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A PRODUÇÃO TEXTUAL DE HENRIQUE SILVA NO JORNAL O PAIZ E EM A INFORMAÇÃO GOYANA COMO PROJETO DE MEMÓRIA: A ESCRITA DE SI E A RECEPÇÃO DOS LEITORES 1890 A 1935 *Edismar Gomes Galvão As produções textuais do goiano militar Henrique Silva no jornal O Paiz 1 e, posteriormente, em a Informação Goyana 2 , constituíram um projeto de memória. Essa afirmação está ancorada nas centenas de publicações do militar realizadas nos dois periódicos editados na capital federal à época Rio de Janeiro 3 . Nestes, são recorrentes em suas temáticas a defesa das potencialidades de Goiás no tocante à fauna, flora, minérios, clima, solo e à hidrografia. Importa ressaltar que esse estado recebia pouca atenção do governo federal, que subvalorizava sua produção de gêneros, notadamente a produção bovina. O departamento de estatísticas do governo da União, às vezes, quando da divulgação de seus relatórios, atribuía as exportações de Goiás a outros estados, especialmente São Paulo e Minas Gerais. O desconhecimento acerca da região central do Brasil era quase total. Havia dificuldade em localizar os estados dessa região; confundir Goiás com Mato Grosso era prática comum. Junte-se a isso o reforço dado por intelectuais de gabinete 4 , que afirmavam ser a região de clima insalubre à saúde e se tem, então, a bandeira desse escritor: lutar contra todos esses equívocos aproveitando sempre que possível as oportunidades para desconstruir a imagem negativa criada e alimentada pela imprensa, de modo geral, e a carioca, em particular. Atrás dessa defesa, o seu interesse em se notabilizar diante dos goianos. * Mestrando em História pela Universidade Federal de Goiás/UFG. 1 Registros mapeados no jornal entre 1890 a 1917. 2 1917 a 1935. 3 Este artigo tem como referência a dissertação de mestrado de nossa autoria a ser defendida no início do segundo semestre de 2017. 4 Desse modo se referia Silva a esses médicos que elaboravam pareceres sobre Goiás sem, contudo, conhecer a região. Quando muito, utilizava as estradas reais para elaborar seus estudos (Ver O Paiz 1890-1917; Informação Goyana, 191701935).

A PRODUÇÃO TEXTUAL DE HENRIQUE SILVA NO ......Conforme o registro de batismo da Igreja Matriz da cidade de Silvânia5, o militar do Exército Henrique Silva, segundo filho6 de Francisco

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A PRODUÇÃO TEXTUAL DE HENRIQUE SILVA NO JORNAL O PAIZ E EM A

INFORMAÇÃO GOYANA COMO PROJETO DE MEMÓRIA: A ESCRITA DE SI E A

RECEPÇÃO DOS LEITORES – 1890 A 1935

*Edismar Gomes Galvão

As produções textuais do goiano militar Henrique Silva no jornal O Paiz1 e,

posteriormente, em a Informação Goyana2, constituíram um projeto de memória. Essa

afirmação está ancorada nas centenas de publicações do militar realizadas nos dois periódicos

editados na capital federal à época Rio de Janeiro3. Nestes, são recorrentes em suas temáticas

a defesa das potencialidades de Goiás no tocante à fauna, flora, minérios, clima, solo e à

hidrografia.

Importa ressaltar que esse estado recebia pouca atenção do governo federal, que

subvalorizava sua produção de gêneros, notadamente a produção bovina. O departamento de

estatísticas do governo da União, às vezes, quando da divulgação de seus relatórios, atribuía

as exportações de Goiás a outros estados, especialmente São Paulo e Minas Gerais. O

desconhecimento acerca da região central do Brasil era quase total. Havia dificuldade em

localizar os estados dessa região; confundir Goiás com Mato Grosso era prática comum.

Junte-se a isso o reforço dado por intelectuais de gabinete4, que afirmavam ser a região de

clima insalubre à saúde e se tem, então, a bandeira desse escritor: lutar contra todos esses

equívocos aproveitando sempre que possível as oportunidades para desconstruir a imagem

negativa criada e alimentada pela imprensa, de modo geral, e a carioca, em particular. Atrás

dessa defesa, o seu interesse em se notabilizar diante dos goianos.

* Mestrando em História pela Universidade Federal de Goiás/UFG.

1 Registros mapeados no jornal entre 1890 a 1917. 2 1917 a 1935. 3 Este artigo tem como referência a dissertação de mestrado de nossa autoria a ser defendida no início do

segundo semestre de 2017. 4 Desse modo se referia Silva a esses médicos que elaboravam pareceres sobre Goiás sem, contudo, conhecer a

região. Quando muito, utilizava as estradas reais para elaborar seus estudos (Ver O Paiz 1890-1917; Informação

Goyana, 191701935).

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Conforme o registro de batismo da Igreja Matriz da cidade de Silvânia5, o militar do

Exército Henrique Silva, segundo filho6 de Francisco José da Silva e Anna Rodrigues de

Morais e Silva, nasceu em 18 de março de 18657, no sítio São João, nas imediações da Cidade

5 Livro 5, p. 35, Igreja Matriz de Silvânia.

6 Seu irmão Vicente Miguel da Silva Neto foi vítima da doença de cólera na Guerra do Brasil contra o Paraguai,

precisamente, na Retirada de Laguna.

7 Henrique Silva foi batizado um mês após seu nascimento, em 16 de abril de 1865.

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de Bonfim8, atual Silvânia, comparecendo à igreja o pai, que lhe dera o nome incomum para a

época9, Henrique Silva, neto de Vicente Miguel da Silva, personalidade de grande prestígio

que se firmou como defensor da ordem, da lei na segunda metade do século XVIII, na

Capitânia de Goiás, cidade de Bonfim. Já como Província, a família Silva continuou com

grande prestígio junto ao governo imperial; entre os diversos cargos ocupados pelo coronel

Francisco José da Silva, o de vice-presidente da Província foi o de maior poder, nele

permanecendo até sua morte, em 188610 (BRANDÃO, 1978: p. 54; BORGES: 1981;

SANCHES, 2012; SILVA, 1982). Adulto11, Henrique Silva se interessou pela vida militar.

