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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO COPPEAD AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAÇÃO DE USINAS HIDRELÉTRICAS NO BRASIL: ESTUDO DE CASOS Antonio Luiz Fonseca Abreu Jorge COPPEAD/UFRJ: Mestrado Orientadora: Prof a . Letícia Casotti D.Sc., UFRJ Rio de Janeiro 2002

Antonio Luiz Jorge

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analise e aplicação

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

    CENTRO DE CINCIAS JURDICAS E ECONMICAS

    INSTITUTO DE PS-GRADUAO EM ADMINISTRAO

    COPPEAD

    AVALIAO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NAIMPLANTAO DE USINAS HIDRELTRICAS NO BRASIL:

    ESTUDO DE CASOS

    Antonio Luiz Fonseca Abreu Jorge

    COPPEAD/UFRJ: Mestrado

    Orientadora: Profa. Letcia Casotti

    D.Sc., UFRJ

    Rio de Janeiro

    2002

  • ii

    AVALIAO DE IMPACTOS AMBIENTAIS NA IMPLANTAODE USINAS HIDRELTRICAS NO BRASIL:

    ESTUDO DE CASOS

    Antonio Luiz Fonseca Abreu Jorge

    Dissertao submetida ao Corpo Docente do Instituto de Ps-Graduao e

    Pesquisa em Administrao da Universidade Federal do Rio de Janeiro -

    COPPEAD/UFRJ, como parte dos requisitos necessrios para a obteno do

    grau de Mestre em Administrao.

    Aprovada por:

    _______________________________________________ - Orientadora

    Profa. Letcia Casotti, D.Sc. COPPEAD/UFRJ

    _______________________________________________

    Prof. Celso Lemme, D.Sc. COPPEAD/UFRJ

    _______________________________________________

    Profa. Ana Carolina Pimentel Duarte, D.Sc. FACC/UFRJ

    Rio de Janeiro

    2002

  • iii

    Jorge, Antonio Luiz Fonseca Abreu.

    Avaliao de impactos ambientais na implantao

    de usinas hidreltricas no Brasil: estudo de casos /

    Antonio Luiz Fonseca Abreu Jorge. Rio de Janeiro:

    UFRJ/COPPEAD, 2002.

    xi, 149p. il.

    Dissertao Universidade Federal do Rio de

    Janeiro, COPPEAD.

    1. Meio Ambiente. 2. Energia. 3. Usinas

    Hidreltricas. 4. Avaliao de Impacto Ambiental.

    5. Dissertao (Mestr. UFRJ/COPPEAD). I. Ttulo.

  • iv

    minha esposa, Alessandra,

    pelo amor e carinho, apoio e incentivo.

    minha me, pelo exemplo de dedicao.

  • vAGRADECIMENTOS

    Profa. Letcia Casotti, pela orientao segura e ponderada, fundamental para

    a realizao deste trabalho.

    Ao Professor Renato Cotta de Mello, pela contribuio mesmo distncia, e

    por ter sempre confiado no resultado deste trabalho.

    Aos professores e funcionrios do COPPEAD, que com sua dedicao e

    competncia comprovam que possvel um ensino pblico eficiente.

    Universidade Federal do Rio de Janeiro, que mais uma vez participa da

    minha formao.

    Aos amigos da turma 98, pelo companheirismo e pelo prazer de estudar,

    debater e conviver neste perodo.

    Aos meus irmos e em especial ao meu irmo e scio Paulo, que segurou a

    barra durante a minha ausncia na AJECON Engenharia, enquanto eu estava

    na sala de aula ou concentrado nos inmeros trabalhos e leituras.

    Aos colegas da Tractebel, pelas lies sobre o Setor e pela obteno das

    informaes junto ANEEL, em especial ao Victor e ao dio pela pacincia em

    responder s minhas perguntas.

    Aos amigos Marcelo e Luiz Antnio, ex-alunos do Mestrado em Administrao,

    que me incentivaram a estudar no COPPEAD.

  • vi

    RESUMO

    JORGE, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliao de Impactos Ambientais na

    Implantao de Usinas Hidreltricas no Brasil: Estudo de Casos. Orientadora:

    Profa Letcia Casotti. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2002. Dissertao

    (Mestrado em Administrao).

    Este estudo teve como objetivo avaliar o estgio em que se encontram os

    procedimentos para a Avaliao de Impacto Ambiental - AIA na implantao de

    usinas hidreltricas no Brasil, analisando a aplicao prtica desses

    procedimentos, atravs de estudo de quatro casos.

    Adicionalmente, os resultados desta pesquisa foram comparados com estudo

    semelhante realizado h dez anos.

    Verificou-se, atravs dessa anlise, que houve uma evoluo para uma viso

    mais sistmica, por parte dos rgos licenciadores, no processo de

    licenciamento. Conseqentemente, observou-se uma elaborao mais

    cuidadosa das AIAs dos aproveitamentos hidreltricos, que apresentam

    anlises mais abrangentes e ao mesmo tempo integradas, no que diz respeito

    aos impactos ambientais dos empreendimentos analisados.

  • vii

    ABSTRACT

    JORGE, Antonio Luiz Fonseca Abreu. Avaliao de Impactos Ambientais na

    Implantao de Usinas Hidreltricas no Brasil: Estudo de Casos. Orientadora:

    Profa Letcia Casotti. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2002. Dissertao

    (Mestrado em Administrao).

    The objective of this thesis was to evaluate the current stage of the procedures

    for Environmental Impact Assessment EIA in the installation of hydropower

    plants in Brazil, analyzing the practical use of these procedures, through the

    study of four cases.

    Additionally, the results of this research were compared with a similar study

    carried out ten years ago.

    Through this analysis, an evolution to a more systemic approach by the

    licensing agencies was observed during the process. Consequently, a more

    careful elaboration of the hydropower plants EIAs was observed, which

    denotes a wider and more integrated analysis, related to the environmental

    impacts of the analyzed projects.

  • viii

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    AIA Avaliao de Impacto Ambiental

    AMC Anlise Multicritrio

    ANEEL Agncia Nacional de Energia Eltrica

    CAET Comit de Acompanhamento da Expanso de Termeltricas

    CMMD Comisso Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento

    COMASE Comit Coordenador das Atividades do Meio Ambiente do Setor

    Eltrico

    CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

    EIA Estudo de Impacto Ambiental

    IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais

    Renovveis

    IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada

    LI Licena de Instalao

    LO Licena de Operao

    LP Licena Prvia

    NRC National Research Concil

    OEMA rgo Estadual de Meio Ambiente

    PIB Produto Interno Bruto

    PNMA Poltica Nacional do Meio Ambiente

    RIMA Relatrio de Impacto Ambiental

    SEMA Secretaria de Meio Ambiente

    SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

  • ix

    LISTA DE QUADROS

    Quadro Ttulo Pgina

    2-1 Sistemtica de planejamento e licenciamento dos

    empreendimentos hidreltricos

    19

    2-2 Usinas hidreltricas licitadas pela ANEEL 29

    2-3 Sistema gerador existente 36

    2-4 Programa Prioritrio de Termeltricas 37

    2-5 Taxas de crescimento previstas de consumo da energia e

    do PIB

    46

    2-6 Sistema Sul/Sudeste/Centro-Oeste 48

    2-7 Obras em andamento ou em motorizao 49

    2-8 Projetos com concesso ou autorizao j outorgadas 50

    2-9 Projetos termeltricos priorizados pelo CAET (N/NE e

    S/SE/CO)

    51

    2-10 Projetos Indicativos - Hidreltricos maiores que 30 MW 54

    2-11 Projetos ainda no programados at janeiro de 2001 -

    Hidreltricas maiores de 30 MW

    55

    2-12 Projetos ainda no programados Projetos Termeltricos 55

    3-1 Comparao de mtodos de pesquisa em Cincias Sociais 60

    4-1 Dados dos empreendimentos analisados 63

    5-1 Comparao de aspectos deste estudo com MAGRINI

    (1992)

    98

    5-2 Simulao simplificada de uma AMC 103

  • xSUMRIO

    1 - INTRODUO...................................................................................................................... 1

    1.1 - OBJETIVO DO ESTUDO.................................................................................................... 1

    1.2 - IMPORTNCIA DO ESTUDO .............................................................................................. 1

    1.3 - ORGANIZAO DO ESTUDO............................................................................................. 3

    1.4 - DELIMITAO DO ESTUDO .............................................................................................. 4

    2 - REVISO DA LITERATURA................................................................................................ 5

    2.1 - HISTRICO..................................................................................................................... 6

    2.2 - DANOS AO MEIO AMBIENTE ............................................................................................ 7

    2.2.1 - Causas Humanas................................................................................................ 7

    2.3 - EFEITOS NAS EMPRESAS ................................................................................................ 9

    2.3.1 - Gesto Ambiental e ISO 14.000.......................................................................... 9

    2.3.2 - Marketing Ambiental.......................................................................................... 10

    2.4 - O LICENCIAMENTO AMBIENTAL ..................................................................................... 11

    2.4.1 - Resoluo CONAMA n 001, de 23/01/86 ........................................................ 14

    2.4.2 - Resoluo CONAMA n 006, de 16/09/87 ........................................................ 14

    2.4.3 - Resoluo CONAMA N 237, de 19/12/97........................................................ 15

    2.4.4 - Resoluo CONAMA n 279, de 27/06/01 ........................................................ 15

    2.5 - ESTUDOS DE VIABILIDADE............................................................................................. 17

    2.5.1 - Etapas de Estudos e Projetos para Implantao de um AHE........................... 17

    2.5.2 - Objetivos dos Estudos de Viabilidade ............................................................... 19

    2.5.3 - Aspectos Institucionais e Legais ....................................................................... 20

    2.5.4 - Estudos de Viabilidade e Licitaes de Concesses ........................................ 21

    2.5.5 - Licenciamento Ambiental .................................................................................. 22

    2.6 - A ANLISE MULTICRITRIO ........................................................................................... 22

    2.7 - O SETOR ELTRICO BRASILEIRO .................................................................................. 25

    2.7.1 - Organizao do Setor........................................................................................ 25

    2.7.2 - O Mercado de Energia Eltrica ......................................................................... 26

    2.7.3 - Fontes de Energia ............................................................................................. 352.7.3.1 - Energia Hidreltrica...................................................................................................35

    2.7.3.2 - Energia Termeltrica .................................................................................................36

    2.7.3.3 - Energia Nuclear.........................................................................................................40

    2.7.3.4 - Fontes Alternativas de Energia .................................................................................42

    2.7.3.5 - Concluses sobre Alternativas Tecnolgicas............................................................45

    2.7.4 - O Programa Decenal......................................................................................... 48

  • xi

    3 - METODOLOGIA DE PESQUISA ....................................................................................... 57

    3.1 - TIPO DE PESQUISA....................................................................................................... 57

    3.2 - O CONCEITO DE PESQUISA QUALITATIVA ...................................................................... 58

    3.3 - O ESTUDO DE CASOS .................................................................................................. 59

    3.4 - UNIVERSO E AMOSTRA ................................................................................................. 60

