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APOSTILA DE ECONOMIA E MERCADO

Apostila de Economia e Mercado

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APOSTILA DE

ECONOMIA E

MERCADO

Page 2: Apostila de Economia e Mercado

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO À ECONOMIA .................................................................................................................................................... 1

1.1 CONCEITO DE ECONOMIA ................................................................................................................................................................ 1

1.2 NECESSIDADE HUMANA .................................................................................................................................................................. 1

1.3 SETORES ECONÔMICOS ................................................................................................................................................................... 2

1.4 PROBLEMAS CENTRAIS DE ECONOMIA ................................................................................................................................................ 2

1.5 FATORES DE PRODUÇÃO .................................................................................................................................................................. 3

1.6 SISTEMA ECONÔMICO .................................................................................................................................................................... 5

QUESTIONÁRIO ................................................................................................................................................................................... 6

2 HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO ............................................................................................................................... 7

2.1 A FISIOCRACIA............................................................................................................................................................................... 7

2.2 ESCOLA CLÁSSICA .......................................................................................................................................................................... 8

2.3 ESCOLA NEOCLÁSSICA ..................................................................................................................................................................... 9

2.4O MARXISMO .............................................................................................................................................................................. 11

2.5 A FASE ATUAL DA CIÊNCIA ECONÔMICA: DE 1929 AOS NOSSOS DIAS ..................................................................................................... 12

2.6 A REVOLUÇÃO KEYNESIANA ........................................................................................................................................................... 13

QUESTIONÁRIO ................................................................................................................................................................................. 15

3 MICROECONOMIA ........................................................................................................................................................... 15

3.1 MERCADO DE PRODUTO E DE FATORES DE PRODUÇÃO ......................................................................................................................... 15

3.1.1 Concorrência perfeita ...................................................................................................................................................... 15

3.1.2 Monopólio ....................................................................................................................................................................... 16

3.1.3 Oligopólios ....................................................................................................................................................................... 17

3.1.4 Concorrência Monopolística ............................................................................................................................................ 17

3.1.5 Monopsonio .................................................................................................................................................................... 18

3.1.6 Monopólio bilateral ......................................................................................................................................................... 18

3.2 MECANISMOS DE PREÇOS .............................................................................................................................................................. 19

3.2.1 Demanda ......................................................................................................................................................................... 19

3.2.2 Oferta .............................................................................................................................................................................. 22

3.2.3 Equilíbrio de mercado ...................................................................................................................................................... 28

3.2 UTILIDADE MARGINAL .................................................................................................................................................................. 30

3.3 CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 31

3.4 FUNÇÃO CUSTOS .......................................................................................................................................................................... 33

3.4.1 Custos de Oportunidade .................................................................................................................................................. 34

3.4.2 Custos Irreversíveis .......................................................................................................................................................... 34

3.4.3 Custo Marginal (CMg) ou Custo Incremental .................................................................................................................. 34

3.4.4 Custo de Uso do Capital .................................................................................................................................................. 34

3.5 CUSTOS CONTÁBEIS ...................................................................................................................................................................... 34

QUESTIONÁRIO ................................................................................................................................................................................. 38

4 ECONOMIA INDUSTRIAL ................................................................................................................................................... 38

4.1 ECONOMIA DE ESCALA E ESCOPO .................................................................................................................................................... 38

4.2 INTEGRAÇÃO VERTICAL ................................................................................................................................................................. 40

4.3 INTEGRAÇÃO HORIZONTAL ............................................................................................................................................................. 41

QUESTIONÁRIO ................................................................................................................................................................................. 41

5 SETOR PÚBLICO ................................................................................................................................................................ 41

5.1 INTERVENÇÃO GOVERNAMENTAL .......................................................................................................................................... 42

5.2 O SETOR PÚBLICO NAS CORRENTES DO PENSAMENTO ECONÔMICO ..................................................................................... 43

5.3 POR QUE REGULAR? ................................................................................................................................................................ 46

Page 3: Apostila de Economia e Mercado

5.4 ORÇAMENTO PÚBLICO ................................................................................................................................................................... 48

5.4.1 Definição E Evolução Do Conceito De Orçamento Público .............................................................................................. 48

5.4.2 Orçamento Tradicional .................................................................................................................................................... 48

5.4.3 Orçamento Moderno ....................................................................................................................................................... 49

5.4.4 A Questão Orçamentária No Brasil ................................................................................................................................. 49

5.5.5 As inovações da Constituição de 1988 ............................................................................................................................ 50

5.6 O CICLO ORÇAMENTÁRIO ....................................................................................................................................................... 50

5.6.1 O Plano Plurianual ........................................................................................................................................................... 50

5.6.2 A Lei de Diretrizes Orçamentárias ................................................................................................................................... 51

5.6.3 A Lei Orçamentária Anual ............................................................................................................................................... 51

5.6.4 NOTAS PARA REFLEXÃO ACERCA DO CICLO ORÇAMENTÁRIO ........................................................................................ 52

5.7 TRIBUTAÇAO ............................................................................................................................................................................... 53

5.7.1 Alienação Do Único Imóvel .............................................................................................................................................. 53

5.7.2 Venda De Imóveis Residenciais ....................................................................................................................................... 53

5.7.3 Imposto De Transmissão (ITBI) ........................................................................................................................................ 53

5.7.4 Laudêmio ......................................................................................................................................................................... 54

5.7.5 Lucro Imobiliário .............................................................................................................................................................. 54

5.7.6 IPTU ................................................................................................................................................................................. 54

5.7.7 ITVI .................................................................................................................................................................................. 55

5.7.8 TAXA PARA ESCRITURA DO IMÓVEL ................................................................................................................................ 55

5.7.9 Taxa Para Registro Da Escritura Do Imovel ..................................................................................................................... 55

5.7.10 ITR ................................................................................................................................................................................. 56

QUESTIONÁRIO ................................................................................................................................................................................. 56

6 MACROECONOMIA .......................................................................................................................................................... 56

6.1 SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO ................................................................................................................................................... 56

6.2 MOEDA ..................................................................................................................................................................................... 57

6.2.1 História ............................................................................................................................................................................ 58

6.2.2 Intermediária de trocas ................................................................................................................................................... 59

6.2.3 Medida de valor .............................................................................................................................................................. 59

6.2.4 Reserva de valor .............................................................................................................................................................. 59

6.2.5 Padrão para pagamento diferido .................................................................................................................................... 59

6.3 MEIOS DE PAGAMENTO ................................................................................................................................................................. 60

6.3.1 Papel-moeda ................................................................................................................................................................... 60

6.3.2 Moeda fiduciária ............................................................................................................................................................. 60

6.3.3 Moeda escritural ............................................................................................................................................................. 61

6.3.4 Quase-moeda .................................................................................................................................................................. 61

6.4 POLÍTICA ECONOMICA ................................................................................................................................................................... 62

6.4.1 Alto nível de emprego ..................................................................................................................................................... 63

6.4.2 Estabilidade de preços ..................................................................................................................................................... 64

6.4.3 Distribuição eqüitativa de renda ..................................................................................................................................... 64

6.4.4 Crescimento Econômico .................................................................................................................................................. 64

6.4.5 Inter-relação e conflitos entre objetivos .......................................................................................................................... 65

6.5 POLÍTICA MONETÁRIA .................................................................................................................................................................. 65

6.5.1 Controle da oferta monetária ......................................................................................................................................... 67

6.5.2 Monopólio das Emissões ................................................................................................................................................. 67

6.5.3 Reservas Obrigatórias ..................................................................................................................................................... 67

6.5.4 Operações de Mercado Aberto ("Open Market") ............................................................................................................ 67

6.5.5 Política de Redesconto .................................................................................................................................................... 68

6.5.6 Controle seletivo do credito ............................................................................................................................................. 69

6.6 Política Cambial .................................................................................................................................................................. 69

6.7 Política fiscal ....................................................................................................................................................................... 71

6.8 PLANOS ECONÔMICOS .................................................................................................................................................................. 73

Page 4: Apostila de Economia e Mercado

6.8.1 Plano Cruzado ................................................................................................................................................................. 73

6.8.2 Plano Collor I E II .............................................................................................................................................................. 76

6.8.3 Plano real ........................................................................................................................................................................ 79

6.9 FORMAS DE FINANCIAMENTO IMOBILIÁRIO ....................................................................................................................................... 84

6.9.1 Financiamento Bancário .................................................................................................................................................. 84

6.9.2 Consórcio imobiliário ....................................................................................................................................................... 86

6.9.3 Arrendamento Mercantil (Leasing) ................................................................................................................................. 99

6.9.4 Regras para Utilização do FTGS ...................................................................................................................................... 99

6.10 FORMAS DE INVESTIMENTO ....................................................................................................................................................... 101

6.10.1 CDB .............................................................................................................................................................................. 101

6.10.2 CDI ............................................................................................................................................................................... 101

6.10.3 Mercado de Ações ....................................................................................................................................................... 102

6.10.4 Fundos Imobiliários ..................................................................................................................................................... 103

QUESTIONÁRIO ............................................................................................................................................................................... 104

7 ECONOMIA INTERNACIONAL.......................................................................................................................................... 105

QUESTIONÁRIO ............................................................................................................................................................................... 108

8 ECONOMIA SOCIAL ........................................................................................................................................................ 108

8.1 ÍNDICE GERAL DE PREÇOS - DISPONIBILIDADE INTERNA (IGP-DI) ........................................................................................................ 108

8.2 ÍNDICE GERAL DE PREÇOS DE MERCADO (IGP-M) ........................................................................................................................... 109

8.3 ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR AMPLO (IPCA) ........................................................................................................................ 109

8.4 ÍNDICE NACIONAL DE PREÇOS AO CONSUMIDOR (INPC) ................................................................................................................... 109

8.5 ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR (IPC) ..................................................................................................................................... 110

8.6 INCC ...................................................................................................................................................................................... 110

8.7 ÍNDICE FIPEZAP ....................................................................................................................................................................... 111

8.8 TR – TAXA REFERENCIAL DE JUROS ............................................................................................................................................... 111

QUESTIONÁRIO ............................................................................................................................................................................... 111

Page 5: Apostila de Economia e Mercado

1

1 INTRODUÇÃO À ECONOMIA

1.1 CONCEITO DE ECONOMIA

A economia estuda a maneira como se administram os recursos escassos, com o objetivo

de produzir bens e serviços e distribuí-los para seu consumo entre os membros da sociedade.

Divisão do Estudo da Economia:

É possível detalhar a divisão do estudo da economia pela visão de Rossetti(2002), conforme segue:

a) Economia Descritiva: trata da identificação do fato econômico. É a partir dos levantamentos

descritivos sobre a conduta dos agentes econômicos que se inicia o complexo de

conhecimento sistematizado da realidade no campo da economia positiva. É através dela

que a realidade começa a ser submetida a um criterioso tratamento no sentido de que

possam ser analisados as relações básicas que se estabelecem entre os diversos agentes que

compõem o quadro da atividade econômica.

b) Teoria Econômica: a teoria econômica é o compartimento central da economia. É Possível

ver um ordenamento lógico aos levantamentos sistematizados fornecidos pela economia

descritiva, produzindo generalizações que sejam capazes de ligar aos fatos entre si,

desvendar cadeias de ações manifestadas e estabelecer relações que identifiquem os graus

de dependência de um fenômeno em relação a outro. Surgiram então em decorrência

conjunto de princípios, de teorias, de modelos e de leis fundamentadas nas descrições

apresentadas. A teoria econômica adota duas posições distintas na apresentação e análise do

fenômeno econômico, estas posições são conhecidas como microeconomia e

macroeconomia. A microeconomia é aquela parte da teoria econômica que estuda o

comportamento das unidades, tais como os consumidores, as indústrias e empresas, e suas

inter-relações. A macroeconomia estuda o funcionamento da economia em seu conjunto.

Seu propósito é obter uma visão simplificada da economia que, porém, ao mesmo tempo,

permita conhecer e atuar sobre o nível da atividade econômica de um determinado país ou

de um conjunto de países.

c) Política Econômica: os desenvolvimentos elaborados pela teoria econômica servem a

política econômica. Nesse campo de estudo é que serão utilizados os princípios, as teorias,

os modelos e as leis. A utilização terá a finalidade de conduzir adequadamente a ação

econômica com vistas a objetivos pré-determinados. Quando se emprega a expressão

política econômica governamental esta se referindo as ações praticas desenvolvidas pelo

governo com a finalidade de condicionar, balizar e conduzir o sistema econômico no sentido

de que sejam alcançados um ou mais objetivos politicamente estabelecidos.

1.2 NECESSIDADE HUMANA

Necessidade Humana: é a sensação de carência de algo unida ao desejo de satisfazê-la. Tipos de

necessidades:

Page 6: Apostila de Economia e Mercado

2

Necessidades do individuo

- Natural: por exemplo, comer.

- Social: decorrente da vida em sociedade; por exemplo, festa de casamento.

Necessidades da sociedade

– Coletivas: partem do individuo e passam a ser da Sociedade; por exemplo, o transporte

- Publicas: surgem da mesma sociedade; por exemplo, a ordem pública.

Necessidades vitais ou primarias: destas depende a conservação da vida; por exemplo, os alimentos.

Necessidades civilizadas ou secundárias: são as que tendem a aumentar o bem-estar do indivíduo e

variam no tempo, segundo o meio cultural, econômicos e sociais em que se desenvolvem os indivíduos; por

exemplo, o turismo.

1.3 SETORES ECONÔMICOS

A economia é dividida em setores encarregados de produzir os bens e serviços e colocá-los à

disposição de consumidores no mercado.

São considerados setores econômicos: primário (agropecuária), secundário (indústria) e terciário

(serviço). Tais setores podem ser exemplificados para melhor compreensão:

a) Setor primário: lavoura, pecuária, caça, pesca, extração vegetal, reflorestamento;

b) Setor secundário: indústrias extrativa mineral, mineral não metálico, petróleo e gás; e

indústria de transformação composta pelas indústrias têxtil, vestuário, calçados, alimentos,

metalurgia, eletrônica, mecânica, química, material de transportes, etc.;

c) Setor terciário: comércio atacadista, comércio varejista, administração pública, instituições

financeiras, transporte, comunicação, educação, saúde, autônomos, etc.

1.4 PROBLEMAS CENTRAIS DE ECONOMIA

Para Pinho e Vasconcellos (1998), nas bases de qualquer comunidade se encontra sempre a

seguinte tríade de problemas econômicos básicos:

a) O QUE produzir? - Isto significa quais os produtos deverão ser produzidos (carros, cigarros,

café, vestuários etc.) e em que quantidades deverão ser colocados à disposição dos

consumidores.

b) COMO produzir? - Isto é, por quem serão os bens e serviços produzidos, com que recursos

e de que maneira ou processo técnico.

c) PARA QUEM produzir? - Ou seja, para quem se destinará a produção, fatalmente para os

que têm renda.

d) QUAIS, QUANTO, COMO e PARA QUEM produzir não seriam problemas se os recursos

utilizáveis fossem ilimitados. Mas na realidade existem ilimitadas necessidades e limitados

recursos disponíveis e técnicas de fabricação. Baseada nessas restrições, a Economia deve

optar dentre os bens a serem produzidos e os processos técnicos capazes de transformar os

recursos escassos em produção, conforme Pinho e Vasconcellos (1998).

Pode-se na tabela a seguir, apresentada por Dallagnol (2008) ter um resumo dos princípios

fundamentais da economia.

Page 7: Apostila de Economia e Mercado

3

1.5 FATORES DE PRODUÇÃO

São os elementos utilizados nos processos de fabricação de bens utilizados para satisfazer as

necessidades humanas. Estes elementos são o trabalho, o capital, a tecnologia, os recursos naturais e a

capacidade empresarial.

A população economicamente mobilizável (Trabalho) é representada por um segmento da

população total, delimitado pela faixa etária apta para o exercício de atividades de produção, conforme

descrito por Possamai (2001).

Os limites desta faixa variam em função do estágio de desenvolvimento da economia, sofrendo

ainda a influência de definições institucionais, geralmente expressas através da legislação de cunho social.

Nas economias menos desenvolvidas observa-se que a idade de acesso às funções produtivas, sobretudo no

meio rural, é acentuadamente mais baixa do que nas economias maduras que ostentam altos padrões de

desenvolvimento econômico.

De forma geral, porém, o acesso se realiza entre 15 e 25 anos e as atividades se desenvolvem ao

longo de um período variável que alcança, em média de 30 e 35 anos. A extensão da faixa de ingresso é

justificada pela variação dos períodos de preparação do indivíduo e ainda pelas diferenças que se encontram

na legislação social de cada país quando à idade mínima de acesso ao trabalho. De outro lado, o tempo de

Page 8: Apostila de Economia e Mercado

4

dedicação à produção varia, essencialmente, em função do tipo de atividade desenvolvida, observando-se

também aqui variações de natureza legal quanto ao período mínimo exigido para a aposentadoria espontânea

ou compulsória. Além disso, há que considerar as diferenças institucionais – também decorrente do estágio

de desenvolvimento e do meio em que se realizam as atividades de produção – aplicáveis à mobilização do

homem e da mulher. Há diferenças acentuadas não só quanto aos regimes legais de proteção, como ainda

quanto às formas de organização social, resultando diferentes períodos de vida produtiva. (POSSAMAI,

2001)

Para o exercício de suas atividades de produção, a população ativa mobiliza um variado e complexo

conjunto de instrumentos e de elementos infraestruturais que dão suporte às operações produtivas, tornado-

as mais produtivas, tornado-as mais eficientes. Este conjunto constitui o estoque de capital da economia.

(POSSAMAI, 2001)

O desenvolvimento e meios de produção, associado às primeiras manifestações de construções

infra-estruturais, identifica-se claramente com processo de formação de capital. Desde as mais remotas

culturas o homem foi acumulando riquezas destinadas à obtenção de novas riquezas destinadas à obtenção

de novas riquezas. Com o passar do tempo com a acumulação e a transmissão de conhecimentos, o acervo

de recursos aumentaria em progressão extraordinária. O processo de instrumentação do trabalho humano

assumiria crescente complexidade, tornando cada vez mais eficiente o esforço social de produção, mas

exigindo, em contrapartida, que uma considerável parcela desse mesmo esforço passasse a ser canalizada

sistematicamente para o aperfeiçoamento e produção de novos e mais complexos recursos de capital.

Para Possamai (2001) tecnologia pode ser considerada como um fator de produção de natureza

qualitativa.

Trata-se de um elo entre a população economicamente mobilizável e os recursos de capital. Esta

capacidade acumula-se, transforma-se e evolui pela permanente transmissão de conhecimento. De geração a

geração evolução dos processos de produção, decorrentes do extraordinário desenvolvimento de recursos de

capital cada vez mais avançados e sofisticados, os sistemas econômicos exigem um paralelo

desenvolvimento da tecnologia aplicada.

Esta capacidade é inerente à qualificação dos recursos humanos. O saber fazer imprime

características extremamente variadas a dado conjunto de população economicamente mobilizável. As

nações desenvolvidas contam não apenas com extraordinária base de recursos de capital acumulados, mas

com recursos humanos preparados para operar o complexo aparelhamento de produção do sistema. Já as

economias subdesenvolvidas não apenas apresentam estoques de capital pouco eficazes e subdimensionados,

como ainda recursos humanos tecnicamente despreparados. De certa forma, os processos de criação,

aperfeiçoamento e acumulação de capital caminham paralelamente com o de formação de capacidade

tecnológica. São, por assim dizer, duas engrenagens que se ajustam. O movimento de uma delas está

necessariamente vinculado ao movimento da outra.

Page 9: Apostila de Economia e Mercado

5

À semelhança da capacidade tecnológica, a capacidade empresarial é também um fator de natureza

qualitativa. Trata-se do espírito empreendedor que movimenta, combina e anima os demais recursos de

produção do sistema. Tanto empreendedorismo de caráter privado ou público. Assume-a o Estado, ao

mobilizar recursos para atividades econômicas de produção ou de formação da infraestrutura de apoio.

Assume-a, dentro das condições institucionais da livre iniciativa, o empresário privado ou os grupos de

constituição privada, quando a implantação, ampliação e operação de seus empreendimentos econômicos de

produção. E, tanto, num caso como no outro, a capacidade empresarial enquadra-se no domínio dos agentes

dinâmicos da vida econômica.

O elenco de recursos com que contam os sistemas econômicos para o exercício das atividades de

produção completa-se com a disponibilidade das reservas naturais. Em seu significado econômico, este

recurso é constituído pelo conjunto dos elementos da natureza utilizados no processamento primário da

produção. O solo e a parte explorável do subsolo, as terras de pastagem e de cultura, os cursos d‘água, os

lagos, as florestas e ainda o próprio clima e o índice pluviométrico incluem-se entre os recursos naturais de

que toda economia deve dispor, face às necessidades de suprimento manifestadas pela sociedade.

(POSSAMAI, 2001)

A disponibilidade das reservas naturais não depende apenas das suas quantidades físicas

disponíveis, mas ainda de outros fatores que viabilizam o seu efetivo aproveitamento. Para Possamai(2001),

o estágio dos conhecimentos tecnológicos, associado à disponibilidade de recursos de capital, tem ligações

diretas com o volume das reservas naturais economicamente aproveitáveis. As formas e a extensão da

ocupação territorial também influenciam o nível em que as reservas naturais disponíveis serão efetivamente

empregadas no processamento básico da produção – quer através da extração de matérias primas, quer

aproveitando os potenciais energéticos existentes.

Sendo assim, o próprio conhecimento de sua existência e o pré-levantamento de suas

potencialidades condicionam as disponibilidades econômicas das reservas.

1.6 SISTEMA ECONÔMICO

Sistema econômico é o conjunto de relações técnicas, básicas e institucionais que caracterizam a

organização econômica de uma sociedade. Essas relações condicionam o sentido geral das decisões fundamentais

que se tomam em toda a sociedade e os ramos predominantes de sua atividade.

Para Dallagnol (2008), um sistema econômico pode ser definido como sendo a forma política, social e

econômica pela qual está organizada a sociedade. É um particular sistema de organização da produção,

distribuição, consumo de todos os bens e serviços que as pessoas utilizam buscando uma melhoria no padrão de

vida e bem-estar.

Sistema Econômico: reunião dos diversos elementos participantes da produção e do consumo de bens

e serviços que satisfazem as necessidades da sociedade, organizados do ponto de vista econômico,

social, jurídico e institucional.

Os sistemas econômicos podem ser classificados em:

Page 10: Apostila de Economia e Mercado

6

a) Sistema capitalista ou economia de mercado: É regido pelas forças de mercado,

predominando a livre iniciativa e a propriedade privada dos fatores de produção;

b) Sistema socialista ou economia centralizada ou ainda economia planificada: Nesse sistema

as questões econômicas fundamentais são resolvidas por um órgão central de planejamento,

predominando a propriedade pública dos fatores de produção, chamados nessas economias

de meios de produção, englobando os bens de capital, terra, prédios, bancos, matérias-

primas.

Os países organizam-se segundo esses dois sistemas, ou de forma intermediária entre elas. Pelo menos

até o início do século XX, prevalecia nas economias ocidentais o sistema de concorrência pura, em que não havia

a intervenção do Estado na atividade econômica.

Era a filosofia do Liberalismo. Principalmente a partir de 1930, passaram a predominar os sistemas

de economia mista, no qual ainda prevaleciam as forças de mercado, mas com a atuação do Estado, tanto na

alocação e distribuição de recursos como na própria produção de bens e serviços, nas áreas de infra-

estrutura, energia, saneamento e telecomunicações.

Em economia de mercado, a maioria dos preços dos bens, serviços e salários são determinados

predominantemente pelo mecanismo de preços, que atua por meio da oferta e da demanda dos fatores de

produção. Nas economias centralizadas, essas questões são decididas por um órgão central de planejamento,

a partir de um levantamento dos recursos de produção disponíveis e das necessidades do país. Ou seja,

grande parte dos preços dos bens e serviços, salários, quotas de produção e de recursos é calculada nos

computadores desse órgão, e não pela oferta e demanda no mercado.

