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A RELAÇÃO FAMÍLIA/ESCOLA PERMEADA PELA ÉTICA
YABUSHITA, Solange Pinheiro & OLIVEIRA, Terezinha 1
Resumo: O texto problematiza o desinteresse dos pais de alunos de escola pública sobre a necessidade de cuidar da educação escolar e não-escolar da criança, com vistas à conservação das relações sociais no âmbito da urbanidade. Tem o objetivo de refletir sobre a ética como pensamento primordial para orientar as ações humanas. Fundamenta-se em pesquisa bibliográfica sobre ética realizada na Universidade Estadual de Maringá (UEM) no Programa de Desenvolvimento Educacional para as Escolas Públicas do Paraná (PDE). Apresenta resultados quantitativos da participação dos pais/responsáveis pelos alunos do Colégio Estadual Lúcia Alves de Oliveira Schoffen no Projeto de Implementação na Escola para refletir sobre a ética na qual a educação e os valores que estamos dando às nossas crianças está baseada.
Palavras-chave: Ética. Educação. Família. Escola. Abstract: This text problematizes parents whose children study in state schools and their indifference towards the necessity of taking care of their child’s school education, as well as their breeding, concerning the maintenance of social relationships in the scope of urbanity. It aims at thinking over the ethics as the main thought to guide human actions. It is based on a bibliographical research about ethics accomplished in the State University of Maringa through the Educational Development Program for State Schools of Parana State (PDE). It shows the quantitative results of the participation of schoolchildren’s parents/tutors, who study at Colégio Estadual Lúcia Alves de Oliveira Schoffen in the Program of Implementation in School whose goal was to think over the ethics in which the education and values we are giving our children is based. Key-Words: Ethics. Education. Family. School. 1 Solange Pinheiro Yabushita é professora pedagoga participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), lotada no Colégio Estadual Lúcia Alves de Oliveira Schoffen – Altônia – PR. e Terezinha Oliveira é professora-doutora, docente da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e orientadora do presente estudo.
2
Introdução Há muitas crises que se apresentam na contemporaneidade que estão sendo
pesquisadas e analisadas por cientistas político-sociais e pontuadas pelo mundo
acadêmico. Estas ocorrem em todas as áreas - sociais, culturais, políticas, religiosas
e outras - e são veiculadas pela mídia. A que interessa para esse estudo é a crise
da ética, no âmbito da realidade escolar.
Como afirma Boff (2002) “[...] nosso tempo se caracteriza por uma crise
generalizada que atinge os fundamentos das convicções estabelecidas, das
culturas, das religiões, dos valores, das políticas e do cotidiano”. Para ele, a raiz do
problema é explicável: o eixo estruturador de nossas sociedades criou um tipo de
economia que se assenta na “[...] troca competitiva e nada cooperativa. Só o mais
forte triunfa” (2002, p.14). Segundo o autor, essa inspiração para a competição gera
o individualismo, a acumulação e o consumismo – três fortes marcas da sociedade –
que colaboram com a instalação das crises da atualidade, dentre as quais a já
referida crise da ética.
Com efeito, a questão da ética ocasiona um fenômeno social preocupante
dada sua influência na qualidade de vida das pessoas. A falta de princípios éticos
mais humanizadores entre os indivíduos afeta diretamente a qualidade de vida de
seu grupo. Da mesma forma, essa falta quando ocorre nos setores organizados da
sociedade, (em especial o político), afeta diretamente a cada homem que deles
depende e, consequentemente, desestrutura o conjunto da sociedade.
Aristóteles trata magistralmente do assunto, em especial, quando vincula ética
ao bem e à felicidade. O mérito maior de sua teoria, a nosso ver, repousa no
tratamento político e prático que ele dá à ética. Político por ter em vista o bem não
só do indivíduo, mas, principalmente para os cidadãos da pólis; prático porque não
basta o conhecimento do bem, mas a ação e a prática desse bem. Aristóteles teoriza
sobre a ética da sociedade e para a sociedade. De forma semelhante, mas em outro
tempo histórico, Morin também procura situar o homem enquanto indivíduo e
espécie num contexto igualmente amplo - a sociedade. Para este último, o
desenvolvimento humano está atrelado às participações comunitárias e a
consciência de pertencimento à espécie humana. Morin atribui, então, grandes
responsabilidades planetárias e sociais a cada indivíduo, pois deste depende o
conjunto da sociedade e o planeta.
3
Com efeito, ambos, Aristóteles e Morin, vêem que as ações e os
procedimentos individuais precisam ser éticos porque têm por finalidade alcançar a
sociedade como um todo e, dessa forma, reestruturá-la para o bem e felicidade.
O ponto de partida desse estudo é a hipótese de que não há como existir o
bem nem a felicidade devido às desigualdades sociais que marcam o atual período
histórico. Estas estão explodindo nas escolas sob forma de marginalização e
violência. As escolas assimilam, e não poderia ser diferente, o momento histórico
que estão vivendo e, por conseguinte, refletem em seu interior, os mesmos conflitos,
desencontros e contradições sociais do seu tempo. Os valores que norteiam a
sociedade atual têm sido a impunidade, o individualismo, o imediatismo, a
corrupção, o consumismo, hedonismo, a indiferença e outros que estão se refletindo
com muita força no comportamento dos alunos e dificultando o ato educativo tanto
para pais, como para professores. Esses valores são disseminados pela mídia e há
famílias que os incorporaram e estão educando seus filhos a partir deles.
