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ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 2007 4 ANTROPOLOGIA E GEOGRAFIA: CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS HISTÓRICAS SCOTT WILLIAM HOEFLE - LABORATÓRIO DE GESTÃO DO TERRITÓRIO - DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO RESUMO ANALISA-SE POR VIA DA FILOSOFIA DA CIÊNCIA O LONGO E INSTÁVEL RELACIONAMENTO ENTRE A GEOGRAFIA E A ANTROPOLOGIA, APONTANDO PARA A CONVERGÊNCIA DE INTERESSES EM MOMENTOS DE SINTAGMAS CRÍTICOS E PARA A DIVERGÊNCIA EM MOMENTOS DE PARADIGMAS RACIONALISTAS. EXISTE MAIOR COLABORAÇÃO ENTRE AS DUAS DISCIPLINAS DURANTE FASES CRÍTICAS DO PENSAMENTO CIENTÍFICO QUANDO SÃO ENFATIZADAS DIVERSIDADE CULTURAL E AMBIENTAL NO MUNDO E EPISTEMOLOGIAS BASEADAS EM MODELOS FENOMENOLÓGICOS, ENVOLVENDO INTERAÇÃO PERCEPTIVA E METODOLOGIAS MAIS QUALITATIVAS, SENÃO ETNOGRÁFICAS. HÁ INDIFERENÇA MÚTUA OU MESMO EMBATE TEÓRICO EM MOMENTOS DE PARADIGMAS RACIONALISTAS QUANDO SÃO PRIVILEGIADOS PROCESSOS CENTRAIS NO MUNDO COM BASE EM TEORIAS DETERMINISTAS E REDUCIONISTAS DE EVOLUÇÃO UNILINEAR, MÉTODOS QUANTITATIVOS, MODULAÇÃO MATEMÁTICA E OBJETIVIDADE E PRESCRIÇÃO CIENTÍFICA. ALERTA-SE QUE A AMPLA COLABORAÇÃO ATUAL ENTRE AS DUAS DISCIPLINAS ATRAVÉS DO PÓS-MODERNISMO E DA ECOLOGIA POLÍTICA PODE ACABAR COM O AVENTO DO NEO-DARWINISMO. NOVA FASE DE DIVERGÊNCIA PODE SER EVITADA ATRAVÉS DA ECONOMIA POLÍTICA CULTURAL RADICAL, UMA ABORDAGEM CRÍTICA MAIS AFINADA AOS PROBLEMAS DO ATUAL CONTEXTO MUNDIAL. PALAVRAS CHAVES : GEOGRAFIA, ANTROPOLOGIA, EPISTEMOLOGIA, CIÊNCIA CRÍTICA. INTRODUÇÃO ______________________________ Nos últimos anos houve uma série de impor- tantes colaborações entre geógrafos e antropólo- gos. O antropólogo pós-modernista George Mar- cus foi convidado para participar em um livro que marcou o auge da abordagem cultural na Geogra- fia: Cultural Turns, Geographical Turns (Cook et. alli 2000). Dois geógrafos conhecidos por seu traba- lho na interface de cultura e ambiente participa- ram na organização de dois números temáticos da revista de Antropologia Aplicada Social Organizati- on: Gregory Knapp e Michael Watts (Herlihy e Knapp 2003, Paulson, Gerzon e Watts 2003). As colaborações representam a cumulação de duas dé- cadas do desenvolvimento de uma série de inte- resses em comum entre geógrafos e antropólogos. Pelo lado da Geografia, a convergência reflete tanto a superação do tabu histórico sobre “ambi-

Antropologia e Geografia Hoefle

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Antropologia e Geografia

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  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 20074

    ANTROPOLOGIA E GEOGRAFIA:

    CONVERGNCIAS E DIVERGNCIAS HISTRICASSCOTT WILLIAM HOEFLE - LABORATRIO DE GESTO DO TERRITRIO - DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA -UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

    RESUMO

    ANALISA-SE POR VIA DA FILOSOFIA DA CINCIA O LONGO E INSTVEL RELACIONAMENTO ENTRE A GEOGRAFIA E A

    ANTROPOLOGIA, APONTANDO PARA A CONVERGNCIA DE INTERESSES EM MOMENTOS DE SINTAGMAS CRTICOS E PARA

    A DIVERGNCIA EM MOMENTOS DE PARADIGMAS RACIONALISTAS. EXISTE MAIOR COLABORAO ENTRE AS DUAS DISCIPLINAS

    DURANTE FASES CRTICAS DO PENSAMENTO CIENTFICO QUANDO SO ENFATIZADAS DIVERSIDADE CULTURAL E AMBIENTAL

    NO MUNDO E EPISTEMOLOGIAS BASEADAS EM MODELOS FENOMENOLGICOS, ENVOLVENDO INTERAO PERCEPTIVA E

    METODOLOGIAS MAIS QUALITATIVAS, SENO ETNOGRFICAS. H INDIFERENA MTUA OU MESMO EMBATE TERICO EM

    MOMENTOS DE PARADIGMAS RACIONALISTAS QUANDO SO PRIVILEGIADOS PROCESSOS CENTRAIS NO MUNDO COM BASE

    EM TEORIAS DETERMINISTAS E REDUCIONISTAS DE EVOLUO UNILINEAR, MTODOS QUANTITATIVOS, MODULAO

    MATEMTICA E OBJETIVIDADE E PRESCRIO CIENTFICA. ALERTA-SE QUE A AMPLA COLABORAO ATUAL ENTRE AS DUAS

    DISCIPLINAS ATRAVS DO PS-MODERNISMO E DA ECOLOGIA POLTICA PODE ACABAR COM O AVENTO DO NEO-DARWINISMO.

    NOVA FASE DE DIVERGNCIA PODE SER EVITADA ATRAVS DA ECONOMIA POLTICA CULTURAL RADICAL, UMA ABORDAGEM

    CRTICA MAIS AFINADA AOS PROBLEMAS DO ATUAL CONTEXTO MUNDIAL.

    PALAVRAS CHAVES: GEOGRAFIA, ANTROPOLOGIA, EPISTEMOLOGIA, CINCIA CRTICA.

    INTRODUO ______________________________

    Nos ltimos anos houve uma srie de impor-

    tantes colaboraes entre gegrafos e antroplo-

    gos. O antroplogo ps-modernista George Mar-

    cus foi convidado para participar em um livro que

    marcou o auge da abordagem cultural na Geogra-

    fia: Cultural Turns, Geographical Turns (Cook et. alli

    2000). Dois gegrafos conhecidos por seu traba-

    lho na interface de cultura e ambiente participa-

    ram na organizao de dois nmeros temticos da

    revista de Antropologia Aplicada Social Organizati-

    on: Gregory Knapp e Michael Watts (Herlihy e

    Knapp 2003, Paulson, Gerzon e Watts 2003). As

    colaboraes representam a cumulao de duas d-

    cadas do desenvolvimento de uma srie de inte-

    resses em comum entre gegrafos e antroplogos.

    Pelo lado da Geografia, a convergncia reflete

    tanto a superao do tabu histrico sobre ambi-

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 2007 5

    ente quanto a (re) descoberta da cultura, abran-

    gendo hoje quase todas as especialidades da disci-

    plina (Anderson et. alli. 2003, Simmons 1989, Sim-

    mons 1993, Robbins 2004, Zimmerer e Bassett

    2003). Os antroplogos, por sua parte, descobri-

    ram lugar e paisagem (Bender 1995, Erikson

    2001, Hirsch e OHanlon 1995, Holtzman 2004,

    Lowe e McDonogh 2001, Morphy 1995). Em

    conseqncia, o intercmbio envolve hoje a An-

    tropologia Fsica, a Antropologia Social, a Geo-

    grafia Humana e a Geografia Fsica, e no somente

    a Antropologia Cultural e a Geografia Cultural,

    como no passado. Na verdade, trata-se de uma

    convergncia muito mais ampla do que aquela entre

    a Antropologia e a Geografia: o Ps-Modernismo

    e a Ecologia Poltica. H dcadas no se v inter-

    cmbio transdisciplinar to abrangente de forma

    que parece deslumbrar um horizonte promissor de

    colaborao entre a Geografia, a Antropologia e

    as outras Cincias Sociais.

    Contudo, este quadro est ameaado por ten-

    dncias maiores na Cincia que esto prestes a

    reduzir a importncia das duas reas de intercm-

    bio entre a Geografia e a Antropologia: ambiente

    e cultura. O paradigma empirista da Ecologia Po-

    ltica j existe h mais de quinze anos e o sintagma

    crtico do Ps-Modernismo, h mais de vinte anos

    e ambos esto em processo de substituio por ou-

    tra onda intelectual mais recente, o Neo-Darwi-

    nismo, de cunho racionalista, que no somente se-

    para as duas disciplinas novamente, mas tambm

    ameaa o espao disciplinar de ambas (Figura 1).

    FIGURA 1 CONVERGNCIA E DIVERGNCIA ENTRE GEOGRAFIA E ANTROPOLOGIA NAS LONGAS ONDAS DO

    PENSAMENTO CIENTFICO APS 1850.

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 20076

    Esta mudana em direo a um paradigma raci-

    onalista no nova e se repete a cada quarenta a

    cinqenta anos quando a nfase em diversidade

    ambiental e cultural no mundo cede lugar a vises

    deterministas que geralmente afastam a Geografia

    da Antropologia. Assim sendo, o objetivo aqui

    analisar um longo e instvel relacionamento entre

    as duas disciplinas que caracterizado ora por atra-

    o, ora por repulso e ora por indiferena mtua.

