16
1

Anarquismo Verde

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Uma introdução ao pensamento e prática anarquista anti-civilização. Por: Green Anarchy Collective.

Citation preview

Page 1: Anarquismo Verde

1

Page 2: Anarquismo Verde

2

Page 3: Anarquismo Verde

3

ANARQUISMO VERDE

Uma Introdução ao Pensamento e Prática Anarquista Anti-Civilização

Green Anarchy Collective Traduzido pelo Coletivo Erva Daninha

Este texto não é para ser "os princípios que definem" um "movimento" anarquista verde, nem

mesmo um manifesto anti-civilização; é um olhar sobre ideias e conceitos básicos de membros de

coletivos que dividem consigo e outros que se identificam com os anarquistas verdes. Nós

entendemos e celebramos a necessidade de manter nossas visões e estratégias abertas, e

discussões sempre são bem vindas.

Nós sentimos que cada aspecto do que pensamos e do que somos precisam ser desafiados e

permanecer flexíveis se nós quisermos crescer. Não estamos interessados em desenvolver uma

nova ideologia, perpetuar uma visão de mundo única. Nós também entendemos que nem todos

anarquistas verdes são especificamente contra a civilização (mas custamos a entender como

alguém pode ser contra todo tipo de dominação sem pensar em suas raízes: a própria civilização).

Até aí, entretanto, muito dos que usam o termo "anarquista verde" criticam a civilização e tudo que

vem junto com ela (domesticação, patriarquismo, divisão de trabalho, tecnologia, produção,

representação, alienação, controle, destruição da vida, etc.).

Enquanto alguns gostariam de falar em termos de democracia direta e jardinagem urbana nós

achamos que é impossível e indesejável fazer a civilização mais "verde" e/ou fazê-la mais "justa".

Nós sentimos que é importante mover radicalmente em direção a um mundo descentralizado, para

desafiar a lógica e a formação de opinião da cultura-da-morte, acabar com toda mediação em

nossas vidas, e destruir todas as instituições e manifestações físicas deste pesadelo. Nós queremos

nos tornar não-civilizados. Em termos gerais, essa é a trajetória da anarquia verde no pensamento e

na prática.

Anarquia vs. Anarquismo

Um fator que nós achamos ser importante para começar este texto é a distinção entre "anarquia" e

"anarquismo". Alguns poderão entender isso como uma pura questão trivial ou semântica, mas para

muitos pós-esquerdistas e anarquistas anti-civilização, esta diferenciação é importante. Enquanto o

anarquismo serve como um importante ponto de referência histórica do qual se extrai inspirações e

lições, ele tem se tornado muito sistemático, fixo e ideológico - tudo o que a anarquia não é.

Admitidamente, a anarquia tem muito pouco a ver com a orientação social/política/filosófica do

anarquismo e mais a ver com aqueles que se identificam como anarquistas. Sem dúvida, muitos de

nossa “linhagem” anarquista ficariam desapontados por esta tendência em solidificar algo que

deveria estar sempre fluindo. Os primeiros que se identificaram como anarquistas (Proudhon,

Bakunin, Berkman, Goldman, Malatesta e outros) respondiam a seus contextos específicos com suas

próprias motivações e desejos específicos. Muito frequentemente, os anarquistas contemporâneos

Page 4: Anarquismo Verde

4

veem estas pessoas como representantes e fundadores da anarquia, e criam uma atitude do tipo "o

que Bakunin faria" (ou melhor, "pensaria") a respeito da anarquia, o que é trágico e potencialmente

perigoso. Hoje, os que se identificam como anarquistas "clássicos" se recusam a aceitar qualquer

realização em um território desconhecido dentro do anarquismo (ex.: primitivismo, pós-

esquerdismo, etc.) ou tendências que têm estado frequentemente em desacordo com a aproximação

com o movimento de massa dos trabalhadores (ex.: Individualismo, Niilismo, etc.). Estes anarquistas

rígidos, dogmáticos e extremamente não-criativos foram muito longe em declarar que o anarquismo

é uma metodologia social/econômica de organizar as classes trabalhadoras. Isso é obviamente um

extremo absurdo, mas tais tendências podem ser vistas nas ideias e projetos de muitos anarco-

esquerdistas contemporâneos (anarco-sindicalistas, anarco-comunistas, plataformistas,

federacionistas, etc.).O "Anarquismo" como se encontra hoje, é uma ideologia muito esquerdista, a

qual nós devemos ir além. Em contraste, a "anarquia" é uma experiência sem forma, fluída e

orgânica que abraça visões multifacetadas de libertação tanto pessoal quanto coletiva e sempre

aberta. Como anarquistas nós não nos interessamos em formar uma nova estrutura ou conjunto de

regras para viver e seguir, por mais "ética" ou "discreta" que pareça ser. Os anarquistas não

podem oferecer outro mundo para as pessoas, mas nós podemos levantar questões e ideias, tentar

destruir toda dominação que impede nossas vidas e nossos sonhos e vivermos diretamente

conectados com nossos desejos.

O que é Primitivismo?

