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AGRICULTURA FAMILIAR NO
MUNICÍPIO DE POXORÉU-MT -
POTENCIALIDADES E GARGALOS NA
CADEIA PRODUTIVA
Priscilla Barros Feitosa (UNEMAT )
Marcela Luzia Pereira Rocha (UNEMAT )
William Hajime Yonenaga (IFMT )
O presente trabalho tem por objetivo analisar os gargalos e potencialidades
na cadeia produtiva da agricultura familiar no município de Poxoréu-MT,
destacando-se a importância de uma gestão estratégica para a otimização do
processo de produção de alimentos (em geral, frutas, verduras e legumes),
uma vez que a agricultura familiar é responsável por parte significativa do
abastecimento desses produtos. Além disso, evidencia-se o papel de órgãos
como a Secretaria de Agricultura e a Empresa Mato-grossense de Pesquisa,
Assistência e Extensão Rural (Empaer) para o desenvolvimento da
agricultura familiar, sob a ótica de difusão de conhecimento. Para o
desenvolvimento da agricultura familiar os elos da cadeia produtiva estejam
em harmonia e mantenham um relacionamento de qualidade através da
confiança, comprometimento, adaptação comunicação e cooperação.
Entretanto, para alcançar um resultado satisfatório na cadeia produtiva da
agricultura familiar faz-se necessário o levantamento de informações para a
elaboração de um planejamento estratégico, pois, para corrigir os gargalos
presentes em todo o processo de produção a realização uma análise dos
pontos fortes e fracos antes (Assistência técnica, fornecedores de insumos
etc.), dentro (produção propriamente dita) e depois da porteira (canais de
distribuição) é indispensável. A gestão estratégica e a harmonia no ciclo de
produção beneficia o agricultor familiar, as redes comercias envolvidas no
processo (fornecedores de insumos e canais de distribuição), e os próprios
consumidores, tornando-se possível o desenvolvimento de forma sustentável
para o município. Para a obtenção de informações necessárias para a
estruturação e análise dos gargalos, foi adotado o método indutivo, o qual
trata-se de um levantamento com constatações particulares que resultam em
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
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conclusões gerais, e pesquisas em meio eletrônico e outros referenciais
teóricos.
Palavras-chaves: Gestão estratégica, Sustentabilidade, canais de distribuição
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1. Introdução
A população rural, que num passado não muito distante, abrigava a maior parte dos habitantes
do Brasil, agora disputa espaço com grandes agricultores produtores de commodities e áreas
destinadas à pecuária. Atualmente esta categoria é composta por aproximadamente 14
milhões de pessoas e são denominados agricultores familiares.
Atuando no entorno das cidades, tais agentes desempenham um papel importante no
abastecimento de alimentos. De um modo geral, produzem diferentes tipos de frutas, legumes
e verduras (FLV) e possuem uma pequena criação de animais. A partir destes produtos, os
pequenos agricultores dinamizam a comercialização e distribuição de alimentos na zona
urbana. Através de agentes parceiros, como varejistas, feiras-livres ou mercado institucional,
atingem o consumidor final, ofertando seus produtos, que são minimamente processados e
perecíveis. Neste contato com o consumidor, os alimentos provenientes da agricultura familiar
sofrem a concorrência de bens industrializados ou “importados” de outras regiões do Brasil.
Para competir neste ambiente, é necessário que os agentes pertencentes a esta cadeia utilizem
estratégias de gestão que otimizem a produtividade e catalise o processo da cadeia de
suprimentos. Questões como financiamento da produção, canais de comercialização e
distribuição, marketing, relacionamento cliente-fornecedor, confiança e comprometimento
devem ser considerados para a obtenção de um resultado satisfatório ao final do processo de
produção.
O objetivo deste trabalho é analisar a situação atual da agricultura familiar nos assentamentos
e propriedades rurais convencionais, localizados no município de Poxoréu-MT, sob a ótica da
gestão estratégica. Tal análise se justifica pelo fato de haver uma subotimização do sistema,
com assimetrias de informações, poder de barganha e ações não coordenadas.
