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MEMBRO DO GRUPO EUROPEU DE PENSIONISTAS DAS CAIXAS ECONÓMICAS E BANCOS
Publicação Trimestral da ANACAno XXIV • N.º 66 • Julho / Setembro 2015
E D I T O R I A LEDITORIALMais um verão passou e a tranquilidade e relaxamento que as férias quase sempre nos proporcionam vão-se esbatendo, trazendo ao nosso encontro, com algum sobressalto, um outono com a sua melancolia própria, as-sociada à preocupação com as escolhas que nos vão ser propostas e cujas consequên-cias nos atingirão no futuro, seja qual for a realidade que nos calhe em sorte. Estas são razões suficientes, para nos despertar do sono mais ou menos profundo que a vile-giatura, aos mais desatentos, proporcionou.
É tempo de acordar!
Parece ser do entendimento geral que a maioria dos cidadãos empobreceu, a classe média foi duramente atingida, a juventude tem emigrado procurando a possibilidade de ter uma vida, a redução dos meios para o funcionamento dos institutos de investi-gação científica, dos sistemas da educação e da saúde, direitos dos cidadãos, sobre os quais se alicerça uma democracia autêntica, tudo isto parece ser evidente.
É muito importante para os seniores, as de-cisões que venham a ser tomadas quanto ao futuro das pensões, e como serão tratadas as que se encontram em pagamento.
As forças que se apresentam a escrutínio, prometem a segurança e a tranquilidade a quem aderir aos seus projectos, sem grandes preocupações com o esclarecimento, ape-lando ao voto pela emoção.
Será estranho, se não impossível que isso aconteça, pois os caminhos propostos apon-tam métodos distintos e até contraditórios para as dificuldades do sistema de pensões. Mesmo apelando a toda a nossa fé, poder--se-ia admitir que se possa alcançar o mesmo objectivo por diferentes caminhos, o que não será porém possível é que os prejudicados e beneficiados sejam os mesmos, atendendo a que as fases do percurso são diferentes.
Não esqueçam que ainda este ano, para além das inscrições nas atividades que agora se vão iniciar na sede da Anac, para 2015 – 2016, ainda vai ocorrer a viagem pelo São Martinho e o almoço de Natal. Estejam atentos às ins-crições.
A Direção da Anac deseja a todos um feliz regresso com saúde. l
Dia Internacional de reflexão do Conselho da Europa sobre os abusos a idosos
Durante os últimos anos, o tópico tabu dos abusos sobre as pessoas idosas começou a ganhar visibilidade na Europa, com as dramáticas consequên-cias para os indivíduos e famílias, e o consequente reconhecimento da ne-cessidade da construção de uma sociedade abrangente.
A Organização Mundial de Saúde (WHO), informa que o abuso sobre os idosos é estimado em cerca de 2 500 homicídios todos os anos na Europa. Reconhece também que uma em cada quatro pessoas idosas que necessi-tem de grande nível de apoio, pode ser vítimas de maus tratos.
Reconhecendo a urgente necessidade para a UE e governos nacionais, de-senvolverem acções concretas e implementarem medidas específicas para combater os abusos sobre os mais velhos no contexto de uma sociedade envelhecida, a AGE Plataforma Europa, tem tido como linha de ação men-sagens fortes dirigidas aos políticos, para que seja posto fim a esta inacei-tável situação na U.E.
“Cada dia ouvem-se notícias alarmantes provenientes de toda a União, acerca de comportamentos de negligência, abusos e maus tratos sobre os mais velhos. Esta é a mais perniciosa forma de discriminação relaciona-da com a idade e é totalmente inaceitável”, enfatiza Anne-Sophie Parent, Secretária-Geral da AGE. “A implementação de políticas de proximidade, podem ajudar na luta geral contra os abusos na Europa e assegurar que os idosos possam continuar a gozar dos direitos humanos até ao fim da vida”, no dizer de Sofhie Parent.
Humbert de Biolley, deputado do Conselho da Europa em Bruxelas, indica o caminho a trilhar para enfrentar este problema: O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem tem protegido quem tem denunciado os maus tratos ocorridos em lares. A Carta Social Europeia garante aos idosos o direito à protecção social e protecção contra os abusos. O Comité da Prevenção da Tortura tem investigado lares onde pessoas são mantidas contra a sua von-tade. Também idosos que referem abusos nas suas próprias residências, são também protegidos pela convenção contra a violência doméstica. No último ano, o nosso Comité de Ministros dirigiu uma recomendação aos governos sobre os direitos humanos dos idosos, o qual apela à crescente tomada de consciência em todos os 27 estados membros, na erradicação dos maus tratos e abusos sobre os mais velhos.”
Ao nível da UE alguns instrumentos podem ser utilizados para incrementar o direito de viver em dignidade, como defende Salla Saastamoinen, Diretor em exercício da Igualdade na Comissão Europeia: “DG da Justiça e Consumidores tem uma importante responsabilidade no combate aos abusos sobre idosos. É parte da nossa função o combate à descriminação baseada no sexo, raça ou origem étnica, religião ou crença, limitação, idade ou orientação sexual. O Artigo 25 da carta dos Direitos Fundamentais reconhece e respeita o direito ao envelhecimento e dirigir a sua vida com dignidade e independência e participar na vida social e cultural. Este Artigo aplica-se quando as regras da UE são implementadas. Contudo
ENVELHECER COM DIGNIDADE E PROTEÇÃO
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Ficha Técnica
Propriedade da ANAC – Associação Nacional dos Aposentados da Caixa Geral de Depósitos; Sede: Rua Marechal Saldanha,nº. 5-1º. 1200-259 Lisboa, Tels. 21 324 50 90/3, Fax 21 324 50 94, E-mail: [email protected], Blogue: http://anaccgd.blogspot.com; Coordenação: Carlos Garrido; Publicação: Trimestral; Impressão: Gráfica Expansão - Artes Gráficas, Lda., Rua de S. Tomé, 23-A, 2685-373 PRIOR VELHO; Tiragem: 3.500 exemplares; Depósito Legal: nº. 55350/92; Distribuição: gratuita aos sócios; Colaboraram neste número: Carlos Garrido; Cândido Vintém; José Coimbra (Delegação da Região Norte); Orlando Santos
OS SENIORES E A SAÚDELendo as propostas que refletem as preocupações que a AGE tem apresentado em Bruxelas aos diferentes organismos europeus, relacionadas com os problemas surgidos com o aumento da esperança de vida, fenómeno que não é apenas português, mas que com intensidades e matizes diferentes se tem vindo a manifestar por todo o mundo, deparei com um texto de uma senhora, de cuja existência tinha total desconhecimento. O tema nele evocado, tendo em atenção que é uma situação que reflete a realidade de muitas pessoas da nossa faixa etária e, com o risco de se tornar “normal“, senti que não poderia deixar de aqui o transcrever.
