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A MOSCA ATRAPALHADA Vou contar para vocês a confusão e correria que uma mosca arrumou certa vez... Uma mosca viu uma cobra dormindo em cima dum monte de lenha e, prestimosa como sempre, foi logo avisando-a: -- Ó, dona cobra, fuja daí porque está chegando alguém para buscar a lenha e a vendi aí pode matá-la. A cobra seguiu o conselho e se enfiou apressadamente dentro da toca de um rato. Este, ao ver a cobra entrando pela sua casa adentro, deu um guincho e fugiu todo esbaforido pela saída de emergência. Do lado de fora, deu um esbarrão na perna do faisão que, nervoso, começou a berrar. O macaco, que estava dormindo, ao ouvir a gritaria,deu um pulo tão grande que um galho caiu em cima da cabeça de um elefante que estava passando debaixo da árvore naquele momento. O elefante, apavorado, saiu esmagando tudo pela frente e acabou pisando no ninho de pássaro ntiétié. Esta ave, que tem as penas vermelhas como fogo, ficou tão zangada que incendiou a planície. O veado, que passava ali por perto, queimou as patas e correu em direção ao rio para se refrescar. Estava tão assustado que se esqueceu de gritar, como fazia sempre, para avisas as mulheres da aldeia, que estavam banhando-se no rio, para se vestirem. Elas saíram correndo e foram imediatamente se queixar ao chefe da aldeia. O veado foi então chamado para se explicar. Ele pediu desculpas e pôs a culpa no pássaro ntiétié. O chefe da aldeia mandou chamar o pássaro e este se defendeu acusando o elefante. E assim por diante todos os animais metidos na confusão tiveram que se apresentar ao enfurecido chefe da aldeia para se justificarem. Até que chegou a vez da mosca que quis fazer um bem avisando a cobra e acabou se dando mal. O chefe da aldeia reuniu o conselho de ancião para julgar o caso, e ela foi perdoada. Hoje vive por ai zumbindo no nariz da gente.

A mosca atrapalhada

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A MOSCA ATRAPALHADA

Vou contar para vocês a confusão e correria que uma mosca arrumou certa vez...

Uma mosca viu uma cobra dormindo em cima dum monte de lenha e, prestimosa como sempre, foi logo avisando-a:

-- Ó, dona cobra, fuja daí porque está chegando alguém para buscar a lenha e a vendi aí pode matá-la.

A cobra seguiu o conselho e se enfiou apressadamente dentro da toca de um rato. Este, ao ver a cobra entrando pela sua casa adentro, deu um guincho e fugiu todo esbaforido pela saída de emergência. Do lado de fora, deu um esbarrão na perna do faisão que, nervoso, começou a berrar. O macaco, que estava dormindo, ao ouvir a gritaria,deu um pulo tão grande que um galho caiu em cima da cabeça de um elefante que estava passando debaixo da árvore naquele momento.

O elefante, apavorado, saiu esmagando tudo pela frente e acabou pisando no ninho de pássaro ntiétié. Esta ave, que tem as penas vermelhas como fogo, ficou tão zangada que incendiou a planície.

O veado, que passava ali por perto, queimou as patas e correu em direção ao rio para se refrescar. Estava tão assustado que se esqueceu de gritar, como fazia sempre, para avisas as mulheres da aldeia, que estavam banhando-se no rio, para se vestirem.

Elas saíram correndo e foram imediatamente se queixar ao chefe da aldeia.

O veado foi então chamado para se explicar. Ele pediu desculpas e pôs a culpa no pássaro ntiétié. O chefe da aldeia mandou chamar o pássaro e este se defendeu acusando o elefante. E assim por diante todos os animais metidos na confusão tiveram que se apresentar ao enfurecido chefe da aldeia para se justificarem.

Até que chegou a vez da mosca que quis fazer um bem avisando a cobra e acabou se dando mal. O chefe da aldeia reuniu o conselho de ancião para julgar o caso, e ela foi perdoada.

Hoje vive por ai zumbindo no nariz da gente.

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A tartaruga e o leopardo

Escutem esta historia da tartaruga:

A tartaruga, distraída como sempre, estava voltando para a sua casa um poço tarde e, tinha que apressar os passos porque a noite começava a cobrir a floresta com o sue manto escuro.