Uma visão semelhante pode ser igualmente observada na recente pesquisa
que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) realizou na
definição do assunto do Relatório de Desenvolvimento Humano do Brasil a ser
publicado em 2010. Participaram 500 mil brasileiros respondendo à pergunta: O que
deve mudar no Brasil para sua vida melhorar de verdade? As respostas dadas
apontaram para o tema valores: “Os valores mais citados pelos participantes da
consulta foram respeito, justiça, paz, ausência de preconceito, humanidade, amor,
honestidade, valor espiritual, responsabilidade e consciência”2.
O resultado dessa pesquisa demonstra que a preocupação com questões de
ética já não pertencem apenas aos meios intelectuais e acadêmicos, pois perpassa
de forma generalizada toda sociedade. Nesse sentido, reforça-se a idéia de que
estudos sobre ética são importantes e necessários porque uma vez internalizados,
no campo das possibilidades podem resultar em ações transformadoras.
A propósito disso busca-se na ética, caminhos para enfrentar esses
problemas e verificar em que medida o entendimento do que seja a ética pode
contribuir com a educação das crianças e jovens. Famílias e escolas têm, nesse
2 http://www.pnud.org.br/administracao/reportagens/index.php?id01=3260&lay=apu. Acesso em
16/07/09.
4
contexto, a grande responsabilidade de educar e precisa se conscientizar para agir
dentro de suas reais possibilidades.
Com base nessa expectativa, foi implementado o projeto “A Relação
Família/Escola Permeada pela Ética” no Colégio Estadual Lúcia Alves de Oliveira
Schoffen3, especialmente direcionado para os pais de alunos de 5ª série. Esse
Projeto de Implementação foi resultado de estudos realizados no PDE - Programa
de Desenvolvimento Educacional para as Escolas Públicas do Paraná na
Universidade Estadual de Maringá (UEM) - com o objetivo de refletir sobre a ética
que orienta a educação das crianças e jovens da atualidade. Depois de realizada a
implementação apresentamos, por meio desse artigo, algumas conclusões que
chegamos desse estudo.
Revisão de literatura
O presente estudo considerou importante o conceito de ética de Mário Sérgio
Cortella (2008) porque este assinala os cuidados que, necessariamente, todos têm
que ter na relação com os outros e com seus espaços. Conforme afirma Cortella,
“[...] ética é aquela perspectiva para olharmos os nossos princípios e valores para
existirmos juntos”. E explica que “a palavra ética vem do grego ethos e que até o
século VI a.C. significava ‘morada do humano’. Para ele, então, “Ethos é o lugar
onde habitamos, é a nossa casa” (2008, p. 106).
Segundo Aristóteles, em Ética a Nicômaco toda ação do homem é dirigida à
realização de algum bem, ao qual estão acoplados o bem e a felicidade. Aristóteles,
na sua época, admitia dificuldades em determinar no que consistia esse bem e essa
felicidade. Hoje não é diferente. Continua sendo muito difícil determinar o que é o
bem e quais as coisas que conduzem à verdadeira felicidade. Nesse ponto, já surge
uma questão a ser refletida: que bem é esse que se procura e o que pode ser feito
para alcançá-lo? O que as famílias querem alcançar? Aonde a escola precisa
chegar? A resposta poderia surgir do diálogo que a escola deveria ter com as
famílias dos alunos, uma vez que educar não é um ato isolado, mas que envolve
todo o conjunto da sociedade. Aristóteles defende o bem coletivo como alvo a ser
3 Nesse artigo, usar-se-á a sigla do colégio – CELAOS – quando a ele se fizer referência. Trata-se da única escola pública de 5ª a 8ª série da área urbana do município de Altônia, estado do Paraná.
5
atingido, pois se a felicidade é boa para um só indivíduo, quanto mais para toda a
coletividade.
Aristóteles propõe a vida virtuosa para alcançar a felicidade evidenciando que
um dos objetivos de sua investigação é o exame da natureza dos atos e como
devemos praticá-los. Ele sugere que se pratiquem boas ações e que essa prática se
transforme em hábito. Compara sentimentos antagônicos diferenciando, por
exemplo, a amabilidade e a hostilidade, a covardia e a coragem, a avareza e a
prodigalidade e outras, sugerindo que as virtudes são destruídas pelo excesso ou
pela falta. Para ele, encontrar o justo-meio é a forma de se criar equilíbrio nas
atitudes humanas: “A temperança e a coragem, pois, são destruídas pelo excesso e
pela falta, e preservadas pela mediana” (p. 269). É necessário destacar que para
Aristóteles a escolha mediana é determinada por um princípio racional.
A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consistente numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática (p. 273).
Aristóteles faz, então, uma importante relação entre temperança e
racionalidade ao apelar para o princípio racional – próprio do ser humano. Fica claro
que essa é uma forma de chamar a atenção do homem sobre a responsabilidade
que lhe cabe de tomar decisões pensadas, refletidas, racionalizadas segundo o bom
senso exigido pelos atos virtuosos. E mais: “[...] a felicidade deve ser adquirida pela
aprendizagem, pelo hábito ou por alguma outra espécie de adestramento, ou se ela
nos é conferida por alguma providência divina ou ainda pelo acaso” (p. 258-259).