    Para responder porque h convergncia entre as

    duas disciplinas em certas pocas e divergncia

    em outras preciso contexualizar ambas nas Ci-

    ncias Sociais, seno na Filosofia da Cincia.

    COLABORAO, EMBATE, INDIFERENA: QUANDO E

    POR QU? ________________________________

    Como mostra Ellen (1988), em grande deta-

    lhe, existe uma longa histria de colaborao en-

    tre antroplogos e gegrafos, no somente na rea

    de cultura, mas tambm em trabalhos conjuntos

    sobre ambiente e desenvolvimento, entre ou-

    tros pontos de interface mais especializados. Con-

    tudo, o grau de intercmbio tem variado muito

    em termos da abrangncia disciplinar dos tpicos

    explorados em comum e do nmero de especialis-

    tas de cada disciplina que interagem entre si.

    Assim sendo, desde o sculo XIX, em diferentes

    momentos, o relacionamento entre gegrafos e

    antroplogos tem sido de trs maneiras: 1) colabo-

    rao, envolvendo grande nmero de gegrafos e

    antroplogos, incluindo alguns dos mais renoma-

    dos de sua poca, em torno de conceitos e abor-

    dagens em comum, 2) embate, envolvendo o con-

    flito direto de posies tericas contrrias, geral-

    mente de linhas de pensamento que se sucedem

    no tempo e 3) indiferena, envolvendo o desinteres-

    se mtuo de ambas partes, por explorarem proje-

    tos intelectuais divergentes com pouco em comum.

    Normalmente quando gegrafos refletem so-

    bre o relacionamento de sua disciplina com as

    demais, utilizam um modelo conceitual da di-

    viso do trabalho cientfico que surgiu com a

    Nova Geografia Quantitativa. O esquema de

    segementao do fenmeno humano entre as

    Cincias Sociais de Abler, Adams e Gould

    tpico (Figura 2). Uma viso da Geografia

    FIGURA 2 A DIVISO MODERNISTA DO TRABALHO CIENTFICO.

    Adaptada de: Abler, Adams e Gould (1973, p.55).

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    como uma cincia racionalista, composta de

    numerosas especializaes, cada uma podendo

    ter relaes distintas de intercmbio com as

    demais disciplinas, mas no de forma generali-

    zada, se deu dentro do paradigma cientfico

    modernista do Estruturalismo. Como coloca

    Taylor (1985, p.102), [naquele momento] os

    gegrafos foram arrastados berrando e esper-

    neando para a cientificidade do sculo XX que

    na opinio de Simmons e Cox (1985) fez com

    que a Geografia deixasse de ser a disciplina

    holstica de Hartshorne e Sauer. Do holismo

    da Geografia Cultural e da Geografia Regional

    a disciplina partiu para o determinismo econ-

    mico na Geografia Humana e para geomorfolo-

    gia reducionista na Geografia Fsica, abrindo um

    enorme distanciamento entre a Geografia e a

    Antropologia, por um lado, e entre a Geografia

    Humana e a Geografia Fsica por outro.

    A viso especializada da Cincia do Estrutura-

    lismo foi duramente criticada por todas as tendn-

    cias tericas posteriores por ter dividido fenme-

    nos sociais artificialmente entre disciplinas, com

    mtodos e linguagens diferentes, de forma que

    nunca se conseguiu rearticular as partes analticas

    numa sntese maior transdisciplinar (Chambers

    1994, Clifford e Marcus 1986, Frank 1969, Mer-

    chant 1992, Sperber 1995, Wallerstein 1979).

    Alm disso, a viso estruturalista do lugar da

    Geografia na produo do conhecimento equi-

    vocada do ponto de vista da Filosofia da Cin-

    cia. A construo terica espao no da mesma

    ordem de escopo epistemolgico que a econo-

    mia, a poltica ou a cultura. Espao e cultura so de

    escopos epistemolgicos diferentes como tam-

    bm so as construes tericas da dimenso

    temporal. Dessa forma, o trabalho intelectual

    das diferentes Cincias Sociais, em diferentes

    momentos, pode ser visualizado como combi-

    naes especficas de elementos dos trs esco-

    pos epistemolgicos - espacial, cultural e tem-

    poral - mapeados em espao intelectual tri-di-

    mensional, mostrando o ponto de interseo nos

    trs eixos onde se localiza cada disciplina pe-

    rante outras, a partir do qual pode haver maior

    ou menor interesse em comum (Figura 3).

    Tradicionalmente, a Geografia, a Antropolo-

    gia e a Histria estudaram de forma holstica os

    eixos de escopo epistemolgico espacial, cultural

    e temporal respectivamente. Ao mesmo tempo,

    as outras Cincias Sociais sistemticas estudam sua

    especialidade (no eixo cultural), abordando com

    menor detalhe processos espaciais e temporais em

    fases racionalistas, caracterizadas por prescrio

    universal do padro observado no centro para o

    resto do mundo, e com maior ateno em fases

    crticas-fenomenolgicas, marcadas pelo particu-

    larismo espacial e temporal num mundo conside-

    rado ambientalmente e culturalmente complexo.

    Com este modelo de escopo epistemolgico

    podemos tentar explicar porque o relacionamen-

    to entre gegrafos e antroplogos passa por mo-

    mentos de colaborao, embate e indiferena.

    Como as duas disciplinas ocupam eixos de espoco

    epistemolgico diferentes, de forma geral, s h

    maior interesse mtuo quando o antroplogo abre

    seus horizontes espaciais alm de uma aldeia ind-

    gena localizada em lugar remoto ou quando o ge-

    grafo se interessa pela cultura ou ambiente, de

    preferncia em escala local. Quando o gegrafo

    procura modelos deterministas em dimenses es-

    pecficas do eixo cultural, como por exemplo no

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 20078

    determinismo ecolgico-ambiental ou tecno-eco-

    nmico, h forte embate. Finalmente, quando

    gegrafos estudam escalas espaciais mais amplas,

    como por exemplo em grandes regies ou o mun-

    do, e assuntos de cunho ambiental quase sem a

    presena do ser humano, como por exemplo na

    geomorfologia, h apenas desinteresse mtuo.

    Relacionadas a estas questes, e dificultando

    ainda mais a possibilidade de interao entre as

    duas disciplinas, esto problemas de natureza on-

    tolgica e metodolgica. Simmons e Cox (1985)

    retrataram bem estes problemas do ponto de visto

    interno Geografia (Figura 4). Estes autores mos-

    tram que durante o sculo XX surgiu forte diviso

    metodolgica entre gegrafos humanos e fsicos.

    Os primeiros inter-relacionam diferentes tipos de

    informaes sociais num mesmo plano fenomenal de

    forma que quando buscam as causas para o padro

    observado, eles citam fatores do mesmo nvel fe-

    nomenal. Por exemplo, a fome pode ser explica-

    da em termos scioeconmicos da m distribui-

    o da renda numa sociedade ou em termos tec-

    no-ecolgicos do uso de sistemas agrcolas inade-

    quados. Por outro lado, gegrafos fsicos redu-

    zem o padro observado de fenmenos sociais

    interao de seus componentes em outro plano

    fenomenal abaixo, tido como mais bsico. Por

    exemplo, a fertilidade do solo explicada em ter-

    mos de interaes qumicas. Para estes autores,

    escrevendo em 1985, a resoluo do impasse on-

    tolgico e metodolgico entre a Geografia Fsica

    e Humana seria na adoo de uma abordagem ho-

    lstica, que no seria determinista nem reducio-

    nista, ou seja, uma soluo epistemolgica prxi-

    ma abordagem da Ecologia Poltica que despon-

    tava naquele momento.

    FIGURA 3 INTERCMBIO TRANSDISCIPLINAR ATRAVS DE EPISTEMOLOGIAS HOLSTICAS VERSUS EPISTEMOLOGIAS

    SISTEMTICAS

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 2007 9

    FIGURA 4 REDUCIONISMO VERSUS HOLISMO NA CINCIA.

    A Antropologia tradicionalmente resolveu a

    questo da subjetividade do observador-observa-

    do atravs do estudo prolongado de outras cultu-

    ras. Para o antroplogo, oriundo de uma socie-

    dade urbano-industrial, a vida do primitivo estu-

    dado era to diferente de sua sociedade de ori-

    gem que ele (ou ela) no se envolvia num nvel

    to pessoal ao ponto de afetar sua objetividade

    cientfica. Ao mesmo tempo, para a populao

    local, o antroplogo no pertencia sua cultura,

    nem a suas intrigas pessoais, de forma que os in-

    formantes no s explicavam pacientemente seus

    costumes ao estranho como tambm faziam confi-

    dncias e reclamaes sobre o comportamento dos

    outros membros de sua sociedade. Acreditava-se

    que o status de estranho residente, complementa-

    do por observao prpria, permitia o antroplo-

    go ir alm das idealizaes de como se devia com-

    portar alcanando o comportamento real da po-

    pulao estudada. Assim sendo, o antroplogo,

    atravs de longos perodos de trabalho de campo,

    convivendo com um grupo social, aprendia sua

    Adaptada de: Simmons e Cox (1985).