Possamai (2001) apresenta ainda outra classificação clássica das economias:

a) Economia Fechada: Economia típica de um país isolado. Não há importação nem

exportação de produtos. O intercâmbio de mercadorias não se realiza além dos limites

territoriais determinados pelos agentes econômicos locais: produtores, intermediários e

consumidores. Esse tipo de economia praticamente não existe no mundo atual. Mas é útil

como modelo para se analisar de que forma o total das despesas de consumo, gastos

governamentais, investimentos e tributos interagem para determinar os níveis do emprego e

renda nacional. Então, constitui-se num modelo em que não a interveniência do setor

externo (importação e exportação). Exemplos atuais praticamente inexistentes, sendo o mais

próximo: Cuba.

b) Economia Aberta: Economia baseada na livre ação dos agentes econômicos, objetivando a

concorrência, ao investimento, ao comercio e ao consumo. Corresponde aos princípios do

liberalismo econômico, pelo qual a única função do Estado seria garantir a livre

concorrência entre as empresas. Constitui-se num modelo em que há a interveniência do

setor externo (importação e exportação). Exemplo: Brasil.

Além destes conceitos, outros se destacam como as Funções renda, consumo, etc.

QUESTIONÁRIO

a) O que é economia, seu conceito e sua função?

b) Como é realizado o estudo da economia?

c) Caracterize necessidade humana e como é dividida?

d) O que são os setores econômicos?

e) Como são divididos os setores? Dê exemplos.

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7

f) Quais são os problemas centrais? Descreva-os.

g) O que são e quais são os fatores de produção?

h) Como é definido um sistema econômico?

i) Qual a sua classificação? Descreva-os e dê exemplos.

j) Como pode ser sua subclassificação?

2 HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO

2.1 A FISIOCRACIA

A criação científica da economia: de 1750 a 1870

O Quadro econômico do Dr. Quesnay (1758) e a Riqueza das nações (1776) marearam, realmente,

a reação contra o tratamento assistemático e disperso dos problemas econômicos.

Movimento que não existia em 175o, a Fisiocracia empolgou toda Paris e Versalhes de 1760 a 177o, mas já

estava esquecido por volta de 178o, exceto por alguns economistas - como observou Schumpeter. Considerado, por

muitos autores, mais uma "seita" de filósofos-economistas do que uma escola econômica, surgiu e desapareceu como

um meteoro, em torno do Dr. Quesnay, médico da corte e protegido de Mme. Pompadour, cuja posição assegurou, por

algum tempo, uma situação privilegiada da Fisiocracia em geral, na vida intelectual do grand monde francês.

Justo e honesto, pedante e doutrinador, leal à sua protetora e impermeável às tentações do ambiente

da corte, Quesnay (1694-1774) teria sido, na expressão de Schumpeter, um "maçante respeitável". Dentre

seus discípulos destacaram-se: o marquês Mirabeau (1715-1789), autor de diversas obras, especialmente

Philosophie (1763), aceita como importante manual de ortodoxia fisiocrática, e L'Ami, com apreciações

sobre o Quadro econômico de Quesnay; Paul Mercier de Ia Rivière (1720-1793), - impulsivo e grosseiro-,

escreveu outro importante manual fisiocrático - L'ordre naturel et essentiel des sociétés politiques (1767); G.

F. Le Trosne (1728-1780), advogado, que se interessou mais pelas relações entre o sistema fisiocrático e o

Direito Natural; o padre Nicolas Baudeau ( 1730-1792), convertido ao –credofisiocrático depois de lhe haver

feito violenta oposição, tomando-se então um dos seus mais eficientes propagadores; Pierre S. Dupont de

Nemours (1739-1817), talvez o mais inteligente do grupo (mas que na apreciação de Schumpeter tinha o

talento brilhante de um pianista e não de um compositor) reuniu e comentou as obras dos fisiocratas,

principalmente as de Quesnay; Turgot (1726-178 1), intendente de Limoges e ministro de Luís XVI, que

teve oportunidade de aplicar as idéias econômi cas de sua escola; Karl Friedrich Margrave de Baden,

posteriormente GrãoDuque de Baden (1728-1811), um dos políticos mais capazes de sua época, fez várias

tentativas de aplicação da Fisiocracia em seu principado etc.

Os fisiocratas conseguiram atento auditório entre os fidalgos da corte e os governantes da época: Catarina

(da Rússia), Gustavo III (da Suécia), Estanislau (da Polônia), José II (da Áustria) e muitos outros, que tentaram aplicar

algumas de suas máximas de um bom governo.

A Fisiocracia impôs-se principalmente como doutrina da Ordem Natural: o Universo é regido por leis

naturais, absolutas, imutáveis e universais, desejadas pela Providência divina para a felicidade dos homens. Estes, por

meio da razão, poderão descobrir essa Ordem.

Page 12: Apostila de Economia e Mercado

8

Alguns autores consideram as teorias de Quesnay, sobre o Estado e a sociedade, meras reformulações da

doutrina escolástica, que satisfaziam aos nobres e à sociedade. Uns poucos chegam a destacar certa tendência

teológica no pensamento de Quesnay. Mas a maioria está de acordo em reconhecer a natureza puramente analítica ou

científica de sua obra econômica.

Precursor em alguns campos, distinguiu-se Quesnay na formulação de princípios de filosofia social

utilitarista (obter a máxima satisfação corri um mínimo de esforço), do Harmonismo que se desenvolveria no século

XIX (embora consciente do antagonismo de classes, acreditava Quesnay na compatibilidade universal ou

complementaridade dos interesses pessoais numa sociedade competitiva), da teoria do capital (os empresários

agrícolas só podem iniciar seu trabalho devidamente equipados, ou seja, se dispuserem de um capital no sentido de

riqueza acumulada antes de iniciar a produção, mas não analisou a formação e o comportamento do capital monetário

e do capital real) etc.

No Quadro econômico, Quesnay representou, de modo simplificado, o fluxo de despesas e de bens entre as

diferentes classes sociais, distinguindo um equilíbrio de quantidades globais que os Keynesianos deveriam analisar a

partir de 1936. Tal como Cantillon, evidenciou a interdependência entre as atividades econômicas, problema que

Walras estudaria mais tarde. Indicou como a agricultura fornece um "produto líquido" que se reparte entre as classes

da sociedade e admitiu ser a terra produtora da mais valia (não se referindo ao trabalho que Marx enfocaria anos após).

Importante instrumento de análise o Quadro é o precursor da economia quantitativa, embora o aspecto econométrico

da obra de Quesnay tenha readquirido atualidade apenas a partir de Léontief (com objetivo e técnicas diferentes). ~

Em 1764, Adam Smith, então professor de Filosofia Moral na Universidade de Glasgow, entrou em contato com

Quesnay, Turgot e outros fisiocratas, ao visitar a França. Doze anos depois, tornou-se o chefe da Escola Clássica que,

juntamente com a Escola Fisiocrática, marcou o início da fase propriamente científica da economia.

2.2 ESCOLA CLÁSSICA

Pensadores econômicos que seguiam parcialmente as doutrinas da fisiocracia-fisiocrata, tais como o

liberalismo e o individualismo. Refutam os fisiocratas na questão da riqueza, onde o trabalho é o único meio

de se gerar riqueza e o fator gerador de valor é a mão de obra dos agentes, demonstrada pela Teoria do

Valor- Trabalho. Segundo essa escola de pensamento econômico a geração de riqueza está diretamente

relacionada com a produtividade da mão-de-obra, e esta produtividade será constantemente crescente,

decorrentes da especialização das tarefas produtivas e da divisão do trabalho.

A Teoria Clássica é elaborada em função de uma sistemática de equilíbrio automático da economia,

onde esta se harmoniza ou se reequilibra através das forças naturais dos mecanismos de demanda e oferta.

As crises e desequilíbrios apresentados pela economia são temporários, ou designados como desvios

temporários de equilíbrio que serão sanados pela demanda e oferta.

Entre as teorias que se destacam nesta escola, a Teoria da Renda da Terra de David Ricardo, onde o

valor dos aumentos e da renda das terras com maior produtividade aumentam simultaneamente de acordo

com o aumento da sociedade, que exige que seja produzida uma maior quantidade de alimentos. Neste caso

existe a necessidade de utilização de terras com menor produtividade e como resultado tem-se o aumento

dos custos de produção que serão repassados aos alimentos (custos representados pelo transporte, insumos,

Page 13: Apostila de Economia e Mercado

9

etc), causando um aumento na renda das terras com mais produtividade. A Teoria de Adam Smith,

considerado o pai da economia, por ser o primeiro economista a ter formulado uma visão completa da

economia e com maior fundamento lógico e sistemático. Sua teoria de maior importância é a Teoria da Mão

Invisível, onde o pensador demonstra que as pessoas são movidas por ideais individualistas, quando estes

fossem livremente desenvolvidos seriam um fator natural de harmonização que resultaria no bem estar

coletivo. Os mercados livres e a concorrência funcionariam para o emprego do capital e dos recursos

naturais de forma que eles sejam empregados de maneira mais produtiva possível, contribuindo de forma

positiva ao bem-estar econômico, esta maximização egoísta do lucro para canais socialmente úteis- com que

fossem produzidas as mercadorias que as pessoas precisassem e mais desejassem.

As ideias de Smith tiveram maior impacto depois da publicação de suas teses que foram feitas

simultaneamente com a Revolução Industrial, e esta corroborada com as afirmações do economista.

A defesa do mercado como regulador das decisões econômicas de uma nação traria muitos

benefícios para a coletividade. O objetivo era claramente identificado e método de análise sobre a riqueza.

Primeira escola de pensamento econômico onde Adam Smith lança o seu livro pioneiro sobre a Riqueza das

Nações, em 1776.

2.3 ESCOLA NEOCLÁSSICA

As principais contribuições da teoria neoclássica surgem no final do Século XIX relacionadas com

o processo de mudanças econômicas que ocorreram no período compreendido entre 1840 e 1873.

Neste período, os países europeus e os EUA experimentaram anos de grande expansão econômica,

acompanhada de um notável crescimento industrial, caracterizado principalmente pelo crescimento da

indústria pesada e o fortalecimento da indústria de bens de capital. Este crescimento se processava movido

por grande concentração do capital, poder e riqueza e um padrão concorrencial muito agressivo e destrutivo.

Entretanto, a partir de 1873 encerrou-se o fim deste período de grande expansão econômica e deu-

se o início de um período de crise na Europa, chamado de Longa Depressão. Com o advento desta crise, o

arcabouço construído pela teoria clássica não era capaz, naquele momento, de explicar a origem dos

problemas bem como de apontar possíveis soluções. É neste ambiente de mudança que surgiram as escolas

de pensamento de matriz neoclássica.

O neoclassicismo apresentou-se sob a forma de importantes escolas, dentre as quais se destacaram a

Escola de Viena ou a Escola Psicológica Austríaca, a Escola de Lausanne ou Escola Matemática, a Escola

de Cambridge e a Escola Sueca. A Escola de Viena desenvolveu-se em torno da construção teórica de Carl

Menger, a partir de 1870. Em 1871, ele desenvolveu a teoria do valor de troca, em seu livro Princípios de

Economia, baseando-se no princípio da utilidade decrescente. Outros autores dessa escola que colaboraram

com a construção teórica foram Stanley Jevons, que publicou também em 1871 o livro Teoria da Economia

Política, e o francês Leon Walras, que escreveu em 1874 Elementos de Economia Política Pura. Uma das

características dessa escola é que foi pouco divulgada no mundo em função da linguagem que ela utilizou;

Page 14: Apostila de Economia e Mercado

10

ainda assim, na Alemanha e na Áustria ela influenciou diversos estudos posteriores, principalmente os de

Friedrich Von Wieser e Eugen Böhm-Bawerk. Estes autores apresentaram importantes contribuições em

relação à teoria do capital e do juro.

É importante ressaltar que a principal contribuição da Escola de Viena estava baseada

essencialmente na mudança de foco da fonte da riqueza para o indivíduo. Nestes termos, deixou de se

preocupar em verificar como a riqueza era gerada, distribuída e consumida, principal preocupação dos

clássicos, e passou a verificar como são as necessidades dos homens, sua satisfação e como se dá a

valoração subjetiva dos bens. Esta escola constatou que os indivíduos apresentam escalas de preferência

decorrentes das mais variadas motivações, observando também que os objetos mais desejados, em geral, têm

uma oferta menor a que os indivíduos realmente gostaria que tivessem. A Escola de Lausanne, ou Escola de

Matemática, constitui uma das principais ramificações do pensamento neoclássico tendo como principal

representante e seu fundador Leon Walras (1834-1910). Uma das principais contribuições de Walras foi

desenvolver um sistema matemático que demonstrava o equilíbrio geral na economia, justificado pela

interdependência de todos os preços dentro do sistema econômico.

Desta forma, mostrou que as unidades econômicas não podiam ser analisadas separadamente, sendo

necessário verificar a interação destas unidades com o restante da economia.

Essa construção é alternativa ao modelo de equilíbrio desenvolvido por Alfred Marshall,

considerado o principal representante da Escola de Cambridge, sendo referência seu principal trabalho,

Princípios de Economia, publicado em 1890. Destaca-se nesta obra a utilização de modelos simplificados da

realidade que permitem ao investigador observar frações da economia.

Supõe que através destes modelos o comportamento desta fração da economia que está se

analisando, que pode ser uma empresa ou um setor empresarial, por exemplo, não exercem influência

apreciável sobre a atividade econômica restante. Todavia, isto não significa que a parte da economia que

está sendo analisada permaneça inalterada; o que Marshall pondera é que esta fração da economia modelada

irá se ajustar aos efeitos de uma mudança externa.

Como forma de mensurar as motivações humanas de um modo mais homogêneo, sem as

dificuldades de se mensurar cada uma das atribuições de valor individual, Marshall adotou um denominador

comum: a moeda. Entretanto, adotar este denominador não seria válido; o mais adequado seria utilizá-lo

sobre um conjunto de indivíduos, ou seja, um grande grupo ou um organismo social, já que desta forma as

diferenças de renda são niveladas.

Desta forma, o estudo dos preços (de bens e de fatores) passou a constituir a principal área de

investigação de Marshall, com o objetivo de descobrir as regularidades da atividade econômica.

Finamente, dentre as principais escolas que compõem o neoclassicismo está a Escola Neoclássica

Sueca, cujo maior representante é Knut Wicksell. Suas principais contribuições estão ligadas à análise do

valor e da distribuição, expressas em sua obra Juros e Preços, com destaque para a importância da moeda e

Page 15: Apostila de Economia e Mercado

11

do crédito na atividade econômica. Nestes termos, sua principal contribuição foi ser o pioneiro a integrar os

aspectos monetários aos aspectos do lado real, produtivo, da economia.

Nesta época, se supunha que mudanças nos valor dos preços e no valor da moeda refletiam apenas

mudanças na quantidade de moeda e na velocidade de sua circulação, não promovendo alterações na

quantidade produzida. Esta era dada pela oferta de recursos e pela tecnologia empregada (produtividade). A

integração entre o lado monetário e o lado real da economia seria posteriormente desenvolvida com maior

profundidade por John M. Keynes.

2.4 O MARXISMO

Karl Marx (1818-1883) opôs-se aos processos analíticos dos clássicos e às suas conclusões, com

base no que Lenin considerou a melhor criação da humanidade no século XIX: a filosofia alemã, a economia

política inglesa e o socialismo francês.

Criticou a doutrina populacional de Malthus com base nas diferenças características dos diversos

estágios da evolução econômica e seus respectivos modos de produção, afirmando que uma mudança no

sistema produtivo poderá converter em excedente demográfico uma aparente escassez populacional.

Preocupou-se com épocas históricas específicas, contestando os casos hipotéticos dos clássicos

(Smith, por exemplo, escrevera sobre um estágio "primitivo e rude" da sociedade), as construções abstratas

que não consideravam o significado da dinâmica interna do processo histórico, nem as leis econômicas

peculiares aos estágios históricos.

Ao lado de disputas metodológicas com o classicismo, Marx modificou a análise do valor, apesar

de haver utilizado vários componentes da versão clássica da teoria do valor-trabalho (Ricardo,

especialmente); desenvolveu conceitos que se tornaram muito conhecidos (como, por exemplo, o de mais-

valia, capital variável, capital constante, exército de reserva industrial e outros), analisou a acumulação do

capital, a distribuição da renda, as crises econômicas etc.

Afirmava Marx que "o valor da força de trabalho é determinado, como no caso de qualquer outra

mercadoria, pelo tempo de trabalho necessário à produção, e consequentemente à reprodução, desse artigo

em especial".

Desenvolveu argumentos para mostrar que o valor da força de trabalho se baseia nos insumos de

trabalho necessários à subsistência e treinamento dos trabalhadores. As condições da produção do sistema

capitalista, entretanto, obrigam o trabalhador a vender mais tempos de trabalho do que o necessário para

produzir valores equivalentes às suas necessidades de subsistência. Os trabalhadores são obrigados a aceitar

as condições impostas pelos empregadores porque não dispõem de fontes alternativas de renda.

Assim, seu dia de trabalho compreende o tempo ―necessário- à produção de valores iguais às

exigências de manutenção, e um tempo de trabalho ―excedente‖―. O valor criado pelo tempo de trabalho

excedente é apropriado pelos detentores dos meios de produção - os capitalistas.

Page 16: Apostila de Economia e Mercado

12

Por sua própria natureza, o capitalismo tende a separar as classes sociais de modo sempre crescente:

com o avanço tecnológico, um número cada vez maior de trabalhadores é rebaixado em suas técnicas, e

passa a realizar operações de rotina e tarefas repetitivas. Além disso, a substituição dos homens pelas

máquinas faz aumentar o exército de reserva dos desempregados - conseqüência do modo de produção

capitalista, que mantém a posição de poder dos capitalistas e permite abundante oferta de trabalho a salários

de subsistência. Aliás, entre os próprios capitalistas, a difusão do maquinismo e a dinâmica do sistema

fazem desaparecer os pequenos empresários, ou os de menores recursos, que também se tornam dependentes

dos proprietários dos meios de produção.

Ademais, a existência do exército de reserva industrial explica também a tendência dos salários se

manterem ao nível de subsistência: os capitalistas podem recorrer à mão-de-obra desempregada para

substituir aquela que deseja melhores salários.

Muitos autores afirmam que a contribuição de Marx à análise econômica é um prolongamento,

engenhosamente elaborado, da Escola Clássica. Outros os contestam com veemência, insistindo no erro

frequente de se analisar separadamente as diversas teorias marxistas, o que destrói a unidade do marxismo -

um conjunto de filosofia, sociologia, história e economia. Outros, enfim, acusam o "complô do silêncio" dos

"economistas burgueses" em tomo da obra de Marx, por causa de sua sociologia da revolução, que preconiza

a derrubada violenta da ordem capitalista.

2.5 A FASE ATUAL DA CIÊNCIA ECONÔMICA: DE 1929 AOS NOSSOS DIAS

As críticas apresentadas às teorias neoclássicas, a partir de 192o, atingiram, seu ponto culminante

no decênio de 193o, que se caracterizou por ser um período de grande fermentação teórica. Na maioria dos

casos, os debates provocaram novas análises e novos estudos em ambos os lados oponentes (de que são

exemplos os trabalhos sobre o comportamento dos preços das empresas situadas entre o monopólio puro e a

concorrência perfeita; o comportamento ótimo do produtor e do consumidor; a teoria do monopólio e da

concorrência imperfeita; os problemas da "grande empresa" resultantes da concentração do poder econômico

etc.).

É evidente que os fatos econômicos contribuíram intensamente para acirrar os debates dos

economistas: os problemas decorrentes da Primeira Grande Guerra e da crise de 1929 evidenciaram a

insuficiência da tradição clássica e neoclássica para solucioná-los. Os países industrializados do mundo

ocidental, abalados por séria crise no pós-guerra, que ocasionou elevados níveis de desemprego e profundo

descontentamento do povo, sofreram em 1929 o impacto de outra crise, iniciada na Bolsa de Valores de

Nova Iorque.

Parecia muito distante da realidade a imagem de funcionamento de um sistema econômico criada

pelos clássicos e neoclássicos: o pleno emprego seria o nível normal de operação da economia, e as

distorções que surgissem teriam correção oriunda de remédios gerados pelo próprio sistema econômico.

Page 17: Apostila de Economia e Mercado

13

Ao invés disso, entretanto, o desemprego atingira proporções alarmantes e não havia indicações de

que tal situação estava se autocorrigindo.

Na ausência de um diagnóstico teórico sobre a economia do desemprego maciço, os políticos e os

governantes tentaram desesperadamente remediar os males por meio de medidas como a restrição das

importações, o aumento de tarifas, a desvalorização da moeda, a realização de obras públicas como

mecanismo de criação de emprego (Inglaterra) ou de estímulo à economia (Estados Unidos) etc.

2.6 A REVOLUÇÃO KEYNESIANA

No conturbado período entre as duas Grandes Guerras, surgiu John Maynard Keynes (1883-1946),

cujas obras romperam com a tradição neoclássica e apresentaram um programa de ação governamental para

a promoção do pleno emprego. Foi tal o impacto que produziram, que a atuação de Keynes e de seus

continuadores passou a ser cognominada de "Revolução Keynesiana".

Teórico e homem de ação, Keynes foi conselheiro de vários governos da Inglaterra, participou de

importantes conferências internacionais durante a Segunda Guerra Mundial (1943: Plano Keynes para

estabilização internacional das moedas), administrou financeiramente o "King's College" etc. Terminada a

Guerra, participou ativamente dos trabalhos de criação do Fundo Monetário Internacional e do Banco

Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento.

Interessou-se pelos problemas da instabilidade a curto prazo e procurou determinar as causas das

flutuações econômicas e os níveis de renda e de emprego em economias industriais. Alguns neoclássicos já

haviam se referido às "flutuações industriais" e à "inconstância do emprego", mas enfocando principalmente

as forças que influenciavam a produção em mercados determinados e não as que agiam sobre a economia

como um todo.

Marx, por outro ângulo, também se aproximara das preocupações de Keynes, mas não aprofundara

nesse assunto, talvez por acreditar na queda inevitável do capitalismo. Keynes, entretanto, colocou em

dúvida as pressuposições dos neoclássicos, bem como suas preocupações com o "Iongo prazo" – período no

qual "todos estaremos mortos".

Considerou os problemas dos grandes agregados a curto prazo e esforçou-se no sentido de contestar

a condenação marxista do capitalismo: este poderia ser preservado, em sua parte essencial, se reformas

oportunas; fossem efetuadas, já que um capitalismo não regulado mostrara-se incompatível com a

manutenção do pleno emprego e da estabilidade econômica.

Keynes criticou a Lei de Say e inverteu a perspectiva de exame da moeda em movimento (enquanto

"gasta") para analisá-la quando entesourada ou guardada; reinterpretou a taxa de juro; analisou a poupança e

o consumo; estudou sob novo enfoque a determinação do investimento e o equilíbrio agregativo; atribuiu

papel ativo à política fiscal, defendendo déficits públicos propositais para inflar a procura agregada; opôs-se

à excessiva confiança nos controles monetários etc.

Page 18: Apostila de Economia e Mercado

14

As deficiências e as "temeridades" da obra de Keynes, entretanto, têm sido apontadas por vários

autores: ao invés de "geral", como pretendeu, sua "Teoria" permaneceu particular (resposta à situação da

Grã-Bretanha durante a crise dos anos 30; limitou-se ao subemprego e ao curto período); simplificou

exageradamente a complexa realidade econômica; omitiu a análise da microeconomia; colocou-se

voluntariamente no quadro das estruturas capitalistas; não se aplicou aos países emergentes etc. O que é

mais grave: não considerou o problema fundamental do "fim" da análise produtiva ou a que "tipo de

civilização" é chamada a servir a gigantesca engrenagem de técnicas, capitais e trabalho humano.