De repente, ela caiu numa armadilha, um buraco profundo coberto com folhas de palmeiras, cavado no meio da trilha pelos caçadores da aldeia para aprisionar os animais.?

A tartaruga, graças ao seu grosso casaco, não se machucou na queda, mas como escapulir dali ? tinha que encontrar uma solução antes de amanhecer, senão ia virar sopa de aldeões.

Ela ainda estava perdida em pensamentos quando um leopardo caiu também na mesma armadilha. A tartaruga deu um pulo e, fingindo ter sido incomodada em seu refugio, berrou para o leopardo:

-- O que é isso? O que você está fazendo aqui? Isso são maneiras de entrar na minha casa? Você não sabe pedir licença? – gritava ela para o espantado leopardo.

-- Você não vê por onde anda? – continuou a tartaruga. – Será que você não sabe que não gosto de receber visitas a esta hora da noite? Saia já daqui, seu pintado mal-educado!

O leopardo, bufando de raiva com o atrevimento da tartaruga, agarrou-a com toda a força e jogou-a para fora do buraco.

A tartaruga, feliz da vida, foi embora para casa tranquilamente.

A moça e a serpente

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Vou contar a história sobre uma moça que desobedeceu aos conselhos do pai...

Havia uma moça que vivia dizendo para as amigas que só se casaria com o rapaz que ela mesma escolhesse e, nunca pelo seu pai. A serpente, enroscada num galho, ouvindo aquela conversa, correu para casa onde mudou de roupa, transformando-se num jovem forte e bonito, tendo o cuidado de deixar o rabo bem escondido.

A moça ficou encantada pelo belo rapaz e foi falar com o pai:

-- este é que vai ser o meu marido.

O pai não gostou nada da atitude desrespeitosa da filha, mas teve que ceder ao desejo da moça. E fez o casamento.

A casa da serpente ficava afstada da aldeia do sogro. A moça, coitada, passava os dias arrumando a imunda e bagunçada habitação do esposo. Ela queria fugir, mas a serpente tinha um cão, um gato e um galo que a vigiavam dia e noite. E quando alguém tentava se aproximar da casa, eles começavam a ladrar, a miar e a cacarejar avisando a serpente.

A moça tinha quatro irmãos: um adivinho, um caçador, um carpinteiro e um ladrão. Carto dia, o que era adivinho mandou chamar o pai e seus irmão à sua palhoça. Depois que todos se sentaram, ele disse que através de um sonho descobriu que a irmã tinha sido enganada por uma serpente, disfaçarada de gente, e que ela estava sofrendo muita nas mãos do terrível marido. Terminada a reunião, o pai pediu aos filhos que pegassem uma canoa e partissem em busca da irmã.

Guiados pelo adivinho, conseguiram remar até o covil da serpente. O irmão, que era ladrão, tinha roubado carne, peixe e milho para distrair a atenção do cão, do gato e do galo. Enquanto os bichos brigavam pela comida, eles pegaram a irmã e a levaram para o local onde tinham escondido a canoa. A esta altura, a serpente já sentira a presença dos intrusos e tinha destruído a canoa. O irmão, que era carpinteiro, pegou pedaços que restaram e construiu outra na mesma hora.

Estavam remando o mais rápido que podiam, quando viram a serpente nadando velozmente em direção a eles. À medida que nadava, a cobra fazia com que as águas do rio ficassem revoltas atrapalhando a fuga dos irmãos.

O irmão, que era caçador, pegou a lança, mas não sabia onde atirar porque a serpente , quando ficava enfurecida, cresciam nela mais sete cabeças.

-- Em qual devo atira? – perguntou o caçador ao adivinho.

-- Naquela ali – disso o adivinho apontando com a mão.

O caçador, apoiando-se com dificuldade na canoa que balançava pra todos os lados, mirou cuidadosamente e acertou a lança na verdadeira cabeça da serpente. Assim que ela afundou, as águas do rio tornaram-se

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calmas. Os irmãos voltaram sãos e salvos para a aldeia e a moça passou a morar com eles.

A vingança de Eraga

Esta é uma historia sobre Hipopótamos....

