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ENSAIOS TECNOLÓGICOS EM CERÂMICA VERMELHA DO PÓLO OLEIRO DOS MUNICÍPIOS DE IRANDUBA E MANACAPURU, AM
N.S. Campelo1, O. Seye2, E.C.S. Santos2, A.M.C. Horbe1, Rocha, F.S.1, A.F. Aragão1, S.C. Pinheiro1, E.M. Cabral1
1 Universidade Federal do Amazonas – Núcleo de Tecnologia de Materiais – NUTEMA - Av. Gen. Rodrigo Otávio Ramos, 3000 – Coroado – CEP 69.077-000 – Manaus, AM – [email protected] 2 Universidade Federal do Amazonas – Núcleo de Eficiência Energética - NEFEN
RESUMO
O pólo cerâmico dos municípios de Iranduba e Manacapuru, no estado do
Amazonas, representa uma oferta de mais de 90 % da cerâmica vermelha
consumida na cidade de Manaus. Análises de difratometria de raios X em amostras
de argila do local, indicam a presença dos argilominerais caulinita e illita. A
composição química é formada principalmente por sílica, alumina e hematita. Os
limites de liquidez e de plasticidade variaram entre 90 e 98 %, e 35 e 44%,
respectivamente, entre o nível do terreno e três metros de profundidade. Os teores
das frações argila e silte situam-se em torno de 92 e 94 % da massa total da
amostra. São apresentados os resultados de ensaios tecnológicos, realizados sobre
amostras de tijolos de oito furos, coletados de oito cerâmicas do pólo oleiro,
mostrando que a tensão de compressão média varia entre 0,31 e 2,80 MPa, com
valores de pico de 4,54 MPa.
Palavras-chave: cerâmica vermelha, pólo cerâmico, material cerâmico, ensaio
tecnológico.
INTRODUÇÃO
A cidade de Manaus representa cerca de 95 % do PIB do estado do
Amazonas, fruto principalmente dos recursos oriundos de sua Zona Franca, ali
instalada há 37 anos. Por conta da atração de centenas de indústrias, houve uma
explosão demográfica sem precedentes da população local, saltando de cerca de
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300 mil para 1,7 milhão de habitantes, atualmente, em pouco mais de 35 anos.
Pelos incentivos fiscais, dezenas de cerâmicas instalaram-se em duas cidades
vizinhas – Iranduba e Manacapuru – localizadas à margem direita do rio Negro.
As jazidas de exploração da argila in natura são áreas de várzea, alagadiças
durante os meses de dezembro a julho, obrigando os oleiros a fazerem
armazenamento de matéria-prima para que não haja a paralisação de suas
atividades, durante esta época crítica. Dentre as cerca de 25 cerâmicas ora ativas,
nos dois municípios, há cerca de 25 % de grande porte, 25 % de médio e 50 % de
pequeno porte. Entre estas últimas, existe uma certa rotatividade de proprietários,
quiçá decorrente da falta de recursos financeiros para manterem a competitividade
peculiar do meio. Ressalte-se que mesmo naquelas olarias de grande porte, não
existe qualquer controle laboratorial da matéria-prima ou do produto final, que é
geralmente cerâmica vermelha do tipo tijolos maciços, furados, estruturais e telhas
diversas. Praticamente toda a produção do pólo oleiro dos dois municípios é
comercializada na cidade de Manaus. Não existe ainda, por parte dos sindicatos
patronais da categoria e da construção civil, CREA, SENAI, etc., qualquer
mobilização que se faça mister para a inclusão destas cerâmicas no Programa
Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat – PBQP-H, do estado do
Amazonas.
CONDIÇÕES GEOLÓGICO-GEOTÉCNICAS DO LOCAL
As jazidas de matéria-prima são regiões de várzea, ou seja, durante seis a
oito meses permanecem alagadas, inviabilizando a sua exploração. A Figura 1
apresenta o mapa de localização da região oleira, objeto deste trabalho (1). Na
região de várzea dos dois municípios, foram abertos seis poços de exploração, para
retirada de amostra deformada, metro a metro, visando a caracterização geotécnica
e tecnológica da argila in natura. Os poços alcançaram de seis a onze metros de
profundidade, e foram abertos por trado mecânico, sobre chassi de caminhão, com
0,80 m de diâmetro de broca. A profundidade alcançada ficou dependente da
presença do nível d’água subterrâneo, concomitante ao material arenoso
encontrado, que impossibilitou o avanço da perfuração até níveis mais profundos. A
rodovia estadual Manuel Urbano (AM-070) liga os municípios de Iranduba,
Manacapuru e Novo Ayrão à capital do estado. O município de Iranduba está
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localizado à margem esquerda do rio Solimões, possui uma área de 2.354 km2 e sua
sede dista cerca de 25 km, em linha reta, na direção NW-SE da cidade de Manaus.
