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Universidade Federal do Vale do São Francisco Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional
Sociedade Brasileira de Matemática
Carla Saturnina Ramos de Moura
Análise do processo de conceitualização de probabilidade por estudantes do Ensino Médio a partir
da Teoria dos Campos Conceituais
Juazeiro- BA
2014
Universidade Federal do Vale do São Francisco Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional
Sociedade Brasileira de Matemática
Carla Saturnina Ramos de Moura
Análise do processo de conceitualização de probabilidade por estudantes do Ensino Médio a partir
da Teoria dos Campos Conceituais
Dissertação apresentada à Comissão Local do Programa
de Mestrado Profissional em Matemática em Rede
Nacional - PROFMAT, da Universidade Federal do Vale
do São Francisco - UNIVASF, como requisito parcial para
a obtenção do título de Mestre em Matemática.
Orientador: ProfºMsc. Evanilson Landim Alves
Juazeiro- BA
2014
Moura, Carla S. R.
M929a
Análise do processo de conceitualização de probabilidade por estudantes do Ensino Médio a partir da Teoria dos Campos Conceituais / Carla Saturnina Ramos de Moura. -- Juazeiro, 2014.
iv. 67 f.: il. ; 29 cm Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Vale do São Francisco,
Programa Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional - PROFMAT, Campus Juazeiro - BA, 2014.
Orientador :ProfºMSc. EvanilsonLandinAlves
Inclui referências. 1. Matemática – Estudo e ensino. 2. Probabilidade. I. Título. II. Alves,
EvanilsonLandin. III. Universidade Federal do Vale do São Francisco.
CDD 510
Ao meu querido esposo Fábio de Moura, que sempre
esteve do meu lado, apoiando-menos momentos mais
difíceis.
Aos meus filhos Diogo e Mariana.
Aos meus queridos pais Florêncio e Maria das Mêrces.
AGRADECIMENTOS
À minha família, em especial, ao meu esposo Fábio de Moura, pelo incentivo e
apoio que me deram durante estes anos de estudo.
Ao meu orientador Prof. MSc. Evanilson Landim, pela atenção e orientação.
Aos estudantes e ao professor de matemática da turma em que desenvolvi
minha pesquisa, pela participação e consideração que tiveram neste trabalho.
Aos meus colegas de turma, em especial Alice, Everaldo, Paulo, Manoel,
Edilson, Jurandir e José Dantas, pela amizade conquistamos e peloo tempo de
estudo que passamos juntos, compartilhando conhecimento e experiências.
A Deus, por estar sempre comigo, pois, sem ele, não somos nada.
“O êxito da vida não se mede pelo caminho que
você conquistou, mas sim pelas dificuldades
que superou no caminho.”
Abraham Lincoln
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo verificar como ocorre a construção do
conceito de probabilidade por estudantes do 2º ano do Ensino Médio. Essa
investigação teve como fundamentação a Teoria dos Campos Conceituais,
proposta pelo psicólogo francês GeràrdVergnaud. A pesquisa desenvolveu-se
em dois momentos; o primeiro foi a aplicação de jogos que tratavam de forma
lúdica o conceito de probabilidade, o segundo foi a aplicação de uma
sequência de atividades, envolvendo os mesmos conceitos abordados nos
jogos. No primeiro momento, os estudantes trabalharam em grupo, enquanto
no segundo momento resolveram individualmente as questões propostas. Os
resultados indicam que as propostas desenvolvidas tiveram importante
contribuição na elaboração do conceito de probabilidade pelos estudantes
participantes. Porém, para uma aprendizagem mais significativa, faz-se
necessário que o estudante conheça outras situações relativas aosconceitos
ora investigados. No entanto, mesmo apresentando diversas dificuldades,
principalmente em conceitos como probabilidade condicional e probabilidade
da união e/ou interseção de eventos, os resultados apontam que os
participantes estão no caminho que conduz à compreensão dos conceitos e
fenômenos probabilísticos, o que, de acordo com Vergnaud, é absolutamente
natural, visto que a compreensão de um conceito ou de um campo conceitual
só ocorre quando quem aprende é capaz de resolver diversas situações de
natureza distinta, analisar suas formas de representação e mobilizar invariantes
operatórios, tais como teorema em ação e conceito em ação.
Palavras-chave: Aprendizagem; Probabilidade;Jogos Matemáticos;Teoria dos
Campos Conceituais.
ABSTRACT
The aim of this research is to examine the process of building up the probability
concept with the student’s aid those who are enrolled in Second Grade of High
School. This quest had as theoretical foundation in Conceptual Areas Theory
propounded by the French psychologist GeràrdVergnaud. It was carried out in
two different moments, the first one was based in setting up games that coped
with the playful way to deduce the probability concept; the second moment was
about an enforcement of sequences of tasks involving the same concepts
addressed in those games. At the first step, the students worked in groups,
whilst, in the second step they solved the exercises individually. The outcome
shows that the proposals, which were deliberated, had a paramount contribution
during the formulation the probability concept by the students who took part in it.
Yet, to validate the learning process it was necessary the students got to know
other situations related to the conceptual area by that time was being checked.
Even though showing several hardships, mainly en the concepts such as:
conditional probability as well as in probability of union and/or intersection of
events, the results displayed the students are on the way that guides them to
the comprehension of those concepts and probabilistic phenomena. According
to Vergnaud, it is absolutely natural, in as much as, the understanding of a
concept or a conceptual area only occurs when the student is able to solve
various situations from unlike complexion, plus, analyze its moulds of
presentation and mobilize operative invariants, like: theorem of action and
concept in action.
Key words: Learning; Probability; Mathematic games; Conceptual Areas
Theory
SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 10
CAPÍTULO 1
ENSINO DE MATEMÁTICA NO BRASIL .................................................................... 11
1.4.1- Pré-História................................................................................................... 24
1.4.2- Origens ......................................................................................................... 26
1.4.3- Maturação da Probabilidade Clássica ........................................................... 28
1.4.4- Escola de São Petersburgo .......................................................................... 29
1.4.5- Período Moderno .......................................................................................... 29
1.5 O Ensino de Probabilidade ................................................................................... 30
CAPÍTULO 2
TEORIA DOS CAMPOS CONCEITUAIS .................................................................... 33
CAPÍTULO 3
OBJETIVOS E MÉTODO ............................................................................................ 38
3.1- Objetivo Geral ...................................................................................................... 38
3.1.1- Objetivos Específicos........................................................................................ 39
3.2- Coleta de Dados ................................................................................................. 39
3.3-Etapas da Pesquisa ............................................................................................. 39
3.3.1- Descrição dos Jogos......................................................................................... 40
3.3.1.1- JOGO 1- Sorteio na Caixa ............................................................................. 41
3.3.1.2- JOGO 2- Probabilidade Roxa ........................................................................ 43
3.3.1.3 -JOGO 3- Árvore de Probabilidades ................................................................ 44
CAPÍTULO 4
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ..................................................................... 53
4.1.1 Análise dos Jogos .............................................................................................. 53
4.1.2 Análise do Questionário ..................................................................................... 54
4.2 Discussão e Análise dos Resultados .................................................................... 59
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 61
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 63
10
INTRODUÇÃO
Tradicionalmente, a Matemática é tida como uma ciência rigorosa, formal e
abstrata. Tais concepções levam a uma prática pedagógica impessoal e, por vezes,
dissociada da realidade, o que torna o ensino e a aprendizagem processos cercados
de dificuldades. A Matemática faz parte da vida e pode ser aprendida de uma
maneira dinâmica, desafiante e divertida. Desse modo, assume ainda mais um papel
científico, deixando de ser uma simples ferramenta necessária, sendo necessária e
importante para as demais ciências.
Dentro desse contexto, está inserida a Probabilidade, que, mesmo estando
inserida nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), seu ensino nas escolas
ainda se dá de forma superficial, dificultando, assim, a construção desse conceitono
estudante. Diante desse fato, sentimos a necessidade de investigar como ocorre a
compreensão dos conceitos probabilísticos por estudantes do 2º ano do Ensino
Médio,identificando em quais das situações eles apresentaram maior dificuldade
para responder ao questionamento proposto, o que pode contribuir para os
professores nortearem seu trabalho em sala de aula.
No primeiro capítulo,apresentamos um breve histórico do ensino de
Matemática no Brasil; em seguida, tratou-se o ensino de Matemática segundo a
literatura e os Parâmetros Curriculares Nacionais. Tanto a literatura quanto os PCN
apontam para a importância da utilização dos jogos no processo de aprendizagem.
Ainda, apresenta-se um breve relato do contexto histórico da Probabilidade.
No segundo capítulo, foi apresentada a Teoria dos Campos Conceituais,
proposta pelo psicólogo francês GerárdVergnaud.
O terceiro traz à tona os objetivos gerais e específicos do trabalho e, ainda,
apresenta a forma na qual foram realizadas a coleta e análise dos dados.
O quarto capítulo apresenta os resultados obtidos e a discussão dos mesmos,
tendo como base a Teoria dos Campos Conceituais.
Finalmente, sintetizamos os principais resultados e indicações deste estudo
nas considerações finais.
11
CAPÍTULO 1
ENSINO DE MATEMÁTICA NO BRASIL
O ensino brasileiro foi, durante mais de duzentos anos, dominado quase
exclusivamente pelos padres da Companhia de Jesus. Durante esse período, as
escolas secundárias seguiram a tradição clássica humanista. Muitos jesuítas não
viam com bons olhos a matemática. Os estudos das relações misteriosas entre
números inquietavam os religiosos.
Em algumas escolas jesuítas, entretanto, devido ao empenho de seus
mestres, os estudos matemáticos foram mais incentivados. Com a expulsão dos
jesuítas do Brasil, em 1759, o sistema educacional brasileiro, praticamente,
desmoronou, restando apenas alguns poucos centros educacionais.
A partir de 1772, foram criadas pela reforma pombalina1 as chamadas aulas
régias, aulas de disciplinas isoladas. Essa medida representou um retrocesso em
termos institucionais uma vez que tais aulas eram avulsas.
A permanência praticamente inalterada do sistema das Aulas Régias no Brasil da virada do século XVIII para o seguinte, estendendo-se ainda durante o primeiro reinado, deveu-se à continuidade dos modelos de pensamento em nossa elite cultural. Existiu um grande descompasso entre o pretendido pelo governo monárquico – tanto o português quanto o brasileiro, após a independência – e aquilo que as condições sociais e econômicas viriam permitir, dentro de um modelo produtivo excludente, escravista e pautado numa mentalidade que contribuía para se perpetrar tal situação (CARDOSO, 2004, p. 190).
Ainda na primeira metade do século XIX, as aulas avulsas das disciplinas
matemáticas existiam em número bastante reduzido e que, além disso, eram pouco
frequentadas. Apesar desse desinteresse demonstrado pelas aulas régias, as novas
tendências chegaram a produzir alguns efeitos, como a criação do Seminário de
Olinda pelo bispo Azeredo Coutinho, em 1798. Durante todo o período colonial e
imperial, além das aulas avulsas, existiam os seminários e colégios chamados na
época de Liceus.
Haidar (1972) relata a situação em que se encontravam os cursos
preparatórios na década de 30 do século XIX. De acordo com a autora, os cursos
12
anexos estavam desorganizados e se resumiam a uma grande quantidade de aulas
avulsas.
A criação do Colégio Pedro II, em 1837, representou um primeiro passo na
direção de mudanças no ensino secundário brasileiro. Segundo Haidar
Os estudos simultâneos e seriados, organizados em um curso regular de 6 a 8 anos. Ensinar-se-iam no novo colégio as línguas: latina, grega, francesa e inglesa, a gramática nacional. A geografia e historia, as ciências naturais, as matemáticas, a música vocal e o desenho. O Colégio Pedro II, primeiramente tinha um regime de internato e a partir de 1856, o duplo regime de internato e externato. Aos bacharéis em Letras pelo Colégio Pedro II, foi concedido o direito à matricula em qualquer das Faculdades do Império (HAIDAR,1972, p. 22)
Em todas as várias reformas pelas quais passariam os planos de estudo do
Colégio Pedro II, durante o período imperial, ora predominando o ensino clássico,
ora o científico, a matemática esteve sempre presente, variando apenas a
quantidade de horas destinadas a seu ensino.
