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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – DCIE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD
ANÁLISE DO PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA EM EDUCAÇÃO
AMBIENTAL (FEAMBI) PARA EDUCADORES DE ITACARÉ – BAHIA.
Paula Fabyanne Marques Ferreira - SEC-BA/FEAMBI [email protected]
Gustavo Péres de Aguiar - SEC-BA/FEAMBI [email protected]
Luiz Clemente Passos Bissoli – FEAMBI [email protected]
Resumo: Apesar da inserção oficial da educação ambiental em âmbito nacional, sabe-se
que, na prática, muitos são os desafios para uma implementação efetiva com resultados significativos. Muitas são as dificuldades encontradas pelos professores no processo pedagógico, desde a falta de acesso a conteúdos acadêmicos e reflexões produzidas na área socioambiental até orientações acerca de planejamentos metodológicos mais elaborados e consistentes. O entendimento acerca de questões socioambientais locais é urgente, como o tratamento dos resíduos sólidos, de água e esgoto, o desenvolvimento da agricultura sustentável, entre outras, especialmente, em uma cidade de grande atratividade turística. Neste estudo, busca-se analisar o desenvolvimento de uma sensibilização socioambiental entre educadores e alunos em suas respectivas unidades escolares, durante e após o processo de formação continuada. Até o momento, verificam-se avanços significativos na percepção socioambiental local, bem como crescente inserção de práticas pró-ambientais no lócus escolar, com expressivo envolvimento de docentes, pais e alunos.
Abstract: Despite the official inclusion of environmental education nationwide, it is known that
in practice, there are many challenges to effective implementation with significant results. Many are the difficulties faced by the teachers in the teaching process, since the lack of access to academic content and reflections produced in the environmental area to methodological guidance on planning more elaborate and consistent. Understanding about local environmental issues is urgent, as the treatment of solid residues, water and sewage, the development of sustainable agriculture, among others, especially in a city of great tourist attraction. This paper intends to analyze the development of environmental awareness among educators and students in their respective school units, during and after the process of continuing education. Until now, there are significant advances in local environmental perception as well as increasing participation of pro-environmental practices in the locus school, with significant involvement of teachers, parents and students.
Palavras-chave: Educação ambiental, Formação Continuada, Feambi, Itacaré.
Introdução
Nas últimas décadas observa-se um crescente interesse acerca das
questões socioambientais e estas, por sua vez, têm exercido maior influência
nas questões socioeconômicas. A proteção ao meio ambiente e medidas
visando à sustentabilidade, tanto na área urbana como na zona rural, têm se
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tornado um importante campo de atuação para os governos, indústrias,
agentes econômicos privados ou estatais, grupos sociais e indivíduos.
No Brasil, especialmente em decorrência da Conferência Rio-92, as
questões ambientais também ganharam mais visibilidade e materialidade e,
nesse cenário, a educação surge como uma importante ferramenta pró-
ambiental. A valorização da educação ambiental (EA) passa a ter um papel de
maior expressividade no ensino Formal (Fundamental e Médio) com a
introdução dos temas transversais difundidos pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais e pela Política Nacional de Educação ambiental (Lei 9.795 de 27 de
abril de 1999), caracterizada por reflexões mais aprofundadas em termos
didáticos e pedagógicos.
Em resposta às premissas da sustentabilidade, buscando soluções para o
Brasil, também foram criadas nas últimas décadas, ações de desenvolvimento
sustentável com abordagem territorial, muitas delas apoiadas por programas
governamentais decorrentes de políticas públicas especialmente formuladas nessa
direção (SILVA JÚNIOR et al., 2011). Assim, a educação ambiental passa a ser
um componente essencial e permanente, devendo estar presente, de forma
articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, na zona rural
e urbana, em caráter formal e não formal. O objetivo seria despertar a consciência
de que o ser humano é parte do meio ambiente, visando superar a visão
antropocêntrica.