Não há, portanto, como desvincular as virtudes dos atos que praticamos uma vez
que a virtude intelectual desenvolve-se graças ao ensino e a moral é resultado dos
hábitos. Ele não desvincula aquisição das virtudes da aprendizagem.
Assim, a excelência da ética repousa na prática das virtudes, lembrando que
uma vida virtuosa é aquela regulada pelo equilíbrio entre os extremos: não errando
por excesso ou por falta, o homem será uma pessoa virtuosa e, sendo assim,
aumentam-lhe as possibilidades de encontrar a felicidade.
A crise de valores da sociedade atual recai exatamente no que Aristóteles
chama de meio-termo ou justo-meio, cuja falta acarreta o desequilíbrio decorrente
dos excessos cometidos nos apetites e desejos ofertados pela vida mundana. Esse
6
apego descontrolado aos bens materiais, aos prazeres da vida, ao hedonismo, ao
egocentrismo, são características da sociedade atual e é um sério impedimento para
a vida virtuosa ou ética.
Essa questão é também percebida pelo coordenador da já citada pesquisa do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Flávio Comim. Ele se diz
surpreso com o resultado da pesquisa, pois afirma:
Juraria que, fora um punhado de indignados, uma parcela importante talvez majoritária dos brasileiros tivesse incorporado exatamente o oposto, ou seja, a ausência de qualquer tipo de respeito a valores do tipo honestidade, responsabilidade e consciência (COMIN, 2009).4
Verificando as palavras de Comim com os dados obtidos nesse estudo é
possível depreender que ele estaria enganado ao pensar que a maioria dos
brasileiros tivesse incorporado os contra-valores como modelos para suas atitudes.
Para ele, então, a ética está, de fato, entre os assuntos que mais preocupam o
brasileiro da atualidade. Diante disso, observemos o que a nossa pesquisa nos
instiga: os pais dos alunos das 5ª séries do CELAOS se preocupam em agir
orientados por princípios e valores humanitários e estariam pautando-se do bom
senso na educação de seus filhos. Assim, fariam uso do pensamento racional para
conduzir a vida de seus filhos já que essa preocupação existiria desde o período
aristotélico.
Outra preocupação desse estudo foi verificar se existe interesse dos pais em
assuntos escolares que vão além das notas e aprovação dos seus filhos. E, por fim,
verificar se o interesse e a participação das famílias nas escolas exercem alguma
influência no rendimento escolar de seus filhos.
Para investigar essas questões, usou-se o Projeto de Intervenção na Escola
como amostragem.
4 http://www.pnud.org.br/administracao/reportagens/index.php?id01=3260&lay=apu. Acesso em
16/07/09
7
Metodologia
Contexto da escola de amostragem e público-alvo5
Os estudos sobre ética realizados no PDE, ao se reverterem em prática,
culminaram na criação do Projeto de Implementação na Escola para ser aplicado no
já citado CELAOS. Este é um colégio de grande porte, pois os dados de 2008
apontam 996 alunos de Ensino Fundamental Regular de 5ª a 8ª série e 80 alunos da
Educação de Jovens e Adultos (EJA). A equipe escolar é formada por 81 pessoas
entre direção, professores e funcionários.
Nessa escola propôs-se, então, desenvolver estudos sobre ética com a
recém-chegada população escolar de 5ª série/2009, os 508 pais dos 254 alunos e
iniciar com eles uma cultura diferente: o hábito de escola e famílias discutirem
desafios contemporâneos e refletirem as possíveis formas de enfrentá-los.
O Projeto de Implementação na escola
Para realizar a implementação do projeto optou-se pela formação de círculos
de debates com número limitado de participantes para facilitar a interação dialógica
entre todos. O primeiro passo - a divulgação - foi feita para a quase totalidade dos
pais da escola-alvo. Aproveitamos as três reuniões de início de período letivo que
foram realizadas para os pais do colégio, uma em cada período do dia, de manhã, à
tarde e à noite. A intenção foi assegurar uma divulgação o mais abrangente
possível para que todos tomassem conhecimento do projeto. O convite se deu por
meio de exposição oral apresentando breve perfil da sociedade atual e a
necessidade de uma educação pautada em princípios éticos para melhorar essa
sociedade. Foi apresentada aos pais, por nós, a necessidade de realizar no âmbito
escolar uma discussão sobre a ética que está orientando as ações dos pais e dos
educadores da atualidade. Foi também apresentado o cronograma dos debates com
os dias e horários já estabelecidos e os respectivos temas de cada debate. Sabendo
que a quase totalidade dos possíveis participantes são trabalhadores, optou-se por
5 Fonte: Documentos oficiais da Secretaria da escola: Relatório Final, Relação Nominal por turma e Demanda/Suprimento de professores e funcionários.
8
realizar os círculos de debate no período noturno. Fez-se, a seguir, por meio de uma
lista, a pré-inscrição dos interessados em participar dos debates. Foi reforçado que a
prioridade seria dos pais de alunos de 5ª séries organizados numa turma de 30 pais
para iniciar a implementação e que os demais interessados pré-inscritos seriam
contactados para formar as turmas subseqüentes, logo após a conclusão da
primeira turma. Todos, enfim, teriam oportunidade de participar, mesmo que em
outro momento, independente do tempo.
