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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA
CURSO DE ENGENHARIA CIVIL
RANULFO PATURY CORREIA
ANÁLISE DA QUALIDADE DA ÁGUA DOS SISTEMAS DE CAPTAÇÃO
DE ÁGUAS PLUVIAIS DA ZONA RURAL DA CIDADE DE IRARÁ,
BAHIA
FEIRA DE SANTANA, BA-BRASIL
JULHO DE 2010
RANULFO PATURY CORREIA
ANÁLISE DA QUALIDADE DA ÁGUA DOS SISTEMAS DE CAPTAÇÃO DE ÁGUAS
PLUVIAIS DA ZONA RURAL DA CIDADE DE IRARÁ, BAHIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Departamento de Tecnologia da Universidade Estadual
de Feira de Santana como requisito para a obtenção do
título de bacharel em Engenharia Civil.
Orientadora: Profª. Drª. Sandra Maria Furiam Dias
FEIRA DE SANTANA, BA-BRASIL
JULHO DE 2010
ANÁLISE DA QUALIDADE DA ÁGUA DOS SISTEMAS DE CAPTAÇÃO DE ÁGUAS
PLUVIAIS DA ZONA RURAL DA CIDADE DE IRARÁ, BAHIA
RANULFO PATURY CORREIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO SUBMETIDO À BANCA EXAMINADORA
COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE
BACHAREL EM ENGENHARIA CIVIL.
Feira de Santana, 29 de julho de 2010
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Profª. Drª. Sandra Maria Furiam Dias
Doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo, USP.
____________________________________________________
Prof. MSc. Diogenes Oliveira Senna
Mestre pela Universidade Estadual de Feira de Santana, UEFS
____________________________________________________
Biólogo Ms. Adriano Cosme P. Lima
Universidade Estadual de Feira de Santana, UEFS
A todas as famílias que sofrem com a escassez deste bem
tão precioso que é a água - aos que já sucumbiram à batalha e
aos que se mantém de pé, firmes e fortes.
AGRADECIMENTOS
A Deus, senhor dos meus passos, pela força da vida.
A toda minha família, especialmente aos meus pais, pela companhia e amparo nos momentos
difíceis.
Aos meus amigos e colegas de curso, cuja agradável companhia fez com que o passar desses
anos fosse tão prazeroso - fieis companheiros das alegres partidas de futebol e das exaustivas
madrugadas de estudo.
A todos os professores do Curso de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Feira de
Santana com os quais tive o prazer de aprender e, também, a todos os demais, pois juntos são
responsáveis por tornar esta instituição tão especial. Um especial obrigado ao Prof. Cristóvão
C. C. Cordeiro.
Ao Prof. Carlos Pereira de Novaes, que me ajudou a começar este trabalho, pelo material de
pesquisa e pelas proveitosas discussões sobre o tema.
À minha orientadora, Profª. Drª. Sandra Maria Furiam Dias, principalmente pela paciência e
por me acolher no momento em que eu mais precisava.
A Adriano Cosme P. Lima, responsável técnico do Labotec e encarregado das análises
laboratoriais deste presente trabalho, pelos conselhos e dicas.
Ao meu irmão, Rubem, e ao colega e amigo Albert Cerqueira Santos, que me auxiliaram na
coleta dos dados desta pesquisa.
A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para que este trabalho se concretizasse.
“Jamais se desespere em meio às sombrias aflições de sua vida, pois das nuvens mais negras cai água límpida e
fecunda.”
Provérbio chinês
“Só percebemos o valor da água depois que a fonte seca.”
Provérbio popular
RESUMO
CORREIA, R. P. Análise da qualidade da água dos sistemas de captação de águas pluviais da zona rural da cidade de Irará, Bahia. Feira de Santana, 2010. 68p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil) – Universidade Estadual de Feira de Santana.
Apesar de o Brasil apresentar um dos maiores valores de disponibilidade hídrica per capita do mundo, certas regiões de nosso país sofrem seriamente com a escassez de água. Talvez a região que melhor comprove essa triste realidade é o semi-árido brasileiro, cuja população, há séculos, vem buscando meios de conviver com a escassez de água que lhe castiga durante o prolongado período de seca característico daquela região. Entre aqueles meios, um em especial tem se demonstrado bastante eficiente e vem ganhando força atualmente. Trata-se do sistema de captação de águas pluviais, que utiliza uma tecnologia simples e de baixo custo e capaz de produzir resultados imediatos. O presente trabalho teve por objetivo analisar a qualidade da água dos sistemas de captação de águas pluviais implantados em seis residências da região rural da cidade de Irará/BA, através de análises físico-químicas e bacteriológicas da água, e identificar as práticas de manuseio e uso associadas à água coletada, por meio de entrevistas realizadas durante as visitas aos locais de coleta. Como padrão de potabilidade da água foi adotado o constante na Portaria N°. 518/2004 do Ministério da Saúde, que estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências. Ao fim das análises, ficou-se constatado que, quanto aos parâmetros físico-químicos, uma das amostras apresentou uma concentração de nitrato ligeiramente superior ao valor máximo permitido pela Portaria N°. 518 do MS e outra amostra revelou-se fora da faixa de pH sugerida pela mesma portaria. No entanto, quanto aos parâmetros bacteriológicos (coliformes totais e fecais), todas as seis amostras apresentaram-se impróprias para consumo humano. Essa contaminação, como evidenciado pelas entrevistas, deve-se a práticas de uso e manuseio que comprometem a qualidade da água armazenada nas cisternas, como o não desvio das primeiras águas da chuva e a utilização de baldes para a coleta da água do interior dos reservatórios.
Palavras-chave: semi-árido, captação, águas pluviais, cisternas.
ABS TRACT
CORREIA, R. P. Analysis of water quality in catchment systems for rainwater in the rural town of Irará, Bahia. Feira de Santana, 2010, 68p. Conclusion Course (Graduate in Civil Engineering) - Universidade Estadual de Feira de Santana.
Although Brazil have a higher values of water availability per capita in the world, certain regions of our country to suffer serious water shortages. Perhaps the area that best demonstrates the sad reality is semi-arid region, whose population, for centuries, has been seeking ways to cope with water scarcity, which punishes during the prolonged dry period typical of that region. Among those means, one in particular has proved very effective and is gaining strength today. This is the system to capture rainwater, which uses a simple technology and low cost and can produce immediate results. This study aimed to analyze the water quality of catchment systems for rainwater deployed on six homes in the countryside town of Irará / BA, through physical-chemical and bacteriological water, and identify practices for handling and use associated with water collected through interviews conducted during visits to collection sites. As drinking water standard was adopted in Ordinance No. constant. 518/2004 of the Ministry of Health, which establishes procedures and responsibilities relating to control and surveillance of water quality for human consumption and its potability standards and other provisions. After analysis, it was it was found that, with respect to physicochemical parameters, one of the samples had a nitrate concentration slightly higher than the maximum allowed by Ordinance No.. MS 518 and another sample showed up outside the pH range suggested by the said ordinance. However, regarding the bacteriological parameters (total and fecal coliforms), all six samples were unsuitable for human consumption. This contamination, as evidenced by the interviews, due to the use and handling practices that compromise the quality of water stored in tanks, like the non diversion of the first rainwater and using buckets to collect the water of the reservoirs.
Words - key: semi-arid, catchment, rain water, watering hole.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1– Distribuição dos recursos hídricos, da superfície e população, em % do total do Brasil ...... 20
Figura 2– Cisterna Chultun, utilizada pela antiga civilização maia ...................................................... 22
Figura 3– Fortaleza de Massada, no deserto da Judéia, em Israel ......................................................... 23
Figura 4– Detalhe da construção de cisterna de placas do P1MC ......................................................... 25
Figura 5– O semi-árido brasileiro ......................................................................................................... 28
Figura 6– Sistema de captação de águas pluviais do P1MC ................................................................. 31
Figura 7 - Cisterna de placas pré-moldadas de concreto ....................................................................... 32
Figura 8 - Cisterna de argamassa com tela de arame ............................................................................ 32
Figura 9– Esquema de sistema de captação de águas pluviais com utilização de filtro e bomba hidráulica ............................................................................................................................................... 33
Figura 10– Filtro VF1 utilizado para descarte das primeiras águas da chuva ....................................... 36
Figura 11– Reservatório de auto-limpeza com torneira bóia ................................................................ 37
Figura 12– Irará/BA (indicado pela seta no mapa) ............................................................................... 42
Figura 13– Recipiente plástico de capacidade igual a 2 litros, utilizado para coleta das amostras destinadas às análises físico-químicas ................................................................................................... 43
Figura 14– Frasco de vidro e balde utilizados na coleta de amostra de água para análise bacteriológica ............................................................................................................................................................... 44
Figura 15– Data da construção da cisterna (13/12/2008), inscrita em sua superfície ........................... 52
Figura 16– Data da construção da cisterna (10/11/2008), inscrita em sua superfície ........................... 52
Figura 17– Detalhe das telas de nylon utilizadas para se reduzir a quantidade de material grosseiro que vai parar no interior das cisternas .......................................................................................................... 54
Figura 18– Tela de nylon fixada no ladrão da cisterna para evitar entrada de animais ......................... 54
Figura 19– Filtro adotado em sistema de captação de águas pluviais da região rural da cidade de Irará, na Bahia ................................................................................................................................................. 55
Figura 20– Tampa da cisterna aberta, onde se pode observar o baixo nível da água no interior do reservatório e parte do sistema da bomba manual ................................................................................. 56
Figura 21– Bomba manual utilizada para a retirada de água do interior da cisterna ............................ 57
Figura 22– Utilização da bomba manual ............................................................................................... 58
Figura 23– Tampa da cisterna fechada, onde se pode notar a utilização de cadeado ............................ 59
Figura 24– Hipoclorito de Sódio, utilizado como desinfetante no tratamento da água das cisternas ... 60
LISTA DE TABELAS E QUADROS
Tabela 01– Números atingidos pelo P1MC, atualizados em 20/04/2010 ............................................. 26
Quadro 02– Ensaios realizados, com suas respectivas técnicas e normas ............................................ 46
Tabela 03 – Resultados obtidos nas análises físico-químicas e bacteriológicas para as amostras de água da chuva coletadas nas cisternas da região rural de Irará/Ba. ............................................................... 48
Quadro 04– Informações e observações sobre uso, manuseio e gerenciamento da água das cisternas da região rural da cidade de Irará/Ba. ........................................................................................................ 51
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ASA: Articulação no Semi-Árido
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MS: Ministério da Saúde
ONU: Organização das Nações Unidas
P1MC: Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semi-árido
UEFS: Universidade Estadual de Feira de Santana
UNIAGUA: Universidade da Água
VMP: Valor Máximo Permitido
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................15
2 JUSTIFICATIVA .............................................................................................................................16
3 OBJETIVOS ......................................................................................................................................17
3.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................................... 17
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................................................... 17
4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .........................................................................................................18
4.1 A ÁGUA ..................................................................................................................................... 18
4.1.1 No mundo .............................................................................................................................18
4.1.2 No Brasil ...............................................................................................................................19
4.2 HISTÓRICO DA UTILIZAÇÃO DA ÁGUA DE CHUVA ....................................................... 21
4.3 A ARTICULAÇÃO NO SEMI-ÁRIDO (ASA) E O PROGRAMA DE FORMAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL PARA A CONVIVÊNCIA COM O SEMI-ÁRIDO: UM MILHÃO DE CISTERNAS RURAIS (P1MC) ....................................................................................................... 24
4.4 O SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO ................................................................................................. 27
4.5 IMPORTÂNCIA DA ÁGUA DE CHUVA ................................................................................ 29
4.6 O SISTEMA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS ........................................................... 30
4.7 QUALIDADE DA ÁGUA .......................................................................................................... 33
4.8 QUALIDADE DA ÁGUA DA CHUVA .................................................................................... 35
4.8.1 Antes de atingir o solo .........................................................................................................35
4.8.2 Após escorrer pelo sistema de captação ............................................................................35
4.8.3 Dentro do reservatório ........................................................................................................37
4.9 IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO DE ÁGUA POTÁVEL ................................................... 38
5 METODOLOGIA .............................................................................................................................40
5.1 SELEÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO E DO NÚMERO DE CISTERNAS ............................. 40
5.1.1 Características da área de estudo ......................................................................................41
5.2 COLETA DE DADOS ................................................................................................................ 43
5.2.1 Coleta da água .....................................................................................................................43
5.2.2 Manuseio da água nas cisternas .........................................................................................44
5.3 ANÁLISE DE DADOS ............................................................................................................... 45
5.3.1 Parâmetros físico-químicos e bacteriológicos analisados ................................................45
6 RESULTADOS ..................................................................................................................................47
6.1 RESULTADOS DAS ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS E BACTERIOLÓGICAS E DISCUSSÃO ..................................................................................................................................... 47
6.2 RESULTADOS DAS ENTREVISTAS SOBRE AS PRÁTICAS DE USO E MANUSEIO DA ÁGUA DAS CISTERNAS E OUTRAS OBSERVAÇÕES ............................................................. 51
7 CONCLUSÕES .................................................................................................................................62
8 RECOMENDAÇÕES ......................................................................................................................63
REFERÊNCIA .....................................................................................................................................64
15
1 INTRODUÇÃO
Sobre a importância da água, Branco (1993, p. 05) afirma:
Os mais antigos filósofos gregos já afirmavam que tudo provém da água. A ciência tem, por sua vez, demonstrado que a vida se originou na água e que ela constitui a matéria predominante em todos os corpos vivos. Por mais que tentemos, não somos capazes de imaginar um tipo de vida em sociedade que dispense o uso da água: água para beber e cozinhar; para a higiene do lar e das cidades; para uso industrial, irrigação das plantações, geração de energia, navegação, transporte de detritos.
