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A RELAÇÃO ENTRE O APRENDER E O BRINCAR: UMA PERSPECTIVA PSICOPEDAGÓGICA Mirtes França Apaz Clério Cezar Batista Sena Joicy Midiã Figueiredo Macedo Matheus Soares 1 Especialistas em Psicopedagogia e Educação Especial Inclusiva: E-mail: [email protected] , [email protected] , [email protected]. 1 Mestre em Educação: Psicologia da Educação. E-mail: [email protected] Resumo O presente artigo ressalta a importância de ensinar através do lúdico, ou seja, das brincadeiras e brinquedos como recursos facilitadores de aprendizagem da criança, usado como subsídio do conhecimento e desenvolvimento que desperta o gosto pelo aprender de forma prazerosa, oferecendo oportunidades de aprendizagem com atividades lúdicas, construindo o saber e valores sociais para formação da cidadania. A brincadeira elabora concepções sobre a cognição, cultura, educação, motricidade, valores sociais e afetividade sendo importante na mediação do conhecimento. Favorece os vínculos, postula o resgate do brincar, como específico da fase de desenvolvimento infantil, visto em seu universo que contempla quem desta estratégia faz uso, possibilitando o sucesso na aprendizagem, promovendo o crescimento individual e social. O lúdico é uma forma de recurso mediadora nas interações de educar, brincar e formar. Palavras-chave: lúdico, brincadeiras, desenvolvimento, aprendizagem 1 INTRODUÇÃO É fundamental que os educadores tenham ampla apropriação de técnicas educacionais que valorizem o lúdico e propiciem jogos, danças, brincadeiras e desenhos capazes de instruir no sentido de dar condições de o educando desenvolver noções de regras, espaço e tempo, além do fato de divertir e instigar a imaginação e a criatividade, aumentando as possibilidades de interação com o outro e com o mundo. O jogo é reconhecido como meio de fornecer à criança um ambiente agradável, motivador, planejado e enriquecido, que possibilita a aprendizagem de várias habilidades. Em Psicologia, aprendizagem é o processo de modificação da conduta por treinamento e experiência, variando da simples aquisição de hábitos à técnicas mais complexas. Por desenvolvimento, a designação do ato de desenvolver, progredir, crescimento paulatino. A brincadeira infantil é um importante mecanismo para o desenvolvimento da aprendizagem da criança.

A RELAÇÃO ENTRE O APRENDER E O BRINCAR

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A RELAÇÃO ENTRE O APRENDER E O BRINCAR: UMA PERSPECTIVA PSICOPEDAGÓGICA

Mirtes França Apaz

Clério Cezar Batista Sena Joicy Midiã Figueiredo Macedo

Matheus Soares

1 Especialistas em Psicopedagogia e Educação Especial Inclusiva: E-mail: [email protected], [email protected],

[email protected].

1 Mestre em Educação: Psicologia da Educação. E-mail: [email protected]

Resumo O presente artigo ressalta a importância de ensinar através do lúdico, ou seja, das brincadeiras e brinquedos como recursos facilitadores de aprendizagem da criança, usado como subsídio do conhecimento e desenvolvimento que desperta o gosto pelo aprender de forma prazerosa, oferecendo oportunidades de aprendizagem com atividades lúdicas, construindo o saber e valores sociais para formação da cidadania. A brincadeira elabora concepções sobre a cognição, cultura, educação, motricidade, valores sociais e afetividade sendo importante na mediação do conhecimento. Favorece os vínculos, postula o resgate do brincar, como específico da fase de desenvolvimento infantil, visto em seu universo que contempla quem desta estratégia faz uso, possibilitando o sucesso na aprendizagem, promovendo o crescimento individual e social. O lúdico é uma forma de recurso mediadora nas interações de educar, brincar e formar. Palavras-chave: lúdico, brincadeiras, desenvolvimento, aprendizagem 1 INTRODUÇÃO É fundamental que os educadores tenham ampla apropriação de técnicas educacionais que valorizem o lúdico e propiciem jogos, danças, brincadeiras e desenhos capazes de instruir no sentido de dar condições de o educando desenvolver noções de regras, espaço e tempo, além do fato de divertir e instigar a imaginação e a criatividade, aumentando as possibilidades de interação com o outro e com o mundo.