Contudo, apesar da inserção oficial da educação ambiental em âmbito
nacional, sabe-se que, na prática, muitos são os desafios para uma
implementação efetiva com resultados significativos. Evidentemente, muitos são os
avanços ao longo desses anos, entretanto, muitas também são as dificuldades
encontradas pelos professores no processo pedagógico, desde a falta de acesso a
conteúdos acadêmicos e/ou reflexões produzidas na área socioambiental até
orientações acerca de planejamentos metodológicos mais elaborados e
consistentes.
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É necessário sair da teoria e passar à prática socioambiental. Sob essa
perspectiva, é importante, claro, obter o conhecimento didático e ecológico
sobre os problemas ambientais globais, bem como sobre a agenda da
sustentabilidade nacional e inovações didáticas. Contudo, as questões locais e
certamente mais urgentes, como o tratamento dos resíduos sólidos, de água e
esgoto, o desenvolvimento da agricultura sustentável, entre outras, devem ser
priorizadas, visto que a construção de uma consciência coletiva sustentável
dependerá do ativismo ecológico diário, da ação do governo e da participação
da comunidade. Essa consciência pró-ambiental que levará à formação de uma
sociedade cidadã e sustentável, e para isso, o papel do docente,
especialmente em uma comunidade como Itacaré, é fundamental.
Dessa forma, a educação ambiental também está relacionada com a prática
das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhora da qualidade de
vida e desenvolvimento de processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum
do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
O presente projeto busca difundir um movimento socioambiental iniciado no
município de Itacaré em meados de 2003, que vem, através da educação,
procurando sensibilizar a comunidade acerca de questões socioambientais globais
e locais. O Curso de Formação Continuada em Educação Ambiental (FEAMBI) foi
implementado em 2011, considerando-se que, atualmente, não há como abordar
uma educação de qualidade sem mencionar uma formação continuada de
professores, visto que esta, já vem sendo considerada, juntamente com a
formação inicial, uma questão fundamental nas políticas públicas para a educação
(FOGAÇA, 2012). É importante destacar, nesse sentido, como bem afirma
Caldeira (1993), que a Formação Continuada não se trata, tão somente, de um
curso de atualização, mas, sobretudo, de um processo, construído no cotidiano
escolar de forma constante e contínua.
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Acredita-se então, que educação ambiental transcende seu aspecto
puramente comportamental para chegar a outras esferas (e compromissos), como
a política e a cultural, pois a educação não pode existir para outro motivo que não
o de formar indivíduos críticos de seu papel histórico. Deve subsidiá-los com um
repertório que permita a reflexão crítica do desafio existente nos períodos de
transição e, a partir de seus próprios impulsos, integrar esse processo rumo à
construção de uma realidade mais condizente com sua noção de equilíbrio e
sobrevivência.
A atual parceria com a Secretaria Municipal de Educação e Secretaria
Municipal de Meio Ambiente de Itacaré nos permite contemplar todas as salas de
aula do município, através da formação continuada dos professores, que,
respaldados pelas orientações do curso, podem desenvolver projetos paralelos
nas escolas nas quais atuam, contemplando as séries iniciais e abrangendo outros
segmentos da comunidade.
Nesse contexto, busca-se subsidiar a prática de educação ambiental nas
escolas através da qualificação do quadro docente municipal, propiciando o
acesso à produção científica e o aprimoramento das práticas docentes. A
sensibilização dos professores é de grande relevância no que concerne a
qualificação em termos de fundamentação teórica e o desenvolvimento de práticas
pedagógicas pró-ambientais orientadas e pontuais.
Neste estudo, pretende-se analisar e monitorar o desenvolvimento de uma
sensibilização socioambiental entre educadores e alunos em suas respectivas
unidades escolares, durante e após etapas do processo de formação continuada
FEAMBI, que visa à inserção de um paradigma pró-ambiental nas práticas
pedagógicas de professores do ensino básico, fundamental e médio.
