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11 Braz J Periodontol - June 2012 - volume 22 - issue 02 An official publication of the Brazilian Society of Periodontology ISSN-0103-9393 A TERAPIA FOTODINÂMICA ANTIMICROBIANA COMO OPÇÃO DE TRATAMENTO NÃO INVASIVO DA PERI- IMPLANTITE - REVISÃO DE LITERATURA Antimicrobial photodynamic therapy like an option to peri-implantitis non- invasive treatment - A literature’s review Ricardo de Oliveira Corrêa 1 , Ronaldo Rettore Júnior 2 , Gerdal Roberto de Sousa 3 1 Especialista em Dentística pela EFOA-MG; especialista em Implantodontia pelo CEO-IPSEMG; 2 Mestre em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial pela PUC-RS; doutor em Implantodontia pela Faculdade São Leopoldo Mandic; 3 Doutor em Bioengenharia DEMC/UFMG Recebimento: 28/09/11 - Correção: 30/11/12 - Aceite: 24/02/12 RESUMO A peri-implantite é uma doença bacteriana infecciosa que ataca principalmente a região circundante aos implantes dentários osseointegrados. Uma das consequências da peri-implantite é a perda óssea progressiva e até a perda do implante, por isso a importância de que seja tratada com eficiência. Entre os tratamentos possíveis estão os convencionais, que podem ser químicos (antibioticoterapia) ou mecânicos (raspagem local), e pela Terapia Fotodinâmica Antimicrobiana (aPDT), que se apresenta como uma nova alternativa para o tratamento dessas infecções. No intuito da obtenção de maior eficácia no tratamento, estas terapias podem ser utilizadas em conjunto. O tratamento convencional associado ou não a antibióticos não é capaz de eliminar todos os microrganismos instalados na peri-implantite e a aPDT tem sido empregada nestes casos para aumentar a atividade antimicrobiana. Alguns dos microrganismos encontrados na peri-implantite são: Porphyromonas gingivalis, Prevotela intermedia e Aggregatibacter actinomycetemcomitans. A aPDT consiste no uso do laser de baixa intensidade associada a um agente fotossensibilizador diretamente no local da infecção que origina uma reação com formação de espécies reativas de oxigênio que são citotóxicas para os microrganismos patógenos com redução microbiana local. UNITERMOS: Terapia Fotodinâmica Antimicrobiana; Peri-implantite; Implantes dentários. R Periodontia 2012; 22:11-16. INTRODUÇÃO A peri-implantite é uma contaminação bacteriana da superfície do implante que envolve a perda progressiva de osso. De acordo com Yamada Jr. et al. (2004), os lasers em baixa intensidade quando associados a corantes fotossensibilizadores podem produzir morte microbiana. Este processo é conhecido por Terapia Fotodinâmica Antimicrobiana ou aPDT (Antimicrobial Photodynamic Therapy). Para que a aPDT seja utilizada de forma adequada e segura são imprescindíveis sólidos conhecimentos em sua área de atuação, conhecimentos na área da biologia e da física. Segundo Takasaki et al. (2009), a aPDT foi descoberta por acaso no início do século 20 e foi aplicada como inativação de bactérias por meio da indução de luz. Com a aplicação de luz de certo comprimento de onda ocorre a ativação do fotossensibilizador que produz oxigênio singleto e outros agentes reativos, que são altamente tóxicos a certas bactérias. Andersen et al. (2007) declaram que na década passada muitas investigações foram feitas sobre a ação dos agentes fotossensibilizantes e luz como antimicrobianos. As moléculas, ao absorverem luz podem atingir um estado excitado (elétrons com spin pareados). Este estado excitado pode voltar ao estado fundamental (elétrons com spin não pareados) transferindo energia diretamente ao oxigênio molecular. Esta troca de energia faz com que o oxigênio atinja uma forma excitada, o oxigênio singleto, e este estado altamente reativo pode causar morte celular microbiana por diversos mecanismos, incluindo peroxidação lipídica, inibição do sistema enzimático, aglutinação protéica e por reações biológicas em outros sistemas. Hayek et al. (2005) preconizam que os resíduos

