E NOTA QUE VEM DA OUTRA PONTA DO PALCO,
LADO OPOSTO A PORTA DA CASA. AO ABRIR OUTRA PORTA DUAS CRIANÇAS (OU
MAIS) SAEM E PASSAM POR JACOB CORRENDO EM DIREÇÃO A PORTA DE SAÍDA.
Jacob – Santo Deus! Nada mais faz sentido
O LOBISOMEM ENTRA PELA PORTA DA CASA (QUE ESTEVE TODO TEMPO ABERTA).
ANDANDO COM MUITA DIFICULDADE, ELE TEM AS ROUPAS RASGADAS. PELOS
BRAÇOS E PEITORAL NÃO SE VÊ MAIS OS PÊLOS.
Jacob – eu não sei o que está acontecendo aqui, mas sei que há algo de muito errado...
Lobisomem – Tranque a porta depressa! Eu vou lhe explicar tudo...
Jacob – Trancar a porta, depois de ver crianças presas na sua casa? Não me parece uma boa
ideia...
Lobisomem – Tranque a porta, eu posso explicar, já disse...
Jacob – Uma pessoa que faz mal á crianças pode fazer mal á qualquer um...
Lobisomem - Não irei lhe fazer mal, temos algum tempo até que a infusão perca novamente o
efeito... Me ajude por favor, misture essas ervas e... me faça uma nova infusão...
Jacob – É bom que o senhor me conte tudo mesmo (ele fecha a porta desconfiado)
Lobisomem – Eu não vou fazer mal á você, não tenha medo...
Jacob – Isso é o que todo sujeito de má índole diz antes de cometer alguma atrocidade.
Lobisomem – Não farei isso, as crianças que você viu aqui...
Jacob – Estavam presas naquele canto, eu ouvi os gritos e quando abri a porta, elas, elas
saltaram e... Fugiram! De certo de você ou do que você fazia á elas...
29
Lobisomem – Eu não fiz mal á nenhuma delas, pelo contrário, eu tive que mantê-las presas
ali para protegê-las...
Jacob – Do tal mal que mora na floresta! A menina do capuz vermelho me falou á respeito...
(fazendo á infusão)
Lobisomem – Eu mantenho as crianças aqui, presas e quando a floresta está segura... Eu
deixo a porta aberta para que fujam para suas casas...
Jacob – Mas se elas saíram para a floresta o tal mal deve ter encontrado todas no...
Lobisomem – Não! Isso é impossível!
Jacob – não, se o mal que há na floresta só se volta contra crianças...
Lobisomem – Não! Eu tiro todas as crianças da floresta e as deixo ali, trancadas e só as solto
quando a floresta está segura.
Jacob – Pois então as suas fontes estão enganadas
Lobisomem – Porque diz isso?
Jacob – Porque as crianças nunca chegaram á suas casas...
Lobisomem – Não pode ser verdade...
Jacob – Sua intenção pelo que diz parecia boa, meu amigo, no entanto as crianças não
resistiram ao mal...
Lobisomem – Céus! O que eu fiz?
Jacob – A culpa não foi sua, é estranho dizer isso, porque sua história é um pouco...
Lobisomem – eu sei é difícil de acreditar em um homem como eu... Mas eu juro que não fiz
mal algum ás crianças, cuidei de todas enquanto estiveram aqui...
Jacob – Precisamos de outras folhas, essas que você apanhou estão muito machucadas, não
darão uma boa dose... Você ainda está muito fraco, fique e descanse, eu volto logo!
CENA V
No interior do castelo a Rainha Má está sentada ao chão, com o rosto sobre seu colo há uma
senhora de cabelos brancos, rosto marcado por muitas rugas, ela veste a mesma roupa que
uma das crianças que fugiram da casa do lobisomem. A Rainha Má acaricia a face e os
cabelos brancos da senhora.
Rainha Má – Minha doce menina... Esse mundo é cruel... Um mundo onde crianças não têm
espaço... E sem voz ou espaço no mundo de nada serve a juventude...
30
QUARTO ATO
CENA I
Na floresta – esbaforidos e sujos – o caçador e chapeuzinho tramam a sequência de seus
planos após conseguirem o coração de um animal o mesmo que será entregue á Rainha como
se fosse o de Branca de Neve.
