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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE MONOGRAFIA DE PÓS - GRADUAÇÃO Análise Econômica de Projetos Sociais: Um olhar sobre as melhores práticas. Gustavo Crespo Ribeiro Portela Matrícula nº: K215880 ORIENTADOR (A): Prof. Marcelo Saldanha Setembro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

MONOGRAFIA DE PÓS - GRADUAÇÃO

Análise Econômica de Projetos Sociais: Um olhar sobre as melhores práticas.

Gustavo Crespo Ribeiro Portela Matrícula nº: K215880

ORIENTADOR (A): Prof. Marcelo Saldanha

Setembro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

MONOGRAFIA DE PÓS - GRADUAÇÃO

Analise Econômica de Projetos Sociais: Um olhar sobre as melhores práticas.

Gustavo Crespo Ribeiro Portela Matrícula nº: K215880

MONOGRAFIA apresentada como

requisito final para obtenção de grau na

disciplina Metodologia da Pesquisa II do

Curso de Pós-Graduação Lato Senso em

Gerenciamento de Projetos

ORIENTADOR (A): Prof. Marcelo Saldanha

Setembro 2010

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As opiniões expressas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade do autor.

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Dedico este trabalho a meus pais que sempre me apoiaram em todos os momentos da vida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Fernanda Montanholi pela paciência e dedicação ao longo dos últimos anos e a toda minha família

pelo apoio e incentivo ao longo desses anos.

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RESUMO Com a retomada da economia brasileira nos últimos anos, a demanda por projetos sociais que

venham de alguma forma amenizar as grandes desigualdades existentes no nosso país cresce

fortemente. Contudo, poucos são aqueles que conseguem imprimir a suas idéias, conceitos

econômicos, que permitam analisar o custo-benefício desses projetos de forma que possam ser

analisados e comparados pelos seus stakeholders. Portanto, a maioria das ferramentas disponíveis

de analise econômica de projetos não se aplica diretamente aos projetos sociais. É necessária uma

adaptação e reformulação de alguns conceitos para que trabalhemos com esta temática o objetivo

deste trabalho é consolidar e descrever de forma critica as principais ferramentas de analise

econômica de projetos sociais de acordo com a bibliografia existente.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 8

CAPITULO I - CARACTERISTICAS DE UM PROJETO SOCIAL. ....................................................... 11 I.1 CRITÉRIOS DA AVALIAÇÃO. ........................................................................................................... 12 I.2 GESTÃO DE PROJETOS SOCIAIS. .................................................................................................. 13

CAPITULO II - INFORMAÇÔES NECESSÀRIAS PARA UMA ANALISE ECONOMICA .................... 15 II.1 PÚBLICO-ALVO. ........................................................................................................................... 15 II.2 OBJETIVOS. ............................................................................................................................... 116 II.3 INDICADORES. ........................................................................................................................... 117 II.4 INDICADORES QUALITATIVOS E QUANTITATIVOS. ......................................................................... 117 II.5 FONTES DE INFORMAÇÃO. ............................................................................................................ 18 II.6 CUSTOS. ................................................................................................................................... 119

CAPITULO III – AS MELHORES PRATICAS EM ANALISE ECONOMICA DE PROJETOS SOCIAIS..21 III. 1. AVALIAÇÃO DE IMPACTO. .................................................................................................................. 21 III.1.1 - AVALIAÇÃO EX-ANTE. ............................................................................................................. 22 III.1.2 - AVALIAÇÃO EX-POST. ................................................................................................................. 23 III. 2- MÉTODO EXPERIMENTAL OU DE SELEÇÃO ALEATÓRIA. ........................................................................ 23 III. 3 - MÉTODO NÃO EXPERIMENTAL OU DE SELEÇÃO NÃO ALEATÓRIA. ......................................................... 24 III. 4 - MÉTODO DE DIFERENÇAS EM DIFERENÇAS. ....................................................................................... 26 III.5 - LIMITES DA ANÁLISE ESTATÍSTICA. .................................................................................................... 26 III. 6 - AVALIAÇÃO DE RETORNO ECONÔMICO. ............................................................................................. 27 III.6.1 - VALOR PRESENTE LÍQUIDO. ............................................................................................. 28 III. 6.2 - TAXA INTERNA DE RETORNO. ........................................................................................... 30

COMENTÁRIOS FINAIS ........................................................................................................................ 32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................................................... 33

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Introdução

Ter uma vida digna, ou seja, uma vida onde é direito do cidadão viver de

forma razoável e dentro dos limites humanos passa por lutar pela satisfação das

necessidades básicas. No Brasil, poucos têm estas necessidades plenamente

satisfeitas, se movendo para níveis crescentes de consumismo e individualismo.

Contudo, há aqueles que lutam pela conquista de uma vida digna para todos, o que

requer persistência, partilha, solidariedade, e se empenham para isso (CANDAU,

1995).

Nos últimos anos o terceiro setor vem cada vez mais ganhando forças no

Brasil, sendo um ente de suma importância no alcance do desenvolvimento e

inclusão social para os inúmeros cidadãos que vivem a margem da sociedade.

Através da elaboração projeto social, organizações não governamentais e

instituições públicas desenvolvem meios capazes de combater os graves problemas

sociais instalados em determinada comunidade.

Conforme Lemos (1995, p.16):

“Um projeto comunitário precisa ser visto como uma ação

cuja validade dependerá do processo ou maneira como o

projeto foi elaborado, antes de ser entendido como um

instrumento que a comunidade pode usar para apresentar

as suas reivindicações ou intenções no futuro, isto é,

planejar o atendimento das necessidades”.