O jogo é reconhecido como meio de fornecer à criança um ambiente agradável, motivador, planejado e enriquecido, que possibilita a aprendizagem de várias habilidades. Em Psicologia, aprendizagem é o processo de modificação da conduta por treinamento e experiência, variando da simples aquisição de hábitos à técnicas mais complexas. Por desenvolvimento, a designação do ato de desenvolver, progredir, crescimento paulatino. A brincadeira infantil é um importante mecanismo para o desenvolvimento da aprendizagem da criança.

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2 No entanto, para muitos educadores, a instrumentalização didática e pedagógica de jogos, danças, brincadeiras e desenhos não são reconhecidas como atividades que provoquem situações de aprendizagem significativa. Por tal compreensão é relegada a um plano inferior. Essa constatação levou Macedo, Petty & Passos a afirmarem:

“É pena que na escola fundamental e, às vezes, até na escola de educação infantil não demos tanto valor para os esquemas lúdicos das crianças. Rapidamente lhe impomos aquilo que constitui nossa principal ferramenta de conhecimento e domínio do mundo: os conceitos científicos, a linguagem das convenções e os signos arbitrários, com seus poderes de generalidades e abstração” (MACEDO, PETTY & PASSOS, 2005, p.20).

Atualmente, muitas escolas públicas e particulares não contemplam em seu quadro de magistério profissionais com habilitação em Psicopedagogia. Embora ultimamente muitas escolas particulares contemplem em seu quadro funcional profissionais das áreas humanistas que atuam de forma multidisciplinar no processo de ensino-aprendizagem, tal procedimento demonstra interesse em contribuir com a evolução dos índices educacionais auferidos nas avaliações do ensino básico, conforme resultados divulgados pelos órgãos de pesquisa governamental. Neste cenário, é quase inconcebível que os órgãos superiores (Ministério da Educação e Cultura e Secretarias da Educação dos Estados e Municípios) continuem a ignorar a imprescindibilidade do suporte psicopedagógico nas instituições educacionais públicas.

Essa insensibilidade tem afetado de forma indelével a imagem do professor, que em sala de aula

precisa assumir funções que não lhe são específicas, que embora sejam funções educacionais, não devem ser desenvolvidas em sala de aula de forma coletiva. Nesta trama torna-se salutar a atuação de todos os envolvidos no processo pedagógico, com especial atenção ao profissional da educação que contaria sempre com ajuda de Psicopedagogos para orientá-lo na utilização de técnicas psicolúdicas com intuito de fornecer ao educando possibilidade de auto percepção no processo de aprendizagem, dos princípios normativos e das relações interpessoais a serem edificadas em sua formação. Este procedimento dará ao educando condições de mudanças em si mesmo e no âmbito da convivência social.

A utilização de procedimentos didáticos que incluam elementos lúdicos pode apresentar características que contribuam para uma boa proposta no desenvolvimento de princípios normativos, éticos e humanos, ampliando a relação pedagogo-aluno, estreitando os laços professor-educador com uma instituição educacional que se preocupa com o cotidiano escolar e possibilita uma atividade prazerosa em vista da formação ético-moral na criança em processo de humanização. Vejamos o que nos fala Piaget, em relação à busca da autonomia pelas crianças:

“Vemos surgir o sinal de quando ela descobre que a veracidade é necessária nas relações de simpatia e de respeito mútuos. A reciprocidade parece, neste caso, ser fator de autonomia. Com efeito, há autonomia moral, quando a consciência considera como necessário um ideal, independentemente de qualquer pressão exterior. Ora, sem a relação com outrem, não há necessidade de moral: o indivíduo como tal conhece apenas a anomia e não a autonomia. Inversamente, toda relação com outrem, na qual intervém o respeito unilateral, conduz à heteronomia. A autonomia só aparece com a reciprocidade, quando o respeito mútuo é bastante forte, para que o indivíduo experimente interiormente a necessidade de tratar os outros como gostaria de ser tratado”.(PIAGET,1998,p.155).

Podemos constatar que a prática de jogos, danças, brincadeiras e desenhos possibilitam o desenvolvimento da autoconsciência do educando, permitindo-lhe uma análise sobre a aprendizagem vital e, além do mais, há uma salutar predominância das relações interpessoais.

