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ENSAIOS TECNOLÓGICOS EM CERÂMICA VERMELHA DO PÓLO OLEIRO DOS MUNICÍPIOS DE IRANDUBA E MANACAPURU, AM N.S. Campelo 1 , O. Seye 2 , E.C.S. Santos2, A.M.C. Horbe 1 , Rocha, F.S. 1 , A.F. Aragão 1 , S.C. Pinheiro 1 , E.M. Cabral 1 1 Universidade Federal do Amazonas – Núcleo de Tecnologia de Materiais – NUTEMA - Av. Gen. Rodrigo Otávio Ramos, 3000 – Coroado – CEP 69.077-000 – Manaus, AM – [email protected] 2 Universidade Federal do Amazonas – Núcleo de Eficiência Energética - NEFEN RESUMO O pólo cerâmico dos municípios de Iranduba e Manacapuru, no estado do Amazonas, representa uma oferta de mais de 90 % da cerâmica vermelha consumida na cidade de Manaus. Análises de difratometria de raios X em amostras de argila do local, indicam a presença dos argilominerais caulinita e illita. A composição química é formada principalmente por sílica, alumina e hematita. Os limites de liquidez e de plasticidade variaram entre 90 e 98 %, e 35 e 44%, respectivamente, entre o nível do terreno e três metros de profundidade. Os teores das frações argila e silte situam-se em torno de 92 e 94 % da massa total da amostra. São apresentados os resultados de ensaios tecnológicos, realizados sobre amostras de tijolos de oito furos, coletados de oito cerâmicas do pólo oleiro, mostrando que a tensão de compressão média varia entre 0,31 e 2,80 MPa, com valores de pico de 4,54 MPa. Palavras-chave: cerâmica vermelha, pólo cerâmico, material cerâmico, ensaio tecnológico. INTRODUÇÃO A cidade de Manaus representa cerca de 95 % do PIB do estado do Amazonas, fruto principalmente dos recursos oriundos de sua Zona Franca, ali instalada há 37 anos. Por conta da atração de centenas de indústrias, houve uma explosão demográfica sem precedentes da população local, saltando de cerca de Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48 th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society 28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR 1

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ENSAIOS TECNOLÓGICOS EM CERÂMICA VERMELHA DO PÓLO OLEIRO DOS MUNICÍPIOS DE IRANDUBA E MANACAPURU, AM

N.S. Campelo1, O. Seye2, E.C.S. Santos2, A.M.C. Horbe1, Rocha, F.S.1, A.F. Aragão1, S.C. Pinheiro1, E.M. Cabral1

1 Universidade Federal do Amazonas – Núcleo de Tecnologia de Materiais – NUTEMA - Av. Gen. Rodrigo Otávio Ramos, 3000 – Coroado – CEP 69.077-000 – Manaus, AM – [email protected] 2 Universidade Federal do Amazonas – Núcleo de Eficiência Energética - NEFEN

RESUMO

O pólo cerâmico dos municípios de Iranduba e Manacapuru, no estado do

Amazonas, representa uma oferta de mais de 90 % da cerâmica vermelha

consumida na cidade de Manaus. Análises de difratometria de raios X em amostras

de argila do local, indicam a presença dos argilominerais caulinita e illita. A

composição química é formada principalmente por sílica, alumina e hematita. Os

limites de liquidez e de plasticidade variaram entre 90 e 98 %, e 35 e 44%,

respectivamente, entre o nível do terreno e três metros de profundidade. Os teores

das frações argila e silte situam-se em torno de 92 e 94 % da massa total da

amostra. São apresentados os resultados de ensaios tecnológicos, realizados sobre

amostras de tijolos de oito furos, coletados de oito cerâmicas do pólo oleiro,

mostrando que a tensão de compressão média varia entre 0,31 e 2,80 MPa, com

valores de pico de 4,54 MPa.

Palavras-chave: cerâmica vermelha, pólo cerâmico, material cerâmico, ensaio

tecnológico.