Enquanto nem todos os anarquistas verdes se identificam especificamente como "Primitivistas",

muitos reconhecem a importância que a crítica primitivista tem tido nas perspectivas anti-

civilização. O primitivismo é simplesmente uma análise antropológica, intelectual e experimental das

origens da civilização e das circunstâncias que levaram ao pesadelo que nós atualmente vivemos. O

primitivismo reconhece que na maior parte da história humana, nós vivíamos em comunidades face-

a-face, em harmonia uns com os outros e com o nosso redor, sem hierarquias e instituições para

mediar e controlar nossas vidas. Os primitivistas querem aprender através das dinâmicas que

ocorreram no passado e em sociedades contemporâneas coletoras-caçadoras/primitivas (aquelas

que existiram e ainda existem fora da civilização). Enquanto alguns primitivistas querem um retorno

completo e imediato às sociedades coletoras-caçadoras, muitos primitivistas sabem que um

conhecimento do que foi bem-sucedido no passado não determina exatamente o que funcionará no

futuro. O termo "Futuro Primitivo" criado pelo autor anarco-primitivista John Zerzan faz alusão de

que uma síntese de técnicas e ideias primitivas pode ser unida com conceitos e motivações

anarquistas contemporâneos situações descentralizadas saudáveis, sustentáveis e igualitárias.

Aplicadas não ideologicamente, o anarco-primitivismo pode ser uma importante ferramenta no

projeto de descivilização.

Page 5: Anarquismo Verde

5

O que é Civilização?

Os anarquistas verdes tendem a ver a civilização como os aparatos lógicos, institucionais e físicos

da domesticação, controle, e dominação. Enquanto diferentes indivíduos e grupos priorizam aspectos

distintos da civilização (ex. os primitivistas tipicamente se focam na questão das origens, as

feministas primeiramente se focam nas raízes e manifestações do patriarquismo, e os anarquistas

insurrecionalistas se focam principalmente na destruição das atuais instituições de controle),

muitos anarquistas verdes concordam que ela é a base do problema ou a raiz das opressões, e que

precisa ser desmantelada. A ascensão da civilização pode muito bem ser descrita como a mudança

dos últimos dez mil anos de uma existência profundamente conectada com a teia da vida, para outra

separada e em controle do resto da vida. Antes da civilização existia um amplo tempo livre, uma

considerável autonomia e igualdade sexual, uma aproximação não-destrutiva do mundo natural, a

ausência de violência, nenhuma instituição mediadora ou formal, e uma saúde vigorosa. A civilização

iniciou a guerra, a subjugação da mulher, o crescimento populacional, o trabalho forçado, os

conceitos de propriedade, hierarquias, e praticamente todas as doenças conhecidas, isso para citar

apenas algumas das suas consequências devastadoras. A civilização conta e começa com uma

renúncia forçada do instinto da liberdade. Ela não pode ser reformada, portanto é nossa inimiga.

Biocentrismo vs. Antropocentrismo

Um modo de analisar a extrema discordância entre as visões de mundo das sociedades primitivas e

da civilização é por meio de visões biocêntricas vs. antropocêntricas. O biocentrismo é uma

perspectiva que nos coloca e nos conecta com a terra e a complexa teia da vida, enquanto o

antropocentrismo, a visão dominante do mundo, da cultura ocidental, coloca o foco na sociedade

humana excluindo outras formas de vida. Uma visão biocêntrica não rejeita a sociedade humana,

mas a retira do status de superioridade e a coloca em equilíbrio com as outras formas de vida. Ela

coloca uma prioridade em uma visão biorregional, profundamente conectada com as plantas, os

animais, insetos, clima, condições geográficas, e o espírito do lugar que habitamos. Não há divisão

entre nós e o meio ambiente, então não pode haver modernização ou diversidade da vida. Onde a

separação e a modernização são as bases da nossa habilidade de dominar e controlar, a

interconexão é um pré-requisito para uma profunda educação, atenção e compreensão. A anarquia-

verde se esforça para ir além das ideias e visões antropocêntricas para um profundo respeito por

toda vida e as dinâmicas dos ecossistemas que nos sustentam.

Uma Crítica a Cultura Simbólica

Outro aspecto de que como nós vemos e relacionamos com o mundo que pode ser problemático, no

sentido de que somos separados de uma interação direta com o mundo, é a nossa mudança em

direção à uma quase que exclusiva cultura simbólica. Muitas vezes a resposta a esse

questionamento é "Então vocês só querem reclamar?" o que talvez seja a intenção de alguns, mas

essa crítica é um olhar para os problemas inerentes com uma forma de comunicação e

compreensão que confia primordialmente no pensamento simbólico ao custo (e exclusão) de outros

Page 6: Anarquismo Verde

6

meios sensuais e não mediados. A ênfase no simbólico é um movimento da experiência direta para a

experiência mediada, na forma de linguagem, arte, número, tempo etc. A cultura simbólica filtra toda

a nossa percepção através de símbolos formais e informais. Está além de simplesmente dar nome

as coisas, mas ter uma relação inteira com o mundo que é visto através das lentes da

representação. É questionável se os seres humanos são como “peças” do pensamento simbólico, ou

se esse pensamento se desenvolveu como uma mudança ou adaptação cultural, mas o modo

simbólico de expressão e compreensão é certamente limitado, e sua dependência leva à objetivação,

alienação e a uma cegueira da percepção. Muitos anarquistas verdes promovem e praticam a

aproximação e a reanimação de métodos dormentes e inutilizados de interação e percepção, como o

toque, olfato, e telepatia, bem como desenvolver métodos únicos e pessoais de compreensão e

expressão.

