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A TECNOLOGIA DE DEBITAGEM DO QUARTZO NO CENTRO DE MINAS GE- RAIS: LASCAMENTO BIPOLAR • André Prous **, Márcio Alonso Lima ••• RESUMÉ .La frêquence de l'utilisation du quartz cristallin ou de filon au Brêsil nous a amenê a rêaliser une sêrie d'expêriences de taille unipolaire et bipolaire. Le prêsent article dêcrit Ia collecte et le dêbitage du quartz selon Ia technique bipolaire, ainsi que les particularitês de l'êclatement thermique. Des vêrifications expêrimentales montrent dans quelle mesure les percuteurs et les produits de débitage bipolaires peuvent être différenciés des artefacts unipolaires et des enclumes pour casser les noix de palmes. SUMMARY This paper describes experiments on quartz chipping, mainley by bipolar technology, and thermical transformations of this material. Experiments have been made in order to recognize unipolar and bipolar products and to discuss the difficulties. Bipolar technology has probably been very common during the Archaic period in Brazil. Arq. Mus. Hist. Nat. UFMG. Belo Horizonte. V.11:9l-111 - 1986/1990 Centro Especializado em Arqueologia Pré-Histórica - MHNJB/UFMG 2012

A TECNOLOGIA DE DEBITAGEM DO QUARTZO NO CENTRO DE …€¦ · A morfologia dos cristais (Fig. 1.a.) Os cristais se desenvolvem a partir de uma superfície irregular que chamaremos

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A TECNOLOGIA DE DEBITAGEM DO QUARTZO NO CENTRO DE MINAS GE-RAIS: LASCAMENTO BIPOLAR •

André Prous **,

Márcio Alonso Lima •••

RESUMÉ.La frêquence de l'utilisation du quartz cristallin ou

de filon au Brêsil nous a amenê a rêaliser une sêried'expêriences de taille unipolaire et bipolaire. Le prêsentarticle dêcrit Ia collecte et le dêbitage du quartz selon Iatechnique bipolaire, ainsi que les particularitês del'êclatement thermique.Des vêrifications expêrimentales montrent dans quelle mesureles percuteurs et les produits de débitage bipolaires peuventêtre différenciés des artefacts unipolaires et des enclumespour casser les noix de palmes.

SUMMARYThis paper describes experiments on quartz chipping,

mainley by bipolar technology, and thermical transformationsof this material. Experiments have been made in order torecognize unipolar and bipolar products and to discuss thedifficulties. Bipolar technology has probably been verycommon during the Archaic period in Brazil.

Arq. Mus. Hist. Nat. UFMG. Belo Horizonte. V.11:9l-111 - 1986/1990

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~INTRODUÇAO

A principal matéria prima frágil encontrada e utilizadano planalto mineiro é o quartzo, nas suas diversas quali-'dades. Este tipo de matéria apresenta alguns traços originaisem relação ao sílex e outras rochas mais freqüentemente las-cadas pelo homem, e nos parece que não houve até agora publi-cações sobre experiências sistemáticas com o quartzo. Enfren-tando problemas peculiares ao estudo das indústrias mineiras,nos pareceu necessário efetuar uma análise tecnológica dosresíduos de lascamento do quartzo e criar um vocabulário des-critivo apropriado. Realizamos uma série de experiências delascamento unipolar, cujos resultados foram apresentados emsimpósio realizado na USP em julho de 1984; J. Flennikenapontou-nos em seguida a importância do lascamento bipolar,mostrando a necessidade de novos trabalhos nesta direçâo.Embora não tenha sido possível, como desejávamos, realizarestas experimentações com o pesquisador americano, o trabalhoaqui apresentado deve muito ao seu incentivo e entusiasmo.

* O presente texto foi apresentado na III Reunião da SAB(Goiânia, 1985). Em apêndice, acrescentamos algumas re-flexões posteriores ao evento.

** Setor de Arqueologia UFMGjMission Archéologique de MinasGerais.

*** Estagiário no Setor de Arqueologia da UFMG.

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I. OBJETIVOS DA PESQUISAQuerendo antes de tudo estudar o material do sítio de

Santana do Riacho, decidimos coletar a matéria prima nos ar-redores do abrigo, controlando a quantidade e a qualidade daspeças obtidas por pessoa e num tempo determinado. Em seguida,queríamos testar as diferentes técnicas de lascamento paracada categoria (hialina, translúcida e leitosa; cristalina oude filão) descrevendo as características dos resíduos e pro-dutos da debitagem, insistindo sobre as peculiaridades quepudessem opor as técnicas uni e bipolar; estudamos também olascamento térmico.Finalmente; a comparação com o material arqueológico dossítios analisados visava não somente identificar as técnicasutilizadas na pré-história, mas também ver se as porcentagensrelativas dos diversos produtos de debitagem, provenientesdas oficinas arqueológicas eram as mesmas que encontramos nasexperimentações. Caso contrário, poderíamos deduzir que osprodutos sub-representados nos níveis pré-históricos teriamsido ,carregados e utilizados fora das oficinas.

