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A Sociedade dos Corpos Dóceis? Uma Metáfora Perfeita! - Claudinéia Barbosa - 2012

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A partir das notáveis considerações de Michael Foucaut, provoco reflexões sobre a trajetória evolutiva do ser humano, considerando um “olhar” atento sobre as “realidades” que proporcionam experiências empíricas, pretendendo discutir sobre a precisa capacidade de interpretar o que existe e o que é vislumbrado nos micro-espaços e para além deles. E estimular a arte de pensar sobre por que o ser humano existe e para que é dotado de potencialidades, das quais a maioria ainda latentes por falta de reconhecimento do próprio ser humano. Que condicionado por uma educação de controle, não os permitiram pensar em si mesmos enquanto seres em evolução.

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Page 1: A Sociedade dos Corpos Dóceis? Uma Metáfora Perfeita! - Claudinéia Barbosa - 2012

A sociedade de corpos dóceis? Uma Perfeita Metáfora!

Claudinéia da Silva Barbosa1

[email protected]

As notáveis considerações feitas por Michel Foucault no capítulo

Corpos dóceis em Vigiar e Punir (1987) apresenta um organismo vivo e

potencial que ainda reconhece pouco sobre si mesmo. O Ser Humano. Mas

que ao longo de sua jornada no orbe terrestre, e entre outros seres,

desenvolveu uma historicidade que causa à destinação de sua existência.

Criou responsabilidade sobre si mesmo, sobre os outros e ao meio onde vive,

pois desenvolveu – e ainda desenvolve – conhecimentos e mecanismos de

controle em relação a estes, instituindo o panoptismo.

Importantes reflexões sobre a historicidade humana, na trajetória

evolutiva junto ao orbe terrestre, merecem no campo das explicações

metafísicas considerações sobre o que é a “realidade” tal qual a humanidade

ainda estar por perceber, mostrando através de um “olhar” atento as

experiências empíricas, uma vez que pretendo nesta discussão demonstrar

precisa capacidade de interpretar o que existe e o que é vislumbrado nos

micro-espaços e para além deles. E estimular a arte de pensar sobre por que o

ser humano existe e para que é dotado de potencialidades, das quais a maioria

ainda latentes por falta de reconhecimento do próprio ser humano. Que

condicionado por uma educação de controle, não os permitiram pensar em si

mesmos enquanto seres em evolução.

O que se convencionou a chamar de progresso, no período da

industrialização, ou desenvolvimento social de uma consciência coletiva, na

realidade construída pelas sociedades do século XXI, pode não significar

evolução para a liberdade da consciência do ser na sua individualidade. Os

seres humanos nascem, desenvolvem algumas habilidades, e geograficamente

são condicionadas a aprender sobre uma realidade limitada. Que não lhes

permite compreender as dimensões existentes, e nem as infinitas

1 Graduanda do Curso de Pedagogia – Habilitação, Docência e Gestão dos Processos Educativos,

cursando VIII semestre na Universidade do Estado da Bahia – Desp. de Educação Campus XIII –(UNEB - DEDC- XIII) – Itaberaba - BA. Trabalho orientado pela docente Climério Moraes, Professor da UNEB - DEDC- XIII – 2012.

Universidade do Estado da Bahia – UNEB Departamento de Educação – Campus XIII

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possibilidades para a sua manifestação existencial e progressiva nestas

dimensões.

Boa parte dos indivíduos contemporâneos do homem moderno foi, por

exemplo, condicionados a pensar que só existe vida na Terra. Ou ignoram a

sua essência, a que sobrevive para além de seus corpos físicos. Aí começa o

controle. Refletindo sobre o controle das sociedades, Gilles Deleuze (p.226)

menciona “Muitos jovens pedem estranhamente para serem “motivados”, e

solicitam novos estágios e formação permanente; cabe à eles descobrir a que

estão sendo levados a servir, assim como seus antecessores descobriram, não

sem dor, a finalidade das disciplinas.”2 Seria preciso ir muito antes dos nossos

antecessores. Além das leis que regem a realidade tridimensional. É preciso

compreender o plano onde a consciência humana elabora-se para

operacionalizar na construção da realidade física. E questionar-se: Para que

existimos. O que quebraria esse “círculo vicioso3” que contagiou a humanidade.

O preciso olhar desconfiado sobre a história forjada por alguns

poucos que não sobreviveram além de suas lendas, é como uma voz que

alerta e me incentiva a insistir na seguinte pergunta: Qual a verdadeira

realidade? A geografia é o limite? Está na nossa essência além do nível de

consciência ou nas aberrações da convivência material efêmera? Não posso

me convencer que seja tão mínima, tão fraca, tão efêmera, que se perca com

uma ação perversa do poder disciplinar.

