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A RELAÇÃO PROFESSOR E ALUNO NA SALA DE AULA: … · de dados e os textos que compõe o Caderno Temático para subsidiar as reflexões ... results have strengthened the need for

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A RELAÇÃO PROFESSOR E ALUNO NA SALA DE AULA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES

LUCELIA ROLINSKI1

VERA LUCIA MARTINIAK2

RESUMOO presente artigo é resultado de uma pesquisa que tem como objetivo analisar e compreender a relação professor e aluno, bem como identificar e refletir como esta relação interfere/contribui no processo ensino e aprendizagem levando ao sucesso/insucesso do aluno. Considerando que as relações humanas são permeadas por situações conflitivas e especificamente, na escola, essas relações tendem a ser mais acirradas e freqüentes causando desta forma um confronto no convívio escolar, no qual pode-se gerar um comportamento autoritário do professor, estimulando os alunos a se afastarem dele. O estudo utilizou a observação, a coleta de dados e os textos que compõe o Caderno Temático para subsidiar as reflexões com os participantes da Implementação do projeto. Os resultados vêm fortalecer a necessidade da continuidade e realimentação constante deste estudo entre o corpo docente, reafirmando também a importância do estabelecimento de relações harmoniosas em sala de aula entre professor/aluno, no processo ensino aprendizagem. Os aspectos que envolvem o relacionamento professor/aluno e que tratam da parte emocional de ambos foi muito destacada neste estudo, pois a maioria dos problemas passa por este canal, influenciando sobremaneira o processo ensino aprendizagem. Palavras-chave: Aprendizagem, Relação professor/aluno, Conflitos

ABSTRACTThis article is the result of a research that aims to analyze and understand the relationship between teacher and student, and to identify and reflect on how this relationship affects / contributes to the teaching and learning leading to the success / failure of the student. Considering that human relations are permeated with conflictive situations and specifically, at school, these relationships tend to be more fierce and frequent thereby causes a clash in school life, which can generate an authoritarian behavior of the teacher, encouraging students to shunned him. The study used observation, data collection and texts that make up the notebook theme to support the discussions with the participants of the Project implementation. The results have strengthened the need for continued study and constant feedback between faculty, reaffirming the importance of establishing harmonious relations in the classroom between teacher / student in the learning process. The aspects that involve the teacher / student relationship and dealing with the emotional part of both was very prominent in this study because most of the problems is through this channel, greatly influencing the teaching learning process.

Keywords: learning, relationships between teacher / student, conflicts.

1 Professora PDE 2010 e pedagoga da rede estadual de ensino. 2 Professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa, do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino e do Programa de Pós-Graduação em Educação.

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Introdução

Atualmente o ambiente escolar vem sendo palco de calorosas manifestações

envolvendo professor e aluno. Ao tentar entender o porquê destas questões

percebe-se que muito dos motivos causadores não são assim tão sérios e graves,

mas causam prejuízos no desenvolvimento das atividades em sala de aula e perda

do conteúdo escolar. Estes acontecimentos causam inquietude e preocupação na

equipe pedagógica, que buscou refletir e investigar como a relação professor aluno

interfere e ou contribui no processo de ensino e aprendizagem levando ao sucesso

ou insucesso do aluno. Com essa reflexão espera-se oferecer subsídios para melhor

entender, mediar e conduzir estes momentos, além de fortalecer a prática

pedagógica e a melhoria da aprendizagem.

Apesar da relação professor-aluno ser a causadora de grande parte das

dificuldades encontradas na sala de aula, não existem muitos estudos sobre este

tema, assim como é muito grande o leque de fatores que podem e que influenciam

nos relacionamentos, repercutindo sobremaneira no processo ensino aprendizagem.

Assim, neste estudo procurar-se-á abordar aspectos que se considera

relevante e por acreditar serem os pilares que sustentam a relação professor-aluno

no cotidiano das salas de aula, buscando também a melhoria das relações humanas

na instituição escolar. Desta forma, este texto apresenta uma discussão teórica

acerca da relação professor-aluno na sala de aula e os aspectos inerentes neste

processo, como a afetividade e a disciplina. Num segundo momento, apresentam-se

os encaminhamentos metodológicos da intervenção realizada em uma instituição

escolar, com professores e alunos, buscando identificar as interferências nesta

relação, bem como fortalecer os aspectos que favoreçam e promovam a

aprendizagem dos alunos.

E por fim, a partir dos encaminhamentos metodológicos aliados ao referencial

teórico, apresentam-se as conclusões desta pesquisa e apontam-se outras questões

que podem servir de baliza para novas pesquisas e estudos.

A sala de aula

Para desenvolver-se como pessoa e ser social necessita-se da presença do

outro. Na escola a sala de aula é o ambiente propício para isto, tendo em vista a

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ação interativa que acontece entre professor e aluno, pela qual ocorre o processo

ensino aprendizagem. Não se trata simplesmente de uma atividade técnica, mas ao

contrário, exige uma relação mais estreita e confiante entre professor e aluno, onde

deverão estar sempre presentes a comunicação, o afeto e o respeito mútuo.

O ambiente escolar por envolver um contingente diversificado de indivíduos

acaba concentrando em seu interior uma trama de relacionamentos.

O professor e o aluno ao buscarem um objetivo comum acabam por fazer

parte do mesmo grupo social da escola e influenciam-se mutuamente no decorrer

deste processo.

