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A UTILIZAÇÃO DA TÉCNICA DE CROCHETAGEM EM PACIENTE
SUBMETIDA À MASTECTOMIA RADICAL: UM ESTUDO DE CASO
USING THE TECHNIQUE CROCHETAGEM IN PATIENTS SUBMITTED
TO RADICAL MASTECTOMY: A CASE STUDY
Autora: Ana Cláudia de Freitas Pedron – Escola de Terapia Manual e
Postural/CESUMAR.
- Graduada em Fisioterapia pela Universidade Católica de Brasília.
- Pós graduada em Terapia Manual e Postural pela Escola de terapia manual e postural em
parceria com o Centro Universitário de Maringá.
- Fisioterapeuta do Centro Clínico Unifisio de Reabilitação.
- Membro da Associação Brasileira de Crochetagem.
- Contato: CSB 03 Lotes 2/6 Apto: 1101 - Taguatinga/DF - (61) 8428-8803, (61) 3562-1020,
Co-autora: Tayane Cynthia Pereira Galdino
- Graduada pelo Centro Universitário UNIEURO.
- Fisioterapeuta do CACOM – DF
Co-autor: Henrique Baumgarth –
- Professor Titular da Universidade Estácio de Sá.
- Professor Titular da Universidade Severino Sombra.
- Professor Titular do I.O.R.
- Especialista em Osteopatia
- Especialista em Psicomotricidade.
- Mestre em Educação
- Presidente da Associação Brasileira de Crochetagem.
2
Resumo
INTRODUÇÃO: O câncer de mama é o resultado da proliferação desordenada de
determinadas células do próprio corpo, muito comum em mulheres, com grande aumento de
casos a cada ano. A mastectomia radical é um dos tipos de tratamento cirúrgico para o câncer
de mama, realizado quando há comprometimento dos linfonodos e do sistema linfático. A
Crochetagem ou diafibrólise percutânea é um método de tratamento fisioterapêutico que
utiliza um gancho, visando à quebra de aderências e de fibroses do sistema músculo-
esquelético decorridos do procedimento cirúrgico. Atua sobre restrições de mobilidade de
qualquer elemento conjuntivo de desordens mecânicas ou de bloqueios funcionais, como por
exemplo as cicatrizes. OBJETIVO: Avaliar a amplitude de movimento (ADM) do ombro
ipsilateral à cirurgia de mastectomia radical, nos movimentos de flexão e abdução através da
goniometria, antes e depois do tratamento com o método Crochetagem. MÉTODO: Foi
realizado um estudo de caso, com uma paciente submetida à mastectomia radical. Utilizando
o goniômetro, verificou-se a ADM pré e após a aplicação da técnica de Crochetagem. Foram
realizadas 10 sessões consecutivas, com duração de 40 minutos aproximadamente.
RESULTADOS: O resultado demonstrou que ao final da 10ª sessão houve um ganho de arco
de movimento de flexão e abdução, se comparado com a mensuração inicial. CONCLUSÃO:
Ao término do estudo, pode-se concluir que a técnica de Crochetagem foi eficiente na
restauração do arco de movimento de Flexão e Abdução em paciente submetida à
mastectomia radical.
Palavras Chaves: Câncer de mama, Mastectomia radical, Crochetagem, Amplitude de
movimento (ADM), Fibrose, Fáscia.
3
Abstract
INTRODUCTION: Breast cancer is the result of uncontrolled proliferation of certain
cells of the body, very common in women with a great number of cases each year. A radical
mastectomy is a type of surgical treatment for breast cancer, conducted when there is
compromise of lymph node and lymphatic system. The “Crochetagem” or percutaneous
diafibrolisis is a method of physical therapy that uses a hook, aiming to break adhesions and
fibrosis of skeletal muscle after the surgery. It acts on mobility restrictions of any element of
connective disorders mechanical or functional blocks, such as scars. OBJECTIVE: Assess
the range of motion (ROM) of the shoulder on the same side of the radical mastectomy
surgery, in flexion and abduction by goniometry, before and after treatment with the method
“Crochetagem”. METHODS: We conducted a case study with a patient who was submitted to
a radical mastectomy. Using the goniometer, it was verified the ROM before and after
applying the technique “Crochetagem”. Ten sessions were conducted consecutively, lasting
approximately 40 minutes each. RESULTS: The results demonstrated that by the end of the
10th session, there was a gain in the range of motion of flexion and abduction, as compared
with the initial measurement. CONCLUSION: At the end of the study, it can be concluded
that the technique of “Crochetagem” was effective in restoring the range of motion in flexion
and abduction in a patient submitted to a radical mastectomy.