Houve uma época em que os hipopótamos vivam somente na terra onde dividiam as pastagens com as vacas. Mas os hipopótamos , grandalhões e vorazes, comiam quase tudo deixando muito pouco para as vacas. O dono das vacas, Ugubane, Deus do Fogo e da terra, foi reclamar com Eraga, Deus da Chuva, que era Senhor dos hipopótamos:

-- Poderoso Eraga – disse Ugubane --, as minhas vacas estão morrendo de fome por causa de seus esfomeados hipopótamos que não deixam nenhum capim para elas comerem. Exijo que tome uma providencia!

Eraga , embora ficasse contrariado com a arrogância do outro Deus, respondeu:

-- Poderoso Ugubane, pode ficar sossegado, de hoje em diante os hipopótamos só viverão dentro d’água.

Ma Eraga não perdeu tempo para se vingar. Como era o Deus da Chuva fez com que nunca mais chovesse nas propriedades de Ugubane. A seca na terra foi terrível, acabando com a vegetação e deixando as vacas mortas de fome e de sede.

Ugubane, não agüentando mais, teve que se dirigir pela segunda vez ao reino de Eraga. Desta vez foi mais humilde e ate levou uma vaca de presente para o oponente, suplicando-lhe que permitisse a chuva cair novamente sobre a terra:

-- Poderoso Eraga, já sei que você tem mais poderes do que eu. Meus animais estão morrendo e as plantas secando. Por favor, tenha piedade.

O orgulhoso Deus da Chuva, satisfeito com a humilhação imposta ao Deus do Fogo e da Terra, fez com que a chuva voltasse a regar os campos Ugubane.

Porem, desde aquele dia, os hipopótamos só vão a terra em busca de alimentos durante a noite.

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O Cassolo e as Abelhas

O cassolo é um passarinho muito esperto. Prestem atenção que vocês já vão saber por que ele age assim....

O cassolo e a abelha eram grandes amigos. Certo dia, o filho da abelha adoeceu gravemente e ela foi pedir ajuda a um “quimbanda”, que era o maior curandeiro daquela redondeza. O “quimbanda”, depois de consultar os seus ossinhos mágicos, disse que a abelhinha só ficaria boa se ele preparasse um remédio para ela com uma pena do cassolo. A abelha pagou a consulta dando uma galinha ao quimbanda e, em seguida , foi explicar o seu problema ao cassolo:

-- Meu amigo, preciso de uma de suas penas para salvar a vida de meu filho.

-- Pois não – disse o cassolo arrancando do corpo uma pena, atendendo-a prontamente.

Tempos depois foi o filhote do cassolo que ficou doente e ele teve que consultar o mesmo quimbanda. O curandeiro falou que o filhote do cassolo so melhoraria se ele fizesse um remédio com uma asinha de abelha. O cassolo deu ao quimbanda um pote com vinho de palmeira como pagamento e voou logo para a casa da abelha, certo de que esta lhe iria retribuir a ajuda anterior.

-- Abelha amiga, hoje sou eu quem necessita de sua ajuda. Para salvar o meu fulhote, preciso de uma de suas asinhas.

-- Sinto muito – respondeu a abelha ingrata – Não posso ficar sem uma das minhas asinhas. Va falar com outra abelha.

O cassolo, desesperado, procurou socorro inutilmente em todas as colméias e, desde então, por vingança, ele indica às pessoas os locais onde as abelhas guardam o seu mel.

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O Jabuti e o Chacal

Esta é a história sobre um desfio famoso entre animais....

A filha de um famoso rei era tão bonita que muitos habitantes da região queriam se casar com ela. Dia e noite chegavam pretendentes de terras distantes carregados dos mais belos presente para a linda moça. Mas o pai tinha resolvido que só daria a filha em casamento àquele que suportasse bravamente os mais difíceis desafios.

Depois de vários meses de dipsuta, foram selecionados para a prova final o Jabuti e o Chacal.

O rei já não sabia que tarefa escolher para eles, quando o Jabuti, pedindo licença, disse que tinha uma sugestão:

-- Para saber qual de nós dois é o mais corajoso, vamos ver quem consegue comer a papa de milho mais quente.