O ensino e a aprendizagem não envolvem só os aspectos cognitivos, mas

também a afetividade, o sentimento, a sensibilidade, a motivação, elementos

imprescindíveis e que fazem parte de cada ser humano.

É preciso levar em conta principalmente o fator humano nas relações em sala

de aula, procurando ver nos alunos suas qualidades, considerando seus gostos seus

interesses, acreditando em suas possibilidades.

O professor exerce um papel fundamental no processo educativo, pois ele é o

mediador na construção do conhecimento pelo aluno e, dada a sua autoridade, a

figura que representa, pode ser um fator que dificulte as relações com seus alunos,

quando estes alunos o vêem como alguém que vai limitar sua liberdade e o

professor quando interpreta o comportamento dos alunos como insubordinação. Os

gestos, intenções, sentimentos, a maneira de ser do professor afeta e influencia

cada um dos alunos. “Sensibilidade humana, competência, atenção e observação

aparecem, [...], como características básicas de um professor eficiente, necessárias

ao desenvolvimento da compreensão dos alunos, das suas atitudes e alterações

comportamentais [...]” (FERNANDES, 1990, p. 160).

A competência do professor nos tempos atuais abrange não só o domínio dos

conteúdos e a melhor forma de transmiti-lo, como também e principalmente, a

capacidade de relacionar-se bem com seus alunos, o que demanda tempo,

maturidade.

O ambiente escolar tem que exercer um poder de encantamento sobre o

aluno, que assim vai gostar e querer estar nele, cabendo ao professor a tarefa de

mostrar a ele por meio do entusiasmo e prazer com que trabalha a sua disciplina o

quanto é importante a sua participação e empenho no trabalho que irão desenvolver

juntos. É importante enfatizar que o aluno só se envolve com aquilo que lhe chama a

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atenção. Para que a aprendizagem aconteça há necessidade do envolvimento do

sujeito com o objeto. O professor precisa incentivar o aluno na busca de soluções,

desacomodá-lo para que ele vá em frente, devendo saber o momento certo e a

maneira de intervir, para auxiliá-lo.

O envolvimento do aluno nas situações de aprendizagem exige em

contrapartida que o professor goste do que faz, isto é, que ele demonstre através do

empenho, da dedicação, do conhecimento que possuí, de que aquilo que ensina é

realmente importante, contagiando o aluno, num querer aprender cada vez mais.

A maneira de olhar do professor diz muito para o aluno, sua aprovação ou

reprovação perante as mais diversas situações de sala de aula podem incentivá-lo

como também desmotivá-lo na busca do conhecimento.

Entende-se assim que o professor tem uma responsabilidade muito grande

com a sala de aula. O professor é um profissional educador de fato, comprometido

não só com a construção do conhecimento do aluno, mas na formação integral do

aluno. Para tanto, precisa saber viabilizar, entre seus alunos, “[...] as trocas

necessárias ao exercício de cooperações que irão sustentar o desenvolvimento de

personalidades autônomas no domínio cognitivo, moral, social e afetivo” (KULLOK,

2002, p. 64).

A dinâmica que envolve o desenvolvimento de uma aula supõe no

relacionamento entre professor e aluno o estabelecimento de vínculos, que estando

impregnada de afetividade, sob a forma de carinho, aceitação, respeito, acolhimento,

encorajamento, vão auxiliar na efetivação de uma aprendizagem mais significativa.

A importância da afetividade nas relações interpessoais.

Henri Wallon destacou em sua teoria a afetividade como imprescindível na

construção da pessoa e do conhecimento. Afetividade e inteligência coexistem no

indivíduo e são inseparáveis em sua evolução psíquica. Evoluem e se modificam ao

longo do desenvolvimento. Em certos momentos há preponderância do afetivo ou do

cognitivo. A escola revela-se como um espaço propício para essas relações, que se

traduzem em conflitos e oposições, em diálogos e interações.

Afetividade não é sentimento, nem paixão, muito menos emoção. É um termo mais amplo que inclui estes três últimos, que por sua vez são distintos entre si. O sentimento, a emoção e a paixão surgem em seu tempo,

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conforme as condições maturacionais de atividades, as reações posturais, o raciocínio. Com formas de expressão diferentes, mas muito relacionadas, podem ser confundidos; entretanto, enquanto o sentimento se caracteriza por reações mais pensadas, logo, menos instintivas, as reações emocionais são de tipos ocasionais, instantâneas e diretas. Já as paixões contam com o raciocínio... o apaixonado busca transformar em realidade seus desejos (ALMEIDA, 1999, p. 52).

O sentimento é mais duradouro e a emoção se caracteriza por ser mais

passageira, sendo que a afetividade engloba todas elas e evolui com o indivíduo,

influenciando em suas relações interpessoais.

Assim, como a afetividade deve estar presente nas relações humanas, no

espaço da sala de aula é imprescindível, pois a mediação do conhecimento implica

também em uma interação interpessoal. Em sala de aula ela pode ser demonstrada

por meio da preocupação com os alunos, na atenção que é dispensada a cada um,

sendo necessária na formação de pessoas felizes, seguras, confiantes.

Nas relações em sala de aula, dar afeto não significa necessariamente tocar e

acariciar, mas procurar conhecer, ouvir, conversar, se interessar pelo aluno, fazer um

elogio, falar de sua capacidade. Quando o professor tende a ser mais afetivo na sala

de aula, sua autoridade deve continuar a mesma. O fato de o professor ser mais

acessível não deve dar a entender para o aluno que ele pode fazer o que bem

entende. A compreensão do papel que cada um desempenha nesta dinâmica deve

estar bem claro para ambos.

