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Águas Quentes de Caldas Novas, GO Notável ocorrência de águas termais sem associação com magmatismo A REGIÃO DAS ÁGUAS TERMAIS do sudeste do estado de Goiás comporta uma das maiores ocor- rências de águas quentes sem vinculação com vulcanismo ou outro tipo de magmatismo. O aqueci- mento se processa a partir do grau geotérmico, que representa o aumento da temperatura com o gradual aumento da profundidade. Nesse caso, as águas de chuva que se infiltram através do solo e rochas falha- das e fraturadas, alcançam profundidades maiores que 1000 metros e chegam a temperaturas cerca de 50 o C mais elevadas que a média anual na superfície. De- pois de aquecidas, as águas migram em direção à su- perfície por sistemas de fraturas e quando interceptam a superfície formam as nascentes termais, (como as que formam o rio Quente). A avaliação da composi- ção química das águas, dos tipos de rochas, do padrão de relevo e dos sistemas de fluxo subterrâneo permite distinguir três sistemas aqüíferos na região: Aqüífero Intergranular, Sistema Aqüífero Araxá e Sistema Aqüífero Paranoá. A composição química das águas e os padrões de fluxo subterrâneo mostram que há mis- turas de águas dos diversos sistemas aqüíferos. Nas últimas décadas os sistemas aqüíferos da região so- freram rápido declínio dos níveis d’água em função da sobre-explotação por poços tubulares. A manutenção dos reservatórios subterrâneos requer iniciativas de gestão dos recursos hídricos, incluindo limitação do bombeamento, divulgação de informações técnicas para o público em geral, desenvolvimento de práticas de recarga artificial dos aqüíferos, entre outras. Palavras-chaves: Água termal; aqüíferos; recarga; Caldas Novas SIGEP 113 José Eloi Guimarães Campos 1 Uwe Tröger 2 Fábio Floriano Haesbaert 3 Caldas Novas hot springs, State of Goiás Remarkable occurrence of thermal waters not related to magmatism The thermal waters of the southern Goiás state region represents one of the largest occurrences of hot groundwater without association with volcanism or other magmatism phenomenon. The heating is processed by geothermic energy, represented by the temperature rising with the gradual increasing of depth. In such way, the rainwaters infiltrate through the soil and through faulted and fractured rocks, reach up to 1000 meters depths and get temperatures at least 50 o C higher than the annual average at the surface. After heated the waters migrate towards surface by fractures systems forming the thermal springs, (as exemplified by the Quente river springs). The chemical composition of the waters, the types of rocks, the relief pattern and the groundwater flow systems allow to distinguish three aquifers systems in the area: Porous Aquifer, Araxá Aquifer System and Paranoá Aquifer System. The chemical composition of the waters and the groundwater flow patterns show that there is mixture of waters of the several aquifers systems. In the last decades, the water levels of the thermal aquifer systems were submitted to fast decline due to the overexploitation by tubular wells. The maintenance of the groundwater reservoirs requests management practices, including limitation of pumping rates, researches on environmental purposes to aim basic information for the general public, projects for artificial recharge of the aquifers and some others. Key words: Thermal water; aquifers; recharge; Caldas Novas

Águas Quentes de Caldas Novas, GO - sigep.cprm.gov.brsigep.cprm.gov.br/sitio113/sitio113_impresso.pdf · Caldas Novas SIGEP 113 José Eloi Guimarães Campos 1 Uwe Tröger 2 Fábio

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Águas Quentes deCaldas Novas, GONotável ocorrência de águas

termais sem associação

com magmatismo

A REGIÃO DAS ÁGUAS TERMAIS do sudestedo estado de Goiás comporta uma das maiores ocor-rências de águas quentes sem vinculação comvulcanismo ou outro tipo de magmatismo. O aqueci-mento se processa a partir do grau geotérmico, querepresenta o aumento da temperatura com o gradualaumento da profundidade. Nesse caso, as águas dechuva que se infiltram através do solo e rochas falha-das e fraturadas, alcançam profundidades maiores que1000 metros e chegam a temperaturas cerca de 50oCmais elevadas que a média anual na superfície. De-pois de aquecidas, as águas migram em direção à su-perfície por sistemas de fraturas e quando interceptama superfície formam as nascentes termais, (como asque formam o rio Quente). A avaliação da composi-ção química das águas, dos tipos de rochas, do padrãode relevo e dos sistemas de fluxo subterrâneo permitedistinguir três sistemas aqüíferos na região: AqüíferoIntergranular, Sistema Aqüífero Araxá e SistemaAqüífero Paranoá. A composição química das águas eos padrões de fluxo subterrâneo mostram que há mis-turas de águas dos diversos sistemas aqüíferos. Nasúltimas décadas os sistemas aqüíferos da região so-freram rápido declínio dos níveis d’água em função dasobre-explotação por poços tubulares. A manutençãodos reservatórios subterrâneos requer iniciativas degestão dos recursos hídricos, incluindo limitação dobombeamento, divulgação de informações técnicaspara o público em geral, desenvolvimento de práticasde recarga artificial dos aqüíferos, entre outras.

Palavras-chaves: Água termal; aqüíferos; recarga;Caldas Novas

SIGEP 113

José Eloi Guimarães Campos 1

Uwe Tröger 2

Fábio Floriano Haesbaert 3

Caldas Novas hot springs, State of Goiás –Remarkable occurrence of thermal waters not related tomagmatism

The thermal waters of the southern Goiás state regionrepresents one of the largest occurrences of hotgroundwater without association with volcanism or othermagmatism phenomenon. The heating is processed bygeothermic energy, represented by the temperature risingwith the gradual increasing of depth. In such way, therainwaters infiltrate through the soil and through faultedand fractured rocks, reach up to 1000 meters depths andget temperatures at least 50oC higher than the annualaverage at the surface. After heated the waters migratetowards surface by fractures systems forming the thermalsprings, (as exemplified by the Quente river springs). Thechemical composition of the waters, the types of rocks,the relief pattern and the groundwater flow systems allowto distinguish three aquifers systems in the area: PorousAquifer, Araxá Aquifer System and Paranoá Aquifer System.The chemical composition of the waters and thegroundwater flow patterns show that there is mixture ofwaters of the several aquifers systems. In the last decades,the water levels of the thermal aquifer systems weresubmitted to fast decline due to the overexploitation bytubular wells. The maintenance of the groundwaterreservoirs requests management practices, includinglimitation of pumping rates, researches on environmentalpurposes to aim basic information for the general public,projects for artificial recharge of the aquifers and someothers.

Key words: Thermal water; aquifers; recharge; CaldasNovas

Águas Quentes de Caldas Novas, GO178

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é resultante do mapeamentogeológico e do levantamento hidrogeológico da regiãodas águas quentes do Estado de Goiás e inclui dadosobtidos de trabalhos acadêmicos com estudantes de gra-duação da Universidade de Brasília e de estudantes daUniversidade Técnica de Berlim.