Autores socialistas têm criticado severamente Keynes por haver recomendado políticas econômicas

que, além de aumentarem a inflação, não provocam a elevação do poder aquisitivo dos trabalhadores -

apenas estimulam o consumo dilapidadoras classes dominantes. Ao tentar encobrir o caráter classista do

consumo na sociedade burguesa, Keynes estabeleceu uma única - lei- de consumo para todas as classes,

ignorando que o consumo dos trabalhadores e dos capitalistas é de natureza muito diferente. Assim, não teria

sido casual o fato de Keynes "realçar a figura de um ideólogo reacionário do consumo parasitário, como foi

Malthus". Apologista do capitalismo monopolista do Estado, Keynes teria silenciado conscientemente sobre

a natureza classista do Estado burguês imperialista - órgão dos monopólios capitalistas. Suas propostas para

aumentar o controle estatal sobre a atividade econômica agravaram o jugo da oligarquia financeira, mediante

a utilização dos recursos da renda nacional.

Por outro lado, alguns socialistas procuraram integrar certas contribuições Keynesianas no sistema

socialista, como a política do pleno emprego e a do direcionamento dos investimentos. Ou, então, tentaram

aproximá-lo de Keynes: a armada industrial de reserva seria o pressentimento do desemprego permanente de

Keynes; a tese marxista do subconsumo operário estaria próxima da tese Keynesiana da insuficiência da

demanda efetiva; a tendência à baixa do lucro lembraria a insuficiência da eficácia marginal do capital; para

ambos, o juro é o preço da moeda disponível etc.

Apesar das numerosas críticas, a obra de Keynes estimulou o desenvolvimento de estudos não

apenas no campo da economia, mas também em áreas afins (assim, por exemplo, os econometristas

passaram a construir novos modelos agregados; a estatística conta com novo campo de pesquisas ligado à

contabilidade nacional, à coleta e análise dos dados da Renda Nacional, do Produto Nacional etc.).

Na área da renda, emprego e teoria monetária, as contribuições póskeynesianas têm provocado

verdadeiro impacto sobre a evolução do pensamento econômico contemporâneo (como, por exemplo, o

reenunciado matemático e a análise do processo dinâmico; o modelo multiplicador-acelerador de

Samuelson; a explicação de Hicks- Hansen das taxas de juros. as novas teorias da função consumo; a

hipótese de renda permanente de Friedman; a hipótese de consumo de Duesenberry; a hipótese da

proporcionalidade de Smithies; novas contribuições a respeito da natureza e do financiamento do

investimento; contribuições sobre a teoria monetária; integração entre a micro e a macroeconomia; teorias da

inflação de custo versus inflação da demanda etc.

Page 19: Apostila de Economia e Mercado

15

Na área de flutuação e do desenvolvimento econômico são geralmente considerados pós-

Keynesianos os autores que têm se interessado especialmente pela procura agregada e que contribuem no

sentido de tornar dinâmica a análise de Keynes, como Joan Robinson, Harrod, Hicks, Samuelson, Domar,

Duesenberry etc.

Enquanto Keynes reabilitava o capitalismo, o socialismo implantado a nível nacional, pela primeira

vez em 1917 (URSS), passou a servir de modelo, depois da Segunda Grande Guerra, às Democracias

Populares: China, Vietnã, Cuba etc.

Mas no limiar do ano 200o, bruscas mudanças econômicas, políticas e sociais surpreendem o

mundo: o vento da História, no início dos anos 9o, elimina desde os modelos extremos das economias

socialistas integralmente planificadas, até as forças políticas locais e regionais, que insistem em se apoiar tio

exacerbado centralismo estatal e na política massificadora.

Na ex-URSS, as surpresas têm sido muito grandes: os especialistas, sovietólogos e kremlinólogos,

haviam previsto todos os cenários, menos seu desmoronamento a parti r do interior do próprio sistema. Os

países da chamada "cortina de ferro- e até mesmo a China e a Albânia adotam mecanismos da economia de

mercado. Apenas Cuba persiste na via socialista autoritária e burocrática.

Daí se dizer que os anos 90 representam uma fase científica e tecnologicamente muito produtiva,

mas politicamente imprevisível. De fato, na área científica e tecnológica, o progresso é intenso, desde o

infinitamente pequeno ao infinitamente grande, mas no campo político, a reavaliação do papel do Estado

apresenta fatos inesperados, sobretudo no ponto de junção entre a estrutura e a superestrutura: o comunismo

fracassa na tentativa de aperfeiçoar a sociedade com base no planejamento da intervenção estatal e, ao

mesmo tempo, provoca a reabilitação da iniciativa individual e do lucro, que retornam, com a "mão invisível

de Adam Smith", como os únicos instrumentos confiáveis de aperfeiçoamento.

QUESTIONÁRIO

a) Quais são as premissas da escola clássica?

b) Quem são seus principais pensadores?

c) Qual é o enfoque da escola marginalista?

d) Quem são seus principais pensadores?

e) Qual o principal pensador da fisiocracia?

f) Qual a definição de utilitarismo?

g) Qual a diferenciação do pensamento entre Malthus e Marx?

h) Para Marx onde está o lucro?

i) Qual a função da política econômica para Keynes?

j) O que determina a produção no keynesianismo?

k) O que é o juro para Keynes?

3 MICROECONOMIA

3.1 MERCADO DE PRODUTO E DE FATORES DE PRODUÇÃO

3.1.1 Concorrência perfeita

Page 20: Apostila de Economia e Mercado

16

A estrutura de mercado caracterizada por concorrência perfeita é uma concepção ideal, porque os

mercados altamente concorrenciais existentes, na realidade, são apenas aproximações desse modelo, posto que,

em condições normais, sempre parece existir algum grau de imperfeição que distorce o seu funcionamento, de

acordo com Pinho e Vasconcellos (1998).

O seu conhecimento é importante não só como estrutura ideal, que é empregada em muitos estudos que

procuram descrever o funcionamento econômico de uma realidade complexa, como, também, pelas inúmeras

conseqüências derivadas de suas hipóteses que condicionam, o comportamento dos agentes econômicos em

diferentes mercados.

Uma estrutura de mercado descrita como de concorrência perfeita deve preencher todas as seguintes

condições:

a) Atomização: o número de agentes compradores e vendedores é de tal ordem que nenhum

deles possui condições para influenciar o mercado. A expressão de cada um é insignificante.

b) Homogeneidade: o bem o serviço, no mercado de produtos, o fator de produção, no

mercado de fatores, é perfeitamente homogêneo. Nenhuma empresa pode diferenciar o

produto. O produto vindo de qualquer produtor é um substituto perfeito do que é a ofertados

por quaisquer outros produtos.

c) Mobilidade: cada agente comprador e vendedor atua independente de todos os demais. A

mobilidade é livre e não há quaisquer acordos entre os que participam do / no mercado.

d) Permeabilidade: não há quaisquer barreiras para entrada ou saída dos agentes que atuam ou

querem atuar no mercado. Barreiras técnicas, financeiras, legais, emocionais ou de qualquer

outra ordem não existem.

e) Preço limite: nenhum vendedor de produto pode praticar preços acima daquele que está

estabelecido no mercado, resultante da livre atuação das forças de oferta e da procura. Em

contrapartida, nenhum comprador pode impor um preço abaixo dos de equilíbrio, o preço

limite é dada pelo mercado.

f) Extrapreço: não há qualquer eficácia em formas de concorrência fundamentadas em

mecanismos extrapreço. A oferta de quaisquer vantagens adicionais, associáveis o produto

ou fator, não faz qualquer sentido. Essa característica é subproduto da homogeneidade.

g) Transparência: por fim, o mercado é absolutamente transparente. Não há qualquer agente

que tenha informações privilegiadas ou diferentes daquelas que todos detêm. As

informações que possam influenciar o mercado são perfeitamente acessíveis a todos.

3.1.2 Monopólio

O monopólio situa-se em outro extremo. Essa estrutura se situa no extremo oposto do da concorrência

perfeita. As condições que caracterizam são:

a) Unicidade: há apenas um vendedor, dominando inteiramente a oferta. Sob monopólio, os

conceitos de empresa e de atividade sobrepõem-se. A indústria monopolista é constituída

por uma única firma ou empresa.

b) Insubstitutibilidade: o produto da empresa monopolista não tem substituto. A necessidade

que ela atende não tem como ser igualmente satisfeita por qualquer similar ou sucedâneo.

c) Barreira: a entrada de um novo concorrente no mercado monopolista é, no limite,

impossível. As barreiras de entrada são rigorosamente impedidas. Podem decorrer de

disposições legais, de direitos de exploração outorgado pelo poder público a uma única

empresa, do domínio de tecnologias de produção e de condições operacionais exigidas pela

própria atividade.

Page 21: Apostila de Economia e Mercado

17

d) Poder: a expressão poder de monopólio é empregada para a caracteriza a situação

privilegiada em que se encontram com monopolista, quanto as duas importantes variáveis

do mercado preço e quantidades.

e) Extrapreço: devido a seu pleno domínio sobre o mercado, os monopólios dificilmente

recorrem às formas convencionais de mecanismos extrapreço, para estimular ou

desestimular comportamentos de compradores.

f) Opacidade: os monopólios são, por definição, opacos. O acesso a informações sobre fontes

supridoras, processos de produção, níveis de oferta e resultados alcançados dificilmente são

abertos e transparentes. A empresa monopolista e caracteriza-se por ser impenetrável.

3.1.3 Oligopólios

As estruturas oligopolistas não se caracterizam por fatores determinantes puros e extremados. Os tipos

possíveis, de fato, observadas na realidade são de alta variabilidade. Em todas as características desta estrutura de

mercado, os conceitos são mais flexíveis, comparativamente aos casos extremados de concorrência perfeita e de

monopólio.

a) O número de concorrentes: geralmente, é pequeno. Palavras como limitados, poucos,

alguns, vários, são empregadas para indicar o número de concorrentes nas estruturas

oligopolistas.

b) Diferenciação: outra característica de alta variabilidade se refere a fatores como

homogeneidade, substitutibilidade e padronização dos produtos. Isto por que tanto podem

ocorrer oligopólios de produtos diferenciados, como de produtos não diferenciáveis.

c) Rivalização: tipicamente, os concorrentes que atuam sob condições de oligopólio são fortes

rivais entre si. Há casos até de rivalizações que transparecem campanhas publicitárias e em

práticas comerciais desviadas de padrões de ética e a lealdade. Mas, no outro extremo,

encontra-se também situações de oligopólio em que os concorrentes se unem em acordos

setoriais, todos respeitando rigorosamente as regras negociadas e definidas.

3.1.4 Concorrência Monopolística

Esta estrutura contém características que se encontram nas definições usuais de mercados

perfeitamente competitivos e monopolizados. Na concorrência monopolística, o número de concorrentes é

grande. O consumidor encontra facilmente substitutos, não ocorrendo dessa forma à caracterização essencial

do monopólio puro. As características principais desta estrutura de mercado são:

a) Competitividade: é elevado o numero de concorrentes, com capacidade de competição

relativamente próximas.

b) Diferenciação: o produto de cada concorrente apresenta particularidades capazes de

distingui-lo dos demais e de criar um mercado próprio para ele.

c) Substitutibilidade: embora cada concorrente tenha um produto diferenciado os produtos de

todos os concorrentes substituem-se entre si. Obviamente, a substituição não é perfeita, mas

é possível, conhecida e de fácil acesso.

d) Preço-prêmio: a capacidade de cada concorrente controlar o preço depende do grau de

diferenciação percebido pelo comprador. A diferenciação quando percebida e aceita, pode

dar origem a um preço-prêmio, gerando resultados favoráveis e estimuladores.

e) Baixas barreiras: as barreiras de entrada em mercados monopolisticamente competitivos

tendem a ser baixas. Há relativa facilidade para ingresso de novas empresas no mercado.

Para Pinho e Vasconcellos (1998), embora apresente, como a concorrência perfeita, uma estrutura

de mercado em que existe um número elevado de empresas, a concorrência monopolista (também chamada

Page 22: Apostila de Economia e Mercado

18

concorrência imperfeita) caracteriza-se pelo fato de que as empresas produzem produtos diferenciados,

embora substitutos próximos.

Por exemplo, diferentes marcas de cigarros, perfumes, sabonetes, refrigerantes etc.

Trata-se, assim, de uma estrutura mais próxima da realidade que a concorrência perfeita, onde se

supõe um produto homogêneo, produzido por todas as empresas.

Nesta estrutura, cada empresa tem certo poder sobre a fixação de preços. Ou seja, a curva de

demanda com a qual se defronta é negativamente inclinada, embora bastante elástica, pois a existência de

substitutos próximos permite aos consumidores alternativas para fugirem de aumentos de preços.

3.1.5 Monopsonio

Esta estrutura de mercado é caracterizada pela existência de muitos vendedores e um único

comprador (Pinho e Vasconcellos,1998). É uma estrutura que pode prevalecer especialmente no mercado de

trabalho. Portanto, ou os trabalhadores empregam-se no monopsônio, ou precisam trabalhar em outra

localidade, por exemplo.

A curva de oferta de trabalho indica quantas; unidades serão empregadas, dado o preço do salário.

Como o monopsonista precisa pagar salários mais elevados para obter unidades adicionais de trabalho, o

custo marginal é crescente e, portanto, a curva de Custo Marginal situa-se acima da curva de oferta do fator,

que é a sua curva de Custo Médio.

A conseqüência deste fato é que o Custo Marginal é superior ao preço pago ao trabalho marginal,

porque ele deve pagar salários mais altos para todas as unidades já empregadas. Quando o monopsonista

está em equilíbrio, maximizando o lucro, naturalmente igualando o Custo Marginal no valor do produto

marginal do fator, ele paga um preço para o fator, que é inferior ao valor de seu produto marginal.

Comparando-se o monopsônio com a firma monopolista ou de concorrência perfeita, verifica-se

que o preço pago pelo monopsônio é mais baixo.

Podemos definir também o oligopsônio, que se caracteriza por um pequeno número de firmas

compradoras de um dado produto. Por exemplo, o setor automobilístico, na compra de auto-peças, os

supermercados etc.

3.1.6 Monopólio bilateral

No monopólio bilateral, defrontam-se um monopolista e um monopsonista. Tipicamente, o

monopolista deseja vender uma dada quantidade de produto por um preço relativamente alto, e o

monopsonista pretende comprar a mesma quantidade por um preço o mais baixo possível. Como ambas as

posições são conflitantes, somente a negociação recíproca permite a definição do preço. O preço final

dependerá do poder de regateio de cada um dos oponentes.

Page 23: Apostila de Economia e Mercado

19

3.2 MECANISMOS DE PREÇOS

3.2.1 Demanda

A demanda individual é definida como a quantidade de bem ou serviço que determinado indivíduo

deseja consumir em certo período de tempo. Dois aspectos estão presentes na definição de demanda. O

primeiro refere-se ao fato da demanda representar o desejo de consumir algo. Esta se encontra relacionada

ao plano de consumo, ao anseio e não ao consumo efetivamente realizado. O segundo aspecto representa o

desejo de consumir algo em determinado período de tempo específico.

Vários fatores determinam a demanda por um bem ou serviço no mercado: o preço do bem e

serviço, o preço de substitutos, a renda disponível e preferências do consumidor. Veja:

a) Preço de bem ou serviço: apresenta uma relação inversa com a quantidade consumida. Em

outras palavras, quanto maior o preço do bem ou serviço menor será a demanda do

consumidor.

b) Preço de bens substitutos: afeta a demanda do bem principal através do preço, porém,

ponderado por quão satisfatoriamente o substituto puder satisfazer a demanda pelo primeiro.

Caso o outro bem for considerado um bom substituto, o evento de um aumento de seu preço

em relação ao bem principal pode estimular o consumo do outro, e viceversa.

c) Renda disponível: afeta a disposição de demandar determinados bens e serviço no mercado.

A quantidade de recursos financeiros possibilita optar por bens e serviços mais e menos

sofisticados.

d) Preferências do consumidor: também representam impacto sobre a demanda, já que o

consumidor pode preferir um produto A, se puder pagar, em detrimento ao produto B, por

lhe dar mais prazer e satisfação no atendimento de suas necessidades.

Page 24: Apostila de Economia e Mercado

20

O entendimento do comportamento da demanda por determinado bem ou serviço se torna mais

claro quando, a partir dos dados, é construída uma curva de demanda. Sua construção se dá a partir da

verificação de qual é a quantidade demandada em cada uma das possibilidades de preço em um gráfico

cartesiano. No presente exemplo é apresentado o comportamento da demanda por ingressos para o Show do

Pink Floyd no estádio do Morumbi, em São Paulo. Antes de focar a atenção no gráfico propriamente dito,

verifique como se comporta a quantidade demandada de ingressos em relação aos preços que podem ser

praticados. Verifique que, se o preço cobrado pelo ingresso de gramado for de $ 100, o público estimado

para esta parte do estádio seria de 20.000 pessoas pagantes; no outro extremo, caso o preço cobrado seja de

$ 350, apenas 5.000 pessoas estariam dispostas a pagar pelo ingresso de gramado. Supondo-se que 5.000 é o

número máximo de pessoas que o órgão da Prefeitura que regulamenta este tipo de evento estipulou para

esta parte do estádio, o preço cobrado para gramado o seria $ 350.

Nota-se que esta é composta por dois eixos, sendo que o vertical representa o preço do ingresso e o

horizontal expressa a quantidade de entradas demandadas para o gramado no show. Plotando na Figura um

ponto para a quantidade de ingressos em cada um dos preços obtém-se a curva de demanda.

Seguindo adiante, imagine, agora, que, por motivo de reforma nas arquibancadas do estádio, serão

ofertados apenas ingressos para o gramado. Neste caso, todos os consumidores que preferiam ver o show da

arquibancada, se ainda quiserem vê-lo, terão que adquirir ingressos de gramado. Desta maneira, haveria um

crescimento do número de pessoas dispostas a comprar um ingresso de gramado para o show, deslocando a

curva de demanda para a direita. A próxima figura mostra a diferença entre um deslocamento ao longo da

curva, de um deslocamento da curva de demanda para a direita. Com base nesta Figura, ao preço de $350,

haveria 2.500 pessoas dispostas a assistir ao show, conforme aponta o ponto A plotado na primeira curva de

demanda D1. Note que, se a organização do evento resolvesse ocupar o limite de espaço de 5.000

espectadores no gramado, teria que cobrar o preço de $ 215, que está representado pelo ponto B. Quando

ocorre o anúncio da proibição da venda de ingressos para arquibancada, a demanda por ingressos de

gramado cresce, deslocando-se para a direita, sendo agora representada por D2, crescendo a quantidade de

Page 25: Apostila de Economia e Mercado

21

ingressos vendidos a $ 350, para 5.000. Este exemplo mostra a diferença entre um deslocamento ao longo da

curva de demanda, mudança do ponto A para o B, de um deslocamento da curva de demanda, de D1 para D2,

e dos pontos A para o C.

Entretanto, podem ocorrer tanto deslocamentos na demanda para direita como para esquerda; em

outras palavras, a demanda pode tanto crescer como pode diminuir. Um deslocamento para a direita

significa um aumento de D1 para D2. Por outro lado, uma redução provoca um deslocamento da demanda

para a esquerda, ou de D1 para D3, conforme expressa a figura seguinte.

Os bens substitutos e os bens complementares podem exercer influência nos deslocamentos da

demanda do bem principal. Inicia-se com um exemplo de como um bem complementar pode influenciar em

um deslocamento da curva de demanda de um bem: imagine que em função da superprodução de queijo tipo

minas, seu preço caia bastante, fazendo com que mais pessoas decidam por sua aquisição. Neste caso, ocorre

um desolamento de preço sobre uma mesma curva de demanda. Porém, o aumento do consumo de queijo

minas, implica também em um deslocamento da curva de demanda de goiabada para a direita, já que

Page 26: Apostila de Economia e Mercado

22

diversas pessoas que antes não compravam goiabada por não ter o queijo minas, para acompanhar agora vão

passar a consumi-la.

Também, os bens substitutos exercem influência sobre os deslocamentos da demanda do bem

principal. Imagine, agora, o mercado de manteiga e sua curva de demanda. O que ocorreria com esta curva

de demanda caso o preço da margarina sofresse uma sensível diminuição? A curva de demanda de manteiga

se deslocaria para a esquerda, passando de D1 para D3. Em outras palavras, uma parte considerável de

consumidores, que antes demandavam manteiga, passará a demandar margarina em função de seu preço, que

passou a ser mais atrativo. Nunca é demais lembrar que a demanda por manteiga não se extingue por

completo, já que os consumidores que têm maior preferência pela manteiga não deixarão de consumi-la,

mesmo com a redução do preço da margarina.

3.2.2 Oferta

Assim como a demanda, além do preço de venda, alguns outros fatores interferem na oferta dos

produtos, entre eles destacam-se o preço de outros bens substitutos, os custos de produção, e as expectativas

dos produtores em relação à demanda futura.

Inicialmente, trata-se da discussão da oferta a partir da influência do preço, já que este determinante

é o que mais nos interessa neste item. A reação do ofertante em relação ao preço é exatamente o oposto da

reação dos consumidores, ou seja, seu desejo de ofertar bens é estimulado quando se elevam os preços. É

importante destacar aqui, que, assim como a demanda, em relação à oferta está se tratando do desejo de

vender determinada quantidade de bens ou serviços em determinado período de tempo a certo nível de

preço. Nestes termos, aqui, como anteriormente, não se trata de um fato consumado, mas de um anseio.

A próxima figura apresenta a curva da oferta e esta se posiciona de forma diferente da curva da

demanda, configurando comportamentos antagônicos. Avalia-se a curva de oferta propriamente dita, a partir

da disposição de ingressos de gramado para o show do Pink Floyd no Estádio do Morumbi em função dos

preços. Para tornar o exemplo mais real, incorpora-se a noção de que, quanto maior o número de pessoas,

maior o aparato de segurança e organização que os promotores do evento terão que proporcionar, fazendo

com que exista a necessidade de dosar bem a oferta em relação ao preço. Deste modo, verifique que quanto

mais o preço do ingresso vai crescendo, maior é a quantidade de ingressos que os promotores do evento

terão interesse em ofertar. Neste sentido, note que a curva da oferta apresenta uma inclinação positiva em

relação ao eixo vertical, representado pelos preços.

Page 27: Apostila de Economia e Mercado

23

Muito embora a oferta seja grandemente estimulada pelos preços, como foi dito anteriormente, este

não é o único fator que influencia na decisão da quantidade que será ofertada. Imagine que no mesmo dia em

que os organizadores estejam programando o show do Pink Floyd no Estádio do Morumbi, seja programado

um show religioso no Estádio do Pacaembu, e que, devido à ocorrência de dois eventos de grande porte em

um mesmo dia, ocorra a carência de profissionais de segurança em eventos deste porte na cidade de São

Paulo.

Desta maneira, os promotores do evento terão que recorrer a profissionais especializados na cidade

do Rio de Janeiro, o que faria com que a oferta de ingressos diminuísse. Tal fato provocaria uma redução na

oferta de ingressos, representada na próxima Figura pela mudança da curva de oferta S1 para S3. Em caso

contrário, se já se previsse a ocorrência dos eventos na mesma data e o evento religioso por algum motivo

fosse adiado, a curva de oferta se deslocaria para a direita, já que não seria mais necessário trazer seguranças

de outra localidade, fazendo reduzir este custo. O impacto disso pode ser verificado pelo deslocamento da

curva S1 para S2.

Page 28: Apostila de Economia e Mercado

24

Finalmente, é importante destacar o papel que as expectativas podem ter para a definição da

quantidade ofertada. Se por algum motivo, os produtores de bens e serviços souberem de alguma informação

que possa levar a um aumento da demanda, por exemplo, irão reagir a esta expectativa produzindo um

volume maior de bens e serviços visando atender a esta possível demanda. Os produtores estão sempre

estimando qual será a quantidade demandada para ter condições de atender à demanda de mercado.

Considere, por exemplo, as expectativas de oferta que se formam no meio empresarial no final de cada ano,

motivadas pela festa natalina e recebimento do 13º salário pelo trabalhador.