INTRODUÇÃO

A cidade de Manaus representa cerca de 95 % do PIB do estado do

Amazonas, fruto principalmente dos recursos oriundos de sua Zona Franca, ali

instalada há 37 anos. Por conta da atração de centenas de indústrias, houve uma

explosão demográfica sem precedentes da população local, saltando de cerca de

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300 mil para 1,7 milhão de habitantes, atualmente, em pouco mais de 35 anos.

Pelos incentivos fiscais, dezenas de cerâmicas instalaram-se em duas cidades

vizinhas – Iranduba e Manacapuru – localizadas à margem direita do rio Negro.

As jazidas de exploração da argila in natura são áreas de várzea, alagadiças

durante os meses de dezembro a julho, obrigando os oleiros a fazerem

armazenamento de matéria-prima para que não haja a paralisação de suas

atividades, durante esta época crítica. Dentre as cerca de 25 cerâmicas ora ativas,

nos dois municípios, há cerca de 25 % de grande porte, 25 % de médio e 50 % de

pequeno porte. Entre estas últimas, existe uma certa rotatividade de proprietários,

quiçá decorrente da falta de recursos financeiros para manterem a competitividade

peculiar do meio. Ressalte-se que mesmo naquelas olarias de grande porte, não

existe qualquer controle laboratorial da matéria-prima ou do produto final, que é

geralmente cerâmica vermelha do tipo tijolos maciços, furados, estruturais e telhas

diversas. Praticamente toda a produção do pólo oleiro dos dois municípios é

comercializada na cidade de Manaus. Não existe ainda, por parte dos sindicatos

patronais da categoria e da construção civil, CREA, SENAI, etc., qualquer

mobilização que se faça mister para a inclusão destas cerâmicas no Programa

Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat – PBQP-H, do estado do

Amazonas.

CONDIÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS DO LOCAL

As jazidas de matéria-prima são regiões de várzea, ou seja, durante seis a

oito meses permanecem alagadas, inviabilizando a sua exploração. A Figura 1

apresenta o mapa de localização da região oleira, objeto deste trabalho (1). Na

região de várzea dos dois municípios, foram abertos seis poços de exploração, para

retirada de amostra deformada, metro a metro, visando a caracterização geotécnica

e tecnológica da argila in natura. Os poços alcançaram de seis a onze metros de

profundidade, e foram abertos por trado mecânico, sobre chassi de caminhão, com

0,80 m de diâmetro de broca. A profundidade alcançada ficou dependente da

presença do nível d’água subterrâneo, concomitante ao material arenoso

encontrado, que impossibilitou o avanço da perfuração até níveis mais profundos. A

rodovia estadual Manuel Urbano (AM-070) liga os municípios de Iranduba,

Manacapuru e Novo Ayrão à capital do estado. O município de Iranduba está

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localizado à margem esquerda do rio Solimões, possui uma área de 2.354 km2 e sua

sede dista cerca de 25 km, em linha reta, na direção NW-SE da cidade de Manaus.

0 1

ESCALA

Lago doMiriti

Lago do Limão

Manaus

Iranduba

0 km

Manacapuru

AM-070

AM-070

AM

-452

1

2

3

4

Lago Paricatuba

Cacau Pirêra

Lago doIranduba

Ilha daPaciênciaColônia Boa Vista

Lago doBim

Paraná do Ariaú

Ponta do Ariaú

Ilha do Campo

Igarapé Acajituba

Lago doMatias

60 00’31”0

0302

’01”

0

0302

’01”

0

60 40’59”0 60 00’31”0

03 1

8’28

03 1

8’28

’’

N

Rio Negro

Rio Solimões

Ponta do Ariaú

OO

60 40’59”0

Figura 1 – Localização do pólo oleiro dos municípios de Iranduba e Manacapuru (1).