Com a República e o primeiro ministro do recém-criado Ministério da
Instrução, Correios e Telégrafos - Benjamin Constant - todo o sistema educacional
brasileiro passou por uma profunda reforma oficializada pelo decreto nº. 891, de 8 de
novembro de 1890, que ficou conhecida por Reforma de Benjamin Constant. Essa
reforma foi elaborada segundo a filosofia de Augusto Comte.
Pode-se dizer que a ideia-chave do Positivismo de Comte era a Lei dos Três
Estados, que afirmava que o homem passou e passa por três estágios em suas
concepções, sendo elas de acordo com Superti (1998)
Teológico: “No qual as explicações sobre o mundo eram fundadas na
vontade de uma pluralidade de divindades, num primeiro momento, e depois,
com seu amadurecimento, na de um só Deus. Pois, não tendo como basear
suas explicações na razão, o espírito teológico alicerçavam-nas na fé
irracional. “ (SUPERTI, 1998, p 4).
Metafísico :Nesse estado Superti (1998) destaca:
Nele, os dogmas da fé eram questionados e, sendo estes o fundamento da ordem teológica, toda ela é posta em questão, dissolvendo-se a organicidade de seu saber. No entanto, por ser
13
necessariamente constituído pela negação da Ordem, o espírito metafísico não consegue uma outra sistematização, servindo apenas de transição para o estado positivo.( SUPERTI, 1998, p. 4)
Positivo: Superti (1998) destaca :
Neste estado, o poder temporal, equivalente material da ordem espiritual positivista, seria exercido pelos industriais. Porque, para Comte, era natural que os ricos detivessem a autoridade econômica e social indispensável para o conjunto da coletividade, uma vez que constituíam o topo na hierarquia das capacidades. .(SUPERTI, 1998, p. 6)
A Reforma de Benjamin Constant tinha como princípios orientadores a
liberdade e laicidade do ensino, como também a gratuidade da escola primária.
Esses princípios seguiam a orientação do que estava estipulado na Constituição
brasileira de 1824. Uma das intenções dessa Reforma era transformar o ensino em
formador de estudantes para os cursos superiores e não apenas preparador. Cunha
(1986) destaca que
Além do alargamento dos canais de acesso ao ensino superior, Benjamin Constant criou condições legais para que escolas superiores mantidas por particulares viessem a conceder diplomas dotados do mesmo valor dos expedidos pelas faculdades federais. (CUNHA, 1986, p. 172-173).
Outra intenção era substituir a predominância literária pela científica.
TalReforma foi bastante criticada pelos positivistas, já que não respeitava os
princípios pedagógicos de Comte; pelos que defendiam a predominância literária, já
que o que ocorreu foi o acréscimo de matérias científicas às tradicionais, tornando o
ensino enciclopédico.
Nenhuma das várias reformas que ocorreram após a de Benjamin Constant,
até 1930, chegou a produzir mudanças significativas no ensino secundário brasileiro.
Ao lado do ensino secundário e das faculdades, começaram a surgir as escolas
técnicas, especialmente para atender às necessidades da agricultura e da indústria.
Foi neste espírito de mudanças que surgiu uma proposta educacional, que
ficou conhecida como Movimento da Escola Nova, que destacava que o uso da
racionalidade era fundamental porque era necessário enfatizar o trabalho científico;
buscar métodos que dessem conta de explicar a realidade educacional;
compreender o desenvolvimento do psiquismo dos educando e criar um ambiente
14
propicio à educação. A liberdade pautava-se na espontaneidade, na capacidade de
criação e na observação das diferentes aptidões apresentadas pelas crianças e
adolescentes, ou seja, priorizavam-se métodos ativos. De acordo com Manacorda,
Nas escolas ‘novas’ a espontaneidade, o jogo e o trabalho são elementos educativos sempre presentes: é por isso que depois foram chamadas ‘ativas’. São frequentemente escolas nos campos, no meio dos bosques, equipadas com instrumentos de laboratório, baseadas no autogoverno e na cooperação, onde se procura ao máximo respeitar e estimular a personalidade da criança (MANACORDA,1997, p. 305).
Na proposta pedagógica da Escola Nova, aparece a necessidade de mudar
os parâmetros da educação, colocando-a em consonância com os novos caminhos
do mundo contemporâneo. As mudanças apontadas pela Escola Nova demonstram
que, a partir do século XIX, diferentes tendências pedagógicas apontam para o
esgotamento da Pedagogia Tradicional e a necessidade de mudança significativa na
forma de educar.
Em 1928, a Congregação do Colégio Pedro II apresentou uma proposta de
alteração da seriação do curso secundário, liderado pelo professor Euclides Roxo.
Nessa proposta, ele se contrapõe à orientação geral do ensino de Matemática
época, caracterizado por uma apresentação repetitiva, abstrata e lógica. Considera
os interesses do estudante e seu estágio de desenvolvimento cognitivo e enfatiza a
intuição, além decontextualizar a Matemática, deixando o tratamento rigoroso do
assunto para níveis mais avançados da aprendizagem.
Podemos perceber a identidade de Roxo neste trecho de seu livro A
matemática na educação secundária:
Graças ao crescimento monstruoso da indústria e do comércio, tornou-se necessário orientar o ensino no sentido de não limitá-lo aos conhecimentos teóricos, mas atribuir, ao contrario, uma grande importância ao que seja imediatamente utilizável na pratica (ROXO, 1937, p. 56).
Francisco Campos, o primeiro-ministro do recém-criado Ministério da
Educação e Saúde Pública, acatou, em sua reforma para o ensino secundário, todas
as ideias modernizadoras presentes na proposta da Congregação do Colégio Pedro
II, na parte relativa ao ensino da Matemática.
15
No Brasil, as questões relativas ao ensino de Matemática começaram a ser
discutidas com maior intensidade pelos professores durante a década de 50, devido
principalmente à realização dos primeiros Congressos Nacionais de Ensino da
Matemática. O primeiro desses congressos realizou-se em 1955, na cidade de
Salvador, por iniciativa da faculdade de Filosofia da universidade da Bahia.
De acordo com Soares, Dassie e Rocha:
o objetivo do Congresso era tratar de assuntos mais diretamente ligados ao ensino de Matemática como os programas, o livro de classe e as tendências modernas do ensino, além dos problemas ligados ao aperfeiçoamento dos professores de Matemática.( SOARES, DASSIE, ROCHA, 2008, p. 736).
No segundo e terceiro congressos, realizados em 1957 e 1959,
respectivamente em Porto Alegre e Rio de Janeiro, percebeu-se claramente uma
ampliação do número de professores.Apesar de as novas ideias terem sido
apresentadas e discutidas nesses dois congressos, não seriam eles que
desencadeariam o Movimento da Matemática Moderna no Brasil. Isso seria
conseguido por meio das atividades desenvolvidas pelo Grupo de Estudos do
Ensino da Matemática – GEEM - fundado em 1961 por professores do estado de
São Paulo.
De acordo com Benites (2011):
Os defensores da Matemática Moderna enfatizavam que não se tratava de ignorar ou destacar a Matemática tradicionalmente ensinada, mas sim, fazer com que a Matemática nova continuasse a antiga e a tornasse mais manuseável, fornecendo-lhe instrumentos novos e conferindo unidade a uma ciência que se dispersava.(BENITES, 2011, p. 31)
O objetivo era pôr em dia o ensino tradicional das escolas e acrescentar aos
programas certos temas como o estudo de conjuntos; conceitos de grupo, anel e
corpo; espaços vetoriais; matrizes; álgebra de Boole; noções de cálculo diferencial e
integral e estatística.
Segundo Soares, Dassie e Rocha (2004), ao aproximar a Matemática escolar
da Matemática pura, centrando o ensino nas estruturas e usando a linguagem dos
conjuntos como elemento de unificação, a reforma deixou de considerar que aquilo
16
que se propunha estava fora do alcance dos estudantes e dos professores. Estes,
obrigados a ensinar uma Matemática por cujos métodos não foram preparados,
ministravam um ensino deficiente e só agravavam os problemas. D’Ambrósio
destaca sua opinião em relação à Matemática Moderna
Se a Matemática Moderna não produziu os resultados pretendidos, o movimento serviu para desmistificar muito do que se fazia no ensino da Matemática e mudar- sem duvida para melhor- o estilo das aulas e das provas e para introduzir muitas coisas novas, sobretudo na linguagem moderna de conjuntos. Claro que houve exageros e incompetência, como em todas as inovações. Mas o salto foi altamente positivo. Isso se passou com essas mesmas características em todo mundo [...] (D’AMBRÓSIO, 1996, p. 57-58).
Segundo Búrigo:
a compreensão do alcance de um movimento envolve a investigação do contexto de sua emergência, dos interesses e motivações de seus protagonistas, das forças que o apoiaram ou a ele se opuseram, da sua capacidade de conquistar adesões e das condições. ( BURIGO, 2006, p. 36)
Esse movimento entrou em declínio e se extinguiu a partir do momento em
que se evidenciaram inadequações no modelo e distorções ocorridas em sua
implementação, principalmente no Brasil.
As ideias do movimento da Matemática Moderna, até hoje, podem ser
percebidas não apenas nas discussões teóricas, como também na prática da
Educação Matemática. Grandes mudanças começaram a surgir na década de 80 do
século XX, pois aspectos como a resolução de problemas, ligação da Matemática à
vida real, relevância de aspectos sociais, antropológicos, linguísticos, imprimiram
novos rumos ao currículo.
Ao fazer uma reflexão sobre o ensino de Matemática no século XXI,
destacamos a opinião de Onuchic e Allevato
Reflexões e pesquisas sistemáticas, nos mais diversos níveis de ensino, perspectivas e linhas de pesquisa têm contribuído, sensivelmente, para o aprimoramento e melhor compreensão dos variados aspectos envolvidos nas atividades de ensino, aprendizagem e avaliação em salas de aula de Matemática.(ONUCHICe ALLEVATO, 2011, p. 87).
17
Os autores apoiam-se na indiscutível dificuldade enfrentada no ensino de
Matemática, levando professores e pesquisadores a buscarem fundamentação e
perspectivas para investigarem as diversificadas questões que surgem neste
cenário. Essa complexidade decorre da presença e da inter-relação de inúmeros
fatores trazidos ao contexto escolar por, pelo menos, cinco elementos: o professor,
os estudantes, a disciplina (no caso, a Matemática), a escola e a sociedade.
Sadovsky destaca que:
no modelo pedagógico atual, os professores mostram a utilidade das fórmulas e das regras matemáticas, por meio de um treinamento de aplicações: definição, exercício-modelo, exercício de aplicação. Neste contexto perguntas clássicas como: “Para que serve isso, professor? De onde veio? Por que é assim?”, revelam a inadequação do método de ensino, não permitindo, portanto, a oportunidade de desenvolver um trabalho intelectual mais profundo em sala de aula.(SADOVSKY, 2007, p. 7)
Nesse sentido, a autora propõe que o professor desafie seu estudante,
proponha situações que ele considere complexas, mas não impossíveis, no sentido
de gerar nele certa tensão que o anime a ousar, que o convide a pensar, a explorar,
a usar conhecimentos adquiridos e a testar sua capacidade para a tarefa que tem
em mãos.
