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A Pós-edição na Tradução de Tecnologias da Informação: Uma Abordagem Introdutória Renato Filipe Dias Correia Março 2015 Relatório de Estágio de Mestrado em Tradução Especialização em Inglês

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A Pós-edição na Tradução de Tecnologias da Informação: Uma Abordagem Introdutória

Renato Filipe Dias Correia

Março 2015

Relatório de Estágio de Mestrado em Tradução Especialização em Inglês

Relatório de Estágio apresentado para cumprimento dos requisitos necessários à

obtenção de grau de Mestre em Tradução, área de especialização em Inglês, realizado

sob a orientação científica da Prof.ª Doutora Iolanda Ramos e Mestre Susana Valdez.

Agradecimentos

Às orientadoras Prof.ª Doutora Iolanda Ramos e Mestre Susana Valdez pela

disponibilidade e passagem de conhecimentos que tornaram todo o processo de

redação do presente relatório mais simples e gratificante.

Ao orientador Dr. Mário Rodrigues, da Upwords, pela orientação no local de

estágio e, acima de tudo, pelo conhecimento que me permitiu obter com o estágio

nesta empresa de tradução.

Ao Prof. Doutor Ignacio Garcia, que gentilmente me cedeu um dos artigos mais

relevantes para a redação deste relatório.

A PÓS-EDIÇÃO NA TRADUÇÃO DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO: UMA

ABORDAGEM INTRODUTÓRIA

FILIPE CORREIA

RESUMO

A pós-edição, aqui definida como a reescrita de um processo tradutório gerado

exclusivamente por tradução automática, tem vindo a ganhar cada vez mais destaque

no mundo da tradução. Influencia clientes, tradutores e empresas, e por isso merece

um espaço no seio académico da tradução, de modo a ser estudada e discutida.

Levanta questões, maioritariamente, no que diz respeito a tempo e a qualidade. É uma

área na qual ainda há bastante pesquisa para ser feita. Neste relatório, analisa-se

principalmente um projeto de pós-edição realizado no âmbito de um estágio

curricular, abordando teoria e prática, como o nome indica, de uma forma

introdutória.

PALAVRAS-CHAVE: pós-edição, tradução automática, tecnologias da informação,

gestão de projetos, memórias de tradução.

POST-EDITING IN INFORMATION TECHNOLOGY: A BRIEF INTRODUCTION

FILIPE CORREIA

ABSTRACT

Post-editing, consisting of the rewriting of automatically computer generated

translations, has recently grown to prominence in the world of translation. It affects

clients, translators and companies, so it therefore deserves its own space in terms of

academic studies in order to enable further study and discussion. Primarily, post-

editing raises questions concerning quality and time. It is an area which still requires a

great deal of academic research. This report presents a brief analysis of both the

theoretical and the practical aspects of post-editing, using as a guiding principle the

experience of the author during an internship.

KEYWORDS: post-editing, machine translation, information technology, project

management, translation memories.

ÍNDICE

Introdução ........................................................................................................................ 1

Capítulo I: O Estágio ......................................................................................................... 3

1.1. A Empresa ........................................................................................................... 3

1.2. Descrição do trabalho realizado ......................................................................... 4

Capítulo II: A Pós-Edição – Abordagem teórica ................................................................ 7

2.1. Definição de pós-edição ..................................................................................... 7

2.2. A tradução automática no processo de tradução .............................................. 9

2.3. O tradutor e a pós-edição................................................................................. 11

2.3.1. Formação em pós-edição ......................................................................... 12

2.3.2. Quais as competências para um pós-editor? ........................................... 14

Capítulo III: A Pós-Edição – Abordagem prática ............................................................. 16

3.1. Descrição do projeto ........................................................................................ 16

3.2. Problemas e vantagens da pós-edição ............................................................. 19

3.3. Atual relevância da pós-edição na tradução .................................................... 21

Conclusão........................................................................................................................ 23

Referências Bibliográficas ............................................................................................... 24

Anexos ............................................................................................................................ 25

Lista de abreviaturas mais utilizadas

IT ………………………………………………………………………………..……… Tecnologias da Informação

LC ………………………………………………………………………………………….………… Língua de chegada

LP ……………………………………………………………………………….…………………….. Língua de partida

PE …………………………………………………………………………………….…………………………. Pós-edição

PM ……………………………………………………………………………………………. Gestor(es) de Projetos

PT-BR …………………………………………………………………….………………………... Português (Brasil)

PT-PT …………………………………………………………………………………………... Português (Portugal)

SEO ...…………………………………………………………………….. Otimização para motores de busca

TA ……………………………………………..………………………………………….…… Tradução Automática

TC …………………………………………………………………………………………………….. Texto de chegada

TM ………………………………………………………………………………..…………... Memória de tradução

TP …………………………………………………………………………………………….………… Texto de partida

TR ……………………………………………………………………………………………………... Tradução de raiz

1

Introdução

O mestrado em Tradução na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da

Universidade Nova de Lisboa surgiu como um seguimento natural ao término da

licenciatura em Línguas Aplicadas – Tradução na Faculdade de Letras na Universidade

do Porto. Este mestrado rapidamente se tornou uma prioridade devido à possibilidade

de estagiar numa empresa de tradução de modo a poder adquirir experiência e

contactos para o futuro, dois fatores essenciais para um tradutor.

As expectativas eram elevadas, assim como a vontade de aprender mais e de

conhecer o mundo real da tradução. Durante o estágio na Upwords foi possível

trabalhar nas mais diversas áreas da tradução, levando assim a mais uma

oportunidade de conhecimento tanto a nível de tradução como do mercado de

trabalho desta mesma área.