A sua ligação com a capital dá-se por meio fluvial, havendo a necessidade da

travessia do rio Negro, por meio de balsas, a partir da localidade de Cacau Pirêra. O

município de Manacapuru está situado à margem esquerda do rio Solimões,

apresentando área de 7.062 km2, e dista de Manaus cerca de 79 km. De acordo com

DNPM (2000), geologicamente, os municípios de Iranduba e Manacapuru situam-se

em uma planície de dissecação, prevalecendo as rochas sedimentares da Formação

Alter do Chão, cuja sedimentação deu-se em ambiente continental, fluvial e

lacustrino, constituída por intercalações de arenitos, siltitos e conglomerados. Os

arenitos são de granulometria fina a média, mal classificados e de cor avermelhada;

os argilitos, maciços ou laminares, mal consolidados, apresentam clastos de areias

distribuídas irregularmente; e os conglomerados são de seixos de quartzo e arenito

silicificado. A unidade mais antiga dessa área são as rochas silicilásticas da

Formação Alter do Chão, do Cretáceo Superior, sobre as quais desenvolvem-se

toda a sedimentação fluvial quaternária, composta principalmente de argilas (2).

Estes depósitos argilosos juntamente com o latossolo amarelo que recobrem a

Formação Alter do Chão, são utilizados como matéria-prima na industria da

cerâmica vermelha. A Formação Alter do Chão é composta principalmente por fáceis

de composição quartzosa caulínica, por vezes silicificadas, intercaladas com fáceis

mais argilosas. Apresenta em geral coloração esbranquiçada e rosada,

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granulometria variando de fina a grossa, com estratificações plano-paralela e

cruzada tubular, até de marcas onduladas no topo das camadas. Localmente,

observa-se níveis de arenito fino argiloso, coloração avermelhada, aspecto

mosqueado, rico em tubos verticais e horizontais de até 1,5 cm de diâmetro,

preenchidos por areia fina, relacionados à bioturbações. Na parte superior de alguns

perfis, apresenta crosta laterítica, recoberta por latossolo amarelo. Os sedimentos

quaternários, em geral, apresentam composição de argila silto-arenosa e coloração

cinza-esbranquicada, com tons avermelhados e amarelados, mostrando-se, por

vezes, mais arenosos ou mais ricos em matéria orgânica. Até a profundidade de 4,5

m de profundidade, mostram aspectos mosqueados, devidos às concentrações

ferruginosas sub-verticais e estrutura maciça. A estimativa da capacidade nominal

instalada do parque oleiro de Iranduba é de seis e meio milhões de tijolos por mês,

tipo oito furos (4). Contudo, estimativas mais recentes dão conta que a capacidade

de produção estaria em torno de oito milhões de tijolos ao mês (5). Na região do

município de Manacapuru, as olarias localizadas neste pólo concentram-se

predominantemente na região do lago do Ubim, entre os quilômetros 38 e 45 da

rodovia AM-070, cujas jazidas, semelhantemente ao que se verifica em Iranduba,

também aqui situam-se muito próximas às instalações industriais, algumas até

mesmo nas próprias dependências da olaria. A capacidade nominal instalada no

município de Manacapuru é de dois milhões de tijolos de oito furos, ao mês,

respondendo por cerca de 20 % do total do pólo oleiro dos dois municípios (4,5). Há

de se ressaltar que a argila é extraída, normalmente, nos meses de agosto a

dezembro, quando ocorre a vazante dos rios, obrigando, destarte, a se fazer

estoque de grande quantidade de matéria-prima, com o escopo de se trabalhar o

ano todo com a cerâmica vermelha. A exploração de jazidas está levando a

impactos ambientais acentuados na região, pois os oleiros empregam apenas as

argilas superficiais, do horizonte mosqueado, com profundidade de até três metros,

em média, forçando cada vez mais o desmatamento de áreas, para novas aberturas

de jazidas.