Para Wallon (1994) a emoção é muito importante na formação da vida

psíquica de uma pessoa, é uma das formas de afetividade, constituindo-se como

uma manifestação mais orgânica e passageira.

A emoção tem a capacidade de contagiar as pessoas, levando o outro a

participar junto e sua manifestação sempre necessita de platéia, cessando quando

não encontra ressonância em alguém.

Emoção e Inteligência se relacionam, são partes integrantes do

desenvolvimento de toda pessoa, continuamente uma se sobrepõe à outra,

conforme a situação. O que é mais comum acontecer é a inteligência ceder à

emoção, pois esta ao se exprimir reduz a atividade intelectual o que pode trazer

muitos prejuízos à pessoa. O desafio é conseguir o equilíbrio entre razão e emoção,

que se traduz na serenidade.

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Almeida (1999, p. 103) ressalta que “[...] o professor deve procurar utilizar as

emoções como fonte de energia e, quando possível, as expressões emocionais dos

alunos como facilitadores do conhecimento [...]”.

Na sala de aula as manifestações emotivas geralmente não são bem

compreendidas, os professores têm dificuldade de trabalhar com estes aspectos e

até desconhecem os prejuízos que a emoção pode causar. Sugere-se ao professor

que utilize recursos e técnicas como a dramatização, o desenho, o relato oral, para

reduzir uma crise emocional, evitando assim um desgaste físico e psicológico.

Conseguir observar e fazer uma leitura das emoções através das reações dos

alunos é importante e traz benefícios para o trabalho do professor, ajudando-o tanto

a antever possíveis reações emotivas de origem negativa, como a perceber pelo

comportamento dos alunos se o conteúdo está bem dosado, se as atividades

escolhidas são interessantes e estão despertando o interesse dos alunos.

A relação professor e aluno

Tanto a forma como o professor se relaciona com o seu conteúdo de ensino,

como a metodologia utilizada por ele em suas aulas faz parte da relação entre ele e

o aluno. O aluno valoriza no professor aspectos como: o seu senso de humor, o

gosto que demonstra ao ensinar, o empenho que faz para que a aula se torne mais

interessante. Para o aluno é importante ver na figura do professor alguém que não

somente lhe repassa informações e conhecimentos, mas que, sobretudo consegue

visualizá-lo como um ser dotado de idéias e sentimentos que podem ser partilhados

com ele.[...] se a relação professor/aluno [...] puder tornar-se saudável, equilibrada e produtiva, espera-se que os sujeitos desse processo, prossigam tirando o melhor proveito possível de sua trajetória em direção não só ao conhecimento como também em suas relações com as pessoas e com o mundo, minimizando conflitos e facilitando a realização do processo em questão, num nível de qualidade desejável para um bem estar e uma equilibração social necessários à construção de uma sociedade justa e solidária” (COSTA, 2002, p. 77)

A relação entre professor e aluno deve ser uma relação dinâmica, onde

ambos devem ser considerados como pessoas, seres humanos, que aprendem um

com o outro e respeitam pontos de vista, tem liberdade para colocar suas opiniões,

dotados de afetividade, elemento constante e sempre presente na atividade

pedagógica.

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No aspecto da relação professor/aluno, apesar da heterogeneidade dos intervenientes, dos conaturais níveis de horizontalidade comunicativa e diferença de universos mentais, a comunicação deve ser impregnada de transparência pessoal, deve ser o mais gratificante possível de um e outro lado e privilegiada, pois, apesar das diferenças existentes entre emissor e receptor, as finalidades são idênticas. (FERNANDES, 1990, p. 145.)

Ambos estão empenhados em atingir os seus objetivos, que são comuns, e

esta relação além de ser profissional é também afetiva, podendo deixar marcas

positivas ou negativas, dependendo de como ela acontece no ambiente escolar.

Para Kullok (2002, p. 60) “[...] o relacionamento entre professor e aluno deve

ser de amizade, de troca, de solidariedade, de respeito mútuo, não se concebe

desenvolver qualquer tipo de aprendizagem, em um ambiente hostil [...]”.

Sendo o professor o mediador do processo ensino aprendizagem cabe a ele a

tarefa de criar vínculos entre os alunos, precisando para isso, respeitar a realidade

de todos, procurando meios e formas de melhor desenvolver seu trabalho, despertar

o interesse, tendo em vista a grande diversidade de alunos que compõem o universo

da sala de aula. É também o professor o responsável pela identificação de

problemas no relacionamento com seus alunos, procurando entender e melhor

encaminhar a solução para estas dificuldades.

A relação entre professor e aluno não pode deixar de prescindir do diálogo,

fundamental para um bom relacionamento. O aluno precisa sentir que o professor se

interessa por ele, que o vê como um indivíduo com características próprias, dotado

de capacidades, trazendo consigo muitos saberes que alimentado com os

conhecimentos do professor, constroem uma aprendizagem mais rica e significativa.

O fato de valorizar o diálogo em sala de aula, não o transforma no professor

que “permite tudo”, no “bonzinho”. A ele cabe a responsabilidade de equilibrar

autoridade e democracia.

O estabelecimento de um clima de confiança, respeito e diálogo entre os

pares, contribuirá para uma boa relação entre professor/aluno e conseqüentemente

para uma aprendizagem mais significativa, melhorando com isso o ambiente da

aprendizagem, atenuando possíveis contrariedades que são comuns em sala de

aula.