Proporcionar um melhor entendimento sobre uma integração equilibrada
entre homem e ambiente através de uma análise sistêmica, identificar as múltiplas
dimensões da sustentabilidade ambiental (ecológica, social, ética, cultural,
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econômica, espacial e política), subsidiar o embasamento teórico para o
desenvolvimento de práticas pedagógicas orientadas, desenvolver maior
envolvimento e a participação social, estão entre as premissas do projeto, que visa
melhorias das condições socioambientais e de qualidade de vida de Itacaré.
Itacaré (BA) é uma pequena cidade localizada no litoral sul da Bahia e tem
sua gênese urbana relacionada ao florescimento, auge e declínio da lavoura
cacaueira. Possui uma grande diversidade ecológica caracterizada por um
conjugado de ecossistemas de expressivo valor científico e econômico. E, em
função deste grande potencial paisagístico, vive desde a década de 1990 uma
transição funcional promovida por ações governamentais do Estado da Bahia,
pautadas nas perspectivas da indústria do turismo (FERREIRA, 2011).
Ainda segundo Ferreira (2011), a súbita inserção no setor tem
promovido uma reorganização socioespacial caracterizada por uma intensa
expansão urbana e seus inerentes impactos socioambientais, visto que há
geralmente, no bojo do crescimento populacional, um aumento da
informalidade, da favelização, dos índices de criminalidade e da degradação
ambiental. Segundo dados do IBGE (2010), a população urbana praticamente
dobrou nos últimos dez anos. Estudos indicam que grande parte da população
local se considera despreparada para lidar com essas transformações que o
município vem sofrendo, tanto nos aspectos sociais, políticos, econômicos,
culturais e ambientais (ITI, 2005; RAMOS, 2005; OLIVEIRA, 2008; FERREIRA;
MATIAS, 2011).
Metodologia
A metodologia consiste em criar estratégias didáticas para reflexão,
experimentação e ação, a partir de conhecimentos pretéritos e novos. Os
encontros são quinzenais, com aulas expositivas, modulares, além de oficinas e
atividades em campo, representando um total de 120 horas presenciais a serem
desenvolvidas anualmente, por meio de atividades teóricas e práticas, como visitas
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técnicas, atividade de campo, intercâmbios, troca de experiências, pesquisas
socioambientais participativas, planejamento de aulas, seminários, oficinas, entre
outras. A Formação Continuada é implementada em regime de alternância e
atividades extraclasse (atividades não presenciais) destinadas às atividades
realizadas nas salas de aula e comunidades, consideradas como atividades
avaliativo-indicadoras.
O curso FEAMBI - Formação Continuada em Educação Ambiental de
Itacaré conta atualmente com Secretaria Municipal de Educação e com a CEAI -
Coordenação de Educação Ambiental de Itacaré (Secretaria de Meio Ambiente de
Itacaré/ FEAMBI): Prof. M.a. Paula F Marques Ferreira (Coordenação); Agentes de
Educação Ambiental: Prof. M.e. Gustavo Péres de Aguiar e Prof. Luiz Clemente
Passos Bissoli e com a equipe da Secretaria Municipal de Meio Ambiente,
Aquicultura e Pesca, que vem trabalhando veementemente para estender os
trabalhos para toda a zona rural do município. Vale destacar que a Equipe FEAMBI
vem identificando problemas socioambientais existentes no município há dez anos,
especialmente enquanto docentes nas escolas municipais.
O foco central do Programa é o exercício da cidadania, trabalhando o
conteúdo e as abordagens didáticas com o Tema Transversal Meio Ambiente.
Como forma de trabalho, propõe-se a organização de grupos de estudo
interdisciplinares liderados por coordenadores gerais, responsáveis por
promover momentos de estudo coletivos, debates, simulações e estudos do
meio. Os grupos interdisciplinares de estudo podem ser compostos por escolas
ou por polos.
A composição depende da Secretaria Municipal de Educação, ou de
acordos feitos por intermédio dos polos, considerando que o ideal é que os
professores da mesma escola façam parte do mesmo grupo (BRASIL, 2001).
