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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ANÁLISE DA ENTOAÇÃO DO PORTUGUÊS DO BRASIL SEGUNDO O MODELO IPO LUMA DA SILVA MIRANDA Rio de Janeiro 2015

análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

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Page 1: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ANÁLISE DA ENTOAÇÃO DO PORTUGUÊS DO BRASIL SEGUNDO O

MODELO IPO

LUMA DA SILVA MIRANDA

Rio de Janeiro

2015

Page 2: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

i

ANÁLISE DA ENTOAÇÃO DO PORTUGUÊS DO BRASIL SEGUNDO O

MODELO IPO

LUMA DA SILVA MIRANDA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de

Pós-graduação em Letras Vernáculas (Língua

Portuguesa) na Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas

(Língua Portuguesa)

Orientador: Professor Doutor João Antônio de

Moraes

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2015

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ii

M672a Miranda, Luma da Silva. Análise da entoação do português do Brasil segundo o modelo IPO / Luma da Silva Miranda. – Rio de Janeiro, 2015.

160 f.; 31 cm. Orientador: Prof. Dr. João Antônio de Moraes. Dissertação (Mestrado) – Departamento de Letras Vernáculas,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015. Bibliografia: f. 131-133. 1. Fonética. 2. Análise prosódica. 3. Entonação. I. Título. II.

Moraes, João Antônio.

CDD 469.16

Page 4: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

iii

ANÁLISE DA ENTOAÇÃO DO PORTUGUÊS DO BRASIL SEGUNDO O MODELO

IPO

Luma da Silva Miranda

Orientador: Professor Doutor João Antônio de Moraes

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras

Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Examinada por:

______________________________________________________________________

Presidente, Professor Doutor João Antônio de Moraes – UFRJ

______________________________________________________________________

Professora Doutora Claudia de Souza Cunha – UFRJ

______________________________________________________________________

Professor Doutor Pablo Arantes – UFSCAR

______________________________________________________________________

Professora Doutora Carolina Ribeiro Serra – UFRJ, suplente

______________________________________________________________________

Professora Doutora Letícia Rebollo Couto – UFRJ, suplente

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2015

Page 5: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

iv

AGRADECIMENTO

Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado forças para que eu pudesse concluir mais

uma importante realização em minha vida e por ter colocado sempre as pessoas certas no meu

caminho.

Ao meu orientador, o professor João Antônio de Moraes, por ter me orientado todos esses

anos pacientemente e por ser um dos meus maiores exemplos de competência e

profissionalismo tanto na carreira docente quanto no trabalho como pesquisador. Além disso,

não poderia deixar de citar a grande influência cultural que ele traz para quem convive com

ele.

Ao professor Pablo Arantes pela disponibilidade de vir ao Rio de Janeiro para compor a banca

de avaliação da minha dissertação de mestrado junto com a professora Claudia Cunha; dois

pesquisadores que, de certa forma, acompanharam e contribuíram para o desenvolvimento

dessa pesquisa desde o início.

Ao CNPq, no primeiro ano de mestrado, e à FAPERJ, no segundo, pelo apoio financeiro, sem

o qual não poderia ter me dedicado exclusivamente à pesquisa.

Aos professores da pós-graduação, Silvia Rodrigues, Márcia Machado, Carolina Serra,

Claudia Cunha mais uma vez, Violeta Rodrigues e Maria Eugênia Duarte, que incitaram a

minha curiosidade acerca dos mais diversos fenômenos da linguagem e que aprimoraram,

com todo rigor, meu trabalho com a pesquisa acadêmica.

Aos informantes que gravaram o corpus dessa pesquisa, Alexandre Braga, Beatrice Tuxen,

João Moraes e Manuella Carnaval, sempre solícitos aos meus pedidos de gravação e

regravação.

Aos inúmeros ouvintes da Faculdade de Letras que participaram da aplicação dos

experimentos desta pesquisa e que me proporcionaram encontros agradáveis.

Aos queridos amigos do labô, Manu, Badaue e Paulinho, pela agradável companhia e por

fazerem da sala F-314 um lugar muito especial. Não poderia deixar de citar também a

Carolina Gomes Luques, que será a nova integrante da nossa turma e a quem eu agradeço

muitíssimo por ter feito a revisão do texto desta dissertação.

Page 6: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

v

Aos professores que me inspiraram ao longo da minha trajetória acadêmica e que me

tornaram uma grande admiradora deles, Luiz Palladino, Maluh Guimarães, Manuel Antônio

de Castro, João Camillo Penna, Antonio Carlos Secchin, e a todos os outros que contribuíram

para a minha formação.

Aos meus amigos, Helen de Andrade, Cyril McIlhargie, Sarah do Couto, Karen de Carvalho,

Isabela Salgado, Ana Carolina Campos e tantos outros, que sempre estão comigo em meu

coração e em meus pensamentos, pelo incentivo e por dividirem tantos momentos especiais

comigo ampliando minha alegria de viver.

Aos meus três gatinhos, Lori, Didi e Bibinha, por renovarem minhas energias durante as

poucas pausas no trabalho com a dissertação.

À minha família, meu pai Luiz Antônio Miranda, minha mãe Maria Rita da Silva e minha

irmã Luana da Silva Miranda, por todo amor e apoio, sem falar na paciência por suportarem,

de vez em quando, meu mau humor proveniente do excesso de tempo dedicado somente às

tarefas de mestrado.

Ao meu namorado Arion Vogl, que, mesmo estando longe, está sempre presente em meu dia a

dia. Por isso, eu faço minhas as palavras do poeta português Luís Vaz de Camões para

expressar meus sentimentos em uma singela homenagem: “[...]Porque é tamanha bem-

aventurança/ o dar-vos quanto tenho, e quanto posso/ que quanto mais vos pago, mais vos

devo”.

A todos aqueles que sempre me apoiaram e acreditaram em mim nas diferentes fases que já

vivi, trazendo sempre uma palavra amiga que servia de incentivo para que eu continuasse a

seguir meu caminho e a concluir meus projetos.

Page 7: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

vi

EPÍGRAFE

"Pra meu gosto a palavra não precisa significar -- é só entoar."

(Menino do mato, Manoel de Barros)

Page 8: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

vii

RESUMO

ANÁLISE DA ENTOAÇÃO DO PORTUGUÊS DO BRASIL SEGUNDO O MODELO IPO

Luma da Silva Miranda

Orientador: Professor Doutor João Antônio de Moraes

Resumo da dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em

Letras Vernáculas (Língua Portuguesa) na Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua

Portuguesa)

O presente trabalho consiste em um estudo fonético-experimental da entoação do português

do Brasil que utiliza o método de ressíntese e estilização da curva de F0 em uma abordagem

perceptiva baseada no modelo IPO. O objetivo desta pesquisa é descrever um grupo de

contornos melódicos em termos de movimentos melódicos relevantes perceptivamente que se

combinam para formar os padrões melódicos estilizados. Para proceder à realização deste

trabalho, foi selecionado um corpus de 8 contornos melódicos do PB, a saber: asserção,

questão total, ordem, desafio, pedido, sugestão, questão parcial e exclamação, e gravado por 4

informantes do Rio de Janeiro. O programa PRAAT foi utilizado para estilizar as curvas de

F0 em duas fases: na primeira, as curvas melódicas dos contornos foram simplificadas em

termos de linhas retas com o menor número de pontos de inflexão; na segunda, mudanças

graduais foram adicionadas aos contornos para testar hipóteses sobre seu reconhecimento

perceptivo com o objetivo de propor uma estandardização de cada contorno melódico

analisado. Testes de percepção foram aplicados para validar os contornos melódicos

estilizados em relação a sua igualdade e aceitabilidade perceptiva. Constatou-se que os

contornos melódicos do PB com a curva melódica simplificada são avaliados pelos ouvintes

como idênticos aos originais e que algumas modificações produzidas no processo de

estandardização são responsáveis pela identificação do valor funcional dos contornos.

Finalmente, a descrição dos contornos melódicos através da abordagem IPO proporciona uma

classificação detalhada do componente fonético da entoação que identifica os movimentos

melódicos relevantes perceptualmente ligados ao seu valor funcional.

Palavras-chave: Entoação. IPO. Percepção.

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2015

Page 9: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

viii

ABSTRACT

ANALYSIS OF BRAZILIAN PORTUGUESE INTONATION ACCORDING TO THE IPO

MODEL

Luma da Silva Miranda

Supervisor: Professor Doctor João Antônio de Moraes

Abstract of the Masters Dissertation submitted to the P.G. Program in Vernacular

Letters, Faculty of Letters of the Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, as part of

the necessary requirements to obtain the title of Master in Vernacular Letters (Portuguese

Language).

This work consists of a phonetic-experimental study of Brazilian Portuguese intonation. It

uses the method of resynthesis and stylization of F0 curve through a perceptual approach

based on the IPO model. The aim of this research is to describe a set of melodic contours in

terms of perceptually relevant pitch movements that combine with each other to form the

stylized melodic pattern. In order to achieve this aim, a corpus of eight Brazilian Portuguese

melodic contours was selected (assertion, yes-no question, command, challenge, request,

suggestion, wh-question and exclamation) and recorded by four informants from Rio de

Janeiro. The software PRAAT was used to stylize F0 curves: during the first step, the melodic

curves were simplified, transformed into straight lines with the fewest number of inflexion

points; during the second step, gradual changes were introduced in the melodic contours so

that some hypotheses for their recognition could be tested. This way we could propose a

standardization of each melodic contour analyzed. Perceptual tests were applied in order to

verify the stylized F0 contours in terms of perceptual equality and acceptability. It was found

that Brazilian Portuguese melodic contours with the simplified melodic curve were evaluated

by the hearers as equal to the original ones and some modifications produced in these

contours during the standardization process are responsible for their functional identification.

Finally, the description of the melodic contours through the IPO approach provides a detailed

phonetic classification of intonation which identifies the perceptually relevant pitch movements related to its functional value.

Key-words: Intonation. IPO. Perception.

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2015

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SINAIS

! – downstep

¡ – upstep

% – fronteira de enunciado

* – sílaba tônica

> – alinhamento antecipado

< – alinhamento tardio

' – sílaba tônica do enunciado

AM – modelo autossegmental e métrico

EST – estímulo

F0 – frequência fundamental

H – tom alto

Hz – hertz

INF – informante

IPO – Instituto para pesquisa da percepção

L – tom baixo

ms – milissegundo

PB – Português brasileiro

ST – Semitom

ST/s – Semitom por segundo

Page 11: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

x

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 1

1.1 Considerações iniciais....................................................................................................... 1

1.2 A entoação modal..............................................................................................................2

1.3 A prosódia experimental: algumas considerações sobre o tema....................................... 6

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..................................................................................... 10

2.1 Modelos entonacionais: representando a entoação......................................................... 10

2.2 O modelo AM................................................................................................................. 12

2.3 O modelo IPO................................................................................................................. 14

2.3.1 Línguas descritas pelo modelo IPO......................................................................... 20

2.4 Os contornos melódicos do PB....................................................................................... 23

2.4.1 Teoria dos atos ilocutórios....................................................................................... 23

2.4.2 Representação fonológica do sistema entonacional do PB...................................... 28

CAPÍTULO 3. MÉTODO...................................................................................................... 34

3.1 Corpus............................................................................................................................. 34

3.2 Os informantes................................................................................................................ 35

3.3 Estilização close copy..................................................................................................... 36

3.3.1 Asserção................................................................................................................... 39

3.3.2 Questão total............................................................................................................ 41

3.3.3 Ordem.......................................................................................................................43

3.3.4 Desafio..................................................................................................................... 45

3.3.5 Pedido.......................................................................................................................47

3.3.6 Sugestão................................................................................................................... 49

3.3.7 Questão parcial......................................................................................................... 51

3.3.8 Exclamação.............................................................................................................. 53

3.4 Estilização equivalent copy............................................................................................. 55

3.4.1 Asserção................................................................................................................... 58

Page 12: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

xi

3.4.2 Questão total............................................................................................................ 59

3.4.3 Ordem.......................................................................................................................60

3.4.4 Desafio..................................................................................................................... 60

3.4.5 Pedido.......................................................................................................................61

3.4.6 Sugestão................................................................................................................... 62

3.4.7 Questão parcial......................................................................................................... 63

3.4.8 Exclamação.............................................................................................................. 64

3.5 Experimentos de percepção............................................................................................ 64

3.6 Validação estatística........................................................................................................ 67

3.7 Esquema da abordagem IPO........................................................................................... 67

CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS 69

4.1 Experimento 1 – Asserção.............................................................................................. 69

4.1.1 Estímulo 1.1............................................................................................................. 69

4.1.2 Estímulo 1.2............................................................................................................. 69

4.1.3 Estímulo 1.3............................................................................................................. 70

4.1.4 Estímulo 1.4............................................................................................................. 70

4.1.5 Estímulo 1.5............................................................................................................. 71

4.1.6 Estímulo 2.1............................................................................................................. 71

4.1.7 Estímulo 2.2............................................................................................................. 72

4.1.8 Estímulo 3.1............................................................................................................. 72

4.1.9 Estímulo 3.2............................................................................................................. 72

4.2 Experimento 1 – Questão total........................................................................................ 73

4.2.1 Estímulo 1.1............................................................................................................. 73

4.2.2 Estímulo 1.2............................................................................................................. 73

4.2.3 Estímulo 1.3............................................................................................................. 74

4.2.4 Estímulo 2.1............................................................................................................. 74

4.2.5 Estímulo 2.2............................................................................................................. 74

Page 13: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

xii

4.2.6 Estímulo 3.1............................................................................................................. 75

4.2.7 Estímulo 3.2............................................................................................................. 75

4.2.8 Estímulo 4.1............................................................................................................. 76

4.2.9 Estímulo 4.2............................................................................................................. 76

4.2.10 Estímulo 5.1........................................................................................................... 76

4.2.11 Estímulo 5.2........................................................................................................... 77

4.2.12 Estímulo 6.1........................................................................................................... 77

4.2.13 Estímulo 6.2........................................................................................................... 77

4.3 Experimento 2 – Ordem.................................................................................................. 78

4.3.1 Estímulo 1.1............................................................................................................. 78

4.3.2 Estímulo 1.2............................................................................................................. 78

4.3.3 Estímulo 1.3............................................................................................................. 79

4.3.4 Estímulo 1.4............................................................................................................. 79

4.3.5 Estímulo 1.5............................................................................................................. 79

4.3.6 Estímulo 2.1............................................................................................................. 80

4.3.7 Estímulo 2.2............................................................................................................. 80

4.3.9 Estímulo 3.1............................................................................................................. 80

4.3.10 Estímulo 3.2........................................................................................................... 81

4.4 Experimento 2 – Desafio.................................................................................................81

4.4.1 Estímulo 1.1............................................................................................................. 81

4.4.2 Estímulo 1.2............................................................................................................. 82

4.4.3 Estímulo 1.3............................................................................................................. 82

4.4.4 Estímulo 1.4............................................................................................................. 83

4.4.5 Estímulo 1.5............................................................................................................. 83

4.4.6 Estímulo 1.6............................................................................................................. 83

4.4.7 Estímulo 2.1............................................................................................................. 84

4.4.8 Estímulo 2.2............................................................................................................. 84

Page 14: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

xiii

4.4.9 Estímulo 3.1............................................................................................................. 85

4.4.10 Estímulo 3.2........................................................................................................... 85

4.4.11 Estímulo 4.1........................................................................................................... 85

4.4.12 Estímulo 4.2........................................................................................................... 86

4.5 Experimento 2 – Pedido.................................................................................................. 86

4.5.1 Estímulo 1.1............................................................................................................. 86

4.5.2 Estímulo 1.2............................................................................................................. 87

4.5.3 Estímulo 1.3............................................................................................................. 87

4.5.4 Estímulo 1.4............................................................................................................. 88

4.5.5 Estímulo 1.5............................................................................................................. 88

4.5.6 Estímulo 2.1............................................................................................................. 88

4.5.7 Estímulo 2.2............................................................................................................. 89

4.5.8 Estímulo 3.1............................................................................................................. 89

4.5.9 Estímulo 3.2............................................................................................................. 89

4.5.10 Estímulo 4.1........................................................................................................... 90

4.5.11 Estímulo 4.2........................................................................................................... 90

4.6 Experimento 2 – Sugestão...............................................................................................91

4.6.1 Estímulo 1.1............................................................................................................. 91

4.6.2 Estímulo 1.2............................................................................................................. 91

4.6.3 Estímulo 1.3............................................................................................................. 92

4.6.4 Estímulo 2.1............................................................................................................. 92

4.6.5 Estímulo 2.2............................................................................................................. 92

4.6.6 Estímulo 3.1............................................................................................................. 93

4.6.7 Estímulo 3.2............................................................................................................. 93

4.6.8 Estímulo 3.3............................................................................................................. 94

4.6.9 Estímulo 3.4............................................................................................................. 94

4.6.10 Estímulo 3.5........................................................................................................... 94

Page 15: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

xiv

4.7 Experimento 3 – Questão parcial.................................................................................... 95

4.7.1 Estímulo 1.1............................................................................................................. 95

4.7.2 Estímulo 1.2............................................................................................................. 95

4.7.3 Estímulo 1.3............................................................................................................. 96

4.7.4 Estímulo 1.4............................................................................................................. 96

4.7.5 Estímulo 1.5............................................................................................................. 97

4.7.6 Estímulo 1.6............................................................................................................. 97

4.7.7 Estímulo 2.1............................................................................................................. 97

4.7.8 Estímulo 2.2............................................................................................................. 98

4.7.9 Estímulo 3.1............................................................................................................. 98

4.7.10 Estímulo 3.2........................................................................................................... 99

4.8 Experimento 3 – Exclamação......................................................................................... 99

4.8.1 Estímulo 1.1............................................................................................................. 99

4.8.2 Estímulo 1.2........................................................................................................... 100

4.8.3 Estímulo 1.3........................................................................................................... 100

4.8.4 Estímulo 1.4........................................................................................................... 100

4.8.5 Estímulo 1.5........................................................................................................... 101

4.8.6 Estímulo 1.6........................................................................................................... 101

4.8.7 Estímulo 1.7........................................................................................................... 101

4.8.8 Estímulo 1.8........................................................................................................... 102

4.8.9 Estímulo 1.9........................................................................................................... 102

4.8.10 Estímulo 2.1......................................................................................................... 102

4.8.11 Estímulo 2.2......................................................................................................... 103

4.8.12 Estímulo 3.1......................................................................................................... 103

4.8.13 Estímulo 3.2......................................................................................................... 103

4.6.14 Estímulo 4.1......................................................................................................... 104

CAPÍTULO 5. PARA UMA GRAMÁTICA DA ENTOAÇÃO MODAL DO PB.......... 106

Page 16: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

xv

5.1 Asserção........................................................................................................................ 107

5.1.1 Direção dos movimentos da asserção.................................................................... 107

5.1.2 Alinhamento dos movimentos da asserção............................................................ 107

5.1.3 Declividade dos movimentos da asserção.............................................................. 108

5.1.4 Excursão dos movimentos da asserção.................................................................. 108

5.2 Questão total................................................................................................................. 109

5.2.1 Direção dos movimentos da questão total..............................................................109

5.2.2 Alinhamento dos movimentos da questão total..................................................... 109

5.2.3 Declividade dos movimentos da questão total....................................................... 110

5.2.4 Excursão dos movimentos da questão total........................................................... 110

5.3 Ordem............................................................................................................................111

5.3.1 Direção dos movimentos da ordem........................................................................ 111

5.3.2 Alinhamento dos movimentos da ordem............................................................... 111

5.3.3 Declividade dos movimentos da ordem................................................................. 111

5.3.4 Excursão dos movimentos da ordem..................................................................... 112

5.4 Desafio.......................................................................................................................... 113

5.4.1 Direção dos movimentos do desafio...................................................................... 113

5.4.2 Alinhamento dos movimentos do desafio.............................................................. 113

5.4.3 Declividade dos movimentos do desafio............................................................... 113

5.4.4 Excursão dos movimentos do desafio.................................................................... 114

5.5 Pedido............................................................................................................................114

5.5.1 Direção dos movimentos do pedido....................................................................... 114

5.5.2 Alinhamento dos movimentos do pedido...............................................................115

5.5.3 Declividade dos movimentos do pedido................................................................ 115

5.5.4 Excursão dos movimentos do pedido.....................................................................116

5.6 Sugestão........................................................................................................................ 116

5.6.1 Direção dos movimentos da sugestão.................................................................... 116

Page 17: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

xvi

5.6.2 Alinhamento dos movimentos da sugestão............................................................ 116

5.6.3 Declividade dos movimentos da sugestão............................................................. 117

5.6.4 Excursão dos movimentos da sugestão.................................................................. 117

5.7 Questão parcial.............................................................................................................. 117

5.7.1 Direção dos movimentos da questão parcial.......................................................... 117

5.7.2 Alinhamento dos movimentos da questão parcial..................................................117

5.7.3 Declividade dos movimentos da questão parcial................................................... 118

5.7.4 Excursão dos movimentos da questão parcial........................................................119

5.8 Exclamação................................................................................................................... 119

5.8.1 Direção dos movimentos da exclamação............................................................... 119

5.8.2 Alinhamento dos movimentos da exclamação....................................................... 119

5.8.3 Declividade dos movimentos da exclamação........................................................ 120

5.8.4 Excursão dos movimentos da exclamação............................................................. 120

5.9 Traços dos movimentos melódicos do PB.................................................................... 121

5.10 Configurações dos padrões melódicos do PB 122

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 128

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................ 132

APÊNDICE

Page 18: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

1

1. INTRODUÇÃO

1.1 Considerações iniciais

No paradigma científico moderno, há uma mudança significativa no momento em que a

ciência começa a tratar os fenômenos da natureza que o homem percebe através dos sentidos

por meio da criação de seu próprio projeto de investigação. O filósofo alemão Martin

Heiddeger (1977:116) afirma que a ciência é uma das manifestações mais essenciais da época

moderna, em que o conhecimento é tomado como pesquisa e onde a verdade se transforma em

certeza de representação. Consequentemente, essa mudança na concepção da verdade

acarretou uma grande preocupação com a validade do conhecimento produzido pelo

procedimento adotado pelo pesquisador na análise de um determinado fenômeno. É nesse

contexto que ganham muita importância as discussões sobre a metodologia e o método

utilizados nas investigações dos mais variados objetos de estudo.

De maneira geral, Heiddeger (1977) define três características fundamentais no

paradigma moderno, a saber: o procedimento, o método e a exploração organizada, que juntas

demonstram o modo de pesquisar desse paradigma:

A ciência moderna se fundamenta e ao mesmo tempo se individualiza nos projetos

de esferas de objetos determinados. Estes projetos se desdobram nos métodos

correspondentes e assegurados através do rigor. O método respectivo se instala na

exploração organizada. Pesquisa e rigor, método e exploração organizada se exigem

reciprocamente, são a essência da ciência moderna, transformam-na em pesquisa.1 (1977: 126)

Sendo assim, o experimento investigativo moderno é baseado em um projeto que busca

produzir resultados no decorrer de um procedimento. Heiddeger diz que “quanto mais exato

for o traço básico projetado para o objeto, mais exata se torna a possibilidade do experimento”

(1977: 121). Nesse sentido, torna-se, segundo ele, importante reconhecer que o elemento da

inexatidão é essencial para o desenvolvimento das pesquisas das ciências da natureza. Werner

Heisenberg2 (1971), vencedor do prêmio Nobel de Física em 1932 e um dos fundadores da

teoria quântica, revolucionou os fundamentos da ciência no campo da Física ao trazer essa

1 Modern science simultaneously establishes itself and differentiates itself in its projections of specific object-

spheres. These projection-plans are developed by means of a corresponding methodology, which is made secure

through rigor. Methodology adapts and establishes itself at any given time in ongoing activity. Projection and

rigor, methodology and ongoing activity, mutually requiring one another, constitute the essence of modern

science, transform science into research.

2 SILVA, A. L. S. Disponível em: <http://www.infoescola.com/ciencias/inexatidao-cientifica-para-heisenberg/>.

Acesso em 22 de janeiro de 2015.

Page 19: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

2

nova abordagem científica em seu livro Physics and Philosophy (1958), que parte do seguinte

princípio: “[...] o que observamos não é a natureza em si, mas a natureza exposta ao nosso

método particular de questionamento”3 (1958: 57). Nesse paradigma, a ciência ganha um

caráter inovativo e esclarecedor, já que o experimentador pode criar novas propostas de

análise para os fenômenos da natureza em busca de sua representação.

As pesquisas na área da linguística, campo de investigação científica da linguagem que

se propõe a estudar o funcionamento das línguas naturais, também se incluem nesse

paradigma moderno. Nessa área de investigação cujo objeto de estudo é uma língua natural,

busca-se explorar a complexidade de seu sistema linguístico com o objetivo de representar os

mais diversos fenômenos da linguagem que podem ser estudados de maneira independente,

como: a morfologia, a sintaxe, a semântica, a pragmática, a fonética e a fonologia, que, por

sua vez, também engloba a prosódia; uma área incluída tardiamente nas investigações

linguísticas por conta da falta de recursos tecnológicos que pudessem analisar

apropriadamente os fenômenos prosódicos.

Somente na linguística moderna, a prosódia se define como um campo de pesquisa

autônomo com objeto próprio de análise (BARBOSA, P.A.)4, o sinal acústico da fala, tendo

como pressuposto o fato de que, além dos sons segmentais, “[...] o falante [...] controla outros

traços vocais como volume, tempo, ritmo, altura melódica, qualidade de voz, etc.” 5 (‘t

HART; COHEN; COLLIER, 1990: 1, tradução nossa). Por isso, a prosódia também é

conhecida como um plano suprassegmental, porque sua variação estende-se para além de um

segmento.

1.2 A entoação modal

Análises de fenômenos como acento, ritmo da fala, o sentido pragmático que a melodia

da fala adiciona à frase (entoação modal), entre outros, fazem parte dos objetos de estudo da

área da prosódia que podem ser explorados de maneira autônoma. É importante dizer que

muitas vezes os termos prosódia e entoação são usados como sinônimos. No entanto será

adotada aqui a distinção que muitos pesquisadores fazem em relação à aplicação desses

termos: o termo prosódia se refere a um sentido mais genérico que inclui sistemas abstratos

3 “[…] what we observe is not the nature itself, but nature exposed to our method of questioning”

4 BARBOSA, P. A. Disponível em: <http://psicolinguistica.letras.ufmg.br/wiki/index.php/Pros%C3%B3dia>.

Acesso em 20 de dezembro de 2014.

5 “[…] the speaker […] controls other vocal features such as loudness, tempo, rhythm, pitch, voice quality, etc.”

Page 20: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

3

de representação (HIRST; DI CRISTO, 1998: 4), enquanto o termo entoação diz respeito a

um nível mais físico sendo representado pela frequência fundamental (F0).

Dentre os fenômenos estudados na área da prosódia, considera-se que “a entoação é um

dos meios vocais que pode ser colocado em uso em transmitir uma mensagem de um falante

para um ouvinte” 6 (’t HART, COHEN, COLLIER, 1990: 2, tradução nossa). Esse consenso

entre os pesquisadores consiste no fato de que a entoação desempenha diferentes funções que

podem ser distribuídas em uma escala que vai do nível mais linguístico até o extralinguístico,

como pode ser visto na figura a seguir:

Figura 1 – Escala das funções mais linguísticas até as mais expressivas da entoação

É importante notar na extremidade esquerda deste continuum as funções mais

linguísticas da entoação, que incluem diversos fenômenos que formam o sentido semântico e

pragmático dos enunciados. Já na posição intermediária do continuum, encontram-se as

funções denominadas atitudinais, que se referem à avaliação do falante. Segundo Moraes

(2012), as atitudes ainda podem ser classificadas quanto à avaliação feita pelo falante

relacionada ao conteúdo proposicional que ele está transmitindo; são as chamadas atitudes

proposicionais, ou relacionada à intenção do falante quanto ao seu interlocutor, denominadas

atitudes sociais. No outro extremo do continuum, localizam-se as funções emocionais que se

caracterizam por serem mais involuntárias. Nele, estão categorizadas as emoções primárias,

como alegria, raiva, tristeza e medo, e secundárias dos falantes, tais como vergonha, ciúmes,

entre outros.

No que se refere às funções da entoação, é interessante notar que “[...] ao modificar

parâmetros acústicos, o falante pode suplementar seu enunciado com elementos de significado

que não estejam explicitamente contidos na criação lexical ou sintática” 7 (‘t HART; COHEN;

6 “[...] intonation is one of the vocal means that can be put to use in conveying a message from speaker to

listener.”

7 “[…] by modifying the prosodic features the speaker can supplement his utterance with elements of meaning

that are not explicit contained in its lexical and syntactic make-up.”

Proeminência, demarcação de fronteira,

organização rítmica e entonacional do

enunciado

Atitudes proposicionais e sociais Emoção, fonoestilo

Linguístico Paralinguístico Extralinguístico

Page 21: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

4

COLLIER, 1990: 5), e é por esse motivo que os estudos da entoação não só sobre seu valor

funcional (entoação modal), mas também sobre a expressão de atitudes e emoções revelam

significados que nunca antes foram categorizados. Nesta dissertação, a melodia da fala será

analisada quanto a sua função mais linguística, mais particularmente à função pragmática, em

que o propósito comunicativo do falante é veiculado pela entoação. Apesar de não ser

consensual a classificação dos tipos de funções que a entoação desempenha, muitos autores já

apresentaram diversas propostas como a função modal (FONÁGY, 1993) e a função

expressiva (FONÁGY, 1993; PRIETO, 2003). De acordo com a proposta de Hirschberg

(2003), a entoação ainda pode ser categorizada em relação a sua função:

(a) sintática, através da desambiguização de ambiguidade sintática e fraseamento;

(b) semântica, referindo-se à associação com foco e ambiguidade de escopo;

(c) discursiva, que envolve fenômenos como tópico/comentário, tomada de turno,

marcadores discursivos, etc.

De maneira geral, pode-se dizer que a entoação modal representa uma atitude do falante

em relação ao seu propósito comunicativo, como: “a apresentação do enunciado como

narração de um fato, como hipótese, como desejo, como ordem, como pergunta ou como

estímulo que provoca fortes emoções” (FONÁGY, 1993:27). É interessante investigar nessa

função da entoação quantos perfis melódicos existem no sistema entonacional do PB que

manifestam os atos de fala para identificar se há configurações diferentes da curva melódica

que se referem ao mesmo ato ilocutório e se há um mesmo perfil melódico que manifeste atos

de fala diferentes.

Segundo Fonágy (1993:27), a modalidade também se caracteriza por marcar as

enunciações de diversas formas nas línguas através de “morfemas determinados, da ordem das

palavras ou de formas de entoação constantes delimitadas de maneira nítida” (FONÁGY,

op.cit., p. 27). O autor cita como exemplo as frases exclamativas que “ao serem enunciadas,

comunicam constantemente uma forte emoção do locutor, apesar da natureza dessa emoção

poder ser bem distinta uma da outra como o espanto, a admiração, ou, ao contrário, a

indignação” (p. 26); no português, por exemplo, esse tipo de frase é construído por um

morfema interrogativo -QU. Por isso, Fonágy (1993: 27) considera que “a entoação modal

pode apresentar um signo verbal de dupla articulação, como um morfema, que seja

Page 22: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

5

equivalente à sinalização entonacional da modalidade, diferentemente das atitudes e emoções,

que se exprimem por meios prosódicos e articulatórios”.

De acordo com ’t Hart, Cohen e Collier (1990: 2), para se falar sobre a entoação,

precisa-se de uma metalinguagem que possa descrever o continuum fonético em eventos

discretos passíveis de categorizações distintivas; daí surge a tarefa de estabelecer quais são as

partes do contorno melódico que identificam o seu valor funcional. D. Robert Ladd (1996) é

um dos principais autores a discutir o que seria a organização fonológica da entoação e como

investigá-la apropriadamente. Esse autor defende que o fenômeno da entoação faz parte do

componente fonológico da linguagem, servindo para manifestar diversos sentidos pragmáticos

que afetam todo o enunciado e cujo aspecto linguístico pode ser verificado através dos

padrões melódicos de uma língua, ou seja, formas recorrentes da curva melódica que

expressam as intenções comunicativas dos falantes.

Nesse sentido, Ladd (1996:4) faz a seguinte distinção: as funções linguísticas

transmitidas pela entoação possuem como variáveis mais usuais parâmetros físicos (altura

tonal, intensidade e duração), ao passo que a esfera expressiva da entoação pode ter como

variáveis mais recorrentes outros parâmetros, mais difíceis de mensurar, como a qualidade

vocálica. Como será discutido com mais detalhes (seção 2.1), os estudos anteriores da

entoação apresentavam falhas para lidar com esse fenômeno apropriadamente. Ladd

(1996:10) cria o conceito de fonologia entonacional que consiste na seleção de unidades

discretas no continuum fonético com o objetivo de decompor o fenômeno da entoação em

entidades distintas categoricamente, isto é, propõe-se que, na análise fonológica da entoação

de uma língua, seja feito um mapeamento entre categorias discretas que estejam associadas ao

significado fonológico do contorno e uma descrição física de um enunciado no continuum

fonético da entoação em termos de mudanças graduais em vários parâmetros acústicos.

