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UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO FÁBIO SIMIÃO
A NOÇÃO DE MATRIZ NA TRANSIÇÃO ENTRE O ENSINO MÉDIO E O SUPERIOR
SÃO PAULO 2010
UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO
MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA CONSELHO DA PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
FÁBIO SIMIÃO
A NOÇÃO DE MATRIZ NA TRANSIÇÃO ENTRE O ENSINO MÉDIO E O SUPERIOR
Dissertação apresentada como exigência parcial à Banca Examinadora da Universidade Bandeirante de São Paulo - UNIBAN, para a obtenção do título de Mestre em Educação Matemática, sob a orientação da Prof.ª Dra. Tânia Maria Mendonça Campos e co-orientação da Prof.ª Dra. Marlene Alves Dias
SÃO PAULO 2010
S61n Simião, Fábio A noção de matriz na transição entre o ensino médio e o
superior / Fábio Simião - São Paulo: [s.n.], 2010. 323 f. il. ; 30 cm. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação
em Educação Matemática, Universidade Bandeirante de São Paulo, Curso de Educação Matemática.
Orientadora: Profª. Drª. Tânia Maria Mendonça Campos. Co-Orientadora: Profª. Drª. Marlene Alves Dias. 1. Matrizes 2. Licenciatura em Matemática 3. Mudança
de quadro I. Título CDD: 512.9434
ii
FÁBIO SIMIÃO
A NOÇÃO DE MATRIZ NA TRANSIÇÃO ENTRE O
ENSINO MÉDIO E O SUPERIOR
DISSERTAÇÃO APRESENTADA À UNIVERSIDADE BANDEIRANTE
DE SÃO PAULO COMO EXIGÊNCIA DO PROGRAMA DE PÓS-
GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
Presidente e Orientador
Nome: Professora Doutora Tânia Maria Mendonça Campos
Titulação: Doutora em Matemática
Instituição: Universidade Bandeirante de São Paulo
Assinatura: _________________________________________________
2ª Examinador
Nome: Professora Doutora Divanizia do Nascimento Souza
Titulação: Doutora em Tecnologia Nuclear
Instituição: Universidade Federal de Sergipe
Assinatura: _________________________________________________
3ª Examinador
Nome: Professora Doutora Monica Karrer
Titulação: Doutora em Educação Matemática
Instituição: Universidade Bandeirante de São Paulo
Assinatura: _________________________________________________
Biblioteca
Bibliotecário:_______________________________________________
Assinatura:________________________________ DATA ___/___/___ .
São Paulo, ___ de __________ de ____.
iii
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou
parcial desta Dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.
Assinatura:________________________________ Local e Data:___________________
v
AGRADECIMENTOS I
À Professora Doutora Tânia Maria Mendonça Campos, pelos apontamentos
efetuados no decorrer do curso, pelo apoio que acredito ter ultrapassado as
orientações acadêmicas, por suas palavras e cobranças que me conduziram a
novos paradigmas.
À Professora Doutora Marlene Alves Dias, pelas horas de coorientação, pelo
carinho, pela compreensão, pela condução do caminho a ser percorrido e pelas
observações no decorrer desta trajetória, compartilhando comigo sua experiência e
sabedoria.
À Professora Doutora Mônica Karrer e à Professora Doutora Divanizia do
Nascimento Souza, pelas valiosas contribuições oferecidas a esta pesquisa.
A todos os professores do Projeto de Mestrado em Educação Matemática da
Universidade Bandeirante de São Paulo, em especial aos professores Doutora
Angélica da Fontoura Garcia Silva, Doutor Alessandro Jacques Ribeiro, Doutora
Maria Elisabette Brisola Brito Prado, Doutora Silmara Alexandra da Silva, Doutora
Vera Helena Giusti de Souza e Doutor Vincenzo Bongiovanni, pelos momentos de
atenção, carinho e observação.
A toda a Secretaria de Pós-Graduação da Uniban – Campo de Marte, em especial
aos profissionais Fabrício Flores e Guilherme Galvão de Menezes, pelo serviço
prestado aos estudantes e aos professores.
À Biblioteca da Uniban – Campo de Marte, representada pela Bibliotecária
Antônia Irene Bié Alexandre de Azambuja, pelo excelente trabalho prestado e pela
atenção dada a todos os estudantes.
A presença de todos foi importante para finalização desta dissertação.
O autor.
vi
AGRADECIMENTOS II
Aos meus familiares, em especial à minha Mãe Maria Teresinha Simião, às
minhas irmãs Márcia Cristina Simião e Mércia Regina Simião, à minha Companheira
Ruth Martins da Silva e a meu Filho Gustavo Martins Simião, pelos momentos de
colaboração com o meu estudo.
Aos meus amigos e colegas que me conduziram, me compreenderam e me
apoiaram, em especial, Celso Aparecido Alves, Ed Carlos Luiz da Silva, Eliezer
Antônio da Silva, Elvis Ferreira Duarte, José Valdo Souza de Santana, Kleber
Aparecido Guilherme Oliveira, Lucia Helena Nobre Barros, Marcio Dorigo, Paulo
Pagano, Raquel Factori Canova e Sirlene Neves de Andrade.
A todos os professores do meu “Primeiro Grau” (Escola Estadual Professor
Francisco Antonio Martins Junior) e do “Colegial” (Escola Estadual Doutor Luiz
Arrobas Martins), que mesmo sem condições não mediram forças para nos ensinar.
A todos os professores do Ensino Superior, que me ajudaram em todos os
sentidos, em especial aos Professores do Curso de Matemática da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, que me ensinaram a refletir e a buscar o significado.
Ao Professor Mestre Fausto Hossamu Mizutani, por suas significativas aulas de
Física Geral; acredito que estas foram importantes para minha vida.
À Professora Doutora Vera Lucia Antonio Azevedo, por sua articulação
matemática, pela amizade e orientação ao meu trabalho de conclusão de
Bacharelado em Matemática e pela imensa ajuda para consecução deste trabalho.
A todos que contribuíram em alguma medida para minha formação e para a
construção desta pesquisa.
O autor
vii
AGRADECIMENTOS III
A todas as Escolas Estaduais do Estado de São Paulo em que trabalhei como
professor e coordenador pedagógico, em especial, à Escola Estadual Professor
Humberto Alfredo Pucca, à Escola Estadual Professor João Silva, à Escola Estadual
Pastor Cícero Canuto de Lima, à Escola Estadual Professor Francisco Antonio
Martins Junior, à Escola Estadual Professor Orlando Mendes de Moraes, à Escola
Estadual Professora Amélia Kerr Nogueira e à Escola Estadual Oswald de Andrade.
À Diretoria de Ensino Sul 2, pelo competente trabalho realizado em sua jurisdição,
em especial à Dirigente Regional de Ensino Maria Ligia Fernandes Branco; aos
supervisores de ensino; aos professores coordenadores pedagógicos; aos
assistentes técnicos; e a todos os funcionários, que me acolheram e me ajudaram.
Ao Diretor Professor Valmir Rodrigues e a Vice-diretora Professora Maria
Angélica S. Carmo, pelos momentos de atenção e luta.
Ao Centro Universitário Anhanguera Educacional - Unidade Campo Limpo, em
especial aos coordenadores de curso, aos professores e aos funcionários, por
acreditarem em meu desenvolvimento profissional.
Ao Centro de Ensino a Distância de São Paulo, em especial à Professora e
Diretora Virginia Christina Torres e à Mantenedora, Professora Silvia Oliveira Leite
de Sá, que contribuíram imensamente para o meu progresso profissional.
À Professora Leda Maria de S. F. Farah, pelo belo trabalho de correção; desejo
ter alcançado suas expectativas, quando mudei algumas colocações.
Acredito que o apoio de todos foi fundamental à minha formação profissional e
pessoal.
O autor
viii
Todos nós somos capazes de aprender e superar nossas dificuldades.
Professora Doutora Tânia Maria Mendonça Campos
ix
RESUMO
SIMIÃO, F. A noção de matriz na transição entre o Ensino Médio e o Ensino Superior. 2010. 323f. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática, Universidade Bandeirante de São Paulo, São Paulo, 2010.
Nesta pesquisa consideram-se as organizações matemáticas e didáticas associadas à noção de matriz, suas operações e propriedades, com o objetivo de identificar o que se espera como conhecimento prévio, pelo menos mobilizável, desse conteúdo matemático dos estudantes, na transição entre o Ensino Médio e o Superior. Para tanto, analisar-se-ão documentos oficiais, livros didáticos, Caderno do professor e do aluno e propostas institucionais para o desenvolvimento dessa noção no Ensino Médio. Considerar-se-á também qual a importância dessa noção para a disciplina de Álgebra Linear no Ensino Superior. Tal estudo é conduzido por meio de uma grade de análise construída para esse fim, em que se utilizam as ferramentas teóricas escolhidas como referência para esta pesquisa. Os resultados da análise mostram que a noção de matriz, suas operações e propriedades são trabalhadas, enquanto ferramenta explícita, para o desenvolvimento de tarefas associadas a outras noções matemáticas no Ensino Médio, e que esse trabalho pode servir de apoio para a introdução da Álgebra Linear em IRn no Ensino Superior.
Palavras-chave: licenciatura em Matemática; matrizes; mudança de quadro; níveis de conhecimento; relações institucionais e pessoais.
x
ABSTRACT
SIMIÃO, F. The notion of matrix in the transition from High School to Higher Education. 2010. 323f. Master’s dissertation – Post-graduate program in Mathematics Education, Universidade Bandeirante de São Paulo, São Paulo, 2010.
This research considered mathematical and teaching organizations associated to the notion of matrix, its operations and properties, aiming at identifying what is expected as students’ prior, at least mobilized, knowledge of this mathematics concept in the transition from High School to Higher Education. In order to do so, official documents, course books, teachers’ and students’ books as well as institutional proposals for the development of this notion in High School will be analysed. The importance of this notion for the Linear Algebra course in Higher Education will also be considered. Such study is conducted through an analysis grid prepared for this purpose where theoretical tools chosen as reference for this research are used. The results of the analysis reveal that the notion of matrix, its operations and properties are worked as explicit tool for the development of tasks associated to other mathematical notions in High School and that this project can be used as a support for the introduction of linear algebra in R (real numbers) at Higher Education.
Key words: Mathematics teaching course; matrices; change of picture; levels of knowledge; institutional and personal relationships.
xi
LISTA DE ABREVIATURAS AL Álgebra Linear
CASP Caderno do Aluno do Estado de São Paulo, referente à Nova Proposta
Curricular de 2008
CNLDEM Catálogo Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio
CHS Carga Horária
DCNEM Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
DCNM Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Matemática,
Licenciatura e Bacharelado
EFEI-MG Escola Federal de Engenharia Itajubá – Minas Gerais
EM Ensino Médio
ENADE Exame Nacional de Desempenho de Estudante
ES Ensino Superior
IMPA Instituto de Matemática Pura e Aplicada
OCNEM Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
NPCSP Nova Proposta Curricular do Estado de São Paulo
GAV Geometria Analítica e Vetores
GA Geometria Analítica
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
MACK Universidade Presbiteriana Mackenzie
MEC Ministério da Educação Cultura e Desporto
PNELEM Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio
PCN Parâmetro Curricular Nacional
PCNEM Parâmetro Curricular Nacional para o Ensino Médio
PCN+ Parâmetro Curricular Nacional para o Ensino Médio (complementar)
SARESP Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo
SBM Sociedade Brasileira de Matemática
SEE-SP Secretaria da Educação do Estado de São Paulo
UNIBAN Universidade Bandeirante de São Paulo
USP Universidade de São Paulo
UFSCAR Universidade Federal de São Carlos
VGA Vetores e Geometria Analítica
xii
LISTA DE FIGURAS pág Figura 1 Tarefa de vestibular ............................................................................................ 41
Figura 2 Tarefa sobre ferramenta implícita e explícita ..................................................... 46
Figura 3 Exemplo de tarefa enunciado no quatro numérico ............................................. 50
Figura 4 Exemplo de quadro matricial numérico .............................................................. 51
Figura 5 Tarefa referente ao quadro matricial numérico .................................................. 52
Figura 6 Exemplos de representação algébrica de uma matriz ....................................... 53
Figura 7 Tarefa da segunda fase do vestibular da Unicamp (2010) ................................ 54
Figura 8 Tarefa sobre relação algébrica funcional ........................................................... 55
Figura 9 Tarefa sobre quadro da geometria métrica plana .............................................. 56
Figura 10 Tarefa sobre quadro da geometria plana ........................................................... 57
Figura 11 Tarefa sobre determinante ................................................................................. 58
Figura 12 Tarefa sobre determinante ................................................................................. 59
Figura 13 Tarefa de quadro dos sistemas lineares ............................................................ 60
Figura 14 Tarefa de nível técnico ....................................................................................... 63
Figura 15 Exemplo de tarefa de nível técnico .................................................................... 64
Figura 16 Tarefa sobre nível mobilizável ............................................................................ 65
Figura 17 Tarefa sobre nível mobilizável ............................................................................ 65
Figura 18 Tarefa sobre nível mobilizável ............................................................................ 66
Figura 19 Tarefa referente ao nível disponível ................................................................... 67
Figura 20 Tarefa de adição entre matrizes ......................................................................... 73
Figura 21 Tarefa exemplificando objeto não ostensivo ...................................................... 74
Figura 22 Tarefa de multiplicação ...................................................................................... 75
Figura 23 Exemplo enunciado no quadro numérico ........................................................... 140
Figura 24 Exemplo no quadro matricial numérico .............................................................. 142
Figura 25 Exemplo de uma matriz no quadro matricial algébrico ...................................... 143
Figura 26 Exemplo de enunciado no quadro algébrico funcional ....................................... 144
Figura 27 Exemplo no quadro da geometria plana ............................................................ 145
Figura 28 Exemplo no quadro da geometria analítica ........................................................ 146
Figura 29 Exemplo no quadro dos determinantes .............................................................. 147
Figura 30 Exemplo no quadro dos sistemas de equações lineares ................................... 149
Figura 31 Exemplo sobre ostensivos .................................................................................. 150
Figura 32 Exemplo referente ao nível técnico .................................................................... 152
Figura 33 Exemplo de tarefa do nível mobilizável .............................................................. 153
Figura 34 Solução da tarefa da Figura 33 .......................................................................... 154
xiii
Figura 35 Exemplo de tarefa correspondente ao nível disponível ..................................... 155
Figura 36 Exercício correspondente a tarefa 1 ................................................................... 158
Figura 37 Solução do exercício da Figura 36 ..................................................................... 159
Figura 38 Exemplo referente a tarefa 1 .............................................................................. 159
Figura 39 Solução do exemplo da Figura 38 ...................................................................... 160
Figura 40 Exemplo referente a tarefa 2 .............................................................................. 160
Figura 41 Solução do exemplo da Figura 40 ...................................................................... 161
Figura 42 Exemplo da tarefa 3 ........................................................................................... 162
Figura 43 Solução do exemplo da Figura 42 ...................................................................... 162
Figura 44 Exemplo da tarefa 4 ........................................................................................... 163
Figura 45 Solução do exemplo da Figura 44 ...................................................................... 164
Figura 46 Exemplo da tarefa 4 ........................................................................................... 165
Figura 47 Solução do exemplo da Figura 46 ...................................................................... 165
Figura 48 Exemplo de tarefa 5 ........................................................................................... 166
Figura 49 Solução do exemplo da Figura 48 ...................................................................... 166
Figura 50 Exemplo de tarefa 5 ........................................................................................... 167
Figura 51 Solução do exemplo da Figura 50 ...................................................................... 167
Figura 52 Exemplo de tarefa 6 ........................................................................................... 168
Figura 53 Solução do exemplo da Figura 52 ...................................................................... 169
Figura 54 Exemplo de tarefa 7 ........................................................................................... 170
Figura 55 Solução do exemplo da Figura 54 ...................................................................... 170
Figura 56 Exemplo de tarefa 7 ........................................................................................... 171
Figura 57 Solução do exemplo da Figura 56 ...................................................................... 172
Figura 58 Exemplo de tarefa 7 ........................................................................................... 173
Figura 59 Solução do exemplo da Figura 58 ...................................................................... 173
Figura 60 Exemplo de tarefa 7 ........................................................................................... 174
Figura 61 Solução do exemplo da Figura 60 ...................................................................... 175
Figura 62 Exemplo de tarefa 8 ........................................................................................... 176
Figura 63 Solução do exemplo da Figura 62 ...................................................................... 176
Figura 64 Exemplo de tarefa 9 ........................................................................................... 177
Figura 65 Solução do exemplo da Figura 64 ...................................................................... 177
Figura 66 Exemplo de tarefa 9 ........................................................................................... 178
Figura 67 Solução do exemplo da Figura 66 ...................................................................... 178
Figura 68 Exemplo de tarefa 9 ........................................................................................... 179
Figura 69 Solução do exemplo da Figura 68 ...................................................................... 179
xiv
Figura 70 Exemplo de tarefa 10 ......................................................................................... 180
Figura 71 Solução do exemplo da Figura 70 ...................................................................... 180
Figura 72 Exemplo de tarefa 10 ......................................................................................... 181
Figura 73 Solução do exemplo da Figura 72 ...................................................................... 181
Figura 74 Exemplo de tarefa de multiplicação de matrizes ................................................ 192
Figura 75 Exemplo dos processos computacionais ........................................................... 198
Figura 76 Ostensivo de representação escritural do discurso de gestos ........................... 204
Figura 77 Tarefa apresentada na situação 1 ...................................................................... 208
Figura 78 Tarefa apresentada na situação 2 ...................................................................... 209
Figura 79 Tarefa apresentada na situação 3 ...................................................................... 209
Figura 80 Tarefa apresentada na situação 4 ...................................................................... 210
Figura 81 Tarefa associada ao braço mecânico ................................................................. 221
Figura 82 Tarefa do SARESP ............................................................................................. 233
Figura 83 Tarefa do SARESP ............................................................................................. 234
Figura 84 Tarefa do SARESP ............................................................................................. 234
Figura 85 Tarefa do SARESP ............................................................................................. 235
Figura 86 Tarefa do SARESP ............................................................................................. 236
Figura 87 Tarefa do SARESP ............................................................................................. 236
Figura 88 Tarefa do SARESP ............................................................................................. 237
Figura 89 Tarefa do SARESP ............................................................................................. 237
Figura 90 Tarefa do SARESP ............................................................................................. 238
Figura 91 Tarefa do SARESP ............................................................................................. 239
Figura 92 Tarefa do SARESP ............................................................................................. 239
Figura 93 Tarefa do SARESP ............................................................................................. 240
Figura 94 Tarefa do SARESP ............................................................................................. 240
Figura 95 Tarefa do SARESP ............................................................................................. 241
Figura 96 Solução do exemplo da Figura 95 ...................................................................... 241
Figura 97 Tarefa do ENEM ................................................................................................. 244
Figura 98 Tarefa da FUVEST ............................................................................................. 247
Figura 99 Tarefa da FUVEST ............................................................................................. 247
Figura 100 Tarefa da FUVEST ............................................................................................. 248
Figura 101 Tarefa da FUVEST ............................................................................................. 248
Figura 102 Tarefa do ENADE ............................................................................................... 252
Figura 103 Tarefa do ENADE ............................................................................................... 253
Figura 104 Tarefa do ENADE ............................................................................................... 254
xv
LISTA DE QUADROS pág.
Quadro 1 Base nacional comum dos currículos do Ensino Médio .................................. 85
Quadro 2 Objetivo das competências e habilidades ........................................................ 86
Quadro 3 Reflexão sobre os parâmetros e a noção de matriz ........................................ 96
Quadro 4 Noções que podem ser revisitadas .................................................................. 100
Quadro 5 Objetivos da diretriz ......................................................................................... 112
Quadro 6 Descrição do perfil profissional ........................................................................ 113
Quadro 7 Competências e habilidades do estudante em matemática ............................ 113
Quadro 8 Competências e habilidades do educador matemático ................................... 114
Quadro 9 Estrutura do curso de matemática ................................................................... 114
Quadro 10 Eixo de disciplinas ........................................................................................... 115
Quadro 11 Ementa da disciplina de Geometria Analítica e Vetores I ................................ 117
Quadro 12 Bibliografia básica e complementar de GAV I ................................................. 118
Quadro 13 Ementa da disciplina de Geometria Analítica e Vetores II ............................... 119
Quadro 14 Bibliografia básica e complementar de GAV II ................................................ 119
Quadro 15 Ementa da disciplina de Cálculo Numérico ..................................................... 120
Quadro 16 Ementa da disciplina de Geometria Analítica e Vetores III .............................. 121
Quadro 17 Bibliografia básica e complementar de GAV III ............................................... 121
Quadro 18 Ementa da disciplina de Álgebra Linear .......................................................... 122
Quadro 19 Bibliografia básica e complementar de Álgebra Linear .................................... 122
Quadro 20 Ementa da disciplina de Álgebra Linear .......................................................... 125
Quadro 21 Bibliografia básica e complementar de Álgebra Linear .................................... 126
Quadro 22 Ementa da disciplina de Vetores e Geometria Analítica .................................. 128
Quadro 23 Bibliografia básica e complementar de VGA ................................................... 128
Quadro 24 Ementa da disciplina de Álgebra Linear A ....................................................... 129
Quadro 25 Bibliografia básica e complementar de Álgebra Linear A ................................ 129
Quadro 26 Ementa da disciplina de Geometria Analítica .................................................. 131
Quadro 27 Bibliografia básica de Geometria Analítica ...................................................... 132
Quadro 28 Ementa da disciplina Introdução à Álgebra Linear .......................................... 133
Quadro 29 Bibliografia básica e complementar de Álgebra Linear .................................... 134
Quadro 30 Definição dos itens da grade ........................................................................... 157
Quadro 31 Conteúdos desenvolvidos na obra, relacionados as noções de matrizes ....... 191
Quadro 32 Outras tarefas mobilizadas na obra de Elon Lages Lima et al. ....................... 197
Quadro 33 Conteúdos desenvolvidos na obra com relação às noções de matrizes ......... 199
Quadro 34 Outras tarefas mobilizadas n obra de Luiz Roberto Dante .............................. 206
xvi
Quadro 35 Conteúdos desenvolvidos no Caderno com relação às noções de matrizes .. 210
Quadro 36 Outras tarefas desenvolvidas na obra – Caderno do aluno ............................. 213
Quadro 37 Conteúdos desenvolvidos na obra com relação às noções de matrizes ......... 215
Quadro 38 Outras tarefas mobilizadas na obra de Carlos Alberto Callioli ......................... 217
Quadro 39 Conteúdos desenvolvidos na obra com relação às noções de matrizes ......... 218
Quadro 40 Outras tarefas mobilizadas na obra de Howard Anton .................................... 221
xvii
LISTA DE TABELAS pág.Tabela 1 Conteúdo referente aos três eixos – PCN + ........................................................ 094
Tabela 2 Conteúdo referente a Nova Proposta da SEE-SP (2008) ................................... 104
Tabela 3 Conteúdo – Relações Institucionais Esperadas – PCN + ................................... 107
Tabela 4 Conteúdo – Relações Institucionais Esperadas – OCNEM ................................. 108
Tabela 5 Conteúdo – Relações Institucionais Esperadas – NPCSP .................................. 109
Tabela 6 Extrato da grade curricular – MACK .................................................................... 117
Tabela 7 Extrato da grade curricular – UFSCAR ................................................................ 127
Tabela 8 Extrato da grade curricular – USP ....................................................................... 131
Tabela 9 Livros de Álgebra Linear utilizado pelas Universidades investigadas ................. 135
Tabela 10 Grade de análise ................................................................................................. 156
Tabela 11 Dez tarefas comumente encontradas no Ensino Médio ...................................... 157
Tabela 12 Obras didáticas investigadas na pesquisa .......................................................... 188
Tabela 13 Tarefas desenvolvidas na obra de Elon Lages Lima ........................................... 195
Tabela 14 Tarefas desenvolvidas na obra de Luiz Roberto Dante ...................................... 200
Tabela 15 Tarefas desenvolvidas na obra – Caderno do Aluno .......................................... 211
Tabela 16 Tarefas desenvolvidas na obra de Carlos Alberto CAllioli ................................... 215
Tabela 17 Tarefas desenvolvidas na obra de Howard Anton ............................................... 219
Tabela 18 Eixos dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio .................. 228
Tabela 19 Avaliações analisadas ......................................................................................... 229
Tabela 20 Panorama das aplicações ................................................................................... 230
Tabela 21 Conteúdos do Ensino Médio mobilizados no SARESP ....................................... 231
Tabela 22 Conteúdos do Ensino Médio mobilizados no ENEM ........................................... 242
Tabela 23 Conteúdos do Ensino Médio mobilizados na FUVEST ....................................... 245
Tabela 24 Conteúdos do Ensino Superior mobilizados no ENADE ..................................... 250
xviii
LISTA DE ANEXOS Pág. Anexo I Solução da tarefa apresentada na Figura 1 ................................................ 273
Anexo II Solução da tarefa apresentada na Figura 2 ................................................ 274
Anexo III Outro método de solução apresentada na Figura 2 .................................... 275
Anexo IV Outro método de solução apresentada na Figura 2 .................................... 276
Anexo V Outro método de solução apresentada na Figura 2 .................................... 277
Anexo VI Representação no Eixo Cartesiano ............................................................. 278
Anexo VII Solução da tarefa apresentada na Figura 3 ................................................ 279
Anexo VIII Solução da tarefa apresentada na Figura 5 ................................................ 280
Anexo IX Solução parcial da tarefa apresentada na Figura 7 ..................................... 281
Anexo X Solução da tarefa apresentada na Figura 8 ................................................ 282
Anexo XI Solução da tarefa apresentada na Figura 9 ................................................ 283
Anexo XII Solução da tarefa apresentada na Figura 10 .............................................. 284
Anexo XIII Solução da tarefa apresentada na Figura 12 .............................................. 285
Anexo XIV Solução final da tarefa apresentada na Figura 7 ......................................... 286
Anexo XV Solução da tarefa apresentada na Figura 15 .............................................. 287
Anexo XVI Solução da tarefa apresentada na Figura 17 .............................................. 288
Anexo XVII Solução da tarefa apresentada na Figura 18 .............................................. 289
Anexo XVIII Solução da tarefa apresentada na Figura 19 .............................................. 290
Anexo XIX Solução da tarefa apresentada na Figura 20 .............................................. 291
Anexo XX Rubrica sobre aprendizagem, competência e habilidade – PCN ................ 292
Anexo XXI Rubrica sobre competência e habilidade para disciplinas do EM – PCN .... 292
Anexo XXII Objetivo da matemática no Ensino Médio – PCN ........................................ 294
Anexo XXIII Competência e habilidade em matemática – PCN ...................................... 295
Anexo XXIV Investigação e compreensão – PCN ........................................................... 296
Anexo XXV Contextualização sóciocultural – PCN ....................................................... 297
Anexo XXVI Três principais competências – PCN + ....................................................... 298
Anexo XXVII Representação e Comunicação – PCN + .................................................... 299
Anexo XXVIII Investigação e compreensão – PCN + ........................................................ 301
Anexo XXIX Contextualização sociocultural – PCN + ..................................................... 303
Anexo XXX Sinopse dos livros Mello (2005) e Boulos (2005) ........................................ 305
Anexo XXXI Sinopse do livro Winterle (2000) .................................................................. 306
Anexo XXXII Diagrama de capítulos da obra de Callioli (1983) ........................................ 307
Anexo XXXIII Sinopse dos livros Anton (2006) e Steimbruch (1997) ................................ 308
Anexo XXXIV Sinopse do livro de Caroli (1978) ................................................................ 308
xix
Anexo XXXV Sinopse dos livros de Boldrini (1980) e Coelho (2005) ............................... 308
Anexo XXXVI Sinopse do livro de Leithold (1997) ............................................................. 309
Anexo XXXVII Sinopse dos livros de Barone (1988) e Banchoff (1992) ............................. 309
Anexo XXXVIII Solução da tarefa apresentada na Figura 23 .............................................. 311
Anexo XXXIX Solução da tarefa apresentada na Figura 24 .............................................. 312
Anexo XL Solução da tarefa apresentada na Figura 26 .............................................. 313
Anexo XLI Solução da tarefa apresentada na Figura 27 .............................................. 314
Anexo XLII Solução da tarefa apresentada na Figura 28 .............................................. 315
Anexo XLIII Solução da tarefa apresentada na Figura 29 .............................................. 316
Anexo XLIV Solução da tarefa apresentada na Figura 30 .............................................. 317
Anexo XLV Solução da tarefa apresentada na Figura 31 .............................................. 318
Anexo XLVI Solução da tarefa apresentada na Figura 32 .............................................. 319
Anexo XLVII Solução da tarefa apresentada na Figura 35 .............................................. 320
Anexo XLVIII Descrição dos livros de matemática segundo CNLDEM (2009) .................. 321
Anexo XLIX Definição das noções trabalhadas no Ensino Médio ................................... 323
xx
SUMÁRIO
Introdução ............................................................................................................ 023
Capítulo 1: Problemática, objetivo e metodologia da pesquisa 029
1.1 Contexto da pesquisa ................................................................................. 029
1.2 Problemática da pesquisa ........................................................................... 032
1.3 Objetivo da pesquisa ................................................................................... 034
1.4 Metodologia da pesquisa ............................................................................ 035
Capítulo 2: Referencial teórico da pesquisa 038
2.1 Considerações iniciais sobre o capítulo ...................................................... 038
2.2 A noção de quadro de Douady ................................................................... 040
2.3 A abordagem teórica em termos de nível de conhecimento e algumas noções da teoria antropológica do didático ................................................. 061
2.3.1 Os três níveis de conhecimento esperado dos estudantes, conforme Robert (1997, 1998) .......................................................... 062
2.3.2 Alguns elementos da teoria antropológica do didático ..................... 069
2.4 Considerações finais sobre o capítulo ........................................................ 076
Capítulo 3: Análise das relações institucionais esperadas – Ensino Médio 078
3.1 Considerações iniciais sobre o capítulo ...................................................... 078
3.2 A noção de topos do professor e do estudante de Chevallard e Grenier ... 080
3.3 Novo Ensino Médio ..................................................................................... 081
3.4 Diretrizes curriculares nacionais para o Ensino Médio ............................... 083
3.4.1 Parâmetros curriculares nacionais para o Ensino Médio .................. 087
3.4.1.1 Parâmetros curriculares nacionais para o Ensino Médio (2000) ...................................................................................
087
3.4.1.2 Parâmetros curriculares nacionais (+) – Ensino Médio........ 091
3.4.2 Reflexões sobre a abordagem da noção de matriz no Ensino Médio 096
3.5 Orientações curriculares para o Ensino Médio ........................................... 097
xxi
3.6 Nova proposta curricular do Estado de São Paulo, 2008 ........................... 102
3.7 Considerações finais sobre o capítulo ........................................................ 106
Capítulo 4: Análise das relações institucionais esperadas – Ensino Superior 111
4.1 Considerações iniciais sobre o capítulo....................................................... 111
4.2 Diretrizes curriculares nacionais para o curso de matemática .................... 112
4.3 Plano de ensino – Análise das noções de matrizes no E. Superior ............ 115
4.3.1 Universidade Presbiteriana Mackenzie ............................................. 116
4.3.2 Universidade Bandeirante de São Paulo .......................................... 124
4.3.3 Universidade Federal de São Carlos ................................................ 127
4.3.4 Universidade de São Paulo ............................................................... 130
4.4 Considerações finais sobre o capítulo ........................................................ 135
Capítulo 5: Grade de análise 138
5.1 Considerações iniciais sobre o capítulo ...................................................... 138
5.2 Exemplos das ferramentas didáticas que compõem a grade de análise .... 138
5.3 A grade de análise ...................................................................................... 156
5.4 Exemplos de funcionamento da grade de análise ...................................... 158
5.5 Considerações finais sobre o capítulo ........................................................ 182
Capítulo 6: Análise das relações institucionais existentes 184
6.1 Considerações iniciais sobre o capítulo ...................................................... 184
6.2 A análise das obras didáticas ..................................................................... 188
6.3 Análise da obra de Elon Lages Lima et al. .................................................. 189
6.3.1 Comentários e análise ...................................................................... 189
6.4 Análise da obra de Luiz Roberto Dante....................................................... 197
6.4.1 Comentários e análise ...................................................................... 197
6.5 Análise do Caderno do aluno ...................................................................... 207
6.5.1 Comentários e análise ...................................................................... 207
xxii
6.6 Análise da obra de Carlos Alberto Callioli et al. .......................................... 214
6.6.1 Comentários e análise ...................................................................... 214
6.7 Análise da obra de Howard Anton .............................................................. 217
6.7.1 Comentários e análise ...................................................................... 217
6.8 Considerações finais sobre o capítulo......................................................... 222
Capítulo 7: Análise das relações pessoais esperadas dos estudantes por meio das macroavaliações: SARESP, ENEM, FUVEST e ENADE 226
7.1 Considerações iniciais sobre o capítulo ...................................................... 226
7.2 Relações institucionais esperadas e existentes x Relações pessoais esperadas ...................................................................................................
228 7.3 Análise das avaliações escolhidas .............................................................. 229
7.4 Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo – SARESP ......................................................................................................
230
7.4.1 Comentários e Análise .................................................................... 230
7.5 Exame Nacional do Ensino Médio .............................................................. 242
7.5.1 Comentários e Análise .................................................................... 242
7.6 Fundação Universitária para o Vestibular – FUVEST ................................. 244
7.6.1 Comentários e Análise ..................................................................... 244
7.7 Exame Nacional de Desempenho de Estudantes ....................................... 249
7.7.1 Comentários e Análise ..................................................................... 249
7.8 Considerações finais sobre o capítulo ........................................................ 255
Considerações e perspectivas futuras .............................................................. 258
Referências bibliográficas .................................................................................. 263
Anexos .................................................................................................................. 273
23
INTRODUÇÃO
Quando estudante do Ensino Superior, fui capaz de observar que minhas
dificuldades na disciplina de Álgebra Linear estavam associadas à falta de
conhecimentos de algumas noções que não tinham sido introduzidas no Ensino
Médio ou que os conhecimentos de que eu dispunha não eram suficientes para
compreender os novos conceitos e articulá-los com os conhecimentos prévios que
se consideravam disponíveis, em particular, em Álgebra Linear.
Apesar de ser um impedimento para muitos estudantes, isso me estimulou a
procurar outros meios para resolver o problema, ou seja, identificava quais
conhecimentos eram necessários, mas naquela ocasião decorava alguns teoremas
para conseguir êxito nas avaliações propostas pelo professor. Devido à imaturidade
como estudante, não conseguia detectar os reais motivos relacionados àquele
“fracasso”: precisar decorar para alcançar sucesso na prova por não me apropriar do
conhecimento significativo das tarefas propostas em Álgebra Linear.
Na mesma época, já atuava como professor, em caráter excepcional, no Ensino
Fundamental e no Ensino Médio, nas disciplinas da área de ciências exatas, o que
me levou a estudar temas relacionados ao ensino da Matemática, não apenas para
aprender e conseguir sucesso no Ensino Superior, mas para ensinar, de modo
satisfatório, para os estudantes que estavam sob minha responsabilidade e de cuja
aprendizagem, naquele momento, eu era mediador.
Voltando à minha trajetória no Ensino Superior, observo que, na época, utilizava-
se o livro de Álgebra Linear de Callioli et al. e lembro-me de que o professor da
disciplina iniciava os conteúdos presentes na obra com as noções de sistemas
lineares, utilizando diretamente as regras do escalonamento, o que me fez desistir
algumas vezes, devido à falta de conhecimento relacionado às noções matriciais.
Ao refazer a disciplina, verificava, como estudante, que bastava decorar os
teoremas propostos no livro e pela professora e, por meio de técnicas, refazer de
modo parecido as tarefas associadas; e, assim, tinha como resultado a aprovação
na disciplina, com notas relativamente altas, mas que não refletiam o conhecimento
que eu poderia pelo menos mobilizar em relação às noções e aos conceitos
24
desenvolvidos naquela disciplina. Hoje percebo que as atitudes apresentadas por
mim e por meus colegas não eram adequadas para uma aprendizagem com
significado.
Ao concluir o curso de Matemática, trabalhei alguns anos como contratado, tendo
sido efetivado no ano de 2004, como professor de Matemática da rede de ensino do
estado de São Paulo.
No ano de 2006, a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo ofereceu aos
professores de algumas áreas cursos de especialização, e tive a oportunidade de
cursar o proposto pela PUC-SP. Nesse momento, conheci amigos e professores que
me ajudaram a compreender as possíveis mudanças para o ensino da Matemática.
Nesse curso, foi abordada a questão do pensamento e sua relação com a
Educação Matemática e, após seu término, já Especialista em Educação
Matemática, comecei a atuar de forma diferente, agora preocupado em oferecer aos
alunos as reais possibilidades de ensino e aprendizagem, considerando a
importância do pensamento e do raciocínio matemático para os estudantes tanto do
Ensino Fundamental como do Ensino Médio.
O curso de Especialização possibilitou-me adotar novos paradigmas relacionados
ao ensino da Matemática e, como professor, atuar para que o estudante consiga,
pelo menos, mobilizar seus conhecimentos de forma significativa.
A partir da minha nova experiência, iniciei o mestrado acadêmico em Educação
Matemática e, em função das linhas de pesquisa e das propostas de cada uma
delas, escolhi a linha de Ensino e Aprendizagem de Matemática e suas Inovações,
por identificar-me com o projeto sobre a transição entre o Ensino Médio e o Superior,
que corresponde ao projeto mais amplo em que o meu projeto de pesquisa está
inscrito.
Assim, propus este trabalho, que tem como objetivo identificar as relações
institucionais esperadas, existentes e as relações pessoais que se supõe tenham
sido desenvolvidas no processo de ensino e aprendizagem das noções de matrizes,
suas operações e propriedades, na transição entre o Ensino Médio e o Superior.
25
O estudo dessas relações pode auxiliar professores e estudantes a melhor
compreender as dificuldades encontradas, quando da introdução da disciplina de
Álgebra Linear, de forma que os professores possam reconhecer quais
conhecimentos sobre matrizes, suas operações e propriedades podem servir de
apoio para o desenvolvimento dessa disciplina e para que os estudantes possam
encontrar outros meios para dedicar-se com autonomia a sua própria recuperação,
revisitando conhecimentos prévios supostos pelo menos mobilizáveis, quando
ingressam no Ensino Superior.
1Considerado o objetivo da pesquisa e justificada sua pertinência, escolhe-se
analisar, via documentos oficiais, tanto para o Ensino Médio como para o Ensino
Superior, as relações institucionais esperadas dos professores e dos estudantes
dessas duas etapas escolares, identificando o trabalho destinado a cada um deles
no processo de ensino e aprendizagem, considerando a noção de “topos”, que
significa o papel do professor e do estudante para o desenvolvimento das propostas
e das expectativas institucionais.
Analisam-se, ainda, as relações institucionais existentes, via livros didáticos e
materiais didáticos propostos nas relações institucionais esperadas, para verificar a
coerência entre essas duas relações e a possibilidade de considerar, como
conhecimentos prévios pelo menos mobilizáveis para apoiar a introdução das
noções de Álgebra Linear no Ensino Superior, o que se desenvolveu no Ensino
Médio. Para melhor identificar esses conhecimentos, estudam-se ainda as relações
pessoais esperadas dos estudantes e verificam-se quais as expectativas em relação
às marcas das relações institucionais sobre as pessoais, ou seja, o que realmente se
espera como conhecimento prévio dos estudantes que terminam o Ensino Médio,
em relação às noções de matrizes, suas operações e propriedades.
Sendo assim, propôs-se o método da análise documental, escolhendo para isso
os documentos oficiais que indicam o trabalho a ser realizado; por exemplo, a Nova
Proposta Curricular do Estado de São Paulo para o Ensino Médio e os planos de
ensino de algumas universidades para o Ensino Superior, entre outros documentos
1 Finalizada esta breve síntese de minha trajetória escolar pessoal e profissional, passo a relatar o desenvolvimento deste trabalho, que contou com a contribuição de muitos atores; por essa razão, o foco adotado passará a ser de terceira pessoa.
26
analisados e que correspondem às relações institucionais esperadas. Para a
análise das relações institucionais existentes e das relações pessoais esperadas dos
estudantes, utiliza-se o mesmo método e escolhem-se alguns livros didáticos do
Ensino Médio e do Superior e as macroavaliações que sobrevivem atualmente em
nosso sistema de ensino. Para essas análises, constrói-se uma grade de análise,
seguindo a forma apresentada por Dias (1998) em sua tese sobre a articulação de
ponto de vista cartesiano e paramétrico no ensino de Álgebra Linear.
Apresentado o projeto da pesquisa e seu desenvolvimento, iniciam-se a descrição
e a discussão do material estudado nos diferentes capítulos.
O primeiro capítulo expõe a problemática, o objetivo e a metodologia da pesquisa,
precedidos de um breve contexto que descreve a realidade e as dificuldades da
introdução de novos conceitos de Álgebra Linear por meio de trabalhos existentes, o
que permite expor a problemática desta pesquisa e os questionamentos que ajudam
a delimitar o objeto de pesquisa e seu objetivo; e propor a metodologia adequada
para seu desenvolvimento.
No segundo capítulo, apresenta-se o referencial teórico escolhido para
fundamentar as análises desenvolvidas na pesquisa. Ressalta-se que a noção de
quadro e mudança de quadro, conforme definição de Douady (1984, 1992), é central
para este trabalho, mas foi complementada pela Teoria Antropológica do Didático de
Chevallard (1992) e Bosch e Chevallard (1999) e pela abordagem teórica em termos
de níveis de conhecimento esperados dos estudantes, segundo definição de Robert
(1997, 1998), como outros meios para melhor compreender as expectativas
institucionais em relação ao que se espera do trabalho a ser desenvolvido por
professores e estudantes.
O terceiro capítulo trata das relações institucionais esperadas no Ensino Médio,
que foram analisadas, nos documentos oficiais para o Ensino Médio escolhidos para
o estudo, por meio da ferramenta didática “topos”, introduzida por Chevallard e
Grenier (1997).
No quarto capítulo apresentam-se as relações institucionais esperadas para o
Ensino Superior, seguindo a mesma forma de análise proposta no capítulo 3 para o
Ensino Médio.
27
No quinto capítulo apresenta-se a grade de análise com exemplos e as tarefas
usuais, que sobrevivem atualmente nas diferentes instituições. Essa grade é
utilizada para efetuar as análises das relações institucionais existentes e subsidiar
nas análises das relações pessoais esperadas dos estudantes que terminam o
Ensino Médio e o Superior.
O sexto capítulo trata das relações institucionais existentes tanto para o Ensino
Médio como para o Ensino Superior. Ali se analisam a pertinência e a coerência
dessas relações com as expectativas institucionais e os conhecimentos que podem
ser considerados como pelo menos mobilizáveis pelos estudantes num curso de
introdução à Álgebra Linear.
O sétimo e último capítulo trata das análises das macroavaliações que permitem
identificar, da mesma forma que no sexto capítulo, a pertinência e a coerência
dessas relações com o trabalho que se supõe venha sendo realizado no Ensino
Médio e as expectativas institucionais a serem desenvolvidas no Ensino Superior.
Nesse mesmo capítulo, apresentam-se as questões sobre Álgebra Linear
encontradas no exame de avaliação do Ensino Superior, o que permite colocar em
evidência as necessidades em termos das noções de matrizes e transformações
lineares desenvolvidas em Álgebra Linear e os conhecimentos prévios adquiridos no
Ensino Médio que podem auxiliar os estudantes a melhor compreender e interpretar
essas transformações.
Finalmente, apresentam-se as considerações finais e as perspectivas futuras,
mostrando o resultado das análises e as possibilidades reais de trabalho com os
conhecimentos prévios que se supõem disponíveis.
Aqui observa-se que a noção de matrizes, suas operações e propriedades mesmo
sendo desenvolvidas considerando os aspectos tecnológicos da teoria dos espaços
vetoriais, ou seja, para o conjunto das matrizes, são trabalhadas as operações de
adição e multiplicação por escalar com as respectivas propriedades, o que permite
utilizar esse conhecimento como apoio para a introdução da noção de espaço
vetorial.
A multiplicação de matrizes pode ser considerada uma ferramenta explícita pelo
menos mobilizável, quando da introdução da matriz de uma transformação linear. A
28
noção de transformação linear não é trabalhada explicitamente no Ensino Médio,
mas já existem materiais didáticos que utilizam esse conceito para motivar o estudo
das matrizes nessa etapa escolar, como o faz Dante (2004, 2005b).
Ressalta-se que o estudo da noção de matrizes, suas operações e propriedades,
assim como os procedimentos associados à sua introdução no Ensino Médio,
podem ser utilizados para alavancar o ensino da disciplina de Álgebra Linear, pois
os resultados deste estudo mostram que essas noções são consideradas nas
relações institucionais existentes e cobradas nas macroavaliações, enquanto
ferramentas explícitas para a execução de tarefas associadas a outras noções
matemáticas desenvolvidas no Ensino Médio. Portanto, este trabalho pode servir de
apoio para a introdução da Álgebra Linear em IRn no Ensino Superior, mas é preciso
avançar na pesquisa, de forma a encontrar novas tarefas e novas práticas que
permitam levar em conta as novas organizações dos conhecimentos, as novas
formas de pensar matematicamente, as novas linguagens e os novos modos de
comunicação próprios da disciplina e da formação matemática dos futuros
professores de matemática que, na realidade, correspondem às novas expectativas
institucionais impostas pela própria disciplina de Álgebra Linear, quando de sua
introdução no Ensino Superior.
29
CAPÍTULO 1 PROBLEMÁTICA, OBJETIVO E METODOLOGIA DA PESQUISA
1.1 Contexto da pesquisa
O interesse em pesquisar sobre as noções de matrizes, suas operações e
propriedades na transição entre o Ensino Médio e o Superior é advindo
primeiramente da minha experiência enquanto estudante, quando precisei procurar
diferentes meios para recuperar conceitos e noções que não eram disponíveis
quando iniciei meus estudos universitários.
Além disso, em minha prática em sala de aula, tenho vivenciado esse problema,
pois muitos de meus alunos não são capazes de sequer mobiliar conhecimentos que
se supõe tenham sido trabalhados nas séries anteriores, seja porque realmente não
foram tratados ou pela forma com que foram desenvolvidos, em função das várias
organizações matemáticas e didáticas a que foram submetidos.
Ao iniciar o mestrado em Educação Matemática e ao acompanhar a apresentação
dos projetos dos diferentes grupos, interessei-me pelo projeto CAPES–COFECUB,
mais especificamente, pelo eixo que desenvolve um estudo sobre a transição entre o
Ensino Médio e o Superior e cuja proposta é pesquisar as questões associadas a
essa transição para dois domínios da Matemática: Álgebra Linear e Análise
Matemática.
Dessa forma, escolheu-se estudar os problemas dessa transição para uma noção
específica, ou seja, a noção de matriz, suas operações e propriedades e sua
aplicação enquanto ferramenta explícita do trabalho matemático para o ensino do
conceito de transformação linear.
Alguns trabalhos já vêm sendo realizados nesse sentido e considera-se que as afirmações de Artigue (2004), ao analisar as condições do ensino universitário na França, são muito próximas às encontradas nas universidades brasileiras. Segundo a autora, existem muitos desafios, dos quais ela ressalta três que indicam a necessidade de atenção dos pesquisadores de Educação Matemática, a saber:
- uma massificação do ensino que confronta a universidade com públicos diferentes daqueles que ela estava habituada a receber;
30
- uma crescente defasagem em relação ao ensino secundário que, sendo o primeiro a sentir os efeitos da massificação, tentou adaptar-se a essa nova realidade, buscando atualizar tanto as propostas curriculares quanto as práticas pedagógicas;
- uma evolução tecnológica que afeta não só as práticas matemáticas, mas também os meios de ação didática.
A autora afirma ainda que, frequentemente, os professores universitários desconhecem as evoluções do ensino secundário e rejeitam o uso de recursos tecnológicos familiares aos estudantes do secundário. Essa situação também se assemelha ao contexto brasileiro.
Como já se observou acima, os desafios apresentados pela autora não são específicos do contexto francês. Diferentes trabalhos de pesquisa desenvolvidos na França, no Brasil e em outros países sobre essas questões da transição entre o Ensino Médio e o Superior permitem compreender alguns desses desafios e projetar possíveis respostas (ARTIGUE, 2001; ARTIGUE; DIAS, 1995; CAMPOS, 2005; DIAS et al., 2008; GUEUDET, 2007).
Além disso, essas pesquisas mostram que as respostas, quando existem, não são universais, pois estão relacionadas às diversas culturas de ensino e às condições com as quais os diferentes sistemas de ensino devem lidar. Mas essa diversidade é, ao mesmo tempo, uma oportunidade, pois ela nos ajuda a questionar aquilo que, por razões históricas e culturais, aparece frequentemente como próprio da situação e não problemático, conforme Artigue (2004).
No caso específico do sistema educativo brasileiro, sabe-se, por meio de
inúmeras macroavaliações institucionais, que essa transição é vivida entre
estudantes e professores de forma problemática, pois, de um lado, encontra-se o
estudante, que tem dificuldades em mobilizar as noções básicas; e, de outro, o
professor, que tenta entender qual a verdadeira problemática com relação ao
processo ensino e aprendizagem e está sempre procurando novos meios de tratar
esse problema.
É fato que existem problemas específicos, no que diz respeito à disciplina de
Álgebra Linear, mas escolhe-se estudar a noção de matriz, suas operações e
propriedades, pois é uma ferramenta importante num curso de introdução à Álgebra
Linear, em particular, quando se considera a matriz de uma transformação linear.
31
Isso conduz ao estudo das relações institucionais esperadas e existentes no
Ensino Médio e no Ensino Superior, ou seja, dos diferentes tipos de tarefas e das
técnicas associadas desenvolvidos no Ensino Médio e das tecnologias usadas para
descrever, explicar e justificar essas técnicas. O objetivo é compreender como se
pode trabalhar esses conceitos em Álgebra Linear — mais especificamente, quando
se considera o curso de Licenciatura em Matemática —, de forma a articular os
conhecimentos desenvolvidos no Ensino Médio, que podem ser considerados como
conhecimentos prévios pelo menos disponíveis para aqueles que ingressam no
Ensino Superior.
Os resultados desta pesquisa podem auxiliar na proposta de um curso de Álgebra
Linear em que os conhecimentos prévios em relação à noção de matriz, suas
operações e propriedades servem de ferramenta explícita para o desenvolvimento
dos conceitos dessa disciplina e tornam-se, assim, mais elaborados e estáveis em
termos de significado; e, por sua interação com os novos conhecimentos,
possibilitam que estes últimos adquiram significado para o aprendiz, como afirma
Moreira (2005).
Dessa forma, o estudo comparado das propostas institucionais para o Ensino
Médio e o Superior, que corresponde às relações institucionais esperadas, e a
análise dos livros didáticos indicados para essas duas etapas escolares podem
auxiliar a compreender o que pode ser mudado para auxiliar os estudantes dos
cursos de licenciatura em matemática a identificar nas teorias desenvolvidas no
Ensino Superior as técnicas e as tecnologias utilizadas no Ensino Médio, como
exposto acima. Isso poderá conduzi-los a escolher a discussão mais adequada para
descrever e explicar o futuro trabalho matricial com seus estudantes.
Observa-se aqui que esta investigação é inovadora no contexto brasileiro, uma
vez que não se encontrou nenhum documento que trate da transição entre o Ensino
Médio e o Ensino Superior relacionado às noções de matrizes, suas operações e
propriedades. Nem mesmo os trabalhos de Álgebra Linear tratam do tema da
transição entre o Ensino Médio e o Ensino Superior para as noções matriciais,
procurando selecionar os conhecimentos desenvolvidos no Ensino Médio que
podem ser revisitados no Ensino Superior e apoiar a introdução de novos
conhecimentos.
32
Apresentado o contexto da pesquisa, passa-se à descrição da problemática.
1.2 Problemática da Pesquisa
Nesta pesquisa procura-se identificar, por meio do estudo documental das
relações institucionais esperadas e existentes, como estão sendo articuladas as
noções matriciais, suas operações e propriedades e entender, por meio do estudo
das macroavaliações, quais as relações pessoais esperadas dos estudantes que
terminam o Ensino Médio. Este estudo pode auxiliar a proposta de novas tarefas que
mobilizem e articulem conhecimentos prévios desenvolvidos no Ensino Médio e que
podem servir de apoio para o desenvolvimento de um curso introdutório de Álgebra
Linear, em particular, quando se estuda o conceito de matriz de uma transformação
linear.
Dessa forma, pode-se trabalhar com as possíveis e reais dificuldades enfrentadas
pelos estudantes na transição entre o Ensino Médio e o Superior, pois as avaliações
institucionais, que na pesquisa são utilizadas para estudar a conformidade entre o
que se propõe e o que se espera como conhecimento pelo menos mobilizável dos
estudantes, auxiliam na identificação do que realmente pode ser considerado como
conhecimento prévio de apoio à introdução da matriz de uma transformação linear
no Ensino Superior.
Observa-se aqui que as macroavaliações são uma forma de considerar as
dificuldades encontradas pelos estudantes no processo de ensino e aprendizagem
da Álgebra Linear, pois, muitas vezes, eles se submetem a decorar os teoremas, os
procedimentos e os métodos desenvolvidos na disciplina, para obter êxito nas
avaliações, mas não são capazes de descrever, explicar, justificar e controlar o
trabalho realizado, o que se torna evidente quando os estudantes são confrontados
com tarefas em que precisam buscar, entre seus conhecimentos, aquele que permite
solucionar a questão.
Considerando o trabalho de Oliveira (2005, p. 12), que afirma haver “[...] grandes
dificuldades apresentadas pelos alunos na aprendizagem das noções elementares
da Álgebra Linear”, colocam-se as seguintes questões: Quais são estas noções
elementares? É possível desenvolver um rol de tarefas que possibilitem aos
33
estudantes ao menos articular as noções básicas como ferramentas explícitas para
desenvolver tarefas da Álgebra Linear?
A partir deste questionamento inicial, considera-se, nesta pesquisa, que o
trabalho introduzido no Ensino Médio sobre as noções de matrizes, suas operações
e propriedades, pode favorecer o processo de ensino e aprendizagem na disciplina
de Álgebra Linear; ou seja, pode oferecer meios que possibilitem aos estudantes
utilizar os conhecimentos desenvolvidos no Ensino Médio como prévios, pelo menos
mobilizáveis, na introdução de novos conhecimentos no Ensino Superior, pois tais
conhecimentos prévios servem de subsunçores2, quando interagem com novos
conhecimentos, como afirma Moreira (2005).
Isso conduziu ao seguinte questionamento:
1º) É possível construir um rol de tarefas sobre as noções matriciais, suas
operações e propriedades, para que o estudante possa mobilizar os
conhecimentos adquiridos no Ensino Médio, utilizando-os como conhecimentos
prévios, funcionando como ferramentas explícitas, quando da introdução de novos
conceitos associados à disciplina de Álgebra Linear?
2º) A análise de tarefas por meio de uma grade de análise pode facilitar esse
trabalho e provocar a reflexão?
Esses dois questionamentos são importantes, pois as avaliações institucionais
têm mostrado uma defasagem entre os conhecimentos esperados dos estudantes
que iniciam o Ensino Superior e o que eles são realmente capazes de mobilizar.
Dessa forma, nesta pesquisa procura-se compreender que conhecimentos
associados à noção de matriz, suas operações e propriedades, podem ser
considerados como pelo menos mobilizáveis, quando se introduzem os conceitos e
as propriedades associados à Álgebra Linear, em particular, na introdução da noção
de matriz de uma transformação linear que está associada à composta por duas
transformações lineares.
2 “Os conhecimentos relevantes da estrutura cognitiva que servem de ancoradouro para a nova informação são denominados subsunçores” (MOREIRA, 2005, p.7).
34
Sendo assim, com relação aos questionamentos acima, esta pesquisa está
subsidiada pelo questionamento mais específico, considerado em função da noção
escolhida para ser nela desenvolvida:
i) A noção de matriz, suas operações e propriedades são propostas para serem
trabalhadas com os estudantes do Ensino Médio?
ii) Que nível de conhecimento é esperado dos estudantes para o trabalho com
essas noções?
iii) Quais as relações institucionais esperadas e existentes para o
desenvolvimento dessas noções no Ensino Médio?
iv) Os estudantes do Ensino Médio são ao menos capazes de mobilizar os
conhecimentos de matrizes, suas operações e propriedades, quando terminam o
Ensino Médio? Isto é, que relações pessoais eles desenvolvem em função das
relações institucionais esperadas e existentes?
v) É possível determinar um sistema de tarefas e práticas utilizadas no Ensino
Médio que possam servir de apoio para o trabalho em Álgebra Linear no Ensino
Superior, em particular, quando se trata do objeto matemático: transformações
lineares e o espaço das matrizes?
Dessa forma, nesta pesquisa, analisam-se as deficiências relativas ao ensino da
matemática na transição entre o Ensino Médio e o Ensino Superior, no que se refere
às noções de matrizes, suas operações e propriedades e a sua relação com as
possíveis dificuldades encontradas pelos estudantes do Ensino Superior, em função
das organizações matemáticas e didáticas propostas.
A seguir, descreve-se o objetivo da pesquisa.
1.3 Objetivo da Pesquisa
O objetivo desta pesquisa é identificar, por meio de uma análise documental, as
propostas para as diferentes relações institucionais esperadas e existentes para o
tratamento das noções de matrizes, suas operações e propriedades; descrever
algumas tarefas identificadas para a introdução dessa noção no Ensino Médio; e,
35
por meio do mesmo estudo, em relação ao trabalho a ser realizado na disciplina de
Álgebra Linear no Ensino Superior, verificar a possibilidade de utilizar, como
subsunçores para o desenvolvimento dessa disciplina, o que se supõe como
conhecimento prévio pelo menos mobilizável pelos estudantes do primeiro ano do
curso de Licenciatura em Matemática.
Observa-se que a representação da transformação linear por uma matriz permite
estudar as operações com essas transformações por meio das operações de
matrizes, o que, muitas vezes, facilita o cálculo, como é o caso da transformação
composta que, quando definida por meio das matrizes das transformações que a
compõem, exige apenas que o estudante mobilize seus conhecimentos sobre a
multiplicação de matrizes e suas propriedades. Isso mostra a importância das
matrizes das transformações lineares e da utilização da ferramenta matriz, suas
operações e propriedades. Esse trabalho, certamente, pode ser desenvolvido com o
apoio dos conhecimentos que se supõem trabalhados no Ensino Médio.
Apresentado o objetivo da pesquisa, passa-se à metodologia utilizada para
executá-la.
1.4 Metodologia da Pesquisa
Escolheu-se desenvolver neste estudo uma pesquisa documental para identificar
as relações institucionais esperadas e existentes para o processo de ensino e
aprendizagem das noções de matriz, suas operações e propriedades na transição
entre Ensino Médio e o Superior e verificar as regularidades e as diferenças
existentes entre as relações pessoais que se espera que os estudantes
desenvolvam e o que lhes é proposto.
Para isso, utilizam-se os documentos oficiais para o Ensino Médio: Diretrizes
Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 1998), Parâmetros Curriculares
Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 2000, 2002), Orientações Curriculares para
o Ensino Médio (BRASIL, 2006) e Nova Proposta Curricular do Estado de São Paulo
(SÃO PAULO, 2008); e para o Ensino Superior: Diretrizes Curriculares Nacionais
para os Cursos de Matemática (BRASIL, 2001), Lei 1302, aprovada em 06 de
novembro de 2001, além dos planos de ensino da disciplina de Álgebra Linear das
36
universidades: Universidade Presbiteriana Mackenzie, Universidade Bandeirante do
Brasil, Universidade Federal de São Carlos e Universidade de São Paulo. Esses
documentos permitem a análise das relações institucionais esperadas.
As relações institucionais existentes são analisadas por meio de livros didáticos
indicados no Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM –
2009), dos quais foram escolhidos para análise: A Matemática do Ensino Médio, de
Elon Lages Lima et al. (2006); Matemática, de Luiz Roberto Dante (2005b); e o
Caderno do Estudante, da Nova Proposta Curricular do Estado de São Paulo (SÃO
PAULO, 2008 – 2009). Para o Ensino Superior, as obras selecionadas são: Álgebra
linear e aplicações, de Callioli, C. A. et al. (1983) e Álgebra linear contemporânea, de
Anton, H. et al., tradução de Claus Ivo Doering (2006).
Para as relações pessoais esperadas dos estudantes foram consideradas as
seguintes macroavaliações para o Ensino Médio: Avaliação do Rendimento Escolar
do Estado de São Paulo – SARESP, Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM,
exame da Fundação Universitária para o Vestibular – FUVEST. Para o Ensino
Superior, escolheu-se o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE.
O estudo foi desenvolvido em sete fases:
1. Estudo dos trabalhos de pesquisa existentes, no contexto brasileiro, francês e outros, sobre a problemática em questão, ou seja, a transição entre o Ensino Médio e o Superior.
2. Escolha e estudo do referencial teórico adotado como ferramenta de análise para a pesquisa.
3. Análise das relações institucionais esperadas de professores e estudantes do Ensino Médio e Superior, para a introdução da noção de matriz, suas operações e propriedades, via documentos oficiais descritos acima.
4. Construção de uma grade de análise, inspirada na grade de Dias (1998), para análise das relações institucionais existentes. A grade de análise é um instrumento para identificar tanto as relações institucionais esperadas e existentes como as expectativas em termos de conhecimentos prévios esperados dos estudantes que iniciam o curso superior, ou seja, o que se supõe tenha sido trabalhado no Ensino Médio e pode servir de base aos professores do Ensino Superior que, em geral, desconhecem as novas propostas do Ensino Médio e têm
37
dificuldade em identificar os conhecimentos em que se devem apoiar, quando constroem seus planos de ensino.
5. Análise das relações institucionais existentes, por meio da grade de análise construída com esse objetivo, via livros didáticos indicados acima.
6. Análise das relações pessoais esperadas dos estudantes via macroavaliações, apresentadas anteriormente.
7. Análise comparativa dos resultados encontrados.
Apresentados o contexto, a problemática, o objetivo e a metodologia da pesquisa, considerar-se-á, no capítulo que segue o referencial teórico escolhido para desenvolver as análises propostas.
38
CAPÍTULO 2 REFERENCIAL TEÓRICO DA PESQUISA
2.1 Considerações iniciais sobre o capítulo
Este trabalho tem por objetivo analisar as relações institucionais esperadas e
existentes no processo de ensino e aprendizagem da noção de matriz, suas
operações e propriedades que, em geral, são introduzidas no Ensino Médio e
revisitadas no Ensino Superior.
Essa análise é executada por meio do estudo das propostas institucionais e de
livros didáticos que servem de material de apoio para professores e estudantes do
Ensino Médio e do Superior e das avaliações institucionais que permitem identificar
as relações pessoais esperadas dos estudantes, comparar as expectativas
institucionais com as pessoais e verificar se são coerentes.
Tenta-se compreender como o objeto matriz é introduzido no Ensino Médio e
quais conhecimentos podem auxiliar na introdução das noções dos conteúdos
desenvolvidos na disciplina Álgebra Linear no Ensino Superior.
Para isso, escolhem-se algumas ferramentas de análise didática como referencial
teórico para efetuar os estudos propostos. Inicia-se pela noção de quadro e
mudança de quadro, conforme definição de Douady (1984, 1992), que é considerada
central nesta pesquisa, pois nela trabalha-se a noção de matriz como objeto
matemático, estudando suas propriedades e teoremas; ou seja, ela é considerada
no que denominamos quadro das matrizes. É importante lembrar que as matrizes
podem ser utilizadas apenas como ferramentas para a resolução de problemas de
outros quadros, como, por exemplo, quando elas são usadas para resolver tarefas
que se encontram no quadro dos sistemas lineares.
Isso mostra o papel dessa noção nesta pesquisa, pois uma análise que considera
a possibilidade de mudança de quadro permite identificar os diferentes quadros
introduzidos no Ensino Médio, as noções, as propriedades e os teoremas a eles
associados, assim como as articulações consideradas nessa etapa de ensino.
Portanto, os pressupostos teóricos, segundo Douady (1984, 1992), estão sendo
tomados nesta pesquisa como referencial teórico central.
39
Além da noção de quadro e de mudança de quadro, escolhe-se como referencial
teórico de apoio a Teoria Antropológica do Didático de Chevallard (1992) e Bosch e
Chevallard (1999), em que um dos conceitos didáticos desenvolvidos é a noção de
relação institucional e relação pessoal, que permite identificar, nos documentos
oficiais — como as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio (BRASIL,
1998a), os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 2000b,
2002), as Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 2006),
a Nova Proposta Curricular do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2008), as
Diretrizes Curriculares para o Ensino Superior (BRASIL, 2001) e os Planos de
Ensino das Universidades investigadas —, as relações institucionais que
denominamos esperadas, por constituírem, todas elas, propostas a serem
executadas em conjunto pelo professor e estudante. Também os livros e os
materiais didáticos para as duas modalidades de ensino que são tratados nessa
pesquisa como relação institucional existente, por serem um trabalho construído por
meio das propostas e dos documentos oficiais.
Observa-se que os documentos oficiais são analisados por meio da noção de
“topos”, conforme definição de Chevallard e Grenier (1997); para os livros didáticos,
utiliza-se a noção de organização praxeológica, pois esta diz respeito aos tipos de
tarefas, técnicas, tecnologias e teorias, ou seja, por meio destas são descritas as
organizações que são desenvolvidas por meio dos ostensivos e não ostensivos que
as sustentam.
Para refinar as análises, utiliza-se ainda como referencial teórico de apoio a
noção de níveis de conhecimento esperados dos estudantes, conforme definição de
Robert (1997, 1998), pois esses níveis podem fornecer a percepção das
expectativas em relação aos estudantes, em função das necessidades de aplicação
de um determinado conceito matemático, ou seja, podem indicar o que se espera
sobre a utilização de uma definição ou a mobilização correta do conceito; ou, ainda,
a escolha e o uso apropriado de uma determinada noção e seus métodos para a
resolução de uma tarefa em que o conceito não aparece explicitamente.
Apresenta-se, abaixo, uma breve descrição da abordagem teórica, em termos de
quadro e mudança de quadros, segundo Douady (1984, 1992), a qual, como já
enunciado, é utilizada e considerada como referencial teórico central nesta pesquisa.
