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Análise do posicionamento de professores quanto ao uso de recursos didáticos no ensino de Geografia Crislaine Vargas Basso 1 Daiane Carla Bordulis 2 Elaine Marta Krempacki 3 RESUMO Perante as diversas transformações, principalmente a rapidez das informações, que ocorrem na escala mundial e diante das dificuldades encontradas no ensino de Geografia, o professor precisar inovar suas metodologias e adequar seu planejamento para promover a aprendizagem com seus alunos da melhor forma possível. Assim, dado o fato da contribuição dos recursos didáticos diferenciados (saídas de campo, maquetes, experimentos, fotografias, registros, entre outros...) para a aprendizagem dos alunos, o objetivo deste trabalho é conhecer a opinião dos professores sobre a utilização desses recursos em suas aulas de Geografia, e também, compreender as dificuldades que os educadores enfrentam ao planejar as aulas e a finalidade que apresenta a eles a utilização de metodologias diferenciadas. Para obtenção dos resultados, pesquisou-se artigos disponíveis no portal Scholar (Google Acadêmico) e realizou-se uma pesquisa através da ferramenta Formulários (Google Drive), onde dez professores de Geografia participaram. Quanto aos principais resultados, destaca-se que os professores sofrem com a realidade das instituições escolares em que trabalham, falta valorização de seu trabalho, formações continuadas, materiais nas escolas e estes, são os principais motivos que levam os docentes a desistirem da carreira ou de realizar novos estudos, como também, deixar-se desanimar e cair no tradicionalismo das aulas de Geografia. Conclui-se com este trabalho que as práticas pedagógicas fazem toda a diferença para o ensino de Geografia e que estas podem ser adaptadas pelo professor, inclusive na falta de materiais didáticos, trazendo também, grande contribuição para a aprendizagem do aluno. ¹ Acadêmica do curso de Geografia-Licenciatura da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Erechim. Bolsista no Programa Institucional de Iniciação à Docência PIBID. E-mail: [email protected] 2 Acadêmica do curso de Geografia-Licenciatura da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Erechim. Bolsista no Programa Institucional de Iniciação à Docência PIBID. E-mail: [email protected] 3 Acadêmica do curso de Geografia-Licenciatura da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Erechim. Bolsista no Programa Institucional de Iniciação à Docência PIBID. E-mail: [email protected]

Análise do posicionamento de professores quanto ao uso de ... · Vários estudos já realizados sobre recursos didáticos e prática ... pensar estratégias de ampliar ... dificuldades

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Análise do posicionamento de professores quanto ao uso de recursos didáticos no ensino

de Geografia

Crislaine Vargas Basso1

Daiane Carla Bordulis2

Elaine Marta Krempacki3

RESUMO

Perante as diversas transformações, principalmente a rapidez das informações, que ocorrem

na escala mundial e diante das dificuldades encontradas no ensino de Geografia, o professor

precisar inovar suas metodologias e adequar seu planejamento para promover a aprendizagem

com seus alunos da melhor forma possível. Assim, dado o fato da contribuição dos recursos

didáticos diferenciados (saídas de campo, maquetes, experimentos, fotografias, registros,

entre outros...) para a aprendizagem dos alunos, o objetivo deste trabalho é conhecer a opinião

dos professores sobre a utilização desses recursos em suas aulas de Geografia, e também,

compreender as dificuldades que os educadores enfrentam ao planejar as aulas e a finalidade

que apresenta a eles a utilização de metodologias diferenciadas. Para obtenção dos resultados,

pesquisou-se artigos disponíveis no portal Scholar (Google Acadêmico) e realizou-se uma

pesquisa através da ferramenta Formulários (Google Drive), onde dez professores de

Geografia participaram. Quanto aos principais resultados, destaca-se que os professores

sofrem com a realidade das instituições escolares em que trabalham, falta valorização de seu

trabalho, formações continuadas, materiais nas escolas e estes, são os principais motivos que

levam os docentes a desistirem da carreira ou de realizar novos estudos, como também,

deixar-se desanimar e cair no tradicionalismo das aulas de Geografia. Conclui-se com este

trabalho que as práticas pedagógicas fazem toda a diferença para o ensino de Geografia e que

estas podem ser adaptadas pelo professor, inclusive na falta de materiais didáticos, trazendo

também, grande contribuição para a aprendizagem do aluno.