QUANDO ME TORNEI INVISÍVELJá não sei em que data estamos, nesta casa não há folhinhas e na minha memória tudo está revolto. As coisas foram desaparecendo. E eu também fui apagando sem que ninguém se desse conta.
Quando a família cresceu, trocaram-me de quarto. Depois passaram-me para outro menor ainda acompanhada das mi-nhas netas, agora ocupo o anexo no quintal de trás. Prometeram-me mudar o vidro partido da janela, mas esqueceram-se. E nas noites que sopra ali um ventinho gelado aumentam as minhas dores reumáticas.
Um dia à tarde dei conta que a minha voz desapareceu. Quando falo os meus filhos e netos não me respondem. Con-versam sem olhar para mim, como se não estivesse com eles. Às vezes digo algo, acreditando que apreciarão os meus conselhos, mas não me olham nem me respondem então, retiro-me para o meu canto, antes de terminar a caneca de café. Faço isso para que compreendam que estou triste e para que me venham procurar e me peçam perdão…
Mas ninguém vem. No dia seguinte disse-lhes: Quando eu morrer então sim, vocês irão sentir a minha falta. E o meu neto perguntou: Estás viva avó? (rindo)
Estive três dias a chorar no meu quarto, até que numa certa manhã um dos meus netos entrou para guardar umas coisas velhas. Nem bom dia me deu, foi então que me convenci de que sou invisível.
Uma vez os netos vieram dizer-me que iríamos passear ao campo. Fiquei muito feliz, fazia tanto tempo que não saía! Fui a primeira a levantar, quis arrumar as coisas com calma, afinal nós velhos somos mais lentos assim, arranjei-me a tempo de não os atrasar. Em pouco tempo todos entravam e saíam correndo de casa, atirando bolas e brinquedos para o carro.
Eu já estava pronta e muito alegre, parei na porta e fiquei à espera. Quando se foram embora, compreendi que eu não estava convidada, talvez não coubesse no carro. Senti que o coração encolhia e o queixo tremia, como alguém que tinha vontade de chorar. Eu entendo-os, são jovens, riem, sonham, abraçam-se, beijam-se e eu… e eu…
Antes beijava os meus netos, adorava tê-los nos braços como se fossem meus. E até cantava canções de embalar que tinha esquecido. Mas um dia…
Um dia a minha neta que acabava de ter um bebé, disse-me que não era bom que os velhos beijassem os bebés por questões de saúde. Desde então não me aproximo mais deles, tenho tanto medo de os contagiar. Eu não tenho mágoa deles, eu perdoo a todos, porque culpa têm eles de que eu me tenha tornado invisível? l
Texto original – “El dia que me volvi invisible”
Autora – Silvia Castillejon Peral Cidade do MéxicoC.G.
na legislação relativa à anti-discriminação aplicada na U.E., existe uma importante lacuna no que respeita à idade, defendendo o acesso sem restrições, à utilização de bens e serviços, incluindo habitação, protecção social (segurança social e saúde) e educação. É por isto tão importante que a proposta 2008 da Comissão, para a Diretiva do tratamento Igualitário, possa ser adotada pelo Conselho. Trabalha-se intensamente para isso.”
Debbie Kohner, Secretário Geral da Rede Europeia das ins-tituições dos Direitos Humanos (ENNHRI), enfatiza a impor-tância do controlo dos mecanismos de proteção dos direitos humanos, para prevenir abusos sobre os idosos: “Os abusos
podem ter como consequências, o baixo nível de saúde das vítimas. As Instituições Nacionais dos Direitos Humanos, por toda a Europa têm um papel decisivo na proteção e promo-ção dos direitos de todos os indivíduos, incluindo as pessoas idosas. Esta Conferência e o projeto ENNHRI dos direitos dos idosos e cuidados de saúde a longo prazo, em toda a Europa, que serão hoje introduzidos, desempenharão um importante papel na divulgação da rede internacional para proteção das pessoas idosas e partilhar esquemas inovadores para a redu-ção da incidência dos abusos.” l
Publicado no sítio da AGEC.G.
Antes beijava os meus netos, adorava tê-los nos braços como se fossem meus. E até
Um dia a minha neta que acabava de ter um bebé, disse-me que não era bom que os velhos beijassem os bebés por questões de saúde. Desde então não me aproximo mais deles, tenho tanto medo de os contagiar. Eu não tenho mágoa deles, eu perdoo
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ESPAÇO DE REFLEXÃO
mostra bem o nível de desigualdade a que se chegou. De
acordo com as estatísticas da mesma fonte em 2013, 1%
da população detinha 47,7 % e 99%, detinha 52,3% da ri-
queza mundial. Em 2014 a partilha era de 48,1% e e 51,9%,
prevendo-se que 1% de milionários consiga superar os
restantes 99% na distribuição global da riqueza em 2016,
ultrapassando os 50%.
Para inverter esta situação seria preciso combater a eva-
são fiscal das empresas e das pessoas mais ricas, de-
senvolver serviços públicos gratuitos, principalmente na
saúde e educação, tornar mais equitativa a carga fiscal,
aumentar os salários mínimos, implementá-los onde não
existem, e alargar os serviços da segurança social.
Recentemente publicado o Capital no Século XXI de
Thomas Piketty, professor na École de Hauts Études en
Sciences Sociales e École d’Économie de Paris, o qual
tem dominado o debate sobre a produção e distribuição
de riqueza no capitalismo, e captado o interesse de um
público diverso e não especialista, desejoso de que o li-
vro, o possa ajudar a compreender a instabilidade per-
manente em que a sua vida se tornou, vindo a demons-
trar que nada, no mundo em que vivemos, pode ser dado
como adquirido.
Num estudo que abrange três séculos da história econó-
mica de mais de vinte países, pretende demonstrar que
a desigualdade na repartição de riqueza, é uma conse-
quência intrínseca ao funcionamento do próprio siste-
ma. Considerando que a distribuição de riqueza é uma
questão decisiva na vivência em regime democrático,
aceita de uma forma, que muitos consideram demasiado
complacente com o sistema, que o capitalismo é fator
de desenvolvimento e criação de riqueza, não propondo
qualquer sistema alternativo. Não considerando a desi-
gualdade como um fenómeno, apenas consequência dos
rendimentos do trabalho, chama a atenção para as dife-
renças da divisão da riqueza, tentando compreender os
mecanismos que a originam. Em consequência demons-
tra a existência de um padrão mantido ao longo do tem-
po, que origina grandes desigualdades na repartição de
riqueza, padrão esse que resulta da taxa de rendimento
do capital ser superior à taxa de crescimento da produ-
ção, o que tem como consequência o aumento da con-
centração do capital numa pequena parte da população
que por herança, sorte ou capacidade empreendedora,
consegue o acesso ao mesmo.