40
2.2 A noção de quadro de Douady.
Na perspectiva de uma teorização didática e fundamentada sobre a análise
epistemológica do trabalho do matemático profissional, Douady (1984) transpõe para
o ensino as características dessa forma de atuar do profissional, colocando em
evidência:
- a dualidade dos conceitos matemáticos, em geral, funcionando como
ferramentas implícitas e, em seguida, explícitas da atividade matemática, antes de
adquirirem o status de objeto e de serem trabalhados como tal;
- o papel desempenhado pelas mudanças de quadros nas atividades e na
produção matemática.
Segundo Douady (1984), os conceitos matemáticos podem ser trabalhados a
princípio como ferramentas implícitas, ou seja, implícitas antes de adquirirem o
status de objetos de um determinado quadro.
Para a autora, a mudança de quadro é um meio de obter diferentes formulações
de um dado problema, permitindo uma nova forma para resolução das tarefas
apresentadas. Quando os conhecimentos de certo quadro não são suficientes para a
solução da atividade apresentada, o estudante pode efetuar uma mudança de
quadro para avançar na situação oferecida. O professor, ao lançar uma atividade,
pode supor que ela apresente, para um determinado grupo de estudantes, maior
dificuldade de interpretação em um quadro do que em outro; por isso, o professor
pode propor o trabalho no quadro que supõe mais adequado e, em seguida, voltar
ao quadro em que deseja que a situação seja desenvolvida.
É possível identificar, no trabalho de Douady, que a noção de “quadro” tratada por
ela corresponde aos objetos que pertencem a um ramo da matemática. No caso
desta pesquisa, há, por exemplo, o quadro das matrizes, que são as definições, os
teoremas e as propriedades dos objetos matrizes formulados especificamente e que
permitem construir as imagens mentais associadas à noção de matriz, a suas
operações e propriedades.
41
Apresenta-se, a seguir, a noção de quadro segundo definição de Douady (1992),
seguida de um exemplo associado à noção de matriz, que auxilia a esclarecer esta
noção.
Um quadro é:
[...] constituído de objetos de um ramo das matemáticas, das relações entre
os objetos, de suas formulações eventualmente diversas e das imagens
mentais associadas a esses objetos e essas relações. Essas imagens têm
um papel essencial e funcionam como ferramentas dos objetos do quadro.
Dois quadros podem conter os mesmos objetos e diferir pelas imagens
mentais e problemáticas desenvolvidas. (DOUADY, 1992, apud ANDRADE,
2006, p. 14).
Para exemplificar essa definição, segue a tarefa que se encontra na Figura
abaixo, extraída da obra de Giovanni (2000, p. 105), que corresponde a uma
questão de vestibular da EFEI-MG3.
Verifica-se que a questão da Figura 1 é enunciada no quadro das matrizes
algébricas, pois sua solução exige que o estudante disponha de conhecimentos
sobre o cálculo do valor numérico de uma função e das operações no conjunto dos
números reais, sendo preciso identificar, por exemplo, que a11 = i2, e substituir i por 1
no primeiro elemento da matriz; e assim sucessivamente. Após os cálculos,
encontra-se uma matriz numérica, ou seja, pertencente ao quadro das matrizes
numéricas, em que os coeficientes são números reais.
Douady define mudança de quadro como:
3 EFEI‐MG: Escola Federal de Engenharia Itajubá – Minas Gerais.
(EFEI-MG) Encontre a matriz A=(aij)2x2 tal que A= ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡
− jjii
222
Figura 01: Tarefa de vestibular. Fonte: Giovanni, 2000. p. 105.
42
[...] um meio de obter formulações diferentes de um problema que por ser,
necessariamente, equivalente, permitem um novo acesso às dificuldades
encontradas para fazer funcionar as ferramentas e técnicas que não se
impunham na primeira formulação. Quaisquer que sejam as traduções de
um quadro em outro, elas terminam sempre em resultados desconhecidos,
em novas técnicas, na criação de novos objetos matemáticos, em suma, no
enriquecimento do quadro original e dos quadros auxiliares de trabalho.
(DOUADY, 1992, apud ANDRADE, 2006, p. 15).
Assim, conforme Douady (1992), mudança de quadro pode ser entendida como
um meio de apresentar uma formulação diferente, mas equivalente; ou seja,
conforme exemplo da questão da Figura 1, enuncia-se a matriz, no quadro das
matrizes algébricas, e solicita-se ao estudante escrevê-la numericamente. Portanto,
o estudante deverá efetuar uma mudança, mas com relação ao mesmo objeto
inicialmente formulado. Observa-se que, para uma nova reescrita, o estudante
deverá utilizar ferramentas e técnicas associadas ao quadro algébrico e numérico.
Para melhor explicitar o exemplo, segue no Anexo I a solução4 da questão (Figura
1), em que é possível observar a passagem do quadro algébrico para o quadro
numérico por meio dos ostensivos que a representam.
Para a solução apresentada, o estudante deve partir da matriz fornecida e, por
meio de técnicas, efetuar algumas formulações, com o objetivo de solucionar o que
se pede, ou seja, encontrar o valor numérico de cada elemento inicialmente disposto
em termos algébricos.
Considerando ainda a noção de matriz, para melhor explicitar o conceito de
quadro e a questão da mudança de quadro, escolhem-se também as tarefas abaixo,
em que se utilizam situações contextualizadas que, em geral, fazem parte do
cotidiano dos brasileiros. As tarefas consistem em: efetuar a mudança do quadro de
um contexto da vida cotidiana para o quadro matricial numérico, verificando,
durantes três meses, o consumo — por uma determinada família — de arroz, feijão,
carne e legumes; a outra tarefa consiste em determinar o país vencedor de um
campeonato, no caso, a Copa do Mundo de futebol.
4 Elaborada pelo pesquisador, sendo um dos métodos que pode ser escolhido pelo estudante.
43
Primeiro exemplo: A tabela a seguir mostra o consumo mensal, em quilogramas,
de quatro alimentos básicos, durante um trimestre, por uma família. (GIOVANNI,
2000, p. 101).
ABRIL MAIO JUNHO ARROZ 10 8 9 FEIJÃO 4 5 6 CARNE 5 7 10
LEGUMES 12 11 6
Para encontrar, por exemplo, a quantidade de carne consumida por essa família
no mês de maio, basta procurar o número localizado na 3ª linha e na 2ª coluna da
tabela: 7 quilogramas.
Outro elemento é o número 12, situado na 4ª linha e na 1ª coluna da tabela, que
representa o consumo de legumes no mês de abril.
Esse caso permite que o estudante mobilize seus conhecimentos relacionados à
posição, na linha e na coluna da tabela, de cada elemento apresentado no quadro
numérico. Essa mesma situação poderia ser considerada no quadro matricial
numérico, cabendo uma discussão para introduzir uma outra forma de representação
por meio da notação matricial, como segue.
Para representar essa tabela no quadro matricial numérico, usa-se um par de
parênteses ou um par de colchetes.
⎟⎟⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜⎜⎜
⎝
⎛
6111210756549810
ou
⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
6111210756549810
Observa-se que este tipo de exemplo tem como objetivo efetuar a introdução do
quadro matricial numérico, fazendo com que o estudante localize a posição de
determinado elemento. A seguir, apresenta-se um outro exemplo, envolvendo a
multiplicação entre duas matrizes.
Segundo exemplo: Durante a primeira fase da Copa do Mundo de futebol,
realizada no Japão e na Coréia do Sul em 2002, o grupo C era formado por quatro
países: Brasil, Turquia, Costa Rica e China. Observe os resultados (número de
44
vitórias, empates e derrotas) de cada um, registrados em uma tabela (DANTE,
2005b, p. 246-247):
VITÓRIAS EMPATES DERROTABRASIL 3 0 0
TURQUIA 1 1 1 COSTA RICA 1 1 1
CHINA 0 0 3
Pelo regulamento da Copa, cada resultado (vitória, empate ou derrota) tem
pontuação correspondente (3 pontos, 1 ponto ou 0 pontos). Veja esse fato registrado
em uma tabela:
PONTOS VITÓRIA 3 EMPATE 1
DERROTA 0
Terminada a primeira fase, foi computado o total de pontos feitos por cada
país. Essa pontuação pode ser apresentada numa tabela que representará o
produto da primeira pela segunda tabela:
POSIÇÃO PONTUAÇÃO TOTAL (T=3v+1e+0d)
1ª) BRASIL 3.3+0.1+0.0 = 9 2ª) TURQUIA 1.3+1.1+1.0 = 4 3ª) COSTA RICA 1.3+1.1+1.0 = 4 4ª) CHINA 0.3+0.1+3.0 = 0
No caso em questão, partindo dos dados de cada país, utiliza-se a fórmula de
cálculo para determinar o vencedor, isto é, trabalha-se apenas no quadro numérico e utilizam-se as regras do cálculo literal quando se substituem os valores na fórmula
dada.
Essa mesma situação poderia ser considerada no quadro matricial numérico para
motivar a multiplicação de duas matrizes. Observa-se, aqui, a importância da
discussão, antes de introduzir a noção de matriz, a respeito dos pontos ganhos e do
vetor de valores para cada seleção no quadro numérico registrado por meio das
tabelas. Essa mudança de quadro serve para mostrar, por exemplo, uma forma mais
simples de construir um programa para o computador calcular a seleção vencedora,
45
Abaixo apresenta-se a matriz dos pontos, em que a primeira coluna representa as
vitórias; a segunda coluna, os empates; e a terceira coluna, as derrotas. As linhas
correspondem às diferentes seleções de futebol. ⎟⎟⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜⎜⎜
⎝
⎛
300111111003
Considera-se, a seguir, o vetor, cuja primeira linha representa os pontos para
cada vitória; a segunda linha, os pontos para cada empate; e a terceira linha, os
pontos para as derrotas. ⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜
⎝
⎛
013
Multiplicando as duas matrizes ⎟⎟⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜⎜⎜
⎝
⎛
300111111003
.⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜
⎝
⎛
013
, obtém-se uma matriz 4x1, cuja
primeira linha representa o número de pontos da primeira seleção da lista, a saber:
3.3 + 0.1 + 0.0; e assim, sucessivamente. Esse exemplo também pode ser utilizado
para a introdução da representação matricial de sistemas de equações lineares, em
que o vetor pode ser substituído por ⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜
⎝
⎛
dev
, sendo v a pontuação da vitória, e a
pontuação do empate e d a pontuação da derrota. Certamente, nesse momento a
noção de matriz e a multiplicação de duas matrizes é disponível e trabalhada como
ferramenta explícita do trabalho matemático, por já ter sido desenvolvida como
objeto matemático no quadro das matrizes.
Observa-se ainda que no Ensino Médio, apesar da possibilidade de aplicação em
informática, esse modelo só serve para motivar a introdução da multiplicação de
matrizes, que terá outras aplicações tanto na própria matemática como nas outras
ciências.
Os exemplos apresentados deixam evidente que a transposição do trabalho dos
matemáticos proposta por Douady (1992) necessita de uma construção da parte do
professor para que possa funcionar, quando necessário. Eles servem também para
46
mostrar como funcionam os conceitos de ferramenta implícita, ferramenta explícita e
objeto matemático definidos por Douady, pois, quando se considera a matriz das
vitórias, dos empates e das derrotas dos diferentes países e o vetor unitário, que
também pode ser considerado uma matriz, tomando o segundo exemplo verifica-se
que o mesmo serve apenas como ferramenta para os cálculos desejados no quadro
numérico, que, em seguida, é explicitada por meio da noção de multiplicação de
matrizes, que corresponde a um objeto matemático do quadro das matrizes5.
Observa-se, assim, que Douady (1984, 1992), ao introduzir a noção de quadro,
define os conceitos de ferramenta implícita, ferramenta explícita e objeto, antes de
considerar o que ela denomina dialética, ferramenta, objeto e jogos de quadros.
Para Douady (1992), as noções de ferramentas implícitas e explícitas são estas:
Ferramenta: implícita e explícita: Uma ferramenta pode ser implícita, se
ela corresponde a um conceito em elaboração, e isto pode durar vários
anos. Uma ferramenta pode ser explícita se ela corresponde a uma
utilização intencional de um objeto para resolver um problema. (DOUADY,
1992, apud ANDRADE, 2006, p. 12)
Conforme definição de Douady, entende-se que, quando o estudante, ao deparar-
se com determinada tarefa, utiliza seus conhecimentos prévios para resolvê-la, sem
associá-la a sua respectiva noção, está fazendo uso de uma ferramenta implícita.
Para ficar mais evidente a idéia, apresenta-se, na Figura 2, a seguir, uma tarefa
resolvida, extraída do livro didático de Dante (2005a), da sétima série (8º ano) do
Ensino Fundamental.
A tarefa da Figura 2 pode ser solucionada por vários métodos, ou seja, para um
estudante em um estágio inicial, poderão ser utilizados seus conhecimentos prévios
5 Quadro das matrizes: nesta pesquisa trabalha‐se com o quadro matricial algébrico e o quadro matricial numérico, conforme definição no decorrer do capítulo.
“Num quintal há galinhas e coelhos. Há 7 cabeças e 22 patas. Quantas são as galinhas? E os coelhos?”
Figura 2: Tarefa sobre ferramenta implícita e explícita. Fonte: Dante, 2005a, p. 128.
47
para resolvê-la, sem necessidade de escrever o exemplo — que se encontra em
linguagem natural6 — por meio de um sistema de equações lineares nem de utilizar
ferramentas como matrizes e determinantes para solucioná-la, conforme solução
desenvolvida pelo pesquisador (Anexo II).
Percebe-se, na solução proposta (Anexo II), que o estudante está iniciando o
processo de mobilização dos conhecimentos relacionados ao conceito de sistema
linear; assim, utiliza-se de outras ferramentas que estão disponíveis. Para essa
solução, basta que o estudante tenha noção das regras do cálculo literal para
efetuar as sucessivas substituições e operações, determinando a quantidade de
animais solicitada. Portanto, entende-se que o conceito de matriz, de sistema linear
e suas ferramentas para resolução encontram-se implícitos. Mas o estudante pode
utilizar algumas noções de forma intencional, assim como alguns objetos. Pode, por
exemplo, escrever o problema da Figura 2 — que se encontra na linguagem natural
— por meio de um sistema de equações lineares e utilizar algumas ferramentas a
sua escolha para resolução; entre essas, a matriz e o processo escalonado. No
Anexo III, registram-se algumas soluções, que correspondem ao método
denominado, da adição, da substituição e da comparação, quando se introduz a
noção de sistemas de duas equações lineares e duas incógnitas no Ensino
Fundamental.
Observa-se que, na resolução desenvolvida pelo pesquisador (Anexo III), utilizou-
se a representação de sistema linear de duas equações com duas incógnitas,
demonstrando-se três métodos (adição, substituição e comparação,
respectivamente) para obter o número de animais. Mas pode-se também utilizar, em
outra etapa de ensino e de forma explícita, a representação de sistema de equações
lineares articulada com a noção de matriz e o processo de escalonamento matricial,
para determinar o que se pede, como apresentado no Anexo IV.
Ao comparar o método da adição com o escalonamento, percebe-se que, para o
exemplo desenvolvido, ambos articulam um sistema equivalente: o método de
escalonamento utiliza a ferramenta explícita matriz para chegar à mesma equação
6 Linguagem Natural: Se refere ao estilo, utilizando redação discursiva na língua corrente, através de signos para efetuar as devidas comunicações.
48
reduzida pelo método da adição, ou seja, o método da adição é um processo
relacionado à introdução da resolução dos sistemas de equações lineares para o
Ensino Fundamental, e o método do escalonamento é um processo pertinente à
introdução da resolução do sistema de equações lineares para o Ensino Médio.
Utiliza-se como ferramenta explícita a noção de matriz, na resolução7 do Anexo
IV, uma vez que, após representar o enunciado por meio do ostensivo associado ao
não ostensivo sistema linear, escreve-se este como uma multiplicação e uma
igualdade entre matrizes, correspondendo à definição, conforme Douady, de
ferramenta explícita, isto é, a noção de matriz é uma ferramenta trabalhada
explicitamente para esse fim.
Nota-se nos exemplos, juntamente com seus enunciados e soluções, que são
utilizados diferentes objetos matemáticos. Douady (1992) assim define objeto:
Por objeto, entendemos o objeto cultural tendo seu lugar em um edifício
mais amplo que é o saber das matemáticas, num dado momento,
reconhecido socialmente. O objeto matematicamente definido,
independente de sua utilização. O status de objeto permite a capitalização
do saber e, portanto, a extensão do corpo de conhecimentos. Ele permite
também o reinvestimento em novos contextos, eventualmente muito
distinto do contexto original. (DOUADY, 1992, apud ANDRADE, 2006, p.
13, grifo nosso).
Com relação a essa definição, a partir de um determinado contexto o estudante
pode utilizar vários objetos, de acordo com seus conhecimentos prévios, ou seja,
segundo Douady, o estudante poderá efetuar um reinvestimento em novos
contextos, os quais nos exemplos apontados são demonstrados pelos vários tipos
de resoluções apresentadas.
Além disso, a teoria de Douady (1984, 1992) considera os jogos de quadro, que
são organizados pelos professores, como transposições didáticas8 das mudanças de
7 O exemplo de solução do Anexo IV foi efetuado por meio de escalonamento, não necessitando de tal processo, por tratar‐se de um sistema de duas equações com duas incógnitas.
8 Transposição Didática: Este termo foi introduzido em 1975 pelo sociólogo Michel Verret e rediscutido por Yves Chevallard, em 1985, em seu livro La transposition didatique, em que conceitua “Transposição Didática” como o trabalho de fabricar um objeto de ensino, ou seja, fazer um objeto de saber produzido pelo sábio (cientista) ser objeto do saber escolar. (POLIDORO, 2010).
49
quadro efetuadas pelos matemáticos profissionais e como meios privilegiados para
suscitar desequilíbrio cognitivo e permitir a ultrapassagem desse desequilíbrio em
um novo equilíbrio de nível superior. Assim, a noção de quadro é centrada no fato
de que uma mesma noção pode funcionar em diferentes ambientes conceituais e
técnicos e pode apresentar características específicas para cada um desses
ambientes, sendo as diferenças existentes um dos motores e ferramentas da criação
matemática. No exemplo apresentado, a Copa do Mundo, a mudança de quadro
apresentada é motivadora para a introdução da multiplicação de matrizes, uma vez
que os estudantes do Ensino Médio já são capazes de utilizar as regras do cálculo
literal para resolver problemas como o discutido no exemplo.
Nota-se que podem ser desenvolvidos com os estudantes diferentes quadros —
definidos na teoria de Douady (1992) como jogos de quadro — que possibilitem
passagens para níveis mais complexos. Por exemplo, a tarefa da Figura 2, que
solicita ao estudante descobrir o número de galinhas e coelhos, pode também ser
solucionada, utilizando-se mais um quadro em jogo: determinar a solução,
empregando o sistema de eixos cartesianos, ou seja, as duas equações escritas no
sistema equações lineares serão mobilizadas como duas funções explícitas,
conforme é apresentado no Anexo V.
Neste tipo de solução, o estudante deverá mobilizar conhecimentos prévios
relacionados à noção de função, valor numérico de uma função e, ainda, perceber
que a solução pertence ao conjunto dos números inteiros positivos. Uma vez que a
tarefa está relacionada com a quantidade de espécies, depois de esboçada a tabela,
pode-se representar a solução no eixo cartesiano ortogonal, como apresentada no
Anexo VI.
Apresentada a solução por meio do sistema de eixos cartesianos, conforme
registrado no Anexo VI, cabe ao professor efetuar um discurso para que o estudante
perceba que tal tarefa se encontra no conjunto dos números inteiros positivos, pois o
problema apresentado envolve a contagem de objetos; no caso, duas espécies de
animais.
Com relação a esses exemplos configurados e suas devidas mudanças de quadro
que exigem diferentes representações, apresentam-se os possíveis quadros, que
50
serão utilizados nesta pesquisa com os respectivos exemplos, sendo a solução
desenvolvida pelo pesquisador, correspondendo a uma provável técnica a ser
desenvolvida pelos estudantes.
- Quadro Numérico: para a noção de matriz, tal quadro é apresentado, utilizando-se
representações em termos numéricos, em suas respectivas tabelas, conforme
segue:
Verifica-se que a tarefa da Figura 3 é enunciada por duas tabelas, ambas de
dupla entrada, cujos termos, todos numéricos, são dispostos em linha e coluna.
Assim, esse tipo de representação é considerado como quadro numérico.
Por exemplo, na tarefa, no item (b), a população urbana de 1940 é igual a 31%,
elemento que pertence ao quadro numérico e, no ano de 1960, a população rural era
Escreva a matriz correspondente às tabelas a seguir.
a) Tabela de notas de três alunos no primeiro bimestre:
MATEMÁTICA
FÍSICA
QUÍMICA
BIOLOGIA
ANA 6 4 5 8
ANTÔNIO
5 7
5
5
BEATRIZ 5 6 7 4
b) Tabela que mostra, em porcentagem, a localização da população brasileira de
1940 a 1990:
POPULAÇÃO URBANA POPULAÇÃO RURAL
1940 31 69
1950 36 64
1960 45 55
1970 56 44
1980 64 36
1990 72 28
Figura 3: Exemplo de tarefa enunciado no quadro numérico. Fonte: Dante, 2004, p. 205.
51
de 55%. No item (a), temos apenas uma nota 8, que corresponde à disciplina de
biologia da aluna Ana. Na disciplina de física, o aluno Antonio ficou com nota 7.
Para a solução da tarefa, o estudante deverá transpor os elementos para um
outro quadro, conforme apresentado no Anexo VII, e, para isso, necessitará de
conhecimento relacionado com a posição de cada um deles, ou seja, deverá indicar
a linha e a coluna que determinado elemento ocupa. Também é preciso reconhecer
o tipo da tabela que está sendo enunciada, em termos de número de linhas e
colunas.
Muitos livros iniciam o ensino da noção de matriz utilizando este tipo
representação na tabela, o que supõe a necessidade de os estudantes
desenvolverem atividades em outros quadros. Como a tarefa acima é enunciada no
quadro numérico na representação tabela, é solicitado aos alunos que escrevam a
matriz correspondente no quadro matricial, como apresentado na Figura 10, ou seja,
que transponham os dados para o quadro matricial numérico, como descrito na
solução e demonstrado abaixo.
- Quadro matricial numérico: para a noção de matriz, apresenta elementos
numéricos dispostos na representação matricial. Para que o estudante consiga
mobilizar seus conhecimentos, são necessárias definições relacionadas ao tipo da
matriz, em termos de linha e coluna, conforme segue:
A tarefa da Figura 4 é enunciada, utilizando-se a notação matricial, com o
respectivo tipo da matriz com relação ao número de linhas e colunas. Nesse quadro
Dados dois números m e n naturais e não nulos, chama-se matriz m por n (indica-se
mxn) toda tabela M formada por números reais distribuídos em m linhas e n colunas.
1) ⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡ −
2540
153 é matriz 2 X 3; 2)
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡ −
14
273
34
é matriz 3 X 2; 3) [ ]7190 − é matriz 1 X 4;
4) ⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜
⎝
⎛
− 315
é matriz 3 X 1; 5) ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛7321
é matriz 2 X 2.
Figura 4: Exemplo de quadro matricial numérico. Fonte: Iezzi, 1985, p. 35D
52
o estudante articulará os primeiros contatos com a representação explícita de uma
matriz com seu respectivo tipo em termos de linha e coluna. Observa-se, nos livros
didáticos analisados, que o quadro matricial numérico é desenvolvido logo após a
introdução do objeto matriz.
Para melhor demonstrar o quadro matricial numérico, segue abaixo uma tarefa de
vestibular, extraída da obra de Giovanni (2000).
A tarefa da Figura 5 trabalha com um tipo de representação chamado, pelo
enunciado, de tabela, mas trata-se de um exemplo que se enquadra no quadro
matricial numérico, sem a representação explícita de uma matriz desse quadro.
Percebe-se que, mesmo não utilizando a representação explícita de matriz, é preciso
saber qual o tipo de matriz em jogo: ela é do tipo 3Xn (três linha e n colunas), e n
deverá ser calculado, considerando que, nas três linhas, há uma progressão
aritmética de razão 3, variando o primeiro termo. Na primeira linha, trata-se e dos
múltiplos de 3, o que possibilita o uso da noção de divisibilidade. Nesta tarefa o
estudante deve encontrar a posição do elemento 319, em termos de linha e coluna;
assim, o objeto matriz atua como ferramenta explícita apenas para enunciar a tarefa,
pois são necessárias outras noções para determinar o que é pedido, conforme
solução descrita no Anexo VIII.
A solução da tarefa (Anexo VIII) é dada por meio de outras noções, como a
divisibilidade entre números naturais e o termo geral da progressão aritmética, mas o
estudante deve ter noção sobre a posição do elemento na tabela, em termos de
linha e coluna, o que permite a articulação entre as representações de tabelas e
matrizes.
Imagine os números inteiros não negativos formando a seguinte tabela:
...1411852
...1310741
...129630
a) Em que linha da tabela se encontra o número 319? b) Em que coluna se encontra esse número?
Figura 5: Tarefa referente ao quadro matricial numérico. Fonte: Giovanni, 2000, p. 106
53
Para a noção de matriz, outros quadros podem ser definidos para melhor
explicitar as investigações sobre o objeto matemático matriz, como este outro, na
sequência, em que se utiliza a representação algébrica.
- Quadro matricial algébrico: para a noção de matriz, utilizam-se elementos
algébricos dispostos na notação matricial. Para que o estudante consiga mobilizar
seus conhecimentos, são necessárias definições relacionadas ao tipo da matriz, em
termos de linha e coluna, e a posição de cada elemento nessa matriz, utilizando-se a
noção de índice (aij), em que i representa a posição na linha e j, a posição na coluna,
conforme apresentado na Figura que segue.
Nota-se que neste tipo de representação matricial são utilizadas incógnitas “a” e,
para diferenciá-las, são considerados os índices i e j, que indicam a posição de cada
termo. Portanto, i representa a linha e j, a coluna. Uma matriz do tipo mxn também
pode ser indicada por: M=(aij), em que i ∈ {1, 2, 3, ..., m} e j ∈ {1, 2, 3, ..., n}; ou,
simplesmente, M=(aij)mxn. Neste tipo de exemplo, o estudante deve mobilizar uma
sequência de conhecimentos, como o tipo da matriz que deve ser construída, a
noção de índice e a posição algébrica de cada elemento na matriz. O quadro acima
possibilitará ao estudante mobilizar seus conhecimentos para manipular as matrizes
em outros quadros.
Para melhor exemplificar o quadro anterior, apresenta-se uma tarefa extraída da
segunda fase do vestibular da Unicamp (2010).
Em uma matriz qualquer M, cada elemento é indicado por aij. O índice i indica a
linha, e o índice j, a coluna, às quais o elemento pertence. Segundo a convenção de que
as linhas sejam numeradas de cima para baixo (de 1 até m) e as colunas, da esquerda
para a direita (de 1 até n), uma matriz mxn é representada por:
⎟⎟⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜⎜⎜
⎝
⎛
=
mnmm
n
n
n
aaaaaaaaaaaa
M
...
...
...
...
21
33231
22221
11211
ou ⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
=
mnmm
n
n
n
aaaaaaaaaaaa
M
...
...
...
...
21
33231
22221
11211
ou
mnmm
n
n
n
aaaaaaaaaaaa
M
...
...
...
...
21
33231
22221
11211
=
Figura 6: Exemplos de representação algébrica de uma matriz. Fonte: Iezzi, 1985, p. 36D
54
O enunciado da tarefa da Figura 7 é dado no quadro matricial algébrico.9 Com
relação ao item (b)10, o estudante deverá utilizar a relação algébrica funcional
fornecida e, assim, escrever uma matriz no quadro matricial numérico,
determinando, logo após, sua inversa, conforme solução apresentada no Anexo IX.
Conforme resolução registrada (Anexo IX), referente à tarefa da Figura 7, item
(b)11, verifica-se que o estudante tem que efetuar a mudança do quadro matricial
algébrico para o quadro matricial numérico, utilizando a relação algébrica funcional,
como determinado pelo item (b) do enunciado da tarefa. Para determinar a inversa
da matriz, ele deverá utilizar outras noções que dependem do método escolhido
para o cálculo da inversa da matriz dada, quando essa existir. Sendo assim, é
preciso verificar a condição de existência da inversa que se exprime por meio da
noção de determinante, o que significa definir se o determinante da matriz dada é
diferente de zero.
Considera-se ainda, para efeito das análises propostas, o quadro algébrico
funcional, que é definido abaixo.
- Quadro algébrico funcional: para a noção de matriz, utiliza as relações algébricas
funcionais, ou seja, a “lei de formação” para construção da matriz. Assim, o
estudante deverá apropriar-se de conhecimentos relacionados ao tipo de matriz, em
termos de linha e coluna, e a posição de cada elemento na matriz, relacionada aos
9 Com relação ao enunciado e não aos itens. 10 O item (a) não foi analisado. 11 Comentar‐se‐á a matriz inversa em momento posterior.
Considere a matriz
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡=
333231
232221
131211
aaaaaaaaa
A , cujos coeficientes são números reais.
a) Suponha que exatamente seis elementos dessa matriz são iguais a zero. Supondo também que não há nenhuma informação adicional sobre A, calcule a probabilidade de que o determinante dessa matriz não seja nulo.
b) Suponha, agora, que aij=0 para todo elemento em que j>i, e que aij=i-j+1 para os elementos em que j≤i. Determine a matriz A, nesse caso, e calcule sua inversa, A-1.
Figura 7: Tarefa da segunda fase do vestibular da Unicamp (2010).
55
índices; também deverá dispor de conhecimentos relativos aos conjuntos numéricos,
às operações aritméticas e ao cálculo do valor numérico de uma função.
Para representar essa matriz, que se encontra no quadro algébrico funcional, o
estudante deverá transpor as informações iniciais para o quadro matricial algébrico
e, em seguida, para o quadro matricial numérico, observando que a matriz é do tipo
3x2, ou seja, três linhas e duas colunas. Após a definição e a construção de uma
matriz algébrica, o estudante deve substituir os índices de cada termo na relação
fornecida, determinar o valor numérico de cada relação algébrica e substituir na
matriz algébrica os devidos valores numéricos, esboçando, assim, a matriz pedida
no quadro matricial numérico, como se constata na solução descrita no Anexo X.
Observa-se que, após registrar a matriz A de forma algébrica, pois ela foi
enunciada na forma algébrica compacta, o estudante deverá trabalhar com a relação
algébrica funcional, utilizando os elementos que estão dispostos na matriz em
termos de linha (i) e coluna (j), ou seja, deverá ter noção do índice utilizado para
indicar a posição do elemento e substituí-lo na relação fornecida. Também deverá
ter noção do cálculo do valor numérico da função fornecida.
Após considerar alguns quadros, apresentam-se, a seguir, outros quadros que
podem ser encontrados e utilizados para resolução de diversas tarefas nos livros
didáticos e também nas avaliações institucionais.
- Quadro da geometria métrica plana: para a noção de matriz, este quadro é
apresentado, utilizando figuras relacionadas à geometria plana com as devidas
propriedades, que podem ser articuladas e representadas por meio de
representações matriciais. O estudante deverá dispor de conhecimentos
relacionados às figuras planas, como os polígonos e suas propriedades, além de
medidas relacionadas a esses objetos, como áreas e vértices, para efetuar as
devidas manipulações matemáticas. Na sequência, apresenta-se um exemplo que
evidencia explicitamente este tipo de quadro.
Escreva a matriz A=(aij)3x2, tal que aij=3i-2j+4.
Figura 8: Tarefa sobre relação algébrica funcional. Fonte: Dante, 2004, p. 206.
56
Na tarefa da Figura 9, solicita-se que o estudante efetue uma representação da
distância entre os vértices do quadrado dado por meio de uma matriz, o que
corresponde à passagem do quadro da geometria métrica plana para o quadro
matricial algébrico e depois para o quadro matricial numérico. Para resolver a
questão, são necessários conhecimentos prévios sobre distância, vértices e cálculo
do comprimento da diagonal, que, provavelmente, foram desenvolvidos no Ensino
Fundamental e revisitados no Ensino Médio. A solução da tarefa proposta na Figura
9, está sendo apresentada no Anexo XI.
Na solução apresentada (Anexo XI), o estudante deverá mobilizar seus
conhecimentos prévios, como determinar a medida da diagonal do quadrado. Logo
após, deverá fixar um vértice para determinar a distância dos outros vértices,
gerando uma matriz no quadro matricial numérico do tipo 4X4.
Também por meio das análises efetuadas nos livros didáticos e no material
didático (“Caderno do aluno”, 2009), verificaram-se outros quadros, como o quadro
da geometria analítica, definido a seguir.
- Quadro da geometria analítica: para as noções de matrizes, este quadro é
apresentado, utilizando objetos matemáticos, que podem estar relacionados no
(Unimep-SP) É dado um quadrado de lado medindo 1 unidade, numerado conforme a figura.
21
4 3
A matriz 4X4, tal que aij é a distância entre os vértices de números i e j, é:
Figura 9: Tarefa sobre quadro da geometria métrica plana. Fonte: Giovanni, 2000, p. 123.
57
sistema de eixos cartesianos e ser representados por meio de uma matriz. Neste
quadro, os estudantes, além de dominar as operações utilizadas, devem estar
familiarizados com noções relacionadas às coordenadas do plano e do espaço.
Observa-se que, para esta tarefa, a figura geométrica original sofreu uma
translação, sendo representada de forma explícita no plano cartesiano, e os vértices
do quadrilátero podem ser representados por meio de uma matriz, ou seja, pode-se
efetuar uma passagem para o quadro matricial numérico. A tarefa da Figura 10
Observe os dois polígonos representados no plano cartesiano.
Esses dois polígonos são congruentes, e podemos considerar que o polígono EFGH é uma translação do polígono ABCD, isto é, EFGH foi obtido de duas movimentações de ABCD, sendo uma na horizontal e outra na vertical.
a) Quantas unidades na horizontal e quantas unidades na vertical ABCD
devem ser deslocadas para que, ao final, coincida com EFGH?
b) Represente em uma matriz A(4X2) as coordenadas dos vértices do polígono
ABCD, de maneira que cada linha da matriz contenha coordenadas de um
ponto, com a abscissa na primeira coluna e a ordenada na segunda coluna.
c) Represente em uma matriz B(4X2) as coordenadas dos vértices do polígono
EFGH, de maneira que cada linha da matriz contenha coordenadas de um
ponto, com a abscissa na primeira coluna e a ordenada na segunda coluna.
d) Escreva uma matriz C(4X2 de tal forma que A+C=B.
Figura 10: Tarefa sobre quadro da geometria plana. Fonte: “Caderno do aluno”, 2009, p. 3
58
permite desenvolver outras atividades, além de auxiliar na introdução da noção de
matriz. No exemplo, para resolver a tarefa o estudante deve mobilizar a noção de
translação de figuras geométricas, ter conhecimento de coordenada no sistema de
eixo cartesiano, entre outras noções implícitas na tarefa. No Anexo XII, segue uma
possível solução em que se podem observar os conhecimentos necessários para a
solução da tarefa proposta.
É possível observar que, no item (a), o estudante deverá mobilizar seus saberes
relacionados à medida da distância entre o polígono inicial e o polígono final (depois
de transladado); nos itens (b) e (c), deverá utilizar conhecimentos relativos à posição
de cada vértice, em termos de abscissas e ordenadas, e, assim, escrever a matriz
que representa a posição da figura no sistema de eixo cartesiano. Já o item (d)
requer que o estudante utilize noções de equação e, assim, determine uma matriz
em termos numéricos. Percebe-se inicialmente que a tarefa é apresentada no
quadro da geometria analítica plana, mas o desenvolvimento requer a passagem
para outros quadros.
Na sequência, define-se ainda o quadro dos determinantes, que são utilizados em
algumas tarefas encontradas nos livros didáticos e nas macroavaliações.
- Quadro dos determinantes: este quadro refere-se ao número que se pode obter,
operando com os elementos de uma matriz quadrada. Neste quadro, é necessário
que o estudante disponha de alguns métodos para o cálculo do determinante de
uma matriz e que conheça as propriedades dos determinantes, para facilitar algumas
técnicas associadas à noção de matriz.
Considerando o conjunto das matrizes quadradas de elementos reais, seja M uma matriz de ordem n desse conjunto. Chama-se determinante da matriz M (indicado por det M) o número que se obtém operando com os elementos de M.
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡=
2221
1211
aaaa
M ⇒ 211222112221
1211 .. aaaaaaaa
M −==
Obs.: Colocou-se apenas o determinante da matriz algébrica de ordem dois, existindo determinante de matrizes de outras ordens.
Figura 11: Tarefa sobre determinante. Fonte: Iezzi, 1985, p. 67D
59
A Figura 11 corresponde ao determinante de uma matriz quadrada de ordem 2.
Mesmo considerando que os determinantes tiveram origem por volta do século
XVII e ainda são utilizados em métodos de resolução de sistemas lineares, observa-
se que atualmente, embora não sejam um instrumento prático para desenvolver o
estudo dos sistemas, são um recurso importante para o trabalho em geometria
analítica, dependendo do ponto de vista adotado para sua introdução e seu
desenvolvimento.
A seguir, apresenta-se uma tarefa referente ao quadro dos determinantes, que
pode corresponder às expectativas institucionais esperadas dos estudantes.
A tarefa proposta no vestibular mobiliza a operação de adição entre duas matrizes
e, logo após, os conhecimentos relacionados com a noção do cálculo do
determinante e a resolução de equação, como é possível observar na solução
proposta no Anexo XIII .
Na solução proposta no Anexo XIII, desenvolve-se a operação de adição de
matrizes e calculam-se os possíveis valores de “a”, de forma que a equação det[A +
B] = 0 obtenha solução. Trata-se de trabalhar com cálculos algébricos, tendo a
noção de cálculo do determinante como ferramenta explícita ao trabalho matemático
a ser realizado, ou seja, o valor numérico da equação.
Identifica-se ainda o quadro dos sistemas de equações lineares que podem ser
utilizados para a solução de diversas tarefas específicas da matemática ou que
correspondem a situações contextualizadas de outras ciências ou do cotidiano.
Figura 12: Tarefa sobre determinante. Fonte: Vestibular Mackenzie, 2004.
Dadas as matrizes ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡ −=
aaa
A1
e ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡=
1123a
B , o produto das raízes da equação do
[ ] 0det =+ BA é:
a) 1 b) 2 c) -1/2 d) 3/2 e) -1
60
- Quadro dos sistemas lineares: é apresentado por meio de um conjunto de
equações lineares e pode ser representado matricialmente pelo produto da matriz
dos coeficientes do sistema pelo vetor coluna que representa as incógnitas,
igualado ao vetor coluna que representa os segundos membros, ou seja, os
termos independentes.
No Anexo XIV, apresenta-se a solução de uma tarefa, para exemplificar a
utilização do quadro dos sistemas de equações lineares como ferramenta para o
cálculo da inversa de uma matriz.
A solução da tarefa apresentada (Anexo XIV), retrata a utilização do quadro dos
sistemas lineares para determinar a inversa de uma matriz dada. Observe que, para
determinar a matriz inversa, após encontrar a matriz numérica, o estudante pode
optar por utilizar a noção de sistema linear para definir os coeficientes da inversa da
matriz. Para aqueles que dispõem da noção de determinante, é possível verificar se
realmente a matriz “A” admite inversa, sendo necessárias para isso algumas noções
já estudadas. Para chegar à solução, o estudante poderá escolher também outras
técnicas associadas a essa noção, como a regra de Cramer e o método do
escalonamento, entre outros.
A apresentação e os exemplos dos quadros associados à noção de matriz
deixaram claro que é preciso explicitar os conhecimentos matemáticos necessários
para efetuar a passagem de um quadro para outro. E essa passagem será mais
bem-efetuada e compreendida, se os estudantes forem capazes de, pelo menos,
mobilizar conhecimentos relacionados às noções em jogo, nas tarefas propostas no
Ensino Médio — em particular, naquelas em que a noção de matriz pode servir como
elemento facilitador para o seu desenvolvimento.
Figura 13: Tarefa de quadro dos sistemas lineares. Fonte: Iezzi, 1985, p. 117D
O sistema linear: ⎩⎨⎧
=−=+2432
yxyx
Pode ser escrito na forma matricial: ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡=⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡− 2
4.
1132
yx
61
Dessa forma, a noção de matriz pode ser utilizada em diferentes níveis — três,
conforme definição de Robert (1997, 1998) —, o que permite compreender qual o
nível de conhecimento (técnico, mobilizável, disponível) que se espera dos
estudantes para a resolução dos diferentes tipos de tarefas sobre a noção de matriz,
quando introduzidas no Ensino Médio; e possibilita, também, constatar se o trabalho
nesses níveis pode auxiliar no desenvolvimento de um curso de introdução à
Álgebra Linear no Ensino Superior.
Além disso, nesta pesquisa são realizadas, por meio das propostas institucionais
e dos livros didáticos elaborados a partir destas, análises das relações institucionais
esperadas e existentes no processo de ensino e aprendizagem da noção de matriz,
suas operações e propriedades. Observa-se, aqui, que em ambos os casos são
consideradas apenas as expectativas de trabalho, o que conduz à análise das
relações pessoais esperadas dos estudantes via avaliações institucionais, ou seja,
estuda-se aqui se as expectativas institucionais estão em conformidade com as
pessoais.
Para essas análises, consideram-se também como referencial teórico desta
pesquisa os trabalhos de Chevallard(1992), Bosch e Chevallard (1999) e Chevallard
e Grenier (1997), para os quais escolhem-se, mais particularmente, os conceitos de
relações institucionais como saberes a serem trabalhados nas diferentes etapas
escolares, o que é analisado via noções de organizações praxeológicas, ostensivos
e não ostensivos, que lhes são associados e o “topos” do professor e do estudante.
Este último é uma ferramenta auxiliar de análise que permite diferenciar e
compreender qual o papel que se espera que o professor e o estudante
desempenhem no processo de ensino e aprendizagem.
Uma breve descrição das noções associadas a esses referenciais teóricos que
auxiliaram nas análises propostas na pesquisa é apresentada a seguir.
2.3 A abordagem teórica em termos de nível de conhecimento e algumas noções da teoria antropológica do didático
Inicia-se esta exposição pela noção dos três níveis de conhecimento esperados
dos estudantes, conforme definição de Robert (1997, 1998).
62
2.3.1 Os três níveis de conhecimento esperados dos estudantes, conforme Robert (1997,1998).
Os três níveis de conhecimentos — técnico, mobilizável e disponível —esperados
dos estudantes foram inicialmente propostos por Robert (1997) em seu artigo
intitulado “Quelques outils d’analyse épistemologique et didactique de
connaissances mathématiques à enseigner au lycée et à l’université” e retomados
pela autora no artigo “Outils d’analyse des contenus mathématiques à enseigner au
Lycée et à l’Université”, de 1998.
Robert (1997) propôs esses três níveis de conhecimento, pois observou nas
pesquisas francesas que, os estudantes e professores do “lycèe” e do superior, em
geral, apresentavam problemas associados a: perdas de sentido frequentes; falta de
curiosidade; dificuldades para entrar no pensamento científico; dificuldades de
gestão de classes cada vez mais heterogêneas, principalmente as classes de
seconde12; mudanças de programas (julgadas redutoras com a força da
simplificação), além da introdução das novas tecnologias (com as interrogações
sobre o conteúdo que a ela estão associados).
Observa-se que os problemas de ensino apontados por Robert correspondem
às dificuldades, em geral, encontradas pelos professores no Brasil.
Após considerar as dificuldades para a introdução de uma determinada noção
matemática, Robert (1997, 1998) aponta as quatro ferramentas que lhe parecem
essenciais para a análise de tarefas e a construção dos cenários de aprendizagem:
as noções de ferramenta e objeto e as representações desses objetos; a natureza
das noções que se deseja ensinar, isto é, sua relação com conhecimentos
introduzidos anteriormente e sua função na paisagem matemática existente e
construída anteriormente. Isso a faz considerar as seguintes possibilidades para a
natureza das noções matemáticas: o grau de generalização da noção em relação às
noções anteriores já apresentadas aos estudantes, como é previsto nas propostas; o
caráter unificador da noção em relação a certas noções anteriores; a função que
ocupa a noção nas matemáticas de que os estudantes dispõem; as noções que
podem ser apresentadas aos estudantes como extensões de noções já introduzidas;
12 Seconde: corresponde a nossa primeira série do Ensino Médio, em termos de etapa escolar.
63
as noções que podem ser apresentadas aos estudantes como respostas a
problemas novos e precisos, que os alunos podem compreender, mas que não
podem resolver completamente; as noções que correspondem apenas à introdução
de um formalismo adaptado (que sempre permitem economias de escritas); as
noções generalizadoras, unificadoras e que sustentam um novo formalismo: os
limites; a noção de variável em álgebra elementar; os níveis de conceitualização13.
Conforme definição proposta por Robert (1997), a seguir definem-se os três
níveis de conhecimento com exemplos escolhidos das análises efetuadas nesta
pesquisa, isto é, a noção de matriz, suas operações e propriedades.
- Nível técnico: corresponde a um trabalho isolado, local e concreto e está
relacionado principalmente às ferramentas e às definições empregadas em uma
determinada tarefa. Utilizando, por exemplo, o objeto matriz, demonstra-se uma
situação extraída da primeira parte do capítulo referente à noção de matriz do livro
didático elaborado por Dante (2005b, p. 240), quando o autor inicia a introdução da
noção de matriz.
Pode-se constatar, por meio do enunciado, que a tarefa corresponde ao nível
técnico, pois basta o estudante utilizar a representação matricial, para apresentar a
tabela de uma outra forma. Para o exemplo anterior, nesse momento, o autor
13 Níveis de conceitualização: trata-se de etiquetar uma etapa em um campo de conhecimentos matemáticos (campo conceitual), correspondendo a uma organização coerente de uma parte do campo, caracterizado por objetos matemáticos apresentados de certa maneira, dos teoremas sobre esses objetos, dos métodos associados a esses teoremas e dos problemas que os estudantes podem resolver com os teoremas do nível considerado e utilizando esses métodos. (ROBERT, 1997, p.205).
Em uma editora, as vendas de livros de Matemática, Física e Química, no primeiro trimestre de um ano, podem ser expressas pela tabela a seguir.
JANEIRO FEVEREIRO MARÇO
MATEMÁTICA 20 000 32 000 45 000
FÍSICA 15 000 18 000 25 000
QUÍMICA 16 000 17 000 23 000
Uma tabela desse tipo pode ser representada por:
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡
230001700016000250001800015000450003200020000
Figura 14: Tarefa de nível técnico. Fonte: Dante, 2005 b, p. 240
64
introduz a noção de matriz, informando que a tabela pode ser representada de uma
outra maneira, em termos de linha e de coluna, denominada matriz; ou seja, trata-se
de uma noção que corresponde apenas à introdução de um formalismo adaptado,
que permite economias de escritas.
Outro exemplo que descreve o nível técnico é apresentado na figura abaixo:
Para a tarefa da Figura 15, o estudante apenas deverá contar o número de
linhas e colunas e registrar os dados em notação específica, como solução proposta
no Anexo XV.
Para a solução é suficiente que o estudante conte o número de linhas e colunas
e represente os dados numericamente; portanto, este tipo de tarefa é considerado
nesta pesquisa como de nível técnico, bastando apenas que o estudante tenha
conhecimentos de contagem numérica. Nesse caso, também se trata de uma noção
que corresponde apenas à introdução de um formalismo, conforme já citado
anteriormente.
Outros exemplos que também são considerados, como a aplicação de
ferramentas, e que precisam apenas de definições iniciais sobre a noção de matriz
são os encontrados em tarefas que solicitam dos estudantes:
- esboçar entre colchetes uma tabela; - verificar a quantidade de linhas e colunas da tabela; - operar os elementos de uma linha ou coluna de uma tabela.
Observa-se que o nível técnico não necessita de conhecimentos “profundos”
acerca da noção desenvolvida, apenas é necessário que o estudante utilize
ferramentas básicas para determinar o que é pedido, mas, ao utilizar saberes que
Identifique o tipo ou a ordem das seguintes matrizes:
a) ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡5164 b)
⎟⎟⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜⎜⎜
⎝
⎛
− 6521
c)
⎥⎥⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
−−−
−
1003110
145262031
d) ⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡
−−−
2037061104102
e) ⎟⎠⎞
⎜⎝⎛−
51303
Figura 15: Exemplo de tarefa de nível técnico. Fonte: Dante, 2004, p. 205
65
requerem noções mais complexas, sendo necessário um pensamento matemático
mais apurado, ocorre a mobilização de outro nível, que será definido na sequência.
- Nível mobilizável: corresponde a um início de justaposição de saberes de certo
quadro, podendo até corresponder a uma organização, e vários métodos podem ser
mobilizados. O caráter de ferramenta e o de objeto do conceito estão em jogo, mas o
que se questiona é explicitamente pedido. Se um saber é identificado, ele é
considerado mobilizado, se for acessível, isto é, se o estudante o utiliza
corretamente. Por exemplo, observe a tarefa da figura abaixo:
Nessa tarefa, o estudante deverá dispor de alguns conhecimentos relacionados à
noção de matriz, como o tipo da matriz em jogo; logo após, poderá construí-la
algebricamente e substituir os valores correspondentes, organizando o que é
solicitado na tarefa. Um outro exemplo do nível mobilizável é o seguinte:
Observa-se que, no exemplo da Figura 17, o estudante deve mobilizar seus
saberes e verificar a posição do elemento em termos de número índice (aij); assim,
poderá escrever a matriz algébrica, efetuando a comparação entre essa matriz e a
matriz numérica enunciada, trabalhando implicitamente a igualdade entre matrizes,
como se pode observar na resolução (Anexo XVI).
Na solução apresentada no Anexo XVI, considera-se o nível mobilizável, pois o
estudante necessita de conhecimentos associados à noção de representação dos
elementos e de uma matriz para determinar o que é pedido; por exemplo, quando é
Identifique: a) os elementos a11, a22 e a13 na matriz ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−− 1541062
.
Figura 17: Tarefa sobre nível mobilizável. Fonte: Dante, 2005 b, p. 242.
Organizar, na forma de matriz A2X3, os elementos a11=2, a12=6, a13=10, a21=4,
a22=-5 e a23=-1.
Figura 16: Tarefa sobre nível mobilizável. Fonte: Dante, 2005, p. 242.
66
solicitado a identificar o elemento a13, deve mobilizar conhecimentos em função do
número índice i e j, ou seja, o índice 1 significa primeira linha, e o índice 3 significa
terceira coluna e após encontrar esse elemento no quadro matricial algébrico, por
meio de uma igualdade implícita entre as duas matrizes, o estudante deve associar a
ele o valor correspondente.
Outro exemplo para o nível mobilizável é apresentado por meio do quadro
algébrico funcional, conforme descrito em seguida:
No caso do exemplo apresentado14 (Figura 18), considera-se tratar do nível
mobilizável, pois está sendo explicitamente solicitado que o estudante escreva a
matriz, por meio de seus elementos descritos sob a forma (aij) com 1≤i≤3 e 1≤j≤3,
não se esquecendo de considerar a variação de i e j. Na sequência, deve mobilizar
sua noções sobre cálculo do valor numérico de uma função que, no caso, possui
duas variáveis, ou seja, a matriz aqui é dada por meio de uma representação
funcional que, em geral, exige um tratamento especifico, uma vez que esse tipo de
função não é trabalhado explicitamente no Ensino Médio, mas utilizado como
ferramenta para resolver determinadas tarefas.
Observa-se que este tipo de tarefa solucionada (Anexo XVII) é apresentada no
quadro algébrico funcional, para ser transferido para o quadro matricial numérico.
Em geral, apresenta grandes dificuldades, quando o estudante ainda não adquiriu os
conhecimentos necessários segundo os níveis técnicos e a noção em jogo, ou seja,
a identificação da matriz por meio de seus elementos descritos pelos índices que
representam a linha e a coluna em que se encontram e o cálculo do valor numérico
desses elementos. Esse trabalho exige que os estudantes já tenham passado por
14 Analisa‐se apenas o item (b).
Escreva as matrizes:
a) A=(aij)2X3 tal que aij=i2+j2
b) M=(aij), com 1≤i≤3 e 1≤j≤3, tal que aij=3i+2j-5
Figura 18: Tarefa sobre nível mobilizável. Fonte: Dante, 2005, p. 242.
67
outras situações que lhes sirvam de referência e possam auxiliá-los no trabalho a ser
realizado.
Outros exemplos que também são considerados como mobilizáveis são:
- escrever na forma matricial a partir da linguagem natural; - verificar a igualdade de duas matrizes; - adicionar ou multiplicar duas matrizes; - a partir de uma matriz, escrevê-la na forma de relação algébrica funcional e vice-versa.
Para o nível mobilizável, nota-se que objetivo para determinada tarefa é
explicitamente solicitado e, caso o estudante consiga desenvolvê-la corretamente,
considera-se que seja capaz de mobilizar o conhecimento solicitado e que se
encontra neste nível. Além do nível mobilizável, Robert define o nível disponível, que
corresponde às tarefas que o estudante deve saber responder sem indicações
explícitas do enunciado, conforme definido no item seguinte:
- Nível disponível: pressupõe saber responder corretamente o que é proposto, sem
receber indicações: dar contra exemplos (encontrar ou criar), mudar de quadro (fazer
relações), aplicar métodos não previstos. Esse nível de conhecimento está
associado à familiaridade; ao conhecimento de situações de referências variadas
que o estudante sabe que conhece e servem de terreno de experimentação; ao fato
de dispor de referências, de questionamentos, de uma organização. Pode servir
para um único problema e também possibilita fazer resumos.
A seguir apresenta-se um exemplo referente ao nível disponível:
Na tarefa proposta (Figura 19), não é enunciado qual ferramenta o estudante
deve utilizar para determinar o preço da batata; portanto, trata-se do nível disponível,
pois o estudante deve dispor de algum objeto matemático, utilizando seus saberes
Em uma compra de 3 quilos de batata, 0,5 quilos de cenoura e 1 quilo de abobrinha, Arnaldo gastou R$14,45, porque não pediu desconto ao seu Manuel, dono da barraca na feira livre. Juvenal, por sua vez, comprou 2 quilos de batata, 1 quilo de cenoura e 2 quilos de abobrinha, pediu desconto de R$ 0,50 no preço do quilo da batata e de R$ 0,20 no preço do quilo da abobrinha e gastou R$ 11,50. Rosa, conhecida antiga de seu Manuel, conseguiu desconto de R$ 1,00 no preço do quilo da batata, R$ 0,50 de desconto no preço do quilo da cenoura, e R$ 0,20 de desconto no preço da abobrinha, gastando, no total, R$ 18,00 pela compra de 3 quilos de cada produto. Quanto seu Manuel cobra, sem desconto, pelo quilo da batata?
Figura 19: Tarefa referente ao nível disponível. Fonte: “Caderno do aluno”, 2009, p. 47.
68
prévios para determinar o preço solicitado e evocando novos saberes, quando a
situação assim o exigir. Nesta tarefa observa-se a quantidade de conhecimentos em
jogo: o estudante deve dispor da noção de sistema de equações lineares para
efetuar a passagem da linguagem natural da tarefa proposta para a representação
algébrica de um sistema 3x3. Após a identificação do sistema, o estudante pode
utilizar o método de Gauss, o escalonamento ou outra técnica conveniente para
encontrar a solução. No caso de utilizar a noção de matriz, deve efetuar a passagem
para a representação matricial do sistema encontrado e trabalhar apenas com a
matriz aumentada dos coeficientes, como é possível constatar na proposta
apresentada no Anexo XVIII.
A tarefa da Figura 19 é enunciada em linguagem natural e corresponde ao nível
disponível, pois o estudante deve determinar o preço do produto “batata” sem
indicação do processo, da ferramenta ou do algoritmo que deve ser utilizado. Assim,
cabe a ele dispor de conhecimentos para efetuar as devidas mudanças de quadro,
utilizando os métodos que melhor se enquadrem na tarefa e que estejam em
conformidade com seus conhecimentos disponíveis. No Anexo XVIII15, foi utilizado
um dos métodos existentes para solucionar o que é pedido, correspondendo ao nível
disponível, caso o estudante determine o preço do produto, pois deve ser possível
ao aluno tal procedimento, assim como a possibilidade de verificar a validade de sua
resposta.
Apesar das ferramentas de análise consideradas acima, relacionadas ao
funcionamento institucional da noção de matriz no Ensino Médio, parece
interessante considerar as noções de relações institucionais esperadas e existentes
para o desenvolvimento desse conceito, pois são noções mais amplas associadas à
atividade humana, em particular à atividade matemática, e permitem considerar a
diversidade de relações para um mesmo objeto matemático. Tais relações são
finalmente analisadas, quando se consideram as noções de quadro e níveis de
conhecimento esperados dos estudantes.
15 Solução apresentada pelo pesquisador, correspondendo a um dos métodos que podem ser utilizados pelos estudantes.
69
Para isso, escolheu-se completar essas análises por meio da Teoria
Antropológica do Didático, de Chevallard (1992) e Bosch e Chevallard (1999), em
particular, referindo-se aos conceitos de relações institucionais e pessoais e aos
ostensivos e não ostensivos presentes nas organizações praxeológicas (tipos de
tarefas, técnicas associadas, tecnologias e teorias) propostas para o Ensino Médio e
possivelmente revisitadas no Ensino Superior. Observa-se aqui que os ostensivos
estão associados às representações de um mesmo objeto matemático, sendo
evocados por meio dos não ostensivos que representam.
2.3.2 Alguns elementos da Teoria Antropológica do Didático
Apresenta-se, nesta seção, uma breve descrição sobre a Teoria Antropológica do
Didático, mais especificamente as noções de relações institucionais e pessoais,
tarefas, técnicas, tecnologias e teorias, isto é, de organizações praxeológicas,
ostensivos e não ostensivos, segundo Chevallard (1992) e Bosch e Chevallard
(1999).
Para estes dois autores, tudo é objeto e, quando esse é reconhecido por uma
instituição, podemos definir uma relação institucional com esse objeto, que neste
trabalho é reconhecido por meio das Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio
(BRASIL, 1998a), dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (BRASIL,
2000b e 2002), das Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
(BRASIL, 2006), da Nova Proposta do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2008),
das Diretrizes Curriculares para o Curso de Matemática (BRASIL, 2001) e dos
Planos de Ensino de algumas Universidades como relações institucionais esperadas. Assim como os livros didáticos e o “Caderno do aluno” (SÃO PAULO,
2008-2009), que são considerados como relações institucionais existentes. No
texto abaixo, apresenta-se a definição da relação institucional e da relação pessoal a
um objeto “O”, a partir das noções primitivas de objeto, pessoas e instituições, dentro
do que os autores denominam antropologia cognitiva ou antropologia do
conhecimento, que compõe a teoria antropológica do didático.
Três termos primitivos são necessários para iniciar (outros irão se juntar no
que segue): os objetos O, as pessoas X, as instituições I. Os objetos,
apesar disso, ocupam aqui uma posição privilegiada; eles são o material e
base da construção teórica visada. Analogamente, no universo matemático
70
contemporâneo, fundamentado sobre a teoria dos conjuntos, tudo é
conjunto (os próprios números naturais são conjuntos); analogamente, no
universo que considero, tudo é objeto. As pessoas X e as instituições I,
assim como as outras entidades que serei conduzido a introduzir, são,
portanto, objetos de um tipo particular. Por esta razão, ficarei certo instante
sobre a noção genérica de objeto, que a teoria coloca assim no princípio de
seu desenvolvimento. Do ponto de vista da “semântica” da teoria, qualquer
coisa pode ser um objeto. Um objeto existe momento em que uma pessoa
X ou uma instituição I reconhece esse objeto como existente (para ela).
Mais precisamente, diremos que o objeto O existe para X
(respectivamente, para I) se existe um objeto, que indicarei R (X, O) (resp.
RI(O)), que denominarei relação pessoal de X a O (resp. relação institucional de I para O). Em outros termos, o objeto O existe se existe
pelo menos uma pessoa X ou uma instituição I, isto é, pelo menos uma
pessoa ou uma instituição tem uma relação com este objeto. [...]
Adicionarei aqui uma outra noção: a de conhecimento, conhecer um objeto O, no sentido da teoria apresentada (e não no sentido das diversas
instituições que ele deve nos permitir de estudar), é – para uma pessoa
como para uma instituição – ter uma relação com O. A pessoas X (ou a
instituição I) conhece O se existe R (X, O) (respectivamente, RI(O)).
Podemos, então, dizer que um objeto existe se ele é conhecido por pelo
menos uma pessoa ou uma instituição (ele poderá, apesar disso, existir
apenas – caso limite – para esta pessoa ou para esta instituição). Um
objeto só existe quando ele é objeto do conhecimento. O quadro conceitual
que acabo de esboçar é o que denominarei antropologia do conhecimento
ou antropologia cognitiva. (CHEVALLARD, 1992, p. 86-87, apud
ANDRADE, 2008, p. 33-34, grifos nossos).
Segundo os autores, nas instituições, um objeto é reconhecido por meio de tipos
de tarefas que, para serem executadas, necessitam de técnicas. Essas técnicas
precisam ser justificadas e controladas, dando origem às tecnologias ou ao discurso
sobre as técnicas. As tecnologias, por sua vez, precisam ser justificadas, gerando as
tecnologias das tecnologias denominadas teorias. Assim, uma técnica é
considerada, no sentido amplo, como uma “maneira particular de fazer”, e não
segundo a acepção comum de procedimento estruturado e metódico, mesmo
algorítmico – que é um caso particular da técnica (BOSCH; CHEVALLARD, 1999
apud COSTA, 2008, p. 14). Já para as tecnologias ou para o discurso tecnológico
das técnicas, Bosch e Chevallard propõem o seguinte significado: “um discurso
71
descritivo e justificativo das tarefas e técnicas que denominamos de tecnologia da
técnica.” (CHEVALLARD; BOSCH, 1999, apud COSTA, 2008, p. 17-18).
Portanto, deverá existir uma relação entre o objeto e a pessoa ou entre o objeto e
a instituição. Chevallard (1996) acrescenta outra noção, a de conhecimento.
Conhecer um objeto, no sentido da teoria apresentada, é estabelecer uma relação
da pessoa ou da instituição com esse objeto. Dessa forma, o objeto só existe porque
é objeto de conhecimento de uma pessoa ou de uma instituição.
O mesmo autor (1996) afirma que uma instituição pode ser uma escola, uma sala
de aula, um curso, uma família. A cada instituição está associado um conjunto de
objetos chamado de conjunto de objetos institucionais, que são aqueles
reconhecidos pela instituição, ou seja, para os quais existe uma relação institucional.
Para fins de análise das possíveis organizações praxeológicas, considera-se,
nesta pesquisa, a noção de ostensivo, isto é, os objetos de natureza sensível, como
os sons, os grafismos e os gestos; e os objetos não ostensivos, como as noções,
os conceitos e as idéias, que só podem ser evocados por meio da manipulação
adequada dos ostensivos que lhes são associados. A análise dos ostensivos e dos
não ostensivos auxilia a distinguir as diferentes relações institucionais de cada
indivíduo, ou seja, permite ao sujeito identificar conhecimentos prévios que podem
ser revisitados, o que, conforme Moreira (2005), torna-o mais rico, diferenciado e
elaborado, permite a ele adquirir estabilidade e o auxilia na construção de novos
saberes, de forma que estes adquiram significado. Uma nova relação institucional é
realizada por meio das organizações praxeológicas (tipos de tarefas, técnicas,
tecnologias e teorias) que a compõem. Estas, por sua vez, são desenvolvidas com o
auxílio de certos não ostensivos que só podem ser manipulados pela ativação dos
ostensivos que lhes permitem existir, sejam eles materiais ou não materiais, como é
possível identificar e compreender no texto abaixo [...] trabalhamos a matemática principalmente “com a cabeça”, com a ajuda de ferramentas como noções, raciocínios, idéias, intuições e muito pouco com elementos materiais. Com efeito, alguns instrumentos materiais utilizados (papel e lápis, quadro e giz, régua e compasso, calculadoras, computadores) são geralmente considerados como simples suportes, ajudas muitas vezes indispensáveis, mas que em nenhum caso fariam parte da própria atividade. Os outros objetos, se não materiais, pelo menos sensíveis, que o matemático utiliza (escritas, formalismos, grafismos, palavras, discursos, etc.), podem às vezes se beneficiar de algumas especificidades: se supõem que eles intervenham nas atividades apenas como sinais, ocupando o lugar de outros objetos que eles representariam. (BOSCH; CHEVALLARD, 1999, p. 89, apud COSTA, 2008, p. 23).
72
A teoria de Bosch e Chevallard (1999) considera não apenas os objetos sensíveis,
mas também os não sensíveis, que são as noções, os conceitos e as idéias, pois
estes ajudam a construir e a manipular os objetos matemáticos. Segundo Bosch e
Chevallard (1999), para construir matemática, é preciso efetuar o discurso das
figuras e dos símbolos, mas o que é importante é a atividade matemática
concretamente observável, que será a produtora de conceitos; a ausência destes
pode bloquear a evolução do pensamento matemático. Esses pesquisadores
colocam a questão da “natureza” dos objetos matemáticos e da sua real função nas
atividades matemáticas: consideram dois tipos de objetos, como descritos: os
objetos ostensivos e os objetos não ostensivos e expressam da seguinte forma a
noção de ostensivo:
[...] Falamos de objetos ostensivos – do latim “ostendere” mostrar,
apresentar com insistência” – para nos referir a todo objeto tendo uma
natureza sensível, uma certa materialidade, e que, por esta razão,
adquirem para o sujeito humano uma realidade perceptível. Assim,
acontece para qualquer objeto material e principalmente, para os objetos
materiais particulares como os sons (entre os quais as palavras da língua),
os grafismos (entre os quais os grafemas, permitindo as escrituras das
línguas naturais ou constitutivos das línguas formais) e os gestos. (BOSCH;
CHEVALLARD, 1999, p. 89, apud COSTA, 2008, p. 24, grifo do autor).
Para os objetos não ostensivos, Bosch e Chevallard (1999) propõem a seguinte
definição.
Os objetos não ostensivos são todos estes objetos que, como as idéias,
as intuições ou os conceitos, existem institucionalmente – no sentido em
que lhes atribuímos uma existência – sem que para tanto possam ser
vistos, ditos, entendidos, percebidos ou mostrados por eles mesmos: eles
podem apenas ser evocados ou invocados pela manipulação adequada de
certos objetos ostensivos que lhes são associados (uma palavra, uma
frase, um grafismo, uma escritura, um gesto ou um longo discurso).