0 1
ESCALA
Lago doMiriti
Lago do Limão
Manaus
Iranduba
0 km
Manacapuru
AM-070
AM-070
AM
-452
1
2
3
4
Lago Paricatuba
Cacau Pirêra
Lago doIranduba
Ilha daPaciênciaColônia Boa Vista
Lago doBim
Paraná do Ariaú
Ponta do Ariaú
Ilha do Campo
Igarapé Acajituba
Lago doMatias
60 00’31”0
0302
’01”
0
0302
’01”
0
60 40’59”0 60 00’31”0
03 1
8’28
”
03 1
8’28
’’
N
Rio Negro
Rio Solimões
Ponta do Ariaú
OO
60 40’59”0
Figura 1 – Localização do pólo oleiro dos municípios de Iranduba e Manacapuru (1).
A sua ligação com a capital dá-se por meio fluvial, havendo a necessidade da
travessia do rio Negro, por meio de balsas, a partir da localidade de Cacau Pirêra. O
município de Manacapuru está situado à margem esquerda do rio Solimões,
apresentando área de 7.062 km2, e dista de Manaus cerca de 79 km. De acordo com
DNPM (2000), geologicamente, os municípios de Iranduba e Manacapuru situam-se
em uma planície de dissecação, prevalecendo as rochas sedimentares da Formação
Alter do Chão, cuja sedimentação deu-se em ambiente continental, fluvial e
lacustrino, constituída por intercalações de arenitos, siltitos e conglomerados. Os
arenitos são de granulometria fina a média, mal classificados e de cor avermelhada;
os argilitos, maciços ou laminares, mal consolidados, apresentam clastos de areias
distribuídas irregularmente; e os conglomerados são de seixos de quartzo e arenito
silicificado. A unidade mais antiga dessa área são as rochas silicilásticas da
Formação Alter do Chão, do Cretáceo Superior, sobre as quais desenvolvem-se
toda a sedimentação fluvial quaternária, composta principalmente de argilas (2).
Estes depósitos argilosos juntamente com o latossolo amarelo que recobrem a
Formação Alter do Chão, são utilizados como matéria-prima na industria da
cerâmica vermelha. A Formação Alter do Chão é composta principalmente por fáceis
de composição quartzosa caulínica, por vezes silicificadas, intercaladas com fáceis
mais argilosas. Apresenta em geral coloração esbranquiçada e rosada,
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granulometria variando de fina a grossa, com estratificações plano-paralela e
cruzada tubular, até de marcas onduladas no topo das camadas. Localmente,
observa-se níveis de arenito fino argiloso, coloração avermelhada, aspecto
mosqueado, rico em tubos verticais e horizontais de até 1,5 cm de diâmetro,
preenchidos por areia fina, relacionados à bioturbações. Na parte superior de alguns
perfis, apresenta crosta laterítica, recoberta por latossolo amarelo. Os sedimentos
quaternários, em geral, apresentam composição de argila silto-arenosa e coloração
cinza-esbranquicada, com tons avermelhados e amarelados, mostrando-se, por
vezes, mais arenosos ou mais ricos em matéria orgânica. Até a profundidade de 4,5
m de profundidade, mostram aspectos mosqueados, devidos às concentrações
ferruginosas sub-verticais e estrutura maciça. A estimativa da capacidade nominal
instalada do parque oleiro de Iranduba é de seis e meio milhões de tijolos por mês,
tipo oito furos (4). Contudo, estimativas mais recentes dão conta que a capacidade
de produção estaria em torno de oito milhões de tijolos ao mês (5). Na região do
município de Manacapuru, as olarias localizadas neste pólo concentram-se
predominantemente na região do lago do Ubim, entre os quilômetros 38 e 45 da
rodovia AM-070, cujas jazidas, semelhantemente ao que se verifica em Iranduba,
também aqui situam-se muito próximas às instalações industriais, algumas até
mesmo nas próprias dependências da olaria. A capacidade nominal instalada no
município de Manacapuru é de dois milhões de tijolos de oito furos, ao mês,
respondendo por cerca de 20 % do total do pólo oleiro dos dois municípios (4,5). Há
de se ressaltar que a argila é extraída, normalmente, nos meses de agosto a
dezembro, quando ocorre a vazante dos rios, obrigando, destarte, a se fazer
estoque de grande quantidade de matéria-prima, com o escopo de se trabalhar o
ano todo com a cerâmica vermelha. A exploração de jazidas está levando a
impactos ambientais acentuados na região, pois os oleiros empregam apenas as
argilas superficiais, do horizonte mosqueado, com profundidade de até três metros,
em média, forçando cada vez mais o desmatamento de áreas, para novas aberturas
de jazidas.