Chapeuzinho – Ai! Que horror!
Caçador – Não é tão ruim assim depois que você se acostuma... (mostra a bolsa com o
coração)
Chapeuzinho – Eu tô falando dessa sujeira, olha pra mim, eu estou imunda dos pés a
cabeça...
Caçador – Você parece uma velha reclamando... Ah! Esqueci você não parece, por dentro
você é uma velha.
Chapeuzinho – Maldito dia que...
Caçador – “eu descobri o seu segredo”, já cansei dessa conversa. Eu quero saber qual será o
nosso próximo passo.
Chapeuzinho – Bom, já temos o coração, agora precisamos ir à casa da vovó e verificar se
aquele abobalhado entregou a cesta pra coitadinha...
Caçador – E também se a velha comeu as frutas que você envenenou, sim, porque de nada
nos serve a velha ter recebido a cesta e não ter provado do seu doce ingrediente.
Chapeuzinho – Parece que enfim você começou a usar a cabeça, eu não tinha pensado nessa
possibilidade, é melhor eu ir sozinha até á casa da vovó...
Caçador – Mas e o mal que ronda a floresta, você vai correr o risco de...?
Chapeuzinho – É preciso, não posso chegar lá com você a tira colo...
BRANCA DE NEVE SE ESCONDE ENQUANTO ESCUTA A CONVERSA
Caçador – Então é melhor corrermos, eu sigo até o castelo da rainha e entrego á ela a
encomenda...
Chapeuzinho – Eu vou até a casa da vovó e ao vê-la morta, eu me desmancho em lágrimas e
peço por socorro, em vão, porque já será tarde demais...
Caçador – Pobre netinha, tão jovem e já passando pelo sofrimento deixado pela morte...
31
CENA II
Na casa dos irmãos Grimm, Jacob permanece sentado sobre a cadeira de madeira, em estado
de sono profundo, os pés nus continuam imersos na água da bacia de metal. Will está
preocupado.
Will – Ah! Céus! Como vou saber o momento certo de acordá-lo? Se eu acordá-lo antes que
ele tenha conseguido... É melhor dar mais tempo á ele, pecar pelo excesso de tempo do que
pela escassez.
CENA III
No casebre deitado por sobre o chão, encontra-se o lobisomem ainda na sua forma de
homem, vestido com seu casaco, cobrindo assim o peito e os braços. Ele se mostra muito
cansado, ofegante tem o rosto molhado de suor. A porta do casebre aos poucos vai sendo
aberta. Branca de Neve desconfiada vai se revelando aos poucos, ela não nota a princípio a
presença do homem.
Branca de Neve – Olá! Alguém?
ELA ADENTRA O ESPAÇO AOS POUCOS, COM DEMASIADO CUIDADO. SEM NOTAR
EM NENHUM MOMENTO A PRESENÇA DO HOMEM. QUANDO FICA BEM PRÓXIMA Á
ELE O HOMEM SEGURA EM UMA DE SUAS PERNAS, ASSUSTANDO-A.
Branca de Neve – Socorro!
ELE A DERRUBA E A PUXA PARA JUNTO DELE, TAMPANDO A BOCA DE BRANCA DE
NEVE COM A MÃO.
Lobisomem – Psiu! Eu não vou lhe fazer mal. Tudo bem? (ela diz sim com a cabeça)
Branca de Neve – Senhor! Me desculpe eu não vim roubar nada, eu juro, eu apenas...
Lobisomem – Espere... Fique calma...
32
Branca de Neve – Eu só vim ver como está o rapaz... Eu o deixei aqui... Ele estava
desacordado, eu fiquei com medo que ele não...
Lobisomem – Ele está bem.
Branca de Neve – Que bom! Eu fiquei tão preocupada com o estado em que...
JACOB ENTRA
Jacob – encontrei algumas folhas, uma quantidade boa para fazermos uma reserva e... (nota
Branca de Neve) Você... (Ela o abraça)
Branca de Neve – Eu fiquei tão preocupada, você desmaiou de repente, eu não sabia...
Jacob – Calma, eu estou bem... E você?
Branca de Neve – Como tem que ser... (cochichando) Ele que não parece muito bem.
Jacob – Santo Deus! Eu ia esquecendo... Senhor aguente, eu vou preparar a infusão e deixar
uma boa reserva...