Desta maneira, um projeto social bem sucedido desenvolve-se através do

diagnóstico (identificação do problema e estudo da viabilidade de sua solução);

prognóstico (elaboração do projeto, através da redação estruturada de uma proposta

de trabalho); análise (avaliação prévia do projeto, atividade geralmente executada

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por quem vai financiá-lo); execução (implementação do projeto); avaliação (análise

finais dos resultados ou impostos produzidos pelo projeto, geralmente feita por quem

financiou o projeto) (LEMOS, 1995).

Por meio destas medidas é possível formular uma solução adequada a cada

realidade comunitária através da elaboração de um projeto social, considerado um

eficiente instrumento para a captação e planejamento de recursos.

Avaliar economicamente um projeto social significa medir cientificamente o

retorno econômico e o impacto desse projeto, comparando seus custos e benefícios.

A avaliação econômica pode ser uma ferramenta importante na administração

eficiente dos recursos escassos e na tomada de decisões com relação à

operacionalização de projetos.

A avaliação econômica auxilia na prestação de contas do projeto social para o

doador, para a sociedade e para os grupos assistidos. Ela adiciona conteúdo para a

divulgação dos resultados obtidos e assim pode garantir a continuidade dos projetos

e a manutenção da organização social. A avaliação também tem um papel

importante para os próprios gestores de projetos, pois serve também para orientá-los

quanto à eficiência de seus programas e, principalmente, fornece informações e

subsídios que os ajudem a atingir seus objetivos. Desta forma, o foco de uma

avaliação econômica está menos relacionado ao entendimento de como o programa

funciona em profundidade e mais interessado em medir seu impacto e seu retorno

econômico.

O processo de avaliação implica a coleta sistemática das informações

relevantes e o estabelecimento de parâmetros de comparação dos resultados do

projeto. Como condição necessária para o uso adequado dessas informações deve

estar á definição precisa do objetivo do projeto. Cabe aos gestores e tomadores de

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decisão usar as informações geradas e as comparações, para fazer julgamentos e

formular possíveis aperfeiçoamentos no projeto.

A avaliação econômica serve para que saibamos se o projeto social está

funcionando da maneira esperada pelos seus gestores. Se a avaliação econômica

indicar que um projeto está em desacordo com os parâmetros previamente

estabelecidos, ele pode ser aperfeiçoado, corrigido ou mesmo vir a ter seus recursos

redirecionados para outro projeto. Além disso, a avaliação adequada do retorno

desse projeto (análise de custos e benefícios) pode ser mais uma ferramenta na

busca de novos recursos.

A avaliação econômica não pode ser vista como a salvação ou a derrota de

um projeto. Seu intuito é fornecer informações aos gestores, formuladores e

financiadores. Cabe a esses atores fazer o uso mais adequado desses dados, tendo

em vista os objetivos e parâmetros do programa. A modificação ou continuação dos

projetos pode depender dos resultados da avaliação. Daí a necessidade de que ela

seja feita de forma bastante criteriosa.

Este trabalho tem como foco principal, apresentar algumas das técnicas mais

comumente usadas neste processo e para tal discorre também sobre a

caracterização de um projeto social e as principais informações que auxiliam na

construção de uma avaliação econômica e impacto social.

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Capitulo I – CARACTERISTICAS DE UM PROJETO SOCIAL.

O objetivo primordial de um projeto social é buscar por meio de um conjunto

articulado de atividades, mudar e transformar uma determinada realidade, reduzindo

ou eliminando um déficit, ou solucionando um problema, para satisfazer

necessidades de grupos que não possuem meios para solucioná-las por intermédio

do mercado (CEPAL, 1995; NOGUEIRA, 1998).

Muitas vezes, os termos projetos, programas e políticas sociais são

confundidos ou mal interpretados. Um programa social é um conjunto de projetos; e

uma política social, por sua vez, um conjunto de programas. Projetos e programas

são a visão pratica das políticas sociais. Um projeto envolve ações reais,

desenvolvidas em tempo e espaço determinado, de acordo com as restrições

orçamentárias estipuladas. Os programas, em geral, envolvem um aspecto temporal

mais longo do que nos projetos. Pode-se, portanto, analisar um programa por meio

do estudo dos projetos que o compõem (CEPAL, 1995, 1998).

Se faz necessário também, evidenciar a distinção entre as áreas de atuação

dos projetos, pois apresentam-se na maioria das vezes em um campo muito

diverso. Não havendo consenso sobre a questão na literatura pertinente, a maioria

das fontes que tratam sobre o tema, falam de projetos sociais relacionados à

iniciativa privada. Portanto, as duas maneiras mais usuais de se classificar os

projetos são: com relação ao seu objeto de atuação (saúde, educação, meio

ambiente, cultura) ou com relação às características peculiares da população-alvo

(crianças, adolescentes, portadores de deficiência, idosos).

Em relação às etapas do ciclo de um projeto, muitas são as divisões

apresentadas pelos autores investigados. Este trabalho adota a seguinte divisão,

sugerida pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID): identificação de

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idéias do projeto, definição de objetivos, desenho, análise e aprovação, execução e

avaliação ex post (BID/ILPES, 2000).