Segundo Lopes e Rezende (2010), o ensino tradicional da Matemática que se
baseia na apresentação oral do conteúdo pelo docente abordando definições e,
posteriormente, demonstrações de propriedades, exercícios de fixação e de
aplicação, tem se mostrado ineficaz. O autor apresenta a Resolução de Problemas
como uma proposta para tornar o ensino de Matemática mais significativo para o
estudante.
Para Moura (1992), a união entre jogo e a resolução de problemas está
intimamente vinculada à intencionalidade do professor.
É possível combinar jogo e resolução de problemas; porém, fazer isto é muito mais que uma simples atitude, é uma postura que deve serassumida na condução do ensino. E assumi-la com vistas ao desenvolvimento de conceitos científicos exige um projeto de ensino, inserido no projeto coletivo da Escola. Fazer isto é dar um sentido humano ao jogo, à resolução de problemas e, sendo assim, à Educação Matemática. (MOURA, 1992, p. 51).
18
1.1 O ENSINO DA MATEMÁTICA SEGUNDO OS PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS
Mariano (2004) ressalta que falar acerca do ensino de Matemática,
geralmente, é incorrer na equivocada ideia de uma disciplina feita para alguns.
Hoje,ocorre uma discussão que vai de encontro aos tabus e mitos relacionados ao
Ensino de Matemática e, nesse sentido , os PCN apostam em novas metodologias
de trabalho.
É consensual a ideia que não existe um caminho que possa ser identificado como único e melhor para o ensino de qualquer disciplina, em particular, da Matemática. No entanto, conhecer diversas possibilidades de trabalho em sala de aula é fundamental para que o professor construa sua prática (BRASIL,199, p. 32).
Ricardo, Custódio, Junior (2007), destacam que as atuaispropostas de
reforma da educação básica do sistema educacional brasileiro, comprometidas com
o acesso ao ensino, trazem um leque de orientações que tem como objetivo, entrar
em sintonia com o mundo contemporâneo. Esugerem a revisão não só dos
conteúdos escolares, como também das práticas docentes. Nesse sentido, cumpre
destacar as manifestações de O’Brien(1999).
O método tradicionalista de ensino se apoia na memorização de
fatos e procedimentos totalmente desvinculados do contexto da vida
real. O princípio é ao mesmo tempo básico e desprezível: empurrar
conceitos que devem ser relembrados e recitados pelos alunos toda
vez que o professor desejar. É mais ou menos o mesmo processo
adotado com os papagaios ensinados (O’BRIEN,1999, p. 55).
Ainda, segundo Maurari
Aprender a ensinar de maneiras diferentes pode não ser tão simples
para os professores. A mudança em sua prática é um processo que
exige mudanças de comportamento como, por exemplo, ser de novo
aprendiz, desenvolver novas compreensões dos conteúdos
ensinados e estar engajado em um grupo de pessoas que tenham,
também, o objetivo de repensar ou mudar suas
práticas(MAURARI,2011, p. 189).
Os PCN destacam dois aspectos básicos a respeito do ensino de Matemática,
“um consiste em relacionar observações do mundo real com representações; outro
19
consiste em relacionar essas representações com princípios e conceitos
matemáticos”. (BRASIL,1998, p. 56-57)
De acordo com os PCN de Matemática, para desempenhar seu papel de
mediador entre o conhecimento matemático e o estudante, o professor precisa ter
um sólido conhecimento dos conceitos e procedimentos dessa área e uma
concepção de Matemática como ciência que não trata de verdades infalíveis e
imutáveis, mas como ciência dinâmica, sempre aberta à incorporação de novos
conhecimentos.
1.2 O ENSINO DE MATEMÁTICA NO CONTEXTO ATUAL
Ensinar Matemáticaé um desafio para os educadores, ora pela dificuldade na
escolha metodológica aplicada em sala , ora pelo desinteresse dos estudantes. A
escolha da metodologia de ensino é uma tarefa, que envolve muita
responsabilidade, já que o professor, ao escolher uma proposta, deve conhecê-la,
analisar suas vantagens e benefícios, assim como observar sua adequação ao
ensino dos conteúdos que necessitam ser trabalhados.
O desinteresse por parte dos educandos é resultado, muitas vezes, da utilização de práticas que não atendem aos interesses dos alunos em função, dentre outras coisas, do abismo existente entre o modo como professores e alunos percebem a matemática. O professor imagina que seus alunos terão o mesmo prazer que ele tem ao lidar com a matemática, no entanto, o aluno não consegue vê-la do mesmo modo, e por isso não a compreende (VIEIRA,2002, p. 155).
Muitas vezes, os estudantes desenvolvem uma visão incorretada Matemática,
já que essa é transmitida com base na memorização, na repetição de resultados e
fórmulas sem relação alguma com a realidade.
Para acabar com esses entraves no ensino e na aprendizagem da matemática, considera-se que os educadores deveriam conhecer e adotar a proposta sociointeracionista. São inúmeros os benefícios da utilização de tal proposta pedagógica, e dentre eles podemos citar que a aprendizagem, ao tornar-se significativa, permite que o aluno aprenda para a vida, e não para determinado momento. Salienta-se também que, na perspectiva referida, o aluno aprende de acordo com suas possibilidades e seu ritmo, encaminhando-se para a autonomia ações, críticas e trocas (RANGEL, 2002, p. 45).
20
Nesse sentido, o professor de Matemática tem a importante tarefa de orientar
a aprendizagem, auxiliar o estudante a encontrar estratégias cognitivas. O estudante
é sujeito ativo de sua aprendizagem, cria hipóteses, experimenta, questiona e, dessa
forma, vai construindo seu conhecimento. Para essa construção, deve ser
considerada a bagagem de conhecimento que o estudante possui, pois é a partir
dela que ele estabelecerá relações para aprendizagem e só por meio do que ele já
sabe é que começa a compreender e dar significado a um conteúdo.
Segundo Coll(2003, p. 61) “tendo em vista que uma aprendizagem é tanto
mais significativa quanto mais relações com sentido o estudante for capaz de
estabelecer entre o que já conhece, seus conhecimentos prévios, e o novo conteúdo
que lhe é apresentado como objeto de aprendizagem”.
Adotada uma propostasociointeracionista1, a relação professor/estudante
torna-se mais próxima, pois há um maior diálogo, trocas de experiências, já que há
uma aprendizagem mútua na qual todos os envolvidos no processo aprendem. O
sociointeracionismo favorece, portanto, a relação afetivo-emocional entre
professores e estudantes, e a afetividade é um fator que jamais deve ser esquecido
no trabalho do professor, pois, por meio dela, o professor conhece melhor seu
estudante, seus interesses, e pode criar, nas aulas, um clima mais favorável à
aprendizagem.
Para o professor desenvolver um bom trabalho em sala de aula, é essencial
trabalhar com resolução de problemas e por projetos, propordesafios que incitem os
estudantes a mobilizar seus conhecimentos, utilizar recursos (como jogos).Tudo isso
pressupõe uma pedagogia ativa, cooperativa.
Como subsídio para o professor em sala de aula,Flemming, Luz, Mello (2005)
destacam as Tendências da Educação Matemática, que são formas de trabalho que
sinalizam mudanças no contexto da Educação Matemática. Ao se mostrarem
eficientes em sala de aula e ao serem utilizadas por muitos professores, esstas
formas de trabalho passam a ser consideradas propostas didáticas relevantes e que
podem contribuir com o trabalho docente na busca da inovação em sala de aula.
Segundo Flemming, Luz, Mello (2005)
1Abordagem Sociointeracionista, de Vygotsky, segundo a qual o desenvolvimento humano se dá em
relação nas trocas entre parceiros sociais, por meio de processos de interação e mediação.
21
A Educação Matemática surgiu no século XIX, em consequência dos primeiros questionamentos sobre o ensino de Matemática. Os matemáticos da época preocupavam-se em como tornar os conhecimentos mais acessíveis aos estudantes e buscavam uma renovação no ensino de Matemática. No Brasil, foi na década de 1950 que as discussões sobre Educação Matemática tiveram suas origens. No entanto, sua consolidação se deu em 1988, ano de fundação da Sociedade Brasileira de Educação Matemática - SBEM.(FLEMING, LUZ, MELLO, 2005, p 12)
Neste trabalho serão destacadas algumas tendências no Ensino de
Matemática abordadas pelos autores, tais como: Modelagem Matemática,
Etnomatemática, Resolução de Problemas e Jogos.
1.2.1- Modelagem Matemática
Modelagem tem como objetivo a compreensão dos diversos fenômenos que
ocorrem em nosso cotidiano, utilizando a linguagem matemática. Bienbemgut, Hein
(2000) completam expondoque “é um processo que emerge da própria razão e
participa da nossa vida como forma de constituição e de expressão do
conhecimento.” (2000, p. 11).
Segundo Lopes e Borba (1994), Modelagem Matemática é uma maneira de
tentar entender a Matemática no cotidiano, de traduzir um problema real para a
linguagem Matemática.
1.2.2- Etnomatemática
O termo etnomatemática foi criado por Ubiratan D’Ambrosio com o objetivo de
descrever as práticas matemáticas de grupos culturais, a partir de uma análise das
relações entre conhecimento matemático e contexto cultural (FlEMING,LUZ,MELLO,
2005, p.16).
De acordo com SCANDUZZI (2009):
A etnomatemática aponta que educar não é somente apresentar problemas contextualizados, uma vez que a contextualização depende de fatores vivenciados do grupo e estes nem sempre são do educador. Não é apenas dar exemplos para motivação, pois o grupo já se sente motivado em seu cotidiano para dar conta de seus
22
problemas- a própria realidade que os envolve gera expectativas na busca de solução. Também não é tratar apenas do cotidiano, pois as relações intra e intergrupais exigem muito mais. Educar matematicamente é desenvolver no diálogo simétrico formas de um diálogo franco, aberto, que exigirá do educador e do educando um crescer no conhecimento de arte ou na técnica de explicar , de compreender, de entender, de interpretar, de relacionar, de manejar e lidar com o entorno sociocultural.(SCANDUZZI, 2009, p. 19)
1.2.3- Resolução de Problemas
De acordo com Onuchic
... o ponto de partida das atividades matemáticas não é a definição mas o problema; que o problema não é um exercício no qual o aluno aplica, de forma quase mecânica, uma fórmula ou uma determinada técnica operatória; que aproximações sucessivas ao conceito criado são construídas para resolver um certo tipo de problemas e que, num outro momento, o aluno utiliza o que já aprendeu para resolver outros problemas; que o aluno não constrói um conceito em resposta a um problema, mas constrói um campo de conceitos que tomam sentido num campo de problemas; que a Resolução de Problemas não é uma atividade para ser desenvolvida em paralelo ou como aplicação da aprendizagem, mas como orientação para a aprendizagem.(ONUCHIC,1999, p. 215, apud FLEMMING, LUZ E MELLO).
Lupinacci e Botin (2004) destacam que:
aResolução de Problemas é um método eficaz para desenvolver o raciocínio e para motivar os estudantes para o estudo da Matemática. O processo ensino e aprendizagem pode ser desenvolvido através de desafios, problemas interessantes que possam ser explorados e não apenas resolvidos.(LUPINACCI, BOTIN, 2004, p. 01)
1.2.4- Jogos
O jogo tem papel fundamental no desenvolvimento do ser humano e pode ser
utilizado como uma ferramenta eficiente no processo educativo. Como destaca Melo
(2008, p.2,3),“ao falar sobre o jogo em sala de aula, o estudante aprende
inconscientemente, pois a diversão alivia a pressão escolar e a necessidade
constante de dominar o conteúdo – a pressão escolar é substituída pela
descontração e os resultados são mais expressivos.“
23
Neste trabalho, foi dado um forte enfoque à utilização de jogos, por
entendermos que essa tendência apresenta contribuições importantes ao Ensino de
Matemática e, mais especificamente, no Ensino de conceitos probabilísticos.