    3.5 - COLETA E TRATAMENTO DE DADOS .............................................................................. 62

    4 - DESCRIO DOS CASOS................................................................................................ 63

    4.1 - O APROVEITAMENTO HIDRELTRICO PEIXE ................................................................... 63

    4.1.1 - Descrio do Empreendimento AHE Peixe....................................................... 63

    4.1.2 - Metodologia Adotada para a Elaborao da AIA .............................................. 64

    4.1.3 - Organizao e Encaminhamento da AIA .......................................................... 65

    4.2 - O APROVEITAMENTO HIDRELTRICO SO SALVADOR .................................................... 76

    4.2.1 - Descrio do Empreendimento AHE So Salvador .......................................... 76

    4.2.2 - Metodologia Adotada para a Elaborao da AIA .............................................. 77

    4.2.3 - Organizao e Encaminhamento da AIA .......................................................... 79

    4.3 - O APROVEITAMENTO HIDRELTRICO SIMPLCIO - QUEDA NICA .................................... 84

    4.3.1 - Descrio do Empreendimento AHE Simplcio Queda nica ........................ 84

    4.3.2 - Metodologia Adotada para a Elaborao da AIA .............................................. 85

    4.3.3 - Organizao e Encaminhamento da AIA .......................................................... 85

    4.4 - O APROVEITAMENTO HIDRELTRICO ESTREITO............................................................. 90

    4.4.1 - Descrio do Empreendimento AHE Estreito.................................................... 90

    4.4.2 - Metodologia Adotada para a Elaborao da AIA .............................................. 90

    4.4.3 - Organizao e Encaminhamento da AIA .......................................................... 92

    5 - CONCLUSES E RECOMENDAES ............................................................................ 97

    5.1 - CONCLUSES .............................................................................................................. 97

    5.2 - RECOMENDAES...................................................................................................... 100

    6 - SUGESTES PARA PESQUISAS FUTURAS................................................................. 106

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................................................................... 107

    ANEXO I: RESOLUO CONAMA N 001, DE 23 DE JANEIRO DE 1986............................ 113

    ANEXO II: RESOLUO CONAMA N. 006 DE 16 DE SETEMBRO DE 1987 ...................... 120

    ANEXO III: RESOLUO N 237 , DE 19 DE DEZEMBRO DE 1997 ..................................... 126

    ANEXO IV: RESOLUO N 279 , DE 27 DE JUNHO DE 2001............................................. 142

  • 1 - Introduo

    1.1 - Objetivo do Estudo

    Este estudo tem como objetivo avaliar o estgio em que se encontram os

    procedimentos para a Avaliao de Impacto Ambiental (AIA) na implantao de

    novos empreendimentos, analisando a aplicao prtica desses procedimentos

    no caso de usinas hidreltricas no Brasil.

    Para tanto, foi realizada uma reviso tanto da legislao vigente no pas acerca

    do tema, como da literatura pertinente, compilando o conhecimento existente

    sobre os diversos tpicos relacionados ao assunto.

    Adicionalmente, analisou-se a aplicao prtica dos procedimentos para a

    avaliao de impacto ambiental e comparou-se com procedimentos adotados

    h dez anos e descritos na literatura.

    A pergunta que esta pesquisa procurou responder foi: Em que estgio se

    encontram os procedimentos para a Avaliao de Impacto Ambiental (AIA) na

    implantao de novos empreendimentos hidreltricos no Brasil e como esses

    procedimentos so aplicados ?

    1.2 - Importncia do Estudo

    No fim dos anos 80, os indivduos, de forma isolada ou organizada,

    comearam a manifestar-se contra a poluio em geral. Acompanhando esta

    tendncia, os governos passam a combater o dano ambiental aprovando leis,

    fixando padres, promulgando proibies e aplicando regulamentaes

    (CAIRNCROSS, 1992).

    Alguns estudos indicam que esses indivduos admitem pagar mais caro por

    produtos e servios considerados no prejudiciais ao meio ambiente

    (BENNETT, 1992).

    A crescente preferncia dos consumidores por produtos considerados menos

    agressivos ao meio ambiente impe um desafio ao setor produtivo, influindo

    fortemente na competitividade das empresas (BANCO DO NORDESTE, 1999).

  • 2Segundo a Associao Brasileira de Normas Tcnicas - ABNT (1996),

    organizaes de todos os tipos esto cada vez mais preocupadas em atingir e

    demonstrar um desempenho ambiental correto, controlando o impacto de suas

    atividades, produtos ou servios no meio ambiente, levando em considerao

    sua poltica e seus objetivos ambientais. Esse comportamento se insere no

    contexto de uma legislao cada vez mais exigente, do desenvolvimento de

    polticas econmicas, de outras medidas destinadas a estimular a proteo ao

    meio ambiente e de uma crescente preocupao das partes interessadas em

    relao s questes ambientais e ao desenvolvimento sustentvel.

    De acordo com ALMEIDA (1998), a questo ambiental enquadra-se na viso

    estratgica da empresa e incorpora-se como cultura empresarial. Deixa de ser

    vista como um resultado, uma conseqncia, para se incorporar anlise e ao

    planejamento do processo produtivo, internalizando o conceito na empresa e

    assumindo que este item de qualidade tambm pode ser diferenciador em

    termos de competitividade, ao permitir que a empresa se apresente aos seus

    pblicos como ambientalmente responsvel.

    O que se apresenta neste novo cenrio um indicativo de que a proteo

    ambiental est deixando de ser considerada responsabilidade exclusiva dos

    rgos oficiais de meio ambiente, passando a ser compartilhada por todos os

    setores da sociedade (BANCO DO NORDESTE, 1999).

    Adicionalmente, algumas instituies de financiamento, adequaram-se

    tendncia mundial, e cientes da sua responsabilidade frente s questes

    ambientais, passaram a seguir diretrizes e estratgias para a incorporao da

    varivel ambiental no processo de concesso e gesto de crdito e benefcios

    fiscais (BANCO DO NORDESTE, 1999).

    Outra questo envolvendo cuidados com impactos ao meio ambiente, diz

    respeito ao comrcio internacional. Representantes de setores industriais

    alegam desvantagens competitivas, por terem que produzir em pases onde a

    legislao ambiental mais rgida, devido a custos de reduo da poluio e

    aumento do controle ambiental (BAUMOL e OATES, 1975).

  • 3O presente estudo buscar analisar as seguintes questes ambientais

    relacionadas implantao de empreendimentos, em particular o caso de

    usinas hidreltricas:

    - A verificao do estgio em que se encontram os procedimentos

    para a avaliao de impacto ambiental de empreendimentos

    hidreltricos;

    Para tanto necessrio analisar:

    - A evoluo do processo de avaliao ambiental, em particular dos

    projetos de usinas hidreltricas no Brasil;

    - O estgio atual da legislao ambiental brasileira que regula o tema;

    - A prtica da aplicao, comparada com referncias dos

    procedimentos para a avaliao de impacto ambiental adotadas h

    dez anos.

    Por sua importncia no cenrio nacional, e seu grande potencial de impacto ao

    meio ambiente, o caso de implantao de usinas hidreltricas foi escolhida

    para este estudo, uma vez que o parque gerador brasileiro composto,

    predominantemente, por usinas hidreltricas, que constituem cerca de 82% da

    potncia instalada total. Face ao amplo potencial hidreltrico economicamente

    competitivo ainda existente no pas, esta predominncia da gerao de origem

    hidrulica dever perdurar, no mnimo, ao longo dos prximos 20 anos

    (ENGEVIX, 2002a).

    1.3 - Organizao do Estudo

    O estudo est organizado em cinco captulos:

    Captulo 1 - Introduo: corresponde apresentao do trabalho, seu objetivo

    e relevncia;

    Captulo 2 Reviso da Literatura: contm um breve histrico sobre a

    evoluo da questo ambiental na Histria, os danos que vm sendo causados

    pelo homem ao meio ambiente e o reflexo na sociedade, os efeitos nas

    empresas de uma forma generalista e que servem como base para a conduo

  • 4deste estudo, fornecendo ferramental para a conceituao e sistematizao.

    apresentada, ento, a legislao ambiental vigente no pas, em especial quela

    aplicvel a novos empreendimentos hidreltricos. Finalmente, informaes

    sobre o setor eltrico brasileiro so apresentadas, com o objetivo de facilitar a

    compreenso do texto e da importncia das usinas hidreltricas no pas.

    Captulo 3 Metodologia de Pesquisa: neste captulo apresentada a

    metodologia que foi adotada para a execuo da pesquisa;

    Captulo 4 Descrio dos Casos: corresponde descrio dos

    empreendimentos analisados;

    Captulo 5 - Concluses e Recomendaes: apresentao dos Concluses e

    Recomendaes do estudo. Nesta seo tambm so feitas recomendaes

    para pesquisas futuras.

    1.4 - Delimitao do Estudo

    A inteno deste trabalho avaliar o estgio em que se encontram os

    procedimentos para a Avaliao de Impacto Ambiental (AIA) na implantao de

    usinas hidreltricas no Brasil, analisando a aplicao prtica desses

    procedimentos.

    No o objetivo deste estudo propor novos sistemas de gesto ou auditoria

    ambiental ou qualquer outro mtodo de avaliao de desempenho ambiental

    das empresas.

    Tambm no o objetivo deste estudo apresentar o panorama da gesto

    ambiental no Brasil nem do Setor Eltrico como um todo.

  • 52 - Reviso da Literatura

    Segundo ODUM (1988), ao contrrio do que observado, ecologia e economia

    deveriam ser disciplinas companheiras, uma vez que ambas derivam da raiz

    grega oikos, com sentido de casa. Uma vez que logia significa estudo:

    ecologia seria o estudo do ambiente da casa, incluindo todos os organismoscontidos nela e todos os processos funcionais que a tornam habitvel. J

    nomia significa manejo ou gerenciamento, economia significa, ento, manejoda casa.

    Os sistemas econmicos de toda e qualquer ideologia poltica valorizam as

    coisas feitas por seres humanos que trazem benefcio primariamente para o

    indivduo, mas do pouco valor aos produtos e servios da natureza que

    trazem benefcio a toda a sociedade. Enquanto no ocorre uma crise,

    aproveitamos esses servios e produtos naturais sem pensar; imaginamos que

    so ilimitados ou, de certa forma, substituveis por inovaes tecnolgicas,

    apesar de evidncias que indicam o contrrio (ODUM, 1988).

    Entende-se que um estudo sobre as percepes dos consumidores, o

    comportamento das empresas e dos governos em relao ao meio ambiente,

    passa obrigatoriamente por uma anlise dos impactos causados pelo homem

    natureza, a fim de se compreender a importncia que dada atualmente

    proteo ambiental.

    No caso da implantao de novos empreendimentos, necessrio conhecer o

    processo ao qual os mesmos so submetidos para obterem seus

    licenciamentos ambientais. Por isso apresentado neste trabalho, um

    levantamento da legislao vigente.

    Para um entendimento da importncia de novos empreendimentos hidreltricos

    no pas, feita uma descrio do Setor Eltrico Brasileiro e de fontes

    alternativas de energia.

  • 62.1 - Histrico

    Segundo Hipcrates (460-377) na Grcia Antiga, os vapores provenientes das

    fbricas de derreter prata infestavam o ar. O imperador romano Dioclcio (243-

    316) escreveu em seu texto Hygienia contra a "sujeira do ar", que era tanta que

    o excesso de fuligem no ar obrigou os senadores a deixar de usar seus trajes

    brancos.

