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Alem Da Lideranca - Leo Peracini
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DADOS DE COPYRIGHT
Sobre a obra:
A presente obra disponibilizada pela equipe Le Livros e seus diversos parceiros, com oobjetivo de oferecer contedo para uso parcial em pesquisas e estudos acadmicos, bem comoo simples teste da qualidade da obra, com o fim exclusivo de compra futura.
expressamente proibida e totalmente repudivel a venda, aluguel, ou quaisquer usocomercial do presente contedo
Sobre ns:
O Le Livros e seus parceiros disponibilizam contedo de dominio publico e propriedadeintelectual de forma totalmente gratuita, por acreditar que o conhecimento e a educao devemser acessveis e livres a toda e qualquer pessoa. Voc pode encontrar mais obras em nossosite: LeLivros.link ou em qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link.
"Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutando pordinheiro e poder, ento nossa sociedade poder enfim evoluir a um novo nvel."
Alm da Liderana:
Devaneios de uma gesto
Leonardo Peracini
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
Para meus pais, Michel e Maria Antnia Peracini, meu irmo, Leandro Peracini,
que, pelo amor incondicional, ensinaram-me mais do que qualquer livro que eu
j tenha lido. Entregaram-me o que mais precisava para chegar at aqui, o meu
carter.
minha linda esposa, Cristiane Peracini, que escolheu viver intensamente ao
meu lado. Sempre compreensiva e amorosa em todas as situaes. Seu amor
um presente que encontrei na trilha da minha existncia.
E a todos os meus amigos de trabalho, que, sem eles, esta obra no teria sentido.
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Leonardo Peracini
Em cada chegada, eu sou uma partida.
Friedrich Wilhelm Nietzsche
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
Sumrio
Introduo ......................................................................................................................... 9
Antes de comear a liderar, entenda primeiro o que fizeram de voc ............................ 31
Voc tiraria a sua prpria vida pela empresa em que trabalha? ..................................... 36
Sementes ideolgicas da liderana ................................................................................. 47
Liderando a inrcia ......................................................................................................... 56
Lder ou artista? .............................................................................................................. 62
A crise de identidade nas empresas ................................................................................ 69
Falta de vida nas empresas ............................................................................................. 77
Lder? Profeta? Ou Professor? ........................................................................................ 83
A sobrevivncia pelo prazer ........................................................................................... 87
A materializao do amor como alimento da vida ......................................................... 92
Felicidade efmera .......................................................................................................... 99
Bibliografia ................................................................................................................... 108
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Leonardo Peracini
Prefcio
Aprendi com meu pai que a autoridade pode ser conquistada pela firmeza
na fala, com minha me que a mansido gera segurana e estabelece vnculos de
confiana, com minha primeira professora que a tolerncia uma das mais belas
virtudes, eu aprendi...
Fazendo retrica em nossa biografia, vamos perceber que, ao longo dela,
construmos os prprios modelos de liderana sob a influncia do que vimos,
experimentamos ou percebemos em outras pessoas ou situaes, da vem a
pergunta: que tipo de influncia forjou as maiores convices? Alm da Liderana
convida, de maneira provocativa e prazerosa, a mergulhar em nossa mais profunda
essncia e a descobrir que a ausncia de respostas no sentido da vida e das coisas
s existe na falta das perguntas certas.
...Quando julguei que tinha encontrado todas as respostas, veio a vida e mudou as
perguntas! (Trecho do livro).
As melhores questes so aquelas que nos desarrumam. Para construir algo
melhor, necessrio antes destruir. Talvez seja essa a maior razo para evitarmos
certos questionamentos.
Muitas vezes, nos apegamos tanto s nossas verdades, que fica praticamente
impossvel abrir caminho para perguntas que as confrontem, pois colocamos
crenas sob os pilares de nossos valores, que so verdades profundas. Quando
aceitamos nossas concepes, estabelecemos crenas ou limites, tanto que
comum, quando algum fere o que acreditamos, a gente dizer: Agora voc passou
dos limites!.
O problema que, querendo ou no, em algum momento, verdades sero
confrontadas, e, quando isso acontecer, teremos de estar preparados para
mudanas, e elas podem significar romper limites. S mudamos quando nos
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
incomodamos, talvez o conforto que tanto buscamos seja nosso maior crcere, que
nos priva de conhecer o sabor da sabedoria no desconhecido, fazendo de ns
pessoas inertes a mudanas e ao crescimento.
Agora, se por um lado encontramos pessoas resistentes a transformaes,
por outro, h aqueles que, na busca pelo crescimento, se perdem em meio s
modificaes. Quem muda constantemente est sempre no comeo. Na nsia de
chegar ao topo, renuncia a base. E, por no a conhecer, est despreparado para
alcanar o cume. Quando consegue, est frgil e cai rapidamente.
Como liderar em meio a tantas diferenas de valores, geraes e mudanas
rpidas? Como chefiar em um mundo de modismos, onde conceitos e regras so
apresentados como enlatados, partindo do princpio que o ser humano tem um
padro lgico?
Vivemos um paradoxo: determinada gerao busca seu espao em um
mundo de mudanas constantes e outra no aceita permanecer em um emprego ou
atividade por mais de trs meses sem que haja crescimento rpido.
Tempos atrs, as pessoas se orgulhavam de ter estabilidade no trabalho.
Hoje, comum encontrar jovens com mais de sete registros na Carteira de
Trabalho e Previdncia Social (CTPS), e, pasmem, este documento possui espao
para dez registros.
Por querer bastante, abrimos mo do pouco e esquecemos de que o muito
a soma de vrias coisas pequenas. Corremos para ganhar o mundo e deixamos para
trs a essncia. Conquistamos grandes negcios, mas perdemos batalhas no campo
emocional e descobrimos que atravessamos a vida, e no permitimos que ela
passasse por ns.
Nesta obra, que soma um valioso acervo literrio a experincias prprias,
com a beleza da poesia, inspirao e filosofia, Leonardo Peracini nos envolve,
promovendo uma leitura que, alm de ser prazerosa, riqussima em contedo
intelectual, comportamental e emocional, despertando em ns um lder e ser
humano ainda melhor.
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Leonardo Peracini
Deixe seus valores, conceitos e paradigmas em uma paralela e tente
experimentar se conhecer por intermdio das pginas deste livro. Isso ampliar sua
viso, descortinando o que h ALM DA LIDERANA.
Daniel G. Ferreira
Empresrio, administrador Multi-Business, consultor empresarial, especialista em marketing,
coach, palestrante, terapeuta comportamental e instrutor licenciado pela Escola de Negcios
Master Mind no Brasil, ligado a The Napoleon Hill Foundation Indiana/USA.
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
Introduo
Elimine primeiro o impossvel, o resto que sobrar, o que teremos para
trabalhar. Neste ponto, que se tecer a verdadeira meta, o percurso para o
prximo enigma.
Neste livro voc no encontrar teorias, mtodos, nmeros, pesquisas e
frmulas de sucesso. Contudo, poder achar respostas, dvidas, provocaes,
desiluses, iluses, crticas, observaes, liberdade e poesias brotando no trajeto
da obra, o prazer e a alegria de reencontrar consigo mesmo e com algum que ainda
no conhece. Um dia, perguntaram para o dr. Sigmund Freud: O que a vida?.
Ele respondeu: Talvez seria trocar uma iluso pela outra. Penso que ser lder de
valor ou uma pessoa importante para outras aprender a administrar, superar e
danar com as iluses e desiluses da vida. aprender a no se calar quando o
corao est gritando, mesmo no usando palavras.
Este livro inacabado, no existe fim. Ele at pode comear a ser lido pelo
final. Fique vontade, meu caro leitor, sirva-se. No h comeo. No existem
problemas em ler os textos separados, at porque este livro no tem histria, conto.
So fragmentos, retalhos, devaneios literrios, como a mente, que se desenvolve
na forma de um palimpsesto.
O ser humano cresce por subtrao, e gostoso mesmo saborear e
experimentar o novo, aquilo que ainda no foi degustado, imprimido na alma
humana, no importa por onde esse movimento comea, nem sua temtica. O que
importa a experincia, que, para voc, esta obra pode ser novidade, ou no,
apenas um fragmento ou uma provocao que evidenciar ainda mais seus
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Leonardo Peracini
defeitos, defeitos esses que podem tambm serem os pilares que o levaram ao um
mergulho nas profundezas obscuras e arrebatadoras do mundo interno, dos
fantasmas que se manifestam na conscincia como defeitos, falhas, moral, ticas
confusas, culpas e mazelas humanas ainda no experenciadas, ao qual devem ser
reconstrudas, reelaboradas, construdas em algo que consiga sustentar o edifico
inteiro, que aps essas provocaes, pode ficar ainda maior, mais pesado, potente,
firme, simtrico.
Uma fruta, mesmo sendo da mesma qualidade, cada uma cria diferentes
experincias, sabores, momentos. Herclito, filsofo pr-socrtico, marcou a
humanidade, e entre essas marcas, um de seus famosos pensamentos era dizer que:
Nenhum homem se banha duas vezes no mesmo rio. Em quantas ocasies eu e
voc, lendo uma obra novamente, sentimos que o sabor est diferente? Quantas
vezes sentimos que estamos mudando, ficando diferentes? Ser humano muda de
sabor, como essa obra, como o planeta, como tudo que se conecta, somos seres de
mudanas, de demasiados sabores. Voc pode estar, agora, se sentido distante, que
tambm normal, pois ainda nem deu tempo de se provocar pelas pginas deste
livro, porm, sabemos que todo ser humano, muitas vezes, antes de ficar prximo,
primeiro preciso ficar longe.
No h ordem para comear. At porque j comeou. O importante estar
presente, quase sonhando todos pensamentos. Se voc se sentir encantado por
algum texto, no se preocupe, deguste-o, pois estar encantado com voc, no om
os pensamentos, eles ficam vivos quando voc os evocam, quando consegue
mistura-los com aquilo que existe gravado em seus personagens internos. Contudo,
para comer chocolate, o bom mesmo se lambuzar. Se entregue de forma simples,
porque todo trabalho, toda transformao no complexa, necessrio
descomplicar para construir. Estar alm da liderana, conseguir construir algo
que no parea uma priso ao ar livre, algo inacabvel, aquilo que constante, que
existe vida, vontade, verdade, sendo personagem da prpria estria. Um dos
objetivos tambm desta obra, ser buscar fazer com que aquela lagrima que est
fixada em seu rosto, por vezes, possa descer. Outro objetivo, sentir algo parecido
com o de iniciar um projeto, relacionamento, viagem para lugar que ainda no foi
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
visitado, escutar msica no tocada at o momento, conhecer novas pessoas,
experimentar sentimentos diferentes e lambuzar-se com si mesmo.