Com este mecanismo de acumulação, o rendimento
do capital cresce em percentagem face à totalidade
do rendimento nacional, fazendo com que as grandes
fortunas atuais tendam a tornar-se ainda maiores no
futuro. Constatando que sempre foi assim, só será
possível alterá-lo, ou quando muito atenuá-lo, fazendo
profundas reformas no sistema fiscal, e introduzindo
impostos progressivos sobre as grandes fortunas, que
A situação que o mundo presentemente enfrenta, nunca
se apresentou de forma tão clara sobre a natureza do po-
der que dirige os destinos de milhões de seres humanos.
O número de desempregados tem crescido constante-
mente. Segundo a Organização Internacional do Trabalho
havia em 2014 cerca de 200 milhões de desempregados
no mundo inteiro, o que se traduz num acréscimo de 31
milhões em relação a 2008, ano em que teve início a crise
económica que presentemente vivemos. Para 2015 pre-
vê-se um aumento de 3 milhões de desempregados e de
oito milhões até 2019.
Seria necessária, para atenuar o problema, a criação de
280 milhões de postos de trabalho novos, nos próximos
5 anos, tudo isto em contraponto com os salários pagos,
onde 10% recebem entre 30 a 40% do total.
O desenvolvimento científico e técnico, dando origem à
robotização e informatização do trabalho, originaram que
um menor número de trabalhadores, com menos esforço,
aumentasse a produção. Era uma boa oportunidade, para
reduzir o tempo de trabalho mantendo o emprego, e li-
bertando as pessoas para tempo de lazer ou outras ocu-
pações, que lhe permitisse desenvolver-se física e cultu-
ralmente. Porém não foi isso que aconteceu. Atividades
que empregavam muitos trabalhadores, são hoje feitas
por máquinas que quase dispensam a atividade humana,
o que leva à contração significativa do mercado de tra-
balho. Porém, os detentores do capital, em vez de investir
os lucros acumulados em novas atividades económicas,
industriais, agrícolas ou de serviços que ocupassem a
mão de obra dispensada pelo desenvolvimento tecnoló-
gico, optam por dedicar-se à especulação na bolsa, nos
bancos, na fusão e aquisição de empresas existentes e
em funcionamento, desvio de verbas importantes para
paraísos fiscais, tendo em vista a fuga ao pagamento de
impostos. Estas operações, apenas fazem que o capital
circule entre os seus detentores, mas não cria riqueza
para o mundo, nem cria os necessários postos de traba-
lho, permanente e com direitos. Estas operações de es-
peculação financeira, são apenas negócios com o capital,
tornado assim improdutivo. Segundo a Oxfam, a riqueza
global está cada vez mais concentrada nas mãos de um
pequeno grupo de pessoas muito ricas. A obtenção desta
riqueza, tem sido conseguida nos interesses que detêm
nas áreas de negócios em que predominam as empresas
farmacêuticas, a saúde, banca e seguros.
A influência destas empresas manifesta-se pelo gasto de
milhões de dólares em grupos de influência, para prote-
ção e reforço dos seus interesses, pela utilização de re-
cursos que deviam ser dirigidos para benefício de toda a
população e não apenas dos mais favorecidos.
Ainda segundo as estatísticas da Oxfam, refere-se que
85 multimilionários têm a mesma riqueza que a metade
da população mundial com mais baixos recursos, o que
DESEQUILÍBRIOS
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Impõe-se assim a convicção de que as desigualdades
dependem essencialmente das ações dos interventores
económicos, políticos e sociais, na sua capacidade de
influenciar o que é justo ou injusto, e das relações de
poder estabelecidas, dito de outro modo, da correlação
de forças existente entre os grupos sociais envolvidos.
A conclusão tem que implicar a esperança. A perpetua-
ção deste modelo de desigualdades, não tem que ser
inevitável. Não existe determinismo económico, a polí-
tica é decisiva na distribuição da riqueza. Não havendo
transformações significativas a curto ou médio prazo, e
tendo em conta que o sistema só origina taxas elevadas
de crescimento em situações muito concretas, tais como
recuperação após destruição maciça de capital (conflitos
armados), crescimento populacional e inovação tecnoló-
gica, que muitas vezes até destrói postos de trabalho, os
países mais desenvolvidos poderão voltar aos níveis de
desigualdade e injustiça do fim do século XIX e princípio
do século XX. Os patrimónios privados poderão atingir
o valor equivalente ao rendimento nacional conseguido
em vários anos. Este fenómeno já está a ocorrer no nosso
país nas últimas três décadas.
Não será fácil, na atual situação, lutar pela defesa dos
valores democráticos porém, tentar ignorar o problema
não o faz desaparecer. l
C. Garrido
possam reduzir as profundas desigualdades existentes e
a manutenção e reforço do sistema democrático, com os
progressos que permitiram, em tempos, a emergência do
estado social, grande conquista civilizacional dos tempos
modernos. Pode assim caraterizar-se o capitalismo como
uma enorme concentração patrimonial transmitida no
tempo, por herança de geração em geração.
Comparando o elevado rendimento do capital e a taxa
de poupança que proporciona, mesmo que seja limita-
da, será sempre superior à taxa de crescimento da eco-
nomia no seu conjunto, assim a taxa de rendimento do
capital, permitirá sempre uma taxa de poupança que o
rendimento do trabalho jamais poderá proporcionar. A
consequência mais evidente, será uma maior dificulda-
de da mobilidade social e profissional pelo mérito, e a
constância dos valores de justiça e igualdade, alicerces
do conjunto de valores em que se firmam as sociedades
democráticas de hoje.
Das conclusões que se podem retirar deste estudo, uma
das mais importantes é que não existe determinismo
económico. A distribuição da riqueza é uma questão
de natureza política e não imposta por qualquer
inevitabilidade. A redução ou aumento das desigualdades
tem dependido sempre da existência de conflitos e das
políticas aplicadas na sequência desses acontecimentos,
ou em peripécias ocorridas ao nível do sistema fiscal e
financeiro.
A RUA DO POÇO DOS NEGROS, pertence às freguesias de Santa Cataria (freguesia da Sede da ANAC) e São Paulo. As ruas da sua envolvência – Rua das Gaivotas, Travessa dos Mastros, Travessa dos Pescadores etc., são nomes que nos fazem lembrar o mar e restos do labor que caraterizou este local.
Lisboa, com a vinda nas caravelas dos primeiros cativos negros, tornou-se de repente numa cidade com mão de obra escrava que assegurava as tarefas domésticas e os trabalhos mais árduos.