O rei gostou da idéia e o Chacal, meio desconfiado, acabou concordando também.

No dia seguinte, desde as primeiras horas da manhã, os aldeões com as mulheres e crianças já estavam sentados no chão formando um grande circulo no largo da aldeia para assisitr a ultima prova. Logo que o rei, acompanhado da esposa e da filha, usando seus melhores e mais coloridos trajes, tomaram seus lugares, protegidos do sol por uma majestosa arvore, a multidão , inqieta, começou a gritar para que a disputa começasse. No meio do alarido ouviam-se as vozes dos homens fazendo apostas, alguns do Jabuti, outros do Chacal.

Finalmente, chegou o grande momento. Os dois candidatos avançaram em direção ao rei. Este,levantou-se e , pedindo silencio ,perguntou:

-- Qual de vocês quer ser primeiro?

O Jabuti, dando um passo a frente, respondeu rapidamente:

-- Eu quero começar, majestade!

O Chacal suspirou aliviado, pois não desejava ser o primeiro mesmo.

As atenções se voltaram então para o cozinheiro da aldeia, que desde a noite anterior hava deixado um enorme caldeirão de mingau de milho fervendo numa fogueira armada no centro do pátio. Ele pegou uma concha de madeira, muito comprida, e a mergulhou no caldeirão que soltava fumaças de tão quente. O cozinheiro retirou a concha, encheu uma tigela de barro e passou para o Jabuti.

Este pegou o recipiente com muito cuidado e disse:

-- Para que todos aqui não duvidem da minha coragem, vou passar a tigela na frente de cada um de vocês para que verifiquem com seus próprios olhos como esta papa de milho está fervendo.

E, lentamente, mostrou a fumegante tigela: inicialmente para o rei, a rainha e a filha, depois deu uma volta completa no circulo humano, fazendo a mesma coisa com amultidão reunida ali. Quando terminou o passeio, o mingau já estava praticamente

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morno e não teve problema nenhum para engoli-lo de uma vez só, em meio aos aplausos do publico.

-- Chacal – disse o rei - , agora é você!

O rival carniceiro tremia tanto que, ao receber a tigela escaldante, deixou-a cair no chão queimando os pés. Não agüentando a dor , fugiu pulando numa perna só, vaiado estrepitosamente pelos aldeões.

E assim o Jabuti casou com a filha do rei.

A Águia e o gavião

Esta é a historia do gavião que também as vacas...

Há muito e muito tempo, havia uma águia poderosíssima que tinha uma porção de bois. Um belo dia, deixou-os pastando aos cuidados do sobrinho, o gavião.

O jovem era bem distraído. Deixou o gado sozinho e foi visitar um amigo que morava perto do pasto. Quando voltou, quase morreu de susto, pois a preciosa manada tinha sumido. Muito aflito, foi contar a má noticia pro tio.

O dono do tesouro ficou bravíssimo:

-- Isso não vai ficar assim – gritou. – E coitado de você se não acharmos os meus animais.

E os dois saíram voando em busca das reses.

No meio do caminho, encontraram o Sol e foram logo lhe perguntando:

-- Ó, glorioso Sol, você que vê tudo, pode nos informar por onde anda ou quem foi que roubou o meu gado?

O Sol respondeu:

--Quem apanhou sua riqueza a foi a Lua.

A águia e o gavião partiram imediatamente para a resplnadecente casa da dona do luar e , aos gritos, foram exigindo:

-- Viemos buscar os bois que você nos surrupiou.

A Lua, muito calma e bonita, não se assustou com os dois atrevidose disse, sorrindo:

-- Olhem, metade deles já comi, a outra metade vendi para as estrelas e, como não tenho mais cabeças pra devolver pra vocês, levem essas cinco moedas de ouro e comprem outros bichos.

A águia e o gavião, satisfeitos, aceitaram o dinheiro e vieram embora. Na volta, o pássaro maior entregou as moedas pro menor, avisando-lhe que tivesse cuidado para não perdê-las. O jovem colocou-as entre as penas e continuaram a voar. Quando chegaram em casa, o gavião, que era um bocado descuidado, notou com espanto que as moedas haviam desaparecidos.

-- tio, perdi o dinheiro – disse choramingando.