    Contudo, a Ecologia Poltica no foi o caminho

    seguido pela maioria dos gegrafos aps 1985. Na

    maneira que o Ps-Modernismo se firmou na Geo-

    grafia Humana, abordagens culturais se tornaram cada

    vez mais comuns, provocando um verdadeiro apar-

    theid metodolgico na disciplina. Como vimos

    acima, o holismo tradicional da disciplina j tinha

    sido aleijado pela especializao que ocorreu duran-

    te a fase do Estruturalismo, mas, apesar disso, naque-

    le momento, a maioria dos gegrafos compartilha-

    ram uma mesma metodologia quantitativa e crena

    na objetividade cientfica. Estas posies foram pro-

    gressivamente desacreditadas pelas correntes crti-

    cas posteriores ao Estruturalismo nas Cincias Soci-

    ais enquanto isso no ocorreu de forma to radical

    nas Cincias Naturais e Fsicas. Na Geografia Hu-

    mana atual, como em todas as Cincias Humanas, h

    forte questionamento ao racionalismo, que, por sua

    vez, remete a antigos e recentes debates na Antro-

    pologia sobre o dilema do cientista-observador (o

    sujeito) ser uma pessoa como tambm so os indiv-

    duos da sociedade estudada (o objeto de estudo).

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    lgica cultural e a traduzia para o leitor de sua soci-

    edade de origem [Beattie 1964, Evans-Pritchard

    1962, Lvi-Strauss 1969(1962)].

    Sob o impacto de abordagens crticas marxis-

    tas e ps-modernistas, a partir de fins dos anos de

    1960, levantaram-se inmeros problemas com esta

    viso simplista da pesquisa antropolgica. Em pri-

    meiro lugar, o que o antroplogo como um estra-

    nho pode ganhar em objetividade ele perde em

    compreenso. O modo de vida to diferente do

    seu que o antroplogo alcana apenas um nvel

    superficial de proficincia cultural. Este proble-

    ma foi solucionado parcialmente em dcadas re-

    centes atravs da formao de nativos no-oci-

    dentais como antroplogos e pelo crescente in-

    teresse de antroplogos de pases ps-industriais

    na sua prpria sociedade. Isso tambm resolve

    outro problema histrico do antroplogo ser um

    representante ou mesmo colaborador do imperia-

    lismo europeu. Por outro lado, formar antroplo-

    gos para estudar sua prpria cultura no resolve

    necessariamente a questo de origem de classe

    social do cientista e seus preconceitos perante uma

    populao de outra classe social que vive em reas

    ou regies diferentes da sua. Uma alternativa pro-

    posta de complementar ou mesmo substituir o

    narrativo unifocal do cientista por narrativos poli-

    smicos, dando voz populao local (Clifford

    1986, Geertz 1973, Hymes 1969). Assim sendo,

    houve amplos debates sobre como etnografias

    podiam melhor retratar a diversidade cultural do

    mundo, mas apesar de todos os problemas episte-

    molgicos apontados, no se abandonou comple-

    tamente a objetividade para mergulhar no relati-

    vismo subjetivo e nem no narcismo antropolgi-

    co. Pelo contrrio, destacaram-se a complexida-

    de do processo de produzir etnografias e da ne-

    cessidade de controlar e compensar para a subje-

    tividade do etngrafo visando a alcanar uma ob-

    jetividade cientfica em outro plano (Bourdieu

    1977, p.1).

    Contudo, outro problema metodolgico mais

    intratvel surgiu na Antropologia em decorrncia

    das crticas objetividade, de forma semelhante

    ao que ocorreu antes na Geografia. Nos anos de

    1980 abriu-se uma divisa epistemolgica entre a

    Antropologia Cultural e a Antropologia Fsica. A

    Antropologia Fsica no s se manteve fiel ao

    modelo modernista da Cincia como abraou no-

    vas tecnologias de preciso quantitativa e expli-

    caes reducionistas das Cincias Naturais, ten-

    dncia epistemolgica no sentido contrrio mai-

    oria dos antroplogos culturais. Como ocorreu

    na Geografia, rompeu o holismo tradicional da

    disciplina a ponto de dividir departamentos e de

    extinguir disciplinas comuns a toda a Antropolo-

    gia (Holloway 2002, Moore 2004). Assim sen-

    do, durante a ltima fase crtica das Cincias Soci-

    ais, houve forte convergncia de interesses entre

    Geografia Cultural-Humana e a Antropologia Cul-

    tural-Social em torno do estudo de cultura e do

    uso de mtodos etnogrficos, mas em detrimento

    da unio interna das duas cincias. Ficou eviden-

    te, nos anos de 1990, que essa tendncia enfra-

    queceu a Geografia e a Antropologia na sua capa-

    cidade de tirar melhor proveito de novas oportu-

    nidades que surgiram na rea ambiental bem como

    na sua capacidade para combater o emergente

    determinismo gentico-psicolgico no Neo-Da-

    rwinismo.

    Assim sendo, analisando a interao entre ge-

    grafos e antroplogos atravs do tempo, deve-

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 2007 11

    mos esperar que haja maior convergncia de inte-

    resses e, portanto, colaborao durante fases crti-

    cas/no-modernistas do pensamento cientfico.

    Nessas fases so enfatizadas diversidade cultural e

    ambiental no mundo e epistemologias baseadas em

    modelos fenomenolgicos, envolvendo interao

    perceptiva entre o sujeito e o objeto que necessi-

    tam de metodologias mais qualitativas, seno et-

    nogrficas.

    CONVERGNCIA E DIVERGNCIA HISTRICA ENTRE A

    GEOGRAFIA E A ANTROPOLOGIA _________________

    Evoluo Biosocial

    Na segunda metade do sculo XIX, a Geografia

    e a Antropologia surgiram como reas cientficas

    produzindo anlises especializadas sobre diferen-

    tes partes do mundo que eram relativamente mais

    aprofundadas e comparativas de que os relatos de

    viajantes e naturalistas. Este processo se deu den-

    tro do paradigma multidisciplinar do Evoluciona-

    lismo Biosocial, envolvendo pioneiros das Cin-

    cias Naturais e Humanas, como Compte, Darwin,

    Maine, Morgan, Spencer, Tylor e Wallace, e, ten-

    do como proponentes na Geografia, Bryce, Hun-

    tington, Semple e Taylor.

    Buscando nas Cincias Inorgnicas uma epis-

    temologia racionalista, postularam um modelo

    universal de leis de seleo natural e social que

    regram a evoluo da vida terrestre, incluindo a

    histria da humanidade dentre a histria da natu-

    reza, mas dominante a ela. Admite-se que o com-

    portamento social e a capacidade fisiolgica do

    homem evoluem juntos, num mesmo ritmo, de

    forma gradativa, acumulativa e progressiva. um

    processo de crescimento orgnico, passando do

    estgio da infncia adolescncia e, finalmen-

    te, maturidade cultural. Assim sendo, caado-

    res selvagens so encarados como crianas que

    permaneceram num estgio prximo aos animais,

    com pouca modificao cultural, desde o surgi-

    mento dos primeiros homens na face da terra, ten-

    do, assim, muito pouca capacidade intelectual. No

    estgio seguinte, os brbaros, praticando agro-

    pecuria rudimentar e tendo atingido um certo

    grau de avano cultural, chegaram fase da ado-

    lescncia. Os civilizados europeus, por sua vez,

    foram os que desenvolveram uma alta cultura ma-

    dura, baseada na vida urbano-industrial [Darwin,

    1952(1859, 1870), Morgan 1969(1870), Tylor

    1970(1871), 1888].

    Tendo alcanado a maturidade, cabia aos civi-

    lizados europeus (e talvez norte-americanos) li-

    derar ou mesmo substituir os povos menos evolu-

    dos, justificando, dessa forma, o racismo e o pro-

    jeto imperial da poca. Dentro da diviso do tra-

    balho cientfico emergente, as Cincias Sociais

    Sistemticas analisavam a sociedade da metrpole

    enquanto a Geografia e a Antropologia desempe-

    nharam papis complementares, mas no necessa-

    riamente inter-relacionados, no imperialismo do

    alm-mar.

    A Geografia explicava em termos climticos

    porque os europeus e seus descendentes, vivendo

    em zonas temperadas, eram superiores s outras

    raas do mundo (Figura 5) e quais eram as estrat-

    gias para explorar as regies do mundo no-pro-

    pcias para colonizao europia direta (Figura

    6)(Crush 1994, Heffernan 1994, Livingston 1994,

    Soubeyran 1994).

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 200712

    Ao mesmo tempo, antroplogos, principalmen-

    te britnicos e franceses, comearam a atuar em

    suas colnias, conhecendo os hbitos das popula-

    es locais para poder evitar conflitos e regimen-

    tar a fora de mo-de-obra local para a extrao

    de matria prima para a metrpole. Em papel se-

    melhante, internamente aos Estados Unidos, os

    primeiros antroplogos americanos atuaram junto

    populao indgena na fase final da expropria-

    o de suas rea para dar lugar a atividades agrco-

    las e mineradoras (Harris 1968, Stocking 1968,

    Wolf 1982).

    Embora compartilhassem do mesmo paradig-

    ma cientfico e tivesse nascido como cincias im-

    periais, havia pouco intercmbio direto entre ge-

    ografia e antropologia que se explica pela forte

    componente ambiental na Geografia da poca. A

    dimenso ambiental era praticamente ausente na

    Antropologia e a atitude perante aos gegrafos

    passou da indiferena ao embate nos anos de 1920

    quando a publicao de The Character of Races de

    Huntington foi recebida com frieza e hostilida-

    de respectivamente por Boas e Kroeber (Livin-

    gston 1994).