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3 Por meio dos jogos, danças, brincadeiras e desenhos como métodos de aprendizagem significativa, o educando será processualmente automotivado a estreitar as relações interpessoais, a fim de compreender as normas de convivência, desenvolvendo a criatividade e a eficiência com a exploração de estratégias construtoras de aspectos reflexivos e críticos em que uma atividade lúdica poderá obter insights para ações transformadoras na vida cotidiana do educando. O que nos leva a perceber que nenhuma criança chega à maturidade se inserida em ambientes de incertezas, temores e abandono. Possibilitar que as crianças tenham acesso a patrimônio lúdico é redimensionar a arte de educar dentro do contexto histórico. Os brinquedos e as brincadeiras carregam em si um arsenal de temporalização e constituem o testemunho vivo da história da humanidade das quais os seres humanos são ao mesmo tempo protagonistas e espectadores. Compreende-se assim o significado e o significante dos jogos e brincadeiras, que Bettelheim explicitou em sua obra mais tocante sobre a temática:

“A brincadeira como atividades de criança pequena, caracterizada por uma liberdade total de regras, excetuando-se as pessoalmente impostas, pelo envolvimento solto da fantasia; e pela ausência de objetivos fora da atividade em si. Quanto aos “jogos”, por outro lado, são, de regra, competitivos e caracterizados por uma exigência de se usar os instrumentos da atividade do modo para o qual foram criados, e não como a imaginação ditar, e frequentemente por um objetivo ou propósito externo à atividade em si, como por exemplo, o de ganhar” (BETTELHEIM, B.,1988. p.157).

Somos concordes sobre a afirmação acima, mas sabemos que o momento decisivo da constituição do espírito de disciplina é a vida escolar. E também sabemos que na família, as tendências altruístas e os sentimentos de solidariedade predominam sobre o dever. É, portanto, na escola o ambiente mais adequado para incutir as regras. Constatamos que nesta tarefa encontra-se a incumbência maior dos educadores atuais. Então, a descoberta dos jogos como procedimento didático constitui um grande aliado dos educadores para a consolidação dos princípios éticos e morais nos educandos.

2. BRINCAR: UMA NECESSIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

A infância é um período de aprendizagem necessário à idade adulta. É um laboratório de aprendizagem, permitindo o aprender. De acordo com Chateau (1987, p.14): “ É pelo brinquedo que crescem a alma e a inteligência (...) uma criança que não sabe brincar, uma miniatura de velho, será um adulto, que não sabe pensar”.

Brincar é uma necessidade interior, tanto da criança quanto do adulto. Por conseguinte, a necessidade de brincar é inerente ao desenvolvimento. A criança brinca para ganhar experiência, exercitar sua criatividade e fantasia. Brincando, ela organiza o mundo, domina papéis, situações e se prepara para o futuro. Durante os primeiros anos de vida, a criança brinca, joga, imita, experimenta e, com isto, multiplica suas possibilidades de ação, aprendendo a realidade. Aos poucos, ela passa dos movimentos puramente mecânicos, sugeridos por determinados objetos e aos quais o adulto ou as outras crianças vão emprestando significados, para uma atividade lúdica essencialmente humana, na qual a criança experimenta processo de conscientização: O brinquedo é um meio de demonstrar as emoções e criações da criança. É um parceiro silencioso que desafia as crianças, permitindo que as mesmas conheçam com mais clareza importantes funções mentais, como o desenvolvimento do raciocínio abstrato e da linguagem. Na concepção de Winnicott (1975,p.210) afirma que:

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4 Ela satisfaz certas necessidades através do brinquedo e essas necessidades passam por um processo de maturação. Exemplifica essa situação com o inicio da fase pré-escolar. No inicio a criança tem seus desejos como algo que não podem ser imediatamente satisfeitos, permanecendo num estagio precedente, isto é uma tendência para a satisfação imediata dos desejos. Para resolver essa tensão, a criança (4 a 6 anos) envolve-se num mundo ilusório e imaginário, na qual seus desejos não realizáveis podem ser realizados nesse mundo, é o que chamado de “brinquedo”. (WINNICOTT, 1975, p.210).

