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CENTRO UNIVERSITÁRIO PADRE ANCHIETA ANÁLISE LUCAS SALGUEIRO

Análise do livo O grande Gatsby

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Análise literária

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Page 1: Análise do livo O grande Gatsby

CENTRO UNIVERSITÁRIO PADRE ANCHIETA

ANÁLISE

LUCAS SALGUEIRO

JUNDIAÍ

2016

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CENTRO UNIVERSITÁRIO PADRE ANCHIETA

LUCAS SALGUEIRO

ANÁLISE

Trabalho apresentado à disciplina Literaturas de Língua Inglesa, sob a orientação da Profª. Ms. Thaís Maria Giammarco como parte da avaliação de conteúdo programada para o 5º período do curso de Letras – Licenciatura Plena em Português e Inglês.

JUNDIAÍ

2016

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Ao lermos O grande Gatsby (FITZGERALD, 2003), nos deparamos com uma escrita

literária ao qual podemos identificar facilmente uma imensidade de matérias poéticas, justamente

por fazer referências, mesmo que implicitamente, a outros textos, que num percusso de leitura

estabelece pontos e lugares comuns da poesia. Isso nos faz entender que como em outros textos, a

memória, de primeiro momento, está sempre presente, pois a escrita está sempre num lugar de

volta, de rememoração de textos antigos.

Na Teogonia de Hesíodo (1995), é explicada a genealogia dos deuses gregos, e em dado

momento são citadas as Musas, filhas da Memória com Zeus. As musas são concebidas na poesia

neste lugar de início da escrita, pois ao se cantar as Musas elas se presentificam, presentificam a

Memória, desta forma, o poeta, que segundo Barthes (2004) está sempre ficcionalizado dentro do

texto literário, alcança as matérias de sua poesia.

A Musa de Nick Carraway, no livro parece estar metamorfoseada, pois a figura feminina que

a representa enquanto divindade não é vista, podemos, então, dizer que a Musa de Nick é o

próprio Gatsby, é ele quem inspira e fornece a memória ao poeta. A metamorfose de Gatsby pode

ser vista, também, por outras perspectivas, já que de James Gatz assume uma nova identidade,

como Jay Gatsby.

Esse processo de metamorfose faz-me pensar sobre uma outra conformidade poética que está

presente no livro, a comédia. Por trazer referência com o teatro, desde a Grécia antiga, a comédia

está neste lugar de representação, troca de máscaras, de roupas, e como aponta Aristóteles (1991),

no tratamento com homens inferiores, no âmbito do bizarro. Nesta perspectiva, os caracteres dos

personagens estão no lugar da comédia, cabe dizer que comédia não está sendo tratada no sentido

do riso, mas nestes traços próprios que a difere da épica e da tragédia.

Não só a troca de identidade representa este lugar cômico, a cena em que Daisy está com as

camisas de Gatsby e as camisas são jogadas estabelece outro ponto de interpretação desta

questão. Dayse que ria subitamente chora ao sentir as peças de camisas de Gatsby, essa troca de

humor repentina cria, em minha interpretação, uma imagem direta com as máscaras da comédia.

Relaciona-se, também, os caracteres e vícios dentro da narrativa. Os personagens estão em

um ciclo de vícios que demonstram seus caracteres cômicos, mostra como são inferiores. A

bebida que é uma questão muito presente no romance, devido a lei seca que não permitia a venda

e consumo de bebida alcólica nos Estados Unidos, serviu não somente no sentido social de

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demonstração de algo que estava presente na época da escrita desta narrativa, nem só tão pouco

como uma crítica do autor Fitzgerald à sociedade como um todo. Esse elemento estabelece na

narrativa, também, a noção de comédia e de êxtase.

Festas regadas a bebidas, considerada a droga da época, eram comuns, mesmo que

ilegalmente. Nas festas do próprio Gatsby as bebidas eram muito presentes, mas relaciono a

bebida no lugar do êxtase, pois com o consumo do àlcool e com a embriaguez os personagens

saíam de si, a embriaguez está no lugar da perda da consciência, é a forma de sair de si, de sair da

“realidade”. O próprio Nick descreve quando vai junto ao apartamento em que estava Mirtle e

Tom que era uma das poucas vezes que bebia e que parecia estar fora de si. O àlcool é a válvula

de escape para os personagens, para com que saiam de si, conformando assim a noção de êxtase.

A noção de êxtase está ligada a possibilidade de ponto de vista, de enxergar as coisas por fora,

sair do corpo.

Outras matérias que podemos enxergar, e que a todo momento aparecem no livro formando

uma tríplice são o olhar, os olhos e o ponto de vista. No início do texto os conselhos do pai de

Nick representa o primeiro aparecimento deste elemento. O ponto de vista do pai de Nick serve

como um direcionamento, um guia, traçamento de um caminho de visão que influenciará o olhar

do poeta. Não cabe dizer se Nick é ou não imparcial em sua escrita, como o pai o aconselha, pois

pelo fato de ser uma narrativa em primeira pessoa, o livro estará sujeito à visão de Nick.