    FIGURA 5 MAPEAMENTO DA SUPERIORIDADE EUROPIA, 1924

    A intelectuais eminentes por 10.000 habitantes, B sade, C nvel de civilizao, D energia

    climtica.

    Fonte: Huntington in Livingston (1994, p.142).

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 2007 13

    FIGURA 6 ESTRATGIA IMPERIAL NA FRICA VISTA PELO DETERMINISMO AMBIENTAL, 1905.

    Fonte: Johnston in Binns (1994, p.52)

    Marxismo Clssico

    Da segunda metade do sculo XIX ao incio do

    sculo XX, o Marxismo Clssico foi paradigma cr-

    tico alternativo ao Evolucionismo Biosocial e com-

    partilhou com este alguns conceitos. Marx, En-

    gels, Kautsky e Lnin seguem o pensamento evo-

    lucionista de sua poca, porm, de natureza estri-

    tamente social e sem consideraes bio-ambien-

    tais. Propem um modelo de vrios estgios pr-

    capitalistas histricos, dos caadores e pescadores

    aos sistemas agrrios feudais, que, eventualmente,

    podiam ser pulados atravs da colonizao euro-

    pia, esta no estgio do capitalismo industrial. Para

    se alcanar o estgio mais avanado, o do socialis-

    mo, seria imprescindvel passar pelo capitalismo

    industrial, seguindo, portanto, um modelo de

    mudana cultural unilinear. Entretanto, no Mar-

    xismo Clssico, sustenta-se que o ritmo da evolu-

    o humana apresenta momentos de mudanas

    bruscas na passagem de um estgio a outro atravs

    de revolues seguidas pela conseqente substi-

    tuio de instituies sociais e ideologias do modo

    de produo anterior pelas do estgio superior

    atingido [Engels 1972 (1880), 1972 (1884), Marx

    1967 (1867-94), Marx e Engels 1952 (1848)].

    Apesar da importncia posterior, esta linha

    de pensamento evolucionista radical teve pou-

    ca influncia direta nas disciplinas emergentes

    da Geografia e da Antropologia, mesma tendo

    significativa influncia no Marxismo. Em par-

    ticular, Marx e Engels incorporaram as idias

    de Morgan para atualizar suas esquemas evo-

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 200714

    lucionistas elaboradas na dcada de 1840 [En-

    gels 1972(1884), Marx 1971(1844), Marx

    1972(1880-82)]. Tambm havia forte dimen-

    so geogrfica nas teorias sobre expanso ca-

    pitalista e imperialismo de Lnin 1971(1916)

    e Bukharin e Luxemburg 1972(1926). Final-

    mente, as idias sobre a cultura e a ideologia

    em sociedade capitalista avanada da Escola de

    Frankfurt e de Gramsci do perodo entre as

    Guerras Mundiais tambm podiam ter sido de

    grande relevncia Geografia e Antropolo-

    gia da poca, mas no teve por razes polti-

    cas (Jay 1973, Jenks 1993).

    Contudo, no houve influncia direta do

    Marxismo na Geografia e na Antropologia por-

    que estas surgiram para servir e justificar o im-

    perialismo e no para critic-lo. Tambm deve

    ser lembrado que antes da implementao do

    Estado do Bem Estar nos pases capitalistas em

    meados do sculo XX, a universidade era re-

    cinto da elite social cujo papel era preservar

    e justificar o status quo e no derrub-lo. As-

    sim sendo, a reao acadmica ao marxismo

    nas duas disciplinas geralmente era contrria:

    por razes polticas no Evolucionismo e Fun-

    cionalismo e por razes epistemolgicas no

    Difusionismo. Somente o Neo-Marxismo do

    perodo ps-1967 teve ressonncia maior nas

    duas disciplinas em contexto universitrio e

    social bastante diferente (veja Hobsbawn,

    1994, cap. 11).

    Difusionismo Cultural

    O Difusionismo Cultural, por sua vez, apresentou

    um quadro de significativa colaborao entre gegra-

    fos e antroplogos. Esta escola de pensamento cien-

    tfico surgiu nas ltimas dcadas do sculo XIX, como

    alternativa intelectual alem ao Evolucionismo e ao

    Funcionalismo de seus rivais imperiais. O contexto

    de crise econmica e de expanso para as colnias

    neste perodo imprimiu uma nfase na diversidade

    cultural e ambiental do mundo, na agncia de proces-

    sos espaciais (em lugar da evoluo unilinear) e na

    descrio etnogrfica qualitativa (Figura 7).

    Num primeiro momento, Ratzel foi o grande

    proponente desta linha de pensamento. Fundou

    a Geografia Humana e a Etnologia na Alemanha,

    ocupando uma posio semelhante de seu gran-

    de rival Durkheim no Funcionalismo francs. Na

    obra Vlkerkunde, publicada em 1885-88, e, dife-

    rentemente de seus outros trabalhos, rapidamente

    traduzida para ingls (The History of Mankind: Princi-

    ples of Ethnography, 1896), Ratzel apresenta ambici-

    osa etnologia espacializada do mundo, ricamente

    documentada e ilustrada, que se tornou texto b-

    sico na rea (Tyler 1896, p.v). Na obra, Ratzel

    oferece uma teoria difusionista alternativa ao Evo-

    lucionismo dominante na Cincia desde os anos

    de 1850. O Evolucionismo criticado por tirar

    concluses precipitadas, baseadas em afirmati-

    vas prematuras, pouco testadas, sobre a superio-

    ridade racial europia, sem a devida ateno di-

    versidade etnogrfica no mundo (p.15-17).

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 2007 15

    FIGURA 7 - EVOLUO VERSUS DIFUSO COMO MODELOS ALTERNATIVOS DE TRANSFORMAO CULTURAL

    Todavia, os gegrafos da poca ignoraram a

    Vlkenkunde e continuem a ignorar a obra at hoje

    enquanto as outras obras de maior impacto na

    Geografia nunca foram traduzidas de forma satis-

    fatria para o ingls ou francs, fazendo com que

    Ratzel seja visto de forma distorcida na Geografia

    atravs do determinismo ambiental evolucionista

    de Semple ou pela posterior geopoltica nazista

    (Bassin 2004, Sanguin 2004). H muito, Hartshor-

    ne tambm fez observao semelhante a respeito

    da leitura equivocada de Semple e Huntington

    sobre as obras de Ratzel (Hartshorne 1939).

    Ao mesmo tempo que no teve nenhum im-

    pacto sobre a Geografia, a Vlkenkunde serviu de

    grande inspirao para vrias geraes de etnlo-

    gos alemes, tais como Ankermann, Frobenius,

    Graebner e Schmidt, que elaboraram esquemas de

    difuso no mundo a partir de complexos e crcu-

    los culturais (kulturkreis), identificando quatro tipos

    de complexos: 1) caadores, 2) caadores avan-

    ados, pastores e agricultores, 3) agricultores se-

    dentrios e 4) alta civilizao [Harris, 1968; Pen-

    niman, 1965(1935)]. Na verdade, apesar do em-

    bate entre Tyler e Ratzel, que representaram res-

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 200716

    pectivamente sucessivas abordagens tericas con-

    flitantes, o Difusionismo alemo pode ser consi-

    derado uma extenso espacial do Evolucionismo

    uma vez que tenta explicar como inovaes tec-

    nolgicas e sociais disseminadas entre povos que

    aceleram o ritmo da evoluo cultural. Assim sen-

    do, mesmo se Hartshorne (1939) e Sanguin (2004)

    so da opinio que Ratzel fundou a Geografia Cul-

    tural-Humana, seu lado etnogrfico serviu mais para

    inspirar antroplogos do que gegrafos, fato este

    que se repete em outros momentos de colabora-

    o entre as duas disciplinas quando da passagem

    de sintagmas particularistas para paradigmas uni-

    versalistas na Cincia.

    Alm disso, o contexto poltico da prtica cien-

    tfica mudou radicalmente na Alemanha durante o

    sculo XX. Se, por um lado, a Geografia e a Etno-

    logia Alem receberam grande estmulo pelo pro-

    cesso de unificao nacional em 1870 e pelo sub-

    seqente impulso imperialista para o alm-mar, uma

    srie de golpes no sculo XX cortou seu desenvol-

    vimento. Com a derrota na Primeira Guerra, a Ale-

    manha perdeu suas poucas colnias e assim o imp-

    rio como objeto de estudo das duas disciplinas. Em

    seguida, os gegrafos alemes passam longo pero-

    do afastado da Unio Geogrfica Internacional em

    retaliao ao seu papel na Primeira Guerra. O gol-

    pe final a ascenso nazista que quase destri a

    Cincia no pas (Hobsbawn 1994, Sandner e Rs-

    sler 1994, Taylor 1985). Hoje a Geografia e a

    Antropologia na Alemanha so uma sombra de que

    eram no passado e do que so estas disciplinas nos

    Estados Unidos, na Frana e na Inglaterra, pases

    cujos projetos imperiais tiveram maior sucesso.