Assim, em 1882, Silva iniciou carreira na condição de cadete, no Esquadrão de

Cavalaria de Goiás. Um ano depois, se matriculava na Escola Militar da Praia Vermelha, na

cidade do Rio de Janeiro. Após três anos de estudos abandonou o curso, mas não a vida

militar. Segundo a professora Maria Helena Nepomuceno (2003: p. 84), foi ali que Silva

entrou em contato com as ideias de Comte12. Um indício de que talvez o goiano tenha passado

pela Escola Militar seja a doação de um dia de soldo destinado à viúva de Benjamin

Constant13. Não obstante as dificuldades de encontrar registros do militar goiano nos arquivos

confirmando ou não sua passagem pela Escola Militar do Exército, isso não enfraquece o

argumento de que Silva apreendeu boa parte das ideias do pensador francês. Conforme afirma

Trevisan, nos primeiros anos da República, difícil era não ser positivista. Mesmo aqueles que

se posicionavam contrários às ideias do francês de algum modo se identificavam com elas.

Nas reflexões de Sérgio Buarque de Holanda apud Trevisan, essa questão torna-se evidente.

Para o primeiro, deve-se considerar como ponto alto da doutrina comtiana:

... não tanto o de Filosofia, ou de seita, ou religião, mas o estado de espírito e o

clima de opinião que, a partir dele, passou a contaminar vastas camadas, acabando

por marcar até mesmo “os que prezavam de combatê-lo” (TREVISAN, apud Sérgio

Buarque de Holanda, 2011: p. 55).

Nesse sentido, perceber Silva como o cidadão armado é perfeitamente razoável,

lembrando Benjamin Constant que o militar deveria receber “uma suculenta educação

científica” que lhe possibilitaria reconhecer os seus deveres não só militares, mas

8 Segundo registro da Câmara, a Vila de Bonfim foi elevada à cidade de mesmo nome no ano de 1857.

(BORGES, 1981: p. 52). 9 Um nome pequeno para os padrões do período, final do século XIX. Observação respaldada no livro de registro

da Igreja de Bonfim e outros documentos em diferentes arquivos de Goiás e cidade do Rio de Janeiro.

10 Foi nomeado pelo governo Imperial como oficial da Ordem da Rosa, tendo em vista seus relevantes serviços

prestados à Província de Goiás quando o Brasil enfrentava o Paraguai, na Província de Mato Grosso; nomeado

Comendador da Rosa (SILVA, 1907: p. 10 e 17).

11 À época, Henrique Silva contava com 17 anos (NEPOMUCENO, 2003: p. 84). 12 Não foi encontrada pista na Biblioteca Nacional; Arquivo do Exército/AHEX; Arquivo Nacional que

confirmasse a presença do militar goiano na Escola Militar da Praia Vermelha. 13 O Paiz, 23/01/1891.

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especialmente os sociais. Para tanto, impunha-se um ensino integral começando na

matemática e terminando na sociologia e moral (TREVISAN, 2011: p. 43). É com essa ênfase

nas ciências, com dados exatos, na experimentação, que repercutirá o pensamento de

Henrique Silva na imprensa, tanto nos jornais quanto em revistas, especialmente a Informação

Goyana, mensário em que foi editor geral por todo o tempo de circulação, 1935.

Mas não apenas a priorização no pensamento científico facilita a compreensão das

ações do goiano no final do século XIX. Ressalta-se também a formação de um ethos militar

que se constituiu inicialmente com a Guerra do Paraguai e, posteriormente, com República

(SANTOS, 2004: p. 51). Reconstituindo em linhas gerais o período, tem-se o romantismo,

que pode ser dividido, grosso modo, ligado à emoção, apoiado na fé, liberdade, natureza,

idealização a realidade14. No Brasil, a apreensão das ideias românticas se deu, principalmente,

por meio da influência dos franceses. Lançando mão das contribuições de Peter Gay, a autora

escreve:

(...) os franceses eram dentre os românticos os mais interessados na política.

Escreviam sua autobiografia nas barricadas, nas casas legislativas, nos jornais

ligados aos partidos. A atividade política, ou pelo menos uma linguagem política

enérgica, constituía uma parte integrante da sua auto-definição. (...)Como a

maioria dos [seus] contemporâneos, acreditavam que o mundo é regido por ideias,

e por elas pode ser transformado. Portanto, [para os românticos franceses] quando

expressas de modo adequado, as ideias não estão a serviço do poder, mas atuam

como seus juízes (SANTOS, apud Peter Gay, 2004: p. 60).

Assim, se conclui viável pensar que, além do positivismo, importou-se da França

também uma visão romântica, que exerceu forte influência sobre os jovens militares

brasileiros com pactos de sangue, dispostos a sacrifícios como morrer pela pátria.

Com todas essas reflexões, deseja-se alcançar uma fração de uma temporalidade na

qual a personagem Henrique Silva, soldado do Exército, desenvolveu em diferentes frentes

suas atividades. Às vezes, contrariando esse grande pano de fundo em que as personagens se

atracam, assumindo atitudes contraditórias15. Porém, “...somos prisioneiros de um aquário do

qual nem sequer percebemos as paredes; como os discursos são incontornáveis, não se pode,

por uma graça especial, avistar a verdade verdadeira, nem mesmo uma futura verdade”

(VEYNE, 2011: p. 49), pontuando que o aquário referido pelo autor pode ser descrito como

histórico, cultural, social e político. Todavia não se deve pensar nesse a priori histórico como

14 Outro aspecto, como estilo de época, é um movimento estético que configura um estilo de vida e arte

predominante na civilização ocidental, localizado na segunda metade do século XVIII e na primeira do XX,

momento em que encontra sua plenitude (SANTOS, 2004: p. 59). 15 Ações incompatíveis com a construção do perfil de homem público colocado em andamento pelo militar

goiano.