Equilíbrio de mercado

Com base nas mesmas curvas de demanda e oferta utilizadas, anteriormente, para estimar os preços

e as quantidades desejas pelo público e pela organização do show do Pink Floyd na cidade de São Paulo,

procede-se, agora, à união das duas curvas em um mesmo gráfico.

Note que há um ponto em que as curvas de demanda e de oferta se cruzam. É exatamente neste

ponto em que os interesses dos dois lados se equilibram, já que nele a quantidade que se deseja vender e

consumir é a mesma em um mesmo preço. Verifique, na Figura seguinte, que o preço de equilíbrio e

quantidade de equilíbrio para o show (representado nela como o ponto E) corresponde a $ 250 e 8.000

pessoas.

Para melhor compreensão do ponto de equilíbrio, verifique que se os ofertantes desejassem vender

os ingressos no valor de $ 300, iriam provocar uma situação de excesso de oferta, já que neste preço eles

teriam interesse em vender mais de 8.000 ingressos, porém neste preço não haveria contrapartida da

demanda para esta oferta. Neste caso, seria oferecido um valor excedente de ingressos. Por outro lado, caso

o preço fosse de $ 100, a demanda iria superar em muito a quantidade de ingressos que os produtores do

evento estariam dispostos a vender neste preço, e então seria observada a escassez de ingressos.

Além de identificar qual é o preço de equilíbrio, ao se reunir em um mesmo gráfico as curvas de

demanda e de oferta, torna-se mais fácil identificar qual é o impacto dos deslocamentos das curvas em 3

Page 29: Apostila de Economia e Mercado

25

relação ao preço e a quantidade. Inicialmente, pode-se identificar qual é o impacto de um deslocamento da

demanda no mercado de café, a partir do anúncio de uma revista cientifica especializada denotando as

qualidades desta bebida como estimulante, representado pela Figura sequinte. Note que um deslocamento

para a direita da curva de demanda, ou seja, a mudança da curva D1 para a D2, faz crescer a quantidade

consumida de Q1 para Q2, que por sua vez provoca, como resposta, a maior demanda para uma mesma

oferta (note que a curva de oferta permanece a mesma), a elevação do preço de P1 para P2.

O processo contrário não está representado nesta Figura, porém é de simples abstração. Imagine

que a demanda por café diminui, mas, como a oferta permanece a mesma, o preço irá reduzir.

Agora, que já se conhece o efeito de um deslocamento da curva de demanda para uma mesma

oferta, compreender o impacto de um deslocamento da oferta para uma mesma demanda se torna mais fácil.

Imagine que há um crescimento na oferta de chip de computador motivado pela descoberta de uma nova

técnica de produção, que traz um grande incremento na produtividade. Supondo que a demanda permaneça a

mesma, verifica-se que haveria uma queda de preços, representada pela Figura a seguir. Note que a curva de

oferta passa de S1 para S2, aumentando a quantidade de Q1 para Q2 e resultando em uma queda de preço de P1

para P2.

Page 30: Apostila de Economia e Mercado

26

Desta maneira, verifica-se que a interação entre os interesses dos demandantes e dos ofertantes em

uma economia de mercado tende a gerar uma situação em que se encontre um determinado patamar de preço

e quantidade que satisfaça às necessidades de ambos os interesses. Lembre-se que, além do preço do produto

em questão, existem outros fatores que interferem nas decisões dos consumidores e dos vendedores. Porém,

não é o escopo de nosso estudo esmiuçar todas as nuanças que compõem o comportamento dos produtores e

dos demandantes. Tal nível de aprofundamento é o objetivo de estudo de um curso de microeconomia, onde

são apresentados todos os fatores que permeiam o comportamento destes agentes.

Fixação de preço mínimo

É muito comum a fixação de preços mínimos, ou garantia de preços mínimos. Estas medidas visam

proteger os produtores, em geral agrícolas, das flutuações de mercado, ou melhor, defendê-los de uma

possível queda acentuada nos preços de seus produtos.

Antes de analisar o mecanismo de preços mínimos, vamos ver o que ocorria se não houvesse esta

política e as conseqüências disso. Raciocinemos com produtos agrícolas. Em um dado ano, houve uma

grande safra de amendoim e, portanto, haverá uma grande oferta. Os preços de equilíbrio serão baixos e

algumas vezes inferiores ao custo de produção. O que ocorrerá com a receita total dos agricultores? Irá

diminuir. O leitor já deve saber que esta redução não é causada apenas pela queda de preços, mas também

pelo fato de a demanda ser inelástica. Caso fosse elástica, a receita total aumentaria apesar da queda de

preços. Mas, em geral, a procura de produtos agrícolas é inelástica, Temos assim a primeira repercussão. A

renda dos agricultores diminui.

Os produtores, ao verem sua renda diminuir, alterarão seus planos em referência ao próximo ano.

Sentir-se-ão desestimulados a plantar amendoim, e alguns, ou muitos, passarão a plantar cebolas, cujo preço

é alto. A oferta de amendoim do ano seguinte cairá e a de cebolas aumentará. O preço do amendoim sobe.

Haverá escassez no mercado e prejuízo para os consumidores e para a indústria de óleos e outros derivados.

No mercado de cebola dá-se o inverso: os preços caem e a renda dos plantadores se reduz. Talvez no outro

ano a situação se inverta, e assim por diante.

Page 31: Apostila de Economia e Mercado

27

Para evitar estas flutuações e os prejuízos decorrentes, o governo interfere no mercado e fixa preços

mínimos para o amendoim. Ou seja, garante aos produtores uma dada remuneração mínima. Vamos analisar

esta política por meio de gráficos.

O preço mínimo é M e o preço de equilíbrio é 0 . Como o preço mínimo é inferior ao preço de

mercado, ninguém vai usar esta garantia. De fato, é melhor para o produtor vender diretamente ao mercado,

onde recebe P0 por cada unidade vendida, que recorrer às autoridades para receber PM por cada unidade.

A única vantagem do preço mínimo, nestas circunstâncias, é psicológica. Os produtores estavam

garantidos contra uma queda acentuada no preço.1º caso: preço de equilíbrio do mercado superior ao preço

mínimo

2º caso: preço de mercado inferior ao preço mínimo estabelecido

Neste caso vai surgir um excesso de oferta. Os produtores preferirão vender ao preço M que ao preço

P0 , pois ≥ P0 . A quantidade oferecida a este preço (PM ) será QS . A quantidade demandada seráQ0 . O

excesso de oferta será a difer nç Q

P PM e S - Q0 O governo precisa então intervir neste mercado, podendo fazê-lo por meio de dois

programas:

Page 32: Apostila de Economia e Mercado

28

Programa de compras - O governo compra o excedente ao preço PM. Podemos representar esta

intervenção por meio de um deslocamento para a direita da curva de demanda. A razão para esta

representação é fácil de ser entendida. A curva de procura D neste caso é a curva de procura de mercado.

Com o governo surge mais um elemento procurando o bem. Logo a curva de procura de mercado,

sendo a somatória das curvas de procura individuais, se desloca para a direita. Graficamente teremos:

Programa de subsídio - O governo permite que os preços caiam, mas, para manter a receita dos

produtores, paga a estes um subsídio. Este é a exata diferença entre o preço mínimo e o preço de mercado.

Graficamente temos:

3.2.3 Equilíbrio de mercado

Quando colocamos em contato consumidores e produtores com seus relativos planos de consumo e

produção, isto é, com suas respectivas curvas de demanda e oferta em um mercado particular, podemos

analisar como acontece a interação entre ambos os agentes.

Isoladamente, nem a curva de demanda, nem a curva de oferta poderiam nos dizer até onde podem

chegar os preços ou em que medida os planos dos consumidores e dos produtores são compatíveis. Para isso,

Page 33: Apostila de Economia e Mercado

29

deve-se realizar um estudo conjunto de ambas as curvas e proceder por tentativa e erro, analisando para cada

preço a possível compatibilidade entre a quantidade vendida e a demandada.

O preço de equilíbrio, e a quantidade oferecida e demandada (comprada e vendida) denomina-se

quantidade de equilíbrio. Costuma-se também dizer que o preço de equilíbrio zera o mercado.

Na situação de equilíbrio igualam-se as quantidades oferecidas e demandadas. Quando o preço é

maior que o de equilíbrio, por exemplo, R$ 7,00 por quilo de laranja, a quantidade que os produtores

desejam oferecer (120 kg) excede à quantidade que os demandantes desejam adquirir (50 kg), ou seja,

provoca um excesso de oferta. E, devido à pressão da mercadoria excedente, que não é vendida, a

concorrência entre os vendedores fará o preço descer até a situação de equilíbrio. Ao contrário, se o preço é

menor que o de equilíbrio, por exemplo, R$ 2,00 por quilo de laranja, a quantidade que o demandante deseja

adquirir (110 kg) é maior que a oferecida pêlos produtores (40 kg), isto é, há excesso de demanda. Nesse

caso, os compradores que não obtiveram a quantidade desejada do produto pressionarão a elevação de

preços até adquirir a quantidade desejada.

O preço de equilíbrio é aquele que coincidem os planos de demandantes ou consumidores e dos

ofertantes ou produtores.

Na visão de Dallagnol (2008), são as forças e os mecanismos de mercado, através das leis da oferta

e da procura, que conduzem à fixação de um preço de equilíbrio, capaz de harmonizar o permanente conflito

de interesses entre os produtores e os consumidores.

O preço de equilíbrio que ajusta os interesses dos que realiza a oferta e dos que exercem a procura é

o resultado de um prolongamento do jogo de ensaios e de erros.

Partindo da hipótese de o mercado está submetido a uma situação de concorrência perfeita, o preço

de equilíbrio será determinado pela livre manifestação das forças da oferta e da procura.

a) No Preço de Equilíbrio, a quantidade procurada se iguala a quantidade oferecida.

b) Graficamente, o equilíbrio ocorre na intersecção das curvas da Procura e da Oferta.

c) Para qualquer preço inferior, haverá excesso de procura e o preço tenderá a aumentar; para

qualquer preço acima do de equilíbrio, haverá um excesso de oferta e o preço tenderá a

baixar.

d) O Preço de Equilíbrio é aquele onde as quantidades procurada e oferecida se igualam.

Quando aquela igualdade não se verifica, diz-se que o mercado não está em equilíbrio ou está em

desequilíbrio.

Page 34: Apostila de Economia e Mercado

30

Hipóteses relativas a um mercado concorrencial ou competitivo

a) as curvas da procura têm um declive negativo em toda a sua extensão;

b) as curvas da oferta têm um aclive positivo em toda a sua extensão;

c) verifica-se uma alteração do preço, se e só se houver excesso de procura: no sentido da

subida se o excesso de procura for positivo, e no sentido da descida se o excesso de procura

for negativo.

Implicações das hipóteses do mercado concorrencial ou competitivo

a) só pode haver um preço para o qual a quantidade procurada e oferecida se igualam;

b) só ao preço de equilíbrio o preço de mercado é constante;

c) se verificar um deslocamento da curva da procura ou da curva da oferta,

d) também o preço e a quantidade de equilíbrio se alterarão.

As Quatro Leis da Oferta e da Procura

a) Um acréscimo na procura de um bem provoca um acréscimo no preço e quantidade de

equilíbrio.

b) Um decréscimo na procura de um bem provoca um decréscimo no preço e quantidade de

equilíbrio.

c) Um acréscimo na oferta de um bem provoca um decréscimo no preço de equilíbrio e um

acréscimo na quantidade de equilíbrio.

d) Um decréscimo na oferta de um bem provoca um acréscimo no preço de equilíbrio e um

decréscimo na quantidade de equilíbrio.

3.2 UTILIDADE MARGINAL

A utilidade marginal do consumo de um bem é definida como a relação entre o acréscimo na

utilidade do consumidor resultante de um pequeno acréscimo nesse consumo. A utilidade marginal pode ser

entendida como a o acréscimo à utilidade total decorrente de um aumento de uma unidade no consumo de

um bem.

Page 35: Apostila de Economia e Mercado

31

A lei da utilidade marginal decrescente afirma que com o aumento do consumo de uma

determinada mercadoria, diminui sua utilidade marginal.

3.3 CURVA DE POSSIBILIDADE DE PRODUÇÃO

A curva de possibilidades de produção é um recurso que os economistas utilizam para

ilustrar o problema da escassez. Por ser um conhecimento abstrato, vamos fazer uma aproximação do que

seria esta curva numa situação mais próxima da realidade: suponhamos que uma empresa tenha 10 máquinas

e 40 trabalhadores e que tenha apenas dois produtos na sua linha de fabricação: parafuso tipo A e parafuso

tipo B, adicionalmente, suponhamos que a empresa, por um determinado prazo de tempo, não possa mais

comprar máquinas e nem contratar mais trabalhadores adicionais e que não haja nenhuma inovação

tecnológica no processo de fabricação do produto.

Assim, os pressupostos são:

a) os recursos produtivos são fixos ou constantes;

b) o conhecimento tecnológico é constante;

c) somente dois produtos são passíveis de fabricação.

O Diretor da empresa encomenda ao engenheiro responsável pelo Departamento de Produção um

levantamento de quais são as possibilidades de produção da empresa utilizando-se plenamente e da forma

mais eficiente possível todos os fatores de produção da empresa (ou seja, os 40 trabalhadores e as 10

máquinas da empresa). O engenheiro, obedecendo tais ordens, faz o seguinte levantamento de produção:

O gráfico a seguir poderia ser montado para ilustrar as possibilidades de produçãocontidas no mapa

levantado pelo engenheiro, colocando-se no eixo das abscissas aprodução de A e no das ordenadas, a de B.

Page 36: Apostila de Economia e Mercado

32

Figura 1 - Curva de possibilidade de produção

Algumas constatações podem ser tiradas da análise do gráfico da empresa:

a) A produção de parafusos B é mais difícil de ser feita do que a do parafuso A;

b) Os pontos da curva de possibilidade de produção expressam a quantidade máxima possível

da produção de um dos bens, dada a produção do outro. Por exemplo, se a empresa desejar

produzir 11 unidades do bem A, ela poderá fabricar no máximo, utilizando todos os fatores

de produção da forma mais eficiente possível, 3 unidades do bem B;

c) Um ponto dentro da curva significa uma produção abaixo ou aquém das

d) possibilidades da empresa;

e) Um ponto fora da curva significa uma produção acima ou além das possibilidades de

produção;

f) O fato mais importante a ser constatado é de que aumentos na produção de um bem, se a

empresa estiver trabalhando em pontos situados na curva de possibilidades de produção, só

poderão ser efetuados à custa de decréscimos na produção do outro.

A eficiência máxima e o pleno emprego são alcançados, portanto, quando se mobilizam todas as

possibilidades de produção da economia; e a escolha das melhores alternativas depende das opções sociais

ou políticas feitas pela própria sociedade ou pelos seus governantes. Sejam quais forem essas opções, haverá

sempre um limite máximo para o seu atendimento, devido à limitação dos recursos, dado que jamais será

possível produzir quantidades infinitas de todos os bens e serviços desejados. (DALLAGNOL, 2008)

Como regra geral, o aumento da produção de dada classe de bens implica, necessariamente, a

redução da produção de uma outra classe, a não ser que tenha ocorrido um aumento nos recursos

acumulados.

Por isso não tem como aumentar a produção de um bem sem sacrificar a do outro, pois qualquer

combinação envolverá custo de oportunidade, ou seja, a transferência dos fatores de produção de um bem A

para produzir um bem B implica em um custo de oportunidade que é igual ao sacrifício de deixar de

produzir parte do bem A para produzir mais do bem B.

Concluindo, Dallagnol (2008) afirma que a escassez de recursos faz com que haja um custo de

oportunidade, quando se opta por certo bem. O deslocamento da curva de possibilidade de produção para a

direita indica que o País está crescendo. Isso pode ocorrer fundamentalmente tanto em função do aumento

da quantidade física de fatores de produção como em função de melhor aproveitamento dos recursos já

Page 37: Apostila de Economia e Mercado

33

existentes, o que pode ocorrer com o progresso tecnológico, maior eficiência produtiva e organizacional das

empresas e melhoria no grau de qualificação da mão-de-obra. Desse modo, a expansão dos recursos de

produção e os avanços tecnológicos, que caracterizam o crescimento econômico, mudam a curva de

possibilidade de produção para cima e para direita, permitindo que a economia obtenha maiores quantidades

de ambos os bens.

No deslocamento negativo, há um deslocamento da curva de possibilidade de produção para a

esquerda, devido a fatores que influenciam, tais como; pestes, epidemias e guerras que devastam a

população, desarranjos institucionais e depressões econômicas que sucateiam os bens, redução dos

investimentos de formação de capital fixo, o que implica em redução da capacidade produtiva e a prática de

explorações extensivas que resultam em devastação de recursos naturais.

Fatores que causam o crescimento econômico:

a) Aumento do investimento, sendo que mais bens de investimento tornam os trabalhadores

mais produtivos, para investir mais, as pessoas têm que reduzir seu consumo corrente e

poupar mais, de modo que sua poupança esteja disponível para o investimento;

b) Inovações surgem quando alguém descobre uma maneira de produzir mais ou melhor a

partir da mesma quantidade de insumos. As inovações em tecnologia, gerenciamento e em

técnicas de mercadologia podem contribuir para o crescimento econômico;

c) Maior divisão do trabalho, ao longo dos últimos dois séculos, permitiu que os trabalhadores

se tornassem mais produtivos em suas áreas de especialização. A maior divisão do trabalho

também quer dizer que os trabalhadores não estão produzindo para si mesmos, mas para

outras pessoas. Assim, a especialização e o comércio caminham juntos;

d) Aumento nos insumos, por exemplo, mais trabalhadores, mais máquinas e mais terra.

Um aumento no número de insumos leva a um maior produto e ao crescimento econômico.

3.4 FUNÇÃO CUSTOS

Page 38: Apostila de Economia e Mercado

34

A Economia trata os custos diferentemente da Contabilidade, que segundo Pindyck e Rubinfeld

(2002, p. 202) ―os quais estão preocupados em tratar o desempenho passado das empresas, como ocorre nos

demonstrativos anuais‖, ou seja, os contabilistas ―tendem a ter uma visão retrospectiva das finanças da

empresa [...] bem como avaliar o desempenho no passado‖.

Já os economistas projetam seus esforços nas perspectivas futuras da empresa. Uma das

preocupações da Economia são os Custos Econômicos, que são as oportunidades perdidas de uma empresa.

3.4.1 Custos de Oportunidade

Os custos de oportunidade e os custos econômicos são sinônimos, ou seja, os custos de

oportunidade são aqueles representativos das oportunidades que serão deixadas de lado caso a empresa não

empregue seus recursos de maneira mais rentável. Para Troster e Mochón (1999, p. 12) ―custo de

oportunidade de um bem ou serviço é a quantidade de outros bens e serviços a que se deve renunciar para

obtê-lo‖.

3.4.2 Custos Irreversíveis

Os custos irreversíveis são aqueles gastos que não podem ser recuperados, eles são visíveis,

contudo deveriam ser ignorados nas tomadas de decisões. Esses custos também representam um outro tipo

de custo fixo, segundo Varian (2000, p. 379) ―a pintura é um custo fixo, mas é também um custo

irrecuperável, pois representa um pagamento que, uma vez feito, não pode mais ser recuperado‖.

3.4.3 Custo Marginal (CMg) ou Custo Incremental

De acordo com Pindyck e Rubinfeld (2002, p. 207) custo marginal ―é o aumento de custo

ocasionado pela produção de uma unidade adicional de produto‖, ou seja, ―é apenas o aumento no custo

variável ocasionado por uma unidade extra de produto‖.

Troster e Mochón (1999, p. 106) salientam que o custo marginal ―pode expressar-se como a razão

da mudança no custo total ante uma mudança na produção‖.

3.4.4 Custo de Uso do Capital

Esse conceito define que o capital investido em um projeto, como por exemplo, a compra de uma

aeronave, possui um custo, dado que este poderia estar gerando uma receita de juros.

Essa receita de juros é justamente o que a economia chama de custo do capital, ou seja, quanto a

empresa deixou de ganhar no mercado financeiro já que ela optou por imobilizar o capital.

3.5 CUSTOS CONTÁBEIS

As curvas de custos tratam da relação entre os custos e o nível de produção,

evidenciando a variação do custo total com o aumento das quantidades produzidas. A curva de

custo total de curto prazo mostra as combinações de custo total em determinada quantidade

Page 39: Apostila de Economia e Mercado

35

produzida, dada a tecnologia empregada na produção. Através da análise da curva de custo total

de curto prazo, é possível escolher a combinação ótima de produção, ou seja, a que minimiza os

custos.

Besanko e Braeutigam (2004, p. 219) esclarecem que a curva de custo de curto prazo

“nos mostra o custo total mínimo de produção de Q unidades de produto, quando a quantidade

utilizada de pelo menos 1 insumo é constante” e que é igual à soma da curva de custo variável

total e à curva de custo fixo total, ou seja:

CTCP (Q) = CVT (Q) + CFT

Onde:

CTCP = custo total de curto prazo

CVT = custo variável total

CFT = custo fixo total

Q = quantidade

Na Figura 1 representam-se a curva de custo total, o custo total variável e o custo total

fixo de curto prazo.

Explicando-se cada curva da Figura 1 tem-se:

a) custos fixos totais (CFT): supondo que o único insumo fixo no curto prazo seja o estoque de

capital ―k” e que ―r”, o custo de capital e ―d‖ o custo de reposição do capital, então, (r + d)K é o custo total do capital e será fixo e sua representação é uma linha paralela ao eixo das

quantidades;

b) custo variável total CVT(Q): o custo variável aumenta com o nível de quantidade

produzida, assim a curva é inclinada para cima; porém não é linear, pois haverá uma região

inicial em que os custos crescem a taxas decrescentes devido aos ganhos de escala e depois

passam a crescer a taxas crescentes devido ao saturamento do insumo fixo, no caso o

capital;

Page 40: Apostila de Economia e Mercado

36

c) custo total é simplesmente a soma dos custos fixos e variáveis; assim, a distância vertical do

custo total é igual à distância do custo variável e ao custo fixo.

Sendo assim, uma empresa, quando inicia sua operação, terá rendimentos crescentes de escala,

refletidos em custos marginais decrescentes que podem ser visualizados pelos ângulos β1 e β2, ilustrados na

Figura 1, formados pelas tangentes ao longo do custo total.

A partir do ponto A, onde a empresa gera um custo médio mínimo, aumentos da produção são

realizados com retornos decrescentes que levam a custos marginais crescentes, que podem ser vistos na

Figura 1 pelos ângulos das tangentes da curva de custo total β3 e β4.

O ponto de custo médio mínimo é aquele representado pela reta que parte da origem até a função de

custo que possui menor ângulo, no caso ―‖.

Assim, a curva de custos de curto prazo pode também ser representada pelo custo médio e pelo

custo marginal. Rubinfeld e Pindyck, (2002, p. 209), afirmam que ―sempre que o custo marginal for inferior

ao custo médio, a curva de custo médio apresentará declínio.

Sempre que o custo marginal estiver acima do custo médio, a curva de custo médio apresentará

elevação‖.

É importante, então, compreender que na faixa onde o custo marginal estiver abaixo da curva de

custo médio, cada unidade adicional de produto fará com que haja redução do custo médio até o ponto de

mínimo, a partir do qual a produção de uma unidade extra de produto aumentará o custo médio.

Na decisão de produção é importante a distinção entre custos de curto prazo e os de longo prazo. O

longo prazo é caracterizado como aquele em que todos os insumos são variáveis e o de curto prazo, onde

pelo menos um insumo é fixo.

A análise das mesmas auxilia as empresas no problema de minimização dos custos totais de

produção. No longo prazo a empresa tem a flexibilidade de variar a quantidade de capital de maneira que

possa reduzir seus custos ou mesmo tomar decisões de expansão.