O comeo e o fim so apenas meios de chegar ao sentido. Porm, o final
que d sentido ao incio. O fim nos convida para o futuro. O comeo, para o
presente. Observe a morte. ela que d estmulo vida. Se no existisse, a
existncia no teria finalidade. As pessoas iriam adiar seus comeos, propsitos,
sonhos, vontades. Imagine agora se voc tivesse apenas 24 horas de vida, o que
faria? Voc correria primeiro para qual lugar? Quem seriam as pessoas que
gostaria de encontrar? O que diria para seus pais? Como seria seu olhar quando
atravessasse os olhares de seus filhos? O que diria pra eles? Como seria seus
ltimos minutos? Pensamentos? Qual marca deixou? Que sabor teve seu rastro? E
voc, se tornou quem?
Pense e veja quanto de sentido essa reflexo traz para sua matria humana
experimentar. Ela poderosa, porque limita o tempo. Brinca com o comeo, fim e
sentido da vida. Nela, 24 horas so o fim, a vida o comeo, o que est entre o
comeo e o fim o que poderamos nomear como carter de sentido da vida. Estar
alm da liderana, de maneira alguma estar com a mente no futuro, na verdade,
conseguir entender o entre, aquilo inconsciente que se torna consciente,
transformando em algo que ele o patamar humano.
Com efeito, ver o comeo fcil, mas enxergar o final exige distanciamento.
Perceber o fim ter sensao de calma e sabedoria nas horas mais turbulentas. As
melhores decises so tomadas quando o fim visto, e o entre que est entre o
comeo e fim, que se manifesta na conscincia atravs de sentido o que leva as
decises alm do que se projetam ou esto atualmente. aquele insight, ou melhor,
um pensamento que sai do mundo interno, se projeta ao mundo externo, e
modifica os dois. Existimos porque existe objetos externos, e internos, sem eles,
no existiramos, no haveria qualquer conexo, no teria o porqu decidir, se
transformar. No haveria ou porque ou para que continuar.
Escrever esta obra, mesmo sem saber no que iria se transformar, sabia que
seria um encontro com minhas angustias, com minhas verdades inventadas, com o
sentido da minha vida. Sempre tive a sensao de que a transformao estava alm
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Leonardo Peracini
do presente, sempre senti, at porque, entender isso no seria uma questo de
inteligncia, mas de sentido. Demorei algum tempo para concluir trechos,
organizar esquemas, ler sobre outros pontos de vista, pensamentos e reas de
estudo. Encontrei-me pessoalmente com muita gente. Portanto, apesar de tentar
organizar toda a minha forma de pensar, maneira essa que muda a cada minuto,
busquei exprimir e escrever com meu prprio sangue. Mas meu corpo, limitado,
por vrias vezes lutava contra tudo e todos. Queria mudar reflexes, pensamentos,
misturas, cores e sabores. Quando percebia, j havia modificado. Olhava para o
cho e via apenas a casca, olhava para cima e via cu, porm, quando olhava a
frente, sentia que j estava voando. Quando olhava para dentro, enxergava a
transformao. Por isso o sentimento de angstia, porque no suportava o que
poderia me tornar a vir a ser. Essa dor psquica, se manifestava pelos julgamentos,
metodologias, pensamentos no suportados, que com efeito, parecia verdade e
fantasia ao mesmo tempo, mas que me fez entender que deveria seguir adiante,
porque o que se passava l fora, mesmo no entendendo, no me interessava,
porque o que eu queria era mesmo transformar o que se passava dentro.
A capa deste livro fala por si. Ela ilustra a vida, mostra que tudo nela so
momentos de transformaes. Sejam elas por meio do sofrimento ou do amor.
Todos efmeros. Este livro, como o amor e dio, no tem garantias. Se oferecesse
garantia de que esta obra iria funcionar para tal fim desejado, seria como se
conseguisse ensinar aqueles e aquelas que leem, a pular a prpria sombra. Como
a ilustrao, viramos borboletas todos os dias. Seja biologicamente, trocando
milhares de clulas, ou de forma transcendente, explorando novos vcios, virtudes
e vidas. Porm, no se desespere, nunca conseguiremos dizer quem somos, porque
quando tentamos dizer o que somos, excorporamos nossa matria humana, e em
um momento de reflexo, no somos mais aquele que acreditvamos ser.
Avio
Quem aprendeu a viver
No aprendeu a se conservar.
Viver desequilibrar, desgastar.
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
Quem se conserva se conserva fechado.
Quem se gasta se gasta porque aberto.
A escurido fechada.
A luz aberta.
O avio no aeroporto est fechado, confinado.
No sendo avio...
Nos cus,
Ele est aberto, voando, em algum sentindo,
Mas voando, como faz um avio.
A vida aprender, no a viver,
Mas a voar no escuro,
Em alguma direo.
Voos abertos,
Sem muito a se preocupar em manter os ps no cho.
Talvez assim que se faz,
Como faz, quando levanta voo um avio.
Penso que a literatura, a arte, a msica, as poesias, a psicanlise e a filosofia
sempre foram os melhores amigos e maneiras de aprender como encontrar
fragmentos de sentido da vida. Por isso, nesta obra iremos pular de uma rea para
outra, buscando encontrar simetria nas temticas desenvolvidas ao longo desta
trajetria. Contudo, no minha pretenso esgotar qualquer tema que seja, at
porque, so inesgotveis. E o percurso da liderana, ou melhor, o percurso da vida
incurvel, porm tratvel. Seguir neste percurso, entrar em um jogo de apertos,
aos quais, aprenderemos a apertar ns essenciais, que sustentam a rede, as malhas
da liderana. Desenvolveremos tambm estmulos para que aprendemos a olhar
para todas situaes de maneira extraordinria e no ordinria, pensando acima do
pensamentos, enxergando aquilo que no se v, sabendo o que a maioria no
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Leonardo Peracini
sabem, mudando ngulos, vrtices, tornando-nos diferentes frente a demasiadas
situaes, como nos ensina a estupenda poetisa Clarice Lispector Se juntarem
para falar mal de mim, me chamem, sei coisas terrveis ao meu respeito. E se me
acharem esquisita, respeite tambm, at eu fui obrigada a me respeitar.
O conceito de beleza e esttica para os gregos representava o profundo do
ser. O saber excorporar. Observe a etimologia da palavra entusiasmo, que,
naquela poca, significava um Deus dentro de si, uma chama que estava acesa
dentro daqueles que eram loucos pela vida, otimistas de espirito. Ela era tambm
utilizada para classificar pessoas inquietas, alegres, com talentos artsticos,
retricos e que se diferenciavam. Nos dias de hoje, traduzimos o conceito de
pessoas entusiasmadas como aquelas e aquelas que aprenderam a suportar a vida,
suas mazelas, as verdades pessoais, que suportam a si mesmos, que vivem
buscando algo de extraordinrio, que contenha um grandioso proposito.
Entretanto, algumas pessoas, distorcem esses conceitos, remodelando-os em
discursos onde tudo possvel, onde aquilo que na vida no deu certo, agora pode
dar, como a felicidade, a salvao, a absolvio de culpas e sofrimentos, prometem
a outros a cura para tudo, o que por sua vez, tcnicas ou teorias, com aspectos
lights, se perfazem como anestesias, que apenas sublimam aquilo que no
conseguiu ser transformado em produtos que parecem ser vendidos em prateleiras
de free shop.
O modelo de liderana comercializado no mundo capitalista impe que o
indivduo seja saudvel, sarado, agressivo, firme, fale bem e use roupas da moda.
Ele est fora se for generoso, acima do peso, com dificuldades retricas, tmido e
antiquado. preciso estar no formato do lder politicamente correto. O descarte
tambm importante, pois lder politicamente correto, aquele que quando
descartado no se posiciona, pois precisa manter a aparncia para o prximo
trabalho, onde a carta de referncia importante. E assim, a ciranda gira, cada
hora, como cada qual, est em uma posio. Como um relgio, que eternamente
ir dar voltas e chegar no mesmo lugar, claro, que mais desgastado, mais velho,
porm, com o mesmo sentido.
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
Apoio-me s vezes nos conceitos da filosofia dos gregos, pois nunca
morrero. Vo e voltam, como reflexes poderosas, sem modismos. Os gregos
tinham a clareza de que a beleza no se reduzia apenas forma biolgica. Sua
dimenso era algo que transcendia. Estava entre o cu e a terra. Eles entendiam
muito bem sobre o entre que falamos anteriormente. Esse entre que no era
um deus, nem um homem. Era o que chamamos de amor. Eles tinham viso
idealista, humanista, afetiva. Entretanto, hoje, o amor esttico se vende pela TV,
por e-mail, em cursos nas empresas e em falas sem sentido, corrompidas pelo
capitalismo, penso melhor, amor que nada, mas sim, perverso seria mais
adequado, porque amor no se vende, isto , tudo aquilo que est no entre no
se deixa agarrar. Essas perverses so traduzidas para explorao do
individualismo e para a autoafirmao de egos e da dominao do poder, talvez,
analisando profundamente, encontraremos demasiadas feridas narcisistas.
Contudo, neste vai e vem, a vida passa a ser assistida e traduzida como um jogo,
um perde enquanto o outro ganha, ou melhor, o auge seria o modelo da loteria,
enquanto um ganha, milhes perdem.
JogoLutar, lutar, lutar, lutar.
Vencer, vencer, vencer, vencer.
Fracassar, fracassar, fracassar, fracassar.
Crescer, crescer, crescer, crescer.
Viver, viver, viver, oh, viver!
Fui entendido?
Aceito?
Morrer.
esse o jogo da vida?
Ou a vida do jogo?
Vida, Seres humanos,
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Leonardo Peracini
O que queres de mim?
Nem eu sei o que a vida, nem o Ser Humano!
Imagina se saberei dizer o que queres, e porque queres?
Para conseguir desamarrar um n, preciso entender como ele foi feito. No
se pode forar, arrebentar, esticar e fazer presso. Desat-lo exige estratgia,
tcnica, leveza, saber empregar a fora adequada, compreender de que forma foi
realizado, quem o fez e porque foi feito. Na maioria das vezes somos ns, os
costureiros, os criadores de ns, tanto para o sofrimento, quanto para alegria. A
vida um n pedindo para ser desfeito. Ser lder aprender a afrouxar os ns de
seus liderados, entender como eles foram feitos, e porque foram feitos, dissecar
cada modelo ou material que sustenta cada ligao, cada conexo que liga a outro
n, ao emaranhado de vnculos, as vezes, o melhor no desamarr-los por
completo, apenas apertar e refazer alguma ligao, fortalecendo aquilo que j
existe, que deve ser sutilmente modificado, reelaborado, fazendo aquele
movimento descrito no incio de nossa temtica, desafixar as lgrimas para que
escorram ao rosto, para que este liderado olhe para trs e veja que ainda
necessrio continuar a lutar veementemente, que nesta luta que se encontra sua
beleza, aquilo que se busca toda a vida.