Logo na introdução de seu livro, Ladd (1996: 12) menciona que os criadores do modelo

IPO (Institute for Perception Research) foram os primeiros a tentarem “combinar um nível

fonológico abstrato de descrição com um relato detalhado da realização fonética de elementos

fonológicos” 8. Segundo Ladd (1996: 17), consta no legado do modelo IPO a existência de

uma estrutura sequencial de elementos entonacionais discretos e de uma realização fonética

8 “[…] to combine an abstract phonological level of description with a detailed account of the phonetic

realisation of the phonological elements.”

Page 23: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

6

de elementos fonológicos categóricos, que são conceitos cruciais para a fonologia

entonacional. Por fim, Ladd (1996:17) argumenta que o trabalho desenvolvido pelos

pesquisadores desse modelo pode ser considerado fonológico no sentido de que a pesquisa

realizada por uma abordagem fonética da entoação identifica correlatos físicos diretos de

significados ou funções linguísticas, embora os autores do modelo IPO tenham declarado que

esse modelo trata da percepção da fala e não da fonologia, isto é, o aspecto funcional da

entoação.

Desde então, muitos modelos foram criados com propostas de descrição da entoação

baseados na orientação da fonologia entonacional. Iniciam-se, portanto, discussões acerca das

escolhas feitas por diversas teorias com seus enfoques particulares das unidades discretas da

entoação para descrever o continuum fonético e o quão satisfatório é o resultado dessa

descrição.

1.3 A prosódia experimental: algumas considerações sobre o tema

Em seu livro Intonational Phonology (1996: 20), Ladd sugere que a abordagem

fonológica da entoação pode ser feita através de um trabalho rigoroso instrumental e

experimental que coloque as hipóteses das possíveis categorias fonológicas em testes

empíricos a fim de que o experimento conduza a novos achados. Nesse sentido, a área da

prosódia possui estudos que tratam de diversos fenômenos por um viés experimental seguindo

o paradigma moderno de investigação científica, em que são feitas análises que levam em

conta a percepção do ouvinte.

Muitos trabalhos apresentam diversas propostas de representação das funções da

entoação modal do PB por meio da utilização do modelo Autossegmental e Métrico (AM),

(FERNANDES, 2007; MORAES; COLAMARCO, 2007; REIS; VON ATZINGEN, 2002).

No entanto, é importante ressaltar que as pesquisas na área da prosódia experimental têm

aumentado ao longo dos últimos anos (LUCENTE, 2014; MORAES, 2008; RASO;

MITTMANN, 2009) com o objetivo de trazer novas perspectivas sobre os fenômenos da

entoação ou de preencher certas lacunas deixadas pela descrição feita sob a orientação de

determinados modelos.

Barbosa (2012) apresenta um panorama sobre as pesquisas experimentais na área de

prosódia mostrando que a percepção dos falantes tem um papel fundamental para distinguir os

fenômenos da entoação. Dentre os parâmetros acústicos que fazem parte tradicionalmente dos

Page 24: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

7

estudos de prosódia, constatou-se, através de pesquisas desenvolvidas na área, que a

frequência fundamental (F0) é a pista mais eficiente no domínio perceptivo (HIRST; DI

CRISTO, 1998: 6).

Como o paradigma científico moderno já foi exposto aqui, torna-se mais fácil

compreender como as pesquisas na área da prosódia experimental são elaboradas e

conduzidas. A princípio, a prosódia experimental se define como “a área de pesquisa que

aplica o método hipotético-dedutivo para os estudos de prosódia por via de experimentação” 9

(BARBOSA, 2012: 33, tradução nossa), e inclui três passos para a experimentação:

observação, descrição e experimentação stricto sensu. Trata-se, portanto, de analisar qualquer

fenômeno prosódico levando em conta não apenas o que está sendo exibido para o

pesquisador em sua tela do computador, mas também a elaboração de testes de percepção para

que uma generalização possa ser feita de maneira mais segura e confiável.

Barbosa (2012) explica a maneira como um estudo experimental deve ser conduzido e

que vai ao encontro das três características do paradigma científico moderno descritas por

Heiddeger (1977) que foram apresentadas na introdução desta dissertação:

[...] a experimentação começa com a teoria, que guia a observação dos fatos

prosódicos. A teoria e os fatos observados produzem um conjunto de hipóteses com

o objetivo de se testar um modelo de produção e percepção da prosódia. Para testar o

modelo, um conjunto de medidas derivadas de hipóteses que foram extraídas do

corpus é avaliado de acordo com a validade deles quanto à hipótese levantada no

início de um estudo experimental. Este último passo permite o refinamento ou revisão da teoria que motivou o estudo.10 (BARBOSA, 2012:34, tradução nossa)

O autor conclui que o processo investigativo experimental é caracterizado por idas e

vindas, não só na análise do corpus, mas também na formulação de novos experimentos.

Sendo assim, o trabalho descritivo desenvolvido na prosódia experimental é um caminho mais

seguro para se chegar a uma representação confiável dos fenômenos prosódicos.

Como será exposto posteriormente, neste campo de investigação, há diversas

abordagens para o estudo da entoação que objetivam investigar as funções da melodia da fala

9 “[…] the area of research which applies the hypothetic-deductive method to prosodic studies via

experimentation.”

10 “Experimentation starts with a theory, which guides the observation of prosodic facts. The theory and the

observed facts produce a set of hypotheses aiming at testing a model of prosody production or perception. To

test this model, a set of hypothesis-derived measures extracted from the corpus are evaluated according to their validity as regards the hypotheses raised at the beginning of the experimental study. This last step allows the

refinement or revision of the theory that motivated the study.”

Page 25: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

8

na comunicação humana por meio de diferentes pontos de vista, como o da produção ou o da

percepção. Alguns modelos da entoação serão brevemente mencionados no capítulo 2 desta

dissertação para se relatar como se deu o desenvolvimento das pesquisas na área.

Nesta dissertação, pretende-se analisar a organização interna do continuum fonético da

entoação através de um viés experimental. Sendo assim, a proposta deste trabalho é descrever

os padrões melódicos do PB através de uma abordagem perceptiva que consiste em usar uma

análise experimental para explorar esse continuum fonético, baseando-se na percepção dos

ouvintes para afirmar quais são os movimentos melódicos fundamentais que caracterizam o

reconhecimento auditivo dos padrões melódicos do PB. Por conseguinte, esta dissertação tem

por objetivo geral:

analisar um conjunto de contornos melódicos do PB, a saber: asserção, questão

total, ordem, desafio, pedido, sugestão, questão parcial e exclamação, em termos

de movimentos melódicos relevantes perceptivamente por meio de uma

abordagem experimental baseada na observação empírica dos dados combinada

com o método proposto pelo modelo IPO;

reunir elementos provenientes da descrição dos movimentos melódicos para

futuramente propor uma gramática da entoação modal do PB, no sentido de

combinar os movimentos melódicos, através da categorização dos movimentos

melódicos individuais em um conjunto limitado, que são concatenados para

formar contornos melódicos inteiros.

Para cumprir esses objetivos, o presente estudo está organizado da seguinte maneira:

Neste capítulo introdutório, os objetivos gerais desta pesquisa foram apresentados de

maneira contextualizada no que se refere às bases da pesquisa descritiva da entoação por um

viés experimental, além dos fundamentos dos estudos em prosódia em relação à descrição dos

sistemas entonacionais das línguas.

O capítulo 2 é destinado à fundamentação teórica desta pesquisa. Nele, são expostos os

primeiros modelos que se propõem a descrever a entoação fonologicamente. Será feita uma

breve revisão bibliográfica sobre o modelo Autossegmental e Métrico e uma apresentação

ampla do modelo IPO. Além disso, serão tecidos alguns comentários sobre a teoria dos atos

Page 26: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

9

ilocutórios e sobre a representação fonológica dos contornos melódicos do PB que compõem

o corpus dessa dissertação.

No capítulo 3, apresenta-se o método utilizado nesse estudo experimental que inclui a a

técnica de estilização da curva melódica. No capítulo 4, serão tecidos comentários sobre os

resultados dos testes de percepção aplicados junto com sua análise estatística.

No capítulo 5, serão feitas as descrições de cada contorno melódico com base nos

resultados dos testes de percepção aplicados utilizando os traços binários do modelo IPO. Por

fim, no capítulo 6, discorre-se sobre as conclusões desta pesquisa e as perspectivas de futuras

investigações acerca do tema.

Page 27: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

10

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo, serão feitos comentários acerca dos modelos entonacionais utilizados para

representar a entoação, já que o objetivo deste trabalho é apresentar uma descrição dos

contornos melódicos do PB baseada em outro tipo de abordagem. Em 2.1, há uma breve

consideração sobre os primeiros modelos que foram projetados para descrever a entoação e

como eles influenciaram o surgimento de outros modelos; em 2.2, a proposta de descrição

fonológica do modelo Autossegmental e Métrico será apresentada; em 2.3, a abordagem do

modelo IPO será apresentada em 2.3.1 e os resultados das línguas que foram descritas

segundo a metodologia do modelo em 2.3.2; por fim, na seção 2.4, discorre-se sobre os

contornos melódicos do PB; em 2.4.1, descreve-se a teoria dos atos de fala, e em 2.4.2, a

representação fonológica já feita do sistema entonacional do PB.

2.1 Modelos entonacionais: representando a entoação

Na primeira metade do século XX, os aspectos fonéticos e a distinção categórica dos

fenômenos da entoação eram descritos de maneira separada. Antes da entoação ganhar uma

discussão fonológica no final da década de 70, esses estudos sobre a melodia da fala eram

baseados em duas orientações diferentes que são classificadas por Ladd (1996: 10) como: a

abordagem instrumental ou fonética e a impressionística ou protofonológica.

A abordagem instrumental tinha um interesse que recaía sobre a percepção da fala e a

identificação de pistas fonéticas para fenômenos entonacionais; por exemplo, buscavam-se

propriedades fonéticas que correspondessem a cada significado do enunciado como pistas

acústicas para a negação ou tempo verbal da frase. A segunda abordagem, chamada de

impressionística, tinha por objetivo descrever a entoação para fins práticos, como melhorar a

pronúncia dos falantes nativos de uma língua. Ela falhava em não selecionar elementos

categóricos no sistema fonológico e não mostrar como a realização fonética desses elementos

pode variar no continuum fonético (LADD, 1996: 39).

No início do século XX, os primeiros modelos de representação da entoação foram

criados. No entanto, a seleção de unidades utilizadas para descrever a entoação em eventos

discretos gerou fortes debates nessa época (PRIETO, 2003: 16). Esses modelos eram

divididos em duas grandes orientações que são chamadas de: configuração do contorno,

desenvolvido na Europa, ou sequência tonal, criado nos Estados Unidos.

Page 28: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

11

A Escola Britânica, representante do modelo baseado na configuração do contorno, trata

a organização interna da entoação através de movimentos tonais, tendo como base a

caracterização fonética dos contornos com suas unidades funcionais independentes (cabeça,

núcleo e coda). Já a Escola Americana, proponente do modelo de sequência tonal, lida com

níveis tonais estáticos presentes nos contornos, não considerando a forma do contorno, e

prioriza a representação formal deles através do uso de elementos fonológicos que sejam

capazes de descrever os contrastes entre os contornos de uma língua (PRIETO, 2003: 16).

Segundo Prieto (2003: 16), com o tempo as propostas das duas escolas influenciaram o

surgimento de novos modelos de análise da entoação como a análise do contorno melódico

através do nível tonal da teoria Autossegmental e Métrica, desenvolvida por Pierrehumbert

(1980) ou através da configuração do contorno melódico, como o modelo IPO elaborado por

’t Hart, Cohen e Collier (1990); dois modelos que serão expostos posteriormente nesta

dissertação.

A cisão entre uma análise acústica e a discriminação dos significados veiculados pela

entoação parece reproduzir o modelo de análise do âmbito segmental da fonética e da

fonologia. No entanto, é importante ressaltar que essa ruptura entre a análise fonética da

entoação e suas categorias funcionais não dá conta do fenômeno da entoação, pois a

articulação desses dois planos é imprescindível para lidar com a natureza desse fenômeno. Por

conta disso, a orientação desses modelos que possuem um enfoque particular e que ignoram

aspectos importantes para o entendimento dos fenômenos da entoação é criticada:

tanto a análise por nível quanto a análise por configuração são enfoques

“protofonológicos” da entoação no sentido de que, ainda que ambas as escolas

tenham por objetivo encontrar as unidades mínimas de análise e estudar os

contrastes fonêmicos que geram, nenhuma delas se preocupa em explicitar a relação

entre a representação fonológica subjacente e a forma melódica final (o que, tal

como sugere o autor, talvez reflita a profunda separação entre a fonética e a

fonologia característica da época) (PRIETO, 2003: 16)11.

Os estudos da entoação, portanto, precisam ir ao encontro das informações acústicas

padronizadas na manifestação dos fenômenos para compreendê-los apropriadamente, ao invés

de ir em busca de uma representação fonológica do objeto investigado sem uma substância

11 Tanto el análisis por niveles como el análisis por configuraciones son enfoques “protofonológicos” de la

entonacíon en el sentido que, aunque ambas escuelas tienen como objetivo encontrar las unidades mínimas de

análisis entonativo y estudiar los contrastes fonêmicos que generan, ninguna de las dos se preocupa de hacer

explícita da relacíon entre la representacíon fonológica subyacente y la forma melódica final (hecho que, tal

como sugiere el mismo autor, quizás responde a la profunda separación entre la fonética e la fonologia

característica de la época.

Page 29: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

12

experimental, que, muitas vezes, pode não abarcar as características mais importantes do

fenômeno em questão.

Segundo Prieto (2003: 22), apesar dos inúmeros modelos existentes atualmente, não se

deve deixar de considerar que “os estudos fonéticos mostram que os falantes articulam os

contornos melódicos com alto grau de precisão, que se manifesta na estabilidade que

apresentam as propriedades tanto de altura melódica como de sincronização de pontos de

inflexão”. Sabe-se que, atualmente, na análise da entoação, é fundamental que haja uma

implementação fonética que transforme a representação fonológica subjacente da entoação em

um continuum de variação melódica (PRIETO, 2003: 16). Por fim, é importante ressaltar que

a escolha de um modelo entonacional ou de outro depende do objetivo do pesquisador ao

analisar a entoação. Além disso, existe sempre a possibilidade de se pensar em uma maneira

alternativa de representar a entoação, de maneira que as informações do nível fonético com

suas variações graduais e do nível fonológico com suas unidades contrastivas estejam

articuladas; o que parece ser o contrário da prática atual, na qual normalmente as informações

do nível fonético são dispensadas no momento em que se passa para a representação

fonológica.

2.2 O modelo AM

O modelo entonacional de Pierrehumbert (1980), apresentado em sua tese de doutorado

e conhecido como Teoria Autossegmental e Métrica (doravante teoria AM), tem por objetivo

propor um sistema de representação fonológica capaz de gerar os possíveis contrastes dos

contornos do inglês, além das regras de interpolação fonética que se ocupam de gerar os

movimentos melódicos intermediários que concatenam os níveis subjacentes entre si.

Nesse sistema de notação, os eventos discretos postulados para a representação da

entoação são a altura dos tons. Através da postulação de tons altos H (High) e baixos L (Low),

descrevem-se os elementos contrastivos possíveis das melodias de uma dada língua por uma

sequência desses dois tons. Buscam-se os elementos tonais como: o acento tonal definido

como uma proeminência na curva de F0 ao longo do enunciado, podendo ser classificado

como monotonal ou bitonal e tons de fronteira, que são responsáveis por marcar o limite de

uma frase.

Uma das características essenciais do modelo AM é o fato de que a sílaba tônica é um

possível ponto de ancoragem para certos eventos tonais; essa característica o diferencia de

Page 30: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

13

outros modelos. Também vale a pena ressaltar outro aspecto importante do modelo AM, que é

o papel da estrutura métrica como eixo fundamental entre movimentos melódicos. Ademais, o

modelo também possui diacríticos que são recursos extras que, de acordo com a teoria,

discriminam algumas características das curvas de F0, tais como:

(*) Acento tonal que ocorre em sílaba acentuada

(¡) Upstep de tom H

(!) Downstep de tom H

(%) Fronteira de enunciado

(>) Alinhamento antecipado

(<) Alinhamento tardio

Quadro 1 – Diacríticos do sistema de notação ToBI

O Sistema de transcrição ToBI (Tone and Break Indices), que foi desenvolvido por

Silverman et al. (1992) com base na proposta de Pierrehumbert (1980), propõe um mesmo

código de transcrição para a notação entonacional que pode ser compartilhada entre os

pesquisadores de maneira que usuários de línguas diferentes pudessem interpretar os dados de

maneira uniforme. Sendo assim, foram sendo criados rótulos que representassem os acentos

tonais e os tons de fronteira:

Figura 2 – Conjunto de rótulos de notação do sistema ToBI (LUCENTE, 2014: 83)

No entanto, nem todos os estudiosos usam os detalhes desse sistema da mesma maneira;

para o espanhol, por exemplo, não há acordo sobre o número de diferentes acentos tonais

Page 31: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

14

existentes e nem sobre a etiquetagem utilizada pelos pesquisadores12

. Por isso, essa

multiplicidade de análises possíveis a partir dos rótulos propostos é o ponto mais fraco do

modelo AM (PRIETO, 2003: 176).

De maneira geral, o sistema Autossegmental e Métrico permite que seja feita uma

comparação detalhada dos contornos que são contrastivos linguisticamente em determinada

língua, além de uma abstração de aspectos irrelevantes como número de sílabas ou de

palavras de cada enunciado. Por fim, esse é um modelo que pode ser aplicado a línguas muito

diferentes entre si (PRIETO, 2003: 180).

2.3 O modelo IPO

O modelo IPO, desenvolvido no início dos anos 60 pelo Instituto de Pesquisa para

Percepção (Instituut voor Perceptie Onderzoek/Institute for Perception Research) em

Eindhoven (Holanda), tem como foco a análise da realização fonética dos contornos, cuja

finalidade é apurar os movimentos tonais relevantes, ao mesmo tempo em que as variações

sem efeitos perceptivos sejam rejeitadas. Em vista desse objetivo, os autores desenvolveram

um método de estilização de curvas que substitui o traçado do contorno original por um

contorno artificial, constituído de linhas retas, que seja idêntico perceptivamente ao primeiro.

Esta curva estilizada apresenta a mesma informação da curva original, sem as variações

melódicas provenientes da microentoação e é o ponto de partida para o processo de definição

dos movimentos e configurações relevantes que compõem o inventário de padrões melódicos

de uma língua (’t HART; COHEN; COLLIER, 1990: 47).

A escolha desse modelo como base da pesquisa feita nessa dissertação se justifica pelo

fato de que o modelo IPO concentra-se na percepção da entoação, que é sua principal

característica, buscando compreender como o ouvinte interpreta as variações melódicas da

fala, e, posteriormente, analisando os correlatos acústicos e fisiológicos (‘t HART; COHEN;

COLLIER, 1990: 4). Nesse sentido, o modelo coloca as seguintes questões que serão

respondidas posteriormente ao processo de investigação: “[...] ‘Quais são as propriedades do

sinal acústico relevantes para a percepção da melodia da fala?’, e, consequentemente, ‘Quais

são mecanismos fisiológicos que controlam esses componentes acústicos relevantes

12 No uso do sistema ToBI para o espanhol, o diacrítico que discrimina o alinhamento é usado de maneira

contrária da que está posta no quadro: (>) para alinhamento tardio.

Page 32: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

15

perceptivamente?13

’” (’t HART; COHEN; COLLIER, 1990: 5). Dessa forma, o modelo une

os interesses perceptivos aos interesses acústicos e articulatórios na descrição da entoação.

Assim, o modelo IPO propõe uma análise da entoação através do desenvolvimento de

um modelo do ouvinte, já que o usuário da língua possui conhecimento sobre a forma e a

função melódica de sua língua. Por isso, é necessário estabelecer uma interação entre a

produção da fala e a acústica, pois as impressões auditórias são estudadas sistematicamente

em relação às propriedades do sinal acústico, principalmente aquelas que são resultado da

ação voluntária fisiológica da parte do falante.

Segundo ’t Hart, Cohen e Collier (1990: 5), uma abordagem perceptiva é subjetiva per

se, já que, em um primeiro momento, o pesquisador formula hipóteses e avalia seu trabalho

segundo a sua intuição de falante nativo. Por isso, para se tecer generalizações sobre a

percepção da melodia da fala, é necessário usar técnicas experimentais confiáveis a fim de se

verificar que uma impressão melódica particular possa ser reproduzida não só com o mesmo

ouvinte, mas também com outros ouvintes. Isso inclui, portanto, a elaboração e aplicação de

testes de percepção e análises estatísticas para gerar resultados seguros sobre os quais as

generalizações linguísticas poderão ser feitas.

Outro aspecto importante do modelo IPO é que ele não postula nenhuma consideração

fonológica a priori se não houver alguma substância fonética revelada na observação

experimental que dê base para a formulação de propriedades abstratas da entoação (‘t HART;

COHEN; COLLIER, 1990: 120). Aliás, os próprios autores deixam explícito que eles não se

comprometem em propor uma representação fonológica dos padrões melódicos presentes no

sistema entonacional de uma língua. O modelo proporciona uma descrição fonética das

unidades descritivas escolhida pelos autores da teoria: os movimentos melódicos (‘t HART;

COHEN; COLLIER, 1990: 168).

Por isso, pode-se dizer que o componente que mais se aproxima da esfera fonológica

nesse modelo consiste em uma descrição de uma gramática14

da entoação do holandês que

possua um repertório de unidades fonológicas subjacentes e uma gramática que especifique as

13[…] ‘Which properties of the acoustical signal are relevant for our perception of speech melody?’, and,

subsequently, ‘Which physiological mechanisms control these perceptually relevant acoustic features?’

14 O termo gramática é usado nesta dissertação com o sentido de regras de combinação de movimentos

melódicos.

Page 33: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

16

combinações possíveis desses elementos; assim, a análise fonética será responsável pelo

mapeamento entre a estrutura fonológica e a melodia final (‘t HART; COHEN; COLLIER,

1990: 120).

De acordo com ’t Hart, Cohen e Collier (1990: 6), a abordagem IPO deve ser

considerada uma abordagem fonético-experimental em que o conhecimento entonacional do

ouvinte é tornado explicito por meio da percepção e interpretação da língua falada. Além

disso, é preciso atentar para o fato de que este modelo parte de uma análise dos movimentos

melódicos para representar a entoação:

Nós acreditamos que...movimentos melódicos que são interpretados como relevantes

pelo ouvinte estão relacionados a atividades correspondentes por parte do falante. Assume-se que tais movimentos são caracterizados por comandos discretos das

cordas vocais e que devem ser recuperados como tantos eventos discretos no

contorno melódico resultante, que podem apresentar-se à primeira vista como

variações contínuas no tempo.15 (COHEN; ’t HART, 1967: 177-816 apud 't HART;

COLLIER; COHEN, 1990: 39)

Essa característica classifica o modelo IPO como um modelo configuracional no

tratamento da curva melódica, o que, de certa forma, faz com que os autores da teoria rejeitem

a ideia de que o falante pretende somente atingir um alvo através de níveis melódicos ('t

HART; COLLIER; COHEN, 1990: 75). Além disso, os autores defendem que a análise da

entoação feita por configuração fornece detalhes fonéticos da curva melódica que uma análise

feita por níveis estáticos poderia deixar de lado. Em outras palavras, a decomposição da

entoação feita por níveis melódicos, segundos os autores, é uma simplificação ('t HART;

COLLIER; COHEN, 1990: 77).

Portanto, o modelo IPO considera que a transição de um movimento melódico para

outro é importante e ocorre de maneira gradual; sendo assim, é preciso discriminar as

propriedades melódicas desses movimentos. A identidade melódica dos movimentos pode ser

construída através de especificações padronizadas para a síntese como o tamanho do

movimento e o alinhamento em relação às fronteiras da sílaba. Em suma, os autores assumem

a posição de que a análise do nível fonético da entoação por níveis melódicos não leva em

15 We believe that...pitch movements that are interpreted as relevant by the listener are related to corresponding

activities on the part of the speaker. These are assumed to be characterized by discrete commands to the vocal

cords and should be recoverable as so many discrete events in the resulting pitch contour, which may present

themselves at first sight as continuous variations in time.

16 COHEN, A.;’t HART, J. (1967). On the anatomy of intonation. Lingua, 19, 177–192.

Page 34: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

17

conta alguns fatos fonéticos na produção e percepção das mudanças melódicas ('t HART;

COLLIER; COHEN, 1990: 77).

Na metodologia do modelo IPO, o estudo fonético das curvas melódicas é feito a partir

do desenvolvimento de um método de redução de dados com base na tolerância perceptiva

para que sejam fornecidas unidades na descrição melódica dessas curvas. Como já foi dito

anteriormente, tal método é chamado de estilização da curva melódica. Apesar do começo da

análise se iniciar com a medida da F0, o foco principal da abordagem está na percepção que

proporciona não somente alcançar a redução de dados de uma forma efetiva, mas também

examinar como a informação na melodia da fala é processada pelo ouvinte ('t HART;

COLLIER; COHEN, 1990: 39).

Essa abordagem fonético-experimental é definida como bottom-up (derivada/baseada

d/nos resultados), pois se estabelece uma conexão entre eventos locais discretos com eventos

que ocorrem em um nível global. O modelo IPO é caracterizado, portanto, por uma

organização hierárquica da entoação que possui um nível global e um nível local no

tratamento da curva melódica com a experimentação direcionada para a representação interna

do ouvinte do sistema entonacional da sua língua nativa (GARRIDO, 2003: 98). No âmbito

global do modelo, analisa-se a entoação por meio da declinação da F0 ao longo do enunciado,

que é representada por linhas retas marcando um limite superior, chamado de linha de

declinação alta, e inferior, denominado de linha de declinação baixa; além dessas duas linhas,

ainda é considerada uma terceira linha, a linha intermediária da declinação. Essas três linhas

de declinação definem três níveis tonais nos movimentos dos contornos melódicos

(GARRIDO, 2003: 100).

Page 35: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

18

Figura 3 – Linhas de declinação (GARRIDO, 2003: 101)

No âmbito local de análise da entoação, analisam-se as seguintes dimensões dos

movimentos melódicos e suas categorias, que foram esquematizadas no quadro abaixo:

Dimensão Categoria Comentário

Direção

Ascendente

Descendente

Os movimentos planos que não implicam

nem em ascensão nem em descida não são

definidos em função de nenhum traço.

Alinhamento

Antecipado

Intermediário

Tardio

Refere-se ao início da sílaba; se um

movimento termina na metade da sílaba, é

etiquetado como [-antecipado] e [-tardio].

Excursão

Normal

Ampla

Se o movimento se estende por todo o

campo tonal (entre a linha mais baixa e a

mais alta da declinação), é classificado

como amplo; senão, é normal.

Extensão

Íngreme

Gradual

Se o movimento abrange uma sílaba, é

rotulado como íngreme e se for mais de uma

sílaba, como gradual.

Quadro 2 – Dimensões da unidade mínima discreta da entoação segundo o modelo IPO: o movimento melódico

Page 36: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

19

Este conjunto de traços permite definir os movimentos melódicos. Posteriormente, este

conjunto de movimentos definidos, que são resultado da metodologia aplicada, recebe

classificações em um âmbito superior, chamado de configurações. Trata-se de formas

recorrentes nas curvas melódicas que podem ser modeladas como uma série de um ou mais

movimentos melódicos (GARRIDO, 2003: 104). O modelo IPO distingue três tipos de

configurações: a configuração prefixo, a configuração raiz e a configuração sufixo. Uma ou

várias configurações geram o contorno final, embora haja diferenças sutis entre elas.

A configuração raiz é o único elemento obrigatório no contorno, enquanto a

configuração sufixo é opcional e só pode acontecer uma vez; e a configuração prefixo pode

ocorrer uma ou várias vezes. Segundo Garrido (2003: 105-106), a gramática dos movimentos

melódicos de uma língua pode ser definida pelas possibilidades combinatórias das

configurações para formar seus contornos possíveis. Para isso, os autores propõem a seguinte

fórmula: (prefixo)n17

+ raiz + (sufixo). Em suma, a metodologia do modelo consiste em (a)

estilização das curvas melódicas; (b) definição dos movimentos relevantes perceptivamente;

(c) definição das configurações possíveis e de sua combinatória; (d) análise da relação entre

os padrões definidos e a informação linguística transmitida (GARRIDO, 2003: 109).

A manipulação da curva de F0 é a marca da abordagem IPO na análise da curva

melódica da fala, procedimento usado para explicitar a relação entre a variação de F0 e a

maneira com a qual ela é percebida. A manipulação da F0 é feita com o objetivo de se

examinar seu efeito sobre a melodia da fala através da percepção dos ouvintes e consiste no

primeiro nível de análise (’t HART; COHEN; COLLIER, 1990: 40).

A primeira etapa de estilização é chamada de estilização close copy (curva estilizada

perceptivamente idêntica à original) cuja finalidade é buscar a forma mais simplificada

possível do padrão melódico que contenha o menor número de pontos de inflexão. É

importante saber que o critério utilizado é o da igualdade perceptiva entre a curva de F0

original e a curva de F0 estilizada. A partir das mudanças na curva da F0, esse processo leva a

uma simplificação (pela omissão de detalhes irrelevantes) e à possibilidade de descrever

posteriormente a curva de F0 em termos de um número de eventos discretos (’t HART;

COHEN; COLLIER, 1990: 42).

17 O símbolo n indica um elemento recursivo no contorno melódico.

Page 37: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

20

A segunda etapa de estilização é chamada de equivalent copy (cópia equivalente) cujo

propósito é produzir cópias da curva original reduzindo ao máximo sua variação fonética de

maneira que o significado entonacional do contorno estilizado ainda possa ser considerado o

mesmo do contorno original no nível linguístico, ou seja, em um nível mais abstrato. Por isso,

o significado desse contorno estilizado é considerado equivalente ao do original. Esse

processo de estilização da entoação resulta em uma padronização dos contornos melódicos,

partindo de uma análise que começa por movimentos melódicos únicos (segmentos de reta

individuais) e termina com contornos inteiros através de uma concatenação (’t HART;

COHEN; COLLIER, 1990: 47).

2.3.1 Línguas descritas pelo modelo IPO

O modelo IPO já foi usado para descrever diversas línguas, tais como: o holandês, o

inglês britânico, o francês e o russo, entre outras. Como os pesquisadores desenvolveram esse

modelo na Holanda, o holandês foi a primeira língua a ser descrita de acordo com a

abordagem IPO.

Os movimentos melódicos perceptivamente relevantes do holandês foram decompostos

de acordo com os traços binários da teoria e reunidos em um conjunto que contém 5 tipos de

subidas e 5 tipos de quedas. No nível fonético, o holandês pode ser modelado como uma

sequência de subidas e quedas da F0, em que tais movimentos são diferenciados em termos de

posição na sílaba, tamanho e taxa de mudança. A combinação entre esses movimentos geram

os contornos melódicos do holandês e suas possíveis variantes, que formam a gramática da

entoação do holandês (’t HART; COHEN; COLLIER, 1990: 152).

Cecilia Odé (1989) aplicou a metodologia do modelo IPO ao russo; após a aplicação de

testes perceptivos, os resultados mostram que o russo contém 6 tipos diferentes de

movimentos melódicos ascendentes e 7 tipos diferentes de movimentos melódicos

descendentes que são relevantes perceptivamente (1989: 120). Esses movimentos são

Figura 4 – Movimentos melódicos do holandês e seus traços de composição (’t HART; COHEN;

COLLIER, 1990: 153)

Page 38: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

21

divididos em subida ou queda na parte tônica do acento tonal. Já os movimentos que ocorrem

na parte pretônica e na parte postônica do contorno são classificados em relação ao nível

atingido no registro, que pode ser alto ou baixo:

A autora mostra na figura 5 que no russo, os movimentos ascendentes foram

classificados quanto a: excursão ampla [R] (à esquerda) e excursão normal [r] (à direita);

alinhamento que pode ser antecipado [+] ou tardio [-]; a taxa de mudança, que pode ser

íngreme ou gradual; e à parte postônica, que pode ser alta [h], média [m] ou baixa [l], ou nula

[φ].

Em relação aos movimentos descendentes, a autora diz que existem apenas quedas com

excursão normal, mas que variam no alinhamento e nas partes postônicas do contorno. Além

disso, Odé (1989: 87) mostra essas quedas se diferenciam pelo nível que atingem no registro,

que pode ser o nível mais baixo ou não.

Figura 5 – Movimentos ascendentes do russo (ODÉ, 1989: 120)

Figura 6 – Movimentos descendentes do russo (ODÉ, 1989: 125)

Page 39: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

22

Jan Roelof de Pijper (1983: 48) discriminou 16 movimentos melódicos no modelo

melódico que estabelece para o inglês britânico. O autor diz que o primeiro passo para

classificar os movimentos melódicos é definir os valores padronizados da duração e da taxa

de mudança. Como resultado, o autor fornece uma descrição dos movimentos através de um

código de 4 dígitos: se o número está na primeira posição (A) denota direção, em que 1 é

uma subida e 2, uma queda; a segunda posição (B) está relacionada à declividade, o número 1

significa íngreme e o 2, gradual; a terceira posição (C) denota a extensão melódica, em que o

número 2 se refere ao campo tonal parcial e o número 4, ao campo tonal amplo; a quarta

posição (D) se refere ao alinhamento, em que o número 1 significa antecipado, o número 2,

intermediário e o número 3, tardio. Quando algum desses parâmetros não era relevante para o

movimento, Pijper (1983) não especifica o traço, colocando o número 0.