11. VOCABULÁRIO DESCRITIVO DA MATÉRIA PRIMAo tecnólogo tem necessidade de um vocabulário

específico que, possivelmente, corresponda à visão dos homenspréhistóricos. Não devemos portanto, nos limitar aovocabulário dos petrógrafos quando este se revela insufi-ciente:

Aspectos externos da matéria prima de SantanaTotalmente transparente, o quartzo é dito hialino, mes-

mo assim, pode apresentar imperfeições internas (planos departição, fraturas) visíveis ou não antes do trabalho. Emalguns casos, urna fina pelicula de material ferruginoso podecriar um plano interno de descontinuidadej quando a peça élascada, pode, inclusive criar a impressão de que se trata deurna matéria corante de origem antrópica. Freqüentemente, oquartzo deixa passar a luz, mas não as imagens; neste caso -édito t:rans1.úcido.Finalmente, pode deixar a luz passar apenasnas margens finas, apresentando-se esbranquiçado: trata-seentão de quartzo Led.tioeo, O quartzo pode se apresent-ar sob aforma primária (em afloramento): cristais isolados ou gemina-dos, blocos às vezes parcialmente cristalizados e parcial-mente metamorfizados, de filão. Caso de encontre em forma se-cundária, teremos todas as formas intermediárias entre blocos

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e cristais pouco rolados e os seixos ovóides que podem conterplanos de partição internos. No último caso, desenvolve-se umcórtex amarelado que pode se tornar vermelho sob a ação dofogo. De uma maneira geral, o quartzo de filão, contendo ounão cristais, tende a ser leitoso. Os cristais são g~ralmenteencontrados soltos ou em drusas, sendo que Q ápice tende aser mais hialino e a base ou "raiz", mais translúcida.

A morfologia dos cristais (Fig. 1.a.)Os cristais se desenvolvem a partir de uma superfície

irregular que chamaremos raiz. A região próxima desta serádita "proximal"; já mencionamos o fato que ela costuma sermenos transparente que a região oposta ("distal"). O corpo docristal é um prisma hexagonal; as facetas deste são teorica-mente lisas, e o córtex transparente quando a peça não foierodida. Não raro, ocorrem no entanto irregularidades, comoestrias paralelas, transversais ao eixo do cristal; pequenasdepressões por vezes cheias de argilas; figuras de crescimen-to do cristal ou cicatrizes deixadas pela separação de umcristal geminado. Chamaremos -ápice- a ponta distal pirami-dal. E frequente que facetas suplementares ~osângicas se for-mem na junção entre o corpo e o ápice.

111. A AÇAO DO FOGO SOBRE A MATÉRIA PRIMAAs experimentações térmicas realizadas em Santana do

Riacho eno Setor de Arqueologia, a partir de 1977 foram fei-tos em colaboração com I. Malta e Paulo Alvarenga Junqueira.Há uma determinada temperatura em que ocorrem fissuras noquartzo, provocando a fragmentação do material leitoso emblocos e lascas irregulares, de tendência poliédrica, com di-mensões inferiores a 3 cm. No caso dos cristais hialinos,f orma=se uma rede de fissuras extremamente irregular, chegan-do a interferir ·na diafaneidade dos mesmos.Se-a temperatura subir mais ou mudar rapidamente (resfriamen-to com água, por exemplo), o material se desagrega em peque-nos poliedros, geralmente cúbicos, deixando às vezes lascasde formas curiosas (fig. 1). Uma queima menos intensa podeapenas modificàr a cor de um cristal: um exernp Lar "fumé" tor-nou-se hialino dentro de uma fogueira nossa. Em compensaçãosabemos que comerciantes costumam "queimar" cristais hialinospara dar-lhes o aspecto de citrina ou topázio, com maior va-lor ~omercial. O córtex dos seixos torna-se vermelho, naparte exposta ao fogo, se houver boa ventilação e esta cor

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penetra mais ou menos profundamente no bloco, aproveitando asfendas que se desenvolvem a partir da superfície. verificamosem fogueira experimental as modificações em seixos de quartzocom córtex naturalmente amarelado: com a exposição ao fogo,tanto as partes em contato permanente com a lenha como asafastadas do fogo não sofreram modificação de cor; no entan-to, as partes expostas ao mesmo tempo ao calor direto do fogoe a circulação do ar se tornaram vermelhas após menos de duashoras de fogo pouco intenso.É de se notar que o lascamento pelo Homem, de um quartzo pre-viamente queimado, pode provocar a liberação de blocos térmi-cos já virtualmente formados que não apresentam portanto ascaracterísticas de produtos de debitagem. A desagregação tér-mica do quartzo hialino em formas poliédricas é totalmentedistinta do lascamento por fogo em outros tipos de matériasprimas. Nestas últimas (quartzito, silex) pode ocorrer a saí-da de lascas sem talão nas faces das rochas ou em forma deestrela de três pontas nas quinas triédricas dos blocos quei-mados, sobretudo quando estes são molhados antes ou logo apósa queima.