A temática dos círculos de debates foi assim distribuída:
1º debate: Conceito de família e escola;
2º debate: A ética (por Cortella); a felicidade (por Aristóteles);
3º debate: O justo-meio (por Aristóteles) e o equilíbrio nas ações;
4º debate: Desejos e apetites (por Aristóteles); racionalidade;
5º debate: Hábitos e educação na sociedade atual;
Encerramento: Palestra: Família, escola e educação.
Dos materiais para os debates
Os debates foram desencadeados a partir de material previamente elaborado
em apresentações de slides para data-show, mensagens, textos, sínteses
esquemáticas, músicas, excertos dos autores estudados, excertos de reportagens
obtidos na Internet e, principalmente, os relatos dos pais/responsáveis presentes.
Das fontes para coleta de dados para apurar resultados
Os dados utilizados foram obtidos nos documentos oficiais na secretaria da
escola, especialmente os relatórios de notas emitidos pelo Sistema de Registro
Escolar (SERE), relatório de matrículas, demanda e suprimento da escola, entre
outros. Também foram utilizados materiais produzidos exclusivamente para o Projeto
de Implementação na Escola, as fichas de inscrições e as listas de presenças dos
círculos de debates.
Vejamos a seguir alguns dados coletados a partir da Implementação do
Projeto.
Dados sobre o perfil do colégio, rendimento geral e das 5ª séries – ano 2008
9
A) Quanto ao porte da escola, excluídos os alunos da EJA (ano 2008): • Número de alunos por série 5ª série... 264 alunos – correspondem a 528 pais/responsáveis 6ª série... 265 alunos – correspondem a 530 pais/responsáveis 7ª série... 243 alunos – correspondem a 486 pais/responsáveis 8ª série... 224 alunos – correspondem a 448 pais/responsáveis Total de alunos: 996 – correspondem a 1992 pais/res ponsáveis
Gráfico 1: Número de pais e alunos de 2008, por série. Fonte: Dados fornecidos por documentos da secretaria do colégio: relação de alunos por turma.
O gráfico 1 demonstra que a escola onde se realizou a implementação do
projeto é uma escola de grande porte.
B) Quanto ao rendimento dos alunos (ano 2008)
10
Gráfico 2: Média final dos alunos tendo como amostragem as disciplinas História, Português e Matemática de 2008, por série, para amostragem. Fonte: Sistema Estadual de Registro Escolar (SERE) – Relatório Final de 2008.
77 75 73 74
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
5ª 6ª 7ª 8ª
Gráfico 3: Síntese do gráfico 2. Fonte: Sistema Estadual de Registro Escolar (SERE) – Relatório Final de 2008.
Os dados dos gráficos 1 e 2 demonstram que o nível de aprendizagem dos
alunos do colégio é ótimo, pois as notas estão consideravelmente acima de 60, que
é o mínimo exigido para aprovação. Não poderíamos dizer que o nível é excelente
porque ainda estão aquém da excelência que é a nota 100.
C) Quanto ao rendimento escolar dos alunos das 5ª séries de 2008 Total de Alunos das 5ª séries..................... ................................ 264 – 100,0% Total de alunos aprovados por média........................................... 203 - 76,90% Total de alunos aprovados pelo Conselho de Classe6 .................. 41 - 15,53% Total de alunos que tiveram a nota aproximada pelo professor para atingir o mínimo exigido para aprovação .............. 13 - 04,92% Total de alunos reprovados............................................................ 07 - 02,65% Total de alunos que não alcançaram as notas mínimas exigidas:... 61 - 23,10%
6 Foram aprovados pelo Conselho de Classe em quaisquer das diversas disciplinas do currículo.
11
76,90%
15,53%
4,92% 2,65%
Média ≥ 60
Ap. Conselho
Aproximação pelo Prof.
Reprovados
Gráfico 4: Situação do rendimento escolar dos alunos das 5ª séries de 2008 e suas condições para aprovação/reprovação. Fonte: Ata provisória da Equipe Pedagógica com as notas para discussão e deliberação sobre alteração/permanência pelo Conselho de Classe.
Embora os resultados dos gráficos 2 e 3 das 5ª séries tenham sido positivos,
o gráfico 4 revela alguns detalhes preocupantes: dos 264 alunos das 5ª séries de
2008, 61 tiveram problemas de notas para serem aprovados; 13 deles conseguiram
aprovação porque tiveram a nota aproximada para 60 pelo professor da disciplina
em questão. Outros 41 foram aprovados pelo Conselho de Classe; apenas 7 foram
reprovados.
Dados sobre o Projeto de Implementação na Escola: ano 2009
A) Quanto ao nível de interesse da totalidade de pais/responsáveis do colégio pelo
Projeto de Implementação, ano 2009.
12
100,00
1,44 0,67
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
total de pais pais inscritos pais concluintes2078 30 14
%
Gráfico 7: Interesse da totalidade dos pais do CELAOS em participar do Projeto de Implementação na Escola.
Fonte: Documentos da secretaria da escola: número de alunos matriculados Em 2009, fichas de inscrição preenchidas para o Projeto de Implementação e listas de presenças dos círculos de debates.