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uma camisa de força, sem saída. Mas livrar-se do aquário, lembra o historiador, é deixar-se

apreender por outro,

É claro que esse a priori histórico, longe de ser uma instância imóvel que

tiranizaria o pensamento humano, é passível de mudança, e nós mesmos

terminamos por mudá-lo. Mas ele é inconsciente: os contemporâneos sempre

ignoraram onde estavam seus próprios limites e nós mesmos não podemos avistar

os nossos (VEYNE, 2011: p. 50).

Tem-se aqui o oficial atuando dentro das ambiências no final do século XIX e

primeiras décadas do XX, uma temporalidade expressiva de cinqüenta e três anos. Nesse

intervalo, delineou-se o projeto de Henrique Silva desenvolvido em diversas outras atividades

profissionais, como geógrafo e conhecedor do território goiano, notadamente de sua

hidrografia e fauna. De posse dessas credenciais, fora convidado inúmeras vezes para compor

missões com o objetivo de resolver questões ligadas aos limites territoriais. No ano de 1889,

participou da comissão observadora das fronteiras entre Brasil e Bolívia, sob as ordens de

Deodoro da Fonseca (BORGES, 1977). Ademais, participou em muitas outras atividades a

serviço de Goiás: fez parte da comissão que tratou do levantamento da Estrada de Ferro que

deveria partir de Catalão a Cuiabá; foi atuante na comissão encarregada de estudar os limites

entre Goiás e Minas Gerais (LÔBO, 1974). Cabe sublinhar, não obstante a importância dessas

atividades desenvolvidas, a participação de Henrique Silva na Comissão Cruls16, a qual pode

ter consolidado sua formação como conhecedor das riquezas do Planalto Central, ocorrida em

1892, com a patente de alferes17. Munido dessas credenciais, Henrique Silva, na década de

1890, iniciou em sua escrita a demolição de ideias preconcebidas, indiferença, avaliações

equivocadas acerca de Goiás. Para tanto, utilizou de cores vivas para representar/apresentar

essa pintura desconhecida por grande parte da nação brasileira. Essas eram características

marcantes do fundador de a Informação Goyana Henrique Silva18. Atitudes que se fizeram

presentes em dezenas de produções de sua autoria, dentre as quais A caça no Brasil Central;

Poetas Goianos; Esboço Biográfico do Comendador Francisco José da Silva19; Fauna

Fluviátil de Goiás (Tocantins e Araguaia); Fauna Fluviátil de Goiás (Paranaíba); Indústria

Pastoril; Sumé e o destino da Nação Goiá; Contribuição para a Geografia Zoológica do

16 Comissão responsável em demarcar a área no planalto central, notadamente Goiás, onde seria construída a

futura capital do país, conforme estabelecia a Constituição de 1891. 17 Ver relatório final da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brazil, publicada em 1894, endereçada ao

ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas. Na página 8, aparecem os membros da Comissão. O nome do

goiano Henrique Silva aparece como o último da lista.

18 Não é demais lembrar, que a revista circulou entre 1917 a 1935, ano da morte de seu Editor Geral.

19 Publicação que corrobora a idéia de construção de um projeto de memória.

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Brasil; Caçadas no Brasil; A Extinta Nação Goiá, nos Anais do XIX Congresso de

Americanistas; Duas Variedades Novas e Electroforídes do Brasil Central; Pérolas e

Conchas Perlíferas do Araguaia; O Pescador Brasileiro; A Bandeira do Anhanguera 1722; O

Folclore do Brasil Central; Chácaras e Quintais; O Pescador Brasileiro (BORGES, 1981: p.

134; LÔBO, 1974: p. 42; BORGES, 1977: p. 162)20. Sua produção textual foi caracterizada

na literatura goiana dentro do período sincrético, que compreende 1902 a 1928. Esse período

se define por uma literatura eclética entre o parnasiano-simbolista e o romantismo (GOYANO

& CATELAN, 1968). Seja munido de espada ou da pena, Henrique Silva lutou para

concretizar seus projetos: o primeiro mais evidente, o de desenvolvimento de Goiás, e o outro

de sua memória. Na vida desse soldado-cidadão ocorreram diversas situações, as quais

possibilitaram sua notabilização como figura pública registrada em jornais do período,

especialmente O Paiz. O que se pretende acompanhando as ações do diretor de a Informação

Goyana na imprensa é perceber sua construção, em grande medida, por uma escrita de si, ou

o fazer-se, continuamente, tendo em vista a elaboração de um projeto de memória inserido no

projeto de ascensão econômica de Goiás ao lado dos grandes entes da federação.

Ademais, consideram-se essas ações do militar goiano, publicadas nos grandes jornais

do Brasil como O Paiz e Correio da Manhã, como uma escrita de si, conforme assinalado,

porque se tem em conta que essas publicações, em sua maioria, são notas divulgadas, muito

provavelmente, a pedido do próprio Henrique Silva em diferentes temporalidades que vão dos

anos 1890/1899 e 1900/191721. Desse modo, as páginas dos jornais assumem ou se

aproximam de uma escrita (auto)biográfica, não obstante ser público ou o que se deseja

tornar-se público. Entende-se que essa escrita pública pode caracterizar-se em um projeto,

consciente ou inconsciente, não importando as coerências e incoerências em relação aos

projetos individuais em um contexto no qual se desenvolveram suas ações. Ressalta-se que é

uma escrita de si mesmo não contemplando outras ambiências da vida privada. Contudo, não

terá menos força para o que se objetiva nessas linhas. A escrita de si, realizada a pedido,

encomendada, isto é, produzida indiretamente pelos profissionais do jornalismo só foi

possível em função da boa interação entre as partes, ou seja, o militar jornalista e seus pares

das redações, constituindo-se, assim, em seus porta-vozes. Conforme se pode verificar nas

20 Dos livros citados, encontramos apenas dois, O Esboço biográfico do Comendador Francisco José da Silva

(IPEHBC) e A caça no Brasil Central (Prólogo de Couto Magalhães) (Biblioteca Nacional).

21 A partir de 1917, ano de início de circulação de a Informação Goyana, as publicações nos grandes jornais

diminuem significativamente.