~IV. DESCRIÇAO GERAL DO PROCEDIMENTO DE PESQUISANos limites deste artigo, não podemos apresentar o de-

talhe de cada experiência, mas forneceremos os resultadosprincipais ilustrados por alguns exemplos concretos.

A coletaUma primeira coleta, realizada em Santana do Riacho no

final da estação seca, com vegetação rala, permitiu que qua-tro pessoas coletassem em 2 horas, e sem conhecimento preli-minar das zonas de ocorrência, 6,225 kg de quartzo apro-veitável, o qual foi utilizado na primeira série de experi-mentações. Contamos:

- 35 cristais hialinos (material de IIprimeira qualidade",totalizando 288,5 g).

- 49 fragmentos de cristais imperfeitamente formadOs, geral-mente translúcidos, com numerosas falhas internas (mate-rial de IIsegundaqualidade"), num total de 515,4 g.

- 182 fragmentos de quartzo de filão, translúcido ou leito-50, incluindo grandes c:tistais irregulares, peso total5,422 g.

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Urna segunda coleta, em estação úmida, não teve quase sucesso(em razão da maior densidade da vegetação?) .Urnaterceira tentativa levou a descoberta de um veio exposto,permitindo urna coleta rápida e abundante de blocos e cris-tais.

As experiências de lascamento (1984)

No total, 50 peças de quartzo foram debitadas, em 3séries de experimentações; a primeira foi para se acostumarcom a matéria pr~ma. Na segunda, todos os gestos foram des-crito"s, assim corno o resultado de cada percussão (identifi-cação, desenho e pesagem dos produtos, marcas deixadas nobatedor e na bigorna, área de projeção do material a partirdo local de debitagem, etc.) Numa terceira série, debitagemuni oule bipolar de várias peças foram realizadas por umexperimentador, para que uma pessoa alheia tente reconhecerdepois a técnica de obtenção de cada tipo de produto.

RESULTADOS PRINCIPAIS DO LASCAMENTO UNI POLAR

O material resultante são os clássicos núcleos e oslascas, além do refugo pequeno: estilhaços e "cassons", sendochamados " estilhaços" lascas ou fragmentos pequenos delasca, e "cassons" fragmentos maciços poliédricos.Não descreveremos em detalhe as caracteristicas de debitagemunipolar no material arqueológico ou nas experiências, poisjá foi apresentado anteriormente (A. Prous, 1984). Apetiasacrescentaremos alguns dados complementares.

a) O lascament6 unipolar é frequentemente utilizado na faseinicial de debít.aqem de peças que serão posteriormente trabalhadas bipolarmente; seja que se queira retirar o ápicede um cristal antes de aplicar a percussão bipolar, sejaquando lascas unipolares são desejadas de preferência àsoutras; neste, caso, apenas quando o núcleo fica "esgotado"para percussão unipolar (por ser pequeno de~ais ou nãoapresentar mais plano de percussão satisfatório), poderáser "acabado" bipolarmente.

b) Os batedores utilizados para a percussão unipolar apresen-tam um desgaste na forma de picoteamento na(s) extremidade(s) ou na periferia da peça, já que a percussão tende aser aplicada tangencialmente ao núcleo (fig. nQ l.b.). O

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peso dos batedores varia de 250/400 g, dando resultadossatisfatórios para debitagem. A nomenclatura das principaiscategorias unipolares se encontram na figo 2.

I. A TÉCNICA DE LASCAMENTO BIPOLAR E SEUS PRODUTOS

BibliografiaMencionada por vários autores (H. Breuil, M. Brézillon,

A. Laming-Emperaire, F. Bordes etc.), a técnica bipolarraramente foi descrita de maneira um pouco d~talhada, emboraseja freqüente desde o início da pré-história (Paleolíticoarcáico da Pebble Culture na Africa, Paleolítico Inferior nosul da França, etc.). Apenas D. Crabtree fornece algumas in-dicações mais precisas (indicando, por exemplo, a inexis-tência de dois bulbos nas lascas) sobre algumas caracterís-ticas dos produtos, enquanto J. Flenniken estudou a indús-tria de quartzo de filão de um sítio do Rio Hoko, focalizandosobretudo os aspectos funcionais dos instrumentos. No Brasil,T. Miller observou o lascamento bipolar entre oslndios Xetádo Paranáj no entanto, foi enganado na interpretação domaterial obtido pelo fato que os blocos lascados tinham sidoprevia e acidentalmente queimados. Algumas "características"que ele descreve ("bulbo central") são na verdade resultantesde fraturas térmicas virtuais que só apareceram (se materia-lizaram) no momento da percussãoj ê de se notar que um casosemelhante ocorreu durante a percussão (unipolar) de um nó-dulo de sílex previamente tratado termicamente durante umasessão de lascamento realizado na UFMG.