Keywords: Breast cancer, radical mastectomy, “Crochetagem”, Range of motion
(ROM), fibrosis, “fascia”.
4
Introdução
O câncer de mama ou carcinoma mamário é o resultado da proliferação desordenada
de determinadas células do próprio corpo, que se reproduzem em grande velocidade,
desencadeando o aparecimento de tumores ou neoplasias malignas que podem vir a afetar os
tecidos adjacentes, como a via linfática e provocar metástases. A disseminação num estado
mais avançado ocorrerá pela corrente sanguínea; estas células implantam-se em diferentes
locais do organismo, como: ossos, pulmões, pleura, fígado, cérebro, ovários, globos oculares
e estômago. Este tipo de câncer aparece sob forma de nódulos e, na maioria das vezes, podem
ser identificados pelas próprias mulheres, por meio da prática do auto-exame.1
O carcinoma mamário vem ocupando lugar de destaque, por apresentar incidência
crescente e elevado índice de mortalidade, principalmente em países desenvolvidos e em
mulheres, devido a maior quantidade de tecido mamário e a sua exposição ao endógeno e
estrógeno.2,3,4
É o câncer mais comum e temido, representando um grande problema para a
população feminina, comprometendo-a física, mental e socialmente,2 sendo responsável por
49.470 novos casos em 2005, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA). 5
O diagnóstico e prognóstico associado à perda da mama, símbolo da sua feminilidade,
representa um profundo impacto na mulher, com fortes implicações a nível social e
psicológico, afetando a percepção da sexualidade e a própria imagem corporal, com
consequente diminuição da qualidade de vida. O seu tratamento envolve uma abordagem
múltipla, desde a cirurgia, a quimioterapia, a radioterapia e a hormonoterapia, acarretando
graves consequências físicas.3
Mastectomia é o nome da cirurgia de retirada completa da mama, sendo este um dos
tipos de tratamento cirúrgico para o câncer de mama, realizado quando há comprometimento
dos linfonodos e do sistema linfático, podendo haver retirada parcial ou total dos músculos
peitoral maior e menor.6
Após a mastectomia e a excisão dos nódulos linfáticos adjacentes, a paciente poderá
apresentar algumas complicações tais como: dor, linfedema no membro superior envolvido e
aderências na parede torácica, que podem resultar em risco aumentado de complicações
pulmonares pós-operatórias, diminuição da amplitude de movimento (ADM) no ombro do
lado envolvido e deformidade postural do tronco.7
5
O ombro é a articulação comumente mais afetada em decorrência da limitação da
mobilidade no membro superior homolateral à cirurgia. Na mastectomia radical, o músculo
peitoral maior ao ser removido resultará em redução da força e função do membro superior
envolvido, limitando o movimento de flexão de ombro. Além disso, o nervo torácico longo
poderá ser temporariamente traumatizado havendo então, fraqueza do serrátil anterior e
consequente alteração na estabilização e elevação da escápula, resultando em limitação da
abdução ativa do braço.8
O tratamento fisioterapêutico tem como objetivos, controlar a dor no pós- operatório,
prevenir ou tratar linfedema e alterações posturais, promover o relaxamento muscular, manter
a amplitude de movimento do ombro (o mais próximo de 180° de flexão e abdução da
articulação glenoumeral), melhorar o aspecto e maleabilidade da cicatriz, prevenindo ou
tratando as aderências. O recurso terapêutico mais utilizado é a cinesioterapia (que consiste na
reabilitação através de exercícios) e orientações para as atividades de vida diária.
A técnica que será utilizada no presente estudo, é a Crochetagem aponeurótica, sendo
esta, uma terapia manual.