(BOSCH; CHEVALLARD, 1999, p. 89, apud COSTA, 2008, p. 24).
Percebe-se a distinção entre os ostensivos e os não ostensivos, pelo seguinte
exemplo: quando o professor, em sala de aula, introduz oralmente a palavra “tabela”
(ostensivo oral), o estudante ativa certas expressões, grafismos particulares entre
outros, relacionados à palavra “tabela”. Ou seja, cada estudante poderá ter uma
73
forma de registro mental associada à palavra “tabela”, portanto a essa idéia, intuição
ou conceito chama-se “não ostensivo”, mas os não ostensivos e os ostensivos,
segundo Bosch e Chevallard, não podem ser entendidos como entidades mentais,
mas, sim, como objetos reconhecidos institucionalmente, pois ambos estão
envolvidos em uma dialética; ou seja, os não ostensivos são emergentes da
manipulação dos ostensivos, e essa manipulação só é possível por meio da ativação
dos não ostensivos, que o sustenta.
Para melhor exemplificar o que foi proposto por Bosch e Chevallard (1999),
apresenta-se o exemplo abaixo, extraído de um livro didático destinado ao Ensino
Médio:
Na Figura 20, são dispostas três matrizes do mesmo tipo, cujos respectivos
cálculos o estudante deve efetuar; ou seja, ele deve realizar a adição entre as
matrizes dadas. O Anexo XIX apresenta a solução.
Conforme demonstrado no Anexo XIX, segundo Bosch e Chevallard (1999),
escrever essas matrizes é um ostensivo de representação escrita, mas não se
chegaria ao resultado sem a intervenção de certos objetos não ostensivos
específicos, tais como a noção da operação adição e a de operação no conjunto dos
números inteiros, condição para adicionar duas ou mais matrizes. Observa-se,
segundo os mesmos autores (1999), que em toda atividade humana existe a
coativação de objetos ostensivos e de objetos não ostensivos, o que permite
considerar que ambos não sobrevivem isoladamente, pois os primeiros permitem a
manipulação dos não ostensivos que, por sua vez, são evocados de forma a reger
essa manipulação; e, inversamente, só é possível evocar os não ostensivos por
meio dos ostensivos que lhes são associados, o que, como demonstra Chevallard
(1994), permite considerar a existência de uma dialética entre ostensivos e não
ostensivos.
Dada as matrizes A= ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−
−10
42 , B= ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛− 06
24 e C= ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛− 25
03, calcule:
a) A+B b) A+C c) B+C d) A+B+C
Figura 20: Tarefa de adição entre matrizes. Fonte: Dante, 2005b, p. 244.
74
O exemplo abaixo, retirado de Chevallard (1994), que trata do nosso objeto
matemático de estudo, pode auxiliar a melhor compreender essa dialética existente
entre ostensivos e não ostensivos.
[...] o não ostensivo “produto de duas matrizes” não pode existir (sempre
em nível elementar) sem o ostensivo gestual, que consiste em colocar em
relação uma linha da primeira matriz e uma coluna da segunda
?3142
.3142
=⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡−⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡− Um dos ingredientes da técnica de multiplicação
(como sempre trabalhado em relação ao cálculo) é aqui um certo gesto,
sem o qual essa técnica não existiria [...] (CHEVALLARD, 1994, p. 5, grifos
do autor).
Para melhor detalhar as tarefas que serão analisadas nesta pesquisa — com
relação à manipulação dos ostensivos e dos não ostensivos —, associadas à noção
de matriz, apresentam-se, adiante, alguns exemplos.
- Não ostensivos: As noções de adição, subtração, multiplicação e divisão são
exemplos considerados como não ostensivos de determinada tarefa, assim como
também a resolução, utilizando métodos e condições de existência de uma
determinada atividade.
Para chegar à solução, ocorre a intervenção de certos objetos não ostensivos:
- noção da operação adição no conjunto dos números inteiros;
- condição para adicionar duas ou mais matrizes;
- tipo da matriz em jogo;
- noção de matriz oposta.
Resumindo, podemos assim entender objetos não ostensivos:
Dadas duas matrizes A=(aij)mxn e B=(bij)mxn, chama-se diferença A-B a matriz soma de A com a oposta de B.
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡−−−
=⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡−−−
−−+⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡−
=⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡−
−⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡− 2135
0791118741100
174118911
18741100
174118911
Figura 21: Tarefa exemplificando objeto não ostensivo. Fonte: Iezzi, 1985, p. 41.
75
Objetos não ostensivos são as idéias, as intuições ou os conceitos — que não podem ser vistos, ditos, entendidos, percebidos ou mostrados — sobre determinada noção, como segue:
- noção de operações aritméticas; - noção de operações entre matrizes; - noção de matriz; - noção de tipo e ordem de uma matriz; - noção de posição de um determinado elemento da matriz; - noção de matriz algébrica; - noção de matriz numérica; - noção de igualdade; - noção de igualdade entre matrizes; - noção de número índice; - noção de função; - noção do cálculo do valor numérico de uma função; - noção de números reais; - noção de intervalo numérico; - noção sobre resolução de equações; - noção de inversa de uma matriz;
Ao tratar determinado objeto, uma pessoa “A” pode ter uma noção diferente de
uma outra pessoa “B”. Os objetos que permitem que cada um visualize mentalmente
um tipo de noção são denominados por Bosch e Chevallard (1999) objetos não
ostensivos. Estes não estão dissociados dos objetos ostensivos, que também podem
ser distintos para as pessoas A e B, pois estão associados às relações institucionais
a que elas foram submetidas.
- Ostensivos: em relação às noções de matrizes, pode-se verificar que os registros
dos vários signos existentes na matemática e o seu esboço são representações de
objetos ostensivos, assim como o discurso oral e a ação gestual. O próximo
exemplo, seguido de sua solução, melhor exemplifica esta situação:
A solução dessa tarefa aciona vários objetos ostensivos:
Dadas: A= ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡654321
e B=⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜
⎝
⎛
987
, calcular A.B
32654321
x⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡.
13987
x⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜
⎝
⎛
= ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛=⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛++++
12250
9.68.57.49.38.27.1
12x
Figura 22: Tarefa de multiplicação. Fonte: Iezzi, 1985, p. 41.
76
- ostensivo oral, uma vez que, ao iniciar a resolução, o professor deve informar a
condição de existência, para a multiplicação entre duas matrizes;
- ostensivo gestual, pois o professor poderá efetuar movimentos com as mãos,
para levar o aluno a compreender a multiplicação entre linha e coluna. Além
disso, ao efetuar a multiplicação, é preciso um discurso para mostrar o gesto,
quando se multiplicam elementos de uma linha por uma coluna.
Os ostensivos acima podem estar presentes de forma explícita, na resolução das
tarefas, mas outros objetos também podem estar presentes, como:
- ostensivo da visualização matricial;
- ostensivo da construção;
- ostensivo da leitura;
- ostensivo da escrita, etc.
Resumindo, podemos assim entender objetos ostensivos: Objetos ostensivos apresentam uma natureza sensível, adquirindo uma realidade perceptível,
como: - os sons; - os grafismos: - a representação escrita na língua materna; - a representação escrita na notação matricial algébrica ou numérica; - a representação escrita por meio de uma propriedade matemática; - os gestos;
A noção não ostensiva dos objetos tem uma dialética com os ostensivos, uma vez
que não se pode trabalhar com determinado objeto não ostensivo sem os ostensivos
gestuais, escritos e orais que o acompanham, ou seja, um está diretamente
interligado com o outro. Exemplo: ao dizer ou escrever a palavra “matriz”, ela
representa um não ostensivo cujo ostensivo é a própria palavra que permite
considerá-lo.
Registram-se, a seguir, as considerações sobre o capítulo, colocando em
evidência a escolha dos referenciais.
2.4 Considerações finais sobre o capítulo.
O referencial teórico apresentado será mais bem explicitado no capítulo 5, por
meio dos tipos de tarefas encontradas para a introdução da noção de matriz suas
77
operações e propriedades no Ensino Médio. Para a análise dessas tarefas nesse
quinto capítulo, apresenta-se uma grade de análise em que as noções de quadro,
ostensivos e não ostensivos e os níveis de conhecimento esperados dos estudantes
permitem distinguir as técnicas, as tecnologias e as teorias que sustentam as tarefas
relacionadas à noção de matriz.
Os referenciais teóricos registrados neste capítulo foram escolhidos por serem os
que melhor sustentam as análises propostas nesta pesquisa, para a noção de
matriz, uma vez que, ao introduzir essa noção, o professor necessita desenvolver
vários quadros com suas respectivas mudanças, contribuindo para que o estudante
mobilize os saberes prévios, buscando novas alternativas para atingir um grau mais
elevado em seu conhecimento.
Para os referenciais definidos segundo os pesquisadores, colocam-se alguns
exemplos extraídos de vários livros didáticos e avaliações institucionais, ilustração
necessária para melhor explicitar o que é proposto, demonstrando a importância dos
referenciais adotados com relação ao objeto de estudo, “noção de matriz”.
No capítulo que segue, serão apresentadas, de forma sucinta, as análises sobre
as relações institucionais esperadas dos estudantes, desenvolvidas por meio dos
documentos oficiais que são analisados via noção de “topos” do professor e do
estudante introduzida por Chevallard e Grenier (1997) e que corresponde ao papel
que devem desempenhar esses dois atores em conjunto, no processo de ensino e
aprendizagem.
78
CAPÍTULO 3 ANÁLISE DAS RELAÇÕES INSTITUCIONAIS ESPERADAS – ENSINO
MÉDIO.
3.1 Considerações iniciais sobre o capítulo
Neste capítulo efetua-se a análise das relações institucionais esperadas dos
professores e estudantes do Ensino Médio, conforme definição de Bosch e
Chevallard (1999), via documentos oficiais. Primeiramente verificam-se quais as
novas expectativas institucionais propostas pelas Diretrizes Curriculares para o
Ensino Médio (1998). Para completar este estudo analisam-se os seguintes
documentos: Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL,
2000b, 2002), Orientações Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 2006) e Nova
Proposta Curricular do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2008). Esses
documentos complementam-se, pois foram construídos a partir das diretrizes
curriculares nacionais que normatizam os planejamentos curriculares das escolas e
dos sistemas de ensino.
É importante observar que as diretrizes curriculares do Ensino Médio foram
formuladas a partir da Lei 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional,
LDB) (BRASIL, 1996), que enfatiza a importância de uma educação escolar
vinculada ao trabalho e às praticas sociais.
Para melhor compreender o que se espera dos professores e dos estudantes do
Ensino Médio das escolas públicas, em relação aos conhecimentos matemáticos
desenvolvidos nessa etapa escolar que podem ser trabalhados como conhecimentos
prévios para a introdução de novos conhecimentos no Ensino Superior, escolhe-se
analisar quais conhecimentos sobre a noção de matrizes podem ser considerados
disponíveis quando se introduzem as primeiras noções de Álgebra Linear no Ensino
Superior — em particular, a noção de matrizes de uma transformação linear. Ou
seja, busca-se discutir que conhecimentos sobre as noções de matrizes trabalhadas
no Ensino Médio podem ser considerados ferramentas explícitas do trabalho
matemático em jogo em um curso de introdução à Álgebra Linear no Ensino
Superior.
79
Sendo assim, um dos objetivos da presente pesquisa é auxiliar os professores do
Ensino Superior a repensar os possíveis desenvolvimentos de tarefas que levem em
conta os conhecimentos que os estudantes são capazes de, pelo menos, mobilizar,
quando iniciam o Ensino Superior. Em outras palavras, é esperado que os
professores definam quais conhecimentos prévios podem ser utilizados para
introduzir novos saberes, pois, conforme Moreira (2005), que enfatiza a importância
da interação entre o conhecimento prévio e o novo conhecimento, essa é
característica importante para uma aprendizagem significativa. Segundo esse
pesquisador (2005), nessa interação “o novo conhecimento adquire significados para
o aprendiz e o conhecimento prévio fica mais rico, mais diferenciado, mais elaborado
em termos de significado, e adquire mais estabilidade”.
Como as mudanças que vêm sendo propostas desde 1996 com a Lei 9394/96
muitas vezes são desconhecidas dos professores de disciplinas específicas de
matemática do Ensino Superior e como essa sequência de documentos ainda não
foi apropriada por muitos professores do Ensino Médio, escolhe-se analisar os
documentos indicados acima, por serem novas propostas para o processo de ensino
e aprendizagem dos estudantes do Ensino Médio.
Além disso, esses documentos trazem orientações para explicitar as novas
práticas esperadas dos professores e as condutas dos estudantes do Ensino Médio
para as inúmeras instituições desse nível de ensino que funcionam no Brasil ou em
São Paulo, quando se trata da Nova Proposta Curricular.
Para auxiliar nessas análises, utiliza-se como ferramenta a noção de topos do
professor e do estudante, que corresponde ao conjunto de tarefas que o professor
ou o estudante deve realizar em uma determinada organização praxeológica (tipos
de tarefas, técnicas, tecnologias e teorias), ou seja, o lugar onde cada um
representa o papel que lhe é destinado; por exemplo, para resolver um exercício na
classe, existe um topos para o professor e um topos para o estudante.
Dessa forma, ao analisar as relações institucionais propostas nos documentos
oficiais, escolhe-se a noção de topos, pois ela pode auxiliar a refletir sobre as
seguintes questões:
80
a) A noção de matriz, suas operações e propriedades são propostas para serem trabalhadas com os estudantes do Ensino Médio?
b) Que nível de conhecimento é esperado dos estudantes para o trabalho com essas noções?
c) Qual a relação institucional esperada para o desenvolvimento dessas noções no Ensino Médio?
d) Os estudantes do Ensino Médio são realmente capazes de mobilizar os conhecimentos de matrizes, suas operações e propriedades? Isto é, que relações pessoais eles desenvolvem em função das relações institucionais esperadas e existentes?
e) É possível determinar um sistema de tarefas e práticas utilizadas no Ensino Médio que possam servir de ponto de apoio para o trabalho em Álgebra Linear no Ensino Superior — em particular, quando se trata do objeto matemático: noção de isomorfismo entre o espaço das transformações lineares e o espaço das matrizes?
Para responder essas questões, escolhe-se proceder da seguinte maneira para a
análise dos documentos aqui apresentados:
1) Apresenta-se o panorama geral do documento, ressaltando o que é esperado do trabalho a ser realizado pelo professor e pelo estudante, em função do topos do estudante e do professor, descrito nesse documento.
2) Considera-se ainda a proposta mais específica para o desenvolvimento da noção de matriz.
3) Observam-se os conhecimentos prévios esperados dos estudantes.
4) Finalmente, efetua-se um comentário a respeito do documento.
Para melhor adotar os procedimentos acima, observa-se que tanto o professor
como o estudante têm o seu papel no processo ensino-aprendizagem o que pode
ser analisado em termos de topos, do professor e do estudante.
A seguir, apresenta-se uma breve descrição sobre a noção de topos,
considerando o trabalho de Chevallard e Grenier (1997) e algumas observações
feitas por Perrin-Glorian e Robert (2008), em um curso sobre a Teoria Antropológica
do Didático.
3.2 A noção de topos do professor e do estudante de Chevallard e Grenier (1997).
A noção de topos introduzida por Chevallard e Grenier (1997) é adequada para a
análise de documentos oficiais que propõem novas formas de trabalho tanto para o
professor como para o estudante, pois ela é definida a partir do significado da
palavra latina topos, que significa lugar. Esses autores (1997) consideram que o
81
topos do professor e do estudante correspondem ao momento e ao lugar em que
cada um deles desempenha, com certa autonomia, seu papel no processo de ensino
e aprendizagem.
É importante destacar, ainda, que Perrin-Glorian e Robert (2008), em um curso de
master, identificam o papel do professor como responsável por desenvolver um tema
de estudo e organizar o trabalho dos estudantes, propondo tarefas que necessitam
de determinadas técnicas para serem resolvidas e de tecnologias e teorias que as
justifiquem. Esse trabalho, no Brasil, é auxiliado pelas orientações dos documentos
oficiais e pelos livros didáticos, o que para nós representa as relações institucionais
esperadas e existentes, respectivamente. Em contrapartida, fica a cargo do
estudante cooperar e interagir com o professor e com os outros estudantes e
desenvolver gradativamente seu papel no processo de ensino e aprendizagem de
forma autônoma, tornando-se responsável pelo próprio desenvolvimento, do qual o
professor deve ser considerado apenas orientador, mediador e auxiliar de seu
projeto de estudo.
Sendo assim, a noção de topos descrita acima foi escolhida para a análise das
relações institucionais esperadas por distinguir explicitamente qual o papel que
devem desempenhar professores e estudantes no processo de ensino e
aprendizagem.
Para melhor compreender as novas propostas para o Ensino Médio, faz-se a
seguir uma breve descrição dos documentos oficiais, que aqui são considerados
como relações institucionais esperadas.
3.3 Novo Ensino Médio
Na década de 1990 foi sancionada a terceira Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, número 9.394 de 20 de dezembro de 1996 (BRASIL, 1996), que
buscou alternativas para reestruturar o sistema educacional brasileiro e
regulamentou várias áreas da educação, como a formação de professores, a gestão
escolar e o currículo. Esse documento foi fruto de um debate ao longo de oito anos e
resultou na implantação da Educação Básica, que consiste no conjunto de Educação
Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, que compõe a Educação Básica, a
outra modalidade é denominada Educação Superior.
82
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996) é a mais
importante lei educacional brasileira e subsidia as demais reformulações no âmbito
educacional, como as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
(BRASIL, 1998a), sancionada em 1998; os Parâmetros Curriculares Nacionais –
Ensino Médio (PCNEM) (BRASIL, 2000a, 2002) de 1999 editado em 2000 e 2002;
as Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 2004, 2006),
primeiramente surgida em 2004 e editada em versão final em 2006; e a Nova
Proposta Curricular do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2008), implementada em
2008.
Em 1999, levando em consideração o que estava disposto nas Diretrizes
Curriculares para o Ensino Médio (1998), surgiu a versão final do PCNEM, editada
em 2000 (BRASIL, 2000a), uma proposta que tenta qualificar a formação do cidadão
brasileiro, voltando suas expectativas para o mundo do trabalho e para o
desenvolvimento de competências e habilidades, que, nessa proposta, assumem
uma importância central, pois as competências estavam vinculadas a um conjunto
de conteúdos articulados entre as várias disciplinas do currículo do Ensino Médio.
Em 2002, orientações complementares ao PCNEM de 1999, editado em 2000, foram
redigidas em novo documento: o PCNEM (BRASIL, 2002), intitulado PCN+, também
com foco no Ensino Médio. Ali é abordado o desenvolvimento de competências e
habilidades, com esquemas para o trabalho contextualizado em sala de aula,
apresentado em três grandes áreas.
Em 2004, iniciou-se a elaboração de um documento — Orientações Curriculares
Nacionais para os Ensinos Médios (OCNEM) — este visava substituir os PCNEM e o
PCN+ e tratava de alguns pontos não adequados da proposta de 1999. Trouxe
mudanças relacionadas à reorganização curricular, como a priorização da
diversidade cultural dentro da escola; ao enfoque da avaliação; e ao estimulo à
formação continuada de professores e gestores. Atualmente, este documento
encontra-se reeditado na versão 2006.
Para o Estado de São Paulo, com o objetivo de subsidiar a reorganização dos
currículos do Ensino Fundamental e Médio, surgiu, em fevereiro de 2008, a Nova
Proposta Curricular do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2008). No Ensino Médio,
essa proposta foi coordenada pela Professora Doutora Maria Inês Fini e elaborada
83
por pesquisadores da área de Educação que atuam no Estado, juntamente com
membros do governo paulista. O material desenvolvido apresentou volumes
específicos para cada disciplina e série, organizados em quatro bimestres.
Atualmente as atividades desenvolvidas na rede estadual de São Paulo, nas três
séries do Ensino Médio, são fundamentadas nesse material.
Assim, por ser a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional a base sobre a
qual se articulam as demais propostas para o ensino no País, disponibiliza-se, aqui,
uma breve descrição das características das Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Ensino Médio traçadas nesse documento.
3.4 Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio são normas obrigatórias
para o planejamento curricular das escolas e dos sistemas de ensino, fixadas pelo
Conselho Nacional de Educação por meio da Câmara de Educação Básica,
amparada através das Leis nº 9.131, de 25 de novembro de 1995, e nº 9.394, de 20
de dezembro de 1996; e pelo Parecer CEB / CNE nº 15, de 25 de junho de 1998,
instituído pela Resolução CEB nº 3 de 26 de junho de 1998.
Esse Parecer, que é fruto de várias vertentes — pois recolheu, para sua
elaboração, as mais variadas experiências entre os educadores —, apresenta
propostas de regulamentação da base curricular nacional e de organização do
Ensino Médio. Em seu texto, "diretriz" refere-se tanto às direções físicas quanto às
indicações para a ação. É “linha reguladora do traçado de um caminho ou de uma
estrada”, no primeiro caso; e, no segundo sentido, “conjunto de instruções ou
indicações para se tratar e levar a termo um plano, uma ação, um negócio, etc.”
(BRASIL, 1998, p 4).
Para consecução das Diretrizes Curriculares Nacionais, o Conselho Nacional de
Educação16 visou três objetivos principais:
16 Conselho Nacional de Educação: órgão colegiado integrante do Ministério da Educação tem a finalidade de colaborar na formulação da Política Nacional de Educação e exercer atribuições normativas, deliberativas e de assessoramento ao Ministério da Educação.
84
- Sistematizar os princípios e diretrizes gerais contidas na LDB.
- Explicitar os desdobramentos desses princípios no plano pedagógico e traduzi-los em diretrizes que contribuam para assegurar a formação básica comum nacional.
- Dispor sobre a organização curricular da formação básica nacional e suas relações com a parte diversificada, e a formação para o trabalho.
Com vistas a estes três objetivos, percebe-se que a Lei de Diretrizes e Bases de
1996 foi um momento histórico de grande importância, pois apontou caminhos para
a educação com vistas à formação geral. Assim o artigo 21 da LDB/96 retrata este
processo:
Artigo 21 – A educação escolar compõe-se de: I. Educação básica, formada pela educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio; II. Educação superior.
(BRASIL, 1996, p.8)
Estabeleceram-se, portanto, duas modalidades na Educação: a Básica
subdividida em outras três etapas e a Superior. Dessa forma, as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio preocupam-se em garantir padrões
mínimos para o estudante do Ensino Médio, que futuramente poderá frequentar o
Ensino Superior; ou seja, o estudante ao final do Ensino Médio, deve estar
preparado para o mundo do trabalho e para a continuidade dos estudos, na
modalidade Superior.
Assim determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, em
seu artigo 35:
Artigo 35 – O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidades:
I. a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos; II. a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; III. o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; IV. a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.
(BRASIL, 1996, p.13)
85
A legislação retrata as finalidades da Etapa final do Ensino Médio, mas também
se preocupa com os aspectos pedagógicos e metodológicos, sinalizando para
continuidade dos estudos, conforme podemos verificar no artigo 36 da LDB/96.
Artigo 36 – O currículo do ensino médio observará o disposto na Seção I deste Capítulo e as seguintes diretrizes:
I. Destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania; II. Adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos estudantes; III. Será incluída uma língua estrangeira moderna, como disciplina obrigatória, escolhida pela comunidade escolar, e uma segunda, em caráter optativo dentro das disponibilidades da instituição.
Parágrafo primeiro – Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal forma que ao final do ensino médio o educando demonstre:
I. Domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna; II. Conhecimento das formas contemporâneas de linguagem; III.Domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania.
(BRASIL, 1996, p.14)
A Lei garante o direito ao prosseguimento dos estudos, não de forma acumulativa,
mas na continuidade do desenvolvimento e da capacidade de aprender e
compreender o mundo físico, social e cultural.
Segundo o Parecer 15/98 e a Resolução CEB n. 3/98, o Ensino Médio deve ser
dividido em três áreas, que devem estar presentes na base nacional comum dos
currículos das escolas de Ensino Médio, cujas propostas pedagógicas deverão
estabelecer o que está descrito no quadro que segue:
- As proporções de cada área no conjunto do currículo. - Os conteúdos a serem incluídos em cada uma delas, tomando como referência as competências descritas. - Os conteúdos e competências a serem incluídos na parte diversificada, os quais poderão ser selecionados em uma ou mais áreas, reagrupados e organizados de acordo com critérios que satisfaçam as necessidades da clientela e da região.
Quadro 1: Base Nacional comum dos currículos do Ensino Médio Fonte: BRASIL, 1998a, p.62
Na descrição acima (Quadro 1), o documento retrata a importância das disciplinas
presentes no Ensino Médio, orientando quanto à proporção em cada área, levando
86
em consideração as competências e as necessidades de cada comunidade, sendo
preciso definir critérios que possam satisfazer os objetivos propostos nesse Parecer.
A segunda área do Ensino Médio corresponde a Ciências da Natureza,
Matemática e suas Tecnologias, objetivando a constituição de habilidades e
competências que estão descritas a seguir.
- Compreender as ciências como construções humanas, entendendo como elas se desenvolvem por acumulação, continuidade ou ruptura de paradigmas, relacionando o desenvolvimento científico com a transformação da sociedade. - Entender e aplicar métodos e procedimentos próprios das ciências naturais. - Identificar variáveis relevantes e selecionar os procedimentos necessários para produção, análise e interpretação de resultados de processos ou experimentos científicos e tecnológicos. - Apropriar-se dos conhecimentos da Física, da Química e da Biologia, e aplicar esses conhecimentos para explicar o funcionamento do mundo natural, planejar, executar e avaliar ações de intervenção na realidade natural. - Compreender o caráter aleatório e não determinístico dos fenômenos naturais e sociais e utilizar instrumentos adequados para medidas, determinação de amostras e cálculo de probabilidades. - Identificar, analisar e aplicar conhecimentos sobre valores de variáveis, representados em gráficos, diagramas ou expressões algébricas, realizando previsão de tendências, extrapolações e interpolações, e interpretações. - Analisar qualitativamente dados quantitativos, representados gráfica ou algebricamente, relacionados a contextos socioeconômicos, científicos ou cotidianos. - Identificar, representar e utilizar o conhecimento geométrico para o aperfeiçoamento da leitura, da compreensão e da ação sobre a realidade. - Entender a relação entre o desenvolvimento das ciências naturais e o desenvolvimento tecnológico e associar as diferentes tecnologias aos problemas que se propuseram e propõem solucionar. - Entender o impacto das tecnologias associadas às ciências naturais na sua vida pessoal, nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social. - Aplicar as tecnologias associadas às ciências naturais na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida. - Compreender conceitos, procedimentos e estratégias matemáticas e aplicá-las a situações diversas no contexto das ciências, da tecnologia e das atividades cotidianas.
Quadro 2: Objetivo das competências e habilidades Fonte: BRASIL, 1998b, p.63
Assim, as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, orientam quanto
à necessidade de repensar um currículo voltado ao cidadão, para prepará-lo para o
mundo do trabalho e para continuidade de seus estudos superiores. Tal objetivo teve
como resultado a elaboração de novas orientações para o Currículo Nacional e a
reelaboração de novos parâmetros que contribuíssem para uma significativa
mudança na vida dos estudantes.
Após esta breve discussão sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Ensino Médio, analisa-se, mais especificamente o que se espera do trabalho do
professor e do estudante via a noção de topos do professor e dos estudantes. Para
87
isso, escolheram-se os seguintes documentos: Parâmetros Curriculares Nacionais
do Ensino Médio (BRASIL, 2000b) e PCN + Ensino Médio (BRASIL, 2002), que
constituem novas orientações de trabalho propostas em âmbito nacional.
3.4.1 Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
Analisam-se os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
(PCNEM), na disciplina de Matemática. Sua primeira versão surgiu em 1999, tendo
sido editada em 2000 e reformulada posteriormente, resultando no documento
complementar chamado PCN+.editado em 2002. Tanto o PCNEM como o PCN+
correspondem às expectativas para o processo de ensino e aprendizagem, em
particular para o ensino de matemática. Esses documentos são retrabalhados nas
instituições, resultando em novos documentos, como planos de ensino, planos de
aula, projetos educacionais, entre outros.
3.4.1.1 Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (2000)
Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) são
divididos em quatro partes, das quais a Matemática corresponde à terceira, que traz
as expectativas para o desenvolvimento da área de Ciências da Natureza,
Matemática e suas Tecnologias. As orientações desenvolvidas para essa área são
articuladas com as outras duas partes, que se ocupam de outras duas áreas do
conhecimento. A primeira parte do documento é tomada pela introdução, que é
comum a todas as áreas.
Ali são apresentadas as orientações gerais, levando-se em conta as noções de
competências e habilidades, previstas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional de 1996. Com o objetivo de garantir a orientação para o ensino e
aprendizagem das disciplinas do Ensino Médio, o documento propõe a
argumentação e a contextualização como forma de relacionar o trabalho a ser
realizado nas disciplinas (ANEXOXX).
As descrições (ANEXO XX), são importantes para o desenvolvimento das
atividades do professor e do estudante para que se realize o processo de ensino e
88
aprendizagem, faz-se nestas uma rápida descrição das rubricas relacionadas às
disciplinas que devem ser trabalhadas de forma interdisciplinar no Ensino Médio.
Ainda conforme o mesmo documento (ANEXO XXI), os conhecimentos a serem
desenvolvidos nas disciplinas da área em que se insere a Matemática e as
possibilidades de articulação entre elas. Observa-se, ainda, que a Matemática,
nessa etapa escolar, tem um papel fundamental de ferramenta para a interpretação,
a compreensão e a organização dos dados das outras ciências, o que corresponde
aos desafios do mundo moderno.
Apesar de destacar o papel da Matemática no desenvolvimento da sociedade e
sua função de ferramenta para compreensão das outras ciências, observa-se que
fica a cargo dos professores a escolha dos conteúdos a serem desenvolvidos, que
devem estar relacionados com as outras disciplinas; e que é preciso levar em conta
as diferenças regionais, para evitar possíveis distorções.
Após as descrições (ANEXO XX e XXI), que oferecem uma breve apresentação
dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM), percebe-se
que os conteúdos a serem desenvolvidos na disciplina de Matemática têm seus
objetivos voltados para o desenvolvimento das capacidades de comunicação, de
resolver problemas, de tomar decisões, de fazer inferências, de criar, de aperfeiçoar
conhecimentos e valores, de trabalhar cooperativamente. Isso significa que o
professor deve mediar e incentivar os estudantes, propondo tarefas que permitam a
aplicação da Matemática na vida cotidiana e nas diversas atividades humanas, em
particular, aquelas voltadas para o desenvolvimento profissional, que fazem parte do
cotidiano de um determinado grupo de estudantes. Assim indicam os Parâmetros
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio:
A matemática no Ensino Médio tem um valor formativo e tem como objetivo
ajudar a estruturar o pensamento e o raciocínio dedutivo do indivíduo,
desempenhando também um papel instrumental, pois é uma ferramenta
que serve para a vida cotidiana e para muitas tarefas específicas em quase
todas as atividades humanas. (BRASIL, 2000b, p. 40).
Observa-se que o topos do professor está associado à necessidade de procurar
alternativas para executar seu trabalho de forma a favorecer o desenvolvimento do
estudante, mostrando a importância da Matemática como ferramenta que permite
89
estruturar o pensamento e o raciocínio, pois o jovem deverá usá-la para a vida
cotidiana e, consequentemente, aplicar os conceitos fundamentais nas diversas
atividades que desempenha, assim como no prosseguimento de seus estudos. Por
essas razões, a Matemática deve compor um conjunto de tarefas com técnicas e
estratégias que possam ser aplicadas, nas mais diversas áreas do conhecimento, de
forma responsável e autônoma. Para isso, os Parâmetros Curriculares Nacionais
para o Ensino Médio orientam:
[...] cabe à Matemática do Ensino Médio apresentar ao aluno o
conhecimento de novas informações e instrumentos necessários para que
seja possível a ele continuar aprendendo. Saber aprender é a condição
básica para prosseguir aperfeiçoando-se ao longo da vida. Sem dúvida,
cabe a todas as áreas do Ensino Médio auxiliar no desenvolvimento da
autonomia e da capacidade de pesquisa, para que cada aluno possa
confiar em seu próprio conhecimento. (BRASIL, 2000b, p. 41).
Os objetivos da disciplina de Matemática para o Ensino Médio apresentados no
documento (ANEXO XXII) conduz o professor a redimensionar alguns temas que
são tradicionalmente ensinados, tendo como critérios centrais a contextualização e a
interdisciplinaridade. Além disso, o documento (BRASIL, 2000b) aborda de forma
geral a importância de trabalhar com alguns temas, possibilitando que o estudante
desenvolva algumas competências com o objetivo de articular o conteúdo aprendido
com os possíveis temas desenvolvidos fora da disciplina. Observa-se que, embora o
documento oriente os professores sobre os temas a serem desenvolvidos, não
existe uma proposta de trabalho para os estudantes, o que também fica a cargo do
professor. Porém, o conjunto de atividades didáticas propostas pelo professor nem
sempre é bem recebido pelos estudantes. Parece necessário melhor explicitar o
papel dos estudantes, e essa explicitação deveria fazer parte do processo de ensino
e aprendizagem. Portanto, caberia, inclusive, uma discussão institucional com os
outros membros da equipe pedagógica, para não gerar insatisfações futuras.
O documento contém uma relação de competências e habilidades a serem
desenvolvidas em Matemática que podem auxiliar o professor no desenvolvimento
dos objetivos dessa disciplina, como descrito no Anexo XXIII.
Assim, pode-se considerar como parte do topos do professor: encontrar
situações que permitam que o estudante manipule os ostensivos materiais e não
90
materiais relacionados acima, justificando por meio dos não ostensivos associados o
trabalho matemático executado, ou seja, o professor deve introduzir as
representações adequadas aos tipos de tarefas e às técnicas por ele escolhidas,
que serão acompanhadas dos não ostensivos que as justificam. Dessa forma, a
utilização dos não ostensivos pode ser feita por meio de tecnologias associadas às
técnicas e às diferentes formas de representação dos objetos matemáticos. Nesse
caso, tanto professor como estudante devem ser capazes de exprimir com correção
e clareza o trabalho matemático efetuado não só na linguagem natural, mas também
por meio da linguagem matemática, utilizando os ostensivos e os não ostensivos
adequados, isto é, as representações que permitem a manipulação e a terminologia
adequada a essa manipulação, que certamente está associada às noções em jogo.
O documento apresenta (Anexo XXIV), mais especificamente, o que se espera do
trabalho do estudante diante de um problema de Matemática. Deixando claro qual o
papel a ser desempenhado pelos estudantes mediante um problema de Matemática:
cabe ao estudante organizar seus métodos de estudo, possibilitando maior
aproveitamento no processo, com o objetivo de adquirir as competências registradas
neste quadro.
Após expor o papel do estudante na resolução de problemas de Matemática, o
documento explicita orientações sobre o tipo de situações e problemas que devem
ser colocados para os estudantes (Anexo XXV), correspondendo, mais
particularmente, ao trabalho do professor, que deve dispor de meios que o auxiliem
a cumprir seu papel: propor situações que permitam a aplicação da Matemática em
contextos reais, nas outras ciências, na história da Matemática e novas formas de
tratamento das situações, que levem em conta as novas tecnologias da informação e
comunicação existentes no mercado. Todo esse trabalho fica a cargo do professor,
que precisa considerar também as diferenças entre os grupos de estudantes, para
escolher situações que interessem a eles e que sejam compatíveis com seus
conhecimentos prévios. Além disso, o professor precisa analisar se a escola dispõe
do material necessário para o trabalho a ser realizado.
Como os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL,
2000b) em Matemática não abordam conteúdos específicos, mas de forma geral
ressaltam a importância de alguns temas, é preciso que o professor amplie sua
91
atenção, para que consiga desenvolver os conteúdos necessários para cada série
do Ensino Médio e alcançar com os estudantes todos os objetivos esboçados acima,
a fim de que os jovens consigam obter sucesso nas disciplinas que utilizam esses
conteúdos e na vida pessoal e profissional.
Observa-se, ainda, que nos Parâmetros Curriculares para o Ensino Médio
(BRASIL, 2000b) não se encontra uma indicação direta sobre a abordagem da
noção de matriz, suas operações e propriedades: ao considerar o tema álgebra e
sua importância como ferramenta para a resolução de problemas de Matemática e
das outras ciências, deixa a cargo do professor as escolhas sobre que conteúdos de
álgebra desenvolver no Ensino Médio. Dessa forma, a introdução da noção de matriz
fica a critério dos professores.
Essa falta de orientação específica para os conteúdos parece ter criado a
necessidade da reedição dos Parâmetros Curriculares para o Ensino Médio
(BRASIL, 2000b) — os Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio +:
Ciências da Natureza e suas Tecnologias (BRASIL, 2002), que trazem uma nova
reformulação, desenvolvendo e instruindo sobre a caracterização da área de
conhecimento, além de fazer considerações e orientações sobre as competências
gerais para o aprendizado das Ciências da Natureza e da Matemática, o
desenvolvimento da Linguagem partilhada pelas ciências, o trabalho com os
instrumentos de investigação utilizados em comum pelas várias ciências e a
contextualização para o ensino das ciências.
Para as orientações mais específicas sobre os conteúdos matemáticos, estudam-
se, a seguir, as propostas institucionais apresentadas nos Parâmetros Curriculares
Nacionais: Ensino Médio +: Ciências da Natureza e suas Tecnologias (BRASIL,
2002).
3.4.1.2 Parâmetros Curriculares Nacionais + Ensino Médio: Orientações Educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais.
Para a disciplina de Matemática, este documento aborda novos temas, que são
tratados do ponto de vista da organização escolar para a disciplina e das estratégias
de ação, ultrapassando a descrição das competências esperadas para essa etapa
da escolaridade, aspecto já tratado no documento anterior.
92
O novo documento apresenta alguns exemplos que podem auxiliar o professor a
desenvolver o seu topos , considerando ainda a importância das três principais
competências que se espera desenvolver com os estudantes do Ensino Médio
(Anexo XXVI). Como já discutido em relação os PCNEM (BRASIL, 2000b), as
competências (Anexo XXVI) fazem parte do topos do professor e do estudante, e
cabe a ambos procurar meios de realizar seu trabalho para atingir o objetivo
proposto — o professor, sendo o orientador desse trabalho; e o estudante,
desenvolvendo-se com responsabilidade e autonomia na execução das tarefas
propostas pelo professor. Existe aqui, claramente, uma mudança na relação do
professor e do estudante com o saber a ser desenvolvido na escola, pois cada um
tem seu papel bem determinado.
Para auxiliar o professor, encontra-se nos PCN+ uma tabela que o orienta quanto
às habilidades e às competências que devem ser desenvolvidas na etapa final da
Educação Básica; e que coloca em evidência qual o papel a ser desempenhado por
professor e estudante, para atingir o objetivo proposto (Anexo XXVII). Neste
apresenta-se a descrição sobre a representação e a comunicação, o que significa,
portanto, que, após o desenvolvimento do objeto em estudo, o estudante deverá
reconhecer símbolos específicos da disciplina, com o intuito de efetuar e resolver
problemas presentes no cotidiano, assim como identificá-los, traduzi-los e interpretá-
los.
Nesse caso, é evidente, na orientação, a parte que corresponde ao topos do
professor e do estudante, pois cabe ao professor mediar ações que permitam o
desenvolvimento das competências e habilidades descritas; e, ao estudante, a
responsabilidade de progredir. Assim, devem ser propostas ações adequadas ao
processo de ensino e aprendizagem, devendo o estudante responsabilizar-se por
colocar em prática o que é proposto a ele, uma vez que, segundo orientações, deve
tornar-se protagonista de sua aprendizagem.
Outra ação que deve ser posta em prática pelo professor e mobilizada pelos
estudantes, para alcançar os objetivos nesta etapa de ensino, são as estratégias de
investigação e compreensão (Anexo XXVIII). Assim, observam-se quais as ações
que devem orientar o desenvolvimento das atividades em sala de aula; assim, o
topos do estudante fica em destaque, mas cabe ao professor desenvolver
93
procedimentos para enfrentamento de situações-problema, como também para as
atividades envolvendo medidas, quantificações, grandezas e escalas. Um trabalho
envolvendo a articulação entre os modelos explicativos e representativos será
importante para a mobilização de outros níveis, além do técnico, podendo efetuar
relações entre os conhecimentos disciplinares, interdisciplinares e inter-áreas.
O documento (Anexo XXIX), também orienta o professor a efetuar tarefas que
possibilitem ao estudante verificar que a Matemática faz parte da evolução humana
e que esta contribui diretamente para a ciência e a tecnologia; assim, são
trabalhados alguns temas que configuram a importância descrita, como ciência e
tecnologia na história, ciência e tecnologia na cultura contemporânea, ciência e
tecnologia na atualidade e ciência e tecnologia, ética e cidadania, cabendo ao
professor responsabilizar-se por tarefas que coloquem em evidência a importância
da Matemática. Ele deverá mediar a construção do conhecimento matemático,
oferecendo uma visão panorâmica e crítica, pois a Matemática encontra-se em
constante construção e faz parte da cultura humana. Nessas orientações ficam
explícitas as partes referentes à ciência e à tecnologia, que devem estar associadas
ao trabalho na disciplina de Matemática, pois o professor e o estudante devem
acompanhar o desenvolvimento científico. Este é mais um importante papel que
professor e estudantes devem desempenhar no processo de ensino e
aprendizagem.
Conforme relatado, verifica-se a questão das competências e habilidades que
devem ser mobilizadas entre os participantes do processo de ensino e
aprendizagem, destacadas pelo topos professor e estudante, pois ao professor
compete ser o agente mediador e ao estudante, o responsável pela sua evolução.
Além desses temas gerais, os Parâmetros Curriculares Nacionais + (BRASIL, 2002)
subdividem os conteúdos matemáticos em três grandes eixos, a saber:
1. Álgebra: números e funções
2. Geometria e medidas
3. Análise de dados
94
Do eixo Álgebra faz parte a noção de matriz, e o conteúdo — números e funções
— a ela relacionado deveria ser ali abordado, mas observa-se que esse conteúdo é
tratado de forma implícita, sem abordar de forma clara essa noção. Portanto, é
necessário verificar se o ensino e a aprendizagem da noção de matriz, suas
operações e propriedades devem ser trabalhados considerando a matriz como um
objeto matemático, de um quadro específico, ou se sua introdução é considerada
como ferramenta implícita e explícita para aplicar no desenvolvimento da noção de
sistemas de equações lineares, para a qual existe uma orientação mais específica
do trabalho a ser desenvolvido. Assim, é importante levar em conta e ampliar os
conhecimentos prévios dos estudantes, e auxiliar os alunos, propondo situações de
aplicação desses conhecimentos em outras ciências.
Sabe-se que a noção de matriz não é necessária para o desenvolvimento dos
sistemas lineares e que, historicamente, o estudo desses sistemas no quadro das
matrizes e determinantes retardou, como mostra Dorier (1993a), o avanço do quadro
dos sistemas lineares, ou seja, o estudo da noção de posto de um sistema de
equações lineares e a articulação de seu conjunto de solução com a noção de
espaço vetorial. No quadro das matrizes e determinantes, os sistemas lineares eram
apenas ferramentas explícitas para resolução de problemas da própria Matemática e
das outras ciências.
Com relação à álgebra, há ainda o estudo de equações polinomiais e de sistemas lineares. Esses dois conteúdos devem receber um tratamento que enfatize sua importância cultural, isto é, estender os conhecimentos que os alunos possuem sobre a resolução de equações de primeiro e segundo graus e sobre a resolução de sistemas de duas equações e duas incógnitas para sistemas lineares 3 por 3, aplicando esse estudo à resolução de problemas simples de outras áreas do conhecimento. Uma abordagem mais qualitativa e profunda deve ser feita dentro da parte flexível do currículo, como opção específica de cada escola. (BRASIL, 2002, p. 122).
Dessa forma, a noção de matriz parece ficar a cargo do professor, que poderá
escolher esse conceito para desenvolver a noção de sistemas de lineares, o que
pode conduzir a um número ainda maior de relações institucionais existentes para o
desenvolvimento da noção de sistemas de equações lineares, pois cada professor
poderá escolher a ferramenta mais adequada, em função do grupo de estudantes e
dos conhecimentos prévios destes.
95
Nesse caso, a resolução de sistemas por meio de matrizes requer a introdução da
noção de determinante de uma matriz e de como se propõe um estudo qualitativo de
sistemas 3x3, o que conduz a articulação entre o quadro dos sistemas lineares e o
quadro da geometria analítica, que possibilita uma melhor compreensão da
representação das equações no próprio domínio da matemática.
Esse trabalho torna-se muito mais difícil, quando se utiliza a noção de
determinante de uma matriz para a resolução de sistemas lineares, conforme
pesquisa de Dorier (1990), porém, segundo pesquisa de Dias (1998), o método de
escalonamento ou de eliminação de Gauss mostra-se mais eficiente para esse tipo
de abordagem.
Na seqüência, apresenta-se um esboço dos conteúdos que devem ser tratados
no Ensino Médio, por séries, conforme o documento.
Tabela 1: Conteúdo referente aos três eixos – PCN + 1ª SÉRIE 2ª SÉRIE 3ª SÉRIE
1. Noção de função: funções analíticas e não analíticas; análise gráfica; sequências numéricas; função exponencial ou logarítmica. 1. Trigonometria do triângulo retângulo.
1. Funções seno, cosseno e tangente. 1. Trigonometria do triângulo qualquer e da primeira volta.
1. Taxas de variação degrandeza.
2. Geometria plana: semelhança e congruência; representações de figuras.
2. Geometria espacial: poliedros, sólidos redondos; propriedades relativas à posição; inscrição e circunscrição de sólidos. 2. Métrica: área e volumes; estimativa.
2. Geometria analítica: representação no plano cartesiano e equações; intersecção e posições relativas de figuras.
3. Estatística: descrição de dados; representações gráficas.
3. Estatística: análise de dados.3. Contagem.
3. Probabilidade.
Fonte: BRASIL, 2002, p. 128A tabela 1 classifica os conteúdos com relação aos três eixos e às três séries do
Ensino Médio a serem trabalhados, porém não apresenta indicações específicas
sobre a noção de matriz. Isso pode acarretar o não desenvolvimento dessa noção,
uma vez que esse documento é uma proposta de trabalho para orientar o professor
do Ensino Médio.
Nesta pesquisa, o documento é considerado como uma relação institucional
esperada para o trabalho a ser executado no processo de ensino e aprendizagem,
96
pois, além das noções matemáticas a serem desenvolvidas nessa etapa escolar,
deixa claro o papel do professor e do estudante para alcançar os objetivos
esperados e orienta quanto à flexibilidade do horário: caso se tenha um número
reduzido de aulas, a proposta é trabalhar apenas com a idéia central da noção
abordada.
A tabela 1 também classifica os conteúdos com relação aos três eixos e as três
séries do Ensino Médio a serem trabalhados.
O documento também orienta quanto à flexibilidade do horário, caso se tenha um
número reduzido de aulas, a proposta é trabalhar apenas com a idéia central da
noção abordada.
Assim, o documento finaliza, enfatizando que é preciso encontrar novas formas
de ação, isto é, novas organizações didáticas que permitam articular conteúdos
entre si, conteúdos e competências para desenvolver de forma satisfatória o que é
ali proposto e para seguir sua orientação. Em relação a esse aspecto, não existem
indicações precisas para o trabalho do professor, ficando totalmente a seu cargo
encontrar novos meios para desenvolver seu trabalho com os estudantes, conforme
é possível observar aqui: “[...] a proposta é a de articular conteúdos e competências
e a forma de trabalho é determinante para que muitas das competências almejadas
possam se desenvolver.” (BRASIL, 2002, p.129).
A análise dos documentos acima, em termos do topos do professor e do
estudante, conduz às reflexões seguintes sobre as possibilidades de abordagem, no
Ensino Médio, da noção de matriz, de suas operações e propriedades.
3.4.2 Reflexões sobre a abordagem da noção de matriz no Ensino Médio.
A partir das análises acima, colocam-se as seguintes questões:
- Será possível desenvolver a noção de matriz, segundo a apresentação e a orientação dos documentos PCNEM e PCN +? - Não tendo sido abordada no documento, os professores serão capazes de perceber a importância da noção de matriz para estudos posteriores?
Quadro 3: Reflexão sobre os parâmetros e a noção de matriz. Fonte: BRASIL, 2002, p.113
97
Assim, de acordo com tais questões, importa lembrar que os Parâmetros
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio PCNEM (BRASIL, 2000b) e os PCN+
(BRASIL, 2002) são documentos que apresentam apenas propostas para o
desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem e para o trabalho esperado
do professor e do estudante do Ensino Médio, cabendo ao professor refletir sobre o
seu papel e sobre o ensino dos conteúdos matemáticos.
Contudo, na proposta nacional, pode-se supor que era prevista a necessidade de
outras instituições, como as secretarias de estado da educação, reunirem-se com
professores e outros membros dos órgãos associados ao desenvolvimento da
educação, para discutir e escolher os conteúdos a serem trabalhados, de forma a
auxiliar o professor a propor situações contextualizadas, como previsto nos PCNEM
(BRASIL, 2000b) e nos PCN+ (BRASIL, 2002).
Com relação ao topos do estudante, o professor deve deixar que este
desempenhe seu papel, do qual precisa estar consciente, pois, para que o processo
de ensino e aprendizagem se realize, é necessário um trabalho orquestrado entre os
estudantes e o professor, em que cada um conheça seu topos e desempenhe seu
papel de forma eficaz, sem que o professor precise sempre lembrar aos estudantes
qual é a parte que lhes cabe nessa tarefa; isto é, o estudante deve ser responsável e
ter autonomia para pesquisar e fazer novas propostas que permitam sua evolução
no contexto escolar e na vida cotidiana e profissional. Por isso, é importante que, na
prática diária de professores e estudantes, estejam presentes os questionamentos
em relação aos conteúdos desenvolvidos nas disciplinas..
Após as análises dos Parâmetros descritas acima, faz-se uma breve
apresentação das Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (2006),
que deixam ainda mais evidente qual o topos esperado do professor e do estudante
para o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem no Ensino Médio.
3.5 Orientações Curriculares para o Ensino Médio
Conforme as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 2006), esta
etapa deve preparar o estudante para o mundo do trabalho e o desenvolvimento da
98
cidadania, e a instituição escolar não deve mais desenvolver um ensino tradicional17,
mas trabalhar com um amplo conjunto de competências e habilidades, que deverão
ser desenvolvidas nas disciplinas que compõem o Ensino Médio. Os PCNEM
(BRASIL, 2000b) e os PCN+ (BRASIL, 2002) destacam que a Matemática deve
contribuir para que os estudantes possam desenvolver a representação, a
compreensão, a comunicação, a investigação e a contextualização sociocultural.
Com o propósito de contribuir para as discussões, de oferecer reorientação e
substituir os PCNEM (BRASIL, 2000b) e os PCN+ (BRASIL, 2002), as Orientações
Curriculares para o Ensino Médio, em 2004, trouxeram mudanças com relação ao
currículo, à avaliação e à formação.
Atualmente esse documento encontra-se reeditado, com data de 2006. As
Orientações Curriculares para o Ensino Médio tratam de três aspectos importantes,
que não foram considerados nos documentos anteriores, a saber: a escolha de
conteúdos e a forma de trabalhá-los; o projeto pedagógico; e a organização
curricular.
Este documento aborda a importância de considerar os diferentes propósitos da
formação matemática na Educação Básica, observando que, ao final do Ensino
Médio, espera-se que os estudantes saibam usar a Matemática para resolver
problemas do quotidiano, modelar fenômenos em outras áreas do conhecimento,
compreender a Matemática como uma ciência com suas especificidades, perceber
que a Matemática é um conhecimento social e historicamente construído e
reconhecer a importância da Matemática no desenvolvimento científico e
tecnológico.
Em relação ao topos do professor, o documento enfatiza que ele deve levar em
consideração, ao desenvolver o conteúdo, o valor formativo que este pode agregar
aos seus estudantes, ou seja, deve colocar o estudante em um processo de
aprendizagem que possa desenvolver o pensamento matemático e valorizar o
17 Ensino tradicional: o documento considera como ensino tradicional um ensino que privilegia o conteúdo, centrado na figura do professor, que é o único responsável por transmitir o conhecimento, enquanto o estudante se torna passivo, tendo como função apenas receber e assimilar o que foi transmitido. Neste tipo de ensino, a avaliação apenas mede as informações dadas pelo estudante, e basta que este memorize e reproduza o conteúdo por meio de exercícios.
99
raciocínio matemático. O conteúdo desenvolvido deve, pois, possibilitar a formulação
de questões, a verificação da existência de uma solução, o estabelecimento de
hipóteses e conclusões. O professor deve, ainda, propor problemas e situações que
conduzam os estudantes a apresentar outras situações, a generalizar, a identificar
regularidades, a criar modelos, a argumentar com fundamentação lógico-dedutiva.
Ou seja, cabe ao professor auxiliar o estudante a perceber que a Matemática é uma
ciência que pode contribuir para o avanço das ciências, de modo geral.
As Orientações Curriculares para o Ensino Médio propõem que o processo de
ensino e aprendizagem deva considerar o desenvolvimento das habilidades, levando
o estudante a “pensar matematicamente”. Portanto, conforme orienta esse
documento, é importante priorizar a qualidade do processo, e não a quantidade de
conteúdos a serem desenvolvidos com os estudantes. Contudo, a escolha deve ser
efetuada de forma cuidadosa e criteriosa, pois os estudantes devem ter
possibilidade de “fazer matemática”, por meio dos processos que auxiliem na
apropriação desse conhecimento.
Nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio, os conteúdos básicos de
Matemática estão organizados em quatro blocos:
• Números e operações
• Funções
• Geometria
• Análise de dados e probabilidade
Importa, porém, tratar os blocos acima de forma articulada e intencional,
consolidando temas e conteúdos já trabalhados em etapas anteriores.
O documento pontua ainda as habilidades que devem ser abordadas no decorrer
do processo. Assim, por exemplo, para o bloco Números e Operações, o enfatiza
que os estudantes devem operar com números inteiros e decimais finitos, com
frações, em especial com porcentagens; fazer cálculos mentais; e estimar ordem e
grandezas de números; usar calculadora e números em notação científica; resolver
problemas de proporcionalidade direta e inversa; interpretar gráficos, tabelas e
dados numéricos veiculados nas diferentes mídias; ler faturas de contas de consumo
de água, luz e telefone; interpretar informações dadas em artefatos tecnológicos
100
(termômetro, relógio, velocímetro). Portanto, espera-se que, ao final do Ensino
Médio, o estudante deva ser capaz de mobilizar habilidades com relação às análises
presentes na vida de um cidadão.
Assim as Orientações Curriculares apontam outras habilidades que deverão ser
desenvolvidas, com relação a Números e operações.
[...] é preciso proporcionar aos “estudantes” uma diversidade de problemas geradores da necessidade de ampliação dos campos numéricos e suas operações, dos números naturais para contar aos números reais para medir. Os números irracionais devem ser entendidos como uma necessidade matemática que resolve a relação de medidas entre dois segmentos incomensuráveis, sendo apropriado tomar o caso dos segmentos lado e diagonal de um quadrado como ponto de partida. Alguns números irracionais devem ser colocados em destaque: as raízes quadradas de números naturais que não são quadrados perfeitos e o número π, por exemplo. É pertinente, nesse nível de escolaridade, caracterizar os números racionais / irracionais por meio de suas expansões decimais e localizar alguns desses números na reta numérica. As propriedades relativas às operações com números reais devem ser trabalhadas de modo que permitam ao aluno a compreensão das estruturas dos algoritmos, prevenindo recorrentes erros na resolução de problemas que envolvam manipulações algébricas. (BRASIL, 2006, p. 71).
Nesse momento é importante que o professor retome alguns conteúdos
desenvolvidos no Ensino Fundamental, para melhor desencadear o processo em
jogo, uma vez que muitos conteúdos podem estar esquecidos ou não ter sido
devidamente apropriados pelos estudantes.
O Quadro 4 orienta quanto aos conteúdos que devem ser retomados pelo
professor e que, possivelmente, foram desenvolvidos no Ensino Fundamental.
Assim, o topos do professor fica em evidência, cabendo a ele organizar um rol de
conteúdos a serem revisitados e compor a forma como desenvolver esse trabalho.
- Desigualdades de números quando ambos os lados são multiplicados por um número
negativo. - Inequações que envolvam quocientes. - Regras de sinais para a multiplicação de números inteiros. - Definições de multiplicação e divisão de frações. - Algoritmo da multiplicação e divisão de números inteiros decimais.
Quadro 4: Noções que podem ser revisitadas. Fonte: BRASIL, 2006.
As Orientações Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 2006) propõem que
esses conceitos sejam adotados, mesmo que as operações e os algoritmos tenham
sido estudados em etapas anteriores, pois é importante retomar esses pontos,
aproveitando a maturidade dos estudantes para entender os aspectos delicados dos
101
argumentos que explicam essas operações e algoritmos. Também é importante
observar os conhecimentos prévios de cada grupo de estudantes, para propor um
trabalho consciente e que possa contribuir com a sua evolução intelectual.
As Orientações Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 2006) não abordam
especificamente nenhum conteúdo relacionado à noção de matriz, mas esta pode
ser desenvolvida com os estudantes no bloco Números e operações. Mas deve-se
priorizar a articulação com outros blocos, quando possível: a noção de matrizes
pode ser revisitada nos blocos Funções e Geometria, que podem utilizá-la como
ferramenta para solução e melhor interpretação de problemas e situações desses
blocos.
Na citação abaixo, observa-se a proposta de articulação dos conhecimentos
matemáticos desenvolvidos no Ensino Médio, feita por meio de exemplos
específicos que exigem ou não o trabalho com as representações matriciais de
sistemas lineares. Observa-se aqui uma orientação clara para abandonar o estudo
de sistemas lineares utilizando o quadro dos determinantes, o que leva a supor que
não seja necessário introduzir a noção de matrizes, suas operações e propriedades.
É desejável, também, que o professor de Matemática aborde com seus alunos o conceito de vetor, tanto do ponto de vista geométrico (coleção dos segmentos orientados de mesmo comprimento, direção e sentido) quanto algébrico (caracterizado pelas suas coordenadas). Em particular, é importante relacionar as operações executadas com as coordenadas (soma, multiplicação por escalar) com seu significado geométrico. A inclusão da noção de vetor nos temas abordados nas aulas de Matemática viria a corrigir a distorção causada pelo fato de que é um tópico matemático importante, mas que está presente no ensino médio somente nas aulas de Física. No estudo de sistemas de equações, além de trabalhar a técnica de resolução de sistemas, é recomendável colocar a álgebra sob o olhar da geometria. A resolução de um sistema 2 X 2 de duas equações e duas variáveis pode ser associada ao estudo da posição relativa de duas retas no plano. Com operações elementares simples, pode-se determinar a existência ou não de soluções desse sistema, o que significa geometricamente os casos de intersecção / coincidência de retas ou paralelismo de retas. A resolução de sistemas 2 X 3 ou 3 X 3 também deve ser feita via operações elementares (o processo de escalonamento), com discussão das diferentes situações (sistemas com uma única solução, com infinitas soluções e sem solução). Quanto à resolução de sistemas de equação 3 X 3, a regra de Cramer deve ser abandonada, pois é um procedimento custoso (no geral, apresentado sem demonstração, e, portanto de pouco significado para o aluno), que só permite resolver os sistemas quadrados com solução única. Dessa forma, fica também dispensado o estudo de determinantes. (BRASIL, 2006, p. 77-78)
102
O documento orienta o professor quanto ao ensino dos objetos matemáticos, mas
dá a ele autonomia para que escolha as técnicas mais adequadas que deseja utilizar
com seus estudantes. Faz apenas uma ressalva sobre a possibilidade de não
trabalhar a noção de determinante, o que pode levar a não considerar a noção de
matrizes, que também não é destacada nos documentos anteriores.
Dessa forma, tanto os Parâmetros Curriculares para o Ensino Médio (PCNEM) e
(PCN+), como as Orientações Curriculares para o Ensino Médio trazem importantes
orientações para o trabalho do professor em sala de aula, tendo em vista o
desenvolvimento das competências e das habilidades, colocando em destaque o
topos do professor quanto à escolha dos conteúdos e sua reflexão quanto ao
desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem.
Até 2008, os documentos que orientavam os professores do Estado de São Paulo
eram os PCNEM (BRASIL, 2000b), os PCN+ (BRASIL, 2002), as Orientações
Curriculares para o Ensino Médio (BRASIL, 2006) e a Proposta Curricular para o
ensino da Matemática: 2° grau do Estado de São Paulo que, em 2002, já estava na
3ª edição e que tem muitas características dos documentos nacionais, conforme
análises de Andrade (2006). Assim, o estado de São Paulo, em 2008, apresentou a
“Nova Proposta Curricular do Estado de São Paulo”, que tem por objetivo
desenvolver as habilidades e as competências propostas pela LDB/96, para essa
etapa final da Educação Básica, e auxiliar o professor por meio de uma orientação
mais precisa da proposta nacional.
3.6 Nova Proposta Curricular do Estado de São Paulo - 2008
A Nova Proposta Curricular para o Estado de São Paulo é uma iniciativa da
Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, que visa melhorar a qualidade do
processo de ensino e aprendizagem dos estudantes da Educação Básica. Ampla
pesquisa, envolvendo os professores, as escolas e as práticas ali existentes,
determinou a implementação dessa nova proposta para garantir uma base comum
de conhecimentos e competências.
Para isso, foi disponibilizado um rol de documentos cujo objetivo é orientar todos
os participantes do processo educativo sobre as expectativas da Secretaria de
103
Educação do Estado de São Paulo e de todos aqueles que participaram direta ou
indiretamente da elaboração desses documentos.
Inicialmente, a Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo
distribuiu um documento intitulado Proposta Curricular de São Paulo, além de outras
publicações como Orientações para a Gestão do Currículo na Escola, programas de
suporte pedagógico e o Caderno do aluno, dirigidos particularmente aos professores
e aos estudantes integrantes do sistema educativo, para que se colocasse em
prática o que ali está definido teoricamente. Nesse caso, observa-se que existem
nesses cadernos orientações mais específicas sobre o trabalho com determinados
conteúdos, com sugestões para o topos do professor e do estudante.
Na realidade, a Nova Proposta Curricular do Estado de São Paulo de 2008 não
descartou trabalhos anteriores e leva em conta experiências do documento de 1986
que já tinham apresentado resultados favoráveis, uma vez que eles foram
elaborados em um esforço pioneiro para aliar conteúdos escolares ao universo da
cultura.
O novo documento traz uma grade curricular que orienta os professores quanto
aos conteúdos a serem aplicados em sala de aula e as possíveis articulações entre
eles, sendo a noção de matriz proposta para ser desenvolvida no segundo bimestre
da segunda série, no volume dois do Caderno do aluno. Essas noções são
inicialmente articuladas nos quadros geométrico e matricial, seguidas de problemas
do cotidiano e de imagens que auxiliam a orientação aos professores e aos
estudantes sobre a necessidade do ensino e da aprendizagem dessa noção.
Para melhor compreender a Nova Proposta Curricular do Estado de São Paulo,
apresenta-se a seguir uma tabela que descreve os conteúdos do caderno de
Matemática do Ensino Médio.
104
Tabela 2: Conteúdos referente a nova proposta da SEE-SP 1ª SÉRIE 2ª SÉRIE 3ª SÉRIE
PRIM
EIR
O B
IMES
TRE
NÚMEROS E SEQUÊNCIAS
- Conjuntos numéricos - Regularidades
numéricas: - sequências - Progressões
aritméticas e progressões
geométricas
TRIGONOMETRIA - Fenômenos periódicos - Funções trigonométricas - Equações e inequações - Adição de arcos
GEOMETRIA ANALÍTICA - Pontos: distância, ponto médio e alinhamento de três pontos - Reta: equação e estudo dos coeficientes; problemas lineares - Ponto e reta: distância - Circunferência: equação - Reta e circunferência: posições relativas - Cônicas: noções e aplicações
SEG
UN
DO
BIM
ESTR
E
FUNÇÕES - Relação entre duas grandezas - Proporcionalidades: direta, inversa, direta
com o quadrado - Função de 1º grau - Função de 2º grau
MATRIZES, DETERMINANTES E SISTEMAS LINEARES.
- Matrizes: significado como tabelas, características e operações
- A noção de determinante de uma matriz quadrada
- Resolução e discussão de sistemas lineares: escalonamento
EQUAÇÕES ALGÉBRICAS E NÚMEROS COMPLEXOS
- Equações polinomiais - Números complexos: operações e representação geométrica - Propriedades das raízes
de uma equação polinomial - Relações de Girard
TER
CEI
RO
BIM
ESTR
E
FUNÇÕES EXPONENCIAL E LOGARÍTMICA
- Crescimento exponencial
- Função exponencial: equações e inequações - Logaritmos: definição e propriedades - Função logarítmica: equações e inequações
ANÁLISE COMBINATÓRIA E PROBABILIDADE
- Raciocínio combinatório: princípios multiplicativo e aditivo - Probabilidade simples - Casos de agrupamentos: arranjos, combinações e permutações - Probabilidade da reunião e/ou da intersecção de eventos - Probabilidade condicional - Distribuição binomial de probabilidades: o triângulo de Pascal e o Binômio de Newton
ESTUDO DAS FUNÇÕES - Qualidades das funções - Gráficos: funções trigonométricas, exponencial, logarítmica e polinomiais - Gráficos: análise de sinal, crescimento e taxa de variação - Composição: translações e reflexões - Inversão
QU
AR
TO B
IMES
TRE
GEOMETRIA- TRIGONOMETRIA
- Razões trigonométricas nos triângulos retângulos - Polígonos regulares: inscrição, circunscrição e pavimentação de superfícies - Resolução de
triângulos não retângulos: lei dos senos e lei dos cossenos
GEOMETRIA MÉTRICA ESPACIAL
- Elementos de geometria de posição - Poliedros, prismas e pirâmides - Cilindros, cones e esferas
ESTATÍSTICA - Gráficos estatísticos: cálculo e interpretação de índices estatísticos - Medidas de tendência central: média, mediana e moda - Medidas de dispersão: desvio médio e desvio padrão - Elementos de amostragem
Fonte: SÃO PAULO, 2008, p. 56-57.
105
Em relação à noção de matriz esboçada na Tabela 2 (objeto de estudo dessa
pesquisa), observa-se que nas propostas nacionais não existe uma orientação
específica a respeito de quando trabalhar essa noção e das possíveis articulações
com os outros conceitos que se supõe devam ser desenvolvidos no Ensino Médio.
