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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA
CENTRO DE CIENCIAS EXATAS E DA NATUREZA
DEPARTAMENTO DE SISTEMATICA E ECOLOGIA
ANÁLISE DAS ASSEMBLÉIAS DE PEIXES EM DOIS
AÇUDES DO SEMI-ÁRIDO PARAIBANO
GABRIELA MARQUES PEIXOTO
JOÃO PESSOA-PB Novembro de 2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA
CENTRO DE CIENCIAS EXATAS E DA NATUREZA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM CIENCIAS BIOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE SISTEMATICA E ECOLOGIA
ANÁLISE DAS ASSEMBLÉIAS DE PEIXES EM DOIS
AÇUDES DO SEMI-ÁRIDO PARAIBANO
Monografia apresentada a Coordenação do curso de Ciências Biológicas, UFPB- campus I, como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do titulo de Bacharel em Ciências Biológicas.
Gabriela Marques Peixoto Orientadora: Prof. Dra. Maria Cristina Crispim
Co- orientadora: Msc. Jane Torelli
JOÃO PESSOA-PB Novembro de 2010
Análise das assembléias de peixes em dois açudes do
semi-árido paraibano
GABRIELA MARQUES PEIXOTO
Aprovado em: __/__ / 2010
__________________________________
Prof°. Dra. Maria Cristina Basílio Crispim
Orientadora
________________________________
MSc. Jane Enisa Ribeiro Torelli Co-orientadora
________________________________
MSc. Ana Maria Alves de Medeiros Examinador
________________________________
MSc. Flavia Martins Franco de Oliveira Examinador
_________________________________
MSc. Ana Karla Araújo Montenegro Examinador
Dedico ao meu filho Daniel Marques Dias,
por me Fazer entender o verdadeiro sentido da
palavra amor!!
Gabriela Marques Peixoto
“Há pessoas que transformam o sol numa simples
mancha amarela, mas há também aquelas que fazem
de uma simples mancha amarela o próprio sol. ”
( Pablo Picasso )
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por me guiar em minha jornada, sendo o auxilio e conforto nos momentos difíceis.
Aos meus pais Tânia Marques Peixoto e Luiz Mangueira Peixoto, pelo amor,
paciência e dedicação prestada ao longo de minha vida (obrigada por tudo!). Ao meu querido e amado esposo, Randolpho Gonçalves Dias Terceiro por todo o
amor, paciência, companheirismo e incentivo prestado ao longo destes anos de
convivência, principalmente por ter me dado um presente lindo! nosso filho , Daniel Marques Dias, que estando dentro de mim foi quem mais participou deste trabalho. (filho mamãe te ama muito!!).
Aos meus tios e tias que me deram a maior força (Marcondes, Marcos, Adriana, Dôra, Maria do Carmo, Cacilda), enfim, a todos da minha família que direta ou indiretamente contribuiu para a finalização desta etapa, obrigada a todos!
Ao meu avô Cabral (in memorian), sei que estaria orgulhoso.
A minha professora de infância, Gisa, que me deu os primeiros ensinamentos da biologia, obrigada professora onde estiver, pois contribuíste, para esta realização.
Aos meus professores de graduação, que me deram os ensinamentos necessários para a conclusão desta monografia.
A Jane Torelli, por me introduzir aos estudos de peixes, por todos os
ensinamentos e por puxar a orelha quando necessário, Obrigada pala amizade e pelos conselhos.
A Cristina Crispim por aceitar me orientar, sempre estando disposta a ensinar e
ajudar quando solicitada Aos colegas do laboratório de ecologia aquática, alguns que já fazem parte da
minha vida há alguns anos e outros que entraram recentemente (Fabiana, Ana Maria,
Cínthia, Flavia, Leonardo, Michele, “as Carol”) Um agradecimento especial a minha colega de laboratório Aline “psicóloga”, por
todos os desabafos e conversas jogadas fora ao longo destes anos de convivência,
obrigada amiga pela força nos momentos difíceis. A Ana Karla pelo incentivo e ajuda nas análises de alimentação. Aos meus colegas de graduação pela amizade, brincadeiras e momentos vividos
e bem vividos, em especial aos meus amigos: Michele ( prima), Cinthia , Dany (amada), Léo, Priscila e Giuseppe . Ao PELD/Caatinga pelo fomento para a realização deste trabalho
Aos pescadores que auxiliaram nas coletas Aos motoristas que nos conduziram aos locais das coletas Enfim, a todos que de certa forma contribuiu para a realização deste trabalho,
obrigada!
Gabriela Marques Peixoto
Sumário
Agradecimentos.............................................................................................................. ......i
Sumário...................................................................................................................... ...........ii
Lista de figuras...............................................................................................................iv
Resumo....................................................................................................................... ...vi
1. Introdução...........................................................................................................................1
2. Objetivo................................................................................................................................4
2.1 Objetivo geral.........................................................................................................4
2.2. Objetivos específicos.........................................................................................4
3. Material e Método.....................................................................................................4
3.1 Locais e períodos das coletas............................................................................4
3.1.1. Localização dos ecossistemas analisados.......................................................5
3.2. Coleta de espécimes de peixes.........................................................................6
3.3. Análises da biodiversidade...........................................................................................7
3.4 Estrutura de crescimento da população..............................................................8
3.4.2 Classes de tamanho em comprimento.........................................................8
3.4.3 Relação peso-comprimento...........................................................................9
3.5 Análise do conteúdo estomacal e determinação da dieta........................................9
4 Resultados e discussão..........................................................................................................10
4.1 Diversidade.............................................................................................................10
Diversidade da ictiofauna do açude Taperoá II........................................................10
Diversidade da ictiofauna do açude São José dos Cordeiros...................................11
4.2. Composição das espécies de peixes coletadas nos açudes São José dos Cordeiros e
Taperoá II.....................................................................................................................................13
4.3 Caracterização das espécies de peixes coletadas nos açudes.........................................16
4.3.1 Espécie Astyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758)...............................................16
4.3.2 Espécie Astyanax fasciatus (Curvier, 1819) ......................................................17
4.3.3 Espécie Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) ......................................................17
4.3.4 Espécie Prochilodus sp. (Steindachner, 1875)..................................................18 4.3.5 Espécie Steindachnerina notonota (Miranda-Ribeiro, 1937)............................19 4.3.6 Espécie Cichlasoma orientale (Swainson, 1839)..............................................20 4.3.7 Espécie Leporinus cf. piau (Fowler,1941)........................................................21
4.3.8 Espécie Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758).............................................22
4.4. Estrutura em comprimento ............................................................................................22
4.5 Relação peso-comprimento..................................................................................26
4.6 Alimentação..........................................................................................................32
5. Conclusões....................................................................................................................44
6. Referências bibliográficas..............................................................................................45
Páginas
LISTA DE FIGURAS
Páginas
Figura 1. (A) Localização da Bacia Rio Taperoá. Fonte: Governo do Estado da Paraíba (1985). (B) Ambiente estudado. Fonte: Google Earth (2006)...........................................05 Figura 2. A - açude São José dos Cordeiros, no município de São José dos Cordeiros;
B- açude Taperoá II, no município de,Taperoá, semi- árido Paraibano. Foto: Gabriela Marques Peixoto................................................................................................................06
Figura 3. Índices de diversidade da ictiofauna do Açude Taperoá II, Bacia do rio Taperoá,
semi-árido paraibano.......................................................................................................11 Figura 4. Índices de diversidade da ictiofauna do Açude São José, Bacia do rio Taperoá,
semi-árido paraibano......................................................................................................12 Figura 5. Abundância relativa das espécies capturadas nos açudes São José dos
Cordeiros e Taperoá II, no semi-árido Paraibano, nos períodos de estiagem de 2009 e chuva de 2010..............................................................................................................14
Figura 6. Número de indivíduos capturados durante os períodos de chuva 2010 e
estiagem 2009, no açude Taperoá II, semi-árido Paraibano.........................................15
Figura 7. Número de indivíduos capturados durante os períodos de chuva 2010 e estiagem 2009, no açude São José dos Cordeiros, semi-árido Paraibano.................15 Figura 8. Astyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758), Foto: Gabriela Marques Peixoto..16 Figura 9. Astyanax fasciatus (Curvier, 1819) Foto: Ana Karla Montenegro.................17 Figura 10. Hoplias malabaricus (Bloch, 1794). Foto: Gabriela Marques Peixoto.........18 Figura 11. Prochilodus sp (Steindachner, 1875) Foto: Gabriela Marques Peixoto.......19 Figura 12. Espécie Steindachnerina notonota (Miranda-Ribeiro, 1937) Foto: Ana K.