A Domesticação da Vida

A domesticação é o processo que a civilização usa para doutrinar e controlar a vida de acordo com

a sua lógica. Esses mecanismos aperfeiçoados de subordinação incluem: domesticação, criação,

manipulação genética, intimidação, extorsão, aprisionamento, adestramento, coerção, chantagem,

escravidão, governo, terrorismo, assassinato - a lista continua, incluindo quase todas as interações

sociais civilizadas. Suas ações e efeitos podem ser examinados e sentidos por toda sociedade,

reforçada pelas várias instituições, rituais e costumes. É também o processo pelo qual populações

humanas antes nômades se mudaram para uma existência sedentária e assentada através da

agricultura e criação de animais. Este tipo de domesticação requer uma relação totalitária com a

terra, com as plantas e os animais sendo domesticados. Ao passo que em um estado selvagem toda

vida divide e compete por recursos, a domesticação destrói esse balanço. A paisagem domesticada

(ex.: terras pastoris/campos de agricultura, e em um nível menor, horticultura e jardinagem) requer

o fim da livre divisão dos recursos que antes existiam; onde antes era "tudo é de todos", agora é

"meu". No romance Ismael, o autor Daniel Quinn fala sobre essa transformação dos "largadores"

(aqueles que aceitavam o que a Terra oferecia) aos "pegadores" (aqueles que exigiam da Terra o

que eles queriam). Essa noção de posse é o que levou a fundação da hierarquia social enquanto a

propriedade e o poder emergiam.

A domesticação não somente muda a ecologia de uma ordem livre para uma ordem totalitária, como

escraviza as espécies que são domesticadas. De modo geral, quanto mais um ambiente é controlado,

menos sustentável ele se torna. A própria domesticação humana envolve vários tipos de posses e

controles, em comparação com o modo de vida nômade e coletor. Não é de se esperar que muitas

alterações feitas de uma vida nômade-coletora para vida domesticada não foram feitas de forma

autônoma, mas foram feitas através da lâmina da espada e da mira das armas. Considerando que

somente há 2.000 anos atrás a maior parte da população do mundo era composta de coletores-

caçadores, agora não chega a 0.01%. O caminho da domesticação é uma força colonizadora que tem

trazido uma grande quantidade de patologias para as populações dominadas e para os criadores

Page 7: Anarquismo Verde

7

dessa prática. Vários exemplos incluem um declínio na saúde nutricional devido ao uso de dietas não

diversificadas, cerca de 40 a 60 tipos de doenças foram integradas nas populações humanas

através de animais domesticados (como a influenza, gripe comum, tuberculose e a gripe aviária), o

aumento dos excedentes que poderiam ser usados para alimentar a população desequilibrada, o que

invariavelmente envolve a propriedade e o fim da divisão incondicional.

As Origens e Dinâmicas do Patriarquismo

Para o início da mudança para a civilização, uns dos primeiros produtos da domesticação é o

patriarquismo: a formalização da dominação masculina e o desenvolvimento das instituições que a

reforçam. Criando falsas distinções e divisões sexuais entre homens e mulheres, a civilização

novamente cria um "outro" que pode ser "coisificado", controlado, dominado, utilizado e

transformado em produto. Isso ocorre paralelamente à domesticação de plantas na agricultura e

animais para criação, em uma dinâmica geral, e também específica, como é o caso do controle da

reprodução. Como em outras regiões de estratificação social, papéis são definidos às mulheres para

que assim se estabeleça uma ordem rígida e previsível que beneficie a hierarquia. As mulheres

passam a ser vistas como propriedade, assim como os campos de trigo ou as ovelhas no pasto. A

posse e o controle absoluto tanto da terra quanto dos animais, escravos, crianças ou mulheres, é

parte da dinâmica estabelecida da civilização. O patriarquismo exige a subjugação feminina e a

usurpação da natureza, nos impulsionando a aniquilação total. O patriarquismo define o poder, o

controle e o domínio sobre a vida selvagem, a liberdade e a vida. O condicionamento patriarcal

domina todas as nossas interações; com nós mesmos, nossa sexualidade, nossa relação uns com os

outros e a nossa relação com a natureza. Isso limita severamente o espectro de possíveis

experiências. A relação interconectada entre a lógica da civilização e o patriarquismo é inegável; por

milhares de anos eles transformaram cada nível da experiência humana, do nível institucional ao

pessoal, enquanto devoravam a vida. Para ser contra a civilização devemos ser contra o

patriarquismo; e para se questionar o patriarquismo se deve questionar a civilização.