A água é um líquido formado por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio e seu
surgimento no planeta deu-se há cerca de 4,5 bilhões de anos atrás. A conservação da água em
nosso planeta se deve à relação existente entre a sua massa e a distância do Sol.
Constituindo parte integrante do organismo humano, a água representa cerca de 70%
de nosso peso e é indispensável ao desempenho de funções fisiológicas fundamentais
(BRANCO, 1993).
No entanto, apesar de toda a sua importância para os seres vivos e o meio-ambiente,
a água tem sido tratada com descaso por nós seres humanos, numa atitude que já dura
décadas. Este fato é facilmente evidenciado pela crescente poluição dos lençóis-freáticos (por
resíduos provenientes da agricultura, principalmente), dos rios, lagos, etc.
Ora, estando os rios, lagos, lagoas e lençóis-freáticos comprometidos, como se ter,
então, acesso à água limpa e de qualidade, quando não se dispõe de formas alternativas de
obtenção de água potável, como a dessalinização da água do mar? A resposta,
definitivamente, está nas águas da chuva.
Durante séculos, em diversos locais ao redor do planeta, as pessoas utilizaram a
coleta e o armazenamento de águas pluviais para uso doméstico e diversas outras atividades.
Antes do desenvolvimento dos grandes sistemas centralizados de fornecimento de água, a
água da chuva era coletada através de uma infinidade de superfícies – mais comumente
telhados – e armazenada em tanques no próprio local de utilização. Com o advento dos
equipamentos de perfuração de poços, os sistemas para coleta de água da chuva foram
esquecidos.
Ultimamente, entretanto, devido ao crescente aumento de despesas com o tratamento
de água dos mananciais e à grande poluição das águas subterrâneas, o uso de água pluvial
16
vem ganhando força novamente, já que se revela uma alternativa bastante econômica e
confiável.
Outro fator que reforça a utilização da água de chuva, além de sua excelente
qualidade, é a comodidade que pode proporcionar ao usuário do sistema de captação de águas
pluviais em regiões onde inexiste abastecimento público de água e onde é difícil sua retirada
de lençóis freáticos ou outras fontes.
Uma dessas regiões é a zona rural da cidade de Irará, no estado da Bahia, pertencente
ao Semi-Árido brasileiro e distante 137 km da capital Salvador. Os moradores da zona rural
de Irará, na sua maioria, não foram alcançados pela rede pública de água tratada e por esta
razão possuíam apenas como alternativa para obtenção de água para consumo próprio a sua
retirada de poços que muitas vezes localizam-se a grandes distâncias de suas residências, o
que torna tal tarefa bastante árdua.
No entanto, este panorama tem mudado: com a chegada àquela região do programa 1
Milhão de Cisternas, da Associação para Articulação no Semi-Árido (ASA), dezenas de
moradores têm agora à sua disposição a utilização de sistemas de captação de águas pluviais
construídos em suas próprias residências.
2 JUSTIFICATIVA
O Brasil, assim como outros países do mundo, também já sofre seriamente com a
escassez de água potável, quer seja pela falta de um sistema público eficiente de
abastecimento ou mesmo devido a características físicas peculiares a determinadas regiões.
Uma dessas regiões é a cidade de Irará, na Bahia, que possui uma zona rural que não é
totalmente servida pela rede pública de abastecimento de água. Nessa região, geralmente a
única água de que os moradores dispõem é a encontrada em poços com água salobra e açudes
que se encontram a grandes distâncias de suas casas.
Por conta disso, a Articulação no Semi-Árido (ASA), que é um fórum de
organizações de sociedade civil, realizou a implantação de dezenas de sistemas de captação de
águas pluviais que vieram a socorrer aquela população carente de água potável.
No entanto, entre o caminho percorrido pela água da chuva no instante em que cai
nos telhados das casas e a sua retirada das cisternas pelos moradores, onde são armazenadas
para posterior consumo, para que o mesmo não venha a trazer riscos à saúde da população que
17
se vale dessa água, os usuários do sistema devem atentar para uma série de medidas
preventivas que garantirão que a água utilizada tenha a mesma qualidade que apresentava
antes de ser coletada.
Por isso, faz-se importante descobrir qual a qualidade da mesma, quando já
armazenada e pronta para o consumo. Do mesmo modo, semelhante importância tem a
determinação das práticas de uso e manejo da água coletada nas cisternas e de outras
informações que possam estar afetando a qualidade daquela água.
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Analisar a qualidade da água dos sistemas domésticos de captação de águas
pluviais da cidade de Irará – Bahia, implantados pelos Programa 1 Milhão de
Cisternas.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Determinar as características físico-químicas e bacteriológicas das amostras de
água coletadas dos sistemas domésticos de captação de águas pluviais da região
rural da cidade de Irará – Bahia, implantados pelo Programa 1 Milhão de
Cisternas, coordenado pela Articulação no Semi-Árido (ASA).
Identificar as práticas de manuseio e uso da água da chuva armazenada nas
cisternas das residências da área rural da cidade de Irará/BA.
18
4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
4.1 A ÁGUA
4.1.1 No mundo
Segundo Seixas (2004), a terra dispõe de 1,4 bilhões de quilômetros cúbicos de água,
sendo 97,30% desse total de água salgada e apenas 2,70% de água doce, o que corresponde a
aproximadamente 37,8 milhões de metros cúbicos.
Dos 37,8 milhões de metros cúbicos de água doce 77,20% corresponde a geleiras e
calotas polares, 22,40% corresponde a águas subterrâneas e umidade do solo, 0,35%
corresponde a lagos e pântanos, 0,09% é a parcela representada pelos rios e apenas 0,04%
encontra-se na atmosfera (SEIXAS, 2004).
Do volume total de água do planeta, é considerado que apenas 2,5% seja de água
potável, ou simplesmente que grande parte do volume de água não está de fácil acesso.
Estima-se que apenas 0,007% de toda a água doce mundial encontra-se em locais de simples
acesso para o consumo humano (UNIAGUA, 2006).
“Presentemente, a escassez de já afeta 1,1 bilhão de pessoas, principalmente no
Oriente Médio e na África Setentrional, sendo que nesta, 95% das reservas de água doce já
estão comprometidas [...]” (SEIXAS, 2004, p. 1).
Arnt (1995) também expõe o problema da escassez afirmando que, atualmente em
onze países da África e nove do Oriente Médio a escassez hídrica é uma realidade constante e
situação semelhante se encontra no México, Hungria, Índia, China, Tailândia e Estados
Unidos, onde os níveis de água estão bem abaixo do necessário para atender as necessidades
da população.
Se, por um lado, em algumas regiões do globo, a escassez de água é uma realidade
bastante presente e sentida, por outro sua presença se faz em abundância, fato que provoca,
em muitos casos, a desvalorização desse bem tão precioso e indispensável à vida.
19
Segundo Tomaz (2003), a América do Sul é responsável pela segunda maior fonte de
recursos hídricos do mundo, com 23,1%, sendo superada apenas pela Ásia, que detêm 31,6%
dessa vazão.
A civilização ainda não se conscientizou que dependem extremamente da água e tem
que conservá-la, pois, trata-se de um recurso limitado e vulnerável (SZÖLLÖSI-NAGY,
1993, p. 38).
4.1.2 No Brasil
Excetuando-se o semi-árido, as demais regiões do Brasil possuem disponibilidade
hídrica em quantidade suficiente para atender as atividades industriais, irrigação e
abastecimento doméstico. No entanto, a falta de saneamento e o lançamento de efluentes
domésticos e industriais, sem qualquer tratamento prévio, nos corpos d’água ocasionam uma
grande degradação da qualidade destas águas, fazendo com que se evidencie, apesar de toda
abundância hídrica, um quadro de escassez de água potável (BRASIL, 2002).
O território brasileiro é constituído de três grandes bacias e de dois complexos de
bacias hidrográficas. As três bacias são: a do rio Amazonas, a do rio Tocantins e a do São
Francisco. Os dois complexos de Bacias são o do Prata e do Atlântico. O complexo da Bacia
do Prata subdividi-se em outras três bacias: Alto Paraguai, Paraná e Uruguai. E o complexo
Atlântico, por sua vez é subdividido nos complexos: Atlântico Norte, Atlântico Nordeste,
Atlântico Leste 1, Atlântico Leste 2 e Sudeste (BRASIL, 1998).
O Brasil apresenta uma disponibilidade hídrica per capita de aproximadamente
36.000 m3/hab./ano (uma das maiores do mundo). Não obstante, possui o maior rio em
volume de água do planeta, o Amazonas e, também, o maior aqüífero subterrâneo, o Guarany
(BRASIL, 2006a).
No entanto, apesar de bastante abundante no território brasileiro, observa-se uma má
distribuição desse recurso entre as regiões brasileiras. Analisando a Figura 01, podemos
perceber que a água existe em abundância em regiões pouco populosas, como é o caso da
Região Norte, e é escassa em outras mais populosas, como a região Nordeste.
