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“Vai sentar, parece que tem um bicho forgulha no corpo!”:
O LUGAR DAS CRIANÇAS NO PROCESSO INICIAL DE
ESCOLARIZAÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL
Márcia Agostinho da Silva
Orientador: Prof. Dr. João Josué da Silva Filho
Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC
Centro de Ciências da Educação
Programa de Pós Graduação -Mestrado em Educação
Linha Educação e Infância
07:15h da manhã. O portão fechado possibilitou observar a chegada das
primeiras crianças à escola. Algumas chegaram de carro, outras seguiram
caminhando pela calçada [...]. Algumas famílias acompanharam seus filhos até
o andar intermediário da escola, outras se despediram por ali mesmo. As
crianças acompanhadas dos irmãos maiores logo se separaram, procurando um
amigo para conversar e contar a novidade do dia. O andar intermediário ficou
preenchido com o movimento das crianças. [...] Na fila, as meninas
posicionaram-se de pé, conversaram entre si, mostrando seus segredos
guardados na mochila. Enquanto os meninos posicionaram-se atrás da cerca de
arame, observando os “grandes” jogarem futebol. [...] Ao toque do sinal, as
crianças procuraram o seu lugar na fila, aguardando a organização da
professora para entrada em sala de aula. Como seria hoje: ordem alfabética ou
por tamanho? [...] As crianças seguiram pela rampa. [...] Podiam-se ouvir as
vozes dos irmãos, vizinhos, colegas ainda no andar intermediário, até o
momento de a porta da sala fechar. Agenda na mesa, chamada, calendário do
dia, programação da atividade no quadro, caderno de deveres em cima da
carteira – hora de exercer o “ofício de aluno”. [...]
Registro em diário de campo, Setembro/2009.
Fotografia: Vitória C. sentada na sala de aula.
Fonte: Márcia Agostinho da Silva/2009.
Fotografia: Brincadeira de pega-pega no horário do recreio.
Fonte: Márcia Agostinho da Silva/2009.
OBJETIVO GERAL
Compreender os sentidos socialmente construídos e
partilhados pelas crianças sobre a escola, ao viverem a
experiência inicial do processo da escolarização, no
primeiro ano do ensino fundamental.
QUESTÕES NORTEADORAS
2. Compreender como as crianças constroem socialmente sentido frente às
lógicas organizacionais da escola – práticas e ações educativas,
organização tempo/espaço, regras e saberes institucionais.
3. Analisar como as propostas pedagógicas, especificamente para o
primeiro ano, consideram as crianças nas suas particularidades e a infância
em sua heterogeneidade.
1. Perceber a forma como as crianças atribuem sentido à experiência da
escolarização no primeiro ano do ensino fundamental.
4. Compreender como e em que medida as interações sociais estabelecidas
entre as crianças com seus pares e com os adultos exercem impacto sobre o
processo de construção de sentido.
5. Analisar o lugar que as crianças ocupam no delineamento das práticas
pedagógicas dos professores e como este lugar tem sido considerado no
processo de socialização e escolarização.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICO
a. Observação participante;
b. Registros em diário de campo;
c. Registros fotográficos;
d. Conversas informais com as crianças e adultos;
e. Entrevistas com os adultos;
PARCEIROS NO ESTUDO
PEDAGOGIA DA INFÂNCIA
Ana Lúcia Goulart de Faria
Eloísa A. Candal Rocha
Sônia Kramer
SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA
Manuel Jacinto Sarmento
Maria Manuela Ferreira
William Corsaro
FILOSOFIA DA INFÂNCIA
Walter Kohan
Jorge Larrosa Bondía
ANTROPOLOGIA DA CRIANÇA
Clarice Cohn
Neusa M. Mendes de Gusmão
PRINCIPAIS FERRAMENTAS TEÓRICAS
SENTIDO E EXPERIÊNCIA
PRINCIPAIS CATEGORIAS DE ANÁLISES
LUGAR E ENTRE-LUGAR
Fotografia 1: Vitória prestando atenção na aula.
Fonte: Márcia Agostinho da Silva/2009.
Fotografia 2: Vitória realizando cópiado quadro.
Fonte: Márcia Agostinho da Silva/2009.
Fotografia4: Vitória partilhando o livro com os colegas.
Fonte: Márcia Agostinho da Silva/2009.
Fotografia 3: Vitória folheando um livro de história.
Fonte: Márcia Agostinho da Silva/2009.