Montenegro................................................................................................... ....................20
Figura 13. Cichlasoma orientale (Swainson, 1839) Foto: Gabriela Marques
Peixoto...........................................................................................................................20
Figura 14. Espécie Leporinus cf. piau (Fowler,1941). Foto: Ana K. A. Montenegro....21
Figura 15. Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758) Foto: Ana K. A. Montenegro........22 Figura 16. Classe de comprimento da ictiofauna do açude São José dos Cordeiros, no município com o mesmo nome, nos períodos de chuva 2010 e estiagem
2009........................................................................................................................... ....23 Figura 17. Classe de comprimento da ictiofauna do açude Taperoá II, no semi-árido
paraibano, nos períodos de chuva 2010 e estiagem 2009...........................................24
Figura 18. Relação peso-comprimento de Astyanax bimaculatus, nos açudes São José
(A) Taperoá (B). Nos períodos de estiagem 2009 e chuva 2010.......................,,,,,,,,,..26 Figura 19. Relação peso-comprimento de Astyanax fasciatus, nos açudes São José (A)
Taperoá (B). Nos períodos de estiagem 2009 e chuva 2010, semi-árido paraibano....................................................................................... ..............................28
Figura 20. Relação peso-comprimento de C. orientale, nos açudes São José ( A)
Taperoá (B). Nos períodos de estiagem 2009 e chuva 2010, semi-árido paraibano....29 Figura 21. Relação peso-comprimento de Prochilodus sp., nos açudes São José ( A)
Taperoá (B). Nos períodos de estiagem 2009 e chuva 2010, semi-árido paraibano....30 Figura 22. Relação peso-comprimento de L. piau., no açude Taperoá, nos períodos de
estiagem 2009 e chuva 2010, semi-árido paraibano.............................................,,,,,,,..31
Figura 23. Relação peso-comprimento de S. notonota ( A) e C. gilbert ( B), no açude Taperoá, nos períodos de estiagem 2009 e chuva 2010, semi-árido paraibano..........31
Figura 24. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo
estomacal de S. notonota A- Estiagem ; B- período chuvoso, Açude Taperoá............33 Figura 25. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo
estomacal de L. piau. A- Estiagem ; B- período chuvoso, Açude Taperoá....................35 Figura 26. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo
estomacal de L. piau. A- Estiagem ; B- período chuvoso, Açude Taperoá....................36 Figura 27. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo
estomacal de O. niloticus.................................................................................................37 Figura 28. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo
estomacal de A- Astyanax bimaculatus e B- Astyanax fasciatus................................38 Figura 29. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo
estomacal de C. orientale, Açude Taperoá II.............................................................,,...38
Figura 30. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo estomacal de Prochilodus sp. (A) período de estiagem; (B) período de chuva.........,,,..39
Figura 31. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo
estomacal de Cichlasoma orientale......................................................................,,,,.........40
Figura 32. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo estomacal de A. bimaculatus, na estação de estiagem de 2009..............................,,,,,....41
Figura 33. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo
estomacal de A. bimaculatus, no açude S. José dos Cordeiros, na estação de Chuva de 2010.......................................................................................,,,,,,,,,,..................................42
Figura 34. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo
estomacal de A. fasciatus, na estação de chuva de 2010........................................................................................... ........................................42
RESUMO Os açudes por serem ecossistemas artificiais, modificam a estrutura da bacia
hidrográfica, alterando desde os parâmetros físicos, químicos e biológicos da água até a estrutura da população de peixes, devido à construção da barragem, provocando o isolamento de áreas que certas espécies freqüentam em busca de alimento, como também, para completar o seu ciclo reprodutivo. Apesar de muitas espécies de peixes não apresentarem importância econômica, estudos acerca da estrutura populacional servem para elucidar respostas sobre o comportamento das espécies e as mudanças ocorridas na rede trófica de um dado ecossistema. Desta forma o presente estudo teve como objetivo analisar a estrutura populacional e a diversidade da ictiofauna dos açudes: Taperoá II e São José dos Cordeiros, no semi-árido paraibano. Foram realizadas duas coletas em cada açude, sendo estas, no período de estiagem de 2009 e chuva de 2010, utilizando como apetrechos de pesca, tarrafas (malha 15 e 30 mm) e redes de espera (malhas 15, 25, 35 e 40 mm entre nós adjacentes). Os espécimes coletados foram identificados taxonomicamente e posteriormente feito a biometria que serviu para a determinação da relação peso-comprimento das espécies capturadas. Foram coletados um total de 269 indivíduos sendo no açude São José dos Cordeiros, 131 individuos, distribuídos em 4 famílias e 5 espécies: Família Prochilodontidae - Prochilodus sp (curimatã); Família Cichlidae - Cichlasoma orientale (Cará); Família Characidae - Astyanax bimaculatus (piaba do rabo amarelo) e Astyanax fasciatus - piaba do rabo vermelho); e Família Erythrinidae - Hoplias malabaricus (traíra) enquanto que no açude Taperoá II, foram capturados um total de 138 indivíduos, distribuídos em 6 Famílias: Prochilodontidae - Prochilodus sp (curimatã); Família Cichlidae - Cichlasoma orientale (Cará) e Oreochromis niloticus ( Tilapia); Família Characidae - Astyanax bimaculatus (piaba do rabo amarelo) e Astyanax fasciatus - piaba do rabo vermelho); Família Erythrinidae - Hoplias malabaricus (traíra) ; Família Anostomidae – Leporinus piau (piau); Família curimatidae- Steindachnerina notonota ( sabaru). Os resultados das análises mostraram que a família Curimatidae (Steindachnerina notonota ) foi mais representativa nas coletas no açude Taperoá enquanto que no São José foi a família Characidae ( Astyanax bimaculatus ). O açude S. José foi representado por indivíduos com maiores comprimento comparados aos indivíduos coletados no açude Taperoá. A diversidade da ictiofauna nos dois ambientes apresentou variações entre os índices e as estações do ano, sendo que o São José apresentou no período de estiagem os maiores índices de diversidade, riqueza e equitabilidade, enquanto que para o açude Taperoá os maiores índices foram verificados no período de chuva. Quanto à alimentação a grande maioria dos indivíduos capturados em ambos os açudes, apresentaram uma dieta bastante diversificada, com tendência para a onívora, demonstrando serem oportunistas quanto à disponibilidade de alimento.
Palavras chaves: Diversidade, Ictiofauna, Relação peso-comprimento, Alimentação,
Semi-árido paraibano
1. INTRODUÇÃO
Os corpos aquáticos de diversas regiões do mundo vêm apresentando uma
significativa redução na diversidade de peixes nativos, devido principalmente, à
degradação do habitat, à sobrepesca dos estoques e à introdução de espécies exóticas,
que juntos, provocam a desestruturação das comunidades ou até mesmo a extinção
local de algumas espécies (FERNANDO, 1991). Segundo Latinni, (2001), estima-se que
essa diversidade já perdeu cerca de 20% do se sua fauna mundial.
Segundo AGOSTINHO, (1996), a região Neotropical que apresenta a maior
diversidade de peixes do planeta foi ironicamente a que recebeu uma maior quantidade
de espécies exóticas (25,3% do total mundial). O Brasil foi o país com maior ocorrência
dessas introduções, com o intuito de proporcionar uma maior produção pesqueira para a
subsistência da população.