Descrição do processo de lascamentoSendo a bibliografia deficiente, achamos portanto

justificado descrever o processo de lascamento. A peça a serdebitada é colocada verticalmente sobre a face plana de umabigorna, de rocha preferencialmente resistentej pode no en-tanto, ser de rocha frágil conquanto seja bastante espessa. Obatedor ê segurado numa das extremidades, mas será usado umaparte próxima do centro da face (nunca a extremidade, sobpena de machucar a mão que segura o bloco a ser debitado).Algumas percussões leves devem provocar a saída de lasquinhascurtas do bloco, tanto do lado proximal (Q que recebe oimpacto do batedor) quanto do lado distal (em contacto com abigorna); estes.golpes preliminares esmagam ambas as zonas

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percutidas, visam a assentar melhor a peça sobre a bigorna;quando isto ocorre, o som produzido pelas batidas muda, e adebitagem pode ser iniciada, com golpes mais violentos. Egeralmente aconselhável provocar um rachamento total dobloco-núcleo com uma pancada violenta, apertando bem os dedosque seguram o núcleo. Assim sendo, o bloco se separa em duasmetades (por vezes, um seixo pode rachar em três ou quatro"gomos"), 4ue geralmente s6 oferecem interesse para quemd~sejar lascas .muito robustas e espessas (não tem gume agudo)m.as podem servir, cada um, de núcleo para uma percussão que,desta vez, se destina a obter lascas finas ·e muito cortantes.As primeiras peças nucleiformes, obtidas ap6s o primeirogoipe forte, foram geralmente espessas, com uma face cf "ex-terna", em grande parte cortical na parte central, pequenaslascas sairam nas zonas proximal e distal nas pequenas per-cussões de estabilização, e, uma lamínula pode ter se desen-volvido ao longo de uma aresta natural de cristal. Deve-senotar que as lascas produzidas por percussão muito violentatendem a rachar longitudinalmente, na forma dos pseudo-burisde siret. A parte proximal (atingida pelo batedor) dosnúcleos é normalmente punctiforme, ou se for linear, é reta emais curta que a largura maior da peça, porque a saída daslascas nesta região tende a ser radial. A parte distal (sobrea bigorna) é quase sempre linear, muitas vezes curva (emcurva simples, ou dupla em "5"). A dispersão dos produtos dedebitagem a partir da bigorna se faz num ângulo de, nomáximo, 1100 a frente e à direita do experimentador. As peçasmaiores ficam entre os dedos; as de tamanho médio saltam até30 cm e os estilhaços podem ir até mais de 1 m de distância.

Vestígioslnos instrumentos de percussãoOs indícios de lascamento bipolar aparecem nos bate-

dores e nas bigornas. Já mencionamos que a parte utilizada dopercutorbipolar é diferente da do batedor unipolar, o quedeixa evidentemente as marcas de picoteamento no lugar cor-respondente, numa região situada aproximadamente entre oquarto e o terço distal da face utilizada do instrumento(fig. 2). No caso de"batedores muito pesados, a tendência éutilizar a P?rte central da face. As bigornas também sãoextremamente típicas, e poàem ser facilmente diferenciadasdos "quebra-cocos" ou suportes utilizados para outros fins.Pelo menos parte das marcas de contra-golpe que levam nasua(s) face(s) utilizada(s) são lineares, já que observamosque o lascamento bipolar costuma criar logo na parte distal

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do núcleo debitado uma linha de contacto. A cada golpe, apeça nucleiforme atua portanto como um cinzel na bigorna,deixando as marcas características (fig. 2).Os batedores para debitagem bipolar devem ser mais pesadosque a média dos batedores para debitagem unipolar. Nas nossasexperiências o peso variou entre 500 e 900 g.

Os produtos de debitagem bipolarAs noções clássicas de núcleo e de lasca não são mais

nem claras nem operacionais no caso da debitagem, pois aslascas não apresentam, em muitos casos, nem talão, nem faceinterna, nem face externa no sentido habitual, enquanto os"núcleos" não apresentam plano de percussão, de maneira que adistinção entre lasca e núcleo pode ser impossível. Até ospequenos resíduos apresentam algumas particularidades.

Chamaremos portanto Nucleiforme (bipolar) as peçasrelativamente espessas, que não apresentam gumes muito agu-dos. Não tem plano de percussão, mas costumam apresentar nasduas extremidades percutadas um esmagamento, seja puncti-forme, seja linear, que chamaremos "talão". No entanto, éfreqüente ocorrer uma fratura que retire uma das partesesmagadas. O lascamento de um único bloco pode provocar aformação de várias peças mucleiformes, pois cada produto delascamento espesso pode ser reutilizado como núcleo. Algumasformas de nucleiformes se repetem, sendo portanto justificadoesboçar uma tipologia (fig. 1), que acreditamos não serválida apenas para o quartzo, já que as encontramos também emexperimentações feitas com sílex:

a) Nucleiformes bicônicos, com uma extremidade conlca e outramais ou menos diédrica, resultante da saída de lascasdistais e proximais que não chegaram a atravessar toda aaltura do bloco debitado. Alguns apresentam gumes eficazese resistentes; são excelenetes raspadores laterais, semprecisarem de retoques.

b) Nucleiformes prismáticos, largos ou estreitos, com cica-trizes estreitas atravessando toda a altura da peça.

c) Nucleiformes achatados peças de forma sUb-retangular desecção quadrangular estreita, com cicatrizes que, pelomenos de um lado, atravessam toda a extensão da peça.