A área está situada no sudeste do Estado de Goiás,incluindo a cidade de Caldas Novas e adjacências, com-pondo um retângulo no qual a Serra de Caldas estáposicionada aproximadamente no centro (Fig. 1). Comoreferências geográficas locais podem ser citadas a Pou-sada do Rio Quente (Fig. 2) e a Cidade de Água Quente(ambas no flanco oeste da serra) e as rodovias estadu-ais pavimentadas GO 213 (ao norte); GO 139 (a leste) ea GO 507 (a oeste). Os acessos a partir de Brasília eGoiânia são feitos por rodovias federais e estaduais con-forme o mapa da Fig. 3.

A área considerada para o presente estudo compor-ta o Domo de Caldas, além dos terrenos rebaixados ad-jacentes. Entende-se por Domo de Caldas ou Serra deCaldas ou ainda Domo Estrutural de Caldas, a feiçãofisiográfica/estrutural caracterizada pela elevação topo-gráfica isolada no sudeste goiano, que alcança cotassuperiores a 1.000 metros.

O objetivo deste trabalho é apresentar a região daságuas quentes do estado de Goiás como um Sítio Geo-lógico do Brasil central, e a importância de sua preser-vação.

Na região de Caldas Novas existe uma das maio-res ocorrências de água termal do mundo sem asso-ciação com magmatismo. As águas quentes represen-tam a base da economia local, alimentando o altopotencial turístico que resulta em uma região balneáriacom inúmeros hotéis e resorts. Apesar da grande im-portância local e regional das águas quentes, os me-canismos do aquecimento das águas ainda não são

Figura 1 - Imagem de satélite composição colorida 345 de junho de 2001, mostrando as principais referências geográficasda região: 1 - Serra de Caldas, 2 - Cidade de Caldas Novas, 3 - Pousada do Rio Quente, 4 - Cidade de Rio Quente e 5 -Barragem de Corumbá.

Figure 1 - Satellite image (RGB 345 from June 2001), showing the main geographical references of the region: 1 - CaldasRidge, 2 - Caldas Novas Town, 3 - Rio Quente Resort, 4 - Rio Quente Town and 5 - Corumbá Dam.

Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil 179

Figura 2 - Nascente termal observada em fratura aberta no quartzitomaciço.

Figure 2 - Thermal spring observed in open fracture developed onmassive quartzite.

Figura 3 - Localização e acessos à área estudada.

Figure 3 - Location map of the site.

nação de nascentes de águas aquecidas e ris-co de colapso da economia. Atualmente a per-furação de novos poços tubulares é controla-da e iniciativas para a gestão dos aqüiferosestão sendo programadas.

DESCRIÇÃO DO SÍTIO

Geologia

Na região de Caldas Novas ocorrem ro-chas atribuídas aos grupos Paranoá e Araxá,além de ocorrências subordinadas de conglo-merados atribuídos ao Grupo Areado (Fig. 4).

• Grupo Paranoá (Meso/Neoproterozóico)No Domo de Caldas o Grupo Paranoá foi

subdividido em quatro unidades litoestrati-gráficas, da base para o topo: Ortoquartzito,Quartzito Argiloso, Metarritmito e Pelito-Carbonatada.

Unidade Ortoquartzito – composta essencialmen-te por ortoquartzitos brancos, intensamente silicifica-dos, finos a médios, aflorando em grandes lajedos ematacões, normalmente apresentando um intenso fra-turamento. Esta unidade aflora apenas nas bordas daserra, uma vez que no platô os latossolos mascaramtotalmente os afloramentos rochosos. A caracteriza-ção desta unidade para o interior do domo foi possívela partir dos dados das sondagens relativas a cinco pie-zômetros distribuídos ao longo da estrada E-W na por-ção central da serra.

Análises microscópicas mostram a presença degrãos subarredondados a angulosos, com contatos pla-nares a pontuais, apresentando modificações em fun-ção dos eventos tectônicos superimpostos. Em voltados grãos de quartzo, que apresentam tamanhos vari-ando de 0,2 a 1,3 mm, comumente pode ser observa-da uma fina película de óxidos e argilomineraisautigênicos. Raros grãos de feldspato são observados,geralmente intensamente alterados (transformados emuma massa de mica branca).

Algumas amostras encontram-se intensamenterecristalizadas, com interpenetração e junções múltiplasde grãos em função do metamorfismo de baixo grauque oblitera totalmente as feições primárias.

A intensa silicificação é responsável pela elimina-ção parcial das estruturas sedimentares, contudo aindaé possível observar a presença de marcas onduladassimétricas e assimétricas, laminações cruzadas, estra-

conhecidos do grande público e muitos acreditam queas águas são aquecidas em função da presença de umvulcão ou a partir do contato com rochas ígneas emprofundidade.

O aumento da exploração das águas quentes cau-sou o rebaixamento demasiado dos níveis com elimi-

Águas Quentes de Caldas Novas, GO180

tificações cruzadas, estratificações plano-paralelas e,em direção ao topo, mud flakes. A elevada maturidadetextural e mineralógica, aliada à homogeneidade litoló-gica e às estruturas sedimentares presentes, permitemenquadrar esta unidade em um contexto deposicionalmarinho de águas rasas, provavelmente dominado porondas (em função da ausência de estruturas típicas demarés), as quais promovem o constante retrabalhamen-to responsável pela alta maturidade mineralógica tex-tural do conjunto.

Unidade Quartzito Argiloso – é representada porquartzitos finos, vermelhos, argilosos e mineralogica-mente imaturos, sendo localmente substituídos por pa-cotes pelíticos laminados. A silicificação é variável, des-de ausente (padrão friável) até intensa. A cor vermelhacaracterística observada em afloramentos é função daoxidação dos filossilicatos da fração pelítica e não con-siderada como cor primária. Estima-se que a espessuramáxima desta unidade seja da ordem de 80 metros; con-

tudo, as variações laterais de fácies são responsáveispelo adelgaçamento e até mesmo pela ausência dessafácies na porção nordeste do domo.

As estruturas sedimentares observadas são lamina-ções e estratificações plano-paralelas, além de raras lâ-minas cruzadas e acamamento ondulado.

Unidade Metarritmito – é caracterizada por uma se-qüência de quartzitos finos a médios, feldspáticos, bran-cos a rosados, intercalados com níveis centimétricos adecimétricos de materiais pelíticos (metassiltitos emetalamitos), freqüentemente ricos em mica brancadetrítica. Esta unidade está especialmente bem expostana região da Pousada do Rio Quente, onde se tem es-pessas sucessões aflorantes em taludes naturais e emcortes artificiais.