MATERIAIS E MÉTODOS

As amostras de argila in natura, coletadas nos seis poços de exploração,

estão sendo ensaiadas nos laboratórios de Pavimentação, Materiais de Construção

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e Geoquímica, da Universidade Federal do Amazonas. Neste trabalho são

apresentadas apenas as análises efetuadas sobre amostras coletadas até três

metros de profundidade, de um dos poços (número 5), aberto na localidade de

Cacau Pirêra, distrito de Iranduba. É oportuno relatar o fato de que há, visualmente,

uma grande homogeneidade de cor, plasticidade e granulometria dos depósitos da

região de Iranduba, distribuídos lateralmente, ao longo dos vários horizontes, pois a

área possui relevo bastante plano. Os ensaios realizados nas amostras foram os de

análise granulométrica, limites de consistência, difratometria de raios X e absorção

atômica – estes dois últimos apenas em amostras típicas dos horizontes

estratigráficos. Os ensaios de queima serão abordados em futuros trabalhos.

Coletaram-se também amostras de tijolo recém-moldado e queimado, de um mesmo

lote, com o fito de se determinar o teor de umidade de moldagem e a variação

volumétrica – por medições diretas – dos tijolos por um período de sete dias. Nas

amostras de tijolos queimados, efetuaram-se os ensaios de resistência à

compressão simples, de absorção d’água e de massa especifica aparente, além de

se tomarem as medidas de comprimento, largura e espessura das mesmas. Relate-

se também que as amostras foram coletadas de oito cerâmicas, nos dois municípios

em estudo. De cada olaria, foram tomadas seis amostras de tijolos crus e seis de

queimados (da mesma fornada), a fim de se ter médias características

representativas dos produtos nas duas modalidades. As medições das dimensões

dos tijolos crus foram feitas nas próprias olarias, diariamente, por um prazo máximo

de até uma semana.

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

A Figura 2 mostra os resultados de difratometria de raios X realizados sobre

amostras típicas de argilas da região de Cacau Pirêra, no município de Iranduba,

coletadas do poço número 5, à superfície (abaixo da camada vegetal) e na

profundidade de três metros. Nota-se que o argilomineral predominante, em ambas

as amostras, é a caulinita, não obstante o fato da ocorrência também de illita.

Ademais, cumpre mencionar a ocorrência de esmectita em outras amostras, de

outros poços. A Tabela 1 indica a composição química encontrada em amostras de

argilas coletadas do município de Iranduba, notadamente da localidade de Cacau

Pirêra, no poço número 5.

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Superfície

0

200

400

600

800

1000

1200

1 1001

Theta-2Theta

Inte

nsid

ade

I

C

10 20

I

C

5 25

I: IllitaC: Caulinita

3 metros

0

500

1000

1500

2000

2500

20000

Theta-2Theta

Inte

nsid

ade

C

2 10 20 25

I I C

I: IllitaC: Caulinita

Figura 2 – Análise difratométrica realizada sobre amostras típicas de argilas da

localidade de Cacau Pirêra, município de Iranduba.

Verifica-se uma relativa variação do teor de quartzo na composição das

argilas, decorrente da maior ou menor presença da fração areia nestes materiais. A

outra variação observada é no teor de alumina, pois este mineral condiciona-se a

fatores de pH e Eh em horizontes mosqueados do solo, pela sua relativa mobilidade.

Deve-se notar também a relativa perda ao fogo (PF), conseqüência da existência de

matéria orgânica nas argilas. No furo 5, os limites de liquidez e de plasticidade

variaram entre 90 e 98 %, e 35 e 44 %, respectivamente, para as profundidades

imediatamente abaixo do nível original do terreno até os três metros inferiores. Para

estas mesmas profundidades, a fração silte mais argila variou entre 92 e 94 %, e a

fração areia entre 6 e 8 %. Empregando-se o sistema de classificação Unificada, as

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amostras enquadram-se predominantemente como CH (argila inorgânica de alta

plasticidade).

Tabela 1 – Composição química principal presente em amostras típicas de argilas da

localidade de Cacau Pirêra, município de Iranduba.