A Rua do Poço dos Negros, terá origem datada dos inícios séc. XVI e tendo em vista a necessidade de se construir um poço para depositar os corpos dos escravos mortos, sobretudo aquando de surtos epidémicos. Não tendo direito a sepultura nos adros das igrejas, dizem que os escravos eram lançados na lixeira que então existia junto á Cruz da Pedra (atual rua da Sede da ANAC), ou então eram lançados para a praia então existente em Santos. Perante esta situação e para evitar consequências gravosas para a saúde, mandou o rei D. Manuel que se abrisse um poço, o mais fundo possível e em lugar que fosse mais conveniente, vindo a acontecer ao fundo da Calçada do Combro, no qual seriam lançados os ditos escravos. Para ajudar à decomposição dos corpos, teriam ainda que juntar de vez em quando, alguma quantidade de cal viva.
Há ainda quem defenda que a origem do nome da rua esteja associada à aproximação que existe com o
lisboa cidade de encantos retirado da internet por Orlando Santos
Convento de São Bento, (atual Parlamento), e conhecido na altura por Convento de São Bento dos Frades Negros, devido à cor dos seus hábitos e à existência de um poço nas hortas dos respetivos frades. O certo é que no presente não existem vestígios de tal poço.
No final da década de 70 do século passado, a Rua do Poço dos Negros, a Travessa do Poço dos Negros, e também toda a zona de S. Bento, foram redescobertas pela primeira vaga de imigrantes de Cabo Verde.
No presente, esta rua serve ainda como amostra daquilo que já foi faz alguns anos, um museu vivo de alfarrabistas, cervejarias, cabeleireiras, costureiras etc. etc. Também nesta rua se podem ainda ver às varandas com os seus canteiros floridos as vizinhas em amena cavaqueira. l
expressões populares: “Lágrimas de Crocodilo”
Significado: Choro fingido.
Origem: O crocodilo, quando ingere um alimento, faz forte pressão contra o céu-da-boca, comprimindo as glândulas lacrimais. Assim, ele chora enquanto devora a vítima.
!!!!!!!
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ATIVIDADES
CIRCUITO DOS AÇORES
Durante o mês de julho dois grupos de 52 participantes,
estiveram presentes na viagem a seis ilhas do Arquipé-
lago dos Açores. A viagem, oportunamente publicitada,
foi oportunidade para um convívio salutar e ao reviver
de antigas amizades, tendo por pano de fundo o cenário
luxuriante e caraterístico desta região autónoma.
Foram visitadas seis ilhas pertencentes aos três grupos
insulares. Do oriental a ilha de S. Miguel, do central a de
Terceira, Faial e Pico, e do ocidental Flores e Corvo.
Na ilha de S. Miguel, a maior ilha, maravilharam as La-
goas das Sete Cidades e do Fogo e a desenvolvida ci-
dade de Ponta Delgada, bem como o muito saboroso
“Cozido das Furnas”. A região central da ilha Terceira é
diferenciada pela Caldeira de Guilherme Moniz, por onde
dois mil anos atrás se espraiaram as lavas do cone vul-
cânico Algar do Carvão. Hoje é visitável a conduta vul-
cânica, resultante do abatimento da lava que solidificou
no interior da chaminé, constituindo um monumento
A ilha das Flores faz plenamente juz ao nome que lhe foi
dado. Com 16,6 quilómetros de comprimento e 12 de lar-
gura, é nela que o continente europeu tem o seu ponto
mais ocidental, no ilhéu do Monchique, visível da Vigia
da Ponta Negra, junto do Farol do Albarnaz e dista cerca
de 18 quilómetros da ilha do Corvo.
Todas as ilhas se distinguem nas suas especificidades
paisagísticas, mas a existência das caldeiras, crateras
vulcânicas que se encheram com a água que escorre
das suas vertentes, algumas delas quase na vertical, são
uma constante em quase todas elas. Excepção é a ilha
do Pico, onde a sua majestosa Montanha do Pico, a mais
alta de Portugal, com 2351 metros de altitude, é domi-
nante em todo o conjunto paisagístico, onde se integram
algumas lagoas num ambiente extasiante, e classificada
como Reserva Natural desde a década de setenta do
século passado. Nesta ilha não se podem deixar de visi-
tar as impressionantes aglomerações de lava perfuradas
por túneis e grutas, resultantes do arrefecimento brus-
co no contacto com a água, de que são um magnífico
exemplo os “Arcos do Cachorro”. O Museu dos Baleeiros
é uma merecida homenagem aos pescadores da baleia,
não podendo deixar de referir as parreiras pintando de
verde a tonalidade escura do basalto e o magnífico vi-
nho por elas produzido.
Sete dias é um período muito curto para apreciar com
alguma profundidade este maravilhoso arquipélago, dei-
xando uma enorme vontade de voltar. l
C. Garrido
ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES
Decorreu no passado dia 10 de julho o almoço-convívio
de encerramento de atividades do ano 2014-2015.
Simultaneamente iniciaram-se as comemorações dos 30
anos da nossa Associação.
Esteve presente cerca de uma centena de Sócios que
participaram nas 14 atividades desenvolvidas ao longo
do ano.
No final do almoço foram cantados os parabéns à ANAC
pois nesse dia completaram-se os 30 anos da sua fun-
dação.
natural extraordinário. A mancha vegetal característica
dos Açores é uma companhia constante pelas serras e
vales, onde do seu alto se pode observar em miradouros
bem posicionados a imensidão dos seus vulcões. De um
dos mais conhecidos e bem preservados, o Monte Brasil,
desfruta-se uma vista fabulosa sobre a cidade e a baía
de Angra do Heroísmo.
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ATIVIDADES
De seguida decorreu uma sessão de entrega de certi-
ficados a todos os professores que colaboraram com a
Associação durante o ano “letivo” de 2014-2015. Os “di-
plomas” de final de ano foram entregues aos participan-
tes nas atividades que estavam presentes.
O grupo de ensino de violas e os Grupos Coral e de Can-
tares animaram a sessão.
Foram entregues à ANAC uma placa oferecida pelos
participantes nas atividades e também uma jarra alusiva
à data, pintada pela Sócia e Amiga Maria Benvinda Rosa.
Para todos, o obrigado da Associação. l
Cândido Vintém
FÉRIAS NO SUL DE ESPANHA
Foram 48 os Sócios, Familiares e Amigos que gozaram
11 dias de merecidas férias na Costa del Sol, no sul de
Espanha.
Fuengirola foi a localidade escolhida para estas férias. O
hotel Las Palmeras recebeu muito bem este grupo.
O tempo colaborou (só choveu no segundo e no último
dia...), com muito sol e águas do Mediterrâneo com boa
temperatura pelo que os banhos e idas à piscina e praia
foram mais que muitos.
A qualidade dos serviços do hotel foi bastante boa, com
alimentação variada em qualidade e quantidade. A sua
localização é muito boa, no centro da vila, junto ao por-
to e a menos de 100 metros de muitas das excelentes
praias.