I. 1 - Critérios de avaliação

Todo projeto social, em sua concepção apresenta um processo de avaliação,

que na maioria das vezes, fará com que se permita de forma mais adequada a

mensuração de seus resultados e uma melhor utilização dos recursos. Além disso,

o processo de avaliação, permite também que se municie de forma adequada os

formuladores e gestores do projeto, com informações importantes para o desenho

de futuras iniciativas ou para correção de cursos de atuação, como um mecanismo

de retroalimentação (COHEN E FRANCO, 1998).

Existem diversas metodologias e opiniões a respeito dos critérios para a

avaliação de projetos sociais. Alguns, no entanto, permanecem definidos de forma

nebulosa e de complicada atuação operacional, além de existirem muitas

divergências em torno de suas definições.

O critério mais comumente utilizado é a eficácia (MOKATE, 2002). É também

um dos únicos sobre o qual há consenso. A eficácia relaciona-se ao grau em que se

atingem os objetivos de um projeto em um determinado período de tempo, com a

qualidade esperada, independentemente de seus custos.

Já o conceito de eficiência, leva em conta duas dimensões básicas:

resultados do projeto (bens e serviços produzidos) e recursos utilizados (insumos e

atividades). Portanto, está relacionado à maneira como os objetivos são alcançados

e remete à capacidade de selecionar e usar os melhores meios, com os menores

custos possíveis, para se realizar uma tarefa ou propósito.

Vale ressaltar que, no caso de projetos sociais, um custo é uma variável que

pode ser contabilizada tanto pelo desgaste quanto pelo sacrifício de um recurso,

seja ele tangível ou intangível: tempo, recurso ambiental, recurso financeiro, capital

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social, confiança. Sendo assim , custos e benefícios não deveriam ser medidos

apenas em termos financeiros, devendo também ser considerados segundo

dimensões sociais e psicológicas.

No que se refere à efetividade, para MOKATE (2002), é apenas um sinônimo

para eficácia. Na visão da Unicef, efetividade e impacto podem ser considerados

sinônimos, e expressam quanto o projeto tem efeitos (positivos) no ambiente

externo. COHEN E FRANCO (1998) determinam que a efetividade é a relação entre

os resultados e o objetivo. No conceito adotado pela CEPAL (1998:18) a efetividade

supõe a eficiência e a eficácia e a define como "a capacidade organizacional para

ser eficiente e eficaz ao longo do tempo, alcançando níveis de impacto elevados e

sustentados".

I. 2 - Gestão de projetos sociais

A gestão de um projeto social tem como principal efeito dotá-lo de unidade e

coerência em determinado ciclo de ação. Um projeto usualmente tem como objeto

um conjunto de produtos, resultados (previstos nos objetivos e metas) e impactos

(mudanças na realidade efetivamente alcançadas). A gestão deve assegurar que

estes produtos, resultados e impactos estejam de acordo com a concepção e os fins

do projeto, garantindo sua eficácia e efetividade, por meio de uma adequada

combinação de recursos

É importante ressaltar que os processos mudança são implementados em

uma estrutura social e material já existente e que possui suas especificidades. A

relação dos integrantes da estrutura social focada gera uma determinada cultura e

um clima organizacional específico que em conjunto com os processos, fazem com

que os atores da estrutura cumpram uma série de funções que permitem a

integração das ações visando a maximização do atingimento dos objetivos.

Geralmente se tem uma tipologia de projetos baseada em duas dimensões:

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• A capacidade de programação das tarefas — dada pelas exigências de

variação em sua execução, diferindo com relação ao grau em que são

suscetíveis à rotinização ou formalização;

• A interação com os destinatários da ação — determina a relação entre

operador e destinatário, assim como o nível de mudança que se

pretende provocar nas condições ou capacidades dos destinatários.

È intuitivo que quanto maior for o espectro de comportamentos que se deseja

impactar, das atitudes a serem alteradas e dos valores a serem disseminados, maior

será a necessidade de articulação entre o público-alvo e os gestores do projeto, que

se devem assim necessitar de maior liberdade de atuação no plano da gestão,

gerando uma maior necessidade da criação de mecanismos para participação da

população.

A CEPAL (1998) propõe uma tipologia de modelos de organização e gestão

de projetos sociais que considera duas dimensões:

• O grau de padronização dos produtos (bens ou serviços resultantes do

projeto);

• A homogeneidade/heterogeneidade da população-objetivo — nível de

semelhança nas "variáveis pertinentes" que afetam os objetivos de

impacto do programa.

É possível, portanto, fazer uma associação entre as duas tipologias citadas —

de projetos e de modelos de organização e gestão.

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CAPITULO II – INFORMAÇÕES NECESSÁRIAS PARA AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE PROJETOS

A avaliação econômica é um componente primordial em qualquer projeto

social. Sendo assim, o ideal é que sua aplicação esteja de acordo com seus

princípios básicos desde o início. Isso quer dizer que na fase de elaboração do

projeto, já se deve estruturar a futura avaliação econômica do mesmo. Neste

capítulo iremos apresentar alguns dos itens fundamentais que devem ser

observados em um projeto social para que sua avaliação econômica possa ser

realizada.

II. 1 - Público-alvo

Na maioria dos casos, projetos sociais são dirigidos a um determinado grupo

social, o qual denominamos público-alvo. Assim, para que se possa fazer a

avaliação econômica de um projeto social é importante que esteja claramente

definido o grupo aos quais os prováveis benefícios do projeto se destinam.