A criança necessita brincar, pois, sem o brincar, ela queima etapas, deixa lacunas que, no futuro, se manifestarão como bases instáveis da personalidade. O brinquedo é a estrada que a criança percorre para chegar a algo, revelar segredos, desfazer temores, explorar o desconhecido, poder dar ordem e exigir obediência, enfrentar a morte, escuridão, incêndio, brigas, solidão, tristeza, alegrias. Assim, as brincadeiras adequam a capacidade de assimilação e compreensão, filtrando o cognitivo e o afetivo. O ambiente de brincadeiras é propício para a aprendizagem significativa, promovendo o desenvolvimento da criança. O brincar está na essência do processo de construção social da personalidade da criança. Pela brincadeira, objetos e movimentos são transformados e as relações sociais em que a criança está imersa são elaboradas, revividas, compreendidas. Muitas são as concepções sobre o brincar, o seu lugar e sua importância na prática pedagógica. Aqui, enfatizamos sua condição como forma de aprender, experimentar-se, relacionar-se, imaginar-se, expressar-se, compreender-se, confrontar-se, transformar-se, negociar-se e ser. Esta prática social envolve uma atividade simbólica, forma de interação com o outro, criação, desejo, emoção e ação voluntária. Brincar favorece o desenvolvimento em uma perspectiva social, afetiva, cultural, histórica e criativa. Segundo Winnicott, (1971, p.87): “A brincadeira é sinal de saúde, pois dificilmente uma criança que está bem se nega a entrar em uma atividade lúdica”

3- O LÚDICO COMO MOTIVAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL Vygotsky produziu um campo técnico no qual privilegia a linguagem e o significado no desejo de brincar. Quando uma criança evoca, através de uma palavra, um determinado objeto, está explorando, através de signo, as possíveis relações deste objeto com outros objetos, coisas e pessoas e construindo o conceito referente àquele objeto. No nível mental, estará expandindo o imaginário ao substituir elementos concretos por abstratos, colocando-os numa condição de movimentação espacial e temporal e mais amplos estará expandindo os elementos fundamentais para a imaginação. O brinquedo cria uma região de tensão criativa, à qual Vygotsky denominou de Zona de Desenvolvimento proximal: “região” de domínio psicológico em constante transformação, representada pela distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial. No brinquedo, a criança sempre age como se ela fosse maior do que é na realidade, “como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento de forma condensada, sendo, ele mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento”, (VYGOTSKY, 1989, p.117).

O brincar é muito importante para o desenvolvimento infantil, partindo do sensório motor para as seguintes etapas determinadas conforme as teorias propostas por Piaget:

O jogo é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação da real à atividade própria, fornecendo a esta seu

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5 alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem todos que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil. (PIAGET 1976, p.160).

Nesta perspectiva, o brincar, faz com que a criança explore e expanda o real. Conseqüentemente amplia o imaginário e desenvolve sua inteligência. Na expansão dos conceitos, através das generalizações que a criança faz, propicia o movimento criativo e contribui para a construção da inteligência.

4- A IMPORTÂNCIA DA BRINQUEDOTECA NO ESPAÇO ESCOLAR Na Brinquedoteca, as potencialidades e habilidades das crianças são despertadas e desenvolvidas de maneira natural, sem forçá- lãs a atividades que não gostam ou que não lhe despertam interesse. Brincar é indispensável à saúde física, emocional e intelectual da criança. É uma arte, um dom natural que, quando bem cultivado, irá contribuir, no futuro, para a eficiência e o equilíbrio do adulto. A Brinquedoteca favorece a ludicidade, tão importante para a saúde mental do ser humano, resgatando um espaço para a expressão mais genuína do ser, é o espaço do exercício da relação afetiva com o mundo, com as pessoas e com os objetos. Na concepção de Fernandez (1990) diz:

“O saber se constrói... fazendo próprio o conhecimento do outro e a operação de fazer próprio conhecimento do outro só se pode fazer jogando. Aí encontramos uma das interseções entre o aprender e o jogar” (1990).