Figura 7 – Movimentos melódicos do inglês britânico (PIJPER: 1983:49)

Com base nesse tipo de descrição, é possível gerar os contornos melódicos de uma

língua de maneira automática; no entanto, o autor não fornece uma gramática completa dos

movimentos melódicos do inglês britânico por conta da limitação de tempo para conduzir a

continuação de sua pesquisa. Após a descrição dos movimentos melódicos e de como eles se

combinam para formar os contornos no inglês britânico, Pijper (1983: 92) faz uma

comparação entre os achados da sua pesquisa com os resultados do holandês e conclui que: os

movimentos do inglês britânico apresentam três níveis dentro da extensão do registro do

falante, enquanto no holandês há apenas dois; a extensão melódica que os movimentos

cobrem é maior no inglês britânico do que no holandês, os valores de taxa de mudança,

duração e extensão são diferentes nas duas línguas; e, por último, há mais movimentos

melódicos no inglês britânico do que no holandês.

Page 40: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

23

Beaugendre et al. (1992) ao descrever o francês de acordo com o modelo IPO, após a

aplicação de testes de percepção, chegou a 9 movimentos padronizados:

Como resultado do processo de estandardização, foram definidas 5 subidas, 3 quedas e

um platô com qualidade perceptiva satisfatória. No entanto, os autores inovaram ao definir os

movimentos melódicos pela estrutura silábica, incluindo o número de sílabas e a composição

delas: ataque (pelo menos uma consoante) e núcleo (uma vogal). Diferentemente dos autores

do modelo IPO, Beaugendre et al. (1992) não definiram os movimentos com valores

padronizados do tamanho absoluto (em ms), e uma extensão de frequência absoluta. Ao final

do artigo, os autores deixam claro que são necessárias mais pesquisas para se chegar a uma

gramática completa da entoação do francês.

2.4 Os contornos melódicos do PB

2.4.1 Teoria dos atos ilocutórios

A realização de ações através do uso da entoação pode ser compreendida à luz da teoria

dos atos de fala (AUSTIN, 1962; SEARLE, 1978, 1969). Através dos trabalhos desenvolvidos

na área da Filosofia da Linguagem, o filósofo John Austin (1962) elaborou a Teoria dos Atos

de fala em seu trabalho How to do things with words que reconhece que alguns verbos na

língua provocam o efeito de realizar um ato/uma ação no momento em que um falante os

enuncia, ou seja, o simples ato de dizer esses verbos, em determinadas situações, corresponde

a um fazer. Se esses verbos satisfazerem as condições performativas adequadas e forem

conjugados na 1ª pessoa do singular no presente do indicativo, uma ação é realizada, como

em: “Eu prometo x”, é realizada uma promessa, “Eu juro x”, é realizado um juramento, etc.;

Figura 8 – Movimentos melódicos padronizados do francês (BEAUGENDRE ET AL.,

1992: 741)

Page 41: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

24

tais enunciados foram chamados por John Austin de performativos. Os atos de fala eram

classificados, portanto, com base nos verbos performativos do inglês que, segundo o autor,

correspondiam a um ato de fala diferente.

Posteriormente, o filósofo J. R. Searle (1969) ampliou a análise sobre os atos de fala ao

criticar a classificação proposta por Austin dos tipos de atos ilocucionários que existem,

alegando que em sua teoria dos atos de fala, há (i) verbos ilocucionários não necessariamente

marcam propósitos ilocucionários18

; além de levantar o seguinte questionamento: (ii) se não

existir o verbo ilocucionário no léxico de uma determinada língua significa que a ilocução

nessa língua não existe? Portanto, Searle (1969) criou uma nova proposta de análise,

defendendo que a classificação dos atos de fala deve incidir sobre as ilocuções; ou seja, a

noção básica para classificar os usos da língua é o propósito ilocucionário.

Sendo assim, Searle (1969) distingue a força ilocucionária de um enunciado do seu

conteúdo proposicional19

por meio da fórmula F(p), cujo objetivo é classificar os diferentes

tipos de força ilocucionária (F) que incidem sobre o conteúdo proposicional (p). Por isso,

uma nova classificação dos tipos de atos de fala ou atos ilocucionários foi criada. Na

taxonomia alternativa proposta por Searle, os atos ilocucionários são categorizados e

definidos com base em um paradigma lógico e em propriedades lexicais, a saber:

representativos, em que a força ilocucionária compromete os falantes, em vários

graus, sobre a verdade expressa na proposição em relação a uma entidade;

diretivos, em que o propósito ilocucionário é uma tentativa, em vários graus, do

falante de fazer o ouvinte realizar alguma coisa;

os comissivos, em que o próprio falante se compromete em realizar alguma ação

futura.

expressivos, em que o propósito comunicativo do falante é expressar um estado

psicológico sobre um estado de coisas na condição de sinceridade, especificado

no conteúdo proposicional;

18 Intenção comunicativa de realizar alguma ação quando o falante profere um enunciado.

19 Refere-se ao valor semântico do enunciado em relação ao que se diz sobre um objeto de referência.

Page 42: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

25

os declarativos, em que há uma correspondência exata entre o conteúdo

proposicional e a realidade, ou seja, as declarações trazem alguma alteração no

status ou condições do objeto referido;

A força ilocucionária é a resultante de muitos elementos. O propósito comunicativo é

apenas um deles, embora seja o mais importante. De acordo com Searle (1969), um ato

ilocucionário ou uma ilocução é realizado sob certas condições, como: (i) a condição

preparatória, que se refere ao conhecimento de mundo que o locutor tem ao desempenhar um

ato, por exemplo; ao fazer uma pergunta, o falante tem que ter certeza de que seu ouvinte

pode respondê-la; (ii) a condição de sinceridade; que diz respeito ao estado psicológico do

locutor, que o leve a agir, e (iii) a condição essencial está ligada ao objetivo exato do falante

ao realizar o to ilocutório em questão.

O conjunto de padrões melódicos do PB selecionados nesta dissertação corresponde a

atos ilocutórios mais tradicionalmente descritos nos estudos da entoação como a asserção

(representativo), questão total, questão parcial (diretivos) e exclamação (expressivo), mas

também engloba a classe dos contornos melódicos de outros atos diretivos que inclui a ordem,

o desafio, a sugestão e o pedido. A fim de classificar os atos ilocutórios desta dissertação, o

quadro abaixo irá resumir as características de cada um deles de acordo com o paradigma de

Searle:

Atos ilocutórios

Asserção Pergunta total

T

ipos

de

regra

Conteúdo proposicional Qualquer proposição Qualquer proposição ou função

proposicional

Preparatória 1. F tem evidências (razões,

motivos, etc.) para a verdade de p.

2. Não é óbvio nem para F nem

para O que O saiba (não precise

ser lembrado de, etc.).

1. F não sabe a resposta, isto é, não

sabe se a proposição é verdadeira.

2. Não é óbvio nem para F nem

para O que O dará a informação

naquela hora sem ser perguntado.

Sinceridade F acredita em p. F quer essa informação.

Page 43: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

26

Essencial Equivale a afirmar que p

representa uma situação real.

Vale como uma tentativa de obter

essa informação de O.

Pergunta parcial Exclamação

T

ipos

de

regra

Conteúdo proposicional Qualquer proposição ou função

proposicional

Qualquer proposição

Preparatória

1. F não sabe uma parte da

resposta, isto é, não sabe se uma

informação específica da

proposição é verdadeira.

2. Não é óbvio nem para F nem

para O que O dará a informação

naquela hora sem ser perguntado.

1. F tem evidências (razões,

motivos, etc.) para a verdade de p.

2. Não é óbvio nem para F nem

para O que O saiba (não precise ser

lembrado de, etc.).

Sinceridade F quer essa informação. F acredita em p.

Essencial Vale como uma tentativa de obter

essa informação de O.

Equivale a expressar uma emoção

acerca do que p representa uma

situação real.

Ordem Desafio

Tip

os

de

regra

Conteúdo proposicional Ato futuro de A para O Ato futuro de A para O

Preparatória 1. O está em condições de realizar

A. F acredita que O esteja em

condição de realizar A.

2. Não é óbvio nem para F nem

para O que O realizará A no

decurso normal.

3. F tem que estar em uma

posição de autoridade sobre O.

1. O está em condições de realizar

A. F acredita que O esteja em

condição de realizar A.

2. É óbvio tanto para F quanto para

O que O realizará A no decurso

normal.

3. F tem que estar em uma posição

de autoridade sobre O.

Page 44: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

27

Sinceridade F quer que O faça A. F não quer que O faça A.

Essencial Vale como uma tentativa de fazer

com que O realize A em virtude

da autoridade de F sobre O.

Vale como uma tentativa de fazer

com que O não realize A em

virtude da autoridade de F sobre O.

Pedido Sugestão

T

ipos

de

regra

Conteúdo proposicional Ato futuro de A para O Ato futuro de A para O

Preparatória 1. O está em condições de realizar

A. F acredita que O esteja em

condições de realizar A.

2. Não é óbvio nem para F nem

para O que O realizará A no

decurso normal dos

acontecimentos, por deliberação

própria.

1. O está em condições de realizar

A. F acredita que O esteja em

condições de realizar A.

2. Não é óbvio nem para F nem

para O que O realizará A no

decurso normal dos

acontecimentos, por deliberação

própria.

Sinceridade F quer que O faça A para proveito

do próprio falante.

F deseja que O faça A para proveito

do ouvinte.

Essencial Vale como uma tentativa de

conseguir que O faça A.

Vale como uma tentativa de

conseguir que O faça A.

Quadro 3 – Condições de sucesso dos atos de fala “asserção”, “pergunta total”, “ordem”, “pedido”, adaptado de

Searle (198120 apud COLAMARCO 2009:18), acrescidos de “pergunta parcial”, “exclamação”, “desafio” e

“sugestão”, em que F corresponde ao Falante, O ao ouvinte, P à proposição e A, ao ato.

Por fim, é importante ressaltar que cada ato de fala especificado aqui tem sua força

ilocutória marcada pela entoação no português do Brasil, ou seja, considera-se que a

configuração melódica é responsável inteiramente pela determinação desses diferentes atos

ilocutórios quando o falante profere a frase.

20 SEARLE, J. R. (1981). Os Atos de Fala. Coimbra: Livraria Almeida.

Page 45: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

28

2.4.2 Representação fonológica do sistema entonacional do PB

A preocupação em estabelecer uma relação entre a esfera fonológica e o continuum

fonético da entoação leva muitos pesquisadores a procurarem descrições alternativas da

entoação, que, muitas vezes, acabam modificando a proposta original de alguns modelos

entonacionais. Com o objetivo de acrescentar uma implementação fonética à descrição do

sistema entonacional do PB, Moraes (2008) utiliza a técnica de ressíntese para modificar os

contornos melódicos, a fim de encontrar eventos discretos que os caracterizam. Sendo assim,

o autor aplicou testes de percepção para verificar quais partes do contorno são responsáveis

pelo reconhecimento da curva. Baseado nos resultados dos testes, ele propõe uma

representação fonológica de 14 contornos melódicos na variedade carioca do Português do

Brasil seguindo a metodologia da aplicação de tons do modelo AM. A seguir, os 8 contornos

melódicos selecionados dessa dissertação serão comentados:

Figura 9 – “Renata jogava” dito como asserção (MORAES, 2008)

No que se refere à asserção, concluiu-se que a queda entre a última pretônica e a tônica

final é responsável pelo reconhecimento do significado do contorno, em que a pretônica está

em um nível médio e a tônica em um nível baixo. A asserção é representada por um acento

pré-nuclear /L+H*/, por um acento /H+L*/ na posição nuclear, seguido de um tom de

fronteira /L%/. Este contorno ocupa, de maneira geral, um registro médio na extensão do

falante.

Page 46: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

29

Figura 10 – “Renata jogava” dito como questão total (MORAES, 2008)

No contorno melódico da questão total, a subida na tônica final atribui um acento

nuclear L+H*, com o uso do diacrítico /</ precedendo o H* para sinalizar que o alinhamento

do pico de F0 está na margem direita da sílaba tônica. O acento nuclear da questão total é,

portanto, representado por /L+<H* L%/, que se opõe ao da asserção, além do fato da subida

melódica na primeira sílaba tônica localizar-se em um nível médio, maior do que o observado

nas afirmativas. Constatou-se, ainda, que o acento pré-nuclear não cria a contraste entre a

questão total e a asserção, sendo representado, nesses dois casos, por /L+H*/. Além disso,

esse alinhamento do pico da F0 na sílaba tônica final será responsável por criar o contraste

entre a questão total e o contorno melódico do pedido.

Figura 11 – “Destranca a janela” dito como ordem (MORAES, 2008)

O contorno melódico da ordem apresenta um ataque melódico alto e uma queda nas

sílabas seguintes. A representação fonológica desse contorno inclui a atribuição do acento

/H+L*L%/ na posição nuclear, o mesmo da asserção e da questão parcial, e um acento

/H+H*/ na posição pré-nuclear, o que faz esse contorno se identificar fonologicamente com a

questão parcial e se opor ao padrão da asserção.

Page 47: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

30

Figura 12 – “Destranca a gaveta” dito como desafio (MORAES, 2011)

O contorno melódico do desafio apresenta um ataque em um nível extra-alto seguido de

uma queda da F0 ao longo do enunciado e uma tônica final na posição nuclear localizada em

um nível baixo. Em Moraes (2011) e Moraes e Rilliard (2013), concluiu-se que a oposição

entre a ordem e o desafio está localizada na altura do ataque.

Figura 13 – “Destranca a janela” dito como sugestão (MORAES, 2008)

A sugestão apresenta como característica principal para sua identificação um nível

melódico alto na última sílaba pretônica e um nível médio na tônica final. A representação

fonológica proposta para esse contorno é o acento nuclear /H+¡L*/ com o diacrítico [¡]

precedendo o tom baixo, indicando que há um upstep, isto é o tom baixo na tônica final desse

contorno se situa em um nível mais elevado do que o que se encontra na asserção, por

exemplo. Além disso, para a posição pré-nuclear, a notação proposta é dada pelo acento

bitonal /L+H*/.

Page 48: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

31

Figura 14 – “Destranca a janela” dito como pedido (MORAES, 2008)

O contorno melódico do pedido se caracteriza por um movimento melódico ascendente

na primeira sílaba tônica do enunciado, atingindo um nível alto de registro, uma subida na

sílaba tônica final e uma queda na sílaba postônica. O alinhamento do pico na F0 na última

sílaba tônica desse contorno se localiza no começo da vogal, ou seja, a configuração da F0 é

descendente dentro da última tônica, o que cria um contraste com a subida final da questão

total, já que a configuração intra-silábica da F0 na questão total é ascendente por conta do

alinhamento tardio de seu pico. Na representação fonológica, o acento nuclear é representado

por /L+>H*L%/, tendo o alinhamento antecipado do pico de F0 sinalizado pelo diacrítico />/

que precede esse tom H. Já o acento pré-nuclear alto foi representado pelo tom /H+H*/.

Foneticamente, ainda há outros dois aspectos que ajudam a distinguir esses dois contornos: (i)

a subida final no pedido está em um nível mais baixo que a questão total; (ii) a primeira sílaba

tônica se localiza num nível mais alto no pedido do que a questão total.

Figura 15 – “Como ela jogava” dito como questão parcial (MORAES, 2008)

A questão parcial é caracterizada por um nível melódico extra-alto no morfema

interrogativo QU-, quando a ordem de palavras é não marcada, isto é, com o morfema em

posição inicial, seguido de uma queda gradual nas sílabas seguintes. Na representação

Page 49: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

32

fonológica, esse padrão recebe na posição nuclear o acento bitonal seguido de um tom de

fronteira /H+L*L%/, e para a posição pré-nuclear, o acento bitonal /H+H*/.

Figura 16 – “Como ela jogava” dito como exclamação (MORAES, 2008)

No contorno da exclamação com morfema exclamativo na posição inicial, as sílabas

pretônicas e tônicas finais são responsáveis não só pelo seu reconhecimento perceptivo como

também pela distinção entre esse contorno e o da questão parcial, já que ambos possuem um

nível extra alto no início do contorno e uma queda gradual ao longo do enunciado. Para a

representação fonológica, a notação proposta é /¡L+¡L*L%/, em que o aspecto mais

importante para a distinção entre questão parcial e exclamação está na pretônica final mais

baixa na exclamação, e na tônica final, mais alta na exclamação.

Apesar dessa descrição da entoação do português do Brasil na variante carioca com o

uso do sistema ToBI apresentar resultados consistentes através de testes perceptivos, em

Moraes (2011), o autor sugere que os contornos melódicos dos atos diretivos, como a ordem,

o desafio, entre outros, talvez precisem de três níveis de referência no registro (alto, médio e

baixo) para distingui-los, o que não é previsto pela descrição no modelo AM.

***

Em artigo recente, Lucente (2014) critica o uso do sistema ToBI (Tone and Break

Indices), proposto por Silverman et al. (1992), para a descrição entonacional do PB,

argumentando que esse sistema de notação não abarca certas características fonéticas das

curvas de F0 que perceptivamente são relevantes para o reconhecimento desses contornos

(LUCENTE, 2014: 92). A autora propõe uma abordagem fonética na descrição da entoação

do Português do Brasil com vistas a sua representação fonológica chamada de sistema DaTo

(Dynamic Tones). Essa nova abordagem, que traz uma implementação fonética, se concentra

na “convergência de aspectos fonéticos (velocidade, intensidade, altura, duração) da curva

Page 50: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

33

entonacional a fim de atingir um alvo ou desempenhar uma tarefa linguística por meio de

contornos entonacionais, da gama de variação tonal e do alinhamento específico com o

material linguístico” (LUCENTE, 2014: 85).

Lucente (2014) apresenta as diferenças entre essa nova abordagem e a do sistema ToBI,

as quais incluem: (i) o fato de que o “contorno dinâmico na notação DaTo não se refere a

adição de movimentos com diferentes alturas de F0” (2014:87), já que cada movimento de F0,

seja uma subida ou seja uma descida, é responsável por criar condições para que outro

movimento ocorra; (ii) nessa abordagem, “o alinhamento específico entre contornos

dinâmicos e o material linguístico é uma questão central[...]” (2014: 88), enquanto o

alinhamento entonacional no sistema ToBI é feito por um ponto abstrato em que o ponto

específico é decidido por implementações fonéticas; (iii) “existe uma necessidade de

diferenciar contornos entoacionais não somente pela forma da curva, mas também pela

diferença de gama tonal” (2014: 92).

Segundo Lucente (2014: 89), “os contornos dinâmicos [...] são movimentos contínuos

de F0, que percorrem a transição a um ponto a outro na curva entoacional até atingir o seu

alvo”. É importante notar que os movimentos de transição carregam a informação tonal que

antecede e segue seu alvo. Nesse sentido, no contorno dinâmico, as transições são relevantes,

que até então eram consideradas pela teoria AM como transições preenchedoras entre eventos

estáticos. No sistema DaTo, os contornos se dividem em ascendentes, descendentes e níveis

de fronteira, e são representados, como no modelo AM, pelos rótulos H (high) e L (Low). No

entanto, esses contornos são descritos em relação ao “seu padrão de movimento e ao

alinhamento com as sílabas tônicas” (2014:89), partindo, em primeiro lugar, da percepção da

proeminência e posteriormente da inspeção visual da curva entoacional para receber o rótulo

mais adequado.

Em suma, esse sistema visa representar fonologicamente a entoação do PB com base em

medidas fonéticas e na percepção do ouvinte. A autora conclui seu artigo dizendo que,

enquanto no sistema ToBI faltam medidas fonéticas para o uso de rótulos como acento tonal

(pitch accent), acento frasal (phrase accent) e tons de fronteira, o que faz essa notação ser

exclusivamente fonológica, o sistema DaTo implementa a análise fonética ao sistema por

meio do uso de programas computacionais.

Page 51: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

34

CAPÍTULO 3. MÉTODO

Neste capítulo, os métodos utilizados para a elaboração dessa pesquisa são descritos. Em 3.1,

o modo como o corpus foi elaborado; em 3.2, uma breve descrição do perfil dos informantes;

em 3.3, há uma seção, 3.3.1, em que são mostrados o processo de estilização close copy dos 8

contornos melódicos do PB, e outra, 3.3.2, que indica quais foram as variáveis manipuladas

em cada contorno melódico no processo de estilização equivalent copy; em 3.4, explica-se

como se deu a elaboração do experimento de percepção; em 3.5, como foi feita a análise

estatística aplicada aos resultados.

3.1 Corpus

Esta pesquisa selecionou um grupo de contornos melódicos variados do sistema

entonacional do português brasileiro. Os enunciados selecionados para esta pesquisa possuem

6 sílabas (2 sequências de sílabas pretônica–tônica–postônica) para observar o

comportamento da F0 nos acentos tanto no início quanto no final dos contornos melódicos,

exceto para a frase usada na questão parcial e exclamação, que se inicia por sílaba tônica.

Optou-se pela elaboração de um corpus controlado que contemplasse essa variedade de

contornos melódicos do PB, no qual a interferência do conteúdo verbal do enunciado fosse

mínima, de tal sorte que pudesse, o mesmo enunciado, ser dito pelos informantes de maneiras

diferentes, isto é, realizando distintos atos de fala. Dessa forma, o corpus desta dissertação é

classificado como fala atuada, o que significa que a produção dos enunciados foi feita em

laboratório no intuito de se recriar como determinado enunciado seria emitido em uma

situação real de fala.

Por isso, em primeiro lugar, as frases elaboradas para o corpus teriam que conter o

conteúdo proposicional que fosse adequado para os atos ilocutórios selecionados nesta

dissertação, a saber: a asserção, a questão total, a ordem, o desafio, o pedido, a sugestão, a

questão parcial e a exclamação. Essa é uma maneira de garantir que a interpretação dos

enunciados feita pelos ouvintes estará sendo guiada pela entoação e não pelo conteúdo lexical

do enunciado.

Marina cantava – Esta frase foi dita como asserção e questão total.

Conversa com ele – Esta frase foi dita como ordem, desafio, pedido e sugestão.

Como você sabe – Esta frase foi dita como questão parcial e exclamação.

Essas informações foram esquematizadas no quadro a seguir:

Page 52: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

35

Ato

ilocutório

Frase Padrão silábico Total de enunciados

gravados (4 informantes)

Asserção

Questão total

Marina

cantava

cvCV21

cv cvCVcv

8

Ordem

Desafio

Pedido

Sugestão

Conversa com

ele

cvCVcv cvcVcv

16

Questão

parcial

Exclamação

Como você

sabe

CVcv cvCV CVcv 8

Total 8 3 2 32

Quadro 4 – Constituição do corpus - tipos de enunciados, frases e tonicidade das sílabas.

Durante o processo de gravação dos enunciados, os contextos pragmáticos de cada

ilocução foram apresentados para os informantes no intuito de fazer com que eles

reproduzissem o contorno entonacional dos 8 atos ilocutórios. Após o treino, o informante

repetiu três vezes o mesmo padrão entonacional e passou para o próximo contorno na

sequência criada. Ao todo, os 4 informantes gravaram 8 enunciados, o que resultou em 32

enunciados. As gravações foram feitas em um laboratório isolado acusticamente, com o

microfone Shure SM48 em mídia digital, utilizando o programa Sound Forge (versão 7.0). Os

arquivos sonoros foram salvos com a extensão .wav, mono, 16 bits e 22.050Hz.

3.2 Os informantes

Os enunciados foram produzidos por 4 informantes, dois masculinos (INF 1 e INF 3) e

dois femininos (INF 2 e INF 4), todos são falantes nativos do Português Brasileiro em sua

variedade dialetal do Rio de Janeiro. Além disso, todos os informantes possuem nível

universitário e estão na faixa etária adulta (entre 20 e 59 anos de idade). Os informantes desta

pesquisa estão acostumados à gravação de corpora para pesquisas em fonética acústica,

portanto, eles souberam desempenhar a tarefa apropriadamente.

21 CV em caixa alta significa sílaba tônica.

Page 53: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

36

3.3 Estilização close copy

Hermes (2006) traça um panorama de todos os métodos de estilização para a pesquisa

empírica prosódica e diz que muitos desses métodos foram inspirados pela proposta da Escola

Holandesa, ou seja, pela orientação de reduzir a curva de F0 de enunciados falados a um

número reduzido de linhas retas. Ao resultado do processo, dá-se o nome de contorno

melódico estilizado, que, de maneira ideal, possui o menor número de linhas retas possível. A

ideia que sustenta esse procedimento é a eliminação dos detalhes do contorno melódico que

não participam da comunicação para obter, portanto, apenas os constituintes essenciais dos

padrões entonacionais do enunciado que contenham propriedades perceptivas. Com isso,

pode-se chegar à estrutura da entoação na fala natural, pois o que não é essencial é eliminado,

e, por outro lado, as propriedades essenciais do contorno permanecem intactas.

Segundo Odé (1989), as estilizações são resultado de um trabalho experimental e

exaustivo que inclui a tomada de decisão do experimentador, já que a discriminação de um

movimento melódico ser relevante ou não para a percepção é feita por ele. O trabalho inicial

do experimentador começa com a curva representada na tela do computador (ODÉ, 1989:18).

No processo de estilização close copy desta dissertação, o programa Praat (BOERSMA;

WEENINK, 2013) foi usado com o objetivo não só de analisar as curvas de F0 acusticamente,

mas também de manipular a curva melódica dos enunciados gravados. Para se fazer a

estilização dos contornos, utilizou-se primeiramente a função to manipulation do programa

Praat, que cria uma versão ressintetizada do som original representada por segmentos de retas

e pontos de inflexão, como ilustra a figura abaixo:

Figura 17 – Enunciado “Mariana cantava” dito como asserção pelo INF 2 na função to manipulation

no programa Praat

Page 54: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

37

Em seguida, inicia-se a estilização close copy. O comando picth > stylize pitch> 2 ST foi

utilizado para reduzir o grande número de pontos de inflexão ao longo do contorno melódico

ressintetizado. O resultado pode ser visto na figura abaixo:

Figura 18 – Enunciado “Mariana cantava” dito como asserção pelo INF 2 depois do uso do coamando “stylize

pitch >2 ST” no programa Praat

A partir dessa fase, o trabalho do experimentor é manual e sua tarefa é retirar possíveis

pontos de inflexão que não afetam a igualdade perceptiva da close copy e do contorno original

através do comando CTRL+ALT+T. Quando um ponto de inflexão é um candidato a ser

retirado, o critério utilizado neste momento é o da comparação auditiva da sílaba, onde se

situava esse ponto na versão ressintetizada, que agora está sem ele, e dessa mesma sílaba na

versão original; se o ponto de inflexão retirado não modificar a igualdade perceptiva entre o

contorno estilizado e o contorno original, ele pode e deve ser excluído. Ao se retirar um

ponto, se fazem frequentemente pequenos ajustes nos demais pontos, de forma a garantir uma

máxima coincidência entre a curva estilizada (em verde) e a original, que se pode ver em cor

cinza sob a curva estilizada. Nesta dissertação, a decisão da eliminação manual dos pontos de

inflexão foi tomada através do consenso entre dois juízes (a autora e o orientador). Esse

procedimento, cujo resultado pode ser visto na seção 3.3.1, se repete até se chegar ao menor

número de pontos de inflexão possível no contorno melódico de maneira que se um desses

pontos for retirado, a igualdade perceptiva da close copy será danificada em relação ao

contorno original. Posteriormente, a aceitabilidade das estilizações é verificada com ouvintes

nativos nos experimentos de percepção para validar a igualdade perceptiva dos contornos

Page 55: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

38

originais e suas respectivas close copies (ODÉ, 1989:14). Em suma, o protocolo utilizado no

processo de estilização close copy é constituído dos seguintes passos: (i) uso da função de

manipulação (to manipulation) da curva melódica na ferramenta Praat, (ii) diminuição do

número de pontos de inflexão com o auxílio do comando “stylize pitch”, (iii) retirada manual

dos pontos de inflexão restantes que ainda não afetam a igualdade perceptiva através da

comparação entre a sílaba que teve o ponto de inflexão retirado na versão estilizada e a da

versão original. O corpus de 8 contornos melódicos originais desta dissertação foi descrito a

partir das close copies produzidas; pois, assim, a possibilidade de se criar “boas” hipóteses

para a estandardização dos contornos aumenta, já que esta será a próxima fase de estilização.

Para facilitar a descrição das close copies produzidas para os 8 atos ilocutórios, o enunciado

foi dividido em segmento por segmento:

M A R I N A C AN T A V A

C1 V1 C2 V2 C3 V3 C4 V4 C5 V5 C6 V6

Quadro 5 – Enunciado emitido como asserção e questão total

C ON V E R S A C OM E L E

C1 V1 C2 V2 C3 C4 V3 C5 V4 V5 C6 V6

Quadro 6 – Enunciado emitido como ordem, desafio, pedido e sugestão

C O M O V O C E S A B E

C1 V1 C2 V2 C3 V3 C4 V4 C5 V5 C6 V6

Quadro 7 – Enunciado emitido como questão parcial e exclamação

Em relação aos valores de F0 dos contornos melódicos, é importante mostrar os níveis

de referência no registro da extensão melódica22

de cada informante:

INF 1 INF 2 INF 3 INF 4

Registro baixo 65.66Hz 163.76Hz 95.85Hz 122.22Hz

Registro alto 302.74Hz 582.02Hz 311.25Hz 366.69Hz

Quadro 8 – Nível de referência alto e baixo no registro dos 4 informantes

22 Esses níveis definem o limite inferior e superior no qual a F0 varia na extensão do registro modal do falante.

Page 56: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

39

3.3.1 Asserção

O primeiro parâmetro acústico analisado nos contornos originais foi a média global do

nível melódico do contorno. Essa média foi extraída no Praat em Hertz (Hz) e em semitons

(ST), tomando-se como referência o nível de 100Hz:

Informante INF1 INF 2 INF 3 INF 4

Nível melódico

médio global

94.97Hz

-1.30ST

200.24

11.86ST

123.40Hz

3.37 ST

179.76Hz

9.98ST

Tabela 1 – Nível melódico médio global da asserção por informante

m a r i n a c an t a v a

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re

10

0 H

z)

Time (s)

0 1.197

0

1-João_asserção-Marina_Cantava

m a r i n a c an t a v a

-4.98

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re 1

00

Hz)

Time (s)

0 1.206

0

1-Manu-asserção-Marina_cantava

m a r i n a c an t a v a

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re 1

00

Hz)

Time (s)

0 1.138

0.000296848223

1-Alex-asserção-Marina_cantava

m a r i n a c an t a v a

-4.98

31.02

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re

10

0 H

z)

Time (s)

0 1.531

0

1-Bia-asserção-Marina_cantava

Figura 19 – Contornos originais da asserção “Marina cantava” em semitom tomando como referência o nível de 100

Hz. Informante 1: canto esquerdo superior; informante 2: canto direito superior; informante 3: canto esquerdo inferior e

informante 4: canto direito inferior.

Page 57: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

40

O contorno melódico da asserção se caracteriza por apresentar um movimento

ascendente seguido de um movimento descendente em um nível de referência baixo no

registro. De maneira geral, nota-se que há um movimento ascendente se iniciando desde a C1

até o final da V4 nos INF 3 e 4; já no INF1, esse movimento finaliza no início da C4, e,

finalmente, no INF 2, antes do movimento ascendente, há um movimento plano que dá lugar à

subida que se inicia na C4 e finaliza na V4. Sendo assim, a parte do contorno que apresenta

mais variabilidade é o término do movimento ascendente, pois, nos INF 2, 3 e 4, o movimento

ascendente atinge seu pico no final da V4; por outro lado, no INF 1, o pico do mesmo

movimento está localizado na C4.

A partir desse pico, um movimento descendente se estende até a porção intermediária da

V5, seguido de um movimento plano na C6 e V6 nos INF 1, 2 e 4 e um movimento

ligeiramente ascendente sobre as C6 e V6 no INF 3.

Time (s)

0 1.1970

300

Fre

quency (

Hz)

m a r i n a c an t a v a

Time (s)

0 1.197

Time (s)

0 1.2060

400

Fre

quency (

Hz)

m a r i n a c an t a v a

Time (s)

0 1.206

Time (s)

0 1.1380

300

Fre

quen

cy (

Hz)

m a r i n a c an t a v a

Time (s)

0 1.138

m a r i n a c an t a v a

Time (s)

0 1.138

Time (s)

0 1.5310

300

Fre

quency (

Hz)

m a r i n a c an t a v a

Time (s)

0 1.531

Figura 20 – Close copies da asserção “Marina cantava” – informante 1 (preto); informante 2 (vermelho); informante 3

(azul) e informante 4 (verde)

Page 58: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

41

3.3.2 Questão total

Informante INF1 INF 2 INF 3 INF 4

Nível melódico

médio global

100.63Hz

-0.15ST

238.43Hz

14.83ST

128.67Hz

4.11ST

189.76Hz

10.88ST

Tabela 2 – Nível melódico médio global da questão total por informante

m a r i n a c an t a v a

-4.98

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re

10

0 H

z)

Time (s)

0 1.377

0

2-João_Questão_total_1_rept

m a r i n a c an t a v a

-4.98

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re

10

0 H

z)

Time (s)

0 1.351

0

2-Manu-Questão_total_Marina_cantava

m a r i n a c an t a v a

-4.98

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re

10

0 H

z)

Time (s)

0 1.028

0

2-Alex-questãototal-marina_cantava

m a r i n a c an t a v a

-4.98

32.41

0

12

24P

itch

(se

mit

ones

re

10

0 H

z)

Time (s)

0 1.163

0

2-Bia_questão_total-Marina_cantava

Figura 21 – Contornos originais da questão total “Marina cantava?” em semitom tomando como referência o nível de

100 Hz. Informante 1: canto esquerdo superior; informante 2: canto direito superior; informante 3: canto esquerdo

inferior e informante 4: canto direito inferior.