Na maioria das vezes, para a identificação do público-alvo são utilizados os

chamados “critérios de elegibilidade”, ou seja, para que um indivíduo ou família faça

parte do público-alvo de um programa social, ele ou ela deve atender determinados

requisitos estabelecidos pelos gestores do programa.

Tendo conhecimento acerca do público-alvo, é possível certificar-se

posteriormente se o projeto está realmente atendendo às pessoas pertencentes ao

grupo. É comum, que determinados projetos sociais, utilizem a renda das famílias

para a definição do público-alvo. Sendo esta uma variável de difícil observação, já

que grande parte da população mais pobre atua no mercado de trabalho informal,

estes programas sociais podem vir a beneficiar pessoas que a principio não

deveriam ser contempladas, deixando de fora pessoas que pertencem ao público-

alvo. Nestes casos, o projeto pode incorrer no chamado “erro de focalização” o que

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significa excluir do programa pessoas pertencentes ao público-alvo (ineficiência no

alcance ou na cobertura do programa) ou incluir no programa pessoas não

pertencentes ao público-alvo (vazamento do programa).

A atenção requerida no processo de focalização deve ser centrada no sentido

de minimizar os dois tipos de erros. Contudo, tais erros usualmente caminham em

sentidos opostos, ou seja, com a expansão do programa, sua cobertura deve

aumentar, mas o vazamento também.

Após a definição de quais são as características que definem o público-alvo, é

recomendado que se conheça melhor este grupo, isto é, conhecer as condições de

vida e as reais necessidades do mesmo. Como exemplo, se um programa tiver como

público-alvo os jovens em idade escolar, é interessante saber onde moram estes

jovens, saber se freqüentam a escola, se trabalham, se moram com os pais e assim

por diante.

II.2. Objetivo

Na avaliação econômica do projeto social, tão importante quanto a definição

do público-alvo é a correta descrição dos objetivos de impacto do projeto. O objetivo

deve dizer para que servirá o projeto, ou seja, o que se pretende alcançar ao final do

programa.

Ainda que seja possível ter objetivos amplos, que mostram um campo de

atuação maior do projeto são os objetivos definidos de forma clara e mensuráveis

que permitem sua avaliação econômica. O objetivo é a base para a correta escolha

dos indicadores que irão basear a analise econômica do projeto.

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II.3. Indicadores

Entende-se por indicador uma medida numérica de algum fenômeno

importante para o projeto que se quer analisar (MOKATE,2002),. Os indicadores de

impacto, como o próprio nome sugere, são referentes aos resultados do projeto. É

por meio dos da variação verificada em alguns dos indicadores, que se pode

quantificar de forma correta os impactos de um projeto. Estes indicadores estão

intimamente relacionados ao objetivo a ser alcançado e, portanto, são definidos

pelas especificidades presentes em cada projeto.

Dada a capacidade dos indicadores para o conhecimento da situação antes e

depois do projeto, é primordial que estes tenham contidos em si algumas

características. Entre elas, podemos citar:

• Fácil entendimento;

• Simples elaboração e baixo custo;

• Confiabilidade;

• Consistência com os dados disponíveis;

• Relação direta com as ações efetuadas.

Para alguns tipos de projetos, se faz também necessária a incorporaração de

indicadores qualitativos em sua análise.

II. 4 - Indicadores qualitativos e quantitativos

Entende-se por indicadores quantitativos aqueles que fornecem respostas

numéricas objetivas. Geralmente são obtidas por meio de um padrão previamente

definido pelos avaliadores do projeto. Já os indicadores qualitativos, são baseados

em respostas abertas, subjetivas, que expressam referências e valores. Devido à

sua própria natureza, é consenso que exista maior dificuldade para classificar e

tabular as respostas qualitativas. Essa característica faz com que se exija dos

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avaliadores maiores habilidades para a interpretação destas respostas, visto sua

diversidade.

A transformação de uma resposta qualitativa aberta e que expresse valores

em uma resposta quantitativa pode ocasionar perda informações que são relevantes

para a avaliação do projeto. Contudo, permite também que seja usada para

examinar, por exemplo, se existem relações sistemáticas entre indicadores objetivos

e subjetivos.

Mesmo quando as respostas qualitativas não são transformadas em dados

quantitativos, isso não quer dizer que não possam ser consideradas como valiosas

para a avaliação. A combinação de ambas as respostas permite enriquecer a análise

dos projetos. Dados quantitativos podem demonstrar o impacto do programa,

enquanto os dados qualitativos fornecem indicações das razões pelas quais o

programa está tendo aqueles resultados.

II. 5- Fontes de Informação

Para que a avaliação econômica possa ser considerada efetiva é necessário

que os dados e informações existentes estejam organizados e acessíveis. Esse

trabalho poderá ser facilitado se os gestores do projeto tiverem acesso a um

cadastro dos participantes do projeto (MOKATE,2002),.

O cadastramento dos participantes deve conter todas as informações

consideradas importantes para uma avaliação. Sem a identificação adequada dos

participantes, muito do trabalho posterior de avaliação pode ser impossibilitado.

Contudo, quais informações devem se considerar na construção de cadastro? A

resposta a essa pergunta depende em grande parte dos objetivos do programa.

Não há um modelo único de cadastro que seja válido para todas as iniciativas

na área social. O conjunto de informações que devem fazer parte de um cadastro de

serão definidas de acordo com as particularidades de cada projeto.

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Algumas vezes se faz necessário recorrer a “fontes externas de dados”.