Pena que os turistas ingleses bebam demais e pertur-
bem as noites de Fuengirola com cânticos e bebedei-
ras... l
Cândido Vintém
FESTAS DE VILA VIÇOSA
Como anunciado, os “nossos talentos” estiveram pre-
sentes na inauguração das festas de Vila Viçosa (Festas
dos Capuchos), no passado dia 11 de setembro.
Os nossos pintores, juntamente com o artista plástico
local Joaquim Pimenta, mostraram as suas obras no Ci-
ne-Teatro Florbela Espanca.
O Grupo de Cantares também abrilhantou a inaugu-
ração da exposição com um repertório que foi muito
aplaudido.
Mais uma jornada de são convívio e de divulgação do
que de bom existe na nossa Associação e dos talentos
que orgulham todos os Sócios. l
Cândido Vintém
Houve oportunidade para as tradicionais visitas a luga-
res conhecidos de quase todos (Málaga, Marbella, Ron-
da, Mijas, Gibraltar, Puerto Banús,...) e também para uma
noite de “flamenco” em Málaga.
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TRÁCIOS
ESPAÇO CULTURAL
MUDAR DE GOVERNO
Não se pode governar um país como se a po-lítica fosse um quintal e a economia fosse um bazar. Ao avaliar um regime de governação precisamos, no entanto, de ir mais fundo e sa-ber se as questões não provêm do regime mas do sistema e a cultura que esse sistema vai ge-rando. Pode-se mudar o governo e tudo conti-nuará igual se mantivermos intacto o sistema de fazer economia, o sistema que administra os recursos da nossa sociedade. Nós temos hoje gente com dinheiro. Isso em si mesmo não é mau. Mas esses endinheirados não são ricos. Ser rico é outra coisa. Ser rico é produzir em-prego. Ser rico é produzir riqueza. Os nossos novos-ricos são quase sempre predadores, vi-vem da venda e revenda de recursos nacionais.
Afinal, culpar o governo ou o sistema e ficar apenas por aí é fácil. Alguém dizia que «go-vernar é tão fácil que todos o sabem fazer até ao dia em que são governo». A verdade é que muitos dos problemas que nós vivemos resul-tam da falta de resposta nossa como cidadãos ativos. Resulta de apenas reagirmos no limite quando não há outra resposta senão a violên-cia cega. Grande parte dos problemas resulta de ficarmos calados quando podemos pensar e falar.
Mia Couto, in ‘E Se Obama Fosse Africano?’
Esta gente cujo rosto Às vezes luminoso E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto De luta e de combate Contra o abutre e a cobra O porco e o milhafre
Pois a gente que tem O rosto desenhado Por paciência e fome É a gente em quem Um país ocupado Escreve o seu nome
E em frente desta gente Ignorada e pisada Como a pedra do chão E mais do que a pedra Humilhada e calcada
Meu canto se renova E recomeço a busca De um país liberto De uma vida limpa E de um tempo justo
Sophia de Mello Breyner Andresen, in “Geografia”
ESTA GENTE
O território onde hoje se localiza a Bulgária, foi um local de cruzamento de vários povos e culturas, e está situada na parte mais oriental da Península Balcânica, em frente à Turquia e ao Mar Negro. Desde as épocas mais remotas aí se estabeleceram povos de origem e culturas muito diversas. Nestas terras passavam as ondas de grandes tribos que migravam de um continente para o outro. Até que, por volta do segundo milénio A.C. surgiu um povo que se fixou na parte oriental do país – os trácios, uma gente estranha que acreditava na imortalidade da alma e numa vida que se prolongava além da morte.
As tribos da Trácia antiga, eram unidas por caraterísticas linguis-tícas e culturais comuns, mas politicamente muito desunidas. As suas narrativas próprias perderam-se, tendo apenas conhecimen-to de parte da sua história em textos gregos e romanos. Neles são descritos como guerreiros hábeis e arrojados, tendo lutado contra os gregos na guerra de Tróia.
Os reis e os mais notáveis das tribos eram enterrados em túmulos nos quais se colocavam todas as riquezas que haviam acumulado. E assim os trácios puderam deixar uma lembrança – a de sua arte, em muitos momentos inigualável, pela sua originalidade e pelo fim que almejava: a eternidade. Inúmeros historiadores do mundo an-tigo escreveram sobre os costumes, os hábitos e a agressividade das tribos que povoaram as partes central e norte da Península Balcânica já nos fins da Idade do Bronze. Segundo os seus vizi-nhos, os gregos, elas deram origem ao deus do vento, Bóreas, e
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ao deus da guerra, Ares. No entanto, estas criaturas divinas revelam somente uma parte do espírito trácio, livre e indomá-vel, pois nas suas terras tiveram berço também as Musas e nas suas montanhas cantava o doce Orfeu. Mas deve-se considerar que esses dados sobre a cultura trácia poderiam ter chegado até nós apenas como belas lendas se não tivessem o apoio dos ricos achados que revelaram ao mundo uma arte estranha, excepcional, primitiva, porém de força inigualável.
Apesar dessa profusão de ouro, o material mais utilizado na Trácia – como no restante mundo antigo – era o bronze. Com ele se elaboravam os enfeites, as armas, os utensílios em geral. As formas desses objetos eram simplificadas, e a maioria dos ornamentos composta de figuras geométricas. Encontram-se também com muita frequência, principalmente nos machados de culto, figuras de animais domésticos: bois, carneiros, galos, etc.
Ainda não foram escavadas todas as sepulturas trácias. Pode--se imaginar o que esconde o restante das colinas espalhadas por toda aquela região. Mesmo assim, é possível afirmar que apenas dois países rivalizavam em riqueza com a Trácia: a Pér-sia ocidental e a Cítia. E isto não é uma casualidade. Os povos desses países encontravam-se em níveis de desenvolvimen-to social, político e econômico bastante semelhantes, assim como também eram semelhantes a religião e a ideologia. Além disso, mantinham relações diretas, pois os persas passavam constantemente pelo seu território.
Sendo a Trácia o primeiro país europeu a adotar os estilos artísticos orientais, para mais tarde difundi-los pelos mestres dos outros países bárbaros. E desde tempos imemoriais que as terras búlgaras representavam uma ponte entre o Oriente e o Ocidente, pelo qual passavam inúmeros povos e culturas. Em razão disso, a arte trácia adotou muitos elementos estran-geiros, fixou-os e acabou por torná-los parte de sua tradição. Um exemplo desse fenômeno é o denominado estilo animales-co, tão difundido na arte torêutica (arte de cinzelar, de escul-pir em metal, madeira ou marfim) da Trácia. O leão, o grifo, o touro foram aí introduzidos graças aos contactos com a arte persa. E os paralelos entre a torêutica trácia e a cita são ain-da mais evidentes, levando alguns pesquisadores a conside-rarem a arte trácia como uma variante local da arte dos citas.