A Terapia Fotodinâmica Antimicrobiana Como Opção de Tratamento Não Invasivo Da Periimplantite Uma Revisão de Literatura

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Braz J Periodontol - June 2012 - volume 22 - issue 02

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A TERApIA fOTODINÂmICA ANTImICRObIANA COmO OpÇÃO DE TRATAmENTO NÃO INVAsIVO DA pERI-ImpLANTITE - REVIsÃO DE LITERATURAAntimicrobial photodynamic therapy like an option to peri-implantitis non- invasive treatment - A literature’s review

Ricardo de Oliveira Corrêa1, Ronaldo Rettore Júnior2, Gerdal Roberto de Sousa3

1 Especialista em Dentística pela EFOA-MG; especialista em Implantodontia pelo CEO-IPSEMG;

2 Mestre em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial pela PUC-RS; doutor em Implantodontia pela Faculdade São Leopoldo Mandic;

3 Doutor em Bioengenharia DEMC/UFMG

Recebimento: 28/09/11 - Correção: 30/11/12 - Aceite: 24/02/12

RESUMO

A peri-implantite é uma doença bacteriana infecciosa que ataca principalmente a região circundante aos implantes dentários osseointegrados. Uma das consequências da peri-implantite é a perda óssea progressiva e até a perda do implante, por isso a importância de que seja tratada com eficiência. Entre os tratamentos possíveis estão os convencionais, que podem ser químicos (antibioticoterapia) ou mecânicos (raspagem local), e pela Terapia Fotodinâmica Antimicrobiana (aPDT), que se apresenta como uma nova alternativa para o tratamento dessas infecções. No intuito da obtenção de maior eficácia no tratamento, estas terapias podem ser utilizadas em conjunto. O tratamento convencional associado ou não a antibióticos não é capaz de eliminar todos os microrganismos instalados na peri-implantite e a aPDT tem sido empregada nestes casos para aumentar a atividade antimicrobiana. Alguns dos microrganismos encontrados na peri-implantite são: Porphyromonas gingivalis, Prevotela intermedia e Aggregatibacter actinomycetemcomitans. A aPDT consiste no uso do laser de baixa intensidade associada a um agente fotossensibilizador diretamente no local da infecção que origina uma reação com formação de espécies reativas de oxigênio que são citotóxicas para os microrganismos patógenos com redução microbiana local.

UNITERMOS: Terapia Fotodinâmica Antimicrobiana; Peri-implantite; Implantes dentários. R Periodontia 2012; 22:11-16.

INTRODUÇÃO

A peri-implantite é uma contaminação bacteriana da superfície do implante que envolve a perda progressiva de osso. De acordo com Yamada Jr. et al. (2004), os lasers em baixa intensidade quando associados a corantes fotossensibilizadores podem produzir morte microbiana. Este processo é conhecido por Terapia Fotodinâmica Antimicrobiana ou aPDT (Antimicrobial Photodynamic Therapy).

Para que a aPDT seja utilizada de forma adequada e segura são imprescindíveis sólidos conhecimentos em sua área de atuação, conhecimentos na área da biologia e da física.

Segundo Takasaki et al. (2009), a aPDT foi descoberta por acaso no início do século 20 e foi aplicada como inativação de bactérias por meio da indução de luz. Com a aplicação de luz de certo comprimento de onda ocorre a ativação do

fotossensibilizador que produz oxigênio singleto e outros agentes reativos, que são altamente tóxicos a certas bactérias.

Andersen et al. (2007) declaram que na década passada muitas investigações foram feitas sobre a ação dos agentes fotossensibilizantes e luz como antimicrobianos. As moléculas, ao absorverem luz podem atingir um estado excitado (elétrons com spin pareados). Este estado excitado pode voltar ao estado fundamental (elétrons com spin não pareados) transferindo energia diretamente ao oxigênio molecular. Esta troca de energia faz com que o oxigênio atinja uma forma excitada, o oxigênio singleto, e este estado altamente reativo pode causar morte celular microbiana por diversos mecanismos, incluindo peroxidação lipídica, inibição do sistema enzimático, aglutinação protéica e por reações biológicas em outros sistemas.