Os conflitos em sala de aula: como resolver?

No desempenho da prática pedagógica o professor tem que se desviar para

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intervir em situações como a de chamar a atenção, pedir silêncio, intermediar

desentendimentos e/ou brincadeiras entre os alunos, insistir com os alunos para que

realizem as tarefas propostas, promovendo com isso a desorganização do

planejamento feito por ele o que afeta, sobremaneira, o desenvolvimento e a

qualidade de todo trabalho pedagógico. Estas situações atrapalham o clima de

convivência em sala de aula, gerando um mal-estar docente3 que pode levar às

doenças psíquicas e/ou físicas.

Os comportamentos anti-sociais ou violentos de determinados alunos tornam muito difícil manter um clima de convivência na escola e nas aulas que facilite a aprendizagem dos alunos. Não há dúvida de que essas tensões, especialmente se ocorrerem na sala, são as que provocam maior mal-estar nos professores. (...) os alunos que têm um comportamento disruptivo não só não aprendem como não deixam os demais aprenderem e tornam a hora de aula uma luta contínua que põe á prova a preparação e o equilíbrio pessoal do professor (MARCHESI, 2006, p. 79).

Percebe-se que as situações de indisciplina quando envolve os alunos mais

novos, acontecem sempre no sentido de atrapalhar e prejudicar o andamento das

atividades, enquanto que entre os alunos mais velhos, costumam ocorrer

desentendimentos em função da contestação da autoridade do professor.

A falta de acordo na implementação de regras entre os professores, a sua

aplicação ineficaz e a comunicação falha das mesmas, são também fatores

geradores de indisciplina.

Gotzens (2003, p. 109) explica que no âmbito escolar, um dos reforçadores

mais fortes “[...] é a atenção que o professor dispensa aos seus alunos; sua força é

tamanha que muitas vezes os alunos transgridem as normas unicamente com o

propósito de consegui-la”. Normalmente o que acontece é que o professor dá pouca

ou quase nenhuma atenção aos alunos que se comportam de maneira adequada, ao

passo que denota uma preocupação acentuada em relação aos alunos que

apresentam um comportamento fora do padrão. É claro que a atenção demonstrada

pelo professor neste caso manifesta-se através de censura, olhares irados, palavras

ríspidas, mas não deixa de ser atenção. É estranho que este tipo de situação que

consideramos negativa possa ser agradável e estimulante para o aluno. O fato é que

ao chamar a atenção e repetir sempre o nome daquele aluno que está incomodando

e atrapalhando o andamento das atividades, o professor está ressaltando este que 3 O termo foi adotado inicialmente por Esteve (1994) para expressar a situação preocupante vivida pelos professores que demonstram desmotivação ou problemas de saúde, prejudicando assim o bom desempenho no trabalho pedagógico.

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está se comportando de forma inadequada e deixando de lado o outro que se

comporta e cumpre com suas obrigações.

Pode acontecer também de o aluno, principalmente o adolescente, estar

querendo chamar a atenção de outros alunos e colegas na sala de aula,

incomodando o professor, que não conseguirá êxito ao repreendê-lo tendo em vista

a necessidade maior de atrair para si a simpatia e aprovação dos colegas ou da

turma.

Gotzens (2003) afirma que se castiga muito e mal, resultado inverso ao que

se deveria obter da disciplina escolar. À força de dispensar os estímulos punitivos,

os professores optam, basicamente, por uma das seguintes alternativas: ou decidem

não ir além da mera ameaça, o que é captado com habilidade e rapidez pelos

alunos, ou preferem aplicar castigos de intensidade muito baixa – por conseguinte,

não suscetíveis de condenação, uma terceira alternativa consiste em infligir ao aluno

estímulos emocionais e afetivos negativos, como, por exemplo, demonstrar desgosto

ou decepção, como se tratasse de uma afronta pessoal capaz de motivar a ruptura

afetiva entre o professor e ele, ou ridicularizá-lo diante do grupo de colegas aos

quais pretende passar uma determinada imagem para se sentir aceito e valorizado

por eles.

Gotzens (2003) apresenta ainda algumas diretrizes para a aplicação de

castigos, dentre eles:

− tem de ser advertido e previsível: o aluno deve saber por que, como

e quando seu comportamento será castigado;

− tem de ser imediato ou suficientemente próximo do comportamento

que o provocou, para que o aluno estabeleça uma correta

associação entre as duas situações: mau comportamento e castigo;

− deve ser uma experiência claramente indesejável para o aluno: com

isso pretende-se dissuadi-lo de seu comportamento perturbador, e é

impossível alcançar esse propósito com experiências agradáveis ou

neutras. Em todo caso, nunca pode incluir maus-tratos físicos ou

psicológicos;

− deve ser objeto de aplicação consistente, isto é, as mesmas

conseqüências sempre que se apresente o mau comportamento,

pois, do contrário, o aluno não atribuirá as conseqüências à sua

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ação, mas a outras causas, como o mau humor do professor, etc;

− deve ser sempre acompanhado de diretrizes sobre como agir: o

castigo informa sobre o que não se deve fazer e, por isso, é preciso

que o aluno saiba quais são as formas adequadas e aceitáveis de

comportamento e que tenha aptidões para executá-las.