Esses dados são encontrados em pesquisas e avaliações feitas usualmente por

órgãos governamentais. Por meio dessas fontes, é possível conhecer de forma

detalhada algumas características relevantes, como por exemplo, educação,

rendimentos, hábitos de consumo e outras características socioeconômicas, de

alguma população que se tenha interesse. Essas informações podem ser úteis na

avaliação ex-ante (esse conceito será tratado na próxima seção). Além disso, tais

dados podem ser usados para se realizar comparações entre o público-alvo de um

projeto e um conjunto de indivíduos de alguma fonte externa de dados.

II.6 - Custos

Os custos são elementos essenciais para a avaliação econômica,

especificamente para o cálculo do retorno econômico do projeto (CEPAL,1998).

Quando estamos tratando de custos econômicos, e não apenas de custos

contábeis, devemos acrescentar ao total de custos do projeto o custo de

oportunidade daqueles que participam do programa. Entendemos o custo de

oportunidade como sendo o rendimento que se deixa de obter quando se realiza

uma determinada escolha.

Há diversos projetos desenvolvidos dentro de uma instituição aonde estão

sendo empregados recursos próprios gestores do programa. Neste caso, não

haveria custos contábeis associados ao aluguel do imóvel, visto que o imóvel

pertence à instituição. No entanto, existem os custos de oportunidade associados à

propriedade do imóvel. Identificamos essa ‘renda de aluguel perdida’ também como

um custo de oportunidade importante, associado ao projeto que deve ser

considerado.

Quando são investidos recursos em um projeto social, abre-se mão de aplicar

esses recursos em outro tipo de projeto social ou mesmo numa aplicação financeira.

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É por essa razão que mais à frente, nos referimos à taxa de juros de mercado como

sendo o custo de oportunidade do projeto social.

Em suma, se estamos tratando de custos econômicos, temos que levar em

consideração os custos de oportunidade, como veremos mais adiante.

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CAPITULO III – AS MELHORES PRÁTICAS NA AVALIAÇÂO DE PROJETOS SOCIAIS

A avaliação econômica de um projeto pode se dar de diversas formas, que

variam primordialmente de acordo com a complexidade do projeto, nível de

informação disponível e indicadores chaves de sucesso. Abaixo veremos algumas

das principais técnicas atualmente em uso no Brasil

III. 1. Avaliação de impacto

A avaliação de impacto está relacionada, de maneira intuitiva, ao impacto que

o programa tem sobre um público-alvo previamente escolhido. De forma um tanto

quanto simplificada, pode-se dizer que a avaliação de impacto tem por objetivo

primordial responder à seguinte questão: o programa atinge seus objetivos?

A pergunta formulada acima traz implícitos alguns pontos a serem

investigados: as mudanças verificadas são realmente resultado do programa ou são

causadas por algum outro fator exógeno? Há diferença de impacto entre diferentes

grupos ou regiões? O impacto é modificado ao longo de um período de tempo? O

projeto está causando algum outro impacto que não tenha sido planejado

inicialmente?

A avaliação de impacto permite conhecer e quantificar as relações causais

entre as ações efetuadas no projeto e as alterações verificadas nos indicadores

escolhidos.

As relações causais são definidas como as relações de causa e efeito, ou

seja, a avaliação de impacto irá permitir apurar se foi de fato o projeto aplicado o

responsável pelas alterações observadas no indicador pesquisado (BID/ILPES,

2000).

Os resultados obtidos pela avaliação de impacto podem ser utilizados para ou

auxilio na decisão quanto à continuidade ou não do projeto e ainda para a

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implementação de projetos futuros ou mesmo ainda servir de base para a

formulação de uma política social mais ampla.

Na avaliação de impacto estão implícitos ainda dois pontos que devem ser

observados: mensuração e causalidade.

A análise de impacto pretende não somente determinar se houve ou não

mudança no bem-estar dos participantes dos programas, mas também tentar

mensurar essa mudança. Para tanto, como já discutimos anteriormente, é

necessário escolher certos indicadores que estejam associados aos objetivos do

projeto e que, portanto, devem ter sido afetados pelo programa.

O segundo ponto a ser ressaltado é o da determinação da causalidade. Uma

vez identificada a existência de melhora nos indicadores escolhidos, para a

avaliação do programa é imprescindível estabelecer o sentido de causalidade, isto é,

saber se foi de fato a participação no programa que fez com que os indicadores de

resultado melhorassem.

III.1.1 - Avaliação ex-ante

Geralmente, mesmo antes do inicio de um projeto, é possível estimar parte de

seus efeitos, por meio de uma simulação das ações efetuadas sobre o público alvo.

Essas técnicas recebem a designação de avaliação “ex-ante”.

Este tipo de avaliação é bastante útil, pois permite que se tenha uma

estimativa dos efeitos do projeto, sem que haja custos físicos e humanos

necessários, que em alguns casos pode ser bastante elevado. Da mesma forma,

elas permitem que se conheçam os resultados sem que seja preciso esperar todo o

horizonte de tempo do projeto, o que, considerando as carências e necessidades de

determinados públicos-alvo, pode representar um ganho significativo.

Dessa forma, a avaliação ex-ante pode ser um importante instrumento para

que, antes mesmo da implementação do projeto, os gestores tenham uma medida o

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mais próxima possível das alterações que o projeto causará. Com isso, eventuais

correções ou melhorias podem ser implementadas a um custo mais baixo, em

relação ao que seria investido após o fim do projeto, ou um projeto pode nem

mesmo ser levado a cabo se a avaliação ex-ante indicar que seus resultados

esperados são diferentes daqueles inicialmente imaginados.