Hayek et al. (2005) preconizam que os resíduos

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bacterianos e não bacterianos devem ser removidos da superfície do implante para se obter resultados positivos de estabilidade clínica após o procedimento. Torna-se muito difícil a limpeza das superfícies irregulares dos implantes, uma vez que as bactérias estão protegidas nas micro irregularidades ou reentrâncias da superfície. A utilização de antibióticos tem efeitos positivos quanto aos parâmetros clínicos e microbiológicos da peri-implantite, porém, esta opção está se tornando cada vez menos atrativa devido ao desenvolvimento de resistência a antibióticos pelas bactérias4.

Andersen et al. (2007) afirmam que o uso da fototerapia letal para a inativação de bactérias periodontopatogênicas geram alguns benefícios específicos ao tratamento das periodontites, incluindo a diminuição de resistência aos antibióticos, a possibilidade de atingir toda a extensão da bolsa periodontal, a inativação de fatores de virulência associado às bactérias gram-negativas, a facilidade de uso e a possibilidade de atingir microrganismos associados aos tecidos.

Com relação à aPDT, os agentes fotossensibilizadores mais efetivos na inativação de bactérias periodontopatogênicas gram-positivas e gram-negativas têm sido o azul de metileno e o azul de toluidina O, sendo estes os mais escolhidos no tratamento da peri-implantite.

Existem inúmeros outros produtos que exibem características fotossensibilizadoras. Segundo Andersen et al. (2007), a utilização dos critérios para a escolha do agente fotossensibilizador é de fundamental importância e estão baseados em ação seletiva sobre as bactérias, mínimo manchamento sobre as superfícies da mucosa, ganho elevado de radicais livres, segurança de uso comprovada e eficácia demonstrada contra os patógenos alvo. Azul de metileno e azul de toluidina O tem sido utilizados por mais de cem anos em humanos de maneira segura e apresentam um perfil de baixa toxicidade.

Os agentes fotossensibil izadores são colocados diretamente na bolsa peri-implantar antes da ativação com laser através de aerossol ou levados por injeção intersticial. A luz que ativa o corante deve ter um comprimento de onda ressonante, com baixa intensidade. A citotoxidade primária do agente responsável pelos efeitos biológicos do processo foto-oxidativo é o oxigênio singleto. Os estudos da aPDT têm sido cada vez mais aplicados devido à simplicidade do método e da alta efetividade no combate e eliminação bacteriana.

Esta revisão de literatura tem o objetivo de descrever a técnica da aPDT como método de eliminação de bactérias associadas à peri-implantite, ressaltando as características e funcionabilidade dos lasers, bem como as indicações e vantagens deste procedimento comparando-o às técnicas

convencionais empregadas para o tratamento desta patologia.

REVIsÃO DA LITERATURA

Peri-implantiteConforme define Hayek et al. (2005), a peri-implantite é

uma doença infecciosa que afeta os tecidos peri-implantares. É uma infecção local e relativamente superficial causada por microbiota da cavidade oral que coloniza a superfície do implante, resultando em bolsas peri-implantares, com destruição do osso alveolar e, se não tratada, até à perda do implante.

Corroboram Leonhardt et al.,1993; Ferreira et al.,2006 que o biofilme detectado na ocorrência de peri-implantite consiste em: Fusobacterium, Spirochaeta, Aggregatibacter actinomycetemcomitans, espécies de Porphyromonas gingivalis e Prevotella intermedia pigmentada por negro e Campylobacter rectus. Estas bactérias constituem os principais microrganismos causadores da perda óssea peri-implantar em falhas de osseointegração.

Segundo Mombelli, 2002; Hammerle & Glauser, 2004 o diagnóstico da peri-implantite pode ser realizado através da observação dos sinais e sintomas clínicos desenvolvidos. Através de sondagem peri-implantar torna-se possível avaliar a distância entre a margem gengival e um ponto de referência do implante, a resistência dos tecidos, a existência de exsudação e supuração do espaço peri-implantar, além de sua profundidade e existência de sangramento após o procedimento.