1.3 A IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO DE JOGOS NO PROCESSO DE
APRENDIZAGEM
Os jogos podem ser utilizados como ferramentas estimuladoras, facilitadoras
e enriquecedoras que, por meio do lazer, estimulam de forma satisfatória o processo
de aprendizagem do indivíduo.
De acordo com Silva (2006,p. 20),“cabe ao educador fomentar o gosto pelo
brincar em seus estudantes, tornando o processo educativo mais prazeroso por
meio da prática lúdica, proporcionando autonomia do educando”.
Durante muito tempo, o estudante era tido como um agente passivo no
processo de aprendizagem, e o professor um mero transmissor de conhecimento.
Com o passar do tempo, sentiu-se a necessidade de ter um ensino despertado pelo
interesse do estudante tornando as aulas mais significativas. Seu interesse passou a
ser a força que comanda o processo da aprendizagem. É nesse contexto que o jogo
ganha um espaço como ferramenta ideal da aprendizagem, na medida em que
propõe estímulo ao interesse do estudante.
Segundo Russo (2012, p.23), “jogar é uma atividade vital para as crianças,
propor situações com jogos em sala de aula é vantajoso, trabalha o interesse e a
atenção, desafia o raciocínio e estimula uma postura ativa da criança.”.
Antunes (2002, p. 36) afirma que “o jogo ajuda o estudantea construir suas
novas descobertas, desenvolve e enriquece sua personalidade e simboliza um
instrumento pedagógico que leva o professor à condição de condutor, estimulador e
avaliador da aprendizagem.”
O processo de ensino-aprendizagem tem que ser prazeroso e significativo
24
para estudantes e professores, e o trabalho com jogos vem para estimular a
participação e interação entre docente e discente.
Os jogos podem ser empregados em uma variedade de propósitos dentro do contexto de aprendizado. Um dos usos básicos muito importante é a possibilidade de construir-se a autoconfiança. Outro é o incremento da motivação. (...) um método eficaz que possibilita uma prática significativa daquilo que está sendo aprendido. Até mesmo o mais simplório dos jogos pode ser empregado para proporcionar informações factuais e praticar habilidades, conferindo destreza e competência. (SILVEIRA e BARONE, 1998, p.02).
A utilização de jogos na disciplina de Matemática parte da reflexão do docente
na necessidade de alternativas que aumentem a motivação para a aprendizagem do
estudante, explorando a concentração, o raciocínio lógico e o senso cooperativo de
uma maneira que haja uma interação do estudante com os demais.
1.4- CONTEXTO HISTÓRICO DE CONCEITO DE PROBABILIDADE
De acordo com Gadelha (2004), pode-se caracterizar cinco períodos no
desenvolvimento da Teoria da Probabilidade: pré-história, origens, maturação da
probabilidade clássica, escola de São Petersburgo e período moderno.
1.4.1- Pré-História
O período chamado de Pré-História tem sido marcado pelo fato de que a
humanidade tem lidado com a incerteza desde épocas mais remotas na tentativa de
obter vantagens em disputas e evitar perdas advindas de fatores imprevisíveis. Há
milhares de anos os jogos de azar têm feito parte do cotidiano de muitas
civilizações.
25
Silveira (2001) aponta que os jogos de azar são tão velhos quanto a
humanidade.O autor indica a existência de provas arqueológicas da prática do jogo
do osso há 40.000 anos.
Segundo Coutinho (2007), na antiguidade, jogava-se com um osso chamado
astrágalos, que era retirado de animais, ele era utilizado como se fosse dado (na
falta deste) porque esse osso tem quatro faces irregulares: o lado plano, o côncavo
e o sinuoso. Possibilitando quatro posições diferenciadas, os astrágalos eram
atirados sobre uma superfície plana, ganhando o que acertasse com a face
escolhida.
Silveira (2001, p. 01) destaca que “historicamente, o jogo do osso e do dado
foram os jogos mais praticados, sendo que o jogo do dado foi uma evolução do jogo
do osso e surgiu na Índia e Mesopotâmia 3.000 a.C.. A partir daí, propagou-se no
mundo grego, romano e cristão”.
“Os povos que viviam na Mesopotâmia ou no Egito Antigo associavam a ideia
do acaso às intervenções divinas. Ao longo do tempo, é constante ter essa relação
com o acaso, associando-o com a crença em intervenções divinas”.
(COUTINHO,2007,p 51).
Segundo Tomaz (2011), quando se fala em organização de dados e aplicação
simples da Teoria da Probabilidade, o nome de GerolamoCardano (1501-1576) não
pode deixar de ser citado. Ele foi o pioneiro na sistematização de dados e a
entender a lógica de alguns processos que, até então, eram tidos como aleatórios.
Na época em que Cardano viveu,a Matemática era pouco desenvolvida, um período
no qual a álgebra e a geometria estavam dando os primeiros passos, fez estudos
sobre a teoria dos jogos e acabou escrevendo um tratado de 32 capítulos, com o
título “O livro dos jogos de azar”, em que inicia um estudo simplificado, mas de
grande valia, da Teoria da Probabilidade.
Para Silveira (2001),Cardano é o iniciador do estudo matemático das probabilidades.
Cardano foi o primeiro a introduzir técnicas de combinatória para calcular a quantidade de probabilidades favoráveis num evento aleatório e, assim, poder calcular a probabilidade de ocorrência do evento como razão entre a quantidade de possibilidades favoráveis e a quantidade total de possibilidades(SILVEIRA, 2001, p. 01).
26
Apesar dos estudos desenvolvidos, Cardano limitou-se a resolver problemas
com dados estritamente numéricos e não produziu teoremas.
Tomaz (2011) ressalta que a aleatoriedade de certos eventos foi objeto de
estudos de outros matemáticos, como Pacioli (1445-1517), Tataglia (1500- 1557) e
Galileu (1554-1642), porém, assim como Cardano,limitaram-sea resolver problemas
concretos, estritamente numéricos. Segundo o autor, a Teoria da Probabilidade
começou a existir, de fato, após os estudos dePalcal (1623- 1662) e Fermat (1601-
1665), que tiveram como base os estudos de Cardano.
1.4.2- Origens
Nessa etapa da história da probabilidade segundo Gadelha (2004) tem-se
trabalhos desenvolvidos por Pascal e Fermat, os quais se destacaram por
apresentar uma solução para um famoso problema proposto por Chevallier de Meré,
um rico nobre francês com gosto pelo jogo.
A questão apresentada a Pascal era conhecida como problema dos pontos,
que enunciava o seguinte: “Como distribuir as apostas em um jogo de azar não
terminado.” (BERLINGHOFF,GOUVEA, 2010, p.211). Segundo o autor, nos jogos de
azar, é comum que logo que as apostas são feitas o dinheiro não pertença a
ninguém até que o jogo seja concluído, ficando o ganhador com tudo o que foi
apostado. Então, o questionamento de DeMeré era como fazer a divisão de um jogo
não concluído, sendo conhecidos os resultados parciais dos jogadores.
Berlinghoff e Gouvêa (2010) apresentam uma versão simples do problema
dos pontos
Xavier e Yvone apostaram cada um $10 em um jogo de arremesso de moedas. Cada jogador joga uma moeda em sua vez. Se der cara, o jogador que lançou a moeda ganha um ponto, se não, o outro jogador ganha um ponto. O primeiro jogador a obter três pontos ganha os $20. Agora, suponha que o jogo tenha quer interrompido quando Yvone tem 1 ponto, Xavier tem 2 pontos e está prestes a
27
lançar a moeda. Qual é o modo mais justo de dividir os $20?(BERLINGHOFF,GOUVÊA, 2010, p 211).
Pascal comunicou o problema a Fermatpor meio de correspondências.
Usando métodos diferentes, os dois matemáticos chegaram à mesma resposta para
o problema.
A seguir, Berlinghoff e Gouvêa (2010) apontam um modo de Pascal de
resolver o problema proposto anteriormente:
Uma moeda não viciada tem probabilidades iguais de dar cara ou coroa. Assim, se cada jogador tivesse dois pontos, cada um teria uma probabilidade igual de ganhar o jogo na próxima jogada, portanto, seria justo que cada jogador recebesse a metade da quantia apostada a essa altura. Neste caso, Xavier tem 2 pontos e Yvone 1. Se Xavier lançar a moeda e ganha, ele terá 3 pontos, portanto terá os $20. Se Xavier perde, cada jogador terá 2 pontos, portanto cada um terá direito a $10. Assim, Xavier tem direito a pelo ao menos $10dessa aposta. Como é igualmente provável que Xavier ganhe ou perca o lance, os outros $10 devem ser divididos igualmente entre os jogadores. Logo Xavier deve receber $15 e Yone $5. (BERLINGHOFF eGOUVÊA, 2010, p 211).
Pascal e Fermat estudaram outros casos de jogos interrompidos, procedendo
da mesma forma, reduzindo cada um a uma situação previamente resolvida e
dividindo o dinheiro de acordo com isso.
De acordo com Viali (2008), para resolver o problema dos pontos, Pascal teve
que usar técnicas mais apuradas, que envolviam um grande número de
possibilidades. Pascal pode contar com uma notação mais apurada, como ocálculo
literal (utilização de letras para representar quantidades conhecidas ou
desconhecidas) que foi introduzido, em 1600, pelo francês François Viète (1540 -
1603) na obra In ArtemAnalyticamIsagoge; teve suporte também a álgebra
desenvolvida por outro francês, René Descartes (1596 - 1650) em sua obra La
Géometrie de 1637.
Segundo Gadelha (2004), Pascal fez um estudo detalhado do triângulo
compondo os coeficientes binomiais, hoje conhecido como triângulo de Pascal. Para
encontrar a solução para o problema dos pontos, Pascal utilizou o triângulo
aritmético, se ao jogador A faltam m pontos para ganhar e a B faltam n pontos, então
a razão das probabilidades de ganharem é dada por:
28
1
1...
0
1
1
1...
0
1
)(
)(
m
nmnm
n
nmnm
BP
AP
Para Vega (2002, p. 59), “o impacto que as soluções de Pascal e
Fermatprovocaram foi tão profundo, que, para muitos historiadores, 1654 é o ano de
nascimento da Teoria da Probabilidade.”
Segundo Viali (2008), as trocas de cartas entre Pascal e Fermat deixou o
holandês Huygens (1629-1695) curioso sobre o assunto em uma de suas viagens a
Paris em 1655. Ao voltar à Holanda, ele escreve De Ratiociniis in Ludo Aleae (Sobre
o Raciocínio em Jogos de Dados), que seria a primeira obra impressa sobre a Teoria
da Probabilidade.
1.4.3- Maturação da Probabilidade clássica
Contribuições importantes seguiram-se logo ao trabalho de Pascal, Fermate
Huygens, as mais notáveis sendo dadas por Jakob Bernoulli (1654-1705), DeMoivre
(1667-1754) e Laplace (1749-1827).
De acordo com Viali (2008), Bernoulli foi o autor de um dos primeiros
teoremas da Teoria da Probabilidade, a lei dos grandes números. “Este resultado é
uma prova de que a frequência relativa de um evento tendo para a Probabilidade
deste evento, quando n= ‘número de repetições do experimento’, tende ao infinito.”
(VIALI, 2008, p.06).
Esse teorema foi exposto em 1713 na publicação póstuma do livro
ArsConjectandi, de Jakob Bernuolli. (SILVA e COUTINHO, 2005, p 194).
De acordo com Gadelha (2004,p. 06),“a lei dos grandes números é o primeiro
teorema limite da Probabilidade, um resultado que estabelece uma relação entre os
conceitos de Probabilidade e frequência relativa, que é fundamental para a teoria
moderna de amostragem”.
Em 1718, o matemático francês, Abraham DeMoivre, publicou o livro
Doctrineof Chances, que tratava sobre a teoria do acaso, onde expôs a definição de
29
independência estatística e problemas relacionados com dados e outros jogos, por
exemplo a Probabilidade de tirar bolas de cores diferentes de uma urna(FERREIRA;
TAVARES e TURKMAN, 2002, p.08).