Mas a Trácia não possuía fronteiras somente com a Pérsia e a Cítia. Ao sul ela tinha como vizinha a Grécia, que por volta do século V a.C. havia assumido a hegemonia cultural do mundo, a ponto de criar entre helenos e bárbaros uma divisão que ex-pressava bem mais uma diferença cultural do que étnica. Mas os altivos gregos gostavam de comerciar com os ricos bárba-ros, com os quais trocavam o seu trigo, produtos alimentícios e couro por objetos como enfeites, armas e utensílios. Mas esse intercâmbio não se ateve somente ao comércio. Muitos mestres gregos trabalharam para soberanos trácios, adaptan-do o estilo clássico grego ao gosto oriental de seus clientes.
Os melhores exemplos encontrados hoje são os dos tesouros de Russe e Panaguiurishte.
De todos esses objetos, o mais belo é a ânfora encontrada em Panaguiurishte. Por sua forma, ela pode ser considerada um dos vasos mais raros existentes em todo o mundo. Tendências artísticas semelhantes às existentes nos tesouros de Russe e de Panaguiurishte encontram-se, também, no tesouro de Let-nitza, que sem dúvida alguma é obra do artesanato trácio e data da mesma época que os dois citados anteriormente, isto é, fins do século III a.C. Sua elaboração é, no conjunto, bárbara, embora apresente uma série de particularidades que a aproxi-mam da arte da Ásia Menor.
ESPAÇO CULTURAL
Outra faceta interessante de examinar nos tesouros da Trácia é a que diz respeito aos adornos. A sua confeção é tradicional-mente atribuída a artistas gregos. Todavia, o problema relacio-nado com o lugar em que foram elaborados ainda não está to-talmente resolvido. Isso deve-se ao facto de terem encontrado em várias ilhas gregas adornos semelhantes aos achados nos túmulos de Duvanli e Mezek. Antes da segunda metade do sé-culo VI a.C. eram raros os adornos de ouro nas colônias gregas das costas do mar Negro. A partir, porém, da segunda metade do século III a.C., começaram a proliferar as oficinas especiali-zadas na confeção de adornos de ouro. Por essa época surgi-ram, ao lado dos adornos gregos típicos, adornos trácios com as mesmas características
Se tentarmos descobrir o que, para um nobre trácio, tinha va-lor numa obra de arte, chegamos a algumas conclusões inte-ressantes. Antes de tudo ela deveria ser feita de um material precioso porque dessa forma demonstrava a riqueza do seu possuidor. O trácio rico tinha uma predileção pelos objetos de ouro, tais como peitilhos, capacetes, pulseiras e anéis. Dessa maneira ele se distinguia dos mais pobres, demonstrava a sua origem nobre, a sua situação privilegiada. Provavelmente é por essa razão que os trácios nobres eram chamados de dzibitides – brilhantes. Eles brilhavam de tanto ouro que carregavam.
Os motivos mais frequentemente encontrados nos objetos dos tesouros trácios são os animais. Muitas vezes representados durante uma luta entre si: é o leão que ataca o veado ou o touro; é o grifo devorando o veado; são dois ursos em posição de combate. Geralmente a posição do animal está combinada com a forma do objeto. Muitas vezes surgem figuras fantásti-cas, como leões com bico de águia ou veados alados.
Comummente afirma-se que o estilo animalesco determina a arte trácia. Mas, na realidade, do ponto de vista artístico as obras mais preciosas são aquelas em que os homens se acham representados. É difícil afirmar se esta última foi uma etapa subsequente ou contemporânea ao estilo animalesco. O exem-plo mais antigo de figura humana é o que se encontra num cinto datado provavelmente do século V a.C., mas o verdadei-ro florescimento do estilo antropomorfo data do século IV a.C.
Até aos dias atuais, já foram descobertas mais de cem sepul-turas onde se encontraram objetos em que aparece a figu-ra humana. Do ponto de vista iconográfico, a imagem quase totalmente dominante é a do cavaleiro-guerreiro-caçador. E quem é esse cavaleiro misterioso que passa cavalgando, atra-vés dos séculos, como um símbolo eterno do espírito trácio? Durante a época da dominação de Roma foram dedicados a ele mais de dois mil relevos em mármore. Dele aprendemos o nome – Heros. Mas será este um nome ou simplesmente a palavra herói? Por ser um deus universal, os trácios apelavam para ele em todos os casos, fosse para defender as portas da cidade ou para os curar de qualquer enfermidade.
Os trácios criaram uma arte com finalidade. Uma arte que con-servou a lembrança de um povo, que, segundo Heródoto, era “o mais numeroso depois do hindu” e que ficou conhecido pela sua fé na imortalidade. Por acreditarem na permanência da vida, os trácios levavam consigo para a sepultura suas relíquias mais preciosas. E, em verdade, graças a elas, conseguiram a imortalidade tão desejada. Não, talvez, a espiritual; mas com certeza a cultural. Pois hoje, guardadas em museus, estas relí-quias tornaram-se os testemunhos de um povo desaparecido. Mensageiras entre mundos, como Hermes o foi entre o dos deuses e o dos homens; e, como Orfeu, mensageiras do enten-dimento entre os próprios homens.
Fonte: Os povos antigos Internet C.G.
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Delegação Norte da Anac / Setembro 2015
DELEGAÇÃO NORTE DA ANAC
Por N
é do
Resposta à Rubrica “Quem é o Autor ?”
A resposta à rubrica “Quem é o Autor?” publicada no último boletim da Delegação Norte da Anac, é a seguinte: José Gomes Ferreira (poema XV do “SONÂMBULO”) E Armindo Rodrigues (4ª Ode ao Tejo). Ambos os poemas foram inseri-dos no texto que serviu de base ao 1º espetáculo do GRUPO DE TEATRO DOS TRABALHADORES DA CGD –OS HIPOPÓTAMOS—no TEATRO VILLARET, em 1 de Maio de 1972. O Colega António Barata respondeu corretamente quanto ao primeiro autor. A ele enviamos os nossos parabéns e agradecimentos pela participação. A resposta à rubrica deste número, deverá ser dirigida à Delegação Norte da Anac e será divulgada no próximo número deste jornal.
Caldo de Letras
Quem é o Autor?
Para Onde Vai Portugal ? Este livro é um ensaio sobre as prováveis saídas de desenvolvimento ou regressão social que se colocam ao país.