O gráfico 7 aponta que dos 2078 pais/responsáveis da escola, apenas 30, ou
seja, 1,44% se inscreveram e 14 deles, ou seja, 0,67%.
Esse dado é o mais preocupante desse estudo porque o baixíssimo número
de participação revela que os pais/responsáveis têm dificuldade em dialogar com a
escola sobre problemas complexos que envolvem a educação dos filhos, no caso,
ética. Todavia, em se tomando que 30 pais foram inscritos e os 14 desistentes, têm-
se que dos inscritos, apenas 46,67% concluíram o projeto.
B) Quanto ao nível de interesse dos pais na participação do Projeto de
Implementação na Escola, dados por série - ano 2009
Dos 30 pais/responsáveis por série inscritos no projeto a) Pais inscritos
5ª série: 06 dos 508 pais/responsáveis = 1,18% 6ª série: 09 dos 542 pais/responsáveis = 1,66%
7ª série: 05 dos 536 pais/responsáveis = 0,93% 8ª série: 10 dos 492 pais/responsáveis = 2,03%
13
b) Pais concluintes 5ª série... 03 dos 508 pais/responsáveis – 0,59% 6ª série... 06 dos 542 pais/responsáveis – 1,10% 7ª série... 02 dos 536 pais/responsáveis – 0,37% 8ª série... 03 dos 492 pais/responsáveis – 0,60%
1,18
1,66
0,93
2,03
0,59
1,10
0,37
0,60
0
0,5
1
1,5
2
2,5
5ª Série 6ª Série 7ª Série 8ª Série
% Inscritos
% Concluintes
Gráfico 6: Porcentagem de pais/responsáveis inscritos/concluintes por série. Fonte: Fichas de inscrição preenchidas para participação no projeto de Implementação e lista de presenças dos círculos de debate. O gráfico 6 permite observar o nível de interesse dos pais por série para ordenar os que tiveram mais interesse pelo assunto: em primeiro lugar, os pais de 8ª série, em segundo, os pais de 6ª série, em terceiro os pais de 5ª série e por último os de 7ª. No quesito desistência do projeto temos o maior número com os pais de 6ª, depois os de 8ª, em seguida os de 5ª (terceiro lugar em desistência) e, por último, os pais de 7ª série.
C) Quanto à assiduidade dos pais/responsáveis nos círculos de debate
14
30
17
8
13
8 8
0
5
10
15
20
25
30
35
Círculos de Debates
Nº de Pais
Gráfico 7: Presença dos pais/responsáveis em cada um dos cinco (5) círculos de debates realizados no Projeto de Implementação na Escola. Fonte: Lista de presenças dos círculos de debate. OBS: Não se tabulou os cinco (5) professores e funcionários participantes; para este gráfico, apenas os pais/responsáveis inscritos. D) Quanto à relação da participação de pais/responsáveis nos círculos de debates com o rendimento escolar de seus filhos
Considerou-se importante observar se existe relação sobre o seguinte
aspecto: alunos de bom rendimento escolar têm pais/responsáveis participativos nos
projetos desenvolvidos pela escola, enquanto alunos de baixo rendimento são
justamente aqueles, cujos pais/responsáveis não se envolvem. Os resultados foram
os seguintes:
Pais inscritos: 30_____________________________________________________ Média nos 3 primeiros bimestres dos filhos dos 14 pais concluintes...................... 80 Média nos 3 primeiros bimestres filhos dos 16 pais não-concluintes....................... 82
Os dados acima demonstram que os pais/responsáveis que se inscreveram
para participar dos círculos de debates têm filhos cujas notas, na média, os
posicionam na categoria dos alunos com notas a partir de 80. Todavia, ao observar-
se acuradamente, vê-se o seguinte:
15
Categoria do Aluno
Nº total de
alunos
Nº de pais concluintes dos
círculos de debates
Nº de pais não-concluintes dos
círculos de debates
A (90 ≤ média ≤ 100) 07 4 3 B (80 ≤ média < 90) 14 5 9 C (70 ≤ média < 80) 02 2 0 D (60 ≤ média < 70) 05 2 3 E (< 60) 01 1 0
TOTAL 29 14 15 Notas dos alunos cujos pais participaram do projeto de implementação na Escola. Fonte: Boletins de notas dos alunos até o 3º bimestre.
OBS: dos 30 pais inscritos, 1 transferiu o filho antes do 1º bimestre, por isso, nos dados acima, tomou-se o total de 29 pais/responsáveis.
7
14
2
5
1
4
5
2 21
3
9
0
3
00
2
4
6
8
10
12
14
16
A B C D E
Inscritos
Concluintes
Não concluintes
Quant. Pais
Categoria
Gráfico 8: Comparação do número de pais /responsável inscritos, concluintes e não-
concluintes com o rendimento escolar de seu filho. Fonte: Boletins de notas dos alunos dos 3 primeiros bimestres do ano de 2009 e lista de presenças dos círculos de debates.
Esses dados demonstram que houve uma situação bastante variável no
quesito pais não-concluintes: houve desistência do projeto tanto por parte dos
pais/responsáveis dos alunos bem sucedidos na escola, quanto dos não bem
sucedidos. Todavia, é indiscutível que dos 30 pais inscritos, 21 (70%) têm filhos de
categorias A e B e 6 (20%) têm filhos das categorias D e E. Esses dados são muito
representativos para se lançar o trocadilho: os pais participam, por isso seus filhos
são bons alunos ou os filhos são bons alunos porque seus pais participam?