Divisão de Trabalho e Especialização

A desconexão da habilidade de cuidarmos de nós mesmos e prover as nossas necessidades é uma

técnica de separação e enfraquecimento perpetuado pela civilização. Nós somos mais úteis ao

sistema, e menos úteis a nós mesmos, se estivermos alienados dos nossos desejos e das outras

pessoas pela divisão do trabalho e especialização. Não estamos mais aptos a sair pelo mundo e

fornecer a nós mesmos e a nossos queridos o alimento e as provisões necessárias para a

sobrevivência. Ao invés disso, nós somos empurrados a um sistema de produção e consumo de

mercadorias ao qual estamos sempre em débito. Injustiças da influência direta que se dá através do

poder efetivo das várias categorias de "experts". O conceito de um especialista inerentemente cria

uma dinâmica poderosa que enfraquece as relações igualitárias. Enquanto a Esquerda às vezes

possa reconhecer esses conceitos politicamente, eles são vistos como dinâmicas necessárias, para

manter ou regular, enquanto os anarquistas verdes tendem a ver a divisão de trabalho e a

Page 8: Anarquismo Verde

8

especialização como problemas fundamentais e irreconciliáveis, decisivos para as relações sociais

na civilização.

A Rejeição da Ciência

Muitos anarquistas anti-civilização rejeitam a ciência como um método para compreender o mundo.

A ciência não é neutra. É carregada com motivos e conceitos que são criados, e reforçam a

catástrofe da dissociação, enfraquecimento e morte consumível da qual nós chamamos "civilização".

A ciência assume o afastamento, que é construído através da própria palavra "observação".

"Observar" algo é percebe-lo enquanto uma pessoa é distanciada emocionalmente e fisicamente,

para ter um único canal de "informação", vindo do que é observado para essa pessoa, que é definida

como não sendo parte do que foi observado.Essa visão mecânica e baseada na morte é uma religião,

a religião dominante do nosso tempo. O método científico lida somente com o quantitativo. Ele não

admite valores ou emoções, ou, por exemplo, o modo como o ar cheira quando começa a chover –

quando ela lida com essas coisas, ela lida transformando-as em números, tornando a singularidade

do cheiro da chuva em uma preocupação abstrata com a fórmula química para o ozônio, tornando o

modo como ele faz você sentir, em uma ideia intelectual de que as emoções são somente uma ilusão

vinda do aquecimento dos neurônios. O próprio número em si não é real, mas um estilo de

pensamento que foi escolhido. Escolhemos um hábito mental que foca nossa atenção em um mundo

fora da realidade, onde nada possui qualidade ou vida própria. Escolhemos transformar a vida na

morte. Os cientistas mais cautelosos podem admitir que o que eles estudam não passa de uma

simulação limitada do mundo real complexo, mas poucos deles percebem que esse foco limitado é

auto-alimentador, que ele construiu sistemas tecnológicos, econômicos e políticos que trabalham

juntos, que sugam nossa realidade para eles mesmos. Tão limitado quanto o mundo dos números, o

método científico nem ao menos permite todos os números – somente os números que são

reproduzíveis, previsíveis, e a mesma coisa para todos os espectadores. Claro que a própria

realidade não é reproduzível ou previsível ou a mesma para todos os espectadores. Mas tampouco

são mundos de fantasia derivados da realidade.

A ciência não pára em nos colocar em um mundo de sonhos – ela vai além, e faz desse mundo de

sonhos o nosso pesadelo, onde seus conteúdos são selecionados para a serem previsíveis,

controláveis e uniformes. Toda a surpresa, tudo relativo aos nossos sentidos são reprimidos. Por

causa da ciência, os estados de consciência que não podem ser seguramente determinados são

classificados como insanos, ou, na melhor das hipóteses, “incomuns”, e excluídos. Experiências

anormais, ideias anormais, e pessoas anormais são rejeitadas ou destruídas como se fossem

componentes defeituosos de uma máquina. A ciência é somente uma manifestação, que está presa a

uma ânsia por um controle que nós temos desde que começamos a cultivar terras e cercar animais

ao invés de explorarmos o mais imprevisível (mas mais abundante) mundo da realidade, ou

“natureza”. E a partir daí, essa ânsia conduziu cada decisão, do que se diz “progresso”, até e

incluindo a reestruturação genética da vida.

Page 9: Anarquismo Verde

9

O Problema da Tecnologia

Todos os anarquistas verdes de alguma forma questionam a tecnologia. Enquanto há aqueles que

ainda propõem noções de tecnologias "verdes" ou "apropriadas" e buscam análises racionais para

se apegarem por formas de domesticação, muitos rejeitam completamente a tecnologia. A

tecnologia é muito mais do que fios, silicone, plásticos e aço. Ela é um sistema complexo que envolve

divisão de trabalho, extração de recursos, e a exploração dos outros para benefício daqueles que

executaram seu processo. A interface e o resultado da tecnologia sempre é uma realidade alienada,

mediada e distorcida. Apesar do que dizem os apologistas pós-modernos e outros tecnófilos, a

tecnologia não é neutra. Os valores e objetivos daqueles que produzem e controlam a tecnologia

estão sempre embutidos nela.