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d) "Piêces esquillêes" (da nomenclatura internacional) trazemem cima das suas faces cicatrizes profundas deixadas pelasaída de lascas de tipo "rebroussê" (ou "refletidas"),acidente freqüente no caso de uma percussão muito' vertical,justamente a que ocorre no lascamento bipolar. De fato, êum caso particular do "nucleiforme achatado".

e) Casualmente formam-se resíduos de secção quadrangular nabase mas cuja parte proximal ê punctiforme ou linear, re-sultante da junção de duas faces opostas de "agulhas"bipolares; embora não tenhamos encontrado vestígios de uti-lização nas peças desse tipo provenientes de Santana doRiacho, elas oferecem um excelente gume, semelhante ao dosburis diedros.De fato, a experimentação mostra que no inicio do processo

de redução, os nucleiformes cristalinos, inicialmente combastante cõrtex, tomam freqüentemente uma forma bicônica.Com o prosseguimento do lascamento, aparecem formas oupoliêdricas, ou achatadas. No estágio final, aparecem asformas prismáticas e em agulha.

Chamaremos lascas bipolares os produtos de debitagemfinos, com gumes agudos, cujo talão ê subs t í t.uí do por umalinha de esmagamento. Podemos chamar de "face externa" a quetiver cõrtex, mas no caso das lascas secundárias, e quandonão aprece o bulbo para caracterizar uma "face interna", nãohá mais sentido em diferenciar faces "externa" e "interna".Em conaeqüênc í a, lascas bipolares têm tendência a serem maisretas que as unipolares. Tentamos verificar se essas lascasaparesentavam diferenças com as unipolares em relação aobulbo ou aos sistemas de ondas, mas sem sucesso, embora J.Flenniken pensasse que os sistemas de ondas seriam maismarcadas no lascamento bipolar. Ao que parece as ondas sãomais nitidas nas partes hialinas das lascas, enquanto asfaces lascadas translücidas apresentam ondulações tanto nogentido transversal quanto no longitudinal. De qualquermaneira, em material hialino, a nitidez do bulbo e das ondastendia a ser maior em percussão unipolar que em percussãobipolar. Não existem peças com 2 bulbos opostos (um na partedistal e out~o na parte proximal), mas pode ocorrer (rara-mente) a existência de dois bulbos nas faces opostas da mesmaextremidade, lembrando uma lasca Kombewa. Há também casos debulbos gêmeos na zona proximal, devidos aos vários golpes de-feridos antes do rachamento do bloco debitado. As lascaspodem sair tanto da parte proximal, quanto da parte distal donücleo, fOrmando-se o bulbo seja do lado do batedor, seja ao

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lado da bigorna. O lascamento de cristais provoca, fre-qüentemente, a salda de lamlnulas bipolares ao longo dasarestas naturais que separam as facetas. Por outro lado,pOde-se obter voluntariamente grandes lâminas bipolares ra-chando um cristal, mantido na vertical, com um golpe violen-to; conseguimos, numa das experiências, provocar simultanea~mente a salda de 2 lâminas grandes, uma oriunda da extremi-dade proximal, e outra da distal. Uma lâmina deste tipo foiencontrada no material arqueológico de Santana do Riacho(fig. 1). Outra categoria de lascas obtida com algumafreqüência com a técnica bipolar é a que denominaremos"ultrachata", que, além de ser fina em todo seu comprimento(por não apresentar nem bulbo nem talão) é extremamente reta.

Os outros.produtos de debitagem bipolar exist.em tambémno refugo de lascamento unipolar.

Chamaremos estilhaços os fragmentos pequenos de lascas,ou lasquinhas inteiras de menos de 5 mm de comprimento.

Chamaremos cassons reslduos maciços de tendência polié-drica, se face interna nem gumes agudos. São mais numerososno refugo bipolar que no unipolar. Outrossim, poliedros tér-micos entram nesta categoria.

Qualquer operação à,elascamento produz uma certa quan-tidade de pó de esmagamento, elementos finos demais parapoderem ser segurados entre os dedos. No caso do lascamentobipolar, este material (que costuma escapar na coleta reali-zada durante as escavações arqueológicas), forma entre 0,5 e12% do peso do bloco original. A média coletada durante asexperiências era de 6%.Um tipo particular de debitagem que encontramos repetidamenteno material arqueológico de Santana do Riacho e também re-produzimos experimentalmente é o que chamamos "debitagemtransversal" (fig. 3).Neste caso, um cristal é debitado deitado na bigorna, numadas facetas do prisma. Um golpe ~nico mas violento de percu-tor no centro da peça (seja na parte plana de uma faceta,seja na aresta que separa duas facetas) provoca .uma rede defraturas em estrela; o resultado são produtos biselados, unsobtusos e outros agudos; estes últimos poderiam ter sidoprocurados como instrumentos.