Composto SiO3 Al2O3 Fe2O3 MgO+

CaO

Na2O+

K2O

C PF

Interv. de

Variação (%)

53,1 a

68,3

12,6 a

23,9

1,73 a

2,0

1,4 a

7,0

1,1 a

3,6

0,6 a

2,8

6,3 a

8,9

A Tabela 2 apresenta a variação de massa entre tijolos crus e queimados, em

uma mesma fornada, medida em seis cerâmicas dos dois municípios em tela. Pode-

se notar que a perda de água, entre o fim do processo de secagem natural – sem o

auxílio de correntes de ar forçadas – e a queima do tijolo varia entre 7,4 e 38,3 %,

com a predominância entre 23 e 26 %, ou seja, há uma perda superior a 1/3 da

massa do tijolo, entre ambas as fases do processo produtivo, neste caso particular.

Esses números corroboram alguns fatos já anteriormente relatados, no tocante à

falta de um controle de teor de umidade de moldagem dos tijolos crus, fazendo com

que haja grande dispersão nos resultados. Uma maior quantidade de água irá

fatalmente diminuir a resistência à compressão do tijolo queimado, além de

representar um aumento do consumo de lenha e energia elétrica, incrementando,

assim, o desperdício de tempo e recursos financeiros nos processos de secagem e

queima. Por isso, um controle tecnológico do teor de umidade é imprescindível, para

se chegar a uma melhoria da qualidade do produto acabado. Ademais, para as três

primeiras cerâmicas, verifica-se que a perda de água pelo processo de secagem

natural representa cerca de 5,6 a 17,3 %, em relação à massa recém-moldada do

tijolo. A Tabela 3 apresenta algumas medições realizadas da massa especifica

aparente, em amostras recolhidas de sete distintas cerâmicas, nas condições de

tijolo cru e queimado, esta última em relação às massas e volumes líquidos

(descontando-se os furos) e totais. Pode-se observar que apenas a cerâmica Jr

forneceu resultado discrepante, em relação às demais olarias, no tocante à baixa

massa especifica, quando o tijolo é queimado. Nota-se também que os tijolos da

cerâmica Jr apresentaram o menor valor de massa especifica aparente, ao mesmo

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tempo em que a retração volumétrica média entre a secagem e a queima, dos seus

tijolos, foi bem maior que as demais (30,6 %). Este fato pode ser explicado pela

grande quantidade de água presente nos tijolos crus. Os valores da massa

especifica encontrada, nas diferentes cerâmicas, para a condição de se considerar a

massa e volume totais, estão, em alguns casos, bem abaixo de 1,1 g/cm3, que é um

valor típico que se esperaria determinar neste tipo de cálculo (6). Talvez uma

explicação plausível seja a quantidade de ar e água no interior dos poros dos tijolos,

fruto da falta de controle de quantidade de água no processo de moldagem dos

mesmos.

Tabela 2 – Variação de massas dos tijolos crus e queimados.

Cerâmica Média das

massas dos

tijolos crus

após extrusão

(g)

Média das

perdas de

água após fim

da secagem

natural (g)

Média das

massas dos

tijolos

queimados

(g)

Média das perdas

de água dos tijolos

queimados, em

relação aos crus,

após extrusão (%)

Rio Negro 2508,4 141,1 2322,9 7,4

Nóvoa 2358,4 308,9 1752,2 25,7

Rio Solimões 3081,2 533,8 2354,7 23,6

Jr 3522,9 -- 2172,7 38,3

Ximenes 3115,3 -- 2399,2 23,0

Trimanche 2389,5 -- 2153,2 9,9

As retração volumétrica de tijolos crus e queimados, na fase de secagem

natural, conduziram à variações entre 11,3 e 17,9 %, em seis cerâmicas analisadas.

Além disto, foi verificado que as retrações volumétrica entre a secagem natural e a

queima, concentraram-se no intervalo de 14,1 a 30,6 %.

A Tabela 4 apresenta os resultados de ensaios de absorção de água,

realizados nos tijolos queimados. Em grande parte das cerâmicas, a absorção de

água está no limite superior de tolerância estabelecida pelas Normas brasileiras. A

Tabela 5 indica os resultados de ensaios de compressão simples efetuados sobre as

amostras de oito cerâmicas estudadas. Percebe-se, pelo coeficiente de variação, a

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elevada dispersão de resultados, decorrente da completa ausência de política de

controle de qualidade do produto final, em todas as fases do processo de fabricação.