Atassi (2002) adverte que em caso de bolsas com profundidade superior a 5 mm, deve-se considerar a possibilidade real de contaminação. O exame radiográfico pode ser muito útil, mas deve ser avaliado de forma criteriosa considerando os achados clínicos, a possibilidade da existência de defeitos ósseos e as limitações inerentes à técnica, situações onde houve perda superior a 30% da massa óssea merecem atenção especial. Delgado-Molina et al. (1999) complementam explicando que quando a perda óssea é devida a uma infecção, além dos microrganismos mencionados, supuração, aumento da profundidade de sondagem e sangramento, altos índices de placa, edema gengival, dor à mastigação e presença de tecido de granulação ao redor dos implantes podem ser detectados. Entretanto, quando a perda está relacionada com stress mecânico, inicialmente não são observados os periodontopatógenos e ao exame radiológico é verificado aumento do espaço peri-implantar e perda óssea em altura sem a presença de supuração ou outros sinais inerentes ao processo inflamatório, além disto, verifica-se que o implante frequentemente é encapsulado por tecido fibroso com pouca

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presença de tecido de granulação.De acordo com Francio et al. (2008), atualmente, são

descritos vários métodos de descontaminação da superfície do implante no intuito de prevenir as falhas. Não existem dados que validem um protocolo específico de procedimento, não havendo evidência em relação ao tratamento antimicrobiano efetivo para a longevidade do implante. Dörtbudak et al. (2001) ressaltam que se encontram entre as técnicas utilizadas a aplicação de ácido cítrico, tratamento com partícula de ar abrasiva, descontaminação mecânica com curetas ou raspadores e a aplicação de raspadores ultrassônicos revestidos de plásticos. A aplicação de jatos de pó é considerada o método mecânico mais efetivo.

Fontes de luz utilizadas na terapia fotodinâmica antimicrobiana e substâncias fotoabsorvedoras

Pinheiro et al. (2010) preconizam que o laser tem sido proposto como alternativa aos meios convencionais para tratamentos odontológicos, constituindo-se em equipamentos de extrema precisão ao levar uma quantidade grande de energia aos tecidos. Logo no início de sua utilização, verificou-se que o laser como instrumento cirúrgico seria muito benéfico. Atualmente, o uso dos lasers na odontologia está bastante difundido. Cada meio ativo resulta em um tipo diferente de radiação, cada uma com um efeito diferente nos tecidos.

Pinheiro et al. (2010) descrevem a classificação dos lasers em dois grandes grupos: os lasers clínicos, de baixa potência, não cirúrgicos, LILT (Low-intensity laser therapy), LLLT (low-level laser therapy) e os lasers cirúrgicos – hard-lasers, lasers de alta potência ou HILT (high-intensity laser therapy). No tratamento da peri-implantite são utilizados apenas os lasers de baixa intensidade, que têm efeitos teciduais não térmicos sobre os tecidos biológicos. Nas pesquisas realizadas na atualidade, tem-se constatado que os lasers em baixa intensidade tem a capacidade de produzir diversos efeitos terapêuticos, como analgésicos, anti-inflamatórios e trófico-regenerativos. De acordo com o autor, inicialmente o laser He-Ne (90% Hélio e 10% Neônio) era o mais utilizado, com comprimento de onda de 632,8 nm emitindo na faixa do vermelho no espectro visível. Atualmente é utilizado também o laser InGaAIP (índio, gálio, alumínio e fósforo), que emitem comprimentos de onda na faixa entre 630 e 700 nm. Este comprimento de onda é indicado no tratamento de gengivites, feridas cutâneas e mucosas, herpes simples e reparo dos tecidos moles, entre outras. Também são utilizados na aPDT, que é um processo onde a reação fotoquímica citotóxica é desencadeada pela exposição de um tecido fotossensibilizado ao laser.