Besanko e Braeutigam (2004, p. 207) afirmam que a curva de custo total de longo prazo ―mostra

como o custo total varia com a produção, mantendo-se constantes os preços dos insumos‖. Segundo os

mesmos autores, no longo prazo a empresa pode variar todos os seus insumos possibilitando que altere a

proporção dos insumos para minimizar custos.

A Figura 2 permite vislumbrar essa relação, comparando a curva de custo total (CT) com as curvas

de custo marginal (CMg) e custo médio (CMe) no ponto mínimo de custo.

Page 41: Apostila de Economia e Mercado

37

Ilustra-se na Figura 2 (a) o ponto de minimização de custos onde a linha pontilhada que parte da

origem é uma tangente a curva de custo total (CT), no ponto A. Observa-se também que esse ponto está

representado por A’ na Figura 2 (b), onde a curva de custo marginal (CMg) é interceptada pela curva de

custo médio (CMe). Besanko e Braeutigam (2004, p. 222), explicam que ―a curva de custo marginal de

curto prazo CMg intercepta a curva de custo médio de curto prazo e a curva de custo variável médio no

ponto mínimo de cada curva‖ e, que o custo marginal é igual à inclinação da curva de custo total de curto

prazo.

Como podem ser observados na Figura 2 (b), os formatos das curvas de custo marginal e de custo

médio são em U em decorrência dos rendimentos crescentes e decrescentes de escala. Ao se imaginar uma

empresa operando na região onde os custos médios são decrescentes a mesma estará obtendo ganhos de

escala se estiver operando na região. A partir do ponto mínimo de custo, os custos médios serão crescentes,

não obtendo assim os ganhos de escala.

Outra forma de pensar essa relação é se o custo marginal é o acréscimo no custo total quando Q

varia uma unidade, então se o custo médio se reduz é porque o custo marginal é menor que o custo médio e

se o custo médio aumenta é porque o custo marginal é maior que o custo médio. Logo, quando o custo

Page 42: Apostila de Economia e Mercado

38

médio é igual ao custo marginal o custo médio será mínimo. Assim, as duas curvas se cruzam onde a curva

de custo médio atinge o ponto mínimo (WALSH; STIGLITZ, 2003).

A curva de custo total de longo prazo é semelhante à apresentada na Figura 2, exceto que a curva

total de longo prazo parte da origem, visto que todos os custos são variáveis, portanto elimina-se a

possibilidade de custo fixo. Da mesma forma, pode-se construir as curvas de custo médio de longo prazo e

custo marginal de longo prazo a partir do custo total.

Analisando a relação entre a curva de custos do curto prazo com a curva de custos de longo prazo,

Besanko e Braeutigam (2004, p. 220), explicam que pelo fato da empresa estar ―livre para variar a

quantidade de capital no longo prazo ela pode incorrer em custos totais inferiores aos que enfrenta quando o

capital está fixo‖. Assim sendo, no curto prazo a empresa não pode ajustar a quantidade de capital

livremente.

Dessa forma, em cada ponto da curva de custo total de longo prazo tem-se uma planta para operar

no curto prazo. Assim até o nível de produção Qn plantas maiores terão custos unitários menores, ou seja,

plantas maiores obtêm economias de escala. O ponto Qn representa a planta com menor custo unitário

possível. Assim, para qualquer quantidade maior que Qn a empresa passará a incorrer em deseconomias de

escala.

QUESTIONÁRIO

a) Qual a função da curva de possibilidade de produção?

b) Quais são os pressupostos da curva de possibilidade de produção?

c) O que é necessário para o crescimento econômico?

d) Caracterize concorrência perfeita, monopólio, monopsônio, oligopólio, oligopsônio e

concorrência imperfeita.

e) Quais são os custos a ser relevados?

f) Como são definidos os preços de cada bem ou serviço?

4 ECONOMIA INDUSTRIAL

4.1 ECONOMIA DE ESCALA E ESCOPO

Nos estudos econômicos abordados pela Organização Industrial – OI, a economia de escala,

segundo Farina (2000), existe quando o custo unitário decresce com o aumento da capacidade de produção.

Desta forma esta pode ser obtida com ganhos na negociação e compra de maior volume de matéria-prima;

produção, por meio de maior produtividade a partir de um volume maior produzido por planta; e,

distribuição, pela redução dos custos logísticos e de propaganda por volume negociado.

Segundo Porter (1989) as economias de escala surgem devido à habilidade de executar atividades

de forma diferentes e mais eficientes em um volume maior. Economias de escala refletem não somente a

tecnologia utilizada em determinado processo produtivo, como também a maneira como a empresa escolhe

operá-la. Conforme Farina (2000), Kupfer e Hasenclever (2002) existem quatro tipos especiais de

economias de escala:

Page 43: Apostila de Economia e Mercado

39

a) ganhos de especialização: que gera ganhos de produtividade exigi uma escala mínima de

capacidade produtiva para que seja possível a divisão do trabalho, desse modo, os

trabalhadores adquirirão uma maior habilidade e especialidade em suas funções e, com

máquinas especializadas, maior será a sua produtividade;

b) economia de escala por indivisibilidade técnica que esta relacionada com o tamanho dos

equipamentos industriais. Embora os equipamentos possam ser aumentados em quantidade,

caso a produção exigir, não é possível dividi-los, uma vez que suas unidades estão definidas

discretamente. Por isso, nem sempre é possível comprar equipamentos com um tamanho

exato para produzir a quantidade de produto necessária. Desse modo, as possíveis

subutilizações geradas do equipamento podem servir para uma futura expansão produtiva;

c) economia denominada de ―economias geométricas‖ está também relacionada ao tamanho do

equipamento industrial. Para alguns tipos de produtos, a mais importante fonte de

economias de escala ao nível da planta decorre da expansão do tamanho individual das

unidades processadoras, fazendo com que o produto destas unidades venha a ser

proporcional ao volume da unidade, enquanto que o custo associado à produção seja

proporcional à área da superfície das unidades processadas;

d) economia de escala relacionadas a lei dos grandes números, segundo os autores isto pode

acontecer em uma empresa pequena, que utiliza apenas uma máquina e deverá manter duas

máquinas para se precaver de possíveis problemas de defeitos. Já nas empresas maiores, que

utilizam um grande número de máquinas, deve manter como reserva, apenas uma proporção

das máquinas utilizadas, ao invés, da mesma proporção necessária para a empresa pequena.

A economia de escopo se refere aos ganhos com a produção de itens diferentes na mesma fábrica.

Isso acontece, quando as alternativas de expansão do mercado, como a diferenciação e a segmentação de

mercado, mostrarem-se insuficientes para o potencial de crescimento de uma empresa, sua opção pode recair

sobre a diversificação (Azevedo, 2000). Um elemento fundamental na orientação de estratégias de

diversificação são as economias de escopo, definida pela redução do custo conjunto de produção de

diferentes produtos, normalmente derivada da utilização comum de um mesmo conjunto de recursos.

Segundo Farina (2000), ―quando ativos produtivos (físicos ou humanos) são compartilhados entre diferentes

produtos, podem surgir vantagens de custo multiproduto.

Existem economias de escopo quando a produção conjunta de dois ou mais produtos resulta em

custo menor do que a produção independente de cada uma destes mesmos produtos‖. Isto ocorre em função

da presença de insumos compartilhados.

Nesse sentido, Kupfer e Hasenclever (2002) complementam que a maior parte das plantas

industriais produz vários produtos, cada uma delas como sua própria estrutura de custos. Neste caso, o custo

de produção de um produto em particular depende não somente do seu próprio volume de produção, mas

também do tamanho da planta, onde o produto é feito. Assim, para o autor, uma possível razão para a

produção conjunta, isto é, produção de mais de um produto numa mesma planta, é a existência de economias

de escopo.

Significa dizer, que o custo de produzir dois produtos conjuntamente é menor do que o custo de

produzi-los separadamente. Isso ocorre quando as empresas conseguem reduzir seus custos médios com a

diversificação de produtos, pois o aumento da variedade no portifólio provoca uma redução em seu custo

médio.

Page 44: Apostila de Economia e Mercado

40

Desta forma a combinação de economia de escala e da economia de escopo podem gerar as

chamadas economias de escala multiproduto, que aparece quando a tecnologia caracteriza-se pela presença

de indivisibilidade e flexibilidade (Farina, 2000).

4.2 INTEGRAÇÃO VERTICAL

Integração vertical ocorre quando diferentes processos de produção - desde o insumo até a venda

final ao consumidor - que podem ser produzidos separadamente, por várias firmas, passam a ser produzidos

por uma única firma. A integração vertical pode ocorrer entre dois ou mais processos contínuos de produção,

onde o produto de um processo é o insumo para o outro subsequente. Ao estágio que produz o insumo para o

subsequente se denomina processo "upstream"; e àquele que emprega o insumo do processo imediatamente

anterior se denomina processo "downstream".

Segundo Perry (1989), uma firma pode ser descrita como verticalmente integrada se ela envolve

necessariamente dois processos de produção em que (1) a produção total do processo upstream é empregada

ou em parte ou totalmente como a quantidade de um insumo intermediário dentro do processo donwstream;

ou quando (2) a quantidade total de um único insumo intermediário que é utilizado em um processo

donwstream é obtida, em parte ou totalmente, da produção do processo upstream.

A integração vertical pode ocorrer de forma parcial, e isto acontece quando parcela da produção do

processo upstream é vendida para outros compradores, e parcela do insumo intermediário necessário ao

processo downstream é comprada de outros fornecedores.

Integração vertical significa a eliminação de trocas contratuais ou de mercado e sua substituição

pela troca interna dentro dos limites da firma. É também um instrumento de propriedade e de total controle

sobre estágios vizinhos de produção ou distribuição. De modo particular, a firma verticalmente integrada

tem uma completa flexibilidade de tomar as decisões sobre o investimento, o emprego, a produção e a

distribuição de todos os estágios que a firma possuir.

Autores como Grosman e Hart (1986) argumentam que a integração vertical é a propriedade e o

completo controle sobre os ativos, e que a natureza da relação da firma com o trabalhador não é relevante

para definir integração vertical. Já Williamson (1975), Cheung (1983), entre outros, têm enfatizado a relação

com o trabalho na discussão sobre integração vertical. Para eles, a integração vertical assume a mudança da

compra de insumo pela sua produção através da contratação de trabalhadores. O fator capital, segundo estes

últimos, não é suficiente para definir integração vertical, uma vez que o arrendamento do capital pode

significar o controle sobre a produção mas não a sua propriedade. No entanto, nenhuma destas visões prevê

uma completa descrição da integração vertical. Integração vertical é o controle sobre o processo integral de

produção e de distribuição, mais que o controle sobre qualquer insumo em particular no interior de cada

processo.

Page 45: Apostila de Economia e Mercado

41

Outro tipo de relação entre firmas é aquela denominado por Blois (1972) como "quase-integração

vertical", que é definida como uma relação financeira entre firmas em estágios vizinhos de produção, onde o

relacionamento não precisa envolver o controle sobre as decisões de produção e distribuição.

A integração vertical pode surgir em várias maneiras: formação vertical; expansão vertical e fusão

vertical. E existem três tipos de determinantes para o processo de integração vertical: tecnológico,

imperfeição nos mercados e economia nos custos de transação.

4.3 INTEGRAÇÃO HORIZONTAL

Em microeconomía e direção estratégica, a integração horizontal é uma teoria de propriedade e

controle. É uma estratégia utilizada por uma corporação que procura vender um tipo de produto em

numerosos mercados. Para atingir esta cobertura de mercado, criam-se multidão de empresas subsidiarias. A

cada uma comercializa o produto para um segmento de mercado ou para uma área diferente. Isto é o que se

chama integração horizontal de marketing. A integração horizontal de produção produz-se quando uma

companhia tem plantas em diferentes pontos produzindo produtos similares. É bem mais comum a

integração horizontal em marketing, que em produção. Contrasta com a integração vertical.

Um monopólio criado através de integração horizontal chama-se monopólio horizontal.

Um exemplo

A GAP Inc. corporação de venda de produtos têxteis constitui um bom exemplo de um negócio que

pratica a integração horizontal. GAP Inc. controla três companhias diferentes, Banana Republic, Old Navy, e

a marca GAP propriamente dita. A cada companhia possui lojas que vendem prendas desenhadas a satisfazer

as necessidades de diferentes grupos. Banana Republic vende roupa a mais alto custo com uma imagem de

faixa alta, as lojas GAP vendem roupa de preços moderados que se dirijam a homens e mulheres de todas as

idades e Old Navy vende prendas baratas orientadas especialmente a meninos e jovens, sem excluir o resto

de idades. Utilizando estas três companhias, GAP Inc. tem tido muito sucesso controlando um amplo

segmento da venda minoria no sector têxtil.

No final dos anos 90 o sector financeiro experimentou uma importante integração horizontal, com

muitas fusões entre companhias em bancos de clientes, de investimento e companhias de seguros.

QUESTIONÁRIO

a) O que é economia de escala, escopo e escapa multiponto?

b) Quais são as teorias que norteiam a valoração de um produto? Descreva-as.

c) Defina integração Vertical e horizontal?

5 SETOR PÚBLICO

Agora que você já sabe que o desenvolvimento implica no aumento da capacidade falaremos sobre

os mecanismos de intervenção do setor público na economia, a partir do estudo das principais doutrinas

econômicas: Clássica, Marxista, Neoclássica, Keynesiana e da Escola da Regulação. Vamos conhecer,

Page 46: Apostila de Economia e Mercado

42

ainda, o porquê da necessidade da regulação da economia. É praticamente impossível, nos dias de hoje,

procurar entender o funcionamento da economia sem considerar o papel do setor público nesse contexto.

Vimos, anteriormente, que o setor público é fundamental na organização do sistema econômico.

Portanto, torna-se necessário compreendermos algumas questões relativas à sua dinâmica.

5.1 INTERVENÇÃO GOVERNAMENTAL

É comum ouvir a tese de que o setor privado é mais eficiente do que o governo, que uma economia

em que as empresas operam mais livremente funciona com maior eficiência do que uma economia onde

ocorre uma forte atuação governamental. Como defender a participação do governo numa determinada

economia diante da defesa do Estado mínimo, que influencia boa parte da sociedade em quase todos os

países?

A regulação econômica está intrinsecamente ligada à ação do Estado na economia. Quando se fala

em regulação econômica, vem à tona a necessidade da intervenção do Estado na economia.

Para o professor Ronaldo Fiani, no artigo Teoria da regulação econômica: Estado atual e

perspectivas futuras, econômica, a ação do Estado tem por finalidade limitar os graus de liberdade dos

agentes econômicos no seu processo de tomada de decisões.

A discussão sobre regulação econômica começou a tomar maior expressão na agenda nacional a

partir dos anos 1980 e tornou-se, hoje, questão essencial no processo de tomada de decisão em todos os

cantos do mundo. Para melhor situar o debate, é necessário observar que essa contradição entre

regulamentação e desregulamentação reflete bem o nível e a amplitude que o tema assumiu na

contemporaneidade. Para Ronaldo Fiani (1998, p. 2):

[...] na verdade, a antinomia regulamentação versus desregulamentação, que vem presidindo até aqui a

maior parte do debate, reflete em maior medida as vicissitudes da controvérsia política do que

exatamente a natureza dos processos econômicos envolvidos no tema. Com efeito, esta polaridade só

existe a partir da noção de mercado como instituição distinta e de comportamento autônomo frente às

demais instituições sociais. Esta noção de mercado como um elemento que pode ser percebido como

―isolado‖ do restante da sociedade, ainda que em vários contextos de análise possa se revelar um

artifício simplificador bastante útil, quando se trata de discutir qualquer tema que envolva as relações

entre economia e Estado, quase sempre conduz a um reducionismo equivocado, cujo efeito

empobrecedor sobre o debate acaba produzindo conclusões que avançam muito pouco além do mero

aperfeiçoamento de teses político-partidárias.

Nessa mesma linha de argumentação, o professor Ha-Joon Chang (2002) escreveu o artigo

Rompendo o modelo: uma economia política institucionalista alternativa à teoria liberal do mercado e do

Estado, que foi publicado em 2002 no livro Brasil, México, África do Sul, Índia e China: diálogo entre os

que chegaram depois, da ED. UNESP. Segundo o autor, o debate iniciado entre os intervencionistas e os

defensores do livre mercado a partir dos anos 1970 marca, de forma mais categórica, um novo processo de

intervenção do Estado na economia.

Sem querermos entrar no debate do que vai ocorrer em consequência dessa polêmica, o certo é que

uma nova onda de desenvolvimento começou a ocorrer nas economias capitalistas mais desenvolvidas, se

Page 47: Apostila de Economia e Mercado

43

espalhando, em seguida, para a periferia do sistema, através do que ficou conhecido como neoliberalismo, a

partir dos anos 1990.

O elemento central e norteador desse debate se refere ao novo papel do Estado na economia. Milton

Friedman, Friedrich Von Hayek, George Stigler, James Buchanan, Gordon Tullock e Anne Krueger

destacam-se entre os nomes que defendem uma menor participação do Estado na economia.

Sem a pretensão de esgotarmos o assunto, prosseguimos com uma pequena reflexão sobre o Estado

na economia. Neste cenário o Estado é elemento fundamental na análise, quando se quer estudar a

problemática da regulação econômica. Torna-se também o elo principal na modelação da relação, e

influencia o sentido, a direção e o próprio conteúdo que dá substância a esse conjunto de preocupações.

Considerando a Economia como a ciência das relações de produção dentro de condições

historicamente determinadas, a não inclusão do Estado como tema da Economia se evidencia como uma

omissão injustificável. É importante saber que a própria gênese do capitalismo, na fase de acumulação

primitiva, está relacionada a uma forma de Estado, e à medida que a indústria nascente foi se

desenvolvendo, o Estado Absolutista e as classes que o garantiam abriram caminhos para o Estado liberal,

cuja entrada em cena foi correspondida por mudanças na forma de funcionamento dos princípios

econômicos.

No transcorrer da evolução do capitalismo, o Estado acompanhou de maneira ordenada a própria

maturação do sistema.

O Estado existente no capitalismo competitivo, que foi dominante no século XIX, se desenvolveu,

passando do Estado liberal do capitalismo competitivo para o Estado regulador e autoritário do capitalismo

de Estado. O caráter da influência exercida pelo Estado na economia muda, portanto, conforme a fase

histórica.

É importante esclarecer para você a influência que tem o Estado no desempenho da economia,

através das principais doutrinas econômicas. Tal esclarecimento procede, tendo em vista o grau de

relacionamento que teve e tem o Estado, em momentos de crise, com os principais setores da economia.

5.2 O SETOR PÚBLICO NAS CORRENTES DO PENSAMENTO ECONÔMICO

Os teóricos clássicos acreditavam que o Estado não deveria se opor ao livre funcionamento das

forças que operavam no mercado. O próprio mercado seria o mecanismo auto-regulador do processo

econômico, ao mesmo tempo em que controlaria possíveis eventualidades decorrentes de desequilíbrios

temporários do sistema capitalista.

Neste cenário o Estado deveria, fundamentalmente, proteger o mercado de qualquer tipo de

intervenção. Estas limitações impostas ao Estado se fundamentam na crença de que o próprio sistema

econômico de livre mercado se encarregaria de realizar a alocação ótima dos recursos. Ou seja, o Estado

estaria a serviço de toda a sociedade, portanto, limitando-se a mediar e reconciliar os antagonismos naturais

da sociedade competitiva, através de sua atuação como aglutinador do poder político. É a corrente liberal.

Page 48: Apostila de Economia e Mercado

44

Em contraposição a esta concepção liberal, a corrente marxista criticou sistematicamente a índole

do sistema capitalista. Para isto, mostrou que o modo de produção capitalista está fundado na exploração do

trabalho assalariado. Foi a partir desta constatação que se procurou demonstrar que o Estado liberal se

constituía em um único Estado dominado pela classe que detinha a propriedade dos meios de produção. Em

adição ao seu papel político de garantir a dominação de classe e a própria função ideológica de racionalizar a

subordinação existente no sistema capitalista, o Estado desempenharia uma função econômica de

fundamental importância no pensamento marxista, qual seja, a de assegurar as condições exteriores de

produção e reprodução social.

O Estado passaria a ser o guardião protetor da reprodução do capital, guardião que, em certos

momentos, chegaria mesmo a impor à própria classe dominante os limites da exploração da força de

trabalho. Foi na doutrina marxista que o Estado tornou-se a expressão mais acabada das relações que

caracterizam o capitalismo, em razão da institucionalização dos interesses comuns dos capitalistas, e mais,

devido ao fato de que propriamente o Estado se constitui, por sob as aparências, em instrumento da classe

dominante.

Contudo, em flagrante oposição ao pensamento marxista, a corrente neoclássica observou a

sociedade como um conjunto de indivíduos cuja natureza seria inteiramente independente dos fenômenos

sociais em consideração. A realidade social consistiria numa interação de indivíduos dotados de natureza

invariável ou permanente. As relações de propriedade entrariam em cena apenas na medida em que se

reconhecia que os resultados do processo distributivo dependiam das condições iniciais relativas à posse dos

meios de produção. A doutrina neoclássica procurou fazer renascer o conceito do Estado liberal dos

clássicos.

Assim, não deveria haver intervenção, a não ser de maneira muito limitada. Quando houvesse

qualquer manifestação do Estado intervindo na economia, isto significaria uma situação patológica que

deveria ser urgentemente eliminada. À medida que o modo de produção capitalista continuou a ser

preponderante, não restou alternativa aos simpatizantes desta corrente no pensamento econômico, senão a de

apresentar, de modo bastante conveniente, o Estado como um poder ou força neutra na sociedade, que

arbitraria entre as classes ou indivíduos.

Em contraste com a visão neoclássica, no paradigma keynesiano o Estado é chamado a

desempenhar papéis e funções de suma importância para a manutenção do modo de produção capitalista.

Dentro deste princípio, o Estado pode e deve intervir na economia de mercado com o propósito de diminuir

o desemprego involuntário e aumentar a produção. O elemento-chave da intervenção reside na

administração da demanda efetiva por parte do Estado, através da política fiscal e/ou monetária.

Nota-se que a ação do Estado preconizado por Keynes visaria a criar mecanismos de estabilização

em uma economia essencialmente instável, tendente ao desemprego e às crises cíclicas.

A intervenção do Estado se limitaria, neste sentido, a promover reformas capazes de preservar o

capitalismo, e seu controle não devia interferir na iniciativa privada, com a sua atração aos lucros, pois era

Page 49: Apostila de Economia e Mercado

45

esta a força motriz da atividade econômica. A não intervenção, em momentos de crise, por certo, tornaria o

modo de produção presa fácil de suas próprias contradições.

A Escola da Regulação ou Teoria da Regulação é uma corrente de pensamento econômico de

origem francesa, nascida nos anos 1970, de uma crítica severa à economia neoclássica, a qual procura

ultrapassar, através de uma síntese eclética entre keynesianismo, marxismo, institucionalismo norte-

americano, historicismo alemão e a Escola dos Annales.

A Escola da Regulação definiu como forma institucional ou estrutural toda codificação de uma ou

várias relações sociais fundamentais à reprodução do sistema capitalista. De maneira geral, a combinação do

regime de acumulação, modo de regulação e formas institucionais ou estruturais define um padrão de

desenvolvimento.

Ao se considerar o modo de produção como dominante, temos três formas institucionais

consideradas fundamentais pelos regulacionistas; são elas:

a) moeda;

b) relação salarial; e

c) concorrência.

Para que essas três formas institucionais funcionem por completo, é necessária, basicamente, a

existência do estado-nação. Não se podemos conceber a existência de uma moeda sem imaginar a presença

de um território nacional contrapondo-se ao internacional. Imaginar uma relação salarial acontecendo sem

precisar um país e perceber as formas de concorrência sem a presença de centros de acumulação fracionados

territorialmente é inconcebível. Portanto, a presença do Estado passa a ser considerada como uma

importante forma de regulação.

É importante chamar aqui sua atenção para o fato de que vivemos a falência do modelo de

desenvolvimento implantado pós-Segunda Guerra Mundial, qual seja, o modelo do bem-estar econômico

praticado, principalmente, pelos países desenvolvidos.