    A Revoluo Industrial um marco na nossa histria. Naquela poca homens

    e meio ambiente foram explorados abusivamente, ignorando-se

    completamente a poluio do ar ou da gua. A partir daquele marco, a

    poluio comeou a ganhar outras propores, com efeitos globais

    (SILVERSTEIN, 1993).

    Essa poluio do meio ambiente e a explorao do homem acelerou

    grandemente a acumulao de capital no qual o mundo industrializado est

    baseado, segundo HARDIN (1985). Porm, mesmo que justificveis nos

    estgios iniciais do desenvolvimento para a produo de bens, chegamos em

    um ponto na Histria em que no mais possvel postergar os custos

    humanos e ambientais do desenvolvimento sem incorrer na difuso de danos

    no sistema global que d suporte vida.

    Na dcada de 70, de acordo com BARNES e FERRY (1992), as interaes das

    empresas com o governo no que tange aos problemas ambientais, nos EUA,

    podiam ser descritas como de confronto, as empresas tipicamente se opunham

    s imposies de controle ambiental devido aos custos envolvidos e

    procuravam sempre que possvel adiar sua instalao.

    Nos anos 80, as empresas dos EUA passaram a desempenhar um papel pr-

    ativo, procurando influenciar o curso de novas legislaes e regulamentaes.

    Muitas corporaes criaram em suas estruturas organizacionais posies de

    alto nvel de apoio para monitorarem o cumprimento das legislaes

    ambientais e dirigirem os programas ambientais das companhias (BARNES e

    FERRY, 1992).

  • 7Como a preocupao do pblico e as questes a respeito do meio ambiente

    tomaram propores globais, os anos 90 foram proclamados como a dcada

    mundial do meio ambiente. Em 1990, na reunio anual do World Economic

    Forum, o meio ambiente foi ordenado em primeiro lugar como desafio para as

    empresas. O foco das empresas foi mudado para a minimizao do potencial

    do impacto nocivo que a produo, processamento, consumo e descarte

    produzir no meio ambiente e naqueles que ali habitam (BARNES e FERRY,

    1992).

    2.2 - Danos ao Meio Ambiente

    Os sintomas do estresse ambiental j so facilmente perceptveis e continuam

    crescendo. De acordo com a CMMD (1991), esto ocorrendo mudanas

    inesperadas na atmosfera, nos solos, nas guas, na flora e na fauna, assim

    como na relao entre todos eles. O ritmo das mudanas vem suplantando os

    conhecimentos cientficos e nossa capacidade atual de avaliao e

    aconselhamento.

    Para entender a mudana ambiental global, conforme descrito por NRC (1993),

    preciso concentrar-se nas interaes entre os sistemas ambientais, inclusive

    a atmosfera, a biosfera, a geosfera e a hidrosfera, e os sistemas humanos,

    inclusive econmicos, polticos, culturais e scio-tecnolgicos. Os sistemas

    humanos e os sistemas ambientais encontram-se em dois pontos: onde as

    aes humanas proximamente causam mudana ambiental, ou seja, onde elas

    alteram diretamente aspectos do meio ambiente, e onde as mudanas

    ambientais afetam diretamente aquilo que os seres humanos valorizam. As

    principais questes sobre as causas humanas envolvem as fontes subjacentes

    ou as foras sociais propulsoras que do origem s causas prximas de

    mudana global.

    2.2.1 - Causas Humanas

    De acordo com NRC (1993), quase todas as atividades humanas tm alguma

    pertinncia potencial mudana global. Pesquisadores de uma variedade de

    campos tm estudado as interaes dos seres humanos com o meio ambiente,

  • 8comumente dentro dos limites de disciplinas isoladas e quase sempre abaixo

    do nvel global. Eles tm demonstrado que um complexo de variveis sociais,

    polticas, econmicas, tecnolgicas e culturais, s vezes citadas como foras

    propulsoras, influencia as atividades humanas que proximamente podem

    causar mudana global.

    NRC (1993) classificou as foras propulsoras da seguinte forma:

    - Crescimento Populacional: cada pessoa reclama do meio ambiente

    alguma coisa para as necessidades bsicas da vida alimento, gua,

    vesturio, moradia e etc.. Se tudo o mais for igual, quanto maior o

    nmero de pessoas, maiores as exigncias impostas ao meio

    ambiente para a proviso de recursos e absoro de resduos e

    poluentes;

    - Crescimento Econmico: o crescimento econmico necessariamente

    submete o meio ambiente presso, mas a quantidade de presso

    proveniente de determinada quantidade de crescimento depende,

    entre outras coisas, do padro de bens e servios produzidos, da

    populao e da base de recursos para o desenvolvimento, das formas

    de organizao da poltica nacional e das polticas de

    desenvolvimento;

    - Mudana Tecnolgica: a tecnologia pode influir na mudana ambiental

    ao desvendar novas maneiras de se descobrir e explorar recursos

    naturais ou ao mudar o volume de recursos exigidos ou a

    quantidade ou tipo de resduos produzidos por unidade de produo;

    - Instituies Poltico-Econmicas: O meio ambiente global reage s

    aes dos mercados, dos governos e da economia poltica

    internacional. Os mercados so sempre imperfeitos e o impacto da

    atividade econmica sobre o meio ambiente depende de qual mtodo

    de administrao ambiental em mercado imperfeito est sendo usado.

    A estrutura e as polticas governamentais tambm podem ter

    significativas conseqncias ambientais, intencionais ou no. E a

    economia poltica internacional, com sua diviso global da mo-de-

  • 9obra e riqueza, pode promover abusos ambientais, particularmente

    nos pases mais pobres;

    - Atitudes e Convices: As convices, atitudes e valores relacionados

    s posses materiais e a relao entre humanidade e natureza

    freqentemente so vistas como algo que repousa na raiz da

    degradao ambiental. Os maiores efeitos de tais atitudes e

    convices talvez sejam independentes a longo prazo, numa escala

    de tempo de algumas geraes humanas ou mais. Dentro de prazos

    de vidas particulares, as atitudes e convices podem ter significativa

    influncia sobre o comportamento no uso dos recursos, at mesmo

    quando as variveis scio-estruturais e econmicas se mantm

    constantes.

    No obstante cada uma dessas foras propulsoras seja importante em certos

    momentos e sob certas circunstncias, grande parte permanece desconhecida

    em relao ao que determina a importncia relativa das mesmas, como elas

    afetam umas s outras, e como as foras propulsoras em lugares particulares

    se combinam para produzir efeitos globais (NRC, 1993).

    2.3 - Efeitos nas Empresas

    Conforme j foi citado no Captulo 1, as empresas passaram a estar inseridas

    em um novo cenrio, com consumidores mais preocupados com as causas

    ambientais e com legislaes ambientais mais rgidas.

    2.3.1 - Gesto Ambiental e ISO 14.000

    De acordo com a ABNT (1996), sistema de gesto ambiental a parte dosistema de gesto global que inclui estrutura organizacional, atividades de

    planejamento, responsabilidades, prticas, procedimentos, processos e

    recursos para desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter

    a poltica ambiental.

    As normas internacionais de gesto ambiental tm por objetivo prover s

    organizaes os elementos de um sistema de gesto ambiental eficaz,

  • 10

    passvel de integrao com outros requisitos de gesto, de forma a auxili-las

    a alcanar seus objetivos ambientais e econmicos, no tendo sido concebidas

    para criar barreiras comerciais no-tarifrias, nem para ampliar ou alterar as

    obrigaes legais de uma organizao (ABNT, 1996).

    Em relao aos processos produtivos, VITERBO (1998) sugere que seja

    considerado o princpio dos 4 Rs na reduo da poluio:

    - Reutilizao (de matrias-primas e de resduos);

    - Reciclagem (de produtos e embalagens);

    - Reduo (da gerao de resduos, atravs da melhoria dos

    processos);

    - Substituio - Replacement (de matrias-primas e de processos).

    2.3.2 - Marketing Ambiental

    De acordo com CODDINGTON (1993), atualmente outro grande influenciador

    atua no processo de planejamento e implantao de Marketing: o meio

    ambiente. Meio ambiente aqui referindo-se aos impactos ambientais dos

    processos de manufatura, gerncia e marketing.

    Em resposta presso regulatria, algumas empresas se limitam a atender o

    mnimo requerido por lei. Apesar de legalmente adequado, este

    comportamento estrategicamente regressivo. Pensando mais adiante, os

    administradores esto identificando e avaliando novas oportunidades de

    negcios relacionados ao meio ambiente, indo desde a preveno da poluio

    e tecnologias mais eficientes at a educao ambiental e promoo de

    produtos verdes (CODDINGTON, 1993).

    O meio ambiente acrescentado mistura de variveis para a tomada de

    decises, sendo entretanto uma varivel nica, pois onipresente, servindo

    sobre todas as decises estratgicas, no importando qual o assunto: projeto e

    desenvolvimento de produto ou embalagem, rotulagem e propaganda, ou

    estratgia de promoo (DALTRO-SANTOS, 1996).

  • 11

    CODDINGTON (1993) ressalta que para muitos consumidores, uma

    considerao altrustica sobre a contaminao e degradao de seu meio

    ambiente fsico natural acompanhada de preocupaes pessoais e prticas

    sobre o impacto ambiental implicando em danos na sua prpria sade e

    segurana e daqueles que amam. A elevada natureza das ansiedades

    ambientais dos consumidores as tornam duplamente importantes para que os

    profissionais de marketing exercitem extremo cuidado quando incorporam o

    meio ambiente nas suas decises sobre os negcios, gerenciando

    cuidadosamente, mas no defensivamente.

    De acordo com LIVESEY (1999), o estabelecimento das alianas verdes

    podem beneficiar um negcio no s em termos de credibilidade ambiental,

    mas atravs de uma ampla extenso de outras frentes de negcios.

    2.4 - O Licenciamento Ambiental

    Nesta seo so apresentados os procedimentos necessrios para o

    Licenciamento Ambiental, assim como a referncia da legislao na qual esses

    procedimentos esto estabelecidos.

    A Constituio de 1988 trata sobre o meio ambiente ao longo de vrios artigos,

    bem como das imposies legais de preserv-lo. H na Constituio um

    sistema ambiental definido, no sendo este tema restrito a disposies

    esparsas.

    H no pas uma estrutura mnima capaz de assegurar que no haja destruio

    em termos ambientais.

    Ao Ministrio Pblico est atribuda a tarefa constitucional de agir judicialmente

    em defesa dos bens ambientais.

    Por outro lado, a Constituio da Repblica no seu art. 225, estatui que todos

    tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum

    do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e

    coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras

    geraes.

  • 12

    Deve-se atentar tambm para o estabelecido no art. 5 inciso XXIII, que

    reformulou a caracterstica do direito de propriedade. Antes da Constituio

    este direito era absoluto quele que o detinha. Atualmente, a propriedade deve

    atender a sua funo social, que de acordo com o art. 186 que trata da

    propriedade rural , entre outros, a preservao do meio ambiente

    (COMASE, 1999).