¹ Acadêmica do curso de Geografia-Licenciatura da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Erechim.

Bolsista no Programa Institucional de Iniciação à Docência – PIBID. E-mail: [email protected] 2 Acadêmica do curso de Geografia-Licenciatura da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Erechim.

Bolsista no Programa Institucional de Iniciação à Docência – PIBID. E-mail: [email protected] 3 Acadêmica do curso de Geografia-Licenciatura da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Erechim.

Bolsista no Programa Institucional de Iniciação à Docência – PIBID. E-mail: [email protected]

Palavras – chave: Prática pedagógica. Recursos didáticos. Ensino da Geografia.

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Em uma sala de aula, a prática do professor perpassa por um momento de adequação,

reflexos de uma sociedade que vem mudando constantemente e de um forte processo de

globalização que envolve a todos. Nesse momento, procura-se por uma Geografia que possa

contribuir para compreensão das relações sociais e meios que os professores possam utilizar

para tornar o conhecimento geográfico em algo atraente e com sustância aos alunos, de modo

que, estes compreendam as múltiplas relações que existem no mundo.

Pensando nisso, que práticas pedagógicas viabilizam a construção do conhecimento

geográfico? Que recursos didáticos podem ser utilizados nessa construção? E como envolver

o aluno, fazendo com que ele supere visões fragmentadas e amplie sua compreensão?

Essas questões surgem como forma de repensar a prática pedagógica do educador e sua

importância na construção do conhecimento dos educandos. É importante ressaltar, que as

práticas desenvolvidas pelos professores em suas aulas são complexas, cada uma possui

especificidades e cabe aqui, discutir metodologias diferenciadas que possam vir a acrescentar

no processo de ensino-aprendizagem. E, considerando a reflexão sobre os recursos didáticos

como uma importante etapa nesse processo de aprendizagem, em meio às transformações que

vivemos os autores Batista e Estevez (2014), também colaboram ao destacar a necessidade de

valorização de novas metodologias que o ensino da Geografia tem ao acompanhar tais

mudanças.

Vários estudos já realizados sobre recursos didáticos e prática do professor apontam que o

ensino de Geografia deve, principalmente, formar para a compreensão e intervenção na

realidade. Dentre esses estudos, Silva et. al. (2013) reconhecem a importância de o aluno

compreender o espaço em que está inserido. Além destes autores, outros como Brasil (1998),

partilham da mesma opinião.

Assim, dado o fato da contribuição dos recursos didáticos diferenciados (saídas de campo,

maquetes, experimentos, fotografias, registros, entre outros...) para a aprendizagem dos

alunos, o objetivo deste trabalho é conhecer a opinião dos professores sobre a utilização

desses recursos em suas aulas de Geografia. Além disso, compreender as dificuldades que os

educadores enfrentam ao planejar as aulas e a finalidade que apresenta a eles a utilização de

metodologias diferenciadas.

O estudo deste trabalho pode contribuir para repensar métodos utilizados na elaboração

das aulas de Geografia, como também, pensar estratégias de ampliar as visões de mundo dos

educandos. Além disso, esta pesquisa vem ao encontro de estudos já realizados sobre o

assunto, como os de Batista e Estevez (2014), Calado (2012), entre outros que se dedicam ao

estudo do tema.

Este artigo divide-se em 4 seções que tratam dos pilares teóricos e conceituais da

pesquisa, sendo o mais fundamental deles os estudos de Kaercher (2007) e Silva e Freire

(2014). Neste estudo, apresentam-se de forma gradativa os resultados apurados. Para tanto, o

trabalho traz uma relação de conceitos desenvolvidos por alguns autores, sendo os mais

utilizados neste artigo: Batista e Estevez (2014), Kaercher (2011), Kaercher (2007), Brasil

(1998), Silva et al (2013), Calado (2012) e Kaercher (1998).