Nas camadas e nos bancos de quartzitos destacam-se as estruturas sedimentares do tipo hummockys,acamamento sigmoidal, marcas onduladas, laminaçõese estratificações cruzadas de pequeno porte, climbing

Figura 4 - Estratigrafia da região das águas termais do sudeste do estado de Goiás.

Figure 4 - Stratigraphy of the thermal Water region in the southern portion of Goiás State, Brazil.

Unidade Ortoquartzito: quartzitos brancos, puros,maturos, silicificados com estratosplano-paralelos, laminações cruzadas e marcas onduladas .

Contato basal da região, não exposto na área.

Unidade Quartzito Argiloso: quartzitos vermelhos, imaturos, argilosos, laminados ou estratificadosem bancos internamente laminados.

Contato brusco.

Unidade Metarritmito: intercalações de bancos centi- a decimétricos de quartzitos e metassiltitos.As camadas arenosas são ricas em estratificações tipo hummocky, swaley e sigmoidais, além demarcas onduladas assimétricas.

Contato transicional.

Unidade Pelítica (Carbonatada): metassiltitos, metalamitos e metassiltitos argilosos laminados.Subordinadamente ocorrem lentes e camadas de mármores na porção superior da unidade.

Contato transicional rápido.

Contato tectônico por deslocamento de baixo ângulo. Presença de brechase zonas silicificadas.

Biotita-clorita xistos, clorita-quartzo xistos, quartzo xistos.

Quartzitos micáceos e quartzo xistos (finos brancos e foliados).

Conglomerados, clasto-suportados, grossos com níveis mais finos.

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Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil 181

ripples, além de freqüentes camadas com base plana etopo ondulado. Os planos de acamamento mergulhamde forma centrífuga segundo a estrutura regional, sen-do inclusive dobrada em amplas ondulações e mais ra-ramente em chevrons mais apertados.

A observação ao microscópio mostra que os níveisde quartzitos são representados por metarenitos impu-ros com até 25% de feldspato e fragmentos líticos e sãomal selecionados.

O conjunto demonstra claramente a deposição emuma plataforma aberta dominada por episódios de tem-pestades, o que caracteriza a deposição por proces-sos trativos e suspensivos simultâneos. Esta suces-são pode ser correlacionada a outras unidades doGrupo Paranoá expostas em outras localidades e mar-ca a deposição de areia em porções da plataforma aprofundidades abaixo do nível de retrabalhamento deondas de tempo bom.

Unidade Pelito-Carbonatada – compreende a su-cessão de topo do Grupo Paranoá na área. É compos-ta por um espesso pacote de metassiltitos maciços oulaminados, sendo nesse caso caracterizada por metas-siltitos argilosos. A principal estrutura sedimentar ob-servada nestes litotipos é a estratificação plano-parale-la, além da laminação horizontal. A coloraçãoavermelhada é típica desta unidade, com a possibilida-de de existência de fácies com tons rosados até bran-cos e ainda mosqueados.

Subordinadamente, na forma de restritas lentes,ocorrem mármores finos com textura sacaroidal, ban-dados e ricos em minerais máficos prismáticos, milimé-tricos a submilimétricos. Esses mármores são rosadosaté brancos, e sempre apresentam pequenos cristais debiotita e turmalina isolados na massa carbonática recris-talizada.

As feições microscópicas evidenciam a presença deduas gerações de biotita, com cor verde clara e fortepleocroísmo (verde até quase incolor). Os grãos deturmalina são esparsos e ocorrem em menor freqüência.

A presença de biotita associada aos mármores nãosignifica que o Grupo Paranoá foi submetido regional-mente a condições de metamorfismo na zona da biotita,mas apenas localmente, próximo ao contato tectônico entrea Unidade Pelito-Carbonatada e o Grupo Araxá. Nessasituação, por se tratar de um conjunto de rochas maisreativo, submetido a condições locais de maior intensida-de de pressão e temperatura, houve a cristalização dabiotita. No restante da pilha estratigráfica do GrupoParanoá, a mineralogia indica condições de anqui-metamorfismo, próximo ao limite da diagênese, no máxi-

mo com a cristalização de clorita a partir de argilomineraisdiagenéticos.

Embora os mármores sejam restritos nos afloramen-tos, sua presença em subsuperfície é determinada atra-vés dos testemunhos de sondagens (de poços tubula-res) da região da cidade de Caldas Novas, onde pacotescom espessuras superiores a 100 metros são intercep-tados.

Brecha – No topo do conjunto descrito anteriormenteocorre uma rocha bastante característica, com aspectorudáceo, sempre interceptada quando da perfuração depoços tubulares na região. Trata-se de uma brecha tec-tônica, com fragmentos angulosos de rochas variadas(principalmente metassiltitos e quartzitos), bastante sili-cificados e oxidados. Localmente, em afloramentos in-temperizados, existem padrões de alteração em box workque evidencia provável sulfetação. Este tipo de rochamaterializa o plano do descolamento regional no qual oGrupo Araxá deslizou sobre a seqüência psamo-pelíticado Grupo Paranoá.

Este tipo petrográfico é localmente substituído porveios de quartzo leitosos, intensamente fraturados, oumesmo por litologias pelíticas silicificadas.

Duas seções delgadas dessa brecha foram analisa-das, sendo uma amostra de superfície e outra amostrade calha de poço tubular. Ambas mostram as mesmascaracterísticas gerais, apresentando fragmentos inten-samente silicificados mal selecionados (desde milíme-tros até 3 cm), angulosos e de natureza variável (princi-palmente quartzito, metassiltitos e quartzo). A maiordiferença entre elas está no fato da amostra de superfí-cie apresentar somente cimento de sílica e óxido, en-quanto a de subsuperfície apresenta cimento de carbo-nato e óxido, além de sílica subordinada.

• Grupo Araxá (Neoproterozóico)Corresponde a toda a região plana nas adjacências

da Serra de Caldas. Os inselbergs destacados na paisa-gem arrasada (tipo Serra da Matinha) também perten-cem a esta unidade. Trata-se de monótonas seqüênciasplataformais metamorfisadas na fácies xisto verde, commuscovita-quartzo-biotita xistos, muscovita-biotitaxistos, muscovita-biotita-granada xistos. Os xistos amuscovita e a biotita são os tipos mais comuns, apre-sentando textura lepidoblástica, e os tipos granadíferosmostram feições de rotação de granadas. O protolitodesta sucessão é representado por metapelitos e turbiditosdiluídos de plataforma.

A atitude da foliação dos xistos é bastante variável,tanto em direção quanto nos valores de mergulho, o que

Águas Quentes de Caldas Novas, GO182

deve representar redobramentos após o deslocamentoda massa de xistos sobre o anteparo crustal representa-do pelo Grupo Paranoá.