    Finalmente, importante ressaltar que, antes da Lei 6.938/81, no havia no

    direito brasileiro uma preocupao sistemtica com a tutela ambiental e, o que

    mais importante, a preocupao com a defesa do meio ambiente era sempre

    uma preocupao secundria da legislao.

    As normas que compem o ordenamento jurdico encontram-se dispostas

    segundo uma hierarquia e formando uma espcie de pirmide. A Constituio

    da Repblica ocupa o ponto mais alto, o pice desta pirmide legal, fazendo

    com que todas as demais normas que lhe vm abaixo encontrem-se a ela

    subordinadas. Estar juridicamente subordinada implica em que uma

    determinada norma prevalea sobre a inferior em qualquer caso em que ela

    conflite. A norma superior demanda obedincia da subordinada, de tal sorte

    que esta lhe dever dar sempre inteiro cumprimento sob pena de vir a ser

    viciada (COMASE, 1999).

    A Constituio da Repblica no seu artigo 59 estabelece o processo legislativo

    brasileiro, de forma hierrquica, compreendendo:

    I. emendas Constituio;

    II. leis complementares;

    III. leis ordinrias;

    IV. leis delegadas;

    V. medidas provisrias;

    VI. decretos legislativos;

    VII. resolues.

  • 13

    COMASE (1999) apresenta a legislao ambiental de interesse do setor

    eltrico.

    A Lei Federal 6.938 de 31 de agosto de 1981, estabelece a Poltica Nacional

    do Meio Ambiente (PNMA), define fins e mecanismos de formulao e

    aplicao da PNMA, alm de criar o Sistema Nacional do Meio Ambiente

    (SISNAMA) e o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).

    Anteriores Lei 6.938/81, o Decreto 24.643/34 (Cdigo de guas), e a Lei

    6.803 de 2 de julho de 1980 (Zoneamento Industrial nas reas Crticas de

    Poluio), j tratavam a questo ambiental, sendo que esta ltima j

    estabelece os estudos de impacto ambiental como exigncia para a localizao

    industrial de plos petroqumicos, cloroqumicos, carboqumicos, centrais

    nucleares, entre outras atividades.

    Os procedimentos de licenciamento ambiental atuais so estabelecidos nas

    Resolues CONAMA n 001, de 23 de janeiro de 1986, e n 237, de 19 de

    dezembro de 1997 e, para empreendimentos do setor eltrico, de forma

    complementar, na Resoluo CONAMA n 006, de 16 de setembro de 1987.

    A Resoluo CONAMA n. 279 de 27 de junho de 2001, foi criada devido

    necessidade de incremento da oferta de energia eltrica no Pas, considerando

    a crise de energia eltrica e a necessidade de atender a celeridade

    estabelecida pela Medida Provisria. n 2.152-2, de 1 de junho de 2001.

    O processo de Avaliao de Impacto Ambiental no Brasil, de acordo com

    MAGRINI (1992), apesar de ser inspirado no modelo americano, aproxima-se

    do modelo europeu, existindo entretanto algumas especificidades relevantes.

    Ainda, de acordo com MAGRINI (1992), o quadro institucional brasileiro

    apresenta uma estrutura mais descentralizada. A legislao brasileira a nica

    dentre os pases analisados naquele estudo (Brasil, Itlia, Frana, EUA e CEE)

    que especifica que o EIA deve ser analisado por equipe multidisciplinar no

    dependente direta ou indiretamente do proponente do projeto.

  • 14

    A participao do pblico no processo se assemelha ao modelo europeu,

    permitindo comentrios ao RIMA e estabelecendo a necessidade de realizao

    de audincia pblica.

    Abaixo so apresentadas, em sntese, as Resolues CONAMA n 001/86, n

    006/87, n 237/97 e n 279/01, indicando os procedimentos estabelecidos, por

    estas resolues, no licenciamento ambiental de usinas hidreltricas. Estas

    Resolues so apresentadas, na ntegra, nos anexos.

    2.4.1 - Resoluo CONAMA n 001, de 23/01/86

    A Resoluo CONAMA n 001/86 estabelece definies, responsabilidades,

    critrios bsicos e diretrizes gerais para uso e implementao da Avaliao do

    Impacto Ambiental como um dos instrumentos da Poltica Nacional do Meio

    Ambiente.

    A Resoluo considera como impacto ambiental qualquer alterao das

    propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente, causada por

    qualquer forma de matria ou energia resultante das atividades humanas (...).

    A mesma resoluo estabelece que depender de elaborao de Estudo de

    Impacto Ambiental EIA e respectivo Relatrio de Impacto Ambiental - RIMA,

    a serem submetidos aprovao do rgo competente (rgo estadual,

    IBAMA ou o municpio), o licenciamento de atividades modificadoras do meio

    ambiente. No caso de usinas hidreltricas, esta resoluo estabelece esta

    necessidade em obras hidrulicas para explorao de recursos hdricos, tais

    como: barragem para fins hidreltricos, acima de 10MW.

    2.4.2 - Resoluo CONAMA n 006, de 16/09/87

    A Resoluo CONAMA n 006/87 resolve que as concessionrias de

    explorao, gerao e distribuio de energia eltrica, ao submeterem seus

    empreendimentos ao licenciamento ambiental perante o rgo competente,

    devero prestar as informaes tcnicas sobre o mesmo.

    Caso o empreendimento necessite ser licenciado por mais de um Estado, pela

    abrangncia de sua rea de influncia, os rgos estaduais devero manter

  • 15

    entendimento prvio no sentido de, na medida do possvel, uniformizar as

    exigncias. O IBAMA supervisionar estes entendimentos.

    Na hiptese dos empreendimentos de aproveitamento hidreltrico, respeitadas

    as peculiaridades de cada caso, a Licena Prvia (LP) dever ser requerida no

    incio do estudo de viabilidade da Usina; a Licena de Instalao (LI) dever

    ser obtida antes da realizao da Licitao para construo do

    empreendimento1 e a Licena de Operao (LO) dever ser obtida antes do

    fechamento da barragem.

    A Resoluo CONAMA n 006/87 estabelece a documentao necessria para

    cada etapa do licenciamento.

    2.4.3 - Resoluo CONAMA N 237, de 19/12/97

    O CONAMA, atravs da Resoluo n 237, de 19 de dezembro de 1997,

    definiu os empreendimentos e atividades que esto sujeitos ao licenciamento

    ambiental e que o licenciamento ser efetuado em um nico nvel de

    competncia, repartindo-se harmonicamente as atribuies entre o IBAMA, em

    nvel federal, os rgos ambientais estaduais e os rgos ambientais

    municipais.

    A Resoluo CONAMA 237/97 foi estabelecida devido necessidade de

    reviso dos procedimentos e critrios utilizados no licenciamento ambiental, de

    forma a efetivar a utilizao do sistema de licenciamento como instrumento de

    gesto ambiental, institudo pela Poltica Nacional do Meio Ambiente.

    2.4.4 - Resoluo CONAMA n 279, de 27/06/01

    Esta Resoluo foi criada em meio crise energtica de 2001, onde o

    CONAMA teve a necessidade de estabelecer procedimento simplificado para o

    licenciamento ambiental, com prazo mximo de sessenta dias de tramitao,

    dos empreendimentos com impacto ambiental de pequeno porte, necessrios

    1 Atualmente a ANEEL est licitando os Aproveitamentos Hidreltricos antes da obteno da

    Licena Prvia.

  • 16

    ao incremento da oferta de energia eltrica no pas e necessidade de atender

    celeridade estabelecida pela Medida Provisria. n 2.152-2.

    Porm, existe uma dificuldade em definir-se, a priori, impacto ambiental de

    pequeno porte, antes da anlise dos estudos ambientais que subsidiam o

    processo de licenciamento ambiental e, tendo em vista as diversidades e

    peculiaridades regionais, bem como as complexidades de avaliao dos efeitos

    sobre o meio ambiente decorrentes da implantao de projetos de energia

    eltrica.

    Esta Resoluo, apesar da necessidade da implantao de um procedimento

    simplificado, deve estar em concordncia com os dispositivos constitucionais.

    Os procedimentos e prazos estabelecidos nesta Resoluo, aplicam-se, em

    qualquer nvel de competncia, ao licenciamento ambiental simplificado de

    empreendimentos eltricos com pequeno potencial de impacto ambiental, a

    includas as usinas hidreltricas e sistemas associados, que devero ser

    analisados em conjunto com aos empreendimentos principais.

    Nesta Resoluo, foi definido o Relatrio Ambiental Simplificado (RAS), que

    so os estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados ao

    empreendimento, que dever conter as informaes relativas ao diagnstico

    ambiental da regio de insero do empreendimento, sua caracterizao, a

    identificao dos impactos ambientais e das medidas de controle, de mitigao

    e de compensao.

    O prazo para emisso da Licena Prvia - LP e da Licena de Instalao - LI

    ser de, no mximo, 60 (sessenta) dias, contados a partir da data do protocolo

    do requerimento das respectivas licenas.

    A Licena de Operao ser emitida pelo rgo ambiental competente no

    prazo mximo de 60 (sessenta) dias aps seu requerimento, desde que

    tenham sido cumpridas todas as condicionantes da Licena de Instalao.

  • 17

    2.5 - Estudos de Viabilidade

    ELETROBRS (1997) vem a ser uma referncia para o Setor, no que diz

    respeito implantao de empreendimentos hidreltricos e conduo de

    estudos de viabilidade. Aquele estudo destina-se a servir como roteiro bsico

    para programao, contratao, elaborao, controle da execuo e

    verificao da qualidade dos estudos de viabilidade (...) constituindo-se,

    essencialmente, num Termo de Referncia. Dessa forma, ELETROBRS

    (1997) apresenta as atividades que devem ser desenvolvidas para a

    comprovao da viabilidade tcnica, econmica e ambiental de

    aproveitamentos hidreltricos.

    2.5.1 - Etapas de Estudos e Projetos para Implantao de um AHE

    As etapas de estudos e projetos para implantao de um aproveitamento

    hidreltrico so as seguintes (ELETROBRS, 1997):

    - Estimativa do Potencial Hidreltrico: a etapa dos estudos em que

    se procede anlise preliminar das caractersticas da bacia

    hidrogrfica, especialmente quanto aos aspectos topogrficos,

    hidrolgicos, geolgicos e ambientais, no sentido de verificar a

    vocao da bacia para gerao de energia eltrica. Essa anlise,

    exclusivamente pautada nos dados disponveis, permite efetuar uma

    primeira avaliao do potencial, definir prioridades, prazos e os

    custos dos estudos da etapa seguinte;

    - Estudos de Inventrio Hidreltrico: a etapa em que se determina o

    potencial hidreltrico da bacia hidrogrfica e se estabelece a melhor

    diviso de queda, mediante a identificao dos aproveitamentos que,

    no seu conjunto, propiciem o mximo de energia, ao menor custo e

    com o mnimo impacto ao meio ambiente. Essa anlise efetuada

    com base em dados secundrios, complementados com essenciais

    informaes de campo, e pautada em estudos bsicos

    hidrometeorolgicos, energticos, geolgicos, ambientais e outros

    usos de gua. Dessa anlise resultar um conjunto de

  • 18

    aproveitamentos, suas principais caractersticas, estimativas de

    custo, ndices custo-benefcio e ndices ambientais. Nesta etapa

    solicitada a Licena Prvia;

    - Estudos de Viabilidade: a etapa em que se define a concepo

    global de um dado aproveitamento, da diviso de queda selecionada

    na etapa anterior, visando sua otimizao tcnico-econmica e

    ambiental e a obteno de seus benefcios e custos associados.