2. CAMINHO METODOLÓGICO

Para a construção deste trabalho, pesquisou-se artigos disponíveis no portal Scholar

(Google Acadêmico). Todos os artigos pesquisados estão relacionados com a prática

pedagógica do professor no ensino da Geografia.

Além disso, realizou-se uma pesquisa escrita através da ferramenta Formulários (Google

Drive), onde os professores que responderam a entrevista são todos da área de Geografia e

atuantes no ensino. A partir dos dados obtidos com a aplicação do formulário eletrônico

(conforme apêndice A) a dez professores que atuam em séries iniciais, Ensino Fundamental,

Médio e Superior, foram estudados para obtenção dos resultados que abrangem este trabalho.

As respostas obtidas através do questionário foram salvas em planilhas do Excel para

construção de gráficos a partir dos resultados. As pesquisas aconteceram nos meses de

outubro e novembro de 2015. Foram esclarecidos os objetivos e propósitos da pesquisa, como

também a importância da contribuição de cada um e a voluntariedade em responder.

Utilizou-se um formulário composto por nove questões, sendo três descritivas e seis

objetivas sobre a formação dos respectivos professores, tempo de experiência na educação

básica, participação em formações, dificuldades de planejamento das aulas, recursos didáticos

utilizados, sua finalidade e importância para a prática pedagógica do professor de Geografia.

A partir da análise das respostas presentes nos formulários aplicados aos professores de

Geografia, identificou-se alguns resultados interessantes.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

É a sala de aula, o espaço que os indivíduos constroem múltiplos conhecimentos, saberes

que darão a eles a oportunidade de compreender e de analisar criticamente o contexto social,

de tornarem-se cidadãos conscientes e participantes na construção de uma sociedade melhor.

E, principalmente, de não apenas compreender o seu espaço vivido ou seus arredores, mas de

reconhecer-se diante de tamanha grandeza e com um olhar crítico perante os fatos.

A Geografia como uma das ciências, que busca essa compreensão, precisa levar seu

ensino ao encontro dos alunos, para que estes possam compreender o seu papel realidade em

que vivem. E, diante disso, é justamente o educador que, no “espaço” sala de aula, torna-se o

mediador do ensino de Geografia.

Assim, buscamos trazer aqui um estudo sobre essa relação existente entre professor e

aluno, já que este não pode ser visto como somente um receptor de conhecimentos, mas sim,

participante de sua aprendizagem. Para isso, nada melhor do que analisar a opinião dos

professores sobre sua prática pedagógica em sala de aula, como também, metodologias e

recursos didáticos diferenciados utilizados.

Primeiramente, pesquisamos o nível de formação dos professores, pois sabemos da

importância e influência deste elemento, quando consideramos a tarefa do educador no

ensino. Os resultados podem ser analisados no gráfico a seguir:

GRÁFICO 1 – FORMAÇÃO DOS PROFESSORES

FONTE: QUESTIONÁRIO APLICADO

ELABORAÇÃO: CRISLAINE BASSO

No gráfico, a parte verde demonstra que 50% dos professores possuem apenas graduação,

ou seja, metade dos entrevistados. A cor vermelha representa a porcentagem de professores

que possuem como última titulação a especialização com 40% ou quatro professores. Já

doutorado apenas um, representando 10%.

Um destaque que podemos salientar a partir deste gráfico, é a realidade que existe em

muitas escolas, onde a maior parte dos educadores atuantes na rede básica de ensino possui

apenas graduação e, quando muito, especialização. Dos participantes desta entrevista, nove

atuam no ensino fundamental e médio e um no ensino superior. Quando questionados se já

participaram de alguma formação continuada, 80% responderam que sim e 20% que nunca

participaram de formações em sua área de atuação.

Outro item que recebe grande destaque neste estudo são os relatos sobre as dificuldades

que os professores de Geografia encontram ao planejar suas aulas. A tabela a seguir deixa

claro que o maior problema é a falta de materiais didáticos e de recursos como computadores,

internet, data show, projetor e diversos outros nas escolas, o que dificulta e muito o trabalho

do professor. Sabemos todos nós sobre os poucos recursos que estão disponíveis para o

trabalho didático em sala de aula e, é nesse momento que o docente precisa fazer alguns

ajustes para que seu aluno não fique prejudicado.