MATERIAIS E MÉTODOS
As amostras de argila in natura, coletadas nos seis poços de exploração,
estão sendo ensaiadas nos laboratórios de Pavimentação, Materiais de Construção
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e Geoquímica, da Universidade Federal do Amazonas. Neste trabalho são
apresentadas apenas as análises efetuadas sobre amostras coletadas até três
metros de profundidade, de um dos poços (número 5), aberto na localidade de
Cacau Pirêra, distrito de Iranduba. É oportuno relatar o fato de que há, visualmente,
uma grande homogeneidade de cor, plasticidade e granulometria dos depósitos da
região de Iranduba, distribuídos lateralmente, ao longo dos vários horizontes, pois a
área possui relevo bastante plano. Os ensaios realizados nas amostras foram os de
análise granulométrica, limites de consistência, difratometria de raios X e absorção
atômica – estes dois últimos apenas em amostras típicas dos horizontes
estratigráficos. Os ensaios de queima serão abordados em futuros trabalhos.
Coletaram-se também amostras de tijolo recém-moldado e queimado, de um mesmo
lote, com o fito de se determinar o teor de umidade de moldagem e a variação
volumétrica – por medições diretas – dos tijolos por um período de sete dias. Nas
amostras de tijolos queimados, efetuaram-se os ensaios de resistência à
compressão simples, de absorção d’água e de massa especifica aparente, além de
se tomarem as medidas de comprimento, largura e espessura das mesmas. Relate-
se também que as amostras foram coletadas de oito cerâmicas, nos dois municípios
em estudo. De cada olaria, foram tomadas seis amostras de tijolos crus e seis de
queimados (da mesma fornada), a fim de se ter médias características
representativas dos produtos nas duas modalidades. As medições das dimensões
dos tijolos crus foram feitas nas próprias olarias, diariamente, por um prazo máximo
de até uma semana.
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
A Figura 2 mostra os resultados de difratometria de raios X realizados sobre
amostras típicas de argilas da região de Cacau Pirêra, no município de Iranduba,
coletadas do poço número 5, à superfície (abaixo da camada vegetal) e na
profundidade de três metros. Nota-se que o argilomineral predominante, em ambas
as amostras, é a caulinita, não obstante o fato da ocorrência também de illita.
Ademais, cumpre mencionar a ocorrência de esmectita em outras amostras, de
outros poços. A Tabela 1 indica a composição química encontrada em amostras de
argilas coletadas do município de Iranduba, notadamente da localidade de Cacau
Pirêra, no poço número 5.
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5
Superfície
0
200
400
600
800
1000
1200
1 1001
Theta-2Theta
Inte
nsid
ade
I
C
10 20
I
C
5 25
I: IllitaC: Caulinita
3 metros
0
500
1000
1500
2000
2500
20000
Theta-2Theta
Inte
nsid
ade
C
2 10 20 25
I I C
I: IllitaC: Caulinita
Figura 2 – Análise difratométrica realizada sobre amostras típicas de argilas da
localidade de Cacau Pirêra, município de Iranduba.
Verifica-se uma relativa variação do teor de quartzo na composição das
argilas, decorrente da maior ou menor presença da fração areia nestes materiais. A
outra variação observada é no teor de alumina, pois este mineral condiciona-se a
fatores de pH e Eh em horizontes mosqueados do solo, pela sua relativa mobilidade.
Deve-se notar também a relativa perda ao fogo (PF), conseqüência da existência de
matéria orgânica nas argilas. No furo 5, os limites de liquidez e de plasticidade
variaram entre 90 e 98 %, e 35 e 44 %, respectivamente, para as profundidades
imediatamente abaixo do nível original do terreno até os três metros inferiores. Para
estas mesmas profundidades, a fração silte mais argila variou entre 92 e 94 %, e a
fração areia entre 6 e 8 %. Empregando-se o sistema de classificação Unificada, as
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amostras enquadram-se predominantemente como CH (argila inorgânica de alta
plasticidade).