    Essa concepo compreende o dimensionamento do

    aproveitamento, as obras de infra-estrutura local e regional

    necessrias sua implantao, o reservatrio, a rea de influncia,

    os outros usos da gua e as aes scio-ambientais

    correspondentes. Nesta etapa so apresentados o EIA e o RIMA. Ao

    final desta etapa obtida a Licena Prvia, a aprovao dos estudos

    e o empreendimento posto em processo de licitao;

    - Projeto Bsico: a etapa em que o aproveitamento concebido nos

    Estudos de Viabilidade, detalhado de modo a definir, com maior

    preciso, as caractersticas tcnicas do projeto, as especificaes

    tcnicas das obras civis e equipamentos eletromecnicos, bem como

    programas scio-ambientais. Nesta etapa solicitada a Licena de

    Instalao e apresentado o Projeto Bsico Ambiental (PBA). Ao

    final desta etapa, os estudos so aprovados e a autorizao da

    construo e a Licena de Implantao so obtidas (ELETROBRS,

    1995);

    - Projeto Executivo/Construo: a etapa em que se processa a

    elaborao dos desenhos de detalhamento das obras civis e dos

    equipamentos eletromecnicos, necessrios execuo da obra e

    montagem dos equipamentos. Nesta etapa so tomadas todas as

    medidas pertinentes implantao do reservatrio. Nesta etapa

    solicitada a Licena de Operao, que obtida ao final da etapa e

    antes da fase de enchimento do reservatrio.

  • 19

    Quadro 2-1: Sistemtica de Planejamento e Licenciamento dos

    Empreendimentos Hidreltricos

    rgo

    Con

    cede

    nte

    Aprovaodos Estudos eLicitao para

    Concesso

    Aprovaodos Estudos eAutorizao

    de Construo

    Etap

    as d

    oEm

    pree

    ndim

    ento

    Inventrio Viabilidade Projeto BsicoProjeto

    Executivo /Construo

    Operao

    rg

    o A

    mbi

    enta

    l

    Solicitao daLicenaPrvia

    Apresentaodo EIA / RIMA

    Obteno daLP

    Solicitao daLI /

    Apresentaodo PBA

    Obteno daLI

    Solicitao daLO

    Obteno daLO

    Renovao daLO

    Fonte: ELETROBRS, 1997

    2.5.2 - Objetivos dos Estudos de Viabilidade

    O conceito de Estudos de Viabilidade, visa aos seguintes objetivos:

    - Concluir sobre a exeqibilidade ou no do aproveitamento atravs de

    avaliaes, anlises e definies fundamentadas nos custos e nos

    benefcios mltiplos que podem ser obtidos;

    - Subsidiar a tomada de decises quanto poca de incio de

    construo do aproveitamento hidreltrico;

    - Subsidiar a elaborao dos documentos necessrios para o

    licenciamento ambiental;

  • 20

    - Subsidiar as aes junto a rgos pblicos e privados, visando

    otimizar a utilizao dos recursos naturais existentes na rea do

    futuro aproveitamento, e promover sua insero na regio.

    Para que os objetivos mencionados sejam atingidos, necessrio que os

    estudos sejam realizados de maneira uniforme e homognea, devendo,

    portanto, ser considerado o emprego dos critrios bsicos que devem nortear a

    qualidade e quantidade dos estudos. Os critrios bsicos utilizados devero

    ser indicados nos estudos.

    2.5.3 - Aspectos Institucionais e Legais

    Os aspectos institucionais e legais, de interesse realizao dos Estudos de

    Viabilidade que devem ser considerados, desde a autorizao at a aprovao

    dos estudos pela ANEEL, abrangem uma faixa ampla da legislao vigente,

    tendo como linhas mestras a Constituio da Repblica Federativa do Brasil,

    de 1988, o Cdigo de guas - Decreto n 24.643, de 10 de julho de 1934, a

    Poltica Nacional de Meio Ambiente, Lei n 6938, de 31 de agosto de 1981, a

    Poltica Nacional de Recursos Hdricos, Lei 9433 de 08 de janeiro de 1997 e

    legislao subseqente. Destaca-se, a Lei n 9.427, de 26 de dezembro de

    1996, que criou a Agncia Nacional de Energia Eltrica -ANEEL.

    Para iniciar-se o Estudo de Viabilidade de um aproveitamento hidreltrico, a

    Agncia Nacional de Energia Eltrica dever ser informada, para fins de

    registro. Se houver interesse, seja na realizao de levantamentos de campo

    em terrenos marginais de propriedade de terceiros, seja no futuro

    ressarcimento dos custos incorridos nos estudos, pelo vencedor da licitao da

    concesso do aproveitamento, dever ser solicitada e obtida uma autorizao

    de estudos daquela Agncia (Lei no 9.427).

    A autorizao para elaborao dos Estudos de Viabilidade e a aprovao do

    Relatrio Final so importantes para garantir o ressarcimento parcial ou

    integral dos investimentos realizados, quando a concesso do aproveitamento

    hidreltrico for levada licitao pblica.

  • 21

    Os gastos realizados por pessoas fsicas ou jurdicas para desenvolvimento de

    Estudos de Viabilidade de aproveitamentos hidreltricos, cuja concesso ser

    objeto de licitao, devero atender s exigncias da ANEEL para eventual

    reembolso pelo vencedor da licitao. A solicitao de autorizao dos estudos

    dever ser acompanhada de uma estimativa detalhada dos custos dos

    mesmos, assim como, a solicitao de aprovao dever ser acompanhada de

    demonstrao dos gastos incorridos.

    Os procedimentos recomendados tm carter geral, independem do tipo de

    pessoa jurdica (empresa estatal, privada, etc.) que realizar o estudo e da

    destinao da energia a ser gerada pelo potencial (autoproduo, produo

    independente, ou servio pblico).

    2.5.4 - Estudos de Viabilidade e Licitaes de Concesses

    Os Estudos de Viabilidade para se constiturem em documento de suporte

    tcnico de um processo de licitao, para outorga de concesso do

    aproveitamento hidreltrico, devem atender s seguintes condies

    (ELETROBRS, 1997):

    a) conter dados relativos obra, inclusive ou dentre os quais os

    elementos de projeto que permitam sua plena caracterizao,

    os quais devem ser preservados no projeto bsico (inciso XV,

    art. 18 da Lei n 8.987, de 13 de fevereiro de 1995);

    b) atender o conceito de aproveitamento timo do potencial,

    com o que poder ser atribudo ao licitante vencedor a

    responsabilidade pelo desenvolvimento dos projetos bsico e

    executivo. Considera-se aproveitamento timo, todo

    potencial definido em sua concepo global pelo melhor eixo

    do barramento, arranjo fsico geral, nveis dgua operativos,

    reservatrio e potncia, integrante da alternativa escolhida

    para diviso de quedas de uma bacia hidrogrfica. ( 2 e 3

    do art. 5 da Lei n 9.074, de 07 de julho de 1995);

  • 22

    c) conter os dados relativos aos custos de implantao que

    permitam calcular o valor de tarifa resultante de energia, nos

    casos de venda para servio pblico (art. 9, 14 e 15 da Lei

    n 8987, de 13 de fevereiro de 1995);

    d) conter o projeto de integrao da usina com a rede bsica de

    transmisso;

    e) atender o art. 21 da Lei n 8.987, de fevereiro de 1995,

    havendo interesse em que o vencedor da licitao ressara os

    dispndios efetuados nos estudos e projetos;

    f) vir instrudo com o pertinente licenciamento ambiental.

    2.5.5 - Licenciamento Ambiental

    Com relao aos aspectos scio-ambientais, um aproveitamento hidreltrico

    est submetido a dois processos de autorizao: um junto ANEEL e outro

    junto ao rgo competente de licenciamento ambiental.

    No primeiro caso, os aspectos scio-ambientais so analisados mediante a

    apresentao do Relatrio Final dos Estudos de Viabilidade, buscando a

    comprovao da viabilidade do aproveitamento em todos os seus aspectos de

    engenharia, energticos, econmicos.

    O segundo caso, corresponde ao atendimento da legislao ambiental vigente,

    a qual j foi citada anteriormente.

    2.6 - A Anlise Multicritrio

    Como a influncia de fatores subjetivos est presente na avaliao de

    impactos ambientais de empreendimentos, foi sugerida a aplicao de uma

    metodologia que utiliza a anlise multicritrio (AMC), com o objetivo de tornar

    as anlises mais coerentes, transparentes, sistemticas e de base terica mais

    slida.

    A AMC fundamenta-se em conceitos e mtodos desenvolvidos no mbito de

    diferentes disciplinas como a economia, a pesquisa operacional, a teoria das

  • 23

    organizaes e a teoria social das decises. Surge num contexto crtico ao

    modelo racional clssico da teoria das decises, passando de uma concepo

    na qual o decisor e critrio so nicos e a informao perfeita para um

    enfoque que considera seja a pluralidade dos atores e dos critrios, seja a

    imperfeio da informao (GIANGRANDE Apud MAGRINI, 1992). A AMC tem

    sido aplicada no auxlio de acidentes decisrios de natureza diversa que

    envolvem pontos de vista diferenciados e, por vezes, contraditrios.

    Segundo MAGRINI (1992), Embora no se possa estabelecer uma teoria

    nica de AMC, so recorrentes na literatura especializada alguns conceitos de

    base como: ator, ao, critrio e famlia de critrios. Sempre em termos gerais,

    a anlise multicritrio operada segundo um esquema seqencial de fases

    no esttico nem linear que pressupe realimentaes, revises e

    reformulaes no decorrer do processo. As etapas bsicas do processo so:

    definio das aes potenciais ou desejveis a serem analisadas, formulao

    dos critrios de anlise, avaliao das aes com base em cada critrio e

    agregao final utilizando um mtodo de AMC.

    Ainda de acordo com MAGRINI (1992), o termo ator empregado para

    designar o indivduo que tem a capacidade de influenciar direta ou

    indiretamente a deciso.

    Uma ao a representao que um ator constri para si da soluo de um

    problema ou de um elemento que permite avanar no sentido da soluo.

    Um critrio um indicador, ndice ou funo que permite estabelecer um

    julgamento de preferncia entre aes. Para cada ao identifica-se um

    conjunto de conseqncias e procede-se decomposio das mesmas em

    conseqncias elementares. cada conseqncia elementar corresponde um

    critrio. O conjunto de critrios deve satisfazer certas condies e deve ser

    coerente. Os critrios devem ser independentes entre si e restrito ao menor

    nmero possvel (MAGRINI, 1992).

    A quantificao de critrios, composta da definio de escalas de mensurao

    e do estabelecimento de pesos, um aspecto fundamental relativo aos

    critrios.

  • 24

    A avaliao de aes com base nos critrios se traduz, normalmente, numa

    matriz de julgamentos ou de avaliao que relaciona cada ao potencial a

    cada critrio. A escolha do mtodo de AMC a ser empregado posteriormente

    para efetuar a agregao, depende do tipo de aplicao e da problemtica

    decisria de referncia (MAGRINI, 1992).