Tirar as amarras de um ser humano possvel, mas se houver complemento.
Como duas partes se provocando. Duas bocas alimentando-se de um nico corpo.
Como o beb que encontra o seio materno e se deleita em pleno sentido. Um lder
s um lder porque algum dia faltou um lder. O conceito de complemento quer
dizer que, se no houvesse uma parte, a outra no existiria, nem se sustentaria, pois
no haveria sentido existir. Para construir um n, antes necessrio precisar fazer
esse n, depois que preciso ter a linha e algum para faz-lo. Em nosso caso, o
liderado a linha; o lder, o costureiro, e o n representa as ausncias, faltas, aquilo
que deve ser feito, preenchido, o desejo sendo realizado.
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
O amor uma tima opo para ilustrar esse conceito. Scrates dizia que o
amor no . E que ele no existe se no houver ausncia. Que a gente s ama
porque falta. A busca no pelo amor, mas pela ausncia, pelo que ainda no
existe, acreditando que um dia ser preenchido, completo. A gente s ama porque
perde. E ama mais quem sofre mais. Scrates tambm deixava evidente que o amor
carncia. Que ele no poder, pelo contrrio, ser dominado. Que o amor
fogo que arde sem se ver. No divino nem humano. Que ele tem natureza divina
e humana. Que nos deixa alucinados, delirando. E que, ao mesmo tempo, inspira
as maiores virtudes. O amor est nas entrelinhas. Parafraseando, no seria isso o
que os lderes andam buscando nas empresas, inspirao? Provocar incndios nos
talentos de seus colaboradores? Alucinar de paixo as pessoas que esto sua
volta? Inflamar o que existe de grande dentro de cada um? Passar por sofrimentos,
desiluses, frustraes com tranquilidade? Quebrar paradigmas e vcios? Criar
vnculos afetivos? Ser seguido por seus liderados alucinadamente? Da me
pergunto: Ser que um dos maiores erros nas empresas est na execuo? Na
comunicao? Na falta ou excesso de planejamento? Na quantidade de capital a
ser investido? Na estrutura estratgica? Na falta de mo de obra? No mercado? Nas
campanhas de marketing? Em manter um controle financeiro rgido? Na falta de
tecnologias? Na rea comercial?
Um incndio interior, inflamado, no se faz com processos, estratgias ou
controles. Do mesmo modo, tambm amplificando, podemos nos defender de
todos ataques pessoais, mas nunca de um elogio. Os conceitos de administrao
ainda no conseguiu produzir estratgias tranquilizadoras, que resolvem todos
problemas, porm, as pessoas com poucas palavras conseguem evitar pequenos
problemas. Ns no tropeamos em montanhas. Tropeamos naquilo que
pequeno, que muitas vezes to pequeno que se torna invisvel. As pessoas, como
as empresas tropeam no invisvel. Henry Ford certa vez disse aos seus
concorrentes, homens poderosos que queriam leva-lo as ruinas, que todos eles
poderiam retirar suas fabricas, maquinas e dinheiro, mas que nunca iria permitir
retirar seus homens, porque com eles reconstruiria tudo novamente. Henry Ford,
no sculo XIV j sabia que o invisvel era o segredo que movia tudo e todos. Era
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Leonardo Peracini
o que levava os sonhos a se realizar, os desejos a serem desejados, o triunfo
coletivo. Este invisvel est disfarado na representatividade da inveja, dio, ego,
feridas narcisistas, traumas, vnculos pessoas afetivos cindidos, sentimentos
ambivalentes, arrogncia, inseguranas, ansiedades, culpa e medo. Qualquer um
desses, quando amplificado coletivamente, destri qualquer empresa, qualquer
cidade, qualquer nao. As pessoas so o nico meio que um lder tem para
dominar e controlar esses instintos.
Onde estou?
Olho-me no espelho
E me vejo.
Mas no me sinto um ser humano.
Vejo-me.
Mas estou vazio,
Invisvel.
Onde estou?
Invisvel sou?
O invisvel me consome.
Consome o mundo,
Que come e some.
Onde Estou?
O que no vejo?
O mundo ou o que sou?
Prefiro in-visivel,
Ser visto pelo lado de dentro,
Pelo mundo adentro.
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
Que me consome,
Que o espelho no traduz.
Onde estou?
Em dor ou prximo do amor?
Para aqueles, que pensa que o desafio movimentar o capital, simples.
Para pr o dinheiro em circulao, devemos dar mobilidade a quem lida com ele,
ou seja, s pessoas que o produzem. Do mesmo modo que no existe parque sem
crianas, no existe dinheiro sem pessoas. O desafio desta verdade entender
como ela se representa, como se manifesta. Pessoas querem dinheiro, mas no
querem se aprofundar no desenvolvimento humano. Apenas pessoas so capazes
de produzirem dinheiro, e quanto mais preparadas, mais dinheiro se produz. Um
ser humano angustiado no produz nada. Um invejoso destri tudo a sua volta. O
inseguro se fecha na sua improdutividade e inercia do dia a dia. O egosta no
consegue trabalhar em equipe. Um muito generoso descontrola a organizao. O
vitimado no trabalha, reclama. E assim por diante. A busca no deve ser pelo
dinheiro, o dinheiro o fim. Dinheiro so para os fracos, poder para os fortes.
Contudo, no estou dizendo para usar da organizao como Igreja ou qualquer que
seja a instituio de caridade. Estou tentando dizer que o foco da liderana deve
ser pelo vrtice humano. Pela via que desafia a capacidade dos pensamentos mais
sofisticados, aqueles que dedilham a movimentao humana, seus enigmas e
segredos. No seriado americano House of Cards, o protagonista que ambiciona o
cargo de vice-presidente do EUA, em uma cena diz para Raymond, empresrio
bilionrio "Voc no pode comprar lealdade, Raymond. No o tipo que eu tenho
em mente. Se voc deseja merecer minha lealdade, voc precisa me oferecer a
sua."
O Corpo
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Leonardo Peracini
No quero mais tratar do corpo.
Podem vocs ficar com ele.
Mas deixem a alma para mim.
O corpo de vocs, para vocs.
A alma minha!
Essa,
Eu no abro mo.
Quero tratar da alma.
Conviver com o sofrimento,
Que seja o do outro.
Quem pensa que feliz
No me interessa.
Quero os infelizes,
Os insatisfeitos,
Inquietos,
Os sensveis.
Quero aqueles que sofrem da bile negra.
Quero as almas que esto morrendo de fome de liberdade.
Quero me deixar contaminar pela aura delas.
Essa sim,
Ser a alma do meu negcio.
Ser a felicidade o problema? Talvez, ela nos deixa preguiosos, parados,
curtindo os momentos, inertes como gatos. Uma pessoa criativa, sensvel, produz
mais do que algum alegre, percebam os poetas. Seus manifestos saem de impulsos
que saltam a barreira de contato mental, so pinados em devaneios, em
alucinaes que transcrevem alguma verdade pessoal. Como estmulos pela sua
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
produtividade, fazem de tudo e suportam situaes inimaginveis. Seu corao
sempre est batendo acelerado, como o de uma ave presa em desespero, mas no
pela dor, e sim, pela sua infinita condio humana, que se evidencia maior do que
ele mesmo. Entretanto, cuidado, no estou dizendo para alimentar situaes que
deixem as pessoas infelizes, mas sim, com um sentido de vida, com uma fome
carinhosa de insatisfao por aquilo que se espera viver, construir, transformar.
Ser que a felicidade aumenta a produtividade? O filosofo alemo, Friedrich
Nietzsche, que faleceu no ano de 1900, descreveu em sua obra prima, Assim Falou
Zaratustra, que (...) todo o meu bem e meu mal se puseram a gritar em mim num
s grito. O mnimo, precisamente, o mais tnue, o mais leve, um roar de lagartixa,
um sopro, um piscar de olhos... de bem pouco feita a essncia da melhor
felicidade. Silncio! Como complementa Nietzsche, no mais simples gesto, nos
detalhes, de maneira fina e polida, como em um belo piscar de olhos. Grandes
lideres, pessoas que esto no patamar da interdependncia j aprenderam que esses
detalhes, esses mistrios que se vestem como pequenos, quase invisveis, geram
chaves que abrem portas afetivas, com o propsitos de engajar Neste espectro, os
detalhes finos, elegantes, como por exemplo, os elogios que saem da boca daqueles
lideres, diferenciados, com envergaduras abissais, que soam no apenas como sons
e palavras, mas como obras de arte, como tambm, os gestos acolhedores,
misturados com falas fortes, inflamadas de entusiasmos e otimismo. Conflitos que
se resolvem com gentilezas, tenses com autocontrole invejveis. Antes de retomar
a pergunta, se felicidade aumenta a produtividade, necessrio introduzir esses
pensamentos, pois eles vem antes da felicidade, como do mesmo modo, o piscar
de olhos, antes dele, existem uma cadeia de estmulos autnomos, estmulos
conduzidos por processos elaborados, classificados, condicionados a um fim, que
finaliza da execuo do piscar de olhos, de maneira que seja voluntaria ou
involuntria. A resposta para essa pergunta parece simples, e seria sim, a felicidade
aumenta a produtividade, porm, a complexidade esquenta, quando adicionamos
o como, isto , como aumentar a produtividade atravs da felicidade? A
complexidade aumenta ainda mais, porque cada ser humano sente se feliz de uma
forma, cada um tem seu modo de ser feliz, de sentir, de perceber aquilo que est a
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Leonardo Peracini
sua volta, de gravar e conectar com determinados objetos, mistrios e sonhos.
Enfim, penso que talvez, essa obra poderia ser o incio para comearmos a se
aprofundar nesta temtica, com uma viso estratgica atemporal, objetivando
gestar novas potencias.
Lembro-me tambm de Joo Signorelli, ator brasileiro que, em suas
apresentaes por todo o pas, interpreta Mohandas Karamchand Gandhi, que me
fez lembrar o significado do porqu Gandhi recebeu o nome de Mahatma Gandhi,
que significa A Grande Alma". Nomeao, penso eu, apoiada em um
existencialismo, em ideias perfeitas, mas que permitem o ser humano nomear, e
pensar, mas que servem como pontes de significados, aos quais, representam
demasiadas reflexes, como por exemplo, tambm, a ideia de mundo e Deus.