Para organizar a sociedade e dar bem-estar a todos não é aceitável sabotar a produção, pagar para os agricultores não produzirem, encerrar fábricas e em-presas, destruir capacidade produtiva, colocar 47% da população na miséria e deter o desenvolvimento da ciência e da técnica, como tem sido feito. Já não so-mos o país atrasado de Salazar. Somos uma sociedade urbanizada, escolarizada, que não vê a emigração como uma fatalidade, nem viver em níveis mínimos de subsistência como um destino traçado. Temos de ter a coragem de recusar o senso comum, de não ceder ao pensamento mágico. Uma sociedade que não identifica os pontos nevrálgicos dos seus dra-mas, porque teme as conclusões, não conseguirá sair do retrocesso histórico e está a adiar - e a agigantar - conflitos inevitáveis. Creio que há soluções, e é este o eixo do presente ensaio, que garantem uma produção racional de bens e serviços, o pleno emprego, o Esta-do social e o acesso ao lazer para todos. Mas todas as
soluções têm problemas. E não se resolvem proble-mas escamoteando-os, ou omitindo-os, para não inco-modar o senso comum, esse enorme balão cheio de nada. Sabemos que o mundo muda. Mesmo que a Terra pareça estar parada, ela move-se. Mas o mundo não muda sozinho para melhor. O aprofundamento da democracia é hoje um desígnio central da civilização, e exige mais intervenção da sociedade, recuperação do controlo da população sobre a res pública, em vez de se limitar a um cheque em branco passado num ato eleitoral de quatro em quatro anos. Há anos que a coisa pública é gerida por quem a quer destruir e reer-guê-la vai exigir de todos nós um nível inédito de par-ticipação política, científica, pública e coletiva.
Raquel Varela é historiadora e investigadora do Instituto de História Con-temporânea da Universidade Nova de Lisboa, onde coorde-na o Grupo de Estudos do Trabalho e dos Conflitos Sociais e investigadora do Instituto Internacional de História Soci-al, Amesterdão. É coordenadora do projeto História das Relações Laborais no Mundo Lusófono. É doutora em História Política e Institucional (ISCTE - Instituto Univer-sitário de Lisboa). É Presidente da International Associati-on Strikes and Social Conflicts. É vice coordenadora da Rede de Estudos do Trabalho, do Movimento Operário e dos Movimentos Sociais em Portugal.
A estranha leveza da história Há gente demasiado pequena para ser humana. Talvez tenha sido sempre assim, mas desde que a modernidade ocidental se expandiu no mundo graças ao colonialismo e ao capitalismo a contradição entre a igual dignidade de todos os seres humanos e o tratamento desumano dado a alguns grupos sociais tomou a forma de uma fratura abis-sal. Uma fratura por onde correu muito sangue e se desti-lou muita hipocrisia. As zonas de sub-humanidade foram tendo várias populações - selvagens, indígenas, mulheres, escravos, negros - mas nunca foram encerradas; pelo con-trário, foram sendo renovadas com novas populações que ora se juntaram ora se substituíram às antigas. A zona mais recente é a dos imigrantes indocumentados. Por isso, o sangue vertido no Mediterrâneo vem de muito longe, tanto no tempo como no espaço. E não é por coincidência que seja hoje vertido tanto no extremo norte como no extremo sul do mesmo continente, na África do Sul. As zonas de sub-humanidade são zonas de não-ser, onde quem não é verdadeiramente humano não pode reclamar ser tratado como humano. Isto é, ser sujeito de direitos humanos. Quando muito, é objeto dos discursos de Direitos Humanos por parte daqueles que vivem nas zonas de hu-manidade. A estes não passa pela cabeça que as zonas onde vivem não seriam o que são se não existissem as zo-
nas onde os “outros” “sub-vivem” e donde desesperada-mente querem sair movidos pela escandalosa aspiração a uma vida digna. E não lhes passa pela cabeça porque a História não lhes pesa, pelo contrário, confirma-lhes que só os empreendedores vitoriosos (individuais e coletivos, pas-sados e presentes) merecem a humanidade de que disfru-tam. A filantropia faz-lhes bem, não têm dívidas a saldar com ninguém. Só que não há História de vencedores sem História de ven-cidos e estes, muitas vezes, não perderam por serem hu-manamente menos dignos, mas apenas por não saberem ou poderem defender-se das atrocidades e dos saques a que foram sujeitos. No sangue que corre nos dois extremos de África há muita injustiça histórica e muitas histórias entrelaçadas. O colonialismo europeu não terminou com a independência de muitos dos países donde fogem os imi-grantes. Continuou sob a forma de controlos militares e económicos, de fomento de rivalidades entre grupos étni-cos para garantir acesso às matérias-primas ou para garan-tir posições na Guerra Fria. Muitos dos Estados falhados foram ativamente produzidos como falhados pelos poderes ocidentais. O caso mais recente e mais trágico é a Líbia. Não era a Líbia uma da fronteiras mais seguras a sul da União Europeia? Mereceu a pena destruir um país para garantir acesso mais fácil ao petróleo e servir os interesses geoestratégicos de Israel e dos EUA?
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Delegação Norte da Anac / Setembro 2015
DELEGAÇÃO NORTE DA ANAC
Viagem a Itália
De 7 a 14 de Julho visitamos Itália. País jovem, nasceu da junção de várias repúblicas e daí a multiplicidade das diferentes identidades culturais. Cidades romanas, cidades medievais e cidades fundadoras do Romantis-mo, fazem de Itália um país sempre sonhado. Com boa participação dos Sócios e seus familiares, a via-gem, que percorreu Itália desde Veneza até Capri, foi do agrado de todos os participantes.
Passeio a Alcobaça
No dia 29 de Julho fizemos uma visita à bonita cidade de Alcobaça. A presença monástica em Alcobaça re-monta aos alvores da nacionalidade. O seu emble-mático mosteiro, na qual se inclui a própria igreja, a maior de Portugal e das maiores das erigidas pela or-dem de Cister, foi a principal atração. Participaram de cerca de 45 Sócios e seus familiares que puderam apreciar o Mosteiro e a fábrica Atlantis.
Viagem à Polónia
De 13 a 18 de Agosto, fizemos uma viagem à Polónia. Ficamos a conhecer as cidades de Varsóvia e Cracóvia entre outras maravilhas daquele país do centro da Europa. Passeio a Arouca
No dia 5 de Setembro fizemos uma visita à Vila de Arouca e à Serra da Freita, com a participação de mui-tos Colegas e familiares. Visitamos e podemos apreciar o Museu Municipal, o Mosteiro de Arouca e o Museu Arte Sacra. Fizemos uma incursão na Serra da Freitaonde visitamos a Casa das Pedras Parideiras, a Frecha da Mizarela e as Aldei-as Tradicionais… Viagem de Férias em Gandia
De 14 a 22 de Setembro fizemos a nossa viagem de férias (praia) na região de Valência, Espanha. Com um clima espetacular, um sol sempre radiante, uma água quente e serena, além do programa cultural com visi-tas guiadas na região, Gandia surpreendeu e agradou
a todos os participantes que connosco fizeram este programa. Gandia tem uma localização privilegiada junto do mar Mediterrâneo com magníficas praias de areia doura-da. O clima mediterrâneo da zona este de Espanha é propício e ideal para a prática de atividades desporti-vas ao ar livre. Os dias são longos e com muito sol…
Viagem a Itália
De 7 a 14 de Julho visitamos Itália. País jovem, nasceu da junção de várias repúblicas e daí a multiplicidade
De 13 a 18 de Agosto, fizemos uma viagem à Polónia. Ficamos a conhecer as cidades de Varsóvia e Cracóvia entre outras maravilhas daquele país do centro da Europa.