Branca de Neve – Eu gostaria de ficar, mas não posso me demorar.
Jacob – Espere!
Lobisomem – Fique.
Branca de Neve – Não, eu não posso ficar muito tempo num mesmo lugar, não é seguro.
Lobisomem – (com dificuldade) Aqui você estará segura. (cai fraco)
Jacob – Senhor! Deveria poupar a sua energia, evitar a todo custo fazer esforço...
BRANCA DE NEVE OBSERVA A AÇÃO E APROVEITA A SITUAÇÃO PARA FURTAR
ALGUM OBJETO DA CASA.
Branca de Neve – Espero que seu amigo melhore. Tenho que ir... Até. (sai)
Jacob – Não!
Lobisomem – Vá atrás dela.
Jacob – Não posso deixá-lo nesse estado.
Lobisomem – Vá, eu ficarei bem.
Jacob – O senhor precisa da sua infusão...
Lobisomem – Não há mais salvação para mim...
Jacob – Não diga isso! Nunca desista da vida!
Lobisomem – Eu fui castigado com uma doença sem cura...
Jacob – Me diga quais são os sintomas...
33
Lobisomem – Eu digo, mas antes vá atrás da moça... Lá fora... Você sabe...
Jacob – Sim, “não é seguro”. As folhas estão apurando...
Lobisomem – Então... Não perca mais tempo... (Jacob sai – fim de cena)
QUINTO ATO
CENA I
No interior do castelo, aguardando a chegada da Rainha Má, está o caçador que tem como
companhia a presença do Lacaio.
Caçador – Não é melhor você ir avisar que eu estou aqui?
Lacaio – já fiz...
Caçador – Faça de novo. Não vê que tenho pressa?
Lacaio – A Rainha tem seus motivos para o atraso.
Caçador – Que motivos? Estou há um bom tempo aqui...
Lacaio – Agora falta bem menos do que faltava antes.
Caçador – Você é um sujeito estranho.
Lacaio – (olha para a sacola manchada de sangue e em seguida para o caçador) - Eu?
Caçador – Olha aqui seu...
A RAINHA MÁ ENTRA EM CENA, TRAZ UM AR MAIS LEVE, COMO SE ESTIVESSE MAIS
JOVEM, A PELE ESTÁ AINDA MAIS ALVA, MAIS PERFEITA DO QUE ANTES.
Rainha Má – (para o Lacaio) Deixe-nos á sós.
Lacaio – Sim senhora.
Caçador – Foi bom ter falado pra ele sair, eu estava quase perdendo a paciência...
Rainha Má – Creio que temos assuntos mais importantes para tratar, caçador. Imagino que
nesta sacola esteja a minha encomenda.
Caçador – Sim! Mas antes de entregá-la. Preciso saber se a senhora irá cumprir a sua parte do
acordo.
Rainha Má – Essa desconfiança soa como uma ofensa, caçador.
34
Caçador – Não, não pense dessa forma rainha, assim eu me sentiria ofendido. E
convenhamos nossa relação não aceita mais certos melindres.
Rainha Má – Então vamos direto ao assunto, diga o seu preço.
Caçador – três charretes abarrotadas de moedas de ouro, terras ao sul e um título de nobreza.
Rainha Má – Parece justo.
Caçador – Não é tudo. Quero que responda a uma pergunta.
Rainha Má – Pode pedir qualquer coisa caçador e vai incluir ao seu pagamento uma
pergunta..?
Caçador – Eu tenho meus motivos...
Rainha Má – A primeira pergunta a ser feita, é se você está pronto para a resposta...
Caçador – Dizem que a senhora para não envelhecer se alimenta do espírito jovem das
crianças, isso é verdade?
Rainha Má – A beleza é uma dádiva dada á poucos, há um preço alto para mantê-la.
Caçador – Acho que hoje é um bom dia para caminhar pela floresta... Pode ser que encontre
por lá algo que lhe interesse. (ele sai)
Rainha Má – Caçador. Não tens algo para me entregar?
Caçador – Ah! (entrega o coração)
CENA II
Na floresta, Branca de Neve está procurando um caminho, mostra-se indecisa, não sabe se
volta ao casebre e aceita ficar por lá ou se continua sua jornada fugindo da Rainha má.