    A utilizao da AMC no mbito da quantificao de impactos ambientais

    ainda muito restrito. De acordo com MAGRINI (1992), as vantagens da AMC

    neste campo de estudo seriam:

    - permitir uma anlise sistematizada, no esttica e gradual;

    - fundamentar-se em pressupostos tericos slidos;

    - permitir operar uma avaliao com base em critrios diversos, seja

    quantitativos ou qualitativos, e em presena de imperfeio de

    informao;

    - admitir pontos de vista diferenciados;

    - agregar aspectos de carter terico e tcnico aos processos de

    dilogo e negociao.

    De acordo com MAGRINI (1992), a AMC aplicada ao encaminhamento da AIA

    um mtodo que admite as limitaes e a complexidade do problema,

    operando de forma dinmica e transparente. A aplicao da AMC mostra-se

    particularmente apropriada para comparar alternativas de projeto (aes),

    sendo no caso da AIA, recomendvel para a fase que antecede a tomada de

    deciso em termos de impactos ambientais (critrios).

    Ainda de acordo com MAGRINI (1992), a AMC pode ser utilizada no mbito da

    AIA de um nico projeto para identificar alm de seu grau de impacto global, as

    aes mais impactantes e portanto mais sujeitas a modificaes e mitigaes.

    O modelo apresentado neste estudo considera a pontuao utilizando a

    anlise multicritrio, que vem a ser um procedimento simples onde dada uma

    pontuao para cada alternativa em cada critrio num problema de tomada de

    deciso (RAGSDALE, 2001).

  • 25

    Devem ser dadas ponderaes ou pesos para cada critrio, indicando a

    importncia relativa entre os critrios.

    A pontuao de cada critrio deve variar de zero a um e a soma das

    ponderaes deve somar um.

    Sob o ponto de vista ambiental, a melhor alternativa seria a que apresentasse

    menor pontuao, ou seja: menor impacto ambiental.

    2.7 - O Setor Eltrico Brasileiro

    Para uma maior compreenso deste trabalho, necessrio conhecer o setor

    eltrico brasileiro e a importncia que a gerao hidrulica tem no sistema.

    Portanto, so apresentados nesta seo informaes sobre o planejamento e

    funcionamento do setor.

    2.7.1 - Organizao do Setor

    A reforma do Estado no Brasil comeou a ser desenhada com a aprovao da

    Lei de Concesso dos Servios Pblicos, Lei 8.987, de fevereiro de 1995. Os

    artigos dispostos nesta primeira iniciativa precisavam ser aprofundados para

    permitir o ingresso de recursos da iniciativa privada no aumento da oferta de

    energia eltrica. Ento, quatro meses depois, em julho de 1995, a Lei 9.074

    regulamentou a legislao anterior no que diz respeito ao mercado de energia.

    No ano seguinte, a Lei 9.427, em 26 de dezembro de 1996, criou a Agncia

    Nacional de Energia Eltrica - ANEEL, cujo regulamento foi definido no Decreto

    2.335, em 6 de outubro de 1997. O decreto estabelece as diretrizes da ANEEL,

    suas atribuies e estrutura bsica. Em 28 de novembro de 1997, a ANEEL

    teve seu Regimento Interno aprovado pela Portaria MME n 349 (ANEEL,

    2002).

    O Setor Eltrico Brasileiro, portanto, est em processo de reestruturao para

    introduzir a competio nos segmentos de gerao e comercializao, atravs

    da desverticalizao das empresas e do livre acesso aos sistemas de

    transmisso e distribuio. Fazem parte deste novo modelo entidades

    especializadas para executar as funes de regulao, planejamento da

  • 26

    expanso, operao e comercializao de energia de curto prazo. A ANEEL, o

    ONS Operador Nacional do Sistema e o MAE Mercado Atacadista de

    Energia, desempenham especificamente a primeira, a terceira e a quarta

    funes. A entidade responsvel pelo planejamento da expanso o recm

    criado Comit Coordenador do Planejamento da Expanso dos Sistemas

    Eltricos CCPE, vinculado ao Ministrio das Minas e Energias. Esse rgo ir

    substituir paulatinamente o GCPS - Grupo Coordenador de Planejamento dos

    Sistemas Eltricos, que era vinculado ELETROBRS (THEMAG, 2000a).

    A ANEEL uma autarquia em regime especial, vinculada ao Ministrio de

    Minas e Energia - MME, que tem como atribuies: regular e fiscalizar a

    gerao, a transmisso, a distribuio e a comercializao da energia eltrica,

    defendendo o interesse do consumidor; mediar os conflitos de interesses entre

    os agentes do setor eltrico e entre estes e os consumidores; conceder,

    permitir e autorizar instalaes e servios de energia; garantir tarifas justas;

    zelar pela qualidade do servio; exigir investimentos; estimular a competio

    entre os operadores e assegurar a universalizao dos servios.

    A misso da ANEEL proporcionar condies favorveis para que o mercado

    de energia eltrica se desenvolva com equilbrio entre os agentes e em

    benefcio da sociedade (ANEEL, 2002).

    A ANEEL surgiu, desta forma, da reestruturao do setor eltrico brasileiro. O

    Estado abriria mo, gradualmente, dos meios de produo do setor eltrico e

    passaria a ser regulador e fiscalizador da qualidade dos servios prestados

    populao. ANEEL foi reservado o papel de regular e fiscalizar o novo

    mercado, que se estabeleceu no Pas a partir da introduo da livre

    competio nos segmentos de gerao e comercializao de energia eltrica.

    2.7.2 - O Mercado de Energia Eltrica

    Os empreendimentos so, no novo modelo, bem-vindos, desde que sigam as

    orientaes da poltica energtica do Governo e respeitem o meio ambiente. E

    ainda quando os servios prestados resultam em preos finais que podem ser

    absorvidos pelo mercado consumidor, bem como remuneram de modo

  • 27

    satisfatrio os investimentos e despesas operacionais das empresas (ANEEL,

    2002).

    So as seguintes as definies dos agentes:

    Autoprodutor de energia eltrica - a pessoa fsica ou jurdica ou empresas

    reunidas em consrcio que recebem concesso ou autorizao para produzir

    energia eltrica destinada ao seu uso exclusivo;

    Comercializador - a pessoa jurdica especialmente constituda para exercer a

    atividade de comercializao de energia eltrica, que compreende a compra e

    a venda de energia eltrica para concessionrios, autorizados ou a

    consumidores que tenham livre opo de escolha do fornecedor,

    regulamentado pela Resoluo n 265 de 13 de agosto de 1998;

    Concessionria de Servio Pblico (ou Permissionria) - Agente Titular de

    Servio Pblico Federal delegado pelo Poder Concedente mediante Licitao,

    na modalidade de concorrncia, a pessoa jurdica ou consrcio de Empresas

    para explorao e prestao de servios pblicos de energia eltrica,

    regulamentado pela Lei 8987 de 13 de fevereiro de 1995;

    Produtor Independente de Energia Eltrica - PIE - a pessoa jurdica ou

    empresas reunidas em consrcio que recebam concesso ou autorizao do

    poder concedente para produzir energia eltrica destinada ao comrcio de toda

    ou parte da energia produzida, por sua conta e risco (ANEEL, 2002).

    O mercado de energia eltrica experimenta um crescimento da ordem de 4,5%

    ao ano, devendo ultrapassar a casa dos 100 mil MW em 2008. O planejamento

    governamental de mdio prazo prev a necessidade de investimentos da

    ordem de R$ 6 a 7 bilhes/ano para expanso da matriz energtica brasileira,

    em atendimento demanda do mercado consumidor (ELETROBRS, 2002).

    Para o futuro, algumas alteraes devem ocorrer na estrutura dos

    investimentos em energia, incluindo a instalao de centrais termeltricas a

    gs natural, que exigem prazos de implementao e investimentos menores

    que as hidreltricas. Por outro lado, devero ser ampliadas as importaes de

    energia da Argentina, Venezuela e Bolvia; e a interligao eltrica entre o Sul

  • 28

    e o Norte do Brasil, o que significa maiores investimentos em rede de

    transmisso.

    As principais oportunidades de negcios no mercado de energia eltrica

    nacional esto ligadas oferta de novos empreendimentos de gerao para

    explorao pela iniciativa privada e construo de linhas de transmisso,

    bem como privatizao de ativos de sistemas de distribuio e de gerao.

    Outro foco se concentra na universalizao do atendimento s comunidades

    isoladas da Regio Norte do Pas e ao meio rural, que devem estar concludos

    at 2005 (ELETROBRS, 2002).

    O sistema eltrico brasileiro apresenta como particularidade grandes

    extenses de linhas de transmisso e um parque produtor de gerao

    predominantemente hidrulica. O mercado consumidor (47,2 milhes de

    unidades) concentra-se nas regies Sul e Sudeste, mais industrializadas. A

    regio Norte atendida de forma intensiva por pequenas centrais geradoras, a

    maioria termeltricas a leo diesel.

    Ao longo das ltimas duas dcadas, o consumo de energia eltrica apresentou

    ndices de expanso bem superiores ao Produto Interno Bruto (PIB), fruto do

    crescimento populacional concentrado nas zonas urbanas, do esforo de

    aumento da oferta de energia e da modernizao da economia.

    De acordo com MAGRINI (1992), na segunda metade dos anos 80, o intenso

    programa de expanso de usinas hidreltricas elaborado pelo setor eltrico

    despertava particulares preocupaes, seja pelo montante de investimentos

    requeridos, seja, e principalmente, pelos potenciais impactos que estes

    empreendimentos de grande porte poderiam provocar ao meio ambiente.

    As classes de consumo residencial, comercial e rural obtiveram expressivos

    ganhos de participao, enquanto o segmento industrial teve participao

    menor neste crescimento, principalmente pela utilizao de tecnologias mais

    eficientes no uso final da eletricidade, aliada s medidas de racionalizao de

    consumo postas em prtica especialmente na dcada de 90.

  • 29

    O mercado de distribuio de energia eltrica atendido por 64

    concessionrias, estatais ou privadas, de servios pblicos que abrangem todo

    o Pas. As concessionrias estatais esto sob controle dos governos federal,

    estaduais e municipais. Em vrias concessionrias privadas verifica-se a

    presena, em seus grupos de controle, de diversas empresas nacionais e

    multinacionais. So atendidos cerca de 47 milhes de unidades consumidoras,

    das quais 85% so consumidores residenciais, em mais de 99% dos

    municpios brasileiros (THEMAG, 2000).

    A licitao por leilo abre aos investidores interessados no mercado de energia

    a possibilidade de participar dos empreendimentos de gerao hidreltrica e da

    construo de linhas de transmisso. Antes, o Estado construa e administrava

    as usinas e o sistema de transmisso. Hoje qualquer empresa, inclusive de

    outros pases, pode participar das licitaes.

    A ANEEL fez o primeiro leilo para usinas hidreltricas em 1998, em seu

    auditrio em Braslia (Quadro 2-2), com a disputa dividida entre empresas de

    capital nacional e internacional. A potncia total dos trs empreendimentos

    licitados em 1998 chegava a 580 MW e implicaram investimentos estimados

    em R$ 1,5 bilho, entre a fase de construo e operao.