Entre as principais referências estão: Guia do Formardor (BRASIL, 2001),
Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
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Responsabilidade Global (TEASS), Carta da Terra, Cartas das
Responsabilidades Humanas e Agenda 21.
Sob esta perspectiva, busca-se neste projeto o respaldo teórico em
políticas públicas em EA (Educação Ambiental). A Secretaria de Educação
Fundamental do Ministério da Educação preparou o Programa Parâmetros em
Ação - Meio Ambiente na Escola, para as secretarias de educação implantarem
a formação continuada de professores, de modo articulado com o Programa
Parâmetros em Ação. O referido programa foi planejado com o objetivo de
estimular o compromisso dos educadores com problemáticas ambientais locais
e, tem por finalidade apresentar opções de estudo do Tema Transversal Meio
Ambiente para grupos de professores e especialistas em educação, de modo a
servir de instrumento para o desenvolvimento profissional, bem como para a
melhoria da qualidade de ensino e da qualidade de vida nas comunidades
(BRASIL, 2001).
É necessário propor leituras, apresentar vídeos, reflexões, trabalhos
coletivos, interações, trocas e situações-problema, considerando as
representações, os conhecimentos e os pontos de vista de cada professor. Além
de estimular as trocas de informações, ideias e experiências, pretende-se
incentivar o registro escrito das reflexões dos educadores, bem como incitar o
compromisso com a autoformação, ao proporcionar o devido acesso à produção
acadêmica e científica acerca da temática, bem como ao embasamento teórico
sobre o conhecimento ecológico e geográfico do espaço no qual se encontram.
A estratégia metodológica para estruturação de indicadores, avaliação e
acompanhamento do curso tem se baseado em questionário indicador aplicado
(previamente e posteriormente ao curso) aos profissionais envolvidos,
relacionando suas percepções sobre a temática socioambiental local. A análise
concernente aos educandos envolve depoimentos e relatos dos educadores sobre
o cotidiano e resultados das atividades desenvolvidas. Outras estratégias têm sido
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avaliadas no momento, visando ampliar as atividades do curso e acompanhar os
novos procedimentos.
Resultados e Discussão
Num primeiro momento da Educação Ambiental, a noção de natureza
estava relacionada aos recursos naturais. Desde que temas específicos
relacionados com os discursos contemporâneos sobre a natureza, como a
biodiversidade e os transgênicos ganharam o espaço público, pode-se afirmar
que a Educação Ambiental se viu diante de novos desafios teóricos, políticos,
ecológicos, sociais, culturais e pedagógicos (REIGOTA, 2010).
A escola está desempenhando vários e novos papéis na sociedade
atual, pois vem sendo campo de constante mutação e o professor tem um
papel central, no que concerne uma mudança de atitude e pensamento dos
alunos, de modo que precisa estar preparado para os novos e crescentes
desafios (FOGAÇA, 2012). Nesse cenário, há a necessidade de um contínuo
aprimoramento profissional, bem como de reflexões críticas sobre a própria
prática pedagógica, pois melhorias efetivas do processo ensino-aprendizagem
acontecerão apenas pela ação do professor, ao superar o distanciamento entre
contribuições da pesquisa educacional e a sua utilização. E, sobretudo,
implicando que o professor seja também pesquisador de sua própria prática,
visto que, em geral, os professores têm uma visão simplista da atividade
docente (SCHNETZLER, 2000).
Trabalhos direcionados à formação continuada em Educação Ambiental
(EA), tal qual um projeto-processo educativo, se alicerçam em valores de
respeito e proteção a todas às formas de vida, bem como na reflexão sobre o
desenvolvimento científico, tecnológico, econômico e na equidade de acesso a
condições de vida digna para as comunidades. Trata-se de um novo conceito
de “Ser e estar no mundo”, em que sejam retomados os princípios de
interconectividade entre os integrantes da biosfera, especialmente para o
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professor, que precisa incorporar novos paradigmas, para que possa então,
transmiti-los, visando à melhoria das condições ambientais.