O Brasil é o país que registra a mais rica ictiofauna de água doce do mundo, no
entanto, segundo Menezes (1996), a avaliação e compreensão dessa rica diversidade
são negativamente afetadas pelo conhecimento incompleto de sua bioecologia.
Segundo Gurgel (2002), na região Nordeste do país, mais especificamente no
semi-árido, a diversidade de peixes é menor quando comparada com a de outras
regiões, podendo ser provocada pelas alterações hidrológicas (estação de chuva e
estiagem) e a alta freqüência das introduções de espécies exóticas, a exemplo da
Tilápia nilótica, que é utilizada para suprir as necessidades nutritivas da população local.
Com esse fim, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS),
vem construindo e mantendo os açudes dessa região desde 1909, para múltiplos fins,
como para irrigação, energia elétrica, abastecimento público, controle de enchentes,
perenização dos rios, agricultura de vazante, recreação e a produção de pescado
(GURGEL, 2006).
De acordo com Smith & Petrere Junior, (2001), os açudes por serem
ecossistemas artificiais, modificam a estrutura da bacia hidrográfica, alterando desde os
parâmetros físicos, químicos e biológicos da água até a estrutura da população de
peixes, devido à construção da barragem, provocando o isolamento de áreas que certas
espécies freqüentam em busca de alimento, como também, para completar o seu ciclo
reprodutivo, sendo as espécies de piracema as mais afetadas.
A região do semi-árido paraibano, além dos fatores acima citados, também sofre
influência da alta taxa de evaporação, que exerce importante papel na organização e
funcionalidade dos ecossistemas aquáticos, pelo que as espécies desenvolvem
estratégias de sobrevivência que acarretam em competições intra e inter-específicas,
assim como, em mudanças na dinâmica populacional das assembléias ícticas,
interferindo na estrutura do crescimento e desenvolvimento das espécies, a partir das
condições ambientais vigentes.
Os ecossistemas aquáticos do semi-árido, apesar de suas peculiaridades e
importância ecológica, têm recebido pouca atenção em relação aos outros ambientes
brasileiros. Apesar de muitas espécies de peixes não apresentarem importância
econômica, informações sobre a alimentação são importantes na avaliação de estoques
pesqueiros, uma vez que podem ser potenciais competidores ou predadores de
espécies exploradas comercialmente, interferindo na taxa de mortalidade das mesmas
(HOFLING et al. 2000), assim como estudos acerca da estrutura populacional de peixes
são de grande importância por elucidar respostas sobre o comportamento das espécies
e as mudanças ocorridas na rede trófica de um dado ecossistema.
De acordo com Benedito-Cecílio & Agostinho (1997), os vários aspectos da
estratégia de vida das espécies na alocação de energia, seja para o crescimento,
reprodução ou manutenção, são interpretados a partir de análises da estrutura
populacional. Os mesmos autores afirmam que a distribuição de freqüência de
comprimento de uma espécie fornece subsídios indispensáveis à interpretação da idade
e crescimento, especialmente para peixes jovens. Tais distribuições e suas prováveis
alterações no tempo e espaço conduzem ao entendimento da dinâmica das populações
e à identificação de problemas como falha de uma classe etária ou baixo recrutamento,
crescimento lento, ou excessiva mortalidade anual.
Segundo LIZAMA & AGOSTINHO, (2003), o conhecimento de aspectos
quantitativos, como a relação peso-comprimento, fator de condição, de crescimento,
alimentação, recrutamento e de mortalidade de uma espécie de peixe, é uma importante
ferramenta para os estudos da biologia pesqueira, necessários para o manejo e para a
preservação de um ambiente.
A relação peso-comprimento é muito freqüentemente usada em biologia
pesqueira com várias finalidades, dentre elas: descrever o desenvolvimento ao longo
dos estágios de vida das espécies, indicar os níveis de estoques populacionais, além de
serem bons indicativos de atividades alimentares e reprodutivas (VICENTIN, et al.,
2004).
Estudos de alimentação de peixes, em particular os que privilegiam diretamente a
dieta e os hábitos alimentares, proporcionam informações para estimar o funcionamento
trófico de um ecossistema, ou seja, o conjunto de relações de predação e competição
entre os organismos, indicando o fluxo de energia, o uso de habitat, a disponibilidade de
alimentos e alguns aspectos do comportamento (PREJS & COLOMINE, 1981; HAHN et
al., 2004; PEREIRA et al., 2004).
Atualmente com a necessidade de se desenvolver a piscicultura com espécies
nativas, conhecer os hábitos alimentares destas espécies é importante também para a
formulação de rações adequadas para estes organismos.
Alguns estudos já foram desenvolvidos em diferentes ambientes da bacia do Rio
Taperoá), com os primeiros estudos que foram desenvolvidos em rios e riachos
(MEDEIROS & MALTCHIK, 1998; MEDEIROS, 1999 e COSTA, 2001) analisando a
influência das alterações hidrológicas sobre a diversidade de peixes nestes ambientes.
Posteriormente, outros estudos foram realizados sobre comunidades
zooplanctônicas (CRISPIM & WATANABE, 2000; RIBEIRO et al, 2003; GOMES et al,
2003 e VIEIRA et al, 2003); fitoplanctônicas (BARBOSA, 1998; DIAS, et al, 2003;;
OLIVEIRA & BARBOSA, 2003; DANTAS & BARBOSA, 2003), , bem como, sobre as
macrófitas (LEITE & WATANABE, 2001); Caracterização da diversidade de peixes
(TORELLI et al, 1997, 2002 e 2004; SIQUEIRA et al, 2003; CARDOSO et al, 2003;
CARDOSO, 2004a; MARINHO et al, 2004;), e aspectos da estrutura populacional
(TORELLI et al, 2002; TORELLI et al, 2003; CARDOSO et al, 2003; CARDOSO, 2004b;
CHAVES, 2004; Montenegro et al, 2010) em açudes, riachos, lagoas temporárias e
poças remanescentes do rio Taperoá.
Deste modo, é de fundamental importância a haja a continuidade dessse estudos
na região, como forma, de ampliar o conhecimento acerca da diversidade e a estrutura
populacional da ictiofauna, por considerar ser de grande valia para o manejo sustentável
dos açudes do semi-árido paraibano.
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo geral
Analisar a estrutura populacional e a diversidade da ictiofauna dos açudes:
Taperoá II e São José dos Cordeiros, no semi-árido paraibano.
2.2. Objetivos específicos
Determinar a composição e os índices de diversidade, riqueza e
equitabilidade da ictiofauna dos ambientes estudados;
Verificar a estrutura de crescimento populacional das espécies mais
freqüentes da ictiofauna presentes nos açudes estudados;
Descrever e determinar a alimentação das espécies de peixes mais
freqüentes e a estrutura trófica da comunidade íctica.
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Locais e períodos das coletas
Os estudos foram realizados nos açudes Taperoá II e São José dos Cordeiros,
integrantes da Bacia do Rio Taperoá no semi-árido paraibano, durante os períodos de
2009 (estiagem) e 2010 (chuva).
A bacia do rio Taperoá situa-se no nordeste brasileiro, na porção central do
Estado da Paraíba, (Figura 1). Os seus limites ocorrem com as bacias do Espinharas e
do Seridó a oeste, com a do Alto Paraíba do sul, com as bacias do Jacu e Curimataú ao
norte, e com a bacia do Médio Paraíba a leste. Seu principal rio é o Taperoá, de regime
intermitente, que nasce na Serra do Teixeira e desemboca no rio Paraíba, no açude de
Boqueirão (Presidente Epitácio Pessoa). A bacia drena uma área de aproximadamente
7.316 Km2 (AESA 2009).
3.1.1. Localização dos ecossistemas analisados
O açude Taperoá II está situado no município de Taperoá, na região central do
Estado da Paraíba, entre as latitudes 07°11’44”S e 07°13’44”S e as longitudes
36°52’03”W e 36°50’09”W. Encontra-se localizado a uma altitude de 578 m, possui uma
capacidade máxima de 15.148.900 m3 de acumulação, com profundidade máxima de 5,7
m e média de 1,4 m. A superfície do açude é de 4.600 m2, sendo utilizado,
principalmente, para o abastecimento humano (AESA 2009).