Tabela 1 – Composição química principal presente em amostras típicas de argilas da
localidade de Cacau Pirêra, município de Iranduba.
Composto SiO3 Al2O3 Fe2O3 MgO+
CaO
Na2O+
K2O
C PF
Interv. de
Variação (%)
53,1 a
68,3
12,6 a
23,9
1,73 a
2,0
1,4 a
7,0
1,1 a
3,6
0,6 a
2,8
6,3 a
8,9
A Tabela 2 apresenta a variação de massa entre tijolos crus e queimados, em
uma mesma fornada, medida em seis cerâmicas dos dois municípios em tela. Pode-
se notar que a perda de água, entre o fim do processo de secagem natural – sem o
auxílio de correntes de ar forçadas – e a queima do tijolo varia entre 7,4 e 38,3 %,
com a predominância entre 23 e 26 %, ou seja, há uma perda superior a 1/3 da
massa do tijolo, entre ambas as fases do processo produtivo, neste caso particular.
Esses números corroboram alguns fatos já anteriormente relatados, no tocante à
falta de um controle de teor de umidade de moldagem dos tijolos crus, fazendo com
que haja grande dispersão nos resultados. Uma maior quantidade de água irá
fatalmente diminuir a resistência à compressão do tijolo queimado, além de
representar um aumento do consumo de lenha e energia elétrica, incrementando,
assim, o desperdício de tempo e recursos financeiros nos processos de secagem e
queima. Por isso, um controle tecnológico do teor de umidade é imprescindível, para
se chegar a uma melhoria da qualidade do produto acabado. Ademais, para as três
primeiras cerâmicas, verifica-se que a perda de água pelo processo de secagem
natural representa cerca de 5,6 a 17,3 %, em relação à massa recém-moldada do
tijolo. A Tabela 3 apresenta algumas medições realizadas da massa especifica
aparente, em amostras recolhidas de sete distintas cerâmicas, nas condições de
tijolo cru e queimado, esta última em relação às massas e volumes líquidos
(descontando-se os furos) e totais. Pode-se observar que apenas a cerâmica Jr
forneceu resultado discrepante, em relação às demais olarias, no tocante à baixa
massa especifica, quando o tijolo é queimado. Nota-se também que os tijolos da
cerâmica Jr apresentaram o menor valor de massa especifica aparente, ao mesmo
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tempo em que a retração volumétrica média entre a secagem e a queima, dos seus
tijolos, foi bem maior que as demais (30,6 %). Este fato pode ser explicado pela
grande quantidade de água presente nos tijolos crus. Os valores da massa
especifica encontrada, nas diferentes cerâmicas, para a condição de se considerar a
massa e volume totais, estão, em alguns casos, bem abaixo de 1,1 g/cm3, que é um
valor típico que se esperaria determinar neste tipo de cálculo (6). Talvez uma
explicação plausível seja a quantidade de ar e água no interior dos poros dos tijolos,
fruto da falta de controle de quantidade de água no processo de moldagem dos
mesmos.
Tabela 2 – Variação de massas dos tijolos crus e queimados.
Cerâmica Média das
massas dos
tijolos crus
após extrusão
(g)
Média das
perdas de
água após fim
da secagem
natural (g)
Média das
massas dos
tijolos
queimados
(g)
Média das perdas
de água dos tijolos
queimados, em
relação aos crus,
após extrusão (%)
Rio Negro 2508,4 141,1 2322,9 7,4
Nóvoa 2358,4 308,9 1752,2 25,7
Rio Solimões 3081,2 533,8 2354,7 23,6
Jr 3522,9 -- 2172,7 38,3
Ximenes 3115,3 -- 2399,2 23,0
Trimanche 2389,5 -- 2153,2 9,9
As retração volumétrica de tijolos crus e queimados, na fase de secagem
natural, conduziram à variações entre 11,3 e 17,9 %, em seis cerâmicas analisadas.
Além disto, foi verificado que as retrações volumétrica entre a secagem natural e a
queima, concentraram-se no intervalo de 14,1 a 30,6 %.