16
Reflexões sobre os dados
Nesse estudo, não se pretende fazer comparação com os resultados
educacionais das avaliações institucionais federais do INEP (Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais), Prova Brasil, Provinha Brasil, Enem e outras. A
metodologia oficial de avaliação utiliza uma diversidade de variáveis para apuração
de resultados como evasão escolar, que são desnecessárias para os propósitos
dessa pesquisa. O objetivo maior, no caso, é a verificação de entrelaçamento do
rendimento escolar, interesse dos pais nos empreendimentos da escola e pré-
disposição para diálogo entre família e escola.
Em se tratando de aspectos quantitativos, os dados obtidos apresentam
resultados positivos por um lado e negativos por outro. As notas da totalidade dos
alunos de 2008, por exemplo, revelam que o CELAOS, na média, alcançou
resultados de aprendizagem muito bons. Essa informação é comprovada pelos 74,7
pontos de média geral apontada no gráfico 3. O mesmo gráfico demonstra que a
média dos alunos de 5ª série de 2008 foi de 77 pontos, sendo a melhor média entre
as quatro séries do Ensino Fundamental analisadas.
Todavia, fazendo uma análise mais acurada, descobrem-se detalhes
importantes dissolvidos nesse resultado que podem ser melhor visualizados no
gráfico 4: dentro dos 77 pontos de média das 5ª séries, só foram aprovados por
mérito 76,90% dos alunos, ou seja, pouco mais que ¾ deles. Ocorre que dos ¼
restante (23,10%), foram aprovados 41 (15,53%) porque o Conselho de Classe
assim o deliberou e 13 alunos (4,92%) porque o próprio professor aproximou a nota
para 60 pontos – o mínimo exigido para aprovação. Foram reprovados apenas 7
(2,65%) alunos dessa série.
Esse olhar mais atento sobre o rendimento escolar revela quão subjetivo é o
processo avaliativo escolar. Tal afirmativa provocaria outra importante discussão a
ser feita em outro momento: a ética na avaliação.
Outrossim, essa escola pode se vangloriar dizendo que na 5ª série de 2008 a
reprova foi de apenas 2,65%; os pais ficam felizes e satisfeitos em ter seus filhos
nela matriculados. Entregam-lhe seus rebentos e, junto com eles, a parte da
responsabilidade educacional que lhes caberia enquanto família.
Nesse aspecto, buscar-se- ia o legado de Aristóteles que trata de escolhas.
Os pais/responsáveis tiveram oportunidade de escolher participar das ações
17
escolares, no caso o Projeto de Implementação na Escola. Escolher implica em
responsabilidade. Porém, eles, em sua maioria absoluta, escolheram a não-
participação no projeto ofertado. Desse ato é possível inferir que eles estão
delegando à escola a educação ética de seus filhos e negligenciando sua
contribuição. Nesse ínterim, reforça-se o conflito já existente entre muitas famílias e
escolas porque os princípios de vida de ambas as partes são muito variáveis. Só
pelo diálogo poder-se-ia recuperar as atitudes e valores imprescindíveis para uma
boa educação e bom convívio social. Foi, então, insignificante o número de
pais/responsáveis que participaram do Projeto de Implementação na Escola para
tratar de respectivos assuntos, como pode ser observado no gráfico 7.
Por outro lado, os pais que demonstraram interesse em participar se
destacaram pelo fato de que a maioria deles tem filhos com ótimo rendimento
escolar (vide gráfico 8). Isso confirma que, em geral, existe um vínculo importante
entre família/escola: a presença e participação dos pais/responsáveis na escola
influencia sobremaneira o rendimento escolar de seu filho. O oposto, em geral,
também é verdadeiro: pai ausente, filho displicente.
Esta última afirmação poderia ser feita com cautela porque o estudo esbarrou
numa limitação: a amostragem se baseou em apenas 1,44% da totalidade de
pais/responsáveis do colégio. Poder-se-ia dizer que esse número é tão ínfimo que
nada significa. Mas, justamente por ser ínfimo que se torna representativo de uma
realidade: a negligência com que famílias tratam certas questões ligadas à educação
escolar de seus filhos. Do discurso que os pais trazem para a escola depreende-se
que eles esperam notas suficientes à promoção dos filhos para a série subseqüente,
como se isso fosse o "tudo” do ato educacional escolar. Esse comportamento
familiar contraria o que nos ensina Morin sobre participação porque este atribui com
rigor e firmeza responsabilidades a cada indivíduo, pois deste depende o conjunto
da sociedade. É o caso de se exigir que cada um cumpra a parte que lhe cabe no
processo educacional para atribuir solidez ao resultado final.
Outra limitação é que o Projeto de Implementação na Escola teria como alvo
a população de 5ª série. Nesse ponto haveria que se ter a maior cautela ainda, pois
destes apenas 1,18 % manifestaram interesse de se inscrever, conforme consta o
gráfico 6 e 0,59% (número ínfimo) o concluíram. Esse dado também seria
insignificante, mas, da mesma forma que o anteriormente comentado, é muito
representativo pelas mesmas razões já expostas.