De acordo com Berlinghoff e Gouvêa (2010), Laplace publicou a Teoria
Analítica das Probabilidades em que reunia seus trabalhos e de outros autores sobre
a Teoria da Probabilidade e estatística. Por ser uma obra técnica e densa, tornava-a
inacessível ao grande público, exceto aos leitores mais determinados e matemáticos
mais sofisticados.
Para tornar suas ideias mais acessíveis, Laplace publicou outro livro: Ensaio
Filosófico sobre Probabilidades, em que defendia a aplicabilidade da Probabilidade
em diversas atividades humanas, entre elas a política.
1.4.4- Escola de São Petersburgo
Segundo Gadelha (2004), no final do século XIX, o russo
PafnutyL’vovichChebyshev (1821–1884) fundou a denominada escola de São
Petersburgo, onde grandes matemáticos russos foram formados e que
apresentaram contribuições fundamentais à Teoria da Probabilidade. Um de seus
estudantes de destaque foi Andrei Andreyevich Markov (1856- 1922).
Markov “é particularmente lembrado pelas cadeias que levam seu nome, que
são sequências de variáveis aleatórias nas quais uma variável é determinada pelo
valor da anterior, mas são independentes no sentido de que o estado presente
depende apenas do anterior.” (VIALI, 2008, p 08).
1.4.5- Período moderno
De acordo com Gadelha (2004), no final do século XIX e início do século XX
,houve uma necessidade de se estabelecer uma fundamentação mais consistente e
um significado preciso dos conceitos usados na Teoria de Probabilidade que foi
30
enfatizada por paradoxos como os propostos por Joseph Bertrand (1822–1900) em
seu livro CalculdesProbabilités.
O problema que ele propôs consiste em determinar a Probabilidade de que
uma corda randômica de um círculo de raio unitário tenha um comprimento C maior
ou igual a 3 . Esse valor equivale às medidas dos lados de um triângulo equilátero
inscrito no círculo citado (VICENTE, 2011, p 01).
A análise de processos estocásticos2exigiu um rigor matemático da Teoria da
Probabilidade. Esse fato foi alcançado somente com a axiomatizaçãoproposta por
Kolmogorov (1903–1987) emarcou o início do desenvolvimento da teoria moderna
de Probabilidade. Ele publicou um importante artigo: Métodos Analíticos na Teoria
da Probabilidade no qual estabelece os fundamentos da teoria modernade
processos estocásticos (GADELHA,2004, p 13).
1.5O ENSINO DE PROBABILIDADE
Os Parâmetros Curriculares Nacionais estabelecem que a principal finalidade
para o estudo de Probabilidade
é a de que o aluno compreenda que grande parte dos acontecimentos do cotidiano são de natureza aleatória e é possível identificar prováveis resultados desses acontecimentos. As noções de acaso e incerteza, que se manifestam intuitivamente, podem ser exploradas na escola, em situações nas quais o aluno realiza experimentos e observa eventos (BRASIL, 1998, p. 56).
Nos PCN, a Probabilidade é apresentada com a finalidade de promover a
compreensão de grande parte dos acontecimentos do cotidiano que são de natureza
aleatória, possibilitando a identificação de resultados possíveis desses
acontecimentos.
2 São famílias de variáveis aleatórias indexadas por um conjunto infinito, não necessariamente
enumerável.
31
As Orientações Curriculares Nacionais (OCN) para o Ensino Médio destacam ainda que
Ao estudar probabilidade e chance, os alunos precisam entender conceitos e palavras relacionadas à chance, incerteza e probabilidade, que aparecem na nossa vida diariamente, particularmente na mídia. Outras ideias importantes incluem a compreensão de que a probabilidade é uma medida de incerteza, que os modelos são úteis para simular eventos, para estimar probabilidade, e que algumas vezes nossas intuições são incorretas e podem nos levar a uma conclusão equivocada no que se refere à probabilidade e à chance. (BRASIL, 2006, p.79)
De acordo com a Base Curricular Comum para as Redes Públicas de Ensino
de Pernambuco (2008), a ideia de Probabilidade é trabalhada durante todo o Ensino
Médio de tal forma que ao final da Educação Básica, o estudante seja capaz de
estabelecer o modelo matemático que permite determinar a probabilidade de ocorrência de um evento. Identificar a probabilidade da união e da interseção de eventos, os eventos disjuntos e o conceito de independência de eventos (PERNAMBUCO, 2008, p. 110).
Inicialmente, o cálculo de probabilidades era voltado para a previsão das
chances de vitória em alguns jogos de azar. Atualmente, a Teoria da Probabilidade
possui aplicações importantes nos mais diversos ramos da atividade humana, por
exemplo: na Economia, na Política, na Medicina, etc. Ainda, a teoria de
probabilidades é o fundamento matemático, que garante a validade dos
procedimentos da inferência estatística.
Existe uma insegurança por parte dos professores do Ensino Médio quando
precisam abordar conteúdos de Probabilidade. Sãocomuns os conceitos
probabilísticos não serem estudados no Ensino Fundamental e Médio e, quando são
considerados, sua abordagem reduz-se à resolução mecânica de exercícios
padrões, nos quais é suficiente aplicar uma fórmula (LOPES,TEODORO, REZENDE,
2011, p 76).
O conhecimento básico de Probabilidade é importante para a formação do
cidadão, pois possibilita a compreensão dos acontecimentos de natureza aleatória
do seu cotidiano. De acordo com Lopes (2008)
32
A probabilidade proporciona um modo de medir a incerteza e de mostrar aos estudantes como matematizar, como aplicar a matemática para resolver problemas reais. Para isso, recomenda-se um ensino das noções probabilísticas a partir de uma metodologia heurística e ativa, por meio da proposição de problemas concretos e da realização de experimentos reais ou simulados.(2008, p. 71)
Em consonância com essas necessidades, Bayeret al (2005) ressaltam que,
na escola, as atividades com Probabilidade devem iniciar com jogos e atividades
construtivistas pelos quais o estudante tenha interesse e curiosidade de resolver os
problemas propostos, envolvendo materiais concretos como moedas, bolas, dados,
urnas, etc. São métodos que familiarizam o estudante com as questões sobre a
aleatoriedade de um experimento, e utilizam outros conceitos como eventos
possíveis, impossíveis, prováveis, muito prováveis, certos, dentre outros.
Por meio dessas atividades, obtém-se uma abordagem experimental para o
ensino de Probabilidade. Walle (2009) destaca algumas contribuições dessa pratica
na aprendizagem do estudante.
É significativamente mais intuitiva. Os resultados começam a fazer sentido e não são oriundos de alguma regra abstrata.
Elimina apostar em probabilidades e se perguntar, “Eu fiz isso direito?”. Contar ou tentar determinar o número de elementos em um espaço de amostra pode ser muito difícil sem algumas informações intuitivas básicas.
Fornece uma base experimental para examinar o modelo teórico. Quando começar a sentir que a probabilidade de duas caras
em dois lançamentos de uma moeda honesta é 4
1em vez de
3
1.(
WALLE, 2009, p 517)
Walle (2009) estimula o professor a abordar Probabilidade de forma
experimental em sala de aula, sugere ainda que, no início, o professornão corrija os
erros dos estudantes, essa correção deve ser entendida pelos educandos por meio
dos resultados experimentais obtidos.
33
CAPÍTULO 2
TEORIA DOS CAMPOS CONCEITUAIS
A Teoria dos Campos Conceituais, que foi desenvolvida pelo professor e
pesquisador Gerard Vergnaud, psicólogo pertencente à tradição Piagetiana, traz um
suporte teórico aos professores que lhes permite compreender como os conceitos
são construídos pelos estudantes, sendo, portanto, uma teoria da conceitualização
do real. Permite também prever formas mais eficientes de trabalhar os
conteúdos.Nesse sentido Moreira diz que a Teoria dos Campos Conceituais
É uma teoria cognitivista neopiagetiana que pretende oferecer um referencial mais frutífero do que o piagetiano ao estudo do desenvolvimento cognitivo e da aprendizagem de competências complexas, particularmente aquelas implicadas nas ciências e nas técnicas, levando em conta os próprios conteúdos do conhecimento e a análise conceitual de seu domínio (MOREIRA, 2002,p 08).
Para Vergnaud, “o conhecimento está organizado em campos conceituais,
cuja apropriação por parte do educando acontece ao longo do tempo, por meio da
experiência, maturidade e aprendizagem” (MOREIRA, 2002, p. 02). Segundo
Vergnaud (1996), um campo conceitual é um conjunto de situações, cujo domínio se
dá de forma progressiva e exige uma variedade de conceitos, de procedimentos e
de representações simbólicas em perfeita conexão.
A teoria dos campos conceituais não é específica da matemática, mas começou por ser elaborada a fim de explicar o processo de conceptualização progressiva das estruturas aditivas, das estruturas multiplicativas, das relações número-espaço, da álgebra (VERGNAUD, 1996, p. 155).
Maginadestaca:
as competências e concepções dos estudantes se desenvolvem ao longo do tempo, por meio de experiências com um grande número de situações, tanto dentro quanto fora da escola. Quando se defrontamcom uma nova situação, usam o conhecimento adquirido por meio de experiência em situações anteriores, tentando adaptá-lo a esta nova situação. (MAGINA, 2005, p. 03)
34
Nesse sentido,Vergnaud (1996) destaca que a aprendizagem de um conceito
pode ocorrer mediante duas classes de situações:
1. Quando o sujeito se depara com determinada circunstância e ele já detém
todas as competências necessárias para o tratamento imediato da situação;
2. Quando o sujeito se depara com determinada circunstância e ele ainda não
detém todas as competências necessárias para o tratamento imediato da situação, o
que o obriga a refletir e explorar, sendo conduzido ao êxito ou ao fracasso.
A segunda situação é aquelana qual a aprendizagem ocorre de forma mais
eficiente e duradoura, pois é o momento do desequilíbrio, no qual ocorre a
descoberta do novo e, também, onde o estudante relaciona o novo conhecimento
com situações que ele já conhece.
Para Vergnaud, um conceito não pode ser reduzido à sua definição, ele
adquire sentido para o aprendiz por meio da resolução de situações distintas.
Vergnaud (1996, p. 166) define conceito como sendo a tríada construída de
S: conjunto de situações que dão sentido ao conceito (a referência); I: conjunto de invariantes sobre os quais repousa a operacionalidade dos esquemas (o significado); R: conjunto das formas de linguagem que permitem representar simbolicamente o conceito, suas propriedades, as situações e os procedimentos de tratamento (o significante).
Para estudar o desenvolvimento e uso de um conceito, no decorrer da
aprendizagem ou de sua utilização, é necessário considerar esses três elementos
simultaneamente. Os conceitos tornam-se significativos por meio de situações, que
por mais simples que sejam, envolvem diversos conceitos e, por sua vez, um
conceito pode ser tratado por mais de um tipo de situação.
Vergnaud (1996), compreende como situação, a tarefa realizada pelo
estudante, na qual se deve conhecer a sua natureza e dificuldade, toda situação
pode ser analisada como uma combinação de tarefas. O autor destaca, ainda,duas
ideias principais em relação ao sentido de situação: variedade e história.
35
Em um campo conceitual, existe uma grande variedade de situações, os
conhecimentos dos estudantes são formados pelas situações que eles vivenciam e
que, progressivamente, dominam.
Para Moreira (2002, p. 05),“as situações são responsáveis pelo sentido
atribuído ao conceito, um conceito torna-se significativo por meio de uma variedade
de situações. O sentido é uma relação do sujeito com as situações e com os
significantes”.