20
Figura 1– Distribuição dos recursos hídricos, da superfície e população, em % do total do Brasil Fonte: Ministério do Meio Ambiente (2002, apud BRASIL, 2006a)
A produção hídrica, entendida como o escoamento anual afluente ao Oceano
Atlântico, é, em território brasileiro, de 168.790 m³/s. Levando-se em consideração também a
vazão produzida na área da bacia Amazônica que se encontra em território estrangeiro,
estimada em 89.000 m³/s. A disponibilidade hídrica total do País atinge 257.790 m³/s
(BRASIL, 2006a).
Diante do enorme potencial hídrico que possui o Brasil, em várias regiões
encontram-se carência de água tanto no âmbito de dessedentação da própria população como
no de higiene, irrigação, saneamento, pesca entre outros (MALQUI, 2008).
Sabe-se que as regiões Sudeste e Nordeste contêm a maior parte da população
brasileira e, no entanto dispõem das menores reservas de água do país. Na região Sudeste
além da pouca existência de fontes o problema da escassez é agravado pela poluição dos rios
devido à atividade industrial, insumos agrícolas, poluentes e despejos urbanos. Cerca de 55%
da água que abastece a região metropolitana de São Paulo é importada de outras bacias em
vista da pouca disponibilidade na região (TOMAZ, 2003).
Já o Nordeste brasileiro é caracterizado pela grande sazonalidade nos períodos secos
e chuvosos. No semi-árido nordestino as precipitações situam-se na faixa de 250 mm/ano a
600 mm/ano (TOMAZ, 2003).
21
De acordo com May (2004), cerca de 80% da área geográfica do subsolo de regiões
semi-áridas brasileiras apresentam formação cristalina, sem lençol freático, fator que somado
à falta de chuva agrava a problemática da escassez.
4.2 HISTÓRICO DA UTILIZAÇÃO DA ÁGUA DE CHUVA
Apesar de parecer algo novo, a utilização da água de chuva pelo homem para a
produção de alimentos, higiene, criação de animais e até mesmo consumo humano acontece
há milhares de anos.
No deserto de Nevev, por exemplo, situado em Israel, o sistema existe há mais de
4.000 anos. Durante a era Romana, foram construídos sistemas sofisticados para coleta e
armazenagem de água de chuva (MAY, 2004).
Na Mesopotâmia, região do Oriente Médio, têm-se registros da utilização de água de
chuva que datam do ano 2.750 a.C (TOMAZ, 2003).
Na Pedra Moabita, uma das inscrições mais antiga do mundo datada de 850 a.C,
encontrada no Oriente Médio em uma região próxima a Israel, o rei Mesha sugere aos
moabitas para que seja construída em cada casa uma cisterna para aproveitamento da água da
chuva (TOMAZ, 2003).
A civilização maia, civilização antiga que viveu entre os séculos IV e X a.C numa
região que hoje pertence ao México, também já se utilizava da coleta de água da chuva.
Segundo Gnadlinger (2000), a agricultura dessa civilização era baseada na água da chuva e as
pessoas viviam nas encostas e obtinham sua água potável através da coleta e armazenamento
de água da chuva em cisternas que tinham capacidade que variava de 20.000 a 45.000 litros,
chamadas de Chultuns (Figura 02).
22
Figura 2– Cisterna Chultun, utilizada pela antiga civilização maia Fonte: GNADLINGER, 2000
No Palácio de Knossos, na ilha de Creta, na Grécia, a água da chuva era aproveitada
para descargas de bacias sanitárias, em aproximadamente 2.000 a.C (TOMAZ, 2003).
No Planalto de Loess na China já existiam cacimbas e tanques para armazenamento
de água de chuva há dois mil anos atrás. Na Índia existem inúmeras experiências tradicionais
de colheita e aproveitamento de água da chuva (GNADLINGER, 2000).
A Fortaleza de Masada (Figura 03), situada no deserto da Judéia, em Israel, possui
dez reservatórios escavados em rochas e com capacidade para armazenar 40 milhões de litros
de água de chuva (GNADLINGER, 2000).
23
Figura 3– Fortaleza de Massada, no deserto da Judéia, em Israel Fonte: www.bibleplaces.com/masada
A metodologia de utilização de água de chuva também foi encontrada nas fortalezas
construídas pelos portugueses na Ilha de Santa Catarina, uma delas, a fortaleza construída na
Ilha de Ratones (século XVIII), não possuía água doce, tinha uma cisterna que armazenava
água dos telhados para consumo das tropas como também para outros usos (ALT, 2009).
A coleta e o reaproveitamento da água da chuva pela sociedade perderam força com
a inserção de tecnologias mais modernas de abastecimento, como a construção de grandes
reservatórios de água, barragens, o desenvolvimento de técnicas para o aproveitamento de
águas subterrâneas, a irrigação encanada e a implementação dos sistemas de abastecimento
(MALQUI, 2008).
Atualmente a utilização da água de chuva acontece em vários países de diversos
continentes onde, em muitos deles são oferecidos benefícios para a construção de sistemas
para captação e armazenamento da água da chuva como nos Estados Unidos, Alemanha e
Japão (JAQUES, 2005).
Na Alemanha, o aproveitamento de água de chuva é destinado à irrigação de (jardins,
descarga de bacias sanitárias, máquinas de lavar roupa e uso comercial e industrial e vem
24
sendo feito desde o ano de 1980. Sempre a água de chuva é usada para fins não-potáveis.
(TOMAZ, 2003)
No Brasil, a prática de acumular águas de chuva em cisternas vem recebendo maior
atenção nos últimos 25 anos e é praticada principalmente na região Nordeste devido à
escassez hídrica. Em julho de 2003 teve início o Programa de Formação e Mobilização Social
para a Convivência com o Semi-Árido: um Milhão de Cisternas Rurais - P1MC, que tem
como objetivo beneficiar cerca de 5 milhões de pessoas na região semi-árida, com água
potável, através da construção de cisternas (MALQUI, 2008).
4.3 A ARTICULAÇÃO NO SEMI-ÁRIDO (ASA) E O PROGRAMA DE FORMAÇÃO E
MOBILIZAÇÃO SOCIAL PARA A CONVIVÊNCIA COM O SEMI-ÁRIDO: UM
MILHÃO DE CISTERNAS RURAIS (P1MC)
Segundo Said (2009), o semi-árido brasileiro sempre foi considerado uma região de
escassez hídrica onde se têm surgido políticas compensatórias que se beneficiam das
populações pobres para mantê-las na dependência e opressão política.
Ultimamente, entretanto, graças à ação de ONGs de desenvolvimento e
ambientalistas, entidades como igrejas católicas e evangélicas, grupos comunitários e de
trabalhadores rurais, sindicatos, entre outras entidades, a população do semi-árido tem
conseguido quebrar os invisíveis grilhões que os mantinha dependente de políticos
inescrupulosos e sedentos por votos e poder. Nesse contexto, papel importantíssimo tem
desempenhado a Articulação no Semi-Árido (ASA):
A ASA, Articulação no Semi-Árido Brasileiro, é um fórum de organizações da sociedade civil, que vem lutando pelo desenvolvimento social, econômico, político e cultural do semi-árido brasileiro, desde 1999. A Articulação no Semi-Árido (ASA) foi criada em julho de 1999, durante a 3ª Conferência das Partes da Convenção de Combate à Desertificação e à Seca - COP3, em Recife. Na ocasião, a sociedade civil organizada e atuante na região do semi-árido brasileiro, reproduzindo a experiência da RIO-92, promoveu o Fórum Paralelo da Sociedade Civil. A ASA teve um papel decisivo na coordenação desse processo, vindo a consolidar-se como espaço de articulação política da sociedade civil em fevereiro de 2000. A base de sua constituição é a Declaração do Semi-Árido, documento que sintetiza as percepções dos grupos participantes da ASA em torno da região (ARTICULAÇÃO NO SEMI-ÁRIDO, 2002).
25
Atualmente, a Articulação no Semi-Árido está engajada, além do Programa de
Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semi-Árido: um Milhão de
Cisternas Rurais - P1MC, em outro programa, o Programa Uma Terra e Duas Águas, que vem
a propor uma utilização sustentável das terras do semi-árido e o manejo adequado dos
recursos hídricos para produção de alimentos, promovendo a segurança alimentar e a geração
de renda.
Segundo a ARTICULAÇÃO NO SEMI-ÁRIDO (2002), o P1MC, iniciado em julho
de 2003:
[...] vem desencadeando um movimento de articulação e de convivência sustentável com o ecossistema do Semi-Árido, através do fortalecimento da sociedade civil, da mobilização, envolvimento e capacitação das famílias, com uma proposta de educação processual. O objetivo do P1MC é beneficiar cerca de 5 milhões de pessoas em toda região semi-árida, com água potável para beber e cozinha, através das cisternas de placas.
As cisternas implantadas pelo P1MC são construídas pelas próprias famílias e por
pedreiros das próprias localidades, depois de passarem por um programa de capacitação.
Segundo Tavarez et al (2007), os reservatórios têm capacidade para armazenar 16
mil litros de água da chuva, captada através de um sistema de calhas instaladas nos telhados
das residências. A Figura 04 nos permite visualizar uma das cisternas construídas pelo P1MC,
ainda em sua fase de execução.
Figura 4– Detalhe da construção de cisterna de placas do P1MC Fonte: www.asabrasil.org.br
26
A construção das cisternas do P1MC para acumular a água da chuva captada pelo
telhado das residências do semi-árido tem se demonstrado uma solução simples e de baixo
custo, mas que pode pôr fim definitivamente à falta de água para o consumo humano em todo
o semi-árido brasileiro.
Na Tabela 01, podemos acompanhar os números alcançados pela Articulação no
Semi-Árido com o P1MC, após sete anos da implantação do programa.
Tabela 01– Números atingidos pelo P1MC, atualizados em 20/04/2010
Cisternas Construídas 288.459
Famílias Mobilizadas 294.900
Famílias capacitadas em gerência de recursos hídricos 273.124
Comissões municipais capacitadas 6.397
Pedreiros recapacitados 5.541
Fonte: www.asabrasil.org.br
Como resultado do P1MC, percebe-se que quase 300.000 famílias rurais do semi-
árido já têm acesso aos sistemas de captação de águas pluviais e, conseqüentemente, à água de
boa qualidade, número que vem crescendo a cada dia que passa. A facilidade de acesso a uma
água de qualidade, que é a água da chuva, propiciado pelo programa, vem trazendo não só
uma redução nos casos de doenças causados pela ingestão de água contaminada, mas também
uma visível melhora na qualidade de vida da família beneficiada pelo programa,
especialmente de mulheres e crianças, que eram os principais responsáveis pelo ardoroso
trabalho de busca e coleta de água na cercania das residências, em trajetos que muitas vezes
chegam a quilômetros de distância.
27
4.4 O SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO
Sobre a extensão territorial e população do semi-árido brasileiro (Figura 05), o Fundo
das Nações Unidas para a Infância (2005, p.03) afirma:
O Semi-árido brasileiro tem 1.142.000 km2 de extensão e reúne cerca de 1.500 municípios dos Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. Sua população é de 26,4 milhões de habitantes, o que corresponde a 15,5% do contingente populacional brasileiro.