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Uma terceira limitação é o fato de que não foi perguntado aos pais não-
participantes os motivos de tal desinteresse. Faltaram na pesquisa essas
investigações adicionais mais detalhadas que permitissem estimar com maior
precisão seus reais impedimentos. Nesse ponto, arriscar-se-ia explicar os motivos
de impedimento dos pais observando a configuração social da atualidade tão
marcada pelo fator alienação. Para o homem alienado, aquele que Aristóteles
denominou “homem vulgo”, em geral o mais importante são as coisas mundanas, as
riquezas, os prazeres, a diversão. Então, facilmente esse homem trocaria um
assunto sério como educação por uma “novela das oito”, um jogo de futebol ou
diversão similar ofertada abundantemente pelos canais televisivos. Esse perfil de
homem, o alienado, o que não desenvolveu a consciência de sua humanidade, que
é incapaz de estabelecer níveis mais altos de integração – é facilmente encontrado
na ethos em que vive hoje a humanidade.
Em contraposição, o homem consciente, “homem culto” nos termos de
Aristóteles, procura o conhecimento e se fundamenta nele para desenvolver grande
sabedoria prática. Retomando Aristóteles, ser consciente é o ponto de partida para
ouvir inteligentemente e procurar entendimento das ciências assim como da
compreensão do que é nobre e do que é justo. Toda ação do homem é dirigida à
realização de algum bem, ao qual estão acoplados o bem e a felicidade. Por essas
razões Aristóteles recomenda o exame da natureza dos atos e como devemos
praticá-los. Sugere que se pratiquem boas ações e que essa prática se transforme
em hábito. É mais fácil encontrar o bem e a felicidade numa sociedade menos
preocupada com o individualismo, a acumulação e o consumismo - como mencionou
Boff.
Que felicidade pode ser melhor que uma ethos estruturada sobre valores e
princípios humanitários? Que bem pode ser maior para um indivíduo, para a
sociedade e para o planeta que uma ética estruturada sobre valores e princípios
universais? Sem esses princípios é possível qualidade de vida?
Dificilmente serão conseguidas quaisquer mudanças se não partir do
comportamento positivo da escola com relação à família e vice-versa. Se a escola
toma como preocupação os valores e atitudes civilizatórias, precisa ter presente na
família a continuidade desse discurso para assegurar a internalização desse
conhecimento e, como apregoa Aristóteles, habituar-se com a prática das virtudes
pela educação ou por adestramento.
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A vida virtuosa é sustentada pelo equilíbrio, pelo meio-termo, pelo bom senso
que advém do uso da razão e da responsabilidade nas ações humanas. Isso foi
para Aristóteles - em seu tempo - motivo de felicidade; e, certamente é o que falta
para a sociedade atual alcançar o bem e ser verdadeiramente feliz.
Nesse ponto, retomar-se-ia a pesquisa do PNDU para elaboração do RDH
(Relatório de Desenvolvimento Humano) do Brasil em que responderam sobre o que
precisa ser feito para melhorar nossa qualidade de vida. “Quanto à educação, a
maior demanda não foi por mais conteúdo nas escolas, mas sim uma carência de
que o espaço escolar também transmita valores aos alunos”7. Essa declaração
revela que as pessoas comuns e a sociedade estão preocupadas com valores e
ética e lançam o desafio para a educação escolar.
Considerações finais
Após analisados os dados, consegue-se inferir duas realidades. A primeira se
assenta no fato de que o Projeto de Implementação na Escola não atingiu como
pretendia a (quase) totalidade dos pais de 5ª série, conforme foi previsto nos
objetivos. Se a realização do projeto dependesse apenas deles, este não teria
acontecido. Porém, a adesão de pais de outras séries demonstra que ainda há
interesse de se abrir um canal para o diálogo com a escola para tratar de outras
questões que não seja apenas notas e expectativas de aprovação, como costuma
ser.
A segunda é que esse estudo demonstrou que a escola vem, mesmo que
precariamente, dando conta de ensinar conteúdos e disseminar valores a seus
alunos, apesar da ausência dos pais no cotidiano escolar. É possível também
inferir que muitos dos problemas enfrentados no dia-a-dia escolar, entre eles, a falta
de responsabilidade e interesse dos alunos, os conflitos interpessoais, a ausência de
respeito, civilidade e violência sejam, em parte, decorrentes dessa ausência familiar.
7 http://www.pnud.org.br/administracao/reportagens/index.php?id01=3260&lay=apu. Acesso em
16/09/09.
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Todos os indivíduos de uma forma geral possuem a necessidade da busca
pelo bem e pela felicidade, - que podem ser proporcionados por um viver ético, -
todavia essa pesquisa mostrou claramente que estudos e teorias a respeito não
fazem parte dos planos dos pais/responsáveis pelos alunos do CELAOS.
Ao que parece, a alienação e o baixo nível de consciência ainda predomina
na sociedade e a impede de perceber que a transformação começa em cada sujeito.
Procede, nesse ponto da presente discussão, recorrer à Morin (2007) na
parte de sua teoria em que ele propõe uma concepção de homem sem desvinculá-lo
da sociedade. Para ele, as interações entre indivíduos produzem a sociedade e esta
retroage sobre o indivíduo. Tudo isso sem perder a consciência de pertencimento à
espécie humana com responsabilidades sobre o destino planetário. E é nessa
cadeia relacional entre os três elementos, indivíduo, sociedade e espécie, que se
desenvolve a ética.