Pessoas quando colocadas frente a situações de aprendizagem apresentam modos, jeitos, diferentes de se apropriarem do conhecimento aqui estão a que estão sendo submetidas. Em 20 de Dezembro de 1996, entrou em vigor no Brasil a Lei 9394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Nessa Lei, vemos que a educação escolar compõem-se de educação básica e educação superior. A educação básica é formada por educação infantil, ensino fundamental e ensino médio (art 21). Onde aponta que a educação infantil é o desenvolvimento integral da criança complementando a ação da família e da comunidade. O Ministério da Educação e do Desporto com a extensão de auxiliar os profissionais em educação infantil elaborou os Referencias Curriculares Nacionais (R.C.N) com a intenção “de que sirvam como guia de reflexão de cunho educacional sobre objetivos, conteúdos e orientações didáticas, respeitando seus estilos pedagógicos e a diversidade cultural brasileira”(1998:8). O brincar, jogos e brincadeiras constam como recursos necessários na construção da identidade da autonomia infantil e das diferentes linguagens das crianças (verbais e não verbais). Estávamos num espaço onde os brinquedos eram organizados em cantos temáticos estimulando a livre expressão, a saber: o faz-de-conta (onde tínhamos os espelhos, fantasias, pulseiras, colares, perucas, sapatos...), o canto musical (pianinho, pandeiro, chocalho e etc), o canto da leitura (gibis, livros), o das letras (escrito das crianças e o abecedário), o dos números (jogos envolvendo símbolos numéricos e a reta numerada), jogos livres (o que as crianças julgavam assim, não os identificando com nenhum item anterior) e o super mercado (latinhas de comida, frutas, bebidas). As brincadeiras que compõe o repertório infantil variam conforme a cultura nacional apresentam-se como oportunidades privilegiadas para o desenvolvimento infantil. Sendo uma ação que ocorre num plano da

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6 imaginação que tem o domínio da linguagem simbólica, propiciando auto-estima da criança auxiliando a superar progressivamente suas aquisições de forma criativa bem como a resolução de problemas. O papel do educador é muito importante, pois possibilita organizar este espaço respeitando o desempenho das crianças participando junto com elas. Essa intervenção deve funcionar não como invasão, mas como parceria, compartilhando o momento através de perguntas, ações que forneçam a solução de problemas vividos, a consciência de si e do ambiente. “sala do brincar, sala das brincadeiras, sala da alegria, brinquedoteca”. Lidar com essa sala do brincar exige o conhecimento de como a criança aprende de como o adulto aprende, e de como foi o seu jeito de brincar durante seu percurso de vida. Saber brincar significa socializar-se com as pessoas, comunicar-se com a realidade, garantir trocas, negociar sentimentos, conflitos, aceitar-se aprender a gostar de si mesmo apesar das diferenças. É o inicio de uma longa caminhada onde a solidariedade, o lidar com o limite sem medo de forma espontânea se tornam alavanca para um trabalho de qualidade.

Piaget ressalta a importância do brincar como fator necessário nos estágios do desenvolvimento de

uma criança:

O jogo é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação da real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem todos que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil. (PIAGET,1976, p.160).

Pode-se perceber a importância dos jogos e brincadeiras infantis para o desenvolvimento intelectual e social da criança, mas faz-se necessário também associar os mecanismos da aprendizagem com a integridade do sistema nervoso. Crianças com algum tipo de problema neurológico ou motor necessitam de materiais especialmente criados, para auxiliá-las nas atividades pedagógicas.

Diante de tudo que fora mencionado, pode-se dizer sem sombra de dúvida que o lúdico é importante sim para uma melhoria na educação e no andamento das aulas, provocando uma aprendizagem significativa que ocorre gradativamente e inconscientemente de forma natural, tornando-se um grande aliado aos professores na caminhada para bons resultados.

E que é dever do professor mudar os padrões de conduta em relação aos alunos, deixando de lado os métodos e técnicas tradicionais acreditando que o lúdico é eficaz como estratégia do desenvolvimento na sala de aula.

Espera-se que esta proposta de abordagem vá de encontro com o que foi proposto realizar, e essencialmente, que seja de suporte para professores que já atuam no ambiente escolar, e aos futuros professores a tornar suas aulas mais dinâmicas fazendo com que a sala de aula se transforme num lugar prazeroso, construindo a integração entre todos que a freqüentam.