De acordo com Yamada Jr. et al. (2004), os lasers em

baixa intensidade associados aos corantes exógenos podem produzir morte microbiana. Este processo é conhecido por Terapia Fotodinâmica Antimicrobiana ou aPDT (Antimicrobial Photodynamic Therapy). A aPDT consiste na associação de um agente fotossensibilizante - normalmente exógeno - e uma fonte de luz, provocando assim a necrose celular e morte microbiana. Esta ação ocorre quando o agente fotossensibilizador absorve os fótons de uma fonte de luz e seus elétrons passam a um estado excitado. Na presença de oxigênio (substrato), o agente fotossensibilizante transfere energia ao oxigênio e retorna ao seu estado natural, formando espécies de vida curta e altamente reativas, como o oxigênio singleto, que pode provocar sérios danos aos microrganismos via oxidação irreversível de componentes celulares.

Para que a aPDT cause efeitos nas bactérias causadoras da peri-implantite é necessário que o agente fotossensibilizador seja absorvido pelos tecidos, conforme concordam Nitzan et al., 1992; Merchat et al.,1996. Estudos mostram que as bactérias gram-positivas (G+) estão mais susceptíveis à ação da aPDT. Entretanto, algumas bactérias gram-negativas (G-), apesar de serem mais resistentes, são também possíveis de serem eliminadas. Essa resistência pode ser explicada pela mudança na parede da célula ou por seleção de corantes específicos.

O azul de toluidina e o azul de metileno são agentes fotossensibilizadores muito efetivos para inativação de bactérias periodontopatogênicas gram-positivas e gram-negativas, de acordo com Takasaki et al. (2009).

Os fotossensibilizadores são moléculas que têm como propriedade especial a absorção de energia luminosa com utilização desta mesma energia em reações químicas nas células e tecidos submetidos à aPDT. A absorção de luz no comprimento de onda correto deve ser uma característica do fotossensibilizador. Segundo Dörtbudak et al. (2001), a maioria das células não apresenta componentes fotossensíveis, portanto, é importante a utilização de um fotossensibilizador que atraia a luz para si e inicie a formação de radicais livres. Para terem sua eficácia comprovada, os agentes fotossensibilizadores devem ter picos de absorção muito próximos ao comprimento de onda da luz laser a ser utilizada no tratamento e não podem apresentar riscos ou danos tóxicos ao paciente.

Sousa (2007) ressalta que os LEDs (Light Emitting Diode - Diodo emissor de luz) são também encontrados como fonte de luz e constituem-se dispositivos utilizados na Odontologia. Os LEDs são estruturas compostas por dois materiais semicondutores, onde ocorre a emissão de luz pela diferença de carga na junção destes semicondutores. Da mesma forma que os lasers, também são monocromáticos,

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porém, tem como diferença o feixe de luz divergente - que é colimada nos lasers.

Mecanismos de ação da aPDT na redução microbiana

Segundo Takasaki et al. (2009), o efeito bactericida da aPDT pode ser explicado por dois mecanismos diferentes: o primeiro é sobre o DNA e o segundo é causado à membrana citoplasmática da bactéria pelas espécies citotóxicas geradas pela aPDT, levando a eventos como a inativação do sistema de transporte da membrana, peroxidação e outros. Após a irradiação com a luz com um comprimento de onda específico, o corante (fotossensibilizador) em estado fundamental é ativado ao estado altamente energizado. O tempo maior de vida do estado altamente energizado impossibilita a interação do fotossensibilizador excitado com as moléculas em sua volta e isto faz com que se acredite que as espécies citotóxicas produzidas durante a aPDT ocorram neste estado. O fotossensibilizador segue dois caminhos diferentes para reagir com as biomoléculas. As reações do tipo I (Figura 1) envolvem separação dos átomos de hidrogênio ou reações de transporte de elétrons entre o estado excitado do fotossensibilizador e um substrato molecular orgânico de células que produz radicais livres. Estas espécies de radicais livres são altamente reativas e interagem com oxigênio molecular para produzir espécies reativas de oxigênio, que são nocivos para a integridade da membrana celular, causando irreparável risco biológico. Na reação tipo II (Figura 1), o estado fotossensibilizador reage com o oxigênio para produzir um estado de oxigênio eletronicamente excitado, conhecido como oxigênio singleto, que pode interagir com um grande número de substâncias biológicas e, como resultado, uma alta reatividade química levando ao risco oxidativo e finalmente ao efeito letal sobre a célula bacteriana, membrana e parede celular.