    Antes da dbcle alem do sculo XX, contudo,

    o pensamento difusionista foi levado para os Esta-

    dos Unidos por Franz Boas, gegrafo fsico ale-

    mo, que, rejeitando os princpios do determinis-

    mo ambiental, tornou-se antroplogo cultural,

    disseminando suas idias entre intelectuais norte-

    americanos. Na Universidade da Califrnia, em

    Berkeley, formou-se o principal centro do Difusi-

    onismo Cultural nos Estados Unidos, promovido

    por seus discpulos Kroeber e Lowie e em intenso

    intercmbio com Sauer, tambm influenciado pelo

    pensamento geogrfico e filosfico alemo.

    No perodo de crise de 1914 a 1945, antrop-

    logos e gegrafos desenvolveram uma linha difu-

    sionista idiogrfica e particularista, tomando uma

    viso holstica de cultura como base terica para

    travar uma implacvel crtica ao determinismo

    ambiental, econmico e bio-racial do Evolucio-

    nismo e ao determinismo orgnico-social do Fun-

    cionalismo. Para eles, cada cultura possui uma

    configurao especfica e, portanto, nica. Po-

    vos vizinhos podem compartilhar elementos cul-

    turais em comum em funo de um processo imi-

    tativo e de contato que se desenrola atravs do

    tempo. Os novos elementos adotados so adicio-

    nados de forma aleatria ao tecido social, expres-

    sando uma paisagem cultural, que por sua vez

    construda em cima de uma paisagem natural que

    pode influenciar mas no determinar a paisagem

    cultural. A cultura, assim tratada, no um corpo

    social orgnico composto por partes integradas

    como nos modelos evolucionistas e funcionalistas

    [Kroeber 1962(1922/1948), Lowie 1970(1920),

    Sauer 1963(1925)].

    A viso particularista limita as generalizaes

    de processos espaciais e temporais. No mximo,

    foram delineadas reas culturais, com povos de

    estilos de vida semelhantes que so estudados com

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 2007 17

    base da histria local de grande profundidade tem-

    poral. Conseqentemente, o conhecimento da

    histria universal e de complexos culturais de gran-

    de extenso geogrfica esto fora de cogitao,

    como tambm o dualismo etnocntrico que divi-

    de o mundo em sociedades tradicionais simples e

    sociedades modernas complexas [Boas 1966(1887-

    1939), Kroeber 1952(1901-1951) Lowie

    1970(1920)].

    Aps 1940, a escola difusionista perde fora,

    cedendo lugar ao Funcionalismo Estrutural, e de-

    pois ao Estruturalismo, paradigmas que provm do

    Funcionalismo francs de Durkheim e la Blache.

    A Geografia perde sua dimenso histrica, quase

    que elimina questes ambientais e progressivamen-

    te elimina a descrio etnogrfica em favor da

    quantificao analtica, o que afasta a disciplina da

    Antropologia que se mantm fiel ao holismo cul-

    tural at a dcada de 1980.

    Funcionalismo Evolucionista e Esttico

    Contemporneo ao Difusionismo, o Funciona-

    lismo data do fim do sculo XIX, retomando, ex-

    plicitamente, um paradigma modernista nas Cin-

    cias Naturais e Humanas. Cientistas sociais como

    Durkheim, Freud, Marshall, Mauss e Weber, e so-

    bressaindo na Geografia Vidal de la Blache e De-

    mangeon, utilizaram-se modelos evolutivos, mas

    de forma mais implcita do que explcita, para ex-

    plicar a estrutura da sociedade industrial europia

    e o relacionamento entre regies no mundo. H

    reviso do modelo orgnico da sociedade do Evo-

    lucionismo, mas mantm-se sua funo poltica

    como justificativa da estrutura de classe em socie-

    dades complexas (industriais) como tambm o

    domnio dessas das sociedades simples (no-oci-

    dentais) [Durkheim 1964 (1893)]. Introduzem-

    se descries quantitativas, utilizando a matem-

    tica e a estatstica dentro das possibilidades de sua

    aplicao, na poca, aos fenmenos sociais [Du-

    rkheim 1964(1895), 1966(1897)].

    Surgiu intenso debate entre Durkheim e Rat-

    zel na LAnne sociologique, no fim da dcada de

    1890, que deixa clara a rejeio influncia do

    ambiente e da constituio biolgica na vida

    humana em favor do determinismo social que

    marcar quase todo o sculo XX (Figura 8). As

    resenhas crticas do Durkheim s obras Anthro-

    pogeographie, Politische Geographie, Der Staat und sein

    Boden geographisch beobachtet, Das Meer als Quelle der

    Voelkergroesse e Der Urspring und die Wanderungen der

    Voelker geographisch betrachter (mas curiosamente no

    a Vlkerkunde) provocaram uma resposta do Rat-

    zel na qual ele prope um modelo de mltiplas

    influncias na sociedade, inclusive a do ambi-

    ente. Isso rejeitado por Durkheim que insiste

    na primazia da conscincia coletiva, da mor-

    fologia social e da sociedade no comporta-

    mento de indivduos (Durkheim 1896-97, 1897-

    8, 1998-99, 1900, Ratzel 1898-99).

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 200718

    FIGURA 8 DETERMINISMO SCIOCULTURAL VERSUS REDUCIONISMO.

    Maior dissociao do Evolucionismo e do

    Difusionismo ocorre com o abandono de an-

    lises diacrnicas, estabelecendo-se o Funcio-

    nalismo Esttico de Boeke, Fevre, Malinowski

    e Radcliffe-Brown, e dos gegrafos Barrows,

    Gautier, Gourou e Robequain. Enfatizam-se os

    estudos sincrnicos de relaes entre institui-

    es sociais, num determinado momento e em

    lugares especficos, deixando de lado proces-

    sos histricos que produziram a realidade sen-

    do estudada. Atuantes durante o auge do sis-

    tema colonial, nos anos de 1920 e 1930, pro-

    moveram um grande nmero de estudos de ca-

    sos em diferentes regies do mundo, procuran-

    do-se entender melhor as sociedades nativas, a

    fim de fornecer subsdios para uma administra-

    o colonial e apartheid social mais racional

    (Radcliffe-Brown 1950, Soubeyran 1994, Tho-

    mas 1994, Shapera 1948).

    A migrao disciplinar de C. Daryll Forde

    exemplifica bem o intenso intercmbio entre ge-

    grafos e antroplogos deste perodo e como isso

    foi rompido aps 1945. Forde (1925) comeou

    sua carreira como gegrafo humano seguidor de

    Vidal de la Blache, mas, em funo de seu trata-

    mento etnogrfico de povos no-ocidentais [For-

    de 1963(1934), Forde e Kaberry 1967, Radcli-

    ffe-Brown e Forde 1950) no ps-guerra, ele acaba

    no Departamento de Antropologia Social da Lon-

    don School of Economics, junto com o econo-

    mista Raymond Firth que tambm fez migrao

    disciplinar semelhante em funo de seus interes-

    se nas economias de povos primitivos. Os dois

    casos mostram como a forte diviso do trabalho

    cientfico emergindo no somente cortou o inter-

    cmbio entre a Geografia e a Antropologia, mas

    tambm obrigou indivduos a se encaixar nos seus

    devidos lugares institucionais. No estilo, a maior

    obra de Forde, Habitat, Economy and Society, lembra

    muito Vlkerkunde de Ratzel, estilo que em fase

    modernista mais uma vez empurrado para a An-

    tropologia porque tratam-se de povos irrelevan-

    tes no cenrio mundial, de forma descritiva, pou-

    co cientfica.

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 2007 19

    Funcionalismo Estrutural e Estruturalismo

    O Funcionalismo Estrutural teve como repre-

    sentantes Fortes, Lewis, Merton, Myint, Parsons,

    Radcliffe-Brown e Rostow, e, na Geografia,

    Hartshorne e George, que realizaram um aprimo-

    ramento conceitual do Funcionalismo. Nesse pa-

    radigma empiricista, o fenmeno observado, se-

    jam atividades econmicas, padres regionais ou

    instituies sociais, considerado o resultado de

    fatores abstratos e estes tornam-se o foco da in-

    vestigao cientfica. Inicialmente, houve nfase

    em processos sincrnicos, envolvendo a inter-re-

    lao dos fatores identificados, porm, a dimen-

    so temporal foi retomada na formulao de esque-

    mas evolucionistas, fundamentando a passagem da

    sociedade agrria tradicional para a sociedade in-

    dustrial moderna. Entretanto, admitia-se a coexis-

    tncia destas sociedades num mesmo espao e tem-

    po de forma dualista nas colnias e ex-colnias.

    Ao contrrio do perodo anterior, marcado por

    expressiva colaborao entre gegrafos e antro-

    plogos, na maneira que firmava cada vez mais na

    Geografia o determinismo econmico e a nfase

    no estudo de sociedades urbano-industrais ou da

    modernizao de sociedades tradicionais, por um

    lado, e o estudo de sociedades tribais e secundari-

    amente camponesas na Antropologia, por outro,

    houve progressivo distanciamento de interesses

    entre ambas partes.

    O Estruturalismo surgiu do trajeto do Funcio-

    nalismo Estrutural, procurando um maior rigor fi-

    losfico e metodolgico de seus conceitos bsi-

    cos. Teve como seus representantes von Butter-

    fly, Chomsky, Hirschman, Lvi-Strauss, Leontief

    e Piaget, e, na Geografia, Berry, Friedmann, Ha-

    ggett e Harvey. O Estruturalismo foi um paradig-

    ma racionalista no qual o fenmeno emprico ob-

    servado produto de uma combinao de limita-

    do nmero de princpios abstratos, envolvendo

    sistemas de foras e estruturas profundas, ocultos

    aos membros da sociedade.