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publicações na Tabela 1, em que se buscou realçar alguns eventos, dentre tantos outros, em

que Henrique Silva vai tecendo, por meio de O Paiz, seu projeto de memória22.

Publicações de HENRIQUE SILVA

no Jornal O Paiz23

DATA PATENTE ASSUNTO ESPAÇO OBSERVAÇÃO

26/02/1890 Cadete Escola de Tiro

Realengo

07 linhas HS24. Complemento

Estudo/armas

09-06-1890 Alferes Reunião fundação

Clube Goiano

26 linhas H.S. nomeado para

ajudar org. estatuto

23/01/1891 Alferes Doação de soldo a

viúva Benjamin

Constant

Coluna contendo

centenas de outras

assinaturas

O periódico traz

outras doações

18/12/1891 Alferes Ato defesa a

República

Col. Com centenas

assinaturas

Apoio ao presidente

Floriano Peixoto

28/01/1892 Alferes Elogio por bravura Ext. lista sold. Revolta da Armada

13/09/1893 Alferes Chega à capital no

comando de 35

praças

13 Linhas 10º reg. sob

comando de HS

estava Santos/SP

13/02/1894 Alferes Ferido/face espada 11 linhas Treinamento militar

29/09/1895 Alferes Disposição ao Min.

da Indústria

04 Linhas Nomeação

C.E.P.C.B.25

11/12/1896 Alferes Confusão por lugar

em Teatro

31 linhas Recebeu ordem de

prisão

19/03/1897 Alferes Festeja aniv c/

personagens das

letras

46 Linhas Almoço das 12 às

17hs no Roiisserie

Castellões

22/07/1898 Alferes ...e amigo

espancados na

madrugada da

cidade do Rio

64 linhas Queixa feita pelo

amigo Antonio Villa

Boas

09/11/1899 Alferes Absolvido por

injúrias a colega

09 Linhas Tribunal Militar

julgou outros casos

01-10-1908 Capitão Velório de

Machado de Assis

Matéria extensa

sobre escritor

falecido

Às 23hs do dia

anterior HS entre

outros velório MA26.

14/01/1910 Capitão Visita senador

enfermo

19 linhas -

29/07/1911 Capitão Candidato a

deputado estadual

24 linhas Partido Democrata

15/05/1913 Capitão Deputado27 HS

preso por general

02 colunas Deputado HS recebe

ordem de prisão

22 Em virtude do espaço restrito, foram disponibilizados alguns poucos registros da vida do militar goiano. Na

dissertação, disponível a partir de outubro de 2017 na página da pós-graduação de História/UFG, os leitores

poderão ter acesso a todos os registros em tabela completos. 23 Jornal O Paiz, 1890/1917. 24 Henrique Silva. 25 Comissão de Exploração do Planalto Central do Brasil. 26 Machado de Assis.

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8

09/07/1915 Capitão Publica na revista

Apollo

A nota divulga a

revista

Título: A origem da

noite

04/12/1916 Capitão Faz conferência 05 linhas Soc. Nac. Agric.

03/04/1917 Capitão Publicação sobre

bandeirantes

30 linhas Bandeira do

Anhanguera

Tabela 1 – Publicações de Henrique Silva no Jornal O Paiz

Fonte: Elaborada pelo autor.

Na Tabela 1, buscou-se apresentar, de forma resumida, alguns registros de Henrique

Silva no jornal O Paiz28. Neles, podem-se ler ações menores, de pouca relevância, como, por

exemplo, a de complementar seus estudos na Escola de Tiro do Realengo, visitar enfermo,

escrever artigo, participar de reunião criando o Clube Goiano. Em outro momento, verificam-

se ações de grande repercussão, como liderar soldados em revolta, participar do velório de

Machado de Assis, ser lançado deputado estadual, preso enquanto deputado recebe ordem de

prisão. Por fim, tem-se Henrique Silva sendo absolvido por injúria; discussão por lugar em

teatro e briga na madrugada da cidade do Rio de Janeiro. Ainda sobre o velório de Machado

de Assis, estava estampado na página do jornal diário, em 01 de outubro de 1908, “as onze

horas da noite de hontem velavam o cadáver... o capitão Henrique Silva”29. O que fazia o

militar ali, naquele momento? O escritor Machado de Assis já era muito respeitado no meio

literário, na sociedade carioca. Estar presente na última noite do grande romancista, sem

sombra de dúvida, possibilitaria a Silva algumas linhas importantes em sua construção de si,

no seu projeto e memória30.

Como se pode constatar nessa pequena amostra, uma ou outra publicação fugiu do

controle do sujeito Henrique Silva. Observa-se que essa produção em O Paiz, conforme

mencionado, foi um suporte que serviu para materializar as ideias do escritor, constituindo

plenamente um recurso de aproximação com sua (auto)biografia, no sentido literal do termo

ou, em outras palavras, por meio de uma escrita de si. Para corroborar com estes argumentos

aqui expostos, cita-se Gomes:

Essas práticas de produção de si podem ser entendidas como englobando um

diversificado conjunto de ações, desde aquelas mais diretamente ligadas à

escrita de si propriamente dita – como é o caso das autobiografias e dos diários

–, até a da constituição de uma memória de si, realizada pelo recolhimento de

objetos materiais, com ou sem a intenção de resultar em coleções. É o caso das

27 O perfil biográfico de Henrique Silva encontra-se disponível na Assembleia Legislativa de

Goiás<https://portal.al.go.leg.br/deputado/perfil/deputado/2048>Acesso em 07/08/2017. 28 Os registros completos estarão disponíveis nos anexos na dissertação a ser disponibilizada. 29 Jornal O Paiz, 01/10/1908. 30 Salvo engano, não há nenhuma menção de Machado de Assis em toda produção escrita de Henrique Silva

tanto no jornal O Paiz quanto em Informação Goyana.

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fotografias, dos cartões-postais e de uma série de objetos do cotidiano, que

passam a povoar e a transformar o espaço privado da casa, do escritório etc. em

um “teatro da memória”. Um espaço que dá crescente destaque à guarda de

registros que materializem a história do indivíduo e dos grupos a que pertence.