Entretanto, um ser humano, com essa significncia, nomeado de Grande Alma
por outros seres humanos, remete, que talvez, sua moral, tica, necessidade interior
de refletir, est alm do tempo que se vive, que seus pensamentos servem como
rotas, pontes, caminhos a serem seguidos, tanto , que ficou conhecido
mundialmente pelo seu modo de pensar, se posicionar e agir. Gandhi j dizia que
a guerra externa inicia no interior. Impressionante como esse pensamento
poderoso, que vive em ebulio durante sculos porque se aproxima da verdade
humana, vive como se um pensador passasse o basto para outro. Neste prisma,
todos os fatos, sejam aes contra a tica, a moral ou seguidas de culpa, comeam,
segundo Gandhi, comea com a luta interior, independente da moral seguida, da
tica empregada. Tanto para Gandhi, como para os maiores pensadores, como
Kant, Nietzsche, Descartes, o ser humano deve sempre se aprimorar, superando a
si mesmo, se construindo, mesmo que seja necessrio desconstruir algo, a fim de
reconstruir melhor, buscando viver sempre para alm de seu tempo. E nesta linha
de pensamento, que detalhada, invisvel que se encontra a felicidade, felicidade
esta nomeada por cada um, mas que constri, modifica, transforma. E mais adiante,
tentando pensar modelos para a felicidade, para que ela acontea, sabemos que
antes de sentir seu prazer, seu sabor, necessrio atritos, construes,
desconstrues, movimento interno humano, disciplina, o que sem dvida,
poderamos seguir o que Gandhi nomeou como guerras interiores. Aqui, no estou
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
fazendo apologia a guerras, confrontos, conflitos ou qualquer modo primitivo de
pensar. Nesta narrativa, estamos tentando ficar alm dos instintos, em um
patamares do pensamento mais evolutivo, com funes do pensar diferenciadas.
Afinal, a maior ferramenta de um lder suas funes mentais, lder que no pensa,
no lidera, sofre, vive angustiado.
O escritor brasileiro, Rubem Alves, que faz brilhantes metforas, consegue
descomplicar o que est muitas vezes sublimado, em seu livro, intitulado, Rubem
Alves e Moacyr Scliar, citam a metfora de um toca-discos que se comovia com a
prpria msica que tocava. Ele conta, que quando ela comeava a tocar, o toca-
discos disparava a chorar e se desligava, com isso, a msica era interrompida, pois
ele, naquele deleite, se dissolvia de tanta emoo. Como este toca-discos, vive um
grande lder, que se emociona com a prpria msica, que sabe que se a msica no
tocar, o salo de festas no enche, e que na verdade, esse salo, o seu salo
interno, onde tudo acontece, todos encontros e desencontros, ele tambm, sempre
neste movimento de reflexo, se questiona o porqu est tocando determinado
estilo de msica, qual o tom, ritmo e volume a ser equalizado. Estar alm da
liderana isso! se afetar com a prpria msica, afetando e ajudando tambm os
liderados a descobrirem seu repertorio, suas mais belas sinfonias.
A posio na empresa, o cargo que ocupamos, o ambiente de trabalho, as
ferramentas gerenciais, nosso corpo so apenas instrumentos para tocar a msica.
O que acontece que, em alguns momentos, os instrumentos se dissolvem, como
o toca-discos. No conseguimos ser fortes o suficiente para aguentar tocar a
msica, nossa carcaa humana no acompanha o ritmo, a sincronia, a magnitude
do sentido empregado. Do mesmo modo muitas mentes pequenas buscam
retaliaes por no suportarem o impacto das transformaes sinalizadas pelo
lder, por aquele que est alm dos outros, que pensa de uma maneira singular,
talvez, abstrata, mas estrategicamente racional, produtiva. E para que esse patamar
seja atingido a falta de paixo por liderar inadmissvel quando se trata de tarefas
colossais. A quebra do campo simblico dos liderados a misso mais importante
que um lder tem, sua empreitada ajustar, reconfigurar os significados de seu
grupo, transformando suas preconcepes em concepes, ideias em pensamentos,
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Leonardo Peracini
estratgias em realizaes. O risco desta ressignificao, que tanto os liderados
quanto o lder, podem caminhar inconscientemente para os dois lados, o da
construo demasiada de prazer ou desprazer, isso vai depender da elaborao das
ideias, dos significados e concepes ambicionadas. Nesta ebulio, uma mo
sobre o corpo pode causar muito desprazer. Tudo depende no do estmulo ou
excitao enquanto coisa fsica, mas do sentido simblico que est carregando.
Meus caros leitores, espero que o seu mundo seja parecido com o meu. Que
se sintam atrados. E, quem sabe, no se apaixonem um pelo outro. Entrelaando
e tornando um s. Almejo tambm que o meu ponto de vista e o seu se tornem
outro. Algo alm do que se nota. Mesmo vivendo trocando uma coisa pela outra,
trocando iluses, como havia dito Freud, penso que o que ns queremos no
vender ideias, marcas, produtos, empresas. O que pretendemos vender so nossas
estrias, nosso prprio mundo. As experincias. O nosso ser. Talvez, seja aqui
nesse ponto que inicia o desafio. Como negociar estrias ainda no contadas? Que
muda a cada minuto? E como vender algo que, quando se entende, no se
compreende mais porque j mudou? Como suportar as estrias de outros seres
humanos?
Queremos comercializar um mundo desconhecido, inconsciente, um mundo
escrito atravs da arte e msica. Estar alm da liderana conseguir produzi-las
por meio de si mesmo e dos outros. Ser lder saber danar. Sentir. Elaborar
concepes. Entender que "Decises baseadas em emoo no so decises. So
instintos. Que podem ter valor. O racional e o irracional se complementam.
Isolados, eles so bem menos poderosos." E para alm de homem, a existncia
passa ser a tentativa da vida de saciar de forma cabal nossas faltas, que so
constitutivas, porm criadas pelos desejos frustrados, que quando vivos, nos
impulsionam a dor essencial, a paixo delirante de sermos melhores do que somos,
mesmo sabendo que nunca seremos o que idealizamos, alguns pela dor e amor aos
delrios da vida se aproximam de suas fantasias, que sero sempre inacabadas,
faltas faltantes. Entre esses esto alguns como Ludwig van Beethoven, Fernando
Antnio Nogueira Pessoa, Albert Einstein, Carlos Drummond de Andrade, Ayrton
Senna, Tim Maia, Viktor Frankl, Leonardo da Vinci, Friedrich Nietzsche, Plato,
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
Scrates, Michel Foucault, Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni, Rubem
Alves, Santo Agostinho, Paul Jackson Pollock, Sigmund Freud, Leonardo Boff,
Jesus de Nazar, Vincent van Gogh, Pablo Picasso, Adlia Prado, Clarice
Lispector, Claude Monet, Wolfgang Amadeus Mozart, Johann Sebastian Bach,
Carl Gustav Jung, Alfred Adler, Jean-Paul Charles Aymard Sartre, Nelson
Mandela, Arthur Schopenhauer, Ren Descartes, Santo Ambrsio, Jean-Jacques
Rousseau, Zygmunt Bauman, Paulo Freire, Mrio Quintana, Lo Tarcsio
Gonalves Pereira - Pe. Lo, Napoleon Hill, Thomas Edison, Alexandre, o Grande,
Csar Nunes, Luiz Henrique Milan Novaes, Alcides Souza, Renato Mezan,
Jacques Lacan, Melanie Klein, Wilfred Bion, voc e centenas, milhares de seres
humanos. Todos conseguimos acessar o que h de mais profundo e inconsciente.
Basta desejar suportar a si mesmo. Alguns chegam a um ponto de transformao
que conseguem impactar a humanidade. Entram sem pedir licena na vida de
muitas pessoas.
Homem VampiroO meu sangue me mantm
Vivo,
Quando eu escrevo sinto
Que estou vivo,
Quando eu escrevo com meu prprio sangue,
Sinto
Que no sou eu.
Entretanto,
Quando leio um bom livro,
Sinto que sou eu,
Um vampiro,
Bebendo o sangue de outro homem.
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Leonardo Peracini
Alimento-me no de sangue,
Mas do esprito dos homens
Que um dia doaram no o sangue
Mas o seu ser.
Atualmente, assistimos a muitos seres se devorando por tentar vender o seu
mundo. Mas o que acontece que aquilo que est venda conhecido, uma cpia
que no sustenta e gera pouco sentido de vida. Uma grande multido est se
esforando para colocar na prateleira seu universo. Uns fazem at promoes,
ferindo o carter e as leis. Usam-se as melhores tcnicas, embalagens, cheiros e
meios de seduo. a feira do mundo que j passou. Est venda o que no
exprimido, mas seres humanos piratas.
Mas quem faz da sua vida e do seu trabalho uma poesia, obra de arte,
msica, esse sim tem um mundo pela frente. Ele no vive em um mundinho,
como dito no senso comum. Esse ser est sendo. Se construindo a cada momento.
Ele sente instantes de quase morte e tambm de vida. No coloca anos em sua
existncia. Pe vida em seus anos. Ganha o presente.
PresenteEu no gosto tanto de ganhar presente
Comparado quanto eu gosto do presente.
O que eu gosto mesmo,
de ganhar o presente.
Ter presente bom,
Mas ser presente melhor ainda.
Que presente
Ganhar um presente,
De um ser presente!
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
Isso sim
ganhar um presente,
Ganhar o presente
Do presente.
mais fcil ganhar presente
Do que dar presente.
Difcil mesmo
ser presente,
O presente,
No presente.
Um dia,
Estarei embrulhado para presente,
Deixando o presente
Sem levar presentes.
Serei levado
Pelo presente,
Tornando-me ausente.
Ser esse
Um presente?
Como havia dito, em alguns trechos, por ansiedade, tentei fazer um artigo e
no consegui. Saram, ento, pedaos menores, poesias e versos. So devaneios,
meios que encontrei para me comunicar. Sinto-me mais vontade deixando fluir
naturalmente. Ainda bem que existem pessoas como Adlia Prado, que nos
provoca e ao mesmo tempo nos conforta: " Quando julguei que tinha encontrado
todas as respostas, veio a vida e mudou as perguntas! . Estou tambm confortvel
para responder com uma escrita diferente.