A Crochetagem é um método de tratamento fisioterapêutico, que consiste em um
tratamento externo indolor, através do uso de um gancho de aço , que visa a quebra de
aderências e de fibroses do sistema músculo-esquelético. Atua sobre restrições de mobilidade
de qualquer elemento conjuntivo de desordens mecânicas ou de bloqueios funcionais, como
por exemplo, as cicatrizes. 9,10
As cicatrizes, provenientes de traumatismos ou de fibrose cicatricial cirúrgica, geram
progressivamente aderências entre os planos teciduais, limitando o movimento normal entre
eles, promovendo uma ação mecânica nestas aderências causando uma liberação e permitindo
que possam ocorrer novamente deslizamentos entre os planos tissulares.11
As aderências cicatriciais também podem trazer conseqüências para o sistema
músculo-esquelético, resultando em alterações funcionais. As amplitudes de movimento
fisiológicas das articulações, relacionadas direta e indiretamente com a região anatômica da
cicatriz, podem estar prejudicadas pela aderência dos tecidos moles provenientes do processo
de cicatrização.12,13
A técnica tem como objetivo o rompimento de pontos de fibrose percutâneos entre as
fáscias, geralmente provocados por cristais de oxalato concentrados em pontos nos planos
aponeuróticos, que impedem o livre movimento entre as capas musculares, causando irritação
muscular, tendinosa, ligamentar e até nervosa. A rapidez dos efeitos da Crochetagem,
6
principalmente no nível dos trigger points sugerem a presença de um efeito reflexo, ou seja, o
alívio da dor e suas consequências.12
A Crochetagem é indicada para patologias articular músculo-tendinosa ou ligamentar,
que tenha como resultado a fibrose ou formação de aderência, como a contratura muscular.
Portanto, é recomendado para patologias que levam a uma retração ou fibrose das fáscias
aponeuróticas.12
O objetivo do presente estudo foi avaliar a ADM através da goniometria, os
movimentos de flexão e abdução de ombro e tratar com a técnica de Crochetagem uma
mulher submetida à mastectomia radical.
7
Metodologia
Neste estudo houve um sujeito, do sexo feminino submetida ao procedimento de
mastectomia radical, com retirada parcial do músculo peitoral maior. A amostra foi escolhida
aleatoriamente, de forma que se adéque aos critérios de inclusão, sendo estes: paciente do
sexo feminino e de qualquer idade, pós operatório de retirada da mama unilateral D ou E,
cirurgia realizada até 6 meses antes da coleta de dados, ausência de lesão nervosa periférica e
que possua limitação de amplitude de movimento em ombro homolateral ao que ocorreu o
procedimento cirúrgico. Para critérios de exclusão, foi adotado: Mulheres que realizaram o
procedimento cirúrgico há mais de 6 meses e que houvesse patologias ortopédicas associadas
em ombro previamente.
Paciente M.F.B.L, do sexo feminino, 48 anos, relata que em 07 de Maio de 2009,
sentiu muita dor no seio à esquerdo. Procurou ajuda médica, que indicou mamografia,
constatando nódulo maligno em seio a E e benigno no seio direito. Foi realizado
posteriormente, no dia 01 de Junho de 2009, nódulo sólido com contorno lobulado, localizado
no QSI, medindo 2,2 cm, distando 1,3 cm de pele. Após biópsia, constatou-se a malignidade.
Foi realizado 9 sessões de quimioterapia na HUB, até novembro de 2009.
No dia 17 de Dezembro de 2009, foi feito o procedimento de mastectomia radical,
retirando parte do músculo peitoral. No dia 21 de Dezembro, foram retirados os pontos. Faz
uso de Toxofen 10 mg, diazepam, neo amitriptilin. Já fez anteriormente sessões com
psiquiatra para depressão. Em 20 de Janeiro de 2010, iniciou fisioterapia no CACON-DF, no
total de 15 sessões antes do início da pesquisa. Atualmente, estão marcadas 25 sessões de
radioterapia.
Para coleta dos dados foi utilizado uma maca fixa (Legno®
), um lápis dermográfico
(Tombow®
), um goniômetro universal (Carci®
) para mensurar o ângulo de flexão e abdução
de ombro e um gancho de aço inoxidável para aplicação da técnica proposta no estudo.