O açude São José dos Cordeiros tem capacidade máxima de acumulação de
água de 156.000 m3, e está situado nas coordenadas 7º22’56”S e 36º48’25”W, no
município de São José dos Cordeiros, no semi-árido paraibano (Figura 2).
Figura 1. (A) Localização da Bacia Rio Taperoá. Fonte: Governo do
Estado da Paraíba (1985). (B) Ambiente estudado. Fonte: Google
Earth (2006)
A
B
3.2. Coleta de espécimes de peixes
O trabalho de campo contou com o apoio logístico do PELD/CNPq/Caatinga
(Projeto de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração), sendo as coletas realizadas uma
no período de estiagem de 2009 e uma no período chuvoso de 2010, utilizando como
apetrechos de pesca, tarrafas (malha 15 e 30 mm) e redes de espera (malhas 15, 25, 35
e 40 mm entre nós adjacentes).
Os espécimes coletados foram identificados taxonomicamente no Laboratório de
peixes: biodiversidade e cultivo do Departamento de Sistemática e
Ecologia/CCEN/UFPB, baseando-se em Britiski, et al, (1984), Vari, (1992), Nelson,
(1994), Gomes-Filho, (1999), Nakatani et al, (2001), entre outros. Posteriormente, alguns
representantes das espécies registradas foram disponibilizados para o registro na
Coleção Ictiológica da UFPB.
Figura 2. A - açude São José dos Cordeiros (chuva), no município de São José dos Cordeiros; B- açude Taperoá II (estiagem), no município de,Taperoá, semi- árido Paraibano. Foto: Gabriela Marques Peixoto.
A B
3.3. Análises da biodiversidade
A diversidade especifica da ictiofauna nos diferentes locais de amostragem, foi
avaliada a partir da determinação da diversidade, riqueza de espécies e equitabilidade
da comunidade tomando-se como base o Software Past© (HAMMER et al., 2003).
Para o cálculo da diversidade aplicou-se o índice de Shannon (H’), que está
relacionado diretamente com a estabilidade da comunidade e inversamente com o
grau de alteração dos ecossistemas.
De acordo com Pinto-Coelho (2000), o índice de Shannon, reflete dois atributos
básicos: o número e a equitatividade de espécies, assumindo que todos os indivíduos
são amostrados aleatoriamente, e que todas as espécies estão representadas na
amostra. Este índice é calculado a partir da seguinte equação:
Onde : n= n° de indivíduos de cada espécie
N= n° total de indivíduos
E que os resultados: > 3,0 = diversidade alta;
entre 3,0 e 2,0 = diversidade média;
entre 2,0 e 1,0 = diversidade baixa;
< 1,0 = muito baixa
Para a determinação da riqueza de espécies utilizou-se o índice de riqueza de
Margalef (D), que se baseia na relação entre o número de espécies identificadas e o
número total de indivíduos coletados, que podem variar entre 0 e 1. Este índice é
calculado pela seguinte equação (Pinto-Coelho, 2000):
H’ = (n/N) log (n/N)
D= (S-1)/InN
Onde: S= n° de espécies
N= n° total de indivíduos
A equitabilidade (J) foi conhecida pelo índice de Pielou, que determina a
distribuição dos indivíduos nas espécies:
: s= n° de espécies por coleta
H’= índice de Shannon
O resultado obtido pode variar entre 0 e 1, e se maior que 0,5, os indivíduos estão
bem distribuídos entre as espécies (PINTO-COELHO, 2000).
3.4 Estrutura de crescimento da população
A estrutura de crescimento populacional das espécies mais freqüentes foi
determinada a partir da biometria, onde foi conhecido o comprimento padrão (cm)
através de um paquímetro/ictiômetro e o peso total (g) através de uma balança digital
com capacidade 0,1g.
3.4.1 Classes de tamanho em comprimento
A partir dos dados da biometria pode-se distribuir o comprimento (cm) em classes
de tamanho, com a finalidade de determinar o crescimento das espécies (VAZOLLER,
1996).
J= H’/In(S)
4.4.2 Relação peso-comprimento
A relação peso-comprimento foi determinada a partir dos dados obtidos referentes
ao comprimento padrão e ao peso total dos espécimes analisados, que se baseou na
expressão matemática Wt=a Lsb, e o ajustamento da curva através da equação W= ΦL*
(SANTOS 1978; VAZZOLER, 1996.
Onde: Wt = peso total
a = constante nutricional
Ls = comprimento padrão
b = coeficiente de regressão
Segundo Benedito-Cecílio & Agostinho (1997), o valor do coeficiente angular (b),
particular para cada espécie, é geralmente constante e tende a assumir valores
próximos a 3,0 quando há taxas iguais de incremento em peso das diferentes partes do
corpo do peixe, expressando o tipo de incremento dito isométrico ou seja, um "peixe
ideal", que mantém a mesma forma durante o crescimento ontogenético . Quando (b)
assume valores acima de 3,0 é considerado crescimento do tipo alométrico positivo,
quando abaixo, alométrico negativo, com isso, o ganho de peso está ocorrendo de forma
a não manter as proporções corpóreas, se tornam mais "Iongilíneos" ou "redondos",
respectivamente.
3.5. Análise do conteúdo estomacal e determinação da dieta
A dieta alimentar foi determinada a partir das análises do conteúdo estomacal
presente em 20% dos estômagos analisados, os quais foram fixados em formol a 10%,
para identificação dos itens alimentares através das análises macro e microscópicas,
com o auxílio de um estereomicroscópio Zeiss e um microscópio binocular, com
capacidade de aumento de até 1000x. Aplicou-se o método de freqüência de ocorrência
(%) dos itens alimentares consumidos, através da relação do número de vezes que cada
item alimentar estivesse presente, pelo total de estômagos em que este ocorreu
(ZAVALA-CAMIM, 1996) seguindo a seguinte fórmula:
: Fo = freqüência de ocorrência;
ni = número de estômagos que o item ocorreu;
nni = Σ das ocorrências de todos os itens.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Diversidade
A aplicação de índices de diversidade pode ser utilizada como uma ferramenta útil
no entendimento da dinâmica de populações, apesar de ainda não ser muito utilizada
em pesquisas com a ictiofauna Neotropical. Quanto menos uniforme é a ocorrência dos
indivíduos entre as várias espécies, menores são os valores do índice de diversidade e
de equitabilidade (LEMES & GARUTTI, 2002).
Diversidade da ictiofauna do açude Taperoá II
A diversidade da ictiofauna do açude Taperoá II apresentou variações entre os
índices e as estações do ano, durante o período estudado. Isto revela a variação nas
condições ambientais ao longo de um ciclo hidrológico.
A Figura 3, mostra a diversidade, riqueza e equitabilidade durante o período de
estiagem e chuva, com índices que variaram entre H’ 1,08 e 1,27; D’= 0,73 e 1,26; J’=
0,98 e 0,65, respectivamente.
Fo = ni * (100) / Σ nni,
Com estes resultados é possível observar que os índices de diversidade ( H’) e
riqueza, foram mais elevados durante o período de chuva, porém a equitabilidade foi
menor, isto se deve ao grande número de indivíduos de S. notonota capturados no
açude neste período. De qualquer forma, os maiores valores de H’ no período chuvoso,
revelam que o ambiente apresenta-se mais equilibrado nessa altura.
Barbiere et al. (1982), afirmam que no período chuvoso ocorre um aumento da
diversidade de habitats, com o nível da água atingindo a vegetação marginal e
colocando à disposição dos peixes abrigos e habitats estruturalmente mais complexos,
bem como, recursos alimentares não disponíveis no período de seca.
Diversidade da ictiofauna do açude São José dos Cordeiros
A diversidade da ictiofauna do açude São José apresentou variações entre os
índices e as estações do ano durante o período estudado.