Uma alternativa de castigo, conhecido como “tempo-fora”, “[...] consiste em

separar ou afastar o aluno da fonte que, presumivelmente, proporciona-lhe estímulos

agradáveis, responsáveis pelo mau comportamento que perturba a ordem na sala de

aula” (GOTZENS, 2003, p.100). Para obter êxito nesta situação é necessário que se

tenha um local adequado para o aluno cumprir este “tempo-fora”, o qual deverá ser

totalmente livre de estímulos ou atrativos interessantes para ele. Este castigo deve

ser aplicado imediatamente e de forma consistente ao mau comportamento. Além

disto, o “tempo-fora” deve ser utilizado em períodos curtos, não excedendo 10

minutos, tempo suficiente para frear o comportamento inadequado.

Outras formas que podem melhorar a convivência em sala de aula e atenuar

os problemas de indisciplina são as manifestações de carinho, atenção, interesse do

professor em relação ao aluno, encarregar os alunos que apresentam problemas

mais sérios de algumas responsabilidades, entrar em contato com os pais,

estabelecer com a turma as normas e regras de comportamento, colocando o

diálogo e o respeito como primordiais nas relações educativas.

Um ambiente favorável à aprendizagem deve primar principalmente por uma

relação de confiança, estímulo, interação positiva, respeito, diálogo, elogio entre as

partes.

O estabelecimento deste ambiente favorável depende em muito do professor,

sendo-lhe necessário atentar para o fato de que este espaço de muitas relações

emotivas abriga também oposições, enfrentamentos, agressividades, conflitos.

Wallon ressalta que os conflitos são essenciais para o desenvolvimento da

personalidade e fazem “[...] parte da natureza, da vida das espécies, porque

somente ele é capaz de romper estruturas prefixadas, limites predefinidos. O conflito

atinge os planos sociais, morais, intelectuais e orgânicos” (ALMEIDA, 2004, p.85).

Entende-se portanto, o conflito como toda opinião ou maneira diferente de

explicar alguma coisa. Assim onde há diferença existe o conflito. A escola por abrigar

uma heterogeneidade de indivíduos freqüentemente se vê as voltas com os

conflitos. Chrispino utiliza a classificação de conflitos de Martinez Zampa (2005, p.

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31-32) citando como as principais as que ocorrem:

− entre os docentes: por falta de comunicação, interesses, disputa

pelo poder, valores, competição, divergências de opiniões;

− entre alunos e docentes: por não entender as explicações, por

notas, falta de material, desinteresse;

− entre alunos: por mal entendidos, brigas, rivalidades entre grupos,

namoro;

− entre pais, docentes e gestores: por agressão entre alunos e

professores, cantina, critérios de avaliação, uso de uniforme

escolar.

Levar os envolvidos a compreender o conflito como algo positivo, necessário

para seu amadurecimento e formação é necessário e importante no ambiente

escolar. Valorizar o conflito implica colocar o diálogo sempre como condição

imprescindível na tomada de decisões, juntamente com a explicação e discussão

das regras e exigências que estruturam a escola.

Os conflitos também podem ajudar no amadurecimento e na formação dos

sujeitos nele envolvidos, levando-os à reflexão e entendimento de seu lugar e do

lugar do outro nesta relação. Isto ajudará na condução, mediação e resolução dos

conflitos.A mediação de conflito é o procedimento no qual os participantes, com a assistência de uma pessoa imparcial – o mediador -, colocam as questões em disputa com o objetivo de desenvolver opções, considerar alternativas e chegar a um acordo que seja mutuamente aceitável (CHRISPINO, 2002, s/p).

Várias são as vantagens da mediação do conflito escolar, dentre elas se

destacam

− oferece uma visão positiva do conflito, deixando de vê-lo somente como

negativo.

− auxilia no fortalecimento da cooperação e fraternidade na escola;

− cria formas para melhor enfrentar as divergências;

− melhora a qualidade das relações no ambiente escolar;

− diminui os índices de violência;

− auxilia no desenvolvimento do autoconhecimento e do pensamento crítico

do aluno;

− ajuda na boa convivência entre diferentes, exercitando a tolerância.

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As escolas que valorizam o conflito e fazem um trabalho com ele, são aquelas

onde sempre existe o diálogo, para melhor decidirem, onde as regras e o que é

exigido do aluno estão bem explicados, falados e discutidos.

Entendendo a Adolescência

A reflexão sobre esta importante fase da vida faz-se necessário, dada a

composição da clientela escolar, vindo auxiliar no sentido de entender melhor este

período pelo qual passam nossos jovens, pois muitas são as dificuldades nos

relacionamentos entre professor/aluno e ainda são poucos os estudos relacionados

a ele. “[...] adolescência é precisamente aquele período da existência humana que se situa entre a infância e a idade adulta, no decorrer do qual o ser inacabado continua a crescer, a desenvolver-se, física, afetiva e mentalmente, manifestando mudanças específicas de ordem biológica, psíquica, intelectual, social e moral. É um período de evoluções, das despedidas da infância e o intróito da idade adulta.” (FERNANDES, 1990, p. 21)

É uma importante etapa do desenvolvimento, quando o adolescente volta-se

mais para si mesmo, com muitos questionamentos sobre a vida e sua existência.

Várias são as transformações que ocorrem tanto físicas como emocionais em busca

da maturidade.

As transformações vivenciadas nesta fase faz com que o adolescente

[...] se vire para si próprio e surpreenda-se diante das modificações corporais conseqüentes da maturação sexual. Essa busca de autoconhecimento resulta numa fase de ambivalência de atitudes e sentimentos. O adolescente experimenta para consigo e para com o outro uma gama de sentimentos que se alternam e se combinam. Ele sente pelo outro sedução, mas, ao mesmo tempo, desprezo; é egoísta e, ao mesmo tempo, altruísta. Esse desequilíbrio revela os extremos que o adolescente enfrenta para integrar a sua pessoa” (ALMEIDA, 1999, p. 48).