A colaboradora assinou um termo de consentimento livre e esclarecido para que a
pesquisa pudesse ser concretizada com a possibilidade de desistência durante a coleta de
dados. Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da Universidade Católica
Brasília, possibilitando assim, a execução e publicação deste artigo.
O protocolo experimental é constado de uma avaliação da ADM de flexão e abdução
de ombro pré e pós a aplicação da técnica de Crochetagem, através da goniometria.
[R1] Comentário: Acrescentar o número do parecer de aceite do comitê de ética.
ANA: Ainda não foi aprovado, pois não
enviei, visto que só consegui a assinatura do Dr Afonso ontem a noite.Estarei enviando
para o comitê hj, mas axo que só mês que
vem para ter resposta,ok?!Como faço se até a entrega não for aprovado??
Modifiquei o resumo e o abstract.Vê se está
bom agora!!! Obrigada por toda ajuda!!
8
Para a avaliação da ADM de flexão, a paciente encontrou-se em decúbito dorsal, o
braço fixo do goniômetro paralelo ao tronco e braço móvel paralelo ao eixo longitudinal do
úmero em sua face lateral, sendo que o ângulo normal varia de 160° a 180°. Para aferir a
abdução, paciente apresentava-se em decúbito dorsal, braço fixo paralelo ao tronco e o braço
móvel no eixo longitudinal do úmero em sua face anterior. Sua angulação normal varia de
160°a 180°. 13
A coleta foi desenvolvida na residência da paciente como forma de atendimento
domiciliar, evitando assim, constrangimentos. Paciente foi submetida a 10 atendimentos em
dias corridos, incluindo finais de semana, com duração de 30 a 40 minutos diariamente,
sempre executada pelo mesmo avaliador e no mesmo local.
A Crochetagem foi realizada nos músculos e tendões de peitoral maior, deltóide,
trapézio e subescapular homolateral ao membro que foi submetido ao procedimento cirúrgico
e cicatriz.
O músculo peitoral foi parcialmente retirado durante o ato cirúrgico, portanto a
Crochetagem foi realizada na parte restante e palpável deste músculo.
O gancho foi posicionado na unidade miotendinosa perpendicularmente a orientação
longitudinal das fibras. A raspagem de origem e inserção é o primeiro passo para aplicação da
técnica, no intuito de promover um arrasto subdermal.
Em conjunto com a mão oposta, executaram-se movimentos de tração, com três séries
de cinco repetições em cada músculo e tendão e posteriormente drenado de distal para
proximal, recuperando assim, o deslizamento intertissular.
Posteriormente, foi realizada a drenagem do músculo a favor do retorno venoso no
intuito de descongestionar o fluxo circulatório. Ao final, a cicatriz foi ganchada para evitar
maiores aderências e fibroses.
Após a aplicação da técnica, foi mensurado novamente a ADM dos movimentos de
flexão e abdução de ombro e comparada com o ângulo inicial.
9
Resultados
A análise dos dados foi feita através do programa Excel e apresentados de forma
descritiva através de gráficos e tabela (em anexo).
Ao término da 10ª sessão e com todos os ângulos mensurados, pôde-se observar
através da figura 1, a restauração da ADM de flexão e na figura 2, a restauração da ADM ao
movimento de Abdução. As fotos foram tiradas por uma marcação pré-determinada, pelo
mesmo sujeito e com a mesma máquina fotográfica (Samsung ES60 – 12.2 mega pixels).
Ao final da 5ª sessão, ou seja, 50% da coleta, a paciente teve uma recuperação de 32°
do arco de movimento de Flexão e 41° de Abdução de acordo com a figura 3, o que
demonstra um resultado satisfatório. Ao final da 10ª sessão, pode-se observar que houve uma
recuperação de 40ª do movimento de flexão e 50° do movimento de abdução de ombro.
As sessões foram consecutivas, incluindo final de semana, como previsto
anteriormente. É importante ressaltar que não houve intercorrência durante a pesquisa e nem
desistência por parte da paciente.