Segundo Lima (2008), estudos em psicologia ambiental enfatizam a
importância da educação para aquisição de comportamentos que modifiquem a
relação do ser humano com o ambiente. Buscando corretamente hoje, não um
relacionamento com o ambiente que apenas preserve o que temos, mas também
que nos permita recapturar de fato o que já foi supostamente perdido (HOLT;
WINSTON, 1974).
Percebe-se então, a necessidade de uma ação educativa permanente, pela
qual se busque uma tomada de consciência da realidade sistêmica, do tipo de
relações que os homens estabelecem entre si e com a natureza, dos problemas
derivados de ditas relações e suas causas mais profundas. Assim, acredita-se que,
mediante uma prática pedagógica capaz de vincular o educando à comunidade,
bem como aos seus valores e atitudes, pode-se promover um comportamento
dirigido a uma transformação dessa realidade, tanto em seus aspectos naturais
como sociais, desenvolvendo no educando as habilidades e atitudes necessárias
para a referida transformação.
Focalizando os sistemas de ensino e o ponto de vista de gestores
estaduais de EA, em diálogo com a educação não formal, a formação
continuada de professores em educação ambiental, a inserção qualificada da
EA no currículo, o estímulo à criação e fortalecimento de Com-Vidas (Comissão
de Meio Ambiente e Qualidade de Vida) nas escolas, a institucionalização da
EA nas secretarias estaduais (e municipais) de educação (e meio ambiente) e
o monitoramento e avaliação das ações e projetos de EA figuram como
prioridades para o planejamento e gestão das políticas (BARBOSA, 2008).
Como indicador oficial na Educação Formal, considera-se neste caso, o último
Ideb: Itacaré está entre os municípios brasileiros que tiveram a melhor
evolução no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A
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pontuação de Itacaré subiu de 2,6, em 2009, para 4,6 em 2011, atingindo a
meta estabelecida para 2021.
A Educação Ambiental é vista hoje como uma possibilidade de
transformação ativa da realidade e das condições da qualidade de vida, por meio
da conscientização advinda da prática social reflexiva embasada pela teoria
(LOUREIRO, 2006). Consoante o autor, essa conscientização é obtida com a
capacidade crítica permanente de reflexão, diálogo e apropriação de diversos
conhecimentos. Esse processo torna-se fundamental para se formar sociedades
sustentáveis, ou seja, orientadas para enfrentar os desafios da
contemporaneidade, garantindo qualidade de vida para esta e futuras gerações.
Sob essa perspectiva, a educação ambiental deve ser entendida em seu sentido
mais amplo, voltada para a formação de pessoas para o exercício da cidadania
responsável e consciente, e para uma percepção ampliada sobre os ambientes no
qual estão inseridas.
É necessário contribuir com a organização de grupos, voluntários,
profissionais, associações, cooperativas, comitês, entre outros – que atuem em
programas de intervenção em educação ambiental, apoiando e valorizando
suas ações. Cresce, assim, a importância da educação ambiental
interdisciplinar e, por conseguinte, a participação das Secretarias Municipais de
Meio Ambiente no âmbito educacional, sendo tal participação, inclusive, uma
tendência no cenário nacional (BRASIL, 2005).
Desta forma, buscou-se um trabalho vinculado também à Secretaria
Municipal de Meio Ambiente, Aquicultura e Pesca de Itacaré. Esta vem, desde
o início de 2013, empreendendo esforços para fortalecer o presente projeto,
possibilitando a participação de seus funcionários nos encontros realizados
pelo Feambi como cursistas e palestrantes, ampliando a discussão acerca do
conhecimento ecológico local, questões ambientais locais, aspectos legais e
concernentes à regulamentação de política estadual de educação ambiental, a
legislação local, além de desenvolver projetos conjuntos e paralelos
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relacionados à educação ambiental, contemplando as escolas municipais de
Itacaré.