Além dos xistos, ocorrem cristas de quartzitos,quartzitos micáceos e quartzo xistos, caracterizandoprováveis arenitos e arenitos impuros interdigitados eintercalados aos pelitos. Esses quartzitos são foliados eapresentam padrão de fraturamento mais denso que osxistos. O padrão da alteração desses litotipos indica aprovável presença de feldspatos na paragênese.

Microscopicamente os xistos apresentam paragê-neses típicas da fácies xisto verde na zona da clorita. Apresença local de granada em processo de hidratação etransformação em clorita indica que esse mineral nãofaz parte da paragênese metamórfica, uma vez que nãoestá em equilíbrio com as condições de pressão, tempe-ratura e atividade dos fluidos.

Os minerais do grupo do epidoto, titanita, óxidos eo zircão são os acessórios mais comuns encontradosem todas as fácies de xistos.

Em associação com os xistos e quartzitos ocorrem,em áreas restritas, faixas de rochas metaultramáficas(tremolita xistos, clorita-talco xistos e esteatitos) e tipospetrográficos interpretados como rochas metavulcânicasácidas de composição dacítica (Campos & Costa, 1980e Drake Jr., 1980).

A paragênese mineral do Grupo Araxá na área apre-senta processos retrometamórficos definidos peladesestabilização da biotita e granada, que passam paraclorita em virtude da hidratação possivelmente ligada aosprocessos de descolamento tectônico durante o CicloBrasiliano. Este fato também pode ser observado pelahidratação dos minerais primários dos granitos e doscorpos ultramáficos, onde o feldspato, a biotita, a olivinae o piroxênio, se transformam, respectivamente, em umamassa de saussurita, clorita, talco e anfibólio.

• Grupo Areado (Fornmação Abaeté Eocretáceo)Localmente, ao longo das bordas leste e oeste da

chapada que compõe o topo do Domo de Caldas, ocor-rem conglomerados considerados como correlatos àFormação Abaeté, do Grupo Areado de idade eocretácea.Essa correlação é proposta com base:

- na similaridade litológica dos conglomerados co-muns em outras regiões fora da Bacia Sanfranciscanaonde esta unidade foi definida (e.x. Serra da Água Fria/MG, Distrito Federal, Bonfinópolis/MG além de outrasocorrências Campos et al., 1999 e Barbosa, 1997);

- na semelhança litológica tanto macroscópica, quan-to microscópica;

- no mesmo sistema deposicional relacionado a suasedimentação;

Figura 5 - Seção geológica esquemática representando um corte leste-oeste na porção central da Serra de Caldas.

Figure 5 - Schematic geologic east-west cross section of the central portion of the Caldas Range.

Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil 183

- no mesmo nível topográfico no qual estes sedi-mentos estão distribuídos regionalmente;

- na presença de ventifactos, similar aos presentesnas áreas tipos;

- na semelhança do conteúdo de minerais pesados (tur-malina, zircão, granada, opacos e minerais metamórficos).

A granulometria dos conglomerados varia desde fi-nos até muito grossos, sendo comumente clasto-su-portados e localmente matriz-suportados. Os seixossão de quartzito e quartzo leitoso e existem fácies des-de bem a mal selecionadas (com blocos e matacões).Localmente exibem um cimento de sílica amorfa nãoraramente em associação com óxidos de ferro (sílicaamorfa em tons marrons).

As feições microscópicas do cimento de sílica pre-sente em conglomerados finos mostra que o clima à épo-ca da deposição era do tipo árido a semi-árido. Os cimen-tos são representados por sílica amorfa, sílica fibrosa esobrecrescimento em grãos, todos representando cimen-tos do tipo precoce, típico de ambientes desérticos.

Essa unidade apresenta grande importância paleo-geográfica, uma vez que está associada regionalmente àsuperfície de aplainamento Gonduânica. A sua preser-vação, no entanto, está condicionada às depressões tec-tônicas controladas por falhas de pequeno rejeito. Essetipo de controle já foi descrito por Campos et al. (1999),para explicar a presença dos conglomerados da Forma-ção Abaeté na região do Distrito Federal e por Barbosa(1997), estudando os conglomerados do Eocretáceo naregião de Bonfinópolis de Minas.

Contexto Deformacional

Dois eventos tectônicos foram responsáveis pelaestruturação e pelo aspecto geomorfológico atualmenteobservado na região, incluindo, a tectônica formadora,de natureza dúctil-rúptil atribuída ao Ciclo Brasiliano, ea tectônica modificadora, de natureza rúptil vinculada areativação da Plataforma Sul-Americana. Na área estu-dada foram identificados quatro conjuntos de estrutu-ras planares e lineares, as quais apresentam uma relaçãogenética entre si, tendo sido desenvolvidas em regimesdúctil-rúptil e rúpil durante o primeiro evento. O segun-do evento não foi responsável pela geração de estrutu-ras, mas apenas pela reativação de estruturas planaresgeradas no primeiro.

Os eventos deformacionais, por serem separadospor um grande intervalo de tempo, serão tratados comoEvento E

1 (Ciclo Brasiliano desenvolvido no final do

Neoproterozóico) e Evento E2 (Reativação Waldeniana

desenvolvido no Cretáceo). O evento E1 comporta qua-

tro fases deformacionais progressivas que se sucedemno tempo ou podem ser parcialmente sincrônicas (F

1,

F2, F

3 e F

4), enquanto o evento E

2 é considerado como

desenvolvido por uma única fase (F5).

Os elementos estruturais são na maioria concordantescom uma deformação a partir de um esforço compressionalpróximo de WSW para ENE, tendo como antepaís o Crátondo São Francisco a leste. O esforço equatorial é responsá-vel pela forma do Domo ligeiramente alongado na direçãoNNW/SSE, onde os flancos leste-oeste são mais fechadosque os flancos norte-sul (Fig. 5).

A análise dos dados de lineações minerais e lineaçõesde estrias mostra que o Domo foi estruturado após acolocação tectônica do Grupo Araxá sobre o GrupoParanoá. No caso do Distrito Federal, por exemplo, oDomo de Brasília já estava estruturado na forma debraquianticlinal quando o Grupo Araxá cavalgou o Gru-po Paranoá. A diferença básica é que as lineações naregião de Caldas Novas mostram um padrão centrífu-go, enquanto no Distrito Federal as lineações apresen-tam atitude constante em torno de 05/270o (Freitas-Sil-va & Campos 1998).

O comportamento da deformação dúctil-rúptil naregião pode ter sido influenciado pelo espessamento dapilha sedimentar do Grupo Paranoá, a qual poderiacondicionar o soerguimento localizado da crosta poracomodação flexural de stress residual. É importantesalientar que dados geofísicos mostram que o GrupoParanoá na região deve apresentar espessuras superio-res a 1000 metros, para explicar as anomalias bouguerobtidas pelos levantamentos gravimétricos desenvolvi-dos na região (Haralyi & Hasui 1982).