O semi-árido brasileiro apresenta regime pluvial irregular, com 400 a 800 mm
anuais, solos rasos, com ocorrência de vegetação do tipo xerófila, resistente a longos períodos
de estiagem. As estiagens prolongadas que ocorrem no semi-árido trazem efeitos nocivos
sobre a economia da região, o que acarreta custos sociais elevados. A economia do semi-
árido, ainda que mais industrializada hoje do que há alguns anos atrás, está baseada no setor
primário (BRASIL, 2006b).
Said (2009) afirma, por sua vez, que no semi-árido a estação chuvosa é de 4 a 7
meses e o verão permanece de 5 a 8 meses, o que forneceria um volume de chuvas suficiente
para atender a necessidades da população local, não fosse a evaporação que é muito alta, o
que faz com que grande parte da chuva que cai não permaneça disponível para o consumo
humano e animal.
28
Figura 5– O semi-árido brasileiro Disponível em <http://riodaintegracaonacional.blogspot.com/2008_06_01_archive.html>
Pela análise da Figura 05, percebe-se que o semi-árido brasileiro está contido quase
em sua totalidade na região Nordeste do Brasil, que abrange os estados do Maranhão, Piauí,
Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Este fato
explica porque muitas pessoas erroneamente referirem-se aos termos “semi-árido” e
“nordeste” como se fossem um só. Ademais, vê-se que apenas uma pequena parte da região
norte do estado de Minas Gerais, que obviamente não faz parte da região Nordeste, é incluída
na delimitação do semi-árido brasileiro.
Segundo Tavares et al (2007), há séculos a população do semi-árido brasileiro vem
buscando meios de atenuar a escassez de água com a qual esta obrigada a conviver. Como a
disponibilidade de água na região está caracterizada pela marcante diferença entre o período
chuvoso e seco, prolongado e com alta taxa de evapotranspiração, a acumulação de águas de
chuvas em cisternas se apresenta como uma importante solução alternativa de abastecimento
de água para uso individual ou coletivo.
Albuquerque (2004) afirma que a coleta de água de chuva é uma alternativa
interessante para combater os efeitos da estiagem, pois necessita de técnicas e equipamentos
simples, de custo acessível, e é capaz de produzir resultados imediatos.
29
4.5 IMPORTÂNCIA DA ÁGUA DE CHUVA
No passado, a água de chuva foi largamente utilizada pela humanidade para diversas
atividades. Contudo, com o passar do tempo foram surgindo novas formas de obtenção de
água limpa, aparentemente mais vantajosas, e, por isso, o homem aos poucos foi perdendo o
interesse pela captação de água pluvial.
Atualmente, entretanto, diversos fatores estão contribuindo para que a humanidade
volte novamente os seus olhos para a água de chuva, o que prova que, na verdade, ela nunca
perdera realmente sua importância, havendo esta apenas sido esquecida. Fendrich (2002, p.
398) assim explica esse fato:
O crescimento populacional aliado com os problemas de escassez de água e a poluição dos mananciais que abastecem as cidades acarreta na dificuldade das companhias responsáveis pelo abastecimento em manter a demanda de água com as devidas exigências de qualidade. Com isso vem a importância da conscientização da população, promovendo assim a utilização racional da água tratada que chega nas residências, reduzindo o consumo indevido deste recurso e incentivando o uso de água de chuva para usos não potáveis. Minimizando assim os problemas de escassez de água e os impactos causados pelas chuvas devido à urbanização como enchentes e erosões.
Barlow (2009) afirma que, nos últimos 50 anos, a espécie humana poluiu as águas de
superfície em um ritmo alarmante e acelerado e, devido a isso, o planeta está ficando sem
água limpa disponível. Atualmente, noventa por cento da água residual produzida no Terceiro
Mundo é lançada, sem tratamento, em rios, riachos e águas costeiras locais.
Com a crescente escassez de água limpa superficial, surgiu, então, o interesse em se
buscar novas fontes de água limpa, como a água subterrânea, conforme explica Barlow (2009,
p.24):
Para lidar com a enorme poluição e o conseqüente efeito da redução dos suprimentos de água limpa, as fazendas, as cidades e as indústrias em todo o mundo estão buscando fontes de água subterrânea, usando uma tecnologia sofisticada para perfurar profundamente a terra e sugar água de aqüíferos primitivos para uso diário.
No entanto, segundo Barlow (2009), o problema é que o uso da água subterrânea está
aumentando muito rapidamente, e os aqüíferos de água subterrânea estão sendo
excessivamente bombeados em todo o mundo e sendo poluídos com escoamentos químicos de
30
indústrias e resíduos de mineração, o que levará, mais cedo ou mais tarde, ao esgotamento
dessas fontes de água subterrânea.
Para tentar aliviar o problema da escassez de água, muitas nações e instituições
financeiras internacionais estão apelando para soluções de alta tecnologia, como represas e
dessalinização (retirada do sal da água do mar ou salobra). Porém, estas são soluções bastante
dispendiosas e prejudiciais em longo prazo para os ecossistemas nas quais são empregadas
(BARLOW, 2009).
Diante deste cenário preocupante, com o forte crescimento populacional provocando
problemas de abastecimento, em virtude do esgotamento das reservas hídricas e também pela
poluição dos mananciais e conseqüente encarecimento dos processos de despoluição das suas
águas, a água da chuva apresenta-se como uma fonte de água bastante confiável, devido ao
seu caráter não seletivo (está presente em todos os lugares do mundo) e à sua boa qualidade,
já atestada por inúmeras pesquisas sobre o tema em questão. Ademais, deve-se ressaltar que a
captação da água da chuva para posterior utilização é uma prática ecologicamente correta,
ajudando inclusive a reduzir o índice de enchentes nas cidades grandes, e, devido à sua
simplicidade, é bastante acessível às populações menos favorecidas economicamente.
Atualmente, alguns países industrializados, como o Japão e a Alemanha, estão
seriamente empenhados no uso do sistema de aproveitamento de água de chuva. Outros
países, como Estados Unidos e Singapura, também estão desenvolvendo pesquisas sobre esse
sistema (MAY, 2004).
4.6 O SISTEMA DE CAPTAÇÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS
Costa, Santos e Burity (2006) afirmam que o sistema de captação de água de chuva
compõe-se por uma área de captação ou área de contribuição (telhado); subsistema de
condução (calhas e dutos); dispositivo para desvio das primeiras chuvas (by-pass);
reservatório (cisterna); tratamento; meio elevatório (balde com corda, sarilho com manivela,
bombas hidráulicas); e reservação (caixa d’água).
Os sistemas de captação de águas pluviais implantados pelo Programa de Formação e
Mobilização Social para a Convivência com o Semi-Árido: um Milhão de Cisternas Rurais
(P1MC) (figura 06), da Articulação no Semi-Árido (ASA), compõem-se de uma área de
captação (telhado das residências), subsistema de condução (calhas e dutos), dispositivo by-
31
pass, reservatório (cisterna) e um dispositivo de retirada da água do interior da cisterna
(bomba-manual).
Na Figura 06, o dispositivo by-pass consiste de um cano de PVC com uma bola de
isopor em seu interior. As primeiras águas de chuva coletadas, devido à disposição dos canos,
tendem primeiro a escoar para o interior do filtro (representado na figura por D), quando o
filtro se enche d’água a bola de isopor veda a entrada do filtro, fazendo com que a água passe
a escoar para a tubulação da cisterna.
Figura 6– Sistema de captação de águas pluviais do P1MC Fonte: Franqueira (2008, apud Santos, 2008)
A – Tubos de PVC
B - Calha
C - Extravasor
D - Filtro para Limpeza (dispositivo by-pass)
E – Bola de Isopor
F – Saída
G - Cisterna
A tecnologia utilizada na construção dos sistemas de captação de águas pluviais
implantados pelo P1MC é bastante simples, o que faz com que seja acessível às localidades
onde atuam. Segundo Malqui (2008), as cisternas construídas pelo P1MC (Figuras 07 e 08)
têm capacidade para armazenar 16 mil litros de água de chuva (captados dos telhados através
de calhas) e são construídas com placas pré-moldadas de concreto ou com camadas sucessivas
de argamassa armadas com tela de arame galvanizado, por pedreiros das próprias localidades
treinados pelo programa e pelas famílias beneficiadas pelas cisternas.
32
Figura 7 - Cisterna de placas pré-moldadas de concreto
Fonte: Rainwater Harvesting And Utilisation – UNEP (2005)
Figura 8 - Cisterna de argamassa com tela de arame
Fonte: Rainwater Harvesting And Utilisation – UNEP (2005)
Nos sistemas de captação de águas pluviais, a água da chuva que cai nos telhados é
recolhida pelas calhas, em seguida passa por um filtro que retém sujeiras, como folhas,
percorrendo depois o caminho dos tubos coletores, sendo por fim armazenada na cisterna.
Telas de nylon também costumam ser adotadas e utilizadas como filtro para partículas
grosseiras. Depois que a água é armazenada na cisterna, pode-se fazer uso de uma bomba para
enviar a água da cisterna para a caixa d'água elevada, ou então optar pela retirada da água
diretamente da própria cisterna. A Figura 09 representa um sistema de captação de águas
pluviais e o caminho percorrido pela chuva desde o momento em que cai no telhado da
residência até o seu destino final (cisterna ou caixa d’água)
33
Figura 9– Esquema de sistema de captação de águas pluviais com utilização de filtro e bomba hidráulica Disponível em <http://biofuturehouse.blogspot.com>
4.7 QUALIDADE DA ÁGUA
Richter e Netto (1991) afirmam que são várias as impurezas que se pode encontrar
nas águas naturais, poucas desejáveis e algumas extremamente perigosas, como os vírus, as
bactérias, substâncias tóxicas e, em alguns casos, até mesmo elementos radioativos.
De acordo com Branco (1993), a qualidade da água disponível à uma determinada
população deve ser analisada por meio da colheita de amostras padronizadas que serão
encaminhadas a laboratórios especializados, onde são feitos testes químicos e microbiológicos
para que possam ser observados diversos parâmetros ou índices de qualidade, que baseiam-se
em certos limites de concentração de uma lista de substâncias que, embora possam estar
presentes na água em determinadas concentrações, não podem ultrapassar aqueles limites
senão tornariam a água nociva.
Além da análise dos parâmetros físico-químicos (pH, cor, turbidez, alcalinidade,
cloretos, dureza total, ferro, nitrato, etc.), faz-se necessário, também, a investigação da
34
existência ou não de organismos patogênicos na água, segundo afirma Branco (1993, p. 42 –
43):
Há ainda os organismos nocivos, principalmente os patogênicos, isto é, aqueles seres que causam doenças quando ingeridos pelo ser humano. A maior parte dos seres patogênicos não se multiplica na água e [...] não se origina nela por geração espontânea. Uma bactéria necessariamente provém de outra e, como as bactérias patogênicas não se reproduzem na água, sua presença nesta sempre indica que foi ali introduzida.
As bactérias patogênicas somente se reproduzem no interior do ser parasitado,
especificamente no interior do seu aparelho digestivo. Assim, a presença de material fecal na
água é condição necessária para que uma análise da qualidade da mesma possa revelar ou não
a presença de bactérias patogênicas (BRANCO, 1993).
Segundo Branco (1993), as espécies de patogênicos são inúmeras, cada uma
necessitando de uma técnica específica de determinação, geralmente muito demorada.
Por isso, os laboratórios especializados em todo o mundo fazem uso de um processo
muito mais simples, porém de muito maior segurança, para verificar simplesmente se a água
contém ou não matérias fecais, que consiste na identificação nas amostras de água de
bactérias pertencentes ao grupo denominado coliformes fecais (BRANCO, 1993).