Passeio a Arouca
Passeio a Alcobaça
No dia 29 de Julho fizemos uma visita à bonita cidade de Alcobaça. A presença monástica em Alcobaça re-
uma incursão na Serra da Freitaonde visitamos a Casa das Pedras Parideiras, a Frecha da Mizarela e as Aldei-as Tradicionais
Viagem de Férias em GandiaDe 14 a 22 de Setembro fizemos a nossa viagem de férias (praia) na região de Valência, Espanha. Com um clima espetacular, um sol sempre radiante, uma água quente e serena, além do programa cultural com visi-tas guiadas na região, Gandia surpreendeu e agradou
Viagem à Polónia
programa.Gandia tem uma localização privilegiada junto doMediterrâneo com magníficas praias de areia doura-da. O clima mediterrâneo da zona este de Espanha é propício e ideal para a prática de atividades desporti-vas ao ar livre. Os dias são longos e com muito sol
da junção de várias repúblicas e daí a multiplicidade das diferentes identidades culturais. Cidades romanas, cidades medievais e cidades fundadoras do Romantis-mo, fazem de Itália um país sempre sonhado. Com boa participação dos Sócios e seus familiares, a via-
Passeio a Arouca
No dia 5 de Setembro fizemos uma visita à Vila de Arouca e à Serra da Freita, com a participação de mui-
De 7 a 14 de Julho visitamos Itália. País jovem, nasceu da junção de várias repúblicas e daí a multiplicidade
Passeio a Arouca
de Alcobaça. A presença monástica em Alcobaça re-monta aos alvores da nacionalidade. O seu emble-mático mosteiro, na qual se inclui a própria igreja, a maior de Portugal e das maiores das erigidas pela or-dem de Cister, foi a principal atração. Participaram de cerca de 45 Sócios e seus familiares que puderam
tas guiadas na região, Gandia surpreendeu e agradou
a todos os participantes que connosco fizeram este
No dia 29 de Julho fizemos uma visita à bonita cidade de Alcobaça. A presença monástica em Alcobaça re-
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a todos os participantes que connosco fizeram este
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EUROENCONTRO 2016 – 13 a 20 de Maio CHIANCIANO TERME (SIENA – TOSCÂNIA - ITÁLIA)
A Toscânia ou Toscana tornou-se uma identidade política, quando já o era geográfica e culturalmente, a partir do século XV, quando Florença iniciou a sua expansão com a aquisição de Pisa em 1405 e de Livorno em 1421. Siena juntou-se-lhes em 1555. Habitada pelos etruscos, ligou-se definitivamente a Roma em finais do século IV a.C.. O seu nome provém de "Tusci", ou tuscos, nome que se aplica também aos etruscos. Pela sua posição geográfica viveu de muito perto as convulsões que agitaram a República Romana, depois o Império Romano e ainda os reinos dos bárbaros. Em 1860 foi assimilada pelo Reino de Itália, após um plebiscito É nesta belíssima e culturalmente importante região que vamos reunir-nos para o XXII Euroencontro. Iremos conhecer a sua cultura, as paisagens sempre verdejantes, as suas vinhas e vinhos (em especial o “Chianti” e o “Vino Nobile di Montepulciano”), a gastronomia e os enchidos deliciosos. Como é habitual, teremos as reuniões de trabalho do Conselho de Administração, da Assembleia de Delegados e do Grupo de Estudos e Trabalho (GET) que irá preparar a síntese das conclusões do tema a discutir e também a Assembleia Geral Plenária, onde serão apresentadas as comunicações de cada país sobre o tema proposto e onde todos poderão expressar livremente a sua opinião. A nossa “Agenda cultural” passa por um dia inteiro em Florença, outro dia inteiro em Assis e Perugia e por meio dia em Siena. A “Agenda gastronómica e paisagística” inclui visitas de meio dia ao Lago Trasimeno, a Orvieto e a Montepulciano e Pienza. Florença (capital da Toscânia) é uma cidade que dispensa apresentações pois ela é o berço do Renascimento italiano e o centro da pintura de Giotto, Michelangelo, da Vinci e de tantos outros. Assis é a cidade natal de S. Francisco de Assis e de Santa Clara, onde se respira a paz e a tranquilidade. É uma cidade considerada Património da Humanidade pela UNESCO. Em Perugia teremos oportunidade de degustar os seus famosos chocolates, para além de visitarmos os monumentos mais importantes. Siena é conhecida pelo Palio (a famosa corrida de cavalos que termina na lindíssima Piazza del Campo) mas também pela sua Catedral (ou Duomo) que visitaremos, juntamente com o centro histórico, também classificado como Património da Humanidade pela UNESCO. A Toscânia rural, vinícola e gastronómica será descoberta nas visitas de meio dia a Orvieto, Lago Trasimeno e, em especial na visita a Montepulciano e Pienza (pequenas vilas onde se pode degustar e comprar o excelente “vino nobile” e os deliciosos enchidos e presunto). Com esta informação prévia apenas queremos que marque na sua agenda as datas de 13 a 20 de Maio de 2016 para poder estar presente no XXII Euroencontro e reencontrar os amigos de vários países. Esperamos por si na Toscânia (Itália).
Cândido Vintém (Presidente); Jean Claude Chrétien e Francisco Ramírez Munuera (Vicepresidentes)
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PLANO DE ATIV IDADES EM 2015
PROGRAMA DE PASSEIOS DA DELEGAÇÃO NORTE DA ANAC
outubro – dia 03 ALMOÇO NACIONAL E XXX ANIVERSÁRIO DA ANAC
novembro – dia 10 a 12 SÃO MARTINHO
dezembro – dia 12 ALMOÇO DE NATAL
outubro – dia 10 AROUCA
CRUZEIRO NO MEDITERRÂNEO
novembro S. MARTINHO
dezembro ALMOÇO E CONFRATERNIZAÇÃO NATALÍCIA
CARO SÓCIO COLABORE COM A NOSSA VOZ
DE ACORDO COM O NOME, O NOSSO BOLETIM É A VOZ DOS SÓCIOS E ESTÁ À SUA DISPOSIÇÃO
PARA QUE POSSA DAR A CONHECER A SUA VOCAÇÃO ARTÍSTICA, OU AO ENVIO PARA
PUBLICAÇÃO DE TEXTOS SOBRE QUAISQUER ASUNTOS QUE POSSAM SER DO INTERESSE DE
TODOS NÓS.
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