27
Leonardo Peracini
A publicao deste livro, Alm da Liderana: Devaneios de uma Gesto,
uma tentativa de provocar o potencial daquele que o l. Estimulando o amor por
liderar, mesmo que seja por meio do sofrimento. um convite para afirmar a
existncia como vida, assumindo toda e qualquer responsabilidade por ela.
Enxergar e sentir intensamente cada momento e sabor nos movimentos mais
profundos da liderana. Aprender a eternizar, como pensou Adlia Prado: Aquilo
que o corao amou fica eterno . Como tambm escreveu em seu livro, A
Psicoterapia na Prtica, o psicanalista dr. Viktor Frankl, que afirmou que o
homem s se torna homem e completamente ele mesmo quando fica absorvido
pela dedicao a uma tarefa e se esquece de si mesmo a servio de uma causa, ou
no amor a uma pessoa. como o olho, que s pode cumprir sua funo de ver o
mundo enquanto no observa a si mesmo. O sentido tem um carter objetivo de
exigncia e est no mundo, no no sujeito que o experincia.
Entretanto, com efeito, caso seu universo seja diferente do meu, espero que
eu consiga causar sabor durante a leitura. Como disse o filsofo alemo, Friedrich
Nietzsche: A mente um estmago. Digerir ou ter indigesto. O processo
natural, fisiolgico. Mas, mesmo assim, insisto com o convite. Poderamos at
completar e parafrasear com as Escrituras Sagradas, em Apocalipse 3:16 "Seja
quente ou frio. No seja morno, seno te vomito". O processo assim. Mesmo para
essa leitura, ele deve ser quente ou frio, mas no morno, pois cada um est em um
tempo. Em um estgio. Quem sabe, caso a leitura no desa hoje, poder fazer
isso em outro momento. Ou como Rubem Alves nos convida a olhar diferente, o
prazer engravida, o sofrimento faz nascer. Embora a leitura esteja sofrida, alguma
reflexo ou crtica valer a pena. Algo ir dar prazer ou nascer dentro de voc.
Lembre-se de que este livro e voc sero uma mistura. Se no sair coisas boas,
que ns, misturados, resultamos em algo indigesto.
O nosso corpo assim, um centro de batalhas. Lutamos diariamente contra
os modelos e mapas emocionais que criamos ou que foram implantados pela
natureza do homem. Tem hora que preciso se esquecer do homem velho e se
vestir do homem novo. Claro, no se esquecendo do passado, mas sim tentar
compreend-lo, entend-lo, aproveit-lo.
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
PassadoNo me importa mais o passado,
Ele j passou.
Mas hoje
Estou passado,
Porque o passado voltou,
Virou presente.
Ser que o passado se imortalizou?
Estou passado,
Parece-me que o passado,
No passou.
Hoje imploro,
Para que esse sentimento seja passageiro.
Serei eu
O passageiro do passado?
Estou passado!
Sou passado?
Antes do passado,
Eu no era ningum.
Depois do passado,
Eu me tornei algum.
Mas o que me importa hoje
No o passado.
o passageiro,
O algum.
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Leonardo Peracini
Caro leitor, peo licena para continuar e iniciar as paradas programadas
para essa viagem. Caso queira continuar, terei a alegria de ser seu mais novo amigo
livro. Desejo-lhe que, ao longo destas paradas ou fragmentos literrios, voc tenha
uma bela experincia de quase morte e reflita sobre o que est fazendo para se
superar. Como j dizia Friedrich Nietzsche: preciso haver morte para superar a
si mesmo. preciso ter um caos dentro de si para dar luz uma estrela danarina.
E, com os teus venenos, preparar o teu balsamo.
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
Antes de comear a liderar, entenda primeiro o que fizeram de voc
Nenhum olho brilha se a alma antes no brilhar.
Voc j se deparou com situaes nas quais as decepes dominam suas
expectativas? Freud dizia que o homem um ser frustrado. Sempre que estamos
envolvidos com algo grandioso, as frustraes tendem a ser maiores. Pensando e
concordando com Freud, qual seria o primeiro passo para realinhar as esperanas
e modificar as rotas, para tentar, mais uma vez, oxigenar a alma e continuar a
liderar com sentido? Como manter o famoso brilho nos olhos? Quando descrevo
a palavra brilho, lembro-me por que as pessoas dizem que as almas so brancas
e iluminadas. Nenhum olho brilha se a alma no se iluminar. Nas Escrituras
Sagradas est escrito que os olhos so as janelas da alma. Para eles brilharem de
alegria, a alma deve estar inundada de sentido.
O filsofo Jean-Paul Sartre afirmava que primeiro preciso descobrir o que
fizeram de ns para depois entender o que nos tornamos. Entretanto, o mais
importante decidir o que vai ser feito com o que fizeram de ns. Isso sim mais
relevante. parar, pensar e assumir a responsabilidade pela prpria vida, pensando
em seu valor e tempo desperdiado. Sartre complementa dizendo que, cada
instante que passa, no um minuto a mais de existncia, mas sim de morte. Parece
angustiante essa reflexo, mas ela um grito de desespero a favor do sentido da
vida. Nenhum lder consegue chefiar se no houver objetivo. Deve-se tambm
31
Leonardo Peracini
pensar sobre o que foi e o que a verdade em nosso entendimento, se que ela
existe.
Para sentir o poder da liderana agindo, aconselhvel resgatar as verdades
mais profundas, buscar as razes, crenas e a cultura. Entender o que foi formado
durante esses anos. Pergunte para voc mesmo. Quais foram os valores e crenas
que constru at aqui? Como foi formado o meu carter? O que preciso para dar o
maior salto de todos? Imagine se o relgio da sua vida parasse em 24 horas. O que
voc faria nesse tempo? O que falaria e para quem? Que falta voc faria? Essas
provocaes servem para exprimir as mais variadas essncias humanas, mas no
so suficientes para o total entendimento. Portanto, por que utiliz-las? Porque
nenhum lder consegue liderar ningum se antes no entender a si mesmo.
Compreender seu estilo, mtodo, perfil, valores e carter. Quando ouvimos
que o lder precisa inspirar seus colaboradores, na realidade, essa afirmativa est
tentando dizer que ele tem como misso provocar a essncia de cada liderado,
como se este fosse uma ferida e o lder aquele que coloca o pus para fora, curando-
o. O objetivo principal libertar em seus liderados todo o potencial puro represado.
Entretanto, nuca tente libertar seus colaboradores se no sentir que voc est livre.
Caso contrrio, o veneno toma a forma de julgamentos, crticas, angstias,
ressentimentos, noites mal dormidas e perda do sentido de viver. Seria como tentar
expulsar o pus da ferida, mas, em vez de ele sair, aumenta pela presso imposta,
inflamando ainda mais. Com isso, a alma no fica limpa, escurece e apaga o brilho
dos olhos. Esse movimento no mundo corporativo est associado com a perda de
grandes competncias essenciais ou talentos humanos. Se este captulo j passou
pela sua vida, seja como lder ou liderado, saboreie cada momento, porque neles
que aperfeioamos nossas foras e redescobrimos valores e virtudes adormecidos,
represados at ento.
Descubra qual o seu limite, respeite as leis fisiolgicas, tente entender que
no podemos viver do passado e que no conseguimos mudar o futuro de uma hora
para outra. Tudo tem seu tempo. Cuide do que voc tem de mais precioso dentro
de si mesmo. Sua essncia. Oh, Fernando Pessoa, que dizia: Posso ter defeitos,
viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas no esqueo de que minha vida
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
a maior empresa do mundo e que posso evitar que ela v falncia. Ser feliz
reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreenses e
perodos de crise. Ser feliz deixar de ser vtima dos problemas e se tornar um
autor da prpria histria. atravessar desertos, mas ser capaz de encontrar um
osis no recndito da sua alma. Ser feliz no ter medo dos prprios sentimentos.
Saber falar de si mesmo. Ter coragem para ouvir um no! E segurana para receber
uma crtica, at mesmo injusta. Pedras no caminho? Guardo todas, um dia, vou
construir um castelo.
No deixe os problemas acabarem com voc. E no queira ser um super-
homem. Tente descobrir como super-los de forma grandiosa, sem causar impactos
em voc e no que est ao seu redor. Problemas e preocupaes sempre vo existir.
Olhe para dentro e descubra quanto ainda pode ser criado. As pessoas no foram
criadas para as empresas, mas sim as organizaes, para elas. Respire...
Respirao
Eu inspiro
Para me provocar.
Eu expiro
Para no me entediar.
Eu inspiro, eu expiro,
Eu expiro, eu inspiro,
No final,
Eu respiro
Para continuar a caminhar.
Imagine voc, hoje, com 20% a mais de determinao, disciplina, empatia,
alegria e amor. Pense em seus colaboradores com esses 20% a mais. Como seria?
33
Leonardo Peracini
So pensamentos assim que esto Alm da Liderana. Eles tm sua base em
propsitos e no sentido da vida. um caminho que alimenta e que gera valor
compartilhado. No fcil, pode apostar. Mas diferente, gratificante e deixa a
alma sempre branca e iluminada. No se esquea de que, depois de entender quem
voc , a prxima misso exprimir o que existe de mais valioso em seus liderados.
dar sequncia ao movimento da roda que voc iniciou ou que vem ajudando a
girar. se embebedar de beleza todos os dias.
BelezaCansei,
Sem mais delongas!
No quero mais fazer limonadas,
To pouco chupar os limes.
Estou me desviando
Do que no belo.
Quero encontrar a beleza,
Mesmo me desencontrando dela.
Queria eu ter nascido quadro
Para viver vestido dela.
Queria eu ter nascido toca-discos
Para me derreter ouvindo-a.
Queria eu ter nascido pgina em branco
Para viajar com ela.
Queria eu ter nascido panela,
Para no deixar de sentir seus vrios sabores.
Queria eu ter nascido corao,
Para passar a vida inteira bombardeado de incompreenso.
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
Beleza eu
Nunca teria nascido.
Mas me sinto confortado e consentido
De apenas me sentir perseguido.
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Leonardo Peracini
Voc tiraria a sua prpria vida pela empresa em que trabalha?
Todo mundo tem a necessidade de ser especial. Toda defesa uma forma
de salvar o indivduo.
Houve um tempo em que s se cobrava de um lder conhecimentos,
habilidades e atitudes. O famoso CHA, estudado e inserido no mundo corporativo
pela escola de Harvard. Esse conceito apresentado em quase 100% das palestras
ou cursos de gesto. Os gestores mais experientes no aguentam mais ouvi-lo.