Tabela 3 – Valores de massa específica aparente de tijolos crus e queimados, de

algumas cerâmicas.

Cerâmica Massa especifica aparente (g/cm3)

Tijolo cru Tijolo

queimado

(a)

Tijolo

queimado

(b)

Rio Negro 1,85 1,76 0,75

Nóvoa 1,83 1,75 0,70

Rio Solimões 1,85 1,74 0,79

Jr 1,80 1,57 0,89

Ximenes 1,85 1,85 0,93

Manaus 1,80 1,87 0,65

Trimanche 1,79 1,75 0,96

Ramos 1,81 1,79 0,68

Nota: (a) Massa específica determinada em relação às massas e volumes líquidos do

tijolo;

(b) Massa específica determinada em relação às massas e volumes totais do

tijolo.

Tabela 4 – Absorção d’água dos tijolos queimados, em oito cerâmicas analisadas.

Cerâmica Ramos R.

Negro

Trim. R.

Solim.

Xim. Man. Jr Nóvoa

Abs. de

água (%)

12,0 18,0 18,2 19,7 12,0 15,7 19,0 18,1

Paradoxalmente, a olaria mais rústica (cerâmica Jr), de pequeníssimo porte,

com processo de fabricação mais simplista entre as demais, apresentou seus tijolos

com maior resistência. Contudo, averiguou-se que as dimensões internas destes

tijolos eram as mais espessas, entre todos os outros tijolos, das outras cerâmicas

analisadas. Com esta maior rigidez nos encontros internos das paredes destes

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tijolos, a capacidade de suporte fora acrescida sobremaneira. Decerto que este

processo de fabricação leva a maior consumo de matéria-prima, maior tempo de

secagem e consumo de energia para queima destes produtos. Ademais, o produto

recém-extrudado foi o que apresentou maior massa úmida, entre as outras

amostras.

Tabela 5 – Resistência à compressão simples de tijolos queimados, em oito

cerâmicas analisadas.

Cerâmica Tensão

média

(MPa)

Desvio

padrão

(MPa)

Coeficiente

de variação

(%)

Tensão

mínima

(MPa)

Tensão

máxima

(MPa)

Ramos 1,70 0,51 30,3 0,92 2,26

Rio Negro 0,73 0,37 51,1 0,36 1,39

Rio

Solimões

1,00 0,23 23,2 0,57 1,26

Jr 2,80 1,33 47,5 1,26 4,54

Trimanche 0,31 0,14 43,9 0,13 0,44

Manaus 0,70 0,14 19,4 0,51 0,89

Nóvoa 0,58 0,08 14,2 0,47 0,67

Ximenes 1,18 0,15 12,7 0,98 1,33

CONCLUSÕES

Análises laboratoriais de amostras in natura de argila do depósito quaternário

dos municípios de Iranduba e Manacapuru são apresentadas.

Verificou-se que as argilas apresentam elevados valores de limites de liquidez

(de 90 a 98 %) e plasticidade (de 35 a 44 %), classificando-se como pertencente ao

grupo CH, do sistema de classificação Unificado. Os principais argilominerais

presentes são a caulinita e a illita. Percebeu-se que os empresários do setor oleiro

empregam apenas as argilas superficiais como matéria-prima, até uma profundidade

média de três metros. Abaixo deste horizonte, ocorre uma pequena lente de material

arenoso, com ou sem a presença de nível d’água subterrâneo. Como conseqüência,

as áreas de mineração são rasas, fazendo com que haja um contínuo passivo

ambiental decorrente do desmatamento de áreas virgens, para abertura de novas

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jazidas. A exploração das jazias dá-se em áreas de várzea, que ficam inundadas por

um período de seis a oito meses, ao ano, durante o período de cheia dos rios.