O maior projeto do qual o mestrando fez parte neste estágio impulsionou a

ideia de redação deste relatório. Este projeto incluiu várias tarefas de pós-edição (PE)

com trabalho distribuído por vários tradutores — podendo cada tradutor receber mais

do que um ficheiro para traduzir. Tratou-se de um de um projeto de grande escala,

com um elevado número de palavras, que envolveu uma quantidade relativamente

elevada de tradutores e revisores, exigindo desta forma uma cuidada gestão de

projetos. A empresa referida é uma empresa internacional, de renome no mercado das

Tecnologias da Informação. As especificidades do projeto serão descritas mais à frente

neste relatório, assim como uma imagem relativa à organização do mesmo.

Com este relatório pretende-se, então, descrever o projeto acima referido,

assim como a experiência do tradutor tanto neste projeto específico como na

empresa. Deste modo, tentar-se-á responder a questões como a contribuição da

Tradução Automática no processo de tradução, as competências que um tradutor deve

possuir para o processo de pós-edição e que tipo de formação estes devem possuir

para este tipo de trabalho, apontado caminhos para a relevância da pós-edição

atualmente.

2

O primeiro capítulo deste relatório retrata a empresa Upwords. Não só o

trabalho que nesta se realiza como também o trabalho levado a cabo pelo mestrando

nesta mesma instituição. São descritos alguns dos projetos nos quais o mestrando

esteve envolvido, assim como a aprendizagem que foi possível adquirir ao longo deste

estágio.

O capítulo dois dedica-se à pós-edição na sua vertente teórica: define-se a pós-

edição, desenvolve-se a relevância da tradução automática no processo de tradução e,

finalmente, analisa-se a relação do tradutor com a pós-edição, incluindo tópicos como

a necessidade de formação em pós-edição.

Por fim, no terceiro e último capítulo, dedicado à vertente prática da pós-

edição, analisa-se o projeto sobre o qual este relatório se dedica, tendo em conta o

enquadramento teórico exposto no capítulo anterior.

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Capítulo I: O Estágio

1.1. A Empresa

A Upwords é uma empresa de tradução sediada em Lisboa, que possui também

escritórios em Belo Horizonte e Luanda. Trata-se de uma empresa que trabalha com

vários tipos de projetos e com clientes de grande nome no mercado, facilmente

reconhecíveis pelo público em geral. Deste modo, a Upwords facilita não só a entrada,

como a constante atualização dos conteúdos de grandes marcas nos vários pontos do

globo onde o mercado da língua portuguesa opera.

A empresa conta, à data do presente estágio, com um diretor de operações,

dois gestores de projetos (PM) e uma tradutora interna. Para além dos colaboradores

referidos, a Upwords trabalha com vários tradutores e revisores em regime freelancer,

especializados nas mais diversas áreas, de modo a responder ao grande volume de

trabalho e aos elevados padrões de qualidade do mercado atual. O diretor de

operações gere a empresa, respondendo a questões relacionadas com clientes à

tradução propriamente dita; os dois gestores de projetos, tal como o nome indica,

fazem a gestão dos vários projetos que a empresa recebe: um dos gestores de projetos

dedica-se exclusivamente a um cliente final, já que o volume de trabalho para este

cliente é extremamente avolumado e novos conteúdos são recebidos diariamente,

muitas vezes com prazos de entrega para o próprio dia, enquanto o segundo gestor de

projetos faz a gestão dos restantes projetos que a empresa recebe, sendo estes

projetos pertencentes a diversas áreas e diversos tipos de clientes.

No que diz respeito aos clientes da empresa, como referido, a empresa trabalha

para clientes finais de grande renome. Naturalmente, sendo a tradução indispensável

nas mais diversas áreas, a empresa conta com uma carteira de clientes diversificada,

prestando quer serviços nas áreas da tradução jurídica, do marketing, da indústria

têxtil e da tradução médica, assim como serviços de localização e de revisão. A

Upwords trabalha tanto com clientes diretos como com grandes empresas

internacionais de tradução, responsáveis pela mediação do trabalho entre a empresa e

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o cliente final. Este tipo de trabalhos, onde existe a referida mediação, ocorre

maioritariamente quando o cliente final pretende ter os seus conteúdos traduzidos

para um grande número de línguas diferentes.

Quanto ao processo de tradução propriamente dito, quando um novo trabalho

chega à empresa é analisado por um dos PM, de modo a fazer a análise da quantidade

de palavras a traduzir, para que possa ser feita uma boa gestão do tempo, e de modo a

procurar a equipa de tradutores para realizar o trabalho. O trabalho é, então, atribuído

a um ou vários tradutores que terão um prazo para entregar a tradução. Assim que o

PM recebe o trabalho realizado pelo tradutor, reencaminha-o para um revisor que, tal

como o tradutor, terá um prazo para executar o seu trabalho. O trabalho é, então,

devolvido, mais uma vez, ao PM de modo a que seja realizada uma verificação final

para certificar a qualidade da tradução e de modo a que todo o trabalho seja entregue

ao cliente em excelentes condições. Finalmente, o trabalho é enviado para o cliente,

seja este um cliente final ou uma empresa intermediária.

1.2. Descrição do trabalho realizado

Este estágio curricular, que teve uma duração total de 400 horas presenciais a

tempo inteiro, possibilitou a tradução dos mais diversos tipos de texto. A língua de

partida (LP) foi maioritariamente o inglês, apesar de, pontualmente, ter sido possível

traduzir textos de espanhol1, e a língua de chegada (LC) foi o português.

O primeiro grande projeto, de 28 mil palavras, na área da indústria têxtil, foi

traduzido em conjunto com a tradutora interna da empresa, permitindo assim uma

nova experiência no que diz respeito a tradução colaborativa. Por um lado, a tradução

colaborativa permite a troca de conhecimentos, o que simplifica e agiliza o processo de

tradução, no geral. Por outro lado, torna-se mais complicado manter a consistência:

tendo em conta que se trata de um projeto com um número de palavras relativamente

elevado, às vezes, mesmo após tópicos como a terminologia ou o tipo de construção

1 Língua estudada durante a licenciatura em Línguas Aplicadas com especialização em

Tradução.