No trabalho com o adolescente não se pode levar para o lado pessoal

qualquer tipo de afronta vinda de algum deles, nem tampouco responder a uma

provocação no mesmo tom, pois isso só fará perder a admiração do grupo. O jovem

sente-se vitorioso quando consegue tirar o professor do sério, deixá-lo bravo e fora

de controle.

Na busca pela independência desafiar o professor faz parte deste processo,

além de atitudes agressivas e ríspidas em relação à autoridade do mestre, até por

conta de sua imaturidade. O professor nestes momentos deve procurar manter a

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calma, colocar limites e regras com respeito, procurando estabelecer uma boa

relação mesclando afeto e diálogo.

A turma é muito importante para o adolescente, é onde ele encontra os seus

iguais, onde troca experiências, idéias e conversa bastante. Tudo gira em torno dos

interesses da turma, que ditam as normas e regras a serem seguidas, e o

adolescente tendo a necessidade de ser aceito pela turma acaba por obedecer

cegamente às pressões colocadas.

A busca por autonomia e identidade pelo adolescente gera conflitos, pois o

mesmo gosta de se arriscar e se aventurar, achando-se um super-herói, que pode

tudo e com o qual não acontece nada, correndo assim muitos perigos.

Para ter um melhor relacionamento com o adolescente sugere-se:

− ter com ele uma sincera amizade;

− utilizar-se sempre de compreensão,

− procurar conduzi-lo com firmeza, exigindo aquilo que é realmente

necessário, cedendo naquilo que não é importante;

− ensinar-lhe a respeitar o ponto de vista do outro;

− aprender a escutá-lo;

− oferecer-lhe um ensino estimulante e interessante.

Sugere-se ao professor algumas alternativas para poder desenvolver um bom

trabalho com o adolescente: conhecer bem o aluno, planejar as aulas para que

sempre possa fazer uma ligação entre o conteúdo e o mundo do jovem e paciência

para conseguir contornar o comportamento da turma.

O ideal e o vivenciado: analisando as relações na sala de aula.

Este trabalho nasceu a partir das dificuldades que permeiam o cotidiano de

uma instituição escolar que oferta os anos finais do Ensino Fundamental e o Ensino

Médio, vivenciadas pela equipe pedagógica, docentes e alunos. A partir destas

observações e constatações, buscou-se apresentar uma proposta de intervenção

pedagógica com base nas necessidades da instituição. Para tanto, a partir da

análise do Livro de Registros da escola que contém as ocorrências dos alunos, do

ano de 2009, constatou-se as seguintes situações: saída de aluno da sala sem

autorização do professor, provocação e briga entre alunos, má vontade na resolução

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de tarefas, falta de respeito com o professor, tumulto em sala de aula. Com base

nestes dados procedeu-se a elaboração do projeto de intervenção, aliado aos

estudos de referenciais teóricos pertinentes ao tema, encontros com orientador e

seminários para aprofundamento.

Quando o projeto foi implementado, o grupo de professores que dele

participou, respondeu um questionário com perguntas pertinentes ao tema Relação

Professor Aluno, objetivando saber como se dá esta relação e os motivos que

causam os conflitos.

Na implementação do projeto, além dos professores, participaram também

vários agentes educacionais e auxiliares administrativos que estão em contato

constante com os alunos e professores e desta forma, acabam tomando

conhecimento e até envolvendo-se nas situações conflitantes de sala de aula.

Em cada encontro apresentou-se uma dinâmica de grupo e um vídeo

específico de cada tema para ilustrar e enriquecer o trabalho. Após o estudo,

discussão e explanação do texto os participantes realizaram trabalhos em grupo,

respondendo a algumas questões e socializaram as conclusões.

No encontro foi aprofundado o tema “Aprendizagem Significativa”, objetivando

a compreensão do seu significado e de como promovê-la em sala de aula. Concluiu-

se que a Aprendizagem Significativa acontece quando o aluno consegue relacionar

um conteúdo aprendido com a sua realidade ou com outro conteúdo já assimilado

anteriormente, quando ele interage, reflete, tendo o professor a tarefa de mediar a

aprendizagem, apresentar desafios, estabelecendo um clima de confiança em sala

de aula.

Para Santos (2004, s/p) [...] a promoção da aprendizagem significativa se fundamenta num modelo dinâmico, no qual o aluno é levado em conta, com todos os seus saberes e interconexões mentais. A verdadeira aprendizagem se dá quando o aluno (re)constrói o conhecimento e forma conceitos sólidos sobre o mundo, o que vai possibilitá-lo agir e reagir diante da realidade.

Após a compreensão sobre o que é uma aprendizagem significativa,

ressaltou-se os aspectos importantes e necessários para uma boa relação entre

professor e aluno. Neste encontro, destacou-se a responsabilidade do professor de

manter o domínio e a hierarquia em sala de aula, com o estabelecimento de normas

e regras, buscando sempre o equilíbrio entre autoridade e democracia, baseando

seu trabalho no respeito, num clima de amizade, de tolerância, de diálogo e

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aceitação. Também foi destacada a dificuldade de se encontrar a medida certa para

o estabelecimento de um bom relacionamento, considerando a sobrecarga de

trabalho diário do professor. É sobretudo o mestre que pode, mudando de atitude, provocar um aperfeiçoamento da relação afetiva. Toda pedagogia desta relação leva, pois, em última análise, a uma formação do mestre que se preocupe principalmente, com o aspecto afetivo” (MARCHAND, 1985, p. 93).