Quando os primeiros sinais de crise deste modelo se manifestaram, no final dos anos 1960 e 1970,

o questionamento maior feito por aqueles que discordavam deste modelo se referia ao excesso de

intervenção do Estado na economia, como a principal razão para a crise instalada. Desse modo, a superação

das dificuldades que se avolumavam pareceu exigir alguma explicação, encontrada na mudança de postura

em relação à maneira de o Estado intervir na economia. E foi assim que surgiu a presença menor do Estado

na economia brasileira.

Observe, portanto, que não é por outra razão que se torna ponto central da discussão no meio

político e acadêmico, a partir desta época, a oposição entre mercado e intervenção do Estado, destacando-se,

então, os estudos sobre os processos de regulação.

Segundo Ha-Joon Chang (2002), os economistas neoliberais centravam suas análises na natureza

imperfeita da intervenção do Estado na economia. Essa imperfeição resultava em:

Page 50: Apostila de Economia e Mercado

46

[...] falhas de governo, na forma de confisco regulatório, busca de vantagens, corrupção e assim por

diante. E dizem que o custo dessas falhas de governo é tipicamente superior ao das falhas de mercado,

de modo que é melhor que o Estado não procure corrigir estas últimas, pois pode provocar um

resultado ainda pior (CHANG, 2002, p. 101).

Em nossa opinião, essa intervenção se dá para corrigir as falhas do mercado e assegurar a

cidadania. A crise econômica, independentemente da sua amplitude, significa, em última instância, uma

ineficiência econômica. Embora os mercados competitivos funcionem teoricamente bem, na prática ocorrem

falhas. Logo, o governo intervém na economia, porque os mercados não funcionam bem, distorcendo o

processo de alocação de recursos.

5.3 POR QUE REGULAR?

A necessidade da regulação torna-se premente em função de que os mercados não estão

funcionando a contento. Mesmo em situações de livre mercado, há ocasiões em que o mercado não é capaz

de fazer de maneira eficiente o processo de alocação e distribuição dos recursos.

Enquanto a regulação assegura a correção das falhas, a desregulamentação deixa o mercado solto

das amarras da regulação. Mas falhas não são apenas do mercado, em alguns casos os governos também

cometem algumas falhas que não são fáceis de serem abordadas.

A discussão sobre as falhas de mercado procura centrar suas análises sobre o ótimo de Pareto,

segundo o qual ninguém consegue aumentar seu próprio bem-estar sem reduzir o de alguma outra pessoa, e

faz uso teórico da análise do equilíbrio parcial ou geral.

Na concepção de Ha-Joon Chang (2002), se o mercado falha é porque não está funcionando na

condição de ―mercado ideal‖. Na visão tradicional, o mercado ideal equivale ao mercado perfeitamente

competitivo. O mercado perfeitamente competitivo baseia-se nas seguintes suposições:

a) aceitação de preços; e

b) homogeneidade de produto, com livre entrada e saída de empresas.

Em função da grande quantidade de empresas participantes do mercado, cada uma vende uma parte

pequena do total da produção que vai para o mercado, e as suas decisões não influenciam no preço

praticado. Isso normalmente ocorre em mercados nos quais as empresas produzem produtos idênticos ou

quase idênticos.

Essa homogeneidade dos produtos é que assegura a existência de preço de mercado único e de

modo consistente com a análise da oferta e procura. Como as empresas são pequenas, elas podem livremente

entrar ou sair deste mercado sem incorrer em grandes custos adicionais. Contudo, há uma implicação – os

compradores podem facilmente mudar de fornecedores.

É importante destacar que a economia neoclássica é a que mais vê importância no funcionamento do

mercado, ou seja, o mercado é a essência da economia. Quando há falhas de mercado, há falhas na

lógica do modelo de desenvolvimento, podendo ocorrer intervenções por parte do governo, com o

intuito de reverter essas falhas que imobilizam a lógica da reprodução do modelo.

Page 51: Apostila de Economia e Mercado

47

Segundo a economista Lúcia Helena Salgado (2003), em seu artigo Agências regulatórias na

experiência brasileira: um panorama do atual desenho institucional:

[...] o grande desafio para regulamentação econômica é encontrar o ponto ótimo que viabilize a

lucratividade, de um lado, e o bem-estar dos consumidores, de outro, na forma de disponibilidade de

bens e serviços de qualidade e a preços razoáveis (SALGADO, 2003, p. 2).

De maneira geral, as funções da regulação são:

a) proporcionar o desenvolvimento econômico, através da promoção do bem-estar de

consumidores e produtores;

b) reproduzir as condições de competição; e

c) garantir a existência do mercado como instituição capaz de assegurar regularidade de

comportamento aos membros da sociedade.

Atente para a versão neoclássica do momento, que aponta algumas razões para justificar a

ocorrência destas falhas, portanto, justificando a intervenção do Estado. São elas:

a) Poder de mercado: ocorre quando algum empresário de algum fator de produção possui

capacidade de influir no preço de seu produto. Enquanto, para uma empresa competitiva, o

preço é igual ao custo marginal, para a empresa com poder de mercado o preço é superior ao

custo marginal;

b) Informações incompletas: significa que os consumidores (demanda do mercado) não

possuem todas as informações a respeito dos preços ou da qualidade do produto. Isto pode

levar o mercado a operar de forma não eficiente, gerando assimetria de informações; e

c) Externalidades: são ações pelas quais um produtor ou um consumidor influencia outros

produtores e consumidores, sem sofrer as consequências disto sobre o preço de mercado.

Quando o sistema de preços funciona de forma eficiente, isso não acontece. Assim sendo, quando

há externalidades (positivas ou negativas), significa que está ocorrendo alguma falha de mercado. A

existência de externalidades implica em dizermos que o funcionamento do mercado não é mais eficiente:

a) Bem público: é aquele que não apresenta rivalidade em seu consumo, é exclusivo e

disputável. Dentro dessas características, o mercado não consegue ofertar com frequência e

quantidade suficiente esse tipo de produto aos consumidores, e com isso o mercado se torna

ineficiente. Isto significa que o custo marginal de oferecê-lo para um consumidor adicional

é zero, e as pessoas não podem ser excluídas de seu consumo. Exemplo: utilização de uma

praça pública; segurança pública; e

b) Ocorrência de desemprego e inflação: quando há desemprego, podemos dizer que os

recursos humanos disponíveis não estão sendo bem utilizados, portanto, há uma falha de

mercado na alocação destes recursos. O mesmo acontece com o fenômeno da inflação.

Quando ocorre inflação existe algum desequilíbrio na economia, e desta forma, uma falha

de mercado.

Podemos notar que o livre funcionamento do mercado não garante a solução de problemas como a

existência de altos níveis de desemprego e inflação. Assim, há espaços para a intervenção do Estado, no

sentido de se implementarem políticas econômicas, objetivando-se a manutenção da estabilização, através

do maior controle do desemprego e da estabilidade de preços.

Uma das questões centrais em economia, muitas vezes desconsiderada pelos críticos, se refere à

existência de conflitos entre os objetivos perseguidos pela autoridade governamental através do uso

Page 52: Apostila de Economia e Mercado

48

da política econômica. É preciso ter clareza de que os objetivos de política econômica não são

independentes, sendo, no mais das vezes, conflitantes. Afinal, a economia é uma ciência social.

Para alcançar os objetivos de política econômica, tais como crescimento da produção e aumento do

emprego, controle da inflação, equilíbrio das contas externas e distribuição de renda, o governo dispõe de

alguns instrumentos, e entre eles podemos destacar a:

a) política fiscal;

b) política monetária;

c) política cambial e de comércio exterior; e

d) política de rendas.

5.4 ORÇAMENTO PÚBLICO

5.4.1 Definição E Evolução Do Conceito De Orçamento Público

A etimologia do termo ―orçamento‖ é incerta. De acordo com PINTO (1956), talvez provenha do

italiano orzare ou ao latim ordior, orsus sum ordiri, ―urdir, tecer‖ e, por extensão, ―planejar, calcular‖; já,

segundo Antenor Nascentes, autor do Dicionário da Língua Portuguesa (1964) e Dicionário de Língua

Portuguesa da Academia Brasileira de Letras (1988), ―das tentativas para dirigir a proa na direção do vento

teria vindo o sentido de ‗calcular por alto‘‖. Assim, o efeito de planejar as ações está vinculado de forma

direta às ações orçamentárias e, de acordo com a linguagem náutica, refere-se à execução dos objetivos

propostos ou a sua aproximação.

Como o termo ―orçar‖ possui esta multiplicidade de significados, também o orçamento público

apresenta esta característica de atender à execução/aproximação de objetivos variados das diversas políticas

que devem ser implementadas pela administração pública.

Dessa forma, a elaboração do orçamento público constitui o passo inicial do processo de

planejamento do setor público, pois é por meio desse instrumento que os governantes, em qualquer esfera,

poderão apresentar à sociedade quais serão os programas prioritários de governo, com a discriminação da

origem e do montante de recursos a serem obtidos, bem como a realização dos dispêndios alocados no

tempo.

A associação do planejamento ao orçamento data, no Brasil, de 1967, com a edição do Decreto-lei

n.º 200, que define o planejamento como um dos princípios fundamentais de orientação às atividades da

administração federal, sendo o orçamento-programa anual entendido como um dos seus instrumentos

básicos. Essa concepção, que associa planejamento e orçamento como elos de um mesmo sistema, foi

reforçada na Constituição de 1988, que tornou obrigatória a elaboração de planos plurianuais, os quais

abrangem as despesas de capital e demais programas de duração continuada, bem como devem orientar a

elaboração da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual, além, é claro, da apresentação de

emendas por parte dos legisladores.

5.4.2 Orçamento Tradicional

Page 53: Apostila de Economia e Mercado

49

De acordo com Longo (1994), foi na Inglaterra, em 1217, que surgiu o embrião do orçamento

público, sem contar, ainda, com o fator despesa. Desde então, os instrumentos para controlar as ações dos

governos e dos governantes vêm sendo gradualmente aperfeiçoados.

No século XIX, grande parte dos orçamentos públicos praticados em todo mundo apresentava já

semelhanças com as formas atuais de controle, mas foi novamente na Inglaterra que surgiu como

instrumento formalmente acabado, por volta de 1822, quando o chanceler do erário passou a apresentar

anualmente ao parlamento britânico, um documento que fixava a receita e a despesa de cada exercício.

Assim, apesar de o orçamento constituir, sobretudo, um instrumento regulador das finanças

públicas, atuou, nesse período, a serviço da concepção do Estado Liberal, preocupado em manter o

equilíbrio financeiro e em evitar a expansão dos gastos. Sua principal função foi, portanto, possibilitar aos

órgãos de representação um controle político sobre os órgãos executivos.

5.4.3 Orçamento Moderno

O século XX trouxe à luz a idéia de que o orçamento é mais que uma simples previsão da receita ou

estimativa de despesa. Para os idealizadores do orçamento moderno, ele deve ser ao mesmo tempo um

relatório, uma estimativa e uma proposta.

O orçamento, que se constituía, até então, no principal instrumento de controle político, ao

incorporar as características de ―previsão‖ ou de ―antecipação‖ transforma-se em mecanismo de

administração, que visa auxiliar o poder executivo nos processos de: programação, execução e controle das

ações do setor público.

Os gastos públicos possuem, ainda, um papel central no que diz respeito ao esforço de ajustamento

econômico dos países em crise. Para tanto, as políticas econômicas adotadas foram, de uma maneira geral,

contracionistas e, portanto, inibidoras da expansão das despesas públicas. Dessa forma, a principal função do

orçamento público, no século XX, foi a regulação da economia; sendo que, em um ciclo econômico

expansionista, dá-se mais ênfase a sua função de planejamento das ações de políticas públicas, ao passo que,

em um ciclo contracionista, reforça-se sua função de controle.

5.4.4 A Questão Orçamentária No Brasil

As mudanças no processo político brasileiro, ocorridas ao longo dos seus quinhentos anos de

história, causaram impacto imediato nos arranjos constitucionais que balizam o processo orçamentário.

Assim, pode-se observar que a participação do poder legislativo na matéria orçamentária era mais

restrita nos governos autoritários do que nos governos democráticos, pois os conceitos norteadores da

alocação dos recursos públicos sempre estiveram ligados, no Brasil, aos mecanismos de controle do poder

político que permeia esse processo.

Page 54: Apostila de Economia e Mercado

50

Na Constituição de 1891, por exemplo, a elaboração do orçamento constituía função privativa da

Câmara dos Deputados, apesar de ficar a cargo do Poder Executivo a formulação de um ―rascunho‖ do

projeto de lei orçamentária.

Já no primeiro governo Vargas, a competência de formalização da proposta foi atribuída ao

presidente da República, pela Constituição de 1934, e ao Legislativo, a de emendá-la e aprová-la. Em 1937,

durante a ditadura do Estado Novo, a elaboração e a aprovação do orçamento ficaram concentradas no poder

executivo e eram efetivadas por meio de decreto presidencial.

O Legislativo recupera seu papel no processo de discussão e aprovação da proposta orçamentária

com a Constituição de 1946, que foi criticada por conceder ―abertura exagerada‖ à possibilidade de se

emendar sem instituir um mecanismo de cancelamento compensatório.

A Constituição de 1967, com a Emenda n° 1 de 1969, limita novamente ao poder legislativo a

tarefa de homologação ou rejeição integral do projeto de lei orçamentária.

5.5.5 As inovações da Constituição de 1988

A Constituição Federal de 1988 inaugurou um marco na distribuição de competências no processo

orçamentário, que podem ser relacionadas em três grupos:

a) tentativa de recuperar a figura do planejamento na administração pública brasileira,

mediante a integração entre plano e orçamento: isto ocorreu por meio da criação do Plano

Plurianual (PPA) e da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO);

b) conclusão do processo de unificação orçamentária: o novo Orçamento Geral da União

(OGU) passou a integrar o Orçamento Fiscal (OF), o Orçamento da Seguridade Social

(OSS) e o Orçamento de Investimento das Empresas Estatais (OIEE).

c) recuperação da participação do poder Legislativo para discorrer sobre a matéria

orçamentária: assegurou-se a participação do Legislativo ao longo de todo o ciclo

orçamentário, isto é, desde a definição de prioridades no PPA e das diretrizes específicas

para cada exercício financeiro na LDO até a aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA).

5.6 O CICLO ORÇAMENTÁRIO

De acordo com artigo 165 da Constituição, o ciclo orçamentário compreende: a lei que estabelece o

Plano Plurianual; a Lei de Diretrizes Orçamentárias; e a Lei Orçamentária Anual.

5.6.1 O Plano Plurianual

O Plano Plurianual é publicado a cada quatro anos como uma lei ordinária e, de acordo com o § 1º

do art. 165 da Constituição, ―estabelece, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da

administração pública federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos

programas de duração continuada‖.

A elaboração do projeto de lei do PPA é coordenada pela Secretaria de Planejamento e

Investimentos Estratégicos do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (SPI/MPO), o qual deve ser

enviado ao Congresso Nacional até o dia 31 de agosto do primeiro ano de cada mandato presidencial e

Page 55: Apostila de Economia e Mercado

51

possui validade para um período de quatro exercícios financeiros. A execução do PPA, tem início, portanto,

somente no segundo ano do mandato presidencial e é encerrada no primeiro ano do mandato seguinte.

O PPA, peça recente da engrenagem orçamentária, substituiu, a partir de 1988, o Orçamento

Plurianual de Investimentos (OPI), cujo período de abrangência era de apenas três exercícios.

Além disso, o PPA supera o OPI ao relacionar, além do montante relativo aos dispêndios de capital,

as metas físicas, que devem ser alcançadas ao final do mandato, discriminadas por tipo de programa e ação.

O PPA detalhada ainda as despesas que possuem duração continuada, condicionando, portanto, a

programação orçamentária anual ao planejamento de longo prazo.

5.6.2 A Lei de Diretrizes Orçamentárias

A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) é também uma lei ordinária, mas válida apenas para um

exercício.

De acordo com o § 2º do artigo 165 da Constituição, a LDO ―compreenderá as metas e prioridades

da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente,

orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações da legislação tributária e

estabelecerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento‖.

A LDO antecipa e orienta, assim, a direção e o sentido dos gastos públicos e os parâmetros que

devem nortear a elaboração do projeto de lei orçamentária para o exercício subsequente.

Os programas e as ações, cujas prioridades e metas são definidas pela LDO para constar do projeto

de lei orçamentária de cada exercício, são apresentados em um texto anexo ao texto legal, constituindo-se

em um detalhamento anual de metas estabelecidas no PPA, as quais são selecionadas para o exercício em

questão.

A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) acrescentou dois anexos à LDO, os quais contribuem para

orientar o governo e a sociedade acerca da condução da política fiscal.

O projeto da LDO é coordenado e elaborado pela Secretaria de Orçamento Federal (SOF) do

Ministério de Orçamento e Gestão (MPO), que conta com o suporte técnico da Secretaria do Tesouro

Nacional (STN), do Ministério da Fazenda (MF), nas questões relacionadas à dívida mobiliária federal e às

normas para a execução orçamentária.

O poder executivo possui prazo até o dia 15 de abril de cada ano para encaminhamento da LDO ao

Congresso Nacional, onde deve ser aprovada até 30 de junho, sob pena de não se interromper o primeiro

período da sessão legislativa.

5.6.3 A Lei Orçamentária Anual

A Lei Orçamentária Anual (LOA) é uma lei ordinária, cuja validade abrange somente o exercício

fiscal a que se refere. De acordo com o § 5.º do artigo 165 do texto constitucional, a LOA deve integrar o

orçamento fiscal, o orçamento da seguridade social e o orçamento de investimento das empresas estatais.

Page 56: Apostila de Economia e Mercado

52

Os orçamentos fiscal e da seguridade social englobam toda a programação de gastos da

administração pública, direta e indireta; já o orçamento de investimentos das empresas estatais abrange a

previsão de investimentos das entidades em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do

capital social com direito a voto.

O projeto de lei orçamentária é coordenado pela Secretaria de Orçamento Federal do Ministério de

Planejamento, Orçamento e Gestão (SOF/MPO), que prepara a minuta da mensagem presidencial e

encaminha, até o dia 31 de agosto de cada exercício, a proposta ao Congresso Nacional, a qual deve ser

devolvida para sanção até o encerramento da sessão legislativa.

5.6.4 NOTAS PARA REFLEXÃO ACERCA DO CICLO ORÇAMENTÁRIO

Em seu programa de governo, Lula afirmou que um dos pilares de atuação do seu mandato seria a

retomada da prática do planejamento estratégico como instrumento para a definição e implementação de

ações concretas de políticas públicas em todos os setores, bem como mecanismo de promoção e de apoio a

um desenvolvimento sustentável.

Com isso, um Governo que coloca a atuação na área social como eixo estruturante da sua ação só

alcançará êxito se contar com o esforço conjunto e articulado de toda a sociedade na:

a) formulação;

b) implementação; e

c) monitoramento de suas propostas de políticas públicas.

Conforme já exposto, a Constituição de 1988 imprimiu ao processo de planejamento e de

orçamento no Brasil um encadeamento das ações, com base em três instrumentos: o PPA, a LDO e a LOA.

Dessa forma, a elaboração do PPA 2004-2007 constituirá a grande oportunidade para que o

governo explicite seu projeto de desenvolvimento de longo prazo para País, que dará origem posteriormente

às prioridades e metas que serão elencadas ao longo dos próximos anos na LDO18 e na LOA.

Logo, se a Sociedade Civil Organizada pretende segurar o leme19 do barco das políticas públicas e

intervir no seu processo de formulação, de implementação e de avaliação, é preciso orçar agora, ou seja, é

preciso formular suas propostas e discutir com o governo a estratégia de execução de um planejamento

participativo, inédito no âmbito do governo federal.

Portanto, navegar e entender o orçamento é preciso se quisermos construir uma sociedade sem

disparidades sociais. Assim, precisamos assumir o verdadeiro controle do governo, o que poderá ser feito

através da efetiva participação no processo de formulação, implementação e controle de todo o ciclo

orçamentário.

Algumas iniciativas visam à capacitação da sociedade civil para obter informação e possivelmente

monitorar todo o ciclo orçamentário. Tanto a publicação do Manual dos Fundos Públicos, em sua quarta

versão, quanto oficinas e seminários se inserem nessa perspectiva. Organizado pelo INESC e pelas Redes

Socioambientais Brasileiras (RMA, GTA, ASA, Rede Cerrado), realizou-se a ―1ª Oficina de Articulação

Page 57: Apostila de Economia e Mercado

53

para Intervir no PPA‖, com dois objetivos principais: auxiliar a capacitação da sociedade civil no que tange

à metodologia utilizada pelo governo para a elaboração do PPA e orientar a materialização das propostas

políticas em programas e ações no PPA 2004-2007. As sugestões políticas serão encaminhadas ao governo

federal durante o seminário ―O PPA no Governo Lula: participação e controle social‖, organizado pelo

INESC com o apoio da ABONG e de diversas organizações, que contará com a presença de representantes

da sociedade civil e do governo e, por isto, constituirá, uma das oportunidades para que a sociedade civil

exponha suas propostas de intervenção e seus posicionamentos sobre o PPA 2004-2007.

5.7 TRIBUTAÇAO

5.7.1 Alienação Do Único Imóvel

Também é isento o ganho de capital auferido na alienação do único imóvel que o titular possua,

cujo valor de alienação seja de até R$ 440.000,00 (quatrocentos e quarenta mil reais), desde que não tenha

sido realizada qualquer outra alienação nos últimos cinco anos (Lei 9.250/95, art. 23).

5.7.2 Venda De Imóveis Residenciais

A partir de 14.10.2005, fica isento do imposto de renda o ganho auferido por pessoa física residente

no País na venda de imóveis residenciais, desde que o alienante, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias

contado da celebração do contrato, aplique o produto da venda na aquisição de imóveis residenciais

localizados no País.

No caso de venda de mais de 1 (um) imóvel, o prazo referido será contado a partir da data de

celebração do contrato relativo à 1a (primeira) operação.

A aplicação parcial do produto da venda implicará tributação do ganho proporcionalmente ao valor

da parcela não aplicada.

No caso de aquisição de mais de um imóvel, a isenção aplicar-se-á ao ganho de capital

correspondente apenas à parcela empregada na aquisição de imóveis residenciais.

O contribuinte somente poderá usufruir do benefício de que trata este artigo 1 (uma) vez a cada 5

(cinco) anos.

A pessoa física somente poderá usufruir do benefício de isenção especificado uma vez a cada cinco

anos.

5.7.3 Imposto De Transmissão (ITBI)

Em transações normais de compra e venda, deverá ser recolhido o percentual de 2% (dois por

cento) sobre o valor atribuído pela Prefeitura. Quando se trata de venda à vista, o recolhimento deverá ser

feito antecipadamente, antes da assinatura da escritura de compra e venda.

Quando se trata de venda à prazo, o recolhimento poderá ser feito em um prazo de 30 (trinta) dias

após a assinatura da escritura de promessa de compra e venda.

Page 58: Apostila de Economia e Mercado

54

5.7.4 Laudêmio

É devido quando se trata de imóvel FOREIRO. O imóvel pode ser FOREIRO à União, ao

Município, a Famílias e Entidades. Para cada caso há um percentual a ser recolhido no ato da assinatura da

escritura.

Para sabermos se o imóvel é FOREIRO ao Município, obtém-se a CERTIDÃO ENFITÊUTICA.

Para sabermos se o imóvel é FOREIRO à União, a Famílias ou Entidades, obtém-se a CERTIDÃO

DE ÔNUS REAIS, passada pelo Cartório do Registro de Imóveis.

OBS: Existem imóveis que recolhem mais de um LAUDÊMIO por transação.

5.7.5 Lucro Imobiliário

Sempre que vendemos um imóvel, estamos sujeitos ao recolhimento do IMPOSTO SOBRE O

LUCRO IMOBILIÁRIO. Isso ocorre já que ao vendermos um imóvel, geralmente estamos auferindo um

ganho de capital.