Page 59: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

42

O contorno melódico da questão total apresenta dois movimentos ascendentes–

descendentes: um no início e outro no final do contorno. No INF 1, há um movimento

descendente antes da primeira subida sobre as C1 e V1, já nos INF 2, 3 e 4, o movimento

ascendente se inicia a partir da C1. O pico desse movimento ascendente apresenta maior

variabilidade, já que, nos INF 1 ele está na margem esquerda da V2; no INF 2, na margem

direita da V2; no INF 3, no final da C3, e no INF 4, no início da C4. A partir desse ponto de

inflexão, inicia-se o primeiro movimento descendente que se estende até a porção

intermediária da V4 nos INF 1 e 3; já no INF 2, o final da queda está na porção final dessa

mesma vogal; e no INF 4, praticamente no começo de C5. Nos três casos, o final desse

movimento descendente atinge o nível mais baixo de F0 no enunciado.

A partir desse ponto de inflexão, tem-se início o segundo movimento ascendente que

atinge seu pico com alinhamento na margem direita da V5 nos 4 informantes. Por fim, há

movimento descendente que se inicia ainda no final da V5 e se estende até a V6. De maneira

geral, pode se notar que a segunda subida foi mais ampla sobre o último vocábulo na parte

final do contorno para os INF 1, 2 e 3, o oposto do que ocorre no INF 4.

Time (s)

0 1.3770

300

Fre

quency (

Hz)

m a r i n a c an t a v a

Time (s)

0 1.377

Time (s)

0 1.3510

400

Fre

quency (

Hz)

m a r i n a c an t a v a

Time (s)

0 1.351

Time (s)

0 1.0280

300

Fre

quency (

Hz)

m a r i n a c an t a v a

Time (s)

0 1.028

Time (s)

0 1.2250

400

Fre

quency (

Hz)

m a r i n a c an t a v a

Time (s)

0 1.225

Figura 22 – Close copies da questão total “Marina cantava?”– informante 1 (preto); informante 2 (vermelho);

informante 3 (azul) e informante 4 (verde)

Page 60: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

43

3.3.3 Ordem

Tabela 3 – Nível melódico médio global da ordem por informante

Informante INF1 INF 2 INF 3 INF 4

Nível melódico

médio global

102.98Hz

0.18ST

220.93Hz

13.51ST

147.80Hz

6.52ST

178.10Hz

9.84ST

c on v e r s a c om e l e

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re 1

00

Hz)

Time (s)

0 0.9171

0

3-João-Ordem-conversa_com_ele

c on v e r s a c om e l e

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re 1

00

Hz)

Time (s)

0 1.304

0.00034028279

3-Manu-Ordem-Conversa_com_ele

c on v e r s a c om e l e

-4.98

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re

10

0 H

z)

Time (s)

0 1.126

0

3-Alex-ordem-conversa_com_ele

c on v e r s a c om e l e

-4.98

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re 1

00

Hz)

Time (s)

0 1.31

0

3-Bia-Ordem-Conversa_com_ele

Figura 23 – Contornos originais da ordem “Conversa com ele” em semitom tomando como referência o nível de 100

Hz. Informante 1: canto esquerdo superior; informante 2: canto direito superior; informante 3: canto esquerdo inferior e

informante 4: canto direito inferior.

Page 61: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

44

No contorno melódico da ordem, identifica-se, de maneira geral, um movimento

descendente na C1 e V1, seguido de um movimento ascendente na C2 e V2, que logo em

seguida pode ou não formar um platô baixo, e, por fim, um movimento descendente final. Nos

INF 1, 2 e 3, o contorno se inicia com um movimento ligeiramente descendente na C1 e V1,

seguido de um movimento ascendente na C2 e V2 com o pico localizado logo no início da

V2. Somente no INF 4, há um movimento ligeiramente ascendente desde o início do contorno

que atinge o pico também no começo da V2. Este movimento ascendente que começa na C2 e

V2 permanece em platô até o começo da C5 nos INF 1, 2 e 3, exceto no INF 4. Esse platô

formado sobre a C2 e C3 é levemente ascendente no INF 2 e descendente em INF 3.

Em seguida, há uma queda que se inicia na V4, que é mais marcada em INF 4 do que

nos outros informantes, e que se estende até o final do enunciado. Nota-se que no INF 2, há

um breve platô sobre a V5 que interrompe a queda, mas, logo em seguida, inicia-se um novo

movimento descendente. Por fim, é importante notar que, ao contrário do que ocorre na

Time (s)

0 0.91710

300

Fre

quency (

Hz)

c on v e r s a c om e l e

Time (s)

0 0.9171

Time (s)

0 1.3040

400

Fre

quency (

Hz)

c on v e r s a c om e l e

Time (s)

0 1.304

Time (s)

0 1.1170

300

Fre

quency (

Hz)

c on v e r s a c om e l e

Time (s)

0 1.126

Time (s)

0 1.3130

400

Fre

quency (

Hz)

c on v e r s a c om e l e

Time (s)

0 1.31

Figura 24 – Close copies da ordem “Conversa com ele” – informante 1 (preto); informante 2 (vermelho);

informante 3 (azul) e informante 4 (verde)

Page 62: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

45

asserção, que tem um movimento ascendente nas primeiras sílabas (particularmente a tônica e

a postônica), na ordem, a F0 ou configura um platô ou um movimento descendente.

3.3.4 Desafio

Informante INF1 INF 2 INF 3 INF 4

Nível melódico

médio global

151.05Hz

5.46ST

322.31Hz

19.11ST

209.85Hz

11.02ST

287.83Hz

17.26ST

Tabela 4 – Nível melódico médio global do desafio por informante

c on v e r s a c om e l e

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re 1

00

Hz)

Time (s)

0 1.076

0

4-João_Desafio_conversa_com_ele

c on v e r s a c om e l e

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re

10

0 H

z)

Time (s)

0 1.358

0.000354362641

4-Manu-Desafio-Manu-conversacom_ele

c on v e r s a c om e l e

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re

10

0 H

z)

Time (s)

0 1.207

0

4-Alex-desafio-conversa_com_ele

c on v e r s a c om e l e

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re

10

0 H

z)

Time (s)

0 1.141

0

4-Bia-Desafio-conversa_com_ele

Figura 25 – Contornos originais do desafio “Conversa com ele” em semitom tomando como referência o nível

de 100 Hz. Informante 1: canto esquerdo superior; informante 2: canto direito superior; informante 3: canto

esquerdo inferior e informante 4: canto direito inferior.

Page 63: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

46

No contorno melódico do desafio, há um movimento ascendente amplo que atinge seu

pico em um nível de referência alto no registro, seguido de uma queda na última sílaba tônica.

No início do contorno, tem-se o início do movimento ascendente no INF 1, um movimento

plano no INF 2 e nos INF 3 e 4, há um movimento ligeiramente descendente antes desse

movimento ascendente amplo. O pico desse movimento ascendente amplo apresenta uma

variabilidade quanto à sílaba em que ele se localiza, já que nos INF 1 e 4 esse pico está na

primeira porção da V2, já nos INF 2 e 3, o pico é atingido na C4.

É importante notar que entre as C4 e V4, um platô alto aparece nos INF 2, 3 e 4. No

entanto, no INF 1, há outra forma para esse contorno, já que logo após o pico do movimento

ascendente no final da V2, há um único movimento descendente até o fim do enunciado.

Time (s)

0 1.3590

350F

req

uency (

Hz)

c on v e r s a c om e l e

Time (s)

0 1.359

Time (s)

0 1.3580

600

Fre

quency (

Hz)

c on v e r s a c om e l e

Time (s)

0 1.358

Time (s)

0 1.2070

400

Fre

quen

cy (

Hz)

c on v e r s a c om e l e

Time (s)

0 1.207

Time (s)

0 1.0620

600

Fre

quen

cy (

Hz)

c on v e r s a c om e l e

Time (s)

0 1.062

Figura 26 – Close copies do desafio “Conversa com ele” – informante 1 (preto); informante 2 (vermelho);

informante 3 (azul) e informante 4 (verde)

Page 64: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

47

3.3.5 Pedido

Informante INF1 INF 2 INF 3 INF 4

Nível melódico

médio global

118.34Hz

2.20ST

293.44Hz

17.37ST

185.97Hz

9.12ST

226.62Hz

13.47ST

Tabela 5 – Nível melódico médio global do pedido por informante

c on v e r s a c om e l e

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re

10

0 H

z)

Time (s)

0 1.06

0

5-João_Pedido_conversa_com_ele

c on v e r s a c om e l e

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re 1

00

Hz)

Time (s)

0 1.422

0

5-Manu-Pedido-Conversa_com_ele

c on v e r s a c om e l e

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re 1

00

Hz)

Time (s)

0 1.222

0

5-Alex-pedido-Conversa_com_ele

c on v e r s a c om e l e

0

24

6

12

18P

itch (

sem

itones

re 1

00

Hz)

Time (s)

0 1.629

0.000169303446

5-Bia-Pedido-Conversa_com_ele

Figura 27 – Contornos originais do pedido “Conversa com ele” em semitom tomando como referência o nível de

100 Hz. Informante 1: canto esquerdo superior; informante 2: canto direito superior; informante 3: canto

esquerdo inferior e informante 4: canto direito inferior.

Page 65: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

48

O contorno melódico do pedido se caracteriza como um padrão com dois movimentos

ascendentes-descendentes, em que a primeira subida é mais ampla do que a segunda. Nos INF

1 e 2, há um movimento ascendente desde o início do contorno na C1 que atinge seu pico no

início da V2. Já nos INF 3 e 4, há um movimento ligeiramente descendente antes do

movimento ascendente que atinge o pico no mesmo local da V2 que os outros dois

informantes. Sendo assim, pode-se afirmar que a primeira subida, que é muito ampla, possui

um pico que se localiza na primeira parte da vogal tônica, o que resulta em uma forma

descendente da F0 sobre essa vogal. Em seguida, há um movimento descendente que se

estende até o final da C3 em INF 1, o início de C5 nos INF 2 e 3 ou o final da C3 no INF 4.

Já o segundo movimento ascendente começa na V4 nos INF 1 e 2, no final da V3 no

INF 3 e final da C3 no INF 4, atingindo seu pico na primeira porção da V5, o que resulta em

um movimento descendente dentro da última vogal tônica; sendo o oposto do que acontece na

questão total. Esse movimento descendente se estende até a V6 no INF 1, já nos INF 2, 3 e 4,

Time (s)

0 1.060

300

Fre

quency (

Hz)

c on v e r s a c om e l e

Time (s)

0 1.06

Time (s)

0 1.4220

650

Fre

quency (

Hz)

c on v e r s a c om e l e

Time (s)

0 1.422

Time (s)

0 1.2220

400

Fre

quency (

Hz)

c on v e r s a c om e l e

Time (s)

0 1.222

Time (s)

0 1.6290

400

Fre

quency (

Hz)

c on v e r s a c om e l e

Time (s)

0 1.629

Figura 28 – Close copies do pedido “Conversa com ele” – informante 1 (preto); informante 2 (vermelho);

informante 3 (azul) e informante 4 (verde)

Page 66: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

49

esse movimento termina no final da V5, dando lugar a um movimento ligeiramente

ascendente nas C6 e V6 dos INF 2 e 3; e um movimento plano nas C6 e V6 do INF 4.

3.3.6 Sugestão

Informante INF1 INF 2 INF 3 INF 4

Nível melódico

médio global

128.16Hz

3.78ST

254.34Hz

15.70ST

175.55Hz

8.26ST

268.80Hz

16.57ST

Tabela 6 – Nível melódico médio global da sugestão por informante

c on v e r s a c om e l e

-12

31.02

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re

10

0 H

z)

Time (s)

0 1.171

1.16972214

6-João_Sugestão-conversa_com_ele

c on v e r s a c om e l e

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re 1

00

Hz)

Time (s)

0 1.292

0

6-Manu-sugestão-conversa_com_ele

c on v e r s a c om e l e

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re 1

00

Hz)

Time (s)

0 1.04

0

6-Alex-Sugestão-conversa_com_ele

c on v e r s a c om e l e

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re 1

00

Hz)

Time (s)

0 1.183

0

6-Bia-Sugestão-Conversa_com_ele

Figura 29 – Contornos originais da sugestão “Conversa com ele” em semitom tomando como referência o nível de

100 Hz. Informante 1: canto esquerdo superior; informante 2: canto direito superior; informante 3: canto esquerdo

inferior e informante 4: canto direito inferior.

Page 67: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

50

O contorno melódico da sugestão pode ser definido como um padrão descendente-

ascendente-descendente. O primeiro movimento descendente que começa em C1 pode se

estender até a C2 como no INF 4, ou até a C3 como no INF 1, ou até a C4 como nos INF 2 e

3. Este movimento é seguido de um movimento ascendente amplo que atinge seu pico ou na

porção inicial da V4 como nos INF 1 e 4 ou no início da V5 como nos INF 2 e 3, dando lugar

a uma queda que começa dentro da última sílaba tônica.

No que se refere ao movimento descendente final, enquanto no INF 1, esse movimento

descendente se estende até o final do enunciado, no INF 3, há um movimento ligeiramente

ascendente nas C6 e V6, e, por fim, nos INF 2 e 4, há um pequeno platô que começa na

porção final da V5 e se estende até o início (INF 4) ou final (INF 2) da C6, seguido de um

novo movimento descendente na V6.

Time (s)

0 1.1710

350

Fre

quency (

Hz)

c on v e r s a c om e l e

Time (s)

0 1.171

Time (s)

0 1.2920

400

Fre

quency (

Hz)

c on v e r s a c om e l e

Time (s)

0 1.292

Time (s)

0 1.040

400

Fre

quen

cy (

Hz)

c on v e r s a c om e l e

Time (s)

0 1.04

Time (s)

0 1.1510

400

Fre

quency (

Hz)

c on v e r s a c om e l e

Time (s)

0 1.151

Figura 30 – Close copies da sugestão “Conversa com ele” – informante 1 (preto); informante 2 (vermelho);

informante 3 (azul) e informante 4 (verde)

Page 68: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

51

3.3.7 Questão parcial

Informante INF1 INF 2 INF 3 INF 4

Nível melódico

médio global

169.23Hz

6.43ST

308.91Hz

18.33ST

195.72Hz

9.78ST

198.16Hz

10.88ST

Tabela 7 – Nível melódico médio global da questão parcial por informante

c o m o v o c ê s a b e

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones r

e 1

00

Hz)

Time (s)

0 0.993

0

7-João_Questão_parcial_como_você_sabe

c o m o v o c ê s a b e

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re 1

00

Hz)

Time (s)

0 1.288

0

7-Manu-Questão_parcial-Como_você_sabe

c o m o v o c ê s a b e

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re

10

0 H

z)

Time (s)

0 1.257

0

7-Alex-questão_parcial-como_você_sabe

c o m o v o c ê s a b e

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re

10

0 H

z)

Time (s)

0 1.193

0

7-Bia-Questão_parcial-Como_você_sabe

Figura 31 – Contornos originais da questão parcial “Como você sabe?” em semitom tomando como referência o

nível de 100 Hz. Informante 1: canto esquerdo superior; informante 2: canto direito superior; informante 3: canto

esquerdo inferior e informante 4: canto direito inferior.

Page 69: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

52

No contorno melódico da questão parcial, nota-se que há uma queda gradual que

começa em um nível de referência alto no registro e se estende ao longo de todo o enunciado,

terminando em um nível de referência baixo no registro.

Nota-se ainda que, nos INF 1, 3 e 4, há um platô de curta duração sobre C1 e V1. Em

seguida, inicia-se o movimento descendente que começa na V2 e se estende ao longo de todo

o enunciado. Somente no INF 2, há um movimento ascendente em C1, V1, e C2, dando lugar

a um platô que se forma entre a V2 e a C5. O movimento descendente final no INF 2 ocorre

no início da V5 e se estende até o final do enunciado.

Time (s)

0 0.9930

350

Fre

quen

cy (

Hz)

c o m o v o c ê s a b e

Time (s)

0 0.993

Time (s)

0 1.2880

450

Fre

quen

cy (

Hz)

c o m o v o c ê s a b e

Time (s)

0 1.288

Time (s)

0 1.2570

350

Fre

quency (

Hz)

c o m o v o c ê s a b e

Time (s)

0 1.257

Time (s)

0 1.1930

450

Fre

quency (

Hz)

c o m o v o c ê s a b e

Time (s)

0 1.193

Figura 32 – Close copies da questão parcial “Como você sabe?” – informante 1 (preto); informante 2

(vermelho); informante 3 (azul) e informante 4 (verde).

Page 70: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

53

3.3.8 Exclamação

Informante INF1 INF 2 INF 3 INF 4

Nível melódico

médio global

152.03Hz

6.25ST

298Hz

18.02ST

162.47Hz

7.74ST

259.37Hz

15.90ST

Tabela 8 – Nível melódico médio global da exclamação por informante

c o m o v o c ê s a b e

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re 1

00

Hz)

Time (s)

0 1.329

0

8-João-exclamação-comovocêsabe

c o m o v o c ê s a b e

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re

10

0 H

z)

Time (s)

0 1.509

0

8-Manu-Exclamação-Como_você_sabe

c o m o v o c ê s a b e

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re 1

00

Hz)

Time (s)

0 1.549

0

8-Alex-Exclamação-como_você_sabe

c o m o v o c ê s a b e

-12

32.41

0

12

24

Pit

ch (

sem

itones

re 1

00

Hz)

Time (s)

0 1.384

0

8-Exclamação_Bia-como_você_sabe

Figura 33 – Contornos originais da exclamação “Como você sabe!” em semitom tomando como referência o nível

de 100 Hz. Informante 1: canto esquerdo superior; informante 2: canto direito superior; informante 3: canto

esquerdo inferior e informante 4: canto direito inferior.

Page 71: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

54

A exclamação pode ser caracterizada, de maneira geral, por um duplo movimento

ascendente-descendente. No início do contorno melódico, há um movimento ascendente com

pico na V4 nos INF 1, 3 e 4; diferentemente do INF 2, já que após o movimento ascendente

sobre a C1, V1, C2 e V2, forma-se um platô que se estende entre o final da V2 até a porção

final da V4.

Por fim, há uma queda que termina na porção inicial da V5, dando lugar a um

movimento ascendente que atinge seu pico na margem direita dessa mesma sílaba, seguido de

uma nova queda sobre as C6 e V6 em todos os informantes.

Time (s)

0 1.3290

300

Fre

quen

cy (

Hz)

c o m o v o c ê s a b e

Time (s)

0 1.329

Time (s)

0 1.5090

600

Fre

quen

cy (

Hz)

c o m o v o c ê s a b e

Time (s)

0 1.509

Time (s)

0 1.4390

300

Fre

quency (

Hz)

c o m o v o c ê s a b e

Time (s)

0 1.439

Time (s)

0 1.3840

400

Fre

quency (

Hz)

c o m o v o c ê s a b e

Time (s)

0 1.384

Figura 34 – Close copies da exclamação “Como você sabe!” – informante 1 (preto); informante 2 (vermelho);

informante 3 (azul) e informante 4 (verde)

Page 72: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

55

3.4 Estilização equivalent copy

No processo de estilização denominado equivalent copy (cópia equivalente), o objetivo

é chegar a uma curva padrão dos contornos analisados. Como já foi exposto anteriormente, os

parâmetros acústicos propostos pelo modelo incluem a direção do movimento, a extensão do

movimento, o alinhamento e o campo tonal para se chegar a uma estandardização dos

movimentos melódicos. Além disso, Odé (1989: 34) diz que o processo de estilização da

cópia equivalente busca definir os limites da tolerância perceptiva e defende que “[...] a

equivalência perceptiva de duas configurações de movimentos é percebida em um nível mais

alto de abstração” 23

(ODÉ, 1989: 37). A autora ainda declara sobre o processo de

estandardização que:

Fazer movimentos melódicos padronizados pode ser útil para sistemas de texto-fala, ou

para o ensino da entoação. Na descrição padronizada dos movimentos melódicos,

movimentos equivalentes perceptivamente são modificados de tal modo que deles resulta

um só protótipo (ODÉ, 1989:38, tradução nossa)24.

Como as alterações foram feitas nas curvas originais de maneira gradativa, os contornos

alternativos se tornaram mais ou menos parecidos com o contorno original. Por conta disso, é

importante avaliar se o contorno modificado pode ser aceito como um representante de um

determinado ato de fala, sendo, portanto, possível reconhecer o valor funcional desse ato;

nesse sentido, a aceitabilidade do estímulo está relacionada a um alto grau de proximidade

com a produção natural de um contorno melódico em termos de reconhecimento do seu valor

funcional, mas também à qualidade do som; por isso, a naturalidade do estímulo gerado no

processo de ressíntese também é um critério importante para a avaliação dos ouvintes.

As variáveis selecionadas para essa segunda fase de estilização foram baseadas nos 4

parâmetros acústicos da teoria, no entanto a superposição das close copies dos contornos

melódicos de cada informante também foi usada para se observar as partes do contorno em

que existe mais variação e aquelas em que há mais pontos de convergência.

Segundo Odé (1989: 90), o registro modal se refere a uma extensão melódica na qual a

F0 se move numa escala entre um limite alto e baixo. Odé (1989: 91) defende que subidas e

23 “[…] the perceptual equivalence between two configurations of movements is perceived on a higher level of

abstraction.”

24 “Making standard movements can be useful for computerized text-to-speech systems, or for the teaching of

intonation. In a standardized description of pitch movements, perceptually equivalent movements are modified to

such an extent that only one prototype results.”

Page 73: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

56

quedas que terminam em diferentes “posições no registro” fazem parte de movimentos

melódicos diferentes, isto é, as subidas podem se diferenciar por atingir o ponto mais alto em

um nível de referência registro alto ou por atingir o ponto mais alto em um nível de referência

baixo no registro. Essa característica ajuda a classificar os movimentos melódicos relevantes

perceptivamente.

(i) Uma vez que os níveis de referência no registro são delimitados, a excursão do

movimento melódico é medida a partir da frequência inicial do movimento melódico e a

frequência final; a extensão é dada em semitons (ST), como ilustra a figura abaixo:

Figura 36 – Excursão dos movimentos melódicos no russo (ODÉ, 1989: 92)

Os movimentos melódicos na figura acima indicam que, perceptivamente, um falante

que, por exemplo, tem um nível mais baixo no registro em 65Hz e apresenta uma subida com

valor da frequência inicial em 110Hz e o valor final da frequência em 184Hz teria, em

princípio, uma excursão de 9 semitons. No caso da subida se iniciar no nível mais baixo da

extensão do falante, que nesse caso é 65Hz, e atingir esses mesmo valor final da frequência

em 184Hz, a excursão seria de 18 semitons, uma excursão muito ampla. A classificação da

excursão feita pela autora prevê uma excursão de até 10 semitons, que é classificada como

“normal”, e se for acima de 10 semitons, tem-se uma excursão ampla.

Nível de referência alto no registro

Alto

Baixo

Nível de referência baixo no registro

Figura 35 – Níveis de referência no registro, adaptado de Odé (1989: 93)

Page 74: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

57

(ii) O alinhamento indica a posição que um movimento ocupa em relação às fronteiras

da sílaba. Sendo assim, a classificação do alinhamento é dividida em: (i) antecipado, se o

movimento termina no começo da sílaba; (ii) tardio, se o movimento termina no final da

sílaba. No modelo IPO, ainda é considerado um movimento intermediário, se o movimento

finalizar no meio da sílaba (GARRIDO, 2003: 104). Odé (1989) diz que o alinhamento é uma

característica distintiva para a percepção de acentos tonais e propõe uma classificação apenas

com dois tipos de alinhamento para o russo (antecipado e tardio) tanto para subidas quanto

para quedas.

Figura 37 – Alinhamentos antecipado e tardio de subidas e descidas nas fronteiras da sílaba, adaptado de Odé

(1989: 94).

Além disso, Odé (1989: 93) chama a atenção para o fato de que o parâmetro do

alinhamento é importante se o movimento ascendente terminar em um nível de referência alto

no registro. Caso a subida termine em um nível de referência baixo no registro, todas as

possibilidades de alinhamento podem ocorrer, assim como a taxa de mudança.

Os dois últimos parâmetros acústicos são (iii) a duração e (iv) a taxa de mudança (slope)

do movimento melódico. Odé (1989) ressalta que a duração dos movimentos melódicos por si

só não é uma característica distintiva; no entanto, a duração de um movimento relevante

perceptivamente junto com a excursão dá a taxa de mudança (slope) de um movimento. A

autora classifica uma taxa de mudança como gradual com o valor de cerca de 70 semitons por

segundo ou menos, já uma taxa de mudança íngreme tem valor acima de 70 semitons por

segundo. Segundo a autora, a taxa de mudança por si só também não é uma característica

distintiva, mas se esta for combinada com o alinhamento, como o alinhamento antecipado e a

taxa de mudança íngreme ou alinhamento antecipado e a taxa de mudança gradual, poderá

caracterizar acentos tonais diferentes.

A seguir, os oito contornos melódicos serão comentados para a seleção das variáveis

que foram manipuladas nessa fase de estilização:

antecipado

tardio

tardio

antecipado

Page 75: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

58

3.4.1 Asserção

Pelo fato do contorno da asserção mostrar variação quanto ao início do movimento

descendente, o parâmetro da extensão do movimento foi utilizado para averiguar quais são os

pontos desse contorno em que é possível começar esse movimento. Além disso, nota-se que o

pico do movimento ascendente está variando na última sílaba pretônica “can” que, nos

informantes 2, 3 e 4, aparece no final dessa sílaba; por outro lado, no informante 1, o pico está

localizado no início dela. Além disso, o campo tonal também foi testado como variável a fim

de se verificar se a excursão dos movimentos ascendente e descendente desse contorno é

normal ou ampla. Por fim, o registro também foi selecionado como variável para se testar os

limites da faixa de frequência mais alta e mais baixa do registro modal. Consequentemente, ao

verificar isso, também será possível determinar qual é o efeito perceptivo do contorno se ele

estiver inteiramente no nível mais baixo do registro (vocal fry) e no mais alto do registro

(falseto).

Apesar da duração dos segmentos de cada falante não ter sido normalizada, com a

sobreposição das close copies dos 4 informantes, é possível observar quais são os pontos em

que ocorrem a variação quanto ao início do movimento descendente, que envolvem as últimas

sílabas pretônica e tônica. No INF 1, a queda se inicia no começo da última sílaba pretônica,

já nos demais informantes, essa queda ocorreu na porção final dessa mesma sílaba.

Time (s)

0 1.1380

300

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.5310

300

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.1970

300

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.2060

300

Fre

quen

cy (

Hz)

Figura 38: Close copies da asserção – informante 1 (preto), informante 2 (vermelho), informante 3 (azul),

informante 4 (verde).

Ma 'ri na can 'ta va

Page 76: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

59

3.4.2 Questão total

Para o contorno da questão total, o alinhamento na tônica final foi manipulado, apesar

de ter apresentado pouca variação no que se refere à localização do pico na vogal da última

sílaba tônica que está alinhado na margem direita sílaba nos 4 informantes.

Além disso, a curva melódica na sílaba pretônica final e na última postônica também foi

manipulada, pois é interessante verificar se essas sílabas são sensíveis à direção do

movimento que recai sobre elas. Como o contorno da questão total se caracterizou pela

presença de duas subidas melódicas, a importância relativa dessas subidas foi testada ao

retirá-las, separadamente, verificando, assim, qual delas (a subida inicial ou final) carrega o

significado do contorno. Por último, foram utilizados como variáveis o campo tonal para

testar a excursão dos movimentos e o registro para estabelecer os limites do registro modal.

É importante notar que as close copies da questão total são muito parecidas umas com

as outras em termos globais, e, em certa medida, quanto ao alinhamento do pico das duas

subidas que ocorrem na primeira e na última sílaba tônica. Nos INF 2 e 3, o alinhamento na

primeira sílaba tônica está localizado na margem direita da vogal, enquanto no INF 1, o

alinhamento está mais à esquerda da primeira vogal tônica. Por fim, no INF 4, o pico está

localizado no início da última pretônica. O segundo pico apresenta menos variação, pois, em

todos os informantes, ele está mais próximo à margem direita, ou seja, no final da fronteira da

última sílaba tônica.

Time (s)

0 1.0280

400

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.2250

400

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.3770

400

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.3510

400

Fre

quen

cy (

Hz)

Figura 39 – Close copies da questão total – informante 1 (preto), informante 2 (vermelho), informante 3

(azul), informante 4 (verde).

Ma 'ri na can 'ta va

Page 77: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

60

3.4.3 Ordem

No contorno da ordem, a primeira variável testada foi a extensão do movimento para

determinar em que parte do contorno o movimento ascendente termina para dar início à

queda, pois a produção dos 4 informantes apresentou esse tipo de variação. Além disso, a

presença de um platô entre as duas sílabas tônicas do contorno, que foi produzido pelo INF 2,

foi testada como variável.

O movimento ascendente no início do contorno está presente em todos os informantes,

apresentando uma variação quanto ao alinhamento na primeira sílaba tônica, que também foi

uma variável manipulada, pois, nos INF 1, 3 e 4, o pico está na margem esquerda da primeira

da sílaba tônica, já no INF 2 o pico está mais próximo da margem direita dessa mesma sílaba.

Por último, o campo tonal também foi uma das variáveis para testar a excursão dos

movimentos.

Time (s)

0 1.1170

500

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.3130

500

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 0.91710

500

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.3040

500

Fre

quen

cy (

Hz)

Figura 40 – Close copies da ordem – informante 1 (preto), informante 2 (vermelho), informante 3 (azul),

informante 4 (verde).

3.4.4 Desafio

O contorno melódico do desafio teve como uma das variáveis a extensão do

movimento, em que foi testado em qual sílaba o movimento ascendente termina para dar lugar

ao movimento descendente, pois no INF 1, o movimento ascendente terminou na porção final

da primeira vogal tônica; no INF 4, na margem esquerda da primeira vogal tônica, já nos INF

2 e 3, no início da primeira sílaba postônica. Além disso, como na produção dos INF 2, 3 e 4,

Con 'ver sa com 'e le

Page 78: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

61

observou-se a presença do platô, sua importância perceptiva também foi testada. O campo

tonal desse contorno também foi selecionado como variável para averiguar a excursão dos

movimentos, além do registro alto e baixo.

Time (s)

0 1.2070

600

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.0620

600

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.3590

600

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.3580

600

Fre

quen

cy (

Hz)

Figura 41 – Close copies do desafio – informante 1 (preto), informante 2 (vermelho), informante 3 (azul),

informante 4 (verde).

3.4.5 Pedido

A produção dos INF 1, 2, 3 e 4 foi muito parecida em termos de alinhamento da última

tônica; todos os informantes produziram o pico na margem esquerda da tônica final. Já o pico

da primeira tônica possui maior variabilidade, pois nos INF 1, 3 e 4, o pico está alinhado na

margem esquerda da primeira vogal tônica, enquanto no INF 2 o pico está localizado na

margem direita dessa vogal. Ainda assim, o contorno melódico do pedido teve como uma

variável o alinhamento tanto na tônica inicial quanto na tônica final para verificar sua

importância perceptiva.

As subidas do contorno também foram selecionadas como uma variável, tendo sido

cada uma delas retirada separadamente para testar sua importância para a identificação do

pedido. Além disso, o campo tonal foi utilizado como uma variável para se analisar a

excursão dos movimentos, além do registro alto e baixo. Cabe aqui destacar o fato de que a

primeira subida do contorno melódico do pedido é muito mais ampla do que a segunda.

Con 'ver sa com 'e le

Page 79: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

62

Time (s)

0 1.2220

700

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.6290

700

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.060

700

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.4220

700

Fre

quen

cy (

Hz)

Figura 42 – Close copies do pedido – informante 1 (preto), informante 2 (vermelho), informante 3 (azul),

informante 4 (verde).

3.4.6 Sugestão

No contorno da sugestão, o alinhamento na última tônica será uma das variáveis, já que,

nos INF 2 e 3, o pico do movimento ascendente está na porção intermediária da tônica final,

enquanto nos INF 3 e 4, o pico está na porção final da última sílaba pretônica.

Além disso, como o movimento ascendente que atinge seu pico na tônica final é muito

amplo, a excursão desse movimento foi testada separadamente, e não o contorno inteiro, para

determinar se o pico atingido na tônica final possui relevância perceptiva quando estiver em

um nível de referência alto ou baixo no registro. Por fim, a última variável testada desse foi o

registro alto ou baixo do contorno inteiro.

Con 'ver sa com 'e le

Page 80: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

63

Time (s)

0 1.040

500

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.1510

500

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.1710

500

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.2920

500

Fre

quen

cy (

Hz)

Figura 43 – Close copies da sugestão – informante 1 (preto), informante 2 (vermelho), informante 3 (azul),

informante 4 (verde).