A preocupação com a afetividade foi o tema central do terceiro encontro, no

qual buscou entender como as questões afetivas estão presentes em sala de aula e

a sua influência na aprendizagem. Foi ressaltada a importância do estabelecimento

de relações harmônicas entre professor/aluno para que o processo de ensino e

aprendizagem flua com mais facilidade. Conforme Almeida (1999, p. 107) “[...]

mesmo na escola, as relações afetivas se evidenciam, pois a transmissão do

conhecimento implica necessariamente, uma interação entre pessoas. Portanto, na

relação professor-aluno, uma relação de pessoa para pessoa, o afeto está

presente”. Neste encontro, foi ressaltada ainda, a importância do estabelecimento de

normas e regras em sala de aula.

Neste sentido, buscando compreender a importância e necessidade do

estabelecimento de normas e regras refletiram-se os problemas de indisciplina e

como buscar alternativas para amenizar o problema. Destacou-se neste encontro

que a clareza e a coerência nas atitudes do professor ajudam na disciplina assim

como a demonstração de satisfação por parte do professor quando o aluno atinge os

objetivos propostos. Um bom planejamento, domínio do conteúdo e demonstração

de autoridade foram citados como requisitos fundamentais para um bom professor.

Dentre as experiências positivas relacionadas à disciplina em sala de aula os

docentes colocaram a criação de acordos e regras com os alunos, a imparcialidade

do professor no trato com os alunos, a demonstração de carinho, afeto e

compreensão com os alunos, conversas em espaços fora da sala de aula com o

aluno, utilizar os alunos como “ajudantes”. Portanto, é necessário

[...] que as regras sejam verdadeiramente estabelecidas pelo grupo, compreendendo que o professor é parte integrante e não externa a este, e tem a autoridade inerente que lhe é atribuída por seu papel... é necessário que esse mesmo professor não extrapole suas funções de membro coordenador e mediador do grupo, e não tente ser o “dono” da sala e das regras, aquele que tudo determina, tudo cobra, que diz quem está certo e quem está errado, que aplica sanções e dá recompensas. Essa postura é incoerente com os ideais democráticos de respeito mútuo e reciprocidade. Entender esse papel (...) é o que pode levar a uma transformação das

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relações dentro da escola e fazer com que os alunos sintam a importância do respeito e não a mera obediência às regras (AQUINO, 1996, p. 112).

Não basta apenas impor regras, mas fazer com que os alunos percebam a

importância de estabelecer normas para uma boa convivência do grupo, caso

contrário os conflitos surgirão no ambiente, seja escolar ou não.

Nesta questão buscou-se compreender as situações que envolvem a

resolução de conflitos, bem como os seus aspectos positivos. Nas atitudes que o

professor deve tomar em relação aos conflitos que ocorrem em sala de aula,

colocou-se que ele deve agir com imparcialidade com seus alunos seguindo as

normas pré-estabelecidas, procurando resolver logo em seguida o conflito, utilizar-se

sempre do diálogo, saber colocar-se no lugar do outro, buscar um acordo entre as

partes. Quanto ao preparo que o educador necessita para o manejo dos conflitos

foram citados a maturidade, o equilíbrio, a maleabilidade, o profissionalismo, o

domínio sobre as emoções, o conhecimento de técnicas para mediação de conflitos.

Os conflitos de ordem emotiva estimulam o desenvolvimento dos indivíduos na medida em que ultrapassá-los exige manter a serenidade, o equilíbrio entre a razão e a emoção (...) suas conseqüências são um maior amadurecimento tanto da afetividade quanto da inteligência (ALMEIDA, 1999, p.85).

Para entender a emoção nas relações humanas buscou-se no sexto encontro

entender a influência das emoções sobre a aprendizagem, procurando utilizá-las de

forma positiva em sala de aula. Indagados se tem ou não a capacidade de perceber

quando a emoção está tomando conta de sua pessoa, a maioria respondeu que

consegue perceber quando a emoção vem à tona, mas que é difícil não se deixar

levar por ela, que isto depende muito de cada um. O descontrole perante as

emoções atrapalha e prejudica o relacionamento entre as pessoas e o ambiente

escolar pela diversidade que abriga é rico em problemas emocionais.

A sala de aula é um ambiente onde as emoções se expressam... ao professor cabe administrá-las, coordená-las. É-lhe imprescindível uma atitude... racional, para poder interagir com os alunos, buscando descobrir seus motivos e compreendê-los. O professor deve procurar utilizar as emoções como fonte de energia e, (...) as expressões emocionais dos alunos como facilitadoras do conhecimento. É necessário encarar o afetivo como parte do processo de conhecimento, já que ambos são inseparáveis (ALMEIDA, 1999, p. 103).

Compreendido as emoções no ambiente escolar, procurou-se entender a

adolescência e reconhecer os comportamentos que são inerentes ao adolescente,

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assim como as melhores formas de interagir com eles. Na socialização dos

trabalhos apareceram como experiências positivas com o adolescente: não levar

para o lado pessoal os desentendimentos que ocorrem; não aceitar as provocações

dos alunos; colocar limites com respeito sem ferir a auto-estima; estabelecer uma

relação de afeto, respeito e diálogo mostrando autoridade sem autoritarismo. Como

situações negativas o grupo colocou que o professor deve evitar: o confronto direto

com o aluno em frente aos demais; não deve tomar partido de um ou de outro aluno

em caso de conflito; procurar não se alterar em sala de aula; não discutir quando os

ânimos estão alterados; ao chamar a atenção, fazê-lo com respeito, enfatizando a

atitude do aluno e não ele como pessoa.