As reflexões que proponho vão mais além. Nutre cérebro, força os

neurônios, levam minha mente a pensar em alguma coisa além do óbvio. Afinal

a nossa Era – impulsiona a ver além – A considerada Era da Luz, pelos

hinduístas; ou Era de Aquarius, pelos espiritistas; é esse movimento que os

“intelectuais” denominam de era da comunicação, do conhecimento, da

globalização. A temporada de investigações científicas nunca feitas antes, das

políticas internacionais, rede global de informações, uma explosão de sistemas

e técnicas que invade tempo e espaço; colocando a humanidade ou pelo

menos parcela da mesma, interconectados. O milagre cibernético e eletrônico,

informatizando, recriando possibilidade para o nosso maravilhoso mundo azul,

quem sabe logo, logo prateado!

Eis o contato com a quarta dimensão, deixando todos estonteados.

Uns loucos, sedentos pelo poder econômico, a glória do domínio da ordem

mundial; outros débeis, completamente ignorantes sobre a apoteótica jornada.

E criando todo tipo de mecanismos possíveis para sobreviverem a humanidade

terrestre fala de globalização. Um surto de técnicas e sofisticadas engenharias

eletrônicas levam os indivíduos humanos a maquinar as possibilidades de

controle do mundo, causando uma verdadeira avalanche histórica nos seus

2 Gilles Deleuze Post-Scriptum Sobre As Sociedades de Controle Conversações: 1972-1990. Rio de

Janeiro: Ed. 34, 1992, p. 219-226.Tradução de Peter Pál Pelbart. 3 Desejo de dominação que gera dominantes e dominados.

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aspectos sócio-econômicos, culturais, políticos, familiares e até crise

identidade.

Todos esses sistemas desenvolvidos pelos grupos humanos ao longo

de suas gerações estão agora se desarticulando por conta deste desequilíbrio

no/do ciclo evolutivo. Quem sabe para quê? Criar mais um novo aspecto que

caracterize os grupos humanos para estudos e pesquisas? Se for, apostaria na

subjetividade! Assim se configura o descontrole do espaço. Ao mesmo tempo

em que todos são vigiados, todos se auto controlam.

A convergência do momento mostra fascinante metafísica, e quando

os despertos para o “tempo dito real” relacionam com o conhecimento do

acontecer do outro, a simultaneidade do acontecimento, a comunicação é – ou

pode ser - um sinal de que percebem a relatividade do tempo – claro que ainda

muito condicionado à grade terrestre. Mas então, o mundo se acelera em

função de um motor único – coincidentemente com a fase do capitalismo? Ou é

esse quem provoca isso? – A humanidade criando, recriando estratégias,

avanço, eficiência, mais, mais e mais... Para quê? Porque o mundo precisa

passar por uma aceleração histórica? Será que tem alguém conseguindo

registrar compreendendo o todo? Quem controla?

Pensando no que acontece de fato, existe uma força que parece

impulsionar o desejo insaciável pelo progresso gerado pela competitividade e

ambição – a mais valia - é produto da consciência coletiva que faz mover a

vontade. É preciso considerar que há fatores empíricos (causas e efeitos)

também envolvidos ao todo. A situação de competitividade impulsionada pela

mais valia gera, por exemplo, duas vertentes: A evolução dos processamentos

dos diversos setores do meio social a partir da tecnologia sofisticada e em

contra partida a mecanização do material humano seguida da neutralização do

seu potencial4. E refletindo com Michel Foucault (p. 125) “[...] o soldado tornou-

se algo que se fabrica; de uma massa informe, de um corpo inapto, fez-se a

maquina de que se precisa [...]”5.

O mundo começa a ficar unificado pelas técnicas, sua rede

comunicativa é a que mais se destaca, mas o atual sistema ideológico produz

uma história fragmentada, pois não respeita seu principal agente – o humano -

configurando-se num modelo considerado perverso e imoral. Pois os valores e

a sensibilidade também são desconsiderados. Os sistemas de informações, por

exemplo, funcionam como uma forma de manipulação, e funciona com eficácia,

pois grande parte da humanidade não está preocupada em se encontrar, em se

perceber no grande plano existencial. A percepção fragmentada das certas

pessoas e o desejo de ser igual, têm tornado grande parte num bando de

4 Neste caso o desvio de sua consciência sobre si mesmo enquanto ser livre.

5 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão; tradução de Lígia M. Pondé Vassallo. Petrópolis, Vozes,

1987. 280p

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zumbis com um micro chip no bolso, e esqueceram o endereço de si mesmas.

Esqueceram-se que são organismos potenciais.

O empobrecimento das ciências humanas será a morte das mesmas,

se não houver quem estude o ser humano considerando sua subjetividade e/ou

ao menos as possibilidades de sua alma, compreendê-lo como um ser que se

move para o progresso independente da sua vontade. A VONTADE um fator

que jamais é estudado, sequer mencionado nas classes de formação de

educadores. Talvez seja limitação controladora dos micros espaços de “ensino

formal”. Eis a nossa falha! A visão despreparada, a alma despreparada, forjada

apenas no estimulo capitalista, ser mestre, doutores, especialistas, ser bom

profissional e ganhar bem; Ser, ser, servir! É efêmero demais para o potencial

irreconhecível latente no humano. Seria ideal despertar o SER aliado a tudo. O

resultado é isso aí, um mundo despreparado para nos receber.