Em todos esses exemplos do que se pode considerar atos biográficos, os

indivíduos e os grupos evidenciam a relevância de dotar o mundo que os rodeia

de significados especiais, relacionados com suas próprias vidas, que de forma

alguma precisam ter qualquer característica excepcional para serem dignas de

ser lembradas (GOMES, 2004, p. 11).

Nesse âmbito, se reivindica aqui, não obstante a publicização dos conteúdos das notas,

via meio de comunicação, que visava a um amplo público31, que as publicações realizadas nos

jornais podem ser incluídas entre os diferentes suportes para uma escrita de si. Não

esquecendo outras contribuições de Gomes (2004) quando menciona outro suporte que

materializa a escrita de si, a correspondência. Adianta a autora que “Escrever cartas é assim

“dar-se a ver”, é mostrar-se ao destinatário, que está ao mesmo tempo sendo “visto” pelo

remetente...”32. O que se busca com esse fragmento é a realização de outra aproximação das

notas publicadas em jornais com o suporte material carta. Assim como as cartas têm um ou

mais destinatários, principalmente se se levar em conta que a missiva se torna propriedade de

quem as recebe, guardando-as ou compartilhando-as, os jornais, mesmo sem intenção de

arquivar, também cumprem esse objetivo. O mesmo se pode afirmar com a produção de uma

biografia ou autobiografia, pois ao fazê-la, o indivíduo tem em vista o registro, com

demarcação espacial e temporal ou o quê, quando e onde na constituição de seu projeto de

memória. Ao escrever, ele, o indivíduo, busca mostrar a si mesmo33 e ao outro. E esse

apresentar-se do indivíduo não precisa, necessariamente, conforme a autora, contemplar todas

as ambiências de sua vida social. Isso vem dirimir as dúvidas e reforçar a proposta defendida

neste artigo, qual seja, as ações de Henrique Silva cronologicamente registradas na imprensa

carioca configuram uma escrita de si visando a seu projeto de memória.

A lógica da escrita, individualizada, transferida/concedida ao outro nas redações dos

jornais não enfraquece o caminho aqui percorrido. Busca-se com esse aporte teórico

respaldar, constituir embasamento para a narrativa que se pretende discorrer e edificar,

conforme mencionado, sobre essa personalidade singular do planalto central. Nesse intento,

recorre-se a algumas das muitas e importantes reflexões realizadas por Sabina Loriga34 acerca

31 Ou restrito, uma vez que Henrique Silva “escreve” somente aos letrados que por sua vida têm interesse. 32 GOMES, Ângela de Castro, Rio de Janeiro, FGV, 2004: p.19. 33 Porque se constitui de forma identitária.

34 Loriga, Sabrina. A biografia como problema, Texto: LORIGA, Sabina. In: REVEL, Jacques (org.). Jogos de

escalas. A experiência da microanalise. Rio de Janeiro: FGV, 1998.

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da biografia em virtude das centenas de notas publicadas sobre/por Henrique Silva nos jornais

da capital Rio de Janeiro nos primeiros anos da República. Loriga assevera que:

A fronteira que separa a biografia da história sempre foi bastante imprecisa.

Em relação a esse ponto, assistimos recentemente a uma reviravolta radical.

Após um longo período de desgraça, durante o qual os historiadores se

interessaram pelos destinos coletivos, o indivíduo voltou hoje a ocupar um lugar

central em suas preocupações (1998: p. 225).

Nesse sentido, a autora discute a biografia como problema, acrescentando que sua

redescoberta liga-se a experiências no campo da história, tendo a atenção focada no

“cotidiano”, nas “subjetividades outras”. Cita a história oral, os estudos sobre a cultura

popular e a história das mulheres. Há o desejo, complementa Loriga (1998: p. 225), de

estender o campo da história, “trazer para o primeiro plano os excluídos da memória, reabrir o

debate sobre o valor do método biográfico”. Há de se sublinhar que Henrique Silva não se

enquadra exatamente no grupo dos excluídos da memória. Entretanto, não se pode afirmar,

que ele, Henrique Silva, pertencia ao grupo de grandes estrelas do universo político goiano no

início da República.

Seguindo Loriga (1998: p. 245), interessa aqui não tanto o homem homogêneo,

individualizado, concreto, coerente, mas, sobretudo, o “homem coral”, que se revela em suas

ações como múltiplo, incoerente com o contexto em que vivia. Percorrendo esse caminho,

pode-se acompanhar o militar goiano Henrique Silva com uma prática de ações que podem ir

ao encontro do que se tem buscado desenvolver à luz da contribuição das autoras. Assim, é

possível contemplar “sua” escrita, isto é, de Henrique Silva, no jornal realizando as mais

diversas ações, além das já citadas, comover-se e assumir atitude solidária, abrindo mão de

recursos obtidos com a venda de cem exemplares, de sua autoria, aos brasileiros que sofriam

com a seca35, e em momento seguinte combater em conferência na Associação de Agricultura

um pessimista, que afirmara não possuir o Brasil condições de produzir papel para imprensa;

divulgar artigo sobre a riqueza do capim Jaraguá, folhagem rica em nutrientes para a

alimentação do rebanho bovino, registro de licença médica, publicação de biografia do pai; na

presença de outros, recepcionar o senador Pinheiro Machado de volta do Rio Grande do Sul.

Por fim, contestar leitor de O Paiz, em carta, sobre alinhamento de árvores frutíferas de várias

espécies na vila militar Deodoro da Fonseca36. Todas as participações desse militar revelam

muitas coisas; uma delas é a necessidade de ascensão social, política entre os brasileiros,

35 Jornal Correio da Manhã, 27/08/1915. 36 Jornal O Paiz, 19/01/1909.

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notadamente os goianos. Igualmente, o de se destacar entre seus conterrâneos, recuperando o

período áureo da família Silva37. E, nessa direção, apresentar-se como o sujeito goiano, que

participara do fazer histórico não como espectador, mas ativamente como ator, cujo

desempenho foi relevante nas primeiras décadas da recente república brasileira. Na revista em

que editou na cidade do Rio de Janeiro, é possível verificar como um forte recurso com vistas

à construção de sua memória.