Figura 3. Índices de diversidade da ictiofauna do Açude Taperoá II, Bacia do rio Taperoá, semi-árido paraibano
A Figura 4, mostra a diversidade, riqueza e equitabilidade durante o período de
estiagem e chuva, com índices que variaram entre H’ 1,123 e 0,4391; D’= 1,188 e
0,4263 ; J’= 0,6978 e 0,3997, respectivamente.
Os resultados obtidos foram diferentes dos observados para o açude Taperoá e
os observados por Marinho et al. (2007) e Montenegro (2007), em que analisando a
comunidade íctica de um açude da mesma região, registraram o maior índice de
diversidade no período chuvoso. Segundo Odum (2001), a diversidade tende a ser
reduzida quando ocorre estresse ou alterações na dinâmica do ambiente aquático.
Os índices menos elevados de biodiversidade no Açude S. José dos Cordeiros,
revela que este ambiente encontrava-se menos equilibrado que o Açude Taperoá II
O açude S. José dos Cordeiros é bem menor que o outro, o que o torna mais
variável ao longo do ano, em relação aos seus volumes, isso reflet iu-se na assembléia
íctica, tornando-o mais instável.
Figura 4. Índices de diversidade da ictiofauna do Açude São José, Bacia do rio Taperoá, semi-árido paraibano.
4.2. Composição das espécies de peixes coletadas nos açudes São José
dos Cordeiros e Taperoá II
Foram coletados um total de 269 indivíduos. No açude São José dos Cordeiros,
foi coletado um total de 131, distribuídos em 4 famílias e 5 espécies: Família
Prochilodontidae - Prochilodus sp (curimatã); Família Cichlidae - Cichlasoma orientale
(Cará); Família Characidae - Astyanax bimaculatus (piaba do rabo amarelo) e Astyanax
fasciatus - piaba do rabo vermelho); e Família Erythrinidae - Hoplias malabaricus (traíra)
No açude Taperoá II, foram capturados um total de 138 indivíduos, distribuídos em 6
Famílias: Prochilodontidae - Prochilodus sp (curimatã); Família Cichlidae - Cichlasoma
orientale (Cará) e Oreochromis niloticus ( Tilapia); Família Characidae - Astyanax
bimaculatus (piaba do rabo amarelo) e Astyanax fasciatus - piaba do rabo vermelho);
Família Erythrinidae - Hoplias malabaricus (traíra) ; Família Anostomidae – Leporinus
piau (piau); Família curimatidae- Steindachnerina notonota ( sabaru).
A família com menor captura foi a Família Erythrinidae (Hoplias malabaricus
(traíra) em ambos os açudes, resultados semelhantes foram constatados por
Montenegro (2007), em ambientes da bacia do Rio Taperoá, bem como Teixeira et al.
(2005) para o Rio Paraíba do Sul.
A família que deteve o maior número de indivíduos coletados no açude Taperoá
foi a família Curimatidae, com a espécie S. notonota. Já no açude São José a Família
Characidae ( Astyanax bimaculatus ) apresentou o maior número de indivíduos
coletados ( Fig. 5).
Espécies como A. bimaculatus apresentam grande plasticidade de hábitos
alimentares e capacidade de reprodução em diversos habitats (BENNEMANN et al.,
2000), o que deve ter permitido a sua freqüente participação neste ambiente, assim
como a sua maior abundância nas capturas.
As análises mostraram que o número de indivíduos, apresentaram diferenças
quanto às estações do ano (chuva e estiagem), sendo maior na estação chuvosa, tanto
no açude Taperoá II quanto no açude São José dos Cordeiros.
Durante o período estudado o açude Taperoá II apresentou o maior número de
espécies (7), na estação chuvosa (Fig. 6), enquanto que no açude São José dos
Cordeiros o maior número de espécies capturadas (5) foi durante o período de estiagem
(Fig. 7), embora o maior número de indivíduos tenha sido no período chuvoso em ambos
os ambientes.
O número de indivíduos coletados foi semelhante em ambos os açudes, mas a
diversidade de espécies foi mais elevada no Açude Taperoá. No Açude S. José , A.
bimaculatus apresentou densidades mais elevadas, o que resultou numa maior taxa de
captura. L.piau e H. malabaricus foram capturados apenas no Açude Taperoá II e a
abundância de indivíduos foi maior no período de chuva.
Figura 5. Abundância relativa das espécies capturadas nos açudes São José dos Cordeiros e Taperoá II, no semi-árido Paraibano, nos períodos de estiagem de 2009 e chuva de 2010.
Figura 7. Número de indivíduos capturados durante os períodos de chuva 2010 e estiagem 2009, no açude São José dos Cordeiros, semi-árido Paraibano.
Figura 6. Número de indivíduos capturados durante os períodos de chuva 2010 e estiagem 2009, no açude Taperoá II, semi-árido Paraibano.
4.3 Caracterização das espécies de peixes coletadas nos açudes
4.3.1 Espécie Astyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758)- piaba-do-rabo-amarelo
A.bimaculatus (Fig. 8) é uma espécie pertencente à Família Characidae, cujos
representantes são caracterizadas por viverem em uma grande diversidade de
ambientes amplamente distribuídos na América do Sul, é uma espécie ainda não bem
resolvida taxonomicamente, sendo na sua maioria onívora e representada por peixes de
pequeno porte, que no geral não ultrapassam os 10 cm de comprimento. Possui forma
do corpo variando entre alongado e moderadamente alongado; nadadeira dorsal com 11
raios, sua origem à frente da metade do corpo; nadadeira peitoral com 13 ou 14 raios,
margem distal convexa; nadadeira anal com 28 a 31 raios, sua origem na vertical que
passa atrás da base da nadadeira dorsal, nadadeira caudal com 19 raios, o lobo inferior
ligeiramente maior que o superior.
Possuem escamas ciclóides, cobrindo apenas a base dos raios da
nadadeira caudal. Linha lateral completa, com 33 a 36 escamas perfuradas.
Figura 8. Astyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758), Fonte: Gabriela Marques Peixoto.
4.3.2 Espécie Astyanax fasciatus (Curvier, 1819) – piaba-do-rabo- vermelho
A espécie A. fasciatus (Fig. 9) popularmente conhecida como piaba-do-rabo-
vermelho apresenta uma mancha umeral difusa, verticalmente alongada, uma faixa
lateral prateada ou escura ao longo do corpo, até o fim do pedúnculo caudal,
continuando-se até a ponta dos raios caudais medianos, podendo chegar até 144 mm
(BRITSKI et al., 1984).
4.3.3 Espécie Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) – traíra
A espécie H. malabaricus (Fig. 10) é popularmente conhecida como traíra,
pertence à Família Erythrinidae. Habitam exclusivamente as águas doces,
preferencialmente ambientes lênticos e águas quentes tropicais, porém alguns
exemplares foram observados em águas mais frias no sul da América do Sul (GODOY,
1975). Geralmente são peixes de grande porte, podendo chegar até 30 cm de
comprimento. Seu corpo é alongado e roliço anteriormente e comprimido lateralmente
em direção à cauda. Nadadeira dorsal com 13 ou 14 raios, sua origem mais próxima da
Figura 9. Astyanax fasciatus (Curvier, 1819) Foto: Ana Karla Montenegro.
nadadeira caudal do que do focinho; nadadeira adiposa ausente; nadadeira peitoral com
14 raios, margem distal arredondada; nadadeira anal curta com 10 raios, margem distal
convexa, sua origem muito atrás da nadadeira dorsal. Escamas ciclóides; linha lateral
completa com 40 a 42 escamas.
4.3.4 Espécie Prochilodus sp. (Steindachner, 1875) – curimatã
Prochilodus sp. (Fig. 11) pertence à Família Prochilodontidae, formam grandes
cardumes e realizam migrações em massa rio acima na época da reprodução. A
nadadeira dorsal é precedida por um espinho protumbente, com 11 a 12 raios, ventral
com 9, anal com 10 a 11, nadadeira dorsal com ou sem manchas escuras sobre os
lobos (BRITISKI et al., 1984).
