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Paulo Mittelman
Psicólogo Clínico
Professor do Curso de Pós – Graduação em Prevenção e Tratamento de Abuso de
Drogas da PUC / RJ
Alcoolismo e Tabagismo
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As Dependências e Compulsões são Fenômenos
Complexos
“Para todo problema complexo existe umasolução simples, …
e errada.”H. L. Mencken
(da tese de doutorado de
Sérgio de Paula Ramos)
Alcoolismo e Tabagismo- Alguns Dados*:
Dados epidemiológicos (COONEY et al., 1998) apontam para os seguintes
índices:
a) 80% dos dependentes de álcool são fumantes;
b) 30% dos fumantes são usuários nocivos ou dependentes de álcool.
Os tabagistas consomem duas vezes mais álcool do que os não-
tabagistas. Da mesma forma, o risco de beber excessivo em tabagistas é
também duas vezes maior.
Estima-se que o alcoolismo seja 10 a 14 vezes mais prevalente em
tabagistas do que em não-tabagistas. Além disso, bebedores pesados
tendem a estar associados com tabagismo pesado, sendo que 85% dos
alcoolistas ativos fumam diariamente.
*Tabagismo x Dependência de Álcool e outras substâncias- Analice de Paula Gigliotti e Tadeu Lemos em Comorbidades- Transtornos Mentais x Transtornos por Uso de Substâncias de Abuso. (ABEAD)
Alcoolismo e Tabagismo- Dados sobre Tratamento*
:Tratamento:
A condução adequada do tratamento do tabagismo pressupõe a
modificação do padrão de uso de outras drogas, especialmente o álcool.
Não há suporte científico para a noção tradicional de que a interrupção
simultânea de álcool e nicotina possa aumentar o risco de recaída para o
álcool (BIEN e BURGE, 1990).
Hughes (1993) demonstrou que o tratamento para parar de fumar em
alcoolistas é tão bem sucedido quanto em não alcoolistas.
Em 1997, Stuyt comparou as taxas de recuperação entre fumantes e não-
fumantes, após tratamento para dependência de álcool e outras drogas em
regime de internação. Os resultados indicaram que não-fumantes
apresentaram períodos mais longos de abstinência do que os fumantes.
*Tabagismo x Dependência de Álcool e outras substâncias- Analice de Paula Gigliotti e Tadeu Lemos em
Comorbidades- Transtornos Mentais x Transtornos por Uso de Substâncias de Abuso. (ABEAD)
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“ Os desejos criam uma dependência,
impõem sua própria duração.
Platão trata os apetites como quedas. A
autonomia da alma desejante, quando ela se
embala no enchimento de uma jarra furada,
traduz a idéia de que, diante do dinheiro, do
sexo e da comida, a pessoa arrisca-se a se
alienar, a cair no abismo sem volta...
A lição filosófica da psicanálise para nós
reside nisso: nosso sistema nervoso é de tal
forma feito para gozar na inércia e na
displicência que, se dermos força a isso,
não nos ocuparemos com mais nada...
Não somos feitos para todo o gozo de que
somos capazes.”
Giulia Sissa (O Prazer e o Mal- Filosofia da Droga)
Uma Visão Mais Ampla das Dependências (I)
Uma Visão Mais Ampla das Dependências (II)
• Jogo Patológico
• Comportamento Sexual Compulsivo
• Comer Compulsivo
• Comprar Compulsivo
• Dependência de Internet
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“... A grande maioria dos cigarros fumados
portanto não dá prazer. O único prazer advindo
deles, se assim se pode dizer, é negativo: é aquele de
não “estar sem”, de não faltar, prazer que se sente
principalmente no ato de acender.