Além disso, a avaliação ex-ante permite que sejam testadas diferentes

alternativas de atuação. Pode-se testar a eficiência de uma mesma ação em

diferentes públicos-alvo ou de ações diferente em um mesmo grupo de participantes.

Outro aspecto importante referente à avaliação ex-ante é que ela considera

diferentes desenhos nos projetos que venham a ser testados. Em alguns casos, no

entanto, a avaliação ex-ante pode ser mais complicada do que a avaliação ex-post

pois necessita de modelos que prevejam respostas de comportamento das famílias.

Na maioria dos casos, as avaliações ex-ante empregam informações oriundas

de pesquisas ou conjuntos de dados externos ao programa.

III.1.2 - Avaliação ex-post

Um dos pontos mais importantes de um projeto é conhecer o efeito que ele

comprovadamente teve sobre seu público-alvo. Esse é o objeto da chamada

avaliação ex-post. Seu objetivo principal é estabelecer relações causais entre as

ações efetuadas e as alterações verificadas na vida dos indivíduos, quantificando

assim os efeitos dos projetos.

A avaliação ex-post se dedica a avaliar os efeitos em um determinado

público-alvo afetado por um projeto, em comparação com algum grupo de controle

(ver explicação posterior desse conceito).

Para a efetivação destas duas formas de avaliação, veremos adiante as

possibilidades de análise estatística.

III. 2- Método experimental ou de seleção aleatória

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O principal problema na avaliação de qualquer projeto é a dificuldade de se

observar os indivíduos simultaneamente na situação de terem sido atingidos pelo

projeto e em uma situação contrária. Sendo assim, a avaliação econômica de

qualquer projeto envolve a definição dos chamados grupos de controle.

No método experimental ou aleatório, a avaliação de impacto é desenhada

anteriormente a implementação do programa. O método consiste em dividir em dois

grupos o conjunto de pessoas que desejam participar e têm as características

esperadas para o público-alvo (BID/ILPES, 2000).. O primeiro grupo envolve aqueles

que efetivamente vão participar do projeto, de forma aleatória (grupo de tratamento)

e o outro, aqueles que não participarão (grupo de controle). Dado um grupo de

pessoas similares, são selecionados dois grupos, de forma que a única diferença

entre os grupos, seja na média, o tratamento, isto é, a participação no programa.

Quando a escolha dos participantes é aleatória, o impacto do programa é

diretamente calculado a partir da comparação entre a média do indicador que

escolhemos como medida de avaliação da mudança propiciada pelo programa para

ambos os grupos, o de tratamento e o de controle.

Contudo, as médias que calculamos para os dois grupos são médias

amostrais e, portanto, são também variáveis aleatórias. Portanto, não basta

comparar o valor das duas médias. É necessário saber se elas são estatisticamente

diferentes o que vem a ser descoberto ao se utilizar a abordagem do intervalo de

confiança.

Há também os chamados ‘experimentos naturais’. Neste caso, temos um

acontecimento ‘não-esperado’ que leva a formação também aleatória de grupos de

tratamento e controle. Portanto, a aleatorização deve ser feita na etapa de desenho

do programa com vistas à sua futura avaliação

III. 3 - Método não experimental ou de seleção não aleatória

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Na maioria dos projetos sociais, a seleção dos participantes do programa não

é feita de maneira aleatória. Isso acontece porque em alguns casos todas as

pessoas ou instituições que são elegíveis para participar do programa são a princípio

participantes do programa. Ou porque dentre os elegíveis outros critérios são

utilizados para definir os participantes – por exemplo, os mais necessitados são

atendidos primeiramente – tornando o grupo de participantes diferente dos demais

indivíduos.

Como discutido anteriormente, a base para a avaliação de impacto de um

programa social é o contra factual. Ou seja, o objetivo é responder o que aconteceria

com os participantes do programa caso não tivessem participado. Como essa

resposta é de difícil definição, há de se construir um grupo de controle. No caso da

seleção aleatória, automaticamente é construído um grupo de controle: aqueles que

não foram sorteados e que gostariam e poderiam participar do programa, mas que

não participam. Quando a seleção não é aleatória, não há um grupo de controle

automático.

Como então obter um grupo de controle e com que grupo pode-se comparar a

evolução do indicador relevante para a determinação do impacto do programa?

Para esse tratamento, deve-se recorrer a analises envolvendo grupos de

controle baseados em indicadores externos, que no entanto podem não servir por

serem diretamente correlacionados ao grupo que esta sendo estudado. Para estes

casos existe um instrumento estatístico que permite que se use os dados de grupos

diferentes para realizar a análise de impacto – é a chamada ‘regressão linear –

método econometrico de mensuração de tendências, cuja principal idéia é isolar as

características que acreditamos tornar os grupos diferentes e que afetam o indicador

de interesse, tornando os grupos comparáveis.

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III. 4 - Método de diferenças em diferenças

Quando a separação entre os grupos de tratamento e controle não foi

aleatória e quando temos grupos de tratamento e controle muito diferentes,

principalmente com relação a características que não são observáveis, o ideal para a

análise de impacto seria que o avaliador tivesse informações sobre os grupos de

tratamento e de controle em dois períodos de tempo, ou seja, no período anterior ao

programa social e no período posterior ao programa social.