3.4.7 Questão parcial

No contorno da questão parcial, a primeira variável escolhida foi a extensão do

movimento descendente. A produção dos INF 1, 3 e 4 é bastante parecida, apresentando uma

queda gradual ao longo de todo o contorno, diferentemente do INF 2, que apresenta um platô

que se estende desde a primeira postônica até o início da tônica final do enunciado. Por isso, a

presença do platô no contorno também foi selecionada como variável. A última variável

selecionada foi o campo tonal para determinar se a excursão dos movimentos desse contorno

é normal ou ampla.

Time (s)

0 1.2570

600

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.1930

600

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 0.9930

600

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.2880

600

Fre

quen

cy (

Hz)

Figura 44 – Close copies da questão parcial – informante 1 (preto), informante 2 (vermelho), informante 3

(azul), informante 4 (verde).

Con 'ver sa com 'e le

'Co mo vo 'cê 'sa be

Page 81: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

64

3.4.8 Exclamação

No contorno da exclamação, há uma similaridade expressiva da produção dos 4

informantes quanto à extensão do movimento. No entanto, como INF 2 apresenta, na parte

inicial do contorno, um platô cuja importância foi testada como uma das variáveis. Além

disso, as possibilidades de alinhamento do pico na última sílaba tônica foi uma das variáveis

manipuladas, apesar de todos os informantes terem produzido o pico alinhado tardiamente na

tônica final. Ademais, o movimento ascendente-descendente no final do contorno foi testado

quanto à sua presença para avaliar a sua importância no reconhecimento da exclamação. Por

último, o campo tonal foi analisado para verificar a excursão dos movimentos melódicos.

Time (s)

0 1.5090

500

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.4390

500

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.3840

500

Fre

quen

cy (

Hz)

Time (s)

0 1.3290

500

Fre

quen

cy (

Hz)

Figura 45 – Close copies da exclamação – informante 1 (preto), informante 2 (vermelho), informante 3 (azul),

informante 4 (verde).

Por fim, é importante relembrar que as variáveis selecionadas foram determinadas tanto

pelos comportamentos divergentes observados nos contornos produzidos pelos informantes

quanto pelas dimensões dos movimentos melódicos propostas pelo modelo IPO (direção,

extensão, excursão e alinhamento).

3.5 Experimentos de percepção

O teste de percepção foi elaborado para validar as estilizações close copies e os

estímulos produzidos no processo de estilização equivalent copy. O objetivo do teste é

verificar a igualdade perceptiva no caso das close copies e a aceitabilidade perceptiva das

variantes criadas com a finalidade de estabelecer as equivalent copies. Decidiu-se, então,

elaborar testes distintos para os 8 tipos de frase que foram agrupados em 3 séries diferentes.

'Co mo vo 'cê 'sa be

Page 82: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

65

Cada uma das séries de testes foi aplicada na mesma sessão e estavam organizados da

seguinte maneira:

A primeira série continha a close copy e o contorno original da asserção e, em

seguida, os da questão total, além dos respectivos estímulos manipulados no

processo de estilização da cópia equivalente desses dois atos ilocutórios; os

estímulos referentes à asserção e questão total foram apresentados

separadamente.

A segunda série, a close copy, o contorno original da ordem, do desafio, do

pedido e da sugestão, e os respectivos estímulos manipulados no processo de

estilização da cópia equivalente; apresentados separadamente para cada ato

ilocutório.

e, por último, a close copy e o contorno original da questão parcial e da

exclamação, mais os estímulos referentes às respectivas cópias equivalentes.

Para cada ato ilocutório, que era informado de início ao ouvinte, havia uma sequência

de estímulos tocados em ordem aleatória e a tarefa dos ouvintes era julgar qual seu grau de

naturalidade/aceitabilidade, havendo cinco opções:

Figura 46 – Escala utilizada no teste de percepção

Os sujeitos eram instruídos a marcar “bom” ou “muito bom” se os estímulos fossem

avaliados por eles como natural e sem conter uma nuance expressiva. Deveriam marcar a

opção “médio” se percebessem uma nuance expressiva, mas que não prejudicasse a

categorização do estímulo como pertencente àquele ato ilocutório, e deveriam, por fim,

assinalar a opção “ruim” ou “muito ruim” se considerassem que a identificação do estímulo

como pertencente àquele ato ilocutório estava fortemente prejudicada, a ponto de torná-lo

eventualmente irreconhecível. Posteriormente, foram atribuídas a cada uma dessas opções

notas: muito ruim = 0, ruim = 2,5, médio = 5, bom = 7,5, muito bom = 10, permitindo, assim,

o estabelecimento de notas médias de 0 a 10 para cada estímulo ouvido.

Page 83: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

66

As 3 séries de testes de percepção foram aplicadas a grupos diferentes de ouvintes,

embora todos fossem falantes da variante carioca do português brasileiro e estudantes de

graduação e pós-graduação da Faculdade de Letras da UFRJ. As instruções para o teste de

percepção eram dadas, primeiramente, em uma folha de papel, e, depois de uma leitura

silenciosa, era feita uma exposição oral dos contextos pragmáticos em que os atos de fala são

proferidos. É importante ressaltar que em momento algum os contornos foram produzidos

durante a explicação; por outro lado, os informantes eram encorajados a produzir os contornos

dos atos ilocutórios que iriam ouvir antes de começar o teste como uma forma de se certificar

que eles estavam associando o significado pragmático ao seu devido contorno melódico. Cada

sujeito respondeu individualmente aos testes de percepção em uma folha de resposta na qual

eles registravam suas interpretações; no entanto, alguns informantes fizeram os testes em

grupo ou em dupla, enquanto outros fizeram sozinhos numa sala acusticamente isolada.

Em cada série de teste aplicado, participaram 20 sujeitos que avaliaram 91 estímulos

manipulados para os 8 tipos de atos ilocutórios, além dos contornos originais e suas

respectivas close copies, resultando em um total de 107 arquivos de som avaliados.

Teste Atos ilocutórios Número de

estímulos criados

Numero de estímulos no

teste + close copy e

gravação original

I Asserção e questão total 9+13 (22) 22+4 (26)

II Ordem, desafio, pedido e

sugestão

9+12+12+11 (44) 44+8 (52)

II Questão parcial e

exclamação

10+15(25) 25+4 (29)

Total 3 8 91 107

Quadro 9 – Resumo do número de estímulos e dos testes aplicados

Foi averiguado, portanto, em todos os testes de percepção se os contornos originais e

suas respectivas close copies receberiam avaliações similares e se os estímulos produzidos na

estilização equivalent copy seriam bem ou mal avaliados a depender das modificações

sofridas.

Page 84: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

67

3.6 Validação estatística

Para a análise estatística dos resultados dos testes de percepção, foi utilizado o programa

computacional SPSS. O teste estatístico selecionado para analisar os dados foi o Mann-

Whitney; um teste não-paramétrico usado para amostras independentes25

. Esse teste foi usado

para avaliar a significância das diferenças observadas entre as notas médias, calculadas para

cada versão estilizada dos contornos, entre o estímulo que serviu de base para as modificações

de cada contorno melódico e os demais estímulos, nos quais foram feitas modificações

graduais em seu contorno melódico. No experimento de percepção, havia os contornos

originais, as close copies e um conjunto de estímulos de cada ato ilocutório; sendo assim, é

importante saber se a nota recebida de cada estímulo na avaliação dos ouvintes, em primeiro

lugar, não foi dada por acaso e se uma dada modificação no contorno, que recebe uma nota

muito melhor ou muito pior do que a do estímulo “base”, tem relevância no teste estatístico.

Somente os estímulos com valores inferiores a 0,05 de p-valor (p-value) foram considerados

relevantes estatisticamente; valores entre 0,05 e 0,10 (p-value) demonstram uma tendência

forte de significância; 0,10 a 0,20 (p-value), uma tendência fraca de significância e acima de

0,20 (p-value), não apresentam significância. Os resultados completos do teste Mann-Whitney

estão no apêndice C desta dissertação, páginas 143 e 144.

3.7 Esquema da abordagem IPO

Com o objetivo de resumir o passo-a-passo da abordagem IPO que está sendo utilizado

neste capítulo desta dissertação, será apresentado um esquema na figura 46. Segundo ‘t Hart,

Cohen e Collier (1990: 64), no lado esquerdo desse esquema, estão expostos quais são os

passos que o pesquisador precisa seguir para estar de acordo com a abordagem do modelo

IPO e, no lado direito do esquema, a busca feita pelo pesquisador dos padrões melódicos da

língua analisada por meio da combinação dos movimentos melódicos perceptivamente

relevantes. Além disso, o esquema como um todo indica o percurso que o pesquisador precisa

fazer para estabelecer uma ligação entre as curvas concretas de F0, de um lado do esquema, e

os padrões melódicos abstratos, do outro lado.

25 Disponível em: <http://analisestatistica.no.sapo.pt/downloads/Ponto_7_2.pdf>. Acesso em 15 de dezembro de

2014.

Page 85: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

68

Figura 47: Esquema resumido do método. Caixas retangulares indicam produtos e caixas redondas indicam

processos ou experimento, adaptado de ‘t Hart, Cohen & Collier (1991: 65)

Enunciado da

fala

Medidas de F0

Curva de F0

Igualdade

perceptiva

Close copy

Equivalência

perceptiva

Estilização padronizada

Teste de aceitabilidade

perceptiva

Inventário dos movimentos

melódicos perceptivamente

relevantes no conjunto de

contornos analiados

Normas provisórias

Corpus 1

Triagem e correspondência

Corpus 2 Gramática:

Inventário dos

contornos

possíveis

Padrões melódicos

Triagem e correspondência

Page 86: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

69

CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste capítulo, serão apresentadas as avaliações que receberam, nos testes de percepção, os

contornos melódicos dos estímulos produzidos para os oito atos ilocutórios analisados do PB.

O objetivo principal deste capítulo é mostrar quais dos efeitos perceptivos provenientes das

modificações feitas nos contornos dos atos ilocutórios são relevantes para o reconhecimento

do valor funcional dos contornos de acordo com o teste de significância estatística.

4.1 Experimento 1 – Asserção

Na asserção, o estímulo utilizado como matriz para as sucessivas modificações no

contorno foi o estímulo 1.3, que, apesar de ser muito parecido com a close copy do contorno

original produzido pelo INF 1, possui um ponto de inflexão a menos no término da tônica

final do enunciado. O primeiro grupo de estímulos da asserção foi criado para testar a

extensão do movimento (estímulos 1.1 a 1.5); o segundo, o registro (estímulos 2.1 a 2.2); o

terceiro, a compressão ou expansão do campo tonal (estímulos 3.1 a 3.2).

4.1.1 Estímulo 1.1

O estímulo com o movimento descendente que se inicia na sílaba tônica “ri” recebeu

uma nota média de 5,1, numa escala de 0 a 10, o que aponta para uma queda expressiva da

aceitabilidade do contorno da asserção em relação ao estímulo base 1.3, confirmado pelo teste

estatístico (p<0,000114). Esse resultado sugere que a primeira tônica deve ter um perfil

intrassilábico ascendente e não descendente como este do estímulo 1.1; o que se reflete

também no movimento ascendente íngreme que abarca apenas a primeira pretônica do

enunciado, que normalmente é gradual nesse contorno.

4.1.2 Estímulo 1.2

O estímulo com movimento descendente começa no início da sílaba postônica “na”

recebeu nota média 8. Este estímulo possui grande aceitabilidade de acordo com a avaliação

dos ouvintes; não tendo sido observada uma diferença significativa em relação à nota recebida

pelo estímulo base 1.3 (p<0,226635), o melhor avaliado (nota média 8,5).

Ma 'ri na can 'ta va

130Hz

80Hz 74Hz

Figura 48 – Estímulo 1.1 da asserção: queda com início na sílaba tônica “ri”

Page 87: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

70

4.1.3 Estímulo 1.3

O estímulo com movimento descendente que tem início na sílaba “can” recebeu nota

média de 8,5. Este estímulo que serviu de base para as modificações no contorno da asserção

foi, portanto, bem avaliado, recebendo uma nota comparável, e mesmo ligeiramente superior,

a da original (8,2) e a de sua close copy (8,1), não tendo sido observada, entretanto, uma

diferença estatisticamente significativa entre eles (p<0,869638 e p<0,584441,

respectivamente). A hipótese de que esse estímulo seria bem avaliado pelos ouvintes se

confirmou, pois ele é muito próximo ao contorno produzido pelo informante.

4.1.4 Estímulo 1.4

O movimento descendente que tem início na sílaba tônica “ta” recebeu uma nota média

de 8,3, também muito próxima à do estímulo 1.3; não havendo entre elas diferença

significativa (p<0,799033), o que pode ser explicado pelo fato de que o movimento

descendente sobre a tônica final estar preservado e ser um movimento fundamental para o

reconhecimento desse contorno melódico.

Ma 'ri na can 'ta va

130Hz

80Hz 74Hz

Ma 'ri na can 'ta va

130Hz

80Hz 74Hz

Ma 'ri na can 'ta va

130Hz

80Hz 74Hz

Figura 49 – Estímulo 1.2 da asserção: queda com início na sílaba postônica “na”

Figura 50 – Estímulo 1.3 da asserção: queda com início na sílaba pretônica

“can”

Figura 51 – Estímulo 1.4 da asserção: queda com início da sílaba tônica “ta”

Page 88: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

71

4.1.5 Estímulo 1.5

O estímulo com movimento descendente que tem início na sílaba “va” recebeu uma

nota média de 4,6, a pior dentre todas as notas desse primeiro grupo de estímulos, sendo essa

queda significativa em sua avaliação em comparação ao estímulo 1.3 (p<0,000035). A

hipótese que explica essa má avaliação é o fato de que a tônica final está em um nível alto de

referência no registro, o que descaracteriza o significado de asserção neutra e gera outro

sentido para esse contorno, que será denominado aqui “justificativa”; ou seja, a parte

descendente do contorno não pode se limitar apenas à postônica final.

4.1.6 Estímulo 2.1

Neste estímulo, o registro26

do contorno deslocou-se para o alto e recebeu nota média de

5,9, a queda dessa nota em relação à avaliação que recebeu o estímulo 1.3 foi confirmada pelo

teste estatístico (p<0,004498). A interpretação desse contorno se afasta do que se pode

chamar de asserção “neutra”, pois uma nuance expressiva parece ser adicionada ao seu

significado; embora isso não tenha sido testado sistematicamente.

26 A princípio, a mudança do contorno para um registro alto (falseto) ou baixo (vocal fry) não deveria influenciar

na avaliação do valor funcional da asserção, já que a voz da gravação estaria, a rigor, apenas mais aguda ou mais

grave. No entanto, pelo fato dos ouvintes terem escutado a voz do informante na gravação também em um

registro modal e terem recebido instruções de que poderiam escutar enunciados com nuances expressivas, a

interpretação dos estímulos com mudanças no registro acabou sendo guiada para a expressividade. Esse

comentário vale para todos os estímulos com mudança no registro.

Ma 'ri na can 'ta va

130Hz

80Hz 74Hz

Ma 'ri na can 'ta va

160Hz

100Hz 93Hz

Figura 52 – Estímulo 1.5 da asserção: queda com início na postônica “va”

Figura 53 – Estímulo 2.1 da asserção: registro alto

Page 89: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

72

4.1.7 Estímulo 2.2

Neste estímulo, o registro do contorno foi deslocado para baixo, tendo ele recebido a

nota média 6,2, diferença significativa em relação ao estímulo 1.3 (p<0,011622). Mais uma

vez, a mudança no registro na asserção é aparentemente responsável por adicionar uma esfera

expressiva ao contorno, que faz com que esse estímulo seja avaliado como menos neutro.

4.1.8 Estímulo 3.1

Esse estímulo teve seu campo tonal expandido e recebeu nota média 9, a melhor nota

dentre todos os estímulos avaliados; embora a diferença observada em relação à avaliação do

estímulo base 1.3 não tenha sido significativa (p<0,330611). Esse resultado sugere que talvez

esse contorno tenda a ser melhor reconhecido e avaliado com uma excursão ampla.

4.1.9 Estímulo 3.2

Já o estímulo com o campo tonal comprimido recebeu nota média de 5,8,

significativamente menor do que o estímulo base 1.3 (p<0,003413). Nesse caso, é possível

perceber um sentido mais expressivo ser adicionado ao enunciado, ainda que isso não tenha

sido testado sistematicamente com os ouvintes.

Ma 'ri na can 'ta va

103Hz

64Hz 67Hz

Ma 'ri na can 'ta va

150Hz

60Hz 64Hz

Ma 'ri na can 'ta va

110Hz

100Hz 94Hz

Figura 54 – Estímulo 2.2 da asserção: registro baixo

Figura 55 – Estímulo 3.1 da asserção: campo tonal expandido

Figura 56 – Estímulo 3.2 da asserção: campo tonal comprimido

Page 90: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

73

Por fim, é interessante ressaltar que, nos resultados da asserção, a estilização close copy

foi validada pelos ouvintes, pois tanto o contorno original quanto a close copy receberam

avaliações semelhantes (8,2) e (8,1); não havendo uma diferença significativa entre eles no

teste estatístico (p<0,746473).

4.2 Experimento 1 – Questão total

Na questão total, o estímulo utilizado como base para as modificações propostas foi o

1.3 que, apesar de ser muito similar à close copy, contém um ponto de inflexão a menos antes

da primeira subida e o pico do movimento ascendente está localizado na fronteira exata da

sílaba tônica final. Foram testados o alinhamento na tônica final (estímulos 1.1 a 1.3), o

registro (estímulos 2.1 a 2.2), o movimento que incide sobre a pretônica final (estímulos 3.1 a

3.2) e a postônica final (estímulos 4.1 a 4.2), a importância da subida inicial e final (estímulos

5.1 a 5.2), e o campo tonal (estímulos 6.1 a 6.2).

4.2.1 Estímulo 1.1

O estímulo com o alinhamento antecipado na tônica final do enunciado recebeu nota

média de 7,3, não apresentando uma diferença significativa (p<0,720184) em relação ao

estímulo base 1.3. É interessante notar que o alinhamento desse estímulo, que não é muito

característico para uma generalização linguística, ainda possui aceitabilidade em relação ao

significado básico deste ato ilocutório.

4.2.2 Estímulo 1.2

O estímulo com alinhamento intermediário na tônica final obteve nota média de 8.2, a

melhor avaliação nesse primeiro grupo; embora não tenha apresentando significância

estatística (p<0,694256) em comparação ao estímulo base 1.3. Depreende-se desse contorno

que o significado da questão total parece ser mais neutro, ou seja, sem nenhuma interferência

da esfera expressiva da entoação.

Ma 'ri na can 'ta va

124Hz 148Hz

94Hz 70Hz

Figura 57 – Estímulo 1.1 da questão total: tônica final com alinhamento

antecipado

Page 91: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

74

4.2.3 Estímulo 1.3

O estímulo base da questão total com alinhamento tardio na tônica final do enunciado

obteve nota média de 7,7. É importante notar que essa modificação e a anterior (1.2) possuem

notas bem próximas e boa aceitabilidade, no entanto esse estímulo base não apresentou

significância estatística nem em relação ao contorno original (p<0,730483) e nem à close copy

(p<0,954045). Isso indica que o alinhamento do pico da F0 na tônica final da questão total

pode apresentar variação.

4.2.4 Estímulo 2.1

O estímulo com o registro deslocado para cima obteve nota média de 7,3, não tendo

sido observada significância estatística em relação ao estímulo base 1.3 (p<0,784772). O

registro parece estar sendo responsável por afastar o significado neutro do contorno.

4.2.5 Estímulo 2.2

O estímulo com o registro do contorno deslocado para baixo recebeu nota média 7,

embora essa nota não tenha apresentado significância estatística (p<0,442191) em relação ao

estímulo 1.3. Assim como no estímulo anterior, é possível interpretar nesse estímulo uma

Ma 'ri na can 'ta va

124Hz 148Hz

94Hz 70Hz

Ma 'ri na can 'ta va

124Hz 148Hz

94Hz 70Hz

94Hz

Ma 'ri na can 'ta va

155Hz 185Hz

117Hz 87Hz

Figura 58 – Estímulo 1.2 da questão total: tônica final com alinhamento

intermediário

Figura 59 – Estímulo 1.3 da questão total: tônica final com alinhamento tardio

Figura 60 – Estímulo 2.1 da questão total: registro alto

Page 92: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

75

nuance expressiva adicionada ao significado básico da questão total; embora isso ainda tenha

que ser testado de maneira sistemática.

4.2.6 Estímulo 3.1

O estímulo com movimento descendente finalizando na porção final da última sílaba

pretônica, que está mais baixa em 20Hz do que o original, obteve nota média de 8,1, não

apresentando uma significância na análise estatística (p<0,181658) em relação ao estímulo

base 1.3. Essa boa avaliação pode ter ocorrido devido ao contraste criado entre uma pretônica

muito baixa e o nível alto da última tônica, o que resultou em uma melhora do

reconhecimento desse contorno.

4.2.7 Estímulo 3.2

O estímulo com um movimento ascendente sobre a pretônica final obteve nota média de

2,5, uma das mais baixas dentre todos os grupos, indicando que o significado de questão total

é muito prejudicado se o movimento que recai sobre a tônica for gradual; além disso, esse

estímulo apresentou significância estatística (p<0,000030) em relação ao estímulo base 1.3.

Esse resultado corrobora a hipótese do estímulo anterior, sugerindo que a pretônica final deve

ser abarcada por um movimento descendente.

Ma 'ri na can 'ta va

99Hz 118Hz

75Hz 56Hz

Ma 'ri na can 'ta va

124Hz 148Hz

94Hz 60Hz 70Hz

Ma 'ri na can 'ta va

124Hz 148Hz

94Hz 105Hz 70Hz

Figura 61 – Estímulo 2.2 da questão total: registro baixo

Figura 62 – Estímulo 3.1 da questão total: pretônica final baixa

Figura 63 – Estímulo 3.2 da questão total: pretônica final alta

Page 93: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

76

4.2.8 Estímulo 4.1

O estímulo com a postônica final alta, em que seu valor foi aumentado em 20Hz, obteve

nota média de 5,8; essa queda na avaliação apresentou significância estatística (p<0,003186)

em relação ao estímulo base 1.3. Esse resultado indica que o significado de questão total fica

bastante prejudicado caso a postônica seja alta.

4.2.9 Estímulo 4.2

O estímulo com a postônica final ainda mais alta do que o estímulo anterior recebeu

nota média de 4,5; foi observada significância estatística (p<0,001192) em relação ao

estímulo base 1.3. Nota-se que o resultado do estímulo anterior é corroborado pelo resultado

desse estímulo, já que o significado da questão total neutra é bastante prejudicado ou mesmo

inexistente. Nesse caso especificamente o falante está transmitindo não mais o significado da

questão total, mas outro tipo de ato ilocutório denominado aqui “continuação”.

4.2.10 Estímulo 5.1

O estímulo sem o primeiro movimento ascendente–descendente obteve a nota média de

6,2; na análise estatística apresentou tendência forte de significância (p<0,050202) em

comparação ao estímulo base 1.3. Esse resultado indica que o significado do contorno ainda

pode ser considerado o mesmo, ainda que ele não seja o representante mais neutro desse ato

ilocutório.

Ma 'ri na can 'ta va

124Hz 148Hz 120Hz

94Hz

Ma 'ri na can 'ta va

124Hz 148Hz 140Hz

94Hz

Ma 'ri na can 'ta va

148Hz

94Hz 70Hz

Figura 64 – Estímulo 4.1 da questão total: postônica final alta (120Hz)

Figura 65 – Estímulo 4.2 da questão total: postônica final alta (140Hz)

Figura 66 – Estímulo 5.1 da questão total: contorno sem a primeira subida

Page 94: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

77

4.2.11 Estímulo 5.2

Já o estímulo sem o movimento ascendente–descendente final obteve nota média de 1.5

e também apresentou significância estatística (p<0,000001) em relação ao estímulo base 1.3.

Esse resultado permite dizer que o significado da questão total é muito prejudicado sem a

subida final, ou seja, esse contorno não é mais identificado como sendo de uma questão total.

4.2.12 Estímulo 6.1

O estímulo com o campo tonal expandido obteve nota média de 7,3; embora não tenha

apresentado significância estatística (p<0,656707) em relação ao estímulo base 1.3. Esse

resultado indica que o contorno é bem reconhecido se a excursão dos movimentos for ampla.

4.2.13 Estímulo 6.2

O estímulo com o campo tonal comprimido obteve nota média de 6,1; uma queda em

sua avaliação feita pelos ouvintes que apresenta tendência forte de significância no teste

estatístico (p<0,065574) em relação ao estímulo base 1.3, possivelmente graças a uma nuance

expressiva adicionada a ele. Essa avaliação indica que o contorno pode ser reconhecido como

questão total com uma excursão normal, ainda que se afaste de seu significado mais neutro.

Ma 'ri na can 'ta va

124Hz

94Hz 70Hz

Ma 'ri na can 'ta va

144Hz 168Hz

74Hz 50Hz

Ma 'ri na can 'ta va

104Hz 128Hz

94Hz 90Hz

Figura 67 – Estímulo 5.2 da questão total: contorno sem a segunda subida

Figura 68 – Estímulo 6.1 da questão total: campo tonal expandido

Figura 69 – Estímulo 6.2 da questão total: campo tonal comprimido

Page 95: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

78

Por fim, é importante mostrar que o contorno original e a close copy da questão total

foram bem avaliados do teste de percepção e receberam notas média bem parecidas: 7,6 e 7,8

respectivamente; não tendo sido observada diferença significativa entre eles (p<0,784571) no

teste estatístico.

4.3 Experimento 2 – Ordem

Para o contorno da ordem, o estímulo utilizado como base foi o 1.1 que é muito

semelhante à close copy, apresentando apenas a diferença de conter menos pontos de inflexão

ao longo de todo o contorno. Foram testados a extensão do movimento ascendente e

descendente (estímulos 1.1 a 1.5), a presença do platô (estímulos 2.1 a 2.2) e o campo tonal

(estímulos 3.1 a 3.2).

4.3.1 Estímulo 1.1

O estímulo base com o movimento descendente se iniciando a partir da primeira tônica

“ver” obteve nota média 7; em comparação ao estímulo original que recebeu nota média 8,7,

essa avaliação possui significância estatística (p<0,007547), diferentemente da comparação

com a close copy (nota média de 7,2), que não apresentou significância (p<0,779262). Apesar

da oscilação da avaliação em relação à close copy, esse estímulo apresentou um bom

reconhecimento do contorno.

4.3.2 Estímulo 1.2

O estímulo com o movimento descendente que se inicia a partir da primeira postônica

“sa” recebeu nota média de 7,25; no entanto, não houve significância estatística (p<0,952829)

em relação ao estímulo 1.1, apesar desse estímulo ter apresentado um bom reconhecimento.

Con 'ver sa com 'e le

131Hz

100Hz 74Hz

Con 'ver sa com 'e le

131Hz

100Hz 74Hz

Figura 70: Estímulo 1.1 da ordem: queda no início da tônica inicial

Figura 71 – Estímulo 1.2 da ordem: queda no início da postônica inicial

Page 96: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

79

4.3.3 Estímulo 1.3

O estímulo com o movimento descendente se iniciando a partir da pretônica “com”

recebeu nota média de 7,5; embora a diferença com o estímulo 1.1 não tenha mostrado

significância estatística (p<0,716158). Na avaliação feita pelos ouvintes, esse estímulo

apresenta um bom reconhecimento do contorno.

4.3.4 Estímulo 1.4

O estímulo com o movimento descendente se iniciando a partir da última tônica “e”

obteve uma nota média de 5,75; no teste estatístico, esse resultado apresentou uma tendência

forte de significância (p<0,093759) em relação ao estímulo 1.1. Sendo assim, o significado da

ordem tende a ser prejudicado se a última tônica estiver atingindo o limite superior do nível

de referência baixo do registro.

4.3.5 Estímulo 1.5

O estímulo com o movimento descendente se iniciando a partir da postônica “le” obteve

nota média de 3,5; apresentando uma diferença estatisticamente significativa (p<0,000252)

em relação ao estímulo base 1.1. Por isso, pode-se dizer que o reconhecimento do contorno

melódico é bastante prejudicado se a tônica final estiver em um nível alto e a tônica inicial,

em um nível mais baixo que o normal; exatamente o contrário do que normalmente se observa

na produção desse contorno.

Con 'ver sa com 'e le

131Hz

100Hz 74Hz

Con 'ver sa com 'e le

131Hz

100Hz 74Hz

Con 'ver sa com 'e le

131Hz

100Hz 74Hz

Figura 72– Estímulo 1.3 da ordem: queda no início da pretônica final

Figura 73 – Estímulo 1.4 da ordem: queda no início da tônica final

Figura 74 – Estímulo 1.5 da ordem: queda no início da postônica final

Page 97: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

80

4.3.6 Estímulo 2.1

O estímulo com um platô configurado a partir da primeira tônica “ver” que mantém as

sílabas postônica “sa” e pretônica “com” em nível alto obteve nota média de 7,7. No entanto,

essa nota não apresentou significância estatística (p<0,311776) em comparação ao estímulo

base 1.1. Esse estímulo foi bem avaliado e o resultado indica que, no contorno da ordem, a

primeira tônica deve estar em um nível alto e a última tônica, em um nível baixo de referência

no registro.

4.3.7 Estímulo 2.2

Esse estímulo que não contém nenhum movimento ascendente, apenas uma queda

contínua ao longo do enunciado, obteve nota média 4. Essa nota apresentou uma diferença

significativa (p<0,000090) em relação ao estímulo base 1.1. O resultado indica que o

reconhecimento do contorno é bem prejudicado caso o movimento intrassilábico na tônica

inicial for descendente.

4.3.9 Estímulo 3.1

O estímulo com campo tonal expandido obteve nota média de 3,5 e essa mudança foi

significativa estatisticamente (p<0,000820). Pode-se inferir a partir desse resultado que o pico

na primeira tônica do enunciado, normalmente atingido no limite superior do nível referência

baixo no registro, não pode ultrapassar esse limite e chegar ao nível de referência alto no

registro do falante.

Con 'ver sa com 'e le

131Hz 131Hz

100Hz 74Hz

Con 'ver sa com 'e le

131Hz

74Hz

Con 'ver sa com 'e le

151Hz

80Hz 54Hz

Figura 75 – Estímulo 2.1 da ordem: platô que se estende da tônica inicial até

o começo da tônica final

Figura 76 – Estímulo 2.2 da ordem: queda contínua ao longo de todo o

enunciado

Figura 77 – Estímulo 3.1 da ordem: campo tonal expandido

Page 98: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

81

4.3.10 Estímulo 3.2

O estímulo com o campo tonal comprimido obteve nota média 7; uma melhora na

avaliação em relação ao estímulo anterior, mas que não apresentou significância estatística

(p<0,896378) em relação ao estímulo base 1.1. A boa avaliação desse resultado parece

confirmar, de certa forma, o que foi dito do estímulo anterior (3.1), ao indicar que o pico

atingido na primeira tônica deve estar em um nível de referência baixo no registro do falante.

Por fim, o contorno original da ordem e sua close copy foram validados pelos ouvintes

com notas médias de 8,75 e 7,25 respectivamente; com diferença significativa

estatisticamente entre eles (p<0,037352). Apesar da close copy ter uma nota menor do que a

do contorno original, seu reconhecimento pode ser considerado bom.

4.4 Experimento 2 – Desafio

No contorno do desafio, o estímulo utilizado como base na estilização foi o 1.1, que

apesar de ser muito semelhante à close copy do desafio, se distingue dela por conter um ponto

de inflexão no começo exato da primeira sílaba tônica, um ponto de inflexão a menos no

início da postônica final e o final do enunciado mais baixo do que o final que foi produzido

pelo INF1. Foram testados a extensão dos movimentos (estímulos 1.1 a 1.6), o platô

(estímulos 2.1 a 2.2), o campo tonal (estímulos 3.1 a 3.2) e o registro (estímulos 4.1 a 4.2).

4.4.1 Estímulo 1.1

O estímulo com o movimento descendente que começa no início da primeira tônica

“ver” obteve nota média de 6,25. Embora esse contorno seja muito semelhante à close copy

(nota média de 4,7), na comparação entre eles, observou-se uma tendência forte de

significância na análise estatística (p<0,055723) em relação à close copy, já em relação ao

contorno original (nota média de 6,5), não foi constatada nenhuma significância

(p<0,703363). Pode-se supor que essa oscilação de avaliação entre a close copy e o contorno

original ocorreu devido à baixa consciência dos falantes no que se refere ao valor funcional

Con 'ver sa com 'e le

121Hz

110Hz 64Hz

110Hz 64Hz

Figura 78 – Estímulo 3.2 da ordem: campo tonal comprimido

Page 99: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

82

desse contorno melódico; o que, consequentemente, se refletiu nas notas atribuídas aos

estímulos do desafio que, de maneira geral, não foram muito altas.

4.4.2 Estímulo 1.2

O estímulo com o movimento descendente se iniciando na primeira postônica “sa”

obteve nota média de 7,1; no entanto, não apresentou uma diferença estatisticamente

significativa (p<0,626718) em relação ao estímulo 1.1. A boa avaliação desse contorno pode

ser explicada por causa do movimento melódico intrassilábico da primeira sílaba tônica que

continua ascendente.

4.4.3 Estímulo 1.3

O estímulo com o movimento descendente se iniciando na pretônica “com” obteve nota

média 3; diferença significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,000403). Esse resultado

indica que quando o pico do movimento ascendente já não está mais localizado na tônica

inicial e sim em outra sílaba, há um prejuízo no reconhecimento do contorno do desafio; o que

acarreta o fato de que as sílabas iniciais também não estarem em um nível tão alto como nos

estímulos anteriores.