2. Metodologia
Para a estruturação e análise do problema utilizou-se o método indutivo, o qual se caracteriza
por um levantamento com constatações particulares, a fim de chegar a determinadas
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conclusões gerais. Para isto, realizou-se pesquisas de campo utilizando-se o sistema de
entrevista não-estruturada, onde a construção da resposta fica a critério do entrevistado.
Para obtenção das informações necessárias a respeito da agricultura familiar no município de
Poxoréu, foram realizadas entrevistas com produtores de hortifrúti, varejistas, com o
extensionista rural da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Etensão Rural
(Empaer) e com o engenheiro agrônomo da Secretaria de Agricultura. Ademais, contém
informações extraídas de revisões bibliográficas, artigos e outras publicações disponíveis em
meio eletrônico.
3. Conceitos e premissas
De maneira geral, entende-se por Agricultura familiar o cultivo de terra realizado por
pequenos proprietários rurais, cuja mão de obra é essencialmente de caráter familiar. Por base
nesse conceito, muitos proprietários podem se intitular Agricultor Familiar, porém, outro
conceito um tanto mais burocrático nos transmite uma ideia diferente do que seria um
Agricultor Familiar. No Brasil a expressão “Agricultura Familiar” foi conceituada e articulada
através da lei nº 11.326. Perante a lei, considera-se agricultor familiar ou empreendedor
familiar rural aquele que realiza atividades agrícolas e/ou pecuárias, desde que atendam
requisitos, como: Não deter, a qualquer título, área maior do que quatro módulos fiscais
(Sendo “módulos fiscais” uma unidade de medida expressa em hectares, para cada
município); Utilize predominantemente mão de obra da própria família nas atividades
econômicas de sua propriedade; Tenha renda familiar predominantemente originada de
atividades econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento, etc.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e Combate à Fome (2013), a lei nº
11.326 que, estabeleceu conceitos, instrumentos e diretrizes a cerca da Agricultura Familiar,
foi criada em 2006, porém a expressão “Agricultura Familiar” começou a se disseminar por
todo o país, especialmente depois da formalização do Programa Nacional de Fortalecimento
da Agricultura Familiar (Pronaf) em 1995, o qual é o principal programa do Governo Federal
de apoio a este segmento.
A função do Pronaf é estimular a geração de renda, por meio de financiamentos de atividades
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e serviços desenvolvidos em estabelecimentos rurais ou em áreas comunitárias próximas,
integrando o agricultor familiar à cadeia do agronegócio. E, para serem beneficiárias do
Pronaf as unidades familiares precisam comprovar seu enquadramento, conforme os
requisitos do mesmo, apresentando a Declaração de Aptidão ao Programa (DAP).
Em Mato Grosso, a Agricultura familiar depende tanto de programas como o Pronaf, quanto
do apoio das Secretarias de Agricultura e da Empresa Mato-grossense de Pesquisa,
Assistência e Extensão Rural (Empaer). Sendo assim, a Agricultura Familiar é regida por uma
série de Políticas Públicas, ou seja, por diretrizes, princípios norteadores de ação do poder
público; regras e procedimentos para as relações entre poder público e sociedade – leis,
programas e linhas de financiamento. Em outras palavras pode-se dizer que “Políticas
Públicas são a totalidade de ações, metas e planos que os governos (nacionais, estaduais ou
municipais) traçam para alcançar o bem-estar da sociedade e o interesse público”.
(SEBRAE/MG, 2008)
4. Agricultura familiar: geração de emprego, renda e segurança alimentar
De acordo com a Embrapa (2013), aproximadamente 85% das propriedades rurais no país
pertencem a agricultores familiares, este contingente representa 13,8 milhões de pessoas em
cerca de 4,1 milhões de estabelecimentos familiares, o que corresponde a 77% da população
ocupada na agricultura. Além disso, a produção da agricultura familiar, em 2007,
correspondeu a 49% do milho, 84% da mandioca, 40% das aves e ovos, 52% do leite, 67% do
feijão, 59% dos suínos e 33% do café produzidos no Brasil, gerando 38% do Valor Bruto da
Produção (VBP).