Para tanto, uma alternativa proposta para este momento é desenvolver práticas que

estejam ao alcance dos alunos e também do docente. Quem relata um pouco sobre essa

DOUTORADO10%

ESPECIALIZAÇÃO40%

GRADUAÇÃO50%

FORMAÇÃO DOS PROFESSORES

readaptação de práticas é Kaercher (2011), segundo este autor, algumas vezes é necessário

substituir alguns materiais mais caros por outros mais acessíveis.

Buscar a geografia do custo zero (gcz) e pensar sobre o que se vê (qsv) não implica

em se conformar com a pobreza de nossas escolas. Significa que podemos incluir

nossos alunos no próprio planejamento de nossas aulas e conteúdos porque a geografia

deve falar dos espaços e pessoas que vivemos e com quem convivemos. (p.12)

Ou seja, como docentes não podemos desistir de renovar em nossas aulas. A dificuldade

de não existir materiais na escola, não pode ser motivo para cairmos em um tradicionalismo e

nos acomodar. Vários materiais utilizados na confecção de um recurso prático como a

maquete, por exemplo, pode ser realizado com recursos (materiais recicláveis) trazidos pelos

próprios alunos.

A segunda dificuldade mais encontrada é a falta de tempo em aula, os períodos são curtos

e muitas vezes não há como realizar atividades diferenciadas. Os horários das disciplinas nas

escolas, muitas vezes, acabam deixando os períodos correspondentes às aulas de Geografia

separados e, consequentemente, o tempo em que o professor almeja planejar suas atividades

fica prejudicado. O tempo que o professor leva para realizar a chamada, organizar a turma,

tranquiliza-la e retomar o conteúdo acaba sendo perdido. Essa dificuldade que os docentes

enfrentam, será mais bem detalhada na seção 3.2. A tabela a seguir deixa claro quais são as

maiores dificuldades enfrentadas no âmbito de ensino.

TABELA 1 – DIFICULDADES ENFRENTADAS PELOS DOCENTES

FONTE: QUESTIONÁRIO APLICADO

ELABORAÇÃO: CRISLAINE BASSO

DIFICULDADES PROFESSORES

TEMPO DE AULA 2

TEMPO DE PLANEJAMENTO 1

DISPERÇÃO DOS ALUNOS 1

FALTA DE EXPERIÊNCIA 1

DIFICULDADES COM O USO DE TECNOLOGIAS 1

QUE OS ALUNOS GOSTEM 1

FALTA DE MATERIAIS DIDÁTICOS E RECURSOS COMO COMPUTADORES, INTERNET, PROJETORES... 6

FALTA DE FORMAÇÕES 1

Outros problemas relatados que vem em sequência são: se os alunos irão gostar da

atividade, falta de experiência em sala de aula por parte do professor, dúvida se os recursos

são adequados ao conteúdo, dificuldade com o uso de tecnologias, problemas com o uso de

celular pelos alunos, falta de formações aos docentes e de tempo para planejamento das aulas.

Dos docentes que responderem o formulário, cinco deles já possui mais de dez anos de

experiência em sala de aula na educação básica, quatro ainda são novos na carreira, não

completaram cinco anos de atuação e um professor de Geografia encontra-se entre cinco a dez

anos de experiência.

GRÁFICO 2 – TEMPO DE EXPERIÊNCIA EM SALA DE AULA

FONTE: QUESTIONÁRIO APLICADO

ELABORAÇÃO: CRISLAINE BASSO

Baseando-se pelos resultados descritos até então, podemos perceber o quão grande

ainda são os problemas enfrentados não só no ensino da Geografia, mas pela escola e pelos

alunos. Existem muitas falhas que precisam ser melhoradas, ou seja, não basta apenas

discutirmos metodologias de ensino, sabendo, que existem muitas outras coisas a serem

melhoradas, por exemplo, a estrutura das instituições de ensino, qualificação dos professores,

como também, um melhor reconhecimento de seu trabalho.