Nesse sentido, diante de uma determinada situação, o sujeito age de acordo
com as suas representações, o elo entre essa representação e sua conduta é o que
Vergnaud compreende como esquema. Podemos afirmar que a noção de esquema
é para Vergnaud a maior contribuição de Piaget. “Chamaremos de esquema a
organização invariante da conduta de uma dada classe de situações” (VERGNAUD,
1996, p. 157).
Para Vergnaud, quando um sujeito se depara com determinada situação, ele
pode ter condutas organizadas por meio de um esquema único, ou desencadear
diversos esquemas que entram em conflito. Tais esquemas devem ser acomodados,
descombinados e recombinados para, então, atingir a solução procurada.
Segundo Vergnaud (1996), os invariantes operatórios, constituídos por
teoremas-em-ação e conceitos-em-ação,são os conhecimentos contidos nos
esquemas, outros componentes constituem um esquema. São eles: antecipações do
objeto, regras de ação e inferência.
Moreira (2002) define invariantes operatórios da seguinte maneira
invariantes operatórios (teoremas-em-ação e conceitos-em-ação) que dirigem o reconhecimento, por parte do indivíduo, dos elementos pertinentes à situação; são os conhecimentos contidos nos esquemas; são eles que constituem a base, implícita ou explícita, que permite obter a informação pertinente e dela inferir a meta a alcançar e as regras de ação adequadas ( p. 12).
Segundo Aguiar e Pedrosa (2009)
O “teorema em ação” refere-se a ações pessoais mentais ou reais articuladoras de informações, procedimentos e atitudes, que constituem generalizações lógicas para o sujeito, no seu processo de construção progressiva do conhecimento. (AGUIAR, PEDROSA, 2009, p 393)
36
Maginaet al (2001) apontam que,quando um aprendiz se depara com uma
situação-problema, ocorre a aplicação de estratégias e mobilização de conceitos,que
se encontram no interior de um esquema cognitivo, chamados de teorema-em-ação.
Grings, Caballero, Moreira (2006) definem conceito-em-açãocomo
um objeto, um predicado, ou uma categoria de pensamento tida como pertinente, relevante a uma dada situação. Há uma relação dialética entre conceitos-em-ação e teoremas-em-ação, uma vez que conceitos são ingredientes de teoremas, e teoremas são propriedades que dão aos conceitos seus conteúdos (GRINGS, CABALLERO, MOREIRA, 2006, p. 466).
Vergnaud (1996) defende também que a compreensão de um conceito
sempre está associada a muitos outros conceitos e ideias; por isso, toda
compreensão sobre determinado objeto requer um elo entre o que já é conhecido e
o novo e nenhum conceito pode ser compreendido isoladamente, ou seja, o
conhecimento organiza-se em campos conceituais.
Um campo conceitual é um conjunto de situações cuja apropriação requer o
domínio de vários tipos de conceitos, procedimentos e representações simbólicas
que estão interligados uns aos outros. Como exemplo, Vergnaud (1996) apresenta o
campo conceitual das estruturas aditivas e o campo conceitual das estruturas
multiplicativas.
Segundo Vergnaud (1996)
O campo conceitual das estruturas aditivas é, ao mesmo tempo, o conjunto das situações cujo tratamento implica uma ou várias adições ou subtrações cujo tratamento implica uma ou várias adições e subtrações, e o conjunto dos conceitos e teoremas que permitem analisar essas situações como tarefas matemáticas (VERGNAUD, 1996, p.168).
Magina (2005) afirma que,ao proporestudar um campo conceitual, ao invés de
um conceito, Vergnaud está afirmando que, em uma situação, o conceito não
aparece isolado. Como exemplo, a autora cita uma situação aditiva simples: “Ana
tinha 5 blusas e no seu aniversário sua avó lhe deu 2 blusas. Quantas blusas Ana
tem agora”?
37
Nessa situação, estão envolvidos vários conceitos, os quais a criança
necessita ter adquirido para solucionar o problema. São eles: temporalidade (tinha,
passado/tem agora, presente); contagem (depois do 5 vem o 6, depois o 7).
Ainda, de acordo com Vergnaud, é incorreto acreditar que a adição e a
subtração são competências matemáticas para crianças pequenas. “Existem
situações relativamente simples que vão ser compreendidas por uma extensão de
um invariante operatório e existem outras que vão resistir por muito tempo”
(VERGNAUD, 2005, p. 93).
Para exemplificar essa questão, Vergnaud (2005, p. 94) propôs o seguinte
problema para uma plateia adulta em uma de suas palestras: o Sr. Smiths compra
um cavalo por $300 dólares e revende por $400 dólares; ele compra novamente o
mesmo cavalo por $500 dólares e o revende por $600. Qual foi o lucro ou perda que
ele teve e de quanto?
Segundo Comério (2007), como houve divergência entre as respostas,
Vergnaud apresentou a resposta correta (200 dólares de lucro), e fez uma análise
das respostasapresentadas para solucionar o problema, levantando questões
importantes acerca do ensino e aprendizagem de Matemática, tais como:Por que
nos enganamos? Por que hesitamos em entender asolução?De acordo com o autor,
fazemos o tratamento sequencial das informações, em nosso esquema de raciocínio
e se as situações acontecessem sempre em ordem e se as informações forem
recebidas etapa por etapa, a solução para determinada questão se apresentaria de
forma mais clara.
Sobre o campo conceitual das estruturas multiplicativas,Magina, Merlinie
Santana(2010, p. 3) destacam:
Podemos nos referir ao Campo Conceitual Multiplicativo, ou simplesmente estruturas multiplicativas, como sendo um conjunto de problemas ou situações, cuja análise e tratamento requerem vários tipos de conceitos, procedimentos e representações simbólicas, os quais se encontram em estreita conexão uns com os outros. Entre os conceitos podemos destacar: as funções linear e não-linear, o espaço vetorial, a análise dimensional, a fração, razão, proporção, número racional, multiplicação e a divisão.
A análise que Vergnaud fez das situações que envolvem a multiplicação e a
divisão mostra que os problemas de estrutura multiplicativa situam-se em geral no
38
contexto de três categorias: isomorfismo de medidas, produto de medidas e
proporções múltiplas.
O isomorfismo de medidas é uma estrutura que consiste em uma proporção
direta entre duas grandezas, por exemplo: bens e custo, tempo e distância. Comério
(2007) destaca a seguinte situação para explicar essa categoria: “Tenho 3 bandejas
de iogurte. Há 6 potinhos de iogurte em cada bandeja. Quantos iogurtes eu tenho?”.
De acordo com o esquema, esse problema envolve uma relação quaternária
entre os elementos (bandejas e iogurtes),pois:
1 bandeja → 6 iogurtes
3 bandejas → x iogurtes
O produto de medidas consiste em uma relação ternária entre quantidades,
das quais uma é o produto das outras duas;a essa estrutura pertencem problemas
relativos à área, volume, superfície e produto cartesiano.
Exemplo: Paulo tem 2 calças (azul, preta) e 3 camisas (branca, preta,
amarela). Vestindo calça e camisa de quantas maneiras diferentes ele pode se
vestir?
Já, como exemplo de proporções múltiplas, podemos apresentar a seguinte
situação: Bruno fez uma viagem com um grupo de amigos. No total havia5 pessoas
e passaram 10 dias em um hotel. O gasto total com as diárias foi de R$ 4.000,00.
Quanto foi cada diária?
CAPÍTULO 3
OBJETIVOS E MÉTODO
3.1-Objetivo geral
Analisar como estudantes do 2º ano do Ensino Médio compreendem os
conceitos de Probabilidade e de Probabilidade Condicional.
39
3.1.1- Objetivos específicos
Vivenciar com os estudantes do 2º ano do Ensino Médio jogos matemáticos
que abordam conceitos probabilísticos;
Identificar as potencialidades e dificuldades dos estudantes na compreensão
de conceitos probabilísticos;
Analisar, a partir da Teoria dos Campos Conceituais, o processo de
elaboração de conceitos probabilísticos por estudantes do Ensino Médio.
3.2-Coleta de dados
As atividades foram desenvolvidas com uma turma de 30 estudantes do 2°
ano do Ensino Médio, na faixa etária de 16 a 17 anos, de uma escola estadual
localizada em Petrolina-PE.
A escola possui mais de 1.500 estudantes, oferece do 7º ano do Ensino
Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. Ainda oferece Ensino Fundamental e
Médio na Educação de Jovens e Adultos (EJA). A escola está localizada em um dos
bairros mais populosos da cidade.
3.3-Etapas da pesquisa
Esta pesquisa foi realizada em dois momentos, o primeiro foi a aplicação de
três jogos: Sorteio na Caixa, Probabilidade Roxa e Árvore de Probabilidades, sendo
40
os dois primeiros, softwares educacionais, que tinham como objetivo propiciar ao
estudante uma aplicação do conceito de Probabilidade.
No segundo momento, foi aplicado para doze estudantes um questionário
com cinco quesitos,tendo em vista a obtenção de uma análise individual da
aprendizagem, o número de alunos participantes foi menor que o da etapa anterior,
pois alguns não dispuseram a responder o questionário e outros não haviam
comparecido. Nesse questionário,foram abordados conceitos anteriormente
trabalhados na aplicação dos jogos.
O desempenho dos estudantes foi analisado por meio de uma escala de
acertos, utilizando as cores verde, amarelo e vermelho, para uma melhor
compreensão do leitor, conforme descritono quadro 1.
Quadro 1- Frequência de acertos
ACERTOS
13-16
7-12
0-6
Ainda, para a elaboração e para a análise dos resultados, utilizamos também
a teoria dos campos conceituais proposta pelo psicólogo francês GerárdVergnaud.
3.3.1- Descrição dos Jogos
Historicamente, os estudos de Probabilidade iniciaram-se com a troca de
correspondência entre Pascal e Fermat acerca da chance de ganho em jogos de
azar, como já discutido anteriormente.Os roteiros dessas atividades partem dessa
tradição histórica, quando exige do estudante a escrita de frações que representam
41
chances em sorteios. Essa justificativa torna-se importante para que fique clara a
opção pelo estudo das probabilidades associado, inicialmente, ao estudo dos jogos.
Não se trata, de forma alguma, de valorizar a compreensão dos mecanismos dos
jogos de azar, com o objetivo de levar vantagens individuais durante seu exercício,
mas apenas aproveitar o possível aprendizado do conteúdo matemático, que se
esconde por trás das regras da atividade de maneira crítica e responsável.
Serão apresentadas três atividades, em que duas serão jogos digitais. Foi
escolhida essa forma de jogo, pois a utilização de jogos digitais como objetos de
aprendizagem tem sido difundida atualmente como uma forma diferente de abordar
temas e tópicos aos estudantes. Além de um atrativo de forte apelo motivacional, os
jogos e as simulações digitais podem amplificar o poder de exploração e imaginação
dos estudantes, propiciando momentos de investigação, reflexão e aprendizagem.
Na seção seguinte, apresentamos os jogos utilizados neste estudo:
3.3.1.1- JOGO 1- Sorteio na caixa
Este jogo está disponível para download no link:
http://rived.mec.gov.br/atividades/matematica/probabilidades/atividade1/atividade1.ht
m.O RIVED é um programa da Secretaria de Educação a Distância - SEED, que tem
por objetivo a produção de conteúdos pedagógicos digitais, na forma de objetos de
aprendizagem. Tais conteúdos primam por estimular o raciocínio e o pensamento
crítico dos estudantes, associando o potencial da informática às novas abordagens
pedagógicas.
Neste jogo, os estudantespreenchem, inicialmente, uma tabela de dupla
entrada, com quantidades de algumas “peças” que formarão o conjunto a partir do
qual, posteriormente, será efetuado um sorteio. Esses elementos têm características
que se interceptam. Há “peças” verdes, amarelas ou azuis e há “peças” triangulares
e circulares distribuídas pelas 3 cores. O usuário poderá escolher uma das peças e
escrever a chance que ela tem de ser sorteada dentre todos os elementos do
conjunto, como mostra a figura 1.