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VII. VANTAGENS COMPARADAS DAS DEBITAGENS UNI E BIPOLARPara se iniciar a debitagem bipolar, não há necessidade

de dispor de um plano de percussão, qualquer protúberância éaproveitável para se iniciar o processo.

O lascamento unipolar permite um maior controle deforma das Lascas a serem obtidas através da preparação ade-,quada do número ou do aproveitamento da sua forma natural. Emcompensação, e sobretudo no caso de grupos que não possuemuma tecnologia muito sofisticada, o tamanho pequeno da maio-ria dos núcleos de quartzo não permite utilizar muitos recur-sos e por outro lado, as lascas unipolares extraídas delessão curtas (menores que o tamanho do núcleo) e muitas vezesespessas, em razão da largura do talão; além disto, são mui-tas vezes curvas em secção longitudinal. A debitagem bipolaré muito menos controlada, no sentido que não se tem muitaidéia do que vai ser após cada golpe (embora os processos derachamento inicial, a obtenção de lâmina a partir do cristalinteiro e o lascamento transversal sejam relativamente con-trolados). É provavelmente por esta razão que os tecnólogos e"virtuosos" modernos do lascamento se interessaram tão poucopor esta técnica. Em compensação, sabe-se que, do total domaterial lascado, deve sobrar algumas peças com caracte-rísticas interessantes; por exemplo, não é difícil obter-seuma lasca que atravesse todo o núcleo, permitindo portantoaproveitar da melhor maneira possível o tamanho deste núcleo;as lascas do tipo ultra-chato também tem gumes muito maisagudos que as lascas unipolares, e sendo retas e finas, podemser facilmente encabadas; J. Flenniken encontrou assim no rioHoko restos de lascas bipolares encabadas na forma de micro-litos. As pequenas lascas bipolares finas, de aparência frá-gil, podem ser assim muito mais valiosas que as lascas unipo-lares clássicas. No caso específico do quartzo de Santana, dequalidade mediocre, a debitagem bipolar pode fornecer umaquantidade de produtos aproveitáveis igual ao que ocorre coma unipolar, e com muito menos esforço. Em compensação, quart-zos de outra procedência coletados por M. T. Teixeira pertode Altamira, embora aparentemente mal cristalizado (formadospor blocos t~anslúcidos) fornecem excelentes lascas unipo-lares e laminares grandes, de forma regular e previsível,mostrando que a escolha da técnica uni ou bipolar depende defatores muito locais e que as variedades de quartzo reagem demaneira diferenciada ao trabalho humano.

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'"VIII. A VERIFICAÇAO EXPERIMENTAL E AS CAUSAS DE ERROO reconhecimento das técnicas de debitagem

Dez cristais foram debitados por um dos autores (A.P.)seja uni, seja bipolarmente, seja alternando as duas técnicas(unipolar inicial e bipolar finalmente). Cada amostra foi emseguida analisada por outro autor (M.L.) que não tinha as-sistido ao lascamento. No total, deviam ser identificados 4nuclei, 14 nucleiformes, 62 lascas uni e bipolares, 7 grandes"cassons" , não tendo sido apresentados os residuos pequenos.

Foi conseguido 80,7% de sucesso na identificação, sendoque em 7,9% dos casos o identificador achou melhor se abster,errando finalmente em 11,3% dos casos. A quase totalidade doserros foi a respeito das lascas, sobretudo incompletas. Umasegunda tentativa de reconhecimento devia ser feita por umcolaborador (P. Junqueira) com experiência em indústrias dequartzo arqueológicas mas que não tinha participação das ex-perimentações.Não houve infelizmente tempo para efetivar esta etapa antesda reunião de Goiãnia.

De qualquer maneira, nos pareceu que o resultado demais de 80% de sucesso e menos de 8% de enganos conseguidoinicialmente era bastante compensador; iniciamos uma reflexãoa respeito das causas de engano e indecisão, na esperança dereduzir ainda mais as margens de erro.

Algumas causas de confusão entre debitagem uni e bipo1arAs peças nucleiformes inteiras, com seu talão esmagado,

são facilmente reconheciveis. Em compensação, várias formaspoliédricas (grandes "cassons") podem resultar de qualquertipo de debitagem, sobretudo com percussão violenta ou quandoo cristal apresenta planos de partição internos. Outrossim,fraturas naturais do núcleo perpendiculares ao eixo de umapercussão unipolar podem provocar a salda de uma peça de tipobipolar; com efeito, tudo acontece como se a parte que se en-contra abaixo da fratura se comportasse como uma big6rna, e aparte distal da lasca "unipolar" acaba sendo um "talão esma-gado". Notamos também a existência de algumas lascas muitoretas na debitagem unipolar,além das lascas muito espessasretiradas de grandes cristais.