Alguns j at inovaram e acrescentaram letras, como VE, que agora chamado de
CHAVE. O conceito melhorou, porque temos a letra V, que trs o significado da
palavra valores e o E de entorno. Ou seja, o ser humano passa a ser colocado
em xeque de uma forma ampla. bom. Mas isso no significa que essas duas letras
vo transformar algo. Como se diz no senso comum, o negcio mais embaixo.
Se voc ainda no conhece o conceito CHAVE, vale a pena estud-lo. Pelo menos,
passa a impresso de que uma nova porta pode se abrir. Tenho esperana que
movimentos como esses sejam frequentes e ajudem a sensibilizar todos que
acreditam na liderana como meio de transformao do indivduo. Eis uma das
chaves para tentativa de mudana. Mudar para uns no possvel, para outros
fcil, ambos esto errados possvel sim mudar, mas no fcil e muito difcil.
Muito est se falando em motivar as pessoas, criar um ambiente agradvel,
pagar incentivos monetrios, pregar que todos devem pensar de forma positiva e
solidria. Mas pouco se fala dentro das empresas sobre como aumentar a
motivao e fundir grandes sentidos. A palavra motivao est sendo bastante
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
usada de modo figurado. Alguns at se esqueceram de que, para estar motivado,
preciso ter uma razo. Algo em que se apegar. Que gere valor, ao e sentido.
Ningum faz nada se no houver um motivo. O lder precisa descobrir com seus
colaboradores quais so seus verdadeiros motivos e ansiedades. O que os fazem
estar ali trabalhando? Seus para qus? Essa dinmica individual uma atuao da
dinmica em grupo. Indivduos so nicos, como grupos tambm, seu modo de
funcionar oscilatrio, varia de acordo com o meio externo e percepo dos
desafios pelo grupo. Grupos sentem, como sentem uma pessoa, ficam ressentidos,
fortalecem sentimentos invejosos, alucinam como bebs. Neste contexto, aquele
que tem o desafio de conduzir, deve estar preparado para lidar com emoes fortes,
reaes inesperadas e se preparar para administrar dentro de si suas inseguranas,
porque liderar lidar com incertezas. As vezes muitos tentam at prever o que
pode acontecer, possvel, porm, isso para poucos, para aqueles que j
acumularam grandes experincias, presenciaram situaes que se tornaram parte
de sua prpria personalidade, que hoje, ao estar frente, conseguem no liderar
um grupo s com inteligncia e lucidez, mas sim, suportar realidades, verdades,
conseguem elaborar ataques, ameaas, fatos imprevisveis.
Atrai-me muito comprar o modelo materno com a organizao, com base
nas reaes emocionais das pessoas, onde o beb, para sobreviver, cem por centro
dependente de sua me, acorda porque tem um interesse, que simplesmente
resolver uma frustrao, algo que est incomodando e que no aguenta resolver
sozinho, como por exemplo, fome, uma fralda molhada de urina, clica, inmeras
outras situaes poderamos descrever. Contudo, o que importa a capacidade da
me em saber lidar com a frustrao de seu beb. Do mesmo modo um lder,
precisa ser suficientemente bom para lidar com a frustrao do grupo, de cada
indivduo, e consigo mesmo. Quando o beb encontra o seio, a me, que resolve
sua frustrao, ele se sente em paz, satisfeito, pronto para degustar o prazer. Com
o lder no diferente, quando a vitria chega, uma meta atingida, um propsito
edificado, o grupo sente como o beb, satisfeito com prazer de trabalhar, de
seguir adiante, de que valeu a pena superar tais frustraes. Aprofundando mais, o
lder tem o papel de suportar aquilo que o grupo no consegue, elaborar o contedo
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Leonardo Peracini
latente, e devolver na intensidade adequada para o grupo, onde todos, devem
entender e elaborar cada movimento angustiante, de medo ou ansiedade.
Se existe um caminho, seria compreender se as expectativas dos liderados
esto alinhadas com as da organizao. Lembre-se de que motivo mais ao igual
motivao. E, para obt-la, necessrio enxergar o fim, o sentido. Ter um ato de
f de que aquilo que est sendo feito verdade, far bem para si e para os demais.
Motivao tem de gerar esperana. A razo pode estar no passado, mas o
objetivo de ter um motivo o futuro. No para isso que trabalhamos? Para ter
um futuro melhor? Mas nada ir acontecer se todos no estiverem engajados. O
caminho para isso motivar os liderados a ter esperanas. Rubem Alves escreveu:
Se eu souber onde mora a minha esperana, terei razes para viver e morrer. E a
vida ficar bela mesmo no meio das lutas. Sei muito bem em que minha esperana
no est.
Ter expectativa nas empresas saber projetar um futuro que gere motivos,
motivao. Mostrar que possvel fazer com que todos lutem pela mesma causa.
alinhar as razes aos laos emocionais profundos e inconscientes, criando
vnculos saudveis, subjetivos. fazer pontes, exprimindo sentidos. O dr. Freud
afirmava que existem dois tipos de laos emocionais: Um a ligao com aquilo
que amado, e o outro surge do senso de aproximao e de pertencer. Se existir
significativa similaridade e senso comum entre as pessoas, possvel conexo
emocional. E ela um suporte poderoso da sociedade humana" . O lder aquele
que faz a ponte entre o indivduo e seu propsito. Ele leva seus liderados beira
do rio, mas diz, que atravessar, s depende de cada um. Ele traduz desamparo em
segurana, desespero em lucidez, ansiedades em resultados, rigidez mental em
mudana. Ele tem o papel de perguntar para sua equipe, se j tornaram aquilo que
deveriam? Se j conseguiram nascer!?
Aquele que busca uma liderana, busca outro, outro que no seja a si
mesmo, busca algum a se inspirar, algum que satisfaa suas imperfeies, que
complete o que falta, que sonhe junto, que busque ideais que esto acima daquilo
que se , que seja diferente, novo naquilo que j experienciou, est sempre atrs de
um discurso melhor do que o seu, est cansado, insatisfeito por ter que martelar na
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
mesma matria todos os dias, de ter que viver escravo de si, da mesma coisa que
se tornou. Este, caminhante do nada, da busca do outro pela busca de si mesmo,
quer se consumir, consumindo o prprio consumo, solicita desesperadamente a
compreenso de outro, de algum que possa responder suas perguntas, que possa
entregar alguma migalha de verdade, que consiga anestesiar por algum tempo suas
angustias e faltas, que maximize a fora dos seus desejos, desejos esses, jamais
realizados. Ele busca outro que o faa compreender que desejos j realizados, no
so mais desejos, so fragmentos de passado, de representaes simblicas,
transformados em objetos internos, coisas-em-si, podendo serem recondicionados
a fontes de novos desejos. A busca pelo outro est amarrada na ideia de que algum
ser o salvador, aquele que consiga ajudar na sustentao de quem se no mundo,
que guie os instintos, personalidade, natureza daquilo que representado no
cosmos. Na verdade, aquele que busca, busca chegar em algum lugar; busca se
aproximar de si, daquilo que tem que ser. Ningum muda, todos se aproximam
daquilo que possam vir a ser. Cada natureza tem um caminho a ser percorrido, uma
fonte em que beber, um proposito, um sentido a buscar na vida. A possibilidade de
encontrar algum que oferte ajuda, possibilidades para se chegar naquilo que se ,
tentador, ao ponto, de estar sempre embasado no aparelho de pensar pensamentos
o que realmente esta verdade tentadora. Pelo vrtice da anlise da verdade, a
tentao vem das emoes, sensaes, sentimentos que se extrai do mundo, a
verdade em si dor, angustia, insatisfatria, insuportvel. O que se busca sentir
sentimentos verdadeiros, isto , sentimentos com fragmentos de verdade, no se
busca sentir verdades e nem s sentimentos, a mistura que a formula que provoca
o vcio, que cria as necessidades dos desejos, das perguntas, das respostas
incompletas, dos smbolos no simbolizados como se deveria, da vida ainda no
vivida.
O discurso, o que temos para existir no mundo, ele se transveste em
fantasias, ideologias, lgicas, verdades, sentimentos. Quando se transpe a ser
conduzido pelo discurso do outro, se abre mo daquilo que , contudo, deve-se
propor para si mesmo, que para seguir adiante, necessrio deixar se conduzir,
no pelo outro, mas por si mesmo atravs do outro. Esse movimento entre
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Leonardo Peracini
conduo e ser conduzido, deixa aquele que busca, parecido consigo mesmo.
inevitvel no navegarmos no discurso de outro, quando mal percebemos somos
atordoados por ideias, ideais, formas novas de pensar, sentir. Isso acontece, porque
existe uma surdez imaginria, que impede que representaes com contedo
pujantes, de campos simblicos slidos, se manifestem ao ponto de criarem
experincias que force a prpria experimentao, ou seja, o consumo de si mesmo.
Toda essa agressividade interna bombeada, no pelo dio, amor ou
conhecimento, mas pela carncia de sobrevivncia, de manifestar a singularidade
da natureza interna, das sonatas ainda no tocadas.
Outro motivo de busca, de apego, pela surdez do pensamento, daquele que
tem dificuldades de gerenciar seu aparelho de pensar pensamentos, daquele que
vive pela e a favor de suas emoes, que falha quando deve buscar maneiras mais
evoludas de se colocar no mundo, de tomar decises assertivas, de viver lucido
em meio ao caos, de no negar a sua existncia, lutando para que esta surdez do
pensamento no se torne, uma surdez completa do real, da realidade, do consumo
de verdades, da negao do tempo, daquilo que se viveu, vive, e est por viver.
Pense quanto as organizaes falham em direcionar seus colaboradores e
provocar suas singularidades, seus motivos, parece que existe um baile em que
dana apenas alguns, por isso, que para muitos, melhor no ir ao baile do que
estar l. A sensao de quando o discurso da empresa est indo em conjunto com
o propsito do grupo, do lder, daquele que est frente tentando prover alguma
resposta, algum fragmento de verdade, manifestao daquele fenmeno, de que,
quando muitos esto voltando da festa animados, entusiasmados, cansados,
exaustos de terem danado a noite inteira, de no dormirem, sentem que esto
vivos. Faa apenas um teste. Pergunte para seus liderados se esto felizes com seu
trabalho? Se sentem motivados a enfrentarem desafios maiores? Se esto dispostos
a mudarem, sentirem mais dor? Pergunte porque ele est ali? Onde quer chegar em
sua vida? O que ainda deseja? E como foi realizar seus desejos? Quem ele agora,
depois de ter entrado em contato por algum tempo com a proposta da empresa? Se
sente que est se divertindo em um baile? Faa isso, perguntas so poderosas, so
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
meios para retirarem o silencio do grupo, de descobrir qual o prximo movimento
que est por vir, para onde deve-se seguir em maio ao caos.