Jacob entra esbaforido, veio correndo para tentar alcançá-la.
Jacob – Você deveria aceitar... Estou cada vez mais convencido que esta floresta...
Branca de Neve – Fico grata pela gentileza, mas não há lugar em que eu esteja segura...
Jacob – eu não conheço bem aquele senhor, mas acredito que está disposto a ajudar...
Branca de Neve – Receio que ele possa estar a mando da rainha, para me...
Jacob – Não. Isso não.
Branca de Neve – Como você pode afirmar? Você mesmo disse que não o conhece.
Jacob – Ele tem uma alma atormentada, mas eu sinto que é um bom homem...
Branca de Neve – Não posso correr o risco, ainda mais agora que...
Jacob – Ei. O que foi?
35
Branca de Neve – Eu estava na floresta, vagando á procura de um lugar para passar á noite...
Quando vi...
Jacob – O que você viu?
Branca de Neve – Não foi o que eu vi, eu ouvi... ouvi eles falando de um plano... Estavam a
mando da rainha...
Jacob – Eles quem... Quem está á mando da rainha..?
Branca de Neve – O homem... o homem que ficou de levar para a rainha uma encomenda...
Jacob – Acha que falavam de você?
Branca de Neve – Temo que sim!
JACOB PEGA BRANCA DE NEVE PELO BRAÇO E A LEVA
Branca de Neve – Pra onde você está me levando?
Jacob – Você precisa de ajuda, de toda e qualquer ajuda, é melhor arriscar do que ficar aqui...
CENA III
No casebre de móveis de madeira, empoeirado e de nenhuma fresta, onde mora o lobisomem,
Chapeuzinho entra, está á procura de sua avó. Ela adentra o espaço com cautela. A porta
está aberta e a casa está inteiramente vazia. No espaço só mesmo os objetos que continuam
espalhados pelo chão.
Chapeuzinho – Vovó? Sou eu, Chapeuzinho. (PAUSA) Vovó?
CHAPEUZINHO OBSERVA O LUGAR. PROCURA PELA AVÓ. INSPECIONA OS
OBJETOS. FICA INTRIGADA COM O AMBIENTE.
Chapeuzinho – Onde esta velha se enfiou?
CHAPEUZINHO SEGUE EM DIREÇÃO AO QUARTO ONDE O LOBISOMEM ABRIGAVA
AS CRIANÇAS.
Chapeuzinho – Vovó?
36
ASSIM QUE CHAPEUZINHO SAI DE CENA, ENTRA PELA PORTA DA CASA O
LOBISOMEM TOMADO POR PÊLOS POR TODO O CORPO. PERMANECE ESTÁTICO,
TEM A RESPIRAÇÃO OFEGANTE.
Chapeuzinho – Já revirei a casa toda, será que é essa mesma... (SE DEPARA COM O
LOBISOMEM, DESMAIA)
ELE SE MOSTRA HESITANTE. O QUE AINDA LHE RESTA DE HUMANO LUTA CONTRA
O DOMÍNIO DA FERA. CONTRAÍ TODO O CORPO E COM RAIVA ELE SOLTA UMA
DAS TÁBUAS DA PAREDE. A LUZ DO LUAR INVADE A CASA. NESTE MOMENTO ELE
LANÇA UM UIVO.
CHAPEUZINHO DESPERTA SOB ALGUMA SONOLÊNCIA. O LOBISOMEM FITA
CHAPEUZINHO.
ENTRAM EM CENA BRANCA DE NEVE E JACOB.
O LOBISOMEM VAI NA DIREÇÃO DE CHAPEUZINHO
Chapeuzinho – Não!
JACOB E BRANCA DE NEVE AGARRAM OS BRAÇOS DO LOBOSIMEM.
Jacob – Acalme-se! Senhor!
Branca de Neve – “Senhor?”.
CHAPEUZINHO CORRE. ELES SE PENDURAM NO LOBISOMEM.
Branca de Neve – Eu não aguento mais!
Jacob – (para Branca de Neve) – solte-o!
Branca de Neve – mas e a...
Jacob – Solte-o!
37
ELES SE SOLTAM. CAEM LANÇADOS AO CHÃO PELA FORÇA DO LOBISOMEM. ESTE
SAI EM DISPARADA PARA FORA DA CASA.