A nova proposta do Estado de São Paulo articula o ensino da noção de matriz,
considerando-a conteúdo matemático a ser desenvolvido no Ensino Médio e para
isso orienta os professores sobre as noções associadas a esse conceito e sobre as
possíveis articulações com outros conceitos matemáticos, com situações
contextualizadas da vida cotidiana, assim como de outras ciências, como por
exemplo, a computação e informática, cujos cálculos são facilitados pela noção de
matriz, em particular, quando se considera a solução de sistemas de m variáveis e n
incógnitas.
Considera-se essencial o trabalho com a noção de matriz no Ensino Médio, pois é
um conceito importante para os estudantes que pretendem seguir seus estudos, em
particular, nos cursos da área de ciências exatas.
Apesar dos esforços de construção das diferentes propostas, que no estado de
São Paulo já vêm sendo introduzidas há vários anos, observa-se que, em geral,
existe uma forte tendência a desenvolver os conteúdos de Matemática centrados na
escolha de um livro didático. Este, a partir de 2004, vem sendo avaliado pelo
Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM), que prevê a
distribuição de livros didáticos para os estudantes do Ensino Médio de todo o país. A
análise e a avaliação desses livros são feitas com base nas propostas dos
Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM, PCN+), considerando
a possibilidade de o professor efetuar um trabalho articulado entre o Caderno do
aluno e o livro didático, para obter melhores resultados. Observando a grade da
nova proposta para a noção de matriz e todos os conteúdos dessa noção no
caderno do estudante do Ensino Médio, é possível distinguir nesse material a
necessidade do topos do professor para desencadear todos os tópicos necessários
para o ensino da noção de matriz, bem como para sua articulação com as outras
noções trabalhadas no Ensino Médio.
106
A seguir, fazem-se algumas considerações sobre as relações institucionais
esperadas dos professores e dos estudantes do Ensino Médio propostas nos
documentos analisados.
3.7 Considerações finais sobre o capítulo.
A noção de matriz não é abordada explicitamente nos Parâmetros Curriculares
Nacionais para o Ensino Médio; tampouco é orientado o trabalho em sua versão
complementar PCN+ (BRASIL, 2002), conforme se verifica na grade disponibilizada
nesta versão. O documento considera o professor como um importante agente
transformador do processo de ensino e aprendizagem, tendo o papel de
desenvolver, em conjunto com a Unidade Escolar a que pertence, o projeto
pedagógico desta, levando em conta a comunidade em que ela está inserida.
Cabe à instituição de ensino e aos professores “olhar” para os conteúdos que não
estão explícitos, mas que são importantes para a consecução das atividades
matemáticas e para o prosseguimento dos estudos. Assim, a análise aqui
apresentada mostra que, mesmo não sendo explicitamente orientado o trabalho com
a noção de matriz no Ensino Médio, é importante sua execução, em função de sua
aplicabilidade em várias ciências, em particular, como ferramenta para facilitar a
resolução de problemas que necessitam do estudo de sistemas lineares.
O topos do estudante para essa etapa define que ele deve responsabilizar-se
pelo seu aprendizado, pois a cada um cabe uma parte no processo de ensino e
aprendizagem, ou seja, o professor deve agir como mediador, desempenhando sua
funções com zelo, e o estudante deve responsabilizar-se por aprender e
protagonizar seu próprio futuro.
Para melhor efetuar as considerações sobre este capítulo, apresentam-se, de
forma sintetizada, três tabelas relacionadas aos conteúdos abordados pelas três
propostas institucionais aqui consideradas como as relações institucionais
esperadas para o processo de ensino e aprendizagem do Ensino Médio: PCN +
(BRASIL, 2002), OCNEM (BRASIL, 2006) e a NPCSP (SÃO PAULO, 2008). Essa
forma de expor os dados possibilitará verificar como a noção de matriz é tratada nos
respectivos documentos.
107
A primeira tabela, dividida em três eixos de conteúdos, corresponde ao PCN+
(BRASIL, 2002).
Tabela 3: Conteúdo – Relações Institucionais Esperadas – PCN + EIXO: ALGEBRA: Números e funções.
EIXO: GEOMETRIA E MEDIDAS EIXO: ANALISE DE DADOS
PCN (+
)
NOÇÃO DE FUNÇÃO: ‐ funções analíticas e não analíticas; ‐ análise gráfica; ‐ sequências numéricas; ‐ função exponencial e logarítmica; ‐trigonometria do triângulo
retângulo; funções seno, cosseno e tangente; trigonometria do triângulo qualquer
e da primeira volta; taxas de variação de grandeza
GEOMETRIA PLANA: ‐ semelhança e congruência; ‐ representação de figuras
GEOMETRIA ESPACIAL: ‐ poliedros, sólidos redondos; ‐ propriedades relativas à posição; ‐inscrição e circunscrição de sólidos
MÉTRICA: ‐ áreas e volumes; ‐ estimativa
GEOMETRIA ANALÍTICA: ‐representação no plano cartesiano e
equações; ‐ intersecção e posições relativas de
figuras
ESTATÍSTICA: ‐ descrição de dados; ‐ representação gráfica
ESTATÍSITICA: ‐ análise de dados; ‐ contagem
PROBABILIDADE.
Fonte: BRASIL, 2002.
O trabalho com a noção de matriz em sala de aula não é orientado; o mesmo
ocorre com os números complexos e com as equações polinomiais. Cabe, então, ao
professor ao articular conteúdos, incluir essas noções e, caso isso não seja possível,
fica exclusivamente a cargo dos estudantes o desenvolvimento desses conteúdos
matemáticos.
Além disso, as orientações curriculares não fornecem uma lista dos conteúdos a
serem abordados no Ensino Médio, mas no capítulo que trata das “questões de
conteúdo”, é efetuada uma descrição dos conteúdos que deveriam ser trabalhados
em sala de aula, dando prioridade à qualidade e ao desenvolvimento das
habilidades. Na tabela a seguir, encontram-se os conteúdos que estão sendo
comentados nesta descrição das Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino
Médio na disciplina de Matemática. (Tabela segundo esta pesquisa e conforme
descrição da OCNEM, 2006).
108
Tabela 4: Conteúdo – Relações Institucionais Esperadas – OCNEM NUMEROS E OPERAÇOES.
FUNÇÕES. GEOMETRIA. ANALISE DE DADOS E PROBABILIDADE.
‐ Conjuntos numéricos e operações;
‐ equações e inequações; ‐ números complexos e
operações;
‐Relações entre grandezas;
‐ função do 1º grau; ‐ função do 2º grau; ‐ função exponencial; ‐ função logarítmica; ‐ função trigonométrica; ‐ operações envolvendo as
funções descritas acima. ‐ progressão aritmética e
geométrica;
‐Geometria métrica plana; ‐ Trigonometria ‐ Geometria métrica
espacial; ‐ Geometria Analítica; ‐ resolução de sistemas de
equações lineares
‐ Análise combinatória; ‐ Probabilidade; ‐ Estatística.
Registro desta pesquisa.
Os tópicos registrados acima estão dispostos de forma geral, e o documento
orienta quanto ao trabalho articulado e contextualizado entre as disciplinas que
necessitam de determinadas ferramentas como também com aqueles aspectos
encontrados no cotidiano dos estudantes. Percebe-se que não é orientado o
trabalho com a noção de matriz, mas o documento enfatiza a questão da resolução
de sistemas de equações lineares e os seus métodos de soluções, o que permite
supor a utilização da noção de matriz para desenvolver um desses métodos, em
particular, quando se considera o contexto das novas tecnologias, para as quais
essa ferramenta é essencial no desenvolvimento de sistemas mxn.
Na tabela que segue, descrevem-se os conteúdos segundo a Nova Proposta
Curricular do Estado de São Paulo para o Ensino Médio, que se aproxima das
Orientações Curriculares, mas que apresenta novas orientações quanto ao trabalho
com algumas noções que não são descritas nas tabelas 3 e 4, conforme se pode
verificar abaixo. (Tabela segundo o NPCSP, 2008).
109
Tabela 5: Conteúdo – Relações Institucionais Esperadas – NPCSP NUMEROS E OPERAÇOES.
FUNÇÕES. GEOMETRIA. ANÁLISE DE DADOS E PROBABILIDADE.
PROPO
STA CURR
ICULAR DO
ESTAD
O DE SÃ
O PAU
LO
NUMEROS E SEQUÊNCIAS:
- Conjuntos numéricos; - regularidades numéricas:
sequências, progressões aritméticas e progressões geométricas. MATRIZES, DETERMINANTES SISTEMAS LINEARES
- matrizes: significado como tabelas, características e operações;
- a noção de determinantes de uma matriz quadrada;
- resolução e discussão de sistemas lineares: escalonamento EQUAÇÕES ALGÉBRICAS E NÚMEROS COMPLEXOS.
- equações polinomiais; - números complexos:
operações e representação geométrica;
- propriedade das raízes de uma equação polinomial;
- relação de Girard
FUNÇÕES:
- relação entre duas grandezas
proporcionalidade: direta, inversa, direta com o quadrado;
- função do 1º grau; - função do 2º grau
FUNÇÕES EXPONENCIAL E LOGARITMICA:
- crescimento exponencial; - função exponencial:
equações e inequações; - logaritmos: definição e
propriedades; - função logarítmica:
equações e inequações TRIGONOMETRIA:
- fenômenos periódicos; - funções trigonométricas; - equações e inequações; - adição de arcos
ESTUDO DAS FUNÇÕES: - qualidade das funções; - gráficos: funções
trigonométricas, exponencial, logarítmica e polinomiais;
- gráficos: análise de sinal, crescimento e taxa de variação;
- composição: transações e reflexões.
- iInversão
GEOMETRIA – TRIGONOMETRIA:
- razões trigonométricas nos triângulos retângulos;
- polígonos regulares: inscrição, circunscrição e pavimentação de superfícies;
- resolução de triângulos não retângulos: lei dos senos e lei dos co-senos GEOMETRIA MÉTRICA ESPACIAL:
- elementos de geometria de posição;
- poliedros, prismas e pirâmides;
- cilindros, cones e esferas GEOMETRIA ANALÍTICA:
- pontos: distância, ponto médio e alinhamento de três pontos;
- reta: equação e estudo dos coeficientes;
- ponto e reta: distância. - circunferência: equação; - reta e circunferência; - posições relativas; - cônicas: noções e
aplicações.
ANALISE COMBINATÓRIA E PROBABILIDADE:
- raciocínio combinatório: princípios multiplicativo e aditivo;
- probabilidade simples; - casos de agrupamentos:
arranjos, combinações e permutações;
- probabilidade da reunião e / ou da intersecção de eventos;
- probabilidade condicional; - distribuição binomial de
probabilidade: o triângulo de Pascal e o Binômio de Newton. ESTATÍSTICA:
- gráficos estatísticos: cálculo e interpretação de índices estatísticos.
- medidas de tendência central: média, mediana e moda;
- medidas de dispersão: desvio médio e desvio padrão;
- elementos de amostragem.
Fonte: SÃO PAULO, 2008.
A disposição, em quatro blocos, dos conteúdos da Tabela 5 está de acordo com
as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006) e conforme orientação da
NPCSP (2008), descrita abaixo.
[...], os conteúdos disciplinares de matemática, tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio, abrangem quatro grandes blocos temáticos. Além dos três ingredientes básicos já contemplados em propostas anteriores (números, geometria e medidas), um quarto componente, referente à representação de dados e ao tratamento da informação, abre espaço para a incorporação crítica das tecnologias no ensino. Cada um dos quatro blocos está presente, direta ou indiretamente, na lista dos conteúdos a serem ensinados em todas as séries, e com pequenas e matizadas diferenças, tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio. (SÃO PAULO, 2008, p. 45).
Assim, de acordo com a Tabela 5, pode-se fazer uma comparação com as duas
outras tabelas (3 e 4) e verificar que a noção de matriz não é um conteúdo orientado
de forma explícita nos PCN+ e nos OCNEM, mas a Nova Proposta Curricular do
Estado de São Paulo aborda esse conteúdo, desenvolvendo temas segundo um
trabalho interdisciplinar. Portanto, esta nova proposta orienta o trabalho com as
noções de matrizes, determinantes e sistemas lineares, como também o trabalho
envolvendo os números complexos e polinômios.
110
Conforme a análise das relações institucionais esperadas via documentos oficiais,
a Proposta Curricular de São Paulo (2008) é a que melhor articula a intenção de
trabalhar com a noção de matriz, pois, além de priorizar as Orientações Curriculares
Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 2006), efetua as devidas abordagens
quanto ao desenvolvimento de conteúdos anteriormente não verificados de forma
explícita, em especial a noção de matriz.
No capítulo que segue, analisam-se as relações institucionais esperadas para o
ensino e aprendizagem da disciplina de Álgebra Linear nos cursos de Bacharelado e
Licenciatura em Matemática, via Diretrizes Curriculares Nacionais para esses cursos
e planos de ensino de duas universidades públicas e duas universidades privadas.
111
CAPÍTULO 4 ANÁLISE DAS RELAÇÕES INSTITUCIONAIS ESPERADAS –
ENSINO SUPERIOR.
4.1 Considerações iniciais sobre o capítulo
Neste capítulo analisam-se as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos
de Matemática (2001), Bacharelado e Licenciatura, de acordo com o parecer do
Conselho Nacional de Educação e a Câmara de Educação Superior n. 1302,
aprovado em 06 de novembro de 2001, e também os Planos de Ensino de quatro
universidades que oferecem cursos de Matemática, em especial licenciaturas,
considerando as relações institucionais esperadas, conforme definição de relação
institucional de Bosch e Chevallard (1999).
Assim, verifica-se o que é oferecido aos estudantes no Ensino Superior e de quais
conhecimentos prévios eles necessitam, quando matriculados nas respectivas
disciplinas do curso de Matemática, em especial os de licenciatura. Propõe-se, aqui,
investigar quais articulações entre os conhecimentos trabalhados no Ensino Médio
são desenvolvidas e se a noção de matriz é revisitada nesta etapa escolar.
Sendo assim, escolhe-se inicialmente descrever as Diretrizes Curriculares
Nacionais para os Cursos de Matemática, por ser esse um documento que orienta
as universidades a construir seus projetos e respectivos planos de ensino, auxiliando
os professores na construção de planos que possam oferecer um aprendizado
significativo18 dos conteúdos voltado às várias disciplinas, entre elas Álgebra Linear.
Para sustentar as análises do ponto de vista do que é esperado para o ensino dessa
disciplina, analisam-se os planos de ensino de quatro universidades, utilizando-se a
noção de “topos” do professor e do estudante, conforme definição dada no terceiro
capítulo deste trabalho.
18 “Aprendizado significativo: o aprendiz não é um receptor passivo. Longe disso. Ele deve fazer uso dos significados que já internalizou, de maneira substantiva e não arbitrária, para poder captar os significados dos materiais educativos. Nesse processo, ao mesmo tempo que está progressivamente diferenciando sua estrutura cognitiva, está também fazendo a reconciliação integradora de modo a identificar semelhanças e diferenças e reorganizar seu conhecimento. Quer dizer, o aprendiz constrói seu conhecimento, produz seu conhecimento”. (MOREIRA, 2005. p. 5).
112
Para a análise da proposta desenvolvida na disciplina de Álgebra Linear, escolhe-
se proceder conforme registrado abaixo.
a) Identificar o momento em que a disciplina é oferecida; se os estudantes já seguiram um curso de geometria analítica; e qual o conteúdo desse curso.
b) Identificar em que momento do curso é revisitada a noção de matriz; ou se essa é considerada disponível e será trabalhada apenas como ferramenta quando se determina a matriz de uma transformação linear, isto é, observar se esse conteúdo faz parte do “topos” do professor ou se ele fica totalmente a cargo do estudante, que deveria ter autonomia para realizar esse trabalho, conforme orientações dos PCNEM e PCN+.
Assim utilizam-se as noções de “topos” do professor e do estudante, segundo
Chevallard e Grenier (1997), adequadas para as análises deste capítulo, e descreve-
se também o porquê da escolha de cada uma das quatro universidades
apresentadas nesta pesquisa.
A apresentação das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de
Matemática, documento que direciona os projetos da Instituições Superiores
relacionados a este curso, inicia este capítulo.
4.2 Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Matemática.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Matemática (DCNCM), Lei
n. 1302 (BRASIL, 2001), foram aprovadas em 06 de novembro de 2001 e têm como
função oferecer orientações para a qualificação de profissionais que irão atuar como
professores na Educação Básica.
No início do documento, encontra-se um breve histórico das aplicações da
Matemática; o perfil do profissional formado em tal área; e os objetivos da diretriz,
registrados no quadro a seguir.
- Servir como orientação para melhorias e transformações na formação do Bacharel e do Licenciado em Matemática. - Assegurar que os egressos dos cursos credenciados de Bacharelado e Licenciatura em Matemática tenham sido adequadamente preparados para uma carreira na qual a Matemática seja utilizada de modo essencial, assim como para um processo contínuo de aprendizagem.
Quadro 5: Objetivos da diretriz. Fonte: BRASIL, 2001, p. 01
Conforme descrito no Quadro 5, a diretriz oferece orientações quanto ao perfil dos
egressos e determina que o curso de Matemática permita diferentes formações para
113
seus graduandos, visando tanto profissionais que desejam a carreira acadêmica,
como aqueles que aspiram seguir no mercado de trabalho. Portanto, o programa de
Matemática deve levar em consideração, segundo esta diretriz, uma formação
flexível, contemplando as diversas áreas de aplicação.
O profissional egresso do curso de Licenciatura em Matemática, conforme
descrito no quadro abaixo, deve ter condições de efetuar seu papel, ou seja,
desenvolver as seguintes visões:
- Visão de seu papel social de educador e capacidade de se inserir em diversas realidades com sensibilidade para interpretar as ações dos educandos. - Visão da contribuição que a aprendizagem da matemática pode oferecer à formação dos indivíduos para o exercício de sua cidadania. - Visão de que o conhecimento matemático pode e deve ser acessível a todos, e consciência de seu papel na superação dos preconceitos, traduzidos pela angústia, inércia ou rejeição, que muitas vezes ainda estão presentes no ensino-aprendizagem da disciplina.
Quadro 6: Descrição do perfil profissional. Fonte: BRASIL, 2001, p. 03
O estudante (futuro professor) deve atuar como educador sensível para perceber
as várias ações desencadeadas pelo processo de ensino e aprendizagem e como
este pode contribuir para a formação de seus estudantes no exercício da cidadania.
O documento também aborda a questão das competências e habilidades que o
estudante deve adquirir no decorrer do curso, conforme descrito no quadro a seguir:
a) capacidade de expressar-se escrita e oralmente com clareza e precisão; b) capacidade de trabalhar em equipes multi-disciplinares; c) capacidade de compreender, criticar e utilizar novas idéias e tecnologias para a resolução de problemas; d) capacidade de aprendizagem continuada, sendo sua prática profissional também fonte de produção de conhecimento; e) habilidade de identificar, formular e resolver problemas na sua área de aplicação utilizando rigor lógico-científico na análise da situação-problema; f) estabelecer relações entre a Matemática e outras áreas do conhecimento; g) conhecimento de questões contemporâneas; h) educação abrangente necessária ao entendimento do impacto das soluções encontradas num contexto global e social; i) participar de programas de formação continuada; j) realizar estudos de pós-graduação; k) trabalhar na interface da Matemática com outros campos do saber.
Quadro 7: Competências e habilidades do estudante em matemática. Fonte: BRASIL, 2001, p.03
Verifica-se, conforme apresentado no Quadro 7, que a diretriz aponta uma série
de competências esperadas do estudante e futuro professor, com o propósito de
garantir a sua evolução, visando um ensino de Matemática que possibilite formular,
114
interpretar e resolver os problemas decorrentes do cotidiano, ou seja, o documento
destaca, de forma privilegiada, o topos do estudante como futuro professor.
Também as competências e habilidades próprias do educador matemático são
objeto deste documento, como revela o próximo quadro:
a) elaborar propostas de ensino-aprendizagem de matemática para a educação básica; b) analisar, selecionar e produzir materiais didáticos; c) analisar criticamente propostas curriculares de matemática para a educação básica; d) desenvolver estratégias de ensino que favoreçam a criatividade, a autonomia e a flexibilidade do pensamento matemático dos educandos, buscando trabalhar com mais ênfase nos conceitos do que nas técnicas, fórmulas e algoritmos. e) perceber a prática docente de Matemática como um processo dinâmico, carregado de incertezas e conflitos, um espaço de criação e reflexão, onde novos conhecimentos são gerados e modificados continuamente. f) contribuir para a realização de projetos coletivos dentro da escola básica.
Quadro 8: Competências e habilidades do educador matemático. Fonte: BRASIL, 2001, p. 04
Este Quadro 8 demonstra que as universidades devem oferecer aos seus
estudantes um currículo que os levem a refletir sobre o processo de ensino e
aprendizagem relacionado aos conteúdos de Matemática, para que possam
contribuir, como futuros professores, para o desenvolvimento de seus futuros alunos.
O documento também aborda a estrutura do curso de Matemática a ser oferecido
pelas instituições. Argumenta que, ao chegar na universidade, o estudante já
construiu para si uma imagem dos conceitos matemáticos a que foi exposto durante
o ensino básico; assim, nesse momento, a sua formação demanda aprofundamento
desses conceitos,o que exige que os conteúdos curriculares dos cursos de
Matemática sejam estruturados de modo a contemplar as duas orientações descritas
abaixo.
- Partir da representação que os alunos possuem dos conceitos matemáticos e dos processos escolares para organizar o desenvolvimento das abordagens durante o curso. - Construir uma visão global dos conteúdos de maneira teoricamente significativa para o aluno.
Quadro 9: Estrutura do curso de matemática. Fonte: BRASIL, 2001, p. 04
Como evidencia o Quadro 9, o documento oficial destaca os aspectos que o
curso deve priorizar para possibilitar ao futuro profissional, durante sua experiência
universitária, um rol de procedimentos e visões que o auxiliem a atuar de maneira
satisfatória como profissional da educação. Assim, as Instituições Superiores de
115
Ensino são orientadas a adotar um eixo de disciplinas distribuídas ao longo do
curso:
- Calculo Diferencial e Integral - Álgebra Linear - Fundamentos de Análise - Fundamentos de Álgebra - Fundamentos de Geometria - Geometria Analítica
Quadro 10: Eixo de disciplinas. Fonte: BRASIL, 2001, p. 06
A parte comum deve incluir, além das disciplinas apresentadas no Quadro 10,
conteúdos pertencentes à Educação Básica nas áreas de Álgebra, Geometria e
Análise, conteúdos afins à Matemática e conteúdos da Ciência da Educação, da
História e Filosofia das Ciências e da Matemática.
Percebe-se a importância de as instituições desenvolverem uma grade flexível,
que possa contribuir para as reais aprendizagens de seus estudantes e futuros
professores: os cursos de licenciatura deverão incluir um conjunto de disciplinas
voltadas para o currículo e para a formação, para desenvolvimento do estudante e
futuro profissional que possivelmente atuará no Ensino Fundamental e Médio.
Observadas as orientações das diretrizes curriculares para os cursos de
Matemática, segue a apresentação das análises dos planos de ensino das quatro
universidades investigadas.
4.3 Planos de Ensino – Análise das noções de matrizes no Ensino Superior.
As análises aqui apresentadas são retiradas dos planos de ensino de Álgebra
Linear e de outras disciplinas que abordam a noção de matriz de quatro
Universidades do Estado de São Paulo, sendo duas particulares — a Universidade
Presbiteriana Mackenzie e a Universidade Bandeirante do Brasil — e duas públicas:
a Universidade Federal de São Carlos e a Universidade de São Paulo.
Escolheu-se a Universidade Presbiteriana Mackenzie por ter sido a única
instituição privada de São Paulo que, no ano de 2008, obteve o conceito 5 no
ENADE (2008) para o curso de Matemática e também por ter sido a universidade
em que tive os primeiros contatos com a Matemática Superior, em especial os
conteúdos da disciplina de Álgebra Linear. A escolha da Universidade Bandeirante
116
do Brasil se deu porque este projeto, uma pesquisa documental, está
sendo desenvolvido nesta instituição e porque esta universidade está modificando e
modernizando seu currículo para o curso de Matemática. A Universidade Federal de
São Carlos foi escolhida por ser uma instituição federal que desenvolve modernos
programas para o seu curso de Matemática e a Universidade de São Paulo, em
razão de ser uma instituição pública de reconhecida qualidade em todo o país.
O primeiro plano de ensino investigado será o da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, obtido no sítio dessa instituição no ano de 2009. Inicialmente apresenta-
se um breve histórico do curso de Matemática da instituição e, na seqüência,
expõem-se as análises das relações institucionais esperadas para o
desenvolvimento do curso de Álgebra Linear.
4.3.1 Universidade Presbiteriana Mackenzie - MACK
Em meados de junho de 1946, o Conselho Deliberativo do Instituto Presbiteriano
Mackenzie resolveu, entre outras coisas, criar a Faculdade de Filosofia do
Mackenzie e oferecer, já em 1947, pelo menos os cursos de Matemática e Física,
Línguas Neolatinas, Letras Clássicas, História e Geografia.
Em 1947, a Faculdade começou a funcionar efetivamente com três dos Cursos:
Física, Matemática e Letras, que foram, durante anos, os únicos oferecidos pela
"Filosofia" do Mackenzie. O curso de Matemática, Licenciatura Plena e Bacharelado,
foi reconhecido pelo Decreto número 27515, publicado no Diário oficial da União em
04/12/1949.
Desde 1947, até a presente data, o curso de Matemática foi oferecido sem
interrupções, colocando no mercado de trabalho, durante todos esses anos,
profissionais formados com qualidade e seriedade. Atualmente, além da Licenciatura
em Matemática, a instituição oferece o Bacharelado em Matemática.
No ano de 2008, a Universidade Presbiteriana Mackenzie foi a única Universidade
Privada do Estado de São Paulo que obteve nota máxima para o curso de
Matemática no ENADE (2008). Para essa avaliação, segundo o ENADE (2008), a
Universidade contou com vinte e nove participantes, sendo dezenove ingressantes e
dez concluintes.
117
Atualmente, a Universidade Presbiteriana Mackenzie oferece o Curso de
Licenciatura em Matemática em seis semestres, de acordo com as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Curso de Matemática. A disciplina Álgebra Linear é
oferecida em apenas um semestre, na terceira etapa, que corresponde ao terceiro
semestre do curso, conforme a tabela abaixo.
Tabela 06: Extrato da grade curricular - MACK 3ª ETAPA
CODIGO NOME DA DISCIPLINA CHS 070.1307.8 ÓPTICA E ACÚSTICA 04 070.1376.0 FÍSICA EXPERIMENTAL III 02 070.1378.7 FÍSICA GERAL III 04 100.1307.5 ESTATÍSTICA I 04 100.1310.5 GEOMETRIA ANALÍTICA E VETORES III 02 100.1311.3 METODOLOGIA DO ENSINO DE MATEMÁTICA I 04 100.1380.6 CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL III 04 100.1389.1 ÁLGEBRA LINEAR 04 221.2301.6 PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM 02
CARGA HORÁRIA DA ETAPA 30 Fonte: MACK, 2010
Conforme revela a Tabela 06, nesta etapa, os estudantes já tinham passado por
um curso de Geometria Analítica e, como a Álgebra Linear é trabalhada no mesmo
semestre em que se desenvolve o curso de Geometria Analítica e Vetores III,
consideram-se como conhecimentos prévios os conteúdos desenvolvidos em
Geometria Analítica e Vetores I e II, conforme descrito abaixo.
Ementa:
- Vetores; - Dependência linear e bases; - Produto escalar; - Produto vetorial; - Sistema de coordenadas no espaço; - Estudo da reta;
Conteúdo Programático: • Vetores: Segmentos orientados, segmentos eqüipolentes, vetor, operações e
propriedades. • Dependência linear e bases: Combinação linear, vetores l. i. e l. d., dependência linear
(visão geométrico e definição), bases e coordenadas, mudança de base e bases ortonormais. • Produto escalar: Definição, propriedades, ângulo entre dois vetores, projeção ortogonal de
um vetor na direção de outro vetor e produto escalar em bases distintas. • Produto vetorial: Orientação de V3, definição, propriedade, interpretação geométrica,
bases ortonormais positivas e negativas. • Sistema de coordenadas no espaço: Estudo da reta: equações vetoriais, paramétricas e
simétricas. Posição relativa entre retas. Distância de ponto a ponto e ponto a reta. Quadro 11: Ementa da disciplina de Geometria Analítica e Vetores I. Fonte: MACK, 2010.
118
Conforme descrito no Quadro 11, não existe nenhuma retomada da noção de
matriz, o que supõe que os professores desta disciplina considerem que seus
estudantes já tenham conhecimentos prévios suficientes sobre esse conteúdo
matemático, ou seja, conhecimentos disponíveis para a execução das tarefas
envolvidas nesse conteúdo.
Na bibliografia básica e complementar para esta disciplina, utilizam-se os
seguintes livros didáticos que nesta pesquisa são considerados como as relações
institucionais existentes, pois é por meio deles que identificamos as tarefas e as
técnicas que se supõe sejam desenvolvidas no curso de Álgebra Linear da
Universidade Presbiteriana Mackenzie:
Básica:
Vetores e uma iniciação à Geometria Analítica. MELLO, D. A. WATANABE, G. R., 2005. Complementar:
Geometria Analítica: um tratamento vetorial. BOULOS, P. CAMARGO, I., 2005. Quadro 12: Bibliografia básica e complementar de GAV I. Fonte: MACK, 2010.
Conforme o Quadro 12 são indicadas duas obras, cabendo ao professor e aos
estudantes atuarem juntos: é importante que o professor proponha tarefas que
mobilizem os conhecimentos e que os estudantes e futuros professores se
responsabilizem pelo aprendizado.
A leitura da sinopse dos livros descritos (Anexo XXX), revela que as obras não
efetuam uma revisita à noção de matriz, cabendo aos professores desta disciplina,
em um momento oportuno, retomar tal noção ou indicá-la aos seus estudantes, uma
vez que estes deverão ser responsáveis pelo próprio aprendizado, em particular
quando se trata dos conhecimentos prévios supostamente disponíveis para os
estudantes que atingiram essa etapa escolar.
Na segunda etapa do curso, é oferecida aos estudantes, entre outras, a disciplina
de Geometria Analítica e Vetores II, que desenvolve as seguintes noções:
119
Ementa: - Retas: equações, posições relativas, perpendicularismo, ortogonalidade, distâncias, ângulos; - Planos: equações, posições relativas, distância, ângulos; - Intersecção de retas e planos. Conteúdo Programático: - Introdução. Sistemas de coordenadas no espaço. Relação entre coordenadas de vetores e de pontos. Aplicação do ponto médio de um segmento; - Estudo da reta. Equação vetorial. Equações paramétricas de uma reta. Equações de uma reta na forma simétrica. - O plano. Equações no plano: vetorial, paramétrica e geral. Vetor normal ao plano. Feixe de planos. - Distância entre dois pontos. Distância ponto a reta. Distância ponto a plano. Distância entre retas paralelas. Distancia entre retas reversas. Distância entre planos. Quadro 13: Ementa da disciplina de Geometria Analítica e Vetores II. Fonte: MACK, 2010
Analisando a ementa e o conteúdo programático descrito no Quadro 13,
correspondente à disciplina de Geometria Analítica e Vetores II, verifica-se o
oferecimento e a continuidade dos estudos já iniciados na disciplina anterior
(Geometria Analítica e Vetores I), tendo os dois módulos descritos como objetivo,
segundo a instituição, familiarizar o estudante com os conceitos fundamentais da
Geometria Analítica e Vetores, dando-lhe o ferramental necessário para aplicação
em diversas áreas e estudando a geometria por meio de associações entre
equações e entes geométricos.
Nesta segunda etapa do curso, os professores utilizam as obras apresentadas no
quadro que segue:
Básica:
Vetores e uma iniciação à Geometria Analítica. MELLO, D. A. WATANABE, G. R., 2005. Geometria Analítica: um tratamento vetorial. BOULOS, P. CAMARGO, I., 2005. Vetores e Geometria Analítica. WINTERLE, P., 2000.
Complementar: Álgebra Linear. LIMA, E. L., 1996. Calculo com geometria analítica. SIMMONS, G. F., 2005. Lectures on Linear Algebra. GELFAND, I. M., 1961.
Quadro 14: Bibliografia básica e complementar de GAV II. Fonte: MACK, 2010
Os livros indicados no Quadro 14 (bibliografia básica), trabalhados na segunda
etapa do curso de Matemática na disciplina de Geometria Analítica e Vetores II,
levam-nos a supor que os estudantes já dominem as noções básicas — inclusive a
de matriz —, desenvolvidas no Ensino Médio, pois essas obras não fazem nenhuma
revisita a essas noções.
120
Observando-se a sinopse do livro Vetores e Geometria Analítica, (Anexo XXX), e
a obra de Winterle (2000) (Anexo XXXI), pode-se compreender como é executado o
processo de ensino nesta disciplina. Caso os estudantes nesta etapa não tenham
familiaridade com os conceitos matemáticos supostamente dominados, em especial
a noção de matriz, para efetuar as tarefas propostas que necessitem destas noções,
cabe ao professor desencadear um conjunto de atividades em que os estudantes,
pelos menos, mobilizem essas noções. Assim, o topos do professor fica em
destaque, pois será preciso um olhar mais atento para os conteúdos que deverão
ser articulados nesta etapa de ensino. Pode-se também considerar as
responsabilidades do estudante, que correspondem ao seu topos, uma vez que são
indicadas obras complementares para estudo e apropriação das noções necessárias
à execução das tarefas que serão propostas durante seu percurso no Ensino
Superior.
A grade curricular apresentada pela instituição permite verificar o esboço das
disciplinas que são disponibilizadas no curso de licenciatura em Matemática.
Quando se considera a noção de matriz, observa-se que as disciplinas pesquisadas
acima não efetuam uma revisita explícita a ela, mas a disciplina de Cálculo
Numérico, que se encontra na segunda etapa do curso, desenvolve essa noção,
como segue descrito no quadro abaixo.
Ementa:
- Matrizes; - Sistemas Lineares; - Zeros da função; - Interpolação Polinomial; - Regressão; - Anamorfose gráfica; - Séries; - Integração numérica.
Conteúdo Programático: 1. Matrizes: Definição, notação, operações, propriedades e aplicações práticas; 2. Sistemas Lineares: Definição, notação, algoritmo de Gauss e aplicações práticas; 3. [...]
Quadro 15: Ementa da disciplina de Calculo Numérico. Fonte: MACK, 2010
Percebe-se que neste momento, na segunda etapa do curso de Matemática
(segundo semestre), é oferecida uma revisita à noção de matriz e à noção de
sistema de equação linear, pois a disciplina de Cálculo Numérico utiliza estes dois
objetos matemáticos, muitas vezes, como ferramenta explícita para solução das
121
tarefas a serem propostas e desenvolvidas. As noções apresentadas nesta disciplina
também são utilizadas em Pesquisa Operacional e nas disciplinas de Geometria
Analítica e Vetores e Álgebra Linear.
Na terceira etapa do curso, as disciplinas de Geometria Analítica e Vetores III e
Álgebra Linear são desenvolvidas simultaneamente. Para a disciplina de Geometria
Analítica e Vetores III, é apresentada a seguinte ementa, com o seguinte conteúdo
programático.
Ementa:
- Estudo das cônicas: equações de elipses, hipérboles, parábola, deduções destas funções, análises de gráficos e formas, esféricas, plano tangente, plano secante e quádricas reduzidas;
Conteúdo Programático: - Equações de elipse, excentricidade, equação geral da elipse, elementos de cálculo; - Equações da hipérbole, excentricidade, equação geral da hipérbole; - Parábola, teoremas e deduções, equações reduzidas, elementos, vértice, deduções destas funções; - Cones, classificações do cone, secções do cone; - Tronco de cone, análises de gráficos e formas; - Coordenadas esféricas, esferas, volume e área de esferas; - Plano tangente, plano secante e quádricas reduzidas.
Quadro 16: Ementa da disciplina de Geometria Analítica e Vetores III. Fonte: MACK, 2010
Conforme revela o Quadro 16, a disciplina de Geometria Analítica e Vetores III,
oferecida na 3ª etapa do curso (terceiro semestre), não retoma, como as demais, a
noção de matriz. Apenas dá continuidade ao trabalho das etapas anteriores das
disciplinas de Geometria Analítica e Vetores.
Na bibliografia não houve grandes mudanças, pois pode-se considerar que a
relação institucional existente é encontrada na obra didática de Boulos (2008),
considerada como bibliografia básica.
Básica:
- Geometria Analítica: um tratamento vetorial. BOULOS, P. CAMARGO, I., 2008. Complementar:
- Geometria Analítica. REIS, G. L.; SILVA, V. V., 2002. - Geometria Analítica do plano e do espaço. VALLADARES, R. J. C., 1990. - Vetores e Geometria Analítica. WINTERLE, P., 2000.
Quadro 17: Bibliografia básica e complementar de GAV III. Fonte: MACK, 2010
A disciplina Geometria Analítica e Vetores III, além da bibliografia básica,
apresenta três obras didáticas complementares. Portanto, caso o estudante encontre
alguma dificuldade, poderá retomar essas obras para apropriar-se dos conteúdos
122
necessários. Assim, o topos do estudante é destacado pela presença da bibliografia
complementar, que tem como objetivo auxiliar e suprir possíveis lacunas.
Após esta análise das disciplinas que antecedem Álgebra Linear, é possível
identificar, na grade curricular do curso para essa disciplina, que ela tem carga
horária de 60 horas semestrais e 4 horas-aula semanais. Seu objetivo é desenvolver
os conteúdos apresentados na rubrica conteúdo programático, em que a noção de
matriz será trabalhada como ferramenta explícita para a representação de uma
transformação linear, isto é, como um novo ostensivo de manipulação das
transformações lineares, como descrito no quadro que segue.
Ementa:
- Espaços vetoriais; - Base e dimensão; - Transformações Lineares; - Matriz de uma transformação linear; - Auto Valores, auto vetores.
Conteúdo Programático: - Espaços vetoriais: Definição e propriedades; subespaços; combinações lineares; subespaços finitamente gerados; - Dependência Linear; base; dimensão; coordenadas; mudança de base; - Transformações lineares: Definição e propriedades; núcleo e imagem; isomorfismo e automorfismo; operações. - Matriz de uma transformação; matrizes semelhantes.
Quadro 18: Ementa da disciplina de Álgebra Linear. Fonte: MACK, 2010
Nesse mesmo plano de ensino, é possível supor como será trabalhada essa
disciplina em função da bibliografia básica proposta para o curso. Como se trata da
obra de Callioli et al. (1990), pode-se supor que a noção de matriz será revisitada
pelos estudantes, pois esse livro traz um capítulo inicial de introdução a essa noção
e sua relação com a Álgebra Linear. No quadro a seguir, encontram-se as obras
adotadas pelo curso de Licenciatura em Matemática da Instituição (Álgebra Linear).
Básica:
- Álgebra linear e aplicações. CALLIOLI, C. A.; DOMINGUES, H. H.; COSTA, C. F. R., 1990.
Complementar: - Álgebra Linear. STEINBRUCH, A.; WINTERLE, P., 1987. - Álgebra Linear. LIPSCHUTZ, S., 1994.
Quadro 19: Bibliografia básica e complementar de Álgebra Linear. Fonte: MACK, 2010
Conforme se observa no Quadro 19, a bibliografia básica adota uma abordagem
clássica da Álgebra Linear centrada no desenvolvimento axiomático das noções a
123
ela associadas, como revela o diagrama de capítulos apresentados na obra, que
propõe uma retomada das noções de sistemas lineares e matrizes. Logo após, são
desenvolvidas as noções clássicas de Álgebra Linear, sendo introduzida de forma
axiomática a noção de espaço vetorial, seguida das noções de subespaços vetoriais
e das noções de base e dimensão para espaços vetoriais de dimensão finita. Estas
noções são essenciais para a introdução e o desenvolvimento do conceito de
transformação linear e matriz de uma transformação linear.
O diagrama de capítulos (Anexo XXXII), fornecido pela obra de Callioli (1983),
permite uma ampla visão de como pode ser conduzido um curso que utiliza tal obra
para o seu desenvolvimento. Assim, é possível observar como poderá ser conduzida
a aula da disciplina de Álgebra Linear, já que a obra Callioli faz parte da bibliografia
básica.
Pode-se supor, em função da obra indicada como bibliografia básica, que o
professor vá revisitar ou indicar que os estudantes façam uma revisão das noções
de matrizes e sistemas lineares, enfatizando sua importância como ferramentas
matemáticas para desenvolver os conteúdos apresentados no diagrama. Conforme
descrito, o conteúdo sobre matrizes de transformações lineares é desenvolvido na
obra; portanto, necessita-se da noção de matriz, para desencadeamento das
atividades e dos exercícios propostos para serem trabalhados por professores e
estudantes. Assim, é necessário observar atentamente os procedimentos a serem
adotados para que estudantes e professores alcancem os objetivos para o ensino e
aprendizagem das tarefas e das técnicas consideradas nessa disciplina.
Após essa apresentação detalhada do curso da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, considera-se a grade da Universidade Bandeirante do Brasil para o ano
de 2009, que está em vias de modificação, para o curso de Licenciatura de
Matemática.
Escolhe-se analisar a grade de 2009 por já ter sido aplicada e ter possibilitado
que os estudantes revisitassem a noção de matriz ou que trabalhassem pela
primeira vez com esse conhecimento, caso não tivessem tido a oportunidade de
desenvolver esse conteúdo no Ensino Médio.
124
4.3.2 Universidade Bandeirante de São Paulo - UNIBAN
A UNIBAN teve origem com a fundação do Colégio Bueno Aires (atual colégio
Padre Antônio Vieira), logo após um de seus mantenedores ter iniciado sua
participação na Academia Paulista Anchieta, atual mantenedora da UNIBAN. Na
década de 1970, foi criado o colégio Anchieta, que se tornou, logo após, o atual
colégio Salete. Após a aquisição de alguns colégios e faculdades, em 1988, criou-se
o Centro de Ensino Unificado Bandeirantes e, em 1994, nasceu a UNIBAN de São
Paulo, expandindo seus campi para diversas regiões da Grande São Paulo,
atualmente também em outros estados brasileiros, denominada UNIBAN Brasil.
A Universidade Bandeirante Brasil, por meio da Portaria MEC nº 48 de 17 de
janeiro de 1994, oferece o curso de Licenciatura em Matemática na maioria dos seus
campi e atualmente trabalha para modernização de seus currículos, em especial os
do curso de Licenciatura em Matemática.
A disciplina de Álgebra Linear é oferecida aos estudantes no segundo ano do
curso de Matemática, em dois semestres, com carga horária semanal de duas horas.
Seu plano de ensino está reproduzido abaixo e, por meio dele, pode-se observar
que existe espaço para revisitar o quadro das matrizes com suas operações e
propriedades; está prevista, ainda, a articulação desse quadro com o quadro dos
sistemas lineares, o que supõe também um trabalho com os espaços IR2, IR3 e IRn,
antes de generalizar as propriedades desses espaços para outros espaços de
dimensão finita por meio da noção de isomorfismo de espaços vetoriais.
Na seqüência, registra-se, no quadro abaixo, a ementa da disciplina de Álgebra
Linear oferecida no curso de Licenciatura em Matemática pela UNIBAN.
Ementa: - Revisão de conceitos elementares de matrizes; - Álgebra dos espaços vetoriais: conceito, operações e transformações em espaços multi-dimensionais. Conteúdo Programático: - Noção de matriz, matrizes especiais; - Igualdade e adição de matrizes; produto de um número real por uma matriz; - Produto de matrizes; - Propriedade do produto de matrizes; - Matriz inversa; - Determinante ≤ 3: definição; calculo; regra de sarrus; - Menor complementar e cofator de um elemento; - Teorema de Laplace;
125
- Propriedade dos determinantes; - Abaixamento de ordem de um determinante – Regra de Chio; - Calculo da matriz inversa por meio de um determinante; - Sistemas de equações lineares: equação linear, solução de equação linear, sistema linear, classificação de um sistema linear; - Matrizes associadas a um sistema linear por escalonamento; - Regra de Cramer; - Discussão de um sistema linear; - Tratamento Geométrico – Espaço vetorial: conceituação dos espaços (R1, R2, R3), conceito de vetor, representação, operações com vetores; - Tratamento algébrico – distância entre dois pontos, vetor definido por dois pontos, igualdade de vetores, operações com vetores, versor; - Componente de um vetor; norma (módulo) de um vetor; - Aritmética vetorial; - Produto escalar: conceito, propriedades. - Ângulos entre vetores, projeção ortogonal de um vetor sobre o outro; - Produto vetorial: conceituação, propriedades; - Aplicações geométricas do produto vetorial: área do triângulo e do paralelogramo; - Produto misto: conceituação, propriedades, aplicações geométricas do produto vetorial: volume do paralelepípedo; - Espaço e subespaço vetorial; - Combinação Linear; - Dependência e Independência linear; - Bases e dimensões; - Transformações (aplicações); Transformações Lineares; - Matriz de uma transformação linear; - Transformações e suas matrizes: homotetia, translação, rotação; - Transformação e suas matrizes: simetria ou reflexão; alongamento, cisalhamento;
Quadro 20: Ementa da disciplina de Álgebra Linear. Fonte: UNIBAN, 2009
O Quadro 20, referente ao conteúdo programático, é detalhado e permite a
análise mais apurada do trabalho a ser realizado, quando se considera a noção de
matriz como já indicado acima. Verifica-se que o estudo desta disciplina se inicia
com várias noções do Ensino Médio, em especial a noção de matriz. Após a revisão
dos conteúdos desta modalidade, o professor começa a desenvolver noções de
Álgebra Linear, como verificado no mesmo quadro.
Para desenvolver as noções acima apresentadas, o curso de Licenciatura em
Matemática utiliza os livros didáticos do Quadro 21, que aqui são considerados como
as relações institucionais existentes.
126
Básica:
Álgebra linear e aplicações. CALLIOLI, C. A.; DOMINGUES, H. H.; COSTA, C. F. R., 2005. Álgebra Linear com aplicações. ANTON, H., 2006. Introdução à Álgebra Linear. STEIMBRUCH, A.; WINTLE, P., 1997
Complementar: Introdução à História da Matemática. EVES, H., 2004. Geometria Analítica, um tratamento vetorial. BOULOS, P., 2000. Vetores e geometria analítica. WINTERERLE, P., 2006. Fundamentos de Matemática elementar, 4: seqüências, matrizes, determinantes, sistemas. IEZZI, G., 2005. História da Matemática. BOYER, C. B., 2006.
Quadro 21: Bibliografia básica e complementar de Álgebra Linear. Fonte: MACK, 2009
Na bibliografia básica encontram-se os livros de Callioli (2005), cujo diagrama já
foi apresentado (Anexo XXXII). Conforme já relatado, trata-se de uma obra clássica
para a disciplina de Álgebra Linear, que apresenta as noções de espaço vetorial por
meio de um tratamento axiomático. A obra de Steimbruch (1997) e a de Anton
(2006) também fazem parte da bibliografia (Anexo XXXIII). O livro de Anton (2006)
corresponde a um novo tratamento da Álgebra Linear: considera a articulação das
novas noções que lhe são associadas com aquelas já trabalhadas no Ensino Médio,
ou seja, a noção de matriz, suas operações e propriedades e as relações dessa
noção com os conhecimentos de Geometria Euclidiana. Articula esses
conhecimentos com a noção de sistemas lineares, antes de introduzir a Álgebra
Linear “mais abstrata”. Já a obra de Steimbruch (1997) é bastante próxima da
abordagem proposta na obra de Callioli, mas não efetua uma revisita à noção de
matriz, suas operações e propriedades, iniciando o trabalho por espaço vetorial, ou
seja, os autores consideram que os estudantes disponham de conhecimentos
prévios relacionados à noção de matriz.
Na bibliografia complementar, verifica-se uma obra destinada ao Ensino Médio, o
que coloca o topos do estudante em evidência, uma vez que, provavelmente, o
professor não trabalhe de forma explícita com esta obra, mas fica a cargo do
estudante verificar quais conhecimentos ainda não foram por ele apropriados, para
dedicar-se com responsabilidade ao estudo e à aprendizagem das noções
desenvolvidas nesta obra. Também se observa a presença de livros que tratam a
história da matemática, ou seja, existe uma articulação entre a teoria da Álgebra
Linear e o seu surgimento no campo da Matemática.
127
O tratamento da Álgebra Linear no curso de Matemática da Universidade
Bandeirante aproxima-se da abordagem pela Universidade Mackenzie, mas com um
tratamento diferenciado, uma vez que efetua uma revisão explícita da noção de
matriz em sua disciplina de Álgebra Linear, utilizando a obra de Anton (2006); e o
Mackenzie trata os quadros das matrizes, dos sistemas lineares e a Geometria
Euclidiana, nas disciplinas de Geometria Analítica e Vetores, além da noção de
matriz, que é trabalhada explicitamente na disciplina de Cálculo Numérico.
Apresenta-se, neste momento, a grade curricular da Universidade Federal de São
Carlos, verificando quais conteúdos são abordados na disciplina de Álgebra Linear,
no curso de Matemática dessa Universidade.
4.3.3 Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR
A UFSCAR foi criada em 1º de dezembro 1968 e, em março de 1970, começou a
receber seus primeiros 96 alunos para os cursos de Licenciatura em ciências
(extinto) e Engenharia de Materiais. O primeiro curso de Matemática da UFSCar foi o
Curso de Licenciatura em Ciências - Habilitação em Matemática, iniciado em março
de 1975. No final de 1977, foi criado o Curso de Bacharelado em Matemática.
Em 1986, foi criado o curso de Licenciatura Plena em Matemática, de graduação
plena, reconhecido pelo Decreto Federal nº 1.160, de 4 de julho de 1991 e, em 1998,
o Conselho de Coordenação do Curso de Matemática iniciou a construção de um
novo currículo, motivado pelo Exame Nacional de Cursos de Graduação,
modernizando a estrutura curricular do curso de Matemática que, atualmente, segue
os padrões determinados pelo Projeto Pedagógico de 2004.
Analisa-se, a seguir, o Projeto Pedagógico de 2004, no que se refere às
disciplinas que trabalham com a noção de matriz, em especial Álgebra Linear, que
pertence ao grupo de conhecimentos matemáticos desenvolvidos no 3º período do
Curso.
Tabela 07: Extrato da grade curricular - UFSCAR 3ª ETAPA
CÓDIGO NOME DA DISCIPLINA CHS ÁLGEBRA LINEAR A 4 GEOMETRIA EUCLIDIANA 4 CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL B 4
128
INSTRUMENTOS PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA B 4 PSICOLOGIA: DESENVOLVIMENTO 4 TOTAL 20
Fonte: UFSCAR, 2005
A disciplina que antecede Álgebra Linear e revisita a noção de matriz é a Vetores
e Geometria Analítica, oferecida no 1º período do curso. No quadro abaixo, é
possível identificar os conteúdos disponibilizados na disciplina de Vetores e
Geometria Analítica.
Ementa: - Obter conhecimentos básicos relacionados ao calculo vetorial; - Obter conhecimentos básicos relacionados a geometria analítica, plana e espacial. Conteúdo Programático: - Noções sobre matrizes e Sistemas Lineares; - Vetores; - Produto: escalar, vetorial e misto. - Retas e planos; - Cônicas; - Quádricas.
Quadro 22: Ementa da disciplina de Vetores e Geometria Analítica. Fonte: UFSCAR, 2005
A noção de matriz é revistada na disciplina de Vetores e Geometria Analítica, o
que possivelmente poderá contribuir para a introdução de outras noções que são
trabalhadas em Geometria Analítica e na disciplina de Álgebra Linear, propostas
para o 3º período do curso.
Para Vetores e Geometria Analítica, que antecede a disciplina de Álgebra Linear,
os professores indicam as obras que estão descritas no quadro que segue.
Básica:
Geometria Analítica - Um Tratamento Vetorial. BOULOS, P.; CAMARGO, I., 1987. Matrizes, Vetores e Geometria Analítica. CAROLI, A.; CALLIOLI, C. A.; FEITOSA, M.O., 1978. Álgebra Linear com aplicações. ANTON, H., 2006. Vetores e Geometria Analítica. WINTERLE, P., 2000.
Quadro 23: Bibliografia básica e complementar de VGA. Fonte: UFSCAR, 2005
A disciplina de Vetores e Geometria adota, além da obra de Boulos (1987) e de
Winterle (2000), já descritas anteriormente, a obra Matrizes, vetores e Geometria Analítica, de Caroli (1978), desenvolvendo trabalhos sobre a noção de matriz,
possibilitando que o estudante se aproprie de conhecimentos necessários tanto para
a disciplina em jogo, como para futuras disciplinas, em especial Álgebra Linear
(Anexo XXXIV).
129
Os conteúdos da obra didática descrita (Anexo XXXIV), oferecem uma idéia de
como são desenvolvidos os conteúdos na disciplina de Vetores e Geometria
Analítica: além do tratamento vetorial e analítico, a disciplina inicialmente efetua uma
revisita à noção de matriz, ou seja, no decorrer do curso, o estudante vai se
apropriando dos conteúdos necessários ao desenvolvimento das tarefas, tanto em
Vetores e Geometria Analítica, como também para futuras disciplinas, como, por
exemplo, a disciplina de Álgebra Linear, que é trabalhada na etapa subsequente.
O quadro abaixo expõe a relação dos conteúdos trabalhados na disciplina de
Álgebra Linear.
Ementa: - Reconhecer as estruturas da Álgebra Linear; - Estabelecer conexões entre as propriedades dos vetores e as estruturas algébricas. Conteúdo Programático: - Métodos de eliminação de Gauss para sistemas Lineares; - Espaços Vetoriais; - Bases; - Somas diretas; - Introdução à Programação Linear; - Transformações Lineares; - Matrizes de Transformações lineares; - Núcleo e imagem; - Auto-valores e auto-vetores; - Diagonalização; - Espaços com produto interno; - Bases Ortogonais; - Projeções Ortogonais; - Movimentos rígidos;
Quadro 24: Ementa da disciplina de Álgebra Linear A. Fonte: UFSCAR, 2005
Verifica-se que a noção de matriz é revisitada na disciplina de Vetores e
Geometria Analítica, mas não aparece na ementa de Álgebra Linear. Acredita-se
que, nesse momento, os professores considerem que os estudantes já dominem tal
noção, mas, a bibliografia inclui obras que oferecem uma revisita às noções de
matrizes e sistemas lineares, como é o caso dos livros de Callioli e Boldrini, descritos
abaixo.
Básica: Álgebra Linear. BOLDRINI, J. L.; COSTA, S. I. R.; FIGUEIREDO, V. L.; WETZLER, H. G., 1980. Álgebra linear e aplicações. CALLIOLI, C. A.; DOMINGUES, H. H.; COSTA, C. F. R., 1990. Um curso de Álgebra Linear. COELHO, F. U.; LURENÇO, M. L., 2005. Complementar:
130
Álgebra linear. LIMA, E. L., 1995. Introdução à Álgebra Linear. STEIBRUCH, A.; WINTERLE, P., 1997.
Quadro 25: Bibliografia básica e complementar de Álgebra Linear A. Fonte: UFSCAR, 2005
O curso utiliza o livro de Callioli como bibliografia básica, como já apontado, uma
obra clássica para o ensino da disciplina de Álgebra Linear. Também são indicadas
mais duas obras, Boldrini (1980) e Coelho (2005), ambas fazendo parte da
bibliografia básica.
Verifica-se (Anexo XXXV), que os autores iniciam a obra revisitando a noção de
matriz; na seqüência, abordam as noções de sistemas lineares, desenvolvendo suas
respectivas aplicações e utilizando, além dos quadros matriciais e dos sistemas
lineares, outros quadros que requerem estas noções básicas.
A bibliografia complementar permite destacar a responsabilidade do estudante,
uma vez que ele poderá programar seus estudos utilizando estas obras.
Percebe-se que a disciplina de Álgebra Linear é bem parecida com as da
Universidade Mackenzie e a Universidade Bandeirante, pois, em geral, adotam
quase a mesma bibliografia. O que as diferencia, em geral, é o tratamento dado
anteriormente às noções de matrizes e sistemas lineares, que não são revisitadas
explicitamente na disciplina de Álgebra Linear, pois já foi desenvolvida na disciplina
de Vetores e Geometria Analítica, aplicada na etapa anterior.
A seção seguinte será dedicada à apresentação dos resultados das análises das
propostas curriculares da Universidade de São Paulo, para o curso de Matemática,
considerando as disciplinas que tratam explicita ou implicitamente a noção de matriz.
4.3.4 Universidade de São Paulo – USP
A Universidade de São Paulo (USP) foi fundada em 1934, quando se criou
também a Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras, que começou a oferecer, no
mesmo ano de fundação, o primeiro curso de Bacharelado em Matemática. Anos
depois, foi criado o curso de Licenciatura em Matemática, com as mesmas
disciplinas do Bacharelado.
Nascido da Faculdade de Filosofia da rua Maria Antonia, em São Paulo, o
Instituto de Matemática e Estatística da USP (IME-USP) sempre esteve na
131
vanguarda da pesquisa e do ensino em Matemática Pura. A criação do Instituto
ocorreu em 15 de janeiro de 1970 pela Reforma Universitária, que reuniu num só
instituto os docentes de Matemática, Estatística e Ciência da Computação dos vários
cursos da USP.
O curso de Matemática do Instituto de Matemática e Estatística da USP oferece a
disciplina de Álgebra Linear no segundo período, em apenas um semestre, com uma
carga horária de quatro aulas, conforme se verifica pelo recorte da grade curricular e
pela ementa, ambos descritos abaixo.
Tabela 08: Extrato da grade curricular – USP 2º SEMESTRE
CÓDIGO NOME DA DISCIPLINA CHS MAT0134 Introdução à Álgebra Linear 4 MAT1352 Cálculo para funções de uma variável real II 6 MAT1512 Estatística para Licenciatura II 4 MAT1514 A Matemática na educação básica 4 4300156 Gravitação 2
SUBTOTAL 22 Fonte: USP, 2010
Conforme indicado na Tabela 08, no segundo semestre é oferecida a disciplina de
Introdução à Álgebra Linear. A ementa e os conteúdos programáticos desta
disciplina, correspondentes ao ano de 2010, revelam que ela requer que o estudante
já tenha passado pela disciplina de Geometria Analítica, com aprovação (pré-
requisito), ou seja, o projeto do curso visualiza a necessidade de conhecimentos
prévios para que o estudante curse a disciplina de Introdução à Álgebra Linear.
O quadro que segue explicita o programa da disciplina de Geometria Analítica,
seu objetivo e os conteúdos a serem trabalhados.
Objetivo: Estudo da Geometria Analítica no plano e no espaço, com ênfase nos seus aspectos geométricos e suas traduções em coordenadas cartesianas. Lugares Geométricos. Conteúdo Programático: - Coordenadas no plano: coordenadas cartesianas retangulares no plano. - Distância entre dois pontos. Equação de uma circunferência. - Posição relativa de duas circunferências. - Coordenadas polares. - Vetores no plano. - Componentes de um vetor. - Adição de vetores. - Multiplicação de um vetor por um número real. - Vetores linearmente independentes e linearmente dependentes.
132
- Produto escalar. Estudo da reta no plano: equação geral da reta. - Paralelismo e perpendicularismo. Ângulo. Distância de ponto a reta. - Secções cônicas: equações na forma reduzida em coordenadas cartesianas e polares. - Mudança de coordenadas no plano. - Classificação das cônicas. - Vetores no espaço. - Coordenadas cartesianas retangulares no espaço. - Distância entre dois pontos. - Componentes de um vetor. - Adição e multiplicação por escalar. - Vetores l.i e l.d.. - Produtos: escalar, vetorial e misto. - Estudo da reta e do plano no espaço. - Equação do plano. - Paralelismo e perpendicularismo entre planos. - Equações de uma reta no espaço. - Posições relativas. Ângulos. Distâncias. - Estudo das superfícies quádricas. - Equações na forma reduzida. - Mudança de coordenadas no espaço. - Classificação de quádricas.
Quadro 26: Ementa da disciplina de Geometria Analítica. Fonte: USP, 2010
Conforme se pode depreender do Quadro 26, não existe nenhuma revisita às
noções de matrizes, determinantes e sistema de equações lineares, e a disciplina
utiliza como bibliografia básica duas obras didáticas (Quadro 27), uma delas já
comentada e descrita no Anexo XXX; a outra obra, o livro didático de Leithold
(1977), está descrita no Anexo XXXVI. Abaixo segue a bibliografia adotada na
disciplina de Geometria Analítica.
Básica:
Geometria Analítica: Um tratamento vetorial. BOULOS, P. CAMARGO, I., 1987. O Cálculo com Geometria Analítica. LEITHOLD, L., 1977.
Quadro 27: Bibliografia básica de Geometria Analítica. Fonte: USP, 2010
São indicadas duas obras que não abordam as noções matriciais, conforme
descrito no Anexo XXX (BOULOS, 1987) e na sinopse da obra didática de
LEITHOLD (1977), (ANEXO XXXVI).
Como se pode constatar (ANEXO XXXVI), a obra não efetua nenhuma revisita as
noções matriciais, o que supõe fazer parte do topos do professor a aplicação das
noções não trabalhadas, em um momento oportuno, cabendo ao estudante também
responsabilizar-se para apropriar-se das noções matriciais, para utilizá-las quando
necessárias, como noção matemática ou como ferramenta para solucionar
aplicações da matemática ou de outra ciência.
133
Após análise da disciplina de Geometria Analítica, pré-requisito da disciplina de
Introdução à Álgebra Linear, verifica-se que fica a cargo desta a aplicação das
noções de matrizes, determinantes e sistema de equações lineares; e cabe, então,
ao professor verificar o momento adequado para efetuar a correta articulação com
as demais noções da disciplina de Álgebra Linear.
Para a disciplina Introdução à Álgebra Linear, o programa descreve os objetivos e
os conteúdos a serem desenvolvidos com os estudantes, conforme indica o quadro
que segue.
Objetivo: Familiarizar o estudante com os conceitos de transformação linear e espaço vetorial de dimensão finita através da geometria do IR2 e do IR3. Trabalhar a relação entre matrizes e transformações lineares, bem como a resolução de sistemas lineares de equações. Conteúdo Programático: - Geometria dos vetores no plano e no espaço; - Transformações do espaço; - Transformações lineares (no plano e no espaço); - Somas e composição de transformações lineares; - Inversão e sistemas de equações lineares; - Determinantes; - Autovalores de transformações do plano e do espaço; - Matrizes simétricas; - Classificação das superfícies cônicas e quádricas. - Geometria dos vetores de Rm; - Transformações lineares de Rn em Rm; - Matrizes; - Sistemas de equações lineares homogêneos e não homogêneos; - Espaços vetoriais; - Bases e dimensão; - Existência e unicidade de soluções de um sistema linear; - Teorema de Rouché-Capelli; - Matriz de uma transformação linear; - Espaços vetoriais; - Produto interno; bases ortonormais; - Projeção ortogonal; - Aproximação de funções polinomiais.
Quadro 28: Ementa da disciplina Introdução à Álgebra Linear. Fonte: USP, 2010
O curso de Álgebra Linear oferecido pela Universidade de São Paulo, conforme
conteúdo programático apresentado no Quadro 28, prevê, explicitamente, um
trabalho específico sobre a noção de matriz, suas operações e propriedades,
articulado com outras noções da disciplina de Álgebra Linear; ou seja, no decorrer
do curso, a noção de matriz é revisitada, possibilitando um trabalho mais adequado,
pois é utilizada como ferramenta explícita para os conteúdos da disciplina. Verifica-
se também que o trabalho com a noção de matriz na disciplina é efetuado no
134
decorrer das aulas. Essa noção é articulada com os novos conhecimentos que são
introduzidos durante o desenvolvimento da disciplina, ou seja, a noção de matriz não
é trabalhada inicialmente, mas durante o curso.
Conforme a bibliografia do quadro abaixo, além da obra de Callioli (1977), cujo
primeiro capítulo trata explicitamente do quadro dos sistemas lineares e das
matrizes, o plano aborda, entre outras obras, o livro de Barone (1998), que
desenvolve inicialmente as noções dos sistemas lineares homogêneos e as noções
dos espaços em IRn, ficando, então, a cargo do professor efetuar uma revisita mais
explícita para tal noção, no início do trabalho com a disciplina.
No quadro abaixo, descreve-se a bibliografia básica utilizada na disciplina.
Bibliografia Básica:
Álgebra linear e aplicações. CALLIOLI, C. A.; DOMINGUES, H. H.; COSTA, C. F. R., 1977. Introdução à Álgebra Linear. CARAKUSHANSKY, M. S.; LA PENHA, G. H. S. M.,1976. Álgebra Linear. BARONE, M. Jr., 1988. Linear Algebra through Geometry. BANCHOFF, T.; WERMER, J., 1992.
Quadro 29: Bibliografia básica e complementar de Álgebra Linear. Fonte: USP, 2010
Conforme as obras relacionadas acima (Quadro 29) pode-se supor que fica a
cargo do professor revisitar ou não os conceitos associados à noção básica de
matriz, inicialmente, e que pelo menos essa ferramenta possa ser trabalhada pelos
estudantes, que encontram referências no próprio livro destinado ao
desenvolvimento do curso. Mas, caso o professor não revisite inicialmente a noção
de matriz, no decorrer do curso o estudante estará em contato com essa noção, uma
vez que ela está presente na ementa e em um dos livros descritos na bibliografia
básica. Sendo assim, caso o estudante sinta necessidade, as obras indicadas no
plano de ensino podem auxiliá-lo a desenvolver as competências e as habilidades
necessárias para trabalhar com as noções de Álgebra Linear e aplicá-las, quando
necessário.
A sinopse de duas obras didáticas Barone (1988) e Banchoff (1992), (Anexo
XXXVII), permite deduzir como os professores do curso de Licenciatura em
Matemática da Universidade de São Paulo podem conduzir suas aulas, pois as
obras fornecem os conteúdos a serem desenvolvidos. Percebe-se que a noção de
matriz não é trabalhada de forma explícita nestas duas obras, que se ocupam do
135
desenvolvimento de sistemas lineares e determinantes. Para executar as tarefas por
elas apresentadas, o estudante deverá mobilizar as noções de matrizes e, caso não
domine tais noções, deverá estudar para conseguir executar o que é proposto. Para
isso, será útil a obra de Callioli (1977, 1983).