A seguir, apresentam-se algumas reflexões acerca da participação de Henrique Silva à

frente do mensário a Informação Goyana. Salienta-se que devido aos limites de espaço

concebido aqui, não é possível dar maior ênfase à recepção do leitor aos escritos de Silva.

Dessa forma, se abordará a recepção apenas pela ótica do leitor Henrique Silva em relação as

suas fontes de leitura. Na Tabela 2, podem ser identificadas as temáticas de sua produção

textual a partir do mapeamento de suas publicações.

Publicação temática – artigos

Henrique Silva Revista Informação Goyana

1917 – 1935

TEMAS QUANT Fauna 25

Flora 35 Minerais 08 Memória 13 Limites Goiás e estados vizinhos 23 Crítica à dados estatísticos/governos38 18 Pecuária 33 Hidrografia/navegação 20

Relevo/Solo 11 Eqüinos 05 Impostos 06 Construção da nova capital/Brasil 07 Ferrovia 09 Escritores do Brasil Central 04

Clima 09 Etimologia39 09

Rebate estudos sobre Goiás 36 Mudança da capital de Goiás 01 Piscicultura 10 Agricultura40 29 Outros 16

Total 32741

Tabela 2 – Artigos de Henrique Silva

Fonte: Elaborada pelo autor.

37 No capítulo 1, da dissertação apresenta-se a família Silva como uma nobreza da terra que se constituiu no

século XIX. 38 Em nível federal e estadual, exceto Goiás. 39 Nomes indígenas da flora/fauna e cidades. 40 Algodão, café, trigo, milho, uva. 41 Muitas produções textuais foram enquadradas em vários outros temas, razão pela qual o total ultrapassam os

artigos assinados pelo editor chefe de a Informação Goyana.

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Antes de prosseguir na discussão textual publicada pelo editor geral da revista,

algumas palavras devem ser escritas sobre a maneira como se procedeu à construção da

Tabela 2. Esta foi elaborada a partir do mapeamento de todas as publicações assinadas em a

Informação Goyana. Em sua releitura, foi possível elencar temas nos quais Henrique Silva se

debruçou com frequência na escritura de seus textos. Evidentemente, outras possibilidades de

reagrupar os artigos existem, no entanto esse modelo foi o que mais atendeu ao propósito da

pesquisa, de proporcionar maior visibilidade aos projetos trabalhados por Silva.

Dessa forma, todos os artigos publicados na revista goiana têm como pano de fundo a

defesa de Goiás. Esse empenho em contrapor, explicar, proteger os interesses de seu Estado

ocorreu em diferentes campos, ora em conflitos acerca de limites com os estados vizinhos

Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, ou rebatendo informações equivocadas sobre o estado mais

central do Brasil por estudiosos de gabinete42. São inúmeros os temas; dentre os citados, têm-

se agricultura, piscicultura, etimologia, clima, ferrovia, relevo/solo, hidrografia/navegação,

memória, fauna e tantos outros com evidente objetivo em constituir seu projeto de memória

através de suas ações em embates por Goiás. No último tema referido na Tabela 2, sobre

agricultura, há trinta e seis artigos que se opõem às ideias daqueles estudiosos que pouco

conheciam Goiás. Esse número de produção supera as outras temáticas individualmente.

Contudo, não se quer atribuir pouca importância às outras preocupações registradas pelo

editor, uma vez que todas têm um ponto em comum: ressaltar as riquezas de Goiás e suas

imensas possibilidades. No excerto a seguir, é possível acompanhar, em artigo publicado na

revista mensal, de março de 1918, com o título Viajores – mas superficiais observadores, a

indignação de Henrique Silva com duas obras recém-publicadas que ignoram Goiás no

tocante à existência de fósseis. Comenta o major,

Temos sobre a nossa mesa de trabalhos dous desses volumes: - Viagem scientifica

pelo norte da Bahia, sudoeste de Pernambuco, sul do Piauhy e norte e suol de

Goyaz, pelos srs. Arthur Neiva e B. Penna e “Rondonia”, de Roquette Pinto.

E como taes trabalhos são referentes á região cujas riquezas e mais possibilidades

econômicas “A Informação Goyana” propoz-se a divulgar, respiguemos, pois, nas

obras consagradas daquelles notáveis membros da Academia Brasileira de

Sciencias.

Á pag. 100 da “Viagem scientifica” escreveram os engraçados autores dos estudos

feitos á requisição da Inspectoria de Obras contra as seccas, sob a direcção do dr.

Arrojado Lisboa: “As regiões percorridas, menos Goyaz, apresentam rico material

de fosseis; são freqüentes as referencias a esqueletos de animaes de grande porte,

encontrados geralmente pelos moradores quando por ocasião das seccas, effetuam

escavações de cacimbas nas pequenas lagoas dessecadas e citam exemplos de

42 Expressão muito comum usada por Henrique Silva na revista para se referir a estudiosos que não iam a campo.

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aproveitamento de certos ossos provavelmente omoplatas, utilisados para bater

roupa” (Informação Goyana, Anno II, RJ, 03/1918, vol. II, n. 08).

Ao identificar as informações inverídicas, Henrique Silva busca desqualificar os

autores, e recorre a Raimundo José da Cunha Mattos43, que no início do século XIX,

percorrendo a mesma região, afirma que “Tem-se encontrado aqui em Goyaz varias ossadas

fosseis gigantescas, talvez de amphybios. Eu vi os restos de uma encontrada junto a Pilar no

dia 13 de abril de 1818, era de 35 palmos de comprido”44. Esse fragmento é emblemático

porque indica o quanto o diretor da revista estava atento às publicações sobre Goiás, não

deixando passar em branco nem mesmo se existiram ou não fósseis no estado. Sendo os

autores Arthur Neiva e Belisário Penna autoridades das ciências, era importante esclarecer em

outra fonte aquelas informações, na opinião do major, inverídicas45. Contudo, não apenas o

autor/leitor Silva soube tecer críticas às superficiais publicações sobre seu Estado; procurou

também reconhecer relevantes produções acerca de Goiás.