A produção de alimentos de origem agropecuária prevalece nas pequenas propriedades, sendo
estas responsáveis pela produção de 60% dos alimentos que compõe a cesta alimentar. E, de
acordo com estudos a tendência desses números é expandir, pois a população mundial está em
progressão e, consequentemente, exige-se o aumento da produtividade de alimentos, bem
como o incentivo à sua produção para atender a crescente demanda.
Guilhoto et al (2007) destaca a importância da agricultura familiar tanto pela redução de
êxodo rural e melhoria de renda para as famílias, como para a contribuição de geração de
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riqueza não só do setor agropecuário, mas do próprio país.
5. Agricultura familiar em Mato Grosso: estudo de caso em Poxoréu
De acordo com Oliveira et al (2012), a estrutura fundiária no Estado de Mato Grosso sempre
favoreceu as grandes propriedades, as quais, em geral, se encontram nas mãos de poucos
proprietários. Diante desta má distribuição de terras e do fortalecimento de alguns
movimentos, como o Movimento Sem Terra (MST) que tem por principal objetivo a Reforma
Agrária, outro tipo de coletividade familiar ganhou força: Os assentamentos.
Diferente das propriedades familiares convencionais, num assentamento há diversas famílias
as quais devem manter uma relação de confiabilidade entre vizinhos, predispondo uma
comunidade aonde se consiga desenvolver atividades agrícolas e/ou pecuárias, delegando
funções a fim de satisfazer determinadas necessidades comuns.
O município de Poxoréu, à aproximadamente 240km (duzentos e quarenta quilômetros) de
distância da capital do Mato Grosso, Cuiabá, conta com 17.602 habitantes de acordo com o
IBGE de 2010, apud União Poxorense de Escritores (UPE) (2012). Em Poxoréu, a maior parte
dos beneficiários do Pronaf se encontra em assentamentos, dentre estes estão: Assentamento
Casulo do Jácomo, Assentamento Alminhas, Assentamento João de Barro e Assentamento
Santo Antônio da Aldeia.
As principais linhas de crédito oferecidas pelo Pronaf no Estado, são: Pronaf Mais Alimentos;
Pronaf Agroecologia; e, Pronaf Mulher.
Em declaração, o agrônomo da Secretaria de Agricultura do município de Poxoréu, os
problemas ligados á Agricultura Familiar são resultados da falta de planejamento, organização
e de uma análise que defina o perfil do produtor.
Para mais, o técnico da Empaer destaca o fato de que após a implementação do projeto
financiado pelo Pronaf são acompanhadas com cerca de três visitas de vistoria obrigatórias ao
Agricultor Familiar, com a finalidade de orientar e compartilhar informações e conhecimentos
que possam ajuda-lo. Entretanto, as demais visitas devem ser requisitadas pelo Agricultor
Familiar, pois, é comum a não aceitação de assistência técnica bem como a falta de
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compreensão da importância desta, isto é, há uma barreira que dificulta a adesão de novas
ideias e técnicas de produção que contribuam com o desenvolvimento do projeto, e a
consequência é uma possível perda de produção, ou até mesmo o detrimento de todo o
investimento.
Nesse quesito, tem-se que o processo de modernização na propriedade do pequeno agricultor
torna-se um problema à medida que o impacto das mudanças da agricultura tradicional para a
modernizada se esbarra na resistência dos produtores á inovação. Onde Carvalho (1992),
certifica-se como “modelo concentrado”. Constatando que a ineficácia da transferência de
tecnologia baseia-se na visão critica que os produtores não possuíam capacidade de adotar
tecnologias, por falta de rudimentos.
Tanto os assentamentos como as propriedades convencionais, têm a ociosidade da produção
como um obstáculo do desenvolvimento da Agricultura Familiar. A falta de planejamento e
organização faz com que não haja uma continuidade de produção, ou seja, não há uma
garantia de oferta de determinados produtos ao longo do tempo, e este é um dos gargalos da
produção, pois alguns dos canais de distribuição, como o atacadista, deixam de firmar
contrato com os agricultores por não terem uma garantia de fornecimento de determinado
produto em um período específico, assim, a alcançar competitividade com produtos de outras
regiões torna-se um processo árduo.