Assim, verifica-se que o topos do professor também fica destacado, pois é
necessário que ele reflita sobre quais noções podem ser desencadeadas em cada
tarefa e sobre os procedimentos a serem utilizados pelos estudantes, para que todos
consigam, na disciplina, utilizar as noções como ferramentas para manipular as
técnicas possíveis em um curso na área de ciências exatas.
Apresentam-se, a seguir, algumas considerações sobre as análises efetuadas nos
planos de ensino das quatro universidades escolhidas para o estudo proposto nesta
pesquisa e também sobre os resultados encontrados.
4.4 Considerações finais sobre o capítulo.
As análises deixam evidente a consciência, entre os professores do Ensino
Superior, em particular entre os das universidades privadas — cuja maioria dos
estudantes é proveniente do Ensino Médio público — da necessidade de trabalhar
explicitamente o quadro das matrizes, articulando-as com o quadro dos sistemas
lineares e da geometria analítica, para auxiliar os estudantes a compreender melhor
as noções de Álgebra Linear que são “mais abstratas” e que, em geral, apresentam
maiores dificuldades.
Para as quatro universidades, registram-se, na tabela abaixo as obras utilizadas
na disciplina de Álgebra Linear.
Tabela 09: Livros de álgebra linear utilizados pelas universidades investigadas LIVROS UTILIZADOS NOS CURSOS INVESTIGADOS – ÁLGEBRA LINEAR
LIVRO MACK. UNIBAN UFSCar USP
ALGEBRA LINEAR E APLICAÇÕES – Carlos Alberto Callioli et al. SIM SIM SIM SIM
INTRODUÇÃO À ALGEBRA LINEAR - A. Steinbruch e P. Winterle SIM SIM SIM
ÁLGEBRA LINEAR - S. Lipschutz SIM
ÁLGEBRA LINEAR COM APLICAÇÕES - H. Anton. SIM
ÁLGEBRA LINEAR - L. J. Boldrini et al. SIM
UM CURSO DE ALGEBRA LINEAR - F. U. Coelho et al. SIM
ÁLGEBRA LINEAR - Elon Lages Lima SIM
136
LINEAR ALGEBRA THROUGH GEOMETRY - T. Banchoff et al. SIM
ÁLGEBRA LINEAR- M. Barone Jr. SIM
INTRODUÇÃO À ALGEBRA LINEAR - M. S. G. Carakushansky SIM
Tabela elaborada pelo pesquisador
Percebe-se que a obra de Callioli é indicada na bibliografia básica dos cursos de
Licenciatura em Matemática das quatro universidades pesquisadas, mesmo aqueles
que propõem uma abordagem mais moderna, que se inicia pelos espaços de
pequenas dimensões, de forma a associar os conhecimentos desenvolvidos em
Álgebra Linear com os desenvolvidos em Geometria Analítica. Pode-se dizer que a
indicação comum do livro de Callioli permite considerar que os cursos de Álgebra
Linear apresentam certa regularidade, pois essa obra pode influenciar professores,
considerando o tempo em que vem sendo indicada nesses planos de ensino.
Observa-se aqui que o mesmo ocorre com a obra de Boulos para a Geometria
Analítica, o que faz com que os programas das universidades pesquisadas se
aproximem.
Sendo assim, mesmo que a noção de matriz não seja desenvolvida
explicitamente no curso, cabe ao estudante efetuar por conta própria uma revisita a
essa noção. Verificando a Tabela 09, percebe-se claramente que todas as
universidades adotam uma ou mais obras que revisitam o quadro das matrizes e que
podem auxiliar professores e estudantes a desenvolver seu topos em relação à
noção de matriz, quando necessário.
No próximo capítulo, apresentar-se-á a grade de análise construída para
identificar as tarefas e as técnicas que compõem as relações institucionais
existentes e as relações pessoais esperadas dos estudantes, quando se considera o
trabalho a ser realizado utilizando a noção de matriz — seja como ferramenta do
trabalho matemático, seja como objeto de estudo do quadro das matrizes, tanto no
Ensino Médio como no Ensino Superior.
Observa-se rapidamente aqui que as relações institucionais existentes são
identificadas via livros didáticos e as relações pessoais esperadas são analisadas
via macroavaliações. Maiores detalhes a esse respeito serão apresentados nos
capítulos 6 e 7, que correspondem, respectivamente, às análises das relações
institucionais existentes e das relações pessoais esperadas. Verifica-se, assim, se
138
CAPÍTULO 5 GRADE DE ANÁLISE
5.1 Considerações iniciais
Neste capítulo desenvolve-se a grade de análise, que também permite ilustrar o
referencial teórico da pesquisa, Douady (1984, 1992), Bosch e Chevallard (1999) e
Robert (1997, 1998), conforme descrito no primeiro capítulo. Com esta grade,
identificam-se e analisam-se as tarefas usualmente encontradas quando se introduz
a noção de matrizes, suas operações e suas propriedades no Ensino Médio e
também aquelas que são revisitadas no Ensino Superior, ou seja, verifica-se qual o
nível de conhecimento que se espera tenha sido desenvolvido no Ensino Médio e o
que é deixado a cargo do Ensino Superior.
A elaboração da grade permitiu analisar as tarefas que podem ser desenvolvidas
nas diferentes formas, ou seja, efetuar as possíveis mudanças de quadro, segundo
definição de Douady (1984, 1992), o que permite a articulação dos conhecimentos
em jogo nos diferentes quadros. Na grade também são considerados os ostensivos
e não ostensivos, conforme definição de Bosch e Chevallard (1999), e os níveis de
conhecimento esperados dos estudantes, conforme definição de Robert (1997,
1998). Essa análise é executada por meio dos novos conhecimentos a serem
introduzidos e dos conhecimentos prévios necessários para o desenvolvimento da
tarefa.
Na sequência, apresentam-se exemplos que ilustram como as ferramentas
didáticas escolhidas foram utilizadas na identificação dos tipos de tarefas que
sobrevivem nas instituições escolares atualmente.
5.2 Exemplos das ferramentas didáticas que compõem a grade de análise
A grade foi construída segundo o padrão apresentado por Dias (1998), em sua
tese, para analisar a articulação entre os pontos de vista cartesiano e paramétrico,
num curso introdutório de Álgebra Linear.
Em particular, a grade construída para esse trabalho utiliza a noção de quadro de
Douady (1984, 1992), que também compõe a grade de Dias (1998), e introduz as
139
noções de ostensivos e não ostensivos de Bosch e Chevallard (1999), para analisar
as representações externas e internas que permitem o desenvolvimento do trabalho
matemático a ser realizado e a noção de nível de conhecimentos esperado dos
estudantes, conforme definição de Robert (1997,1998). Tal procedimento possibilita
identificar se os conhecimentos prévios dos estudantes são apenas técnicos ou se
estes são capazes de desenvolver uma tarefa, quando a noção de matriz é pedida
explicitamente; ou, ainda, se os estudantes utilizam essa noção espontaneamente,
por acreditarem que se trata de uma ferramenta que permita determinar a solução
da tarefa que lhes é proposta. Ou seja, o estudante utiliza a noção de matriz, suas
operações e suas propriedades, sem que essa seja pedido explicitamente no
enunciado.
Dessa forma, a grade tem como objetivo analisar os diferentes tipos de tarefas e
as técnicas que são associadas à noção de matriz, ou seja, busca revelar as práticas
que sobrevivem atualmente no ensino da noção de matrizes e as variações dessas
tarefas em função das possibilidades de mudanças de quadros; em função também
das representações internas e externas que permitem manipular as técnicas e
evocar noções e idéias em jogo; e do nível de conhecimento esperado dos
estudantes, que depende do discurso utilizado na interpretação, na descrição e na
justificativa das tarefas que lhes são propostas.
Para melhor descrever as distinções utilizadas na construção da grade, serão
definidos previamente os quadros utilizados, com seus respectivos exemplos, como
também as definições de não ostensivos e ostensivos e os níveis de conhecimentos
esperados dos estudantes, quando se considera a noção de matrizes,suas
operações e suas propriedades.
Observa-se que a distinção entre os quadros é realizada, considerando as
representações das matrizes (ostensivos escriturais) em relação aos domínios da
matemática em que essas representações estão inseridas, pois considera-se que é
necessário dispor de conhecimentos desses domínios para compreender as
respectivas representações. Exemplo: Aritmética, Matrizes, Álgebra, Geometria
métrica plana, Funções, Geometria Analítica, Determinantes e Sistemas lineares,
140
Essa distinção está associada ao papel, que a noção de matriz desempenha, de
ferramenta explícita para solução de tarefas nos domínios considerados acima.
Inicia-se com a descrição da distinção desses quadros, apenas para efeito de
análise, sendo que as soluções que seguem foram desenvolvidas pelo pesquisador.
- Quadro Numérico: para as noções de matrizes, suas operações e suas
propriedades, tal quadro é apresentado, utilizando-se representações, em termos
numéricos, em suas respectivas tabelas; ou apenas utilizando termos numéricos,
sem nenhuma representação específica. Para a análise dos dados, é necessário
apenas dispor de conhecimentos relacionados às noções dos conjuntos numéricos
desenvolvidos no Ensino Fundamental, das operações aritméticas e das regras de
cálculo, conforme exemplo que segue.
Figura 23: Exemplo enunciado no quadro numérico. Fonte: Mackenzie, dez. 2007
141
Verifica-se que a tarefa da Figura 23 é enunciada no quadro numérico, utilizando
a representação explícita na tabela (ostensivo escritural), mas sua solução e
discussão são desenvolvidas por meio da representação matricial com coeficientes
numéricos (ostensivo escritural); ou seja, é preciso fazer a passagem da
representação explícita na tabela para a representação matricial com coeficientes
numéricos (ostensivo), conforme solução proposta pelo pesquisador e apresentada
no Anexo XXXVIII.
Após a passagem para a representação adequada, é preciso identificar que se
trata de uma tarefa sobre multiplicação de matrizes e utilizar esse conhecimento
para encontrar a solução. Trata-se de uma tarefa cujo nível de conhecimento
esperado dos estudantes é o disponível, pois apresenta uma situação
contextualizada, para a qual é preciso mobilizar a noção de matriz, uma vez que o
enunciado explicita que o resultado deve ser dado na forma de matriz, mas não faz
referência à operação em jogo; portanto, esse conhecimento é suposto disponível.
Portanto, apesar de ser uma tarefa simples, que é enunciada no quadro numérico
e cuja solução não exige mudança de quadro, pode apresentar dificuldades para
aqueles que não identificarem que se trata da aplicação da noção de multiplicação
de matrizes. Além disso, como a tarefa é enunciada em milhões de tonelada, o valor
será representado em termos de potência de dez, multiplicando a matriz produto;
portanto, para esta solução também é necessário mobilizar conhecimentos sobre a
multiplicação de um número real por uma matriz.
A seguir, descreve-se o quadro matricial numérico utilizado na solução do
exercício da Figura 23.
- Quadro matricial numérico: para as noções de matrizes, é apresentado utilizando
elementos numéricos dispostos na notação matricial, ou seja, na representação
explícita de matriz, para que o estudante consiga mobilizar algumas técnicas são
necessários conhecimentos relacionados ao tipo da matriz, em termos de linha e
coluna, de tipo de matriz, de operações e suas propriedades, como segue.
142
Nesse exemplo, observa-se que os dados da tarefa já são representados por
meio da representação matricial com coeficientes numéricos, e o que se pede é o
cálculo das potências da matriz dada e o determinante da matriz que representa a
adição dessa sequência infinita, ou seja, é preciso mobilizar conhecimentos sobre a
noção de potência de matrizes, adição e multiplicação de matrizes. Para determinar
os coeficientes a11 e a22 da matriz, é preciso reconhecer que as sequências que
representam esses coeficientes são progressões geométricas, ou seja, deve-se
dispor da noção de progressão geométrica e de uma progressão geométrica infinita
com razão maior que zero e menor que 1. No Anexo XXXIX, apresenta-se uma
solução para essa tarefa.
Na solução, como pode-se observar (Anexo XXXIX), é preciso mobilizar
conhecimentos sobre a noção de matrizes e determinante de uma matriz, mas deve-
se dispor de conhecimentos sobre a noção de progressão geométrica e suas
propriedades.
Expõe-se, abaixo, em que consiste o quadro matricial algébrico, muitas vezes
associado com outros quadros, para facilitar a interpretação e a resolução de uma
determinada tarefa.
Figura 24: Exemplo no quadro matricial numérico. Fonte: Mackenzie, dez. 2005.
143
- Quadro matricial algébrico: para as noções de matrizes, é apresentado utilizando
elementos algébricos dispostos na notação matricial. Para descrever a matriz em
relação às linhas e às colunas consideradas em uma determinada tarefa, é preciso
dispor da noção de número índice (aij), em que i representa a posição na linha e j, a
posição na coluna. Na tabela abaixo, apresenta-se uma matriz genérica que
exemplifica a representação matricial algébrica explícita (ostensivo escritural) de
uma matriz desse quadro.
Na Figura 25, é apresentado um exemplo de representação de matriz pertencente
ao quadro matricial algébrico. Na realidade, pode-se considerar apenas como uma
representação (ostensivo escritural) que facilita a resolução de problemas em outros
quadros, conforme exposição abaixo.
- Quadro algébrico funcional: para as noções de matrizes, é explicitado, utilizando
as relações algébricas funcionais que acompanham a notação que informa o tipo de
matriz em jogo, ou seja, a informação do tipo da matriz com a “lei de formação”, para
possibilitar a sua representação matricial algébrica explícita (ostensivo escritural) e a
representação matricial com coeficientes numéricos (ostensivo escritural). Além
dessas representações para desenvolver tarefas associadas a matrizes desse
quadro, é preciso dispor de conhecimentos sobre conjuntos numéricos, operações
aritméticas e cálculo do valor numérico. O exemplo da Figura 26 corresponde à
determinação de uma matriz desse quadro.
Figura 25: Exemplo de uma matriz no quadro matricial algébrico. Fonte: Iezzi, 1985. p. 36D
Em uma matriz qualquer M, cada elemento é indicado por aij. O índice i indica a
linha e o índice j a coluna às quais o elemento pertence. Com convenção que as linhas
sejam numeradas de cima para baixo (de 1 até m) e as colunas da esquerda para a direita
(de 1 até n), uma matriz mxn é representada por:
⎟⎟⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜⎜⎜
⎝
⎛
=
mnmm
n
n
n
aaaaaaaaaaaa
M
...
...
...
...
21
33231
22221
11211
ou ⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
=
mnmm
n
n
n
aaaaaaaaaaaa
M
...
...
...
...
21
33231
22221
11211
ou
mnmm
n
n
n
aaaaaaaaaaaa
M
...
...
...
...
21
33231
22221
11211
=
144
Para facilitar a resolução da tarefa, primeiramente constrói-se a matriz algébrica
para favorecer a interpretação, substituindo os termos na respectiva representação
algébrica funcional, conforme apresentado no Anexo XL.
A tarefa é enunciada por meio de uma relação funcional que amalgama linhas e
colunas em uma representação algébrica funcional; esta será transformada em uma
representação algébrica explícita que, consequentemente, será convertida em uma
representação matricial com coeficientes numéricos que permitirão aplicar a
definição de traço e determinar a solução da tarefa. Nesse caso, é preciso apenas
mobilizar conhecimentos relacionados à passagem de uma representação para
outra, à noção de traço de uma matriz e às operações e propriedades dos números
reais.
Após este quadro, apresenta-se o da geometria métrica plana, também utilizada
em algumas tarefas.
- Quadro da geometria métrica plana: para as noções de matrizes, este quadro é
apresentado utilizando figuras relacionadas à geometria plana, com as devidas
propriedades que podem ser articuladas e representadas por meio de
representações matriciais. O estudante deverá dispor de conhecimentos
relacionados às figuras planas, em especial os polígonos no plano e suas
propriedades, além das noções e das relações de medidas associadas a esses
Figura 26: Exemplo de enunciado no quadro algébrico funcional. Fonte: Mackenzie, jun. 1995.
145
objetos, como áreas, vértices, entre outras, para descrever esses dados por meio de
uma representação matricial.
Repete-se, aqui, o exemplo já desenvolvido no primeiro capítulo.
Verifica-se que, além dos conhecimentos relacionados à geometria plana, é
preciso dispor de técnicas para representar a figura na forma matricial, conforme
apresentado no Anexo XLI.
Para resolver a tarefa, é preciso mobilizar a noção de matriz e associar seus
elementos às distâncias entre os vértices. Por exemplo: a11 corresponde à distância
do vértice 1 a ele mesmo, resultando em uma distância nula; já a13 representa a
diagonal do quadrado de lado 1, conduzindo à aplicação do teorema de Pitágoras,
que deve ser disponível. Dessa forma, a representação da matriz no quadro da
geometria métrica plana exige que se disponha de outros conhecimentos que
ultrapassam a representação matricial algébrica explícita e a representação matricial
com coeficientes numéricos que corresponde ao resultado esperado.
Um outro quadro encontrado nas tarefas investigadas é o da geometria analítica,
descrito abaixo.
- Quadro da geometria analítica: para as noções de matrizes, este quadro é
apresentado, utilizando figuras geométricas que podem ser representadas por meio
de coordenadas cartesianas que correspondem a pontos que compõem essa figura
sobre um sistema cartesiano ortogonal e possíveis de ser transformadas por meio de
(Unimep-SP) É dado um quadrado de lado medindo 1 unidade, numerado conforme a figura.
A matriz 4X4, tal que aij é a distância entre os vértices de números i e j, é:
Figura 27: Exemplo no quadro da geometria plana. Fonte: Giovanni, 2000, p. 123.
146
uma representação matricial. Neste quadro, é preciso estar familiarizado com
noções relacionadas às coordenadas do plano e do espaço e das operações e das
propriedades das matrizes. Eis um exemplo de uma tarefa pertencente a esse
quadro:
A tarefa é enunciada no quadro da geometria analítica, pois é dada uma figura por
meio de suas coordenadas cartesianas no plano IR2, mesmo que para definir a
transformação desejada seja necessário utilizar a sua representação matricial; ou
seja, nesse caso, a tarefa é enunciada no quadro da geometria analítica, mas é
Figura 28: Exemplo no quadro da geometria analítica. Fonte: UFSCar, 2009.
147
preciso o suporte da representação simbólica algébrica para que se possa encontrar
sua solução. O Anexo XLII, disponibiliza a resolução associada ao enunciado
anterior.
Para resolver a tarefa, é preciso mobilizar conhecimentos relacionados à noção
de coordenadas cartesianas; à multiplicação de matrizes para encontrar a
representação algébrica simbólica da transformação dada; e ao cálculo do valor
numérico, pois é preciso substituir as coordenadas da figura dada para determinar
as novas coordenadas e identificar o gráfico que representa a transformação dessa
figura.
O quadro dos determinantes, a seguir, é identificado nas tarefas associadas às
noções de matrizes, suas operações e propriedades.
- Quadro dos determinantes: para as noções de matrizes, este quadro refere-se ao
número que se pode obter operando com os elementos de uma matriz quadrada.
Neste quadro, é necessário dispor da definição de determinante de uma matriz e de
alguns métodos para cálculo do determinante da matriz, que variam em função do
tipo de matriz. Por exemplo: o método de Sarrus, que só é válido para matrizes 3x3,
e o método de Laplace, que se aplica a matrizes mxm. .
Verifica-se, pelo enunciado, que, além da noção de matriz, é necessário mobilizar
conhecimentos relacionados às equações exponenciais e logarítmicas, como se
pode constatar na solução da tarefa (Anexo XLIII).
Figura 29: Exemplo no quadro dos determinantes. Fonte: Mackenzie, jun. 2007.
148
A tarefa é enunciada no quadro matricial, onde os termos representam números
exponenciais em função de x; é preciso articular o quadro das matrizes com o
quadro dos determinantes e as operações com números exponenciais, uma vez que
será preciso utilizar esta noção para calcular o determinante solicitado.
Além disso, para determinar o logaritmo, é necessário utilizar a definição,
segundo a qual o sinal de equivalência, conforme Chevallard (1994), pode ser
considerado como uma possibilidade de articular a visão materialista, que consiste
em considerar a matemática uma atividade material, com a visão idealista, que
consiste em esquecer o papel dos ostensivos na atividade matemática. A
observação abaixo corresponde a um exemplo dado por Chevallard (1994) para
justificar a importância de utilizar o sinal de equivalência já no Ensino Médio.
Observa-se, aqui, que Chevallard (1994) justifica, por meio da dialética entre
ostensivos e não ostensivos, que a noção de equivalência (não ostensivo) e o
emprego regrado do sinal de equivalência (ostensivo) se elaboram em conjunto,
em uma dialética em que o sinal (visão materialista) tem um papel tão importante
quanto o conceito (visão idealista): a noção de equivalência emerge do emprego,
cada vez retificado, do sinal de equivalência.
Essa tarefa mostra a importância do quadro das matrizes e dos determinantes,
quando articulados com outros quadros, pois, no caso acima, permitiram uma
discussão sobre a utilização do sinal de equivalência, que é essencial para a
definição da noção de logaritmo e para sua associação com a noção de equação
exponencial.
O próximo quadro refere-se aos sistemas de equações lineares, e esse tipo de
noção é importante para a resolução de alguns problemas, que também utilizam a
noção de matriz como ferramenta explícita para solução.
- Quadro dos sistemas de equações lineares: para as noções de matrizes, este
quadro é apresentado por meio de um conjunto de equações lineares, que podem
ser representadas explicitamente ou enunciadas em língua natural. É preciso dispor
de conhecimentos relacionados às operações numéricas, além de algoritmos para
149
resolução de equações lineares e sistemas de equações lineares, com uma ou
várias variáveis. Segue um exemplo retirado de exame de vestibular.
A tarefa enunciada utiliza a representação matricial, mas podem-se transformar
os dados num sistema de equações lineares, como apresentado no Anexo XLIV.
Verifica-se que, além de articular o quadro das matrizes com o quadro dos
sistemas lineares, utilizando a multiplicação de matrizes para encontrar a
representação por meio de equações, o que é equivalente à representação matricial,
é preciso mobilizar conhecimentos sobre as noções de trigonometria, para
determinar a solução. Nesse caso, o quadro dos sistemas de equações lineares é
utilizado para facilitar o desenvolvimento da solução; também se pode trabalhar com
o sistema na forma matricial, mas, para isso, é necessário dispor de conhecimentos
sobre o escalonamento de uma matriz.
Além das noções referentes aos quadros enunciados, a grade de análise proposta
nesta pesquisa utiliza as noções de não ostensivos e ostensivos definidas na teoria
antropológica do didático de Bosch e Chevallard (1999), apresentadas no segundo
capítulo. Relembram-se abaixo essas noções e consideram-se alguns exemplos.
Figura 30: Exemplo no quadro dos sistemas de equações lineares. Fonte: Mackenzie, jun. 2008.
150
- Não ostensivos: os objetos não ostensivos são as idéias, as intuições, os
conceitos sobre determinada noção, que não podem ser vistos, ditos, entendidos,
percebidos ou mostrados. Por exemplo, as noções de adição, subtração,
multiplicação e divisão, assim como a resolução utilizando essas denominações e os
algoritmos a elas associados, são consideradas os não ostensivos de determinada
tarefa.
Um outro exemplo: diante de um determinado objeto, uma pessoa “A” pode ter
uma noção diferente de uma outra pessoa “B”; nesse caso, segundo Bosch e
Chevallard (1999), trata-se de objetos não ostensivos, que não estão desassociados
dos objetos ostensivos. Abaixo segue um exemplo sobre ostensivos associados ao
não ostensivo matriz.
Ao visualizar as matrizes da Figura 31, podem-se associar várias noções, como
tipo ou ordem da matriz, sua representação, operações. Para efetuar as operações
pedidas, é preciso dispor da técnica de adição de matrizes, pois é preciso verificar
primeiro a condição para a adição de matrizes, ou seja, elas devem ter o mesmo tipo
ou ordem. Em seguida, efetua-se a adição termo a termo, considerando que a
operação de adição para os números inteiros possa ser mobilizada. Certamente,
para desenvolver as técnicas associadas à adição de matrizes, é preciso dispor dos
ostensivos que são associados às noções de tipo e ordem, à adição de matrizes e
de números inteiros. O exemplo disponibilizado no Anexo XLV mostra como os
ostensivos possibilitam trabalhar com os não ostensivos descritos acima.
Dadas as matrizes ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−
−=
1042
A , ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−
=0624
B e ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−
=2503
C , calcule:
a) A+B
b) A+C
c) B+C
d) A+B+C
Figura 31: Exemplo sobre ostensivos. Fonte: Dante, 2004, p. 211
151
Conforme solução apresentada no Anexo XLV, a noção do tipo de matriz não é
tratada explicitamente; passa-se diretamente para a adição termo a termo dos
elementos das matrizes, que estão dispostas de forma a facilitar o desenvolvimento
da técnica. Observa-se que a apresentação da adição dos elementos corresponde a
uma forma de representação do discurso associado à soma termo a termo.
Indicam-se abaixo os ostensivos retidos, quando se considera a noção de matriz,
suas operações e propriedades.
- Ostensivos: ao considerar os ostensivos em relação à noção de matriz, suas
operações e propriedades, pode-se verificar que os registros dos vários signos
existentes na Matemática e o seu esboço são representações de objetos ostensivos,
assim como também o discurso oral e a ação gestual e visual. Para a noção de
matriz, os seguintes ostensivos de representação escrita estão em jogo:
- Ostensivo da visualização
- Ostensivo da construção
- Ostensivo da leitura
Percebe-se que, para a solução da Figura 31 (Anexo XLV), é preciso utilizar
várias representações, como, por exemplo, a representação escrita na forma
numérica, a representação escrita na notação matricial. Ou seja, são utilizados
vários signos para representar e associar a idéia não ostensiva.
Os ostensivos permitem a manipulação dos não ostensivos, e estes são evocados
para justificar as regras utilizadas nessa manipulação; ou seja, ostensivos não
podem existir sem os não ostensivos, nem estes últimos sem os primeiros, o que
conduz Bosch e Chevallard (1999) a considerar a existência de uma dialética entre
ostensivos e não ostensivos. Ainda segundo Bosch e Chevallard (1999), toda
técnica supõe a ativação de um complexo de objetos ostensivos e não ostensivos.
Além disso, para Chevallard (1994), a “compreensão” de um conceito matemático
depende da técnica em que esse conceito é utilizado, e esta depende de todo o
sistema de objetos não ostensivos e ostensivos por ela ativados.
152
Uma vez definidos os objetos não ostensivos e ostensivos de Bosch e Chevallard
(1999), com o propósito de aperfeiçoar as análises, utiliza-se, em seguida, a noção
de níveis de conhecimento esperados dos estudantes, proposta por Robert (1997,
1998). Para a noção de matrizes analisam-se as possibilidades de solução da tarefa
em função dos níveis de conhecimento esperados dos estudantes, conforme
definido pela pesquisadora e exemplificado no segundo capítulo desta pesquisa.
- Nível técnico: corresponde a um trabalho isolado, local e concreto e está
relacionado principalmente às ferramentas e às definições utilizadas em uma
determinada tarefa, como, por exemplo:
- esboçar uma tabela entre colchetes;
- verificar a quantidade de linhas e colunas da tabela;
- operar os elementos de uma linha ou coluna de uma tabela;
Para exemplificar o nível técnico, apresenta-se a tarefa abaixo, encontrada no
livro de Dante 2005, como segue:
O item (a) necessita de conhecimentos específicos sobre a definição de tipo de
uma matriz, e, para os demais itens, basta associar a noção de tipo com as linhas e
as colunas da matriz, identificando os elementos de uma determinada linha e coluna.
Observe a matriz seguinte e responda:
⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
−
55151321010
a) De que tipo ou ordem é a matriz dada?
b) Quais são os números da 1ª linha?
c) E os da 3ª linha?
d) Qual é o número que está na 2ª linha e 1ª coluna?
e) E na 3ª linha e na 1ª coluna?
f) E na primeira linha e na 3ª coluna?
Figura 32: Exemplo referente ao nível técnico. Fonte: Dante, 2004, p. 205
153
Conforme Anexo XLVI, verifica-se um trabalho extremamente isolado e concreto,
bastando que o estudante tenha alguns conhecimentos relacionados ao tipo de uma
matriz e à contagem e à posição do elemento solicitado.
- Nível mobilizável: é um início de justaposição de saberes de certo quadro,
podendo até corresponder a uma organização. Vários métodos podem ser
mobilizados. O caráter de ferramenta e de objeto do conceito estão em jogo, mas o
que se questiona é explicitamente pedido. Se um saber é identificado, ele é
considerado mobilizado, se acessível, isto é, se o estudante o utiliza corretamente.
Como por exemplo:
- escrever na forma matricial a partir da linguagem natural ou de uma tabela;
- verificar a igualdade de duas matrizes;
- adicionar ou multiplicar duas matrizes;
- a partir de uma matriz, escrevê-la na forma de relação algébrica funcional.
Para exemplificar o nível mobilizável, apresenta-se a tarefa abaixo, transcrita do
livro de Dante (2004), como segue.
A tarefa da Figura 33 solicita, de forma explícita, a multiplicação entre as duas
matrizes; para determinar o que se pede, o estudante deve recorrer à condição de
existência da multiplicação entre duas matrizes, para depois determinar o produto.
Na sequência, apresenta-se a solução disponibilizada na obra, já que se trata de um
exercício resolvido.
Dados
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡=
410523
A e ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡=
2613
B , determine A.B
Figura 33: Exemplo de tarefa do nível mobilizável. Fonte: Dante, 2004, p. 217.
154
Verifica-se que o produto solicitado mobiliza a identificação do tipo das duas
matrizes. A partir dos tipos, deve-se dispor de conhecimentos sobre a condição para
a existência do produto de duas matrizes. Finalmente, é preciso mobilizar a técnica
para determinar o produto das matrizes e pode-se, ainda, controlar os resultados,
quando se dispõe de conhecimentos sobre a noção de existência. Observa-se que,
apesar de ser pedido explicitamente, no enunciado, a multiplicação da matriz A pela
matriz B, antes de efetuá-lo, o autor utiliza um discurso escrito em língua natural
para justificar a existência de tal produto, o que lhe permite também controlar o
resultado encontrado.
Pode-se ainda considerar a necessidade de um discurso oral e gestual para
efetuar a multiplicação, que poderia ser explicitado por meio de um esquema que
mostrasse que cada elemento da matriz produto — por exemplo, um elemento da
primeira linha dessa matriz — é a soma dos respectivos produtos da linha da
primeira matriz por cada uma das colunas da segunda matriz, no exemplo, a11.b11 +
a12.b21 e a11.b12 + a12.b22 e assim sucessivamente.
- Nível disponível: corresponde a saber responder corretamente o que é proposto
sem indicações; poder dar contraexemplos (encontrar ou criar); mudar de quadro
(fazer relações); aplicar métodos não previstos, por exemplo:
- verificar se uma matriz admite inversa, quando se pede para determinar inversa
de uma matriz;
- escolher o método mais econômico para determinar a inversa de uma matriz;
Figura 34: Solução da tarefa da Figura 33. (desenvolvida por Dante, 2004)
155
Esse nível de conhecimento está associado à familiaridade, ao conhecimento de
situações de referências variadas que o estudante sabe que conhece (servem de
terreno de experimentação), ao fato de dispor de referências, de questionamentos,
de uma organização. Pode funcionar para um único problema ou possibilita fazer
resumos. A seguir apresenta-se um exemplo associado a este nível de
conhecimento.
O exemplo da Figura 35 solicita o valor de cada eletrodoméstico e não informa
qual procedimento o estudante deverá utilizar para solucioná-lo. Assim, a tarefa
corresponde ao nível disponível, pois é preciso colocar o problema em forma de
equação, o que corresponde a um sistema de três equações e três incógnitas. Para
resolver esse sistema, é possível utilizar a noção de matriz, como na solução
proposta a seguir. Observa-se aqui que esse método para solução de sistemas de
equações lineares não é o mais econômico, mas ainda é muito utilizado, tanto no
Ensino Médio como no Ensino Superior.
A solução (Anexo XLVII) apenas apresenta um dos métodos que podem ser
adotados para determinar os valores solicitados; portanto, cabe ao estudante
determinar qual a melhor técnica para solucionar a tarefa, ou seja, ele vai utilizar os
conhecimentos de que dispõe no momento da solução da tarefa.
Conforme definição de Douady (1992), para melhor compreender as
possibilidades de articulação — em termos de quadros — em jogo nas tarefas
habitualmente propostas no Ensino Médio e revisitadas no Ensino Superior, quando
se trabalha com a noção de matriz, com suas operações e propriedades, constrói-se
a grade de análise, inspirada na grade que Dias (1998) utiliza para estudar a
Uma loja de eletrodoméstico está fazendo uma promoção para a compra conjunta de
dois tipos de eletrodomésticos, de maneira que o consumidor interessado paga:
• R$ 590,00 por um forno micro-ondas e um aspirador de pó;
• R$ 1300,00 por um forno de micro-ondas e uma geladeira;
• R$ 1250,00 por um aspirador de pó e uma geladeira.
Quanto a loja está cobrando por tipo de aparelho?
Figura 35: Exemplo de tarefa correspondente ao nível disponível. Fonte: C. do Aluno, 2009, p.29
156
articulação entre os pontos de vista “cartesiano” e “paramétrico” no ensino de
álgebra linear. Para essa grade, além da noção de quadro, consideram-se também
as noções de não ostensivos e ostensivos, segundo a teoria antropológica do
didático de Bosch e Chevallard (1999), e os níveis de conhecimento esperados dos
estudantes, conforme definição de Robert (1997, 1998).
Apresenta-se a seguir a grade construída para esta pesquisa, com exemplos que
ilustram as tarefas habitualmente propostas aos estudantes.
5.3 A grade de análise
Para analisar as diferentes tarefas, quando se introduz a noção de matriz,
constrói-se a seguinte grade de análise, com o objetivo de verificar quais as tarefas e
as técnicas que sobrevivem nas práticas usuais e quais as necessidades, em termos
de representações e tecnologias, e as teorias que se utilizam para justificá-las e
controlá-las. Para isso, verifica-se em que quadro a tarefa é enunciada e
solucionada, observando também quais objetos não ostensivos e ostensivos são
utilizados e os níveis de conhecimento que determinada tarefa pode mobilizar nos
estudantes. Apresentam-se na Tabela 10 os elementos que compõem a grade de
análise.
Tabela 10: Grade de análise
GRADE DE ANÁLISE
I Quadro em que a tarefa é enunciada
II Quadro de solução da tarefa
III Não ostensivos utilizados na tarefa
IV Ostensivos utilizados na tarefa
V Níveis de conhecimento esperado para solução da tarefa
No quadro que segue apresenta-se um resumo de como foram utilizados os
diferentes itens da grade, aqui descritos como definição dos itens que correspondem
às ferramentas didáticas escolhidas para a análise das organizações praxeológicas
que sobrevivem atualmente na transição entre o Ensino Médio e o Superior, quando
157
se introduz e se desenvolve a noção de matriz, suas operações e propriedades; ou
seja, quais tipos de tarefas e técnicas alimentam o bloco prático e que tecnologias e
teorias que compõem o bloco teórico são utilizadas para descrever, explicar e
justificar as técnicas empregadas.
I: Corresponde ao enunciado, verifica-se em quais dos quadros definidos para esse estudo a tarefa é enunciada. II: Corresponde ao quadro em que a tarefa é solucionada; muitas vezes, tal quadro já está explícito no objetivo da tarefa. III: Corresponde às noções, idéias, às definições e às condições que são utilizadas e que podem ser evocadas para solucionar uma tarefa em função da técnica utilizada. IV: Corresponde à representação escrita utilizada tanto para registrar como para visualizar e manipular a técnica escolhida para solucionar uma tarefa. V: Identifica o nível de conhecimento sobre a noção de matriz, suas operações e propriedades utilizadas para solução da tarefa, assim como os níveis de conhecimento de outras noções em jogo.
Quadro 30: Definição dos itens da grade.
Para explicitar o funcionamento da grade de análise, através das investigações
efetuadas descreve-se algumas tarefas importantes, usualmente encontradas nos
livros didáticos do Ensino Médio, para introduzir a noção de matriz, suas operações
e propriedades, que estão na tabela abaixo.
Tabela 11: Dez tarefas comumente encontradas no ensino médio.
Tarefa 1: Tipos de matrizes e suas representações.
Tarefa 2: Representação algébrica de uma matriz.
Tarefa 3: Matrizes especiais.
Tarefa 4: Igualdade entre matrizes.
Tarefa 5: Adição de matrizes;
Tarefa 6: Multiplicação de número por matriz.
Tarefa 7: Multiplicação de matrizes.
Tarefa 8: Matriz transposta.
Tarefa 9: Matriz inversa.
Tarefa 10: Equações matriciais.
158
Com relação às dez tarefas apresentadas na Tabela 11, efetua-se a aplicação da
grade de análise para uma tarefa que ilustra o trabalho matemático que se espera
desenvolver na transição entre o Ensino Médio e Superior quando se trabalha com a
noção de matriz, suas operações e propriedades.
5.4 Exemplos de funcionamento da grade de análise
Nestes exemplos, utilizam-se alguns exercícios correspondentes às tarefas
encontradas no Ensino Médio e revisitadas no Ensino Superior, extraídos dos livros
investigados, do Caderno do aluno (2009) e da nova Proposta Curricular do Estado
de São Paulo (2008). São exemplos particulares, por serem relações institucionais
existentes adotadas pelas instituições de ensino. Para facilitar a compreensão da
aplicação da grade os exemplos são acompanhados de um método de solução da
tarefa desenvolvido pelo pesquisador.
Tarefa 1: Tipos de matrizes e suas representações
Exemplo 1: Registrar na forma matricial.
Escreva a matriz correspondente à tabela de notas de três alunos no primeiro bimestre:
MATEMÁTICA FÍSICA QUÍMICA BIOLOGIA
ANA 6 4 5 8
ANTONIO 5 7 5 5
BEATRIZ 5 6 7 4
Figura 36: Exercício correspondente à tarefa 1. Fonte: Dante, 2005, p. 241
159
APLICAÇÃO DA GRADE DE ANÁLISE
Quadro em que a tarefa é enunciada: quadro numérico, pois é utilizada a representação explícita da tabela de dupla entrada em termos numéricos.
Quadro de solução da tarefa: quadro matricial numérico, pois para solução é utilizada a notação matricial, para disposição dos elementos, em que cada elemento é identificado pela linha e pela coluna a que pertence.
Não ostensivos utilizados na tarefa: noção do objeto matriz em termos de linha e coluna, noção da posição do elemento na tabela, noção do tipo da matriz em jogo.
Ostensivos utilizados na tarefa: ostensivo da representação da tabela de dupla entrada para o enunciado e ostensivo da representação matricial para solução, ostensivo da leitura da tabela, ostensivo oral, gestual e visual quando do discurso da passagem de um ostensivo para o outro.
Níveis de conhecimento esperados para solução da tarefa: nível mobilizável, pois para solução da tarefa são necessários conhecimentos relacionados com a noção de matriz e sua representação, utilizando a notação matricial em termos de linha e coluna.
Exemplo 2: Identificar o tipo de matriz.
Figura 37: Solução do exercício da Figura 36. (desenvolvida pelo pesquisador)
Identifique o tipo ou a ordem das seguintes matrizes:
a) ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡5164
b)
⎟⎟⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜⎜⎜
⎝
⎛
− 6521
c)
⎥⎥⎥⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢⎢⎢⎢
⎣
⎡
−−−
−
1003110
145262031
Figura 38: Exemplo referente à tarefa 1. Fonte: Dante, 2005, p. 241
160
APLICAÇÃO DA GRADE DE ANÁLISE
Quadro em que a tarefa é enunciada: quadro matricial numérico, pois a tarefa é enunciada utilizando a representação explícita de matriz de m linhas e n colunas em termos numéricos.
Quadro de solução da tarefa: quadro numérico, pois basta verificar a quantidade de linhas e colunas e registrar na forma (mxn, onde m representa o número de linhas e n o número de colunas).
Não ostensivos utilizados na tarefa: noção de ordem e tipo das matrizes dadas.
Ostensivos utilizados na tarefa: ostensivo de representação matricial para o enunciado, ostensivo de representação escrita para a solução, ostensivo gestual, oral e visual quando do discurso de passagem de um ostensivo para o outro.
Níveis de conhecimento esperados para solução da tarefa: nível mobilizável, pois o estudante deve mobilizar conhecimentos relacionados ao tipo de matriz, bastando escrever o tipo de matriz no registro (mxn).
Tarefa 2: Representação algébrica de uma matriz
Figura 39: Solução do exemplo da Figura 38. (desenvolvida pelo pesquisador)
Representação algébrica de uma matriz. Escreva as matrizes:
a) A=(aij)2X3 tal que aij=i2+j2
b) M=(aij), com 1≤i≤3 e 1≤j≤3, tal que aij=3i+2j-5
Figura 40: Exemplo referente à tarefa 2. Fonte: Dante, 2005, p. 242
161
APLICAÇÃO DA GRADE DE ANÁLISE
Quadro em que a tarefa é enunciada: quadro algébrico funcional, pois a tarefa é enunciada utilizando uma relação funcional em termos de i (linha) e j (coluna) e o tipo de matriz que deve ser construída.
Quadro de solução da tarefa: quadro matricial algébrico, pois é escrita uma matriz algébrica em termos de linha e coluna, usam-se os índices de cada termo para substituição na relação funcional fornecida e, após calcular o valor numérico desses termos, escreve-se a matriz solicitada, ou seja, a solução é descrita, utilizando o quadro matricial numérico.
Não ostensivos utilizados na tarefa: noção de posição de cada termo na matriz, noção de tipo de matriz, noção de cálculo do valor numérico segundo a relação fornecida, noção de igualdade, noção de intervalo e número índice.
Ostensivos utilizados na tarefa: ostensivo da manipulação matricial; ostensivo da representação funcional, algébrica e numérica; ostensivo gestual, oral e visual, quando do discurso de passagem de um ostensivo para o outro.
Níveis de conhecimento esperados para solução da tarefa: nível mobilizável, pois o estudante deverá ter conhecimentos relacionados à notação que representa uma matriz algébrica e utilizar os termos algébricos na escrita matricial; também deverá ter noções sobre o cálculo do valor numérico, utilizando a relação funcional fornecida, que, depois de calculada em termos numéricos, deverá ser escrita no quadro matricial numérico.
Figura 41: Solução do exemplo da Figura 40. (desenvolvida pelo pesquisador)
162
Tarefa 3: Matrizes especiais
Escreva a matriz triangular:
1. de ordem 4, em que⎪⎩
⎪⎨
⎧
<−==+=>=
jiparaajiparajiajiparaa
ij
ij
ij
,2,)(
,02
2. de ordem 3, na qual⎪⎩
⎪⎨
⎧≤=>=
jiparaiajiparaa
ij
ij
,,0
3
Figura 42: Exemplo da tarefa 3. Fonte: Dante, 2005, p. 243
Figura 43: Solução do exemplo da Figura 42. (desenvolvida pelo pesquisador)
163
APLICAÇÃO DA GRADE DE ANÁLISE
Quadro em que a tarefa é enunciada: quadro algébrico funcional, pois é apresentada utilizando a relação algébrica em termos de i (linha) e j (coluna), com o tipo de matriz em jogo.
Quadro de solução da tarefa: inicialmente desenvolve-se o quadro matricial algébrico; após construir a matriz em termos algébricos, utiliza-se a noção de intervalo para utilizar a relação algébrica funcional correta, a fim de calcular o valor numérico e escrever a matriz solicitada no quadro matricial numérico.
Não ostensivos utilizados na tarefa: noção de tipo de matriz e da posição de cada termo na matriz dada, noção de intervalo e cálculo do valor numérico, utilizando a noção de número índice.
Ostensivos utilizados na tarefa: ostensivo da manipulação matricial; ostensivo da representação algébrica, funcional e numérica; ostensivo gestual, ora e visual, quando do discurso de passagem de um ostensivo para o outro.
Níveis de conhecimento esperados para solução da tarefa: nível mobilizável, pois a tarefa requer que o estudante consiga articular alguns conhecimentos que envolvam a noção de matriz, como a representação na notação matricial em termos numéricos e a substituição desses termos na relação funcional correta, segundo o intervalo considerado.
Tarefa 4: Igualdade entre matrizes
Exemplo 1: Igualdade e determinação dos termos de uma matriz.
Seja A=(aij) uma matriz quadrada de ordem 2 tal que aij=i+j. Determine x, y, z e t para que se tenha:
Azttxzxyx
=⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛+−++
3
Figura 44: Exemplo da tarefa 4. Fonte: Dante, 2005, p. 244
164
APLICAÇÃO DA GRADE DE ANÁLISE
Quadro em que a tarefa é enunciada: quadro algébrico funcional e quadro matricial algébrico, pois é apresentada uma relação funcional para determinar o valor da matriz A, com o tipo da matriz em jogo.
Quadro de solução da tarefa: quadro matricial algébrico, pois os termos devem ser substituídos, na relação algébrica funcional, para determiná-los e escrever a matriz A no quadro matricial numérico. Em seguida, será desenvolvida a igualdade entre as matrizes, ambas no quadro matricial, para determinar o valor das incógnitas.
Não ostensivos utilizados na tarefa: noção de tipo de matriz, noção do cálculo do valor numérico dos termos de uma matriz em uma relação funcional dada, noção da igualdade entre matrizes, noção da resolução de sistemas de equações lineares do 1º grau.
Ostensivos utilizados na tarefa: ostensivo da representação algébrica matricial; ostensivo da representação algébrica funcional; ostensivo gestual, oral e visual, quando do discurso de passagem de um ostensivo para o outro.
Níveis de conhecimento esperados para solução da tarefa: nível mobilizável, pois são necessários conhecimentos sobre a noção de matriz, na forma algébrica e numérica, e a utilização da relação algébrica funcional para cálculo do valor numérico dos termos da matriz algébrica. Também são necessárias as articulações entre a igualdade de duas matrizes dadas e o conhecimento do algoritmo para resolução das equações resultantes da igualdade matricial.
Figura 45: Solução do exemplo da Figura 44. (desenvolvida pelo pesquisador)
165
Exemplo 2: Igualdade e determinação do valor da incógnita de uma matriz.
APLICAÇÃO DA GRADE DE ANÁLISE
Quadro em que a tarefa é enunciada: quadro matricial numérico, pois a tarefa é enunciada utilizando a representação explícita de matriz com incógnitas e números.
Quadro de solução da tarefa: quadro numérico; após a resolução das equações provenientes das igualdades das matrizes dadas, determinam-se os valores das incógnitas em termos numéricos.
Não ostensivos utilizados na tarefa: noção da igualdade entre matrizes dadas e noção do algoritmo de resolução das equações geradas pelas igualdades.
Ostensivos utilizados na tarefa: ostensivo da representação matricial com incógnitas e números, ostensivo da representação simbólica de uma equação.
Níveis de conhecimento esperados para solução da tarefa: nível mobilizável, pois é preciso ter conhecimentos sobre a noção da igualdade entre matrizes e a resolução da equação do primeiro grau com uma incógnita, a fim de determinar os valores das incógnitas, para que as matrizes sejam iguais e resultem em sentenças verdadeiras.
Determine x, y e t, sabendo que: a) ⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜
⎝
⎛−=
⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜
⎝
⎛−+
⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜
⎝
⎛
54
10
51
3
zyx
b) ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛ −=⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛+⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛184
110323 zt
xzyx
Figura 46: Exemplo da tarefa 4. Fonte: Dante, 2005, p. 244
Figura 47: Solução do exemplo da Figura 46. (desenvolvida pelo pesquisador)
166
Tarefa 5: Adição de matrizes
Exemplo 1: Adição entre matrizes dadas.
APLICAÇÃO DA GRADE DE ANÁLISE
Quadro em que a tarefa é enunciada: quadro matricial numérico, pois a tarefa é enunciada utilizando a notação explícita de matriz em termos numéricos.
Quadro de solução da tarefa: quadro matricial numérico; após as devidas adições entre as matrizes dadas, representa-se utilizando a notação de matriz em termos numéricos.
Não ostensivos utilizados na tarefa: noção de matriz, noção da condição de adição entre matrizes, noção da operação adição e subtração no conjunto dos números inteiros.
Ostensivos utilizados na tarefa: ostensivo da representação matricial.
Níveis de conhecimento esperados para solução da tarefa: nível mobilizável; para solucionar a tarefa, é necessário ter conhecimentos relacionados à condição de existência da adição de duas ou mais matrizes; também é necessário que se mobilize a adição em relação ao conjunto a que pertencem os elementos das matrizes.
Dados as matrizes: A= ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡−
−10
42 B= ⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡− 06
24 e C= ⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡− 25
03, calcule:
a) A+B b) A+C c) B+C d) A+B+C
Figura 48: Exemplo de tarefa 5. Fonte: Dante, 2005, p. 244.
Figura 49: Solução do exemplo da Figura 48. (desenvolvida pelo pesquisador)
167
Exemplo 2: Representação e adição entre matrizes.
Observe os dois polígonos representados no plano cartesiano.
Esses dois polígonos são congruentes, e podemos considerar que o polígonoEFGH é uma translação do polígono ABCD, isto é, EFGH foi obtido de duas movimentações de ABCD, sendo uma na horizontal e outra na vertical.
a) Quantas unidades na horizontal e quantas unidades na vertical ABCD devem ser deslocadas para que, ao final, coincida com EFGH? b) Represente em uma matriz A(4X2) as coordenadas dos vértices do polígono ABCD, de maneira que cada linha da matriz contenha coordenadas de um ponto, com a abscissa na primeira coluna e a ordenada na segunda coluna. c) Represente em uma matriz B(4X2) as coordenadas dos vértices do polígono EFGH, de maneira que cada linha da matriz contenha coordenadas de um ponto, com a abscissa na primeira coluna e a ordenada na segunda coluna. d) Escreva uma matriz C(4X2 de tal forma que A+C=B.
Figura 50: Exemplo de tarefa 5. Fonte: Caderno do aluno, 2009, p. 3
Figura 51: Solução do exemplo da Figura 50. (desenvolvida pelo pesquisador)
168
GRADE DE ANÁLISE
Quadro em que a tarefa é enunciada: quadro da geometria analítica, pois a tarefa é enunciada, utilizando um polígono pertencente ao quadro da geometria plana, no sistema de eixos cartesianos.
Quadro de solução da tarefa: quadro matricial numérico, pois é solucionada utilizando a escrita na notação matricial.
Não ostensivos utilizados na tarefa: noção de unidades no sistema de eixos cartesianos, noção de vértice de figuras planas, noção de coordenadas, noção de translação de uma figura geométrica no plano, noção de matriz e sua representação.
Ostensivos utilizados na tarefa: ostensivo da representação geométrica plana e representação em coordenadas associadas à geometria analítica; ostensivo da representação matricial. Nesse caso, é importante ressaltar o ostensivo oral, gestual e visual, quando do discurso de passagem de um ostensivo para o outro. O ostensivo gestual já é utilizado no enunciado, quando se explicita o tipo de movimentação efetuado na figura.
Níveis de conhecimento esperados para solução da tarefa: nível mobilizável, pois, para solução da tarefa, são necessários conhecimentos com relação às figuras planas e seus vértices, ao sistema de eixos cartesianos e os conhecimentos relacionados à representação destas figuras, utilizando a representação matricial. Na realidade, trata-se de determinar a matriz de uma translação no plano, que, no Ensino Médio, só pode ser justificada por meio de uma tecnologia adequada, cuja teoria está associada à noção de transformações do plano desenvolvidas em Álgebra Linear.
Tarefa 6: Multiplicação de número por matriz
Sendo ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡−
−=
314102
A e ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡ −=
605210
B , determine:
(a) 5A (b) -2B (c) 21
A (d) 2A+3B (e) 3A-21
B (f) 5A-O2X3
Figura 52: Exemplo de tarefa 6. Fonte: Dante, 2005, p. 246
169
APLICAÇÃO DA GRADE DE ANÁLISE
Quadro em que a tarefa é enunciada: quadro matricial numérico, pois a tarefa é enunciada utilizando a notação explícita de matriz com termos numéricos.
Quadro de solução da tarefa: quadro matricial numérico, pois são utilizadas as operações de multiplicação e adição entre matrizes com termos numéricos.
Não ostensivos utilizados na tarefa: noção de matriz, noção de multiplicação de um número real por uma matriz, noção da condição para se adicionar duas ou mais matrizes, noção de matriz nula.
Ostensivos utilizados na tarefa: ostensivo da representação matricial, ostensivo gestual, oral e visual.
Níveis de conhecimento esperados para solução da tarefa: nível mobilizável, pois, para determinar a solução, são necessários conhecimentos sobre a multiplicação de um número real por uma matriz, a noção da condição para adicionar duas ou mais matrizes dadas e a noção de multiplicação e adição nos conjuntos numéricos a que pertencem os elementos das matrizes.
Figura 53: Solução do exemplo da Figura 52. (desenvolvida pelo pesquisador)
170
Tarefa 7: Multiplicação de matrizes
Exemplo 1: Multiplicação entre matrizes representadas por tabelas.
APLICAÇÃO DA GRADE DE ANÁLISE
Quadro em que a tarefa é enunciada: quadro numérico, pois a tarefa é enunciada utilizando a representação tabela com termos numéricos.
Para a fabricação de caminhões, uma indústria montadora precisa de eixos e rodas para seus três modelos de caminhões, com as seguintes especificações:
MODELOCOMPONENTES
A B C
EIXOS 2 3 4 RODAS 4 6 8
Para os dois primeiros meses do ano, a produção da fábrica deverá seguir a tabela abaixo:
MESES MODELO
JANEIRO FEVEREIRO
A 30 20 B 25 18 C 20 15
Usando a multiplicação de matrizes, responda: nessas condições, quantos eixos e quantas rodas são necessários em cada um dos meses para que a montadora atinja a produção planejada?
Figura 54: Exemplo de tarefa 7. Fonte: Dante, 2005, p. 249
Figura 55: Solução do exemplo da Figura 54. (desenvolvida pelo pesquisador)
171
Quadro de solução da tarefa: quadro matricial numérico, para multiplicação entre as matrizes e determinação do seu produto, seguido do quadro tabela numérico, pois o estudante poderá retornar ao quadro original, que permite identificar, por exemplo, a quantidade de rodas que precisam ser produzidas no mês de fevereiro.
Não ostensivos utilizados na tarefa: noção de matriz e tipo de matriz, noção da condição para efetuar a multiplicação entre duas matrizes dadas, noção de organização dos elementos na tabela e interpretação dos resultados da multiplicação por meio da tabela.
Ostensivos utilizados na tarefa: ostensivo da representação tabela, ostensivo da representação matricial, ostensivo gestual, oral e visual, quando do discurso de passagem de um ostensivo para o outro e da interpretação dos resultados encontrados.
Níveis de conhecimento esperados para solução da tarefa: nível mobilizável, pois o estudantedeverá articular conhecimentos sobre a noção de multiplicação de matrizes, ou seja, deverá efetuar a passagem da representação tabela para a representação matricial e verificar se essas matrizes satisfazem a condição de existência da multiplicação de matrizes, o que equivale à multiplicação dos elementos das tabelas fornecidas para a interpretação dos resultados. No caso da existência da multiplicação, é preciso efetuá-la, utilizando algoritmo específico. A interpretação dos resultados supõe que se disponha de situações de referência para associar as tabelas às respectivas matrizes e, finalmente, identificar os elementos da matriz produto com os dados da situação.
Exemplo 2: Multiplicação entre matrizes representadas por tabelas.
Uma empresa, que possui duas confeitarias, chamadas A e B, fabrica três tipos de bolo: 1, 2 e 3, os quais são feitos de farinha, açúcar, leite, manteiga e ovos. Em cada semana as duas confeitarias são estimadas conforme a matriz m de vendas semanais abaixo:
CONFEITARIA BOLO TIPO 1 BOLO TIPO 2 BOLO TIPO 3 A 50 UNIDADES 30 UNIDADES 25 UNIDADES B 20 UNIDADES 20 UNIDADES 40 UNIDADES
Para a fabricação desses bolos, o material é usado de acordo com a matriz n seguinte:
BOLO FARINHA
AÇÚCAR
LEITE MANTEIGA
OVOS
TIPO 1 500g 200g 500ml 150g 4 TIPO 2 400g 100g 300ml 250g 5 TIPO 3 450g 150g 600ml 0 6
A direção da empresa, a fim de atender à demanda, quer saber a quantidade de cada uma das cinco matérias-primas que deve alocar às suas duas confeitarias.
Figura 56: Exemplo de tarefa 7. Fonte: Lima, 2006, p. 131-133
172
APLICAÇÃO DA GRADE DE ANÁLISE
Quadro em que a tarefa é enunciada: quadro numérico, pois a tarefa é enunciada utilizando a representação tabela com termos numéricos.
Quadro de solução da tarefa: inicialmente, verifica-se o quadro matricial numérico, para multiplicação entre as matrizes, seguido do quadro numérico, pois o estudante poderá retornar ao quadro original.
Não ostensivos utilizados na tarefa: noção de matriz e tipo de matriz, noção da condição para efetuar a multiplicação entre duas matrizes dadas, noção de multiplicação e adição em elementos da matriz dada, noção de organização dos elementos na tabela e interpretação dos resultados da multiplicação por meio da tabela.
Ostensivos utilizados na tarefa: ostensivo da representação tabela; ostensivo da representação matricial, ostensivo gestual, oral e visual, quando do discurso de passagem de um ostensivo para o outro e da interpretação dos resultados encontrados.
Níveis de conhecimento esperados para solução da tarefa: nível disponível, o estudante deverá articular conhecimentos sobre a noção de multiplicação de matrizes, ou seja, deverá verificar se realmente existe multiplicação entre as tabelas fornecidas; em caso afirmativo, deve efetuar a multiplicação, utilizando algoritmo específico com relação à multiplicação da primeira linha da primeira matriz com os elementos da primeira coluna da segunda matriz e assim sucessivamente. A interpretação dos resultados supõe que se disponha de situações de referência para associar as tabelas às respectivas matrizes e, finalmente, identificar os elementos da matriz produto com os dados da situação. Verifica-se que não está sendo explicitamente solicitado como encontrar a quantidade de cada uma das cinco matérias-primas.
Figura 57: Solução do exemplo da Figura 56. (desenvolvida pelo pesquisador)
173
Exemplo 3: Multiplicação entre matrizes representadas por tabelas.
APLICAÇÃO DA GRADE DE ANÁLISE
Quadro em que a tarefa é enunciada: quadro numérico, pois a tarefa é enunciada utilizando a representação tabela com termos numéricos.
Quadro de solução da tarefa: para determinar a solução da tarefa, poderá ser utilizado qualquer algoritmo, mas, ao final, o aluno deverá transpor os resultados, utilizando a representação explícita
Figura 58: Exercício de tarefa 7. Fonte: Caderno do aluno, 2009, p. 7
Figura 59: Solução do exemplo da Figura 58. (desenvolvida pelo pesquisador)
No campeonato baiano da terceira divisão, após cinco rodadas, foram obtidos os seguintes resultados pelas cinco equipes participantes.
EQUIPE VITÓRIA EMPATE DERROTA
BARRO VELHO 3 2 0
CARRANCA 2 1 2
VENEZA 2 0 3
COLONIAL 1 1 3
OLARIA 1 0 4
RESULTADO PONTOS
VITÓRIA 3
EMPATE 1
DERROTA 0
Calcule quantos pontos cada time conquistou até agora e represente os resultados em uma matriz 5X1.
174
de matriz do tipo 5X1, ou seja, no quadro matricial numérico.
Não ostensivos utilizados na tarefa: noção de matriz e tipo de matriz, noção da condição para efetuar a multiplicação entre duas tabelas dadas, noção de multiplicação e adição entre elementos da tabela dada, noção de organização dos elementos na tabela e na representação matricial.
Ostensivos utilizados na tarefa: ostensivo da representação tabela; ostensivo da representação matricial; ostensivo gestual, oral e visual, quando do discurso de passagem de um ostensivo para o outro e da interpretação dos resultados encontrados.
Níveis de conhecimento esperados para solução da tarefa: nível disponível para calcular a pontuação de cada time, pois o estudante deverá articular conhecimentos sobre a multiplicação entre tabelas, que supõe a passagem da representação tabela para a representação matricial, ou seja, a multiplicação não está sendo explicitamente solicitada. Em seguida, é preciso verificar se realmente existe multiplicação entre as tabelas fornecidas; em caso afirmativo, o aluno deve efetuar a multiplicação, utilizando algoritmo específico. Finalmente, é necessário realizar a passagem da representação matricial para a representação tabela, a fim de fazer as interpretações pedidas.
Exemplo 4: Multiplicação entre matrizes dadas.
Encontre o produto AB de
⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛=
062421
A e ⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜
⎝
⎛−=
257213103414
B
Figura 60: Exemplo de tarefa 7. Fonte: Anton, 2006, p. 103.
175
APLICAÇÃO DA GRADE DE ANÁLISE
Quadro em que a tarefa é enunciada: quadro matricial numérico, pois a tarefa é enunciada por meio da representação explícita de matriz.
Quadro de solução da tarefa: quadro matricial numérico, pois, conforme orientação da obra, a tarefa é resolvida por meio de outro algoritmo, mas utilizando o mesmo quadro do enunciado, ou seja, quadro matricial numérico.
Não ostensivos utilizados na tarefa: Noção de matriz linha e matriz coluna (vetor linha e vetor coluna), noção de entradas de matrizes dadas, noção de combinação linear.
Ostensivos utilizados na tarefa: ostensivo da representação matricial, ostensivo gestual, oral e visual, quando do discurso de passagem de um ostensivo para o outro.
Níveis de conhecimento esperados para solução da tarefa: nível mobilizável, pois, para determinar o produto entre as matrizes dadas, o estudante deverá mobilizar conhecimentos relacionados à condição para multiplicação entre matrizes e do algoritmo para multiplicação de duas matrizes.
Figura 61: Solução do exemplo da Figura 60. (desenvolvida pelo pesquisador)
176
Tarefa 8: Matriz transposta
APLICAÇÃO DA GRADE DE ANÁLISE
Quadro em que a tarefa é enunciada: quadro matricial numérico, pois a tarefa é enunciada utilizando a representação explícita de matriz com termos numéricos.
Quadro de solução da tarefa: quadro matricial numérico, pois, para determinar a transposta, basta dispor as linhas em colunas, não alterando a representação inicial de notação matricial.
Não ostensivos utilizados na tarefa: noção de matriz e tipo de matriz, noção de matriz transposta.
Ostensivos utilizados na tarefa: ostensivo da representação matricial, ostensivo gestual, ostensivo oral.
Níveis de conhecimento esperados para solução da tarefa: nível mobilizável, pois, para determinar a transposta de uma matriz dada, são necessários conhecimentos relacionados com a noção de matriz e a transposta desta, utilizando a representação correta.
Figura 63: Solução do exemplo da Figura 62. (desenvolvida pelo pesquisador)
Escreva a matriz transposta das seguintes matrizes:
a) ( )625=A b) ⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜
⎝
⎛−=
604152
B c) ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−
−=
1524
C d) ⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜
⎝
⎛
−=
341500231
D
Figura 62: Exemplo de tarefa 8. Fonte: Dante, 2005, p. 246
177
Tarefa 9: Matriz inversa
Exemplo 1: Cálculo da inversa de uma matriz.
APLICAÇÃO DA GRADE DE ANÁLISE
Quadro em que a tarefa é enunciada: quadro matricial numérico, pois a tarefa é enunciada utilizando a representação explícita de matriz.
Quadro de solução da tarefa: inicialmente, desenvolve-se a tarefa no quadro algébrico, ao considerar que o produto da matriz pela sua inversa é igual à matriz identidade, onde a matriz inversa é representada algebricamente. A partir da relação A.A–1 = I, encontra-se um sistema de equações lineares com duas equações com duas incógnitas e utiliza-se o quadro do sistema de equações lineares, para calcular os elementos da matriz inversa. A tarefa é solucionada no quadro matricial numérico, pois, após determinar o valor das incógnitas, estas devem ser representadas na representação matricial.
Não ostensivos utilizados na tarefa: noção da propriedade das matrizes, noção de multiplicação e igualdade entre matrizes, noção de sistemas de equações lineares e um método para sua solução, noção de posição e representação dos valores calculados na forma de matriz.
Ostensivos utilizados na tarefa: ostensivo da representação algébrica; ostensivo da representação matricial; ostensivo oral, gestual e visual, quando do discurso de passagem de um ostensivo para o outro.
Níveis de conhecimento esperados para solução da tarefa: nível mobilizável, pois, para determinar a inversa da matriz, necessita-se de conhecimentos relacionados à definição de matriz inversa, que supõe que se disponha de conhecimentos, operações e propriedades das matrizes e
Determine, se existir, a inversa de cada uma das seguintes matrizes:
a) ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛=
2031
A b) ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛=
42105
A c) ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛=
5432
A d) ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛=
3121
A
Figura 64: Exemplo de tarefa 9. Fonte: Dante, 2005, p. 250.
Figura 65: Solução do exemplo da Figura 64. (desenvolvida pelo pesquisador)
178
da definição de sistemas de equações lineares, assim como de um método de resolução desse tipo de sistema. Nos exemplos abaixo, ilustram-se outros métodos para a determinação da inversa de uma matriz.
Exemplo 2: Verificação e determinação da matriz inversa.
APLICAÇÃO DA GRADE DE ANÁLISE
Quadro em que a tarefa é enunciada: quadro matricial numérico, pois a tarefa é enunciada utilizando a representação explícita de matriz.
Quadro de solução da tarefa: quadro numérico, pois, neste caso, é utilizado o algoritmo (escalonamento) para determinar o que é solicitado, representando a matriz inversa em notação matricial com termos numéricos.
Não ostensivos utilizados na tarefa: noção de matriz, suas propriedades e operações, noção do processo de escalonamento para obter a matriz inversa, noção de adição e subtração entre os elementos da matriz.
Ostensivos utilizados na tarefa: ostensivo da representação matricial; ostensivo da gestual, oral e visual, quando do discurso de passagem de um ostensivo para o outro.
Níveis de conhecimento esperados para solução da tarefa: nível mobilizável, pois, para
Figura 66: Exemplo de tarefa 9. Fonte: Callioli, 1983, p. 34.