Nick parece ter uma fixação por olhos, ao descrever Tom ele cita suas características “Dois

olhos luminosos e arrogantes eram a característica mais marcante de seu rosto e lhe davam a

aparência de alguém que estava sempre pronto para agredir” (FITZGERALD, p.7), essa atenção

com os olhos vai ser presente em todo o romance.

Os olhos do Dr. T. J. Eckleburg é outro elemento posto na narrativa que nos faz refletir sobre

esta questão do olhar. Dois olhos colocados estrategicamente de forma que vigiava todos os

acontecimentos daquele local. Não consigo dizer muito sobre esses olhos, mas é algo que me

inquieta profundamente, um olhar estranho, visto que o Doutor não é muito explorado na

narrativa. É como um olhar que invade a narrativa, uma força sobrenatural que vigia e repousa

seu olhar, sem nada modificar.

A questão do olhar em relação ao Gatsby é sempre conturbada, é sempre uma tentativa de se

ver e de se dizer algo sobre este personagem. Muitos levantam hipóteses sobre a origem de seu

dinheiro, e vão dizer que Gatsby era um ex espião alemão, neste sentido a questão de ser espião

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pode nos revelar uma outra relação com o olhar, aquele que olha escondido, que não se faz

perceber.

Nick traz consigo e em seu olhar uma outra noção dentro de um percurso de leitura nesta

narrativa, a forma com que ele enxerga as coisas e as descreve é magnífica e de uma sofisticação

incrível. A cena em que ele descreve as cortinas da casa de Daisy é de extrema beleza, demonstra

o quão bom observador e escritor ele é. Ao descrever certos locais, Nick, cria, de certa forma,

uma imagem perfeita da cena, entra aqui um conceito muito presente na poesia, o de ut pictura

poesis, que vai dizer que a poesia é igual a pintura e a pintura é igual a poesia. Ao escrever sobre

os locais e dar uma descrição minuciosa é criado um quadro por meio das palavras.

O gênero literário ao qual O grande Gatsby é estabelecido enquanto romance. Muito se fala

sobre o romance mas ainda hoje não há uma definição completa para o gênero, fato é que o

romance traz consigo elementos e matérias de conformidades poéticas distintas em sua escrita.

Lukács (2007), vai dizer que o romance é uma evolução do que seria a épica, ponto que gera

controversias devido à possibilidade de enxergarmos em textos mesmo como a épica elementos e

pontos de intersecção destes dois gêneros, neste sentido não há uma evolução, o romance sempre

esteve presente. Na épica há espaço para todas as conformidades poéticas e naturalmente o

romance já estaria presente nela.

Contudo é possível dizer que o romance é uma inversão desta narrativa épica, o que a

diferencia de uma épica é o desvio, a épica trabalha com uma narrativa una, em que é narrado

uma única história, elementos que desviariam da conduta épica são deixados de lado. É nesses

desvios que o romance pode ser entendido, visto que sempre há no romance o desvio do caminho

épico.

Algumas matérias da narrativa de O grande Gatsby servem de análise e comparação a esse

caminho de inversão épica. A musa como já foi tratado no início; o mar que separa East Egg e

West Egg, consequentemente separa Gatsby e Daisy, que faz alusão ao mar da Odisseia

(HOMERO, 2009); a própria Daisy que representa Penélope a espera de Ulisses (Gatsby), mas

que devido ao desvio já se encontra casada.

O farol de luz verde, descrito no decorrer da narrativa, é concebido, também, como uma

outra forma de olhar, o farol seria os próprios olhos, que redireciona o olhar de Gatsby para com

Daisy. Pode ser entendido como um olhar de esperança, devido a cor verde, pois enquanto

observa o farol Gatsby tem a esperança de reencontrar Daisy, o farol é uma forma de unir os dois.

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Por fim, a questão do olhar é finalizada na narrativa com o fechar dos olhos, a morte de

Gatsby simboliza este lugar de finalização, chamando a atenção pros olhos, para o lugar do não

ver.

Referências

HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. 3. ed. São Paulo: Iluminuras, 1995.

BARTHES, Roland. A morte do autor. In_: O rumor da língua. São Paulo: Martins Fontes,

2004.

HOMERO. Odisseia. 3. ed. São Paulo: Atena Editora, 2009.

LUKÁCS, Georg. A Teoria do Romance: Um ensaio histórico filosófico sobre as formas da

grande épica. Tradução, posfácio e notas de José Marcos Mariani de Macedo. São Paulo. Editora

34, 2007.

FITZGERALD, F. Scott. O grande gatsby. Rio de Janeiro: Record, 2003.