Tentamos discutir a prática pedagógica do professor, porém sabemos que a realidade

de certas escolas a fazem reduzir e a torna precária perante a educação. E como então

“resolver” ou amenizar estes problemas sem perder o foco principal, a aprendizagem do

aluno? É o que tentaremos abordar na seção 3.2.

3.1 Opiniões dos professores sobre os recursos didáticos

Como sair da ideia de memorização e transmissão de conteúdos? Para tanto, é preciso

tornar a Geografia atraente aos alunos, é mostrar o lado envolvente e compreender o papel do

conhecimento geográfico na vida das pessoas, pois essa aprendizagem vem a facilitar e

contribuir diversas situações cotidianas é o que ressalta Silva et al (2013), esses autores citam

ainda, alguns exemplos de momentos que sem percebermos, a ciência geográfica participa:

Ao adquirir uma casa, por exemplo, conhecimentos geográficos ajudam na escolha da

posição solar (maior insolação e claridade podem significar economia de energia, ou,

ainda, moradia sem umidade, sem mofo e saudável), na localização (proximidade de

escolas, mercados, padarias, lojas, ônibus, posto de saúde, etc. valorizam o imóvel), na

situação do terreno (inclinação e tipo de solo indicam possibilidades de inundação, de

erosão, etc.). Isso define a perspectiva local, mas também colabora na compreensão

das razões do preço do imóvel (preço do CUB) e suas possibilidades de valorização,

tendo em vista aspectos da natureza nacional e internacional. (p.14).

No ensino da Geografia existem diversos meios e formas de promover a aprendizagem

de forma satisfatória e cativante aos alunos, promovendo algumas práticas como, pesquisas de

campo, mapas mentais, cartas, maquetes de diferentes temas, experiências, brincadeiras

adaptadas ao conteúdo, teatro, a música, criação de vídeos, entre outras. Enfim, o professor

precisa ser o criador de suas aulas.

Para Brasil (1998): “A Geografia, na proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais,

tem um tratamento específico como área, uma vez que oferece instrumentos essenciais para a

compreensão e intervenção na realidade social” (p.15). Através da Geografia se pode

compreender a interação que existe entre o natural e o social. E é a Geografia, que segundo

Brasil (1998) tem o papel de tornar o mundo compreensível aos alunos, além de estudar a

atualidade e o passado através do território, lugar e paisagem, pois o espaço é historicamente

construído pelo homem.

E sendo as práticas pedagógicas formas para colaborar com a compreensão desse mundo

de interações e como ferramentas que aproximam o educando com o conteúdo em análise, não

podíamos deixar de contemplar em nosso questionário, algumas perguntas referentes aos

recursos didáticos.

A primeira pergunta foi sobre a utilização de recursos didáticos nas aulas de geografia,

onde a tabela a seguir demonstra em sequência, quais são os mais utilizados pelos professores

na elaboração de suas aulas:

TABELA 2 – RECURSOS UTILIZADOS

Globo 1

Registros 1

Computador 2

Passeios 2

Data show ou projetor 3

Internet 3

Charges , fotografia, cartazes e figuras

4

Revistas e jornais 5

Maquetes 5

Quadro 6

Livro didático 7 FONTE: QUESTIONÁRIO APLICADO

ELABORAÇÃO: CRISLAINE BASSO

Analisando este quadro, podemos perceber que o globo, por exemplo, ainda é um

recurso que apesar de não ser novo, pouco está presente nas aulas de Geografia. Outro ponto a

ser destacado é que ainda existem práticas que não foram desenvolvidas, como o mapa

mental, representação do real: do desenho ao mapa, cartas, saídas à campo e registro,

portfólio, entre outras. Enfim, falta desprender-se um pouco do tradicional e criar novos

recursos e possibilidades, sem ter medo de inovar e a Geografia possibilita a criação de novas

metodologias.