-- O quê, seu paspalhão! – berrou o prejudicado dono, irritadíssimo. - Agora vamos ter que sair voando por toda a floresta para ver se os bichos acharam suas moedas.

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Bateram as asas sobre todas as matas, mas os animais que encontravam diziam que não tinham visto as peças de ouro.

Zangadérrima, a águia resolveu declarar guerra a todas as outras aves, ate que aparecesse o fatídico dinheiro.

É por isso que, hoje em dia, todas as aves em busca de alimentos ficam ciscando o chão com suas unhas, procurando as cinco moedas da águia.

E é por isso também que os galos, ao nascer do sol, cantam perguntando uns aos outros:

-- Có, co,ró,co, co,có … (já apareceu o dinheiro?)

-- Có, co,ró,co, co,có … (aind anão,ainda não).

Como o gato e o rato se tornaram inimigos

No tempo em que os gatos e ratos ainda eram amigos, aconteceu uma grande enchente. Os rios transbordaram inundando os campos e as florestas.

Um gato e um rato foram pegos de surpresa pela chuvarada enquanto colhiam mandioca. Ficaram ilhados no alto de um morro, não sabendo como voltar para a aldeia onde moravam.

-- E agora? – perguntou o gato.

-- Tenho uma idéia – respondeu o rato. – Que tal construirmos uma jangada com os talos de mandioca?

O bichano aprovou a proposta do companheiro e começaram imediatamente a preparar uma improvisada embarcação com os talos de mandioca que haviam colhido durante o dia inteiro de trabalho.

Logo que a jangada ficou pronta, os dois lançaram-na à água e puseram-se a caminho de casa. Como o rio estava muito cheio tinham que ir remando devagarinho.

Remaram e remaram até que o rato, morto de fome, resolveu comer um pedacinho da jangada.

-- O que você esta fazendo? – perguntou o felino.

-- Estou com fome e por isso vou roer um bocadinho da jangada – respondeu o rato.

-- Nada disso! – gritou o parente da onça. – Continue a remar!

Quando anoiteceu, cansado também de remar, soltou um miado e acabou dormindo. O dentuço aproveitou-se do sono do colega e começou a roer. Roeu tanto, que terminou fazendo um buraco bem no meio da jangada e CATIMBUM:afundaram! Por sorte estavam perto da margem. Com muito esforço chegaram em terra firme, e então, o dorminhoco, enfurecido, falou para o roedor:

-- Agora quem vai te comer sou eu, seu desastrado!

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-- Mas estou todo enlameado, espere aqui um pouquinho que vou me lavar – disse o comilão ao mesmo tempo que desaparecia pela sua toca adentro.

Para se vingar, o outro esperou um tempão até perceber que tinha sido enganado. E é por causa desta briga que eles são inimigos até hoje.

Os Sete novelos

Uma pequena aldeia africana do pais de Gana, viviam um senhor e seus sete filhos. Depois da morte da esposa, o velho homem tornou-se pai e mãe dos garotos. Os sete irmãos eram muito bonitos. A pele deles era tão lisa e escura quanto o ébano mais legitimo. O semblante era tão teso e forte quanto a lança de um guerreiro.

Mas o velho vivia decepcionado com os filhos. Do raiar do sol até a alta noite, a pequena casa da família er preenchida pelo som das discussões entre irmãos.

Tão logo o sol raiava, os irmãos começavam a discutir. Eles discutiam a manhã toda sobre como cultivar as plantações. Discutiam a tarde toda sobre o clima.

-- Está quente – falava o filho do meio.

-- Não, uma brisa suave está soprando – retrucava o segundo filho.

Também discutiam no final da tarde sobre quando voltar para casa:

-- logo vai escurecer – ralhava o mais novo – Vamos terminar esta fileira e começar uma nova amanhã.

-- Mas é muito cedo – observava o terceiro filho.

-- Não vê que o sol está se pondo? – berrava o sexto.

E seguia-se essa rotina, até que a lua despontasse e as estrelas brilhassem no céu.

Na hora do jantar, os rapazes discutiam até que o ensopado ficasse frio e o angu estivesse duro.

-- Você deu mais para ele do que para mim _ chorava o terceiro filho.