Figura 10. Hoplias malabaricus (Bloch, 1794). Fonte: Gabriela Marques Peixoto
4.3.5 Espécie Steindachnerina notonota (Miranda-Ribeiro, 1937) – “sabaru”
Peixe do semi-árido (Fig. 12), frequentemente encontrado em rios, riachos e
açudes do sertão nordestino. Devido ao pequeno porte, é considerado de pouco valor
comercial, apesar de ser frequentemente comercializado pela população local. As larvas
alimentam-se de plâncton, tornando-se iliófaga na fase adulta. É um peixe social,
bastante ágil, prolífero e abundante, tanto em ambientes lênticos quanto lóticos. Realiza
migrações para Reprodução em grandes Cardumes, com a desova em aguas mais
paradas e sob a vegetação flutuante.
Figura 11. Prochilodus sp (Steindachner, 1875) Foto: Gabriela Marques Peixoto
Figura 12. Espécie Steindachnerina notonota (Miranda-Ribeiro,
1937)Foto: Ana K. Montenegro
4.3.6 Espécie Cichlasoma orientale (Swainson, 1839) – “Cará”
Esta espécie apresenta cuidado parental e maior atividade reprodutiva nos meses
de elevada precipitação pluviométrica. Encontrado em águas de pouca profundidade, a
espécie apresenta hábito onívoro e utiliza macrófitas como prováveis locais de proteção
e alimentação (Fig. 13).
4.3.7 Espécie Leporinus cf. piau (Fowler,1941) – piau
A espécie em estudo, Leporinus cf piau (piau verdadeiro), possui porte médio, o
corpo alto, com três manchas horizontalmente alongadas em sua lateral, além de faixas
transversais e manchas apagadas pelo corpo (BRITISKI, 1984), (Figura 14).
Leporinus cf. piau foi inicialmente descrita no rio Salgado em Icó, Ceará. Sua área
de distribuição geográfica abrange as bacias do Rio São Francisco e Parnaíba e outras
pequenas bacias costeiras do Nordeste do Brasil (GARAVELLO, 1979). Segundo Santos
(1982), estudos sobre este grupo de peixes são de grande importância por conter
representantes de alto valor econômico para a atividade da pesca e para alimentação
humana. Estão presentes em açudes, lagos e rios do nordeste brasileiro, alimentam-se
de vegetais, algas, sementes e restos de insetos. É uma espécie de pequeno a médio
porte, bastante ágil e muito apreciada por pescadores da região.
Figura 13. Cichlasoma orientale (Swainson, 1839)
Foto: Gabriela Marques Peixoto
4.3.8 Espécie Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758) – tilápia nilótica
O. niloticus (Figura 15) é uma espécie pertencente à Família Cichlidae, e são
geralmente peixes de pequeno a grande porte que chegam até 20 ou 30 cm de
comprimento.
São peixes oportunistas, que apresentam uma grande capacidade de adaptação
aos ambientes lênticos. Além disso, suportam grandes variações de temperatura e
toleram baixos teores de oxigênio dissolvido. A alimentação pode variar dependendo da
espécie, podendo ser onívoras, herbívoras ou fitoplanctófagas. Algumas espécies se
reproduzem a partir dos seis meses de idade, sendo que a desova pode ocorrer mais de
quatro vezes por ano
Figura 14. Espécie Leporinus cf. piau (Fowler,1941). Foto:
Ana K. A. Montenegro.
.
4.4. Estrutura em comprimento
A estrutura da população é influenciada por fatores abióticos, tais como:
características morfométricas e hidrológicas, regimes termais e químicos, além dos
fatores bióticos, relacionados com os processos de colonização, seleção e interação de
espécies.
Segundo Benedito-Cecílio & Agostinho (1997), a análise da estrutura em
comprimento de uma população, fornece indicativos qualitativos do desenvolvimento das
espécies, uma vez que o indivíduo revela em seu crescimento as condições ambientais
(bióticas e abióticas) vigentes.
As populações da ictiofauna capturadas no açude São José foram representadas
por espécies de pequeno a grande porte, as quais estão demonstradas em classe de
comprimento. Enquanto que as capturadas no açude Taperoá foram representadas por
espécies de pequeno a médio porte (Figura 17).
Figura 15. Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758) Foto: Ana K. A. Montenegro
Figura 17. Classe de comprimento da ictiofauna do açude Taperoá II, no semi-árido paraibano, nos períodos de chuva 2010 e estiagem 2009.
Figura 16. Classe de comprimento da ictiofauna do açude São José dos Cordeiros, no município com o mesmo nome, nos períodos de chuva 2010 e estiagem 2009.
As populações da ictiofauna capturadas no açude São José dos Cordeiros
tiveram as média de comprimento e peso maiores do que comparando com as médias
dos indivíduos capturados no Açude Taperoá II.
Açude São José
Os indivíduos de A. bimaculatus (piaba do rabo amarelo) apresentaram
comprimento padrão e peso total entre 4,3 e 7,55cm e 2,0 e 14,0g, respectivamente.
Artioli et al. (2003), encontraram comprimento padrão semelhante ao do presente
estudo, o qual também foi corroborado com Montenegro (2007), já Zanibone-Filho et al.
(2004) registraram valores superiores para esta espécie, chegando a 17,5 cm.
Para os representantes da espécie A. fasciatus (piaba do rabo vermelho), os
valores do comprimento padrão e peso total variaram entre 6,0 e 7,0cm e 6,7 e 8,9g,
respectivamente. Resultados semelhantes foram encontrados na literatura
MONTENEGRO (2007); ZANIBONE-FILHO et al. (2004) e GURGEL et al.( 2005).
Os indivíduos capturados de Prochilodus sp (curimatã) foram representados em
diversas classes de tamanho, indicando que a espécie completa o seu ciclo de vida no
ambiente. O comprimento padrão e o peso total foram entre 5,9 e 24,2 cm e 10,0 e
514,0g, respectivamente. Dados semelhantes foram obtidos por MARINHO (2004).
Os representantes da espécie C. orientale apresentaram comprimento padrão e
peso total entre, 4,0 e 5,9 cm e e 4,0 e 10,0g, respectivamente.
Açude Taperoá II
Os indivíduos da espécie A. bimaculatus apresentaram comprimento padrão e
peso total entre 4,6 e 6,55cm e 4,0 e 10,0g, respectivamente, semelhante ao
comprimento e peso total da espécie A. fasciatus (5,4 e 5,8cm e 4,0 e 6,0g).
S. notonota apresentou comprimento padrão e peso total entre 4,8 e 7,6 cm e 4 e
12g, resultados diferentes foram obtidos por Montenegro (2007), para o mesmo
ambiente estudado.
Prochilodus sp. tiveram seus espécimes com comprimento padrão entre 7,8 e
10,6 cm e peso entre 14 e 46g.
O. niloticus apresentou comprimento padrão e peso total entre 5,2 e 7,9cm e 4 e
12g. Enquanto que L. piau apresentou comprimentos padrão entre 6,3 e 10,8 cm e peso
total entre 8 e 42g. Resultados diferentes foram observado por Montenegro (2007).
A Espécie de H malabaricus, por ter sido capturada apenas um exemplar, em
cada açude, não ofereceu subsídio para tecer qualquer comparação com os demais
estudos para a região analisada.
Assim, podemos dizer de uma forma geral, que a média de comprimento e peso
dos peixes analisados, foram maiores no Açude S. José dos Cordeiros, comparando
com o Açude Taperoá II.
4.5 Relação peso-comprimento
A relação peso total/comprimento mede a variação do peso esperado em relação
ao comprimento e vice-versa, e indica a condição do peixe pelo acúmulo de gordura,
bem-estar e desenvolvimento gonadal (LE CREN, 1951 apud BENEDITO-CECILIO &
AGOSTINHO, 1997).