Essa é uma exigência natural e compreensível já que, para manter-se no mercado é necessário
cativar os consumidores/clientes atendendo-os sempre que requisitados e com um produto de
qualidade. De acordo com Coelho (2008), para agregar valor, fazer com que o cliente perceba
o quanto é bom um negócio e comprar o produto para satisfazer um desejo ou uma
necessidade, é preciso mais que possuir uma bela embalagem ou uma grande promoção: é
preciso ter produtos disponíveis, ter condições de cumprir os prazos de entrega, é fazer
entregas para longas distâncias e manter os produtos intactos. Ou melhor, a garantia do valor
de tempo e lugar do produto. Além disso, o poder de barganha do agricultor familiar é baixo.
6. Configuração da agricultura familiar no município de Poxoréu
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A cadeia da agricultura familiar no município de comporta da seguinte forma:
Os insumos – sementes, rações, defensivos agrícolas etc - são fornecidos por lojas
agropecuárias, enquanto a assistência técnica é realizada por agrônomos e técnicos da Empaer
e da Secretaria de Agricultura, além disso, o município conta com um estabelecimento
particular que também presta assistência à produtores rurais. A produção (agrícola e/ou
pecuária) é a produção propriamente dita, ou seja, o cultivo e manejo da atividade dentro da
propriedade.
Já os canais de distribuição, segundo Martins et al (2012), são os responsáveis por
concretizar a comercialização, que é a etapa onde os produtores poderão obter ganhos através
das negociações. Os principais canais de distribuição no município são os estabelecimentos
comerciais – mercados e padarias -, a feira livre, e os atravessadores, este último refere-se a
revendedores. Todavia, o consumidor pode obter os produtos diretamente do produtor.
Os elos da cadeia produtiva são interdependentes e necessitam de uma interação fornecedor-
produtor e produtor-consumidor favorável a ambos, sendo assim, a eficiência em cada um
destes é essencial para que haja harmonia em todo o processo. Uma cadeia produtiva
harmoniosa gera satisfação em todos os elos.
Em geral, os produtos de origem da agricultura familiar são os hortifrútis, leite e seus
derivados.
Fluxograma 1- Cadeia produtiva da agricultura familiar
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Fonte: Desenvolvido pela autora
6.1. Agregação de valor ao produto
De acordo com Mowen e Minor (2003), pode-se dizer que é por meio do Posicionamento do
Produto que o agricultor consegue influenciar o modo como os consumidores percebem a
característica que o diferencia de seus concorrentes, e influencia a demanda de seus produtos,
sendo que, o processo utilizado para manipular o mix de marketing – coordenação das
atividades de marketing que abrangem desenvolvimento, promoção, formação de preço e
distribuição do produto – para posicionar o produto é a Diferenciação do Produto.
Os produtos provenientes da Agricultura Familiar são diversos: Hortaliças, frutas, rapaduras,
derivados do leite etc. O processo de agregação de valor ao produto é visto como uma
estratégia de marketing aonde o produtor busca posicionar seu produto diante do mercado
consumidor, porém, pelo fato dos produtos de origem da Agricultura Familiar, em sua grande
maioria, serem bens de consumo, os processos de agregação de valor identificados no
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município possui caráter extremamente despretensioso. A seguir temos imagens que
demonstram a utilização de embalagens, visando à agregação de valor ao produto.
Imagem 1 – Abobrinhas produzidas no Assentamento João de Barro, dispostas em bandeja de
isopor e embaladas com filme de PVC
Fonte: Desenvolvido pela autora
Imagem 2 – Jiló produzido no assentamento João de Barro, dispostos em sacos de tela
Fonte: Desenvolvido pela autora
Neste aspecto é ponderoso que o agricultor não se prenda somente a uma estratégia, como a
diferenciação de produto. A qualidade percebida pelos consumidores comanda o processo de
demanda, assim, torna-se essencial a busca por táticas atrativas ao mercado consumidor.
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Então, a melhoria de técnicas de cultivo com intuito de obtenção de produtos com
determinadas características físicas – produto íntegro, sem deformações; saboroso; atrativo -
torna-se uma grande aliada do agricultor.