Con 'ver sa com 'e le

284Hz

136Hz 30Hz

Con 'ver sa com 'e le

284Hz

136Hz 30Hz

Con 'ver sa com 'e le

284Hz

136Hz 30Hz

Figura 79 – Estímulo 1.1 do desafio: queda na primeira tônica

Figura 80 – Estímulo 1.2 do desafio: queda na primeira postônica

Figura 81 – Estímulo 1.3 do desafio: queda na segunda pretônica

Page 100: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

83

4.4.4 Estímulo 1.4

O estímulo com o movimento descendente que se inicia na tônica “e” recebeu nota

média de 1,8; apresentando diferença significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,000035),

o que corrobora, de forma mais contundente, o resultado do estímulo anterior, indicando que

se o pico do movimento ascendente não estiver próximo das fronteiras da primeira sílaba

tônica, há uma tendência de prejudicar o reconhecimento do valor funcional desse contorno.

4.4.5 Estímulo 1.5

O estímulo com movimento descendente se iniciando na postônica “le” obteve nota

média 3; diferença significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,002992). Esse prejuízo no

reconhecimento do contorno ocorre devido ao pico do movimento ascendente não estar

localizado em uma das fronteiras da primeira sílaba tônica e por criar uma configuração

intrassilábica ascendente na tônica final, que normalmente na produção desse contorno é

descendente.

4.4.6 Estímulo 1.6

O estímulo com o movimento descendente se iniciando a partir da primeira pretônica

“com” do enunciado obteve nota média de 3,7; diferença relevante estatisticamente em

relação ao estímulo 1.1 (p<0,007379). Esse resultado demonstra que a primeira tônica precisa

de uma configuração intrassilábica ascendente para que o contorno seja identificado

apropriadamente.

Con 'ver sa com 'e le

284Hz

136Hz 30Hz

Con 'ver sa com 'e le

284Hz

136Hz 30Hz

Figura 82 – Estímulo 1.4 do desafio: queda na segunda tônica

Figura 83 – Estímulo 1.5 do desafio: queda na segunda postônica

Page 101: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

84

4.4.7 Estímulo 2.1

O estímulo com um movimento ascendente na primeira pretônica “com” obteve nota

média de 7,2, esse estímulo apresenta um platô que começa no início da primeira tônica “ver”

e se estende até o início da última tônica “e”, dando lugar a um movimento descendente sobre

essa sílaba. No entanto, essa diferença em relação ao estímulo 1.1 não foi significativa

(p<0,599273). O bom reconhecimento do contorno parece indicar que o movimento

ascendente deve atingir seu pico dentro das fronteiras da primeira sílaba tônica, além disso, a

última tônica continua com sua configuração intrassilábica descendente.

4.4.8 Estímulo 2.2

O estímulo com platô se iniciando na primeira postônica “sa” até a última pretônica

“com” obteve nota média de 4,5; diferença estatisticamente significativa em relação ao

estímulo 1.1(p<0,033878). Esse resultado corrobora o que foi dito no estímulo anterior (2.1)

baseado no fato de que se o pico do movimento ascendente não estiver localizado em uma das

fronteiras da primeira tônica, o valor funcional do contorno não será identificado.

Con 'ver sa com 'e le

284Hz 284Hz

136Hz 30Hz

Con 'ver sa com 'e le

284Hz 284Hz

136Hz 30Hz

Con 'ver sa com 'e le

284Hz

30Hz

Figura 84 – Estímulo 1.6 do desafio: queda ao longo de todo o enunciado

Figura 85 – Estímulo 2.1do desafio: platô sobre a primeira tônica até a última

pretônica

Figura 86 – Estímulo 2.1do desafio: platô sobre a primeira postônica até a

última pretônica

Page 102: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

85

4.4.9 Estímulo 3.1

O estímulo com o campo tonal expandido obteve nota média de 7,5; a diferença

observada nessa avaliação em comparação com a do estímulo 1.1 não foi significativa

estatisticamente (p<0, 572030). Esse resultado parece indicar que o pico do movimento

ascendente na primeira tônica deve atingir o limite superior do nível de referência alto no

registro.

4.4.10 Estímulo 3.2

O estímulo com o campo tonal comprimido obteve nota média 7; embora não tenha

apresentado significância estatística em relação ao estímulo 1.1 (p<0,853732). O pico do

movimento ascendente, apesar de ter seu valor diminuído em 20Hz, ainda está em um nível de

referência alto no registro desse falante.

4.4.11 Estímulo 4.1

O estímulo com o registro deslocado para o alto obteve nota média de 7,3, porém não

apresentou diferença significativa (p<0,371256) em comparação ao estímulo base 1.1. Isso

demonstra que o limite superior do nível de referência alto no registro ainda parece ser

responsável pela identificação do contorno.

Con 'ver sa com 'e le

304Hz

116Hz 10Hz

Con 'ver sa com 'e le

264Hz

156Hz 50Hz

Con 'ver sa com 'e le

341Hz

163Hz 36Hz

Figura 87 – Estímulo 3.1 do desafio: campo tonal expandido

Figura 88 – Estímulo 3.2 do desafio: campo tonal comprimido

Figura 89 – Estímulo 4.1 do desafio: registro alto

Page 103: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

86

4.4.12 Estímulo 4.2

Esse estímulo com o registro deslocado para baixo obteve nota média de 5,8; também

não apresentou diferença significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,261729). Com o valor

do pico do movimento ascendente mais baixo do que o normal, o valor funcional do contorno

melódico do desafio começa a ser prejudicado, o que indica que o pico não só deve estar em

um nível de referência alto no registro, mas também atingir o limite superior desse nível, que

permite a identificação do valor funcional do desafio.

Por fim, o contorno original recebeu nota média 6,5 e sua close copy, 4,75; essa

diferença possui uma forte tendência significativa (p<0,102812) na comparação entre eles.

Esse resultado mostra que a close copy não foi bem avaliada pelos ouvintes; no entanto,

outros estímulos manipulados como 2.1, 3.1 e 4.1 tiveram uma aceitabilidade maior na

avaliação feita pelos ouvintes, apesar das notas desses estímulos não apresentarem

significância estatística. Além disso, é importante notar que o registro não parece adicionar

nenhuma nuance expressiva a esse contorno (como na asserção ou na questão total), mas

interfere na aceitabilidade da identidade do valor funcional do desafio.

4.5 Experimento 2 – Pedido

No contorno do pedido, o estímulo utilizado como base para esse processo de

estilização é o 1.1, que apesar de ser muito semelhante à close copy, difere-se dela no seguinte

aspecto: há um ponto de inflexão a menos no início da última sílaba postônica. Foram

testados o alinhamento na vogal tônica inicial e final (estímulos 1.1 a 1.5), a presença da

subida inicial e final (estímulos 2.1 a 2.2), o campo tonal (estímulos 3.1 a 3.2) e o registro

(estímulos 4.1 a 4.2).

4.5.1 Estímulo 1.1

O estímulo com o alinhamento antecipado na tônica final “e” obteve nota média de 6,2;

o contorno original recebeu nota média 7,8, e a close copy, nota média de 9,3, que recebeu

nota média de 9,3. Esse estímulo base apresentou diferença estatisticamente significativa não

Con 'ver sa com 'e le

227Hz

109Hz 24Hz

Figura 90 – Estímulo 4.2 do desafio: registro baixo

Page 104: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

87

só em relação ao contorno original (p<0,017934), mas também em relação à close copy

(p<0,000022), por motivos que não estão muito claros para nós.

4.5.2 Estímulo 1.2

O estímulo com o alinhamento intermediário na tônica final “e” obteve nota média de

6,8, uma avaliação ligeiramente melhor do que a do estímulo anterior; embora a diferença

observada em relação ao estímulo 1.1 não tenha apresentado significância estatística

(p<0,287399). O alinhamento na tônica final parece permitir uma variação em relação à sua

localização que pode estar mais à direita da vogal tônica final ou se afastar dela.

4.5.3 Estímulo 1.3

Esse estímulo com o alinhamento tardio na tônica final “e” obteve média de 4,8, o que

pode ser interpretado como um mau reconhecimento do contorno; a diferença observada em

relação ao estímulo 1.1 apresentou tendência fraca de significância (p<0,176236). Conclui-se,

portanto, que o alinhamento do pedido começa a ser prejudicado se o alinhamento for tardio,

pois se trata de um traço relevante para o reconhecimento do valor funcional, corroborando o

que já foi dito sobre o alinhamento desse contorno em Moraes e Colamarco (2007).

Con 'ver sa com 'e le

201Hz

118Hz

117Hz 78Hz

Con 'ver sa com 'e le

201Hz

118Hz

117Hz 78Hz

Con 'ver sa com 'e le

201Hz

118Hz

117Hz 78Hz

Figura 91 – Estímulo 1.1 do pedido: alinhamento antecipado na tônica final

Figura 92– Estímulo 1.2 do pedido: alinhamento intermediário na tônica final

Figura 93 – Estímulo 1.3 do pedido: alinhamento tardio na tônica final

Page 105: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

88

4.5.4 Estímulo 1.4

O estímulo com o alinhamento intermediário na primeira sílaba tônica “ver” recebeu a

nota média de 7,1; tendo sido observada uma tendência fraca de significância na queda dessa

avaliação em relação ao estímulo 1.1 (p<0,177264). Esse resultado indica que o alinhamento

intermediário na tônica inicial não afeta o reconhecimento do contorno.

4.5.5 Estímulo 1.5

O estímulo com o alinhamento tardio na primeira sílaba tônica “ver” obteve nota média

8, apresentando uma diferença significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,014909). Esse

resultado indica que o alinhamento na tônica inicial pode variar, pois não houve prejuízo no

reconhecimento do valor funcional do contorno mesmo com possibilidades diferentes de

alinhamento nessa sílaba.

4.5.6 Estímulo 2.1

O estímulo sem a primeira subida recebeu nota média de 5,5. Esse resultado indica um

prejuízo na identificação do contorno apesar da subida final permanecer intacta, embora a

diferença em relação ao estímulo base 1.1 não tenha sido significativa (p<0,367493).

Con 'ver sa com 'e le

201Hz

118Hz

117Hz 78Hz

Con 'ver sa com 'e le

201Hz

118Hz

117Hz 78Hz

Figura 94 – Estímulo 1.4 do pedido: alinhamento intermediário na tônica inicial

e na tônica final

Figura 95 – Estímulo 1.5 do pedido: alinhamento tardio na tônica inicial e

antecipado na tônica final.

Page 106: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

89

4.5.7 Estímulo 2.2

O estímulo sem a subida final recebeu nota média de 2,7; uma diferença significativa

em comparação com o estímulo base 1.1 (p<0,000014). Esse resultado indica que a subida

final é essencial para a identificação do contorno melódico do pedido.

4.5.8 Estímulo 3.1

O estímulo com o campo tonal expandido recebeu nota média de 6,3; uma diferença não

significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,787264). Entendemos que no final desse

contorno há a presença de uma ênfase sobre a tônica “e”, o que afasta esse contorno do

significado “neutro” do pedido, ou seja, um contorno sem nuances expressivas e sem ênfases.

4.5.9 Estímulo 3.2

Esse estímulo com o campo tonal comprimido obteve nota média 5; no entanto, essa

compressão não foi significativa em relação ao estímulo 1.1 no teste estatístico (p<0,218726).

Esse prejuízo no reconhecimento desse contorno deve ser causado pelo fato de que o valor

Con 'ver sa com 'e le

118Hz

117Hz 78Hz

Con 'ver sa com 'e le

201Hz

117Hz 78Hz

Con 'ver sa com 'e le

221Hz

138Hz

97Hz 58Hz

Figura 96 – Estímulo 2.1 do pedido: contorno sem a subida inicial

Figura 97– Estímulo 2.2 do pedido: contorno sem a subida final

Figura 98 – Estímulo 3.1 do pedido: campo tonal expandido

Page 107: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

90

funcional do pedido não mais parecer ser neutro, o que precisa ser verificado

sistematicamente.

4.5.10 Estímulo 4.1

O estímulo com o registro deslocado para o alto obteve nota média de 5,5; essa

diferença observada em relação ao estímulo 1.1 não foi significativa (p<0,384221). Esse

resultado indica que se o pico na tônica final começar a atingir um nível de referência alto no

registro, o valor funcional neutro do pedido é prejudicado, surgindo uma nuance enfática no

enunciado.

4.5.11 Estímulo 4.2

O estímulo com o registro baixo obteve nota média de 5,7; embora não tenha sido

observada significância no teste estatístico em comparação com o estímulo 1.1 (p<0,931914).

Esse resultado pode ser explicado pelo fato de que os picos dos movimentos ascendentes das

tônicas estão em um nível mais baixo do que o normal, colocando o falante em um registro

mais grave (vocal fry), o que pode ter causado um prejuízo no reconhecimento do contorno.

Con 'ver sa com 'e le

191Hz

108Hz

127Hz 88Hz

Con 'ver sa com 'e le

251Hz

147Hz

146Hz 97Hz

Con 'ver sa com 'e le

161Hz

94Hz

94Hz 62Hz

Figura 99 – Estímulo 3.1 do pedido: campo tonal comprimido

Figura 100 – Estímulo 4.1 do pedido: registro alto

Figura 101 – Estímulo 4.2 do pedido: registro baixo

Page 108: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

91

Por fim, é interessante notar que, na avaliação do contorno do pedido, a close copy

obteve nota média de 9,3, enquanto o contorno original recebeu nota média de 7,8; isto é, a

close copy foi melhor avaliada do que o contorno original. Além disso, essa avaliação da close

copy foi corroborada no teste estatístico, pois apresentou diferença significativa em

comparação ao contorno original (p<0,007755).

4.6 Experimento 2 – Sugestão

No contorno da sugestão, o estímulo utilizado como base para as modificações nesse

processo de estilização foi o estímulo 1.1, que possui o mesmo número de pontos de inflexão

em comparação com a close copy; no entanto, a posição do alinhamento antecipado do pico

na última sílaba tônica está localizada exatamente na fronteira que marca o início dela. No

processo de estandardização da sugestão, foram testados o alinhamento na tônica final

(estímulos 1.1 a 1.3), o registro (estímulos 2.1 a 2.2), expansão e compressão no pico da

tônica final (estímulo 3.1 a 3.5).

4.6.1 Estímulo 1.1

O estímulo com o alinhamento antecipado na tônica final “e” obteve nota média de 7,8,

apresentando diferença com tendência forte de significância (p<0,086420) em relação ao

contorno original (nota média de 6,8) e diferença significativa (p<0,049100) em relação à

close copy (nota média de 6,5). Esse resultado indica um bom reconhecimento desse estímulo

pelo fato do alinhamento na tônica final estar exatamente no início dessa sílaba.

4.6.2 Estímulo 1.2

O estímulo com o alinhamento intermediário na tônica final “e” recebeu nota média de

4,1; esse prejuízo no reconhecimento do contorno foi corroborado no teste estatístico

apresentado significância em relação ao estímulo 1.1 (p<0,000060). Com base nesse

resultado, pode-se concluir que se o pico não estiver alinhado à margem esquerda da tônica,

ou seja, antecipadamente, o contorno se afasta do seu valor funcional neutro.

Con 'ver sa com 'e le

191Hz

114Hz 79Hz

Figura 102 – Estímulo 1.1 da sugestão: alinhamento antecipado na tônica final

Page 109: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

92

4.6.3 Estímulo 1.3

O estímulo com o alinhamento tardio na tônica final “e” obteve nota média de 5,2; essa

queda apresentou diferença significativa na avaliação dos ouvintes em relação ao estímulo 1.1

(p<0,004012). Esse resultado indica que o alinhamento é um parâmetro importante para a

identificação do contorno da sugestão.

4.6.4 Estímulo 2.1

O estímulo com o registro deslocado para o alto obteve nota média de 7,7; no entanto,

não se observou significância estatística na comparação com o estímulo 1.1 (p<0,919107).

Esse resultado mostra que, apesar do falante estar com a voz mais aguda, o bom

reconhecimento do valor funcional desse contorno pode ser proveniente da manutenção do

nível de referência alto no registro do pico atingido na última tônica do enunciado.

4.6.5 Estímulo 2.2

O estímulo com o registro deslocado para baixo obteve nota média de 4,3; uma queda

significativa em relação à avaliação que recebeu o estímulo 1.1 (p<0,000486). Essa pior

Con 'ver sa com 'e le

191Hz

114Hz 79Hz

Con 'ver sa com 'e le

191Hz

114Hz 79Hz

Con 'ver sa com 'e le

229Hz

136Hz 95Hz

Figura 103 – Estímulo 1.2 da sugestão: alinhamento intermediário

na tônica final

Figura 104 – Estímulo 1.3 da sugestão: alinhamento tardio na tônica final

Figura 105 – Estímulo 2.1 da sugestão: registro alto

Page 110: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

93

avaliação pode ser proveniente tanto do fato de que a ressíntese está em um registro mais

grave (vocal fry), não estando mais no registro modal, quanto do fato do pico na tônica final

estar mais baixo do que o normal, afastando-o do nível de referência alto no registro.

4.6.6 Estímulo 3.127

O estímulo com a tônica final “e” teve seu pico expandido em 20% e recebeu nota

média de 6,5; uma diferença significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,039455). Esse

resultado indica que se o pico da tônica final ainda estiver nível de referência alto no registro,

não há prejuízo no reconhecimento do contorno.

4.6.7 Estímulo 3.2

O estímulo com a expansão da tônica final em 40% obteve nota média de 5,3; sendo

essa queda significativa em relação ao ST 1.1 (p<0,006288). Esse resultado mostra que apesar

do contorno ainda ser reconhecido como sugestão, é possível perceber uma nuance expressiva

ser adicionada no enunciado, que ainda será testada sistematicamente.

27 Nesta série de estímulos com a expansão e a compressão da tônica final que vai do estímulo 3.1 até o 3.6, o

valor inicial da F0 no primeiro movimento ascendente está com 20Hz a mais do que o valor utilizado desde o

início do processo de estilização (114Hz) por um equívoco.

Con 'ver sa com 'e le

229Hz

134Hz 79Hz

Con 'ver sa com 'e le

267Hz

134Hz 79Hz

Con 'ver sa com 'e le

152Hz

91Hz 63Hz

Figura 106 – Estímulo 2.2 da sugestão: registro baixo

Figura 107 – Estímulo 3.1 da sugestão: tônica final expandida em 20%

Figura 108 – Estímulo 3.2 da sugestão: tônica final expandida em 40%

Page 111: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

94

4.6.8 Estímulo 3.3

O estímulo com expansão da tônica final expandida em 60% obteve nota média 7; no

entanto não foi observada uma diferença significativa em relação ao estímulo 1.1

(p<0,374041). Assim como no estímulo anterior, é possível interpretar desse contorno uma

nuance expressiva, apesar do significado de sugestão desse estímulo não ter sido prejudicado.

Isso explica a oscilação entre a nota dada para esse estímulo e a do estímulo anterior; porém, é

preciso testar essa impressão sistematicamente.

4.6.9 Estímulo 3.4

O estímulo com a compressão em 20% na tônica final obteve nota média de 6,3; essa

queda na avaliação apresenta uma diferença significativa em relação ao estímulo 1.1

(p<0,034545). Esse resultado indica que esse contorno ainda é reconhecido como sugestão,

apesar de não ser o representante mais neutro. Isso ocorre provavelmente devido à

aproximação do pico na última tônica do limite inferior do nível de referência baixo no

registro do falante.

4.6.10 Estímulo 3.5

O estímulo com a compressão de 40% na tônica final obteve nota média de 3,5,

diferença significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,000022). Esse resultado indica que se

o pico atingido na tônica final estiver em um nível de referência baixo no registro, o

reconhecimento desse contorno é bastante prejudicado.

Con 'ver sa com 'e le

305Hz

134Hz 79Hz

Con 'ver sa com 'e le

153Hz

134Hz

59Hz

Figura 109 – Estímulo 3.3 da sugestão: tônica final expandida em 60%

Figura 110 – Estímulo 3.4 da sugestão: tônica final comprimida em 20%

Page 112: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

95

Por fim, é importante ressaltar que a avaliação feita pelos ouvintes do contorno original

da sugestão e de sua respectiva close copy foi bem parecida, com notas médias de 6,8 e 6,5,

respectivamente. A comparação entre a close copy e o contorno original não apresentou

significância no teste estatístico (p<0,536880).

4.7 Experimento 3 – Questão parcial

No contorno da questão parcial, o estímulo utilizado como base foi o 1.1, que se

distingue da close copy por conter um breve platô sobre a primeira sílaba tônica antes de

iniciar a queda gradual até o final do enunciado. Nesse contorno, foram testados a extensão do

platô sobre o movimento (estímulos 1.1 a 1.6), o início da queda (estímulos 2.1 a 2.2) e o

campo tonal (estímulos 3.1 a 3.2).

4.7.3 Estímulo 1.1

Esse estímulo com um platô com duração de 70ms em um nível alto sobre a sílaba “co”

seguido de uma queda contínua obteve nota média de 8,2; no entanto, a diferença não foi

significativa (p<0,213906) em relação à close copy (nota média de 7,3) nem ao contorno

original (p<0,753385) (nota média de 8,5). A hipótese para essa boa avaliação se baseia na

presença desse platô sobre a primeira sílaba tônica, com a duração de 70 ms.

4.7.4 Estímulo 1.2

O estímulo com um platô com duração de 170ms em um nível alto sobre as sílabas

“co/mo” seguido de uma queda contínua obteve nota média de 8,5; a diferença em relação ao

Con 'ver sa com 'e le

134Hz 114Hz

79Hz

'Co mo vo 'cê 'sa be

302Hz

53Hz

Figura 111 – Estímulo 3.5 da sugestão: tônica final comprimida em 40%

Figura 112 – Estímulo 1.1 da questão parcial: platô sobre a sílaba “co”

(70ms)

Page 113: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

96

estímulo base 1.1 não foi significativa (p<0,540726). O efeito perceptivo desse platô com

duração de 170ms resultou em um bom reconhecimento do contorno.

4.7.5 Estímulo 1.3

O estímulo com um platô com duração de 290ms em um nível alto sobre as sílabas

“co/mo/vo” seguido de uma queda contínua obteve nota média de 5,7; essa queda na

avaliação em comparação com o estímulo 1.1 é significativa no teste estatístico (p<0,006534).

Percebe-se, então, que o reconhecimento do contorno começa a ser prejudicado se o platô

avançar sobre a terceira sílaba do enunciado.

4.7.6 Estímulo 1.4

O estímulo com um platô com duração de 440ms sobre as sílabas “co/mo/vo/cê”

seguido de uma queda contínua obteve nota média de 4,8; essa queda em relação ao estímulo

1.1, mais uma vez, é significativa estatisticamente (p<0,000160). Esse resultado indica que o

platô no início do contorno mantém a segunda pretônica e a segunda tônica do enunciado em

nível alto, o que normalmente não ocorre na produção do contorno da questão parcial.

'Co mo vo 'cê 'sa be

307Hz

53Hz

'Co mo vo 'cê 'sa be

307Hz

53Hz

'Co mo vo 'cê 'sa be

307Hz

53Hz

Figura 113 – Estímulo 1.2 da questão parcial: platô sobre a sílaba

“co/mo” (170ms)

Figura 114 – Estímulo 1.3 da questão parcial: platô sobre as sílabas

“co/mo/vo” (290ms)

Figura 115 – Estímulo 1.4 da questão parcial: platô sobre as sílabas

“co/mo/vo/cê” (440ms)

Page 114: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

97

4.7.7 Estímulo 1.5

O estímulo com um platô com duração de 720ms em um nível alto sobre as sílabas

“co/mo/vo/cê/sa” seguido de uma queda contínua obteve nota média de 2,7; essa queda ainda

mais forte da avaliação em comparação ao estímulo base 1.1 apresentou significância

estatística (p<0,000005). Esse resultado mostra que a última tônica estando em um nível de

referência alto no registro prejudica o reconhecimento do valor funcional da questão parcial.

4.7.8 Estímulo 1.6

O estímulo com um platô com duração de 870ms em um nível de referência alto do

registro ao longo de todo o enunciado obteve nota média de 2,5; essa avaliação ainda mais

baixa que a anterior em comparação com o estímulo base 1.1 apresentou diferença

significativa (p<0,000002). Com base nesse resultado, pode-se concluir que o contorno da

questão parcial se caracteriza pelo início em um nível de referência alto no registro e pelo

movimento descendente gradual ao longo de todo enunciado que termina em um nível de

referência baixo no registro.

4.7.1 Estímulo 2.1

O estímulo com uma queda gradual contínua começando em um nível de referência alto

no registro em 236Hz obteve a nota média de 7,1; a diferença desse estímulo em comparação

com o estímulo base 1.1 não apresentou significância estatística (p<0,150972). Portanto, de

acordo com a avaliação dos ouvintes, essa configuração é reconhecida como questão parcial.

'Co mo vo 'cê 'sa be

307Hz

53Hz

Figura 116 – Estímulo 1.5 da questão parcial: platô sobre as sílabas

“co/mo/vo/cê/ sa” (720ms)

Figura 117 – Estímulo 1.6 da questão parcial: platô sobre as sílabas

“co/mo/vo/cê/sa/be” (870ms)

'Co mo vo 'cê 'sa be

307Hz 307Hz

Page 115: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

98

4.7.2 Estímulo 2.2

Esse estímulo com uma queda contínua ao longo de todo o enunciado que começa em

um nível de referência ainda mais alto no registro em 307Hz obteve nota média de 8,7;

embora não tenha sido observada uma significância estatística (p<0,359590) em comparação

com o estímulo base 1.1. Esse resultado indica que o contorno foi bem reconhecido.

4.7.9 Estímulo 3.128

O estímulo com o campo tonal expandido teve como base a close copy, e não o estímulo

1.1, obtendo nota média de 9,3; uma diferença significativa em relação à close copy

(p<0,027150). Esse resultado indica que esse contorno é bem reconhecido por se iniciar em

um nível de referência alto no registro.

28 Novamente por um erro durante o processo de estandardização, o estímulo base 1.1 não foi utilizado para fazer

a estilização do campo tonal e sim a close copy da questão parcial que possui inclinações diferentes durante a

queda ao longo do enunciado.

'Co mo vo 'cê 'sa be

342Hz

53Hz

'Co mo vo 'cê 'sa be

236Hz

53Hz

'Co mo vo 'cê 'sa be

307Hz

53Hz

Figura 118 – Estímulo 2.1 da questão parcial: queda contínua ao longo do

enunciado com início em 236Hz

Figura 119 – Estímulo 2.1 da questão parcial: queda contínua ao longo do

enunciado com início em 307Hz

Figura 120– Estímulo 3.1 da questão parcial: campo tonal expandido

Page 116: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

99

4.7.10 Estímulo 3.2

O estímulo com o campo tonal comprimido, que também tem como base a close copy,

obteve a nota média de 5,3; essa queda em relação à close copy é significativa (p<0,000351).

Esse resultado indica que se o início do contorno não estiver no limite superior do nível de

referência alto no registro, o valor funcional neutro da questão parcial é prejudicado.

Por fim, o contorno original da questão parcial obteve nota média de 8,5 e a close copy,

6,5; a diferença entre eles no teste estatístico demonstrou uma tendência forte de significância

(p<0,101032).

4.8 Experimento 3 – Exclamação

No contorno da exclamação, o estímulo utilizado como base foi o estímulo 1.1, que é

muito parecido com a close copy, apenas com a diferença de ter um movimento ascendente

sem nenhum outro ponto de inflexão que se estende da primeira sílaba tônica “co” até a

segunda sílaba tônica “cê”. Para a exclamação, foram testados a extensão do movimento

(estímulos 1.1 a 1.9), o alinhamento na tônica final (estímulos 2.1 a 2.3), o campo tonal

(estímulos 3.1 a 3.2) e a ausência do movimento ascendente-descendente no final do contorno

(estímulo 4.1).

4.8.1 Estímulo 1.1

O estímulo baseado na close copy obteve nota média de 7,6, enquanto a própria close

copy recebeu 8,6 e o contorno original, 8,2. No tocante ao teste estatístico, o estímulo 1.1 não

apresentou uma diferença significante em relação à avaliação da close copy (p<0,197582) e

nem em relação ao contorno original (p<0,398186).

'Co mo vo 'cê 'sa be

262Hz

73Hz

'Co mo vo 'cê 'sa be

236Hz

56Hz

Figura 121 – Estímulo 3.2 da questão parcial: campo tonal comprimido

Figura 122 – Estímulo 1.1 da exclamação: movimento ascendente no início do

contorno

Page 117: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

100

4.8.2 Estímulo 1.2

O estímulo com uma queda gradual no início do contorno seguido de um movimento

ascendente-descendente na última sílaba tônica obteve nota média de 7,6; embora não tenha

apresentando significância estatística em relação ao estímulo 1.1 (p<0,931098). Assim, na

avaliação dos ouvintes, esse contorno foi bem reconhecido.

4.8.3 Estímulo 1.3

O estímulo com uma queda gradual ao longo de todo o enunciado recebeu nota média

de 4,5; essa queda foi significativa em relação ao estímulo 1.1 (p<0,000729). Esse resultado

indica que o movimento ascendente-descendente na tônica final é fundamental para o

reconhecimento do contorno da exclamação.

4.8.4 Estímulo 1.4

O estímulo com platô com duração de 80ms na primeira sílaba tônica “co” obteve nota

média de 6,5, após o platô, há uma queda gradual, e, por último, um movimento ascendente-

descendente na última sílaba tônica. Esse estímulo não apresentou uma diferença significativa

em relação ao estímulo 1.1 (p<0,144286). A avaliação dos ouvintes aponta para um bom

reconhecimento do contorno.

'Co mo vo 'cê 'sa be

229Hz

69Hz

'Co mo vo 'cê 'sa be

229Hz

69Hz

'Co mo vo 'cê 'sa be

229Hz

69Hz

Figura 123 – Estímulo 1.2 da exclamação: queda contínua no início do contorno

com movimento ascendente-descendente na tônica final

Figura 124 – Estímulo 1.3 da exclamação: queda contínua ao longo do contorno

Figura 125 – Estímulo 1.4 da exclamação: platô de 80ms no início do contorno

Page 118: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

101

4.8.5 Estímulo 1.5

O estímulo com um platô com duração de 160ms sobre as sílabas “co/mo” obteve nota

média de 8,1. A diferença entre a avaliação desse estímulo e o estímulo base 1.1 não foi

significativa (p<0,407643) no teste estatístico.

4.8.6 Estímulo 1.6

O estímulo com um platô com duração de 280ms sobre as sílabas “co/mo/vo” obteve

nota média 7,0, após o platô, há uma queda gradual, e, por último, um movimento ascendente-

descendente na última sílaba tônica. A diferença entre esse estímulo em relação ao estímulo

1.1 (p<0,346711) não foi significativa. Esse resultado indica que o platô dessa extensão na

parte inicial do contorno não interfere no reconhecimento da exclamação.

4.8.7 Estímulo 1.7

O estímulo com um platô com duração de 450ms sobre as sílabas “co/mo/vo/cê”, obteve

nota média de 6,2, após o platô, há um movimento ascendente-descendente na última sílaba

tônica. A diferença desse estímulo em relação ao estímulo 1.1 apresentou tendência forte de

significância (p<0,104071). Esse resultado indica que o reconhecimento do valor funcional da

exclamação está começando a ser prejudicado se o platô tiver essa duração.

'Co mo vo 'cê 'sa be

229Hz

69Hz

'Co mo vo 'cê 'sa be

229Hz

69Hz

'Co mo vo 'cê 'sa be

229Hz

69Hz

Figura 126– Estímulo 1.5 da exclamação: platô de 160ms no início do contorno

Figura 127 – Estímulo 1.6 da exclamação: platô de 280ms no início do

contorno

Figura 128 – Estímulo 1.7 da exclamação: platô de 450ms no início do

contorno

Page 119: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

102

4.8.8 Estímulo 1.8

O estímulo com um platô com duração de 810ms sobre as sílabas “co/mo/vo/cê/sa”

obteve nota média de 3,3, após o platô, há um movimento descendente na última sílaba tônica.

Essa queda na avaliação desse estímulo em relação ao estímulo 1.1 apresentou significância

estatística (p<0,000049). Esse resultado demonstra que esse contorno precisa ter como

configuração intrassilábica na tônica final um movimento ascendente-descendente, não um

platô.

4.8.9 Estímulo 1.9

O estímulo com platô com duração de 1030ms sobre as sílabas “co/mo/vo/cê/sa/be”, ou

seja, ao longo de todo o enunciado, obteve nota média de 2,3; a diferença entre esse estímulo

e o estímulo base 1.1 é significativa (p<0,000002). Esse resultado indica que o contorno da

exclamação não pode se manter em um nível de referência alto no registro ao longo de todo o

enunciado.

4.8.10 Estímulo 2.1

O estímulo com o alinhamento antecipado na última tônica “sa” obteve nota média de

3,2; essa avaliação muito inferior ao estímulo 1.1 é significativa (p<0,000032). Esse resultado

sugere que o reconhecimento do contorno é bem prejudicado se o alinhamento for antecipado.