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frásica utilizados terem sido discutidos entre ambos, torna-se difícil manter o mesmo

tipo de consistência que se manteria numa fase inicial se o trabalho fosse executado

apenas por um tradutor. Há que ter em conta que, apensar de ser uma tradução

colaborativa, a tradução propriamente dita é feita individualmente. Isto quer dizer

que, a nível de processo de trabalho, o número total de palavras foi dividido em dois.

O facto de ambos os tradutores se encontrarem no mesmo espaço físico facilitou

muito o trabalho, na medida em que o processo de comunicação se torna mais rápido.

Respeitante ao processo de revisão, foi realizada uma primeira revisão pelos próprios

tradutores, de modo a detetar inconsistências e a certificar a qualidade da tradução.

Posteriormente, o texto foi revisto por uma revisora especializada na área da moda

que, além da revisão, enviou feedback aos tradutores. O trabalho foi, de seguida,

enviado para o cliente pelo PM responsável pelo projeto.

Seguiram-se vários projetos que, como referido, abrangiam as mais diversas

áreas. Maioritariamente, a Upwords recebe projetos (incluindo projetos de grande e

de pequena escala) na área das Tecnologias da Informação (TI), sendo essa a área na

qual, durante o estágio, se traduziu um maior número de palavras. No entanto,

também foram feitas traduções de maiores dimensões para outros clientes frequentes

da empresa, em áreas relacionadas com limpeza e higiene, manuais do utilizador

relativos a software da área da radiologia e localização de websites. Para além disso, a

empresa recebe pontualmente pequenos trabalhos, como cartas relativas às mais

diversas áreas, pequenas atualizações de produtos de TI e atualizações de alguns

conteúdos traduzidos anteriormente.

É importante salientar ainda, quanto ao trabalho efetuado, que, pela primeira

vez, o mestrando teve a possibilidade de estar envolvido na Otimização para motores

de busca (SEO, Search Engine Optimization), algo com o qual nunca antes tinha tido

qualquer contacto direto. Deste modo, é possível constatar que o estágio abriu portas

que ultrapassam a componente académica, demonstrando assim a constante

necessidade de uma abertura mental e destreza no dia-a-dia como tradutor num

futuro que se avizinha.

Para acrescentar à lista de aprendizagem que este estágio na Upwords

proporcionou, estão os diferentes softwares de tradução com os quais o mestrando

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teve a oportunidade de trabalhar. Entre estes, incluem-se o já conhecido SDL Trados

Studio 2014, ensinado nas aulas de IT na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, e

novos programas: Microsoft LEAF Professional, Idiom Worldserver e Reach. Todo este

conhecimento a nível de software permite ao mestrando ter uma noção real da

necessidade que um tradutor tem de se manter atualizado a nível informático, visto

que, muitas vezes, é necessário estar preparado para trabalhar com software com o

qual nunca se teve qualquer tipo de contacto anterior. Obviamente, numa era

tecnológica como esta em que vivemos, onde a maior parte do software é concebido

de modo a possuir uma interface intuitiva para o utilizador, este processo é

simplificado. Para além disso, a maior parte das ferramentas de Tradução Assistida por

Computador funciona com base nas mesmas premissas.

Pode, então, dizer-se que este estágio teve uma elevada relevância na

formação do mestrando como tradutor, possibilitando aprendizagem no que diz

respeito não só à tradução propriamente dita, como também ao processo de tradução

no mercado de trabalho, às ferramentas de tradução, ao tipo de clientes com os quais

se trabalha, ao funcionamento geral das empresas de tradução e ao modo como as

empresas lidam com os tradutores em regime freelancer. Em suma, possibilitou ao

mestrando uma preparação alargada para o mercado da tradução em Portugal.

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Capítulo II: A Pós-Edição – Abordagem teórica

2.1. Definição de pós-edição

A pós-edição é, atualmente, um dos hot topics do mundo da tradução, prova

disto é o número crescente de artigos científicos publicados nesta área. Destaca-se

pela controvérsia que causa entre os envolvidos no processo de tradução (desde o

cliente final até à empresa intermediária – onde o processo de PE se desenvolve), visto

que existem opiniões diversas sobre a sua utilização e os seus benefícios. Uma das

razões para estudar a PE passa por ser uma competência considerada transferível para

outras componentes de trabalho como a língua e em tradução, nomeadamente a pré-

edição, a edição e a revisão.

Mais recentemente, O’Brien et al. (2014) relacionam a PE com a utilização da Tradução

Automática (TA), iniciando o estudo “Post-editing of Machine Translation: Processes

and Applications” do seguinte modo:

Post-editing is possibly the oldest form of human-machine cooperation for translation, having been a common practice for just about as long as operational machine translation systems have existed. Recently however, there has been a surge of interest in post-editing among the wider user community, partly due to the increasing quality of machine translation output, but also to the availability of free, high-quality software for both machine translation and post-editing. (O’Brien et al. 2014: ix)

Mas, o que é a pós-edição? De acordo com Jeff Allen, um pós-editor tem como

tarefa principal editar, modificar e/ou corrigir texto traduzido, que tenha previamente

sido processado por um sistema de Tradução Automática (TA), de uma língua de

partida (LP) para uma língua de chegada (LC) (Allen 2001: 1). Segundo Allen (2003:

297), a pós-edição foi definida em 1997 por Veale e Way da seguinte forma: “term

used for the correction of the machine translation output by human

linguistics/editors”. Wagner (1985), por sua vez, define a PE como a correção de texto

previamente traduzido, em oposição à tradução de raiz. Para Somers, a PE define-se

como: "tidying up the raw output, correcting mistakes, revising entire, or, in the worst

case, retranslating entire sections" (2001: 138).