Os coliformes fecais é um subgrupo das bactérias do grupo coliforme que tem como
principal representante a Escherichia coli, de origem exclusivamente fecal (BRASIL, 2004).
Os coliformes fecais de um modo geral são oriundos das fezes de animais de sangue
quente como, por exemplo, aves, gatos, ratos, ou mesmo seres humanos.
O exame de fezes de animais de sangue quente, incluindo bovinos, suínos, ovinos,
aves domésticas, cães, gatos e roedores, indica que os coliformes fecais contribuem com
93,0% a 98,7% dos coliformes totais, que engloba também bactérias que podem existir no
solo ou nos vegetais, habitando também o intestino do homem e de outros mamíferos sem
lhes causar doenças (GELDREICH, 1974).
No entanto, vale ressaltar que a contaminação de uma dada amostra de água por
material fecal não implica necessariamente que ela contém bactérias patogênicas, e sim revela
a possibilidade da presença de tais organismos na referida amostra.
Da mesma forma, não se pode afirmar que uma amostra de água com resultado
positivo para coliformes totais tenha entrado em contato com fezes.
35
4.8 QUALIDADE DA ÁGUA DA CHUVA
4.8.1 Antes de atingir o solo
A água de chuva, quando a atmosfera está desprovida de poluentes, apresenta pH em
torno de 5,7 (levemente ácido), sendo essa acidez natural e ocasionada pela formação de ácido
carbônico (H2CO3) a partir do dióxido de carbono (CO2) presente no ar (JAQUES, 2005).
A composição da chuva varia conforme a localização geográfica do ponto de
amostragem, as condições meteorológicas (duração, intensidade, tipo de chuva, etc.), a
presença ou não de vegetação e existência de carga poluidora (PORTO et al, 1991).
A água das chuvas é geralmente excelente para vários usos, inclusive para beber,
exceto em locais com forte poluição atmosférica, densamente povoados ou industrializados
(ANDRADE NETO, 2003).
Em áreas como centros urbanos e pólos industriais, passam a ser encontradas
alterações nas concentrações naturais da água da chuva devido a poluentes do ar, como o
dióxido de enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio (NO) ou ainda chumbo, zinco e outros, que
reagem com a chuva e diminuem o seu pH (ALT, 2009).
A “chuva ácida”, fenômeno bastante conhecido, ocorre em certas regiões do planeta
onde altos índices de poluição atmosférica fazem com o pH da água de chuva apresente
valores inferiores a 5,6.
Segundo Andrade Neto (2003), na maioria das localidades do mundo, especialmente
em áreas rurais e em pequenas cidades, os níveis de poluição e contaminação da atmosfera
são baixos e não atingem concentrações capazes de comprometer significativamente a
qualidade da água das chuvas.
4.8.2 Após escorrer pelo sistema de captação
As características físicas e químicas da água de chuva são alteradas ao atingirem as
superfícies de coleta, como coberturas, pátios e estacionamentos, geralmente expostas a
36
intempéries, animais, microorganismos patogênicos, poluentes urbanos e vegetação (ALT,
2009).
Fezes de pássaros e outros animais, comumente encontradas sobre os telhados das
casas, são fontes de contaminação por bactérias e parasitas gastro-intestinais (MAY, 2004).
Por isso, para que a água de chuva mantenha sua qualidade físico-química após
escorrer pelo sistema de captação, é importante que a superfície de captação passe por uma
limpeza periódica para que sejam removidos possíveis focos de contaminação.
Outro método de limpeza consiste em utilizar parte da própria água da chuva como
meio de limpeza da superfície de captação, descartando-se esta água. Esse processo, além da
limpeza, permite a eliminação das primeiras águas da chuva, que inicialmente possui uma
concentração de poluentes atmosféricos mais elevada.
Atualmente, existem vários dispositivos destinados ao descarte das primeiras águas
da chuva. May (2004) apresentou alguns desses dispositivos, entre eles o filtro VF1 (Figura
10), que serve para eliminar detritos como folhas e galhos, e o reservatório de auto-limpeza
com torneira bóia (Figura 11), que veda automaticamente a tubulação de descarte ao se encher
o reservatório de auto-limpeza, quando a água de chuva passa então a escoar para a cisterna.
Figura 10– Filtro VF1 utilizado para descarte das primeiras águas da chuva Fonte: 3PTéchnik (2001 apud May, 2004)
37
Figura 11– Reservatório de auto-limpeza com torneira bóia Fonte: Dacach L.N. (1990 apud May, 2004)
4.8.3 Dentro do reservatório
Segundo Alt (2009), o reservatório de armazenamento da água da chuva captada é o
elemento mais oneroso do sistema de captação de águas pluviais e é responsável por parcela
importante no controle da qualidade da água.
Por ser um local onde a água de chuva coletada permanece parada por um
determinado período de tempo, há, no reservatório, deposição de materiais pesados que
porventura tenham sido carreados pela água de chuva. Além disso, pelo mesmo motivo, pode
haver o desenvolvimento de microorganismos que comprometem a saúde dos usuários do
sistema (TOMAZ, 2003).
Alt (2009) afirma que alguns cuidados devem ser tomados para se garantir a boa
qualidade da água de chuva armazenada no reservatório, como evitar a entrada da luz solar
(que pode ocasionar o crescimento de algas), a tampa de inspeção deve ser hermeticamente
fechada, a saída do extravasor (popularmente conhecido como “ladrão”) deve conter grade ou
tela que evite a entrada de animais e o reservatório deve ser limpo pelo menos uma vez por
ano, removendo-se a lama acumulada no mesmo.
38
4.9 IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO DE ÁGUA POTÁVEL
“Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 80% de todas as doenças que se
alastram nos países em desenvolvimento são provenientes da água de má qualidade.”
(RICHTER; NETTO, 1991, p. 4).
Água potável é aquela que pode ser ingerida pelo homem ou outros animais sem
risco de contaminação.
Na realidade não se encontra, em natureza, a água pura, no sentido exato da palavra. A água sempre contém impurezas, que podem ser de natureza física, química ou biológica. Os teores dessas impurezas devem ser limitados, até um nível não prejudicial ao homem, e são estabelecidos pelos órgãos de saúde pública, como padrões de potabilidade. Assim, afirma-se que uma água é potável quando as suas impurezas estão abaixo dos valores máximos permitidos, não causando, portanto, malefícios ao homem (ROUQUAYROL, 1988, p. 407).
Segundo Macedo (2000) a água pode ser responsável por muitas doenças, quando
serve de veículo para transmissão de uma variedade de microrganismos resultantes da
ingestão da água contaminada ou do emprego de água poluída para irrigação, pesca e
recreação, as chamadas doenças de veiculação hídrica.
Sobre as doenças de veiculação hídrica, Amaral et al (2003, p.511) afirma:
As doenças de veiculação hídrica são causadas principalmente por microrganismos patogênicos de origem entérica, animal ou humano, transmitidas basicamente pela rota fecal-oral, ou seja, são excretados nas fezes de indivíduos infectados e ingeridos na forma de água ou alimento contaminado por água poluída com fezes (Amaral et al, 2003, p. 511).
A contaminação, por microorganismos patogênicos, de redes públicas de
abastecimento ou outras fontes de água potável utilizadas por grande número de pessoas
fazem surgir surtos epidêmicos de doenças propagadas pela água, segundo informa Barlow
(2007, p. 17):
Metade dos leitos de hospitais do mundo está ocupada por pessoas com doenças propagadas pela água, de fácil prevenção, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) relata que a água contaminada é uma das causas de 80% de todas as enfermidades e doenças em todo o mundo. Na última década, o número de crianças mortas por diarréia ultrapassou o número de pessoas
39
mortas em todos os conflitos armados desde a Segunda Guerra Mundial. A cada oito segundos, uma criança morre por beber água suja.
Segundo Barlow (2007), a ONU incluiu entre seus Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio reduzir pela metade, até 2015, o número de pessoas que vivem sem água potável não
contaminada, que atualmente é de mais de 60 milhões.
40
5 METODOLOGIA
5.1 SELEÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO E DO NÚMERO DE CISTERNAS
Como localidade de estudo foi escolhido o município de Irará/Ba, por dois motivos:
primeiro, porque o referido município dista apenas cerca de 60 quilômetros da Universidade
Estadual de Feira de Santana, onde foram realizadas as análises, fato importante já que as
amostras de água coletadas nas cisternas não poderiam ultrapassar mais que quatro horas para
a realização das análises bacteriológicas; segundo, porque ali foram implantadas até o
momento 120 cisternas, pelo P1MC da ASA.
As cisternas foram implantadas na zona rural da cidade de Irará, onde grande parte
dos seus moradores não é atendida pela rede pública de abastecimento de água tratada.
Segundo Gil (1995), quando a população pesquisada não ultrapassa 100.000
elementos, o tamanho da amostra pode ser calculado pela fórmula a seguir:
Onde:
n = tamanho da amostra;
σ2 = nível de confiança escolhido, expresso em número de desvios-padrão;
p = percentagem com a qual o fenômeno se verifica;
q = percentagem complementar;
N = tamanho da população;
e2 = erro máximo permitido.
Para esse trabalho foi adotado:
σ2 = 95,5% (que corresponde a dois desvios-padrão);
p = 95%;
n = ‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐‐
σ2. p . q . N
e2 (N‐1) + σ2 . p . q
41
q = 5%;
N = 120 cisternas;
e2 = 5%.
Substituindo-se os valores acima na fórmula anterior, encontra-se um valor de n
igual a 47. Logo, para que o trabalho apresentasse um nível de confiança de 95,5% e um erro
máximo de 5%, deveriam ser estudadas pelo menos 47 cisternas.
No entanto, o número de cisternas estudadas foi limitado a seis devido à capacidade
do laboratório no período de coleta das amostras e a custos adicionais envolvidos que não
estavam previstos anteriormente.
Assim, foram coletadas amostras de água em seis cisternas localizadas nas Fazendas:
Manan, Loja, Olaria, Paramirim, Quebra-Fogo e Sítio-Velho.
A escolha das comunidades se deu pela facilidade de acesso e pela ausência de
fornecimento de água encanada nas mesmas.
5.1.1 Características da área de estudo
A cidade de Irará (Figura 12) está localizada no estado da Bahia e fica na região
Nordeste do Brasil, mais precisamente na região Centro Norte Baiano, possui uma área de
240 km² e uma população atual estimada em aproximadamente 25.811 habitantes (IBGE,
2010).
Na sede municipal existem duas agências bancárias, uma federal e uma privada, além
de possuir uma agência de correio e telégrafo. Para o atendimento da população existe um
hospital conveniado com o SUS dispondo de vinte leitos. Essa região fica no Polígono das
Secas, que apresenta um regime pluviométrico marcado por extrema irregularidade de chuvas,
no tempo e no espaço (SANTOS, 2009).
As principais atividades econômicas da cidade de Irará são: a agricultura, a pecuária
e o comércio. A agropecuária responde por 30% do PIB do município, com R$ 32.182 mil
reais. As indústrias, por sua vez, contribuem com cerca de 7% do PIB, com R$ 7.147 mil reais
(IBGE, 2010).