...Pode-se levantar a hipótese de que o excesso de
tabaco procede da reaparição de um desejo de
onipotência cuja ineficácia o fumante jamais teria
aceitado. Essa vontade de onipotência seria
expressa pela autocriação de uma necessidade vinda
do corpo, indefinidamente cheio por um objeto
multissimbólico fácil de obter e indefinidamente
renascente.” (Odile Lesourne, Le Grand Fumeur et sa
Passion, in O Prazer e o Mal)
Giulia Sissa (O Prazer e o Mal- Filosofia da Droga)
Uma Visão Mais Ampla das Dependências (III)
O Prazer Negativo ou Evitação do Desprazer
A cada ano morrem 3,5 milhões de pessoas por doenças associadas ao tabagismo.
200 bilhões de dólares/ano são gastos com essas doenças (custo médico e social ).
A OMS considera o tabagismo como a principal causa de mortes e doenças evitáveis
Estima-se que o cigarro seja a causa de:
90% das mortes por câncer de pulmão
86% das mortes por enfisema.
30% das mortes por câncer
25% das mortes por infarto do miocárdio
25% das mortes por derrame cerebral
Tabagismo: questão de Saúde Pública
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Fatores Biológicos
Uma grande quantidade de
dopamina pode ser medida após
a estimulação elétrica no núcleo
accumbens.
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Centro de Prazer no Cérebro
Pesquisas neurofisiológicas
demonstram a existência de
estruturas cerebrais específicas
correlacionadas com sentimentos de
intenso prazer provocadas por
substâncias químicas e padrões
compulsivos de uso das mesmas.
Figura: um rato pressiona compulsivamente a barra para se administar doses de heroína no núcleo accumbens.
Fonte: NIDA
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Fatores biológicos
Fonte: NIDA
Vias de absorção: pele, mucosa oral e principalmente pulmões.
Início de Ação: em menos de 7 segundos atinge o SNC
Modo de ação: liberação de dopamina no núcleo accumbens
O tabagista de um maço/dia reforça o hábito 200 vezes, diariamente.
NICOTINA
Dependência à Nicotina
AÇÃO NO SNC
Performance Física
Prazer
Memória
Concentração
Relaxamento
Ansiedade
Tensão
Isso leva ao desejo de readministração da droga.
O tabagista de 1 maço/dia reforça o hábito 200 vezes por dia.
Teste de Fagerström
1.Quanto tempo após acordar você fuma o seu primeiro cigarro ?
Dentro de 5 minutos = 3 Entre 6-30minutos = 2
Entre 31- 60 minutos = 1 Após 60 minutos = 0
2.Você acha difícil não fumar em lugares proibidos?
Sim= 1 Não=0
3. Qual o cigarro do dia traz mais satisfação ?
O primeiro da manhã =1 Outros=0
4. Quantos cigarros você fuma por dia ?
Menos de 10=0 De 11 a 20= 1 De 21-30=2 Mais de 31 =3
5. Você fuma mais frequentemente pela manhã ?
Sim=1 Não=0
6. Você fuma mesmo doente,quando precisa ficar de cama?
Sim = 1 Não=0
0 - 2: muito baixo 3- 4:baixo 5: médio 6-7=elevado 8-10=muito elevado
( )
( )
( )
( )
( )
( )
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Fatores Ambientais (Sociais)
Tabagismo x Adolescentes
• ¾ dos fumantes começam entre 14 e 17 anos.
• 90% de todos os fumantes começam até 21anos.
• ½ dos adolescentes que experimentam, setornam fumantes.
• Busca de identificação com
• o grupo social
• Marketing é o fator preditor
Aumento da vulnerabilidade
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Fatores Psicológicos
• Fatores de Condicionamento e
Aprendizagem
• Fatores Psíquicos mais profundos
Tratamento Psicoterápico do Tabagismo
A abordagem psicoterápica mais utilizada no tratamento
do tabagismo é a Cognitivo – Comportamental:
Consiste em identificar com o fumante suas Situações de
Risco de Recaída e desenvolver com ele suas Respostas
de Enfrentamento (O que ele pode pensar [respostas
cognitivas] e o que ele pode fazer [respostas
comportamentais]) para lidar com as Situações de Risco.
Situação de Risco
É qualquer situação de vida que coloca em perigo a
manutenção da abstinência.