    Como no Funcionalismo Estrutural, h nfase

    no estudo da inter-relao de fatores, porm, ago-

    ra, analisa-se o relacionamento estrutural de dife-

    rentes campos de relaes, as relaes entre rela-

    es. Advoga-se uma metodologia positivista

    matemtico-quantitativa na descrio e classifica-

    o de fenmenos sociais e na formulao de hi-

    pteses de correlao de foras, aplicadas a mo-

    delos de naturezas das mais variadas, tanto aos de

    trocas econmicas intersetoriais, quanto s anli-

    ses cosmolgicas de mitologia primitiva [Gregory

    1978, Lvi-Strauss 1963(1958), 1972(1969), Pi-

    aget 1971(1968)].

    Abre nitidamente uma diviso do Estruturalis-

    mo em trs correntes a biofsical, a tecno-eco-

    nmica e a humanista cada uma com bases meto-

    dolgicas distintas mesma se compartilharam uma

    mesma linguagem terica. A corrente biofsica,

    baseada no reducionismo, atraiu os gegrafos e

    antroplogos fsicos, a tecno-econmica; baseada

    no determinismo congregou a grande maioria dos

    gegrafos humanos, e a humanista, baseada no

    determinismo cultural, atraiu a maioria dos antro-

    plogos sociais e culturais.

    Havia um pequeno grupo de antroplogos que

    aderiram ao determinismo tecno-econmico,

    como Harris (1968), Steward (1955) e White

    (1959) que tambm tinham interesse no ambien-

    te embora sua especializao em povos primitivos

    limitassem a possibilidade de intercmbio com

    gegrafos. Mais comum foi a colaborao em ques-

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 200720

    tes sobre desenvolvimento, que cada vez mais

    interessavam antroplogos trabalhando com po-

    pulaes camponesas, mas, inevitavelmente, ha-

    via embate sobre o etnocentrismo do significado

    do conceito de desenvolvimento (Geertz 1963,

    1973). Uma importante exceo foi a interao

    na rea de ecologia cultural entre gegrafos e an-

    troplogos australianos e americanos trabalhando

    na Oceania. Destaca-se o papel central de Ha-

    rold Brookfield nesta interao que depois ser uns

    dos fundadores da Ecologia Poltica (tratado abai-

    xo). Alm disso, havia alguns gegrafos, como

    Tuan (1974, 1977), que exploravam o Estrutura-

    lismo Humanista de influncia antropolgica, mas

    eram rariedades na era da Nova Geografia Quanti-

    tativa e da Geografia Crtica Marxista (Gregory

    1978). Mais raro ainda eram antroplogos inte-

    ressados em abordagens geogrficas sobre espa-

    o, como por exemplo Smith (1976).

    Neo-Marxismo

    O Neo-Marxismo, com seus representantes

    Althusser, Amin, Foster-Carter, Frank, Rey, Wal-

    lerstein e Wolf, e na Geografia Harvey, Peet, Soja

    e Taylor, foi, ao mesmo tempo, modernista e anti-

    modernista. Com suas bases modernistas, seguiu

    um modelo global de centro-periferia no qual as

    leis de acumulao de capital determinavam a do-

    minao do sistema mundial pelos pases capitalis-

    tas avanados. Por outro lado, sustentava que a

    histria no se repete em estgios evolutivos, ha-

    vendo uma grande variao temporal e espacial

    nos modos ou formas de produo gerados no

    mundo pela expanso e penetrao desigual do

    capitalismo, processo este que envolve, ora alian-

    a de modos de produo diferentes em certas

    regies, ora substituio em outras, de acordo com

    interesses imediatos mutveis no tempo [Frank

    1967, Godelier 1977(1973), Meillassoux

    1981(1975), Wallerstein 1979, Wolf 1982]. Rein-

    sere, assim, uma dimenso histrica nas anlises,

    geralmente a partir do surgimento do capitalis-

    mo, e tambm uma ampla dimenso espacial, abran-

    gendo processos mundiais, regionais e locais.

    Dentro de uma abordagem socioespacial cr-

    tica de um sistema mundial composto de regies

    e classes sociais desiguais, foram duramente cri-

    ticados os conceitos de cultura e de sociedade

    da Antropologia e da Sociologia. Alega-se que

    estes conceitos criam uma falsa imagem de con-

    juntos de povos existindo apartes e isolados his-

    toricamente como tambm ignoram a desigual-

    dade interna s sociedades. Para marxistas h di-

    ferentes formaes sociais no mundo, cada uma

    composta de diferentes classes ou segmentos so-

    ciais com padres de vida desiguais, expressando

    a complexidade histrica da sua insero no capi-

    talismo mundial (Frank 1967, Wallerstein 1979,

    Wolf 1982).

    Esta clssica nfase durante as fases da Cincia,

    crtica em diversidade e na interrelao de pases

    centrais e perifricos, rompeu as barreiras disci-

    plinares de forma que permitiu, seno colabora-

    o, pelos menos tolerncia e interesse mtuo

    entre a Geografia e a Antropologia. S no foi

    maior o intercmbio por causa da grande nfase

    em estudos urbanos contextualizados em estrutu-

    ras globais na Geografia (Harvey 1973, 1985,

    Armstrong e McGee 1985, Taylor 1989). Na

    Antropologia eram mais comuns estudos da inser-

    o de populaes perifricas-rurais no sistema

    capitalista e a Antropologia Urbana estava apenas

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 2007 21

    se iniciando e com forte enfoque local (Gutkind

    1974, Hannerz 1980).

    At 1980, o Neo-Marxismo focalizou mais as

    questes tecno-econmicas e polticas, praticamen-

    te, deixando de lado a cultura e ideologia, consi-

    derada, semelhante ao Estruturalismo, mera supe-

    restrutura dependente. A cultura assume maior im-

    portncia quando so retomados os antigos traba-

    lhos dos marxistas culturais da Escola de Frankfurt e

    de Gramsci. Destaca-se a importncia do controle

    do capital cultural na educao universal, na m-

    dia em massa e nos sistemas ideolgicos que pode

    ser to poderoso quanto a propriedade dos meios

    tecnolgicos de produo [Althusser 1971(1969),

    Bourdieu 1978(1973), Jenks 1993]. O surgimento

    de um Marxismo Cultural faz com que cresa o in-

    teresse em cultura na Geografia e em paisagens ur-

    banas na Antropologia promovendo maior inter-

    cmbio entre ambas. Cosgrove em particular abriu

    uma linha de contato direito sobre o estudo de pai-

    sagens, num primeiro momento ainda no Marxis-

    mo Cultural quando relaciona formao social pai-

    sagem simblica (1984) e depois quando passa para

    o Ps-Modernismo (1989, 1995). Na interao

    entre gegrafos e antroplogos na passagem de uma

    abordagem terica para outra, Cosgrove ocupa uma

    posio semelhante de Brookfield para a passa-

    gem do Estruturalismo Econmico Ecologia Pol-

    tica dando origem grande colaborao que existe

    hoje entre as duas disciplinas.

    CONVERGNCIA CONTEMPORNEA _______________

    Ps-Estruturalismo e Ps-Modernismo: Diversidade Cultural

    Comeando nos anos de 1970, mas ganhando

    maior fora a partir de 1980, ps-estruturalistas e

    ps-modernistas, como Foucault, Baudrillard, Cli-

    fford, Deleuze, Derrida, Lash, Lyotard e Marcus,

    e, na Geografia, Cosgrove, Daniels, Duncan e

    Gregory, criticaram o determinismo econmico

    dominante nas Cincias Sociais por longa data e

    retomaram a dimenso cultural em si mesma a par-

    tir de uma viso fortemente particularista. Embora

    hoje sendo um tanto ultrapassado conceitualmen-

    te, o Ps-Modernismo permanece como base dos

    atuais Estudos Culturais e da Teoria Cultural.

    No Ps-Modernismo, paradigmas modernis-

    tas, como o Estruturalismo e o Marxismo, so cri-

    ticados por serem deterministas e racionalistas,

    tratando o fenmeno observado como mero si-

    nal de uma significncia oculta, condicionado

    por estruturas profundas. Questionam a redu-

    o de cultura aos desejos inconscientes freudia-

    nos, gramtica da mente humana ou s leis do

    movimento de capital. Para o Ps-Modernismo,

    o fenmeno um texto de elementos justapo-

    sicionados numa superfcie em mutao cont-

    nua e para o qual h uma infinidade de interpre-

    taes individuais, que, por sua vez, podem ser

    alteradas em fluxos constantes (Lash 1990, Lyo-

    tard 1979, Rose 1991).

    Destaca-se a cultura como conceito base, mas

    agora com um sentido cognitivo, de viso do

    mundo. Desenvolvendo a idia marxista da di-

    ferenciao ideolgica segundo classe social, o

    Ps-Modernismo acrescenta uma multiplicida-

    de de vises de mundo, de acordo com critri-

    os de gnero, etnicidade, grupo etrio e regio,

    que imprimem diferentes significados ao meio

    vivido, criando enorme diversidade de paisa-

    gens culturais, cada uma com um simbolismo

    prprio (Figura 9).

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 200722

    FIGURA 9 CULTURA FRAGMENTADA.