Jacob – Você está bem?
Branca de Neve – Estou. (com cansaço por conta da luta) E a menina que saiu correndo? Ela
pode estar correndo perigo com ele á solta...
Jacob – Não! Ele não a fará mal algum
Branca de Neve - Você o chamou de “senhor” quando...
JACOB ESTÁ PEGANDO ERVAS DOS BOLSOS E AS QUE ESTAVAM PELA CASA.
COMEÇA A PREPARAR O APARATO PARA REALIZAR UMA INFUSÃO.
Branca de Neve – Jacob? Jacob!
Jacob – Foi, eu o chamei.
Branca de Neve – Porque tratou aquela fera desse modo?
Jacob – Aquela “fera” é o senhor que você conheceu á pouco tempo, o dono desta casa...
(consigo mesmo) Estava tomando a combinação errada...
Branca de Neve – O que está falando?
Jacob – A infusão que ele fazia estava com a base certa, mas para o resultado que ele...
Branca de Neve – Não! Estou me referindo ao que disse antes, essa fera que quase nos
matou...
Jacob – Não exagere, ele se quer investiu contra nós.
Branca de Neve – De toda forma, acho que não consegui entender. Essa fera é na verdade o
seu amigo...?
Jacob – Isso mesmo.
Branca de Neve – Como você soube?
Jacob – Simples, eles usavam a mesma roupa, ou o que sobrou dela, no caso do lobisomem.
Branca de Neve – O lobo o quê?
Jacob – Lobisomem! É um homem que se transforma em lobo.
Branca de Neve – Isso não é possível.
Jacob – É! Acredite. Estive com um camponês aqui mesmo em algum canto no mundo das
fábulas que falava sobre a presença dele, mas na ocasião não lhe dei a devida importância...
Branca de Neve – Isso que você está fazendo, vai curá-lo?
Jacob – Não, nada poderá curá-lo. Isso vai aumentar o efeito que neutraliza a transformação...
38
Branca de Neve – Mas essas coisas que ele tomava não faziam isso também?
Jacob – Faltavam ingredientes... Esta tem um efeito que irá respeitar o ciclo lunar.
Branca de Neve – O que quer dizer?
Jacob – Que se ele beber isso hoje, só sofrerá uma nova transformação na próxima noite de
lua cheia.
Branca de Neve – Jacob. É melhor sairmos daqui, essa é a casa dele, ele irá voltar á qualquer
momento...
Jacob – Acabei!
Branca de Neve – Deixei isso aí e vamos embora!
Jacob – Não, eu preciso me certificar que ele irá tomá-la. Nós vamos ficar.
ÚLTIMO ATO
CENA I
Nas dependências do castelo.
CHAPEUZINHO ENTRA OFEGANTE. O LACAIO ESTÁ COM O ROSTO ENVOLVIDO
POR UM CAPUZ. ELES SE ESBARRAM.
Chapeuzinho – Ó senhor, perdoe-me! Mas é que fujo... Fujo de uma terrível fera!
Lacaio – Tenha calma menina. Aqui estarás segura.
Chapeuzinho – Nunca vi nada mais apavorante que...
Lacaio – Não se preocupe com nada. Aqui no palácio estarás livre de qualquer mal.
Chapeuzinho – Palácio? Este é o lar da nossa bela rainha?
Lacaio – Sim. Aqui nada de ruim se atreverá a lhe perseguir.
Chapeuzinho – Eu estava com tanto medo que se quer reparei onde entrei, tudo que pensei
foi em encontrar um refúgio.
Lacaio – Terás aqui um, a rainha nunca abandona seu povo.
Chapeuzinho – Perdoe-me a falta de modos, o senhor quem é?
Lacaio – Sou apenas um... (ele tira o capuz)
CHAPEUZINHO DÁ UM GRITO DE DESESPERO EM SEGUIDA DESMAIA.
39
Lacaio – Menina! Fale comigo! Vamos! Menina? O que houve?
RAINHA MÁ VEM CHECAR O QUE ACONTECEU
Rainha má – Ouvi um grito pavoroso, o que está acontecendo, Lacaio?
Lacaio – Esta menina entrou desesperada, fugindo de uma fera...
Rainha má – Uma fera? Que espécie de fera?