Em outra edição da revista de janeiro de 1919, no artigo Riquezas nativas de Goiás

parte II, encontra-se o autor da revista enumerando autores como Saint Hilaire, Burchet,

Gardner, Weddel, Pohl, André Rebouças e Ernesto Ule para ressaltar a riqueza da flora e as

imensas possibilidades de Goiás vir a se destacar no campo da pecuária. Defende a riqueza da

flora, dá grande destaque à diversidade no planalto central do Brasil46 de gramíneas, que, por

sua vez, tem relação direta com o desenvolvimento da pecuária em Goiás. Para este

autor/leitor, em Goiás encontram-se dezenas de gramíneas de alto valor nutritivo; acrescenta

que nesse estado se desenvolveram as três raças bovinas do Brasil: Curraleira, Mocha e

Caracú. Em relação à superioridade, quantidade e diversidade de gramíneas, o goiano não

deixa de fazer comparações com outros estados, que basicamente têm apenas um tipo dessa

folhagem. Ao mencionar alguns fragmentos extraídos de suas publicações, espera-se reforçar

a tese da pesquisa: os textos de Henrique Silva publicados tanto em O Paiz quanto em a

Informação Goyana constituíram dois grandes projetos, conforme pontuado em vários

momentos deste estudo: o Desenvolvimento de Goiás e Memória, ambos construídos

concomitantemente47. Passa-se a sua escrita,

43 Cabe destacar que Raimundo José da Cunha Matos foi o terceiro, perdendo para Saint Hilaire e Taunay autor

mais citado por Silva durante suas publicações assinadas em a Informação Goyana. 44 Informação Goyana, Anno II, RJ, 03/1918, vol. II, n. 08, apud, Chorographia Histórica da Província de Goyaz. 45 Além de Cunha Mattos, Henrique Silva menciona também o padre dr Henrique Raymundo dês Guenettes. 46 Para Henrique Silva, o Planalto Central do Brasil compreende o Oeste de São Paulo; Triângulo Mineiro; Goiás

e Mato Grosso. (Informação Goyana; ano IX, RJ, 12/1926, vol. X, n. 05). 47 A partir de dois caminhos: uma escrita de si (auto)biográfica no jornal O Paiz e a recepção do leitor diante dos

textos publicados por Henrique Silva no periódico mensal.

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A riqueza econômica, porém, da flora goyana, toda, ou por excellencia, nas

innumeras espécies e variedades não estudadas, ainda, das suas plantas uteis,

como sejam as medicinaes, as textis, as de látex, as tinturarias, as taníferas, etc.

Não devemos esquecer, iguamente, o papel de subido interesse e valor

econômico que há de representar no desenvolvimento futuro da pecuária no

Brasil, a riqueza incomparável das gramineas e leguminosas forrageiras da

província floristica goyana.

[...] em Goyaz os criadores nem ao menos sabem qual indicar como a mais

nutritiva do seu gado, tantas e tão excellentes são as que viçam nos seus campos

agrestes, crescem nas capoeiras, invadem as plantações do homem, trepam

pelas cercas das roças, enlaçam-se ás touceiras do milharal – como sucede com

a jequirana, uma leguminosa que insistimos ainda em consideral-a succedanea

das alfafas.

[...] Foi nesses campos promissores que, graças igualmente ás condições do

meio, se formaram as tres primeiras raças bovinas do Brasil: “Curraleira”,

Mocha” e “Caracu”. A Curraleira, foi dellas tres a que se caracterizou

primeiro, nos campos nativos dos sertões de Amaro Leite...(Informação Goyana,

ano III, RJ, 01/1919, vol. II, n. 06, p. 93/94).

Vale ressaltar que no artigo do qual esse fragmento foi retirado, as produções dos

viajantes foram utilizadas para embasar os argumentos de Silva. Entretanto, na mesma

produção ou texto a que pertence esse trecho o autor tece fina crítica aos cronistas que

passaram rapidamente em Goiás, principalmente pelas estradas reais48. Novamente, se depara

com as diferentes maneiras de recepção de um texto. Seja lá o que autor pensou ao escrever,

deve-se ficar atento: o texto não é uma camisa de força, fechado em si mesmo. Há fissuras

que possibilitam ao leitor outras interpretações49. Viu-se que o mesmo ocorreu com os textos

de Silva e seus leitores e que nem todos estiveram em consonância a tudo o que este escreveu.

Evidentemente, são poucos os sinais deixados por seus leitores em a Informação Goyana.

Entretanto, não se deve esquecer que o meio de comunicação era dirigido pelo major goiano e

que, muito provavelmente, todas as “cartas dos leitores” passavam pelo seu filtro antes de

serem publicadas. De todos os temas listados na Tabela 2, a questão dos limites entre os

estados vizinhos e Goiás rendeu muitos artigos.

Desse modo, julga-se relevante acompanhar como o editor da revista defendia os

interesses de Goiás nesses conflitos. Frisa-se que o fragmento de texto ora apresentado foi

retirado de um artigo com o seguinte título: Limites entre Goyaz e Matto Grosso IV50 – Laudo

arbitral de um juiz arbitrário, publicado em março de 1921. Afirma o autor,

48 Henrique Silva faz grande uso das contribuições dos viajantes em suas produções textuais. Anexa tabela

contendo nome dos autores e a quantidade vezes em que foram mencionados. 49 Paul Ricouer; Iser Wolfgang. 50 Total de oito artigos publicados sobre o assunto.

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Continuemos a enumerar uma por uma todas as invencionices, inverdades e

mystificações de Cândido Mendes no seu cego e escandoloso proposito de dar

ganho de causa aos mattogrossenses.

Faltando á verdade como de costume, escrevia o caduco geographo, que o

projecto da Camara dos deputados de 20 de julho de 1864 foi alvitrado pelo

presidente Goyaz, que achava essa medida indispensavel para abertura de uma

estrada até ás margens do rio Taquary! Completa a sua invencionice

asseverando “que essa estrada se fez por parte de Matto Grosso na

administração de Herculano Ferreira Penna como consta do Relatorio do

presidente de Goyaz, do anno de 1864. Pêta!...