    Com a extenso de abordagens culturais a quase

    todas as reas de sua disciplina, os gegrafos vol-

    tam suas atenes ao eixo epistemolgico tradicio-

    nal, Antropologia, num momento quando os an-

    troplogos travam intensos debates sobre a legiti-

    midade do conceito de cultura e sobre novos m-

    todos etnogrficos (Clifford e Marcus 1986, Gu-

    deman e Rivera 1989, Kahn 1989, Plsson 1993,

    Rabinow 1989, Tyler 1989) que so citados com

    freqncia por gegrafos (Crush 1994, Gregory

    1994, Mitchell 2000, Shurmer-Smith 2003, Thrift

    2000). Por outro lado, o maior interesse em macro

    e micro processos espaciais na Antropologia e nas

    outras Cincias Humanas faz com que as obras de

    gegrafos como Cosgrove (1984, 1989), Cosgro-

    ve e Daniels (1988), Harvey (1989, 1996) e Soja

    (1989, 1996) sejam incorporadas. Ao mesmo tem-

    po, interpretaes geogrficas entram em espaos

    tradicionalmente antropolgicos como o espao

    domstico da casa e at o espao sexual do corpo

    humano (Tuan 2004) vindo ao encontro da maior

    preocupao de antroplogos em fazer interpreta-

    es mais sistemticas destes espaos (Carsten e

    Hugh-Jones 1995).

    Ecologia Poltica: Cultura e Ambiente

    Em outra frente de colaborao entre a Geo-

    grafia e a Antropologia, sobre questes ecolgi-

    cas e de desenvolvimento, a Ecologia Poltica con-

    figurou-se, aps 1985, como um novo paradigma

    nas Cincias Humanas com grande potencial para

    superar a diviso entre elas e as Cincias Biofsi-

    cas. Em sentido contrrio da crescente separao

    interna e perda do holismo durante as ltimas d-

    cadas na Geografia e na Antropologia, a Ecologia

    Poltica promove a integrao interna das duas

    disciplinas, a interao entre elas e ainda o inter-

    cmbio com as demais cincias. Aps dcadas do

    particularismo fenomenolgico, a Ecologia Pol-

    tica despontou como um paradigma empirista a

    partir da convergncia de questes levantadas no

    Ambientalismo, no Neo-Marxismo e no Ps-Mo-

    dernismo, tendo como representantes Atkinson,

    Chambers, Gare, Merchant, Pepper e Redclift, e

    na Geografia Blaikie, Brookfield, Robbins, Sim-

    mons e Zimmerer.

    Do Ambientalismo, a Ecologia Poltica incor-

    pora a forte preocupao com a degradao do

    ambiente natural e seus recursos. Defronta-se com

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 2007 23

    crticas ideologia e viso do mundo urbano-in-

    dustrial, que tornam-se base s presses e aes

    polticas de movimentos sociais e entidades no-

    governamentais, atuando do nvel global ao local.

    Provm do Neo-Marxismo o mtodo analtico his-

    trico conjugado ao tema dos processos da ex-

    panso e transformao do sistema capitalista em

    escala mundial que gera desigualdades sociais e

    regionais. Finalmente, do Ps-modernismo tem-

    se o interesse pela diferenciao cultural interna

    das sociedades e em particular a marginalizao

    poltica e cultural de grupos sociais especficos.

    Assim sendo, na Ecologia Poltica problemas de

    degradao ambiental e de desigualdade social so

    vistos como duas faces da mesma questo central

    da disputa pelo acesso e controle de recursos

    (Atkinson 1991, Merchant 1992, Pepper 1996,

    Paulson et. alli. 2003, Robbins 2004, Zimmerer e

    Basset 2003).

    A conjuno destas questes faz com que a

    Ecologia Poltica se distinga pelo seu forte poder

    de sntese das crticas sociais e ambientais, geran-

    do um modelo interativo, desafiando a Cincia

    integrao de suas reas sistemticas de investiga-

    o, um movimento contrrio tendncia de es-

    pecializao disciplinar que data desde fins do s-

    culo XIX. Centro de suas caractersticas a preo-

    cupao em integrar, numa mesma investigao,

    uma viso holstica de modos de vida locais, com-

    postas da sinergia das sustentabilidade ecolgica,

    econmica, poltica e sociocultural, mas inseridas

    em escalas diferentes de anlise espacial, decor-

    rentes no apenas de consideraes metodolgi-

    cas de como tratar um problema, mas, tambm,

    visando ao poltica de interveno na socie-

    dade (Chambers 1994, Sachs 1989).

    Como esta abordagem trabalha de forma deta-

    lhada tanto no eixo espacial quanto no eixo cultu-

    ral era para esperar grande colaborao entre ge-

    grafos e antroplogos que de fato ocorre. Am-

    bas as disciplinas servem como modelos de pes-

    quisa holstica que as disciplinas sistemticas devi-

    am imitar e no vice versa. H grande demanda

    para gegrafos e antroplogos para atuar na rea

    ambiental e cultural em projetos e outras aes

    visando ao desenvolvimento sustentvel uma vez

    que eles conseguem como nenhum especialista das

    cincias sistemticas integrar informaes fsicas,

    biolgicas e humanas. O futuro no podia parecer

    mais promissor para um rico intercmbio entre as

    duas disciplinas e para a trans-disciplinariedade em

    geral. Infelizmente, as aparncias enganam.

    DIVERGNCIA E MARGINALIZAO NO

    NEO-DARWINISMO __________________________

    Apesar do grande sucesso alcanado na prtica

    inter-disciplinar na Ecologia Poltica e no Ps-Mo-

    dernismo, num nvel terico mais profundo, o ad-

    vento da Psicologia Evolucionista nos anos de 1990

    promoveu o rompimento definitivo da barreira en-

    tre o estudo de fenmenos naturais e culturais que

    dividem as Cincias Biofsicas e Humanas em cam-

    pos distintos h quase um sculo, surgindo novo pa-

    radigma racionalista trans-disciplinar: o Neo-Darwi-

    nismo. O advento do Neo-Darwinismo marca a cres-

    cente hegemonia da Biologia que a partir de seus

    avanos tericos e tecnolgicos tornou-se a cincia

    paradigmtica a ser imitada pelas demais disciplinas

    do conhecimento como acontecia com a Fsica no

    passado recente (Hobsbawn 1994, Wilson 1998).

    No campo do comportamento humano, os neo-

    darwinistas resgatam a tese principal dos etlogos

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 200724

    dos anos de 1960, aprimorada nos anos de 1970

    pelo bilogo Edward Wilson (1974, 1978), de que

    o comportamento humano fruto de milhes de

    anos de co-evoluo biolgica-cultural. Ao buscar o elo

    entre as bases bioqumicas e o comportamento

    humano observado, dos genes com os memes (os

    elementos mais bsicos culturais), neo-darwinis-

    tas, como Pinker (1997), Plotkin (1993) e Wilson

    (1998), propem explicaes extremamente re-

    ducionistas que so rejeitadas pela maioria dos ci-

    entistas sociais (veja as coletneas crticas organi-

    zadas por Aunger 2000 e por Rose e Rose 2001).

    significante que a Psicologia sirva como elo

    entre as Cincias Biofsicas e Humanas e no a An-

    tropologia ou a Geografia, embora sejam estas disci-

    plinas que, historicamente, estudaram a evoluo

    humana fsica e cultural. Atualmente, a Antropolo-

    gia e a Geografia seguem epistemologias e teorias

    culturais contrrias ao reducionismo biolgico en-

    quanto a Psicologia, aproxima-se da Biologia episte-

    mologicamente e metodologicamente. Na Psicolo-

    gia empregam-se modelos bio-genticos reducionis-

    tas nos quais procura-se generalizar sobre a natureza

    universal da mente humana a partir do mapeamento

    cerebral de indivduos no mesmo tempo que a Bio-

    logia procura relacionar os mapeamentos do geno-

    ma humano ao comportamento de indivduos (Be-

    nhall 1998, Fish 1997, Mithan 1995, Wilson 1998).

    Para engajar as teses neo-darwinistas preciso

    ter algum conhecimento da evoluo humana. To-

    davia h muito a Geografia Humana deixou de tra-

    tar assuntos que requerem grande profundidade his-

    trica, fato este j lamentado por Sauer no seu en-

    saio famoso sobre a Grande Retirada [1963(1941)].

    Os gegrafos fsicos ainda estudam fenmenos an-

    tigos mas de enfoque mais geolgico de que huma-

    no. S alguns, como por exemplo Atkins et. alli.

    (1998), Butzer (1964, 1992), Goudie (1981) e Sim-

    mons (1989), mantm interesse pela evoluo hu-

    mana enquanto a maioria de gegrafos deixa este

    assunto para os antroplogos. Contudo, como vi-

    mos acima, a Antropologia a partir dos anos de 1980

    tambm sofreu uma ciso fsico-cultural, fazendo

    com que novas geraes de antroplogos culturais

    no recebam o treinamento biofsico necessrio para

    mobilizar seus conhecimentos sociais de forma ho-

    lstica visando a rebater as teses neo-darwinistas

    Existe, entretanto, um importante grupo de

    antroplogos franceses, liderados por Bloch, Boyer

    e Sperber, que engaja o Neo-Darwinismo de for-

    ma construtiva ao ponto que pode ser considera-

    do parte do movimento. Criticam o conceito de

    meme como elemento mais bsico da cultura e

    propem no seu lugar outro mecanismo mais com-

    plexo de interao biolgica-cultural que se d ao

    nvel de indivduos. Utilizando analogias biom-

    dicas, advogam abertamente uma cincia natural

    da cultura e criticam o determinismo cultural de

    uma suposta conscincia coletiva, preferindo um

    modelo comportamental reducionista. As idias

    que compe a cultura se propagam e passam de

    pessoa a pessoa por um processo epidemiolgi-

    co (Bloch 2000, Bloch e Sperber 2002, Boyer

    1994, Sperber 1996). Utilizando conceitos e jar-

    ges biomdicos aparentemente inocentes, estes

    antroplogos franceses levam as Cincias Huma-

    nas ao encontro da Psicologia Evolucionista, que,

    por sua vez, faz a ponte para a Sociobiologia.