Protocolo de aplicação em ImplantodontiaSegundo Sousa et al. (2011), a aplicação da aPDT

deverá ser realizada de forma protocolada iniciando-se com isolamento relativo da área seguida da deposição do agente fotossensibilizador dentro da bolsa com auxílio de cânulas ou seringas. Um período de pré-irradiação deverá ser aguardado por cinco minutos, após esta etapa inicia-se a irradiação com laser com comprimento de onda de 660 nm, 40mW de potência e tempo de 120 segundos por sítio, energia de 4,8 Joules e densidade de energia de 120 Joules/cm2 ou para equipamentos que possuem potência de 100mW, o tempo de irradiação diminui para 50 segundos. A raspagem da superfície dos implantes será feita após a técnica da aPDT, de acordo

com a terapia proposta.

REsULTADOs E DIsCUssÃO

Como opções de tratamento da peri-implantite já instalada, encontra-se a terapia convencional, que inclui raspagens supra e submucosa, irrigação com solução de clorexidina, administração de antibióticos via sistêmica e nos casos de maior gravidade, intervenção cirúrgica, segundo Mombelli & Lang, 1998; Roos-Jansaker et al., 2003.

Marotti et al. (2008) ressalta a importância de se conhecer a gravidade da infecção peri-implantar e sua etiologia microbiana para apontar o melhor tipo de terapia a ser utilizada.

Pinheiro et al. (2010) preconizaram que a aPDT com uso de laser de baixa intensidade tem um efeito bastante eficaz sobre os agentes causadores da peri-implantite (alto efeito bactericida). Isto porque a morte celular mediada pela liberação de radicais livres torna improvável o desenvolvimento da resistência pelos microrganismos, podendo ser reaplicada

Figura 1 - Mecanismo de interação da aPDT Fonte: TAKASAKI et al., 2009.

agentefotossensibilizador

laser

estado altamenteenergizado

oxigêniomolecular

oxigêniosingleto

efeito tóxico

ou letal

para a célula

radicaislivres

substratoorgânico

rea

çã

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se houver necessidade, o que se constitui numa grande vantagem sobre os antibióticos.

Takasaki et al. (2009) enfatizam outra vantagem da aPDT, que é o fato de não haver necessidade de manter altas concentrações de azul de toluidina nos defeitos peri-implantares por longos períodos, já que a erradicação das bactérias acontece de forma bastante rápida.

Sousa (2007) relata que a aplicação tópica ou por irrigação de substâncias fotossensíveis em sítios infectados e a aplicação de fonte de luz em um comprimento de onda ressonante resulta em espécies químicas reativas capazes de induzir a inativação dos patógenos daquela área.

Pinheiro et al. (2010) ressalta que recentemente os diodos emissores de luz (LED) têm sido sugeridas como luz ativadora na aPDT devido ao fato de os equipamentos serem mais compactos e portáteis, com um custo bem menor em comparação aos lasers tradicionais.

Em concordância, Yamada et al. (2004) acrescenta que outro ponto é que os lasers de diodo apresentam efeito microbiano semelhante ao obtido pelo laser He-ne, pois os primeiros têm maior potência, são mais robustos, não necessitam de espelhos e têm menor custo.

O estudo de Tessare Jr. (2008) onde são comparados procedimentos relativos aos métodos convencionais (raspagem e alisamento radicular) em relação à aPDT com laser de 685 nm e agente fotossensibilizador azul de metileno a 0,05% evidenciou que este último complementa os tratamentos de peri-implantite já existentes e preenche algumas lacunas que poderiam levar ao insucesso dos tratamentos convencionais.