Portanto, a técnica de Crochetagem mostrou-se eficiente no que diz respeito à
recuperação do arco de movimento de flexão e abdução de ombro. Assim, afirma-se que o
resultado da utilização da técnica de Crochetagem é eficaz na restauração e manutenção da
ADM em pacientes submetidas à mastectomia radical.
10
Discussão
As fáscias são contínuas por todo o corpo, e quaisquer distorções desenvolvidas em
uma determinada região podem potencialmente criar distorções em outros locais,
influenciando negativamente as estruturas suportadas ou conectadas às fáscias, incluindo os
nervos, músculos, estruturas linfáticas e vasos sanguíneos 13
, concordando assim, com o
presente estudo, visto que, quando realizado o procedimento cirúrgico, pode desencadear uma
aderência cicatricial e consequentemente uma fibrose, restringindo assim, a ADM.
As mulheres operadas com câncer da mama que fazem fisioterapia após a cirurgia
recuperam a função mais cedo, sentem-se mais seguras e apresentam menos dificuldades no
processo de reabilitação, objetivando o controle a dor no pós operatório, prevenir ou tratar
linfedema e alterações posturais, promover o relaxamento muscular, manter a amplitude de
movimento do ombro (o mais próximo de 180° de flexão e abdução da articulação
glenoumeral), melhorar o aspecto e maleabilidade da cicatriz, prevenindo ou tratando as
aderências. 3,14
Um estudo feito por Fernandez (1996) revela que os dados que compõe os grupos em
análise, que iniciaram fisioterapia em períodos diferidos no tempo após a cirurgia, já
apresentavam complicações resultantes da mesma, sendo que o seu grau de gravidade, maior
ou menor, parece estar relacionado com o tempo de início da fisioterapia, assim como o
sucesso do seu tratamento. Estas complicações vão de encontro ao descrito na literatura15
.
Os efeitos fisiológicos proporcionados pelo uso da Crochetagem são benéficos, pois
contribuem para recuperar o arco de movimento, aliviar a dor e restaurar a funcionalidade do
membro superior. Por ter a capacidade de quebrar aderências e corpúsculos fibrosos, gerar
reação histamínica pela hiperemia profunda e orientar a deposição de fibras colágenas,
acredita-se que a Crochetagem é um recurso indicado, sendo que outros podem ser associados
na otimização do tratamento 16
, o que explica o resultado obtido no presente estudo.
No protocolo apresentado neste estudo, a paciente realizou 10 sessões com a utilização
da técnica de Crochetagem para alcançar os valores apresentados nos resultados, sem haver
prescrição de exercícios cinesioterapêuticos concomitantes. Estes resultados devem-se a
eficácia da técnica que de acordo com Oliveira (2004), respeita os conceitos anatômicos e
fisiológicos do corpo humano, demonstrando que uma aderência cicatricial pode alterar o
funcionamento global do movimento corporal, devido ao comprometimento e alteração dos
elementos do tecido conjuntivo e as inter-relações por eles apresentadas confirmando
novamente o resultado obtido. 17
11
Perloiro e Pícaro (2005) também descrevem que a contração muscular é um dos
fatores que influenciam no transporte da linfa, favorecendo a sua aspiração para o interior do
vaso. Se a ADM não estiver totalmente recuperada, a contração das fibras musculares da
cintura escapular não será fisiológica, aumentando o risco de desenvolver o linfedema. 18
A restauração no arco de movimento aparentemente está relacionada com os efeitos
fisiológicos da Crochetagem que se dividem em mecânico, circulatório e reflexos; 19
O efeito mecânico tem como objetivo liberar ou reduzir as aderências que estão entre
os músculos e as fáscias 20
através da fibrólise realizada pelo gancho com movimentos de
tração que são semelhantes à fricção transversa e longitudinal criada por Cyrax.21
Sobre o efeito circulatório, a aplicação resulta em uma hiperemia profunda que é
sugestivo da liberação de histamina e bradicinina, provocando a vasodilatação e reduzindo
edemas. A observação clínica dos efeitos da Crochetagem parece demonstrar um aumento da
circulação linfática, o que contribui significativamente para a redução do linfedema. A
rapidez dos resultados durante a técnica principalmente nos trigger points sugere a presença
de um efeito reflexo, ou seja, alívio da dor e suas conseqüências 16
.