Lacaio – Eu não sei minha rainha, ela não disse...
Rainha má – Ela é muito nova, de certo devia estar fugindo do mal que se espreita na floresta
como fazem todas as crianças de sua idade...
Lacaio – Sim! Acredito que seja isso mesmo...
Rainha má – Foi o que ela lhe disse?
Lacaio – Não me lembro. Só me lembro da menina cair nesse sono profundo.
Rainha má – A pobrezinha deve ter se assustado com a sua terrível aparência
Lacaio – (fica sem jeito)
Rainha má – Deixe-nos á sós. Eu cuidarei da menina.
Lacaio – Sim senhora. (ele sai)
Rainha má – Doce criança, doce criança. Do que vale a juventude, se sua vida for tomada
pela insegurança? O temor abafa o frescor da idade e os anos sucumbem á chama do medo.
A RAINHA SE PREPARA PARA TOCAR EM CHAPEUZINHO E SUGAR DELA A SUA
JUVENTUDE, MAS AO TOCÁ-LA A RAINHA MÁ RECEBE AS DÉCADAS QUE SE
OCULTAVAM POR DETRÁS DA APARÊNCIA JUVENIL DE CHAPEUZINHO. A RAINHA
ENVELHECE RAPIDAMENTE. O CORPO FICA MAIS PESADO. OS MOVIMENTOS MAIS
LENTOS E DIFÍCEIS DE SEREM EXECUTADOS. ELA SE AFASTA DE CHAPEUZINHO E
CAI SEM AÇÃO NOS BRAÇOS DA MORTE.
CENA II
No interior do humilde casebre onde a luz do luar se pôs a reinar.
Branca de Neve – Ele não irá voltar... Não vê que agora ele não é mais humano?
Jacob – Sim ele irá!
40
Branca de Neve – E quando ele voltar o que você vai fazer? Pedir gentilmente que ele beba a
sua poção?
Jacob – Exatamente.
Branca de Neve – Se ficarmos aqui estaremos arriscando nossas vidas... Ele não irá ouvi-lo...
Jacob – (ele a pega pelos braços) Escute! Ele está lutando contra a transformação, por isso
oscila tanto entre a forma humana e a forma de lobo. Há algo nele muito forte que não se
deixará vencer...
Branca de Neve – Eu não teria tanta certeza... Quem nos garante que ele irá tomar essa poção
e se tomar quem nos diz que ela irá fazer o efeito esperado?
OUVE-SE PASSOS SOBRE FOLHAS SECAS SEGUIDOS DE UM GRITO DE DOR MUITO
ALTO.
Jacob – É a nossa chance de conferir.
Branca de Neve – Aonde você vai?
Jacob – Vou lá fora checar o barulho.
ELE SAI. OUVE-SE PASSOS SOBRE A FOLHA SECA. EM SEGUIDA SOM DE OBJETO
ARRASTADO POR SOBRE A TERRA.
Branca de Neve – Jacob?
JACOB PÕE A CABEÇA PARA DENTRO DA CASA.
Jacob – Me ajude aqui, por favor.
Branca de Neve – O que houve?
Jacob – Vamos. Ele é muito pesado.
Branca de Neve – Ele?
Jacob – Sim. Venha me ajudar, não vou conseguir colocá-lo...
Branca de Neve – Não, eu não quero...
Jacob – Vamos lá, ele está desacordado.
Branca de Neve – Não!
41
JACOB ENTRA E PEGA A INFUSÃO. SAI E DÁ PARA O LOBISOMEM BEBER. ENTRA
NOVAMENTE, MAS MANTÉM-SE PRÓXIMO Á PORTA.
Jacob – Se tivermos sorte a infusão logo fará efeito.
Branca de Neve – Como “se tivermos sorte”? Há alguma possibilidade de não funcionar?
Jacob – Vai depender do estágio em que a mutação está, se estiver em um estágio avançado
não veremos nenhum efeito, aliás, não veremos mais nada.
Branca de Neve – O que quer dizer com “não veremos mais nada”?
Jacob – Ele vai se levantar ainda na forma de lobisomem, não irá nos reconhecer e de certo
estará faminto, ao nos ver, irá nos devorar com certeza...