Hayek et al. (2005) também comparou o resultado de pesquisas realizadas (em cães) onde foram utilizados métodos convencionais (cirurgia a retalho e irrigação local com clorexidina à 0,12%) e aPDT como terapias, onde não encontrou diferenças estatisticamente significativas em relação ao decréscimo de bactérias causadoras da peri-implantite. A diferença é que no método convencional fez-se necessária cirurgia à retalho mucoperióstico para a limpeza da superfície do implante, o que faz este método invasivo e desconfortável para o paciente. A aPDT constitui-se num método não invasivo, apresentando-se mais favorável por não causar nenhum desconforto ao paciente.

Já Francio et al. (2008) afirmam não haver evidência em relação ao tipo de tratamento antimicrobiano (se convencional ou não) na efetividade sobre a longevidade do implante. Isso pode ser relatado em função do tempo de acompanhamento das pesquisas científicas realizadas, que não tem ultrapassado a 10 anos. O implante que não falhou durante esse período ainda pode apresentar falha, por isso as pesquisas precisam

abranger um período maior de tempo para que as afirmativas sejam seguras e pertinentes.

Dörtbudak et al. (2001) relataram, por meio de estudo em 15 pacientes, que bactérias presentes na peri-implantite como Porphyromonas gingivalis, Prevotella intermedia e Aggregatibacter actinocycetemcomitans tiveram uma redução de 92% com o tratamento da aPDT com laser de baixa intensidade, sendo que a Porphyromonas gingivalis reduziram em 97%.

Já nos estudos de Haas et al. (1997), a efetividade da aPDT foi avaliada em diferentes superfícies de implantes através de exames microbiológicos. O resultado obtido foi que a aplicação de laser de baixa intensidade associada ao fotossensibilizador (corante) foi muito efetiva na redução bacteriana, porém, a eliminação bacteriana não foi completa.

De forma geral, vários autores como Nitzan et al., 1992; Merchat et al., 1996; Yamada Jr. et al., 2009; Pinheiro et al., 2010 corroboram que a erradicação de bactérias patogênicas nas doenças periodontal e peri-implantar têm encontrado na aPDT uma nova e promissora abordagem terapêutica.

CONCLUsÃO

De acordo com a revisão da literatura mencionada neste estudo, pôde-se concluir que a eficiência da aPDT está relacionada à associação de um fotossensibilizador, um laser de baixa intensidade e o oxigênio singleto (1O2), que vai levar o efeito tóxico ou letal para a célula bacteriana. A aPDT tem despontado como um tratamento eficaz no combate às bactérias presentes na peri-implantite, sendo largamente utilizada devido ao fato de ser não invasiva e, portanto, ser menos desconfortável ao paciente.

AbsTRACT

Peri-implantitis is an infectious disease which attacks principally regions adjacent to osteointegrated dental implants. One result of peri-implantitis is progressive bone loss, and implant loss, which the reason for the importance of efficacy treatment. Several methods of treatment are used: conventional, in which certain chemicals are used like therapy with antibiotics, mechanical (local scaling) or Antimicrobial Photodynamic Therapy which is a new approach to the treatment of implant infection. To obtain a greater efficacy in treatment, therapies can be combined. Conventional treatment combined or not with antibiotics is not able to eliminate all microorganisms in peri-implantitis; therefor, Photodynamic Therapy is employed in such cases in order to raise antimicrobial activity. Some of the microorganisms found

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in peri-implantitis are: Porphyromonas gingivalis, Prevotela intermedia and Aggregatibacter actinomycetemcomitans. Photodynamic Therapy consists in using low intensity laser associated with a photosensitizer focused directly on the infected area. This application creates a reaction with the formation of reactive oxygen, which is citotoxical to pathogens thus reducing local microbials.

UNITERMS: Antimicrobial photodynamic therapy; Peri-implantitis; Dental implants.

* Os autores declaram a inexistência de conflito de interesse e apoio financeiro relacionados ao presente artigo.

REfERÊNCIAs bIbLIOGRÁfICAs

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Endereço para correspondência:

Ricardo de Oliveira Corrêa

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