Quando temos as informações de antes e depois do programa, podemos

empregar o método de diferenças em diferenças. Este método consiste em

comparar a variação observada no indicador de interesse antes e depois do

programa para o grupo de tratamento com a que foi experimentada pelo grupo de

controle. Caso a variação observada para o grupo de tratamento seja maior do que a

observada para o grupo de controle, pode se dizer que programa teve impacto.

III.5 - Limites da análise estatística

Um ponto importante a ser ressaltado sobre a análise de regressão é que,

assim como no caso das comparações de médias, estamos tratando de uma análise

estatística. Para isso precisamos de dados confiáveis e de uma amostra de tamanho

razoável. O tamanho adequado da amostra depende do tamanho da população e

essa relação não é linear. Quando aumenta o número de pessoas da população, o

tamanho da amostra ideal sobe, contudo menos que proporcionalmente. Quanto

maior for à amostra em relação ao tamanho da população, mais precisas serão as

estimativas. Além disso, quanto menor a amostra, maior é a probabilidade de se

calcular um resultado estatisticamente não significativo, quando na verdade houve

impacto do programa. Coletar informações é atividade que incorre em custos, ou

seja, isto pode representar uma das limitações para o tamanho da amostra. Um

outro é ‘o problema de variáveis não observadas’, que diz respeito a variáveis que

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de alguma forma interferem no resultado a ser medido, mas que a principio não são

observadas ou não despertam o interesse do avaliador. Neste caso, o coeficiente

associado à variável ‘programa’ está, em parte, captando o efeito dessas

características não-observadas. Existem métodos estatísticos que buscam resolver

este tipo de problema.

Por fim, um outro problema da análise estatística relacionado especificamente

ao método de estimação aqui utilizado – ‘Análise de Regressão Linear’ – é o

problema do “suporte comum”. Em uma análise de regressão, pode acontecer de

termos um grupo de controle muito diferente do nosso grupo de tratamento. O que

seria correto de se fazer nesta situação seria selecionar (ou dar maior peso) do

grupo de controle aqueles indivíduos que são mais parecidos, em termos de

características observáveis, com os indivíduos do grupo de tratamento. O método de

‘matching’ ou ‘pareamento’ faz este tipo de procedimento.

Em suma, se uma avaliação parece ter variáveis não observadas importantes

e/ou há poucas pessoas com as mesmas características nos dois grupos, deve-se

olhar os resultados de regressão linear simples com cautela

III. 6 - Avaliação de retorno econômico

A avaliação de retorno econômico tenta responder a outro tipo de pergunta:

Os resultados do programa, diante de seus custos, são razoáveis? Qual a

efetividade do programa, comparativamente a outras alternativas? Estas perguntas

são importantes porque muitas vezes embora o projeto tenha impacto positivo, ele

não é grande o suficiente diante dos custos incorridos em sua implementação. De

outra forma, pode ser que outros programas alcançassem resultados semelhantes

com um custo menor.

Nestes casos também é possível que os cálculos sejam feitos ex-ante e ex-

post. No caso do cálculo ex-ante, iremos comparar os benefícios esperados com os

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custos esperados do programa. Na análise ex-post, por sua vez, iremos comparar

os benefícios efetivamente obtidos com os custos incorridos na sua implementação.

Para análise do retorno econômico de um projeto social é fundamental a

construção de um fluxo de caixa adequado ao projeto. Isto é, precisamos identificar

ao longo do tempo os desembolsos referentes ao custo de implementação e

operação do projeto bem como as “receitas” que, no caso do projeto social, são os

benefícios monetários gerados pelo projeto.

No caso dos custos contábeis, a tarefa é razoavelmente simples. Basta fazer

um cronograma das despesas realizadas durante o período que durou o projeto.

Para chegarmos ao custo econômico do projeto, que é o nosso objetivo, teremos

que obter o custo de oportunidade do projeto, visto que o custo econômico

corresponde à soma entre os custos contábeis e o de oportunidade.

No caso das “receitas”, o fluxo de benefícios monetários pode ser bastante

longo no tempo. Por um lado, o resultado do projeto pode não ser imediato e, por

outro, pode durar pela vida inteira do participante. Isso sem considerar outros efeitos

sobre as famílias ou a comunidade. Portanto, é necessário neste item que se

avaliem as hipóteses sobre a trajetória e extensão dos benefícios gerados pelo

programa na vida dos beneficiários.

III.6.1 - Valor presente líquido

O valor presente líquido (VPL) de um projeto corresponde à soma dos valores

do seu fluxo de caixa trazidos a valor presente. Para que se efetue seu calculo

precisamos definir uma determinada taxa de desconto. Não há um critério único para

determinar qual a taxa de desconto adequada para um projeto social. Por um lado,

se o custo de oportunidade do investimento é a taxa de juros de mercado (sempre

há a alternativa de aplicar os recursos na caderneta de poupança e utilizar mais

tarde), então essa deve ser a taxa de desconto. Por outro lado, um projeto social

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gera mais benefícios para a sociedade que os benefícios que podemos calcular (as

chamadas externalidades). Com isso, pode-se argumentar que a taxa de desconto

deve ser inferior à taxa de juros de mercado para compensar por estes benefícios

não captados.

Uma vez determinado o fluxo de caixa e a taxa de desconto a ser utilizada,

calcula-se o valor presente líquido do projeto social em questão.