Figura 67: Solução do exemplo da Figura 66. (desenvolvida pelo pesquisador)
Verificar se a matriz A abaixo é inversível e, se o for, determinar sua inversa:
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡=
111210121
A
179
solucionar a tarefa, o estudante deverá dispor de conhecimentos relacionados à noção de matriz, inversa de matriz e o método de escalonamento de matrizes, que permite solucionar o que é explicitamente pedido. Nesse caso, como se pede para verificar se existe a inversa, é preciso dispor da noção de determinante, pois a inversa de uma matriz só existe quando o determinante da matriz dada é diferente de zero.
Exemplo 3: Cálculo da matriz inversa por meio de determinantes.
APLICAÇÃO DA GRADE DE ANÁLISE
Quadro em que a tarefa é enunciada: quadro matricial numérico, pois a tarefa é enunciada utilizando a notação explícita de matriz.
Quadro de solução da tarefa: quadro matricial numérico, mas durante o processo é utilizado o quadro dos determinantes, para utilização do teorema enunciado para cálculo da matriz inversa, utilizando o determinante de uma matriz.
Não ostensivos utilizados na tarefa: noção de determinantes, suas operações e propriedades, incluindo a noção de cofator, a noção de matriz adjunta e matriz transposta. E o teorema associado à inversa de uma matriz e à transposta da matriz dos cofatores.
Ostensivos utilizados na tarefa: ostensivo da representação matricial; ostensivo da gestual, oral e visual, quando do discurso de passagem de um ostensivo para o outro.
Calcular, usando a teoria precedente, as inversas das seguintes matrizes:
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡=
5835
A,
⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡−
−=
51027
B , ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡ −=
senaaasena
Ccos
cos ,
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡=
300020001
D,
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡=
011101010
E e
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡=
175013001
F
Figura 68: Exemplo de tarefa 9. Fonte: Iezzi, 1985, p.112-D.
Figura 69: Solução do exemplo da Figura 68. (desenvolvida pelo pesquisador)
180
Níveis de conhecimento esperados para solução da tarefa: nível disponível, pois, mesmo sendo pedido explicitamente que se determine a inversa de uma matriz, o método apresentado exige outros conhecimentos associados à noção de determinantes de uma matriz, suas operações e propriedades, que podem ou não ser trabalhados quando se estuda a inversa de uma matriz.
Tarefa 10: Equações matriciais
Exemplo 1: Equações que utilizam matrizes.
APLICAÇÃO DA GRADE DE ANÁLISE
Quadro em que a tarefa é enunciada: quadro matricial numérico, pois a tarefa é enunciada utilizando a representação explícita de matriz, e o quadro algébrico, utilizado para enunciar a equação.
Quadro de solução da tarefa: quadro algébrico para redução da equação apresentada e quadro numérico para determinar a matriz X.
Não ostensivos utilizados na tarefa: noção da propriedade distributiva da multiplicação, noção do algoritmo para solução e redução da equação do primeiro grau, noção de multiplicação de um número real por uma matriz, noção de condição e adição entre matrizes.
Equações matriciais.
Sendo ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−
=13
12A , ⎟⎟
⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛−=
0121
B e ⎟⎟⎠
⎞⎜⎜⎝
⎛ −=
1214
C , determine a matriz X, que verifica
a igualdade 3(X-A)=2(B+X)+6C.
Figura 70: Exemplo de tarefa 10. Fonte: Dante, 2005, p. 251
Figura 71: Solução do exemplo da Figura 70. (desenvolvida pelo pesquisador)
181
Ostensivos utilizados na tarefa: ostensivo da representação matricial; ostensivo da representação algébrica; ostensivo gestual, oral e visual, quando do discurso de passagem de um ostensivo para o outro.
Níveis de conhecimento esperado para solução da tarefa: nível mobilizável, pois o estudante deverá mobilizar conhecimentos relacionados à noção de matriz e suas operações e à noção do algoritmo e resolução de equações do primeiro grau. Observa-se aqui que a solução da equação sem utilizar as matrizes dadas só é possível, pois o conjunto das matrizes, munido das operações de adição e multiplicação por escalar, é um espaço vetorial sobre o conjunto dos números reais. Mesmo se essa noção não for trabalhada no Ensino Médio, pode-se revisitar esse exemplo, ao introduzir a noção de espaço vetorial no Ensino Superior, quando é possível apresentar a descrição, a interpretação e a justificativa teórica da técnica utilizada.
Exemplo 2: Sistemas que utilizam matrizes.
APLICAÇÃO DA GRADE DE ANÁLISE
Quadro em que a tarefa é enunciada: quadro dos sistemas lineares, pois a tarefa enuncia duas equações com duas incógnitas, em função da matriz A e B, que se encontram no quadro matricial
Sendo A e B as matrizes do exercício 1, determine matrizes X, Y ∈ M3 (IR) de
maneira que: ⎩⎨⎧
−=++=−BAYXBAYX2
As matrizes A e B são: ⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜
⎝
⎛=
400020001
A e
⎟⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜⎜
⎝
⎛=
100020004
B
Figura 72: Exemplo de tarefa 10. Fonte: Callioli, 1983, p. 28.
Figura 73: Solução do exemplo da Figura 72. (desenvolvida pelo pesquisador)
182
numérico.
Quadro de solução da tarefa: quadro matricial numérico, pois encontram-se e registram-se os respectivos valores de X e Y, utilizando a notação explícita de matriz com termos numéricos.
Não ostensivos utilizados na tarefa: noção de sistema de equações lineares e um método para solução desse sistema, noção de multiplicação de um número real por uma matriz, noção de adição entre matrizes, noção de representação matricial.
Ostensivos utilizados na tarefa: ostensivo da representação algébrica; ostensivo da representação matricial; ostensivo gestual, oral e visual, quando do discurso de passagem de um ostensivo para o outro.
Níveis de conhecimento esperados para solução da tarefa: nível mobilizável, pois, para executar o que é solicitado, necessita-se de conhecimentos relacionados à noção de sistema de equações lineares e um método para solução desses sistemas, e da noção de matriz, para efetuar a representação matricial numérica das matrizes solicitadas.
5.5 Considerações finais sobre o capítulo.
Este capítulo permitiu repensar as possibilidades de estabelecer algumas tarefas
importantes para as noções de matrizes e se estas podem ser desenvolvidas em
outros quadros, com o objetivo de efetuar as devidas mobilizações dos
conhecimentos e as articulações possíveis, quando se trabalha com a noção de
matrizes, com suas operações e propriedades, tanto no Ensino Médio como no
Ensino Superior.
Certamente, essas articulações exigem a introdução de novos conhecimentos
tecnológicos e teóricos associados à noção de matriz, que dependem da etapa
escolar em que se está trabalhando com essa noção e de seu papel ferramenta ou
objeto que se deseja introduzir.
As tarefas aqui exemplificadas são consideradas nesta pesquisa como relações
institucionais existentes em função do que está sendo considerado, ou seja, as
noções de matrizes, que foram extraídas de várias obras para o seu ensino na etapa
final da Educação Básica que possibilitaram a distinção de dez tarefas e a aplicação
dos diferentes itens da grade de análise do campo de estudo; e oportunizaram
refletir sobre um trabalho diferenciado nas instituições de ensino, seja no Ensino
Médio ou Superior.
As análises descritas na grade permitiram verificar que grande parte das tarefas
disponibilizadas aos estudantes se encontram no nível mobilizável, o que pode
significar que eles devam aprender as noções básicas, para mobilizar e desenvolver
183
as tarefas que são oferecidas, cabendo aos professores desenvolver tarefas que
levem os estudantes a articular o nível disponível, o que supõe considerar que estes
devam tornar-se autônomos para determinar o melhor processo de execução de
uma determinada tarefa.
Esse resultado das análises que identifica as tarefas, exigindo quase
exclusivamente o nível mobilizável, está associado ao papel ferramenta da noção de
matriz, de suas operações e propriedades, no desenvolvimento de situações
associadas a outras noções matemáticas que podem ser tratadas de outras formas.
Mas é importante ressaltar que é esse papel facilitador do desenvolvimento do
trabalho matemático por meio de algoritmos de programação que torna a noção de
matrizes, suas operações e propriedades tão importantes para a computação e a
informática.
184
CAPÍTULO 6 ANÁLISE DAS RELAÇÕES INSTITUCIONAIS EXISTENTES
6.1 Considerações iniciais sobre o capítulo
No capítulo 3 apresentaram-se as análises das relações institucionais esperadas
para o ensino e a aprendizagem da noção de matriz, suas operações e propriedades
no Ensino Médio, efetuadas por meio dos documentos oficiais, como os Parâmetros
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, as Orientações Curriculares Nacionais
para o Ensino Médio e a Nova Proposta Curricular do Estado de São Paulo.
Estudaram-se ainda no capítulo 4, via planos de ensino de duas universidades
públicas e duas universidades privadas, essas mesmas relações, quando se
considera o trabalho a ser realizado com a noção de matriz, suas operações e
propriedades na disciplina de Álgebra Linear.
Para identificar como essas relações podem ser abordadas, escolhe-se estudar o
tratamento dado às noções matriciais em alguns livros didáticos para o Ensino
Médio, como a obra de Dante (2005), por ter sido esta bem avaliada pelo Programa
Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEN, 2009); o livro didático, de
autoria de Lima et al. (2006), destinado a professores e futuros professores do
Ensino Médio, por ser uma obra de aperfeiçoamento destinada a esse público; o
Caderno do aluno (2009)19, segundo a Nova Proposta do Estado de São Paulo
(2008), por ser uma relação institucional existente e presente nas escolas públicas; a
obra de Callioli (1983) – Álgebra linear e aplicações —, comumente adotada pelas
quatro universidades escolhidas para as análises propostas nessa pesquisa; e a
obra de Anton (2006), por realizar um tratamento moderno para o ensino da álgebra
linear, isto é, iniciando com o estudo dos espaços vetoriais de IRn centrado na noção
de sistemas de equações lineares, em que a noção de matriz pode servir de
ferramenta para o desenvolvimento de tarefas que envolvem esses sistemas.
Como já anunciado acima, a escolha do livro de Dante (2005) está associada à
avaliação pelo PNLEM (2009); portanto, abaixo se faz um breve comentário sobre o
19 Caderno do aluno: chamado assim pela Secretaria de Estado da Educação de São Paulo.
185
programa e as análises dos livros didáticos considerados pelos avaliadores,
justificando nossa escolha.
O PNLEM foi implantado em 2004 pelo Ministério da Educação e Cultura, e seu
objetivo é a universalização de livros didáticos para os estudantes do Ensino Médio
público de todo país. Inicialmente, o programa distribuiu livros das disciplinas de
Português e Matemática e atualmente já atende as demais disciplinas, “beneficiando
todas as regiões brasileiras”, que são cadastradas no censo escolar realizado
anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP/MEC). Dessa forma, trata-se de uma fonte apropriada para uma
pesquisa documental, mas certamente apenas se aproxima das possíveis relações
institucionais existentes para o desenvolvimento de uma noção matemática no
Ensino Médio.
Segundo o MEC, a avaliação dos livros que se encontram no Catálogo Nacional
do Livro Didático para o Ensino Médio (2009) é efetuada por renomadas instituições
públicas superiores, que organizam equipes formadas por docentes da Educação
Básica, com qualificação mínima de mestrado, e por pesquisadores e professores
universitários com experiência acadêmica, didática e pedagógica. Cada obra é
avaliada por, pelo menos, duas equipes; e, caso não haja consenso, o livro é
submetido a uma terceira. Todas observam os critérios preestabelecidos pelos
órgãos federais e divulgados nos Parâmetros Curriculares Nacionais e nas
Orientações Curriculares Nacionais; ou seja, são obras que seguem as propostas e
as expectativas desenvolvidas nos documentos oficiais que, na nossa pesquisa, são
considerados como as relações institucionais esperadas.
No Catálogo do Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (2009),
encontram-se os livros destinados ao Ensino Médio — isto é, a relação institucional
existente — e as indicações dos PCN+, ou seja, as relações institucionais esperadas
(Anexo XLVIII). Assim as descrições apresentadas (Anexo XLVIII) indicam que o
livro de Dante (2005b) é uma obra bem avaliada, no catálogo do PNLEM. Segundo
essa avaliação e conforme sintetizado, a obra supriu com louvor todas as categorias
de análise — a seleção dos conteúdos, a distribuição dos conteúdos, a abordagem
dos conteúdos, sua articulação, a sistematização, a contextualização, as atividades
e a metodologia de ensino e aprendizagem —, o que justifica a escolha deste livro
186
didático para as análises das relações institucionais existentes, propostas nesta
pesquisa.
Outro livro escolhido para ser analisado é a obra dirigida a professores e
estudantes universitários da área de ciências exatas, em especial àqueles que
pretendem dedicar-se ao ensino da matemática, A Matemática do Ensino Médio –
coleção do professor de Matemática, volume 3, de Lima et al. (2006). Trata-se de um
livro que é resultado de um curso destinado aos professores e que foi desenvolvido
por pesquisadores do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), a partir das
propostas e das indicações dos PCNEM e dos PCN+, uma obra importante para os
professores e futuros professores de matemática de todos os níveis. Segundo os
autores, esta coleção tem o objetivo de proporcionar ao professor do Ensino Básico
uma fonte de referência e de atualização para os conteúdos de matemática
ensinados na escola. O livro é distribuído pela Sociedade Brasileira de Matemática
e, como já anunciado acima, sua elaboração ocorreu em cursos de aperfeiçoamento
de professores patrocinados por VITAE – apoio à Cultura, Educação e Promoção
Social, uma associação civil sem fins lucrativos que apóia projetos nas áreas de
cultura, educação e promoção social.
Analisa-se também o caderno distribuído aos estudantes e professores (edição
2009), pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, por tratar-se de uma
nova proposta que vem sendo implementada a partir de 2008 e que é utilizada por
professores e estudantes do ensino público do estado de São Paulo. Esses
cadernos foram distribuídos pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo
somente para as escolas públicas e foram desenvolvidos por equipes de renomados
professores. O objetivo desse novo material é aplicar os conteúdos mínimos, para
que todos tenham a mesma oportunidade de desenvolver as competências básicas,
levando em consideração a série e a idade dos alunos. Na realidade, os cadernos
tentam pôr ordem a infinidade de organizações praxeológicas existentes, uma vez
que os professores podiam escolher tanto os temas a serem trabalhados como as
diferentes metodologias e o nível de conhecimento que esperavam desenvolver com
seus estudantes. Trata-se, aqui, de garantir um conteúdo mínimo que possa auxiliar
a melhorar o desempenho dos estudantes, em particular, quando se consideram as
avaliações institucionais.
187
Finalmente, analisam-se duas obras destinadas ao Ensino Superior, a de Callioli
(1983) e a de Anton (2006)20, escolhidas segundo o seguinte critério: a primeira é
uma obra adotada pelos cursos de matemática das quatro universidades
investigadas nesta pesquisa, segundo registro em seus planos de ensino (relações
institucionais esperadas); e a segunda corresponde a uma visão mais moderna de
tratamento da álgebra linear, que também faz parte da bibliografia básica do curso
de Licenciatura de Matemática de uma dessas universidades e indica uma nova
perspectiva para o tratamento das noções de álgebra linear, mais centrado no
estudo dos espaços vetoriais de IR2, IR3 e IRn, dando ênfase ao estudo do conjunto
solução desses sistemas, que permite articular o quadro da álgebra linear com o
quadro dos sistemas lineares e com o quadro das matrizes.
Essas obras são analisadas por fornecerem um “olhar” diferenciado não apenas
sobre as possibilidades de articulação das noções, dos teoremas e das proposições,
associados ao conceito de matriz, suas operações e propriedades, mas também
sobre outros quadros, como os da aritmética, da álgebra, da geometria plana, das
funções, da geometria analítica, dos determinantes e dos sistemas lineares; e por
possibilitarem também a interação entre conhecimentos prévios e novos
conhecimentos, o que pode auxiliar na naturalização e na compreensão das técnicas
propostas.
Além disso, a escolha dessas obras deve-se ao fato de serem indicações
construídas com a intenção de orientar a prática diária tanto do professor como dos
estudantes e, assim, auxiliá-los a efetuar escolhas e mudanças aceitáveis, mais
adequadas às suas próprias realidades, para o desenvolvimento das técnicas
possíveis em função das tecnologias e das teorias de que cada um deles dispõe,
pois, segundo os PCNEM, o topos esperado do estudante do Ensino Médio é que
ele seja autônomo e responsável pelo seu próprio desenvolvimento; isto é, ele deve
ter consciência do trabalho a ser executado, procurando outros meios para melhorar
o seu desempenho. Certamente, espera-se que o estudante do Ensino Superior já
disponha dessas competências.
20Escolhe‐se uma versão mais atualizada da obra de Howard Anton (2006).
188
Após as considerações iniciais registradas acima e as justificativas necessárias
para as indicações escolhidas, apresentam-se os procedimentos adotados para as
análises das obras mencionadas.
6.2 A análise das obras didáticas
Inicia-se a apresentação das análises efetuadas nas obras didáticas com um
comentário sobre a obra, que permite mostrar a apresentação geral das noções
associadas ao conceito de matriz; em seguida, em função das tarefas referidas no 5º
Capítulo, procura-se identificar as técnicas associadas e, consequentemente, as
tecnologias e as teorias que as acompanham.
As obras analisadas estão dispostas a seguir.
Tabela 12: Obras didáticas investigadas na pesquisa.
LIVROS ANO ED. DÉC. PNLEM
Lima, E. L. et al. A matemática do Ensino Médio – Coleção do
Professor de Matemática. Volume 3. 1996. SBM
2006 6ª 90
Dante, L. R. Matemática. Volume único. 1. ed. São Paulo: Ática,
2005.
2005 1ª - 2009
Caderno do aluno – Nova Proposta Curricular do Estado de São
Paulo 2008. SEESP, 2009.
2009 1ª -
Callioli, C. A. et al. Álgebra linear e aplicações. 4. ed. rev. São
Paulo: Atual, 1983.
1983 4ª 80
Anton, H. et al. Álgebra linear contemporânea, Tradução Claus Ivo
Doering. 1. ed. Porto alegre: Bookman, 2006. Reimp. 2008.
2006 1ª -
Tabela elaborada pelo pesquisador
As análises destas obras serão conduzidas por meio das seguintes questões:
a) A noção de matriz, suas operações e propriedades estão presentes na obra,
para serem trabalhadas com os estudantes?
b) As noções de sistemas de equações lineares por meio da representação
matricial são trabalhadas na obra? O estudo das possibilidades de solução é
desenvolvido no quadro das matrizes?
c) Quais quadros são considerados e quais são as articulações entre eles?
189
d) Quais os não ostensivos evocados?
e) Quais os ostensivos utilizados?
f) Que nível de conhecimento é esperado dos estudantes para o trabalho com
essas noções?
Para responder as questões acima, será utilizada a ferramenta topos do professor
e do estudante, ou seja, procurar-se-á identificar qual parte fica a cargo do professor
e o que é da responsabilidade do estudante, em função da proposta da obra; ou
seja, se esta é apresentada por capítulo, em que se introduz a noção e se
desenvolvem alguns exemplos, e, em seguida, é apresentada uma lista de tarefas
(exercícios propostos). Considera-se, para efeito de análise, que a introdução da
noção e dos exemplos corresponde ao topos do professor, enquanto as tarefas
propostas dizem respeito ao topos do estudante.
Inicia-se com a análise da obra de Lima et al. (2006), que representa uma
proposta diferenciada para um curso para professores do Ensino Médio e
professores estudantes, que pode auxiliá-los a desenvolver as articulações dos
conhecimentos matemáticos propostas nos Parâmetros Curriculares Nacionais +
(BRASIL, 2002).
6.3 Análise da obra de Elon Lages Lima et al. – A matemática do Ensino Médio.
6.3.1 Comentários e análises
Apresentada em três volumes, a obra desenvolve a parte conceitual dividida em
teorias, exemplos e exercícios para as noções matemáticas a serem trabalhadas no
Ensino Médio, e um quarto volume corresponde à solução de todas as tarefas
propostas nos três primeiros.
A noção de matriz, suas operações e propriedades e a de determinante de uma
matriz são desenvolvidas no quarto capítulo do terceiro volume. Nesse mesmo
volume, o primeiro capítulo trata das noções de geometria analítica plana por meio
de uma abordagem teórica das tecnologias que justificam as técnicas nas diferentes
obras indicadas para o Ensino Médio. O desenvolvimento desse trabalho é ilustrado
por ostensivos de representação geométrica que auxiliam a visualização das
190
representações cartesianas (equações); estas constituem os ostensivos de
representação algébrica para a manipulação dos não ostensivos que lhes são
associados.
No segundo capítulo, os conceitos associados à geometria analítica espacial são
trabalhados da mesma forma que a descrita acima para a geometria analítica plana,
mas observa-se ainda que, nesse caso, é introduzida a noção de vetores no espaço
e de ostensivos de representação paramétrica de retas no espaço. Mesmo
introduzindo a noção de vetores no espaço, representados por meio dos ostensivos
de representação biponto →
'PP e o ostensivo de representação por coordenadas, não
existe articulação entre essa noção e as noções de retas e planos no espaço. Para
essas noções, são considerados apenas os diferentes ostensivos de representação
utilizados no Ensino Médio, ou seja, ostensivo de representação paramétrica
(equação paramétrica) de retas no espaço e ostensivo de representação cartesiana
(equação do plano) de planos no espaço, o que deixa evidente que a articulação
entre representações cartesianas e paramétricas de retas e planos no espaço não é
considerada.
No terceiro capítulo é introduzida a noção de sistemas de equações lineares, e a
noção de matriz já é utilizada como ferramenta explícita para estudo das condições
de solução, que são apresentadas por meio de ostensivos de representação
paramétrica; isto é, implicitamente é tratada a passagem do ostensivo de
representação cartesiana para o ostensivo de representação paramétrica, o que
poderá ser utilizado como conhecimento prévio no estudo dos espaços vetoriais de
IRn no Ensino Superior. Observa-se ainda que o estudo da solução e das
possibilidades de solução dos sistemas lineares 3x3 é acompanhado de seus
respectivos ostensivos de representação geométrica, o que possibilita a visualização
das intersecções de planos no espaço.
A obra tem como objetivo fornecer meios para o aperfeiçoamento dos professores
de matemática e dos estudantes professores21; portanto, algumas noções são
tratadas sem considerar exemplos de casos particulares, uma vez que
21 Estudantes professores: estudantes do curso de licenciatura em matemática, como também outros professores licenciados que estão se aperfeiçoando.
191
provavelmente os autores supõem que esses profissionais já dominem esse
trabalho. Para as noções de matrizes e determinantes, a adição de matrizes e suas
propriedades, assim como a multiplicação de um escalar por uma matriz e suas
propriedades, não são tratadas explicitamente e identificam-se apenas os conceitos
descritos no Quadro 47, abaixo:
- Matrizes e determinantes: - Introdução - Multiplicação entre matrizes - Determinantes - Regra de Cramer - Determinante do produto de duas matrizes - Caracterização das matrizes invertíveis
Quadro 31: Conteúdos desenvolvidos na obra, relacionados às noções de matrizes.
No capítulo referente às noções registradas (Quadro 31), estas são introduzidas
por meio de um discurso tecnológico-teórico que articula a noção de vetores de IRn e
matrizes e de matrizes e sistemas lineares. Para os autores, a novidade operacional
está associada à multiplicação de matrizes, o que lhes permite associar essa
operação com a noção de transformações lineares em que o produto de matrizes é
naturalmente definido como a matriz associada à composta de duas transformações
lineares, ou seja, o discurso teórico justifica a tecnologia utilizada para descrever,
interpretar e justificar a técnica de multiplicação de duas matrizes.
A partir dessa breve introdução teórica, os autores chamam a atenção para o fato
de que, apesar de esse trabalho não poder ser realizado no Ensino Médio, é
importante que a noção de matriz e, em particular, a multiplicação de matrizes sejam
introduzidas por meio de exemplos simples, como o da tabela apresentada na Figura
74, que auxilia a definir o produto de duas matrizes quaisquer e articular com a
noção de produto interno entre dois vetores quaisquer. Portanto, observam-se, aqui,
claramente, a descrição, a interpretação e a justificativa teórica da técnica e da
respectiva tecnologia apresentada no Ensino Médio sobre a multiplicação de
matrizes. Esse trabalho pode auxiliar o professor a compreender melhor a
importância dessa noção para os estudantes do Ensino Médio e encontrar meios
para explicitar esse interesse, quando necessário.
192
Na sequência, é definida a noção de determinante de uma matriz e suas
propriedades, que são introduzidas articuladas com a noção de vetores e
dependência linear; é também exposta a regra de Cramer como nova técnica para
resolver sistemas lineares. Os autores apresentam as vantagens e desvantagens
desse método.
O estudo do produto de duas matrizes permite que os autores demonstrem que
quatro pontos não coplanares no espaço determinam um paralelepípedo, cujo
Figura 74: Exemplo de tarefa de multiplicação de matrizes. Fonte: Lima, 2006, p.131-133.
193
volume é igual ao valor absoluto do determinante da matriz dos vetores
estabelecidos por esses pontos. Essa demonstração é efetuada por meio da
articulação entre a noção de vetores no espaço, representados por meio do
ostensivo de representação coordenada, e a noção de paralelepípedo, explicitada
por meio do ostensivo de representação geométrico, um sistema de eixos
determinados pelos quatro pontos que constituem o paralelepípedo.
A noção de determinante é finalmente utilizada para enunciar e demonstrar o
teorema que permite caracterizar a invertibilidade de uma matriz.
Para efetuar a introdução das noções de matrizes, os autores utilizam a
representação no quadro matricial algébrico, trabalhando com a idéia geral de que
uma matriz é frequentemente utilizada para organizar dados; no Ensino Médio, tal
noção é desenvolvida, em geral, como no quadro dos sistemas de equações
lineares, para facilitar o desenvolvimento do método do escalonamento. Além disso,
a noção de matrizes pode surgir para facilitar o trabalho em situações que envolvam
a utilização de vetores, o que fica evidente quando da justificativa das propriedades
de determinantes e do produto de matrizes como a composta de duas
transformações lineares.
Os autores abordam alguns exemplos que utilizam operações e representações
de algumas matrizes, como, por exemplo, a matriz quadrada. Também esboçam a
noção sobre a posição de um determinado elemento na matriz, em termos de
números índices, em que i corresponde à posição na linha, e j, à posição na coluna
(aij). Além disso, algumas noções de matrizes, suas operações e propriedades são
mencionadas e rapidamente revisitadas, para articulá-las com outros objetos
matemáticos que fazem parte do conteúdo abordado no Ensino Médio. Ou seja,
desenvolvem-se algumas técnicas que lhes são associadas, por meio de situações
contextualizadas. Assim, um dos primeiros exemplos abordados (Figura 74), já
apresentado, corresponde ao quadro numérico, envolvendo uma empresa que
possui duas confeitarias; o objetivo da tarefa é mostrar a importância da
multiplicação entre duas matrizes como meio de efetuar os cálculos necessários
para a tomada de decisão, que atualmente são realizados por meio de softwares.
Sendo assim, a noção de matrizes é considerada um facilitador para esse tipo de
194
trabalho. Essa necessidade conduz à introdução da noção de vetor, que será
retrabalhada em álgebra linear por aqueles que seguirem seus estudos superiores.
São apresentados também outros exemplos no quadro matricial numérico,
envolvendo a multiplicação entre matrizes, o que permite colocar em evidência a
distinção entre o produto de matrizes e o produto de números. Isso conduz os
autores à introdução da noção de determinantes, que possibilita a caracterização da
existência da inversa de uma matriz.
Fica claro que os autores abordam os exemplos e os exercícios, supondo que os
estudantes detenham conhecimentos referentes às dez tarefas consideradas nesta
pesquisa e apresentadas no 5º capítulo, mas desenvolvem outras tarefas, como, por
exemplo, a associação da noção de matriz com a noção de vetores tanto de IR2
como de IR3; dedicam-se também a outros tópicos que não fazem parte das
relações institucionais esperadas para a noção de matriz no Ensino Médio22,
segundo verificado nos livros presentes no Catálogo Nacional do Programa Nacional
do Livro Didático para o Ensino Médio (2009), como a matriz de Gram dos vetores
dados, o traço de uma matriz, a matriz quadrada ortogonal e o posto de uma matriz.
Lima et al. oferecem também o desenvolvimento de tarefas articuladas com as
noções de transformações lineares, raramente desenvolvidas no Ensino Médio, o
que deixa evidente o papel desempenhado pela obra: apresentar as descrições, as
interpretações e as justificativas teóricas para as tecnologias apresentadas no
Ensino Médio como meios para descrever, interpretar e justificar as técnicas
uilizadas.
Em razão da suposição referida no parágrafo anterior, cabe aos autores buscar
alguns conhecimentos esquecidos ou talvez não apropriados pelos alunos no Ensino
Médio e mesmo em sua formação específica no Ensino Superior, uma vez que, no
desenvolvimento da obra, Lima et al. não apresentam sequências de cálulos, mas
um texto, em linguagem natural, que explica, exemplifica e ilustra o trabalho que está
sendo efetuado.
22 Ensino Médio: por não fazer parte dos conteúdos comumente adotados no Ensino Médio, não compõe a nossa lista de 10 tarefas, conforme o capítulo 5 deste trabalho.
195
Considerando a grade de análise e as tarefas nela classificadas de acordo com o
5º capítulo desta pesquisa, apresenta-se (Tabela 13) a parte do trabalho do
professor (topos do professor), isto é, as tarefas resolvidas que envolvem a noção
matricial; e o que representa a parte do estudante (topos do estudante), isto é, as
tarefas propostas para serem resolvidas pelos estudantes nesse capítulo.
Tabela 13: Tarefas desenvolvidas na obra de Elon Lages Lima et al.
TAREFAS QUANTIDADE EXERCICIO PROFESSOR
PORC. EXERCÍCIO PROFESSOR
QUANTIDADE EXERCÍCIO ESTUDANTE
PORC. EXERCÍCIO ESTUDANTE
Tarefa 1: Tipos de matrizes e suas representações - - - -
Tarefa 2: Representação algébrica de uma matriz - - - -
Tarefa 3: Matrizes especiais - - 3 27%
Tarefa 4: Igualdade entre matrizes - - - -
Tarefa 5: Adição de matrizes - - 1 9%
Tarefa 6: Produto de número por matrizes - - 1 9%
Tarefa 7: Multiplicação de matrizes 4 80% 4 37%
Tarefa 8: Matriz transposta - - - -
Tarefa 9: Matriz inversa 1 20% 2 18%
Tarefa 10: Equações matriciais - - - -
TOTAL 5 100% 11 100%
Tabela elaborada pelo pesquisador
O topos do professor, ou seja, o número de tarefas resolvidas permite dizer que
nesta obra, em especial em seu 4º capítulo, os autores privilegiam o estudo das
multiplicações de matrizes (80% das tarefas resolvidas), que corresponde ao nível
mobilizável, pois, ao efetuar uma multiplicação de matrizes, o estudante deverá,
além das técnicas de multiplicação e adição e do ostensivo de representação escrita
e gestual, mobilizar conhecimentos prévios que garantam a condição de
multiplicação entre duas matrizes, conforme solicitado em cada enunciado da
questão proposta na obra. O desenvolvimento da matriz inversa é realizado apenas
com um exemplo genérico que supõe a articulação com a noção de sistemas de
equações lineares tratada no capítulo anterior, correspondendo, assim, a uma
evocação que deve ser feita pelo professor; isto é, faz parte do topos do professor.
196
As tarefas apresentadas na grade e que não aparecem são articuladas de forma
implícita nas operações que envolvem multiplicação de matrizes e inversa de matriz,
uma vez que, para desenvolver as técnicas possíveis, o estudante deve conhecer
previamente as dez tarefas consideradas. O objetivo da obra é o aperfeiçoamento
do professor do Ensino Médio, que se supõe esteja habituado a desenvolver com
seus estudantes as tarefas apresentadas na grade. Portanto, cabe ao professor e
aos estudantes abrir uma ampla discussão, colocando em jogo as técnicas
envolvidas em cada tarefa desta obra.
Para o topos do estudante, há poucas tarefas referentes de forma explícita à
noção de matriz, relacionadas ao Ensino Médio; o maior percentual delas é
destinado a multiplicação entre duas matrizes (37%), acompanhado de matrizes
especiais, com 27%; e a inversa de uma matriz, com 18%. No decorrer das tarefas
apresentadas, percebe-se que cabe ao estudante obter os conhecimentos básicos
referentes à noção de matriz, suas operações e propriedades, pois, caso contrário,
poderá encontrar dificuldades para desenvolver todas as tarefas registradas nesta
obra. Ou seja, o estudante deverá responsabilizar-se e apropriar-se de
conhecimentos anteriores para solucionar cada um dos 26 exercícios apresentados
no referido capítulo da obra, o que é compreensível, pois espera-se que os
estudantes do Ensino Médio tenham autonomia para planejar e desenvolver sua
própria formação; portanto, essa competência já deve estar incorporada por futuros
professores e professores.
Ao verificar os exercícios propostos aos estudantes, surgem outras tarefas
referentes à noção de matriz que, segundo os documentos oficiais analisados, não
fazem parte das relações institucionais existentes para o Ensino Médio; mas que
correspondem a conhecimentos desenvolvidos na disciplina de Álgebra Linear no
Ensino Superior e que se supõe possam ser mobilizados pelos professores e pelos
futuros professores.
Para melhor identificar as noções que se espera que componham os
conhecimentos prévios de professores e futuros professores, registram-se na
sequência (Quadro 32) as novas tarefas encontradas na análise efetuada.
197
Tarefa: Traço da matriz Tarefa: Transformação linear Tarefa: Matriz ortogonal Tarefa: Posto de uma matriz Tarefa: Produto vetorial Tarefa: Combinação linear e dependência linear Tarefa: Operadores lineares Tarefa: Teorema de Rouché Tarefa: Matriz aumentada
Quadro 32: Outras tarefas mobilizadas na obra de Elon Lages Lima et al.
Todas as tarefas descritas acima (Quadro 32), encontradas no 4º capítulo da
obra, colocam em destaque as dez tarefas consideradas nesta pesquisa, pois, para
que o estudante as manipule, é necessário que ele disponha de conhecimentos
relacionados às dez tarefas que se supõe tenham sido desenvolvidas no Ensino
Médio.
A obra articula um trabalho com a noção de matriz, destacando para os exemplos
o quadro matricial numérico e para as demonstrações o quadro matricial algébrico;
em particular, o quadro da álgebra linear. Destaca-se também que as novas tarefas
desenvolvidas na obra necessitam de conhecimentos prévios relacionados às dez
tarefas identificadas como as relações institucionais esperadas para serem
desenvolvidas no Ensino Médio. Ou seja, a falta desses conhecimentos pode
conduzir os estudantes a dificuldades para compreender a abordagem proposta
nessa obra.
Na sequência, apresenta-se a análise da obra de Dante (2005b), considerada,
segundo o Catálogo Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (2009), aquela
que melhor apresenta o trabalho com as noções destinadas ao Ensino Médio. Nas
escolas públicas, esta obra é oferecida em volume único, sintetizando as noções
vinculadas ao Ensino Médio.
6.4 Análise da obra de Luiz Roberto Dante – Matrizes e sistemas lineares
6.4.1 Comentários e análises
A obra é disponibilizada em volume único para as escolas públicas de Ensino
Médio do Estado de São Paulo e conta com 35 capítulos que desenvolvem os
conteúdos que correspondem às relações institucionais esperadas para o Ensino
198
Médio. A noção de matriz, suas operações e propriedades são abordadas no 21º
capítulo, em que se trabalham as tarefas apresentadas no quinto capítulo desta
pesquisa.
O autor inicia o estudo sobre a noção de matriz, articulando de forma
interdisciplinar as técnicas possíveis, desenvolvendo exemplos sobre os processos
computacionais que utilizam a noção matricial como ferramenta matemática. Na
primeira parte, Dante apresenta uma tabela, inserindo algumas definições básicas
sobre a noção matricial.
Como podemos ver, inicialmente a obra desenvolve exemplos relacionados à
imagem de figuras (Figura 75); logo após, aborda as noções matriciais, com tarefas
Figura 75: Exemplo dos processos computacionais Fonte: Dante, 2005, p. 240.
199
que possibilitam ao estudante perceber a aplicação desta noção; e, no final do
capítulo, são articuladas as noções de matrizes com as possíveis transformações
geométricas que permitem as diferentes representações de objetos em computação
gráfica; ou seja, são dados exemplos de transformações lineares e não lineares que
serão revisitadas em álgebra linear.
O trabalho apresentado na obra conduz a utilização das dez tarefas apresentadas
no 5º capítulo desta pesquisa, conforme se vê a seguir:
Matrizes:
- Introdução - Definição - Representação genérica de uma matriz - Matriz quadrada - Matriz triangular - Matriz diagonal - Matriz identidade - Matriz nula - Igualdade de matrizes - Adição de matrizes - Matriz oposta de uma matriz A - Subtração de matrizes - Multiplicação de um número real por uma matriz - Matriz transposta de uma matriz dada - Multiplicação de matrizes - Matriz inversa de uma matriz dada - Equações matriciais - Aplicações de matrizes
Quadro 33: Conteúdos desenvolvidos na obra com relação às noções de matrizes.
Conforme o Quadro 33, o autor introduz os conhecimentos necessários para tratar
as dez tarefas identificadas no 5° capítulo, iniciando com a noção de resolução de
imagens, e, logo após, disponibiliza uma tabela (quadro numérico), representando-a
no ostensivo de representação matricial, na forma de linhas e colunas; desenvolve,
na sequência, os conceitos referente à noção de matriz, suas propriedades e
operações.
Na obra são propostos e resolvidos exercícios para os quais se colocam algumas
questões para reflexão pelos estudantes ou pelos professores e estudantes, quando
os primeiros se propõem a mediar essa tarefa, abrindo uma discussão que pode
auxiliar a construção dos conceitos que estão sendo introduzidos. Verifica-se, assim,
que o autor não desenvolve apenas questões habituais, mas apresenta tarefas
contextualizadas que permitem a aplicação em situações cotidianas e a articulação
200
com conhecimentos de outras ciências, como é o caso das questões associadas à
computação e à informática, áreas bastante escolhidas pelos estudantes que
continuam seus estudos superiores.
Quando se trata da multiplicação de matrizes, são trabalhadas matrizes de
diferentes tipos, mas, para o caso da matriz inversa, apenas as de ordem 2 são
consideradas, o que pode representar uma dificuldade para aqueles que
continuarem seus estudos.
Finalizando a introdução da noção de matriz, suas operações e propriedades, o
autor apresenta alguns exemplos de sua aplicação, por meio da rotação de figuras
planas representadas no sistema de eixo cartesiano, efetuando um trabalho mais
consistente que requer o uso de outras noções, como, por exemplo, as de
trigonometria. Ou seja, é justificada por meio de um discurso tecnológico associado
ao deslocamento de uma figura plana que corresponde às transformações do plano
no plano; mas, nesse trabalho, não se explora a noção de transformação linear que
possibilita a descrição, a interpretação e a justificativa teórica da tecnologia utilizada
para articular matrizes e transformações geométricas no Ensino Médio.
Partindo da grade de análise e das tarefas nela classificadas, conforme o 5º
capítulo desta pesquisa, apresentam-se as tarefas resolvidas que envolvem a noção
de matriz, suas operações e propriedades, que compõem a parte do trabalho do
professor (topos do professor); e o que se refere à parte do estudante (topos do
estudante), ou seja, as tarefas propostas para ele no capítulo:
Tabela 14: Tarefas desenvolvidas na obra de Luiz Roberto Dante
TAREFAS QUANTIDADE EXERCICIO PROFESSOR
PORC. EXERCÍCIO PROFESSOR
QUANTIDADE EXERCICIO ESTUDANTE
PORC. EXERCÍCIO ESTUDANTE
Tarefa 1: Tipos de matrizes e suas representações 5 12,0% 2 4,2%
Tarefa 2: Representação algébrica de uma matriz 2 4,9% 2 4,2%
Tarefa 3: Matrizes especiais 7 17,1% 6 12,5%
Tarefa 4: Igualdade entre matrizes 4 9,8% 5 10,4%
Tarefa 5: Adição de matrizes 9 22,0% 6 12,5%
Tarefa 6: Multiplicação de número por matrizes 2 4,9% 1 2,1%
Tarefa 7: Multiplicação de matrizes 4 9,8% 11 22,9%
201
Tarefa 8: Matriz transposta 3 7,3% 3 6,2%
Tarefa 9: Matriz inversa 3 7,3% 5 10,4%
Tarefa 10: Equações Matriciais 2 4,9% 7 14,6%
TOTAL 41 100% 48 100%
Tabela elaborada pelo pesquisador
Conforme descrito acima (Tabela 14), a quantidade de exercícios relacionados às
tarefas e desenvolvidos na obra é proporcional, quando se considera a parte do
professor e a do estudante, mas o número de tarefas exemplificadas e resolvidas
que representam o topos do professor permite dizer que os autores privilegiam a
tarefa 5, referente à adição de matrizes (22% das tarefas resolvidas); ela exige o
nível mobilizável, pois os estudantes precisam dispor de conhecimentos apenas
sobre a definição de matriz e a operação de adição, uma vez que nas tarefas são
estabelecidos os procedimentos a serem adotados. Para a parte dos estudantes, a
tarefa 7 (22,9 %), que corresponde à multiplicação de matrizes e, conforme Lima et
al. (2006), é a novidade operacional entre matrizes, determina um maior número de
tarefas que ficam a cargo dos estudantes, pois espera-se que estes desenvolvam as
habilidades necessárias, ou seja, que verifiquem a condição de existência da
multiplicação, que é uma nova forma de raciocínio matemático; e que utilizem a
definição de multiplicação de duas matrizes, podendo associar cada elemento da
matriz produto como o produto interno do vetor linha da primeira matriz pelo vetor
coluna da segunda matriz, quando dispõem da noção de vetores, suas operações e
propriedades. Em geral, associar o quadro das matrizes com o quadro da álgebra
linear só será possível no Ensino Superior, quando os estudantes já dispuserem dos
ostensivos verbais, visuais e gestuais desenvolvidos no Ensino Médio, ao introduzir
a operação de multiplicação de duas matrizes.
As outras tarefas são disponibilizadas em menor quantidade; algumas são
trabalhadas apenas no nível técnico, pois não necessitam de maiores
conhecimentos sobre a noção de matriz, como, por exemplo, as tarefas 1 e 2, em
que basta aplicar a definição de matriz como um quadro de m linhas e n colunas que
representa a organização de uma tabela de dados em geral numéricos.
Conforme se observa na descrição dos dados (Tabela 14), as tarefas 3, 4 e 5 são
disponibilizadas proporcionalmente, quando se considera tanto o topos do estudante
202
como o do professor. Há, aqui, a necessidade de evocar os não ostensivos
associados ao tipo de matriz, à relação de igualdade entre duas matrizes e as
operações de adição, para descrever e justificar a manipulação dos ostensivos que
permitem a execução das técnicas associadas.
A tarefa 6, que corresponde ao produto de um número por uma matriz, é pouco
trabalhada tanto pelo professor como pelo estudante, ficando a cargo daquele dar
maior ênfase ao desenvolvimento dessa noção. Ela será importante para a
discussão das equações matriciais no Ensino Médio e para a introdução da noção
de espaços vetoriais no Ensino Superior, pois a multiplicação de um escalar por uma
matriz é uma das operações que permitem concluir que um conjunto munido da
adição e da multiplicação por escalar sobre um corpo dotado de determinadas
propriedades é um espaço vetorial. Dessa forma, a pouca importância dada à
operação de multiplicação de um escalar por uma matriz não favorece a utilização
desse conhecimento, quando se introduz a noção de espaço vetorial no Ensino
Superior.
Em geral, a operação de multiplicação de um escalar por uma matriz é tratada
como se não apresentasse dificuldades, pois não é considerado o corpo dos
escalares. Isso precisa ser retomado com muita atenção pelos professores do
Ensino Superior, uma vez que no Ensino Médio só se consideram as matrizes com
coeficientes reais e o corpo dos reais, o que não deve ser repetido no Ensino
Superior, em que é preciso mostrar a importância do corpo dos escalares.
Na tarefa 8, disponibilizada na mesma quantidade para o professor e para o
estudante, verifica-se que este provavelmente só mobilize o nível técnico, pois nas
tarefas basta aplicar a definição, trocando linhas e colunas. Um trabalho que mostre
a importância da matriz transposta será possível quando da introdução da matriz de
uma transformação linear, em cujo final é preciso transpor a matriz encontrada. Mas
no Ensino Médio pode-se introduzir o cálculo da matriz inversa por meio de
determinantes, em que a noção de matriz adjunta corresponde à matriz transposta
da matriz dos cofatores daquela cuja inversa se deseja determinar. Nesse caso,
além de utilizar a noção de transposta, apresenta-se aos estudantes um novo
método para o cálculo da inversa de uma matriz, em que se articula o quadro
matricial com o quadro dos determinantes.
203
A tarefa 7, que corresponde à multiplicação de matrizes, vem acompanhada de
um esquema que representa os ostensivos orais e gestuais que permitem descrever,
interpretar e justificar a existência do produto de duas matrizes, assim como o
procedimento de cálculo a ser utilizado. Sendo a multiplicação de matrizes a
novidade operacional relativa a essa noção, não é surpreendente que
aproximadamente 23% das tarefas destinadas ao trabalho proposto aos estudantes
sejam associadas à multiplicação de matrizes. A Figura 76, a seguir, ilustra os
esquemas apresentados pelo autor para descrever o procedimento de verificação da
existência do produto entre duas matrizes e do controle do tipo da matriz produto,
assim como do próprio algoritmo de multiplicação. As flechas que acompanham o
desenvolvimento da tarefa correspondem aos ostensivos escriturais que
representam os ostensivos orais e gestuais que auxiliam na execução da tarefa.
204
Para a tarefa 9, relativa à determinação da inversa de uma matriz, o método
proposto pelo autor consiste em multiplicar a matriz por uma matriz genérica, que
corresponde à sua inversa, e igualar a identidade; recai, assim, em um sistema
linear que permite determinar os elementos da matriz inversa, quando existirem, e
afirmar que a matriz não admite inversa, quando um dos sistemas é impossível. O
autor verifica, ainda, que, no caso da existência da inversa, o produto da matriz por
esta é comutativo. Essa noção, que também é uma novidade e permite que os
estudantes utilizem seus conhecimentos prévios sobre a noção de sistemas lineares,
corresponde a aproximadamente 10% do trabalho proposto para os estudantes.
Figura 76: Ostensivos de representação escritural do discurso de gestos utilizados na multiplicação de matrizes. Fonte: Dante, 2005, p. 247. (adaptação do pesquisador)
205
Na realidade, nesta tarefa o estudante é chamado a revisitar a noção de sistemas
de duas equações e duas incógnitas desenvolvida no Ensino Fundamental, uma vez
que o autor só trabalha com matrizes de ordem 2.
A tarefa 10, que poderá ser revisitada por aqueles que seguirem o Ensino
Superior, mobiliza a noção de equação e sistemas de equações matriciais — que,
no momento, são trabalhados da mesma forma que as equações do primeiro grau —
e sistemas de duas equações e duas incógnitas, desenvolvidos no Ensino
Fundamental. Ou seja, trata-se apenas de utilizar as regras e as leis do cálculo literal
para determinar os valores das incógnitas e, no final, substituí-las pela
correspondente matriz, isto é, após resolver a equação, utilizam-se apenas as
noções de adição de matrizes e produto de um número real por uma matriz.
A justificativa teórica para o procedimento utilizado acima só poderá ser
desenvolvida por meio da noção de espaço vetorial no curso de Álgebra Linear.
Nesse momento, pode-se chamar a atenção dos estudantes, utilizando exemplos
das equações matriciais que eles já trabalhavam no Ensino Médio, o que permite
mostrar a importância do papel da álgebra linear, que possibilita a formalização, a
unificação e a generalização de conceitos matemáticos.
Observa-se, finalmente, que, mesmo trabalhando apenas com matrizes de ordem
2, essa tarefa corresponde a aproximadamente 15% do trabalho a ser realizado
pelos estudantes. Ou seja, quando se consideram as tarefas 7, 9 e 10, o autor é
sensível ao fato de que estas se distanciam das práticas dos estudantes, o que o
conduz a propor um trabalho em que aproximadamente 50% correspondem a essas
tarefas.
Nesta obra, Dante apresenta situações contextualizadas e torna evidente que se
preocupa não apenas com as operações matriciais, mas também com as
possibilidades de utilizá-las para resolver tarefas que envolvem outras noções
matemáticas e de outras ciências. Fica clara também sua disposição para colaborar
com aqueles que desejam um conhecimento mais específico sobre as noções de
matrizes, suas operações e propriedades, assim como para subsidiar determinadas
áreas do Ensino Superior. Isso vem ajudar as relações institucionais esperadas para
o Ensino Médio, que deixam evidente a necessidade de preparar o estudante para
206
conduzir seu próprio plano de estudo e aprofundá-lo de forma autônoma e
responsável.
Ao final do capítulo sobre a noção de matriz, o autor desenvolve momentos
privilegiados de contextualização, como apresentado a seguir (Quadro 34).
Tarefa: Transformações geométricas
Quadro 34: Outras tarefas mobilizadas na obra de Luiz Roberto Dante. Fonte: Dante, 2005b, p.252
Para a tarefa descrita no Quadro 34, o autor articula os conhecimentos
desenvolvidos anteriormente e trabalhados nas tarefas resolvidas e nas propostas,
utilizando também outras noções, como as noções trigonométricas e seus
207
respectivos ostensivos de representação e o ostensivo de representação do sistema
de eixos cartesianos, para trabalhar com as transformações de figuras geométricas
no plano.
As dez tarefas habitualmente desenvolvidas no Ensino Médio são trabalhadas
nessa obra. Ao analisar os exemplos e os exercícios propostos, observa-se que os
níveis técnico e mobilizável são privilegiados e, ao final do capítulo, o autor, como
mencionado no Quadro 34, apresenta uma nova tarefa, que articula o quadro das
matrizes com o quadro da geometria analítica e que supõe que os estudantes
disponham de conhecimentos de geometria, geometria analítica e trigonometria,
para compreender as transformações do plano no plano e os ostensivos de
representação algébrico e gráfico dessas mesmas transformações.
A obra apresenta uma sequência de atividades bem elaboradas, que privilegiam o
trabalho tanto do professor como do estudante, com as dez tarefas usualmente
propostas nessa etapa escolar, colocando em evidência os conhecimentos que
poderão servir como prévios para aqueles que desejam continuar seus estudos. Ou
seja, trata-se de um curso que pode ser revisitado pelos estudantes do Ensino
Superior para nivelar seus conhecimentos, antes de iniciarem um curso de
Geometria Analítica e Álgebra Linear.
A seguir, analisa-se o Caderno do aluno — que é uma relação institucional
existente atualmente —, utilizado nas escolas públicas do Estado de São Paulo e
fornecido pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.
6.5 Análise do Caderno do Aluno – Proposta do Estado de São Paulo 2008.
6.5.1 Comentários e análise
O caderno do estudante do Ensino Médio é disponibilizado em quatro volumes
para cada série desta etapa de ensino, considerando-se, para esta pesquisa, o
volume 2 do segundo ano do Ensino Médio, em que se introduz a noção de matriz,
sistemas lineares e determinantes. Esse material é desenvolvido por meio da
articulação de quatro situações de aprendizagem sobre as noções descritas acima,
para as quais se faz um breve relato.
208
Na situação de aprendizagem 1 é desenvolvida a noção de matriz por meio do
quadro da geometria analítica, articulado com o quadro matricial numérico e suas
operações e, em seguida, são oferecidas tarefas contextualizadas, com o propósito
de estimular a aprendizagem da noção de matriz e suas operações, como por
exemplo, a representação explícita; os tipos de matrizes; a adição e a multiplicação
entre matrizes. Nesta mesma situação, observa-se que é desenvolvida uma nova
tarefa, chamada matriz de compensação, e outras atividades que envolvem a
aplicação da noção em estudo em contextos da vida, como a formação de imagens
e o princípio da tomografia. A figura abaixo ilustra a situação de aprendizagem 1:
Observe os dois polígonos representados no plano cartesiano.
Esses dois polígonos são congruentes, e podemos considerar que o polígono EFGH é uma translação do polígono ABCD, isto é, EFGH foi obtido de duas movimentações de ABCD, sendo uma na horizontal e outra na vertical.
a) Quantas unidades na horizontal e quantas unidades na vertical ABCD devem ser
deslocadas para que, ao final, coincida com EFGH?
b) Represente em uma matriz A(4X2) as coordenadas dos vértices do polígono
ABCD, de maneira que cada linha da matriz contenha coordenadas de um ponto,
com a abscissa na primeira coluna e a ordenada na segunda coluna.
c) Represente em uma matriz B(4X2) as coordenadas dos vértices do polígono
EFGH, de maneira que cada linha da matriz contenha coordenadas de um ponto,
com a abscissa na primeira coluna e a ordenada na segunda coluna.
d) Escreva uma matriz C(4X2 de tal forma que A+C=B.
Figura 77: Tarefa apresentada na situação 1. Fonte: Caderno do aluno, 2009, p. 3
209
A situação de aprendizagem 2 trabalha com as matrizes de codificação,
sendo uma nova tarefa, articulada com a construção de figuras geométricas planas e
espaciais, como é possível observar na figura seguinte.
As outras duas situações introduzem as noções de sistemas lineares e
determinantes. A terceira desenvolve os sistemas lineares por meio de situações
contextualizadas, cabendo ao professor verificar qual o melhor momento de
introduzir uma das várias técnicas de resolução. Esta figura é representativa:
Figura 79: Tarefa apresentada na situação 3. Fonte: Caderno do aluno, 2009, p. 30
Figura 78: Tarefa apresentada na situação 2. Fonte: Caderno do aluno, 2009, p. 26
210
Já, na quarta situação de aprendizagem, é trabalhada a resolução de sistemas
por meio dos métodos de escalonamento e do algoritmo, para calcular
determinantes.Também são disponibilizadas tarefas que envolvem a articulação por
meio das figuras planas no eixo cartesiano. Abaixo, apresenta-se uma das tarefas da
quarta situação.
Após essa breve descrição das situações contextualizadas utilizadas para
introduzir as noções de matrizes, determinantes e sistemas lineares, o texto expõe
ao professor qual o papel do Caderno: trata-se apenas de introduzir a noção,
utilizando como motivação suas possíveis aplicações em diferentes contextos, como
os apresentados acima. O Quadro 35 deixa evidente a necessidade de o professor
complementar o estudo de matrizes, determinantes e sistemas lineares, pois,
quando se consideram as tarefas habituais identificadas no capítulo 5 da presente
pesquisa, observa-se que existe espaço para que os professores trabalhem outras
tarefas e situações, uma vez que nem todas são contempladas no Caderno da nova
proposta.
Situação de aprendizagem 1 - Matrizes: diferentes significados:
- Operações entre duas matrizes - Matriz de compensação - Resolução de imagens: os pixels - Matrizes e o princípio da tomografia
Figura 80: Tarefa apresentada na situação 4. Fonte: Caderno do aluno, 2009, p. 46-47
211
Situação de aprendizagem 2 – Matriz de codificação: desenhando com matrizes Situação de aprendizagem 3 – Sistemas lineares em situações-problema Situação de aprendizagem 4 – Resolução de sistemas lineares: escalonamento x Cramer
Quadro 35: Conteúdos desenvolvidos no Caderno com relação às noções de matrizes.
Para melhor justificar a afirmação acima, na sequência, apresenta-se o topos do
professor, isto é, as tarefas resolvidas que envolvem a noção matricial; e o que
representa a parte do estudante, no Caderno do aluno, com as proporções das
tarefas identificadas no capítulo 5:
Tabela 15: Tarefas desenvolvidas na obra – Caderno do aluno TAREFAS QUANTIDADE
EXERCÍCIO PROFESSOR
PORC. EXERCÍCIO PROFESSOR
QUANTIDADE EXERCÍICIO ESTUDANTE
PORC. EXERCÍCIO ESTUDANTE
Tarefa 1: Tipos de matrizes e suas representações 3 37,5 9 42,9
Tarefa 2: Representação algébrica de uma matriz 3 37,5 2 9,5
Tarefa 3: Matrizes especiais 2 25,0 - -
Tarefa 4: Igualdade entre matrizes - - - -
Tarefa 5: Adição de matrizes - - 4 19,0
Tarefa 6: Multiplicação de número por matrizes - - 1 4,8
Tarefa 7: Multiplicação de matrizes - - 5 23,8
Tarefa 8: Matriz transposta - - - -
Tarefa 9: Matriz inversa - - - -
Tarefa 10: Equações matriciais - - - -
TOTAL 8 100% 21 100%
Na tabela 15 evidenciam-se as quantidades das tarefas disponibilizadas no
material, sendo perceptível que o trabalho do professor e do estudante deva ser
articulado em conjunto, pois, no Caderno do aluno existem poucos exercícios
resolvidos, cabendo ao professor efetuar um amplo discurso das técnicas a serem
empregadas e desenvolver conjuntamente com os estudantes as tarefas que
necessitem de diferentes caminhos para a execução da técnica, ou seja, é preciso
uma tecnologia que possibilite a compreensão e a utilização da técnica em outras
tarefas.
De todas as tarefas disponibilizadas, as tarefas 4, 8, 9 e 10 não são trabalhadas
de forma explícita, quer quando se considera o topos do professor, quer quando se
considera o topos do estudante. Ou seja, cabe ao professor propor atividades que
permitam trabalhar essas tarefas, utilizando, para isso, os livros didáticos que
212
provavelmente foram escolhidos e fornecidos aos estudantes pelo Programa
Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio.
Dessa forma, as tarefas que não são privilegiadas no Caderno do aluno
poderão ser introduzidas no curso por meio do livro didático ou de outros materiais
que o professor desejar incluir. Isso dá ao docente autonomia para desenvolver seu
curso, sem ficar limitado apenas ao trabalho com o Caderno da nova proposta.
Com relação às tarefas privilegiadas no topos do estudante, a tarefa 1, que
corresponde ao início dos estudos envolvendo a noção de matriz, é desenvolvida
com um índice de aproximadamente 43%, ou seja, no Caderno existe a
preocupação de mediar o aprendizado de forma que o estudante se aproprie do
conceito de matriz e de suas diferentes maneiras de tratamento, em função do
quadro em que as situações de aprendizagem são propostas, sempre recorrendo ao
ostensivo de representação matricial. Observa-se, ainda, que a representação
algébrica de matrizes corresponde a aproximadamente 10% das atividades
destinadas ao estudante, ou seja, não se trabalha apenas no quadro numérico, onde
a operação de adição e suas propriedades são as mesmas dos conjuntos
numéricos.
As outras tarefas desenvolvidas envolvem as operações, como, por exemplo, a
adição de matrizes, a multiplicação de um número real por uma matriz e a
multiplicação de matrizes, que estão contempladas nas tarefas 5, 6 e 7; as mais
trabalhadas são as tarefas 5 e 7, que correspondem a aproximadamente 20% e 24%
do que é disponibilizado para a prática pelos estudantes. Observa-se que a tarefa 7
é a que possui uma maior quantidade de exercícios de fixação, o que é
compreensível, pois, como afirmam Lima et al. (2006), a multiplicação de matrizes é
a grande novidade operacional, quando se introduz a noção de matriz, suas
operações e propriedades.
Ressalta-se ainda que as únicas tarefas que ficam a cargo do professor, ou seja,
que, conforme nossa proposta de análise, correspondem ao topos do professor, são
as tarefas 1, 2 e 3. Portanto, as quantidades disponibilizadas ratificam que o
professor deva ser um mediador no processo de ensino, para que os estudantes
possam desenvolver com autonomia o que lhes é proposto.
213
Ainda com relação ao que foi detectado, encontram-se no Caderno do aluno
outras tarefas, que estão registradas no Quadro 36:
Tarefa: Translação de figura geométrica Tarefa: Matriz de compensação Tarefa: Resolução de imagens e matrizes Tarefa: Matrizes e o princípio da tomografia Tarefa: Matriz de codificação: desenho com matriz
Quadro 36: Outras tarefas desenvolvidas na obra – Caderno do aluno.
Esse quadro revela que o Caderno do aluno privilegia outras tarefas não
comumente encontradas nos livros didáticos, mas que utilizam as noções
trabalhadas nas dez tarefas propostas nesta pesquisa; ou seja, a obra desenvolve
temas contextualizados, fazendo com que o estudante perceba algumas aplicações
da noção em estudo.
A noção de matriz é parcialmente contemplada no Caderno do aluno, uma vez
que o material não desenvolve com os estudantes todas as tarefas disponibilizadas
na Tabela 15. Também a noção de sistema de equações lineares é desenvolvida no
material, porém articulada apenas por meio do ostensivo de representação de
sistema de equações lineares, sem levar em conta a representação matricial desses
sistemas. O método do escalonamento é desenvolvido diretamente sobre o sistema
linear, sem considerar o escalonamento da matriz dos coeficientes.
O material disponibilizado trabalha com os quadros definidos no 5º capítulo desta
pesquisa (quadro numérico, quadro matricial numérico, quadro da geométrica
métrica plana, quadro da geometria analítica, quadro dos determinantes e quadro
dos sistemas lineares), articulados, quando possível, cabendo ao professor, para
facilitar esse processo, propor outros exemplos que contribuam para o aprendizado.
O Caderno utiliza diferentes ostensivos que possibilitam ao estudante visualizar o
desenvolvimento das técnicas, que devem ser justificadas por meio dos não
ostensivos, o que permite utilizar um discurso tecnológico adequado, que ajude os
estudantes a identificar o conhecimento a ser aplicado para resolver as tarefas
propostas.
Após a análise da obra de Lima et al. (2006), do livro didático de Dante (2005b) e
do Caderno do aluno da nova proposta do estado de São Paulo, indicados para a
214
formação de professores e para o trabalho dos estudantes do Ensino Médio,
analisam-se duas obras indicadas para o Ensino Superior e que são indicadas na
bibliografia básica das universidades escolhidas para as análises apresentadas no
capítulo 4. Inicia-se pela obra de Callioli et al. (1983), que representa uma relação
institucional existente, indicada pelas quatro universidades investigadas, nos planos
de ensino do curso de Álgebra Linear estudados.
6.6 Análise da obra de Carlos Alberto Callioli et al. – Álgebra linear e aplicações.
6.6.1 Comentários e análise
A obra, apresentada em volume único, é destinada aos estudantes que
frequentam um curso de introdução à Álgebra Linear no Ensino Superior, e seu
primeiro capítulo efetua uma revisita às noções de sistemas de equações lineares e
matrizes.
Os autores iniciam pela noção de sistema de equações lineares, sendo
desenvolvidas as técnicas de resolução e, por meio da noção de sistemas
equivalentes, desenvolve-se o método do escalonamento, seguido das
possibilidades de discussão. O conjunto solução é apresentado por meio de uma
representação paramétrica, o que corresponde à passagem de uma representação
cartesiana para uma representação paramétrica.
Após revisitar a noção de sistemas de equações lineares, os autores abordam a
noção de matriz, suas operações e propriedades, iniciando esse estudo pelo quadro
matricial algébrico; em seguida, trabalham os conhecimentos relacionados às
matrizes especiais, a igualdade entre matrizes, operações com matrizes, matrizes
inversíveis, sistema de Cramer e, por fim, as matrizes elementares, o que é possível
observar no Quadro 37.
Matrizes:
- Linhas e colunas - Igualdade de matrizes
Operações com matrizes: - Adição - Multiplicação de uma matriz por um número - Multiplicação de matrizes
215
Matrizes invertíveis: - Determinação da inversa - Sistema de Cramer - Matrizes elementares
Quadro 37: Conteúdos desenvolvidos na obra com relação às noções de matrizes.
Conforme descrito nesse quadro, a obra privilegia todas as dez tarefas
identificadas no capítulo cinco desta pesquisa, que são apresentadas por meio de
exemplos resolvidos, ou seja, correspondem ao topos do professor, segundo a forma
de análise proposta neste trabalho.
Como esse primeiro capítulo da obra é uma revisita, supõe-se que os autores
considerem que os estudantes já detenham algumas noções com relação ao objeto
matricial que faz parte do conteúdo proposto para ser trabalhado no Ensino Médio.
Para melhor compreender o desenvolvimento da obra, apresenta-se, agora, uma
análise mais detalhada, por meio da grade de análise e estudando mais
especificamente o que corresponde ao topos do professor e do estudante.
Considerando a grade de análise e as tarefas nela identificadas, apresenta-se a
parte do trabalho do professor, isto é, as tarefas resolvidas que envolvem a noção
de matriz, suas operações e propriedades; e também o que representa a parte do
estudante: as tarefas propostas para ele, no capítulo, como descreve a Tabela 16.
Tabela 16: Tarefas desenvolvidas na obra de Carlos Alberto Callioli et al. TAREFAS QUANTIDADE
EXERCICIO PROFESSOR
PORC. EXERCÍCIO PROFESSOR
QUANTIDADE EXERCICIO ESTUDANTE
PORC. EXERCÍCIO ESTUDANTE
Tarefa 1: Tipos de matrizes e suas representações 6 12,1% - -
Tarefa 2: Representação algébrica de uma matriz 1 2,0% - -
Tarefa 3: Matrizes especiais 2 4,1% 2 5,0%
Tarefa 4: Igualdade entre matrizes 4 8,2% - -
Tarefa 5: Adição de matrizes 3 6,1% 1 2,6%
Tarefa 6: Multiplicação de número por matrizes 4 8,2% 4 10,3%
Tarefa 7: Multiplicação de matrizes 7 14,3% 18 46,2%
Tarefa 8: Matriz transposta 4 8,2% 1 2,6%
Tarefa 9: Matriz inversa 14 28,6% 8 20,5%
Tarefa 10: Equações matriciais 4 8,2% 5 12,8%
TOTAL 49 100% 39 100%
216
Como se vê, cabe ao professor trabalhar as dez tarefas, das quais a 7 e a 9 são
as mais solicitadas, pois correspondem, respectivamente, a 14% e 29% do que é
considerado como parte a ser desenvolvida pelo professor, o que mostra a
importância operacional do produto de matrizes e da determinação da inversa de
uma matriz, quando se considera a organização matemática proposta pelos autores.
Essa organização deixa evidente que os autores supõem disponíveis os conteúdos
sobre matrizes desenvolvidos no Ensino Médio.