O outro da empresa seu colaborador, e vice-versa, ambos, entram no
discurso do outro, como uma simbiose, que prov metamorfoses naqueles que
esto dispostos a se entregarem a sua natureza. Jamais a natureza de uma empresa
exclusivamente ganhar dinheiro. Dinheiro e metas s servem para marcarem
placar. A natureza de uma empresa sobreviver. Observem quantas empresas
multimilionrias falem de um dia para o outro devido a mudanas de mercado,
corrupes internas, crises. Do mesmo modo, a natureza daquele que segue a
empresa se realizar, buscar se aproximar de sua natureza, transpor sua matria a
realidade, fazer com que seus desejos sejam realizados, provocando novos desejos,
suportando a si e aos seus outros que buscou, at que se consiga olhar para trs e
tentar esboar algo que signifique, simbolize seu chamado legado, sua
existncia, que tente dizer para si, que sua vida no foi jogada fora, que valeu a
pena apesar de tudo, que teve significado para si e para outros, que no foi apenas
mais um existindo em meio a tantos outros. Se tanto a empresa, quanto o indivduo
olharem para trs e verem que existem significados grandiosos, que deram sentido
s suas vidas, a dor, certamente, no ser a escolha de vida de ambos, ser parceira
de trabalho. Com esse movimento, no existir para o lder, quanto para empresa,
limites para se pensar, construiro, juntos, seus objetivos, sonhos, ideias e ideais;
realizaro suas inspiraes, e se complementaro no mais breve e profundo suspiro
de que mais uma etapa foi superada, aperfeioada, reconhecida e provocada pela
aquela fagulha, que certo dia, invadiu seus coraes e mentes, entrou, sem pedir
licena, se transformando em um modelo que possibilitou mais um passo na
evoluo, entre Eus e Outros, mas tambm, que sempre existiu, vivia adormecida,
e agora, se lanou no abismo, possibilitando sua manifestao, sua existncia
singular, subjetiva ou axiolgica, sua natureza em si, contagiada pela existncia
primaveril, segue pulsante, imortal, seguindo os seguintes. Da mesma maneira,
como nenhuma carta poder sair de um baralho sem que antes nele estivesse,
tambm toda dinmica da produo, xito, sonoridade clara de trabalho, depende
da parceria entre empresa e empresrios, lderes e liderados, discurso do eu e do
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Leonardo Peracini
outro, do envolvimento vitalcio daqueles que se comprometem a existirem de
verdade. Logo, todos, completam-se em uma s unidade, se repartem, com a
possibilidade de extrarem do nada, pontes que abrem novas perspectivas,
minimizao de dores e fracassos, seguindo, incansavelmente, construindo novas
narrativas, perspectivas, esperanas, novos desejos, individuais e coletivos, na
busca imperfeita de transformarem desertos em oceanos, morte em vida, nada em
+ nada.
Muitos dizem que o problema est na comunicao entre o topo da pirmide
(nvel estratgico) e a base (operacional). No se iluda. Essa afirmativa apenas a
ponta do iceberg. Voc deve estar se questionando, como pode os meios de
comunicao avanar tanto e o problema maior ser ela? Que paradoxo esse?
Entretanto, no compartilho da mesma f de se apegar apenas a conceitos
estratgicos. Muitos servem para diminuir a ansiedade, inseguranas, criar
esperanas e levar a zonas de conforto. Outros acham que os processos e
procedimentos precisam ser melhorados. Com isso, investem e criam mais tipos
deles. Esse mais um verniz que o mundo corporativo passa para fugir da
humanizao. E o curioso que todos esto vendo isso acontecer diariamente, mas
no querem enxergar. Convenhamos que no existam processos para motivao.
Ela gerada por meio da transformao contnua do sentido do ser. quando h
um clima saudvel, de vida, com a liberdade e a responsabilidade andando juntas.
LiberdadeEsforcei-me para ter liberdade.
Quando a conquistei
Assustei-me.
No sabia o que fazer.
Novamente,
Voltei a me prender.
A correr atrs da verdade.
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
O lder no entrega o sentido vida de ningum, seria at injusto pensar
assim. Toda existncia tem seu sentido. O que ele faz provocar seus liderados
para descobrirem suas vontades profundas. Se voc lidera, no entregue algo
pronto ou modelado. Evite os padres. O engajamento s acontece quando os
colaboradores descobrem os porqus e para qus. Sentindo que sua existncia est
dentro da empresa, e no fora dela. Eles tm de pensar que esto vivendo como um
nico ser, e no em funo do lugar social ou econmico, elogios, ou qualquer tipo
de categoria social.
SerTentei ser algum
E acabei me tornando ningum.
Hoje sou ningum.
Levo comigo a angstia, o medo,
A ansiedade,
O vazio e a confuso.
Descobri em que fracassei:
Tentei ser algum,
E esqueci-me apenas de ser.
Como a fnix,
Retorno ao p,
E a chorar
Pela vontade de vida.
Espero eu
Que minhas lgrimas
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Leonardo Peracini
Faam renascer a vida,
Como um dia fez a fnix.
No quero mais tentar,
Ser algum.
Quero ser.
Apenas,
Ser sendo.
Vou lhes dar um pensamento do filsofo alemo Friedrich Nietzsche,
expressado em uma das cenas do filme Quando Nietzsche Chorou, baseado no
livro homnimo de Irvin D. Yalom: Se voc tivesse de viver inmeras vezes. Sua
prpria vida j vivida. Sem haver nada de novo nela. Cada dia, dor e alegria iriam
se repetir, retornando para voc mesmo, na mesma sequncia, do mesmo jeito.
Vrias vezes. Imagine o infinito. Onde cada ato escolhido seria para sempre. E
toda vida no vivida permaneceria dentro de voc, pela eternidade. Como seria?
Gosta dessa ideia? . Essa uma pista para encontrar o engajamento mais
profundo. O lao entre o sentido e o motivo.
Como havia dito anteriormente, os processos no so suficientes para
transformar as pessoas e organizaes. Deixo claro que no tenho nada contra. Eles
so fundamentais para a sobrevivncia de qualquer organizao. Mas reforo: a
ateno deve sempre estar nos indivduos. Sem direo de propsito, nada
acontece. Sem motivo, a chama no acende. O leo continua a dormir.
E voc, se sente inspirado, direcionado e motivado? Quais so suas
expectativas? Tem claro e sabe o que precisa ser feito? Seus liderados entendem
por que esto ali? Convido voc a se perguntar por que um homem explode o
prprio corpo em prol de uma causa? Deixando na maioria das vezes esposa e
filhos. O que faz um ser humano acreditar tanto em algo? Que motivo seria esse?
Que captulo ainda no foi inserido no planejamento estratgico de muitas
empresas? Que conhecimento no foi difundido para as equipes? Qual habilidade
no foi desenvolvida? Que nvel de engajamento esse? Est valendo a pena gastar
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
a sua vida na organizao em que trabalha? Se sim, parabns, aproveite ao mximo
cada sabor, pois a busca eterna! Com certeza, voc e sua empresa esto tendo
grandes motivos para se deleitarem.
No venda sua vida para lderes ou empresas que no tm motivos. No vale
a pena. Essa escolha no possui razes. Alm de correr o risco de se contaminar e
passar para o grupo que conhecido como desmotivados. Voc no assume a
responsabilidade pela sua vida.
Vida
Quero embriagar minha vida
Com alegria.
Quero escrever sobre ela,
Para ela.
Quero tentar entender
A vida,
Mesmo no a compreendendo.
Morrer est muito fcil.
Viver que est difcil.
Viver ento com vida,
Quase impossvel.
Mas j est decidido,
Eu s quero escrever sobre a vida.
No quero escrever sobre tcnicas,
Para isso, necessrio tcnica.
Escrever sobre a vida
Vai ser um belo desafio.
Vou ter de tentar viver
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Leonardo Peracini
Duas vezes
E acreditar
Que, aps o parto,
Existe vida.
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
Sementes ideolgicas da liderana
Prazer muito prazeroso loucura.
Tentar idealizar uma liderana mais uma chance de refletir sobre como
chegar perfeio da administrao dos movimentos ou mudanas geradas pela
transmutao das pessoas e do mercado. Esse sempre ser o papel de um lder,
pensar para transformar. impossvel fantasiar uma liderana baseada em lderes
fortes se no usarmos um machado para arrancar, pelas razes, os paradigmas
encontrados atualmente na sociedade e nos modelos de gesto oferecidos pelo
mercado. Observem a enxurrada de conceitos que a todo momento confundem e
engessam as lideranas. Mais uma vez, muitos tentando ganhar dinheiro e poder
com as famosas frmulas mgicas. Antes assim do que tentar novamente criar uma
raa superior, como a ariana. Ou impor verdades que no existem.
impressionante como esses conceitos de criar padres, frmulas e fugas da
realidade so superficiais e servem apenas de anestsicos. Eles alimentam e
conservam as lideranas fracas. Congelam e destroem o que um lder tem de mais
poderoso, sua autenticidade e originalidade. Depois, muitos se perguntam por que
existem tantos lderes inseguros. Por que as pessoas esto mais frgeis e tristes no
ambiente de trabalho. A resposta simples. Elas no esto sendo o que so. Foram
seduzidas pelo modelo de sucesso que o capitalismo imps. Como uma droga que
encanta, seduz e diminui as transformaes, foras e vontades de se superar. So
frmulas que prometem manter o controle de tudo. Como um alimento no micro-
ondas, que, em segundos, fica pronto. O mercado est dizendo: Quer liderar?
simples. s seguir as dez regras X ou Y. Meu caro amigo, preciso
47
Leonardo Peracini
urgentemente quebrar essas tbuas que prometem os mandamentos da verdade. No
Prefcio do livro Em Busca de Sentido, escrito pelo dr. Viktor Frankl, ele diz: No
procurem o sucesso. Quanto mais o buscarem e o transformarem num alvo, mais
vo errar. Porque o sucesso, como a felicidade, no pode ser perseguido; ele deve
acontecer e s tem lugar como efeito colateral de uma dedicao pessoal a uma
causa maior que a pessoa, ou como subproduto da rendio pessoal a outro ser.
Quero que escutem o que sua conscincia diz que devem fazer e coloquem em
prtica da melhor maneira possvel. E ento vero que, em longo prazo - estou
dizendo em longo prazo! -, o sucesso vai persegui-los, precisamente porque se
esqueceram de pensar nele .
Liderar, novamente, entender os porqus e para qus. Ajudar as pessoas a
se auto superarem. Provocar e estimular a transformao dos valores humanos.