O "GANHO DE CAPITAL" é a diferença positiva, em UFIR, entre o valor de transmissão do bem

ou direito e o custo de sua aquisição.

De acordo com a INSTRUÇÃO NORMATIVA No. 31, de 22/05/96, do Ministério da Fazenda,

atualmente o ganho constatado sujeita-se à tributação exclusiva mediante a aplicação de uma alíquota de

15%.

5.7.6 IPTU

O Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU) é um imposto brasileiro instituído

pela Constituição Federal cuja incidência se dá sobre a propriedade urbana. Ou seja, o IPTU tem como fato

gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de propriedade imóvel localizada em zona urbana ou

extensão urbana. Em caso de áreas rurais, o imposto sobre a propriedade do imóvel é o ITR. Os

contribuintes do imposto são as pessoas físicas ou jurídicas que mantém a posse do imóvel, por justo título.

A função do IPTU é tipicamente fiscal, embora também possua função social. Sua finalidade principal é a

obtenção de recursos financeiros para os municípios, embora ele também possa ser utilizado como

instrumento urbanístico de controle do preço da terra.

Atualmente ele é definido pelo artigo 156 da Constituição de 1988, que o caracteriza como imposto

municipal, ou seja, somente os municípios têm competência para aplicá-lo. A única exceção ocorre no

Distrito Federal, unidade da federação que tem as mesmas atribuições dos Estados e dos municípios. No

Brasil, o IPTU costuma ter papel de destaque entre as fontes arrecadatórias municipais, figurando muitas

vezes como a principal origem das verbas em municípios médios, nos quais impostos como o ISS (Imposto

Sobre Serviços, outro imposto municipal brasileiro de considerável importância) possuem menor base de

contribuintes.

Page 59: Apostila de Economia e Mercado

55

A base de cálculo do IPTU é o valor venal do imóvel sobre o qual o imposto incide. Este valor deve

ser entendido como seu valor de venda em dinheiro à vista, ou como valor de liquidação forçada. É diferente

de seu valor de mercado, onde o quantum é ditado pela negociação, aceitação de parte do preço em outros

bens, entre outros artifícios, enquanto aquele, isto é, o valor venal, é ditado pela necessidade de venda do

imóvel em dinheiro à vista e em curto espaço de tempo. Por isso, o valor venal de um imóvel pode chegar a

menos de 50% de seu valor de mercado. A alíquota utilizada é estabelecida pelo legislador municipal,

variando conforme o município.

O IPTU é considerado uma ferramenta de promoção da função social da propriedade privada no

Brasil. O artigo 182 da Constituição Federal de 1988 define esta função, o que, na história do Brasil, é

considerado fato inédito. A partir de 2001, porém, o Estatuto das Cidades, que estabeleceu as diretrizes

gerais da política urbana e foi instituído pela Lei nº 10.257, de 10 de julho 2001, passa a regulamentar esta

função social e estabelece uma série de instrumentos urbanísticos a serem aplicados pelas prefeituras como

forma de sua promoção.

Entre estes instrumentos se encontra a progressividade do IPTU ao longo do tempo. O instrumento,

normalmente conhecido como IPTU progressivo no tempo, determina que qualquer propriedade privada

urbana que não esteja, comprovadamente, cumprindo sua função social possa ser gradativamente mais

taxada, com um valor cada vez mais superior ao valor de base. Após a regulamentação dos Artigos 182 e

183 da Constituição Federal pelo Estatuto das Cidades, a alíquota máxima a ser aplicada para cobrança do

IPTU progressivo no tempo foi definida em 15% (Parágrafo 1º do Artigo 7, Seção III). Segundo os

especialistas de urbanismo e planejamento urbano que defendem o Estatuto das Cidades, este instrumento

faz com que os típicos grandes terrenos ociosos existentes nas cidades brasileiras, mantidos vazios devido ao

interesse especulativo de seus proprietários, tenham dois encaminhamentos: de um lado, o proprietário

pagará uma contraparte onerosa maior ao Poder Público (a qual seria, idealmente, investida em iniciativas de

acesso à terra e à moradia) e por outro lado, o proprietário finalmente venderia o imóvel e interromperia o

processo especulativo.

5.7.7 ITVI

Imposto de transmissão de inter vivos 3% do valor venal.

5.7.8 TAXA PARA ESCRITURA DO IMÓVEL

Taxa cobrada para a elaboração do documento oficial do imóvel.No ato da assinatura deste

documento é que será realizado o pagamento integral do imóvel.Este valor irá a variar a depender do

VALOR VENAL DO IMÓVEL. Seu valor mínimo é de R$ 56,01 e seu valor máximo é de R$ 2.537,33.

5.7.9 Taxa Para Registro Da Escritura Do Imovel

Page 60: Apostila de Economia e Mercado

56

Uma vez elaborada a escritura (documento oficial do imóvel) é necessario registra-la para que a

mesma tenha validade jurídica.Para isto o imóvel ja foi completamente pago e não é necessário qualquer

ação do antigo proprietário.O valor do Registro da escritura é exatamente igual ao valor da elaboração da

escritura.

5.7.10 ITR

O imposto sobre a propriedade territorial rural (ITR) é um imposto brasileiro federal, de

competência exclusiva da União conforme (Art.153, VI, da Constituição Federal). O fato gerador do

Imposto Territorial Rural ocorre quando há o domínio útil ou a posse do imóvel, localizado fora do

perímetro urbano do município.

QUESTIONÁRIO

a) O que são PPA, LDO e LOA?

b) Quando se pode deixar de pagar IR na venda de um imóvel?

c) Qual a função social do IPTU?

d) Analisar o segundo artigo com a teoria da regulação econômica, tentando solucionar a

provável falha através de alguma ferramenta, justificando.

6 MACROECONOMIA

6.1 SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO

O Sistema Financeiro Brasileiro é composto por um conjunto de órgãos e instituições – bancos,

comissões, secretarias e entidades administradoras de recursos – com funções normativas, de regulação e

fiscalização, e de intermediação financeira. A composição deste sistema apresenta o CMN – Conselho

Monetário Nacional – como órgão que fixa as diretrizes das políticas monetária, cambial e creditícia, bem

como regula a constituição, funcionamento e fiscalização das instituições financeiras do país.

No organograma síntese do Sistema Financeiro Brasileiro, conforme o Quadro 3, o Banco Central

do Brasil figura como uma instituição vinculada à estrutura normativa do CMN, com função de regulação e

fiscalização deste sistema, ao lado de outras instituições.

O Banco Central é a principal Autoridade Monetária do país, cuja competência pode ser verificada

pelas funções que exerce, dentre as quais:

a) executar e acompanhar as políticas monetária e de comércio exterior;

b) controlar as operações de crédito e o nível das taxas de juros;

c) organizar, disciplinar e fiscalizar o Sistema Financeiro Nacional;

d) emitir papel-moeda e moeda metálica;

e) realizar operações de redesconto de liquidez e de mercado aberto;

f) receber os depósitos obrigatórios e voluntários dos bancos; e

g) controlar os capitais estrangeiros e as operações com moedas estrangeiras.

Page 61: Apostila de Economia e Mercado

57

O Banco Central, como gestor da política monetária, tem funções de controlar a liquidez do sistema

financeiro. Neste sentido, exerce as funções básicas de emissor de moeda, banco do Tesouro Nacional e do

sistema bancário e depositário de reservas internacionais do país.

Integram, também, o Sistema Financeiro Brasileiro, os intermediários financeiros. Várias

instituições exercem esta função: bancos públicos e privados; sociedades de crédito, financiamento e

investimento; e outras instituições auxiliares, como a bolsa de valores e corretoras de títulos mobiliários.

Dentro das instituições representativas que compõem os intermediários financeiros, destacam-se o

Banco do Brasil e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. O primeiro constitui a maior

instituição financeira da América Latina, atuando em mais de duas dezenas de países e possuindo pouco

mais de quatro mil agências e cerca de quinze mil postos de atendimento. Apesar de atuar com funções,

primordialmente, de banco comercial, opera nas atividades de compensação de cheques e de administração

do comércio exterior do país. O segundo banco figura como o principal banco de desenvolvimento do país e

repassador de recursos para os bancos regionais de desenvolvimento. As principais funções exercidas por

este banco são: financiamento para aquisição de máquinas e equipamentos, apoio às exportações e estímulo

à formação de capital das empresas, entre outras.

6.2 MOEDA

Page 62: Apostila de Economia e Mercado

58

6.2.1 História

Ao lado do capital e da especialização, a moeda é um terceiro aspecto da vida econômica moderna.

A importância da moeda é ressaltada quando se imagina uma economia de escambo, onde uma espécie de

mercadoria é trocada diretamente por outra. Teria que haver dupla coincidência de necessidades, de tal

forma que, um alfaiate faminto encontrasse um agricultor que tivesse, ao mesmo tempo, comida e o desejo

de possuir um terno novo; caso contrário, não haveria negócio.

O escambo já representa um grande avanço sobre a situação em que cada homem teria de ser um

"homem dos sete instrumentos" e um perito em coisa alguma. Todavia, o puro escambo se realiza sob tão

grandes desvantagens, que não seria concebível divisão do trabalho, altamente elaborada, sem a introdução

de um segundo grande progresso: o uso da moeda.

Em quase todas as culturas, os homens não trocam mercadorias, mas vendem uma delas por moeda

e, então, usam a moeda para comprar as mercadorias que desejam.

A moeda é uma das maiores invenções da humanidade e tem na economia quatro funções básicas:

meio de troca, reserva de valor, unidade de conta e padrão para pagamentos diferidos no tempo. Como meio

de troca ela facilita enormemente os negócios. Para que seja aceita deve manter o seu poder de compra ao

longo do tempo e também ser facilmente reconhecida, divisível e transportável.

Como unidade de conta reduz sensivelmente o esforço de se conhecer todos os preços relativos

entre si, pois basta conhecê-los em relação à moeda.

Suponha-se uma economia sem moeda e com três produtos: milho, alho, arroz e verduras. Admita-

se o seguinte sistema de preços: 1 tonelada de milho equivale a 2 toneladas de arroz, que, por sua vez,

equivale a 4 toneladas de verduras. Uma vez que existem três produtos e que o preço de cada um deve ser

expresso em termos dos outros dois, as pessoas deveriam ter em mente um total de seis preços:

Preço do milho em termos de arroz - 1 ton. = 2 ton.

Preço do milho em termos de verduras - 1 ton. = 4 ton.

Preço do arroz em termos de milho - 1 ton. = 112 ton.

Preço do arroz em termos de verdura - 1 ton. = 2 ton.

Preço das verduras em termos de milho - 1 ton. = 114 ton.

Preço das verduras em termos de arroz - 1 ton. = 112 ton.

Isto parece criar muita confusão e na economia existem milhares de produtos. Como ter em mente

todos os preços relativos?

Para simplificar esse problema da existência de muitos preços as economias modernas introduziram

as unidades monetárias: real, dólar, peso, libra, rublo etc. Todos são padrões de valor. Dessa forma, todos os

preços são simplesmente expressos em termos da correspondente unidade monetária.

Isso reduz drasticamente o número de preços que é preciso recordar.

No exemplo, se o preço do milho for Cr$ 0,20 por quilo, o quilo de arroz custará Cr$ 0,10 e o quilo

de verdura custará Cr$ 0,05. Somente precisaremos saber três preços.

Page 63: Apostila de Economia e Mercado

59

As quatro funções clássicas exigidas da moeda são:

6.2.2 Intermediária de trocas

Esta é a função essencial da moeda, já exercida em caráter embrionário até mesmo pelas primitivas

mercadorias-moeda. Entre os benefícios resultantes desta função destacam-se a especialização e a divisão

social do trabalho, básicas para a aceleração do progresso material e, em conseqüência, para expansão do

bem-estar social.

6.2.3 Medida de valor

A moeda é uma unidade padrão de medida de valor. É um denominador comum de valores, uma

unidade de conta. Além de racionalizar o sistema de valoração, esta função da moeda torna possível a

contabilização das atividades econômicas, não só de cada um dos agentes, mas do sistema como um todo.

Essa função refere-se à necessidade de pessoas e empresas registrarem suas operações e transações

econômicas em uma medida que seja comum a todos os bens e serviços. Assim, uma empresa que tem

despesas com matéria-prima, equipamentos e mão-de-obra registra as operações correspondentes pelo valor.

Como o valor é expresso em unidade monetária, a moeda é, nesse caso, o elemento comum a todos os itens

de despesas da empresa, que fisicamente, são diferentes. Dessa forma, é possível somar tratores com

galinhas e obter o produto de uma economia.

6.2.4 Reserva de valor

Segundo J. M. Keynes, a moeda é a ponte entre o presente e o futuro. Ela não se limita a exercer

função transacional. Os motivos para sua retenção podem ser de precaução ou de especulação. É o padrão de

liquidez.

As primitivas mercadorias-moeda não preenchiam satisfatoriamente essas três funções.

Já o advento das moedas metálicas representou uma notável evolução, cujo ciclo seria completado

com a constituição dos meios de pagamentos mais recentes, mais eficazes e seguros.

Um indivíduo que possui uma certa soma de dinheiro e não quer trocá-la imediatamente por

mercadorias precisa estar seguro de que esse dinheiro, ao ser gasto no futuro, terá o mesmo valor em termos

de possibilidade de aquisição de bens e serviços.

6.2.5 Padrão para pagamento diferido

Ou seja, que se realizarão no futuro. Essa função está associada, inicialmente, a função reserva de

valor, pois uma pessoa só aceitará receber um pagamento no futuro se a moeda não perder valor. Está

associada, também, à unidade de conta, pois um pagamento a ser realizado no futuro é acertado

anteriormente e a quantia, uma vez estabelecida, é expressa em termos monetários. Assim, se uma pessoa

Page 64: Apostila de Economia e Mercado

60

pede emprestada R$ 5.000,00 para outra e promete pagar-lhe em 15 dias, por exemplo, esse pagamento será

feito em reais, e não em outra moeda ou objetos.

6.3 MEIOS DE PAGAMENTO

Pinho e Vasconcellos (1998) conceituam assim os meios de pagamento:

6.3.1 Papel-moeda

Os cunhadores (ourives) tinham cofres seguros para guardar o ouro que lhes era entregue para

cunhagem. Assim, por causa do perigo de roubo, desenvolveu-se o costume de deixar o ouro com eles e, em

troca, receber-se um recibo do ouro depositado sob sua guarda. Se houvesse confiança no cunhador, o recibo

poderia ser trocado por bens, pois sua transferência passa o poder sobre o ouro para o novo proprietário do

recibo, sem que haja a necessidade e a complicação da entrega do metal diretamente.

Em outras palavras, o recibo nada mais é que a promessa de pagar ao seu proprietário certo

montante de metal. Mudando o proprietário do recibo, muda a pessoa a quem o pagamento deve ser feito,

não alterando o seu montante. Esta promessa era feita inicialmente pelos cunhadores, depois, corri o

desenvolvimento das atividades e instituições econômicas, pelos bancos comerciais e após estes pelo

governo ou Banco Central. Este recibo nada mais é que papel-moeda, totalmente assegurado por metal

(Lastro) e conversível em ouro.

6.3.2 Moeda fiduciária

Com o desenvolvimento da economia monetária e com a consolidação dos estados nacionais, o

controle sobre a moeda passou para as mãos das autoridades governamentais. As notas emitidas pelos

bancos comerciais tornam-se pouco comuns, passando os bancos centrais a ter o monopólio da emissão de

papel-moeda. Isto, todavia, não significa que os bancos comerciais não possam criar moeda. Como veremos

adiante, os bancos comerciais criam um tipo de meio de pagamento chamado moeda escritural, mas o que

não podem é emitir papel-moeda.

No passado, este papel-moeda podia, como foi várias vezes, ser convertido em ouro. Havia uni

lastro que garantia a moeda, não sendo, no entanto, um lastro total, mas sim parcial. A moeda era

fracionalmente lastreada e vigorava o padrão-ouro. A partir de 1920 o padrão-ouro foi abandonado por,

virtualmente, todos os países, não sendo mais possível converter-se em ouro as moedas existentes. Algo

similar ao padrão-ouro vigora, atualmente, apenas para as trocas internacionais, mas com objetivos definidos

e controlados pelos bancos centrais nacionais e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Mas, desaparecendo a relação com o ouro, o que garante a moeda? A resposta é muito simples. O

que garante atualmente a moeda e a faz ser aceita por todos é a lei. No Brasil, todos são obrigados por lei a

aceitar reais em troca de mercadorias, sendo crime a não aceitação. Há muitos anos, devido à inflação e ao

congelamento dos aluguéis, muitos contratos de locação estipularam o montante a ser pago em dólares.

Page 65: Apostila de Economia e Mercado

61

Estes contratos oram considerados, pela Justiça, como ilegais, porque o meio de pagamento no Brasil, por

lei, era, na época, o real, e só a moeda nacional pode servir como padrão de medida monetária. Por estas

razões, costuma-se denominar este papel-moeda de moeda de curso forçado.

A passagem do padrão-ouro para a moeda fiduciária e inesgotável deu às autoridades monetárias a

capacidade de afetar a quantidade de moeda existente no país, pois, com o padrão-ouro, a quantidade de

moeda era em função da existência de ouro no país e, portanto, escapava ao controle das autoridades. Caso

se descobrisse uma mina de ouro, a quantidade de moeda aumentava. Se não houvesse esta descoberta, a

quantidade seria fixa. A possibilidade de controlar a oferta de moeda permite às autoridades monetárias

variá-la de acordo com as necessidades da economia nacional, ou seja, adequar a quantidade de moeda às

exigências da vida econômica.

6.3.3 Moeda escritural

Além das notas e moedas emitidas pelo Banco Central, que acabamos de discutir, existe outro tipo

de meio de pagamento criado pelos bancos comerciais - a Moeda Escritural, também chamada Moeda

Bancária. O monopólio da emissão pertence ao Banco Central, mas, apesar disto, os bancos comerciais

podem criar moeda. A natureza do fenômeno é a mesma já apresentada com relação à criação de moeda a

partir do ouro. Somente uma parte do total de depósitos é utilizada ao mesmo tempo. Em qualquer momento

existem sempre pessoas depositando e outras retirando, de tal forma que somente uma parcela é

movimentada, pois grande parte dos pagamentos é feita pela utilização dos cheques.

O depósito é uma promessa que o banco faz de pagar quando lhe for pedido. O cheque é uma

ordem de transferências de depósito: passar de uma pessoa para outra. Como é só uma parcela dos depósitos

que é requerida para pagamentos, pois grande parte é feita por cheques, o banco pode fazer promessas de

pagar acima do que ele dispõe consigo em depósito ou reserva e, desta forma, criar moeda ou meio de

pagamento, apesar de não poder emitir papel-moeda ou cunhar moeda metálica.

O cheque não é moeda, os depósitos sim moeda. A utilização do cheque apresenta algumas

vantagens em relação ao papel-moeda, pois:

a) é fácil de ser transportado e pode mesmo ser remetido pelo correio;

b) dispensa a necessidade de troco;

c) apresenta maior segurança contra roubo;

d) pode ser usado como recibo de pagamento e é utilizado como comprovante de despesas

como no caso do imposto de renda.

Caso a parcela dos depósitos que é requerida em forma de papel-moeda seja da ordem de 10% do

total, os bancos poderão ter um movimento médio 10 vezes superior em valor ao dos depósitos efetuados.

Desta forma, uma grande parte da oferta de moeda é feita pelos bancos comerciais, que a podem aumentar

ou diminuir.

6.3.4 Quase-moeda

Page 66: Apostila de Economia e Mercado

62

Em relação ao problema dos depósitos a prazo. Vimos que eles não são considerados moeda, mas

apresentam algumas características que os aproximam de um meio de pagamento. Assim sendo, costuma-se

chamá-los de quase-moeda, pois podem, sem grandes problemas, ser transformados em moeda. Da mesma

forma, outros títulos de grande liquidez que, apesar de não serem aceitos, normalmente, em troca de bens e

serviços, podem, rapidamente, ser convertidos em moeda, são também considerados quase-moeda. O

exemplo clássico deste ativo são os títulos ou obrigações de curto prazo do governo.

Um outro tipo de quase-moeda é encontrado nos cartões de crédito, com os quais o consumidor

pode pagar suas despesas em restaurantes, hotéis, lojas etc., sem a necessidade de, na hora, entregar papel-

moeda ou cheque.

A procura por moeda e definida por três motivos: transação, precaução e especulação.

São assim sintetizados por Gwartney-Stroup:

Motivo transação. Todos agentes econômicos a empregam como meio de pagamento.

Motivo precaução. A retenção de saldos precaucionais de moeda é destinada a atender as incertezas

do futuro.

Motivo especulação. Os agentes econômicos mantém ainda saldos monetários na expectativa de

ganhos especulativos, com a compra de ativos reais e financeiros.

Além do nível da renda agregada e das taxas de juros, outros fatores determinam a procura por

moeda. Os de maior relevância são:

a) Expectativas quanto à variação futura dos preços.

b) Fatores institucionais, como usos-e-costumes quanto aos prazos de liquidação de operações

reais.

c) Grau de maturidade e de desenvolvimento da intermediação financeira e conseqüente

existência de substitutos próximos da moeda.

d) Graus de incerteza quanto ao futuro da economia, envolvendo os suprimentos, os padrões e

a regularidade do abastecimento, a ocorrência ou não de crises e de perturbações da ordem

político-institucional estabelecida.

e) Condições estruturais prevalecentes, como os graus de concentração da concorrência nos

mercados de produtos finais, a rigidez contratual nos mercados de fatores de produção e a

estrutura de repartição da renda.

6.4 POLÍTICA ECONOMICA

Dallagnol (2007) afirma que a política econômica é determinada por um conjunto de medidas

governamentais, que atuam sobre a Economia do país. Consiste na determinação dos setores ou polos

econômicos, que prioritariamente devem ser impulsionados e desenvolvidos, mediante apoio técnico,

financeiro ou fiscal. Como não é possível atuar de forma efetiva em todos os campos da Economia, o

governo deve priorizar determinados setores que mais necessitam da ação do Estado e canalizar recursos

orçamentários para apoiar uma ação, que deve ser minuciosamente estudada para que os recursos sejam

aplicados de forma eficiente e eficaz.

Page 67: Apostila de Economia e Mercado

63

Embora estejamos passando por um momento do pensamento econômico com predominância do

pensamento liberal, há aceitação mais ou menos geral da importância da ação do governo na Economia. A

divergência está no modo como esta ação deve ser conduzida.

Além das funções sociais de educação, saúde e justiça, o governo detém responsabilidade sobre a

economia do país, mesmo quando o sistema dominante é o de mercado, ou liberal.

São as seguintes as metas de políticas macroeconômicas:

a) Alto nível de emprego

b) Estabilidade de preços

c) Distribuição de renda socialmente justa

d) Crescimento econômico.

As questões relativas ao emprego e à inflação são consideradas como conjunturais, de curto prazo.

É a preocupação central das chamadas políticas de estabilização. As questões relativas ao crescimento são

predominantemente de longo prazo, enquanto o problema da distribuição de renda envolve aspectos de curto

e longo prazo. Alguns textos colocam também como meta o equilíbrio no balanço de pagamentos, mas estes

não apresentam um objetivo em si mesmo, mas um meio, um instrumento para se atingir as quatro metas

assinaladas.

6.4.1 Alto nível de emprego

Pode-se dizer que a questão do desemprego, a partir dos anos 30, permitiu um aprofundamento da

análise macroeconômica. Surgiu o livro de John Maynard Keynes

Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda –, em 1936, que forneceu aos governantes os

instrumentos necessários para que a economia recuperasse seu nível de emprego potencial ao longo do

tempo.