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De uma maneira geral, o melhor critério de diferen-ciação entre produtos uni e bipolares é o talão esmagado, ti-picamente bipolar e que só raramente pode ser confundido comum talão facetado ou preparado unipolar. No caso de frag-mentos mesiais de lascas, os critérios "secundãrios" (tipo deondas, face interna plana, etc ..) são freqüentement~ engana-dores. Os nuclei unipolares debitados bidirecionalmente (apartir do ápice e da raiz) podem tomar uma forma geral bi-con~ca que os assemelha aos nucleiformes; a diferenciação se-rã feita, mais uma vez, pela ausência de plataformas de per-cussão, e pelas cicatrizes, geralmente mais rasas no nuclei-forme bipolar.

CONCLUSÃOO reconhecimento da tecnologia bipolar e dos seus pro-

dutos permite esclarecer e melhorar a classificação do mate-rial de muitos sítios brasileiros.

Além da sua utilização em quartzo no centro-brasileiro,desconfiamos que foi aproveitada para debitar o quartzo defilão tão comum no litoral centro e sul do País. Muito "re-fugo" de sambaquis e acampamentos costeiros deveria ser re-visto nesta perspectiva, e pode ser que algumas peças iden-tificadas como "instrumentos retocados" de quartzo sejam, narealidade, eles também, resíduos (nucleiformes, particular-mente). Por outro lado, a debitagem bipolar não deve ter-selimitado ao quartzo; foi encontrada, embora raramente, na re-gião de januária-rtacarambi (norte de Minas Gerais) para fa-bricação.de artefatos especiais (particularmente truncatu-ras). Slides projetados durante a 3i reunião da SAB mostrarambigornas e batedores certamente bipolares, e uma colega nosmostrou um conjunto ~e artefatos de quartzo e sílex de umabrigo nordestino quase totalmente formado por nucleiformes.

O prosseguimento das pesquisas experimentais deveriapermitir comparar as reações de diferentes matérias primas aolascamento bipolar, enquanto o estudo do material arqueo-lógico de várias regiões mostrarã talvez que diversas cultu-ras utilizavam esta técnica para finalidades distintas. Ou-trossim, não s~ deve esquecer que um mesmo bloco de matériaprima pode ser ',debitado sucessivamente com as duas técnicas,como pudemos verificar nas coleções arqueológicas de Santanado Riacho (MG).

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BIBLIOGRAFIA

BREZILLON, M.N.1968. "La dênomination des objets de pierre Taillée". IV

Suplément a "Gallia préhistoire". Editions du CentreNational de Ia Recherche Scientifique, Paris.

1982.CRABTREE, Don E."An Introductionthe Idaho Museum10, Idaho.

to Flintworking"; Occasional Papers ofof Natural History, Number 28; Pocatel-

FLENNIKEN, J. Jefrey.1981. "A Model Applied to the Vein Quartz Art{acts from the

Hoko River Site"; Washington State University Laboratoryof Anthropology Reports of Investigations, nQ 59.

LAMING-EMPERAIRE, Annette.1967. "Guia para o estudo das indústrias liticas da América do

Sul". curitiba, Centro de Pesquisas Arqueológicas daUniv. Fed. do Paraná. 155 p., il. (Manuais de Arqueolo-gia, 2).MILLER, Jr., TOM o.

1975. "Tecno16gia Litica Arqueológica (Arqueologia Experimen-tal no Brasil)". Anais do Museu de Anf:.ropo~ogia da UFSC,Florianópolis, 8: 7-124, 9 fotos, 27 fig., bibl.PROUS, Andrê.

1984. "Notas sobre as indústrias de quartzo no Brasil Cen-tral". Revista de Pré-História, São Paulo, 6: 249-250.

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AAPENDICEApós a reunlao de Goiânia, tivemos a oportunidade de

estudar várias coleções arqueológicas evidenciando a fre-qüência da debitagem bipolar, particularmente no caso de ins-trumentos de quartzo. Mencionaremos particularmente os típi-cos nucleiformes produzidos por Australopítecos da Africaoriental que nos mostrou H. Roche; a elevada porcentagem dedebitagem bipolar em silex proveniente de uma cultura do Pa-leolítico Superior italiano, que encontramos por acaso no Mu-s"eudo Homem de Paris.vimos as mesmas peças características em séries Australianasdo deserto, datadas do holoceno médio. Uma colega brasileiranos mostrou a indústria do quartzo proveniente de um "acam-pamento" de coleta de moluscos do litoral carioca, quase ex-clusivamente formado por peças bipolares. Muitos "raspadores"de quartzo do "Complexo Cerca Grande" de W. Hurt são, narealidade, nucleiformes de quartzo.