A próxima questão, também bem importante, sobre a finalidade de utilizar recursos

didáticos durante a aula, os professores responderam em sua maioria, como meio de prender a

atenção do aluno, fonte de informação e maior interação.

Uma resposta que chamou atenção foi a de que os recursos didáticos tem como

finalidade facilitar a vida do professor, devemos repensar sobre isso. Convenhamos que se

formos capazes de tornar nossa atividade docente menos trabalhosa, ótimo, porém depende

das circunstâncias, pois alguns veem essas práticas como o famoso “matar o tempo” e essa

não é a finalidade dos recursos didáticos, mas sim visar uma melhor aprendizagem do aluno

em contato mais próximo com o objeto de estudo. O quadro a seguir demonstra os resultados:

GRÁFICO 3 – FINALIDADE DOS RECURSOS DIDÁTICOS

FONTE: QUESTIONÁRIO APLICADO

ELABORAÇÃO: CRISLAINE BASSO

Sobre a importância de utilizar recursos didáticos diferenciados nas aulas de

Geografia, os resultados foram mais positivos, praticamente todos os professores avaliaram a

utilização de recursos diferenciados como fundamentais. O resultado pode ser observado na

tabela a seguir:

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

1900ral

FONTE DEINFORMAÇÃO

PRENDERATENÇÃO DO

ALUNO

FACILITAR AVIDA DO

PROFESSOR

MAIORINTERAÇÃO

SIM

NÃO

TABELA 3 – IMPORTÂNCIA DOS RECURSOS DIDÁTICOS

NÍVEL DE IMPORTÂNCIA PROFESSORES

0% Nenhum

25% Nenhum

50% 1

75% 6

100% 3

FONTE: QUESTIONÁRIO APLICADO

ELABORAÇÃO: CRISLAINE BASSO

De acordo com o questionário aplicado e também da pesquisa bibliográfica realizada, é

possível destacar o quanto é fundamental superarmos o tradicionalismo de nossas aulas e

buscar novos métodos de trazer o conhecimento para o mais próximo possível do aluno. É o

que tentaremos abordar na seção seguinte.

3.2 Prática pedagógica com recursos didáticos

Como agentes transformadores da realidade social, os professores tem o importante papel

de trazer ao seu aluno o contexto da sociedade atual, torná-los críticos perante os

acontecimentos e conhecedores de seu papel como seres humanos formadores de um mundo

mais justo e igualitário.

De acordo com Batista e Estevez (2014), devido às transformações que a educação vem

perpassando, o ensino de Geografia tem sofrido com essas mudanças e mais do que nunca tem

se valorizado o uso de novas metodologias como forma de repensar a qualidade do ensino

oferecido e o enriquecimento da aprendizagem. Segundo as autoras Batista e Estevez (2014,

p.17 apud Santos, 2010, p. 21):

O uso de diferentes linguagens nas aulas de geografia mobiliza a construção do

conhecimento teórico, mas, sobretudo o despertar do interesse dos alunos em cada

uma das nossas aulas. É fundamental trazer o mundo para a sala de aula e por isso não

podemos nos restringir à aula expositiva, leitura de livro didático, memorização de

conceitos nem tampouco lançar atividades diversificadas sem planejamento prévio,

como se os alunos dessem conta de sistematizar e aprender sozinhos os conteúdos.

Nesta citação as autoras Silva e Freire destacam um ponto que merece bastante

atenção, o planejamento. Uma aula planejada faz toda a diferença, pois se o docente já tem

conhecimento sobre as especificidades da turma, a sua aula será adaptada a ela, se a turma

rende bastante ou não, o tempo de duração da aula, se há dificuldades de aprendizagem ou

então se há na turma algum aluno com necessidades especiais. Enfim, há toda uma

organização por trás de uma aula para que ela realmente produza efeitos.