Lutar pelo conhecimento e originalidade. Ser autntico escapar do rebanho,
tornando se um lder que vai alm da sua liderana.
Um grande amigo, certa vez, em uma de nossas trocas de e-mails, sobre o
tema liderana, presenteou-me com uma reflexo que dizia: Voc est no controle
quando no est nele. Os movimentos devem acontecer sem que precise estar
controlando. Estimule seus colaboradores a criar e d liberdade. Se errarem, estar
apreendendo .
Essas provocaes reforaram ainda mais em mim que o sentido ou
significado de controle uma iluso. Controlar ns mesmos j impossvel,
imagine fazer isso com os outros. Penso que esta uma semente que deve ser
plantada e regada pelas novas guas da liderana. Acredito que sentir que est no
controle tem a ver com o alinhamento das foras ou movimentos gerados de forma
harmnica. Como na Nona Sinfonia de Beethoven. Imagine se uma nota for
alterada. Apenas uma pequena modificao. A sensao que teramos que algo
saiu errado, que perdeu o controle, que o maestro no conseguiu articular ou
realizar. Agora pense na mesma orquestra tocando sem Beethoven, usando as
partituras feitas por ele. Se todos conseguirem executar o que est escrito, o
resultado ser perfeito. Observe que Beethoven no est no controle, mas, de certa
forma, est. Ao mesmo tempo, compartilho da f de que necessrio buscar esse
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
controle, que tambm no tem a ver com harmonia, mas sim com o movimento
contnuo, o qual gera fora e aumenta a potncia do sentido. Essa potncia amplia
a vontade de movimento e transformao, gerando mais fora. Isso no se controla,
se administra. A maior frustrao querer controlar o que vir na sequncia.
Ficamos inconformados quando algo sai do nosso controle. A prpria palavra
inconformado diz: ficamos internamente sem forma ou precisamos mudar a
forma, como um camaleo que troca sua cor para continuar a sobreviver. Que
controle seria esse? Por que estamos sempre buscando isso, j que no estamos no
controle? Algumas pessoas, com efeito, transferem esse tal controle de tudo para
a metafsica. Eu no compartilho desta f. Ningum est no controle e no sabe o
que a verdade. Os homens querem continuamente colocar cabrestos nos outros,
impondo suas verdades. Por isso importante que todos exercitem a tolerncia.
terrvel quando algum lder tenta colocar goela abaixo suas verdades,
estabelecendo as regras do seu jogo. Esse tipo de situao no passa de tentativas
de dominar e ter a totalidade do controle. O poder sempre estar em xeque. No
me lembro de qual filsofo disse: No tente dominar o mundo, mas sim os
homens, pois so eles que mandam. Esse pensamento reduz a capacidade do ser
humano de estar alm do que se . O universo j no aguenta mais tanta
representao.
Representao
Morreu algum fora de mim.
Esse foi o ltimo homem
Que representei.
Agora tenho que continuar
Sem esse homem
Que um dia,
E por vrias vezes
Foi programado.
49
Leonardo Peracini
Sei tambm
Que eles querem me reprogramar.
Atualizar o programa.
No!
Seguirei firme,
Pelo nico caminho,
Saboreando minha nica opo.
O sabor da dvida, do mistrio,
Da complexidade e da liberdade.
O caminho do esforo.
Vou ter que aprender a reprimir
Desejos e vontades.
Chega de comprar e vender valores.
No quero mais ser guiado, programado, engessado
E continuar achando que estou sendo valorizado.
As cortinas se abriram
E as luzes se acenderam. Que alegria
Ao ver que era a verdade que estava no palco,
Declamando,
E me dizendo que eu estava sendo enganado,
Ludibriado, manipulado,
Despersonalizado.
Ela dizia em seus versos
Para ter coragem e combater o medo.
Ser generoso para lutar contra o egosmo.
Ser justo,
Combatendo a indiferena, a crueldade e a desgraa alheia.
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
Disse-me para aprender novos caminhos e mtodos,
Para serem utilizados contra o caos interior.
Ser trabalhador,
Para impedir que a preguia cresa.
Mesmo eu no conseguido ser virtuoso,
Como disse a verdade.
Penso eu,
Que esta ser a minha pequena grande apresentao.
Mesmo levando comigo
O medo da reprogramao.
Para enxergar, encontrar pistas e desenhar o futuro da liderana, preciso
ensinar as pessoas a viver ao mximo o presente. Lembro-me do meu querido
professor e filsofo Csar Nunes, quando ele dizia: As pessoas visualizam metas
e, quando as realizam, descobrem que elas no trouxeram felicidade. Ento,
continuam avanando e inventam outras, que tambm no as tornam contentes.
Vivem esperando o dia em que alcanaro algo que as deixaro felizes. Esquecem
que a felicidade construda todos os dias. E no vai conquist-la fora de voc.
Ela vive dentro do seu corao.
Que belo! Eu me entusiasmo toda vez que saboreio essa reflexo, pois
compartilho da mesma verdade. Ele ainda, de forma honrosa, refora e finaliza
com Fernando Pessoa: Sossega, corao! No desesperes! Talvez um dia, para
alm dos dias, encontres o que queres porque o queres. Ento, livre de falsas
nostalgias, atingirs a perfeio de seres. Mas pobre sonho o que s quer no t-
lo! Pobre esperana a de existir somente! Como quem passa a mo pelo cabelo e
em si mesmo se sente diferente. Como faz mal ao sonho o conceb-lo! No quero
rosas, desde que haja rosas. Quero-as s quando no as possa haver. Que hei de
fazer das coisas que qualquer mo pode colher? No quero a noite seno quando a
51
Leonardo Peracini
aurora a fez em ouro e azul se diluir. O que a minha alma ignora isso que quero
possuir. Para qu? ... Se o soubesse, no faria versos para dizer que inda o no sei .
Magnfico! No de arrepiar? As sementes da liderana devem ser regadas
com o prprio sangue do lder. Somente quem "d o sangue" em suas vivncias e
experimenta a prpria vida que pode falar de "sentido" e de liderana. Se voc
tivesse apenas o seu sangue como tinta, quais seriam os ltimos cinco litros que
escreveria? Se ao final da ltima gota voc morresse, o que escreveria?
A vida que segue
Sinto que estou sangrando
Por dentro e por fora.
Por fora, sai na forma de lgrimas.
Por dentro, sinto que o sal das lgrimas.
Fazem meu corao arder
Por no conseguirem sair.
Olho para a minha caneta, e no vejo tinta,
Vejo sangue.
Ser que a vida como essa caneta?
Ando me machucando,
Por muito estar escutando.
Queria cantar como Davi,
E se deleitar na surdez,
Como fez Beethoven.
Estou com fome,
Fraco,
Comeria toda a terra,
Beberia todo o mar.
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
Preciso urgente,
Alimentar-me,
Para continuar a caminhar...
Seja duro consigo mesmo para no virar mercadoria, para no ser massa,
mais um. Ser autntico e original necessrio para crescer e se tornar um lder
forte. S assim vai saber se posicionar com leveza diante dos ambientes mais
hostis, no se deixando contaminar pelo local. Liderar tentar estar alm da
liderana. Se preparar para a vida, com vontade de mais vida, e despertar foras e
vontades no encontradas em todos que queiram viver mais. ter autodisciplina e
usar os obstculos como meios de desenvolvimento contnuo para a auto
superao, tornando-se, cada vez mais, quem se . Lembre-se: no existe frmula.
Trabalhe com o corao e com o que h de mais profundo em voc e encontrar
todos os caminhos a percorrer. Os medos e inseguranas sero menores. Liderar
passar a ser como construir verdadeiras e diversas obras de arte, relembrando
sempre o que disse Fernando Pessoa: O essencial da arte exprimir; o que se
exprime no interessa. Ter essa sensao, por mais que seja efmera, sentir que
o mundo foi conquistado.
O MundoO mundo so lugares.
Perto e longe.
Feito de formas,
Grandes e pequenas,
Com sabores e dissabores.
De lembranas e esperanas.
De luta e paz.
De vida e morte.
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Leonardo Peracini
O corpo so lugares.
Perto e longe.
Feito de formas,
Grandes e pequenas,
Com sabores e dissabores.
De lembranas e esperanas.
De luta e paz.
De vida e morte.
Ser que o mundo o corpo?
Ou o corpo o mundo?
Muitos,
Escutam-se falando.
Veem-se vendo.
Sentem-se sentindo.
Outros,
Alm do seu corpo,
Escutam, veem e sentem outros
Corpos.
Ser o mundo um nico corpo?
Um ser movente,
Que move
E tem poderes de
Mover e se
Mover?
Um ambiente habitado e habitvel?
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
Visvel e invisvel?
Um mundo a descobrir seus mistrios?
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Leonardo Peracini
Liderando a inrcia
O grande homem aquele que chega na vida sofrendo e sa
sofrendo diferente.
notvel que, em qualquer empresa ou relacionamento, a tendncia
diminuir os movimentos e cair na rotina, na mesmice. Um bom lder fica sempre
de olho na inrcia, pois ele sabe que lider-la fundamental para a sade da
empresa. Como os exerccios fsicos, que so necessrios para manter o corpo forte
e saudvel. No d para ficar caminhando na mesma velocidade a vida inteira.
Lutar contra a inrcia aumentar a velocidade da caminhada de forma gradativa e
consciente. imprimir as foras corretas para o objetivo desejado, sentindo os
msculos queimando quando a intensidade dos exerccios aumenta. Sentir dores
musculares no outro dia. Nenhum organismo fica mais forte e saudvel se for
aplicado o mesmo estmulo.
Dentro das empresas, a inrcia atrofia os desafios, motivao, inovao,
relacionamentos, crescimento pessoal, atravanca as oportunidades. As pessoas
ficam paralisadas. Com medo de voar, achando que vo cair, mesmo sabendo que
tm asas. As respostas a esses estmulos so o aumento das conversas improdutivas
em reunies e corredores, ampliao da quantidade de colaboradores
descomprometidos com as metas e tarefas. Muitos no aguentam e trocam de
empresa. Ou melhor, tentam mudar de relacionamentos e de liderana. Quem troca
de organizao est alterando sonhos e relacionamentos, essa a inteno.
A quebra da inrcia pode causar inseguranas, medos, dores e desconfortos,
como no exerccio fsico. Entretanto, ela provoca a transformao do ser humano
Alm da Liderana: Devaneios de uma gesto
por meio do movimento, o qual entre o corpo e o estmulo oferecido pelo meio
externo. Cada um reage de uma forma frente s adversidades. Esse mo