A evolução geológica para a área pode ser sintetiza-da pelos seguintes momentos históricos:

- deposição de uma espessa coluna sedimentar emprovável depocentro da Bacia Paranoá, no Meso/Neoproterozóico;

- deposição do Grupo Araxá em porções mais inter-nas da Faixa Brasília, sob condições plataformais comassociações de turbiditos de águas mais profundas, noNeoproterozóico;

- metamorfismo do Grupo Araxá e formação danappe que coloca esta unidade sobre o Grupo Paranoá,e estruturação do eixo NW/SE do Domo de Caldas du-rante os estágios iniciais do Ciclo Brasiliano;

- soerguimento do domo com a estruturação de seueixo EW e padrão centrífugo das lineações minerais, emestágios tardios do Ciclo Brasiliano;

- fraturamento/falhamento de todo o conjunto (gru-pos Araxá e Paranoá) nos estágios finais do CicloBrasiliano;

Águas Quentes de Caldas Novas, GO184

- reativação normal das estruturas planares portectônica extensiva, formando falhas de pequeno rejeitoe ampliando a abertura de fraturas existentes, durante oCretáceo.

- erosão dos xistos mais susceptíveis aos proces-sos de intemperismo e manutenção do conjunto maisresistente, compondo o relevo atualmente observado naregião durante o Cenozóico.

Hidrogeologia

Esse item apresenta os aspectos gerais da hidrogeo-logia da região de Caldas Novas, destacando principal-mente a classificação dos aqüíferos, as feições da quí-mica das águas, a causa do hidrotermalismo e os padrõesde regimes de fluxo subterrâneos.

Apesar da importância das águas subterrâneas paraa região de Caldas Novas, que representa uma das mai-ores ocorrências de águas termais do mundo, não exis-tem estudos consistentes sobre os vários aqüíferos e ascausas do hidrotermalismo, podendo-se destacar ape-nas os trabalhos de Campos & Costa (1980), Tröger etal. (1999), Haesbaert & Costa (1980) e Zschocke (2000),além de vários relatórios técnicos com resultados pou-co esclarecedores.

• Classificação dos AquíferosCom base nas variações químicas, nas condições

de circulação, nas temperaturas e nos tipos litológicos,três grupos de aqüíferos foram determinados. Osaqüíferos serão tratados genericamente como SistemaAqüífero Intergranular, Sistema Aqüífero Paranoá e Sis-tema Aqüífero Araxá.

Sistema aqüífero intergranular

Corresponde ao conjunto denominado de aqüíferofreático por Tröger et al. (1999). São aqüíferos livres,contínuos lateralmente, de ampla extensão com espes-sura saturada muito variável e de grande importânciahidrogeológica local. Estes aqüíferos desempenhamtrês importantes funções na região: funcionam comofiltros, favorecem a recarga dos aqüíferos sotopostose regularizam a vazão de base das drenagens superfici-ais nos períodos de recessão de precipitaçõespluviométricas.

Este sistema foi dividido em dois subsistemas deno-minados de P

I e P

II, em função das características físi-

cas das coberturas de solo (incluindo sua textura, es-pessura, variação lateral e padrão de relevo associado).O Subsistema P

I é limitado ao platô da Serra de Caldas,

sendo representado pelo regolito dos quartzitos da Uni-dade Ortoquartzito, com espessuras variando de algunsmetros até 64 metros. Os solos e saprolitos dessa co-bertura apresentam valores de condutividade hidráulicamuito elevados (com ordem de grandeza variando de10-5 a 10-4 m/s) em função do próprio material de ori-gem, sendo classificados como latossolos com texturamédia a arenosa e areias quartzosas.

A relação entre as características físicas e o padrãode relevo essencialmente plano com cotas superiores a1000 metros resulta em uma situação de recarga regio-nal muito eficiente. Nesse contexto, o volume de águaretida por infiltração é muito elevado, sendo o fluxo su-perficial limitado às bordas da serra nos períodos demáxima precipitação. Esse subsistema, por apresentargrande condutividade, é rapidamente drenado, apresen-tando zona vadosa muito espessa e zona saturada limi-tada ao topo rochoso.

O Subsistema PII é representado pelos cambissolos

e solos litólicos presentes na borda da Serra de Caldas epelos solos argilosos derivados dos xistos do Grupo Ara-xá. Nesse caso, os aqüíferos apresentam espessuras evalores de condutividade hidráulica significativamenteinferiores ao do Subsistema P

I, o que associado a um

padrão de relevo forte ondulado e com declividades mo-deradas a elevadas, limitam o volume de recarga naturalpela infiltração das águas de precipitação pluviométrica.

As águas do Subsistema PI, por apresentarem níveis

estáticos muito profundos e estarem integralmente situ-ados no interior de uma área de preservação ambiental(Parque Estadual de Caldas Novas), não são aproveita-das para qualquer fim. O Subsistema P

II é aproveitado a

partir de poços rasos, em áreas rurais ou em bairrosperiféricos da cidade de Caldas Novas.

Os aqüíferos intergranulares são caracterizados poráguas frias com temperaturas próximas às médias anu-ais locais e por águas pouco mineralizadas. O tempo decontato entre as águas de chuva e o material geológico(solo ou rocha alterada), é restrito, o que diminui a taxatotal de sais dissolvidos. Os exutórios desses aqüíferossão representados por pequenas fontes de contato e/oudepressão, e pela drenagem subterrânea para os aqüíferosfraturados subjacentes.

Sistema aqüífero Paranoá

Este sistema é representado por aqüíferos: fratura-dos, livres ou confinados, frios ou termais, anisotrópicose heterogêneos e com extensão lateral controlada pelosgrandes lineamentos. O Sistema Paranoá é classificadocomo aqüífero livre quando as zonas de fraturas são

Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil 185

associadas a áreas de afloramentos de rochas psamo-pelíto-carbonatadas do Grupo Paranoá, sendo na regiãode Caldas Novas correspondente ao Domo de Caldas.Por outro lado, quando as zonas fraturadas/fissuradassão recobertas por rochas xistosas do Grupo Araxá, estesaqüíferos são classificados como confinados, sendo osxistos considerados como o conjunto aqüitardeconfinante. O Grupo Araxá pode ser considerado comoconjunto confinante, pois apesar de também ser poten-cialmente fraturado, a densidade e a abertura das fratu-ras são muito inferiores às do Grupo Paranoá. Esta fei-ção é exclusivamente em função do contraste reológicodos litotipos das duas unidades litoestratigráficas.

Da mesma forma, o Sistema Paranoá pode ser divi-dido em aqüíferos frios e termais. O primeiro caso érelacionado às zonas fraturadas com águas de fluxo des-cendente em profundidades inferiores a 400 metros. Nor-malmente essa situação está associada às porções doaqüífero onde estes são classificados como aqüíferoslivres.