    No ano seguinte, a ANEEL ofereceu aos empreendedores a primeira chance

    de investir em rede de transmisso, com trs linhas e uma subestao, que

    representavam a expanso de 765 quilmetros do sistema interligado. Os

    vencedores do leilo esto investindo um total de R$ 411,28 milhes na

    construo das instalaes das futuras linhas de transmisso (ANEEL, 2002).

    Quadro 2-2: Usinas hidreltricas licitadas pela ANEEL

    Usina (ano da licitao) ConcessionriaConcorrncias - 1996 -Emboque Companhia Fora e Luz Cataguazes-LeopoldinaCubato Usina Hidreltrica Cubato S.A.Concorrncias - 1997 -Rosal Rosal Energia S.A.Queimado CEMIG/CEBPorto Estrela CEMIG (PI), CVRD, COTEMINAS e NESLajeado Rede Lajeado Energia S.A. = 44,895%; EDP Lajeado =

    27,37%; CEB Lajeado = 19,80%; Paulista Lajeado = 6,93%;Investco = 1%

  • 30

    Usina (ano da licitao) ConcessionriaConcorrncia/Leilo - 1998 -Cana Brava Companhia Energtica Meridional CEMPonte de Pedra Ponte de Pedra EnergticaSanta Clara Construtora Queiroz GalvoCampos Novos Campos Novos EnergiaPiraj Companhia Brasileira de Alumnio S.A.Itapebi Itapebi Gerao de Energia S.A.Irap CEMIGLeilo 1999 -Ourinhos Ourinhos Energia S.A.Leilo 2000 -Itumirim Companhia Energtica ItumirimCandonga Companhia Vale do Rio Doce (50%) e EPP Energia Eltrica,

    Promoes e Participaes Ltda. (50%)Quebra Queixo Companhia Energtica Chapec CECBarra Grande VBC Energia S.A. (44,7399%), Alcoa Alumnio S.A.

    (31,5791%), Valesul Alumnio S.A. (10,5307%) e DMEnergtica Ltda. (7,8902%) PIs; Camargo Corra CimentosS.A. (5,2601%) AP

    Corumb IV Corumb Concesses S.A.CERAN Companhia Energtica Rio das Antas CERAN14 de Julho -Castro Alves -Monte Claro -Picada Companhia Paraibuna de Metais (99%) e Paraibuna de

    Energia (1%)Capim Branco Cemig Capim Branco Energia S.A. (20%), Companhia Vale do

    Rio Doce AP (46%), Comercial e Agrcola Paineiras Ltda.(17%), Companhia Mineira de Metais AP (12%) e CamargoCorra Cimentos S.A. AP (5%)

    I -II -Murta Murta Energtica S.A.Barra do Brana Cat-Leo Energia S.A.Itaocara Light Sinergias Ltda.Espora Fuad Rassi Engenharia, Indstria e Comrcio Ltda.Leilo 2001 -Fundo -Santa Clara -Complexo Centrais Eltricas do Rio Jordo S.A. (ELEJOR)Corumb III Energtica Corumb III S.A.So Jernimo Consrcio So Jernimo (COPEL 21%, Tibaji 30% e SJ

    Investidores e Participaes Ltda. 49%)Bau I Cat-Leo Energia S.A.Foz do Chapec Consrcio Energtico Foz do Chapec (CVRD 40%, Foz do

    Chapec Energia S.A. 60%)Serra do Faco Consrcio Grupo de Empresas Associadas Serra do Faco

    (Alcoa Alumnio S.A. 50,4386%, CBA 16,9737% AP, DMEEnergtica Ltda. 10,0877% e Votorantim Cimentos Ltda. 22,5%)

    Peixe Consrcio ENERPEIXE (Enerpaulo Energia Paulista Ltda. 93%, Rede Peixe Energia S.A. 5% e Enerpeixe S.A. 2%)

    Leilo 2001 / 2o Semestre -Simplcio Lidil Comercial Ltda.Salto Pilo CPFL Gerao de Energia S.A., Alcoa Alumnio S.A.,

  • 31

    Usina (ano da licitao) ConcessionriaCamargo Corra Cimentos S/A, DME Energtica Ltda. EVotorantim Cimentos Ltda., que constituem o CONSRCIOGRUPO EMPRESARIAL SALTO PILA

    So Joo -Cachoeirinha -Complexo Energtico SoJoo/ Cachoeirinha

    Enterpa Engenharia Ltda.

    So Salvador Tractebel Sul Ltda.Monjolinho Engevix Engenharia Ltda.Pedra do Cavalo Votorantim Cimentos Ltda.Traira II Companhia Energtica de Minas Gerais CEMIGPai Quer CPFL Gerao de Energia S.A., Alcoa Alumnio S.A.,

    Companhia Estadual de Energia Eltrica-CEEE, DMEEnergtica Ltda. E Votorantim Cimentos Ltda., que constituemo CONSRCIO GRUPO EMPRESARIAL PAI QUER

    Couto Magalhes Companhia de Energia Eltrica do Estado do Tocantins CELTINS e ENERPAULO Energia Paulista Ltda., queconstituem o CONSRCIO ENER-REDE COUTOMAGALHES

    Santa Isabel Billiton Metais S/A, Companhia Vale do Rio Doce, CamargoCorra S/A, Alcoa Alumnio S/A e Votorantim Cimentos Ltda.,que constituem o CONSRCIO GESAI-Grupo EmpresarialSanta Isabel

    Fonte: ANEEL, 2002

    A ANEEL examina os processos de empreendimentos que dependem de

    autorizao para explorao. Neste bloco esto as Pequenas Centrais

    Hidreltricas (PCHs), que produzem at 30 MW cujos procedimentos de

    Autorizao e Registro, so estabelecidos na Resoluo ANEEL n 395/1998,

    as centrais geradoras termeltricas, de cogerao e fontes alternativas (elica,

    solar e biomassa) que podem obter registro ou autorizao conforme requisitos

    definidos na Resoluo ANEEL n 112/1999, que simplificou os processos,

    bem como se qualificar como cogerador desde que atendidos os requisitos

    estabelecidos na Resoluo ANEEL n 021/2000.

    A Compensao Financeira pela Utilizao de Recursos Hdricos (CFURH)

    um percentual que as concessionrias e empresas autorizadas a produzir

    energia por gerao hidreltrica pagam pela utilizao de recursos hdricos. A

    ANEEL gerencia a cobrana da taxa e a distribuio dos recursos arrecadados

    entre os municpios, estados e a Unio.

    Conforme estabelecido pela Lei n 8.001, de 13 de maro de 1990, so

    destinados 45% dos recursos aos municpios atingidos pelas barragens,

    enquanto que os estados onde se localizam as represas tm direito a outros

  • 32

    45%. A Unio fica com 10% do total. Geradoras caracterizadas como

    Pequenas Centrais Hidreltricas (PCHs), so dispensadas da taxa.

    As concessionrias pagam 6,75% do valor da energia produzida como taxa de

    Compensao Financeira pela Utilizao dos Recursos Hdricos. O total a ser

    pago calculado segundo uma frmula padro: CFURH = energia gerada x

    tarifa atualizada de referncia x 6,75%. Em 01/03/02, a tarifa atualizada de

    referncia era de R$ 29,40/MWh.

    O percentual da CFURH que cabe Unio dividido entre o Ministrio de Meio

    Ambiente, Recursos Hdricos e Amaznia Legal (3%); o Ministrio de Minas e

    Energia (3%) e para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientfico e

    Tecnolgico (4%), administrado pelo Ministrio da Cincia e Tecnologia. O

    percentual de 0,75% de CFURH repassado Agncia Nacional de guas -

    ANA.

    Os contratos de concesso assinados entre a ANEEL e as empresas

    prestadoras dos servios de transmisso e distribuio de energia estabelecem

    regras claras a respeito de tarifa, regularidade, continuidade, segurana,

    atualidade e qualidade dos servios e do atendimento prestado aos

    consumidores. Da mesma forma, define penalidades para os casos em que a

    fiscalizao da ANEEL constatar irregularidades.

    Os novos contratos de concesso de distribuio priorizam o atendimento

    abrangente do mercado, sem que haja qualquer excluso das populaes de

    baixa renda e das reas de menor densidade populacional. Prev ainda o

    incentivo implantao de medidas de combate ao desperdcio de energia e

    de aes relacionadas s pesquisas voltadas para o setor eltrico.

    A concesso para operar o sistema de transmisso firmada em contrato com

    durao de 30 anos. As clusulas estabelecem que, quanto mais eficiente as

    empresas forem na manuteno e na operao das instalaes de

    transmisso, evitando desligamentos por qualquer razo, melhor ser a sua

    receita.

  • 33

    Quanto aos contratos de concesso de gerao, no caso de novas

    concesses, outorgadas a partir de processos licitatrios, os mesmos tm

    vigncia de 35 anos, podendo ser renovados por igual perodo, a critrio da

    ANEEL.

    Para as concesses outorgadas anteriores s leis n 8.987/1995 e 9.074/1995,

    a renovao por 20 anos.

    A matriz energtica brasileira composta, aproximadamente, por 82% de

    gerao hdrica ficando o restante distribudo entre a gerao trmica, elica e

    nuclear. Cabe ANEEL receber os pedidos dos investidores interessados em

    empreendimentos de gerao hidreltrica. Estes investidores devem consultar

    a legislao pertinente.

    As novas condies de concorrncia que esto sendo introduzidas no setor

    eltrico criam novos paradigmas para a atividade de planejamento. Estas

    condies repercutem nos estudos de previso de mercado, j que os agentes

    passam a atribuir conotao estratgica a uma srie de informaes antes

    compartilhada, sem restries, com todos os participantes do processo de

    planejamento do setor. Alteram tambm as premissas e os principais objetivos

    do planejamento de expanso da oferta, agora de natureza indicativa.

    O planejamento da transmisso impactado da mesma forma, uma vez que

    pretende-se estabelecer um sistema de transporte de energia que no iniba a

    concorrncia entre os agentes de mercado, um condicionante necessrio para

    a minimizao dos custos de fornecimento.

    Tendo em conta estas consideraes, devero ser objetivos principais do

    CCPE:

    - Orientar aes de governo para assegurar o fornecimento de energia nos

    nveis de qualidade e quantidade demandados pela sociedade, em

    consonncia com a Poltica Energtica Nacional, emanada do Conselho

    Nacional de Poltica Energtica;

    - Oferecer aos agentes do mercado eltrico um quadro de referncia para

    seus planos de investimento; e

  • 34

    - Estabelecer a expanso mais adequada da rede eltrica de transmisso,

    em consonncia com os aspectos operacionais do sistema.

    Neste novo ambiente institucional o planejamento dever ser conduzido

    como funo do Governo Federal, exercida pelo Ministrio das Minas e

    Energia. Contudo, a representao dos agentes e entidades do setor dever

    ser garantida pela composio da estrutura do CCPE, atravs da participao

    de entidades de classe em consultas pblicas para avaliao e aprovao dos

    principais produtos, refletindo um processo decisrio participativo e aberto.