Por isso não confio em quem insiste em dizer que Atlântida é um mito.

Ninguém sabe a verdade e nem localiza a realidade. Há apenas em cada

época, fase, ciclo terrestre, era ou minuto, uma história sendo forjada para

satisfazer aos que aspiram ao poder. Assim como nos conceitos de

verticalidade e horizontalidade em relação ao tempo ou temporalidade

demonstram mais uma vez que o indivíduo pode, quando quer forjar

realidades, controlar, a partir de suas funções no meio social e seus interesses.

Qual o limite dessa perversidade?

O que seria o tempo real para a maioria da humanidade? Novamente

nos cai sobre a cabeça a insistente questão: o que é a realidade? Como essa

dimensão se configura para cada um de nós? Apesar de tanta discussão sobre

o controle, a unidade que é cada um de nós nesta diversidade, também é fator

importante – pouco discutido – As carências e as vicissitudes de alguns grupos,

os - assolam; a riqueza de outros poucos, tampam seus sentidos essenciais;

mas a vida planetária mesmo sofrendo esse sério atraso, segue seu curso. A

“velha roda” continua a girar e a humanidade mesmo ainda na infância, trilha o

caminho que deve reger o destino coletivo. E Milton Santos descreve:

Lembremo-nos da lição de A. Schmidt (The Concepto f nature in Marx, 1971)

quando dizia que a realidade é, além disso, tudo aquilo em que ainda não nos

tornamos, ou seja, tudo aquilo que a nós mesmos nos projetamos como seres

humanos, por intermédio dos mitos, da escolhas, das decisões e das lutas.

(p.168)6.

Essa é uma percepção confortável, ao deixar subentendido que a

utopia não existe, o que há é a potencialidade humana vislumbrando para

posterior materialização através de ações e trabalho, a construção na

dimensão física, sendo o agente do reino da vontade manifestando-se na

possibilidade da realidade que pode criar conflitar, lutar, decidir, atuar,

manipular, viver, etc. Trazer dos seus diferentes níveis de consciência

sugestões para essa dimensão em que se faz presente.

6 SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal / Milton Santos. 3

a

ed. – Rio de Janeiro: Record, 2000

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Com essa visão sobre a nossa história, sugiro uma nova apreciação

filosófica frente à vida em grupo enquanto sociedade. Um olhar interior ou

como diria os Espíritas, uma reforma íntima. A busca do ser integral. É curioso

pensar sobre isso, imaginar que nossa geração vem realizando um minucioso

trabalho em seus caracteres genético, para a formação de novos portes

fisiológicos para darem base à formação e organização fisiológica das

gerações futuras, portadoras de potencialidades que serão melhor

externalizadas que a nossa.

Eu diria que se parássemos para perceber as mudanças sutis que já

estão ocorrendo; se parássemos ao menos por um dia sequer, para silenciar e

observar as ondas que ocorrem à nossa volta, parados sem nos envolver,

somente observando, sentiríamos os acontecimentos sutis, também a nível

global, um leve e forte movimento contrário ao pessimismo, uma coleção de

personalidades silenciosas. Destruidoras de sistemas que começam por forçar

a educação a mudar; que exigem de suas famílias, o mínimo de estabilidade

emocional, afetiva, intelectual e financeira; tudo muito sutilmente.

Personalidades que em seu movimento silencioso, nos olham nos olhos e sem

palavras nos dizem muito. Como os pesquisadores norte-americanos

descrevem:

“Explique sempre a eles o motivo de lhes dar uma ordem. [...] Se for

algo do tipo: “porque eu estou mandando”, mude o formato da ordem.

Eles respeitarão sua tentativa e aguardarão. Mas se derem a eles

ordens ditatoriais e sem um motivo justo eles irão simplesmente

ignorá-las, não obedecerão e ainda lhe darão uma lista de motivos

pelos quais elas não fazem sentido.” CARROL E TOBER (2005, p. 62)7

É necessário precisa atenção, espírito de pesquisa e base nas ciências

humanas sem perder de vista que somos seres têm alma e que muitos entre

nós, vivemos a dimensão quintessenciada ainda aqui na terceira dimensão.

Porém para os que vivem na correria cotidiana da atualidade, basta observar o

comportamento da nova geração. Como se abraçam como alguns são

silenciosos. Perceba as suas atitudes práticas, observe detalhadamente seus

objetivos, sua moral. Quem são? A que vieram?

Representamos a transição para o mundo que estes irão dominar o

capitalismo, qualquer forma de globalização, epidemias, evolução científica e

antiga ou nova ordem mundial, não pode nos desviar do foco de sermos

humanos, e de que todas as coisas criadas, recriadas estarão a serviço do ser

humano. “Uma outra globalização” é essa ideia de consciência livre que Milton

Santos define como algo que parte do pensamento único à consciência

universal, e que se desdobra com base na reciprocidade humana.

7 Crianças Índigos. Lee Carrol, Jan Tober; Tradução Yma Vick. –São Paulo:Buteterfly Editora, 2005