A tecnologia se difere dos instrumentos simples em vários aspectos. Uma ferramenta simples e o

uso temporário de um elemento em um nosso meio para uma tarefa específica. Ferramentas simples

não envolvem sistemas no qual alienam o usuário do ato. Esta separação é absoluta na tecnologia,

criando uma experiência doentia e mediada, o que resulta em várias formas de autoridades. A

dominação aumenta toda vez que uma nova tecnologia é criada, necessitando a construção de mais

tecnologia para o suporte, abastecimento e reparo de tal tecnologia. Isto tem levado rapidamente ao

estabelecimento de um sistema tecnológico complexo que parece ter uma existência independente

dos humanos. Dejetos-produtos da sociedade tecnológica estão poluindo tanto nosso ambiente físico

quanto nosso ambiente psicológico. Vidas são roubadas a serviço da maquina e do efluente tóxico do

combustível tecnológico - ambos estão nos chocando. A tecnologia hoje tem multiplicado a si mesma,

com algo semelhante a uma sinistra "sensibilidade". A sociedade tecnológica é uma infecção

planetária, impulsionada adiante pelo seu próprio ímpeto, rapidamente ordenando um novo tipo de

ambiente desenvolvido para a eficiência mecânica e expansionismo tecnológico. O sistema

tecnológico metodicamente destrói, elimina e subordina o mundo natural, construindo um mundo que

sirva somente para as maquinas. O ideal que o sistema tecnológico aponta é a mecanização de tudo

aquilo que encontra.

Produção e Industrialismo

Um componente-chave da estrutura tecno-capitalista moderna é o Industrialismo, o sistema

mecanizado construído no poder centralizado e na exploração de pessoas e da natureza. O

industrialismo não pode existir sem genocídio, ecocídio e colonialismo. Para mantê-lo, a coerção,

desapropriação de terras, trabalho forçado, destruição cultural, assimilação, devastação ecológica

e o mercado são aceitos como necessários ou mesmo benéficos. A padronização da vida pelo

industrialismo transforma a vida em objeto e um bem de consumo, encarando toda vida como

potenciais recursos. Uma crítica do industrialismo é uma extensão natural da crítica anarquista ao

estado, pois o industrialismo é inerentemente autoritário. Para manter uma sociedade industrial,

deve-se conquistar e colonizar terras para (geralmente) conseguir recursos não-renováveis para

abastecer e lubrificar as máquinas. Este colonialismo é racionalizado pelo racismo, sexismo, e o

Page 10: Anarquismo Verde

10

chauvinismo cultural. No processo para adquirir esses recursos, as pessoas devem ser forçadas a

saírem de suas terras. E para fazer as pessoas trabalharem nas fábricas que produzem as

máquinas, elas devem ser escravizadas, devem tornar-se dependentes e sujeitas ao sistema

industrial tóxico e degradante. O industrialismo não pode existir sem uma massiva centralização e

especialização. A dominação de classes é uma ferramenta do sistema industrial que nega às pessoas

acesso a recursos e conhecimento, transformando-as em impotentes e fáceis de explorar. Além

disso, o industrialismo requer que recursos sejam distribuídos ao longo de todo globo para

perpetuar sua existência, e este globalismo enfraquece e destrói a autonomia local e sua

autossuficiência. É uma visão do mundo mecânica, que está atrás do industrialismo. É essa mesma

visão de mundo que justifica a escravidão, extermínio e subjugação da mulher. Deveria ser óbvio

para todos que o industrialismo não é apenas opressivo com os humanos, mas que é também

ecologicamente destrutivo.

Além do Esquerdismo

Infelizmente, a maior parte dos anarquistas continuam sendo vistos e vendo a si mesmos como

parte da esquerda. Esta tendência está mudando, como os anarquistas pós-esquerda e anti-

civilização fazem uma distinção clara entre suas perspectivas e a falida orientação socialista e

liberal. A esquerda não tem apenas provido a si mesma um monumental fracasso em seus objetivos,

mas é obvio pela sua história, pelas suas práticas atuais, e sua estrutura ideológica, que (enquanto

apresenta a si mesma como altruísta e promotora de "liberdade") é atualmente a antítese da

libertação. A esquerda, fundamentalmente, nunca questionou a tecnologia, a produção, organização,

representação, alienação, autoritarismo, moralismo, ou o progresso, e não tem quase nada a dizer

sobre ecologia, autonomia, ou individualidade em alguma agenda "progressista", frequentemente

usando aproximações coercivas e manipuladoras para criar uma falsa "unidade" ou a criação de

partidos políticos. Enquanto os métodos e os exageros de implementação podem ser diferentes, o

esforço total é o mesmo, a instituição da visão do mundo coletivizada e monolítica baseada na moral.

Contra a Sociedade de Massas

A maioria dos anarquistas e "revolucionários" gastam uma parte significante de seu tempo

desenvolvendo esquemas e mecanismos para a produção, distribuição, julgamento e a comunicação

entre um grande número de pessoas; em outras palavras, o funcionamento de uma sociedade

complexa. Mas nem todos anarquistas aceitam a premissa da coordenação e interdependência

social, política e econômica global (ou mesmo regional), ou a organização necessária para sua

administração. Nós rejeitamos a sociedade de massa por razões práticas e filosóficas.