'Co mo vo 'cê 'sa be

229Hz

69Hz

'Co mo vo 'cê 'sa be

229Hz 229Hz

'Co mo vo 'cê 'sa be

229Hz

69Hz

Figura 129– Estímulo 1.8 da exclamação: platô de 810ms no início do

contorno

Figura 130 – Estímulo 1.9 da exclamação: platô de 1030ms no início do

contorno

Figura 131 – Estímulo 2.1 da exclamação: tônica final com alinhamento

antecipado

Page 120: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

103

4.8.11 Estímulo 2.2

Esse estímulo com o alinhamento intermediário na última tônica “sa” obteve nota média

de 5,8; a diferença entre essa avaliação em relação ao estímulo 1.1 foi significativa

(p<0,033530). Esse alinhamento que se afastou um pouco mais da margem esquerda da sílaba

tônica apresentou um reconhecimento relativamente melhor do que o estímulo 2.1.

4.8.12 Estímulo 3.129

O estímulo com o campo tonal expandido, que tem como base a close copy, obteve nota

média de 7,8; embora a diferença em relação à close copy não tenha apresentado uma

significância estatística (p<0,659725) e nem ao estímulo base inicial 1.1 (p<0,676500). Com

base nessa avaliação, é possível dizer esse contorno é bem avaliado se a excursão dos

movimentos for normal.

4.8.13 Estímulo 3.2

O estímulo com o campo tonal comprimido obteve nota média de 4,2; uma diferença

significativa tanto em relação ao estímulo 1.1 (p<0,000075) quanto à close copy

(p<0,000007). Como o pico na tônica final está mais baixo do que o normal, o valor funcional

do contorno fica prejudicado.

29 Na série de estilização 3.1, 3.2 e 4.1, o estímulo base utilizado foi a close copy por um descuido, já que o

estímulo 1.1 estava sendo utilizado ao longo de todo o processo, embora seja esperado que os resultados dos

testes não fossem muito diferentes.

'Co mo vo 'cê 'sa be

229Hz

69Hz

'Co mo 'cê 'sa be

269Hz

171Hz 157Hz

109Hz

Figura 132 – Estímulo 2.2 da exclamação: tônica final com alinhamento

intermediário

Figura 133 – Estímulo 3.1 da exclamação: campo tonal expandido

Page 121: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

104

4.6.14 Estímulo 4.1

O estímulo sem o movimento ascendente-descendente na última tônica obteve nota

média de 3,3; apresentando uma diferença significativa em relação ao estímulo 1.1

(p<0,000015). Esse resultado indica que esse movimento ascendente-descendente na tônica

final é crucial para a caracterização funcional do contorno.

Por fim, o contorno original da exclamação obteve nota média de 8,2 e sua close copy,

8,6; embora a diferença entre eles não tenha apresentado significância estatística

(p<0,764891). Esse resultado mostra que a close copy da exclamação foi bem avaliada pelos

ouvintes.

***

O processo de estilização equivalent copy, que é feito para se chegar a uma

estandardização, teve como base não só os parâmetros acústicos propostos pelo modelo IPO,

mas também as hipóteses que sugiram na observação do comportamento da curva melódica

durante esse processo de experimentação. Como primeira conclusão desta fase, nota-se que os

ouvintes são capazes de julgar a “aceitabilidade” de um contorno melódico em relação ao seu

valor funcional. Há modificações nos contornos que os tornam mais ou menos aceitáveis

perceptivamente. No entanto, deve-se levar em conta que, nesses testes de percepção

'Co mo vo 'cê 'sa be

189Hz

131Hz 137Hz

109Hz

'Co mo vo 'cê 'sa be

Figura 134 – Estímulo 3.2 da exclamação: campo tonal comprimido

Figura 135 – Estímulo 4.1 da exclamação: contorno sem o movimento

ascendente-descendente final

Page 122: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

105

aplicados, a ordem aleatória da apresentação dos estímulos era sempre a mesma, por isso

talvez o efeito da ordem possa ter interferido na avaliação de alguns estímulos. De maneira

geral, o resultado do teste de percepção forma um grupo seleto de características acústicas que

compõem a identificação do valor funcional do contorno.

Ainda em relação aos resultados dos testes de percepção, é preciso comentar que

algumas close copies não tiveram notas médias similares ao contorno original, o que não era

esperado, como a close copy do desafio (nota média 4,7), que apresentou tendência forte de

significância em relação ao contorno original (nota média 6,3). Além disso, o caso contrário

ocorreu com o contorno do pedido, em que a close copy (nota média 9.3) apresentou

significância estatística em relação ao contorno original (nota 7,8). Como não está claro o por

que dessas closes copies não terem sido avaliadas de maneira semelhante à do contorno

original, será necessário averiguar mais cuidadosamente esses dois casos.

Page 123: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

106

CAPÍTULO 5. PARA UMA GRAMÁTICA DA ENTOAÇÃO MODAL DO

PB

Neste capítulo, algumas generalizações serão tecidas com base nos resultados dos testes de

percepção aplicados com o intuito de descrever foneticamente os movimentos melódicos

relevantes perceptivamente dos contornos melódicos do Português do Brasil analisados nesta

dissertação.

Para proceder à padronização dos movimentos melódicos, é preciso estabelecer os

valores padronizados de F0 do informante que teve sua voz manipulada e avaliada nos testes

de percepção:

O nível mais alto atingido no registro: 300Hz

O nível mais baixo atingido no registro: 66Hz

A excursão mais longa (medida do nível mais baixo): 27ST

Excursão normal: até 12 ST

Excursão ampla: Mais de 12 ST

Registro baixo: 65 – 132 (0 a 12 ST)

Registro alto: 132 – 300 (12 ST a 27 ST)

Quadro 10 – Dados fonéticos de INF 1 adaptado de Odé (1989: 142)

Após os resultados dos testes que demonstraram quais são os movimentos melódicos

relevantes nesse grupo de contornos analisados, iniciou-se o processo de medidas acústicas

desses movimentos para determinar os valores padronizados dos parâmetros acústicos

propostos pela teoria com base em trabalhos anteriores que utilizaram a metodologia do

modelo IPO (ODÉ, 1989; PIJPER, 1983). Para determinar a excursão do movimento

melódico, o valor inicial e final de F0 de um movimento era anotado em hertz e semitom,

junto com o tempo inicial e final de cada movimento. Ao final, calculou-se a média da

excursão em semitom (ST), a taxa de mudança em semitons por segundo (ST/s) e duração dos

movimentos em milissegundo (ms). No quadro abaixo, serão expostos tais valores

padronizados em relação à excursão ampla e parcial, da taxa de mudança e de duração dos

movimentos melódicos:

Page 124: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

107

Subida

Íngreme30

ou

gradual31

Completo Parcial

60ST/s

200ms

12ST

60ST/s

100ms

6 ST

Queda

Íngreme ou gradual

-60ST/s

200ms

-12ST

-60ST/s

100ms

-6 ST

Quadro 11 – Valores padronizados dos movimentos melódicos do PB, adaptado de Pijper (1983:46)

A tabela com as medidas que serviram como base para estabelecer a padronização dos

valores pode ser encontrada no apêndice B desta dissertação, página 136 a 141.

5.1 Asserção

5.1.1 Direção dos movimentos da asserção

A asserção se configura como um padrão melódico ascendente-descendente. Se a

asserção for produzida integralmente em um registro alto, seu reconhecimento é prejudicado

(EST 2.1/nota 5,8); por outro lado, se o contorno estiver somente em um registro baixo, ele

possui um reconhecimento ligeiramente melhor (EST 2.2/nota 6,2) em comparação ao

estímulo anterior.

5.1.2 Alinhamento dos movimentos da asserção

No contorno da asserção, o alinhamento do pico da F0 na primeira sílaba tônica é tardio.

Em relação ao movimento descendente que também abarca a tônica final, este alinhamento é

antecipado.

30 O movimento abarca somente uma sílaba.

31 O movimento abarca mais de uma sílaba.

Ma 'ri na can 'ta va

Figura 136 – Alinhamento dos movimentos da asserção

Page 125: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

108

5.1.3 Declividade dos movimentos da asserção

Outro aspecto para a caracterização da asserção é o fato dos movimentos ascendentes e

descendentes serem graduais, ou seja, esses dois tipos de movimentos precisam abarcar mais

de uma sílaba. Por isso, no que se refere à extensão dos movimentos melódicos da asserção,

nota-se que o movimento descendente pode ocorrer desde a primeira postônica até o início da

última tônica sem prejudicar a compreensão desse padrão melódico (EST1.2/nota 8;

EST1.3/nota 8,5; EST 1.4/nota 8,3), o que assegura a possibilidade de ocorrer variação em

relação à sílaba na qual começa o movimento descendente gradual.

Por outro lado, a compreensão do contorno é prejudicada se o movimento descendente

começar no (i) início da primeira tônica; já que o movimento ascendente na pretônica anterior

cobre apenas uma única sílaba (EST 1.1/ nota 5,1), ou na (ii) última postônica; em que o

movimento descendente abarca apenas uma sílaba: a postônica final (EST 1.5/nota 4,6).

5.1.4 Excursão dos movimentos da asserção

Outro aspecto que se mostrou relevante no teste de percepção para o reconhecimento e

aceitabilidade do contorno da asserção foi a excursão do movimento. A diferença entre o

valor da frequência inicial e o valor da frequência final dos movimentos ascendente e

descendente foi alterada no intuito de se expandir o campo tonal. O resultado do teste de

percepção mostrou que há um melhor reconhecimento do contorno da asserção com o campo

tonal expandido; por isso, conclui-se que, na asserção, uma excursão ampla que esteja

Ma 'ri na can 'ta va

Ma 'ri na can 'ta va

Figura 137 – Declividade dos movimentos da asserção: movimentos graduais

(linha plena), movimentos melhor avaliados no teste de percepção (cor azul)

Figura 138 – Declividade dos movimentos da asserção: movimentos graduais

(linha plena), movimentos íngremes (linha pontilhada); movimentos pior

avaliados no teste de percepção (cor vermelha)

Page 126: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

109

ultrapassando o valor padrão de 12 ST tanto no movimento ascendente quanto no descendente

tende a melhorar a nota do estímulo (EST 3.1/nota 9), estando esse valor na fronteira entre em

um nível de referência baixo e alto no registro. Caso contrário, se a excursão for normal, o

reconhecimento pode ser prejudicado (EST 3.2/nota 5,8).

5.2 Questão total

5.2.1 Direção dos movimentos da questão total

A questão total é caracterizada como um padrão melódico que possui um movimento

ascendente-descendente tanto no início quanto no final do contorno, sendo este último

movimento uma configuração fundamental para seu reconhecimento, pois, sem ele, o

contorno não é mais reconhecido como questão total (EST 5.2 /nota 1,5). Caso não haja o

primeiro movimento ascendente-descendente, pode-se dizer que o contorno ainda é

reconhecido como questão total (EST 5.1/nota 6,2), apesar de não ser considerado o padrão

mais neutro.

5.2.2 Alinhamento dos movimentos da questão total

Em relação ao alinhamento, conclui-se que o movimento ascendente na primeira vogal

tônica é antecipado. Já o segundo movimento ascendente que abarca a tônica final possui o

alinhamento tardio. É importante ressaltar que o alinhamento é um parâmetro que apresenta

variação no contorno da questão total. Segundo o teste de percepção aplicado, o alinhamento

do pico de F0 na tônica final pode ser tanto intermediário quanto tardio (EST 1.2/ nota 8,2;

EST 1.3/nota 7,7), mas também há a possibilidade de ser antecipado (EST 1.1/nota 7,3);

apesar de o contorno apresentar uma aceitabilidade relativamente menor com este último

alinhamento.

Ma 'ri na can 'ta va

150Hz

100 Hz 130Hz 94Hz

60Hz 64Hz

Figura 139 – Excursão dos movimentos da asserção: excursão normal (linha plena),

excursão ampla (linha pontilhada), movimentos melhor avaliados (cor azul),

movimentos pior avaliados (cor vermelha)

Page 127: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

110

5.2.3 Declividade dos movimentos da questão total

No tocante ao movimento ascendente-descendente que ocorre no final do contorno,

através do teste de percepção, concluiu-se que o movimento ascendente iniciado na tônica

final é caracterizado como íngreme (EST 3.1/nota 8,6); pois, se ele for gradual, o significado

da questão total é bastante prejudicado (EST 3.2/nota 2,5). Em outras palavras, a pretônica

que antecede a tônica final precisa ser baixa, já que é nesta sílaba que movimento descendente

é finalizado para dar início ao movimento ascendente final que é íngreme.

Além disso, outra característica relevante diz respeito à subida final, que ocorre já no

início da última tônica seguida de uma queda na postônica final, que frequentemente já se

inicia na porção final da tônica. Outro aspecto importante constatado é que se a postônica

final terminar alta, o sentido desse padrão melódico é perdido (EST 4.1/ nota 4,8; EST 4.2

/nota 4,5), por isso o movimento ascendente final tem que ser seguido, obrigatoriamente, por

um movimento descendente, no caso de haver uma sílaba postônica.

5.2.4 Excursão dos movimentos da questão total

Por fim, a questão total é caracterizada por uma excursão normal em seus movimentos

ascendentes e descendentes, exceto pelo movimento ascendente na última tônica que possui

uma excursão ampla. De acordo com os resultados do teste, o contorno expandido tem um

reconhecimento melhor (EST 6.1/nota 7,3) do que o campo tonal comprimido (EST 6.2/ nota

Ma 'ri na can 'ta va

Figura 141 – Declividade dos movimentos da questão total: movimentos

graduais da questão total (linha plena), movimentos íngremes (linha pontilhada),

movimentos melhor avaliados (azul), movimentos pior avaliados (vermelho)

Ma 'ri na can 'ta va

Figura 140 – Alinhamento dos movimentos da questão total

Page 128: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

111

6,1). Por fim, a mudança do registro para um nível alto (EST 2.1/ nota 7,3) ou para um nível

baixo (EST 2.2/nota 7) não alterou expressivamente a interpretação do contorno, mas, de

certo modo, o afastou do que pode se chamar de um contorno neutro, isto é, um contorno sem

influência da esfera expressiva e sem nenhum tipo de focalização.

5.3 Ordem

5.3.1 Direção dos movimentos da ordem

A ordem se caracteriza como um contorno ascendente-descendente. Caso haja apenas

um movimento descendente ao longo de todo o enunciado (EST 2.2/nota 4) ou um

movimento ascendente na tônica final (EST 1.5/nota 3,5), o valor funcional da ordem é

bastante prejudicado.

5.3.2 Alinhamento dos movimentos da ordem

O alinhamento ideal do movimento ascendente na primeira sílaba tônica é o

alinhamento tardio (EST 1.2/nota 7,2) e o alinhamento na tônica final é sempre antecipado.

5.3.3 Declividade dos movimentos da ordem

A primeira tônica do enunciado é abarcada por um movimento ascendente e não

descendente (EST 2.2/nota 4). Esse movimento ascendente pode ser gradual ou íngreme, com

o pico dessa sílaba tônica terminando alto em um nível de referência baixo no registro. Já o

movimento descendente pode ser gradual com a tônica final também em um nível de

Ma 'ri na can 'ta va

144 Hz 168Hz

104 Hz 128Hz

94Hz 90Hz

74Hz 50Hz

Con 'ver sa com 'e le

Figura 143 – Alinhamento dos movimentos da ordem

Figura 142 – Excursão da questão total: excursão normal (linha plena); excursão ampla

(linha pontilhada), movimentos melhor avaliados (cor azul), movimentos pior avaliados (cor

vermelha)

Page 129: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

112

referência baixo no registro (EST 1.1/nota 7; EST 1.2/nota 7,2; EST 1.3/nota 7,5; EST

2.1/nota 7,7). Caso contrário, se o movimento ascendente da primeira tônica não terminar alto

no nível de referência baixo no registro (EST 1.4/ nota 5,7) ou o campo tonal for amplo (EST

3.1/ nota 3,5), o reconhecimento do contorno é prejudicado. Por outro lado, se o campo tonal

for normal, o contorno é bem reconhecido (EST 3.2/nota 7).

5.3.4 Excursão dos movimentos da ordem

Em relação à excursão, este contorno possui uma excursão normal em um nível de

referência baixo do registro, o que é uma característica importante para seu reconhecimento

(EST 3.2/ nota 7). Se a excursão estiver passando de normal para ampla, o reconhecimento do

contorno é muito prejudicado (EST 3.1/ nota 3,5).

Con 'ver sa com 'e le

Con 'ver sa com 'e le

151Hz

121Hz

110Hz 64Hz

80Hz 54Hz

Figura 144 – Declividade do contorno da ordem: movimento gradual (linha

plena), movimento íngreme (linha pontilhada), movimentos melhor avaliados

(cor azul)

Figura 146 – Excursão dos movimentos da ordem: excursão normal (linha

plena), excursão ampla (linha pontilhada), platô (linha com traço e ponto),

movimentos melhor avaliados (cor azul), movimentos pior avaliados (cor

vermelha)

Con 'ver sa com 'e le

Figura 145 – Declividade do contorno da ordem: movimento gradual (linha

plena), movimento íngreme (linha pontilhada), movimentos pior avaliados (cor

vermelha)

Page 130: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

113

5.4 Desafio

5.4.1 Direção dos movimentos do desafio

Este contorno também possui uma configuração ascendente – descendente em um nível

de referência alto do registro. No teste de percepção, os contornos que apresentaram (i) uma

queda gradual ao longo de todo o enunciado (EST 1.6/ nota 3,7), (ii) um movimento

ascendente gradual na primeira tônica (EST 1.4/ nota 1,8) ou (iii) um movimento ascendente

na tônica final (EST 1.5/ nota 3) prejudicaram o valor funcional do contorno. Sendo assim é

imprescindível tanto que haja um movimento ascendente no início desse contorno quanto um

movimento descendente. Além disso, o registro alto favorece o reconhecimento do contorno

(EST 4.1/ nota 7,3), o contrário do que acontece com o registro baixo (EST 4.2/ nota 5,8).

5.4.2 Alinhamento dos movimentos do desafio

No contorno melódico do desafio, o alinhamento do pico de F0 na primeira sílaba tônica

é tardio, enquanto o alinhamento do pico de F0 que abarca a tônica final é antecipado.

5.4.3 Declividade dos movimentos do desafio

Em relação à declividade, é importante ressaltar que o movimento ascendente nesse

contorno inclui tanto a sílaba pretônica inicial quanto a sílaba tônica inicial e o movimento

descendente, a última tônica e também a postônica, o que caracteriza esses dois movimentos

como graduais. Entre a primeira tônica e a última tônica pode haver variação em relação ao

tipo de movimento que abarca as sílabas que aí se encontram: ou um movimento descendente

ou um platô que se estende desde o final da primeira tônica até a última pretônica (EST

2.1/nota 7,2). Caso o platô se estenda da primeira postônica até a última pretônica, há um

prejuízo na identificação do significado do contorno. (EST 2.2/ nota 4,5).

Con 'ver sa com 'e le

Figura 147 – Alinhamento dos movimentos melódicos do desafio

Page 131: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

114

5.4.4 Excursão dos movimentos do desafio

A excursão do movimento ascendente e descendente do desafio é ampla, ultrapassando

o valor padrão de 12 ST, tanto com o campo tonal expandido (EST 3.1/nota 7,5) quanto com

o comprimido (EST 3.2 /nota 7). Entende-se que o bom reconhecimento do desafio possa vir

do pico da F0 no início do contorno que está em um nível de referência alto no registro.

5.5 Pedido

5.5.1 Direção dos movimentos do pedido

O contorno melódico do pedido possui um duplo movimento ascendente-descendente

em que a primeira subida está em um nível de referência alto no registro. Segundo os

resultados dos testes, a primeira subida interfere no reconhecimento desse contorno (EST 2.1/

nota 5,5), no entanto, é a última subida que é crucial para a identificação do valor funcional

Con 'ver sa com 'e le

Con 'ver sa com 'e le

304Hz

264Hz

156Hz 50Hz

116Hz 10Hz

Figura 148 – Declividade dos movimentos do desafio: movimento gradual

(linha plena), movimento íngreme (linha pontilhada), movimentos melhor

avaliados (cor azul)

Figura 150 – Excursão dos movimentos do desafio: excursão normal (linha

plena), excursão ampla (pontilhado), movimentos melhor avaliados (cor azul)

Con 'ver sa com 'e le

Figura 149 – Declividade dos movimentos do desafio: movimento gradual

(linha plena), movimento íngreme (linha pontilhada), movimentos pior

avaliados (cor vermelha)

Page 132: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

115

do contorno, pois, sem ela, a nota cai para 2,7 (EST 2.2). Além disso, tanto o registro alto

quanto o registro baixo prejudicam o reconhecimento do contorno (EST 4.1/nota 5,5/ EST

4.2/ nota 5,7).

5.5.2 Alinhamento dos movimentos do pedido

O alinhamento ideal do pico da F0 na primeira sílaba tônica do pedido é antecipado. De

fato, dentre as três possibilidades de alinhamento testadas, o alinhamento antecipado na

primeira tônica possui melhor avaliação (EST 1.4/ nota 9,5) do que o alinhamento

intermediário e tardio (EST 1.5/nota 7,1; EST 1.6/ nota 8, respectivamente)32

. No entanto, é

importante notar que se o alinhamento na tônica inicial for tardio, isso acarretaria uma

extensão gradual, abarcando mais de uma sílaba, no primeiro movimento ascendente. Já o

alinhamento da tônica final com melhor avaliação no teste de percepção é o antecipado ou o

intermediário, indicando que o pico deve se localizar na primeira porção da sílaba (EST

1.1/nota 6,2; EST 1.2/nota 6,8, respectivamente). Caso o alinhamento seja tardio na tônica

final, o reconhecimento do contorno é prejudicado (EST 1.3/nota 4,8).

5.5.3 Declividade dos movimentos do pedido

Os movimentos ascendentes e descendentes desse contorno são todos graduais, exceto

pelo movimento ascendente na pretônica final, que é íngreme.

32 Nesses três estímulos, é importante lembrar que o alinhamento na tônica final é antecipado.

Con 'ver sa com 'e le

Figura 151 – Alinhamento dos movimentos melódicos do pedido

Con 'ver sa com 'e le

221Hz

138Hz

97Hz 58Hz

Figura 152 – Declividade dos movimentos do pedido: movimento gradual (linha

plena), movimento íngreme (linha pontilhada)

Page 133: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

116

5.5.4 Excursão dos movimentos do pedido

A excursão desse contorno é ampla na primeira subida e normal na segunda; no entanto,

é importante notar que o primeiro pico atinge um nível de referência alto no registro e o

segundo pico, um nível de referência baixo. Esse contorno com o campo tonal expandido (ST

3.1/ nota 6,3) possui uma avaliação ligeiramente melhor do que a do campo tonal comprimido

(ST 3.2/nota 5).

5.6 Sugestão

5.6.1 Direção dos movimentos da sugestão

A sugestão é um contorno caracterizado por um padrão descendente-ascendente-

descendente, em que o movimento ascendente-descendente final é fundamental para o seu

reconhecimento. Se esse contorno estiver em um registro alto, o reconhecimento do seu valor

funcional não será muito afetado (EST 2.1/ nota 7,7), diferentemente do registro baixo que

prejudica seu reconhecimento (EST 2.2 / nota 4,3).

5.6.2 Alinhamento dos movimentos da sugestão

O alinhamento na primeira sílaba tônica é antecipado, bem como o alinhamento do pico

da F0 na tônica final (EST 1.1/ nota 7,8). Caso esse alinhamento for intermediário ou tardio, o

reconhecimento do contorno é prejudicado (EST 1.2/ nota 4,1; EST 1.3/ nota 5,2).

Con 'ver sa com 'e le

221Hz

191Hz 138Hz

127Hz 108Hz 88Hz

97Hz 58Hz

Con 'ver sa com 'e le

Figura 153 – Excursão dos movimentos do pedido: movimento normal (linha

plena), movimento amplo (linha pontilhada), movimentos melhor avaliados (cor

azul), movimentos pior avaliados (cor vermelha)

Figura 154 – Alinhamento dos movimentos da sugestão

Page 134: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

117

5.6.3 Declividade dos movimentos da sugestão

Os movimentos presentes nesse contorno são todos graduais, exceto pelo movimento

ascendente íngreme que começa na pretônica final.

5.6.4 Excursão dos movimentos da sugestão

Este contorno se caracteriza por possuir uma excursão ampla no movimento ascendente

que termina em um nível de referência alto no registro (EST 3.1/nota 6,5/ EST 3.2/ nota 5,3/

EST 3.3/nota 7; EST 3.4/ nota 6,3). Assim, de acordo com o teste de percepção, se o pico na

tônica final estiver em um nível de referência baixo no registro, o reconhecimento do valor

funcional da sugestão é muito prejudicado (ST 3.5/ nota 3,5; ST 3.6 /nota 3,8).

5.7 Questão parcial

5.7.1 Direção dos movimentos da questão parcial

Este contorno pode ser caracterizado por um movimento descendente ao longo de todo

o enunciado. No entanto, também é possível ocorrer um platô com duração de até 170m sobre

as duas primeiras sílabas no início do contorno (co/mo).

5.7.2 Alinhamento dos movimentos da questão parcial

No contorno da questão parcial, o alinhamento do movimento descendente incidindo

sobre todas as sílabas, incluindo a sílaba tônica inicial e final, é sempre antecipado.

Con 'ver sa com 'e le

305 Hz

267Hz

229Hz

152Hz

134Hz 114Hz

76Hz 79Hz

Figura 156 – Excursão dos movimentos da sugestão: excursão normal (linha

plena), excursão ampla (pontilhado), movimentos melhor avaliados (cor azul),

movimentos pior avaliados (cor vermelha)

Con 'ver sa com 'e le

229Hz

Figura 155 – Declividade dos movimentos: movimento gradual (linha plena),

movimento íngreme (linha pontilhada)

Page 135: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

118

5.7.3 Declividade dos movimentos da questão parcial

Esse contorno se caracteriza por um movimento descendente gradual ao longo de todo o

enunciado (EST 2.1/ nota 7,1; EST 2.2/ nota 8,7). Entretanto, este padrão pode permitir um

movimento plano, desde que apresente uma duração de até 170ms (EST 1.1/ nota 8,2/ ST 2.2/

nota 8,5). Acima dessa duração, se não houver o movimento descendente gradual, a

compreensão do contorno começa a ser bastante prejudicada (ST 1.3/ nota 5,7; EST 1.4/ nota

4,8), tornando-o completamente descaracterizado se esse movimento plano estiver presente

desde o início do contorno até a tônica final (EST 1.5/ nota 2,7) ou postônica final (EST 1.6/

nota 2,5).

'Co mo vo 'cê 'sa be

'Co mo vo 'cê 'sa be

Figura 157 – Alinhamento dos movimentos da questão parcial

Figura 158 – Declividade do movimento melódico da sugestão: movimento

gradual (linha reta), movimentos melhor avaliados (cor azul)

'Co mo vo 'cê 'sa be

Figura 159– Declividade do movimento melódico da questão parcial:

movimento gradual (linha plena), movimento íngreme (linha pontilhada),

movimentos pior avaliados (cor vermelha)

Page 136: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

119

5.7.4 Excursão dos movimentos da questão parcial

O movimento descendente se caracteriza por começar em um nível de referência alto no

registro e terminar em um nível de referência baixo do registro. Essas duas características

foram mantidas no estímulo com campo tonal expandido (EST 3.1/ nota 9,3), no entanto, a

avaliação desse contorno apresenta uma queda expressiva se o início dele não estiver em um

nível tão alto no registro e nem terminar em um registro tão baixo (EST 3.2 /nota 5,3).

5.8 Exclamação

5.8.1 Direção dos movimentos da exclamação

Este padrão se caracteriza por apresentar uma variação na parte inicial do contorno

melódico33

quanto à direção do movimento que pode ser um movimento ascendente (EST 1.1/

nota 7,6), um platô (EST 1.4/nota 6,5; EST 1.5/ nota 8,1; EST 1.6/nota 7; EST 1.7/ nota 6,2)

ou um movimento descendente (EST 1.2/nota 7,6). Em seguida, há um movimento

ascendente-descendente ao final do enunciado, que é fundamental para seu reconhecimento.

Sem esse movimento ascendente-descendente no final do contorno, o sentido da exclamação é

bastante prejudicado (EST 1.3/nota 4,5; EST 1.8/nota 3,3; EST 1.9/ nota 2,3; EST 4.1/nota

3,3).

5.8.2 Alinhamento dos movimentos da exclamação

O alinhamento no movimento ascendente que abarca a tônica final é caracterizado como

intermediário ou tardio (EST 2.2/nota 5,8; EST 2.3/nota 6,3), já a possibilidade de um

33 A diferença encontrada no início do contorno da exclamação, que pode ter um movimento ascendente ou

descendente ou um platô, provavelmente decorre da emoção que é manifestada pela exclamação, como: o

espanto, a admiração ou a indignação. Por exemplo, se a exclamação expressar admiração, pode ocorrer um

movimento descendente no início do contorno; já se expressar um espanto, o movimento pode ser ascendente,

etc. Essa hipótese ainda será testada em futuros experimentos.

'Co mo vo 'cê 'sa be

342Hz

262Hz

73Hz

53Hz

Figura 160 – Excursão dos movimentos da questão parcial: excursão normal

(linha plena), excursão ampla (linha pontilhada), movimento melhor avaliado

(cor azul), movimento pior avaliado (cor vermelha)

Page 137: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

120

alinhamento antecipado não foi considerada aceitável pelos ouvintes (EST 2.1/ nota 3,2),

prejudicando nitidamente o reconhecimento da exclamação neutra.

5.8.3 Declividade dos movimentos da exclamação

Em relação à declividade do movimento, nota-se que na parte inicial do contorno, o

movimento é gradual, por outro lado o movimento ascendente da tônica final e o movimento

descendente na postônica final ocorrem em uma sílaba só, o que os caracteriza como

movimentos íngremes.

5.8.4 Excursão dos movimentos da exclamação

A excursão do movimento ascendente inicial desse contorno é ampla (EST 3.1/nota

7,8), já a excursão do movimento ascendente-descendente no final do contorno é normal. Se a

parte inicial desse contorno não estiver em um nível de referência alto do registro, o

reconhecimento dele é bem prejudicado (EST 3.2/ nota 4,2).

'Co mo vo 'cê 'sa be

269Hz

189Hz 157Hz

171Hz 109Hz

131Hz 137Hz 50Hz

'Co mo vo 'cê 'sa be

'Co mo vo 'cê 'sa be

Figura 161 – Alinhamento dos movimentos da exclamação

Figura 162 – Declividade do movimento da exclamação: movimento gradual

(linha plena), movimento íngreme (linha pontilhada)

Figura 163 – Excursão dos movimentos da exclamação: excursão normal (linha

plena), excursão ampla (linha pontilhada), movimentos melhor avaliados (cor azul),

movimentos pior avaliados (cor vermelha)

Page 138: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

121

5.9 Traços dos movimentos melódicos do PB

Após a descrição dos resultados dos testes de percepção, inicia-se a fase de definição

dos movimentos melódicos com base nos valores físicos padronizados (‘t HART; COHEN;

COLLIER, 1990: 163); sendo assim, o grupo de contornos melódicos relevantes

perceptivamente analisados nesta dissertação será decomposto de acordo com os traços

propostos pelo modelo IPO.

O parâmetro da direção do movimento, se for positivo [+ascendente], se refere a um

movimento ascendente, que, por sua vez, implica um valor positivo na taxa de mudança da

F0. Por outro lado, se este parâmetro for negativo [–ascendente], indica um movimento

descendente que possui valor negativo na taxa de mudança.

Os parâmetros que se referem ao alinhamento da sílaba tônica são o [antecipado] e o

[retardado], que indicam conjuntamente se o alinhamento está mais à esquerda da sílaba

tônica [+antecipado] [–retardado] ou mais à direita da sílaba tônica [–antecipado]

[+retardado]. Além disso, há uma terceira possibilidade em que o término do movimento não

está nem próximo da margem esquerda e nem próximo da margem direita, localizando-se em

na porção intermediária da vogal, recebendo o rótulo [–antecipado] [–retardado].

O parâmetro [estendido] se refere ao número de sílabas abarcado pelo movimento, se

este for positivo significa que o movimento abarca mais de uma sílaba; porém, se este for

negativo, significa que o movimento ocorre em apenas uma sílaba. Como este parâmetro está

diretamente ligado com a noção de declividade do movimento, um movimento [–estendido]

pode ser denominado um movimento íngreme e um movimento [+estendido], um movimento

gradual.

O último parâmetro, que se refere ao nível do campo tonal, pode ser positivo [+ amplo]

indicando que o movimento melódico cobre a extensão da linha de declinação mais baixa até

a linha de declinação mais alta, possuindo uma excursão ampla; caso seja negativo [–amplo],

o movimento é considerado normal na extensão do falante, que corresponde ao tamanho

padrão da sua extensão.

Ao todo foram discriminados 8 movimentos melódicos relevantes perceptivamente no

PB com base nesse corpus, sendo 4 tipos de subidas e 4 tipos de quedas. Com base nesses

parâmetros, os traços decompostos desses movimentos serão reunidos no seguinte quadro:

Page 139: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

122

As subidas /1/ e /2/ possuem campo tonal parcial e se diferenciam pela extensão do

movimento, em que /1/ é gradual [+ estendido] e /2/ é íngreme [– estendido]. As subidas /3/ e

/4/ possuem campo tonal amplo e se distinguem pelo parâmetro extensão do movimento, já

que em /3/ é íngreme [– estendido], e em /4/, é [+ estendido].