Na 8ª sessão, a paciente iniciou a radioterapia, que é um tratamento utilizado como
método de prevenção, que reduz o risco de recidiva do câncer, após a cirurgia e aumenta o
tempo livre da doença 22
.
A disfunção do ombro pode ser agravada pela radioterapia. Em seu estudo Sugden et
al (1998) observaram que mulheres com ADM total anterior à radioterapia apresentaram 24%
de chances de desenvolver problemas persistentes de movimentação do ombro devido às
alterações teciduais em músculos e tecidos moles decorrentes da radioterapia 23
.
Outros estudos sugerem que a limitação pós-radioterapia se deve à fibrose subcutânea com
fixação na musculatura inferior, e não especificamente à fibrose dos músculos, tendões 24
.
Sendo assim, vale ressaltar que a redução da ADM de abdução de ombro na avaliação
inícial da 8ª sessão, pode estar diretamente relacionada ao início do tratamento de
radioterapia.
Podemos observar que o tratamento apresentado neste estudo, para esta paciente,
mostrou-se eficaz no aumento da ADM em paciente submetida à mastectomia radical, que
corrobora com o estudo realizado por Camargo (2000), que descreve a importância da
avaliação e a necessidade do tratamento fisioterapêutico a fim de reabilitar a função no
12
membro ipsilateral à cirurgia além de diminuir complicações tais como: limitação de ADM,
linfedema e quadro álgico agudo 25
.
13
Conclusão
Apesar dos poucos estudos publicados a respeito da aplicação da técnica de
Crochetagem, e do pouco conhecimento que ainda se tem sobre o assunto, o estudo de caso
apresentado neste trabalho evidencia o resultado na restauração no arco de movimento de uma
paciente submetida á cirurgia de mastectomia, demonstrando que uma aderência cicatricial,
pode comprometer a mobilidade, levando a um déficit de ADM. Portanto, pode-se concluir
que a técnica de Crochetagem é eficaz na restauração e manutenção da ADM, visto que o
resultado obtido vai de encontro com a literatura. Propõem-se estudos quantitativos e
estatísticos em pacientes que tenham sido tratados com a técnica anteriormente citada.
14
Referências Bibliográficas
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2. Parloiro F, Pícaro P. A Evidência da Intervenção Precoce da Fisioterapia em Mulheres
Mastectomizadas: Estudo Comparativo; 2005.
3. Alcântara PS, Vieira EO, Pereira CM. Avaliação de protocolo de fisioterapia aplicado a
pacientes mastectomizadas a Madden; 2004.
4. Nunes L, Alves L, Góes J, Campanholi L. Análise goniométrica no pré e pós-operatório de
mastectomia com aplicação de protocolo fisioterapêutico. Curitiba: Rubs, v.2, n.1, p.14-23,
jan./mar. 2006.
5. Leite R. Atuação da fisioterapia em paciente submetido à mastectomia radical com
reconstrução autógena imediata; 2006.
6. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mastectomia.
7. Baraúma PM et AL. Avaliação da Amplitude de Movimento do Ombro em Mulheres
Mastectomizadas Pela Biofotogrametria Computadorizada; 2003.
8. Sasaki T, Lamari NM. Reabilitação funcional precoce pós mastectomia. HB Cient 1997;
4(2):121-7.
9. Rocha L, Jasmim P. O emprego da técnica de Crochetagem; 2007.
10. Baumgarth, H; Baumgarth, I.M. Crochetagem - Aplicação na Dermato-Funcional. In
Borges, FS. Dermato-Funcional: Modalidades Terapêuticas nas Disfunções Estéticas. 2ª Ed.
São Paulo: Phorte. 2010.
11. Peixoto M. Cicatrizes E Aderências: O tratamento fisioterapêutico pela técnica de
Crochetagem; 2003.
[R2] Comentário: Verificar o arquivo Modelos Referências que está em anexo no fórum e revise a formatação de todas as
referências.
ANA: OK!!Já verifiquei 1000 vezes, mas não consigo ver erro! (leitura viciosa!!)
Tem alguma em especial que está
errada????