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Note-se que, no que diz respeito à tradução, a PE relaciona-se diretamente com

o uso da TA, ultrapassando os limites do processo tradicional de tradução, já que a PE

pode ser vista como algo diferenciado da tradução propriamente dita: onde o processo

é de pós-edição e não de tradução e quem o executa é um pós-editor e não

necessariamente um tradutor. Isto quer dizer que, com a PE, ao contrário do habitual

processo de tradução em que, resumidamente, se traduz algo de raiz, a metodologia

de trabalho é diferente: inicia-se este processo com a edição de uma tradução que,

anteriormente, foi efetuada automaticamente. Este será, então, um processo de pós-

edição de texto criado por uma TA, que um tradutor irá ler, avaliar (a nível de

qualidade no que diz respeito à sintaxe, terminologia e tradução propriamente dita) e

fazer as alterações necessárias de modo o obter um texto de chegada (TC) com uma

qualidade que se pretende que seja, no mínimo, equivalente à qualidade de uma

tradução de raiz (TR). Entenda-se, neste contexto, tradução de raiz como o processo

mais conhecido de tradução de raiz, iniciado pelo tradutor, traduzindo de uma língua

de partida a uma língua de chegada.

No que diz respeito à PE levantam-se diversas questões relativas a

produtividade, a preços, a qualidade e a poupança de tempo, numa tentativa de

descobrir até que ponto a PE deve ser utilizada como uma nova forma de tradução.

Até que ponto precisará, então, um tradutor de formação em PE? Deverá ser o

tradutor a executar a tarefa de PE ou deverá haver formação em PE, criando assim

uma nova geração de tradutores — os pós-editores? Qual é a influência da TA no

processo de PE? Quais as principais diferenças entre a tradução humana e a PE? Estas

são algumas das questões que se levantam primariamente quando se fala de PE,

questões estas referidas nos mais recentes estudos sobre este tema — como, por

exemplo, os estudos de O’Brien et al. (2014), Garcia (2011), Allen (2003) e O’Brien

(2002).

Mike Dillinger (2014: ix), na introdução de “Post-editing of Machine Translation:

Processes and Applications”, refere que vivemos num mundo tecnológico no qual há

mais conteúdos para traduzir, não só num espaço de tempo menor, como a um preço

mais baixo do que nunca.

9

Consequently, it has become crucial to understand how to make the translation process as quick, accurate, and effective as possible […]. In this context, the role of machine translation and post-editing MT output have taken on new importance.

Ainda de acordo com Dillinger (2014: ix):

In an equally significant shift, translation researchers have shifted away from studies of conceptual and pedagogical issues to a new focus on systematic empirical data about real-world translation tasks – data about industrial and cognitive translation processes.

Com foco no que acontece exatamente com cada tradutor, estes estudos permitem a

identificação das características do tradutor que têm um maior impacto no seu

desempenho.

Silva (2014: 26) afirma que:

in translation, the term of post-editing refers to the act of correcting a translation proposal (from a single word or character to a complete document). If this proposal comes from an MT system, we talk of post-editing MT (PEMT); if it comes from human translation, we talk of human post-editing (HPE). In general, post-editing itself is performed by (human) translators, but it can also be performed automatically: we then talk of automatic post-editing (APE).

O objetivo da PE passa por melhorar a qualidade do texto obtido através da PE

— não necessariamente tornando-o num texto perfeito — com o objetivo de o tornar

compreensível e utilizável. A prioridade é poupar tempo — tendo em conta que este já

é um dos objetivos da TA, seria desvantajoso desperdiçar esta vantagem que a mesma

traz — e dinheiro. A extensão e exatidão da PE são negociadas e especificadas de caso

para caso, dependo das necessidades e requisitos do utilizador.

A PE tem vindo a alterar o mundo da tradução, lentamente, trazendo inovação

e novidade a este mercado. Há uma constante necessidade de atualização e

acompanhamento das técnicas e ferramentas novas, de modo a poder estar a par do

que mais recente e inovador se faz, com o intuito de aumentar a produtividade e

simplificar o trabalho diário do tradutor.

2.2. A tradução automática no processo de tradução

A TA já não é novidade no mundo da tradução. Hoje em dia, a TA está acessível

ao público geral, quer de forma paga quer de forma gratuita, online e offline e para

10

diversas plataformas e dispositivos. No entanto, no que diz respeito à tradução

profissional, a TA ainda não é aceite a 100 % por esta comunidade, havendo assim um

certo ceticismo em relação à utilização da TA em moldes profissionais. Até que ponto

estará a TA a substituir o tradutor? Será que as sugestões da TA interferem com as

opções de tradução do tradutor? Questões como estas levantam-se na cabeça do

tradutor quando o tema é a TA.

Roberto Silva (2014: 24-25), sobre os benefícios da pós-edição, afirma:

are still not understood by many of the involved parties, in particular translators. Yet, the professional translation industry is slowly adopting post-editing MT and integrating it into its workflows.

O autor questiona o facto de a TA ainda não ter sido aceite pela comunidade de

profissionais da tradução e constata que existem diversas razões para tal, dependo do

papel desempenhado por cada profissional no mundo da tradução (sejam tradutores,

revisores, empresas de tradução, cliente final, etc.).

Hoje em dia, como referido, a TA está disponível de várias formas para os mais

diversos utilizadores. Dependendo do par de línguas, os sistemas de TA produzem

traduções que podem ou não ser adequadas (Silva, 2014: 25), facilitando assim a

utilização da TA como primeiro passo do processo de tradução ou de PE. No entanto,

os sistemas de TA mais antigos, ao terem de se adaptar a nova terminologia, faziam

com que fosse necessário um longo e entediante processo manual. Assim: “combined

with difficulties in customizing the software, and the resulting perception that quality

was low have been key factors in its low adoption by the professional translation

community” (Silva, 2014: 25).

Recentemente, os desenvolvimentos tecnológicos especificamente referentes à

TA permitem agora considerar a mesma como uma ferramenta complementar que o

tradutor tem ao seu dispor. Esta é uma nova realidade, que leva as empresas a ter de

implementar esta nova ferramenta no seu fluxo de trabalho. Este processo de

implementação é, no entanto, dispendioso para a maior parte das empresas de

tradução, principalmente no que diz respeito a Portugal, onde as empresas de

tradução são empresas de pequena escala que, na maior parte das vezes, trabalham

com multinacionais que servem de intermediário entre as empresas de pequena escala

e os clientes finais (Ferreira-Alves, 2012).