Por fim, o último encontro objetivou investigar a compreensão dos assuntos

trabalhados nos encontros anteriores na qual o grupo avaliou todo o trabalho,

destacando os seguintes aspectos: os textos foram de fácil compreensão e

ajudaram nas reflexões; a troca de experiências entre os participantes; a

possibilidade de uma auto-análise e reflexão sobre as atitudes; a liberdade para

colocação dos pontos de vista; a aplicabilidade do conteúdo em sala de aula; a

possibilidade de sentir e entender o posicionamento, a postura do outro, de rever

questões pertinentes ao ensino-aprendizagem e poder implantar mudanças tanto na

escola como na família.

Neste processo avaliativo surgiram algumas sugestões, como: aprofundar o

estudo sobre a adolescência para toda a comunidade escolar, estabelecer e

oportunizar a troca de experiências entre os professores sobre a relação professor

aluno, proporcionar, por meio da música, um espaço de reflexão na escola.

Além dos encontros com professores e funcionários da escola, desenvolveu-

se o Grupo de Trabalho em Rede, que contou com doze professores, sendo que

nove concluíram com êxito todas as atividades propostas, com excelentes

participações e troca de experiências, enriquecendo ainda mais a temática

desenvolvida.

Os participantes destacaram como fundamental e importante, a colocação do

diálogo na relação professor/aluno, possibilitando a quebra de barreiras e uma

aprendizagem mais pautada nos conhecimentos que os alunos já trazem consigo.

Neste contexto, o professor deve manter a sua postura de educador e responsável

pelo encaminhamento da aprendizagem, estabelecendo limites bem definidos com o

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grupo para que sua imagem não se confunda com a de um amigo, que permite e

libera tudo.

Ao professor é dada a incumbência de compreender, respeitar, se interessar

pelo aluno, sabendo administrar as diferentes situações que ocorrem em sala de

aula, devendo estar capacitado para desempenhar esta função, colaborando para

tornar a sala de aula um espaço de produção do conhecimento, de convivência, de

alegria, de cooperação. Com aulas bem preparadas, domínio do conteúdo e postura

profissional, fica mais fácil do professor conseguir atenção, respeito e diminuir a

indisciplina. Ele é o mediador da aprendizagem, que na interação com o educando

constrói pontes entre o seu conhecimento e o dele.

A afetividade destacou-se como prioritária para a efetivação da

aprendizagem, quando acontece o estabelecimento de vínculos entre professor e

aluno, estreitando ainda mais o relacionamento entre eles. Relacionamento este que

não deve ser supérfluo e mecanizado, mas deve envolver sentimentos, emoções,

conflitos, respeito, compreensão e muito diálogo, ou seja, uma educação mais

humanizada, beneficiando a todos. A criação de laços de respeito e de cumplicidade

com os alunos fará com que estes se sintam partes do processo ensino

aprendizagem, participando e colaborando mais do trabalho docente.

O conhecimento sobre os aspectos psicológicos da fase da adolescência e as

formas de melhor desenvolver o trabalho pedagógico com os adolescentes, foi

destacado e colocado como importante pelos participantes.

Considerações finais

O objetivo inicial deste estudo centrou-se no entendimento da relação

professor e aluno na escola e na identificação de estratégias para solucionar ou

amenizar as situações de conflitos. Assim, pode-se destacar que a preocupação que

impulsionou esta pesquisa vem ao encontro da preocupação em melhorar as

condições existentes no ambiente escolar, constituindo-se apenas em um dos

leques que compõe a relação professor/aluno.

Este estudo revelou a grande responsabilidade que recai nos ombros do

professor, tido como mediador da aprendizagem, gerenciador da sala de aula,

cabendo-lhe, além disso, a promoção de atitudes como diálogo, respeito,

afetividade, compreensão entre os envolvidos no processo ensino aprendizagem.

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Os aspectos que envolvem o relacionamento professor/aluno e que tratam da

parte emocional de ambos foi muito destacada neste estudo, pois a maioria dos

problemas passa por este canal, influenciando sobremaneira o processo ensino

aprendizagem. Relações mais harmoniosas entre professor/aluno ajudam e

contribuem para uma aprendizagem mais efetiva.

Neste contexto torna-se importante o acompanhamento da equipe

pedagógica junto ao trabalho do professor, dando suporte e apoio às suas ações,

para que a prática pedagógica possa desenvolver-se mais fluentemente.

O tema trabalhado despertou o interesse e atenção dos professores e

funcionários, levando-os a repensar atitudes tomadas no dia a dia de sala de aula e

na família, embasando teoricamente algumas questões já incorporadas em sua

prática pedagógica.

No cotidiano escolar alguns professores ainda continuam tendo as mesmas

atitudes que tinham anteriormente, apenas de forma mais amena, o que leva a

concluir que a formação continuada relacionada a este tema deve ser constante e

permanente, juntamente com um acompanhamento pedagógico mais individual.

O presente estudo não se esgota com este trabalho, mas pode ser o caminho

para outros encaminhamentos que serviram para subsidiar a reflexão e promover a

ampliação dos conhecimentos.

REFERÊNCIAS

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