Existe a necessidade de problematizar a realidade, definir
coerentemente os conceitos e articular uma interpretação concisa dos
processos ecológicos e sociais à degradação do ambiente para a construção
de uma prática pedagógica efetiva que ultrapasse os “slogans e clichês” e que
permita, de fato, uma melhor compreensão das relações entre ambiental-
sustentável, tempo-espaço, necessidade-desperdício e principalmente, custo-
benefício. A compreensão do meio ambiente em sua totalidade desenvolve-se
na interação contínua entre uma sociedade em movimento e um espaço físico
que se modifica permanentemente.
No espaço geográfico, muitas são as “territorialidades”, de acordo com cada
análise procedida, com afirma Duncan (2011). Nesse contexto, o desenvolvimento
sustentável é um grande desafio que deve considerar o “território de identidade”
como um dos mais representativos, diante da gama de dimensões analíticas, como
ambiente, economia, política, sociedade, história, cultura, entre outros. No entanto,
a EA não tem sido incluída como uma abordagem interdisciplinar e transversal nos
currículos dos cursos de formação de professores mais tradicionais, nem mesmo
naqueles que seguem as novas diretrizes para formação docente a partir de uma
base comum filosófica, sociológica, política e psicológica, articulada com os
conteúdos de formação específica (TAGLIEBER, 2003).
É bem verdade que a incorporação de comportamentos, valores e
atitudes, nesse sentido, destinem-se a uma prática cotidiana e geralmente fora
das salas de aula e das escolas. Contudo, o desenvolvimento de projetos como
este, apesar de suas limitações, contribui para que as questões
socioambientais locais e as atividades em educação ambiental ganhem
visibilidade e incitem discussões acerca da necessidade de planejamentos
mais elaborados e encaminhamentos metodológicos para questões pró-
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ambientais e, principalmente, incentivem maior participação de populares nas
tomadas de decisão.
Como afirma Zaoual (2003), os espaços da desigualdade são interativos
e múltiplos, visto que a pobreza é irredutível a uma mera insuficiência de renda.
É necessário dar voz àqueles que são afetados diretamente por uma dada
situação, reconhecendo que todo o contexto da pessoa deve ser tomado em
consideração, especialmente sua capacidade de ser livre, de mudar e agir
sobre uma situação, participando efetivamente de sua vida social.
Pode-se afirmar que, até o momento, verificam-se avanços significativos na
percepção socioambiental local, bem como crescente inserção de práticas pró-
ambientais no lócus escolar, com expressivo envolvimento de docentes, pais e
alunos. Sabe-se a importância da participação efetiva das comunidades, na
discussão e elaboração de propostas que possam contribuir com melhorias nas
condições socioambientais. Entretanto, sabe-se, da mesma maneira, que essa
participação é um projeto em longo prazo, um caminho a ser percorrido, que
requer persistência e criatividade, atitudes imprescindíveis para superar uma
cultura que nunca valorizou uma cidadania ativa.
Gatti (2003) enfatiza as limitações do embasamento teórico na literatura
em psicologia social, que atenta para o fato de que esses profissionais são
pessoas integradas a grupos sociais de referência, nos quais se gestam
concepções de educação, de modos de ser, que se constituem em
representações e valores que filtram os conhecimentos que lhes chegam.
Considerações Finais
Seguindo este pensamento, faz-se necessária uma reflexão sobre como
o processo de Formação Continuada em Educação Ambiental depende,
sobretudo, de compreender a história de configuração socioespacial e o
modelo de desenvolvimento das cidades onde será desenvolvido
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(considerando suas particularidades em termos gerais) e os padrões internos
de diferenciação social. Portanto, é necessário considerar que, especialmente
no caso de cidades como Itacaré, os conhecimentos adquirem sentido ou não,
são aceitos ou não, são incorporados ou não, em função de complexos
processos, não apenas cognitivos, mas, principalmente, socioafetivo e
culturais.
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