Primeiramente, rejeitamos a representação necessária para o funcionamento de situações fora do

domínio da experiência direta (modos de existência completamente descentralizados). Nós não

queremos controlar a sociedade ou organizar uma sociedade diferente, nós queremos uma

estrutura completamente diferente. Queremos um mundo aonde cada grupo seja autônomo e decida

com seus próprios meios como viver, com todas as interações baseadas em afinidades, livres e

Page 11: Anarquismo Verde

11

abertas, e não coercitivas. Queremos uma vida na qual de fato vivemos não uma que sobrevivemos.

A brutalidade da sociedade de massas colide não apenas com a autonomia e individualidade, mas

também com a Terra. Simplesmente não é sustentável (em termos de recursos, extração,

transporte, e sistemas de comunicação necessários para qualquer sistema econômico global)

continuar, ou prover planos alternativos para a sociedade de massas. Novamente, a

descentralização radical parece ser a chave para a autonomia, promovendo métodos de

subsistência sustentáveis e não hierárquicos.

Liberação vs. Organização

Somos seres empenhados para um rompimento profundo e total com a ordem civilizadora,

anarquistas desejando liberdade irrestrita. Nós lutamos por liberação, por uma relação

descentralizada e sem mediações com o nosso meio e com aqueles que amamos e com quem

partilhamos afinidades. Os modelos organizacionais nos oferecem apenas mais da mesma

burocracia, controle e alienação que recebemos da organização vigente (civilização). Enquanto

talvez ocorra uma boa intenção ocasional, o modelo organizacional vem de uma mentalidade

inerentemente desconfiada e paternalista, o que parece contraditório com a anarquia. As

verdadeiras relações de afinidade surgem de uma profunda compreensão entre as pessoas, através

de relações íntimas baseadas nas necessidades da vida diária, e não relacionamentos baseados em

organizações, ideologias ou ideias abstratas. Tipicamente, o modelo organizacional reprime as

necessidades e desejos individuais para "o bem do coletivo" padronizando tanto a resistência quanto

o ponto de vista. Dos partidos, a plataformas, a federações, parece que na medida em que a escala

dos projetos aumenta, o significado e a relevância que têm pelo indivíduo e sua vida diminui. As

organizações são meios para estabilizar a criatividade, o controle de dissidência e a redução de

"tangentes contra-revolucionárias" (como os quadros de elites ou lideranças determinam). As

organizações tipicamente se apóiam no quantitativo, ao invés do qualitativo, e oferece pouco espaço

para a ação ou pensamento independente. Informalmente, as associações baseadas em afinidades

tendem a minimizar a alienação das decisões e processos, e reduz a mediação entre nossos desejos

e nossas ações. Relacionamentos entre grupos de afinidade são mais orgânicos e

temporais, ao invés de fixos e rígidos.

Revolução vs. Reforma

Como anarquistas, somos fundamentalmente contra governos, da mesma forma, contra qualquer

espécie de colaboração ou mediação com o estado (ou qualquer instituição de hierarquia e

controle). Esta posição determina certa continuidade ou direcionamento de estratégia, que

historicamente conhecemos como revolução. Este termo, quando mal entendido, diluído e agregado

por várias ideologias e agendas, ainda tem significado para os anarquistas e para as atividades

práticas não-ideológicas. Por revolução, entendemos como a luta constante para mudar a paisagem

social e política de um modo fundamental; para os anarquistas significa seu completo

desmantelamento. A palavra "revolução" é dependente da posição da qual é direcionada, bem como a

Page 12: Anarquismo Verde

12

atividade "revolucionária". Novamente, para os anarquistas, isso é atividade que é direcionada para

a completa dissolução do poder. A reforma, por outro lado, permite qualquer atividade ou estratégia

direcionada ao ajustamento, a alteração, ou seletividade, mantendo os elementos do atual sistema,

tipicamente usando os métodos e aparatos dele. As metas e métodos da revolução não podem ser

ditadas nem realizadas nos contextos do sistema. Para os anarquistas, a revolução e a reforma

invocam métodos e direções incompatíveis, e apesar de certas aproximações anarco-liberais, não

existe continuidade. Para os anarquistas anti-civilização, as questões de atividade revolucionária

desafiam e trabalham para desmantelar todo o cenário ou paradigma da civilização. A Revolução é

também não um evento singular ou remoto que construímos ou preparamos para as pessoas, pelo

contrário, é um estilo de vida ou prática de abordar situações.

Resistindo à Mega Máquina

Os Anarquistas em geral, e em particular anarquistas-verdes, adotam a ação direta em vez de

formas mediadas ou simbólicas de resistência. Vários métodos e abordagens, incluindo subversão

cultural, sabotagem, insurreição, "violência" política, (embora não sejam limitados somente a esses

métodos) têm sido e permanecem como parte do arsenal de ataque anarquista. Uma única tática não

pode ser efetiva em alterar significantemente a ordem ou sua trajetória. Mas estes métodos,

combinados com transparência e crítica social, são importantes.