Dentre as lavouras encontradas no município, a mandioca é a cultura que apresenta a
maior área plantada/colhida com 7.200 ha. O milho, com 3.800 ha e o feijão, com 3.720 ha,
42
são respectivamente, a segunda e terceira lavouras em área plantada/colhida. Para a mandioca,
a produtividade é calculada em 18.000 kg/ha, totalizando uma produção de 129.600 toneladas,
dados da safra de 2008 (IBGE, 2010).
Na pecuária destaca-se a criação de gado bovino (bois e vacas), suínos (porcos),
eqüino (cabra e bodes) e galinhas. No comércio destaca-se a venda, varejista e atacadista. Em
Irará há também indústrias como a Fábrica de Farinha de Mandioca, Fábrica de sapatos,
Fábricas de roupas entre outras.
O clima da região é tropical semi-árido, com vegetação e relevo variados,
destacando-se a presença da Serra do Urubu e da Serra do Periquito. Quanto à hidrografia, a
região é cortada pelos rios Seco e Paramirim.
Figura 12– Irará/BA (indicado pela seta no mapa)
Fonte: IBGE, 2010
43
5.2 COLETA DE DADOS
5.2.1 Coleta da água
As coletas das amostras para análises físico-químicas e bacteriológicas (coliformes
totais e coliformes fecais) aconteceram no dia 04 de janeiro de 2010.
Para a determinação das características físico-químicas e bacteriológicas foram
coletadas ao todo doze amostras de água armazenada no interior das cisternas dos sistemas de
captação de águas pluviais de seis localidades diferentes da região rural da cidade de
Irará/BA, sendo coletadas duas amostras em cada residência visitada. Seis das doze amostras
foram destinadas às análises físico-químicas da água e as outras seis às análises
bacteriológicas de coliformes totais e coliformes fecais.
Para as análises físico-químicas, as amostras de água foram coletadas e armazenadas
em recipiente plástico com capacidade para 2 litros (Figura 13).
Figura 13– Recipiente plástico de capacidade igual a 2 litros, utilizado para coleta das amostras destinadas às análises físico-químicas
Para as análises bacteriológicas as amostras foram armazenadas em frascos de vidro
esterilizados, fornecidos pelo Laboratório de Saneamento da Universidade Estadual de Feira
de Santana (local de realização das análises). Um recipiente virgem (balde que nunca havia
44
sido usado) também foi usado no auxílio à coleta. A Figura 14 representa o momento de
coleta de uma das amostras, onde se pode perceber o frasco de vidro e o balde utilizados na
coleta.
Figura 14– Frasco de vidro e balde utilizados na coleta de amostra de água para análise bacteriológica
5.2.2 Manuseio da água nas cisternas
Para que o presente trabalho não se limitasse apenas à simples coleta e análise da
qualidade das amostras de água, através da comparação dos resultados das análises físico-
químicas e bacteriológicas com padrões de potabilidade existentes, foi realizada também a
obtenção de informações de indiscutível importância à pesquisa e que podem afetar, direta ou
indiretamente, a qualidade da água armazenada nos reservatórios.
Para isso, foram realizadas observações de campo e entrevistas com os moradores
presentes nas residências no momento das visitas.
Os moradores foram questionados quanto a (o):
a) Tempo de construída a cisterna;
b) A Periodicidade de limpeza das cisternas;
c) Desvio das primeiras águas;
d) Uso dado à água coletada;
e) A origem da água presente na cisterna;
f) Forma de retirada da água das cisternas;
45
g) Adição de substância química à água coletada ou realização de tratamento
preventivo visando a garantir uma boa qualidade da água.
As respostas foram escritas em caderno de anotações, sem constar os nomes dos
moradores, servindo apenas como identificador de dados os nomes das localidades visitadas.
Após a realização de cada entrevista, também foram realizados registros fotográficos
do sistema de captação de água pluvial e seus componentes, detalhes externos e internos da
cisterna, assim como outros aspectos considerados relevantes.
5.3 ANÁLISE DE DADOS
A qualidade da água foi avaliada comparando-se os resultados obtidos nas análises
bacteriológicas e físico-químicas realizadas em laboratório com os valores máximos
permissíveis (VMP) fixados ou recomendados pela portaria N°. 518/04, de 25 de março de
2004, do Ministério da Saúde, que estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos
ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de
potabilidade, e dá outras providências.
5.3.1 Parâmetros físico-químicos e bacteriológicos analisados
Como o objetivo do presente trabalho foi de analisar a qualidade da água da chuva
para consumo humano, a qualidade bacteriológica e físico-química das amostras de água
pluvial coletadas das cisternas foi avaliada pelos seguintes parâmetros, que são os mais
significativos em relação aos padrões de potabilidade da água:
Coliformes totais;
Coliformes fecais;
pH;
Cor;
Alcalinidade;
46
Cloretos;
Dureza total;
Ferro;
Nitrato;
Nitrito;
Sulfatos;
Turbidez.
Os ensaios realizados para a determinação da qualidade físico-química e
bacteriológica das amostras de águas e suas respectivas técnicas e normas encontram-se
relacionadas no Quadro 02 abaixo:
Quadro 02– Ensaios realizados, com suas respectivas técnicas e normas
ENSAIO MÉTODO NORMA
Coliformas Totais e Fecais Substrato Cromogênico Colilert/Standard Methods
- 20ª th Ed.
pH Eletrométrico NBR 14339/1999
Cor Colorimétrico NBR 13798/1997
Alcalinidade Titulométrico NBR 5762/1977
Cloretos Argentométrico NBR 5759/1975
Dureza Total Titulométrico NBR 12621/1992
Ferro Colorimétrico NBR 13934/1997
Nitrato Colorimétrico Test Kit-Hach
Nitrito Colorimétrico Test Kit-Hach
Sulfatos Turbidimétrico CETESB L5.153/1978
Turbidez Turbidimétrico MB 3227/1990
47
6 RESULTADOS
6.1 RESULTADOS DAS ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS E BACTERIOLÓGICAS E
DISCUSSÃO
Os resultados obtidos nas amostras de água de chuva para os parâmetros físico-
químicos (ph, cor, alcalinidade, cloretos, dureza total, ferro, nitrato, nitrito, sulfatos e
turbidez) e bacteriológicos (coliformes totais e fecais) analisados são apresentados na Tabela
03, onde:
P1 – Ponto de coleta da Fazenda Manan;
P2 – Ponto de coleta da Fazenda Loja;
P3 – Ponto de coleta da Fazenda Olaria;
P4 – Ponto de coleta da Fazenda Paramirim;
P5 – Ponto de coleta da Fazenda Quebra-Fogo;
P6 – Ponto de coleta da Fazenda Sítio Velho;
VMP – Valor Máximo Permitido pela Portaria N°. 518/04 do MS para o parâmetro
analisado.
48
Tabela 03 – Resultados obtidos nas análises físico-químicas e bacteriológicas para as amostras de água da chuva coletadas nas cisternas da região rural de Irará/Ba.
Parâmetro/unidade P1 P2 P3 P4 P5 P6 VMP
Coliformes totais NMP/100ml >23 >23 >23 >23 >23 >23 0
Coliformes fecais NMP/100ml >23 23 12 1,1 1,1 >23 0
pH 7,3 5,9 7,6 8,1 7,2 7,8 *
Cor (uH) 10 5 5 5 2,5 5 15
Alcalinidade (mg/L) 64 38 48 52 42 44 (Não aplicável)
Cloretos (mg/L) 4 14 2 2 26 46 250
Dureza Total (mg/L) 6 0 0 0 8 30 500
Ferro (mg/L) 0 0 0 0 0 0 0,3
Nitrato (mg/L) 4 3 3 3 10 11 10
Nitrito (mg/L) 0 0 0 0 0 0 1
Sulfatos (mg/L) 6,6 6,6 6,6 6,6 10 8,3 250
Turbidez (uT) 2,3 0,55 0,88 0,53 0,39 1,65 5
* A Portaria N°. 518/04 do MS recomenda que o pH da água seja mantido na faixa de 6,0 a 9,5.
Analisando a Tabela 03, percebe-se que todas as amostras de água analisadas
apresentaram concentrações de coliformes totais maiores que 23 NMP/100ml, o que
contraria a Portaria N°. 518/04 do MS que estabelece, como padrão microbiológico de
potabilidade da água para consumo humano, que deve haver ausência de coliformes totais em
100ml da amostra de água coletada.
Quanto ao parâmetro bacteriológico coliformes fecais, foram encontradas nas
amostras coletadas nas cisternas das comunidades rurais de Irará/BA valores que variaram de
1,1 NMP/100ml a maior que 23 NMP/100ml. As amostras coletadas em P4 e P5 apresentaram
o menor índice. A amostra coletada em P3 ficou com o segundo maior valor (12
49
NMP/100ml). A amostra coletada em P2 apresentou uma concentração de coliformes fecais
igual a 23 NMP/100ml. P1 e P6 apresentaram os maiores valores de coliformes fecais (maior
que 23 NMP/ml). Também quanto ao parâmetro coliformes fecais, nenhuma das seis amostras
atendeu à Portaria 518/04 do MS, já que a mesma estabelece que deve haver ausência de
coliformes fecais em 100ml da amostra de água.
Andrade Neto (2003) afirma que vários estudos sobre a qualidade de águas de chuva
armazenada em cisternas têm demonstrado que estas geralmente atendem os padrões de
potabilidade para os parâmetros físico-químicos, no entanto freqüentemente não atendem aos
padrões de potabilidade quanto aos critérios de qualidade microbiológica.
May (2004), ao analisar a viabilidade do aproveitamento de água de chuva para
consumo não potável em edificações, encontrou coliformes totais em mais de 89% das
amostras de água de chuva analisadas e coliformes fecais em 50% das amostras.
Santos (2008), ao analisar 72 amostras de água de cisternas da região de
Serrinha/BA, constatou a presença de coliformes totais e fecais em todas as amostras, sendo
tal fato devido a práticas inadequadas de captação, armazenamento, uso, manejo e
gerenciamento adotadas pelas famílias, como o não desvio das primeiras águas de chuva, que
tem como objetivo permitir a remoção de partículas depositadas na superfície de captação.
Segundo Andrade Neto (2003), os dispositivos destinados ao descarte das primeiras
águas de chuva constituem a barreira física mais eficiente no controle da contaminação da
água armazenada nas cisternas.
No entanto, outras medidas preventivas são também bastante importantes para se
garantir a boa qualidade da água de chuva armazenada nas cisternas, livrando-a da
contaminação por coliformes totais e fecais, entre tais medidas podemos citar a utilização de
bomba manual para a retirada da água do interior das cisternas.
Como se pode perceber pela Tabela 03, apenas uma amostra (Fazenda Loja)
apresentou pH fora da faixa sugerida pela Portaria N°. 518/04 do Ministério da Saúde para
consumo humano, que é de 6,0 a 9,5. Porém, como o pH encontrado foi de 5,9 e a referida
portaria apenas recomenda que ele fique na faixa de 6,0 a 9,5, pode-se afirmar que, em
relação ao parâmetro em questão, a água daquela cisterna não apresentaria riscos ao consumo
humano.
Exceto esta amostra que se demonstrou ligeiramente ácida, pois teve seu valor de pH
igual a 5,9, todas as demais apresentaram valor de pH variando na faixa de 7,2 a 8,1, estando
as mesmas, portanto, dentro da faixa de pH sugerida pela Portaria N°. 518/04 MS.