Notamos também, ao estudar as peças arqueológicas docentro de Minas Gerais, que a quase totalidade das peças dequartzo retocadas eram feitas a partir de lascas unipolares,mesmo em tiíveis onde havia predomínio absoluto da debitagembipolar. A experimentação deu facilmente a explicação destefenômeno: as lascas bipolares tem freqüentemente as extremi-dades esmagadas, não se prestam mais ao retoque. Apenas umalasca bipolar, razoavelmente espessa e que não tenha "atra-vessado" toda a extensão do bloco debitado oferece uma parte(distal) aproveitável para retoque. Este tipo de lasca sairaramente. Assim sendo quem quiser um artefato retocado acha-rá mais econômico tirar lascas unipolares, mesmo de uma ma-téria ruim; ainda que se percam alguns golpes, terá maischances de conseguir rapidamente seu intento que com a ~éc-nica bipolar.

Uma revisão bibliográfica estrangeira mostrou também afrequência da tecnologia bipolar. Mencionaremos particular-mente o excelente trabalho de N. Broadbent (1979) sobre asindústrias holocênicas do litoral norte da Suécia, as expe-riências de F. Dickinson na Austrália e o artigo de G. Ma-ziêre sobre as "piêceé esquillées".

Freqüentemente, as ilustrações mostram produtos bipo-lares, mesmo quando os autores não souberam identificar osvestígios (os nucleiformes costumam ser interpretados comoraspadores): é o caso para as indústrias de quartzo do "Na-chikufan" de Zambia (Miller, 1972), e para as do Mesilíticoalpino italiano (Broglio & Lunz 1983).

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Uma técnica aparentada, que chamaremos "moagem" deveser diferenciada do trabalho bipolar. A moagem consiste emquebrar resíduos de debitagem num pilão ou sobre um bigorna,para obter pequenos fragmentos aproveitáveis como "dentes" eminstrumentos como raladores de mandioca (índios Baniwa daAmazônia) ou debulhadores de trigo (Turquia, até meados doséculo XX).

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

BROADBENT, N.1979. "Coastal Resources ahd Settlement Stability" Archae1.ogi-

cal. studies, Uppsala Univ., vo1. 3, 268 p.BROGLIO, A. & LUNZ, R.

1984. "Osservazioni preliminari sull'utilizzazione deI cris-tallo di rocca ne1le industrie mesolitiehe del Baeinodel'Adige" preist:oria A1.pina - Museo Tridentino di Se.Nat., Trento 19: 201-208.DICKINSON, F.P.

1977. "Quartz Flaking" in STONE TOOLS AS CULTURAL MARKERS, ed.by R.V.S. Wright. Australian Institute of AboriginalStudies, Canberra, pp. 97-104.MAZIERE, G.

1984. "La piêee esquillée, outil ou déehet?" Bulletin de IaSoeiété Préhistorique Française, 81(6): 182-187.

1972.MILLER, S."Archaeological Sequence of theVI Congress Panafric. Prehist.p. 560-571.

Zambian Later Stone Age"(Dakar 1967). Chambéry,

RANERE, A.1975. "Too1-making among the preeeramic people of Panama" in:

SWANSON, E. ed. "Lithic Technology". Mouton, The Ha-gue/Paris, pp. 173-209.

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.•LEGENDA DAS ILUSTRAÇOESFIGURA ~:

a) Morfologia de um cristal de quartzo e nomenclaturab) Batedor bipolarc) Posição dos instrumentosd) Bigorna para lascamento bipolar de material lítico

Debitagem: processo inicial (e); rachamento (f) formando dois"hemilitos"; redução progressiva (g).

FIGURA 2:

Debi tagem do quartzo por lascamento bipolar (Santa~.3.doRiacho) .

Nucleiformes: bicônico (a); prismático (b); chato, em fatia(c); colunares (f, m); retangularjpiêce esquillée (q).

Lascas: simples, mostrando mudança de orientação da percussão(d); laminar a partir de arestas corticais (e) ou de ares-tas de debitagem (n, p).

"Agulhas" lembrando buris (g-i)Resíduo de percussão bipolar transversal (j).Lascamentos como os de "]" já foram confundidos com retoque de~aspador, por vários autores.

FIGURA 3:

Debitagem experimental de quartzoa) Oebitagem de duas pseudo lâminas (1 e 3) a partir de um

cristal (nucleiforme: 2)b) Lâmina .bipolar secundária. Lasca bipolar (f).

Nucleiformes (c: sub-retangular; e: colunar). Agulha (g).

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c) Retirada de uma lasca laminar inicial por percussão bipolar(d) h: debitagem bipolar transversal (1); detalhe de um dosprodutos (2).

FIGURA 4:

a: produtos da debitagem de uma única peça (silex preto deItacarambi)

b-e: sílex verde do centro mineirob: lasca laminar secundária;c: "piece esquillée" típica;d: lasca bipolar retirada de "c";e: nucleiforme bicônico.

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CRISTAL: Morfologia

BATEDOR BIPOLAR

-,f--+ __ Fccerc Iosonçulursuplementar

® Looniz ccâo do desgaste

{pontos profundos)Estrias decrescimento

Zona mais opaca

o.

~ Percussõovertical

Rachamento

Fig. I

Tendência

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I inearidade

na bigorna

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3

I _ Lascas com parte distalnão esmagado.

2 _ Nucleiforme.

3 _ Lasca fina "uttr c chata'.

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