A subversão do sistema pode ocorrer do sutil ao dramático e pode ser um importante elemento de

resistência física. A sabotagem sempre tem sido uma parte vital das atividades anarquistas, tanto na

forma de vandalismo espontâneo (público ou noturno), ou através de uma coordenação ilegal e

secreta de células autônomas. Recentemente grupos como a Frente de Libertação da Terra (ELF, na

sigla em inglês) um grupo ambientalista radical mantido por células autônomas, tendo alvo aqueles

que lucram com a destruição da Terra, têm causado milhões de dólares em danos a lojas e

escritórios corporativos, bancos, madeireiras, laboratórios de engenharia genética, veículos e casas

luxuosas. Estas ações, que frequentemente são incêndios, têm inspirado muitos à ação, e são meios

efetivos de não só trazer atenção à degradação ambiental, mas também como detentores de

específicos destruidores da Terra. A atividade insurrecionária, ou a proliferação de momentos

insurrecionais a qual pode causar uma ruptura na "paz social" da qual a raiva espontânea das

pessoas pode ser liberada e possivelmente espalhada em condições revolucionárias. A atividade

insurrecionária, ou a proliferação de momentos insurrecionais que podem causar a ruptura da paz

social da qual a raiva espontânea das pessoas pode ser liberada e possivelmente propagadas em

condições revolucionárias, também têm aumentado. A revolta de Seattle em 1999, Praga em 2000 e

Genova em 2001, foram todas (de diferentes maneiras) faíscas de atividades insurrecionais, que,

embora limitados em alcance, podem ser vistos como tentativa para mover em direções

insurrecionárias e fazer um rompimento qualitativo com o reformismo e todo o sistema escravista.

A violência política, incluindo o ataque a indivíduos responsáveis por atividades específicas ou pelas

decisões que levam a opressão, também tem sido um foco para os anarquistas historicamente.

Enfim, considerando a imensa realidade e toda extensão penetrável do sistema (socialmente,

Page 13: Anarquismo Verde

13

politicamente, tecnologicamente), ataques a redes tecnológicas e na infraestrutura da mega-

máquina são de interesse para anarquistas anti-civilização. Indiferente da aproximação ou

intensidade, as ações militantes unidas com uma análise profunda da civilização estão crescendo.

A Necessidade de Ser Crítico

À medida que a marcha da aniquilação global avança, a sociedade se torna mais doente, perdemos o

controle de nossas vidas e falhamos em criar uma resistência significativa contra a cultura-da-

morte. É vital para nós, sermos extremamente críticos com os movimentos "revolucionários" do

passado, com esforços atuais e com nossos próprios projetos, não podemos repetir perpetuamente

os erros do passado ou sermos cegos para nossas próprias deficiências. O movimento ambientalista

radical está repleto de campanhas com um só foco e gestos simbólicos e a cena anarquista está

infestada por tendências esquerdistas e liberais. Ambos continuam insistindo em gestos ativistas

sem significado, raramente questionando sua (in)eficiência. Frequentemente a culpa e o auto-

sacrifício - ao invés de sua liberação e liberdade - guiam esses benevolentes reformadores sociais

irrealistas, enquanto eles continuam por um caminho que foi esboçado por falhas diante deles. A

Esquerda é uma ferida inflamada na bunda da sociedade, os ambientalistas não têm obtido sucesso

na preservação de nem mesmo frações de áreas selvagens, e os anarquistas raramente possuem

algo provocativo para dizer, deixemos-os em paz. Enquanto alguns podem discutir contra o

criticismo porque ele é “analítico”, qualquer verdadeira perspectiva radical veria a necessidade da

análise crítica, em mudar nossas vidas e o mundo que habitamos. Aqueles que desejam acalmar um

debate até o “depois da revolução”, contendo toda a discussão em debates vagos e insignificantes, e

reprimir a crítica das estratégias, táticas, ou ideias, não estão indo a lugar algum, e só vão nos

atrasar. Um ponto essencial de qualquer perspectiva anarquista radical deve ser colocar tudo em

questão, obviamente incluindo suas próprias ideias, projetos e ações.

Influências e Solidariedade

A perspectiva anarquista-verde é diversa e aberta, contudo, contém alguns elementos contínuos e

primários. A anarquia-verde tem sido influenciada por anarquistas, primitivistas, luditas,

insurrecionalistas, situacionistas, niilistas, ecologistas profundos, biorregionalistas, ecofeministas,

várias culturas indígenas, lutas anti-colonialismo, os "ferais", os selvagens e a Terra. Os

anarquistas, obviamente, contribuem para o impulso anti-autoritário, que desafia todo o poder num

nível fundamental, empenhados por relações verdadeiramente igualitárias e promovendo

comunidades de apoio mútuo. Os anarquistas-verdes, entretanto, ampliam as ideias de não-

dominação para todas as formas de vida, não apenas humanos, indo assim além das análises

anarquistas tradicionais. Dos primitivistas, os narquistas-verdes são instruídos com um olhar

crítico e provocativo das origens da civilização, para que entendam que confusão é essa e como

chegamos a ela, para ajudar a apontar uma mudança de direção. Inspirados nos Luditas, os

anarquistas-verdes reacendem uma orientação de ação direta anti-tecnológica-industrial. Os

insurrecionalistas introduzem uma perspectiva onde esperam não uma critica positiva e verdadeira,

Page 14: Anarquismo Verde

14

mas identifica espontaneamente as instituições da civilização que atam nossas liberdades e desejos.