    Se tratasse de alguns antroplogos que ocu-

    pam uma posio marginal na sua disciplina, a co-

    laborao com o Neo-Darwinismo podia ser ig-

    norada. Contudo, Bloch, Boyer e Sperber so

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 2007 25

    antroplogos que ocupam posies de destaque

    ou exercem forte influncia nos renomados cen-

    tros de pesquisa da University of Cambridge, da

    University of London, do Centre National de la

    Recherche Scientifique e do Muse de lHomme.

    Alm disso, deve ser lembrado que praticamente

    todas as grandes inovaes tericas nas Cincias

    Humanas desde 1890 tiveram sua origem na Frana.

    Tudo isto, passa longe de qualquer tendncia

    terica ou especialidade geogrfica, inclusive da

    Geografia Mdica. Nem resta para a Geografia a

    tarefa de mapear a diversidade genmica no mun-

    do pois at isso os bilogos j domam, ao exem-

    plo de Cavalli-Sforza et. alli. (1994). Assim sendo,

    se os neo-darwinistas alcanam a Consilincia da

    Cincia por via do reducionismo biolgico ser

    com pouca ou nenhuma participao de gegra-

    fos. Contudo, existem outras formas do neo-da-

    rwinismo alm do reducionismo biolgico.

    Como ocorreu com o ltimo grande paradigma

    racionalista o Estruturalismo h vrias correntes

    paralelas no Neo-Darwinismo. Nas diferentes disci-

    plinas existe aplicaes de conceitos darwinistas na

    Astronomia (Zurek 2004), na Filosofia (Stein 1993)

    e na Poltica Econmica (Fukuyana 1995, Wolf 2004).

    nesta ltima que v a globalizao pelo determi-

    nismo econmico das redes tecnolgicas, da com-

    petitividade internacional e do Estado mnimo que

    existe um lugar para a Geografia dentro do paradig-

    ma maior. Por este caminho, porm, a disciplina

    durante a nova fase racionalista da Cincia se distan-

    ciar mais uma vez da Antropologia, provocando a

    indiferena por parte dos antroplogos neo-darwi-

    nistas ou o embate por parte dos antroplogos e

    gegrafos contrrios ao Neo-Darwinismo qualquer

    que seja a sua forma, biolgica ou econmica.

    DESTINO HISTRICO OU ECONOMIA POLTICA

    CULTURAL RADICAL? _________________________

    Este trabalho tentou mostrar quando e porque

    h colaborao entre a Geografia e a Antropolo-

    gia em certos momentos enquanto h embate ou

    indiferena em outros momentos. H intensa in-

    terao entre as duas disciplinas quando tm as-

    suntos de interesse mtuo estudados atravs de

    epistemologias semelhantes, h embate quando

    compartilham interesses semelhantes mas episte-

    mologias diferentes e h indiferena quando os

    interesses e epistemologias so completamente

    divergentes. Vimos que a Geografia e a Antropo-

    logia convergem em momentos de Cincia crti-

    ca quando prevalecem epistemologias fenomeno-

    lgicas que enfatizam diversidade cultural, proble-

    mas ambientais e mtodos etnogrficos aplicados

    em escala local. H divergncia quando a Geo-

    grafia utiliza epistemologias racionalistas nas quais

    propem-se modelos reducionistas e determinis-

    tas baseados na experincia dos pases centrais su-

    postamente aplicveis em qualquer lugar do mun-

    do (Tabela 1a, 1b).

    Desde meados dos anos de 1990 as Cincias

    Humanas e Biofsicas parecem caminhar num senti-

    do de uma grande consilincia em torno do para-

    digma racionalista do Neo-Darwinismo, envolven-

    do um processo de colonizao das demais disci-

    plinas por conceitos biolgicos que entram no jar-

    go acadmico como se fosse por osmose, sem a

    devida ateno sua origem, nem s suas implica-

    es epistemolgicas e polticas (Rose 2001). As-

    sim sendo, podemos perguntar se realmente ne-

    cessrio para a Geografia e a Antropologia aderi-

    rem ao novo paradigma para assegurar sua sobrevi-

    vncia disciplinar e se a adeso diferenciada das duas

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 200726

    TABELA 1A - CONVERGNCIA E DIVERGNCIA CONCEITUAL ENTRE A GEOGRAFIA E A ANTROPOLOGIA

    disciplinas levar divergncia de interesses como

    ocorreu em fases racionalistas do passado?

    O pensamento cientfico s fadado a repetir os

    mesmos erros do passado se os intelectuais envolvi-

    dos no tiverem nenhuma noo sobre processos

    histricos na Cincia. Tentou-se aqui esclarecer jus-

    tamente tais processos para no ficar preso tirania

    do modismo no pensamento cientfico que s valo-

    riza as idias do presente acadmico. Como essas

    idias se generalizam a partir de um passado recente,

    elas podem no corresponder mais realidade emp-

    rica no mundo em momentos de bruscas mudanas,

    como o caso desde 2000. Kuhn 1970 (1962) ca-

    racterizou como ocorrem revolues no pensamen-

    to cientfico mas deixou fora a questo de quando

    acontecem, esquivando da questo alegando que

    dependia de eventos externos Cincia.

    Os eventos mundiais dos ltimos quatro anos

    representam justamente uma mudana tectnica

    do contexto cultural em que a Cincia se insere,

    desafiando explicao pelo Neo-Darwinismo, Eco-

    logia Poltica e Ps-Modernismo. As certezas am-

    bientais, econmicas e polticas dos anos de 1990

    foram deixadas para trs, exigindo a construo

    de uma Cincia muito mais crtica de que aborda-

    gens recentes permitem. Sayer (2001) batizou a

    nova abordagem de Economia Poltica Cultural

    Radical. Exemplos recentes na Geografia seriam

    Gregory (2004) e Harvey (2003) nas suas anlises

    radicais do novo imperialismo, que vo muito

    alm de suas obras dos anos de 1990 (Gregory

    1994, Harvey 1996) e que vm ao encontro das

    crticas antroplogicas e histricas ao imperialis-

    mo americano (Hine e Faragherer 2000, Hoefle,

    2003, 2004), mostrando como um projeto hols-

    tico radical abrangendo as dimenses espaciais,

    culturais e temporais pode dar conta do novo

    mundo que emerge.

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 2007 27

    TABELA 1B - CONVERGNCIA E DIVERGNCIA ESPACIAL, TEMPORAL E METODOLGICA ENTRE A GEOGRAFIA E A

    ANTROPOLOGIA

  • ESPAO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 22, P. 4-31, JAN./DEZ. DE 200728

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    ABSTRACT

    THE LONG BUT UNEVEN RELATIONSHIP BETWEEN GEOGRAPHY AND ANTHROPOLOGY IS ANALYSED FROM A PHILOSOPHY

    OF SCIENCE PERSPECTIVE TO SHOW HOW THERE IS A CONVERGENCE OF INTERESTS DURING MOMENTS OF CRITICAL

    SYNTAGMS AND DIVERGENCE OF INTERESTS IN MOMENTS OF RATIONALIST PARADIGMS. GREATER COLLABORATION EXISTS

    BETWEEN THE TWO DISCIPLINES DURING PHASES OF CRITICAL THOUGHT WHEN CULTURAL AND ENVIRONMENTAL DIVERSITY

    AND PHENOMENOLOGICAL EPISTEMOLOGIES INVOLVING PERCEPTIVE INTERACTION AND QUALITATIVE-ETHNOGRAPHIC

    METHODOLOGIES ARE EMPHASISED. MUTUAL INDIFFERENCE OR THEORETICAL CONFLICT EXIST IN MOMENTS OF RATIONALIST

    PARADIGMS WHEN CENTRALISED WORLD PROCESSES BASED ON DETERMINIST AND REDUCTIONIST THEORIES OF UNI-

    LINEAR EVOLUTION, QUANTITATIVE METHODS, MATHEMATICAL MODELING AND SCIENTIFIC OBJECTIVITY AND PRESCRIPTION

    ARE ADVOCATED. ATTENTION IS DRAWN TO THE THREAT TO THE WIDESPREAD COLLABORATION, WHICH PRESENTLY

    OCCURS WITHIN POSTMODERNISM AND POLITICAL ECOLOGY THEORETICAL PERSPECTIVES, REPRESENTED BY THE ADVENT

    OF NEODARWINISM. DIVERGENCE CAN BE AVOIDED IF A MORE CRITICAL SOCIAL THEORY MORE ATTUNED TO CURRENT

    PROBLEMS IN THE WORLD, SUCH AS RADICAL CULTURAL POLITICAL ECONOMY, IS TAKEN UP BY BOTH DISCIPLINES.

    KEY WORDS: GEOGRAPHY, ANTHROPOLOGY, EPISTEMOLOGY, CRITICAL SCIENCE.

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