Branca de Neve – Não! (tenta correr, Jacob a segura)
Jacob – Veja! Está fazendo efeito, me ajude a puxá-lo para dentro.
ELES PUXAM O HOMEM PARA DENTRO DE CASA.
Lobisomem – O que houve?
Branca de Neve – (para Jacob) Tem certeza que estamos seguros?
Jacob – (para Branca de Neve) Sim! (para o homem) Como o senhor se sente?
Lobisomem – Como se tivesse caído de uma carruagem em movimento...
Jacob – Escute, sabemos do seu segredo.
Lobisomem – Céus! Espero não tê-los feito nenhum mal
Branca de Neve – A nós não, mas não podemos afirmar se a menina teve a mesma sorte.
Lobisomem – Menina? De que menina vocês estão falando?
Branca de Neve – Uma menina de capuz vermelho que estava em sua casa quando o senhor
se transformou...
Jacob – É uma longa história... (olha para Branca de Neve desolada) Senhor, se não for
abusar preciso que me conceda um favor.
Lobisomem – Se estiver ao meu alcance não medirei esforços...
Jacob – Preciso de um lugar que abrigue esta moça em segurança.
Branca de Neve – Eu?
Lobisomem – Na floresta, existe uma pequena vila, lá moram sete irmãos. Eles não lhe farão
mal, irão lhe acolher como á uma filha.
Branca de Neve – Obrigada senhor.
Lobisomem – Não agradeça é o mínimo que... (ele começa a tossir)
42
Jacob - Não se preocupe com nada... Agora descanse, foram muitos anos lutando...
BRANCA DE NEVE OLHA JACOB. ELE NÃO Á NOTA. ELA SE DESPEDE COM O OLHAR
Lobisomem - Sim, foram muitos anos investidos nessa árdua batalha...
Jacob – Senhor, neste frasco há uma poção que irá lhe garantir algum tempo á mais de paz.
Lobisomem – Uma cura?
Jacob – Infelizmente apenas durante o ciclo lunar, o senhor bebeu a poção hoje em noite de
lua cheia, logo sua próxima transformação será na próxima lua cheia, beba a infusão neste
ciclo...
Lobisomem – inevitavelmente me transformarei naquela fera outra vez?
Jacob – Ao menos uma vez em cada mês. Agora descanse. (PAUSA) Ei amigo, qual o seu
nome?
Lobisomem – Manfredo.
CENA III
No Vilarejo o caçador caminha sozinho observando ao redor e certificando que ninguém o
espreita. Aos poucos a escuridão comum ao vilarejo, a floresta e a toda terra pertencente aos
domínios do reinado da bela Rainha Má se esvaia. Uma luz quente toma conta do local.
Quando isso acontece pode-se ouvir um grito estendido. Um vulto corre pelo chão e se vaia
com o grito. O caçador vasculha uma fenda na árvore. Ele retira da fenda duas sacolas
abarrotadas, com uma das mãos ele checa o conteúdo de uma das sacolas e retira pinhas
secas.
Caçador – Não! Não! Era ouro!
ELE VIRA AS DUAS SACOLAS E DEIXA CAIR TODO O CONTEÚDO DELAS. O CHÃO
FICA TOMADO POR PINHAS SECAS.
Caçador – Eu vi! Era ouro! Era ouro!
43
CENA IV
Na casa dos irmãos Grimm, Jacob ainda dorme, sentado sobre uma cadeira de madeira, ele
tem os pés nus imersos na água da bacia de metal. Will está distraído.
Will – “Rapunzel, Rapunzel, os cabelos deixa cair...” Uma rima para cair... Ah! Claro como
não pensei nisso... “Rapunzel, Rapunzel, os cabelos deixa cair. Para que eu possa por ele
subir!” Ficou muito bom, espere até o Jacob... Jacob! Ah! Meu Deus eu me esqueci dele.
(vai até o irmão) Jacob! (sacode Jacob) Jacob!
JACOB ACORDA ASSUSTADO.
Jacob – Will! Will! Você não vai acreditar...
Will – Espere, vou pegar uma pena, alguns papiros e um pouco de tinta.
Fim
Fundação Biblioteca Nacional
Nº. Registro: 638.844 Livro: 1.228 Folha: 57
Contato: [email protected]
Curta: Facebook.com/dramaturgiaportatil