11

Relativamente à questão do preço, uma das questões que mais preocupa tanto

tradutores como empresas de tradução é que ainda não se alcançou um consenso em

relação a uma tabela fixa de preços. A este desafio, juntam-se muitos outros:

The challenges are numerous, be they technical (integration complexity, information security), managerial (implementation cost, definition and training of new roles and profiles), or ethical (pricing scheme). (Silva 2014: 24)

Tendo em conta que a maior parte dos clientes finais está, atualmente, a pedir

redução de preços, as empresas intermediárias referidas, são obrigadas a seguir a

mesma linha de trabalho e pensamento. Isto significa que estas empresas são

obrigadas a recorrer a diferentes métodos que lhes permitam reduzir as suas tarifas.

Deste modo, as empresas prestadoras de serviços linguísticos utilizam a TA de modo a

poderem baixar os preços que praticam: “Language service providers are turning to

MT as a lifesaver, hoping it will allow them to lower their prices.” (Silva 2014: 26)

Este novo método de tentativa de baixa de preços faz com que, muitas vezes,

as empresas forcem a utilização da TA sem ter em conta qualquer feedback ou opinião

dos tradutores e dos revisores, levando assim à referida polémica no seio desta

comunidade e, possivelmente, a resultados menos positivos em termos de qualidade

aquando da utilização frequente desta ferramenta. Há, ainda, um longo caminho a

percorrer no que diz respeito à implementação da TA (tanto como método de

sugestão como para PE) nas empresas de tradução.

2.3. O tradutor e a pós-edição

A necessidade do constante acompanhamento do desenvolvimento e evolução

das diferentes áreas é uma característica necessária a qualquer profissional de

determinada área. Na área da tradução verifica-se o mesmo.

Tal como referido anteriormente, a utilização da TA e, mais relevante para este

relatório, da pós-edição é uma realidade do mundo da tradução atualmente, seja em

contexto de investigação, didática ou no mercado de trabalho — onde provavelmente

se poderá constatar uma maior utilização de PE.

12

Verifica-se, então, uma necessidade de elevada escala de existirem

profissionais qualificados para executar este tipo de trabalho, de modo a manter os

padrões de qualidade e, como referido, a acompanhar o desenvolvimento desta

indústria.

2.3.1. Formação em pós-edição

Impera então a questão: que tipo de formação precisará o tradutor para

efetuar o papel de pós-editor — no caso de precisar de formação alguma? O’Brien

(2002) propõe no artigo “Teaching Post-editing: A Proposal for Course Content” a

resposta não só a esta questão, como a outras que se levantam quando se fala de

formação em PE.

A elevada procura que o mercado da tradução tem atualmente levou a um

aumento da utilização de ferramentas de apoio à tradução, de memórias de tradução

(TM) e da TA.

Vasconcellos and León (1985:122) claim that a full-time, trained post-editor, working on-screen, can produce polished, standard quality output at a rate of between two and three times faster then [sic] traditional translation (i.e. 4,000 to 10,000 words per day). (O’Brien 2002: 99)

Estes são dados que mostram que a TA poderá, então, ser uma solução viável para a

elevada procura no atual mercado de tradução.

Mas, até que ponto estará um tradutor apto para executar a função de pós-

editor? Quantos tradutores terão a formação necessária, tanto a nível de competência

tradutória para pós-edição como a nível de software, para desempenhar o papel de

pós-editor? Krings e Koby (2001: 12 citados por O’Brien 2002: 99) sugerem que o

tradutor deve, então, ter formação em pós-edição.

As empresas que pretendam integrar um sistema de TA lucrarão com o facto de

empregarem tradutores com formação em pós-edição, na medida em que, não só

poupariam tempo e investimento monetário na formação em pós-edição, como

tornariam o processo de implementação muito mais rápido e produtivo. Mas não

seriam apenas estas empresas que ficariam a ganhar com a formação em pós-edição.

13

As competências em pós-edição proporcionariam aos tradutores um aumento de

possibilidades aquando da procura de trabalho (O’Brien 2002: 100).

Como referido anteriormente neste relatório, a TA não é, ainda, totalmente

aceite pela comunidade de profissionais da tradução. O’Brien (2002: 100) afirma que,

não só o envolvimento de um tradutor na PE aumenta a possibilidade de sucesso da

TA, assim como que quando um tradutor está envolvido num projeto de TA, este não

se sente ameaçado pela máquina, pelo contrário, tenta retirar o maior benefício da

situação em que se encontra. (O´Brien 2002 citando Senez 1998b: 293)

No mesmo artigo de O’Brien (2002) a autora apresenta, assim, várias razões

pelas quais a PE deve fazer parte de um currículo académico:

it would help meet the increasing demand for translation and for faster production times; post-editing skills are different from translation skills and we cannot assume that a qualified translator will be a successful post-editor; it would produce graduates who are already “comfortable” with post-editing and who are more ready to be productive in a machine translation environment upon graduation; and it could improve the uptake of machine translation technology by improving translators’ perceptions of MT and its capabilities. (O’Brien 2002: 100)

Assumindo, então, que a formação em PE é vantajosa, quem seriam os

candidatos a receber esta formação inicialmente? De acordo com O’Brien,

inicialmente, os tradutores seriam o público-alvo indicado para este tipo de formação.

McElhaney e Vasconcellos (ibid: 142) constatam fortes argumentos a favor da

formação de tradutores como pós-editores: "A translator is best able to identify

linguistic errors, has a fund of knowledge about the cross-language transfer of

concepts, and has the technical resources at their disposal to work efficiently.” (citados

em O’Brien 2002: 101)

A conclusão, segundo O’Brien, é a de que os tradutores devem ser formados

como pós-editores, mas que esta formação deve ser opcional, nunca obrigatória.