-- Eu dividi a comida igualmente – dizia o pai.

-- Só isso de comida no meu prato? Vou ficar com fome... – reclamava o mais novo.

-- Se você não quer, então me dê! – esbravejava o mais velho, pegando um pouco de carne do prato do irmão.

-- Pare de ser tão esfomeado! – falava o mais novo.

E assim prosseguiam noite após noite. Muitas vezes a manhã chegava antes do fim do jantar.

Num triste dia, o velho pai morreu e foi enterrado. Na manhã seguinte, ao alvorecer, o chefe da aldeia do povo axânti convocou os irmãos para uma reunião.

-- Seu pai deixou-lhe uma herança – disse o chefe.

Os irmãos cochilaram empolgados.

-- Sei que meu pai deixou tudo para mim, pois sou o mais velho.

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-- E eu sei que meu pai deixou tudo para mim, pois sou o filho mais novo.

-- ele deixou tudo para mim – disse o do meio – Eu era seu filho favorito.

-- Eh! – exclamou o segundo – É tudo meu!

Os irmãos começaram a gritar e a empurrar unas aos outros, e logo os sete rolavam no chão, distribuindo socos e pontapés sobre quem estivesse ao alcance.

Então os rapazes pararam de brigar.sacudiram a poeira de suas roupas e sentaram-se diante do chefe, olhando-se ressabiado.

-- O pai de vocês decretou que todas as suas posses e propriedades serão divididas igualmente – disse o chefe. – Mas, primeiro, vocês terão de aprender a fazer ouro com estes novelos de fios de seda até que a lua surja na noite. Caso contrário, serão expulsos de casa como mendigos.

O irmão mais velho recebeu um novelo azul. O segundo, um vermelho. O seguinte, um novelo amarelo. Ao, irmão do meio foi dado um novelo laranja: ao outro, verde:o próximo recebeu um novelo preto e o caçula ganhou um novelo branco. Pela primeira vez, os irmãos ficaram quietos.

Disse o chefe, de novo:

-- De agora em diante, vocês não devem discutir entre si, nem erguer o braço com raiva, um contra o outro. Se o fizerem, a propriedade e todas as posses de seu pai serão igualmente distribuídas entre os aldeões mas pobres. Corram, vocês tem pouco tempo. Todos se curvaram perante o chefe e saíram depressa.

Quando os sete irmãos axânti chegaram a fazenda, algo incomum aconteceu: eles se sentaram lado a lado , do mais velho ao mais novo, sem dizer nada ríspido .

-- Meus irmãos – disse o mais velho depois de um tempo - , vamos nos dar as mãos e selar a paz entre nos.

-- Que nunca tenhamos de discutir ou brigar de novo – completou o irmão mais novo.

Deram-se as mãos e as apertaram firmemente.

Pela primeira vez em anos , a paz repousou dentro das paredes daquela casa.

-- Queridos irmãos – disse calmamente o terceiro - , nosso pai nunca nos largaria no mundo como mendigos.

-- Nunca - concordou o irmão do meio – Não acredito que nosso pai tivesse nos dado a tarefa de transformar fios em ouro se ela fosse impossível.

-- E se pequenos pedaços de ouro estiverem escondidos nesses novelos? – disse o irmão mais velho.

O sol brilhou forte no céu. Feixes dourados de luz invadiram o interior da cabana. Cada irmão levantou seu novelo fazendo com que as lindas cores brilhassem a luz do sol. Mas não havia nada de ouro nos novelos.

-- Receio que não , meu irmão – disse o sexto filho.

-- Mas foi uma boa idéia.

-- Obrigada – agradeceu o mais velho.

-- E se fizermos algo com esses novelos para ganhar um pouco de ouro. – sugeriu o mais novo.

-- Talvez possamos fazer tecidos com esses fios e vender – disse o mais velho.- Acho que conseguiríamos.

-- É um bom plano – ponderou o do meio. – Mas não temos fios suficientes de uma só cor para fazer uma peça inteira de tecido.

-- E se trançarmos todos os fios para fazer um tecido multicolorido? – disse o terceiro filho.

-- Mas nosso povo não usa roupas com tecidos coloridos – lembrou o quinto. – Só usamos tecidos de uma cor só.