Notou-se que as olarias - mesmo aquelas de grande porte – empregam ainda

métodos empíricos de produção da cerâmica vermelha, sem controle algum sobre o

teor de umidade, mistura de matérias-primas, processos de secagem e queima,

além do controle laboratorial de seus produtos. Duas matérias-primas argilosas são

utilizadas no processo produtivo, sendo misturadas “à olho nu”, numa proporção de

cerca de metade do volume em argila vermelha, com alto teor de fração areia e silte,

e a outra metade com a argila mosqueada, muito mais gorda. Ensaios tecnológicos

foram realizados em amostras de tijolos crus e queimados, ressaltando ainda mais o

parco controle produtivo, dada a elevada dispersão nos resultados de resistência à

compressão simples, em uma mesma série de ensaios. Assim, a tensão média de

compressão variou de 0,31 a 2,80 MPa, com valor de pico individual de 4,54 MPa,

enquanto a absorção d’água média variou no intervalo de 12 a 20 %. Em adição, os

valores de massa especifica aparente média do produto final está compreendida na

faixa de 1,57 a 1,87 g/cm3 – quando se considera apenas as massas e volumes

líquidos dos tijolos, descontando-se os furos dos mesmos -, ao passo que a

grandeza deste parâmetro decai para 0,65 a 0,96 g/cm3, quando se leva em conta a

massa e volume totais. A perda de massa média experimentada pelos tijolos, entre

as fases de moldagem e queima varou no intervalo entre 7,4 e 38,3 %, este último

valor representando mais de 1/3 da massa total bruta do elemento. A média das

retrações volumétricas, obtida diretamente das amostras de tijolo, está inserida na

faixa de 14,1 a 30,6 %.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) Soares, E.A.A.; Silva, C.L.; Nogueira, A.C.R.; Suguio, K.; Barros, D.S. e Santos,

W.H.D. (2001). Os depósitos quaternários na confluência dos rios Negro e

Solimões, municípios de Iranduba e Manacapuru, Amazonas. Simpósio de

Geologia da Amazônia, 7, Belém, 4 a 9 de novembro de 2001.

(2) Dino, R., Silva, O.B. e Abrahão, D. Caracterização palinológica e estratigráfica de

estratos cretáceos da Formação Alter do Chão, Bacia do Amazonas. Boletim do

5º Simpósio sobre o Cretáceo do Brasil, UNESP, Rio Claro, SP, p. 557-565,

1999.

Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society

28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR

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Page 12: Análises laboratoriais de cerâmica vermelha do pólo oleiro ... · profundidade, e foram abertos por trado mecânico, sobre chassi de caminhão, com 0,80 m de diâmetro de broca

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Universidade Federal do Amazonas, 2000.

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1979, Rio de Janeiro.

RED CERAMIC TECHNOLOGICAL LABORATORY TESTS OF THE CERAMIC

POLE OF THE MUNICIPAL DISTRICTS OF IRANDUBA AND MANACAPURU,

STATE OF AMAZONAS

ABSTRACT

The ceramic pole of the municipal districts of Iranduba and Manacapuru, in the state

of Amazonas, represents an offer of more than 90 % of the red ceramic consumed in

the city of Manaus. Analyses of diffraction X-rays in samples of clay of the place,

indicate the presence of the clay minerals kaolinite and illita. The chemical

composition is formed mainly by quartz, alumina and mullite. Both the liquid and

plasticity limits vary between 90 and 98 %, and 35 and 44%, respectively. The tenors

of the both fractions clay and silt vary between 92 and 94 % of the whole weight of

the sample. The results of technological rehearsals are presented, accomplished on

samples of eight holes bricks, collected of the pole potter's eight ceramic, showing a

great dispersion in the resistance values to the simple compression, varying between

0,31 and 2,80 MPa, with 4,54 MPa individual maximum value, and in the absorption

of water, between 12 and 20%.

Key-words: red ceramic, ceramic pole, ceramic material, technological laboratory

test.

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