Essa idéia corresponde perfeitamente com a definição de ética para Cortella,
quando ele a atrela com os cuidados que todos devem ter com a morada do
humano, a ethos. Cortella trata ética de uma forma bastante pragmática, tirando-a
do nível teórico e trazendo-a para o nível prático, para o nível da ação, em especial
quando ele lança as perguntas para mensurar até que ponto uma atitude é ética:
Quero? Devo? Posso? Trazendo essas questões para o caso particular desse
estudo, poder-se-ia adequar as perguntas: os pais/responsáveis poderiam participar
do projeto de implementação na escola? Eles deveriam? Mas... eles queriam?!
O fato de os pais não se envolverem a contento com as questões escolares
de seus filhos – como esse estudo apresenta - é tão evidente que tem chamado a
atenção da Secretaria de Estado da Educação (SEED). É um aspecto interessante
a ser lembrado nesse estudo, pois ele vem de encontro com o que o Ministério da
Educação e Cultura (MEC) já reconheceu: “Segundo dados do Plano de
Desenvolvimento da Escola, programa do Governo Federal que visa aumentar a
qualidade de ensino na educação básica, 67% dos pais não acompanham a
aprendizagem dos filhos na escola.”8 Com efeito, a SEED está lançando a
campanha “Eu acompanho a avaliação escolar do meu filho. E você?”.
8 In: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/modules/noticias/article.php?storyid=1297&PHPSESSID=2009111910073929. Acesso em 18/11/09.
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Como os professores já sabem, avaliação escolar não é um momento
estanque, não é a “hora da prova”, mas todo ato pedagógico que decorre durante o
processo educativo. Assim, acompanhar a avaliação escolar do filho pressupõe a
presença constante e participativa dos pais na escola, não apenas na cobrança de
notas. Naturalmente, isso significa trazer as famílias para a escola e envolvê-las em
atividades e assuntos com os quais não estão costumeiramente comprometidas,
haja vista a temática ofertada por esse projeto.
Nesse sentido, com os pais presentes, retoma-se a necessidade premente de
averiguar na escola e nas famílias os valores que estão permeando o processo
educativo. Conforme investiga o tema do PNUD de 2010: em que medida estão
presentes na sociedade valores como respeito, justiça, paz, ausência de
preconceito, humanidade, honestidade, responsabilidade e outros tantos
necessários à civilização do homem. Por conseguinte, há que se considerar esse
projeto inacabado e inacabável enquanto existir famílias, alunos, escolas, pessoas,
sociedade, enfim. Os problemas levantados nesse estudo vão persistir, enquanto a
configuração da sociedade for essa que se auto-constrói e se perpetua com suas
ações e omissões.
Segundo Oliveira (2009), espera-se que tenha ficado explícita a importância
de discutir ética com os pais na escola, especialmente as idéias defendidas por
Aristóteles, não porque suas palavras possuem uma verdade eterna e precisem, em
conseqüência, ser conservadas e cristalizadas. Ao contrário, reconhece-se que as
formulações de um autor são caminhos e soluções para o seu tempo histórico e,
ultrapassada essa época, suas proposições não têm mais validade como soluções.
No entanto, sabe-se que as experiências do passado podem ensinar e que a
essência histórica do pensamento dele somada às proposições de pensadores da
atualidade, se reforçou com a passagem do tempo. Se o homem é um ser especial
porque é dotado de racionalidade, pode deliberar e deve responder sobre seus
atos; pode transformar a si próprio e transformar seu “ethos”. Em virtude disso, pais
e educadores devem, enquanto responsáveis pela educação das gerações futuras,
formarem pessoas na sua totalidade, enfocando especialmente a lacuna que está
aberta, a educação ética.
Assim, a grande lição que podemos depreender e conservar é a seguinte: a
educação escolar não é um ato isolado; só se realiza plenamente quando interage
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com as famílias e possibilita à criança e ao jovem o encontro com o bem e a
felicidade proporcionadas pelo viver ético.
REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. Os Pensadores . São Paulo: Abril Cultural, 1973.
BOFF, L. Crise: oportunidade de crescimento . Campinas: Verus, 2002.
CAMPANHA incentiva pais a acompanhar aprendizagem dos estudantes. Portal Educacional do Estado do Paraná. Dia-a-dia-educacao. Disponível em : <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/modules/noticias/article.php?storyid=1297&PHPSESSID=2009111910073929>. Acesso em: 18/11/09.
CORTELLA, Mário Sergio. A Ética e a Produção do Conhecimento Hoje . Disponível em: http://www.apropucsp.org.br/revista/r27_r15.htm. Acesso em: 29/11/08.
________ Qual é a tua obra? Inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética. Petrópolis: Vozes, 2008.
DESIDÉRIO, Mariana. Para brasileiros, país carece de ‘ valores’ . Disponível em: <http://www.pnud.org.br/administracao/reportagens/index.php?id01=3260&lay=apu>. Acesso em 16/07/09.
MORIN, E. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro . São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2007.
OLIVEIRA, Terezinha. A Importância da Leitura de Escritos Tomazinos para a Formação Docente. Notandum. Ano XII, n. 12, set-dez 2009.