Eu gosto da escola, ela é importanteporque a gente aprende muitas coisas,a estudar, aprender a ler e escreverpara trabalhar. (Laylla, 7 anos)
Gosto da escola porque depois que agente aprende, brinco com meusamigos, com a Luiza, com a Vitória ecom a Samanta. (Wanessa,6 anos).
Eu gosto da escola porque agentebrinca na aula de Educação Físicacom o pula-pula [...] agente podecorrer. É bem legal! (Marcos K., 7anos).
Gosto da escola porque aqui na escolatem o Emerson e os meus amigos dacreche. (Luiza, 6 anos).
Fotografia: Aula de Educação Física.
Fonte: Márcia Agostinho da Silva/2009.
Fotografia: Intervalo do recreio.
Fonte: Márcia Agostinho da Silva/2009.
Uma criança precisa saber quena sala de aula não pode brincar.(Maria Vitória, 6 anos)
Na sala a gente tem que ficarsentada o tempo todo, depois quea professora faz a chamada, agente tem que fazer as atividadesdo quadro.Copia, copia, copia...Émuito chato, a gente não podenem brincar! (Luiza, 7 anos).
Eu ainda não sei escrever. Vouaprender aqui na escola.(Vitória, 6 anos).
Fotografia: Lucas em atividade na sala de aula.
Fonte: Márcia Agostinho da Silva/2009.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1. MINHA APROXIMAÇÃO COM A ESCOLA.
2. O QUE AS CRIANÇAS REVELARAM.
3. TUDO O QUE CONSEGUI PERCEBER DO QUE ME FOI
REVELADO.
1. A importância de estabelecer um diálogo aberto com as crianças,
reconhecendo, considerando e respeitando suas necessidades
individuais e sua participação ativa no processo educativo, para assim
construir uma escola mais atenta e sensível às especificidades das
várias infâncias nela existente.
Fotografia: Uenna e Vitória C. brincado juntas no recreio.
Fonte: Márcia Agostinho da Silva, 2009.
2.Que no planejamento para a
educação das crianças, sejam
contemplados momentos de
interação entre a equipe que
trabalha com a educação
infantil e com o ensino
fundamental, objetivando
reconhecer as necessidades e
especificidades das crianças,
também, como centrais do
processo educativo. Sujeitos
que possuem experiências
anteriores ao ingresso na
escola, onde se torna
necessário agregar a dimensão
lúdica, para que as atividades
de leitura, escrita e conteúdos
disciplinares, sejam um
“lugar” de garantias das
muitas infâncias no processo
da escolarização.Fotografia: Aula de Educação Física.
Fonte: Márcia Agostinho da Silva, 2009.
3. Que no processo educativo seja reconhecido que as crianças
possuem uma visão ampla do mundo, uma vez que apresentam
conhecimentos mais abrangentes do que normalmente é
apreendido na escola.
Fotografia: Uenna e Marcos mostrando livro dos dinossauros para Graziela.
Fonte: Márcia Agostinho da Silva, 2009.
4. Que a escola reconheça sua importância como um lugar
privilegiado de encontro e de partilha entre as crianças (pares),
sendo a amizade, um dos principais motivadores para sua ida à
escola.
Fotografia: Horário do recreio.
Fonte: Márcia Agostinho da Silva, 2009.
5. Que seja considerado, no processo de escolarização, o modo
peculiar das crianças mostrarem que suas infâncias não estão
pautadas na ideia de que são apenas objetos de cuidado dos adultos,
mas que vivem o instante presente como sujeitos capazes e
competentes para falar por si mesmos, não aceitando ser aprisionadas
em esquemas fechados, próprios da cultura escolar.
Fotografia: Graziela conversando com Samanta durante a aula.
Fonte: Márcia Agostinho da Silva, 2009.
O trabalho educativo deve empenhar-se na promoção de uma
cultura escolar acolhedora e respeitosa; no cultivo da
sensibilidade juntamente com o da racionalidade, mediante: a
construção de identidades solidarias; o enriquecimento das
formas de expressão; o exercício da criatividade a fim de que
o aluno tenha condições de dar respostas novas diante das
mudanças aceleradas do mundo contemporâneo; a
valorização das diferentes manifestações culturais,
especialmente as da cultura brasileira;
(Subsídios Para as Diretrizes Curriculares Nacionais Especifica da Educação
Básica, Brasília, 2009).