O Sistema Aqüífero Paranoá será considerado ter-mal quando estiver associado a condições de fluxos des-cendentes em profundidades maiores que 450 metros,ou em qualquer profundidade, quando mantiver o fluxoascendente a partir de fraturas abertas em grandes pro-fundidades.

Esses aqüíferos são relacionados a águas poucomineralizadas, sendo que, quando termais, o TDS podealcançar valores um pouco superiores quando compa-rados aos correspondentes frios.

Para o aqüífero Paranoá Frio, os exutórios naturaissão caracterizados por fontes de fraturas, enquanto quepara o aqüífero Paranoá Termal os exutórios são repre-sentados por fontes de fraturas e pelo Rio Quente. Nes-te último caso, além do Rio Quente, os poços tubularesprofundos em operação na região da Cidade de CaldasNovas e entorno, também funcionam como exutórios.

A recarga deste sistema aqüífero se dá principal-mente pela drenagem do Subsistema Intergranular P

I,

ou seja, a partir da infiltração na região plana no platô daSerra de Caldas e secundariamente pela infiltração deáguas do Subsistema Intergranular P

II.

De maneira geral, o Sistema Aqüífero Paranoá apre-senta excelentes condições de circulação e valores decondutividade hidráulica, e transmissividade, elevados,porém muito anisotrópicos. Os valores elevados dosparâmetros dimensionais devem-se ao fato de a regiãode Caldas Novas ter sido submetida a esforçosneotectônicos relacionados à fase drifte da evolução sul-atlântica. Na região de Caldas Novas ocorrem poçoscom profundidades maiores que 900 metros com signi-

ficativas entradas de águas termais (temperaturas supe-riores a 55o C).

Sistema aqüífero Araxá

Este sistema é representado por aqüíferos fraturadosmuito heterogêneos e anisotrópicos, livres, frios ou ter-mais, com extensão lateral restrita controlada pela dis-tribuição das zonas de fraturamento.

Os aqüíferos ligados ao Sistema Araxá, classifica-dos como frios, são aqueles cujas zonas fraturadas sãorecarregadas diretamente pela infiltração de águas deprecipitação a partir do Subsistema Intergranular P

II.

Neste caso são consideradas as primeiras centenas demetros da coluna de xistos do Grupo Araxá.

As zonas fraturadas mais profundas, próximas aocontato tectônico entre os grupos Araxá e Paranoá eeventualmente, as zonas fraturadas mais abertas em pro-fundidades menores, compõem o aqüífero Araxá termalda região de Caldas Novas. A recarga destes aqüíferosse dá por fluxo ascendente a partir das águas aquecidasdo Aqüífero Paranoá termal sotoposto.

Nas condições de confinamento, as zonas fratura-das que representam o Sistema aqüífero Paranoá Ter-mal apresentam elevada carga potenciométrica, pois azona de recarga está situada em cotas positivas superi-ores a 1000 metros. Assim, quando as águas aquecidasencontram fraturas abertas nos xistos, estas sobem e semisturam com as águas frias do aqüífero Araxá, com-pondo um grupo de águas quentes, com temperaturasintermediárias entre as águas do aqüífero Paranoá Ter-mal e as águas do aqüífero Araxá Frio.

Os exutórios do Sistema Aqüífero Araxá (termal efrio) são representados pelas antigas fontes termais daregião de Caldas Novas e pelas fontes de água fria, dotipo fraturada, dispersas pela região de exposição dosxistos. Os poços tubulares da região de Caldas Novastambém são exutórios artificiais destes aqüíferos.

Pelo modelo aqui adotado, a profundidade que se-para os aqüíferos Araxá frio e termal é muito variável,sendo função apenas da abertura das fraturas nos xistos,as quais favorecem a subida da água do Aqüífero ParanoáTermal. Assim, poderão existir poços com profundida-des de poucas centenas de metros com água quente epoços ainda mais profundos sem a presença de águaquente.

Em termos químicos estas águas são as maismineralizadas da região, o que é função direta da eleva-da reatividade das rochas em comparação com osquartzitos e metapelitos do Grupo Paranoá. Os xistos,por sua vez, apresentam grande concentração de

Águas Quentes de Caldas Novas, GO186

filossilicatos, além da presença constante de carbonatosem zonas de segregação metamórfica.

Da mesma forma que o Sistema Aqüífero Paranoá,os parâmetros dimensionais para os aqüíferos Araxánão foram tratados quantitativamente. Contudo, poranalogia, com os valores obtidos para a região do Dis-trito Federal (Campos & Freitas-Silva 1998), essesvalores são significativamente menores que aquelesatribuídos ao Sistema Aqüífero Paranoá. Esta feição édevida a dois fatores: 1) reologia dos xistos, os quaisapresentam caráter mais plástico, com tendência deacomodação das fraturas por confinamento litostáticoem profundidade e 2) atitude da foliação em baixo ân-gulo, o que dificulta a infiltração das águas a partir doSistema Intergranular P

II.

• Padrão de CirculaçãoA proposta de padrão de circulação das águas sub-

terrâneas, aqui apresentada, deve ser considerada comopreliminar, sendo necessário um maior volume de da-dos para seu refinamento. Entre os dados importantes

para definição de um modelo mais consistente desta-cam-se:

1- informações hidrológicas, principalmente valo-res de vazões das drenagens superficiais;

2- idades de águas frias e termais,3- informações sobre o balanço hídrico local e4- dados de subsuperfície, diretos e indiretos

(geofísicos) objetivando limitar a principais zonas fra-turadas no platô da Serra de Caldas.

Do ponto de vista regional, a Serra de Caldas é deextrema importância para as águas termais, pois é na-quele setor que se processa o maior volume de recargadas águas quentes, tanto do Aqüífero Paranoá, quan-to do Aqüífero Araxá (por mistura). Dessa forma, omodelo de circulação que inclui sistemas de fluxo lo-cais e regionais será representado com base noarcabouço tectônico da serra e nos dados dos cincopiezômetros situados na porção central da Serra deCaldas.

Como pode ser avaliado pelos lineamentos regionaisque cortam a Serra de Caldas, e pelas brechas observadas

Figura 6 - Seção esquemática ilustrando os sistemas de fluxo hidrogeológico presentes na região das águas quentes dosudeste do estado de Goiás.

Figure 6 - Schematic section showing the hydrogeologic flow pattern present in the region of thermal waters of thesouthern portion of Goiás State.

Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil 187

em planos subverticais de falhas, a serra é seccionada porestruturas que apresentam ampla abertura e continuidadevertical. Sob essas estruturas planares (zonas cataclásticasrelacionadas a falhas brasilianas e/ou cretáceas) há um for-te rebaixamento da superfície potenciométrica relacionadaao Sistema Aqüífero Intergranular P

I. Os trechos rebaixa-

dos são interpretados como “cones de depressão natu-rais”, em função da eficiente drenagem das águas freáticaspelos sistemas de falhas.

Considerando um grau geotérmico de 30o C por qui-lômetro, isto é, aumento de 1o C a cada 33 metros depenetração na crosta, as águas mais quentes do aqüíferoParanoá termal, com cerca de 60o C na superfície, ne-cessitariam estar em contato com rochas a profundida-des superiores a 1.000 metros. Assim, a figura 6 mostra,de forma esquemática, o padrão regional de circulaçãodas águas termais dos sistemas aqüíferos Paranoá e Araxá.

Dados de anomalias bouger (gravimetria regional)mostram que na região de Caldas há um espessamentodo Grupo Paranoá, o que possivelmente retrata um paleodepocentro da Bacia Paranoá à época da deposição. Oaquecimento da água pode ser processado em funçãodo contato entre as águas descendentes e as rochas doGrupo Paranoá, com mínimo contato com as rochas doembasamento.

A presença de uma intrusão magmática (alcalinaou granítica) em subsuperfície é totalmente descarta-da em função da química das águas termais do aqüífe-ro Paranoá, a qual se caracteriza pela baixíssima mine-ralização. No caso da presença de plúton emsubsuperfície como fonte de calor para o hidroterma-lismo, a química das águas deveria apresentar valoresde íons dissolvidos muito mais elevados do que osmedidos. O mesmo seria esperado caso o contato comas rochas do embasamento granito-gnáissico fosse sig-nificativo.

• • • • • Química das ÁguasO estudo da qualidade química das águas foi efetuado

com base em 25 análises de águas de nascentes, de drena-gens superficiais e de poços tubulares (em aqüíferos ter-mais relacionados aos sistemas Paranoá e Araxá). Alémdestas análises, dados de 66 amostras de águas quentesdos quartzitos e dos xistos (Zschocke 2000) foram consi-derados para as interpretações a seguir descritas.

A sílica, cálcio, magnésio e carbonato foram as es-pécies químicas que proporcionaram a maior distinçãoentre os vários tipos de águas.

Quatro conjuntos de águas foram definidos com baseem seu conteúdo químico: águas das nascentes, águas

Figura 7 - Diagrama de Piper discriminando as com-posições dos vários grupos de águas existentesna região.

Figure 7 - Piper diagram showing the several watertypes present in the region.

Águas Quentes de Caldas Novas, GO188

das drenagens, águas do Sistema Aqüífero Paranoá e oSistema Aqüífero Araxá (Fig. 7). As águas das nascen-tes e das drenagens são importantes, pois representama composição química próxima da composição originaldas águas que infiltram e recarregam os aqüíferos pro-fundos. A diferença da composição química entre aságuas dos aqüíferos Paranoá e Araxá é importante por-que é um parâmetro utilizado para a diferenciação dosreservatórios subterrâneos.

É importante salientar que as amostras foram co-letadas no final do período chuvoso, quando uma sig-nificativa parcela do run off é responsável pela dilui-ção das águas das nascentes e das drenagenssuperficiais. As águas termais dos sistemas aqüíferosParanoá e Araxá, por outro lado, não deverão apre-sentar diferenças químicas em função do período decoleta das amostras.

As águas das nascentes apresentam os menoresvalores de totais de sólidos dissolvidos, sendo as águascom menor mineralização total. Essas águas têm com-posição química próxima a das águas de precipitaçãopluviométrica. Como seu contato com o meio geológi-co é mínimo (fluxo hidrogeológico local), suamineralização é muito reduzida.

As águas das drenagens apresentam as maiores va-riações químicas. Esse fato já era esperado, pois estaságuas têm contato com diversos tipos litológicos e es-tão suscetíveis a problemas de contaminação superfici-ais (ação antrópica), principalmente nos trechos forados limites do Parque Estadual da Serra, onde a ativida-de humana é mais acentuada. No diagrama de Piper amaior variação química é indicada pelo campo mais amploformado pelo contorno dos vários pontos.

As águas termais do Sistema Aqüífero Paranoá apre-sentam baixa mineralização total com TDS variando de17 a 43 mg/L; pH variando de 5,2 a 6,3; e valores de Sivariando de 12 a 17 mg/L. A baixa mineralização dessaságuas é interpretada como função dos tipos litológicospouco reativos que compõem seu reservatório. Ou seja,quartzitos e metassiltitos são pouco reativos e não pro-porcionam grande disponibilidade de íons para a águaque circula através de suas fraturas.

Apenas próximo ao contato com as rochas do Gru-po Araxá, na região das brechas, ou em situações ondeocorrem os mármores da porção superior, existe a pos-sibilidade de ocorrência de águas com grande minera-lização. O provável exemplo deste tipo de água é re-presentado pela amostra de água do poço que abastecea sede do Parque Estadual, o que pode ser inferidopela localização do poço e pelos resultados analíticosda água.

O último conjunto é representado pelas águas doGrupo Araxá, o qual representa o grupo com maiorgrau de mineralização, com valores de TDS que po-dem superar 70 mg/L; pH superiores a 6,6 e em geralmaiores que 7,0; valores de Si variando de 6 até 12mg/L; e valores de cálcio e magnésio sempre muitosuperiores aos valores observados nas águas do Siste-ma Aqüífero Paranoá. Os valores mais elevados damineralização das águas do Sistema Aqüífero Araxá jáeram esperados uma vez que o conjunto litológico quecompõe os reservatórios subterrâneos (xistos comcarbonato, mica, clorita e minerais do grupo do epidoto)é mais reativo e proporciona maior volume de íons paraas águas.

Discussão

Os aspectos gerais da química das águas apresenta-dos neste trabalho permitem algumas considerações doponto de vista da gênese dos aqüiferos termais da região:

1- As águas quentes não têm relação com corposmagmáticos em profundidade. No caso da presença deum aquecimento por magmatismo (como é o caso dePoços de Caldas, no estado de Minas Gerais), as águasnecessariamente apresentariam elevados teores de to-tais dissolvidos em diversas formas iônicas;

2- As águas quentes do Aqüífero Araxá, apresentamseu aquecimento em função de misturas com águas ter-mais do Aqüífero Paranoá com fluxo ascendente;

3- A maior variabilidade química das águas do AqüíferoAraxá, sem relação direta com a temperatura, pode indicarque localmente as águas deste sistema aqüífero podem seraquecidas por grau geotérmico, sem misturas significati-vas com águas quentes do Aqüífero Paranoá;

4- O aquecimento das águas é atribuído a regimesde fluxo regionais que alcançam profundidades maioresque 1.000 metros, em uma região onde o grau geotérmicoé da ordem de 25 a 30 oC por quilômetro.