14

2.3.2. Quais as competências para um pós-editor?

O’Brien (2002: 102) tenta responder à questão acima proposta, utilizando

perspetivas de vários investigadores na área da PE, especificamente relativa à

formação desta área. Para Whitelok (1987), por exemplo, o pós-editor necessita de

possuir um leque de diversas características, incluindo: área de saber, língua de

chegada e tipologia de texto. O pós-editor deverá, então, no mínimo, ser tão

competente nestes pontos como o tradutor original. Wagner inclui na sua lista de

características essenciais a um pós-editor os seguintes pontos: “excellent knowledge of

the source language, specialised subject knowledge, word-processing experience and

tolerance as the essential skills of a post-editor” (1987: 76). Vasconcellos (1986a: 136-

138) sugere, na sua lista: “the need for word-processing skills, listing full key

proficiency, efficiency in cursor positioning, effective use of search and replace

functions and ability to use macros”. Ainda no mesmo artigo é mencionada por

Vasconcellos a necessidade de conhecimentos na área da terminologia.

Para além das características necessárias enunciadas acima pelos diversos

autores citados por O’Brien, é claramente necessária uma predisposição positiva

perante a TA. Sem esta predisposição, não é possível encarar a PE de forma positiva,

com o intuito de realizar um trabalho com a qualidade necessária que o mercado da

tradução exige. Há relatos de que tradutores forçados a fazer pós-edição não são

eficientes em comparação com tradutores que fazem pós-edição de forma voluntária.

Um pós-editor necessita também de possuir excelentes capacidades de edição

e de processamento de texto; capacidade de trabalhar e fazer correções

informaticamente; conhecimentos gerais de TA, incluindo as lacunas da mesma;

elevados conhecimentos linguísticos da língua de partida e da língua de chegada, de

modo a evitar problemas de expressão e/ou compreensão; capacidade de tomar

decisões rápidas sobre o que corrigir e como o corrigir (ou ignorar erros); capacidade

de equilibrar a velocidade da PE com os custos e a qualidade; e capacidade de

adaptação a diferentes especificações requeridas pelos diferentes trabalhos.

15

Será, segundo estes argumentos, necessário formar profissionais qualificados a

exercer a função de pós-editor num futuro próximo, visto que a PE é cada vez mais

utilizada como uma nova forma de tradução. Acredita-se que os tradutores, como se

concluiu acima, sejam os profissionais com qualidades mais adequadas para o

processo de PE, e deverão, então, ser os profissionais a receber a formação necessária

para o desempenho desta função, tendo assim que se adaptar a estas novas

realidades, que serão certamente crescentes num futuro próximo: tanto a tradução

automática como a pós-edição.

Neste momento, a pós-edição é, ainda, uma competência que é adquirida

através da experiência visto que para esta existe ainda pouca formação e tendo em

conta que é uma função diferente de verificar ou rever uma tradução humana.

16

Capítulo III: A Pós-Edição – Abordagem prática

3.1. Descrição do projeto

Durante o estágio na Upwords, o mestrando, como referido, fez parte do grupo

de tradutores de um projeto de grande dimensão na área das Tecnologias da

Informação. Este projeto tinha como cliente final uma empresa dentro da área

referida, com o qual a empresa não trabalha diretamente, mas sim através de uma

empresa internacional de tradução intermediária, que gere os projetos nas diversas

línguas nas quais o cliente final pretende ter os seus conteúdos traduzidos.

Este projeto de pós-edição, que foi apenas encomendado para português

europeu (PT-PT), contou com um total de dez tradutores: um tradutor interno, oito

tradutores em regime freelancer e o próprio mestrando. No que diz respeito à

quantidade de revisores, foram selecionados pela Upwords dez revisores em regime

freelancer, com extensa experiência na área das Tecnologias da Informação e também

com vasta experiência em projetos para este cliente final.

Originalmente, este projeto seria de um milhão de palavras, mas foi dividido

em dois, originando, assim, um projeto de quinhentas mil palavras. A data de entrega

inicial, de 15 de novembro de 2014, foi alterada para 15 de outubro de 2014. Até à

data de conclusão do estágio, tinham sido traduzidas um total de duzentas e setenta

mil palavras.

O projeto era formado por vários ficheiros que foram atribuídos aos diversos

tradutores envolvidos no projeto. A distribuição foi efetuada pelo gestor de projetos

responsável por este projeto numa tabela, em Excel, onde constavam as seguintes

informações, de modo a manter todo o trabalho organizado: nome do ficheiro a

traduzir, estado da verificação final de qualidade, quantidade de palavras do ficheiro,

tradutor a quem o ficheiro foi atribuído, data de entrega dos ficheiros a traduzir,

revisor a quem o ficheiro foi atribuído e data de entrega dos ficheiros revistos — como

pode ser visto na imagem abaixo.

17

Figura 1 - Ficheiro de organização para a tarefa de pós-edição

No que diz respeito aos ficheiros propriamente ditos, estavam programados

para serem traduzidos em SDL Trados Studio e ao abrir o projeto neste software o

tradutor deparava-se com o texto de partida em inglês e com o texto de chegada em

português do Brasil (PT-BR). Deste modo, o objetivo do tradutor seria pós-editar o

texto em PT-BR de modo a obter construções adequadas, claras e naturais em PT-PT,

assim como detetar quaisquer erros de tradução que a TA possa ter efetuado, tanto a

nível de sintaxe como do significado das palavras, que muitas vezes é diferente de PT-

BR para PT-PT. Pretendia-se assim um texto claro em PT-PT, para o que os leitores

portugueses (Portugal) pudessem perceber a informação sem qualquer problema ou

interrupção devida à língua e à linguagem. Num processo normal de PE, tal como

aconteceu durante esta tarefa de PE, é necessário ainda atentar em diversos aspetos:

corrigir pontuação e capitalização; alterar a estrutura de algumas orações; editar

concordâncias gramaticais (ex.: singular/plural e feminino/masculino); e, em última

instância, retraduzir palavras ou expressões completas.