-- Mas podemos fazer um tecido tão especial que todos irão querer usar – refletiu o segundo.

-- Meus irmãos – disse o sexto filho - , vamos terminar mais rápido se trabalharmos todos juntos.

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-- Sei que podemos conseguir – respondeu o filho do meio.

Os sete irmãos axânti lançaram-se ao trabalho. Juntos, cortaram madeira para fazer um tear. Os mais novos seguravam as peças para que os mais velhos montassem o tear.

Eles se revezaram para urdir os fios em tecidos com listras e formas que lembravam asas de pássaros. Usaram todas as cores, azul, vermelho, amarelo, laranja, verde, preto e branco.

Em pouco tempo, os irmãos tinham varias peças de lindos tecidos multicoloridos.

Quando terminaram de urdir os fios, os irmãos se revezaram também para dobrar os tecidos coloridos. Então os guardaram em cestas e colocaram as cestas sobre a cabeça.

Formaram uma fila , começando pelo mais velho até o mais novo. E tomaram o caminho da aldeia. O sol vagarosamente trilhou seu percurso dourado sobre o céu , enquanto os irmãos seguiam o mais rápido que podiam pela longa estrada poeirenta .

Assim que chegaram a praça do mercado, os sete axântis gritaram:

-- Venham comprar o tecido mais maravilhoso do mundo. Venham comprar o tecido mais maravilhoso do mundo!

Desdobram uma peça e ergueram-na , para que todos a pudessem ver. O tecido colorido cintilou como o arco-íris,atraindo uma multidão ao seu redor.

-- Oh! – exclamou um aldeão, - eu nunca vi um tecido tão bonito! Que diferente!

-- Ah! – exclamou outro – esse é o tecido mais fino da terra. Sinta a textura.

Os irmãos sorriram, orgulhosos. De repente, um homem vestido com uma magnífica túnica abriu caminho pela multidão. Todos recuaram em sinal de respeito, pois era o tesoureiro do rei. Ele esfregou o tecido entre suas mãos e o levantou na direção do sol.

-- Quanta beleza! –disse, manuseando o material. - Este tecido será um presente digno para o rei! Quero comprar tudo.

Os sete irmãos cochicharam:

-- um tecido digno de um rei deve ser adquirido por um bom preço que só um rei pode pagar – disse o mais velho. – O tecido será todo seu por uma sacola de ouro.

-- Negócio fechado – disse o tesoureiro, que estendeu sua sacola em direção aos irmãos, derramando várias peças de ouro.

Os Sete axânti correram em direção a cabana do chefe. Uma lua brilhante e prateada começava a despontar no céu. Muito ofegantes e pingando de suor, os irmãos se atiraram ao chão diante da cabana.

-- Veja, chefe – arfava o mais velho -, transformamos os novelos de fios de seda em ouro!

O chefe saiu da cabana e sentou-se em um barquinho.

O irmão mais velho esparramou o ouro pelo chão .

-- Vocês brigaram ou discutiram hoje? – perguntou o chefe.

-- Não, meu chefe – respondeu o mais novo.- estivemos tão ocupados, trabalhando juntos, que não tivemos tempo de brigar ou discutir.

-- Então vocês aprenderam a lição que seu pai queria ensinar-lhes – disse o chefe. – Tudo que ele possuía agora pertence a vocês.

Os irmãos mais velhos sorriam felizes, mas o caçula parecia triste.

-- E quanto as pessoas pobres da aldeia? – perguntou. – Nos recebemos a nossa h

Herança e eles ficaram sem nada. O que eles farão?

-- E se nós os ensinássemos a transformar fios em ouro? – sugeriu o mais velho.

O chefe sorriu:

--Vocês aprenderam bem a lição.

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Os sete irmãos axântis ensinaram seu povo com perfeição. A aldeia tornou-se famosa e prospera por seus lindos tecidos multicoloridos.

Daquele dia em diante, os sete irmãos trabalham juntos no cultivo da terra.

E eles trabalhavam em harmonia , em respeito a memória de seu pai.

(Um conto de Kwanzaa – Angêla Shelf Medearis – Ditado por Larissa , digitado por Érika)