Isso fica evidente, quando se considera o topos do estudante: nem todas as
tarefas são disponibilizadas para serem trabalhadas por eles. As tarefas 1, 2 e 4 não
são tratadas de forma explícita, mas são necessárias para que os estudantes
desenvolvam as outras tarefas, cabendo, então, ao professor efetuar uma revisita,
quando necessário. Ainda com relação aos exercícios propostos aos estudantes, fica
evidente que as tarefas 7 e 9 também são as mais solicitadas, correspondendo a
46% e 20%, respectivamente.
As tarefas não solicitadas aos estudantes são trabalhadas na parte que cabe ao
professor, ou seja, no que corresponde ao topos do professor; assim, é possível
efetuar um discurso e um tratamento para que os estudantes possam relembrar as
noções iniciais desse conteúdo. Porém, comparando os dois topos, ou seja, do
professor e do estudante, verifica-se que não existe um equilíbrio entre o número de
tarefas propostas aos dois grupos, o que permite supor que se espera que os
estudantes já disponham de conhecimentos sobre as matrizes, suas operações e
propriedades.
Os exercícios correspondentes às tarefas encontradas são trabalhados, de forma
geral, no quadro matricial algébrico e numérico, por meio dos ostensivos de
representação matricial, sendo necessário um discurso tecnológico que justifique as
técnicas utilizadas. Observa-se ainda que os ostensivos gestuais e orais devem
fazer parte do trabalho do professor, para melhor esclarecer as possíveis dúvidas
dos estudantes.
As tarefas apresentadas na obra privilegiam os níveis técnico e mobilizável,
deixando evidente o papel da noção de matriz no desenvolvimento do curso de
Álgebra Linear, ou seja, as matrizes, suas operações e propriedades são utilizadas
217
como ferramentas para o desenvolvimento de outros conceitos associados às
noções de espaço vetorial e transformações lineares.
Na obra são oferecidas duas novas tarefas, que não fazem parte das relações
institucionais existentes para o Ensino Médio e que deixam evidente o papel de
ferramenta da noção de matriz, quando se desenvolve o conceito de transformação
linear.O Quadro 38 apresenta essas tarefas:
Tarefa: Matriz de uma transformação linear Tarefa: Matriz elementar Tarefa: Matriz ortogonal
Quadro 38: Outras tarefas mobilizadas na obra de Carlos Alberto Callioli.
Essas novas tarefas não são trabalhadas no Ensino Médio, mas, em algumas
obras, são encontrados exemplos de transformações geométricas, quando se
desenvolve a noção de matriz; ou seja, ilustra-se, por meio da matriz da
transformação, sua aplicação para o desenvolvimento de softwares de computação
gráfica.
Nesta obra, o objetivo de efetuar esta revisita deve-se ao desenvolvimento das
demais noções vinculadas à disciplina de Álgebra Linear, e muitas tarefas
desencadeadas no Ensino Médio servem como ferramentas explícitas para a
solução de novas tarefas no Ensino Superior.
Analisa-se, em seguida, a obra de Anton, mais moderna que a anterior. O autor
inicia, introduzindo a Álgebra Linear para os espaços vetoriais de IRn, antes de
generalizar os resultados para outros espaços de dimensão finita.
6.7 Análise da obra de Howard Anton – Álgebra linear contemporânea.
6.7.1 Comentários e análises
A obra de Anton (2006), constituída de nove capítulos, trata de uma forma mais
moderna e articulada a introdução das noções de álgebra linear. A noção de
matrizes, suas operações e propriedades são apresentadas no terceiro capítulo, que
se inicia, introduzindo as operações matriciais. Os autores revisitam os diferentes
ostensivos de representação matricial e a terminologia utilizada para identificá-los. A
ênfase é dada aos ostensivos de representação algébrica e numérica.
218
Além dos exercícios resolvidos, que aqui são considerados como parte do topos
do professor, a obra apresenta uma sequência bem detalhada de tarefas separadas
pelas rubricas: exercícios, discussão e descoberta. Além disso, é dada ênfase às
demonstrações e às possibilidades de utilização de recursos computacionais. Isso
possibilita um trabalho mais orquestrado entre professores e estudantes, motivado
pela discussão, pela descoberta e pela utilização do computador como ferramenta
para evitar cálculos desnecessários, mostrando, ainda, a possibilidade de aplicação
das noções de álgebra linear em outras áreas do conhecimento.
O capítulo destinado ao ensino da noção de matriz é extenso, pois destina uma
parte para revisitar as noções que se supõe tenham sido desenvolvidas no Ensino
Médio, como é possível distinguir na relação de conteúdos apresentados no Quadro
39.
Operações com matrizes:
- Notação matricial e terminologia - Operações com matrizes - Vetores-linha e vetores-coluna - O produto Ax - O produto AB - Encontrando entradas específicas num produto de matrizes - Encontrando linhas ou colunas específicas num produto de matrizes - Produto matricial como combinação linear - Transposta de uma matriz - Traço - Produto matricial interno e externo
Inversas; propriedades algébricas de matrizes:
- Propriedades da adição de matrizes e da multiplicação por escalar - Propriedades da multiplicação matricial - Matrizes zero - Matrizes identidade - Inversa de uma matriz - Propriedades das inversas - Potências de uma matriz - Polinômios matriciais - Propriedades da transposta - Propriedades do traço - Transposta e produto escalar
Matrizes elementares; um método para obter A-1:
- Matrizes elementares - Caracterização de invertibilidade - Equivalências por linhas - Um algoritmo para inversão de matrizes - Resolvendo sistemas lineares por inversão de matrizes - Resolvendo múltiplos sistemas lineares com uma matriz de coeficientes comum - Consistência de sistemas lineares
Quadro 39: Conteúdos desenvolvidos na obra com relação às noções de matrizes.
219
Conforme o Quadro 39, a parte considerada como já trabalhada no Ensino Médio
permite revisitar as dez tarefas consideradas nesta pesquisa, o que é importante
para desenvolver a autonomia necessária para a resolução de outras tarefas
vinculadas à noção de matriz. Para isso, os autores disponibilizam novas tarefas,
associando-as às demais, e apresentam um desenvolvimento teórico suficiente para
sustentar as aplicações disponibilizadas na obra.
Para melhor compreender como são trabalhadas as tarefas usuais identificadas
no capítulo cinco, apresentam-se na Tabela 17 as tarefas resolvidas que envolvem a
noção matricial e que, nas análises, correspondem ao topos do professor; e as
tarefas propostas que representam o topos do estudante.
Tabela 17: Tarefas desenvolvidas na obra de Howard Anton TAREFAS QUANTIDADE
EXERCÍCIO PROFESSOR
PORC. EXERCÍCIO PROFESSOR
QUANTIDADE EXERCÍCIO ESTUDANTE
PORC. EXERCÍCIO ESTUDANTE
Tarefa 1: Tipos de matrizes e suas representações - - 4 2,5%
Tarefa 2: Representação algébrica de uma matriz - - 2 1,3%
Tarefa 3: Matrizes especiais - - 5 3,2%
Tarefa 4: Igualdade entre matrizes 1 2,4% 14 8,9%
Tarefa 5: Adição de matrizes 3 7,1% 16 10,2%
Tarefa 6 Multiplicação de número por matrizes 3 7,1% 18 11,5%
Tarefa 7: Multiplicação de matrizes 14 33,4% 44 28,0%
Tarefa 8: Matriz transposta 3 7,1% 19 12,1%
Tarefa 9: Matriz inversa 11 26,2% 21 13,4%
Tarefa 10: Equações matriciais 7 16,7% 14 8,9%
TOTAL 42 100% 157 100%
A Tabela 17 revela que, para o topos do professor, a obra não privilegia o trabalho
explícito com as tarefas 1, 2 e 3, e para estas não são fornecidos exemplos de
tarefas resolvidas. Como na obra de Callioli et al. (1983), as tarefas 7 e 9 são as
mais trabalhadas, com aproximadamente 33% e 26%, respectivamente, o que é
compreensível, pois elas trazem a novidade operacional tanto para os estudantes do
Ensino Médio como para os do Ensino Superior. A tarefa 10, que permite considerar
a teoria que justifica a tecnologia utilizada para desenvolver a técnica associada à
solução de equações matriciais, é trabalhada apenas por meio da técnica e da
220
tecnologia associadas, mas esse trabalho será retomado quando da introdução da
noção de espaço vetorial.
Observa-se, aqui, que, tanto em Anton (2006) como Callioli et al. (1983), a tarefa
10 é privilegiada, mas não se utiliza explicitamente esse resultado para mostrar a
importância e a economia de trabalho, quando se considera a noção de espaço
vetorial. Este, por sua vez, permite justificar a tecnologia que associa a solução de
equações matriciais e sistemas de equações matriciais às equações lineares e aos
sistemas de equações lineares e suas tecnologias, em geral conhecidas do
estudante, por já terem sido trabalhadas desde o Ensino Fundamental. Essa
articulação entre os diferentes conhecimentos é pouco explicitada nas obras
analisadas.
Para o topos do estudante, a obra privilegia todas as tarefas, muitas das quais
associadas em um mesmo exercício; novamente, as tarefas mais trabalhadas são as
de número 7 e 9, com 28% e 13%, respectivamente. A tarefa 10 também é pouco
privilegiada no trabalho a ser desenvolvido pelos estudantes; são considerados
ainda os sistemas de equações lineares matriciais, mas são colocadas em jogo
apenas as técnicas de resolução já trabalhadas no Ensino Fundamental e Médio
para resolver esse tipo de questão. Ou seja, não se articula a utilização das técnicas
e das tecnologias associadas à solução de equações lineares e sistemas de
equações lineares à noção de espaço vetorial. Nesta obra existem novas
tarefas, além das identificadas como já trabalhadas no Ensino Médio, o que exige
cuidado por parte do professor, que deve associá-las aos conhecimentos prévios de
seus estudantes e articulá-las com a noção de espaço vetorial, que permite justificar
as tecnologias desenvolvidas no Ensino Médio; em particular, quando se considera a
tarefa 10, isto é, a articulação entre os conhecimentos sobre matrizes, suas
operações e propriedades e a noção de espaço vetorial corresponde ao topos do
professor, que deverá encontrar um discurso adequado para desenvolver esse
trabalho com seus estudantes.
As novas tarefas apresentadas na obra de Anton (2006) mostram algumas das
possibilidades de articulação entre as noções de matrizes, suas operações e
propriedades e as noções associadas à estrutura de espaço vetorial de dimensão
infinita, desenvolvidas na disciplina de Álgebra Linear, como revela o Quadro 40.
221
Tarefa: Vetores-linha e vetores coluna Tarefa: Entradas específicas num produto de matrizes Tarefa: Produto matricial como combinação linear Tarefa: Traço Tarefa: Produto matricial interno e externo Tarefa: Matriz de uma transformação linear Tarefa: Potência de uma matriz Tarefa: Matrizes elementares
Quadro 40: Outras tarefas mobilizadas na obra de Howard Anton
Para exemplificar as noções adquiridas, a obra apresenta uma tarefa associada
ao funcionamento de um braço mecânico, cuja simulação é desenvolvida por meio
de uma transformação linear, exposta na Figura 81, abaixo.
Observa-se que as novas tarefas consideradas pelos autores necessitam de
conhecimentos referentes às dez tarefas introdutórias da noção de matriz, de suas
operações e propriedades desenvolvidas a partir do Ensino Médio; ou seja, revisitar
Figura 81: Tarefa associada ao braço mecânico. Fonte: Anton, 2006, p. 117-118
222
as noções trabalhadas anteriormente fica a cargo do professor, que deve considerar
os conhecimentos prévios de seus estudantes.
Ressalta-se ainda que os autores propõem momentos privilegiados chamados de
“discussão e descoberta”, “trabalhando com provas” e “usando recursos
computacionais”, que são formas inovadoras que podem auxiliar os professores a
discutir com seus estudantes a importância da álgebra linear para o desenvolvimento
da ciência.
Finalizando, apresenta-se uma breve consideração sobre os resultados da análise
das diferentes obras, em função das questões colocadas no início do capítulo.
6.8 Considerações finais sobre o capítulo
Neste capítulo, as noções de matrizes, suas operações e propriedades são
abordadas por meio de tecnologias que justificam o desenvolvimento das técnicas
que permitem resolver tarefas de identificação de matrizes, adição e multiplicação
por um número, mas essas operações não são tratadas como leis internas e
externas, e não se faz nenhuma alusão às propriedades que as sustentam. O
mesmo ocorre para a multiplicação de matrizes e a determinação de sua inversa, ou
seja, a noção de matriz, de suas operações e propriedades é trabalhada apenas
como ferramenta do trabalho matemático a ser desenvolvido, quando se introduz a
noção de sistemas lineares.
Observando o tratamento que é dado a tal noção, no Ensino Médio, por meio
das propostas institucionais e dos livros analisados; e, no Ensino Superior, via
planos de ensino e referências bibliográficas, que aqui são consideradas como as
praxeologias desenvolvidas pelos professores, conclui-se que, existindo uma
proposta de tratamento no Ensino Médio, as obras indicadas nos planos de ensino
para os cursos de licenciatura estudados prevêem uma revisita aos conteúdos, o
que pode ficar a cargo tanto dos professores como dos estudantes, cabendo aos
primeiros verificar a possibilidade de os últimos efetuarem esse trabalho e articulá-lo
com as noções de álgebra linear, no decorrer do curso. Ao introduzir a noção de
espaço vetorial, podem-se verificar as propriedades e mostrar que o conjunto das
matrizes, munido das operações de adição e multiplicação por escalar, é um espaço
223
vetorial; e, portanto, podem-se trabalhar as equações matriciais e os sistemas de
equações lineares da mesma forma que os espaços vetoriais de IRn.
Observa-se que o livro escolhido para análise das relações institucionais existente
no Ensino Médio foi a obra Dante (2005b), por ser uma obra novamente bem
avaliada pelo PNLEM (2009) e que aborda todas as tarefas propostas no quinto
capítulo desta pesquisa; ou seja, do ponto de vista deste trabalho, pode-se
considerar que os estudantes, ao utilizarem esse material, terão a oportunidade de,
pelo menos, mobilizar as noções relacionadas aos conhecimentos da noção matricial
e articulá-las com outros conhecimentos já desenvolvidos no Ensino Médio. Existe
ainda a preocupação do autor em motivar o estudo desse conteúdo por meio das
aplicações das transformações geométricas em computação gráfica.
Analisou-se também o Caderno do aluno, vinculado à Nova Proposta Curricular
do Estado de São Paulo (2008). Constatou-se que ele não contempla todas as
tarefas identificadas como usuais no Ensino Médio, mas oferece apenas uma parte
do trabalho a ser desenvolvido em sala de aula, e o professor pode complementá-lo
com recursos próprios ou com o uso do livro didático, dependendo da turma e das
expectativas de seus estudantes.
A escolha do livro de Lima et al. (2006) está associada ao trabalho proposto na
obra, que é indicado para a formação de professores e estudantes que pretendem
melhorar seus conhecimentos. O autor não trabalha as tarefas do Ensino Médio, que
são consideradas ferramentas explícitas do trabalho a ser realizado. Nessa obra
encontra-se um discurso que indica quais as teorias que justificam as tecnologias
empregadas nas técnicas desenvolvidas no Ensino Médio, ou seja, faz-se a inter-
relação entre os conhecimentos desenvolvidos no Ensino Médio e o que será
posteriormente tratado na disciplina de Álgebra Linear, mesmo sendo deixadas as
definições e as demonstrações para serem desenvolvidas no próprio curso de
Álgebra Linear.
O obra de Lima et al. (2006) não é contemplada nas bibliografias da disciplina de
Álgebra Linear dos cursos considerados nesta pesquisa, mas poderia ser um
material motivador para o futuro professor, que nela pode encontrar meios para
224
justificar para seus estudantes a importância do estudo da noção de matriz, suas
operações e propriedades.
Para o Ensino Superior, considerou-se a obra de Callioli et al. (1983) que, apesar
de antiga, ainda integra a bibliografia básica de alguns cursos de licenciatura. Para
as análises aqui apresentadas, observou-se que a obra revisita a noção de matriz,
suas operações e propriedades e propõe tarefas do mesmo tipo das que se supõe
tenham sido trabalhadas no Ensino Médio, antes de introduzir a noção axiomática de
espaço vetorial e mostrar que o conjunto das matrizes com as operações de adição
e multiplicação por escalar é um espaço vetorial sobre IR, ou seja, os autores
utilizam os conhecimentos prévios dos estudantes como apoio para introduzir a
noção de espaço vetorial.
Outro livro do Ensino Superior analisado neste capítulo é a obra de Anton (2006),
que efetua um tratamento moderno do ensino das noções de álgebra linear. Com
base no capítulo analisado, observa-se que o autor se preocupa em articular os
conhecimentos sobre matrizes de que os estudantes já dispõem com as
propriedades das operações de adição e multiplicação por um número, antes de
introduzir a noção axiomática de espaço vetorial.
Dessa forma, observou-se que existe uma preocupação em revisitar os conteúdos
sobre matrizes, suas operações e propriedades e as respectivas técnicas e
tecnologias, antes de justificar essas tecnologias por meio da teoria que lhes é
associada. A noção de espaço vetorial permite justificar as propriedades utilizadas
para as operações de adição e multiplicação por um número e a associação de uma
matriz a uma transformação linear que possibilita definir naturalmente o produto de
duas matrizes como a composta de duas transformações lineares, ou seja, articula-
se a noção de matriz com a noção de transformação linear que será útil,
dependendo do trabalho a ser realizado. Por exemplo, quando se trabalha com as
transformações geométricas, utilizando o computador, a matriz da transformação é
mais adequada para efetuá-la.
Nas diferentes obras analisadas, os diferentes quadros considerados nesta
pesquisa aparecem com maior ou menor intensidade, dependendo da proposta do
autor. As obras de Dante (2005b) para o Ensino Médio e Anton (2006) para o Ensino
225
Superior são as que mais trabalham com a articulação entre o quadro das matrizes e
outros quadros.
Em todas as obras analisadas, os autores julgaram importante justificar as
técnicas desenvolvidas utilizando os não ostensivos que se supõe fazer parte dos
conhecimentos prévios dos estudantes, o que os auxilia a melhor compreender o
trabalho matemático que está sendo realizado. Nesse momento, cabe ao professor
identificar as dificuldades e revisitar os conteúdos, quando necessário.
Observou-se ainda que os ostensivos de representação escrita e figural são os
mais utilizados, o que é compreensível, uma vez que se trata de obras escritas, e os
ostensivos orais e gestuais ficam a cargo do professor. Em relação aos ostensivos
orais, parece-nos que a obra de Lima et al. (2006) pode ser de grande utilidade, uma
vez que nela se encontram justificativas relacionadas tanto ao trabalho matemático a
ser desenvolvido como às possíveis articulações com outras noções.
Finalmente, verifica-se que as obras iniciam a abordagem da noção de matriz,
suas operações e propriedades por meio das técnicas associadas a essas
operações e, gradualmente, vão articulando os diferentes quadros e propondo
aplicações em que é preciso mobilizar e, mesmo, dispor de conhecimentos sobre
matrizes e suas operações. Cabe ao professor desenvolver esse trabalho em função
das diferentes turmas, refletindo e propondo ações que auxiliem seus estudantes a
obter o máximo aproveitamento no processo de ensino e aprendizagem relacionado
às noções matriciais que, em determinado momento, serão uma importante
ferramenta para articular os outros conhecimentos, em particular, na disciplina de
Álgebra Linear, para os que seguem os cursos de Matemática e Licenciatura em
Matemática e em outras disciplinas, dependendo do curso escolhido.
226
CAPÍTULO 7 ANÁLISE DAS RELAÇÕES PESSOAIS ESPERADAS DOS
ESTUDANTES POR MEIO DAS MACROAVALIAÇÕES: SARESP, ENEM, FUVEST E ENADE
7.1 Considerações iniciais sobre o capítulo
As análises precedentes das relações institucionais esperadas e existentes sobre
a noção de matriz, suas operações e propriedades mostram que existe um trabalho
desenvolvido no Ensino Médio sobre esse conceito que pode ser considerado como
conhecimento prévio, pelo menos mobilizável, num curso introdutório de Álgebra
Linear no Ensino Superior.
Para identificar que tipo de relações pessoais é esperado dos estudantes que
terminam o Ensino Médio e se as expectativas institucionais estão em conformidade
com as relações institucionais esperadas e existentes, analisa-se, via Avaliação do
Rendimento Escolar do Estado de São Paulo – SARESP, Exame Nacional do Ensino
Médio – ENEM, exame da Fundação Universitária para o Vestibular – FUVEST, se
os tipos de tarefas encontrados nesses exames são aqueles que compõem a nossa
grade de tarefas usualmente desenvolvidas no Ensino Médio.
A mesma proposta de análise é feita para o Exame Nacional de Desempenho de
Estudantes – ENADE, para examinar se existe coerência entre o trabalho que, em
geral, é desenvolvido nas diferentes instituições de ensino e os conhecimentos que
se espera que os estudantes apresentem ao final dessas duas etapas escolares.
Para isso, inicia-se apresentando uma breve descrição dos programas das
avaliações escolhidas para esse estudo.
O Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo –
SARESP, aplicado aos estudantes do 3º ano do Ensino Médio, tem como objetivo
avaliar a qualidade do curso e perceber quais conhecimentos podem ser, pelo
menos, mobilizados pelos estudantes que terminam essa etapa escolar.
227
O Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, é oferecido a todos os estudantes
concluintes do Ensino Médio e é atualmente utilizado por diversas universidades
como uma das formas de avaliação para iniciar um curso universitário, servindo,
ainda, para a distribuição de bolsas de estudos em universidades privadas.
O exame aplicado pela Fundação Universitária para o Vestibular – FUVEST é
exclusivo para os estudantes que desejam prosseguir seus estudos na Universidade
de São Paulo, que disponibiliza vários cursos superiores de reconhecida qualidade.
As avaliações acima correspondem a exames de término do Ensino Médio e
entrada no Ensino Superior e têm caráter classificatório.
Para o Ensino Superior existe um exame de avaliação dos cursos: Exame
Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE, analisado neste trabalho para
mostrar a evolução necessária dos estudantes na transição entre o Ensino Médio e
Superior.
Jamal (2004) considera o vestibular um sinalizador da seleção de conteúdos e,
mesmo, de sua abordagem nas instituições de nível médio. Considerando essa
possibilidade, analisam-se os conhecimentos sobre a noção de matrizes, suas
operações e propriedades por meio das tarefas em que esse conceito desempenha
o papel de ferramenta ou objeto para sua solução nos exames escolhidos.
Analisando os programas indicados para essas avaliações em relação à noção de
matriz e as tarefas que utilizam esta noção, observa-se que nem todas as noções
associadas às matrizes são desenvolvidas nessas provas e exames.
Na sequência, faz-se uma breve identificação entre as noções que se espera
desenvolver nas instituições de Ensino Médio e as expectativas institucionais em
relação aos conhecimentos que os estudantes devem possuir ao final dessa etapa
escolar.
228
7.2 Relações institucionais esperadas e existentes x Relações pessoais esperadas
Com relação às noções desenvolvidas no Ensino Médio, destaca-se uma relação
de conteúdos23 relacionados com os três eixos, propostos pelos Parâmetros
Curriculares Nacionais + (BRASIL, 2002), e que foram verificados por meio dos
livros indicados pelo Catálogo Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio
(BRASIL, 2009), do qual se retiraram as noções registradas abaixo (Tabela 18).
Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais + (BRASIL, 2002), os conteúdos
relacionados na Tabela 18 não devem ser trabalhados de forma estanque, mas
articulados entre si, de forma intencional, consolidando temas já desenvolvidos em
etapas anteriores. Para análise das macroavaliações registra-se no Anexo XLVIX, o
que se espera como conhecimento disponível
Após essa breve apresentação, passa-se à análise das avaliações escolhidas.
23 Algumas noções registradas não constam da tabela de conteúdos presentes no PCN+ (BRASIL, 2002), mas fazem parte dos respectivos eixos, conforme registrado na Tabela 18.
Tabela 18: Eixos dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. ÁLGEBRA: NÚMEROS E FUNÇÕES. GEOMETRIA E MEDIDAS.
- Noção de conjuntos numéricos e õ
- Noção de geometria métrica plana; - Noção de função - Noção de geometria métrica espacial; - Noção de função polinomial - Noção de geometria analítica; - Noção de função modular Eixo de geometria e medidas. - Noção de função exponencial e
l í i- Noção de função trigonométrica
- Noção de sequência numérica ANÁLISE DE DADOS. - Noção de matrizes e determinantes - Noção de matemática financeira; - Noção de sistema linear - Noção de análise combinatória; - Noção de números complexos - Noção de probabilidade; - Noção de polinômios e suas equações - Noção de estatística.
Eixo de álgebra: números e funções
Eixo de análise de dados. Fonte: Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (+). (BRASIL, 2002).
229
7.3 Análise das avaliações escolhidas.
Para a apresentação das análises efetuadas, inicia-se com um comentário sobre
o programa, que permite mostrar a apresentação geral do projeto; em seguida,
analisam-se as provas, procurando identificar as noções associadas aos conceitos
de matrizes, suas operações e propriedades e que tipos de tarefas são privilegiados
nessas avaliações, isto é, que conhecimentos são considerados necessários para os
estudantes que terminam uma determinada etapa escolar. A tabela 19 indica as
avaliações aplicadas a partir de 2005, ano escolhido para iniciar as análises. em
razão de ter o ENADE começado a ser aplicado nessa data.
As avaliações analisadas estão dispostas abaixo (Tabela 19).
TABELA 19: Avaliações analisadas. AVALIAÇÕES 2005 2006 2007 2008 2009
SARESP – SISTEMA DE AVALIAÇÃO DO RENDIMENTO ESCOLAR DO ESTADO DE SÃO PAULO24.
SIM SIM SIM SIM
ENEM – EXAME NACIONAL DO ENSINO MÉDIO.
SIM SIM SIM SIM SIM
FUVEST – FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA PARA O VESTIBULAR.
SIM SIM SIM SIM SIM
ENADE - EXAME NACIONAL DE DESEMPENHO DE ESTUDANTES25.
SIM SIM
Com base na tabela acima, a análise das provas do Ensino Médio consideradas
nesta pesquisa será conduzida por meio das seguintes questões:
a) A noção de matriz, suas operações e propriedades estão presentes para
serem pelo menos mobilizadas nas avaliações pelos estudantes do Ensino
Médio?
b) As noções de sistemas de equações lineares representadas por meio de
matrizes são disponibilizadas nestas avaliações?
Já as análises das provas referentes aos conteúdos relacionados ao Ensino
Superior serão conduzidas por meio das seguintes questões:
24 O Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo não aconteceu no ano de 2006. 25 Este exame não aconteceu nos anos de 2006, 2007 e 2009 para o curso de matemática, pois é uma avaliação aplicada a cada três anos, duração do curso de licenciatura em Matemática. A prova é aplicada para os que frequentaram seis meses de curso e os que estão terminando o curso, de forma a analisar a evolução dos
230
a) A noção de matriz de uma transformação linear está presente para ser, pelo
menos, mobilizada pelos estudantes do Ensino Superior?
b) Nas tarefas, quais conteúdos requerem conhecimentos pelo menos
mobilizáveis sobre as noções de matrizes e de matrizes de uma transformação
linear?
Inicia-se apresentando as análises do SARESP: identificam-se, por meio da grade
de análise construída e descrita no quinto capítulo deste trabalho, as tarefas que são
privilegiadas nessa avaliação, isto é, define-se que conhecimento é suposto pelo
menos mobilizável e se ele é compatível com as relações institucionais esperadas e
existentes.
7.4 Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo - SARESP.
7.4.1 Comentários e Análise
O Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo é
realizado pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo desde 1996, com a
finalidade de fornecer informações consistentes com relação à situação da
escolaridade básica na rede estadual de ensino, com o objetivo de orientar gestores
do ensino no monitoramento das políticas voltadas para a melhoria da qualidade
educacional.
Na Tabela 20 registra-se um panorama das aplicações do Sistema de Avaliação
do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo referente ao Ensino Médio desde
2005.
TABELA 20: Panorama das aplicações.
SÉRIES DO ENSINO MÉDIO 2005 200626 2007 2008 2009
PRIMEIRA SÉRIE DO ENSINO MÉDIO SIM SEGUNDA SÉRIE DO ENSINO MÉDIO SIM TERCEIRA SÉRIE DO ENSINO MÉDIO SIM SIM SIM SIM
estudantes de um mesmo grupo e avaliar se o trabalho realizado pela instituição é adequado, ou seja, trata‐se de uma avaliação da instituição.
231
Em 2005 o Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São
Paulo27 foi aplicado nas três séries do Ensino Médio, mas, a partir de 2006, sofreu
uma reestruturação e passou a ser aplicado nas séries concluintes. As análises
baseiam-se apenas nos conteúdos desenvolvidos nessas avaliações em relação à
noção de matriz e naqueles que utilizam essa noção. Não se referem, portanto, aos
resultados alcançados pelos estudantes.
A apresentação seguinte diz respeito às tarefas abordadas nas avaliações com
relação à noção de matriz e aos conteúdos que utilizam esta noção para
desenvolvimento e solução, como, por exemplo, os sistemas lineares, algumas
noções de geometria analítica, entre outros. Apresenta-se também um panorama
dos conteúdos abordados nesta avaliação, pois constatou-se que algumas noções
não são desenvolvidas em algumas provas, a exemplo da noção de matriz, que
deixa, muitas vezes, de ser um objeto matemático explícito e passa atuar apenas
como ferramenta para solução de determinadas tarefas.
Com relação à noção de matriz, verifica-se, conforme dados da Tabela 21, que
não é tratada explicitamente nas tarefas propostas aos estudantes, tendo aparecido
apenas em 2005.
TABELA 21 - Conteúdos do Ensino Eédio mobilizados no SARESP CONTEÚDO 2005 2006 2007 2008 2009 MÉDIA
A NOÇÃO DE CONJUNTO NUMÉRICO E OPERAÇÕES - 2,5% 4,0% 12,5% 4,8%
B NOÇÃO DE FUNÇÃO 5,0% 6,0% 4,0% - 3,7%
C NOÇÃO DE FUNÇÃO POLINOMIAL 13,0% 20,0% 8,0% 17,0% 14,5%
D NOÇÃO DE FUNÇÃO MODULAR - - - - -
E NOÇÃO DE FUNÇÃO: EXPONENCIAL, LOGARÍTMICA E OPERAÇÕES 5,0% 1,0% 6,0% 4% 4,0%
F NOÇÃO DE TRIGONOMETRIA E SUAS FUNÇÕES 7,5% 10,0% 4,0% - 5,4%
G NOÇÃO DE SEQUÊNCIA NUMÉRICA 8,0% 6,0% 8,0% 4,0% 6,5%
H NOÇÃO DE MATRIZES E DETERMINATES 1,0% - - - 0,3%
I NOÇÃO DE SISTEMA LINEAR 2,5% 5,0% 4,0% 4,0% 4,0%
26 O Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo não aconteceu neste ano. 27 Este sistema de avaliação também é aplicado ao Ensino Fundamental.
232
J NOÇÃO DE NÚMEROS COMPLEXOS E OPERAÇÕES 1,0% - 3,0% - 1,0%
K NOÇÃO DE POLINÔMIO E SUAS EQUAÇÕES 1,0% - 1,5% - 0,6%
L NOÇÃO DE GEOMETRIA PLANA E MEDIDAS 5,0% 11,0% 14,5% 21,0% 12,8%
M NOÇÃO DE GEOMETRIA ESPACIAL E MEDIDAS 8,0% 11,0% 13,5% 8,5% 10,0%
N NOÇÃO DE GEOMETRIA ANALÍTICA 14,0% 5,0% 9,5% 4,0% 8,0%
O NOÇÃO DE MATEMÁTICA FINANCEIRA 8,0% 4,0% 1,5% - 3,4%
P NOÇÃO DE ANÁLISE COMBINATÓRIA 5,0% 4,0% 4,0% 8,5% 5,4%
Q NOÇÃO DE PROBABILIDADE 2,5% 6,0% 5,5% - 3,5%
R NOÇÃO DE ESTATÍSTICA E INTERPRETAÇÃO 13,0% 9,0% 9,5% 17,7% 12,1%
TOTAL 100% 100% 100% 100% 100%
No panorama descrito acima (Tabela 21), a média da utilização de questões que
utilizam a noção de matriz, mobilizadas de forma explícita, é pequena, quando se
considera a proporção das outras noções, como função polinomial, geometria plana,
geometria espacial e estatística; mas as noções matriciais podem ser articuladas
quando da resolução de outras tarefas que envolvem as noções de sistemas
lineares e geometria analítica, já que o estudante pode mobilizar a noção de matriz
para solução desse tipo de tarefa.
Analisam-se, em seguida, nas avaliações do SARESP, os diferentes tipos de
tarefas encontrados, para cuja solução a noção de matriz, suas operações e
propriedades funcionam como um conhecimento pelo menos mobilizável.
O primeiro tipo corresponde ao estudo das soluções particulares e do conjunto
solução de um sistema de equações lineares, como mostra o exemplo da Figura 82:
233
Essa tarefa pode ser resolvida de formas diferentes, dependendo do
conhecimento prévio dos estudantes. Mas, quando se considera a possibilidade de o
estudante utilizar as noções de matriz e determinante de uma matriz, ele deve dispor
de conhecimentos sobre o ostensivo de representação matricial de um sistema de
equações lineares para retirar do sistema dado a matriz de seus coeficientes e
calcular o determinante dessa matriz, que é igual a zero, o que permite concluir que
o sistema é indeterminado ou impossível.
Aplicando o método do escalonamento ou de Gauss no sistema dado ou na
matriz aumentada do sistema, conclui-se que o mesmo é impossível. Nesse caso,
calcular o determinante da matriz dos coeficientes auxilia a controlar o resultado.
Outro tipo de tarefa encontrada associa apenas a representação matricial de um
sistema de equações lineares:
Considere o sistema ⎩⎨⎧
=+=+
26961664
yxyx
A única alternativa correta é:
(A) o sistema é impossível
(B) x=2 e y=1 é uma solução do sistema
(C) x=1 e y=2 é a única solução do sistema.
(D) existem infinitas soluções deste sistema.
Figura 82. Tarefa do SARESP. Fonte: SARESP 2005 – noite – 2ª série EM
234
Para responder corretamente à tarefa da Figura 83, basta que o estudante
mobilize seus conhecimentos sobre a representação de um sistema de equações
lineares na forma de matriz.
Na tarefa da Figura 84, o sistema de equações lineares é dado por meio de sua
representação matricial, o que pode conduzir os estudantes a calcular o
determinante da matriz dos coeficientes, que é igual a zero; logo, o sistema é
impossível ou indeterminado.
Para determinar a solução, em função da representação dada, espera-se que o
estudante mobilize seus conhecimentos sobre o método da matriz aumentada do
sistema, para concluir que o mesmo é indeterminado.
Pode-se ainda aplicar o método do escalonamento ou método de Gauss no
próprio sistema, mas, para isso, é preciso mobilizar conhecimentos sobre
Considere o sistema de três equações e três incógnitas, representado a seguir na forma matricial:
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡=
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡
⎥⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢⎢
⎣
⎡
241
642753321
zyx
.
Figura 84. Tarefa do SARESP. Fonte: SARESP 2005 – noite – 2ª série EM
(A) (4, 0, -1) é uma solução. (B) o sistema tem uma única solução. (C) o sistema é impossível. (D) o sistema é indeterminado.
O sistema ⎩⎨⎧
=+=+
3128153
yxyx
pode ser representado por:
(A) ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡=⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡3181
2153
yx
(B) ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡=⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡3181
2153
yx
(C) ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡=⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡3181
2513
yx
(D) ⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡=⎥
⎦
⎤⎢⎣
⎡⎥⎦
⎤⎢⎣
⎡3181
2513
yx
Figura 83. Tarefa do SARESP. Fonte: SARESP 2005 – noite – 2ª série EM
235
multiplicação de matrizes e igualdade de duas matrizes e dispor de conhecimentos
sobre esse outro método.
Após os exemplos referentes à noção de sistemas de equações lineares, que
podem ser resolvidos utilizando a noção e a representação matricial, considera-se a
tarefa da Figura 85, associada ao quadro da geometria analítica, que utiliza como
ferramenta explícita para o cálculo da área de um triângulo, dadas as coordenadas
de seus vértices, a noção de determinante.
Observa-se, aqui, que a noção de determinante é uma ferramenta utilizada para
facilitar os cálculos, quando se determina a condição de alinhamento de três pontos
e é utilizada para definir a representação cartesiana de uma reta no plano; utilizando
essa ferramenta, deduz-se que a área de um triângulo, dada as coordenadas de
seus vértices, reduz-se ao cálculo do determinante de ordem 3, formado por esses
pontos e uma coluna de 1, que é o neutro da multiplicação para os números reais.
Na Figura 86, é apresentado o exemplo de três pontos colineares, para o qual se
aplica a condição de alinhamento de três pontos, que corresponde à determinação
da representação cartesiana de uma reta que passa por esses pontos e que, em
geral, conduz a considerar que o determinante de um ponto genérico e dois pontos
por onde passa a reta é igual a zero.
A área do triângulo ABC, cujos vértices estão indicados na figura abaixo, é
Figura 85. Tarefa do SARESP. Fonte: SARESP 2005 – noite – 3ª série EM
(A) 6 (B) 10 (C) 12 (D) 20
236
Na Figura 87, encontra-se outra questão de determinação da função afim, pois é
o gráfico de uma reta. Nesse caso, existem várias formas de determinar essa
função, como mostra Andrade (2006), e uma delas é por meio do método descrito
acima, em que se utiliza o determinante.
Na Figura 88, há o mesmo caso do da figura anterior, mas a diferença é que,
dado o gráfico, é preciso mobilizar conhecimentos sobre a identificação das
coordenadas dos pontos no gráfico, enquanto, no segundo exemplo, utilizam-se
diretamente os pontos dados. Dessa forma, é uma tarefa do mesmo tipo que a
anterior, em que a diferença corresponde aos ostensivos de representação dados no
enunciado.
No gráfico abaixo, você vê uma reta que corta o eixo X no ponto de abscissa 8, e o eixo Y no ponto de ordenada 6. A equação dessa reta é:
Figura 87. Tarefa do SARESP. Fonte: SARESP 2005 – noite – 3ª série EM
(A) 643
+−= xy (B) 643
+= xy
(C) 86 +−= xy (D) 86 += xy
Os pontos (1, 1), (3, 5) e (6, k) são colineares. O valor de k é: (A) ‐9 (B) 9 (C) 10 (D) 11
Figura 86. Tarefa do SARESP. Fonte: SARESP 2005 – noite – 3ª série EM
237
A tarefa da Figura 89, SARESP – 2007 distingue-se das anteriores, pois no
sistema é dado um parâmetro, e é em função dele que se pede para determinar as
condições de solução. Há, aqui, vários métodos para a solução, mas o mais
econômico é verificar para que valores de k o determinante dos coeficientes do
sistema é diferente de zero; ou seja, dispor da representação matricial de um
sistema linear e da noção de determinante e propriedade, associada ao conceito de
sistema de equações lineares, facilita a execução da tarefa.
A tarefa da Figura 90 pode ser resolvida pela aplicação direta de um dos métodos
de resolução de sistemas de equações lineares, incluindo o da matriz aumentada do
sistema; ou seja, o estudante pode utilizar o método que lhe seja mais conveniente,
A equação da reta que contém os pontos (1, 6) e (5, 4) é:
(A) 7+−= xy
(B) 2
112
+=xy
(C) 82 +−= xy
(D) 2
132
+−=xy
Figura 88. Tarefa do SARESP Fonte: SARESP 2005 – noite – 3ª série EM
Sobre o sistema nas variáveis x e y ⎩⎨⎧
=+=+32.
yxyxk
, em que k é uma constante real, é verdade
que o sistema
(A) admite uma única solução, se k≠1.
(B) admite infinitas soluções quaisquer que sejam os valores de k.
(C) é impossível, quaisquer que sejam os valores de k
(D) admite uma única solução, se k=1.
Figura 89. Tarefa do SARESP Fonte: SARESP 2007 – manhã – 3ª série EM
238
uma vez que já é indicado que o sistema tem uma única solução. Nesse caso, não é
necessário nenhum conhecimento sobre matrizes e determinantes.
Na tarefa seguinte, são dadas duas retas por meio dos ostensivos de
representação geométrico e algébrico e pede-se o ponto de interseção dessas duas
retas. Existem vários métodos para resolver essa tarefa, mas o mais simples é
considerar um sistema de duas equações e duas incógnitas, que pode ser resolvido
utilizando até um dos métodos desenvolvidos no Ensino Fundamental; ou seja, para
solução, a noção de matriz só será útil para aqueles que disponham do método da
matriz aumentada para resolvê-la. Isso deixa, mais uma vez, evidente que a noção
de matriz e determinante de uma matriz é uma ferramenta que pode ou não ser
empregada, dependendo da escolha para descrever, explicar e justificar esse tipo de
tarefa, que depende da técnica escolhida para desenvolvê-la.
Observa-se ainda que, para a tarefa da Figura 91, nenhum método é necessário,
e basta identificar o ponto de interseção das duas retas no sistema cartesiano
ortogonal. Ela pode ser resolvida de várias formas, dependendo dos conhecimentos
prévios dos estudantes que identificam as retas e reconhecem que as equações de
duas retas determinam um sistema linear cuja solução é a sua interseção.
Sendo (a, b, c) a solução do sistema de equações lineares, qual é o valor da soma a+b+c?
⎪⎩
⎪⎨
⎧
−=−=+−
=+
12343
02
cbcba
ba
Figura 90. Tarefa do SARESP. Fonte: SARESP 2007 – tarde – 3ª série EM
(A) 0 (B) 1 (C) 2 (D) 3
239
Na tarefa da Figura 92 podem-se resolver todos os sistemas e verificar para qual
deles a solução é o par (x, y) dado, mas o mais econômico é o estudante substituir
os valores de x e y nas equações dadas e verificar para que sistema linear esse par
satisfaz as duas equações, ou seja, não são necessários conhecimentos sobre
matrizes, nem mesmo sobre sistemas de equações lineares para resolver a tarefa.
Já a tarefa da Figura 93 exige um método de resolução de sistemas equações
lineares para resolvê-la e, nesse caso, um dos métodos seria o da matriz aumentada
do sistema. Mas esse não é o modo mais econômico, pois os estudantes podem
recorrer aos métodos desenvolvidos no Ensino Fundamental.
O par (x; y)=(‐3; ‐6) é solução do sistema de equações:
(A)⎩⎨⎧
=+=−
033
yxyx (B)
⎩⎨⎧
−=−=−
302
yxyx (C)
⎩⎨⎧
=−−=+
02122
yxyx (D)
⎩⎨⎧
=−−=+
829
yxyx
Figura 92. Tarefa do SARESP Fonte: SARESP 2007 – noite – 3ª série EM
Na figura abaixo estão representadas as retas r, de equação y=-3x+b, e a reta t, de equação y=ax+1.
Figura 91. Tarefa do SARESP. Fonte: SARESP 2007 – tarde – 3ª série EM
A resolução do sistema formado por estas duas equações
(A) é dada por x=2 e y=3
(B) é dada por x=-3 e y=1
(C) depende do valor de a e b
(D) é dada por x=3 e y=2
240
Ainda, como nos casos anteriores, a tarefa da Figura 94 necessita que o
estudante disponha de um método de resolução de sistemas de equações lineares e
de situações de referência que o auxiliem a identificar que o conceito a ser utilizado
para modelar o que é dado no enunciado é a noção de sistemas de equações
lineares. Portanto, também nesse caso, a noção de matriz não é necessária para a
solução da tarefa.
Na tarefa da Figura 95, onde se pede a reta suporte que representa a posição da
escada, pode-se utilizar a noção de equação geral da reta, que é calculada por meio
de determinante. Por ser uma questão dirigida ao terceiro ano do Ensino Médio, a
solução proposta na Figura96 poderá corresponder a uma das técnicas utilizadas
pelos estudantes, pois as noções de Geometria Analítica no plano são
desenvolvidas nessa série. Mas eles podem recorrer aos métodos para determinar
uma função afim que, no caso, não seria o mais econômico.
Um clube promoveu um show de música popular brasileira ao qual compareceram 200 pessoas, entre sócios e não‐sócios. No total, o valor arrecadado foi de R$ 1400,00 e todas as pessoas pagaram ingresso.
O preço do ingresso era R$ 10,00, e cada sócio pagou metade desse valor. Pode‐se afirmar que o número de sócios presentes ao show foi
A) 100. B) 120. C) 140. D) 150.
Figura 94. Tarefa do SARESP Fonte: SARESP 2008 – 3ª série EM
As duas retas a e b, representadas na figura abaixo, têm as seguintes equações:
a: y=x+5 b: y=‐2x+11
Figura 93. Tarefa do SARESP. Fonte: SARESP 2007 – noite – 3ª série EM
O ponto P(m, n) é intersecção das duas retas.
O valor de m‐n é igual a:
(A) 1
(B) ‐2
(C) ‐5
(D) ‐7
241
Para essa tarefa, a noção de determinante de uma matriz serve apenas de
ferramenta explícita para o cálculo da equação da reta e não exige conhecimentos
sobre matrizes, suas operações e propriedades.
Após a análise de algumas tarefas extraídas do SARESP, registra-se um breve
comentário sobre este sistema de avaliação, que, para o Governo do Estado de São
Paulo, é um instrumento que pode catalisar o que está sendo realmente
desenvolvido nas inúmeras salas de aula, além de abrir um leque de discussão,
verificação e auto-estudo para os educadores em geral.
Conforme se verifica no panorama da Tabela 21, a noção de matriz não é pedida
de forma explícita nas tarefas que compõem o SARESP, mas, conforme alguns
exemplos apresentados, ela pode servir como ferramenta matemática explícita para
a solução de tarefas associadas às noções de sistemas de equações lineares e de
equação de uma reta no plano, quando se considera o seu estudo no quadro da
Geometria Analítica.
Figura 96. Solução do exemplo da Figura 95. (Desenvolvida pelo pesquisador)
Uma escada é encontrada numa parede, tocando‐a 4 m acima do chão e afastada 1 m da parede. Uma possível equação da reta suporte dessa escada, num sistema cartesiano convencional, em que a origem é o ponto de encontro da parede com o chão, é:
A) 14
=− yx B) 1
4=+
yx C) 5=+ yx D) 5=+ yx
Figura 95. Tarefa do SARESP. Fonte: SARESP 2008 – 3ª série EM
242
Dessa forma, a noção de matriz, suas operações e propriedades não é um
conhecimento que se pode considerar como pelo menos mobilizável para os
estudantes que terminam o Ensino Médio, pois apenas uma das tarefas tratava da
representação matricial de um sistema linear e, nas outras, a noção de determinante
de uma matriz pode ser aplicada, mas não é necessária; ou seja, é um
conhecimento que pode ser disponível para alguns estudantes.
Após a análise de algumas tarefas do Sistema de Avaliação do Rendimento
Escolar do Estado de São Paulo - SARESP, estuda-se, entre as tarefas do Exame
Nacional do Ensino Médio – ENEM, quais podem ser resolvidas por meio da noção
de matriz, suas operações e propriedades e se existe necessidade desse conceito
para a solução da tarefa.
7.5 Exame Nacional do Ensino Médio.
7.5.1 Comentários e Análises
O Exame Nacional do Ensino Médio foi criado em 1998 pelo Ministério da
Educação e consiste em uma prova que avalia a qualidade do Ensino Médio do
Brasil, sendo utilizada também como acesso ao Ensino Superior em Universidades
brasileiras.
Analisando os exames aplicados desde 2005, elabora-se um panorama que
fornece a porcentagem das diferentes noções matemáticas cobradas nessa
avaliação, que pode ser observado na tabela 22.
TABELA 22: Conteúdos do Ensino Médio mobilizados no ENEM
CONTEÚDO 2005 2006 2007 2008 2009 MÉDIA
A NOÇÃO DE CONJUNTO NUMÉRICO E OPERAÇÕES 5,0% - - - 5,0% 2,0%
B NOÇÃO DE FUNÇÃO - - - - 14,0% 2,8%
C NOÇÃO DE FUNÇÃO POLINOMIAL 15,0% - 5,0% 4,0% 2,0% 5,2%
D NOÇÃO DE FUNÇÃO MODULAR - - - - - -
E NOÇÃO DE FUNÇÃO: EXPONENCIAL, LOGARÍTMICA E OPERAÇÕES - - 5,0% - 2,0% 1,4%
F NOÇÃO DE TRIGONOMETRIA E SUAS FUNÇÕES - 6,0% - - - 1,2%
243
G NOÇÃO DE SEQUÊNCIA NUMÉRICA - - 11,0% 14,0% - 5,0%
H NOÇÃO DE MATRIZES E DETERMINANTES - - - - - -
I NOÇÃO DE SISTEMA LINEAR - - - - 2,0% 0,4%
J NOÇÃO DE NÚMEROS COMPLEXOS E OPERAÇÕES - - - - - -
K NOÇÃO DE POLINÔMIO E SUAS EQUAÇÕES - - - - - -
L NOÇÃO DE GEOMETRIA PLANA E MEDIDAS - - - 14,0% 23,0% 7,4%
M NOÇÃO DE GEOMETRIA ESPACIAL E MEDIDAS 5,0% 12,0% 5,0% 4,0% 14,0% 8,0%
N NOÇÃO DE GEOMETRIA ANALÍTICA - - - 2,0% 0,4%
O NOÇÃO DE MATEMÁTICA FINANCEIRA - - - 7,0% 2,0% 1,8%
P NOÇÃO DE ANÁLISE COMBINATÓRIA 5,0% - 5,0% - 5,0% 3,0%
Q NOÇÃO DE PROBABILIDADE - 6,0% 11,0% - 9,0% 5,2%
R NOÇÃO DE ESTATÍSTICA E INTERPRETAÇÃO 70,0% 76,0% 58,0% 57,0% 20,0% 56,2%
TOTAL 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Conforme o panorama acima (Tabela 22), a noção de matriz não foi desenvolvida
de forma explícita em nenhuma das avaliações aqui consideradas, e as tarefas
associadas às noções de sistemas de equações lineares e geometria analítica, em
que a noção de matriz e determinante pode ser utilizada como ferramenta para sua
solução, foram introduzidas apenas no ano de 2009.
Para registrar, entre as tarefas pedidas no Exame Nacional do Ensino Médio –
ENEM, aquelas para as quais se podem utilizar as noções de matrizes e
determinantes, apresenta-se abaixo uma tarefa para mostrar essa possibilidade,
observando que, nesse caso, a noção de matriz não é necessária para seu
desenvolvimento.
244
Pode-se dizer que não existem tarefas em que o conhecimento de matrizes, suas
operações e propriedades são necessários para sua solução; logo, considerando o
ENEM, conclui-se que esse conhecimento não corresponde ao conjunto de
conhecimentos prévios pelo menos mobilizáveis ao final do Ensino Médio.
As demandas da noção de matrizes, suas operações e propriedades na avaliação
para a entrada na Universidade de São Paulo, o exame da Fundação Universitária
para o Vestibular – FUVEST serão consideradas a seguir.
7.6 Fundação Universitária para o Vestibular – FUVEST.
7.6.1 Comentários e análises
A Fundação Universitária para o Vestibular – FUVEST é uma instituição
responsável pela realização dos exames vestibulares de escolas de nível superior do
Estado de São Paulo, selecionando alunos para a Universidade de São Paulo –
USP, para a Academia de Polícia Militar do Barro Branco – APMBB e para a
Brasil e França têm relações comerciais há mais de 200 anos. Enquanto a França é a 5.ª nação mais rica do planeta, o Brasil é a 10.ª, e ambas se destacam na economia mundial. No entanto, devido a uma série de restrições, o comércio entre esses dois países ainda não éadequadamente explorado, como mostra a tabela seguinte, referente ao período 2003-2007.
Os dados da tabela mostram que, no período considerado, os valores médios dos investimentos da França no Brasil foram maiores que os investimentos do Brasil na Françaem um valor (A) inferior a 300 milhões de dólares. (B) superior a 300 milhões de dólares, mas inferior a 400 milhões de dólares. (C) superior a 400 milhões de dólares, mas inferior a 500 milhões de dólares. (D) superior a 500 milhões de dólares, mas inferior a 600 milhões de dólares. (E) superior a 600 milhões de dólares.
Figura 97: Tarefa do ENEM. Fonte: ENEM 2009
245
Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – FCMSC-SP. Este
exame, o maior vestibular do Brasil, é realizado em duas fases.
A tabela oferece um panorama das noções matemáticas desenvolvidas nas
provas da FUVEST desde 200528, destacando as porcentagens correspondentes a
cada noção.
TABELA 23: Conteúdos do Ensino Médio mobilizados na FUVEST
CONTEÚDO 2006 2007 2008 2009 2010 MÉDIA
A NOÇÃO DE CONJUNTO NUMÉRICO E OPERAÇÕES - - - - - -
B NOÇÃO DE FUNÇÃO - - - 4,0% - 0,8%
C NOÇÃO DE FUNÇÃO POLINOMIAL 5,0% - - 4,0% 13,0% 4,4%
D NOÇÃO DE FUNÇÃO MODULAR - 5,0% - - 7,0% 2,4%
E NOÇÃO DE FUNÇÃO: EXPONENCIAL, LOGARÍTMICA E OPERAÇÕES 5,0% - 4,0% 4,0% 7,0% 4,0%
F NOÇÃO DE TRIGONOMETRIA E SUAS FUNÇÕES 14,0% 5,0% 13,0% 4,0% - 7,2%
G NOÇÃO DE SEQUÊNCIA NUMÉRICA 5,0% 10,0% 9,0% 4,0% 7,0% 7,0%
H NOÇÃO DE MATRIZES E DETERMINANTES - - - - - -
I NOÇÃO DE SISTEMA LINEAR 5,0% 10,0% 9,0% 5,0% - 5,8%
J NOÇÃO DE NÚMEROS COMPLEXOS E OPERAÇÕES 5,0% - 5,0% - - 2,0%
K NOÇÃO DE POLINÔMIO E SUAS EQUAÇÕES - 5,0% 9,0% - - 2,8%
L NOÇÃO DE GEOMETRIA PLANA E MEDIDAS 10,0% 30,0% 9,0% 23,0% 32,0% 20,8%
M NOÇÃO DE GEOMETRIA ESPACIAL E MEDIDAS 14,0% 20,0% 13,0% 14,0% 7,0% 13,6%
N NOÇÃO DE GEOMETRIA ANALÍTICA 14,0% 5,0% 9,0% 14,0% 7,0% 9,8%
O NOÇÃO DE MATEMÁTICA FINANCEIRA 9,0% - 5,0% 5,0% - 3,8%
P NOÇÃO DE ANÁLISE COMBINATÓRIA 9,0% 5,0% 5,0% 5,0% 7,0% 6,2%
Q NOÇÃO DE PROBABILIDADE - 5,0% 5,0% 5,0% - 3,0%
R NOÇÃO DE ESTATÍSTICA E INTERPRETAÇÃO 5,0% - 5,0% 9,0% 13,0% 6,4%
TOTAL 100% 100% 100% 100% 100% 100%
28 O vestibular efetuado pelos estudantes em 2005 é chamado de FUVEST 2006, pois o ingresso só se concretiza no ano posterior.
246
As noções de matrizes e determinantes, juntamente com a noção de conjunto
numérico e operações, foram as únicas noções que não foram pedidas
explicitamente na prova, mas observa-se que foram trabalhadas outras noções que
utilizam ou podem fazer apelo a objetos matrizes e determinantes, como ferramenta
explícita para sua solução, como, por exemplo, as noções de sistema de equações
lineares e geometria analítica, como já identificadas nas análises do SARESP e do
ENEM.
Constata-se que as noções de geometria, em geral, são os conceitos mais
pedidos nos últimos cinco anos de aplicação, e algumas tarefas necessitam da
articulação com outras noções para sua solução.
Na tarefa da Figura 98, pede-se explicitamente para que se mobilize a noção de
determinante e matriz dos coeficientes do sistema de equações lineares dado. Na
realidade, o estudo das possibilidades de solução do sistema dado, via a noção de
determinante da matriz de seus coeficientes, é o método mais econômico, mas aqui
só precisa ser mobilizado, pois o trabalho matemático a ser realizado é pedido
explicitamente no enunciado da tarefa.
Mesmo sendo a noção de determinante a mais econômica, existem outros
conhecimentos em jogo de que o estudante deve dispor para encontrar a solução da
tarefa; por exemplo, o Teorema de Jacobi29 e o Teorema Fundamental de Laplace30,
este último necessitando de conhecimentos relacionados às técnicas para
determinar o Menor Complementar31 e o Complemento Algébrico32 (Cofator).
29 Teorema de Jacobi: Seja uma matriz quadrada. Se multiplicarmos todos os elementos de uma linha (ou coluna) pelo mesmo número e somarmos os resultados aos elementos correspondentes de outra linha (ou coluna), formando outra matriz, então o determinante da matriz inicial será igual ao determinante da matriz formada. (DANTE, 2005).
30 Teorema Fundamental de Laplace: O determinante de uma matriz quadrada de ordem n≥2 é a soma dos produtos dos elementos de uma fila qualquer (linha ou coluna) pelos respectivos cofatores. (IEZZI, 1985).
31 Menor Complementar: Dada uma matriz quadrada de ordem n≥2 e seja aij um elemento da matriz, define‐se menor complementar do elemento aij como o determinante da matriz que se obtém, suprimindo a linha i e a coluna j da matriz. (IEZZI, 1985).
32 Complemento Algébrico: Dada uma matriz quadrada de ordem n≥2, e sendo aij um elemento da matriz, define‐se Complemento Algébrico ou Cofator do elemento aij como o número (‐1)i+j multiplicado pelo seu Menor Complementar. (IEZZI, 1985).
247
Para essa tarefa da FUVEST, os conhecimentos mobilizáveis e disponíveis em
relação às noções de matrizes e determinantes permitem supor que os estudantes
tenham trabalhado com essas noções não apenas como ferramentas para solução
de outros tipos de tarefas, mas como objetos do quadro matricial composto de
definições, propriedades, teoremas e proposições.
Nas Figuras 99 e 100, são apresentadas situações contextualizadas, nas quais o
estudante deve reconhecer, entre aquelas que pertencem ao seu sistema de
referência, as tarefas em que é preciso modelar os dados por meio de um sistema
de equações lineares e, em seguida, dispor de um método de resolução que não faz
necessariamente apelo às noções de matrizes e determinantes. Nesse caso, o
método mais econômico é o do escalonamento ou eliminação de Gauss, mas pode-
se utilizar o método da matriz aumentada do sistema, em que se escalona a matriz.
.
Figura 99: Tarefa da FUVEST. Fonte: FUVEST 2007 – 2ª FASE
Considere o sistema linear nas variáveis x, y e z:
⎪⎩
⎪⎨
⎧
=+=++=++
0)()(cos0)()(cos0)()(cos
22
22
22
zcsenyczbsenybxzasenyax
a) Calcule o determinante da matriz dos coeficientes do sistema linear.
b) Para que valores de a, b e c o sistema linear admite soluções não triviais?
c) Calcule as soluções dos sistemas, quando 12 =asen e 51cos 2 =a
Figura 98: Tarefa da FUVEST. Fonte: FUVEST 2006 – 2ª FASE
Se Amélia der R$ 3,00 a Lúcia, ambas ficarão com a mesma quantia. Se Maria der um terço do que tem a Lúcia, então esta ficará com R$ 6,00 a mais do que Amélia. Se Amélia perder a metade do que tem, ficará com uma quantia igual a um terço do que possui Maria.
Quanto possui cada uma das meninas: Amélia, Lúcia e Maria?
248
Já na tarefa da Figura 101, mesmo se tratando de um sistema de duas equações
e duas incógnitas, o fato de ser um sistema com parâmetros exige que os
estudantes mobilizem métodos adequados para a sua solução. Nesse caso, calcular
o determinante da matriz dos coeficientes pode auxiliar a controlar os resultados,
mesmo que os métodos de escalonamento e o de Gauss sejam os mais
econômicos. Mais uma vez, a noção de matriz e determinante de uma matriz é
apenas uma ferramenta de cálculo, não necessária para resolver a tarefa.
Observando-se o panorama descrito na Tabela 23, conclui-se que a noção de
matriz não é pedida de forma explícita para a solução das tarefas da FUVEST: ela
serve apenas de ferramenta para a sua solução, quando disponível, o que não é
necessário e pode ser utilizado apenas para auxiliar a controlar e justificar os
resultados encontrados.
Considere o sistema de equação nas variáveis x e y, dado por
⎩⎨⎧
=−+=−
0)12(2024 2
ymmxymx
a) Desse modo, resolva o sistema para m=1.
b) Determine todos os valores de m para os quais o sistema possui infinitas soluções.
c) Determine todos os valores de m para os quais o sistema admite uma solução da forma (x, y)=(α,1), sendo α um número irracional.
Figura 101: Tarefa da FUVEST. Fonte: FUVEST 2009 – 2ª FASE
João entrou na lanchonete BOG e pediu 3 hambúrgueres, 1 suco de laranja e 2 cocadas, gastando R$ 21,50. Na mesa ao lado, algumas pessoas pediram 8 hambúrgueres, 3 sucos de laranja e 5 cocadas, gastando R$ 57,00. Sabendo‐se que o preço de um hambúrguer, mais o de um suco de laranja, mais o de uma cocada totaliza R$ 10,00, calcule o preço de cada um desses itens.
Figura 100: Tarefa da FUVEST. Fonte: FUVEST 2008 – 2ª FASE
249
Após análise da avaliação da FUVEST, considera-se o Exame Nacional de
Desempenho de Estudantes – ENADE, destinado aos universitários matriculados
nos cursos que são investigados pelos órgãos responsáveis e vinculados ao
Ministério da Educação Cultura e Desporto – MEC. São obrigados a passar por essa
avaliação os estudantes que ingressam no primeiro ano do Ensino Superior e os que
estão matriculados no último ano do curso.
7.7 Exame Nacional de Desempenho de Estudantes
7.7.1 Comentários e Análises
O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes inicialmente foi chamado de
Exame Nacional de Cursos – Provão. Foi aplicado aos formandos, no período de
1996 a 2003, com o objetivo de avaliar os resultados do processo de ensino-
aprendizagem dos cursos de graduação da Educação Superior. Na última edição,
em 2003, foram avaliadas 26 áreas: Administração, Agronomia, Arquitetura e
Urbanismo, Biologia, Ciências Contábeis, Direito, Economia, Enfermagem,
Engenharia Civil, Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica, Engenharia Química,
Farmácia, Física, Fonoaudiologia, Geografia, História, Jornalismo, Letras,
Matemática, Medicina, Medicina Veterinária, Odontologia, Pedagogia, Psicologia e
Química.
Em 14 de abril de 2004, foi criado, pela Lei n.º 10.861, o Sistema Nacional de
Avaliação Superior – SINAES, formado por três componentes: a avaliação das
instituições, dos cursos e do desempenho dos estudantes, avaliados com relação
aos componentes: o ensino, a pesquisa, a responsabilidade social, o desempenho
dos alunos, a gestão da instituição, o corpo docente, as instalações e vários outros
aspectos. Esse sistema possui uma série de instrumentos, entre eles o Exame
Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE, que é uma avaliação dos cursos
de graduação.
A avaliação dos cursos de graduação e os instrumentos de avaliação traçam
resultados que possibilitam verificar um panorama da qualidade dos cursos e das
instituições de educação superior no País, sendo todos estes processos
coordenados e supervisionados pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação
250
Superior – CONAES, sob a responsabilidade do Instituto Nacional e Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP.
Com relação aos conteúdos desenvolvidos nas provas do Exame Nacional de
Desempenho de Estudantes (2005 e 2008), registram-se, na Tabela 24, os
conteúdos específicos relacionados às disciplinas do curso de licenciatura em
matemática, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para Matemática (2001),
conforme segue.
TABELA 24: Conteúdos do Ensino Superior referente às disciplinas - ENADE
CONTEÚDO 2005 2006 2007 2008 2009 MÉDIA
CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL 24,0% 22,0% 23,0%
ÁLGEBRA LINEAR 9,0% 11,0% 10,0%
FUNDAMENTOS DE ANÁLISE 6,0% 6,0% 6,0%
FUNDAMENTOS DE ÁLGEBRA 28,0% 39,0% 33,5%
FUNDAMENTOS DE GEOMETRIA 24,0% 16,0% 20,0%
GEOMETRIA ANALÍTICA 9,0% 6,0% 7,5%
TOTAL 100% 100% 100%
A tabela 24 demonstra que as tarefas mais trabalhadas nas duas versões do
ENADE, referentes ao curso de Licenciatura em Matemática se encontram na
disciplina de Fundamentos de Álgebra, seguidas de questões pertencentes à
disciplina de Cálculo Diferencial e Integral; portanto, as questões relacionadas a
Álgebra Linear correspondem apenas a 10% do total, ou seja, tarefas relacionadas a
esta disciplina, são frequentemente pouco demandadas nos exames propostos.
Nas tarefas extraídas das duas versões do ENADE, verifica-se a articulação com
noções envolvendo o quadro das matrizes, determinantes e sistemas de equações
lineares, às vezes de forma explícita e outras vezes como ferramenta matemática
para solução de sistemas de equações lineares das tarefas de Geometria Analítica e
Álgebra Linear.
251
As transformações lineares e suas matrizes são demandadas nessa avaliação.
Assim, acredita-se que os estudantes devam dispor de conhecimentos relacionados
a Álgebra Linear, para solucionar o que é pedido.
Para melhor compreender os tipos de tarefas sobre a noção de matrizes, suas
operações e propriedades que foram pedidos nesse exame consideram-se os
exemplos abaixo.
Na tarefa da Figura 102, o enunciado é extenso, mas o que se pede não exige
conhecimentos desenvolvidos especificamente no Ensino Superior. Apesar de tratar
de uma situação contextualizada, da forma como a tarefa é enunciada, os
estudantes precisam apenas mobilizar seus conhecimentos sobre a noção de
sistemas de equações lineares. Neste caso, é preciso mobilizar também a noção de
determinante de uma matriz, mas isso não permite tirar conclusões sobre a resposta
a). Para isso, é preciso dispor de um método de resolução de sistemas de equações
lineares, o que permite encontrar a solução: o custo total estimado da obra é
superior a 4 bilhões de reais.
Trata-se de uma tarefa simples, que pode ser resolvida pelos estudantes que
terminaram o Ensino Médio, uma vez que os conhecimentos a serem mobilizados,
em geral, são desenvolvidos nessa etapa escolar.