    No sentido de atender aos requisitos acima mencionados e na qualidade

    de Agente Planejador do Sistema Eltrico Brasileiro, o CCPE ter, entre outras

    atribuies:

    - Elaborar, de forma integrada, o planejamento de longo prazo do setor

    eltrico;

    - Elaborar e manter atualizados os Planos Indicativos de Expanso e o

    Programa Determinativo da Transmisso;

    - Estruturar e manter atualizado o Sistema de Informaes Tcnicas do

    planejamento da expanso do setor de energia eltrica, disponibilizando-o

    aos agentes que atuam no setor e sociedade em geral;

    - Estimar os investimentos de capital para expanso da oferta de gerao e

    de transmisso de energia eltrica, subsidiando as aes de governo na

    busca de adequao ou viabilizao dos mesmos;

    - Acompanhar as condies de atendimento ao mercado de energia eltrica,

    sugerindo aes para manter este atendimento em nveis de qualidade

    preestabelecidos; e

    - Propor ANEEL, os critrios, normas, procedimentos e referncias de

    qualidade para o desempenho do sistema eltrico na realizao da

    atividade de planejamento (ANEEL, 2002).

    Mesmo com o aumento previsto da gerao termeltrica, o potencial

    hidreltrico dever responder por cerca de 75% da gerao ao final do

    horizonte decenal. Isso decorre da alta competitividade econmica do potencial

  • 35

    hidreltrico, reforado pelo fato de ser uma fonte renovvel e tecnologicamente

    conhecida. Alm disso, os reservatrios das hidreltricas, desde que

    planejados e operados adequadamente dentro da tica de usos mltiplos da

    gua, possibilitam a implantao de empreendimentos com insero regional.

    As restries aos empreendimentos hidreltricos so fundamentalmente de

    ordem scio-ambiental. Atualmente, contudo, o setor eltrico tem reorientado

    suas aes no sentido de consolidar e sistematizar o conhecimento nessa

    rea, avaliar e caracterizar os custos e benefcios scio-ambientais, intensificar

    e ampliar as aes mitigadoras e, por fim, ampliar a participao da sociedade

    no processo de discusso de programas e projetos. Essas aes visam

    atenuar os aspectos negativos e ampliar os aspectos positivos dos

    empreendimentos, cabendo sociedade como um todo a responsabilidade de

    estabelecer a medida de explorao desse potencial, a partir de uma

    perspectiva de desenvolvimento sustentado.

    2.7.3 - Fontes de Energia

    2.7.3.1 - Energia Hidreltrica

    A opo pelas usinas hidreltricas foi a trajetria tecnolgica escolhida pelo

    pas devido ampla disponibilidade de potenciais hidrulicos, a custos

    competitivos e, sobretudo, devido falta de disponibilidade nacional de

    combustveis fsseis.

    O parque gerador brasileiro composto, predominantemente, por usinas

    hidreltricas, que constituem cerca de 82% da potncia instalada total. As

    usinas termeltricas, que contribuem com os 18% restantes, so hoje

    utilizadas, nos sistemas interligados, para complementar a gerao hidrulica

    nos perodos secos e nas horas de maior demanda. So tambm usadas no

    suprimento a sistemas isolados das Regies Norte e Centro-Oeste do pas.

    Face ao amplo potencial hidreltrico economicamente competitivo ainda

    existente no pas, esta predominncia da gerao de origem hidrulica dever

    perdurar, no mnimo, ao longo dos prximos 20 anos (ENGEVIX, 2002a).

  • 36

    A Regio Sudeste detm a maior parcela da capacidade instalada de gerao,

    com destaque para os Estados de Minas Gerais e So Paulo.

    A fim de atender ao crescente consumo de energia eltrica no pas,

    principalmente no que se refere s Regies Sul e Sudeste, o governo brasileiro

    vem desenvolvendo uma poltica abrangente de planos e programas de

    investimentos para o Setor Eltrico Brasileiro, visando inclusive diversificar a

    matriz energtica do pais.

    O Quadro 2-3 resume algumas caractersticas do parque gerador brasileiro da

    atualidade.

    Quadro 2-3: Sistema Gerador Existente

    Produtor Capacidade Instalada (MW)HIDRO TERMO TOTAL

    SUL-SUDESTE-CENTRO OESTE 43.427 3.809 47.236NORTE-NORDESTE 14.417 314 14.731SISTEMAS ISOLADOS 543 1.744 2.287CAPITAIS 506 1.285 1.791INTERIOR 459 37 496

    (FONTE: CTEM/GCPS - ELETROBRS, 2000)

    A mais recente avaliao do potencial hidreltrico no Pas indica um valor

    aproximado de 130 GW/ano de energia firme, equivalente a uma potncia

    instalvel de 260 GW, para um fator de capacidade da ordem de 50%, sendo

    importante lembrar que, atualmente, apenas 20% dessa disponibilidade

    encontram-se aproveitadas (THEMAG, 2000).

    Deve-se, entretanto, salientar que o potencial das Regies Nordeste e Sudeste

    - esta a mais desenvolvida, englobando 44% da populao e 64% do consumo

    de energia eltrica - dever praticamente esgotar-se at o final deste sculo.

    2.7.3.2 - Energia Termeltrica

    O Programa Prioritrio de Termeltricas - PPT tem por objetivo aumentar a

    oferta de energia no pas em mais de 15 mil MW a partir da implementao,

    at 2003, de 49 novas usinas termeltricas em 18 Estados brasileiros, alm da

    converso de 4 usinas existentes para funcionamento com gs natural.

  • 37

    O Programa pretende promover uma alterao da matriz energtica brasileira,

    aumentando para cerca de 25% a gerao de energia de origem trmica nos

    prximos dez anos.

    Essa nova composio da matriz energtica, principalmente com utilizao de

    gs natural, propicia condies de atendimento ao mercado a curto prazo e

    permite ganhos de confiabilidade e eficincia no sistema gerador de energia

    eltrica. Dessa forma, a participao do gs natural na matriz energtica

    nacional, que hoje de 3%, dever aumentar para 10%.

    Alm disso, a gerao termeltrica com o seu avano tecnolgico traz

    inmeras vantagens, tais como: atendimento aos requisitos ambientais;

    instalao prxima aos centros de carga, otimizando o carregamento e a

    expanso dos sistemas de transmisso; gerao estratgica para a operao

    de hidreltricas e menor prazo de construo.

    Dado que as novas bases de funcionamento e regulamentao do setor visam

    garantir a prtica da livre competio sem degenerao da qualidade do

    servio, torna-se necessrio garantir e promover o adequado equilbrio entre

    disponibilidades e demandas, por meio de esforos nas reas de planejamento

    e gesto de recursos naturais e financeiros. Dessa forma, dado que em 2003

    se inicia efetivamente a prtica do livre mercado, para tal horizonte foi definida

    a implantao das usinas termeltricas listadas no Quadro 2-4.

    Quadro 2-4: Programa Prioritrio de Termeltricas

    USINAS LOCALIZAO POTNCIA (MW)USINAS DE COGERAO A GS NATURAL

    VALE DO AU RIO GRANDE DONORTE

    240

    SERGIPE SERGIPE 90TERMOBAHIA BAHIA 460

    TERMORIO RIO DE JANEIRO 450CUBATO SO PAULO 180

    RHODIA PAULNIA SO PAULO 152RHODIA SANTO ANDR SO PAULO 100

    ALTO TIET I, II SO PAULO 88CAPUAVA SO PAULO 230

    VALPARASO SO PAULO 220IBIRIT MINAS GERAIS 240USINAS A GS NATURAL EM CICLO COMBINADO

    DUNAS CEAR 250PARABA PARABA 150

    TERMOALAGOAS ALAGOAS 120TERMOPERNAMBUCO PERNAMBUCO 460

  • 38

    USINAS LOCALIZAO POTNCIA (MW)VITRIA ESPRITO SANTO 500

    NORTE FLUMINENSE RIO DE JANEIRO 720CABIUNAS RIO DE JANEIRO 450

    RIOGEN RIO DE JANEIRO 500POOS DE CALDAS MINAS GERAIS 500

    JUIZ DE FORA MINAS GERAIS 78SANTA BRANCA SO PAULO 1067

    VALE DO PARABA SO PAULO 480ARARAQUARA SO PAULO 500

    PAULNIA SO PAULO 240PAULNIA DSG SO PAULO 550

    CARIOBA SO PAULO 750ABC SO PAULO 500

    BARIRI SO PAULO 700CACHOEIRA PAULISTA SO PAULO 180

    INDAIATUBA SO PAULO 180DUKE ENERGY 1 SO PAULO 350

    ARAUCRIA PARAN 480TERMOCATARINENSE SANTA CATARINA 300

    GAUCHA RIO GRANDE DO SUL 480TERMOSUL RIO GRANDE DO SUL 750

    CAMPO GRANDE MATO GROSSO DO SUL 300CORUMB MATO GROSSO DO SUL 250CUIAB II MATO GROSSO 480

    TERMONORTE II RONDNIA 340MANAUS AMAZONAS 180

    USINAS A GS NATURALTERMONORTE I RONDNIA 64

    PITANGA PARAN 20USINAS COM OUTROS COMBUSTVEIS

    COFEPAR PARANResduo Asfltico (RASF)

    616

    FIGUEIRA PARANCarvo

    100

    SO MATEUS PARANXisto

    70

    SUL CATARINENSE SANTA CATARINACarvo

    400

    SEIVAL RIO GRANDE DO SULCarvo

    250

    CANDIOTA III RIO GRANDE DO SULCarvo

    350

    USINAS EXISTENTES A SEREM CONVERTIDAS PARA GSNATURAL COM PROCESSO DE CONSERVAO DE ENERGIA

    MANAUS AMAZONAS 500SANTA CRUZ RIO DE JANEIRO 1125CAMAARI BAHIA 420

    BONGI PERNAMBUCO 213(Fonte: THEMAG, 2000)

    De acordo com os dados do Quadro 2-4, nota-se que a concretizao do

    Programa Prioritrio de Termeltricas, alm de incrementar a utilizao do gs

    natural, tambm visa a utilizao de combustveis nacionais como o carvo

    mineral e o xisto, porm com uma participao bem inferior do gs.

    O programa conta com a participao da Petrobrs, da ELETROBRS, do

    Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES), da

  • 39

    Agncia Nacional de Energia Eltrica (ANEEL) e da Agncia Nacional de

    Petrleo (ANP).

    Particularmente, a participao da Petrobrs tem um papel fundamental, pois

    o agente que dever garantir o suprimento de gs natural, por prazo de at

    vinte anos, ao preo de US$ 2,26/MMbtu, na base de setembro de 1999, para

    as usinas vinculadas ao sistema eltrico interligado, de acordo com a poltica

    de gs natural nacional e de acordo com as demais condies de

    comercializao constantes nos contratos firmados para o gs natural

    importado. Os preos sero variveis a cada ano dependendo da maior ou

    menor disponibilidade de gs brasileiro. O MME e a ANP esto estudando uma

    frmula permanente para correo destes valores, visando definir critrios para

    o preo do gs para gerao termeltrica.

    A questo do suprimento de gs um dos aspectos que tem trazido grande

    polmica ao programa. Como h o risco de aumento dos preos do gs natural

    importado, devido variao cambial, e como, por outro lado, no h garantia