A Tabela 4 apresenta os resultados de ensaios de absorção de água,
realizados nos tijolos queimados. Em grande parte das cerâmicas, a absorção de
água está no limite superior de tolerância estabelecida pelas Normas brasileiras. A
Tabela 5 indica os resultados de ensaios de compressão simples efetuados sobre as
amostras de oito cerâmicas estudadas. Percebe-se, pelo coeficiente de variação, a
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elevada dispersão de resultados, decorrente da completa ausência de política de
controle de qualidade do produto final, em todas as fases do processo de fabricação.
Tabela 3 – Valores de massa específica aparente de tijolos crus e queimados, de
algumas cerâmicas.
Cerâmica Massa especifica aparente (g/cm3)
Tijolo cru Tijolo
queimado
(a)
Tijolo
queimado
(b)
Rio Negro 1,85 1,76 0,75
Nóvoa 1,83 1,75 0,70
Rio Solimões 1,85 1,74 0,79
Jr 1,80 1,57 0,89
Ximenes 1,85 1,85 0,93
Manaus 1,80 1,87 0,65
Trimanche 1,79 1,75 0,96
Ramos 1,81 1,79 0,68
Nota: (a) Massa específica determinada em relação às massas e volumes líquidos do
tijolo;
(b) Massa específica determinada em relação às massas e volumes totais do
tijolo.
Tabela 4 – Absorção d’água dos tijolos queimados, em oito cerâmicas analisadas.
Cerâmica Ramos R.
Negro
Trim. R.
Solim.
Xim. Man. Jr Nóvoa
Abs. de
água (%)
12,0 18,0 18,2 19,7 12,0 15,7 19,0 18,1
Paradoxalmente, a olaria mais rústica (cerâmica Jr), de pequeníssimo porte,
com processo de fabricação mais simplista entre as demais, apresentou seus tijolos
com maior resistência. Contudo, averiguou-se que as dimensões internas destes
tijolos eram as mais espessas, entre todos os outros tijolos, das outras cerâmicas
analisadas. Com esta maior rigidez nos encontros internos das paredes destes
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tijolos, a capacidade de suporte fora acrescida sobremaneira. Decerto que este
processo de fabricação leva a maior consumo de matéria-prima, maior tempo de
secagem e consumo de energia para queima destes produtos. Ademais, o produto
recém-extrudado foi o que apresentou maior massa úmida, entre as outras
amostras.
Tabela 5 – Resistência à compressão simples de tijolos queimados, em oito
cerâmicas analisadas.
Cerâmica Tensão
média
(MPa)
Desvio
padrão
(MPa)
Coeficiente
de variação
(%)
Tensão
mínima
(MPa)
Tensão
máxima
(MPa)
Ramos 1,70 0,51 30,3 0,92 2,26
Rio Negro 0,73 0,37 51,1 0,36 1,39
Rio
Solimões
1,00 0,23 23,2 0,57 1,26
Jr 2,80 1,33 47,5 1,26 4,54
Trimanche 0,31 0,14 43,9 0,13 0,44
Manaus 0,70 0,14 19,4 0,51 0,89
Nóvoa 0,58 0,08 14,2 0,47 0,67
Ximenes 1,18 0,15 12,7 0,98 1,33
CONCLUSÕES
Análises laboratoriais de amostras in natura de argila do depósito quaternário
dos municípios de Iranduba e Manacapuru são apresentadas.
Verificou-se que as argilas apresentam elevados valores de limites de liquidez
(de 90 a 98 %) e plasticidade (de 35 a 44 %), classificando-se como pertencente ao
grupo CH, do sistema de classificação Unificado. Os principais argilominerais
presentes são a caulinita e a illita. Percebeu-se que os empresários do setor oleiro
empregam apenas as argilas superficiais como matéria-prima, até uma profundidade
média de três metros. Abaixo deste horizonte, ocorre uma pequena lente de material
arenoso, com ou sem a presença de nível d’água subterrâneo. Como conseqüência,
as áreas de mineração são rasas, fazendo com que haja um contínuo passivo
ambiental decorrente do desmatamento de áreas virgens, para abertura de novas
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jazidas. A exploração das jazias dá-se em áreas de várzea, que ficam inundadas por
um período de seis a oito meses, ao ano, durante o período de cheia dos rios.