Os indivíduos de A. bimaculatus apresentaram ao longo do período estudado, no
açude São José dos Cordeiros, um coeficiente angular b= 2,43 indicando que a espécie
investiu mais em comprimento do que em peso (Fig. 18 A), resultado semelhante foi
identificado para a espécie no Açude Taperoá II, no mesmo período de coleta, tendo
como coeficiente angular b= 2,07.(Fig. 18 B). Resultados semelhantes foram obtidos por
Benedito-Cecílio & Agostinho (1997), num estudo sobre a ictiofauna do reservatório de
Segredo, em que verificaram que A. bimaculatus apresentaram um crescimento do tipo
alométrico negativo (b = 2,82); igualmente ao observado por Gurgel (2004), (b = 2,59).
Figura 18. Relação peso-comprimento de Astyanax bimaculatus, nos açudes São José (A) Taperoá (B). Nos períodos de estiagem 2009 e chuva 2010, semi-árido paraibano.
A B
A. fasciatus assim como a A. bimaculatus apresentaram, um coeficiente angular
abaixo de 3,0 em ambos os açudes, indicando um crescimento alométrico negativo (São
José- b= 2, 75 e Taperoá b= 1,93), (Fig. 19 A e B), o que indica que o ganho de peso
está ocorrendo de forma desproporcional entre as diferentes partes do corpo do animal.
Resultados semelhantes foram encontrados por Gurgel (2004), ao estudar a estrutura
populacional da mesma espécie no rio Ceará Mirim – RN.
A espécie C. orientale ,no açude São José, apresentou um coeficiente angular
abaixo de 3,0, indicando um crescimento alométrico negativo (b= 2,75). Enquanto que
no açude Taperoá o coeficiente angular foi de b= 3,44 indicando um crescimento
alométrico positivo, (Figura 20 A e B). Esta diferença pode ter surgido devido às
condições ambientais peculiares de cada açude. Este acúmulo de energia pode se dar
em conseqüência das boas condições alimentares do açude Taperoá em detrimento do
açude São José dos Cordeiros.
A espécie Prochilodus sp. apresentou um coeficiente angular superior a 3,0 , em
ambos os açudes, demonstrando um ganho em peso (Figura 21).
A espécie de L. piau foi encontrada apenas no açude Taperoá e esta apresentou
um crescimento alométrico positivo (b= 3,3), (Fig. 22). Resultados diferentes foram
encontrados por Montenegro ( 2007), para a mesma região do presente estudo, em anos
anteriores. Os dados revelam que a relação peso x comprimento expõe o as condições
ambientais do ambiente, onde a oferta de alimento é um fator de grande relevância, para
tais resultados. Os indivíduos L. piau capturados no açude em sua maioria apresentaram
um grau de repleção dos estômagos variando de parcialmente cheio á cheio, indicando
uma intensa atividade alimentar da referida espécie no ambiente.
As espécies de S. notonota assim como O. niloticus apresentaram um coeficiente
angular menor que 3,0 (b= 2.15 e b=2,73 respectivamente), indicando um crescimento
do tipo alométrico negativo. Num estudo realizado por Holzbach et al. (2005), com uma
espécie do mesmo gênero, S. insculpta, observou-se também um crescimento do tipo
alométrico negativo, tanto para as fêmeas como para os machos (b = 2,79 e b= 1,97,
respectivamente) (Fig. 23 A e B).
Os açudes São José dos Cordeiros e Taperoá apresentaram um coeficiente
angular inferior a 3,0 na maioria das espécies capturadas, demonstrando um
crescimento alométrico negativo, desta forma pode-se inferir que a espécie está
investindo mais em comprimento do que em peso.
B
B
Figura 19. Relação peso-comprimento de Astyanax fasciatus, nos açudes São José ( A) Taperoá (B). Nos períodos de estiagem 2009 e chuva 2010, semi-árido paraibano.
A
B
A Figura 20. Relação peso-comprimento de C. orientale, nos açudes São José ( A) Taperoá (B). Nos períodos de estiagem 2009 e chuva 2010, semi-árido paraibano.
A
B
B
Figura 21. Relação peso-comprimento de Prochilodus sp., nos açudes São José ( A) Taperoá (B). Nos períodos de estiagem 2009 e chuva 2010, semi-árido paraibano.
A
B
Figura 22. Relação peso-comprimento de L. piau., no açude Taperoá, nos períodos de estiagem 2009 e chuva 2010, semi-árido paraibano.
Figura 23. Relação peso-comprimento de S. notonota ( A) e C. gilbert ( B), no açude Taperoá, nos períodos de estiagem 2009 e chuva 2010, semi-árido paraibano.
4.6 Alimentação
Dieta alimentar das espécies mais freqüentes no Açude Taperoá II
A espécie S. notonota, teve maior amplitude da dieta no período de estiagem,
apresentando 7 itens alimentares nos seus estômagos, tendo como principais itens:
detritos, restos vegetais e Clorophyceae ( Fig. 24 A) Segundo Teixeira & Gurgel (2004),
esta maior amplitude da dieta está relacionada com a maior atividade alimentar da
espécie nos meses de menor precipitação pluviométrica, assim como uma maior oferta
de itens alimentares, por o ambiente apresentar nestes períodos maior produtividade.
Durante o período chuvoso a espécie manteve a sua preferência pelos detritos,
seguidos de restos vegetais e novamente as Clorophyceae ( Fig.24 B).
Teixeira & Gurgel (op. cit.), estudando a dinâmica da nutrição da referida espécie
no açude Riacho da Cruz (RN), verificaram que uma dieta à base principalmente de
detritos, corroborando com o presente estudo, em que este item foi o de maior
importância alimentar. O mesmo se verificou em trabalhos de Montenegro et al. (2007),
estudando a influência da metodologia sobre a análise da dieta da referida espécie, no
próprio açude Taperoá II; e Gurgel et al. (2005) observaram uma dieta composta
basicamente formada por sedimentos e algas.
B
A
A dieta de L. conf. piau foi bastante diversificada, assim como a espécie S.
notonota, com 7 itens alimentares, tendo como principais os restos vegetais,
A
B
Figura 24. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo estomacal de S. notonota A- Estiagem ; B- período chuvoso, Açude Taperoá.
diatomáceas e clorophyceae, sendo identificados no período de estiagem uma
diversidade de alimentos e a presença de itens que não estavam presentes no período
de chuva: sementes, restos de insetos e escamas ( Fig. 25 A e B).
Segundo um estudo realizado por Gomes & Verani (2003), no reservatório de
Três Marias, L. piau mostrou-se basicamente herbívoro, mas com grande tendência a
onivoria, sendo as algas filamentosas os itens de maior importância na alimentação da
espécie, enquanto que, Mérona & Rankinde- Mérona (2004) analisando os recursos
alimentares de uma comunidade de peixes de um lago de várzea da Amazônia Central,
L. friderici e L. piau apresentaram uma dieta composta principalmente por frutos, flores e
outros materiais vegetais. Isto demonstra a capacidade oportunista da espécie em
aproveitar os itens disponíveis no habitat.
A
B
A
Figura 25. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo estomacal de L. piau. A- Estiagem ; B- período chuvoso, Açude Taperoá.
A espécie Prochilodus sp foi capturada apenas no período de chuva,
apresentando a mesma uma dieta bastante diversificada, com a presença bastante
marcante dos detritos e Diatomaceae, (Fig. 26). Resultados semelhantes foram
observados por Montenegro (2007), Peixoto (2010) e Mérona & Rankin-de-Mérona
(2004)
B
Figura 26. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo estomacal de L. piau. A- Estiagem ; B- período chuvoso, Açude Taperoá.
As análises dos conteúdos estomacais mostraram que a dieta de O. niloticus
(tilápia nilótica) foi bastante diversificada, sendo os itens mais freqüentes:
Chorophyceae, Restos vegetais, Rotífera e Detritos (Figura 27.), com maior
representatividade do grupo das Chorophyceae, com os gêneros: Zignema, Microspora,
Closterium. Diferentemente da citação de Montenegro, (2007) e Cardoso et al. (2007),
para esta espécie, para os açudes da região estudada, Taperoá II e Namorados durante
o período chuvoso, em que constataram uma grande quantidade diversificada de
Diatomáceas. Isso pode ser o resultado da diferença das espécies dominantes na
comunidade fitoplanctônica.