42
Figura 1- Tela inicial do jogo Sorteiona Caixa
A cada escolha do usuário, o sistema gera o sorteio aleatório de uma peça e
testa a correção da escrita da chance e, também, se o usuário acertou em sua
escolha, isto é, se a peça que escolheu foi ou não sorteada.
O tempo estimado para duração da atividade é de duas aulas de cinquenta
minutos; os alunos poderão ser organizados em duplas. No final, o estudante será
convidado a localizar seu rendimento em uma escala de valores. Esse rendimento
leva em conta duas questões: a sorte e a correção dos cálculos, com maior
valorização desta última variável. Levando em conta a digitação correta ou não da
chance de sorteio pelo usuário, e também o sucesso ou o fracasso da escolha feita,
o sistema atribui pontos a cada jogada, da seguinte maneira:
- Chance correta e sucesso no sorteio = +2
- Chance correta e fracasso no sorteio = +1
- Chance errada e sucesso no sorteio = 0
- Chance errada e fracasso no sorteio = - 1
43
Como o jogo consiste de 6 rodadas, o mínimo de pontos exigido para que o
estudante mostre que entendeu a atividade é 6; mesmo assim, com a avaliação do
professor sobre a digitação do estudante em cada rodada. O sistema emitirá
mensagens, sugerindo aos estudantes que tenham obtido baixos índices de
avaliação de retomar a atividade desde o início. Caberá ao professor acompanhar
essas avaliações, com o objetivo de interferir nos casos em que não tenha ficado
claro como é feito o cálculo da chance de ocorrência de cada evento.
3.3.1.2- JOGO 2- Probabilidade Roxa
Este objeto de aprendizagem explora o conceito de Probabilidade, focando,
principalmente, a Probabilidade Condicional. Pressupõe-se que, ao final do jogo, o
estudante saiba o conceito de Probabilidade, Espaço Amostral, Evento e
Probabilidade Condicional.
Este jogo esta disponível para download no link:
http://ambiente.educacao.ba.gov.br/conteudos-digitais/conteudo/exibir/id/921
A simulação apresenta como tema uma partida de futebol na qual é realizada
uma entrevista entre alguns torcedores presentes no estádio. Assim, uma tabela,
como na figura a baixo (FIGURA 1), é apresentada ao estudante com a quantidade
total de pessoas entrevistadas, separadas por sexo e por time de sua preferência. A
partir dos dados encontrados na tabela, o estudante deverá responder questões
relacionadas à Probabilidade.
44
Figura 2- Tela inicial do jogo Probabilidade Roxa
Para cada questão, o estudante deverá escolher uma resposta certa. As
respostas são contempladas em três formas de registros diferentes: a fracionária, a
decimal e a porcentagem, e o professor poderá escolher qual a melhor
representação a ser utilizada pelo estudante ou, ainda, a combinação das formas
contempladas.
Por ter um objetivo mais de experimentação, talvez seja interessante que o
conceito de Probabilidade Condicional sejaabordado e discutido anteriormente;
porém, o jogo foi elaborado de forma a não necessitar de pré-requisitos, já que
possui um tutorial de ajuda do conteúdo com exemplos e definições de conceitos.
Assim, fica a critério do professor a forma como pode utilizar o recurso de acordo
com seu planejamento. Estima-se que, para chegar ao final do jogo, leva-se de 20 a
25 minutos.
3.3.1.3 -JOGO 3- Árvore de Probabilidades
Este jogo explora o conceito de Probabilidade, tendo como foco a
Probabilidade Condicional, com a construção da árvore de probabilidades. Pretende-
se , que ao final do jogo, o estudante saiba o conceito de Probabilidade Condicional.
45
É interessante que o professor já tenha abordado com seus estudantes o
conceito de Probabilidade condicional e a resolução de questões, envolvendo a
construção das árvores de possibilidades. Sugerimos algumas atividades propostas
no livro Lima et al ( 2006)..
O tempo estimado para a atividade é de duas aulas de 50 minutos; os
estudantes serão divididos em dois grupos que, por sua vez,serão subdivididos em
trios. Cada um dos dois grupos receberá um mural para construção da árvore de
possibilidades a partir das situações-problema recebidas. O professor convidará um
trio de cada grupo para receber a primeira questão, que será a mesma para os dois
grupos. Esses estudantes receberão cartelas e pincel,que usarão na montagem da
árvore. Para cada problema resolvido corretamente, o grupo recebe uma pontuação.
A seguir, serão apresentadas algumas sugestões de questões e suas
resoluções,que podem ser propostas no jogo.
QUESTÃO 1
Em uma determinada cidade, o número de homens é igual ao número de
mulheres. 5% dos homens são daltônicos e 0,4% das mulheres são daltônicas.
Sorteia-se, aleatoriamente, uma pessoa dessa cidade e verifica-se que é daltônica.
Qual é a Probabilidade de ter sido sorteada uma mulher?
Solução
Vamos resolver esse exemplo passo a passo. A primeira coisa a observar é
que o espaço amostral é formado por todos os moradores da cidade. Os eventos de
interesse são “homem” (H), “mulher” (M), “daltônico”, (D) e “não daltônico” (D ).
Para definir a partição apropriada, temos que observar quais são as
probabilidades a priori fornecidas no problema, ou seja, probabilidades dadas sem
conhecimento de qualquer outro evento. As probabilidades a priori se referem aos
eventos “Homem” e “Mulher”. Veja a seguir num diagrama de árvore.
46
Figura 3- Árvore de probabilidade- Questão 1
Logo P(D)=0,025 + 0,002=0,027
Agora, vamos calcular a Probabilidade pedida, P(M|D), que é uma
Probabilidade a posteriori, isto é, vamos atualizar a Probabilidade de o evento “ser
mulher” sabendo que ocorreu o evento D.
074,0027,0
002,0
)(
)()/(
DP
DMPDMP
QUESTÃO 2
Sabe-se que 80% dos pênaltis marcados a favor do Brasil são cobrados por
jogadores do Flamengo. A Probabilidade de um pênalti ser convertido é de 40% se o
cobrador for do Flamengo e de 70% em caso contrário. Um pênalti a favor do
47
Brasilacabou de ser marcado, qual a Probabilidade de o pênalti ser cobrado por um
jogador do Flamengo e ser convertido?
Solução
Vamos destacar os seguintes eventos:
(F): Cobrador é do Flamengo.
(F ): Cobrador não é do Flamengo.
(C): Pênalti é convertido
(C ): Pênalti não é convertido.
O diagrama apropriado para o problema em questão é dado na Figura 2.
Figura 4 -Árvore de probabilidades - Questão 2
Sejam:
)( CFP : a Probabilidade de o cobrador ser do Flamengo e o pênalti ser
convertidotemos que:
)( CFP 0,8 . 0,4= 0,32
48
QUESTÃO 3
Uma determinada fábrica produz peças tipo A e B nas proporções 1/3 e 2/3,
respectivamente. A Probabilidade de ocorrência da peça defeituosa do tipo A é de
20% e do tipo B é 10%. Retirando-se, ao acaso, uma peça produzida na fábrica, a
Probabilidade de ser defeituosa é de:
Solução
Vamos considerar os seguintes eventos:
(A): Peça sorteada ser do tipo A
(B): Peça sorteada ser do tipo B
(D): Peça sorteada ser defeituosa
(D ): Peça sorteada não ser defeituosa
O diagrama apropriado para o problema em questão é dado na Figura 2.2
Figura 5 - Árvore de probabilidades - Questão 3
49
Seja P(D) a Probabilidade da peça sorteada ser defeituosa, teremos, então
que:
P(D)=30
4
30
2
15
1 13,33%
QUESTÃO 4
Uma urna (I) contém 2 bolas brancas(B) e 3 vermelhas (V). Uma segunda
urna (II) contém 4 bolas brancas e 2 vermelhas. Escolhe-se, ao acaso, uma urna e
dela retira-se, também ao acaso, uma bola. Qual a Probabilidade de que ela seja
branca?
Solução
Figura 6- Árvore de probabilidades – Questão 4
Isso quer dizer que a Probabilidade da bola ser branca é de 8/15.
50
Ao trabalharmos com a árvore de probabilidades, precisamos conhecer
algumas regras que favorecerão o seu tratamento. O ponto de partida dessa árvore
é chamado raiz, que deveremos pensar em todo o nosso espaço amostral. No
desenho acima, vem representada pelo símbolo Ω. Dessa raiz saem as
ramificações, chamadas de galhos. Os números romanos colocados no final desses
primeiros galhos constituem o primeiro nível da árvore. Sobre esses galhos, coloca-
se a Probabilidade de cada um desses eventos acontecerem.
O segundo nível da árvore começa logo após os números romanos do
primeiro. A região entre galhos e os seguintes é chamada de nó.
As probabilidades referentes aos segundos galhos serão probabilidades
calculadas, sabendo-se que já ocorreu o primeiro evento, portanto, probabilidades
condicionais.
QUESTÃO 5
100 cobaias são tratadas por três produtos que provocam uma doença M. 50
são tratadas pelo produto P1 que provoca M com a Probabilidade de 0,25. 25 são
tratadas pelo produto P2 que provoca M com a Probabilidade de 0,3. Uma cobaia
tirada ao acaso tem a doença M. Qual é a Probabilidade de ter sido tratada por P1?
51
Solução
Figura 7- Árvore de probabilidades – Questão 5
M representa o evento a “ser tratado pelos produtos respectivos, mas não
contrair a doença M”.
M representa o evento “ser tratado pelos produtos respectivos e contrair a
doença M”.
Através das árvores, temos que 0,325 é a Probabilidade de uma cobaia,
tratada por alguns dos produtos, ter contraído a doença M. Temos que calcular,
ainda, a Probabilidade do produto utilizado ter sido P1.
Sabemos que: )(
)()/( 1
1MP
MPPMPP
Em que: )/( 1 MPP :representa a Probabilidade de ocorrer o evento P1, dado
que já ocorreu o evento M. Logo:
325,0
125,0)/( 1 MPP 384,0
52
QUESTÃO 6
Num jogo de diversão, dispomos de três caixas aparentemente idênticas. Elas
contêm respectivamente um, dois e três papéis, dos quais somente um em cada
caixa é um papel marcado. Uma partida consiste em o jogador escolher ao acaso
uma caixa e tirar, igualmente ao acaso, um papel dessa caixa. Calcular a
Probabilidade que o papel tirado seja o marcado.
Solução
Vamos considerar os seguintes eventos:
Bi(i=1,2,3): escolher a caixa nºi.
A: tirar um papel marcado
A : tirar um papel não marcado
Figura 8- Árvore de probabilidades – Questão 6
Portanto a Probabilidade de que o papel retirado seja o marcado P(A) será:
53
P(A)=18
11
9
1
6
1
3
1
CAPÍTULO 4
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
4.1.1 ANÁLISE DOS JOGOS
A aplicação dos jogos ocorreu em dois dias, totalizando quatro aulas de 50
minutos. O primeiro jogoaplicado foi o Sorteio na Caixa, pois abordava questões em
que o conceito de espaço amostral, casos favoráveis, Probabilidade na forma
percentual, eram bem evidentes e de fácil compreensão para o estudante. Ao final
de cada jogada, o estudante poderia verificar seu desempenho por meio de um
gráfico, exibido no próprio software.Em uma escala de 0 a 9,80% dos estudantes
ficaram com pontuação 7.
Em um momento deste jogo, a sorte também contava, pois havia um sorteio
eletrônico na caixa e, se a escolha do estudanteacontecesse, sua pontuação
aumentava, um estudante percebeu que se distribuíssem os elementos na caixa de
forma que a quantidade de cada um ficasse próxima, as chances de obter êxito no
sorteio era maior.