Seguindo este argumento da importância do planejamento, é preciso destacar que o

professor também precisa apresentar claramente quais são os objetivos com sua aula, as suas

metas a serem atingidas. Caso contrário, pode ocorrer o que o autor Kaercher (2007) levanta:

muitos professores agem em suas aulas impedindo bagunça, evitando as conversas e assim

acabam abafando a criticidade e a consequente aprendizagem dos alunos. Kaercher (2007)

defende que a geografia deve estar relacionada com a vida do aluno e o professor deve

contribuir para esse entendimento, ele deve trazer fatos cotidianos para haver um melhor

entendimento, fato que não acontece se não houver uma boa organização.

Outro ponto a ser destacado, bem comum, que acontece nas aulas, é o professor chegar

à sala apresentando atividades para os alunos resolverem, sem dialogar com eles sobre o

conteúdo, deixando-os com dúvidas e sem entender o que aquele assunto tem de importância

para sua vida. Nesse ponto, Kaercher (2007), acrescenta:

Parece que temos uma Geografia Fast Food. É rápida! Em minutos, fala de muitas

coisas, mas pouco se aprofunda. Chama a atenção! Seus temas são atuais e estão na

mídia! No entanto, em longo prazo, fica pouco para o aluno. Há pouca articulação dos

conhecimentos trabalhados. Ficamos ‘cheios’, mas pouco alimentados. Voltamos a

ideia do pastel de vento: o conteúdo parece frágil (42).

O que Kaercher (2007) aponta faltar no professor é o papel de mediar, de ser

participante sempre ativo, de ser suporte, problematizador e principalmente relacionar as

informações e que suas aulas venham sempre de encontro, umas com as outras, pois é preciso

haver conexão (informações esparsas dificultam a aprendizagem).

É preciso estimular a reflexão, a participação dos alunos, envolvê-los no processo de

aprendizagem e não desmerecer o seu saber. De acordo com Calado (2012).

Assim como em todas as disciplinas na escola pública, também na Geografia,

percebe-se uma tendência à continuidade da utilização de métodos

tradicionalistas no processo ensino-aprendizagem. Apesar de as escolas

gradualmente serem abertas para as novas tecnologias (atualmente quase

todas as escolas já têm laboratórios de informática, TV, DVD players,

parabólicas, etc.) o que se observa é que o uso adequado das novas

tecnologias não ocorre, o que prova que simplesmente disponibilizar essas

tecnologias na escola não é suficiente. (p.13).

Porém, não podemos jogar todos os problemas do ensino da Geografia como culpa do

professor, pois ele muitas vezes cumpre seu papel. O que ocorre é que o ensino de Geografia,

assim como de outras disciplinas possuem relações muito mais complexas e que precisam ser

levadas em conta. Como ressalta Calado (2012).

Promover mudanças no ensino da geografia não compete somente aos

professores, mas também ao governo (através de políticas educacionais

eficientes), e à família (com apoio e acompanhamento da vida escolar do

aluno). A parceria escola/família é muito importante na aprendizagem dos

alunos, pois, é no seu cotidiano (na sua casa, no seu quintal, no seu bairro,

etc.) que eles começam a formar seus próprios conceitos sobre o meio que os

cerca (o seu meio ambiente), como por exemplo, lugar, paisagem, região e

território. Ao analisar o espaço que os alunos estão inseridos, pode-se sugerir

a elaboração de mapas do percurso que os alunos fazem diariamente da

escola para sua casa, do seu bairro, da sua cidade, etc.

Assim, os problemas enfrentados hoje nas escolas ainda são muitos e eles não são

somente resultados momentâneos, mas principalmente, consequências de faltas passadas em

relação à educação. Nesse sentido não é só a Geografia que enfrenta problemas, mas o ensino,

a aprendizagem e consequentemente o aluno. Podemos perceber que esses problemas estão

presentes nos próprios Parâmetros Curriculares Nacionais. Como Kaercher (1998) destaca:

Os PCN's, portanto, são, a meu ver, mais um belo texto que ficara inócuo nas

prateleiras no que diz respeito as suas boas intenções. Agora, quanto as

intenções mais escondidas, quais sejam, padronizar e controlar a pequena

autonomia dos professores, estas serão atingidas pois o professorado não está

apropriado desta questão e terá, como alternativa, a simples reprodução de

um documento que ele não entendeu (ou sequer leu) (p.77).