Isso mostra que a noção de sistemas de equações lineares é considerada como
um conhecimento prévio para os estudantes que iniciam o Ensino Superior, mas é
possível trabalhar diferentes métodos para solução desses sistemas, de forma a
tornar esse conhecimento mais estável, possibilitando um melhor desempenho dos
estudantes, que poderão escolher a técnica que lhes parece mais adequada.
252
Há, na Figura 103, a seguir, uma questão específica de Álgebra Linear, que os
estudantes que acabam de terminar o Ensino Médio dificilmente poderiam explicar e
justificar sua resposta. Para chegar à solução, é necessário dispor de
conhecimentos sobre as transformações geométricas do plano no plano; da noção
de transformação linear da propriedade, que afirma que toda transformação linear
leva o vetor nulo do espaço de partida no vetor nulo do espaço de chegada. Isso
permite concluir que a transformação da figura III não é linear, o que já elimina as
respostas A), B) e E). Por outro lado, a transformação da figura I é uma rotação; a da
figura II, um cisalhamento; a da figura V, uma expansão; e a da figura VI, uma
A transposição do rio São Francisco é um assunto que desperta grande interesse. Questionam-se, entre outros aspectos, os efeitos no meio ambiente, o elevado custo do empreendimento relativamente à população beneficiada e à quantidade de água a ser retirada — o que poderia prejudicar a vazão do rio, que hoje é de 1.850 m3/s. Visando promover em sala de aula um debate acerca desse assunto, um professor de matemática propôs a seus alunos o problema seguinte, baseando-se em dados obtidos do Ministério da Integração Nacional. Considere que o projeto prevê a retirada de x m3/s de água. Denote por y o custo total estimado da obra, em bilhões de reais, e por z o número, em milhões, de habitantes que serão beneficiados pelo projeto. Relacionando-se essas quantidades, obtém-se o sistema de equações lineares AX = B, em que
Com base nessas informações, assinale a opção correta. (A) O sistema linear proposto pelo professor é indeterminado, uma vez que det(A) = 0. (B) A transposição proposta vai beneficiar menos de 11 milhões de habitantes. (C) Mais de 2% da vazão do rio São Francisco serão retirados com a transposição, o que pode provocar sérios danos ambientais. (D) O custo total estimado da obra é superior a 4 bilhões de reais. (E) A matriz linha reduzida à forma escalonada, que é linha equivalente à matriz A, possui uma coluna nula.
Figura 102: Tarefa do ENADE. Fonte: ENADE 2005
253
projeção sobre o eixo x. Logo, a resposta correta é D), uma vez que a transformação
da figura IV não é linear.
Dessa forma, observa-se que não é necessário conhecer a noção de matrizes,
suas operações e propriedades, para a solução da questão.
Na tarefa da Figura 104, é dispensável conhecer algum método de resolução de
sistemas de equações lineares, mas, nesse caso, deve-se dispor de conhecimento
sobre a propriedade que afirma que, se o determinante da matriz dos coeficientes de
um sistema linear é igual a zero, então o sistema não possui solução única. Logo,
para verificar que o sistema dado é impossível, é preciso dispor de um método de
resolução de sistemas de equações lineares, que pode ser o método da matriz
aumentada do sistema.
Observe as figuras abaixo.
Podem ser imagem da figura A por alguma transformação linear T : R2 → R2 apenas as figuras
(A) I, III e IV. (B) III, IV e VI. (C) I, II, IV e V. (D) I, II, V e VI. (E) II, III, V e VI.
Figura 103: Tarefa do ENADE. Fonte: ENADE 2005
254
Portanto, a noção de matrizes, suas operações e propriedades não é necessária
para a solução da tarefa, mas, para escolher a alternativa (B), é preciso mobilizar
conhecimentos sobre a propriedade do determinante da matriz dos coeficientes.
Conforme descrito na Tabela 24, as tarefas relativas a Álgebra Linear solicitadas
no ENADE para o curso de Licenciatura em Matemática, nas duas versões
existentes, correspondem apenas a 10% da prova; e, quando se considera que,
entre as três tarefas, duas correspondem apenas à mobilização de conhecimentos
sobre a noção de sistemas de equações lineares, espera-se que os estudantes
possam ao menos mobilizar as propriedades sobre as condições de solução,
quando o determinante dos coeficientes da matriz é igual a zero.
Como essa noção, em geral, é considerada conhecimento prévio para os
estudantes do Ensino Médio, pode-se supor que as duas questões sobre sistemas
de equações lineares não colocarão dificuldades para os estudantes.
Considere o sistema de equações a seguir.
Analise as asserções seguintes relativas à resolução desse sistema de equações lineares.
O sistema não tem solução
porque o determinante da matriz dos coeficientes é igual a zero.
A respeito dessa afirmação, assinale a opção correta.
(A) As duas asserções são proposições verdadeiras e a segunda é uma justificativa correta da primeira. (B) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta da primeira. (C) A primeira asserção é uma proposição verdadeira, e a segunda é falsa. (D) A primeira asserção é uma proposição falsa, e a segunda é verdadeira. (E) Ambas as asserções são proposições falsas.
Figura 104: Tarefa do ENADE. Fonte: ENADE 2008.
255
Já a questão de transformação linear exige que se reconheçam algumas das
transformações geométricas de IR2 em IR2 e que se mobilize a noção de
transformação linear e suas propriedades. Observa-se que a noção de matriz de
uma transformação linear não é tratada nessa avaliação.
Termina-se, fazendo algumas considerações sobre as análises apresentadas
acima.
7.8 Considerações finais sobre o capítulo
As análises descritas neste capítulo fizeram-se necessárias para verificar qual a
relação entre o que está sendo oferecido em relação às noções de matrizes
desenvolvidas, tanto no Ensino Médio como no Ensino Superior, e o que se pede
nas avaliações institucionais.
Ressalta-se que algumas avaliações discriminadas nesta pesquisa têm como
objetivo apenas demonstrar a qualidade educacional oferecida pelas inúmeras
escolas e universidades, como, por exemplo, o SARESP e o ENADE,
respectivamente; outras servem como ferramentas a serviço dos estudantes, para
sua entrada nas universidades escolhidas, como, por exemplo a FUVEST e o
ENEM. Este último também é uma ferramenta de análise para os órgãos
educacionais.
Com relação ao SARESP, foram analisadas as avaliações aplicadas desde 2005
para a disciplina de Matemática, constatando-se que as noções de matrizes, suas
operações e propriedades não são necessariamente mobilizadas nessas avaliações.
Em geral, ela serve de ferramenta explícita para a resolução de sistemas de
equações lineares e para desenvolver tarefas de Geometria Analítica, em que a
noção de determinante de uma matriz facilita os cálculos e a forma de representar as
fórmulas para cálculo.
As tarefas do SARESP não exigem, para sua solução, conhecimentos específicos
da noção de matrizes, suas operações e propriedades: basta dispor de
conhecimentos sobre a conversão de um sistema de equações lineares em sua
representação matricial; determinar a matriz dos coeficientes do sistema; e mobilizar
a propriedade sobre o determinante da matriz dos coeficientes, que possibilita
256
controlar os resultados encontrados e torna mais econômica a resolução e o estudo
das condições de solução de um sistema com parâmetros.
Logo, pode-se dizer que, para ter sucesso no SARESP, em relação à noção de
matriz, basta mobilizá-la enquanto ferramenta explícita de representação e dispor de
um método para o cálculo do determinante de uma matriz.
No Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, analisado desde 2005, constatou-
se que a noção de matrizes, suas operações e propriedades não é desenvolvida em
suas provas. Apenas foram disponibilizadas — e unicamente na avaliação de 2009
—, representando apenas 2% do total das noções utilizadas, as noções de sistema
de equações lineares e geometria analítica, que não necessitam da noção de matriz
para a sua solução, como se mostrou no exemplo retirado dessa avaliação e
apresentado.
A avaliação da Fundação Universitária para o Vestibular – FUVEST, segundo a
Tabela 23, não solicita explicitamente as noções de matrizes e determinantes, mas
apresenta tarefas envolvendo as noções de sistemas de equações lineares, para as
quais o estudante pode utilizar as noções de matrizes e determinantes para
desenvolvê-las.
Já o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE, conforme
apresentado, propõe tarefas relacionadas às noções desenvolvidas na disciplina de
Álgebra Linear, em especial aquelas que mobilizam o quadro das matrizes,
articulado com o dos sistemas de equações lineares e a noção de transformações
lineares e geométricas. As tarefas sobre transformações lineares e geométricas não
necessitam da matriz dessa transformação para sua solução.
Por fim, conforme analisado nas macroavaliações, a noção de matrizes, suas
operações e propriedades é demandada muito superficialmente em algumas
avaliações e esquecida em outras; em geral, ela é apenas trabalhada enquanto
representação matricial de sistemas de equações lineares e possibilita o uso da
propriedade do determinante da matriz do coeficiente, que é uma ferramenta eficaz
para controlar os resultados encontrados, principalmente para o estudo de sistemas
com parâmetros.
257
Isso mostra que existe pouca coerência entre as relações institucionais esperadas
e existentes para o desenvolvimento da noção de matrizes, suas operações e
propriedades no Ensino Médio e a relação pessoal esperada dos estudantes, que
pouco necessitam dessa noção para resolver as tarefas propostas nas
macroavaliações.
Fazem-se, a seguir, as considerações finais e as perspectivas futuras para este
trabalho, que se espera possa auxiliar professores e estudantes a melhor escolher
quando introduzir a noção de matrizes, suas operações e propriedades, de forma
que esse conceito possa ser útil para resolver diferentes tipos de tarefas, em
particular, aqueles em que essa noção possa facilitar e tornar mais econômico o
trabalho a ser realizado, como é o caso das matrizes das transformações lineares e
geométricas que correspondem à forma mais adaptada para trabalhar com essas
transformações em computação e informática.
258
CONSIDERAÇÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS
Apresentam-se as considerações e as perspectivas elaboradas a partir das análises
apresentadas anteriormente. Dessa forma, procura-se responder as questões iniciais que
estão associadas à problemática e ao objetivo da pesquisa:
- É possível construir um rol de tarefas sobre as noções matriciais, suas operações e
propriedades, para que o estudante possa, pelo menos, mobilizar os conhecimentos
adquiridos no Ensino Médio, utilizando-os como conhecimentos prévios, de forma que
funcionem como ferramenta explícita, quando da introdução de novos conceitos associados
à disciplina de Álgebra Linear?
Conforme exposto, as análises dos livros indicados pelo PNLEM — que correspondem às
relações institucionais existentes, aqui representadas pela obra de Dante (2004, 2005b), por
ser esta bem avaliada por esse programa — mostram que existe uma preocupação em
desenvolver as noções matriciais, suas operações e propriedades, por meio de tarefas e
técnicas que utilizam como tecnologia elementos teóricos que serão desenvolvidos na
disciplina de Álgebra Linear.
Observa-se que, nessa obra, as operações de adição de matrizes e multiplicação por um
número real são trabalhadas, considerando implicitamente as propriedades dessas
operações, ou seja, esse trabalho pode ser retomado quando da introdução da noção de
espaço vetorial, para mostrar que o conjunto das matrizes, munido dessas duas operações
e satisfazendo determinadas propriedades, é um espaço vetorial.
Além disso, ainda no Ensino Médio, são trabalhadas as equações matriciais e os
sistemas de equações matriciais, em que a estrutura de espaço vetorial também é
implicitamente utilizada, pois se resolve a equação sem considerar o objeto matemático
matriz, que só é introduzido após determinada a solução da equação; ou seja, as equações
matriciais e os sistemas de equações matriciais são trabalhados como elementos de um
conjunto que, definidas as operações de adição e multiplicação por escala, tem uma
estrutura de espaço vetorial.
Ressalta-se ainda que, no Ensino Médio, é introduzida a noção de multiplicação de
matrizes, uma ferramenta importante para o estudo das transformações lineares, em
particular, do isomorfismo do espaço das transformações lineares e o espaço das matrizes.
259
A multiplicação de matrizes só poderá ser definida nesse momento, ou seja, por meio da
matriz associada à composta de duas aplicações lineares.
Logo, as dez tarefas usuais identificadas por meio da grade de análise permitem concluir
que, caso trabalhados da forma como apresentados no livro didático escolhido, os conceitos
de matrizes, suas operações e propriedades podem servir de conhecimentos prévios pelo
menos mobilizáveis num curso de introdução à Álgebra Linear.
Nesse caso, pode-se partir diretamente para a explicitação da noção de espaço vetorial,
e não é necessário todo um trabalho sobre as representações do objeto matriz e suas
operações. Quanto às transformações lineares, mobilizar a operação de multiplicação de
matrizes é uma ferramenta importante, pois trabalhar no quadro das matrizes é mais
econômico e necessário, dependendo dos cálculos a serem efetuados.
Passamos à segunda questão:
- A análise de tarefas por meio de uma grade de análise pode facilitar esse trabalho e
provocar a reflexão?
Conforme as ponderações feitas acima, considera-se que a grade de análise, além de ser
um meio de identificar os tipos de tarefas usuais que compõem algumas das relações
institucionais existentes, possibilita melhor compreensão de como são articulados os
quadros trabalhados no Ensino Médio, incluindo os diferentes contextos em que eles podem
ser utilizados.
Além disso, a grade auxilia a entender as dificuldades que podem ser encontradas pelos
estudantes, a depender do nível de conhecimento esperado para a solução de uma
determinada tarefa, em função do próprio conhecimento em jogo e dos conhecimentos
prévios que servem, em geral, de ferramentas explícitas para a solução da tarefa.
A partir dessas duas questões, foram introduzidas cinco outras, específicas sobre as
expectativas em relação ao processo de ensino e aprendizagem da noção de matrizes, suas
operações e propriedades e a mobilização desses conhecimentos como conhecimentos
prévios para apoiar a introdução das noções de Álgebra Linear, em particular, da noção de
matriz de uma transformação linear no Ensino Superior. Relembram-se abaixo essas cinco
questões:
260
i) A noção de matriz, suas operações e propriedades são propostas para serem trabalhadas
com os estudantes do Ensino Médio?
ii) Que nível de conhecimento é esperado dos estudantes para o trabalho com essas
noções?
iii) Quais as relações institucionais esperadas e existentes para o desenvolvimento dessas
noções no Ensino Médio?
iv) Os estudantes, quando terminam o Ensino Médio, são ao menos capazes de mobilizar
os conhecimentos de matrizes, suas operações e propriedades? Isto é, que relações
pessoais eles desenvolvem em função das relações institucionais esperadas e existentes?
v) É possível determinar um sistema de tarefas e práticas utilizadas no Ensino Médio que
possam servir de apoio para o trabalho em Álgebra Linear no Ensino Superior, em
particular, quando se trata do objeto matemático: transformações lineares e o espaço das
matrizes?
Apresentam-se, abaixo, alguns elementos de resposta para essas questões, em função
das análises consideradas na pesquisa.
Os resultados das análises das relações institucionais esperadas, a noção de matrizes,
suas operações e propriedades revelam que esse conteúdo matemático é considerado
importante: são dadas orientações para a sua introdução no Ensino Médio como objeto
implícito associado à noção de espaço vetorial, uma vez que se trabalham implicitamente
operações de adição e multiplicação por um número e suas propriedades, como se
observou por meio das análises das relações institucionais existentes.
Ressalta-se, aqui, que as relações institucionais existentes são coerentes com as
relações institucionais esperadas e, portanto, pode-se concluir que pelo menos os dez tipos
de tarefas usualmente encontradas no estudo dessas relações correspondem ao trabalho
que se desenvolve no Ensino Médio.
Em geral, o nível de conhecimento esperado dos estudantes para o desenvolvimento das
tarefas, quando se consideram as relações institucionais existentes, é o mobilizável, mas,
em razão das análises das relações pessoais que se espera que os estudantes do Ensino
Médio desenvolvam, pouco se pode avançar em função dos resultados encontrados para as
análises das macroavaliações.
261
Essas macroavaliações permitem considerar que as noções de matrizes e determinantes,
em geral, são demandadas enquanto ferramentas explícitas do trabalho matemático a ser
realizado, mas nem sempre são realmente necessárias. Em geral, trata-se de tarefas sobre
a noção de sistemas de equações lineares, em que outras ferramentas são mais eficazes
para a solução da tarefa proposta; ou de tarefas associadas a noções de Geometria
Analítica, em que a definição de determinante de uma matriz é utilizada para tornar mais
econômica a representação de uma fórmula e facilitar os cálculos.
Apesar de pouco cobrado nas macroavaliações, caso se trabalhe da forma que se
propõe, pode-se considerar que os estudantes do Ensino Médio sejam capazes de mobilizar
os conhecimentos sobre a noção de matrizes, suas operações e propriedades, utilizados
nos dez tipos de tarefas identificados por meio da grade de análise.
Portanto, as tarefas identificadas nessa grade podem constituir o rol de tarefas e práticas
que podem ser utilizadas como apoio para um curso de introdução à Álgebra Linear e, mais
especificamente, para trabalhar o conceito de matriz de uma transformação linear.
Observa-se, ainda, que as relações institucionais esperadas e existentes para o Ensino
Superior são mais regulares para as diferentes instituições analisadas.
Dessa forma, pode-se considerar que muitas das dificuldades encontradas no Ensino
Superior estão associadas às deficiências do Ensino Médio. Isso fica evidente, quando se
considera a macroavaliação ENADE, na qual três questões puderam ser associadas aos
conteúdos geralmente desenvolvidos na disciplina de Álgebra Linear, duas delas
correspondentes a conhecimentos que se espera possam ser, pelo menos, mobilizados
pelos estudantes egressos do Ensino Médio.
Isso conduz à seguinte reflexão: Como elaborar um curso de Licenciatura em Matemática
que possa atender corretamente aos estudantes egressos do Ensino Médio?
Observou-se, nas análises conduzidas nesta pesquisa, que existe uma expectativa
institucional que não pode ser considerada real, pois não se sabe se está ou não realmente
sendo implementada, mas que poderia ser utilizada eficazmente para o desenvolvimento
dos estudantes do Ensino Médio.
Mas o que mais preocupa é a situação do Ensino Superior, no qual foi possível identificar
relações institucionais muito parecidas para estudantes com conhecimentos prévios
diferentes, o que pode justificar a grande evasão dos cursos de licenciatura e a fraca
262
demanda por esse tipo de curso. Ou seja, voltamos à questão para reflexão enunciada
acima.
Os resultados deste estudo mostram que a noção de matrizes, suas operações e
propriedades é trabalhada, enquanto ferramenta explícita, para o desenvolvimento de
tarefas associadas a outras noções matemáticas no Ensino Médio e que esse trabalho pode
servir de apoio para a introdução da Álgebra Linear em IRn no Ensino Superior, mas é
preciso ter certeza de que o trabalho proposto foi realizado.
263
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Anexo III – Outro método de solução da tarefa apresentada na Figura 2.
(Desenvolvida pelo pesquisador)
276
Anexo IV – Outro método de solução da tarefa apresentada na Figura 2.
(Desenvolvida pelo pesquisador)
277
Anexo V - Outro método de solução da tarefa apresentada na Figura 2.
(Desenvolvida pelo pesquisador)
278
Anexo VI – Representação no eixo cartesiano.
Figura 8: Solução da tarefa apresentada na Figura 3. (desenvolvida pelo pesquisador)
292
Anexo XX – Rubricas sobre Aprendizagem, Competências e habilidades – PCNEM
(2000)
O sentido da aprendizagem na área Em relação a essa rubrica, observa-se que faz parte do topos do professor considerar que os estudantes têm uma maior maturidade, o que possibilita uma formação que leve em conta o aprofundamento dos saberes disciplinares, os procedimentos científicos e a articulação entre as disciplinas, ficando a cargo dos estudantes, isto é, fazendo parte do topos dos estudantes alcançar suas próprias metas por meio do estudo das diferentes formas de tratamento dos saberes desenvolvidos nessa etapa escolar.
Competências e habilidades Com relação às competências e às habilidades, o documento propõe o desenvolvimento de atividades que possam contribuir para que o estudante seja capaz de representar e comunicar, investigar, compreender e contextualizar social e culturalmente. Nesse momento, observa-se de forma mais clara o que se espera das propostas de trabalho do professor e do estudante, isto é, tanto o topos do professor como do estudante ficam definidos de forma mais clara e fica evidente que cabe ao estudante do Ensino Médio a responsabilidade de administrar seu crescimento intelectual.
Anexo XXI – Rubricas sobre Competências e habilidades para as disciplinas do
Ensino Médio – PCNEM (2000)
Conhecimentos de Biologia;
No que se refere aos conhecimentos na disciplina de Biologia e considerando suas particularidades, o documento propõe a interdisciplinaridade, a contextualização e a articulação com as outras disciplinas do Ensino Médio para que se alcancem certas metas. Para o processo de ensino e aprendizagem da Biologia, a Matemática é considerada uma ferramenta imprescindível. Competências e habilidades a serem desenvolvidas em Biologia Descrever e caracterizar os processos biológicos, representando e comunicando-se de forma que o estudante tenha condições de investigar e compreender certos processos é o esperado no trabalho com Biologia. Assim, a Matemática poderá ser uma ferramenta para subsidiar o estudante, no que se refere à organização de certos eventos, acontecimentos e problemas biológicos.
Conhecimentos de Física A disciplina de Física deverá fornecer ao estudante a possibilidade de articulação entre os conceitos físicos e os saberes matemáticos, ou seja, o aluno poderá desenvolver modelagens matemáticas significativas para interpretação do mundo físico, compreendendo-o e comunicando-se. Exemplos de aplicações matemáticas na disciplina de Física são as relações distância e tempo, velocidade e tempo, entre muitas outras. A construção e a interpretação de tabelas, em Matemática, podem facilitar as interpretações dos fenômenos da natureza. Competências e habilidades a serem desenvolvidas em Física A disciplina de Física tem por meta fazer com que os estudantes consigam representar e comunicar-se de modo científico, utilizando as particularidades da disciplina. Assim, o aluno deverá desenvolver a capacidade de investigar certos acontecimentos físicos, contextualizando-os, de forma que possa argumentar e modelar os acontecimentos, utilizando outras disciplinas — em particular, a Matemática — como suporte para as interpretações físicas.
Conhecimentos de Química O documento informa que a Química participa do desenvolvimento tecnológico, e a proposta para a
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disciplina é fazer com que o estudante compreenda os processos químicos, tendo a Matemática como ferramenta que subsidiará o professor e os estudantes para compreenderem certas situações do mundo químico, possibilitando ao estudante um olhar crítico durante o processo de ensino-aprendizagem desta disciplina. Assim, cálculos e interpretações de tabelas serão importantes para a consecução das tarefas propostas pelo professor. Competências e habilidades a serem desenvolvidas em Química A proposta da disciplina é possibilitar que o estudante descreva em linguagem discursiva certos acontecimentos químicos, reconhecendo-os na interação social. Essa descrição poderá ser efetuada por meio de gráficos, tabelas e relações matemáticas, que servirão como facilitadores para a compreensão dos dados quantitativos da disciplina.
Conhecimentos de Matemática A disciplina de Matemática tem por objetivo desenvolver a capacidade de comunicação, de resolver problemas, de tomar decisões, refletir, inferir, conjecturar, ou seja, aperfeiçoar conhecimentos e valores. A proposta é trabalhar de modo que o estudante seja protagonista de sua evolução, tendo como fator essencial a inserção no mundo globalizado. Nesse caso, cabe ao professor oferecer subsídios e procedimentos para que o estudante possa progredir, tendo uma visão geral e particular do mundo em que vive. Os conteúdos da disciplina de Matemática devem permitir que o estudante possa refletir e analisar diferentes situações, inferir possibilidades de resoluções de problemas e encontrar seus próprios caminhos para desenvolver-se como cidadão de uma sociedade globalizada. Nesse caso, o papel do professor é propor situações e problemas, relacionados aos conteúdos matemáticos, que conduzam a essas atitudes. Competências e habilidades a serem desenvolvidas em Matemática A Matemática deverá fornecer subsídios para que o estudante possa ler e interpretar dados matemáticos de forma a facilitar a compreensão das outras disciplinas. São inúmeras as competências matemáticas para serem desencadeadas e utilizadas em outras ciências, uma vez que a sociedade moderna almeja pessoas que possam contribuir para a construção e a interpretação da realidade. O papel da Matemática é fornecer as contribuições devidas a todas as outras disciplinas, facilitando a compreensão e a organização de dados, efetuando, então, algumas mudanças que possam oferecer outro olhar, no que se refere aos vários recursos existentes em nossa sociedade.
Rumos e desafios O documento aborda a questão das variáveis regionais, ao elaborar uma proposta educacional. Portanto, é necessário um olhar crítico, por parte dos professores, durante a elaboração de seus planos de ensino, para que não existam graves distorções no ensino da Matemática, em especial no Ensino Médio, etapa final da Educação Básica. O currículo tem que responder aos avanços científicos e levar em consideração os novos aspectos educacionais relacionados ao mundo moderno, sendo essenciais o estudo e a compreensão das novas tecnologias para o ensino e aprendizagem da Matemática. Cabe, porém, ao estudante ser responsável por esse processo, uma vez que será protagonista de sua própria evolução e contribuição social. Bibliografia O documento, em especial na parte referente à disciplina de Matemática, orienta o professor a desenvolver certas competências e habilidades, tendo um olhar crítico em relação ao ensino da Matemática e às distorções que determinadas decisões podem causar. É destacada uma série de pontos, relacionando o trabalho que deve ser adotado pelo professor, mas não é abordado de forma específica o conteúdo a ser desenvolvido no Ensino Médio; ou seja, fica a cargo dos professores a escolha dos materiais disponibilizados pelos órgãos responsáveis e a decisão de desenvolver ou não determinado conteúdo. Portanto, cabe a cada professor desempenhar seu topos, ser um mediador consciente no ensino e na escolha dos conteúdos matemáticos; e, ao estudante, ser responsável e protagonista de sua própria evolução.
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Anexo XXII – Objetivos da matemática no Ensino Médio – PCNEM (2000)
- Compreender os conceitos, os procedimentos e as estratégias matemáticas que permitam ao aluno desenvolver estudos posteriores e adquirir uma formação científica geral. - Aplicar seus conhecimentos matemáticos a situações diversas, utilizando-os na interpretação da ciência, na atividade tecnológica e nas atividades cotidianas. - Analisar e valorizar informações provenientes de diferentes fontes, utilizando ferramentas matemáticas para formar uma opinião própria, que lhe permita expressar-se criticamente sobre problemas da Matemática, das outras áreas do conhecimento e da atualidade. - Desenvolver as capacidades de raciocínio e resolução de problemas, de comunicação, bem como o espírito crítico e criativo. - Utilizar com confiança procedimentos de resolução de problemas para desenvolver a compreensão dos conceitos matemáticos. - Expressar-se oral, escrita e graficamente em situações matemáticas e valorizar a precisão da linguagem e as demonstrações em Matemática. - Estabelecer conexões entre diferentes temas matemáticos e entre esses temas e o conhecimento de outras áreas do currículo. - Reconhecer representações equivalentes de um mesmo conceito, relacionando procedimentos associados às diferentes representações. - Promover a realização pessoal mediante o sentimento de segurança em relação às suas capacidades matemáticas, o desenvolvimento de atitudes de autonomia e cooperação.
Fonte: BRASIL, 2000, p. 42
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Anexo XXIII – Competências e habilidades em matemática – PCNEM (2000)
- Ler e interpretar textos de Matemática. - Ler, interpretar e utilizar representações matemáticas (tabelas, gráficos, expressões etc.). - Transcrever mensagens matemáticas da linguagem corrente para linguagem simbólica (equações, gráficos, diagramas, fórmulas, tabelas etc.) e vice-versa. - Exprimir-se com correção e clareza, tanto na língua materna, como na linguagem matemática, usando a terminologia correta. - Produzir textos matemáticos adequados. - Utilizar adequadamente os recursos tecnológicos como instrumentos de produção e de comunicação. - Utilizar corretamente instrumentos de medição e de desenho.
Fonte: BRASIL, 2000, p. 46.
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Anexo XXIV – Investigação e Compreensão – PCNEM (2000)
- Identificar o problema (compreender enunciados, formular questões etc.). - Procurar, selecionar e interpretar informações relativas ao problema. - Formular hipóteses e prever resultados. - Selecionar estratégias de resolução de problemas. - Interpretar e criticar resultados numa situação concreta. - Distinguir e utilizar raciocínios dedutivos e indutivos. - Fazer e validar conjecturas, experimentando, recorrendo a modelos, esboços, fatos conhecidos, relações e propriedades. - Discutir idéias e produzir argumentos convincentes.
Fonte: BRASIL, 2000b, p. 46.
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Anexo XXV – Contextualização sociocultural – PCNEM (2000)
- Desenvolver a capacidade de utilizar a Matemática na interpretação e intervenção no real. - Aplicar conhecimentos e métodos matemáticos em situações reais, em especial em outras áreas do conhecimento. - Relacionar etapas da história da Matemática com a evolução da humanidade. - Utilizar adequadamente calculadoras e computador, reconhecendo suas limitações e potencialidades.
Fonte: BRASIL, 2000, p.46.
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Anexo XXVI – Três principais competências – PCN + (2002)
- representação e comunicação, que envolvem a leitura, a interpretação e a produção de textos nas diversas linguagens e formas textuais características dessa área do conhecimento; - investigação e compreensão, competência marcada pela capacidade de enfrentamento e resolução de situações-problema, utilização dos conceitos e procedimentos peculiares do fazer e pensar das ciências; - contextualização das ciências no âmbito sociocultural, na forma de análise crítica das idéias e dos recursos da área e das questões do mundo que podem ser respondidas ou transformadas por meio do pensar e do conhecimento científico.
Fonte: BRASIL, 2002, p. 113
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Anexo XXVII – Representação e Comunicação – PCN + (2002)
SÍMBOLOS, CÓDIGOS E NOMENCLATURAS DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
NA ÁREA EM MATEMÁTICA Reconhecer e utilizar
adequadamente, na forma oral e escrita, símbolos, códigos e nomenclatura da linguagem científica.
• Reconhecer e utilizar símbolos, códigos e nomenclaturas da linguagem matemática; por exemplo, ao ler embalagens de produtos, manuais técnicos, textos de jornais ou outras comunicações, compreender o significado de dados apresentados por meio de porcentagens, escritas numéricas, potências de dez, variáveis em fórmulas.
• Identificar, transformar e traduzir adequadamente valores e unidades básicas apresentadas sob diferentes formas, como decimais em frações ou potências de dez, litros em metros cúbicos, quilômetros em metros, ângulos em graus e radianos.
ARTICULAÇÃO DOS SÍMBOLOS E CÓDIGOS DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA NA ÁREA EM MATEMÁTICA
Ler, articular e
interpretar símbolos e códigos em diferentes linguagens e representações: sentenças, equações, esquemas, diagramas, tabelas, gráficos e representações geométricas.
• Ler e interpretar dados ou informações apresentadas em diferentes linguagens e representações, como tabelas, gráficos, esquemas, diagramas, árvores de possibilidades, fórmulas, equações ou representações geométricas.
• Traduzir uma situação dada em determinada linguagem para outra; por exemplo, transformar situações dadas em linguagem discursiva em esquemas, tabelas, gráficos, desenhos, fórmulas ou equações matemáticas e vice-versa, assim como transformar as linguagens mais específicas umas nas outras, como tabelas em gráficos ou equações.
• Selecionar diferentes formas para representar um dado ou conjunto de dados e informações, reconhecendo as vantagens e limites de cada uma delas; por exemplo, escolher entre uma equação, uma tabela ou um gráfico para representar uma dada variação ao longo do tempo, como a distribuição do consumo de energia elétrica em uma residência ou a classificação de equipes em um campeonato esportivo.
ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS E OUTRAS COMUNICAÇÕES DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA NA ÁREA EM MATEMÁTICA
Consultar, analisar e
interpretar textos e comunicações de ciência e tecnologia veiculados em diferentes meios.
• Ler e interpretar diferentes tipos de textos com informações apresentadas em linguagem matemática, desde livros didáticos até artigos de conteúdo econômico, social ou cultural, manuais técnicos, contratos comerciais, folhetos com propostas de vendas ou com plantas de imóveis, indicações em bulas de medicamentos, artigos de jornais e revistas.
• Acompanhar e analisar os noticiários e artigos relativos à ciência em diferentes meios de comunicação, como jornais, revistas e televisão, identificando o tema em questão e interpretando, com objetividade, seus significados e implicações para, dessa forma, ter independência para adquirir informações e estar a par do que se passa no mundo em que vive.
ELABORAÇÃO DE COMUNICAÇÕES NA ÁREA EM MATEMÁTICA
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Elaborar comunicações
orais ou escritas para relatar,
analisar e sistematizar eventos, fenômenos, experimentos, questões, entrevistas, visitas, correspondências.
• Expressar-se com clareza, utilizando a linguagem matemática, elaborando textos, desenhos, gráficos, tabelas, equações, expressões e escritas numéricas – para comunicar-se via internet, jornais ou outros meios, enviando ou solicitando informações, apresentando idéias, solucionando problemas.
• Produzir textos analíticos para discutir, sintetizar e sistematizar formas de pensar, fazendo uso, sempre que necessário, da linguagem matemática. Redigir resumos, justificar raciocínios, propor situações-problema, sistematizar as idéias principais sobre dado tema matemático com exemplos e comentários próprios.
• Expressar-se de forma oral para comunicar idéias, aprendizagens e dificuldades de compreensão; por exemplo, explicando a solução dada a um problema, expondo dúvidas sobre um conteúdo ou procedimento, propondo e debatendo questões de interesse.
DISCUSSÃO E ARGUMENTAÇÃO DE TEMAS DE INTERESSE DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
NA ÁREA EM MATEMÁTICA Analisar, argumentar e
posicionar-se criticamente em relação a temas de ciência e tecnologia.
• Compreender e emitir juízos próprios sobre informações relativas a ciência e tecnologia, de forma analítica e crítica, posicionando-se com argumentação clara e consistente sempre que necessário, identificar corretamente o âmbito da questão e buscar fontes onde possa obter novas informações e conhecimentos. Por exemplo, ser capaz de analisar e julgar cálculos efetuados sobre dados econômicos ou sociais, propagandas de vendas a prazo, probabilidades de receber determinado prêmio em sorteios ou loterias, ou ainda apresentadas em um dado problema ou diferentes sínteses e conclusões extraídas a partir de um mesmo texto ou conjunto de informações.
Fonte: BRASIL, 2002, p.114-115
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Anexo XXVIII – Investigação e Compreensão – PCN + (2002)
ESTRATÉGIAS PARA ENFRENTAMENTO DE SITUAÇÕES-PROBLEMA
NA ÁREA EM MATEMÁTICA Identificar em dada
situação problema as informações ou variáveis relevantes e elaborar possíveis estratégias para resolvê-la.
Identificar fenômenos naturais ou grandezas em dado domínio do conhecimento científico, estabelecer relações, identificar regularidades, invariantes e transformações.
• Identificar os dados relevantes em uma dada situação problema para buscar possíveis resoluções; por exemplo, em situações com uma diversidade de dados apresentados por meio de tabelas, gráficos, especificações técnicas, reconhecer as informações relevantes para uma dada questão que se busca resolver.
• Identificar as relações envolvidas e elaborar possíveis estratégias para enfrentar uma dada situação-problema; por exemplo, para obter uma dada distância, saber optar por medi-la diretamente, utilizar uma planta em escala, usar semelhança de figuras, fazer uso de propriedades trigonométricas ou utilizar um sistema de eixos cartesianos e abordar o problema através da geometria analítica.
• Frente a uma situação ou problema, reconhecer a sua natureza e situar o objeto de estudo dentro dos diferentes campos da Matemática, ou seja, decidir-se pela utilização das formas algébrica, numérica, geométrica, combinatória ou estatística. Por exemplo, para calcular distâncias ou efetuar medições em sólidos, utilizar conceitos e procedimentos de geometria e medidas, enquanto para analisar a relação entre espaço e tempo no movimento de um objeto, optar pelo recurso algébrico das funções e suas representações gráficas.
• Identificar regularidades em situações semelhantes para estabelecer regras, algoritmos e propriedades; por exemplo, perceber que todas as funções do segundo grau possuem o mesmo tipo de gráfico, o que implica propriedades de sinal, crescimento e decrescimento. Da mesma forma, ao identificar a regularidade de que é constante a soma dos termos equidistantes de uma progressão aritmética finita, estender essa propriedade a toda situação envolvendo progressões aritméticas e daí deduzir a soma de seus termos.
• Reconhecer a existência de invariantes ou identidades que impõem as condições a serem utilizadas para analisar e resolver situações-problema; por exemplo, estabelecer identidades ou relações como aquelas existentes entre o comprimento da circunferência e seu diâmetro, os volumes de um cilindro e de um cone que tenham a mesma base e a mesma altura, a relação entre catetos e hipotenusa em qualquer triângulo retângulo; ou ainda a identidade fundamental da trigonometria.
• Identificar transformações entre grandezas ou figuras para relacionar variáveis e dados, fazer quantificações, previsões e identificar desvios. As ampliações e reduções de figuras são exemplos que devem ser entendidos como transformações de uma situação inicial em outra final.
• Perceber as relações e identidades entre diferentes formas de representação de um dado objeto, como as relações entre representações planas nos desenhos, mapas e telas de computador com os objetos que lhes deram origem.
• Reconhecer a conservação contida em toda igualdade, congruência ou equivalência para calcular, resolver ou provar novos fatos. Por exemplo, ao resolver uma equação ou um sistema linear, compreender que as operações realizadas a cada etapa transformam a situação inicial em outra que lhe é equivalente, com as mesmas soluções.
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MEDIDAS, QUANTIFICAÇÕES, GRANDEZAS E ESCALAS NA ÁREA EM MATEMÁTICA
Selecionar e utilizar
instrumentos de medição e de cálculo, representar dados e utilizar escalas, fazer estimativas, elaborar hipóteses e interpretar resultados.
• Identificar e fazer uso de diferentes formas e instrumentos apropriados para efetuar medidas ou cálculos; por exemplo, discriminar o melhor instrumento para medir, comparar ou calcular comprimentos e distâncias, ângulos, volumes ocupados por líquidos, em dada situação específica. Usar adequadamente réguas, esquadros, transferidores, compassos, calculadoras e outros instrumentos ou aparelhos.
• Identificar diferentes formas de quantificar dados numéricos para decidir se a resolução de um problema requer cálculo exato, aproximado, probabilístico ou análise de médias. Por exemplo, de acordo com uma dada situação, escolher número de algarismos apropriado ou fazer aproximações adequadas, optar pelo uso de fração, porcentagem, potências de dez; escolher melhor unidade para representar uma grandeza.
• Fazer previsões e estimativas de ordens de grandeza, de quantidades ou intervalos esperados para os resultados de cálculos ou medições e, com isso, saber avaliar erros ou imprecisões nos dados obtidos na solução de uma dada situação-problema.
• Compreender a necessidade e fazer uso apropriado de escalas; por exemplo, na construção de gráficos ou em representações de plantas e mapas.
MODELOS EXPLICATIVOS E REPRESENTATIVOS NA ÁREA EM MATEMÁTICA
Reconhecer, utilizar,
interpretar e propor modelos para situações-problema, fenômenos ou sistemas naturais ou tecnológicos.
• Interpretar, fazer uso e elaborar modelos e representações matemáticas para analisar situações; por exemplo, utilizar funções ou gráficos para modelar situações envolvendo cálculos de lucro máximo ou prejuízo mínimo; utilizar ferramentas da estatística e probabilidade para compreender e avaliar as intenções de votos em uma campanha eleitoral ou, ainda, optar entre modelos algébricos ou geométricos para obter determinadas medições de sólidos.
RELAÇÕES ENTRE CONHECIMENTOS DISCIPLINARES, INTERDISCIPLINARES E INTERÁREAS NA ÁREA EM MATEMÁTICA
Articular, integrar e
sistematizar fenômenos e teorias dentro de uma ciência, entre as várias ciências e áreas do conhecimento.
• Construir uma visão sistematizada das diferentes linguagens e campos de estudo da Matemática, estabelecendo conexões entre seus diferentes temas e conteúdos, para fazer uso do conhecimento de forma integrada e articulada.
• Compreender a Matemática como ciência autônoma, que investiga relações, formas e eventos e desenvolve maneiras próprias de descrever e interpretar o mundo. A forma lógica dedutiva que a Geometria utiliza para interpretar as formas geométricas e deduzir propriedades dessas formas é um exemplo de como a Matemática lê e interpreta o mundo à nossa volta.
• Adquirir uma compreensão do mundo da qual a Matemática é parte integrante, através dos problemas que ela consegue resolver e dos fenômenos que podem ser descritos por meio de seus modelos e representações.
• Reconhecer relações entre a Matemática e outras áreas do conhecimento, percebendo sua presença nos mais variados campos de estudo e da vida humana, seja nas demais ciências, como a Física, Química e Biologia, seja nas ciências humanas e sociais, como a Geografia ou a Economia, ou ainda nos mais diversos setores da sociedade, como na agricultura, na saúde, nos transportes e na moradia.
Fonte: BRASIL, 2002, p.115-117
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Anexo XXIX – Contextualização sociocultural – PCN + (2002)
CIÊNCIA E TECNOLOGIA NA HISTÓRIA
NA ÁREA EM MATEMÁTICA Compreender o
conhecimento científico e o tecnológico
como resultados de uma construção humana, inseridos em um processo histórico e social.
• Compreender a construção do conhecimento matemático como um processo histórico, em estreita relação com as condições sociais, políticas e econômicas de uma determinada época, de modo a permitir a aquisição de uma visão crítica da ciência em constante construção, sem dogmatismos ou certezas definitivas. Por exemplo, o uso da geometria clássica ou da analítica para resolver um mesmo problema pode mostrar duas formas distintas de pensar e representar realidades comparáveis em momentos históricos diferentes.
• Compreender o desenvolvimento histórico da tecnologia associada a campos diversos da Matemática, reconhecendo sua presença e implicações no mundo cotidiano, nas relações sociais de cada época, nas transformações e na criação de novas necessidades, nas condições de vida. Por exemplo, ao se perceber a origem do uso dos logaritmos ou das razões trigonométricas como resultado do avanço tecnológico do período das grandes navegações do século 16, pode-se conceber a Matemática como instrumento para a solução de problemas práticos e que se desenvolve para muito além deles, ganhando a dimensão de ideias gerais para novas aplicações fora do contexto que deu origem a elas.
• Perceber o papel desempenhado pelo conhecimento matemático no desenvolvimento da tecnologia e a complexa relação entre ciência e tecnologia ao longo da história. A exigência de rapidez e complexidade dos cálculos fez com que a Matemática se desenvolvesse e, por outro lado, as pesquisas e avanços teóricos da Matemática e demais ciências permitiram o aperfeiçoamento de máquinas como o computador, que vêm tornando os cálculos cada vez mais rápidos.
CIÊNCIA E TECNOLOGIA NA CULTURA CONTEMPORÂNEA NA ÁREA EM MATEMÁTICA
Compreender a ciência e
a tecnologia como partes integrantes da cultura humana
contemporânea.
• Compreender a Matemática como parte integrante da cultura contemporânea, sendo capaz de identificar sua presença nas manifestações artísticas ou literárias, teatrais ou musicais, nas construções arquitetônicas ou na publicidade.
• Perceber a dimensão da Matemática e da ciência em espaços específicos de difusão e mostras culturais, como museus científicos ou tecnológicos, planetários, exposições.
• Compreender formas pelas quais a Matemática influencia nossa interpretação do mundo atual, condicionando formas de pensar e interagir. Por exemplo, comparando os cálculos feitos pelas máquinas com aqueles feitos “com lápis e papel”, e identificando a função, especificidades e valores de cada um desses meios na construção do conhecimento.
CIÊNCIA E TECNOLOGIA NA ATUALIDADE NA ÁREA EM MATEMÁTICA
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Reconhecer e avaliar o desenvolvimento tecnológico
contemporâneo, suas relações com as ciências, seu papel na
vida humana, sua presença no mundo cotidiano e seus impactos na vida social.
• Acompanhar criticamente o desenvolvimento tecnológico contemporâneo, tomando contato com os avanços das novas tecnologias nas diferentes áreas do conhecimento para se posicionar frente às questões de nossa atualidade. Utilizar o conhecimento matemático como apoio para compreender e julgar as aplicações tecnológicas dos diferentes campos científicos. Por exemplo, o uso de satélites e radares nos rastreamentos e localizações, ou dos diferentes tipos de transmissão e detecção de informações.
CIÊNCIA E TECNOLOGIA, ÉTICA E CIDADANIA NA ÁREA EM MATEMÁTICA
Reconhecer e avaliar o
caráter ético do conhecimento científico e tecnológico e utilizar esse conhecimento no exercício da cidadania.
• Compreender a responsabilidade social associada à aquisição e uso do conhecimento matemático, sentindo-se mobilizado para diferentes ações, seja em defesa de seus direitos como consumidor, dos espaços e equipamentos coletivos ou da qualidade de vida.
• Conhecer recursos, instrumentos e procedimentos econômicos e sociais para posicionar-se, argumentar e julgar sobre questões de interesse da comunidade, como problemas de abastecimento, educação, saúde e lazer, percebendo que podem ser muitas vezes quantificados e descritos através do instrumental da Matemática e dos procedimentos da ciência.
• Promover situações que contribuam para a melhoria das condições de vida da cidade onde vive ou da preservação responsável do ambiente. Utilizar as ferramentas matemáticas para analisar situações de seu entorno real e propor soluções, por exemplo, analisando as dificuldades de transporte coletivo em seu bairro por meio de levantamento estatístico, manuais técnicos de aparelhos e equipamentos.
BRASIL, 2002, p.117-119
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Anexo XXX – Sinopse dos livros Mello (2005) e Boulos (2005).
Vetores e uma iniciação à Geometria Analítica. MELLO, D. A. WATANABE, G. R., 2005.
- Vetores; - Dependência Linear; - Produto escalar; - Produto Vetorial; - Produto misto; - Sistema de coordenadas no espaço: estudo da reta; - Estudo do Plano; - Superfície esférica.
Geometria Analítica: um tratamento vetorial. BOULOS, P. CAMARGO, I., 2005. - Vetor; - Soma de vetores; - Produto número real por valor; - Soma de pontos com vetor; - Aplicações geométricas; - Dependência linear; - Base - Mudança de base; - Produto escalar; - Orientação de V3. - Produto vetorial; - Produto Misto; - Sistema de coordenadas; - Equações de retas e planos; - Intersecção de retas e planos; - Posição relativa de retas e planos; - Perpendicularidade e ortogonalidade; - Media angular; - Distância; - Mudança de sistema de coordenadas; - Elipse, hipérbole, parábola; - Cônicas; - Superfícies esféricas; - Quádricas; - Geração de superfícies.
Elaborado pelo pesquisador.
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Anexo XXXI – Sinopse do Livro Winterle (2000).
Vetores e Geometria Analítica. WINTERLE, P., 2000.
- Vetores; - Produto escalar; - Produto vetorial; - Produto misto; - A reta; - O plano; - Distância; - Cônicas; - Superfície quadrática; - Bibliografia.
Elaborado pelo pesquisador.
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Anexo XXXII – Diagrama de capítulos da obra de Callioli (1983)
Diagrama da obra de Callioli. Fonte: Callioli, 1983. p. vii.
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Anexo XXXIII – Sinopse dos livros Anton (2006) e Steimbruch (1997).
Álgebra Linear com aplicações. ANTON, H., 2006.
- Vetores; - Sistema de equações lineares; - Matrizes e álgebra das matrizes; - Determinantes; - Modelos matriciais; - Transformações lineares; - Dimensão e estrutura; - Diagonalização; - Espaços vetoriais arbitrários; - Apêndice A: Como ler teoremas; - Apêndice B: Números complexos.
Introdução à Álgebra Linear. STEIMBRUCH, A.; WINTLE, P., 1997 - Espaços vetoriais; - Espaços vetoriais euclidianos; - Transformações lineares; - Operadores lineares; - Vetores próprios; - Simplificação da equação geral das cônicas; - Apêndice: Matrizes, determinantes e sistemas de equações lineares.
Elaborado pelo pesquisador.
Anexo XXXIV – Sinopse do livro Caroli (1978).
Matrizes, Vetores e Geometria Analítica. CAROLI, A.; CALLIOLI, C. A.; FEITOSA, M.O., 1978.
- Matrizes; - Vetores; - Produtos; - Retas e planos; - Distâncias, áreas, volumes, ângulos; - Curvas planas; - Noções sobre superfícies e curvas no espaço.
Elaborado pelo pesquisador.
Anexo XXXV – Sinopse dos livros Boldrini (1980) e Coelho (2005).
Álgebra Linear. BOLDRINI, J. L.; COSTA, S. I. R.; FIGUEIREDO, V. L.; WETZLER, H. G., 1980.
- Matrizes; - Sistemas de equações lineares; - Determinante e matriz inversa; - Espaço vetorial; - Transformações lineares; - Autovalores e autovetores; - Diagonalização de operadores; -Produto interno; - Tipos especiais de operadores lineares; - Formas lineares, bilineares e quadráticas; - Classificação de cônicas e quádricas; - Resolução de sistemas de equações diferenciais lineares;
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- Processos iterativos e álgebra linear. Um curso de Álgebra Linear. COELHO, F. U.; LURENÇO, M. L. 2005.
- Números, corpos, resolução de sistemas lineares e matrizes; - Espaços vetoriais; - Transformações lineares; - Funcionais lineares; - Formas canônicas; - Espaços com produto interno; - Adjuntos; - Formas bilineares.
Elaborado pelo pesquisador.
Anexo XXXVI – Sinopse do livro Leithold (1977).
O calculo com geometria analítica. LEITHOLD, L., 1977
- Números reais e Introdução à Geometria Analítica; - Funções, limites e continuidade; - A Derivada; - Aplicações da Derivada; - A Diferencial e a Antidiferencial; - A Integral Definida; - Aplicações da Integral Definida; - Funções Logarítmicas e Exponenciais; - As Funções Trigonométricas e Hiperbólicas; - Técnicas de Integração; - Coordenadas Polares; - As Secções Cônicas; - Formas Indeterminadas, Integrais Impróprias e a Fórmula de Taylor; - Séries Infinitas; - Vetores no Plano e Equações Paramétricas; - Vetores no Espaço Tridimensional e Geometria Analítica Sólida; - Cálculo Diferencial de funções de Várias Variáveis; - Integração Múltipla; - Teorema de Green.
Elaborado pelo pesquisador.
Anexo XXXVII – Sinopse dos livros Barone (1988) e Banchoff (1992).
Álgebra Linear. Barone, M. Jr., 1988.
- Dois exemplos básicos; - Espaços vetoriais; - Combinação linear – Subespaço; - Geradores; - Sistemas lineares – Escalonamento; - Dependência linear; - Conjuntos geradores infinitos – Conjuntos L. I. infinitos; - Base – Dimensão; - Coordenadas; - Aplicações do escalonamento; - O subespaço das soluções de uma equação diferencial linear homogênea com coeficientes constantes;
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- Sistemas lineares e equações diferenciais lineares não homogêneas; - Espaços com produto interno; - Ortogonalidade; - Projeção ortogonal; - Aplicações da projeção ortogonal; - Transformações lineares; - Matriz de uma transformação linear – Mudança de base; - Vetores e valores próprios; - Diagonalização; - Operadores Simétricos; - Reconhecimento de quádricas; - Máximos e mínimos de formas quadráticas; - Sistemas de equações diferenciais ordinárias lineares com coeficientes constantes; - Raízes múltiplas e complexas; - Diagonalização de operadores simétricos em dimensão n; - Determinantes.
Linear Algebra through Geometry. BANCHOFF, T.; WERMER, J., 1992. - Vectors in the Line; - The Geometry of Vectors in the Plane; - Transformations of the plane; - Linear Transformations and Matrices; - Sums and Products of Linear Transformations; - Inverses and Systems of Equations; - Determinants; - Eigenvalues; - Classification of Conic Sections; - Vector Geometry in 3-Space; - Transformations of 3-Space; - Linear Transformations and Matrices; - Sums and Products of Linear Transformations; - Inverses and Systems of Equations; - Determinants; - Eigenvalues; - Symmetric Matrices; - Classification of Quadric Surfaces; - Vector Geometry in n-Space, n≥4; - Transformations of n-Space, n≥4; - Linear Transformations and Matrices; - Homogeneous Systems of Equations in n-Space; - In homogeneous Systems of equations; - Vector space; - Bases and Dimensions; - Existence and Uniqueness of solutions; - The Matrix Relative to a Given Basis; - Vector Space with an Inner Product; - Orthonormal Bases; - Orthogonal Decompositions of a Vector Space; - Symmetric Matrices in n Dimensions; - Quadratic Forms in n Variables; - Differential Systems; - Least Squares Approximation; - Curvature of Function Graphs.
Elaborado pelo pesquisador.
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Anexo XLVIII – Descrição dos livros de Matemática do Ensino Médio CNLDEM
(2009)
Kátia Stocco Smole e Maria Ignez Diniz.
O livro didático é oferecido em três volumes. Segundo o Catálogo do PNLEM (2009), o livro é eficaz, apresentado de forma coesa com relação aos textos e às orientações metodológicas, e os conteúdos foram distribuídos atendendo à conexão entre os temas propostos nos PCN+, proporcionando ao estudante a oportunidade de usufruir tanto dos valores científicos como do caráter formativo e instrumental. As autoras desenvolveram uma variedade de enfoques, permitindo a contextualização e a articulação entre os conteúdos, conforme indicação dos PCN+.
Os exercícios são variados e de boa qualidade, e há preocupação em desenvolver a manipulação das técnicas e tecnologias associadas, por meio da manipulação dos ostensivos e da evocação dos não ostensivos escolhidos em quantidades suficientes para a assimilação e o aprendizado de novos conceitos; para a estabilização de conhecimentos prévios; e também para a naturalização das técnicas. Mas alguns problemas contextualizados contêm dados ou descrições que podem colocar dificuldades para alguns estudantes do Ensino Médio, por não serem condizentes com a realidade. Benigno Barreto Filho e Cláudio Xavier da Silva.
O livro didático é apresentado em três volumes. Conforme o Catálogo do PNLEM (2009), apresentam de forma clara e objetiva os conteúdos, sendo cada tópico iniciado por um fato histórico ou por considerações sobre a origem ou a importância do conceito. A utilização da história da matemática para motivar os estudantes também é indicada nos PCN+. Ainda conforme a avaliação do PNLEM, o livro contém uma quantidade razoável de aplicações envolvendo outras áreas das ciências.
Os conteúdos contemplam de forma satisfatória os tópicos matemáticos, mas a sua abordagem é desenvolvida de maneira sucinta e superficial, e a articulação dos conteúdos da obra deixa a desejar; inclusive, um dos pontos discriminados é que não existe relacionamento entre o estudo das matrizes e os sistemas lineares, objeto de estudo dessa pesquisa. Também é informado que os exercícios são resolvidos por meio de fórmulas ou por repetição de procedimentos mecânicos; isto é, escolhida uma técnica, mesmo sendo essa justificada por meio dos não ostensivos que sustentam sua manipulação, não se introduzem outras formas de tratamento, limitando, assim, a utilização dos ostensivos de manipulação e as mudanças de quadros que auxiliariam na articulação dos conhecimentos e na naturalização de outras técnicas que já fazem parte dos conhecimentos prévios dos estudantes. José Roberto Bonjorno e José Ruy Giovanni.
O livro didático é composto por três volumes. Segundo o Catálogo do PNLEM (2009), a coleção contempla o conteúdo tradicionalmente abordado no Ensino Médio, trazendo também alguns temas destinados ao Ensino Superior. O objetivo da obra é estimular a efetiva participação do estudante na construção do conhecimento a ser apresentado. Assim, são aplicados alguns modelos clássicos, sendo cada capítulo finalizado com exercícios de fixação e de recapitulação, muitos envolvendo situações contextualizadas do cotidiano.
A contextualização, a interdisciplinaridade e a utilização da calculadora acompanham a obra, sendo também abordados textos com diversos assuntos, com destaque para as profissões. Um ponto negativo é a ausência de exercícios provocantes, destinados a estimular o estudante em processo de aprendizagem. Em geral, as técnicas são justificadas, levando em conta os conhecimentos prévios dos estudantes, exigindo o nível mobilizável, com pouca atenção ao desenvolvimento do nível disponível, no qual o estudante utiliza seus conhecimentos para resolver tarefas em que não se pede explicitamente a noção a ser utilizada; ou seja, cabe ao estudante encontrar a técnica adequada para a solução da tarefa proposta. Angel P. Rubió e Luciana M. T. de Freitas.
O livro didático é oferecido em três volumes e, segundo o Catálogo do PNLEM (2009), aborda grande parte dos conteúdos do Ensino Médio, além de apresentar uma revisão dos números reais, de geometria plana e áreas de figuras planas. Não existe preocupação em estabelecer ligações entre os vários tópicos apresentados, mas percebe-se a contextualização e a interdisciplinaridade, sendo a apresentação do conteúdo acompanhada por uma nota histórica; ou seja, alguns conteúdos são revisitados, mas não há o cuidado de articular os conhecimentos prévios com os novos, uma vez que os primeiros são introduzidos separadamente, dificultando a articulação dos conhecimentos e a naturalização das técnicas.
As demonstrações formais são escassas, ou seja, no livro, a validação do conhecimento matemático é simplesmente empírica, isto é, a obra contenta-se com a justificativa das técnicas, sem apresentar as teorias que as sustentam, mas essa é uma prática corrente do Ensino Médio, em que a Matemática é tratada quase exclusivamente por meio de tarefas desenvolvidas por meio das técnicas e das tecnologias que lhe são associadas, sem preocupação com a justificativa dessas tecnologias. A quantidade de atividades propostas aos estudantes, segundo o PNLEM, é elogiável, e existem ainda tarefas apresentadas em boxes separados que dão ênfase ao desenvolvimento do raciocínio lógico. Marcio Cintra Goulart.
O livro didático possui três volumes e, como informa o Catálogo do PNLEM (2009), privilegia satisfatoriamente os conteúdos do Ensino Médio. Seu estilo oscila entre a linguagem formal e o coloquialismo. A articulação entre as unidades não é satisfatória, e as situações de contextualização aparecem com pouca frequência. Nesse caso,
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também se observa que as técnicas são justificadas por meio de tecnologias que, em geral, não são explicadas pelas teorias que as sustentam. Isso leva à utilização da linguagem coloquial, na tentativa de facilitar a compreensão pelos estudantes.
O livro apresenta cerca de quatro mil exercícios, em diferentes níveis de dificuldades, mas o desenvolvimento dos conteúdos parece não ser suficiente para que os estudantes atinjam o nível disponível, isto é, para que tenham a possibilidade de tratar atividades que ultrapassem a aplicação imediata das noções desenvolvidas no curso e que, consequentemente, são pedidas explicitamente nos enunciados. Isso pode estar associado à utilização da linguagem coloquial para justificar as técnicas que servirão de base para a resolução das tarefas propostas aos estudantes. Luiz Roberto Dante.
O livro didático é oferecido em volume único. Segundo o Catálogo do PNLEM (2009), a obra trabalha com os tópicos comumente aplicados no Ensino Médio, e os conteúdos são dispostos obedecendo a um encadeamento lógico. Assim, as diferentes noções são introduzidas por meio de situações contextualizadas do cotidiano ou situações de aplicação nas outras ciências, e a articulação entre os conteúdos aparece em toda a obra, de forma variada, seguindo as orientações do PCN+. Destaca-se aqui a articulação do quadro das matrizes com o quadro da geometria apresentada neste livro. Nesse caso, diferentes ostensivos são manipulados, e a articulação entre eles é feita por meio dos não ostensivos que permitem justificá-los, tanto por meio de tecnologias apropriadas, como pelas teorias que os sustentam.
Ao longo de toda obra, percebe-se a preocupação com a contextualização do conteúdo, sendo aplicada por meio de situações problemas que auxiliam na construção e no desenvolvimento de conceitos e das técnicas que lhes são associadas. As atividades são bem selecionadas e possibilitam tanto a articulação de conhecimentos prévios e novos conhecimentos como o desenvolvimento de atividades que exigem o nível disponível, que não considera apenas a aplicação das ferramentas matemáticas, mas exige descobrir qual a mais adequada para realizar a tarefa proposta. Antônio Nicolau Yossef, Elizabeth Soares e Vicente P. Fernandez.
O livro didático é oferecido em volume único e, segundo o Catálogo do PNLEM (2009), os temas abordados na obra abrangem os conteúdos usualmente indicados para o Ensino Médio, sendo adequados aos objetivos propostos para essa etapa escolar. A linguagem é clara e bem trabalhada, mas, como informa a avaliação do PNLEM, existem algumas imprecisões conceituais nas diversas partes da obra, e os temas não são tratados de forma articulada.
A obra não favorece o desenvolvimento de competências complexas, por ser a introdução dos conteúdos feita de forma impositiva, sem exploração do caráter dedutivo da formalização das teorias, o que leva a considerar que as técnicas são reproduzidas sem justificativa. Os exercícios são organizados após a introdução de cada novo conceito, respeitando o crescente grau de dificuldade, mas não ultrapassam o nível mobilizável. Considerando que, segundo os PCNEM, o estudante do Ensino Médio deve ser autônomo e responsável por seu próprio plano de estudo, essa falta de tarefas que exijam o nível disponível pode ser um fator de limitação para aqueles que utilizarem apenas essa obra. Manoel Paiva.
O livro didático é oferecido em um único volume. Segundo o Catálogo do PNLEM (2009), traz conteúdos usualmente trabalhados no Ensino Médio, distribuídos de forma equitativa. O conteúdo é satisfatório, mas efetuado de forma direta e sucinta, sem estimular o estudante à construção do próprio conhecimento; ou seja, as técnicas que permitem resolver as tarefas propostas são desenvolvidas apenas por meio da manipulação dos ostensivos e não ostensivos desenvolvidos no curso, sem fazer apelo aos conhecimentos prévios dos estudantes e, consequentemente, sem relacioná-los com os novos conhecimentos. Existe articulação entre os conteúdos, mas, segundo nossas análises, o quadro das matrizes não é satisfatoriamente articulado com os quadros dos determinantes e sistemas lineares, isto é, a noção de matriz serve apenas de ferramenta explícita para o cálculo de determinantes e sistemas lineares, privilegiando, assim, o nível técnico.
No conjunto da obra, pode-se considerar que os estudantes não são estimulados a descobrir, conjecturar, argumentar, questionar ou formular problemas e expressar-se usando a linguagem matemática. Isso significa que o nível de conhecimento que se supõe desenvolvido nessa obra é o mobilizável, ou seja, o que é questionado pode ser identificado explicitamente no enunciado das tarefas propostas aos estudantes, não exigindo o desenvolvimento de novas estratégias.
CNLDEM, 2009.
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Anexo XLVIX – Definição das noções trabalhadas no Ensino Médio
NOÇÃO DE CONJUNTO NUMÉRICO E OPERAÇÕES: será verificado o que é disponibilizado em termos da teoria dos conjuntos e suas operações, como também o conjunto dos números reais e suas operações. NOÇÃO DE FUNÇÃO: será verificado o que é abordado, utilizando a noção de função, por meio de conjuntos, assim como o trabalho com os conceitos de domínio, imagem e de funções definidas por meio de uma relação matemática. Também serão verificadas as tarefas que utilizam os conhecimentos relacionados às funções injetiva, sobrejetiva e bijetiva, composta e inversa. NOÇÃO DE FUNÇÃO POLINOMIAL: serão averiguados os conteúdos relacionados a função afim e a função quadrática e os casos particulares, assim como os estudos e a análise desses casos. NOÇÃO DE FUNÇÃO MODULAR: será verificado o que é disponível em termos da definição modular, assim como as funções, as equações e as inequações modulares. NOÇÃO DE FUNÇÃO EXPONENCIAL E LOGARÍTMICA: para as duas funções, averigua-se o que é disponível em termos de funções, propriedades e operações, equações e inequações. NOÇÃO DE TRIGONOMETRIA E FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS: serão averiguados os conceitos de arcos e ângulos, funções circulares, relações fundamentais, redução ao primeiro quadrante, arcos notáveis, transformações, equações, inequações, triângulos retângulos e triângulos quaisquer. NOÇÃO DE SEQUÊNCIA NUMÉRICA: serão averiguadas as tarefas desenvolvidas de acordo com as sequências e sua lei de formação, progressão aritmética e progressão geométrica e a articulação com outras noções, como funções. NOÇÃO DE MATRIZ E DETERMINANTE: para esta noção são considerados os conhecimentos de matrizes e determinante de uma matriz, suas propriedades e operações. NOÇÃO DE SISTEMA LINEAR: serão considerados os conhecimentos sobre os métodos de resolução de sistemas, a determinação do conjunto solução e a possibilidade de aplicação desses conhecimentos para resolver tarefas relacionadas a outros conteúdos. NOÇÃO DE NÚMEROS COMPLEXOS: serão verificadas suas representações: forma algébrica e geométrica e suas operações. Também serão averiguadas as aplicações utilizando esta noção. NOÇÃO DE POLINÔMIO E SUAS EQUAÇÕES: será averiguado o que é desenvolvido utilizando as operações, equações e aplicação de teoremas. NOÇÃO DE GEOMETRIA PLANA E MEDIDAS: serão verificadas as propriedades de figuras geométricas, a semelhança de triângulos, as relações métricas no triângulo retângulo, polígonos e áreas. NOÇÃO DE GEOMETRIA ESPACIAL E MEDIDAS: serão averiguadas as noções de posições relativas aos entes geométricos, de poliedros e corpos redondos. NOÇÃO DE GEOMETRIA ANALÍTICA: serão averiguados os conceitos associados ao estudo dos pontos e retas no sistema de eixos cartesianos. Também serão consideradas às noções de circunferência e secções cônicas. NOÇÃO DE MATEMÁTICA FINANCEIRA: será verificado o que é desenvolvido utilizando os números proporcionais, porcentagem, juros simples e compostos. NOÇÃO DE ANÁLISE COMBINATÓRIA: serão verificados os princípios da multiplicação e da contagem, permutação, arranjos, combinações e problemas que envolvam vários desses tipos de agrupamento. Também serão considerados os conceitos de Binômio de Newton e o triângulo de Pascal. NOÇÃO DE PROBABILIDADE: serão verificados os conceitos de espaço amostral e eventos, cálculos de probabilidade e sua definição teórica e as aplicações associadas. NOÇÃO DE ESTATÍSTICA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS: será verificado o que é fornecido com relação às análises de dados por meio de pesquisas e representações gráficas. Também serão avaliados os conceitos de medidas de tendência central e de dispersão.