Os anarquistas anti-civilização devem muito aos Situacionistas, e suas críticas da alienante

sociedade da mercadoria, a qual podemos romper nos conectando de forma direta com nossos

sonhos e desejos não-mediados. A recusa niilista em aceitar qualquer realidade demonstra o quão

profundo é o mal dessa sociedade e oferece aos anarquistas verdes uma estratégia que não

necessita oferecer visões da sociedade, mas ao invés disso, focalizar em sua destruição. A Ecologia

profunda, apesar de sua tendência misantrópica, instrui a perspectiva anarquista-verde com um

entendimento de que o bem-estar e a prosperidade de toda a vida estão ligados ao conhecimento do

valor inerente e intrínseco do mundo não-humano independente de valor útil. A apreciação da

ecologia profunda pela riqueza e a diversidade da vida contribui para a realização que a atual

interferência humana com o mundo não-humano é coercivo e excessivo, com uma condição que se

agrava rapidamente. O Biorregionalismo nos conduz a uma perspectiva de viver dentro de nossas

próprias biorregiões, e nos tornarmos intimamente conectados com a terra, a água, o cl ima, as

plantas, os animais, e outros espécimes da biorregião. O Ecofeminismo tem contribuindo para a

compreensão das raízes, dinâmicas, manifestações e realidade do patriarquismo, e seus efeitos na

terra, nas mulheres, e na humanidade em geral. Recentemente, a separação destrutiva do homem da

Terra (civilização) tem provavelmente sido articulado mais claramente e intensamente por

ecofeministas. Os anarquistas anti-civilização têm sido profundamente influenciados por várias

culturas indígenas e nativas ao longo da história e por aquelas que ainda existem. Enquanto

humildemente aprendemos e incorporamos técnicas sustentáveis de sobrevivência e maneiras

saudáveis de interagir com a vida, é importante não igualar ou generalizar povos nativos e suas

culturas, respeitar e nos esforçar a entender sua diversidade sem agregar identidades e

características culturais. Solidariedade, apoio, e tentativas de se conectar com nativos e lutas anti -

coloniais, que têm sido a linha de frente da luta contra a civilização, são essenciais enquanto nós nos

esforçamos para o desmantelamento da máquina-de-morte. Também é importante entender que nós,

de certa forma, descendemos de povos nativos que foram violentamente retirados de suas conexões

com a terra, e por isso devemos fazer parte das lutas anti-coloniais. Somos inspirados também

pelos ferais, àqueles que escaparam da domesticação e se reintegraram com o selvagem. E, claro,

com os seres selvagens que tornam possível este lindo organismo azul e verde chamado Terra. É

também importante lembrar que, enquanto muitos anarquistas-verdes extraem influencia de fontes

similares, anarquia-verde é algo muito pessoal para aqueles se identificam ou se conectam com

estas ideias e ações. Perspectivas derivam de nossas próprias experiências de vida na cultura-de-

morte (civilização), e os próprios desejos fora do processo de domesticação, são ultimamente os

mais vividos e importantes no processo de descivilização.

Page 15: Anarquismo Verde

15

Retorno ao Selvagem e Reconexão

Para a maioria dos anarquistas verde/primitivistas/anti-civilização retorno ao selvagem e

reconexão com a terra é um projeto de vida. Isto não é limitado a compreensão intelectual ou

praticas de habilidades primitivas, mas, em vez disso, é um profundo entendimento das penetráveis

maneiras pelas quais somos domesticados, fraturados, e deslocados de nós mesmos, dos outros e

do mundo,o enorme e diário desafio de sermos íntegros novamente. Retorno ao selvagem tem um

componente físico, o qual envolve habilitadas resgatadas e desenvolvimento para uma coexistência

sustentável, incluindo como obter alimento, abrigo, e nos curar com as plantas, e materiais que

existem naturalmente em nossas biorregiões. O retorno ao selvagem também inclui o

desmantelamento das manifestações físicas, dos aparatos, e da infraestrutura da civilização. O

retorno ao selvagem tem um componente emocional que envolve nos curar e curar os outros das

profundas feridas de 10.000 anos, aprendemos a viver juntos em comunidades não-hierárquicas e

não-opressivas, e desconstruir a mentalidade domesticada do atual modelo social.

Retorno ao natural envolve priorizar as vontades e experiência direta sobre a mediação e alienação,

repensando toda dinâmica e o aspecto da nossa realidade, conectando com nossa fúria feral para

defender nossas vidas e lutar por uma existência livre, desenvolvendo mais confiança em nossa

intuição estando mais conectados com nossos instintos, recuperando o balanço que foi virtualmente

destruído depois de milhares de anos de controle patriarcal e domesticação. O retorno ao natural é

o processo de se tornar "des-civilizado".

PELA DESTRUIÇÃO DA CIVILIZAÇÃO!

PELA RECONEXÃO COM A VIDA!

Page 16: Anarquismo Verde

16