50
Nos grandes centros urbanos, é comum encontrarmos água da chuva apresentando
pH abaixo de 6 (seis), que é o limite inferior estabelecido pela Portaria N°. 518/04 do MS
para consumo humano, caracterizando, pois, a existência de chuva ácida, decorrente
principalmente da presença de gases como o CO2 e SO4 existentes naquele tipo de ambiente
(provenientes em sua maior parte da queima do combustível dos veículos), que reagem com a
água da chuva formando ácidos. Como apenas uma das amostras apresentou pH ligeiramente
ácido, supõe-se que outros fatores podem estar interferindo nesse resultado, uma vez que se
trata de região rural.
Quanto ao parâmetro cor, alcalinidade, cloretos, dureza total, ferro, nitrito,
sulfatos e turbidez, todas as amostras apresentaram-se dentro dos Valores Máximos
Permitidos pela Portaria N°. 518/04 do MS, não apresentando riscos à saúde humana com
relação aos parâmetros físico-químicos referidos anteriormente.
Já em relação às concentrações de nitrato, por sua vez, variam numa faixa de 3 a 11,
ficando a maior concentração com o ponto de coleta correspondente à Fazenda Sítio Velho
(P6). Como o VMP estabelecidos pela Portaria N°. 518/04 do MS para esse parâmetro é de 10
mg/L, pode-se então afirmar que, através da análise da Tabela 03, apenas a amostra P6 pode
trazer riscos à saúde humana devido a uma concentração de nitrato ligeiramente superior ao
VMP.
“Águas com concentrações de nitratos predominantes indicam uma poluição remota,
porque os nitratos são o produto final de oxidação do nitrogênio.” (RICHTER; NETTO, 1991,
p. 34).
Segundo Silva, Araújo (2000), níveis elevados de nitratos na água indicam, também,
contaminação por disposição inadequada de dejetos humanos, industriais ou de indústrias
alimentícias, além do uso de fertilizantes nitrogenados na agricultura.
Nitrato em teores superiores a 10 mg L-1 pode causar doenças como meta-
hemoglobina ("baby blue syndrome") e câncer gástrico (CABRAL, 2007). A meta-
hemoglobina pode ser fatal, principalmente quando o indivíduo portador da enfermidade é
criança ou idoso.
No entanto, Richter e Netto (1991) afirmam ser necessário uma concentração de
nitrato acima de 50 mg L-1 para a ocorrência, em crianças, de cianose ou
metahemoglobinemia, condição mórbida associada à descoloração da pele, em conseqüência
de alterações no sangue.
51
6.2 RESULTADOS DAS ENTREVISTAS SOBRE AS PRÁTICAS DE USO E MANUSEIO
DA ÁGUA DAS CISTERNAS E OUTRAS OBSERVAÇÕES
O Quadro 04 abaixo apresenta uma síntese das informações obtidas através das
entrevistas e observações realizadas em campo relacionadas às localidades visitadas em Irará,
identificadas pelas mesmas siglas utilizadas na Tabela 03.
Quadro 04– Informações e observações sobre uso, manuseio e gerenciamento da água das cisternas da região rural da cidade de Irará/Ba.
Informação/Ponto de Coleta
P1
P2
P3
P4
P5
P6
Tempo de construída a
cisterna
Aproxima-damente 1
ano e 2 meses
Aproxima-damente 1
ano
Aproxima-damente 1
ano
Aproxima-damente 1
ano e 1 mês
Aproxima-damente 1
ano
Aproxima-damente 1
ano
Periodicidade de
limpeza da cisterna
Apenas limpou
depois de construída
Apenas limpou
depois de construída
Apenas limpou
depois de construída
Apenas limpou
depois de construída
Apenas limpou
depois de construída
Apenas limpou
depois de construída
Desvio das primeiras
águas Não efetua Não efetua Não efetua Não efetua Não efetua Não efetua
Uso dado à água
coletada
Beber e cozinhar
Beber e cozinhar
Beber e cozinhar
Beber e cozinhar
Beber e cozinhar
Beber e cozinhar
Origem da água da cisterna
Chuva Chuva e Poço Chuva Chuva Chuva e
Poço Chuva e
poço
Forma de retirada da
água da cisterna
Balde Balde Balde e Bomba Manual
Bomba Manual
Balde e Bomba manual
Balde
Adição de alguma
substância química ou realização
de tratamento
antes do consumo
Nunca fez qualquer adição de substância química ou tratamento
da água consumida
Nunca fez qualquer adição de substância química ou tratamento
da água consumida
Agentes de saúde
fizeram aplicação de hipoclorito de sódio na água. Não
faz tratamento antes do consumo
Agentes de saúde
fizeram aplicação de hipoclorito de sódio na água. Não
faz tratamento antes do consumo
Agentes de saúde
fizeram aplicação de hipoclorito de sódio na água. Não
faz tratamento antes do consumo
Nunca fez qualquer adição de substância química ou tratamento
da água coletada
52
Do Quadro 04 verifica-se que a maioria dos entrevistados afirmou, quanto ao tempo
de construção das cisternas, terem sido as mesmas concluídas há aproximadamente um ano,
sem poderem informar precisamente a data do término da construção. Apenas em duas das
cisternas visitadas (P1 e P4), a acreditar na veracidade do dado, tais datas apareciam inscritas
em suas superfícies (Figuras 15 e 16), o que permitiu uma estimativa mais precisa e confiável
da idade dos reservatórios.
Figura 15– Data da construção da cisterna (13/12/2008), inscrita em sua superfície
Figura 16– Data da construção da cisterna (10/11/2008), inscrita em sua superfície
53
Quanto à periodicidade de limpeza das cisternas, todos os entrevistados afirmaram
que as mesmas somente foram limpas uma única vez, sendo esta limpeza efetuada logo após a
construção dos reservatórios.
Para que a qualidade da água armazenada em seu interior não seja comprometida, a
cisterna deve ser limpa no máximo de ano em ano. Assim, duas das cisternas pesquisadas,
para as quais foi possível, a confiar nos inscritos em suas superfícies, precisar a data do
término de sua de construção, provam que nem todos se preocupam com a limpeza dos
reservatórios no seu devido tempo. Quanto às demais cisternas nada se pode afirmar visto que
os entrevistados não foram capazes de relatar com exatidão o tempo de existência dos
reservatórios.
Segundo Santos (2008), a limpeza periódica das cisternas, de forma correta, é uma
prática importante porque uma vez que a matéria orgânica e/ou mineral contaminadas adentra
na cisterna, passando através das telas e do filtro da tubulação de coleta, ela repousa no fundo
do reservatório, garantindo a permanência da contaminação.
Do Quadro 04 pode-se perceber outro grave problema que afeta e muito a qualidade
da água da chuva coletada: é a não realização do desvio das primeiras águas da chuva, que
é suma importância na redução da quantidade de poluentes oriundos da atmosfera e da
matéria orgânica e mineral presentes nas superfícies de captação (telhado e calhas). A prática
do desvio das primeiras águas da chuva afeta diretamente na melhoria das concentrações de
coliformes totais da água armazenada no interior dos reservatórios.
O não desvio das primeiras águas de chuva já foi apontado por inúmeros trabalhos
(TAVAREZ et. al., 2007; SANTOS, 2008; ANDRADE NETO, 2003) como um dos
principais pontos frágeis em relação às práticas de higiene que os usuários dos sistemas de
captação de águas pluviais devem ter durante a coleta e armazenamento da água de chuva.
Tavares et al (2007), ao analisar famílias de duas comunidades rurais de São João do
Cariri/PB, identificou que 23,5% das famílias não desviam as primeiras águas da chuva, o que
faz com que a probabilidade de contaminação da água das cisternas seja ampliada.
Estudos realizados com a aplicação do desvio evidenciaram melhorias na qualidade
da água armazenada, pela lavagem da superfície de captação com a água das primeiras
chuvas, que é descartada (TAVARES et al, 2007).
Através de observações de campo, foi-se observado que, com o intuito de se reduzir
a quantidade de material grosseiro que, com a chuva, escoa do telhado e calhas e penetra no
interior das cisternas, como folhas ou penas de animais, foram fixadas, em determinadas
54
seções dos canos que compõem o sistema de captação de águas pluviais, telas de nylon
(Figura 17).
Figura 17– Detalhe das telas de nylon utilizadas para se reduzir a quantidade de material grosseiro que vai parar no interior das cisternas
Tais telas de nylon também puderam ser vistas nos ladrões das cisternas, sendo
postas ali para evitar a entrada de algum animal através do ladrão do reservatório (figura 18).
Figura 18– Tela de nylon fixada no ladrão da cisterna para evitar entrada de animais
Além das telas de nylon, também puderam ser observados outros dispositivos
empregados nos sistemas de captação de águas pluviais destinados a garantir à água coletada
55
uma boa qualidade, livrando-a de interferências que possam afetar negativamente sua
qualidade. Um exemplo são os filtros adotados para se reduzir a quantidade de matéria
orgânica que adentra nas cisternas (Figura 19).
Figura 19– Filtro adotado em sistema de captação de águas pluviais da região rural da cidade de Irará, na Bahia
Segundo Santos (2008), os filtros são formados por tubo de PVC e contém uma bola
de isopor no seu interior. A água da chuva que escoa do telhado é acumulada no interior do
tubo e quando este enche, a bola de isopor impede que a água continue entrando, sendo
escoada para outra tubulação diretamente ligada a cisterna. Assim, ocorre o desvio da
primeira água de chuva, minimizando a quantidade de matéria orgânica retida na área de
captação.
Os filtros e as telas, contudo, retém apenas material grosseiro, deixando passar
facilmente material mais fino (como dejetos de animais), o que constitui uma importante fonte
de contaminação da água (SANTOS, 2008).
Do Quadro 04, verifica-se outra prática que afeta a qualidade da água armazenada
nas cisternas. Ela diz respeito à origem da água da cisterna, ou seja, ao procedimento de
misturar ou não a água de chuva coletada com outras fontes de água. No presente trabalho,
dos 6 indivíduos entrevistados 3 afirmaram terem misturado a água de chuva coletada na
cisterna com água proveniente de poço, de qualidade duvidosa.
56
Quanto ao uso da água, Jalfim (2001) afirma que o consumo de água na zona rural
semi-árida do Brasil é de aproximadamente 6 L por pessoa/dia, considerando apenas as
necessidades prioritárias de beber e cozinhar.
A realidade, no entanto, é que esse consumo de água se faz bem maior do que
considerado acima, visto que, além das necessidades consideradas como prioritárias existem
outras, não menos importantes, como os hábitos de higiene, a água para a lavoura, para os
animais, etc.
Tavares et al (2007) apresenta, também, uma explicação bastante plausível para tal
procedimento de mistura: as cisternas construídas têm um volume único de projeto igual a
16.000 litros, o suficiente para atender uma família de 5 pessoas no período de estiagem. No
entanto, é fácil de serem encontradas no semi-árido famílias que ultrapassam essa marca, o
que foge aos cálculos do projeto das cisternas e faz inviabilizar o seu uso unicamente com
água de chuva, já que os moradores são levados a buscar auxílio em outras fontes de água
para saciar as suas necessidades de uso.
Inclusive, durante as visitas às localidades para coleta das amostras de água das
cisternas, foi-se constatado que todas elas apresentavam um nível de água armazenada muito
baixo, não chegando nem à metade do volume das cisternas. (fato ilustrado na Figura 20).