Resposta de
Enfrentamento
Aumento da
Auto-Eficácia
Manutenção
Sem resposta de
enfrentamento
Diminuição da
Auto-Eficácia
Recaída
Situação de Risco
Grupo I - Lidar com emoções negativas (Auto - Eficácia = habilidade para lidar com a situação)0- Nenhuma1- Pouca2- Suflciente
1. Quando eu me sinto deprimido, triste, desanimado 0 1 22. Quando estou ansioso, estressado. 0 1 23. Quando sinto angústia sem razão aparente 0 1 24. Quando me sinto sozinho, isolado 0 1 25. Quando estou preocupado 0 1 26. Quando me sinto culpado ou envergonhado 0 1 27. Quando me sinto frustado, alguma coisa não deu certo 0 1 28. Quando me sinto timido, inibido 0 1 29. Quando me sinto rejeitado, ou "por baixo" 0 1 210. Quando me sinto criticado ou humilhado 0 1 211. Quando sinto pena de mim mesmo 0 1 212 Quando me vêm lembranças ruins da minha vida 0 1 213. Quando sinto inveja ou ciúmes 0 1 214. Quando me sinto confuso atrapalhado 0 1 215. Quando sinto raiva ou ressentimento 0 1 216. Quando sinto tédio 0 1 217. Outra situação (descreva)
No seu caso, em que situações você é mais vulnerável neste grupo?1.2.3.
Grupo V - Lidar com hábito de fumar (Auto - Eficácia = habilidade para lidar com a situação)
0 - Nenhuma1 - Pouca2 - Suficiente
1. Quando acordo 0 1 22. Depois do cafe 0 1 23. Depois de uma refeição 0 1 24. Quando estou dirigindo 0 1 25. Nos "intervalos" para o café 0 1 26. Quando vejo pessoas fumando 0 1 27. Quando me oferecem cigarro 0 1 28. Quando vou relaxar depois do trabalho 0 1 29. Quando chego numa reunião social 0 1 210. Depois de um drink ou chop 0 1 211. Quando vou falar no telefone 0 1 212. Quando tenho que escutar longamente alguém 0 1 213. Quando vou a shows ou competições 0 1 214. Outra situação (descreva)
No seu caso, em que situações você é mais vulnerável neste grupo?1.2.3.
Respostas de Enfrentamento às Situações de Risco #1
1a Linha de DefesaEvitação
Escape
Distração
Adiamento
2a Linha de DefesaCognitivas
Imaginação
Reestruturação cognitiva
Conversa consigo mesmo
Comportamentais
Relaxamento
Atividade física
Comportamento consumatório alternativo
Assertividade
Respostas de Enfrentamento às Situações de Risco # 4
2a Linha de Defesa
Respostas Cognitivas
ImaginaçãoImagens orientadas para a manutenção da abstinência podem ser planejadas
Consequências negativas de fumar
Consequências positivas da manutenção da abstinência
Reestruturação Cognitiva
É uma mudança deliberada na percepção de uma situação. Consiste em 3 etapas:
1 - Identificar a situação associada com a vontade ou fissura
2 - Reavaliar a situação (“O que realmente está acontecendo? O que o ato de fumar vai
me proporcionar?”)
3 - Redefinir a situação (ex.: “Eu não quero fumar, eu quero relaxar.”)
Prevenção da Recaída
Desequilíbrio no estilo de vida
(Deveres > Prazeres)
Desejo por indulgência ou gratificação imediata
(“Devo a mim mesmo um cigarro”)
Compulsões ou Fissuras Mediadas
por Expectativas dos Efeitos
Imediatos do Cigarro
Racionalização, Negação e DAIs
(Decisões Aparentemente
Irrelevantes)
Situação de Alto Risco
Paulo Mittelman
Psicólogo Clínico
Professor do Curso de Prevenção e Tratamento de Abuso de Drogas da PUC - Rio
[email protected] tel.: (21) 2552-0986 / 2551-3540 / 99764-0000
www.paulomittelman.com.br
Obrigado!