Notou-se que as olarias - mesmo aquelas de grande porte – empregam ainda
métodos empíricos de produção da cerâmica vermelha, sem controle algum sobre o
teor de umidade, mistura de matérias-primas, processos de secagem e queima,
além do controle laboratorial de seus produtos. Duas matérias-primas argilosas são
utilizadas no processo produtivo, sendo misturadas “à olho nu”, numa proporção de
cerca de metade do volume em argila vermelha, com alto teor de fração areia e silte,
e a outra metade com a argila mosqueada, muito mais gorda. Ensaios tecnológicos
foram realizados em amostras de tijolos crus e queimados, ressaltando ainda mais o
parco controle produtivo, dada a elevada dispersão nos resultados de resistência à
compressão simples, em uma mesma série de ensaios. Assim, a tensão média de
compressão variou de 0,31 a 2,80 MPa, com valor de pico individual de 4,54 MPa,
enquanto a absorção d’água média variou no intervalo de 12 a 20 %. Em adição, os
valores de massa especifica aparente média do produto final está compreendida na
faixa de 1,57 a 1,87 g/cm3 – quando se considera apenas as massas e volumes
líquidos dos tijolos, descontando-se os furos dos mesmos -, ao passo que a
grandeza deste parâmetro decai para 0,65 a 0,96 g/cm3, quando se leva em conta a
massa e volume totais. A perda de massa média experimentada pelos tijolos, entre
as fases de moldagem e queima varou no intervalo entre 7,4 e 38,3 %, este último
valor representando mais de 1/3 da massa total bruta do elemento. A média das
retrações volumétricas, obtida diretamente das amostras de tijolo, está inserida na
faixa de 14,1 a 30,6 %.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(1) Soares, E.A.A.; Silva, C.L.; Nogueira, A.C.R.; Suguio, K.; Barros, D.S. e Santos,
W.H.D. (2001). Os depósitos quaternários na confluência dos rios Negro e
Solimões, municípios de Iranduba e Manacapuru, Amazonas. Simpósio de
Geologia da Amazônia, 7, Belém, 4 a 9 de novembro de 2001.
(2) Dino, R., Silva, O.B. e Abrahão, D. Caracterização palinológica e estratigráfica de
estratos cretáceos da Formação Alter do Chão, Bacia do Amazonas. Boletim do
5º Simpósio sobre o Cretáceo do Brasil, UNESP, Rio Claro, SP, p. 557-565,
1999.
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(3) Santos, W.H.D. (2000). Morfoestratigrafia e sedimentologia dos depósitos
quaternários das regiões de Manacupuru e Iranduba, sudoeste de Manaus – AM.
Trabalho final de graduação em Geologia. Departamento de Geociências,
Universidade Federal do Amazonas, 2000.
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Nacional de Produção Mineral, Manaus, AM, fevereiro de 2000.
(5) Seye, O.; Campelo, N.S.; Santos, E.C.S. (2003). Melhoramento do processo
produtivo de cerâmica estrutural como ação mitigadora para estabilização ou
redução adicional nas emissões de gases de efeito estufa. Relatório Final, Núcleo
de Eficiência Energética da Universidade Federal do Amazonas – NEFEN/UFAM.
(6) Bauer, L.A.F. Materiais de Construção. Livros Técnicos e Científicos Ed., 1ª ed.,
1979, Rio de Janeiro.
RED CERAMIC TECHNOLOGICAL LABORATORY TESTS OF THE CERAMIC
POLE OF THE MUNICIPAL DISTRICTS OF IRANDUBA AND MANACAPURU,
STATE OF AMAZONAS
ABSTRACT
The ceramic pole of the municipal districts of Iranduba and Manacapuru, in the state
of Amazonas, represents an offer of more than 90 % of the red ceramic consumed in
the city of Manaus. Analyses of diffraction X-rays in samples of clay of the place,
indicate the presence of the clay minerals kaolinite and illita. The chemical
composition is formed mainly by quartz, alumina and mullite. Both the liquid and
plasticity limits vary between 90 and 98 %, and 35 and 44%, respectively. The tenors
of the both fractions clay and silt vary between 92 and 94 % of the whole weight of
the sample. The results of technological rehearsals are presented, accomplished on
samples of eight holes bricks, collected of the pole potter's eight ceramic, showing a
great dispersion in the resistance values to the simple compression, varying between
0,31 and 2,80 MPa, with 4,54 MPa individual maximum value, and in the absorption
of water, between 12 and 20%.
Key-words: red ceramic, ceramic pole, ceramic material, technological laboratory
test.
Anais do 48º Congresso Brasileiro de Cerâmica Proceedings of the 48th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society
28 de junho a 1º de julho de 2004 – Curitiba-PR
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