18

O processo de PE neste projeto, segundo a opinião do mestrando (sendo de

salientar que este foi o primeiro projeto de PE no qual o mestrando participou), é um

processo bastante demorado e cansativo. Primeiramente, a influência do PT-BR faz

com que, muitas vezes, o tradutor deixe passar erros que, estando a traduzir de raiz,

muito provavelmente não deixaria passar. Isto acontece devido à similaridade das

palavras em PT-BR e PT-PT: muitas vezes as palavras são iguais, mas são

semanticamente diferentes. Dê-se como exemplo a palavra arquivo, em inglês file, que

existe em PT-PT, mas não deve ser utilizada como em PT-BR, devendo ser substituída

por ficheiro. Isto relaciona-se também com a terminologia específica do cliente final,

que possui uma base terminologia criada pela própria empresa, que deve ser

rigorosamente respeitada. Em segundo lugar, a quantidade de tempo mais elevada

referida deve-se à obrigatoriedade de consulta de termos específicos exigidos pelo

cliente final, que torna todo o processo mais demorado para alguém com pouca

experiência na área. Esta terminologia restrita tem como objetivo manter a

consistência em todos os produtos da marca, visto que se trata de uma marca para a

qual se traduzem milhões de palavras.

É também do parecer do mestrando que o facto de a TA ter originado texto em

PT-BR em vez de em PT-PT contribui em larga escala para que este processo se torne

bastante mais demorado e afete a produtividade tanto a nível de tempo como a nível

de qualidade. Estes factos foram não só constatados pelo mestrando como pelo gestor

de projetos e pelos revisores deste projeto. Finalmente, deve ainda ser referida a

ausência de estatísticas detalhadas do SDL Trados para as tarefas de pós-edição. Seria

do interesse dos envolvidos no projeto que este software estivesse mais desenvolvido

para a pós-edição, de modo a facilitar a tarefa tanto a tradutores como a revisores,

poupando tempo e esforço que, certamente, provocariam diferença no resultado final.

Os sistemas de TA não possuem conhecimentos linguísticos suficientes nem têm a

capacidade de analisar contextos.

19

3.2. Problemas e vantagens da pós-edição

A pós-edição apresenta, naturalmente, vantagens e desvantagens.

No que diz respeito às vantagens, como referido por diversos autores, a PE

representa um processo mais rápido — considerando que o pós-editor é experiente,

ao contrário do caso do mestrando nesta tarefa de PE — que, em parte, acaba por

poupar algum tempo ao tradutor, na medida em que, ao contrário do processo normal

de tradução, o tradutor não tem de, por exemplo, procurar, pesquisar e pensar em

termos. A produtividade da PE aumenta dependo de alguns fatores, entre os quais se

encontra a experiência em PE e na área de saber, conhecimentos linguísticos no que

diz respeito ao par de línguas e conhecimentos do sistema de TA — tipo e frequência

de erros. Na PE, visto que o texto é apresentado numa versão bilingue, acaba por se

poupar tempo no processo de tradução, passando-se automaticamente para algo

semelhante a um processo de revisão. Neste processo de revisão há diversos fatores

que influenciam quão rápido ou não o processo vai ser. Inclui-se nesta lista de fatores

a qualidade da TA, a experiência do tradutor e, claramente, o volume de texto. A

rapidez também se prende com facto de o tradutor não ter de digitar a tradução na

sua língua materna e apenas ter de editar a mesma.

Para tradutores com pouca experiência, segundo Garcia, este processo de PE é

vantajoso: “The overall finding is that even without any training in post-editing,

translation trainees may on average do better when translating via post-editing”

(2011: 218). No caso específico do projeto descrito neste relatório, em que o cliente

final tem uma base terminológica que deve ser respeitada rigorosamente e o tradutor,

com a sua pouca experiência, ainda não a conhece, este processo torna-se mais

demorado, em grande parte devido à necessidade de consultar com uma frequência

elevada a referida base terminológica. A constante alteração de janelas e softwares

atrasa então o processo de PE.

Referida a experiência, é necessário salientar a diferença que o TC depende da

qualidade da TA. No caso do referido projeto do qual o tradutor fez parte, é de

extrema importância referir que a TA originou um texto em PT-BR e não em PT-PT.

20

Este é um fator chave no tempo que o processo de PE demora, influenciando-o em

grande escala. Para um tradutor de PT-PT, que habitualmente tem como LC esta

mesma língua por ser a sua língua materna, todo o processo mental de tradução se

torna mais lento quando o TC é apresentado em PT-BR. Dado as similaridades entre as

línguas, com palavras iguais, como referido anteriormente, todo o processo de PE se

torna mais difícil e moroso. A PE pode potencializar uma maior qualidade, algo que

neste projeto não foi verificado pelo facto de o cliente desconhecer que PT-BR e PT-PT

são variantes do português com uma grande diferença linguística. Este é um facto que

não aconteceu pela primeira vez com este projeto, sendo algo comum no mundo da

tradução — há uma falta de reconhecimento, por desconhecimento, destas duas

variantes da língua do mercado internacional da tradução.

É então visível que, no que diz respeito ao tempo, dizer que o processo de PE

poupa tempo em relação ao processo normal de tradução é uma questão delicada, na

medida em que existem vários fatores que a influenciam. Garcia, por exemplo, afirma

que os ganhos de produtividade com a utilização da PE são pouco relevantes: “Results

show that post-editing gains in productivity are marginal!” (2011: 2017)

Outra questão que se levanta ao falar de vantagens e desvantagens,

especificamente neste projeto, é a influência que o TC em PT-BR terá no processo

mental do tradutor. Até que ponto terá influência na mente do tradutor, visto que

ambas as línguas têm palavras iguais com significados diferentes? Neste caso,

pequenas distrações devidas a cansaço ou a períodos longos de trabalho podem levar

a que o pós-editor deixe passar algumas correções que seriam necessárias ou até

fundamentais.

O facto de o processo de PE permitir, praticamente, uma passagem imediata a

uma espécie de processo de revisão, permite que o tradutor se concentre mais no

texto do que, provavelmente, se concentraria numa revisão pós-tradução. Isto parece,

então, ser uma das vantagens da PE.