Segundo Mowen e Minor (2003), para solucionar os problemas ligados ao marketing é
necessário compreender o comportamento do consumidor, os elementos de estratégia
gerencial e o modo de como relaciona-los para desenvolver planos gerenciais, que resultem
em novas estratégias.
Para Martins et al (2012), uma forma de agregar valor até o consumidor final são os canais de
distribuição, pois podem agregar qualidade e preços convenientes para que os produtos sejam
acessíveis aos consumidores.
7. A cadeia de comercialização dos produtos agrícolas
O município de Poxoréu conta com, aproximadamente, cinco estabelecimentos agropecuários
para atender toda a demanda de insumos dos agricultores familiares. Entretanto, alguns
agricultores e assentados se encontram mais próximos da zona urbana dos municípios de
Primavera do Leste e Rondonópolis, assim a parte de aquisição de insumos e até mesmo de
escoamento da produção da agricultura familiar são realizadas nas referidas cidades. No
entanto, através da declaração de alguns desses agricultores fica explícito que a preferência
por essas cidades não são apenas pela proximidade, mas também por disponibilidade dos
insumos e preços.
Em entrevista realizada em uma propriedade com atividade voltada para plantação de
bananeiras pôde-se identificar vários gargalos no processo de produção agrícola. A
propriedade possui cerca de 12 hectares de plantação de bananeiras - as populares banana
nanica e banana da terra –, a compra de insumos se realizada em Rondonópolis ou Primavera
do leste – uma vez que, o proprietário alega não disponibilidade do que precisa no município
– e toda a comercialização é realizada na cidade de Primavera do Leste por meio de contrato
com um depósito que mantém as bananas em câmara fria, o que reduz significativamente as
perdas do produto. De acordo com o entrevistado, no mês de fevereiro foram entregues 60
caixas de banana nanica, cada caixa chega a pesar 30kg (trinta quilogramas), e a previsão para
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os próximos meses é de 100 caixas, sendo que o próprio varejista que realiza a atividade
logística dos produtos. Desagregando ainda mais o valor dos produtos no ponto de vista dos
clientes que pode ser definido como a relação entre os benefícios percebidos e os custos totais
incorridos para a obtenção desse produto/serviço.
Todavia, toda a orientação sobre o plantio e manejo não foram ministradas pelos engenheiros
agrônomos e técnicos disponíveis no município.
Imagem 3 – Plantação de bananeiras
Fonte: Desenvolvido pela autora
A aquisição de insumos e comercialização de produtos em outros municípios é uma realidade
para vários agricultores familiares. Assim como no Assentamento alminhas e no
Assentamento Santo Antônio da Aldeia, os quais estão localizados, respectivamente,
próximos da zona urbana de Primavera do Leste e Rondonópolis.
Dadas às circunstâncias, é notório que há uma falta de incentivos e estratégias com a
finalidade de valorizar a atividade agrícola familiar, fornecendo meios que possibilitam a
realização de transações comerciais no próprio município.
Segundo Viana et al (2013), a qualidade do relacionamento na gestão de cadeia de
suprimentos, seja em relações com fornecedores ou com o consumidor final englobam cinco
variáveis – Confiança, comprometimento, adaptação, comunicação e cooperação – que
resultam em um bom desempenho no setor hortifrúti.
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Viana et al (2013) define a confiança como a capacidade de um parceiro realizar determinada
tarefa com total comprometimento. O comprometimento, por sua vez, contribui para o
enfrentamento de problemas imprevistos, onde os parceiros comerciais estão sempre dispostos
a realizar esforços para a manutenção da relação. O conceito de adaptação está relacionado à
adaptação de fornecedores em relação aos clientes, seja através de produtos, processos,
tecnologias ou recursos humanos. Por fim, a comunicação e a cooperação correspondem ao
processo de troca de informações e trabalho em conjunto para alcançar objetivos comuns.
Esse relacionamento colaborativo pode torna-se importante vantagem competitiva
contribuindo para proporcionar relações de fidelidade e duradouras.
Dessa forma, conhecer os agricultores familiares – quem são, aonde se localizam, o que
produzem, quais suas necessidades - pode ser tornar uma vantagem competitiva para os lojas
agropecuárias, desde que saibam utilizar as informações a seu proveito.