Os rotíferos também foram bastante representativos na dieta da espécie O.
niloticus com as espécies Keratella cochlearis e K. tropica presentes em seus
estômagos.
As espécies A. bimaculatus e A. fasciatus , apresentaram uma dieta bastante
semelhante quanto aos itens presentes em seu conteúdo estomacal, tendo como
principal fonte de alimentos as algas e os restos vegetais. (Fig. 28 A e B).
A. fasciatus e A. bimaculatus apresentaram um regime alimentar onívoro com
tendência a herbivoria.
Dieta semelhante foi observada por Gurgel et al. (2005), analisando a dieta desta
mesma espécie num trecho do Rio Ceará Mirim – RN ; Montenegro ( 2007) e Peixoto
(2010) para açudes da mesma região.
0
20
40
60
80
100
Freq
uên
cia
de
oco
rrên
cia
(%
)
Dia
tom
acea
s
Chloro
phyc
eae
Resto
s veg
etai
s
Rotífer
a
Cianop
hyce
ae
Det
ritos
Itens alimentares
Figura 27. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes
no conteúdo estomacal de O. niloticus.
A
Figura 28. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo estomacal de A- Astyanax bimaculatus e B- Astyanax fasciatus.
A espécie C. orientale, assim como as demais espécies do açude Taperoá,
apresentou uma dieta bastante ampla (Fig. 29), resultado semelhante foi encontrado por
Montenegro (2007), para o mesmo açude.
Figura 29. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo estomacal de C. orientale, Açude Taperoá II.
B B
Dieta alimenta das espécies mais freqüentes no Açude São José
A dieta alimentar de Prochilodus sp foi bastante diversificada, sendo identificado
no período de chuva um maior número de algas microscópicas representadas pelas
Diatomáceas e Cyanophyceaes (figura 30A) enquanto que, no período de estiagem o
grupo taxonômico mais evidente foi o de Chlorophyceaes (figura 30B). Neste açude esta
espécie apresentou maior diversidade de itens alimentares, com a inserção de
zooplâncton, escamas e restos de insetos.
Resultados semelhantes foram constatados para a dieta alimentar de Prochilodus
brevis no rio Gramame, Conde Paraíba (SOARES et al 1998).
A espécie Cichlasoma orientale apresentou uma dieta bastante diversificada,
composta por Chlorophyceae, Cyanophyceae e Diatomácias, restos vegetais, sementes,
matéria orgânica, restos de insetos e Zooplâncton (Copepoda) (Figura 31). Resultados
Figura 30. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo estomacal
de Prochilodus sp. (A) período de estiagem; (B) período de chuva.
A
B
semelhantes para esta mesma espécie foi registrado por Montenegro (2007) no açude
Taperoá.
A. bimaculatus apresentou uma dieta bastante ampla em todos os períodos
analisados, sendo considerada onívora, mas com forte tendência a um regime de
herbivoria. Segundo Agostinho et al. (2007), esta espécie é generalista, podendo haver
diferentes tipos de tendências, inclusive a herbivoria, dependendo do ambiente.
A dieta alimentar da espécie A. bimaculatus no açude São José dos Cordeiros
constou de restos vegetais, seguido de Diatomaceas, Chlorophyceae e detritos na
estação de estiagem (Figura 32). Resultados idênticos foram obtidos por Gurgel et al.
(2005) no rio Ceará Mirim, em Umari, Taipu, Estado do Rio Grande do Norte.
Ao comparar a dieta da espécie presente no açude São José com os indivíduos
capturados no Taperoá, foi analisado que em ambos os ambientes a espécie se
apresentou com hábito bastante semelhante, sendo considerado onívoro.
Figura 31. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo
estomacal de Cichlasoma orientale.
Já na estação chuvosa (2010), foi verificada uma grande quantidade de
Cyanophyceae presentes na dieta dos indivíduos da mesma espécie (Figura 33).
Os espécimes de A. fasciatus utilizados nas análises foram capturados apenas na
estação de estiagem, tendo como o item predominante na dieta, os detritos, seguidos de
Figura 33. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo estomacal de A. bimaculatus, no açude S. José III, na estação de Chuva de 2010.
Figura 32. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo estomacal de A. bimaculatus, na estação de estiagem de 2009.
restos de insetos, Chlorophyceae e restos vegetais (Figura 34 ). Segundo Hahn et al.
(1997a), na estiagem, a proporção entre os recursos alimentares altera-se modificando
as interações bióticas, levando os diferentes organismos, incluindo os peixes, a
respostas distintas frente às novas condições.
A espécie Hoplias malabaricus, comumente conhecida como traíra, apresentou
uma baixa freqüência de captura durante todo o estudo, sendo registrado apenas um
individuo em cada açude, tendo seu conteúdo alimentar representado em sua maioria
por restos de peixes.
Em termos gerais, considerou-se que a maioria das espécies de peixes dos
açudes estudados são oportunistas, corroborando com o trabalho de Lowe-McConnell
(1987), que relata que em ambientes de água doce que passam por grandes
instabilidades este fato é comum. Fato semelhante foi citado por Dias et al. (2005) para
o reservatório de Lajes, em que a maioria das espécies apresentou hábito alimentar
onívoro (micrófago).
Em um ciclo anual, os eventos fisiológicos da alimentação seguem o ritmo
imposto pelas características sazonais do ambiente, as quais mudam diariamente ao
longo do ciclo, fazendo com que tais eventos acompanhem essas mudanças (RABELO
& ARAÚJO-LIMA, 2002), além da influência dos fatores bióticos (MARGALEF, 1983).
Segundo Medeiros (1999), períodos alternados de precipitações e secas, que são
característicos de regiões semi-áridas, podem provocar grandes flutuações de espaço,
competição, concentrações de O2, uréia e consequentemente, a disponibilidade de
Figura 34. Freqüência de ocorrência dos itens alimentares presentes no conteúdo estomacal de A. fasciatus, na estação de chuva de 2010.
alimento. Essas diferenças na abundância de alimento, entre as estações seca e
chuvosa afetam diretamente as comunidades tropicais. Como uma resposta a estas
variações, espécies oportunistas mudam suas dietas de acordo com a disponibilidade
alimentar (POMPEU, 1999).
5. CONCLUSÕES
A família que deteve o maior número de indivíduos coletados no açude Taperoá
foi a família Curimatidae, com a espécie Steindachnerina notonota. Já no açude São
José a Família Characidae ( Astyanax bimaculatus ) apresentou o maior número de
indivíduos coletados, a família com menor captura foi a Família Erythrinidae -Hoplias
malabaricus (traíra) em ambos os açudes .
O açude S. José por ser um ambiente com menores dimensões pode apresentar
um estado trófico mais elevado, o que permitiu a presença de maior crescimento nos
peixes, assim como por se tratar de um açuder particular, a pesca não é tão intença
como em outros açudes da região , desta forma pode ter permitindo o maior crescimento
dos peixes neste ambiente.
Os açudes São José dos Cordeirose Taperoá, apresentaram geralmente um
coeficiente angular inferior a 3,0, quanto à relação peso x comprimento, na maioria das
espécies capturadas, demonstrando um crescimento alométrico negativo
Para as espécies de peixes capturados no açude Taperoá II, os valores do
coeficiente angular (b), fator de condição, variaram de 1,93 em A. fasciatus a 3,44
em C. orientale enquanto que no açude São José , variaram de 2,4 em A. bimaculatus
a 3,3 em Prochilodus sp.
A diversidade da ictiofauna nos dois açudes São José dos Cordeiros,
apresentaram variações entre os índices e as estações do ano durante o período
estudado. O açude São José apresentou no período de estiagem os maiores índices de
diversidade, riqueza e equitabilidade, enquanto que para o açude Taperoá os maiores
índices foram verificados no período de chuva.
Quanto à alimentação a grande maioria dos indivíduos capturados em ambos os
açudes, apresentaram uma dieta bastante diversificada, com tendência para a onívora,
demonstrando serem oportunistas quanto à disponibilidade de alimento.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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