No tocante às quedas, o movimento descendente /A/ e /D/ possuem campo tonal parcial

e se distinguem pela extensão do movimento, sendo /A/ [+ estendido] e /D/ [– estendido]. No

caso de /B/ e /C/, esses movimentos possuem campo tonal amplo e se distinguem pela

extensão do movimento; sendo /B/ [– estendido] e /C/ é [+ estendido].

5.10 Configurações dos padrões melódicos do PB

As configurações são movimentos melódicos combinados com outros que formam

unidades maiores (‘t HART; COLLIER; COHEN, 1990: 154). De acordo com o modelo IPO,

um contorno é a maior unidade descritiva no sistema entonacional; pois, ele é uma sequência

de configurações. Nesta pesquisa, enunciados com extensão fixa de 6 sílabas compuseram o

corpus, sendo assim é importante ressaltar que a descrição das configurações é uma primeira

abordagem, que será aperfeiçoada em função do parâmetro da extensão do movimento, além

de outras variáveis. A seguir serão especificados os movimentos melódicos e seus traços

constitutivos que correspondem às configurações mais típicas dos contornos dos atos

ilocutórios.

Mov.

Traço

/1/ /2/ /3/ /4/ /A/ /B/ /C/ /D/

Ascendente + + + + - - - -

Antecipado - - - - + + + +

Tardio + + + + - - - -

Estendido + - - + + - + -

Amplo - - + + - + + -

Quadro 12 – Movimentos melódicos do PB e a sua composição de traços

Page 140: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

123

a) Asserção: /1A/

A asserção apresenta um movimento ascendente, com alinhamento da F0 na tônica

inicial tardio, seguido de um movimento descendente com alinhamento na tantecipado. Além

disso, ambos os movimentos são graduais, abarcando mais de uma sílaba, com excursão

normal.

b) Questão total: /2A/ /3&B/

Na questão total, o primeiro movimento ascendente íngreme possui alinhamento tardio

e a excursão normal. O primeiro movimento descendente gradual é antecipado e também

possui excursão normal. Já o movimento ascendente íngreme final apresenta o alinhamento

tardio e excursão ampla e o último movimento descendente íngreme, um alinhamento

antecipado e excursão ampla. No modelo IPO, o símbolo & indica que há um movimento

complexo, isto é, dois movimentos melódicos que ocorrem na mesma sílaba.

+asc. –asc.

–antec. +antec.

+tard. –tard.

+estend. +estend.

–amp. –amp.

+asc. –asc.

–antec. +antec.

+tard. –tard.

–estend. +estend.

–amp. –amp.

+asc. –asc.

–antec. +antec.

+tard. –tard.

–estend. –estend.

+amp. +amp.

Page 141: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

124

c) Ordem: /1A/

A ordem, assim como a asserção recebeu a mesma configuração, apresentando um

movimento ascendente inicial com alinhamento tardio e o movimento descendente final com

alinhamento antecipado; ambos são graduais e possuem excursão normal. Apesar do contorno

da ordem e da asserção serem os mesmos em enunciados com essa extensão de 6 sílabas,

distinções entre esses dois contornos podem ser observadas em enunciados mais longos. Na

asserção, observa-se com frequência um movimento ascendente sobre as sílabas postônicas

anteriores à tônica final do enunciado, enquanto na ordem, o movimento sobre essas mesmas

sílabas é descendente34

.

d) Desafio: /4C/

O desafio possui o movimento ascendente com alinhamento tardio e o movimento

descendente com alinhamento antecipado; ambos os movimentos são graduais e possuem

excursão ampla. Esse contorno se assemelha muito ao contorno da ordem, apresentando a

diferença de seus movimentos possuírem excursão ampla, enquanto a ordem possui excursão

normal.

34 MORAES, J.A, informação pessoal.

+asc. –asc.

–antec. –antec.

+tard. +tard.

+estend. +estend.

–amp. –amp.

+asc. –asc.

–antec. +antec.

+tard. –tard.

+estend. +estend.

+amp. +amp.

Page 142: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

125

e) Pedido: /3*35

A/ /2&A/

O pedido apresenta o primeiro movimento ascendente com alinhamento tardio e com

excursão ampla; no entanto, é importante ressaltar que o parâmetro da extensão do primeiro

movimento ascendente pode ser [– estendido], mas também [+ estendido] com uma frase mais

extensa do que a frase utilizada no corpus dessa pesquisa. Por isso, optamos por atribuir-lhe o

traço [0 estendido], deixando-o, assim, não especificado quanto a esse traço. Já o primeiro

movimento descendente gradual possui alinhamento antecipado e excursão ampla. O segundo

movimento ascendente íngreme possui alinhamento tardio e excursão normal, e, o último

movimento descendente gradual, um alinhamento antecipado e excursão normal.

f) Sugestão: /A*/ /3&A/

35 A subida 3 vem acompanhada de um asterisco (*) para indicar que apesar de ter sido feita a descrição do

movimento de acordo com os traços binários com base no corpus dessa pesquisa, tais traços podem variar a

depender da extensão do enunciado ou simplesmente ter sido observada variação em outros parâmetros do

movimento. Esse comentário é valido para todos os demais movimentos que vierem com o símbolo do asterisco

(*).

+asc. –asc.

–antec. +antec.

+tard. –tard.

0 estend +estend.

+amp. +amp.

+asc. –asc.

–antec. +antec.

+tard. –tard.

–estend. +estend.

–amp. –amp.

+asc. –asc.

–antec. +antec.

+tard. –tard.

+estend. +estend.

+amp. +amp.

0 asc.

0 antec.

0 tard.

+estend.

–amp.

Page 143: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

126

No início do contorno da sugestão, há variação quanto ao tipo de movimento que pode

ser descendente ou plano, por isso os traços da direção do movimento e alinhamento não estão

especificados; apenas os traços da extensão gradual e da excursão normal estão especificados.

Em seguida, há um movimento ascendente íngreme com alinhamento tardio e excursão

ampla, seguido de um movimento descendente gradual com alinhamento antecipado e

excursão ampla. Por fim, é importante ressaltar que o pico da tônica final que está em um

nível de referência alto no registro, juntamente com o alinhamento antecipado, é essencial

para o reconhecimento do contorno.

g) Questão parcial: /C*/

A questão parcial possui um movimento descendente gradual com alinhamento

antecipado e excursão ampla. No entanto, na parte inicial desse contorno, pode ocorrer um

platô sobre as sílabas iniciais ao invés do movimento descendente; por esse motivo, o

parâmetro do alinhamento não está especificado.

h) Exclamação: /C*/ /2&D/

–asc.

0 antec.

0 tard.

+estend.

+amp.

0 asc.

0 antec.

0 tard.

+estend.

+amp.

+asc. –asc.

–antec. +antec.

+tard. –tard.

–estend. –estend.

–amp. –amp.

Page 144: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

127

Nota-se que na exclamação, há variação quanto ao tipo de movimento que pode ocorrer

no início do contorno como: o movimento ascendente, descendente ou um platô. Por isso, o

traço direção do movimento e o traço do alinhamento não estão especificados36

. Na parte

final do contorno, há um movimento ascendente íngreme com alinhamento tardio e excursão

normal, e, por fim, um movimento descendente íngreme com alinhamento antecipado e com

excursão normal.

36 O movimento descendente no início do contorno da exclamação vem acompanhado de um asterisco (*) para

indicar que essa classificação é provisória.

Page 145: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

128

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com a pesquisa realizada para esta dissertação, conclui-se que os

movimentos melódicos do PB podem ser descritos segundo a abordagem do modelo IPO. Isso

significa que o processo de estandardização dos movimentos melódicos resultou em um

número limitado de movimentos relevantes perceptivamente capazes de formar os contornos

melódicos que fazem parte do corpus desta dissertação.

Dentre os achados dessa pesquisa, estão:

Os 8 movimentos melódicos relevantes perceptivamente do PB se dividem em 4

movimentos ascendentes e 4 movimentos descendentes e se distinguem de acordo com os

parâmetros acústicos propostos pelo modelo IPO (direção do movimento, alinhamento,

extensão do movimento e campo tonal);

Em termos de descrição acústica, a definição do valor do limite inferior e superior da

linha de declinação no qual a F0 se move para cima e para baixo determina a extensão do

registro modal do falante. Além disso, a padronização dos valores da excursão, duração e

da taxa de mudança que classificam os movimentos melódicos em íngremes e graduais.

Tais valores padronizados proporcionam um detalhamento fonético que classifica

diferentes tipos de movimentos melódicos do PB.

O fato de que a excursão de um movimento melódico atinge um nível de referência alto

ou baixo dentro do registro modal do falante é um parâmetro relevante para a

identificação do valor funcional de alguns contornos analisados nesse corpus. Em outras

palavras, estabelecer esses limites de referência no registro é fundamental para a

identidade dos padrões melódicos do PB.

O alinhamento parece ser um parâmetro crucial na identificação do valor funcional dos

contornos quando ele está associado a movimentos ascendentes íngremes que atingem

seu pico em um nível de referência alto no registro.

Como os contornos melódicos foram descritos por um conjunto de parâmetros acústicos

propostos pelo modelo IPO, serão tecidos alguns comentários sobre os parâmetros que foram

importantes para sua identificação e seu processo de estandardização, como:

(i) Na asserção, todos os movimentos melódicos são graduais e o pico do movimento

ascendente precisa atingir o limite superior dentro do nível de referência baixo no

Page 146: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

129

registro. A variação nesse contorno ocorre em relação à sílaba que inicia o movimento

descendente no final do contorno.

(ii) No contorno melódico da questão total, houve a constatação de que as sílabas pretônicas

e postônicas finais são importantes para a configuração do movimento ascendente final

que é íngreme e possui excursão ampla, atingindo seu pico no limite superior do nível de

referência baixo no registro. É possível haver variação nesse contorno em relação ao

alinhamento na tônica final, que pode ser intermediário, tardio ou até mesmo antecipado.

(iii) No contorno da ordem, o movimento ascendente gradual atinge seu pico na primeira

sílaba tônica, que, por sua vez, está no limite superior do nível de referência baixo no

registro. A variação desse contorno está concentrada no início do movimento descendente

que pode ocorrer logo após o pico na tônica inicial ou depois de um platô.

(iv) No contorno melódico do desafio, o movimento ascendente gradual inicial atinge seu

pico na primeira sílaba tônica dentro do nível de referência alto no registro. A variação

desse contorno está concentrada no início do movimento descendente que pode ocorrer

logo após o pico na tônica inicial ou depois de um platô.

(v) No contorno do pedido, o primeiro movimento ascendente possui excursão ampla,

situando-se seu pico em um nível de referência alto no registro, enquanto o segundo

movimento ascendente íngreme atinge seu pico no limite superior no nível de referência

baixo no registro. A variação desse contorno está no alinhamento tanto da tônica inicial

quanto da tônica final.

(vi) No contorno melódico da sugestão, a combinação dos parâmetros do movimento

ascendente íngreme com excursão ampla e do alinhamento antecipado na tônica final é

responsável por sua caracterização. A variação desse contorno está no movimento inicial

que pode ser descendente ou plano.

(vii) No contorno da questão parcial, o movimento descendente sai do nível mais alto e

atinge o nível mais baixo de referência no registro. A variação ocorre na parte inicial do

contorno, onde pode haver um platô antes da queda.

(viii) No contorno melódico da exclamação, o movimento ascendente íngreme que incide

sobre a tônica final possui uma excursão normal e pode apresentar variação quanto a seu

alinhamento que pode ser intermediário ou tardio. Além disso, a variação também ocorre

Page 147: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

130

na parte inicial do contorno em relação à direção do movimento que pode ser ascendente,

descendente ou um platô.

No que se refere à descrição feita para o holandês, de que trata o trabalho seminal de ‘t

Hart, Cohen e Collier (1990), algumas diferenças foram constatadas em comparação com os

resultados encontrados nesse corpus do PB:

A maioria dos movimentos melódicos descritos no PB se diferencia pelos parâmetros

da excursão e extensão do movimento melódico.

Apesar da maioria dos movimentos melódicos não ter seu valor funcional alterado

pelo parâmetro do alinhamento, é possível notar que este pode ser considerado um

parâmetro relevante perceptivamente, podendo indicar o valor funcional neutro de um

contorno, ou seja, a depender do alinhamento, uma nuance expressiva pode ser

adicionada ao enunciado.

Com base nessas conclusões, a contribuição que essa pesquisa pode trazer para a

descrição entonacional modal do PB é a identificação do valor funcional desses contornos

melódicos por meio de uma abordagem perceptiva com um detalhamento fonético que

contém: (i) a definição dos níveis de referência alto e baixo no registro modal do falante que

permite classificar a excursão normal e ampla dos movimentos, (ii) a padronização dos

valores de parâmetros acústicos, como a taxa de mudança, duração e excursão, que

discriminam os movimentos melódicos. Além disso, o fato de se colocar a percepção dos

ouvintes em foco permite que a descrição se volte para aspectos acústicos que são relevantes

perceptivamente para o ouvinte.

Em relação às perspectivas futuras, é preciso testar a tolerância dos valores

padronizados propostos aqui nesta dissertação que estão classificando os movimentos

melódicos como os limites de referência alto e baixo no registro modal, a taxa de mudança, a

duração e a amplitude da excursão. Sendo assim, é importante delimitar quanto pode haver de

variação os valores que foram padronizados, sem que isso afete a aceitabilidade dos

movimentos. Além disso, para a continuação desse trabalho será crucial abordar a questão de

como classificar níveis na extensão melódica do falante (pitch range), pois se percebe que

essa característica fonética precisa ser discriminada por causa de suas implicações na

identificação do valor funcional dos contornos. Ademais, a questão do alinhamento deverá ser

melhor analisada, pois apesar do modelo IPO postular três possibilidades de alinhamento, no

Page 148: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

131

corpus desta pesquisa, somente dois tipos de alinhamentos (antecipado, na porção inicial da

sílaba e tardio, na porção final da sílaba) parecem necessários e suficientes para categorizar

funcionalmente os contornos.

Devido à limitação do tempo, outras possibilidades de experimentação não foram

exploradas nessa pesquisa como: (i) a manipulação de alguns parâmetros que em certos

contornos melódicos não foi realizada, por conta do número reduzido de estímulos criados

nessa análise inicial; (ii) a transformação de um padrão melódico em outro padrão através da

alteração de um ou mais parâmetros acústicos que classificam os movimentos melódicos; (iii)

a exploração sistemática da esfera expressiva, presente em alguns contornos durante o

processo de manipulação da curva melódica; (iv) a inclusão de novos atos de fala que, a

princípio, não foram inseridos no conjunto de contornos, mas que surgiram no processo de

estilização da curva melódica de alguns contornos como, o da asserção e o da questão total.

Por fim, os resultados desse estudo corroboram, em vários aspectos, descrições feitas

com base em outros modelos da entoação ou em trabalhos experimentais com padrões

melódicos do PB, como, por exemplo, Moraes e Rilliard (2013), que mostraram que a

diferença entre o contorno do desafio e o da ordem está no ataque mais alto do desafio; ou, em

Moraes (2008), o fato dos contornos da questão parcial e exclamação se diferenciarem pela

presença de um movimento ascendente-descendente que só ocorre na tônica final da

exclamação; ou ainda o fato do alinhamento mais neutro da tônica final do pedido estar

localizado na margem esquerda da tônica final, ao contrário do que acontece na questão total,

cujo alinhamento se localiza em sua margem direita, segundo Moraes e Colamarco (2007).

É certo que muito trabalho ainda precisa ser feito para se chegar a um inventário

completo/gramática dos movimentos melódicos do PB, já que aqui levou-se em conta um

grupo de contornos melódicos do PB com enunciados que tinham apenas um tamanho (6

sílabas), e, nos testes de percepção, foi utilizado só um dos quatro informantes. No entanto, a

pesquisa aqui apresentada é apenas o começo desse processo de experimentação que tem por

objetivo trazer evidências no nível fonético que possam compor um inventário dos padrões

melódicos possíveis no PB e que, posteriormente, possam servir como base para a

representação abstrata da realização do sinal acústico da fala, e que sejam perceptivamente

aceitáveis pelo falante nativo do português brasileiro.

Page 149: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

132

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SILVERMAN, K.; BECKMAN, M.; PITRELLI, J.; OSTENDORF, M.; WIGHTMAN, C.;

PRICE, P.; PIERREHUMBERT, J.; HIRSCHBERG, J. (1992) TOBI: A standard for

labeling English prosody. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON SPEECH AND

LANGUAGE PROCESSING (ICSLP), 2. Banff: ICSLP, 1992. pp. 867-870.

't HART, J.; COLLIER, R.; COHEN, A. (1990) A Perceptual Study of Intonation: An

experimental-phonetic approach to speech melody. Cambridge: Cambridge University

Press.

Page 152: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

135

APÊNDICE A

(i) Exemplo de instrução entregue aos ouvintes antes da aplicação do teste de

percepção para o contorno da asserção:

Você vai ouvir a frase Marina cantava dita como uma afirmação de 11 maneiras distintas e, em

uma escala de cinco pontos, irá julgar:

a) Até que ponto a frase é compreendida como uma afirmação normal (neutra)? Se para você a

frase for neutra, assinale uma das opções: muito bom ou bom.

b) Se você achar que ainda que se trate de uma asserção, ela não seja mais neutra, marque

médio (o meio da escala).

c) Caso a frase seja uma asserção estranha (não natural) ou que, na verdade, não pareça uma

asserção por talvez se tratar de outro contorno, como por exemplo, uma pergunta, marque

uma das opções: muito ruim ou ruim.

Após ouvir duas vezes cada enunciado, marque sua resposta, e, em seguida, você passará a

ouvir o próximo enunciado.

Page 153: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

136

(ii) Exemplo de folha de resposta entregue aos informantes para marcar suas

interpretações dos enunciados no teste de percepção:

Nome:____________________________Idade:_______Escolaridade:________________

Marque um dos graus na escala abaixo para cada enunciado que você irá escutar:

1) 8)

2) 9)

3) 10)

4) 11)

5) 12)

6) 13)

7) 14)

Page 154: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

137

APÊNDICE B – Medidas de F0 dos estímulos com melhor avaliação nos testes de

percepção para a estandardização dos valores da excursão, duração e taxa de mudança

Asserção

(Estímulos)

Mov.

mel.

Frequência

inicial

(Hz)

Frequência

final

(Hz)

Excursão

(ST)

Duração

(s)

Taxa de

mudança

(ST/s)

ST1.1 1. 80Hz 130Hz 8.40 0.46 17.28 ST/s

2. 130Hz 74Hz -9.75 0.60 -20.03 ST/s

ST1.2

1. 84Hz 129Hz 7.42 0.31 24.73 ST/s

2. 129Hz 65Hz -11.78 0.74 -15.91 ST/s

ST1.4

1. 80Hz 130Hz 8.40 0.64 12.36 ST/s

2. 130Hz 74Hz -9.75 0.42 -28.80 ST/s

ST3.1

1. 60Hz 150Hz 15.86 0.45 33.54 ST/s

2. 150Hz 54Hz

-17.68 0.61 -24.28 ST/s

Questão

total

(Estímulos)

Mov.

mel.

Frequência

inicial

(Hz)

Frequência

final

(Hz)

Excursão

(ST)

Duração

(s)

Slope

(ST/s)

ST1.1 1. 94Hz 124Hz 4.79 0.26 21.08 ST/s

2. 124Hz 81Hz -7.37 0.39 -18.75 ST/s

3. 81Hz 148Hz 10.43 0.08 140.85 ST/s

4. 148Hz 70Hz -12.96 0.37 -36.80 ST/s

ST1.2

1. 94Hz 124Hz 4.79 0.26 21.08 ST/s

2. 124Hz 80Hz -7.56 0.38 -19 ST/s

3. 80Hz 148Hz 10.63 0.17 58.41 ST/s

4. 148Hz 70Hz -12.96 0.27 -45.38 ST/s

1. 94Hz 124Hz 4.79 0.26 21 ST/s

Page 155: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

138

ST1.3 2. 124Hz 80Hz -7.58 0.38 -19.10 ST/s

3. 80Hz 148Hz 10.65 0.25 40 ST/s

4. 148Hz 70Hz -12.96 0.20 -63.55 ST/s

ST3.1

1. 94Hz 124Hz 4.79 0.26 20.84 ST/s

2. 124Hz 60Hz -12.56 0.39 -31.27 ST/s

3. 60Hz 148Hz 15.63 0.21 61.69 ST/s

4. 148Hz 70Hz -12.96 0.22 -55.80 ST/s

Ordem

(Estímulos)

Mov.

mel.

Frequência

inicial

(Hz)

Frequência

final

(Hz)

Excursão

(ST)

Duração

(s)

Slope

(ST/s)

ST1.1 1. 100Hz 131Hz 4.67 0.13 32.76 ST/s

2. 131Hz 74Hz -9.88 0.65 -14.73 ST/s

ST1.3 1. 100Hz 131Hz 4.67 0.44 9.49 ST/s

2. 131Hz 74Hz -9.88 0.34 -26.66 ST/s

ST2.2 1. 131Hz 74Hz -9.88 0.77 -12.40 ST/s

ST 3.1 1. 80Hz 151Hz 10.99 0.13 75.15 ST/s

2. 151Hz 54Hz -17.80 0.65 -26.23 ST/s

Desafio

(Estímulo)

Mov.

mel.

Frequência

inicial

(Hz)

Frequência

final

(Hz)

Excursão

(ST)

Duração

(s)

Slope

(ST/s)

ST1.2 1. 136Hz 284Hz 12.74 0.23 48 ST/s

2. 284Hz 30Hz -38.91 0.62 35.95 ST/s

ST2.1 1. 136Hz 284Hz 12.74 0.24 47.26 ST/s

Page 156: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

139

2. 284Hz 30Hz -38.91 0.39 -59.02 ST/s

ST3.1 1. 116Hz 304Hz 16.67 0.17 87.29 ST/s

2. 304Hz 25Hz -43.24 0.68 -34.63 ST/s

ST4.1 1. 163Hz 341Hz 12.79 0.18 66.94 ST/s

2. 341Hz 36Hz -38.95 0.67 -40.59 ST/s

Pedido

(Estímulos)

Mov.

mel.

Frequência

inicial

(Hz)

Frequência

final

(Hz)

Excursão

(ST)

Duração

(s)

Slope

(ST/s)

ST 1.1 1. 117Hz 201Hz 9.36 0.14 64.23 ST/s

2. 201Hz 66Hz -19.27 0.27 -47.96 ST/s

3. 66Hz 118Hz 10.05 0.18 18.72 ST/s

4. 118Hz 78Hz -7.16 0.36 -19.52 ST/s

ST 1.2 1. 117Hz 201Hz 9.36 0.14 64.23 ST/s

2. 201Hz 66Hz -19.27 0.27 -52.84 ST/s

3. 66Hz 118Hz 10.05 0.24 20.26 ST/s

4. 118Hz 78Hz -7.16 0.31 -22.44 ST/s

ST1.4 1. 117Hz 201Hz 9.30 0.14 63.69 ST/s

2. 201Hz 66Hz -19.20 0.20 -60.15 ST/s

3. 66Hz 117Hz 9.92 0.28 10.53 ST/s

4. 117Hz 77Hz -7.15 0.32 -21.66 ST/s

ST 1.6 1. 117Hz 201Hz 9.30 0.25 36.12 ST/s

2. 201Hz 66Hz -19.20 0.10 -133.88 ST/s

3. 66Hz 117Hz 9.92 0.28 10.28 ST/s

Page 157: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

140

4. 117Hz 77Hz -7.15 0.32 -21.80 ST/s

ST3.1 1. 97Hz 221Hz 14.25 0.14 99.38 ST/s

2. 221Hz 50Hz -25.72 0.26 -60.65 ST/s

3. 50Hz 138Hz 17.57 0.24 32.37 ST/s

4. 138Hz 58Hz -15.00 0.31 -46.75 ST/s

Sugestão

(Estímulos)

Mov.

mel.

Frequência

inicial

(Hz)

Frequência

final

(Hz)

Excursão

(ST)

Duração

(s)

Slope

(ST/s)

ST1.1 1. 114Hz 98Hz -2.61 0.29 -7.67 ST/s

2. 98Hz 191Hz 11.55 0.26 43.87 ST/s

3. 191Hz 79Hz -15.28 0.36 -38.14 ST/s

ST 2.1

1. 136Hz 117Hz -2.54 0.28 -8.53 ST/s

2. 117Hz 229Hz -11.50 0.25 46.74 ST/s

3. 229Hz 95Hz -15.17 0.36 -38.19 ST/s

ST 3.3

1. 113Hz 98Hz -5.62 0.28 -7.57 ST/s

2. 98Hz 305Hz 19.63 0.26 79.87 ST/s

3. 305Hz 79Hz -23.31 0.36 -56.88 ST/s

Questão

parcial

(Estímulos)

Mov.

mel.

Frequência

inicial

(Hz)

Frequência

final

(Hz)

Excursão

(ST)

Duração

(s)

Slope

(ST/s)

ST1.2 1. 99Hz 70Hz -2.61 0.29 -32.64 ST/s

ST 2.1 1. 300Hz 301Hz 0.06 0.07 -0.57 ST/s

2. 301Hz 73Hz -24.41 0.66 -36.23 ST/s

Page 158: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

141

ST 2.2 1. 300Hz 301Hz 0.06 0.17 -0.43 ST/s

2. 301Hz 74Hz -24.17 0.56 -41.62 ST/s

ST 3.1 1. 340Hz 340Hz -0.005 0.09 -4.44 ST/s

2. 340Hz 233Hz -6.55 0.07 -81.00 ST/s

3. 233Hz 93Hz -15.90 0.44 -37.74 ST/s

4. 93Hz 73Hz -4.04 0.24 -16.04 ST/s

Exclamação

(Estímulos)

Mov.

mel.

Frequência ini

cial

(Hz)

Frequência

final

(Hz)

Excursão

(ST)

Duração

(s)

Slope

(ST/s)

ST 1.1 1. 131Hz 229Hz 9.66 0.44 21.65 ST/s

2. 229Hz 93Hz -15.60 0.17 -44.83 ST/s

3. 93Hz 117Hz 3.97 0.19 18.55 ST/s

4. 117Hz 69Hz -9.14 0.23 -65.04 ST/s

ST1.2 1. 229Hz 119Hz -11.33 0.70 -8.82 ST/s

2. 119Hz 177Hz 6.87 0.12 54.99 ST/s

3. 177Hz 69Hz -16.30 0.24 -65.04 ST/s

1. 229Hz 229Hz 0 0.18 2.56 ST/s

ST 1.5 2. 229Hz 119Hz -11.33 0.54 -20.69 ST/s

3. 119Hz 177Hz 6.87 0.12 55.18 ST/s

4. 177Hz 69Hz -16.30 0.24 -65.04 ST/s

ST 1.6 1. 229Hz 229Hz 0 0.29 2.32 ST/s

2. 229Hz 119Hz -11.33 0.41 -27.07 ST/s

3. 119Hz 177Hz 6.87 0.12 54.18 ST/s

4. 177Hz 69Hz -16.30 0.23 -65.00 ST/s

Page 159: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

142

ST 1.7 1. 229Hz 229Hz 0 0.46 0.88 ST/s

2. 229Hz 119Hz -11.33 0.25 -44.58 ST/s

3. 119Hz 177Hz 6.87 0.11 52.63 ST/s

4. 177Hz 69Hz -16.30 0.23 -65.95 ST/s

ST 2.3 1. 196Hz 229Hz 2.69 0.46 5.64 ST/s

2. 229Hz 86.6Hz -16.83 0.10 -129.22 ST/s

3. 86Hz 177Hz 12.49 0.27 26.03 ST/s

4. 177Hz 69Hz -16.30 0.23 -65.34 ST/s

ST 3.1 1. 171Hz 237Hz 5.65 0.14 44.25 ST/s

2. 237Hz 269Hz 2.19 0.30 7.23 ST/s

3. 269Hz 99Hz -17.30 0.28 -105.14 ST/s

4. 99Hz 157Hz 7.98 0.12 169.63 ST/s

5. 157Hz 49Hz -20.15 0.23 -68.04 ST/s

Page 160: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

143

APÊNDICE C

(i) P-valores obtidos no teste Mann-Whitney aplicado aos resultados do teste de

percepção dos contornos da asserção, questão total, ordem, desafio e sugestão

Asserção pH0 (Mann Whitney)

ST1.3 X ST1.2 0,226635

ST1.3 X ST1.1 0,000114

ST1.3 X ST1.4 0,799033

ST1.3 X ST1.5 0,000035

ST1.3 X ST2.1 0,004498

ST1.3 X ST2.2 0,011622

ST1.3 X ST3.1 0,330611

ST1.3 X ST3.2 0,003413

ST1.3 X Orig. 0,869638

ST1.3 X CC 0,584441

Orig X CC 0,746473

Q.total pH0 (Mann Whitney)

ST1.3 X ST1.1 0,720184

ST1.3 X ST1.2 0,694256

ST1.3 X ST2.1 0,784772

ST1.3 X ST2.2 0,442191

ST1.3 X ST3.1 0,181658

ST1.3 X ST3.2 0,000030

ST1.3 X ST4.1 0,003186

ST1.3 X ST4.2 0,001192

ST1.3 X ST5.1 0,050202

ST1.3 X ST5.2 0,000001

ST1.3 X ST6.1 0,656707

ST1.3 X ST6.2 0,065574

ST1.3 X Orig. 0,730483

ST1.3 X CC 0,954045

Orig X CC 0,784571

Ordem pH0 (Mann Whitney)

ST1.1 X ST1.2 0,952829

ST1.1 X ST1.3 0,716158

ST1.1 X ST1.4 0,093759

ST1.1 X ST1.5 0,000252

ST1.1 X ST2.1 0,311776

ST1.1 X ST2.2 0,000090

ST1.1 X ST3.1 0,000820

ST1.1 X ST3.2 0,896378

ST1.1 X Orig. 0,007547

ST1.1 X CC 0,779262

Orig X CC 0,037352

Desafio pH0 (Mann Whitney)

ST1.1 X ST1.2 0,626718

ST1.1 X ST1.3 0,000403

ST1.1 X ST1.4 0,000035

ST1.1 X ST1.5 0,002992

ST1.1 X ST1.6 0,007379

ST1.1 X ST2.1 0,599273

ST1.1 X ST2.2 0,033878

ST1.1 X ST3.1 0,572030

ST1.1 X ST3.2 0,853732

ST1.1 X ST4.1 0,371256

ST1.1 X ST4.2 0,261729

ST1.1 X Orig. 0,703363

ST1.1 X CC 0,055723

Orig X CC 0,102812

Pedido pH0 (Mann Whitney)

ST1.1 X ST1.2 0,287399

ST1.1 X ST1.3 0,176236

ST1.1 X ST1.4 0,177264

ST1.1 X ST1.5 0,014909

ST1.1 X ST2.1 0,367493

ST1.1 X ST2.2 0,000114

ST1.1 X ST3.1 0,787264

ST1.1 X ST3.2 0,218726

ST1.1 X ST4.1 0,384221

ST1.1 X ST4.2 0,931914

ST1.1 X Orig. 0,017934

ST1.1 X CC 0,000022

Orig X CC 0,007755

LEGENDA DE CORES Verde - significante

Amarelo - tendência forte

Vermelho - tendência fraca

Page 161: análise da entoação do português do brasil segundo o modelo ipo

144

APÊNDICE C

(ii) P-valores obtidos do teste Mann-Whitney aplicados aos resultados do teste de

percepção dos contornos da sugestão, questão parcial e exclamação

Sugestão pH0 (Mann Whitney)

ST1.1 X ST1.2 0,000060

ST1.1 X ST1.3 0,004012

ST1.1 X ST2.1 0,919107

ST1.1 X ST2.2 0,000486

ST1.1 X ST3.1 0,039455

ST1.1 X ST3.2 0,006288

ST1.1 X ST3.3 0,374041

ST1.1 X ST3.4 0,034545

ST1.1 X ST3.5 0,000022

ST1.1 X Orig. 0,086420

ST1.1 X CC 0,049100

Orig X CC 0,536880

Q.P. pH0 (Mann Whitney)

ST1.1 X ST2.1 0,150972

ST1.1 X ST2.2 0,359590

ST1.1 X ST1.2 0,540726

ST1.1 X ST1.3 0,006534

ST1.1 X ST1.4 0,000160

ST1.1 X ST1.5 0,000005

ST1.1 X ST1.6 0,000002

ST1.1 X ST3.1 0,027150

ST1.1 X ST3.2 0,000351

ST1.1 X Orig. 0,753385

ST1.1 X CC 0,213906

Orig X CC 0,101032

Exclamação pH0 (Mann Whitney)

ST1.1 X ST1.2 0,931098

ST1.1 X ST1.3 0,000729

ST1.1 X ST1.4 0,144286

ST1.1 X ST1.5 0,407643

ST1.1 X ST1.6 0,346711

ST1.1 X ST1.7 0,104071

ST1.1 X ST1.8 0,000049

ST1.1 X ST1.9 0,000002

ST1.1 X ST2.1 0,000032

ST1.1 X ST2.2 0,033530

ST1.1 X ST3.1 0,676500

ST1.1 X ST3.2 0,000075

ST1.1 X ST4.1 0,000015

ST1.1 X Orig. 0,398186

ST1.1 X CC 0,197582

Orig X CC 0,764891

CC X ST3.1 0,659725

CC X ST3.2 0,000007