A educação tem por objetivo principal formar cidadãos críticos e criativos com condições aptas para inventar e ser capazes de construir cada vez mais novos conhecimentos. O processo de Ensino/Aprendizagem está constantemente aprimorando seus métodos de ensino para a melhoria da educação. O lúdico é um desses métodos que está sendo trabalhado na prática pedagógica, contribuindo para o aprendizado do alunado possibilitando ao educador o preparo de aulas dinâmicas fazendo com que o aluno interaja mais em sala de aula,

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7 pois cresce a vontade de aprender, seu interesse ao conteúdo aumenta e dessa maneira ele realmente aprende o que foi proposto a ser ensinado, estimulando-o a ser pensador, questionador e não um repetidor de informações.

È preciso ressaltar que o termo lúdico etimologicamente é derivado do Latim "ludus" que significa jogo, divertir-se e que se refere à função de brincar de forma livre e individual, de jogar utilizando regras referindo-se a uma conduta social, da recreação, sendo ainda maior a sua abrangência. Assim, pode-se dizer que o lúdico é como se fosse uma parte inerente do ser humano, utilizado como recurso pedagógico em várias áreas de estudo oportunizando a aprendizagem do indivíduo. Dessa forma, percebem-se as diversas razões que levam os educadores a trabalharem no âmbito escolar as atividades lúdicas.

“O brinquedo cria uma Zona de Desenvolvimento Proximal na criança”. (Oliveira, 1977: 67), lembrando que ele afirma que a aquisição do conhecimento se dá através das zonas de desenvolvimento: a real e a proximal. A zona de desenvolvimento real é a do conhecimento já adquirido, é o que a pessoa traz consigo, já a proximal, só é atingida, de início, com o auxílio de outras pessoas mais “capazes”, que já tenham adquirido esse conhecimento.

As maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e moralidade (Vygotsky, 1998).

Piaget (1998) diz que a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança sendo por isso, indispensável à prática educativa (Aguiar, 1977, 58).

Na visão sócio-histórica de Vygotsky, a brincadeira, o jogo, é uma atividade específica da infância, em que a criança recria a realidade usando sistemas simbólicos. Essa é uma atividade social, com contexto cultural e social.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS O maior desafio como Psicopedagoga é conseguir que a criança se reintegre à vida escolar no dia a dia, seguindo suas possibilidades e interesses, procurando prevenir possíveis problemas e recuperem o que se acha atrasado em seu aprendizado. A Psicopedagogia compreende a aprendizagem humana, buscando caráter interdisciplinar seus conhecimentos, utilizando-se de recursos preventivos, diagnóstico e terapêutico, incluindo o sujeito em suas potencialidades e responsabilidades com base em subsídio teóricos e práticos que fundamenta e permite aos profissionais a análise do processo de aprendizagem do sujeito que aprende e a instituição que ensina. Assim auxiliando ao rendimento escolar, aspectos relacionais, afetivos e cognitivos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, José Serapião. Jogos para o Ensino de Conceitos. Campinas: Papirus, 1997.

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8 BRASIL, Referencial Curricular Nacional. Para educação infantil. Ministério da educação e do desporto, 1998 vol.1,2,3. BRASIL, “LEI n.º 9394, de 20.12.96, Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional”, in Diário da União, ano CXXXIV, n. 248, 23.12.96.

BETTELHEIM, B, Uma vida para seu filho. Rio de Janeiro, Campus, 1988. cap.16, p.167-78: Brincadeira como solução de problemas.

CHATEAU, J. (1987). O Jogo e a criança. São Paulo: Summus

FERNANDEZ,Alicia. Inteligência aprisionada. 2ª ed. Porto Alegre: Artes médica, 1990. MACEDO, Lino de; PETTY, Ana Lúcia Sícoli; PASSOS, Norimar Christe.Os jogos e

o lúdico na aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed, 2005. OLIVEIRA, Z. M. R. A criança e seu desenvolvimento: perspectivas para se discutir a educação infantil. São Paulo, Editora Cortez, 1997. PIAGET, Jean. A Formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: ZAHAR, 1998. ___________,. Psicologia e Pedagogia. Rio de janeiro: Forense Universitária, 1976 VYGOTSKY. L.S. O brinquedo e seu papel no desenvolvimento da criança. Lenignado: instituto pedagógico, 1989 __________. A formação social da mente. São Paulo, Editora Martins Fontes, 1998 WINNICOTT, D.W. A criança e seu mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. ______. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro. Imago: 1975.