Figura 20– Tampa da cisterna aberta, onde se pode observar o baixo nível da água no interior do reservatório e parte do sistema da bomba manual
57
Segundo Santos (2008), o procedimento de mistura da água de chuva coletada com a
de outras fontes, vai contra os objetivos do P1MC, pois o programa prevê a utilização das
cisternas implantadas somente para armazenagem de água pluvial.
Outro aspecto interessante diz respeito à forma de retirada da água do interior das
cisternas, para uso posterior ou imediato. Da análise do Quadro 04 percebe-se que apenas um
dos entrevistados afirmou realizar esta retirada somente através da bomba manual (Figura 21),
que é a forma correta a ser adotada, pois livra a água coletada no interior da cisterna de
qualquer contato com recipientes contaminados ou mesmo com o corpo humano, que também
pode representar uma potencial fonte de contaminação. A Figura 22 ilustra a utilização da
bomba manual.
Figura 21– Bomba manual utilizada para a retirada de água do interior da cisterna
58
Figura 22– Utilização da bomba manual
Tavares et al (2007) considera a bomba manual um dos melhores mecanismos para
se prevenir a contaminação da água das cisternas no momento da coleta para uso.
Segundo Santos (2008), o uso de balde para retirar água das cisternas faz com que a
água armazenada fique mais vulnerável à contaminação por coliformes fecais.
Fazendo-se uma comparação dos resultados das análises bacteriológicas fornecidos
pela Tabela 03 com as informações referentes à forma de retirada da água da cisterna,
presentes no Quadro 04, nota-se, de fato, que a localidade onde os moradores afirmaram
utilizar apenas bomba manual para retirada da água apresentou uma das menores
concentrações de coliformes fecais.
Porém, deve-se deixar bem claro que a concentração de Coliformes Fecais não
depende apenas da forma como a água é retirada dos reservatórios, sendo esta concentração
condicionada por diversos outros fatores, como a condição de limpeza dos telhados e bicas,
descarte das primeiras águas e aplicação de substâncias desinfetantes à água armazenada (o
parágrafo anterior não passa, pois, e também devido à reduzida quantidade de amostras
estudadas, de mera conjetura).
Do restante dos entrevistados, três afirmaram utilizar somente balde e dois afirmaram
algumas vezes utilizar o balde e outras vezes a bomba manual. A retirada utilizando-se balde
é feita introduzindo-se o mesmo através da tampa da cisterna e se deve, como constatado em
campo, pela praticidade e economia de tempo que representa quando comparada à forma
correta de retirada, que se faz com o uso da bomba manual. Porém, como já explicitado
59
anteriormente, é uma prática que faz aumentar o risco de contaminação da água devido ao
contato com objetos que possam estar contaminados.
Não obstante, esta forma não recomendada de retirada da água do interior da cisterna
utilizando-se balde acaba induzindo quem a faz, em prol da praticidade, a deixar a tampa do
reservatório aberta, o que, obviamente, faz com que a cisterna fique vulnerável, também, a
outras fontes de contaminação, como pela entrada de animais e/ou matéria orgânica em seu
interior.
Por outro lado, na localidade onde os moradores afirmaram utilizar somente a bomba
manual para retirada da água da cisterna (P4), foi-se constatado que a tampa da mesma
encontrava-se fechada com cadeado (Figura 23).
Figura 23– Tampa da cisterna fechada, onde se pode notar a utilização de cadeado
Na realização das entrevistas, foi-se evidenciado que, em relação à aplicação de
alguma substância química à água da cisterna, três dos entrevistados afirmaram que
agentes de saúde passaram, em certa ocasião (não souberam precisar o tempo), por suas
residências e lançaram à água de chuva armazenada na cisterna certa substância cujo nome
desconheciam, não lhes deixando em mãos nenhuma amostra nem instrução de uso,
afirmando apenas que ali retornariam futuramente.
60
No entanto, no momento em que se fazia a coleta de água em uma das cisternas
visitadas, foi encontrado no solo, próximo ao reservatório, um recipiente vazio cuja inscrição
não deixa dúvida tratar-se da substância desinfetante utilizada pelos agentes de saúde (Figura
24).
Segundo Richter e Netto (1991), a desinfecção tem por finalidade a destruição de
microorganismos patogênicos presentes na água, como bactérias, vírus e protozoários, sendo
o cloro o agente de desinfecção mais largamente empregado na purificação da água.
Figura 24– Hipoclorito de Sódio, utilizado como desinfetante no tratamento da água das cisternas
O hipoclorito de sódio tem baixa toxidade oral e é inócuo à pele, sendo indicado pelo
Ministério da Saúde como saneante e desinfetante (COSTA et al, 1990).
O hipoclorito de sódio é um produto obtido da reação do cloro com uma solução
diluída de soda cáustica e tem sido utilizado para desinfecção de águas destinadas à
potabilidade, águas de piscinas, desinfecção em limpezas domésticas e hospitalares e como
matéria-prima das tão conhecidas águas sanitárias.
Tanto o hipoclorito de sódio como a água sanitária são muito eficientes no combate a
doenças transmissíveis pela água, dentre elas as febres tifóides e para-tifóides, a hepatite
infecciosa e a cólera, porque agem na eliminação de microorganismos patogênicos. São
utilizados por companhias de saneamento e órgãos responsáveis pela Saúde Pública (COSTA
et al, 1990).
61
Novamente, fazendo-se uma comparação dos resultados das análises bacteriológicas
de coliformes fecais fornecidos pela Tabela 03 com as informações referentes à adição ou não
de substância química à água da cisterna (Quadro 04), percebe-se que justamente os três
pontos de coleta onde os entrevistados afirmaram terem recebido a visita de agentes de saúde
(os quais teriam aplicado hipoclorito de sódio à água coletada) foram os que obtiveram as
menores concentrações daquelas bactérias, indicando a possibilidade da substância
desinfetante ter contribuído para a redução dos níveis de coliformes fecais naquelas
localidades onde teria sido utilizado. Seria preciso, contudo, um estudo mais aprofundado e
com um volume maior de dados para que essa hipótese fosse confirmada.
Por fim, todos os entrevistados afirmaram, quanto ao uso dado à água coletada, que
a utilizam apenas para beber e cozinhar e que também não realizam nenhum tipo de
tratamento da água antes do consumo, como fervê-la e/ou filtrá-la.
As medidas mais comuns de tratamento de água quando a suspeita de que a água
destinada ao consumo humano não é potável são a filtração e a fervura. A filtração, embora
não remova todos os microrganismos, é útil na retenção de grande parte das impurezas. A
fervura constitui o modo mais simples de desinfecção - o aquecimento a 100°C destrói os
microrganismos vegetativos presentes. A fervura deve ser feita durante quinze minutos, para
assegurar o aquecimento total do líquido e o extermínio dos microrganismos. Como durante o
aquecimento há liberação de gases dissolvidos, tornando a água desagradável ao paladar,
recomenda-se o seu arejamento, passando-a de uma vasilha limpa para outra (SILVA, 2007).
62
7 CONCLUSÕES
A Portaria Nº 518/04 do MS estabelece que a água para consumo humano deve
atender, concomitantemente, aos valores máximos permitidos para os parâmetros físico-
químicos e bacteriológicos. Logo, pelo presente trabalho conclui-se, por fim, que nenhuma
das seis amostras de água coletadas das cisternas da região rural de Irará/Ba é própria para o
consumo humano sem antes passarem por um processo de desinfecção.
A contaminação da água armazenada nas cisternas da região rural da cidade de
Irará/Ba é resultado do descaso quanto à adoção de medidas preventivas antes, durante e após
a coleta da água de chuva e também de práticas inadequadas de uso e manuseio da água que
afetam sua qualidade. Entre tais práticas podemos citar o não desvio das primeiras águas da
chuva e a retirada de água do interior das cisternas com a utilização de baldes e outros
recipientes que possam estar contaminados.
A implantação dos sistemas de captação e armazenamento de água da chuva na
região rural de Irará tem-se demonstrado uma alternativa de abastecimento bastante prática e
eficiente que põe à disposição de seus usuários uma água que é, por natureza, de excelente
qualidade. Além disso, na maioria dos casos, as famílias beneficiadas com a construção das
cisternas não precisam mais ficar dependentes do “socorro” de carros-pipas e nem de
caminhar longas distâncias em busca de outras fontes de abastecimento, como poços ou
açudes, reservando, assim, o tempo que antes despendiam com esse árduo trabalho para outras
atividades ou mesmo com o lazer.
O dispositivo de descarte das primeiras águas de chuva dos sistemas de captação de
águas pluviais analisados na região rural da cidade de Irará/Ba tem sua eficiência
condicionada à sua correta utilização pelos moradores beneficiados pelo P1MC, tendo-se
demonstrado pouco eficiente.
A forma de retirada da água do interior das cisternas utilizando-se a bomba manual,
quando comparada com a utilização de balde, é mais demorada, o que induz fortemente os
moradores a optarem por se utilizarem da segunda opção, mesmo quando sabidamente errada.
Isso faz também com se aumente o risco de contaminação, principalmente por coliformes
fecais.
Nem todos os entrevistados afirmaram terem recebido a visita de agentes de saúde
para que fosse aplicado desinfetante à água, procedimento de extrema importância para a
manutenção da boa qualidade da mesma.
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Os usuários dos sistemas de captação de águas pluviais estudados, evidenciada a má-
qualidade da água que ingerem, precisam ser mais bem instruídos e alertados quanto aos
riscos de enfermidades a que se expõem e aos seus familiares quando não atentam pela
adoção de medidas corretas de uso e manuseio da água armazenada nas cisternas e das
medidas preventivas de manutenção da boa qualidade da água coletada.
8 RECOMENDAÇÕES
Rever a forma de atuação e numerário dos agentes de saúde de forma que fique
comprovada sua capacidade de atender a todos os moradores da zona rural da cidade de Irará
beneficiados com o P1MC. É interessante que os mesmos, além de efetuarem a desinfecção e
controle qualitativo periódicos da água armazenada nas cisternas, exerçam também papel
educativo junto às famílias visitadas, instruindo-as e recriminando qualquer prática
relacionada à coleta, uso e manuseio da água da chuva que constatem prejudicial à saúde dos
residentes.
Realizar entrevistas e estudos de campo na zona de implantação das cisternas para se
investigar sobre a necessidade ou não de se efetuar um redimensionamento na capacidade de
armazenamento de água das cisternas, para que as mesmas possam armazenar quantidade
suficiente de água na época chuvosa para atender a necessidade de consumo das famílias
durante o período de ausência de chuvas.
Estudar a possibilidade de se efetuar uma mudança na localização da tampa da
cisterna (deslocando-a para mais perto do centro do reservatório, por exemplo) de forma que
possa dificultar a utilização de balde, o que incentivaria a utilização da bomba manual.
Estudar a possibilidade da implantação e utilização de um dispositivo de descarte das
primeiras águas de chuva que não necessitasse de intervenção humana para que viesse a
ocorrer.
Intensificar o programa de treinamento e instrução às famílias beneficiadas com o
P1MC quanto à correta utilização do sistema de captação de águas pluviais e gerenciamento e
uso da água de chuva coletada, destacando os riscos a que estão expostos e aos quais expõem
seus familiares quando não atentam para tais medidas de proteção e se utilizam, por
conseqüência desse descaso, de uma água contaminada e prejudicial à saúde.
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