Então, o ensino da Geografia, não acontece da forma como é colocada pelos PCN’s,

mesmo apresentando boa fundamentação, na prática, aparecem diversas dificuldades. Para

Kaercher (2007), a geografia já é fraca epistemologicamente e os professores resultado dessa

fraqueza, consequentemente tudo isso reverte para a aprendizagem dos alunos.

Diante dessa análise, cabe aos professores repensarem o ensino da Geografia, levando

em conta as múltiplas relações existentes no âmbito da educação e para o ensino da

Geografia. Planejar sua aula da melhor forma possível, onde os alunos sejam participantes da

construção da aprendizagem e esta seja articulada à realidade de vivência do aluno. Uma

aprendizagem não acabada, que seja construída pelo educando.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se com este trabalho que o ensino de Geografia continua passando por

turbulências e são problemas que vem sendo carregados pelos professores já por tempos

passados. É inevitável falar somente da prática pedagógica do docente, sem constar as

dificuldades presentes nas escolas e no sistema de ensino como um todo. Os próprios

Parâmetros Curriculares Nacionais, que servem como base, não passam de lindas escritas, de

sonhos para uma educação perfeita e que não condiz com a realidade brasileira. Assim, cabe

ao professor de Geografia promover a aprendizagem do aluno de uma nova forma e que seja

acessível e, principalmente, relacionada à vida do estudante.

Quanto aos principais resultados, destaca-se que os professores sofrem com a

realidade das instituições escolares em que trabalham, falta valorização de seu trabalho,

formações continuadas, materiais nas escolas e estes são os principais motivos que levam os

docentes a desistirem da carreira ou de realizar novos estudos, como também, deixar-se

desanimar e cair no tradicionalismo das aulas de Geografia.

Destaca-se que o estudo deste trabalho, necessita de maiores contribuições que possam

ampliar as análises, no sentido de obtenção de mais dados e ainda mais inserções teóricas.

Ressalta-se que, neste trabalho, o objetivo foi destacar a importância de práticas

pedagógicas para o ensino de Geografia e que estas são metodologias que podem ser

adaptadas pelo professor, inclusive na falta de materiais didáticos e, trazendo também, grande

contribuição para a aprendizagem do aluno.

REFERÊNCIAS

BATISTA, R. da S. ; ESTEVES, l. F. PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO ENSINO DA

GEOGRAFIA. REVE@P: Revista Eletrônica da Escola de Administração Pública do

Amapá, Macapá, v.2 n. 1, p. 15-25, ago.- dez. 2014.

BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia.

Brasília, 1998.

CALADO, F. M. O ensino da geografia e o uso dos recursos didáticos e tecnológicos.

Geosaberes, Fortaleza. v. 3, n.5, p. 12-20, jan. 2012.

KAERCHER, N. A. A GEOGRAFIA ESCOLAR NÃO SERVE PARA QUASE NADA, MAS

... Revista Geográfica de América Central Número Especial EGAL, 2011- Costa Rica II

Semestre 2011 p. 1-13,jul.2011.

KAERCHER, Nestor André. A Geografia Escolar: Gigante de pés de barro comendo pastel

de vento num fast food?. Terra Livre. n. 28. Presidente Prudente, 2007. p. 27-44.

KAERCHER, Nestor André. PCN's de Geografia: futebolistas e padres se encontram num

Brasil que não conhecemos. Boletim Gaúcho de Geografia. n.24. Porto Alegre, 1998. p. 73-

86

SILVA et al. Práticas pedagógicas em Geografia: espaço, tempo e corporeidade. 1 ed.

Erechim: Edelbra, 2013.

Apêndice - Questionário Aplicado através da ferramenta Formulários (Google Drive).

IMAGEM 1 – QUESTIONÁRIO APLICADO

ORGANIZAÇÃO: BASSO, 2015.

IMAGEM 2 – QUESTIONÁRIO APLICADO

ORGANIZAÇÃO: BASSO, 2015.

IMAGEM 3 – QUESTIONÁRIO APLICADO

ORGANIZAÇÃO: BASSO, 2015.