Basta dizer que tal estrada (cujo o ponto de partida Candido Mendes

propositalmente ocultou) foi mandada construir em 1863 pelo então presidente

de Goyaz, General Couto de Magalhães, como consta do seu offício ao Marquez

de Olinda, transcripto á pagina 46 da nossa Memoria justificativa dos limites de

Goyaz. Esta estrada partia da Capital goyana e alcançava Coxim, com um

percurso de 80 leguas. Por Ella seguiram os contigentes de Goyaz que em 1865

se incorporaram em Coxim ás forças expediccionarias que invadiram o

Paraguay, ao mando do coronel Camisão (vide Taunay – Retirada de

Laguna)(Informação Goyana, ano V, vol. IV, n. 08, págs. capa e 58).

O fragmento longo foi inevitável, uma vez que era necessário demonstrar dois

momentos no texto: a reivindicação de Mato Grosso e a forma como Henrique Silva

desqualificava os textos produzidos contra os interesses de Goiás. Isso não apenas através de

atitude incisiva, mas também fundamentando “factos e algarismos exactos que tantas vezes

em livros e na imprensa se tem propalado acerca da terra goyana”51. Em outra edição da

revista, encontra-se estampada na capa o título GOYAZ! Estrela solitária do Brasil. Nela, o

autor se baseia em dados disponíveis através de autores como Diogo de Vasconcelos, Silvio

Romero, padre Manoel de Siqueira, Montoya para tirar do esquecimento os homens que

descobriram Goiás. Observa o jornalista do periódico: “Como eu poderia dizer das cousas da

minha terra natal sem evocar primeiramente os nomes daquelles que a descobriram e

povoanam-n’a?”. Adiante, lembra a frase de Frei Vicente Salvador para senão retirar, pelo

menos diminuir, a relevância dada para outros com exagero de gloria, que pouco se

distanciaram do litoral, arranhando as praias como caranguejos. Ainda criticando esses

estudiosos que se pautaram nos cronistas, Silva enuncia que:

Imbuidos das leituras dos nossos sediços chronistas coloniaes, mais em

destaque, de mais fácil acquisição, quase todos os ensaístas, historiadores,

philosophos e poetas contemporâneos se fizeram ou fazem pregoeiros de

insignificantes interpresas sertanistas, que nem de longe se podem comparar,

quando mais igualarem ou excederem em audácia e grandeza, ás de esquecidos

ou desdenhados sertanistas que, linhas adiante, com justiça, envidaremos tirar

de um como que systematico ostracismo histórico, neste momento precisamente

de tão pronunciada tendência para o estudo das nossas cousa nacionalistas, dos

paramos do interior, particulamente (Informação Goyana, ano IX, RJ, 02/1927,

vol X, n. 07).

51 A Informação Goiana, ano 01, vol. 01, n 01, 15/08/1917.

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Mais à frente em seu artigo, Silva afirma que Goiás e Mato Grosso precisam ser

redescobertos, mas antes que isso ocorra, é necessário fazer justiça e agradecimento aos

primeiros desbravadores dessas terras. Ao final de seu texto, o jornalista cita o nome Antonio

Pires de Campos como o mais humano dos bandeirantes. É ele e não Manoel Correa que

merece a glória por ter descoberto as minas Araés. Pessoas que muito contribuíram para o

engrandecimento de Goiás ou tiveram destaque em seu campo de atuação não deveriam ser

esquecidas. Nesse sentido, publicou À memória do dr. Alberto Lofgren (01/1919, p. 87). Um

ano depois, escreveu a biografia do pai, com o título Comendador Francisco José da Silva em

três partes.

Nessas publicações, salientou a importância do biografado para Goiás, iniciando por

sua origem, o pai Vicente Miguel da Silva, que foi um dos dezenove eleitores que elegeram

em Vila Boa, o presidente e demais membros do governo provisório. Seu filho Francisco José

da Silva, ainda jovem, casou-se com Anna Rodrigues de Moraes, filha de família poderosa em

Jaraguá. Dos dezoito anos em diante o comendador ocupou diversos cargos em Bonfim52.

Sobre a importância do comendador, o diretor geral da revista tece importante considerações,

Nenhuma deliberação sobre as causas de Goyás era tomada, tanto na capital da

província como na Côrte, sem que fosse de qualquer modo ouvida a opinião

sempre acatada do Coronel Chiquinho, do Bomfim, como ea mais conhecido o

abnegado patriota.

Manda, porém, a verdade que o digamos – que essa influencia real só era

exercida para o bem publico de Goyas. Delle poder-se-ia dizer “que do seu

partido não queria sinão que o deixasse immaculado e quee lhe permittisse

servir a Patria”, e mui especialmente a sua província. Politico militante por

espaço de mais de meio século, nunca acceitou compromissos ou allianças

duvidosas – preferindo, nas difficeis circumstrancias, quando estava em jogo o

nome caro de um amigo, dar outro por si, abstendo-se então da causa, que He

parecia sem interesse algum para a sua terra (Informação Goyana, 12/1919 a

02/1920).

Destaca-se que em leitura mais atenta é possível identificar, em diversos artigos de

Henrique Silva, sua preocupação com a memória. Em muitos casos, além dos já citados,

percebe-se esse traço em sua escrita, seja no artigo O Levanto53, que discorre sobre as

caçadas, ou tantos outros, como As mil e uma noites do sertão – seus pró-homens54; os

victimados por amor de Goyaz55; Poetas Goyanos56; Páginas esquecidas: Folk-lore do Brasil

52 Ver capítulo 1, dessa pesquisa. 53 Informação Goyana, 08/1925: 08. 54 A Informação Goyana, 08/1917:03. 55 Informação Goyana, 12/1920: 39. 56 Informação Goyana, 11/1922: 28 a 30.

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Central.57 Todas essas publicações, em a Informação Goyana como também no jornal diário

O Paiz, formam um conjunto que pode ser validado como projeto para alçar Goiás entre os

estados mais desenvolvidos da nação e, ao mesmo tempo, esculpir sua imagem, a de Henrique

Silva, de como deveria ser lembrado pelos goianos.

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