Por exemplo, alguns insumos como defensivos agrícolas e rações podem ser de comum
necessidade em diversas propriedades rurais. Supondo que cada um desses proprietários
adquirem esses insumos frequentemente e sem qualquer fidelidade, e a maior parte se desloca
do campo à cidade somente para esse fim, uma das estratégias que poderia ser adotada pelo
fornecedor é o de serviço de entrega de insumos na propriedade rural. Ou seja, se o
fornecedor sabe o qual, quando e o quanto de insumos esses produtores necessitam, ele pode
se adaptar e adotar um sistema de entrega que atenda todos no mesmo período por um preço
diferenciado, gerando uma economia de tempo e dinheiro para os produtores e conquistando a
fidelidade dos mesmos.
7.1. Feira livre e estabelecimentos comerciais como canais de distribuição
Para a realização da Feira-livre a prefeitura iniciou a construção de uma estrutura para que os
agricultores ou terceiros pudessem comercializar os produtos de forma organizada. Para ter
direito a um espaço neste ambiente, o produtor rural deve pagar inicialmente R$300,00
(trezentos reais) e após isso uma mensalidade de R$ 50,00 (cinquenta reais). Todavia, vale
ressaltar que essa estrutura está inacabada, não contém bancadas e outros elementos que
facilitam o manuseio e comercialização dos produtos, como o fornecimento de água para
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todos os boxes.
A feira acontece somente aos sábados, e por volta das 9:00h (nove horas) da manhã é
encerrada, pois, a quantidade de produtos ofertados é absorvida rapidamente pela demanda.
Isso evidência o potencial para o aumento da produção agrícola no município.
A melhoria da estrutura da feira livre além de atrair os produtores rurais, pois também agrega
valor ao produto, aumentaria a credibilidade perante os consumidores através da percepção da
organização local.
Além da feira livre, têm-se os mercados e padarias. O processo de compra de produtos de
origem da agricultura familiar é simples e sem relações contratuais, normalmente o
pagamento ao agricultor/produtor é efetuado no ato da compra. A desvantagem da não relação
contratual é que não há garantia de escoamento desses produtos, e os produtores são
obrigados a passarem em diversos estabelecimentos até os mesmos sejam aceitos.
8. Considerações finais
Os recursos oferecidos pelo Pronaf estão disponíveis e de fácil acesso as agricultores, desde
que atentam aos requisitos. Entretanto, durante o processo de produção propriamente dita,
para o sucesso e desenvolvimento do investimento o agricultor precisa um bom planejamento,
preferencialmente em áreas que já possua afinidade – cultivar aquilo que é de seu perfil – e
aceitar e/ou requisitar apoio e orientação da Secretaria de Agricultura e da Empaer sempre
que for necessário.
Antes da porteira, o município necessita de práticas que incentivem os fornecedores de
insumos a conhecerem melhor os agricultores da região, quem são o que necessitam, e se
responsabilizarem por dar esse suporte, assim vão obter a fidelidade de compra desses
agricultores, que por sua vez não precisarão dissipar o seu tempo e aumentar os custos se
deslocando para outras cidades.
Depois da porteira, o que vemos é resultado de todo o processo de produção – dos insumos
até a produção propriamente dita – e do apoio e incentivo dos órgãos públicos e privados. Os
agricultores não enfrentam grandes dificuldades para a comercialização dos produtos em
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estabelecimentos privados, pois a demanda absorve bem a produção atual. Isto é refletido na
estrutura da Feira Livre, que só funciona aos sábados e os produtos acabam por volta das 9h
da manhã, sendo assim a produção de bens agrícolas na região, apesar de todos os recursos,
ainda é deficitária.
A agricultura familiar no município possui potencial e condições necessárias para expandir e
melhorar as condições econômicas de toda a população local – da zona rural e urbana – uma
vez que, os produtos agrícolas obtidos de outras cidades, ou até mesmo de outros Estados são
bem mais onerosos do que os produtos locais. Para o desenvolvimento da agricultura familiar,
é indispensável planejamento e uso de estratégias que gere eficiência em cada elo da cadeia
produtiva e uma relação de qualidade entre estes.
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