O jogo Probabilidade roxa foi o segundo a ser aplicado, pois já abordava
conceitos de Probabilidade de união de eventos e eventos independentes. Alguns
estudantes demostram dificuldadesnesse jogo, pois, em suas respostas,não
consideravam a interseção dos eventos.
O terceiro jogo aplicado foi Árvore de Probabilidades, que abordava conceito
de Probabilidade condicional. Esse jogo foi escolhido para ser trabalhado com a
turma, pois, depois de uma análise no livro didático, observamos que o autor
trabalhava Probabilidade condicional sem mencionar a utilização da árvore de
Probabilidade. Antes da aplicação do jogo, foi feita uma explanação para os
estudantes, do conceito de Probabilidade condicional e de como a construção da
54
árvore de Probabilidade facilita a compreensão de algumas questões. Inicialmente,
foi proposta a seguinte questão:
Uma urna (I) contém 2 bolas brancas(B) e 3 vermelhas (V). Uma segunda urna (II)
contém 4 bolas brancas e 2 vermelhas. Escolhe-se ao acaso uma urna e dela retira-se,
também ao acaso, uma bola. Qual a Probabilidadede que ela seja branca?
Na construção da árvore, os estudantes não se atentaram para o fato de que
a urna era escolhida ao acaso, fazendo com que a escolha da mesma influenciasse
no resultado.
Dos três jogos aplicados, Árvore de Probabilidade foi o jogo no qual os
estudantes tiveram uma maior dificuldade em desenvolver, pois abordava conceitos
de probabilidades mais avançados, que é condicionalidade de eventos.
4.1.2 Análise do questionário
Nesta seção, apresentamos o desempenho das questões propostas no
estudo ora apresentado:
QUESTÃO 01
Observe a seguinte tabela que mostra a distribuição dos estudantes de uma
determinada escola.
HOMENS MULHERES TOTAL
ENSINO FUNDAMENTAL 400 100 500
ENSINO MÉDIO 100 200 300
TOTAL 800
55
Ao sortear um estudante dessa escola, calcule a Probabilidade de ser:
a) Homem;
b) Estudante do ensino médio;
c) Homem e estudante do ensino médio;
d) Homem ou estudante do ensino médio;
e) Homem, sabendo que é estudante do ensino médio.
f) Estudante do ensino médio, sabendo que é homem.
Quadro 2 – Frequência de acertos dos estudantes na Questão 1
ITEM ACERTOS ERROS NÃO
RESPONDEU
A 9 3 0
B 8 4 0
C 8 4 0
D 4 8 0
E 3 5 4
F 3 3 6
56
QUESTÃO 02
Os estudantes da turma 9º ano C distribuem-se por idade e por sexo, de
acordo com a tabela seguinte:
14 anos 15 anos 16 anos
HOMENS 8 3 2
MULHERES 6 5 1
Escolhendo um estudanteda turma ao acaso, determine a Probabilidade de
que esse:
a) Tenha 16 anos;
b) Seja uma mulher;
c) Seja um homem de 14 anos;
Quadro 3 – Frequência de acertos dos estudantes na Questão 2
ITEM ACERTOS ERROS NÃO RESPONDEU
A 9 3 0
B 7 5 0
C 9 3 0
57
QUESTÃO 03
Num saco, estão 10 bolas, das quais 6 são azuis e 4 são verdes. Retiram-se,
sucessivamente, duas bolas. Responda os seguintes questionamentos:
a) Sabendo que não houve reposições das bolas retiradas, determine a
Probabilidade de saírem duas bolas da cor verde. (Expresse o resultado na
forma percentual)
b) Sabendo que houve reposições das bolas retiradas, determine a
Probabilidade de saírem duas bolas da cor verde. (Expresse o resultado na
forma percentual)
Quadro 4 – Frequência de acertos dos estudantes na Questão 3
ITEM ACERTOS ERROS NÃO RESPONDEU
A 3 8 1
B 4 4 4
C 7 0 5
QUESTÃO 04
Uma urna contém 5 bolas verdes e 7 bolas brancas. Retiramos duas bolas em
seguida, sem reposição. Utilizando a árvore de probabilidades, responda:
a) Qual a Probabilidade de aprimeira bola ser branca e a segunda ser verde?
58
b) Qual a Probabilidade de as duas bolas serem brancas?
Quadro 5 – Frequência de acertos dos estudantes na Questão 4
ITEM ACERTOS ERROS NÃO RESPONDEU
A 2 7 3
B 2 5 5
QUESTÃO 05
Existem três caixas idênticas. A primeira contém duas moedas de ouro, a
segunda contém uma de ouro e outra de prata, e a terceira contém duas moedas de
prata. Uma caixa é selecionada ao acaso e da mesma é escolhida uma moeda ao
acaso.
Responda, utilizando a Árvore de Probabilidades.
a) Qual a Probabilidade de a moeda escolhida ser de ouro?
b) Dado que a moeda escolhida foi de ouro, qual a Probabilidade de que ela
pertença àprimeira caixa?
59
Quadro 6 – Frequência de acertos dos estudantes na Questão 5
ITEM ACERTOS ERROS NÃO RESPONDEU
A 2 6 4
B 2 6 4
4.2 Discussão e análise dos resultados
De acordo com os resultados apresentados anteriormente,identificamos que
os estudantes tiveram uma facilidade maior em resolver a questão 01, por ser uma
questão que abordava, de forma mais evidente, o conceito de Probabilidade. Os
itens dessa questão foram apresentados de forma que a sua resposta influenciasse
na resposta do item anterior. Essa associação partiu da proposta de Vergnaud, ao
apontar que,quando o estudante se depara com determinada situação e ela ainda
não detém todas as competências necessárias para o tratamento imediato da
situação, ele é obrigado a refletir e explorar todos os conhecimentos de que já
dispõe sobre o problema dado, sendo conduzido ao êxito ou ao fracasso.
À medida que os itens dessa questão foram exigindo um conhecimento mais
amplo de Probabilidade, o índice de acertos dos estudantes foi diminuindo, como
pode ser observado nos itens d, eef da questão 1 (quadro 2).
No item D da questão 1, que abordava o conceito de Probabilidade de união
de eventos, um estudante resolveu da seguinte forma:efetuou a soma dos dois
60
eventos, porém não subtraiu a interseção dos eventos, o que ocasionou uma
resposta incorreta, conforme figura 9:
Figura9- Resposta do item D, questão 01
Na questão 2, os estudantesalcançaram um alto índice de acerto,
possivelmente porque a questão abordava somente o conceito de espaço amostral e
números de casos favoráveis para o calculo de Probabilidade. Esses valores eram
obtidos de forma imediata no quadro 3.
Nesses termos, verificamos pelos resultados dasquestões1 e 2, queo conceito
inicial de Probabilidade foi assimilado pelos estudantes, como também identificado
no jogo sorteio na caixa.
As questões 3, 4 e 5, abordaram a resolução a partir da construção da árvore
de Probabilidades e Probabilidade condicional, o índice de acertos foi baixo e a
quantidade de estudantes que não responderam taisquestões foi bastante alto.Isso
pode ser explicado pelo fato de que seria necessário um tempo ainda maior dos
estudantes em contato com situações que abordassem esses conceitos.
Destacamos ainda que, nesta pesquisa, não era nosso objetivo realizar um
estudo comparativo entre o desempenho dos estudantes nas situações de jogo e
nas questões apresentadas no questionário para identificar qual das duas opções
era mais eficiente no processo de compreensãode conceitosprobabilísticos pelos
estudantes, mas sim, analisar o processo de compreensão dos estudantes sobre
conceitos probabilísticos.
A análise do desempenho dos estudantes, nas situações propostas neste
estudo,indicanão só que os estudantes ainda apresentam muitas dificuldades na
compreensão dos conceitos de Probabilidade, mas também já apresentam muitas
evidências de que as ideias iniciais associadas a esse conceito estão em
61
construção, o que certamenteauxiliará numa compreensão mais consistente e
duradoura, quando, no processo de amadurecimento, estes estudantes conhecerem
outras situações relativas aosconceitos aqui estudados. Nesses termos, énecessário
que outras situações sejam propostas para que haja apropriação do estudante sobre
estes temas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa que, no momento, concluímos, buscou responder a seguinte
questão: Como ocorre a compreensão dos conceitos probabilísticos por estudantes
do 2º ano do Ensino Médio?
Na busca pela resposta a essa questão, este estudo foi organizado em dois
momentos, a saber: vivência de jogos matemáticos tratando de conceitos
probabilísticos com os participantes e elaboração, e aplicação de um questionário
sobre os mesmos conceitos.
Participaram da pesquisa 30 estudantes no primeiro momento e 12 no
segundo momento. A escolha dos estudantes, para participarem do segundo
momento, deu-se em função da adesão dos mesmos. No primeiro momento,
vivência de jogos matemáticos, os estudantes apresentaram maior motivação que
na resolução das questões apresentadas no segundo momento, embora, não seja,
nosso propósito tal comparação.
O objetivo do primeiro foi promover situações nas quais os estudantes
tivessem a oportunidade de se colocarem, trazendo à tona a compreensão que já
possuíam dos conceitos probabilísticos, guiando a elaboração e a análise do
segundo momento, principalmente, porque, no primeiro momento, os estudantes
foram organizados em grupo, o que pode estimular a participação dos mesmos nas
atividades propostas nos jogos e nos questionamentos levantados.
A análise dos resultados aponta que as situações do questionário (segundo
momento) nas quais sóse exigiam dos participantes apenas os conceitos de evento,
espaço amostral e probabilidade, são mais facilmente compreendidas pelos
estudantes. Já as questões, nas quais os estudantes necessitam mobilizar conceitos
62
mais sofisticados, como Probabilidade da união de eventos, Probabilidade da
intersecção de eventos e Probabilidade Condicional, requerem dos participantes
habilidades que eles ainda não construíram plenamente. Nesses termos, podemos
sintetizar, dizendo que os resultados indicam que as propostas desenvolvidas
tiveram importante contribuição na elaboração do conceito de probabilidade, pelos
estudantes participantes. Porém, para uma aprendizagem mais significativa, faz-se
necessário que o estudante conheça outras situações relativas aosconceitos ora
investigados.
Essa investigação teve como fundamentação a Teoria dos Campos
Conceituais, que foi proposta por GerárdVergnaud. Conforme Vergnaud, um
conceito não pode ser confundido com uma simples definição, de sorte que a
definição pode ser repetida pelo estudante, mesmo sem compreendê-la, o que não
acontece com o conceito, visto que o conceito é individual e considera variáveis que
são intrínsecas ao sujeito.
Assim, mesmo os participantes apresentando diversas dificuldades, como já
mencionamos, a leitura dos dados indicam que as respostas e estratégias utilizadas
por cada estudante evidenciam que eles estão no caminho que os leva á
compreensão dosconceitosrelativos à Probabilidade.
No decorrer deste estudo, surgiram outras questões que, embora nos
inquietassem, respondê-las nesta pesquisa iria de encontro aos objetivos propostos,
tais como: Qual seria o campo conceitual de Probabilidade? Qual sequência de
ensino seria mais indicada para o entendimento dos estudantes sobre os conceitos,
ora estudados? Qual a relação entre as formas didáticas utilizadas pelos professores
e aquelas empregadas pelos estudantes na resolução de situações probabilísticas?
Assim, as questões que aqui apresentamos ficam como indicações para
futuras investigações, com o intuito de compreendermos cada vez mais e, da melhor
forma possível, como cada estudante compreende os conceitos matemáticos e de
que forma possamos contribuir para que a repetição, a técnica e a simples
apresentação de definição cedam espaço para a compreensão conceitual, que,
certamente, motiva os estudantes e faz a Matemática assumir o seu lugar no campo
das ciências, que deixa de existir,quando são feitas questões cujas respostas
exigem apenas que sejam seguidos alguns passos e etapas para alcançá-las.
63
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