Em primeiro lugar, espera-se que um projeto, tanto social quanto de qualquer

outro tipo, tenha um VPL positivo. Isto é, espera-se que os benefícios sejam maiores

que os custos, mesmo que os custos sejam conhecidos e os benefícios previstos

para o futuro a partir de hipóteses. Caso o VPL de um projeto seja negativo, isso não

necessariamente significa que ele deva ser extinto. Significa, entretanto, caso todos

os benefícios tenham sido incorporados de maneira adequada, que ele deva ser

repensado e eventualmente reformulado. Uma das razões para um VPL negativo

pode ser o nível elevado dos custos. Uma redução de custos pode ser suficiente

para tornar o VPL positivo. Outra explicação para o VPL ser negativo é um fluxo de

benefícios baixo ou muito distante no tempo. Se a taxa de desconto considerada é

vista como adequada, então uma forma de elevar os benefícios é aumentar o

impacto gerado pelo programa. A pergunta a fazer é: há alguma maneira alternativa

de implementar o projeto de forma que os benefícios a serem apropriados pelos

participantes sejam maiores? É nesse contexto que o cálculo do VPL pode ajudar os

gestores do projeto a tomar decisões quanto à forma de conduzir esse ou outro

projeto semelhante.

Uma segunda forma de analisar o resultado do VPL é comparando os valores

de diversos projetos alternativos. Um gestor que vai iniciar um projeto cujo objetivo

é, digamos, melhorar o desempenho dos alunos em aula para que haja redução da

repetência, pode ter várias alternativas de ação. A melhora do desempenho dos

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alunos pode ser alcançada por aulas de reforço, pela melhor qualificação dos

professores, por atividades extraclasse que aumentem a capacidade de

concentração e muitas outras ações alternativas. A decisão de qual delas escolher

pode ser baseada, entre outros critérios, na comparação entre os VPLs das diversas

alternativas. Precisamos ter em mente, entretanto, que a comparação dos VPLs

deve se restringir a projetos com o mesmo horizonte de tempo.

III. 6.2 - Taxa interna de retorno

Outra forma comumente usada para analisar o retorno econômico de um

projeto é por meio da chamada taxa interna de retorno (TIR).

Podemos comparar a TIR do projeto à taxa de juros de mercado, visto que

essa, como colocado anteriormente, pode ser entendida como sendo o custo de

oportunidade dos recursos investidos no projeto social. A alternativa de aplicação

dos recursos em um investimento financeiro, como a caderneta de poupança,

sempre deve ser considerada. Se a TIR é superior à taxa de juros de mercado, o

retorno econômico do projeto social (mesmo que seja o retorno esperado, pois

estamos fazendo suposições a respeito do ganho futuro) é superior à alternativa de

investimento no mercado financeiro. Se, por outro lado, a TIR for inferior à taxa de

juros de mercado, o retorno econômico esperado do projeto é inferior à alternativa

de investimento.

Podemos também utilizar a TIR para compararmos projetos distintos. Neste

caso, é importante que se considere na análise o tempo de duração do projeto. Um

projeto pode ter um retorno muito elevado, mas o período de recebimento dos

benefícios pode ser bastante curto. Outro projeto pode ter um retorno menor, mas

pode gerar benefícios por um período bastante longo no tempo, como no caso do

programa de treinamento. Mesmo que o ganho salarial seja considerado baixo, ele

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será recebido por todo o período em que o participante estiver no mercado de

trabalho.

A ressalva a ser feita é que, enquanto em um investimento privado os custos

e os benefícios se referem à mesma pessoa, a análise aqui feita pressupõe que os

custos e benefícios se referem a pessoas distintas. Em geral, o custo é arcado pela

instituição que financia o projeto (seja ela pública ou privada) e os benefícios são

recebidos pelos participantes dos programas.

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COMENTÁRIOS FINAIS

Ao longo deste trabalho, pode-se observar algumas das técnicas mais

comumente utilizadas no sentido de fornecer informações, dados e respostas sobre

os mais diversos tipos de projetos sociais, tendo como objetivo principal servir de

embasamento para a tomada de decisões por parte de gestores e financiadores

deste tipo de projeto.

As questões envolvendo projetos sociais e a eventual análise de seu impacto

econômico e social envolve, na maioria das vezes, critérios subjetivos. Portanto, é

extremamente importante que os interessados em projetos desta natureza tenham

em mente as limitações inerentes a este tipo de análise, por mais cientificas e

metodológicas que pareçam.

No Brasil dos dias de hoje, infelizmente, ainda não há uma tradição

consolidada neste tipo de análise e muito menos material de pesquisa abundante

sobre o tema, que permita a identificação de padrões consistentes. Contudo, há de

se ressaltar o esforço dos empreendedores sociais brasileiros, em tornar o processo

de gestão dos projetos sociais, cada vez mais profissionalizado e rigoroso quanto a

sua viabilidade e sustentabilidade econômica. Torna-se cada vez mais diminuto o

espaço para “aventureiros”, que enxergam na gestão de projetos sociais, um

“trampolim” para interesses escusos e que acabam por muitas vezes lançando a

desconfiança sobre iniciativas sérias, inviabilizando as mesmas.

Portanto, difundir e tornar comum técnicas que possam auxiliar projetos

sociais a demonstrarem de forma clara e compreensível seus resultados e impactos

é uma questão que permeia não somente a sobrevivência deste tipo de iniciativa,

mas que também pode ser vista como fundamental para que vidas sejam mudadas e

salvas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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