5- A neotectônica apresenta importância fundamentalno contexto das águas quentes dos aqüiferos Araxá eParanoá. Sem a efetiva atuação de processos transtrativosno Cretáceo certamente não existiriam as expressivasocorrências de águas quentes na região de Caldas Novas.

CONCLUSÕES

Na área ocorrem tipos litológicos que, em funçãode suas características litológicas, sedimentológicas,metamórficas e estruturais, são correlacionados aosgrupos Paranoá (Meso/Neoproterozóico), Araxá(Neoproterozóico) e Areado (Eocretáceo).

Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil 189

No Grupo Paranoá foi possível individualizar quatrounidades litoestratigráficas, da base para o topo, Unida-de Ortoquartzito, Unidade Quartzito Argiloso, UnidadeMetarritmito e Unidade Pelito-Carbonatada.

O Grupo Araxá é composto por xistos variados, emgeral no contexto metamórfico da zona da clorita, des-tacando-se os clorita xistos, os xistos ricos em micabranca e os xistos quartzosos.

O contexto deposicional do Grupo Paranoá mostraum ciclo de aprofundamento da bacia, com fácies ma-rinhas de águas rasas que são progressivamenteaprofundadas, alcançando um estágio de deposição do-minado por tempestades (Unidade Metarritmito). A uni-dade de topo está relacionada ao evento regressivo fi-nal de preenchimento da Bacia Paranoá na região.

Dois eventos tectônicos foram responsáveis pelaestruturação atualmente observada na região. O pri-meiro relacionado ao Ciclo Brasiliano, onde de formaesquemática pode-se discriminar quatro fases de de-formação: D

1 transporte tectônico do Grupo Araxá a

partir de regiões internas da Faixa Brasília; D2 dobra-

mentos com eixo NNW/SSE; D3 dobramentos suaves

com eixos próximos de EW e D4 fraturamento e

falhamentos generalizados. O segundo evento é asso-ciado a reativação Waldeniana (ruptura Sul-Atlântica)ocorrida no Cretáceo, sendo responsável pela reativaçãodas estruturas rúpteis formadas nos estágios finais doprimeiro evento.

Três sistemas aqüíferos em dois domínios distintossão discriminados na região: sistemas aqüíferosIntergranular, Paranoá e Araxá.

O Sistema Aqüífero Intergranular é subdividido nosSubsistemas P

I e P

II, sendo caracterizados pelas cober-

turas de solos e saprolitos. O Sistema Aqüífero Paranoácorresponde às zonas fraturadas/fissuradas, podendo serdividido no Aqüífero Paranoá Frio e Termal. O SistemaAraxá, da mesma forma, comporta uma divisão emaqüífero Frio e Termal.

O aquecimento das águas é vinculado exclusivamenteao gradiente geotérmico da região e a principal área derecarga está situada no platô da Serra de Caldas.

Quatro grupos de águas foram caracterizados a par-tir do tratamento das análises químicas de amostras deáguas coletadas em nascentes, drenagens e poços. Aságuas quentes do Sistema Aqüífero Paranoá apresentambaixas mineralizações, sendo o conteúdo em sílica e osmenores valores de K+ e Na+ os melhores elementos parasua discriminação. As águas aquecidas do Sistema Araxásão as que apresentam os maiores valores de totais desólidos dissolvidos, e apresentam os maiores valores depH e elevados percentuais de bicarbonato, Ca2+ e Mg2+.

Os estágios neotectônicos foram importantes paraa caracterização do contexto hidrogeológico local e in-clusive um dos principais condicionantes dohidrotermalismo observado na região de Caldas Novas.

MEDIDAS DE PROTEÇÃO

Em função da grande importância da Serra de Cal-das do ponto de vista de recarga dos aqüíferos, é im-portante que esta região seja mantida como área de pre-servação ambiental com o mínimo uso e ocupação, comoé o caso do Parque Estadual da Serra de Caldas Novas.

Estudos de química de rocha poderão ser úteis paracorrelações entre os diversos tipos de água e o contextode circulação, com definição de regimes regionais e lo-cais de fluxo hidrogeológico.

O desenvolvimento de estudos geofísicos para de-terminação das espessuras dos solos e saprolitos é im-portante para o melhor conhecimento dos mecanismosde recarga, principalmente na maior área do platô daSerra de Caldas.

Para evitar o contínuo rebaixamento do nível daságuas subterrâneas dos sistemas aqüíferos termais daregião, projetos e estudos visando à recarga artificialdesses reservatórios devem ser desenvolvidos.

A restrição de autorizações de novas perfurações depoços tubulares profundos e a limitação do bombeamentodos poços existentes também são iniciativas para pre-servar este importante sítio geológico brasileiro.

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UWE TRÖGER

Possui graduação em geologia, mestrado em hidrogeologia, doutorado em geoquímica orgânica e posdoutorado emhidrogeologia, todos os títulos pela Technische Universität Berlin. Foi gerente de duas empresas que trabalham na áreade geologia ambiental e cooperação técnica. Atualmente é professor titular de hidrogeologia com área independenteno Institut für Angewandte Geowissenschaften da Technische Universität Berlin.

FÁBIO FLORIANO HAESBAERTGeólogo formado pela Universidade de Brasília. Atua, desde 1980, em questões diretamente relacionadas à hidroge-ologia da região de Caldas Novas, incluindo construção de poços, manutenção de sistemas de captação e gestão daságuas termais. Atualmente é Diretor Presidente da Associação dos Mineradores de Águas Termais do Estado de Goiás– AMAT.

JOSÉ ELOI GUIMARÃES CAMPOS

Graduado (1990), mestre (1992) e doutor em Geologia (1996) pela Universidade de Brasília. Atualmente é professorAssociado do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília. Tem experiência na área de Geociências, atuandoprincipalmente nos temas: Hidrogeologia, Gestão de Recursos Hídricos Subterrâneos, Estratigrafia, Sedimentologia,Geologia Regional, e Geologia Ambiental.

DNPM. Relatório Técnico GEOCENTER/GEOCALDAS.3 vol. (inédito).

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Zschocke, A. 2000. Hidroquímica das águas termais da região deCaldas Novas – Goiás. Trabalho Final de Graduação. Univer-sidade Técnica de Berlim. (inédito – original em alemão).

1 Instituto de Geociências, Universidade de Brasília,

(61) 3072830 Brasília, DF - Brasil. CEP 70910-900.

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2 Universidade Técnica de Berlim - Berlim -

Alemanha. [email protected]

3 Geocaldas Projetos e Assessoria em Geologia.

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CEP 75690-000. [email protected]

Trabalho divulgado no site da SIGEP <http://www.unb.br/ig/sigep>, em 20/6/2005,

também com versão em inglês.