Existem formas de contornar os possíveis problemas, como por exemplo

utilizando linguagem controlada (ou linguagem de especialidade). Ao utilizar TA numa

linguagem de especialidade restrita, como, por exemplo, a tradução automática de

documentos da União Europeia de uma determinada diretiva, estes documentos têm

21

uma elevada qualidade, já que a linguagem é tão restrita e as bases de dados que

alimentam a TA são tão precisas que a TA é extremamente eficaz e quase não é

necessário efetuar quaisquer correções. Desta forma, poupa-se tempo de pós-edição

tendo em conta a reduzida necessidade de alterações, tornando todo o processo mais

rápido.

Os fatores que levam o tradutor ou a empresa de tradução a optar por este

processo de tradução são vários, e existem, como visto, diversos fatores que o

influenciam. Cabe assim ao tradutor ou à empresa de tradução determinar até que

ponto ou não será rentável a utilização da pós-edição.

3.3. Atual relevância da pós-edição na tradução

No atual contexto da tradução a pós-edição começa a ganhar destaque como

uma nova forma de olhar a tradução e, até, como uma nova forma de tradução

propriamente dita. De acordo com os resultados obtidos por Garcia na experiência no

âmbito da PE, com resultados favoráveis em relação à PE, esta é uma realidade que se

manterá no mundo da tradução: “If these results apply now, they will continue to

apply in the future, and even if they do not apply now they may apply soon.” (2011:

229) Garcia refere ainda no mesmo artigo que quanto mais utilizada for a TA melhor

esta se tornará: “the more MT is used the better it becomes. Thus, it is reasonable to

expect that MT will become more useful, and that more translation will be done by

post-editing in the years ahead.” (2011: 229)

Não só várias empresas de renome começaram a utilizar este método há

bastante tempo como também o governo se inclina sobre este tipo de tradução:

“Microsoft started to operate in this way for some projects already in 2002 and the

trend is gaining momentum as recent surveys and case studies, not only in industry but

in government, have revealed.” (Garcia 2011: 219)

A PE desenvolve-se assim, de dia da para dia, cada vez mais, no sentido de uma

evolução lenta mas positiva, que a tornará uma constante na vida do tradutor, nas

22

empresas de tradução e nos respetivos clientes. Já em 2011 Garcia afirmava o

seguinte:

Attention on MT and post-editing is, therefore, increasing as we enter into the new decade. Translation clients and language vendors are asking themselves whether to seed their TMs with post-edited MT for those fragments for which no matches are found. Translators need to develop an opinion on whether it would be a good idea to do the same, even when the client has not requested it.” (Garcia 2011: 219)

23

Conclusão

A realização deste estágio curricular contribuiu não só para a aprendizagem

sobre o funcionamento do mundo de trabalho da tradução pela primeira vez, mas

também para aquisição de conhecimentos para o futuro profissional do mestrando,

assim como para a consolidação dos conhecimentos teórico-práticos adquiridos

durante a componente não letiva do mestrado em Tradução.

Foi, desta forma, relevante ter a oportunidade de poder ver, em primeira mão,

como funciona uma empresa de tradução em Portugal no que diz respeito a todo o

processo de tradução, desde a tradução propriamente dita ao tratamento de clientes

desta área. Tudo isto contribuiu para o crescimento do mestrando em termos

pessoais, académicos e profissionais.

Em relação ao projeto utilizado como base para a redação deste relatório foi

abordada não só a parte teórica no que diz respeito à pós-edição, mas também a parte

prática do projeto de PE do qual o mestrando fez parte durante o estágio na Upwords.

Constata-se, deste modo, que a pós-edição tem e terá uma relevância

significativa na tradução e que os atuais estudantes de tradução têm uma maior

predisposição tanto para aceitar a pós-edição como para obter resultados similares às

traduções profissionais do que os próprios profissionais da tradução. Devem, assim,

formar-se não só profissionais como estudantes de tradução, com o intuito de obter

profissionais aptos para desempenhar as suas funções da melhor forma possível.

Com a grande utilização da tradução automática que se verifica atualmente, é

aceitável afirmar que a pós-edição começa a ganhar cada dia mais destaque, visto que

com a passagem do tempo se aperfeiçoam mais as técnicas tanto de tradução

automática como de pós-edição.

Espera-se que este relatório tenha um papel elucidativo em futuros estudos na

área da pós-edição, tanto a nível teórico como a nível prático.

24

Referências Bibliográficas

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program”. Language International Magazine 13 (2): 26-29.

Allen, Jefrey. 2003. “Post-editing”. Computers and Translation. A translator’s guide.

Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins. 297-317.

Alves, Fernando Ferreira. 2012. “As faces de Jano: contributos para uma cartografia

identitária e socioprofissional dos tradutores da região norte de Portugal.”

Dissertação de Doutoramento, Universidade do Minho.

Dillinger, Mike. 2014. “Introduction”. Post-editing of Machine Translation: Processes

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Translation 25: 217-237.

O’Brien, Sharon. 2002. “Teaching Post-editing: A Proposal for Course Content”. In Sixth

EAMT Workshop "Teaching machine translation": 99-106.

O’Brien, S., Winther Balling, L., Carl, M., Simard, M. & Specia, L. (eds.) 2014. Post-

editing of Machine Translation: Processes and Applications. Newcastle:

Cambridge Scholars Publishing.

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Newcastle: Cambridge Scholars Publishing.

Somers, Harold (ed.) 2003. Computers and Translation: A translator’s guide.

Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins.

25

Anexos

Anexo A

Capturas de ecrã das tarefas de pós-edição efetuadas no projeto referido ao longo do

relatório — depois de concluídas as tarefas de pós-edição.

Figura A1 …………………………………………………………………………. 27

Figura A2 …………………………………………………………………………. 28

Figura A3 …………………………………………………………………………. 29

26

Anexo A

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28

29