15
12. Santana L, Moreira D, Raimundo A; Manual fotográfico de goniometria e fleximetria. Ed
Thesaurus. pg 27 e 31; 2007.
13. CHAITOW L. Técnicas avançadas para tecidos moles: Técnicas Neuromusculares
Modernas. 1 ed. SP: Editora Manole, 2001.
14. BOHN M. The Norwegian Physiotherapist Association Standard of Physiotherapy on
management of female breast câncer. Physiotherapy. Vol. 83, Nº 6. pg. 301-4. 1997.
15. FERNANDEZ, J.C. SERIN, D. Rééducation et cancer du sein. 1ª edição Paris: Massen,
1996.
16. CRUZ B. Utilização da Crochetagem no Tratamento Fisioterapêutico da Tendinite do
SupraEspinhal Provocado por Síndrome do Impacto, 2005.
17. OLIVEIRA B. A utilização da técnica de Crochetagem na cicatriz queloideana abdominal,
proporcionando ganho de arco de movimento no ombro, 2004.
18. PERLOIRO F, PÍCARO P. A Evidência da Intervenção Precoce da Fisioterapia em
Mulheres Mastectomizadas: Estudo Comparativo. EssFisiOnline. Vol.1, nº 2, março 2005.
19. BAUMARGHT H et al. Os benefícios da técnica de Crochetagem nos sintomas do
tratamento do neuroma de Morton – estudo de caso. [dissertação]. Universidade Estácio de
Sá. Rio de Janeiro 2007.
20. CARNACEA F, CAMPS P, Aiguadé R. Techniques de crochetage instrumental
myofasciale. Kinesither Rev 2008; França (75): 17-21.
21. LEITE R. Atuação da fisioterapia em paciente submetido à mastectomia radical com
reconstrução autógena imediata. Disponível em: HTTP://www.fitspace.com.br acesso em
29/05/2010.
22. DIETTRICH S. Atividade física e os efeitos colaterais de tratamento do câncer. Revista
Ágora - www.fes.br/revistas/agora/ojs/ - Campo Grande, v.1 n.4. 2005.
16
23. SUGDEN EM, Rezvani M, Harrison JM, Hughes LK. Shoulder movement after the
treatment of early stage breast cancer. Clin Oncol 1998; 10:173-81.
24. OLIVEIRA M. Eficácia da fisioterapia realizada durante a radioterapia na prevenção de
complicações loco-regionais em mulheres em tratamento por câncer de mama: ensaio clinico
controlado. [dissertação de mestrado] Unicamp, 2007.
25. CAMARGO M, Marx AG. Reabilitação física no câncer de mama. São Paulo: Roca;
2000.
17
ANEXO (Tabela, Figuras e Gráficos)
Fonte: Autora
Figura 1 - ADM do movimento de Flexão no início da 1ª e ao término da 10ª Sessão
Fonte: Autora
Figura 1.a. Aplicação do Método
Fonte: ABCROCH/RJ
18
Figura 2 – ADM do movimento de Abdução no início da 1ª e ao término da 10ª Sessão.
Goniometria
Sessões
Flexão Abdução
Pré Pós Pré Pós
1ª 140º 150° 82º 93°
2ª 149° 155º 90º 95º
3ª 159º 159º 90º 100º
4ª 160º 167º 115º 120º
5ª 170° 172° 118° 123°
6ª 170° 178° 119° 129°
7ª 178° 179° 129° 136°
8ª 179º 180º 125º 136º
9ª 180° 180° 135° 140°
10ª 170° 180° 140º 142°
Figura 3 – Tabela constando os ângulos Pré e Pós a aplicação da técnica de Crochetagem.
F lexão de ombro
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
N° de sessões
Va
lore
s e
m g
rau
s
P ré
P ós
Figura 4. Valores da goniometria (em graus) do movimento de flexão antes e após a
realização da técnica de Crochetagem.
19
Abduç ão de ombro
0
20
40
60
80
100
120
140
160
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
N° de sessões
Va
lore
s e
m g
rau
s
P ré
P ós
Figura 5. Valores da goniometria (em graus) do movimento de abdução antes e após a
utilização da técnica de Crochetagem.