Deve-se salientar que antes da crise dos anos 30, a questão do desemprego não preocupava a

maioria dos economistas, pelo menos nos países capitalistas. Isso porque predominava o pensamento liberal

que acreditava que os mercados, sem interferência do Estado, conduziam a economia ao pleno emprego de

seus recursos, ou a seu produto potencial: milhões de consumidores e milhares de empresas, como que

guiados por uma ―mão invisível‖, determinariam os preços e a produção de equilíbrio, e, desse modo,

nenhum problema surgiria no mercado de trabalho.

De fato, desde a Revolução Industrial, em fins do século XVIII, até o início do século XX, o mundo

econômico parece ter funcionado mais ou menos assim. Entretanto, a evolução da economia mundial trouxe

em seu bojo, novas variáveis, como o surgimento dos sindicatos dos trabalhadores, os grupos econômicos e

o desenvolvimento do mercado de capitais e do comércio internacional, de sorte a complicar e trazer

incertezas sobre o funcionamento da economia. A ausência de políticas econômicas levou à quebra da Bolsa

de Valores de Nova York em 1929, e uma crise de desemprego atingiu todos os países do mundo ocidental

nos anos seguintes. (DALLAGNOL, 2007)

Page 68: Apostila de Economia e Mercado

64

Com a contribuição de Keynes, contudo, fincaram-se as bases da nova Teoria Macroeconômica, e

da intervenção do Estado na economia de mercado. Na verdade, Keynes praticamente inaugurou uma

questão da macroeconomia que perdura até hoje qual deve ser o grau de intervenção do Estado na economia

e, em que medida ele deve ser produtor de bens e serviços. A corrente de economistas liberais (hoje

neoliberais) prega a saída da produção de bens e serviços, enquanto outra corrente de economista apregoa

um maior grau de atuação do Estado na atividade econômica.

6.4.2 Estabilidade de preços

Define-se inflação como um aumento contínuo e generalizado no nível geral de preços, acarretando

distorções, principalmente sobre a distribuição de renda, sobre a expectativa dos agentes econômicos e sobre

o balanço de pagamentos. Este elemento macroeconômico será detalhado mais adiante.

6.4.3 Distribuição eqüitativa de renda

A economia brasileira cresceu razoavelmente entre o fim dos anos 60 e a maior parte da década de

1970. Apesar disso, verificou-se uma disparidade muito acentuada de nível de renda, tanto na área pessoal

como no campo regional. Isso fere, evidentemente, o sentido de eqüidade ou justiça.

No Brasil, os críticos do ―milagre‖ argumentavam que havia piorado a concentração de renda do

país, nos anos de 1967-1973, devido a uma política deliberada do governo baseada em, crescer primeiro para

depois distribuir (a chamada Teoria do Bolo).

A posição oficial era de que certo aumento na concentração de renda seria inerente ao próprio

desenvolvimento capitalista, dada as transformações estruturais que ocorrem (êxodo rural, com

trabalhadores de baixa qualificação, aumento da proporção de jovens etc.). Nesse processo gera-se uma

demanda por mão-de-obra qualificada, a qual, por ser escassa, obtém ganhos extras. Assim, o fator

educacional seria a principal causa da piora distributiva. O economista Mario Henrique Simonsen

argumentava que há ―desigualdades com mobilidade‖, isto é, o indivíduo permanece pouco tempo na mesma

faixa salarial e tem facilidade de ascensão. Isso seria um fator importante para a convivência com má

distribuição de renda. (DALLAGNOL, 2007)

Deve ser observado que, embora tenha ocorrido no Brasil uma concentração de renda naquele

período, a renda média de todas as classes aumentou. O problema é que, embora o pobre tenha ficado menos

pobre, o rico ficou relativamente mais rico no período considerado.

6.4.4 Crescimento Econômico

Se existem desemprego e capacidade ociosa, pode-se aumentar o produto nacional através de

políticas econômicas que estimulem a atividade produtiva. Mas, feito isso, há um limite à quantidade que se

pode produzir com os recursos disponíveis.

Aumentar o produto além desse limite exigirá:

Page 69: Apostila de Economia e Mercado

65

a) Ou um aumento nos recursos disponíveis;

b) Ou um avanço tecnológico (ou seja, melhoria tecnológica, novas maneiras de organizar a

produção, qualificação de mão-de-obra).

Quando falamos em crescimento econômico, estamos pensando no crescimento da renda nacional

per capita, ou seja, em colocar à disposição da coletividade uma quantidade de mercadorias e serviços que

supere o crescimento populacional. A renda per capita é considerada um razoável indicador – o mais

operacional – para se aferir a melhoria do padrão de vida da população, embora apresentem falhas (os países

árabes têm as melhores rendas per capita, mas não o melhor padrão de vida do mundo).

Durante os anos 60 e 70, começaram a surgir dúvidas em relação à importância do crescimento

como meta principal da política econômica. Nos países desenvolvidos tem-se considerado a questão da piora

do meio ambiente (poluição, degradação etc.). Nos países em desenvolvimento (ou economias emergentes),

como o Brasil, o rápido crescimento dos anos do chamado ―milagre econômico‖ coincidiu com uma

redistribuição de renda a favor dos segmentos mais ricos da população.

6.4.5 Inter-relação e conflitos entre objetivos

Os objetivos não são independentes uns dos outros, podendo inclusive ser conflitantes.

Atingir uma meta pode ajudar a alcançar outra. O crescimento pode facilitar a solução dos

problemas da pobreza, pois se podem abrandar conflitos sociais sobre a divisão do bolo produtivo quando

ele aumenta. Nesse sentido, poder-se-ia aumentar a renda dos pobres sem diminuir a dos ricos.

Entretanto no Brasil, e em outros países em desenvolvimento, as metas de crescimento e equidade

distributiva têm-se mostrado conflitantes, uma vez que o aumento do nível de poupança (necessário para

aumentar os investimentos geradores de crescimento) parece ser mais facilmente obtido através de uma

distribuição desigual de renda – (especificamente aumentando a parte dos lucros e da poupança dos mais

ricos na renda nacional).

Outro conflito pode ser observado entre as metas de redução de desemprego e a estabilidade de

preços. É fato observável que, quando o desemprego diminui e a economia aproxima da plena utilização dos

recursos, passam a ocorrer pressões por aumentos de preços, principalmente nos setores fornecedores de

insumos básicos (aço, embalagens, matérias-primas), o que explica o frequente controle do crescimento do

consumo pelas autoridades para não provocar inflação.

6.5 POLÍTICA MONETÁRIA

Quando falamos de política monetária, estamos nos referindo às ações do governo no sentido de

controlar as condições de liquidez da economia. Diante disso, a política monetária pode ser definida como o

controle da oferta de moeda e das taxas de juros, no sentido de que sejam atingidos os objetivos da política

econômica global do governo.

Page 70: Apostila de Economia e Mercado

66

Alternativamente, também podemos definir a política monetária como sendo a atuação das

autoridades monetárias, por meio de instrumentos de efeitos diretos ou induzidos, com o propósito de

controlar a liquidez global do sistema econômico.

A política monetária diz respeito à atuação do Banco Central para dimensionar os meios de

pagamento e os níveis das taxas de juros, adequando essas variáveis aos objetivos de crescimento da

produção e do emprego, com estabilidade de preços. A atuação do Banco Central opera-se pela

determinação do volume de reservas obrigatórias dos bancos, dependendo do comportamento do público e

dos bancos em relação às quantidades de moedas que desejam reter.

A moeda, como meio de troca, é a maneira mais eficaz de um indivíduo adquirir os bens e serviços

de que necessita. Entretanto, como uma pessoa não gasta toda sua renda no momento em que a recebe,

podemos perguntar: por que esse indivíduo não aplica parte dela – a que não é consumida imediatamente –

em títulos, que rendem juros?

São três as razões fundamentais que levam as pessoas a demandar e reter moeda em seu poder:

a) A primeira refere-se ao fato dos pagamentos e dos recebimentos não serem perfeitamente

sincronizados. A maior parte dos trabalhadores recebe seus salários no início do mês, mas

os gastam, no decorrer do mesmo mês, com as despesas comuns de uma família, como

aluguel, condução, alimentação etc. Portanto, essa pessoa precisa reter moeda ou dinheiro

em seu poder durante todo o mês. A essa razão para a retenção de moeda, damos o nome de

demanda da moeda para transações;

b) A segunda, chamamos isso de demanda de moeda para precaução. Isto significa que as

pessoas previdentes sempre têm certa soma em seu poder, reservada para um imprevisto,

como problemas de saúde, uma batida de automóvel etc.; e

c) A terceira, diz respeito a demanda de moeda para especulação ou demanda especulativa.

Essa razão está associada ao fato de a moeda funcionar como reserva de valor. Se um

indivíduo já separou de sua renda aquelas parcelas destinadas às transações e à precaução, o

procedimento mais razoável seria aplicar o restante em títulos, que rendem juros, pois nada

acontece com o dinheiro quando está simplesmente em casa ou depositado em um banco,

em conta corrente.

Nas economias modernas, quem oferece moeda ao público são as autoridades monetárias como, por

exemplo, o Banco Central, em função das necessidades dos agentes econômicos.

O conjunto de moeda manual (ou moeda corrente), depósitos à vista (moeda escritural ou bancária)

e quase-moedas forma os meios de pagamento de uma economia.

Assim, podemos chamar também a oferta de moeda de meios de pagamento. Meios de pagamento

constituem o total de moeda à disposição do setor privado não bancário, de liquidez imediata, ou seja, que

pode ser utilizada imediatamente para fazer transações.

Os meios de pagamento, em sua forma tradicional, são dados pela soma da moeda em poder do

público, mais os depósitos à vista nos bancos comerciais. Ou seja, pela soma da moeda escritural e da moeda

manual.

Diante do exposto podemos afirmar que os meios de pagamento representam o quanto a

coletividade tem de moeda física – papel e metálica – com o público ou no cofre das empresas somado a

Page 71: Apostila de Economia e Mercado

67

quanto ela tem em conta corrente nos bancos. Enfim, é aquela moeda que não está rendendo juros, que não

está aplicada em contas ou ativos remunerados.

Os meios de pagamento, conceituados como moeda de liquidez imediata, que não rendem juros,

também são chamados, na literatura mais específica, de M1.

Quase-moeda são ativos que têm alta liquidez – embora não tão imediata – e que rendem juros,

como os títulos públicos, as cadernetas de poupança, os depósitos a prazo e alguns títulos privados, letras de

câmbio e letras imobiliárias.

Na verdade, existem vários conceitos de meios de pagamento, dependendo das quase-moedas

incluídas, como podemos verificar na classificação a seguir:

a) M1: como já falamos, o M1 inclui o dinheiro (papelmoeda) em poder do público e os

depósitos à vista (ou moeda escritural). Este é o mais tradicional dos conceitos existentes

sobre moeda. Quanto aos depósitos à vista (moeda escritural), estes constituem a maior

parte do volume de meios de pagamento no mundo moderno, perfazendo um total de

aproximadamente 80%, em média. Aqui a liquidez é plena;

b) M2: M1 + fundos do mercado monetário + títulos públicos;

c) M3: M2 + depósitos de poupança; e

d) M4: M3 + títulos privados.

6.5.1 Controle da oferta monetária

Pinho e Vasconcellos (1998) destacam que a principal função do Banco Central é controlar a oferta

de moeda. Para tal fim, ele pode utilizar vários instrumentos. Os principais são as emissões de papel-moeda,

as reservas obrigatórias dos bancos comerciais e as operações de mercado aberto (open market).

6.5.2 Monopólio das Emissões

Em quase todos os países do mundo, o Banco Central controla, por força de lei, o volume e papel-

moeda emitido. Em outras palavras, o Banco Central tem o monopólio das emissões. Em geral, não se

recomenda que o Banco Central use este seu poder para controlar a oferta de moeda, mas que coloque em

circulação o volume de notas e moedas metálicas necessárias ao bom desempenho da economia. O controle

da oferta de meios de pagamento deve ser realizado pela utilização dos outros instrumentos.

6.5.3 Reservas Obrigatórias

Os bancos comerciais guardam uma parcela dos depósitos como reservas e com a finalidade de

atender ao movimento de caixa. Em geral, os bancos centrais forçam os bancos comerciais a guardar

reservas superiores às que seriam indicadas pela experiência e prudência destes estabelecimentos. No Brasil,

estas reservas obrigatórias ou compulsórias são em média pouco superiores a 11% dos depósitos à vista; nos

Estados Unidos, esta taxa é pouco inferior a 10%; e na Inglaterra, aproximadamente 8 % do total dos

depósitos.

6.5.4 Operações de Mercado Aberto ("Open Market")

Page 72: Apostila de Economia e Mercado

68

Outro instrumento importante para o controle da oferta de moeda são as operações de mercado

aberto. Em muitos países, Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo, este instrumento é o mais utilizado

pelas autoridades monetárias. No Brasil, sua utilização data do início da década de 70. Em essência, estas

operações consistem em vendas ou compras, por parte do Banco Central, de títulos governamentais no

mercado de capitais.

Qual o efeito destas compras e vendas sobre a oferta de moeda?

Para entender esta repercussão, Pinho e Vasconcellos (1998) analisam o que ocorre quando estas

operações são realizadas. Vamos supor que o Banco Central compre obrigações governamentais – títulos da

dívida - possuídas pelo público. Como pagamento desta compra, o Banco Central entrega ao antigo

possuidor um cheque no valor da importância devida.

Por sua parte o indivíduo que vendeu os títulos deposita o cheque num banco comercial no qual

seja correntista. Ora, o Banco Central, quando realiza estas operações, compra títulos de inúmeros

indivíduos, os quais vão seguir o mesmo procedimento, ou seja, depositar os cheques recebidos nos seus

bancos comerciais. Como uma só parte dos depósitos precisa ser guardada como reserva ou encaixe, os

bancos vão agora se defrontar com encaixes excedentes. Estes encaixes são a condição necessária, e de

acordo com a hipótese formulada, suficiente para que se dê a expansão múltipla dos meios de pagamento.

Em resumo, a compra de títulos governamentais, por parte do Banco Central, acarretou um

aumento nos depósitos junto aos bancos comerciais. Este aumento, por sua vez, gerou encaixes excedentes,

e estes foram o ponto de partida para uma expansão múltipla dos meios de pagamento e, portanto, para um

aumento na oferta de moeda.

O oposto se verificaria caso o Banco Central vendesse títulos. Os indivíduos que comprassem os

títulos os pagariam com cheques. Quando o Banco Central descontasse estes cheques, ele reduziria as

reservas dos bancos que, por sua vez, seriam obrigados a contrair a oferta de meios de pagamento, ou seja,

reduzir a oferta de moeda.

6.5.5 Política de Redesconto

Outra forma, bastante importante, de se controlar a oferta de moeda e a política de redesconto. Esta

é, inclusive, uma das mais usadas nas economias modernas. O Banco Central é o banco dos bancos,

empresta fundos líquidos aos outros estabelecimentos bancários, seja por meio de empréstimos diretos ou

por meio do redesconto de títulos. Na medida em que adota uma política liberal de crédito, oferecendo

empréstimos abundantes e a juros (taxa de redesconto) baixos, o Banco Central fornece aos bancos

comerciais uma fonte acessível de empréstimos, e, portanto, estes podem também adotar uma política liberal

de crédito para seus clientes. Caso o Banco Central limite quantitativamente os redescontos ou eleve suas

taxas, os bancos comerciais serão obrigados a reduzir seus empréstimos e elevar as taxas de juros. Desta

forma, o crédito bancário se torna difícil e dispendioso.

Page 73: Apostila de Economia e Mercado

69

Além da fixação da taxa de recolhimentos compulsórios sobre os depósitos a vista no sistema

bancário, as autoridades monetárias dispõem de outros meios para controlar a oferta monetária e para a

adequação do nível geral de liquidez da economia.

Os quatro principais instrumentos de controle da oferta monetária são:

a) A fixação da taxa de recolhimentos compulsórios.

b) As operações de redesconto.

c) As operações de mercado aberto.

d) O controle seletivo do credito.

6.5.6 Controle seletivo do credito

Trata-se de intervenções diretas do banco central no mercado de credito. Neste sentido, e um

instrumento de controle da oferta monetária que se diferencia do trinômio compulsório, redesconto e

mercado aberto em pelo menos três aspectos:

e) Alcança as operações ativas de todo o subsistema de intermediação financeira e todos os

subsegmentos de mercado em que se realiza a maior parte das operações de credito e

financiamento.

f) Condiciona diretamente, e não por vias indiretas, o volume e os custos das aplicações do

setor financeiro, direcionando-as para as categorias de fluxos do setor real que sejam

alinhadas a consecução dos objetivos da política econômica como um todo.

g) Atua sobre o conceito mais abrangente de oferta monetária. O aumento ou a redução da taxa

de juros transmite-se para o setor real da economia, impulsionando ou não os fluxos reais de

consumo e de acumulação. Mas os efeitos dos juros não se propagam apenas sobre o setor

real. Eles têm um efeito também sobre o setor monetário, como um dos mais importantes

fatores condicionantes da procura por moeda.

6.6 Política Cambial

Dentro de uma nação, as transações realizam-se com a mesma moeda. No entanto, no comércio

internacional utilizamos moedas diferentes. Daí surge a necessidade de convertermos uma moeda em outra,

como forma de facilitar os intercâmbios comerciais.

Exatamente, a taxa de câmbio é o mecanismo através do qual essa troca é possível, ou seja, é a

expressão do número de unidades da moeda nacional por unidade de moeda estrangeira.

Sua variação altera diversas variáveis econômicas, sobretudo aquelas relacionadas ao comércio

exterior.

No comércio internacional não há apenas uma moeda a ser empregada para pagamento das

transações, já que os países trocam entre si bens e serviços. Todavia, ao se fecharem as referidas transações,

o saldo é contabilizado em uma única moeda. Em outras palavras, é necessário que exista alguma forma de

conversão.

A operação conhecida como taxa de câmbio faz a conversão da moeda nacional em moeda

estrangeira. O número de unidades necessárias, em moeda doméstica, para adquirir uma unidade em moeda

estrangeira tem sido regulado pela taxa de câmbio. Por exemplo, considere que a atual taxa de câmbio do

Page 74: Apostila de Economia e Mercado

70

real em relação ao dólar seja equivalente a 2,20. Neste cenário podemos dizer que para obtermos US$ 1,00

entregamos aproximadamente R$ 2,20.

Assim, podemos observar que o governo, alterando a taxa de câmbio, ou seja, a relação entre as

moedas interfere automaticamente na dinâmica das relações comerciais do país, uma vez que modifica a

posição dos preços internacionais.

Para você entender melhor separamos outros exemplos:

h) supondo-se que a taxa de câmbio seja: R$ 1,00 = US$ 1,00 →o Brasil consegue exportar

1.000 toneladas de aço;

i) num segundo momento, o governo brasileiro altera a taxa de câmbio para: R$ 2,00 = US$

1,00 →o Brasil, a essa nova taxa, consegue exportar 2.000 toneladas de aço, pois quem

possuía dólares teve seu poder de compra ampliado.

Este fato ocorre porque a alteração da taxa de câmbio tornou a moeda brasileira desvalorizada, ou

seja, mais ―barata‖ em relação à estrangeira e, consequentemente, nossos produtos caíram de preço no

mercado internacional, tornando-se mais ―atrativos‖ no exterior, resultando no aumento das exportações.

Como você já sabe, o comércio internacional gera um fluxo de transações econômicas, operações

que envolvem movimentação de mercadorias e de serviços, bem como de pagamentos e recebimentos em

moedas estrangeiras. O registro dessas transações econômicas, que o país realiza com o resto do mundo,

num determinado período de tempo, ficou conhecido como balanço de pagamentos.

O balanço de pagamentos pode ser entendido, então, como sendo o registro sistemático estatístico-

contabilista das transações de um país com as outras nações durante um determinado período de tempo. O

resultado desse balanço é obtido através do somatório das contas:

j) Conta-corrente: formada por três subcontas.

k) balança comercial: registra a movimentação de mercadorias. Seu saldo é dado pela

diferença entre vendas de mercadorias efetuadas pelo país ao exterior e compras de

mercadorias efetuadas pelo país no exterior. Se as exportações excedem as importações,

temos um superávit, e ocorrendo o contrário, temos déficit na balança comercial;

l) balança de serviços: registra as transações com os serviços. Essas transações são

consideradas intangíveis. Por exemplo, receita e despesa de transportes; receita e despesa de

viagens internacionais; rendas de capital; royaltie*; receitas e despesas com patentes, entre

outros serviços; e

m) transferências unilaterais: refere-se ao resultado das doações, remessa de dinheiro feita ou

recebida pelo país etc.

n) Movimentos de capitais autônomos: formados pela entrada ou saída de capitais, sendo

representados pelo capital de risco (investimento direto), de empréstimo ou especulativo.

o) Erros e omissões: conta de ajuste devido às dificuldades de mensuração de algumas

transações.

p) Reservas (capital compensatório ou induzido): quando o balanço de pagamentos apresenta

resultado negativo (deficitário), deve-se cobrir essa lacuna com as reservas. Do contrário, se

o resultado for positivo, ampliam-se as reservas.

Os governos acompanham anualmente estas transações realizadas entre os países para saber o que

acontece no campo dos pagamentos internacionais e para poder avaliar sua situação econômica. Um registro

deficitário no balanço de pagamentos reflete que o país deve gastar suas reservas ou recorrer a empréstimos,

Page 75: Apostila de Economia e Mercado

71

com pagamentos de juros, no mercado financeiro internacional ou ao Fundo Monetário Internacional (FMI),

para honrar seus compromissos. Esta é uma situação típica de quem gastou mais do que ganhou. Neste caso,

o governo utiliza os instrumentos de política econômica (política cambial, monetária e fiscal etc.) com a

finalidade de corrigir tais desequilíbrios.

No Brasil, a taxa de câmbio representa o preço, em moeda nacional, de uma unidade de moeda

estrangeira. Uma elevação desta taxa representa uma desvalorização, e o oposto, uma valorização. O sistema

cambial ou regime cambial é definido pela regra estabelecida para a formação da taxa de câmbio. Existem,

fundamentalmente, dois tipos de taxa de câmbio:

q) Fixa: é administrada pelo Banco Central (autoridade monetária) do país, que rege a oferta e

a demanda de moedas estrangeiras. A autoridade monetária estabelece, assim, a taxa de

câmbio que considera a mais conveniente para a economia.

r) Flutuante: regime cambial flexível, no qual a autoridade monetária não tem compromisso

algum para apoiar determinada taxa. A oferta e a demanda de divisas determinam a taxa de

câmbio praticada.

6.7 Política fiscal

O termo política fiscal refere-se ao comportamento e à administração das receitas e despesas do

setor público.

As despesas do governo derivam da prestação de serviços e/ou da produção de bens pelo setor

público, tais como o pagamento de salários de funcionários públicos, obras, aposentadorias etc., além do

pagamento de juros, o que, atualmente, é o mais pesado, correspondendo a gastos improdutivos, ou seja,

gasto que não traz nenhum bem-estar para a sociedade. Enquanto as receitas resultam, basicamente, da

arrecadação de impostos e contribuições, cuja finalidade principal é financiar as despesas.

Superávit, apesar de comumente ser considerado um bom resultado, nem sempre o é, pois vai

depender do contexto macroeconômico em que ocorre e os fatores que o geraram. Se, por exemplo, for fruto

de uma carga tributária excessivamente elevada, podendo, futuramente, haver sonegação de impostos, não é

considerado um bom resultado. Podemos citar um outro exemplo: se for fruto de uma redução dos gastos

públicos essenciais à economia, também não pode ser considerado um bom resultado.

Da mesma forma, o déficit* nem sempre é o vilão da economia. Se puder ser facilmente financiado

e tiver sido provocado pelo governo, visando, incentivar um aumento do nível de produção e emprego na

economia, passa a ser um bom resultado.

Podemos falar ainda em déficit ou superávit primário e nominal, através de dois conceitos:

s) Primário: seja ele déficit, seja superávit, quando nos referimos ao conceito primário estamos

levando em consideração as contas do governo sem incluir pagamentos de juros da dívida

(externa ou interna) e sem incluir ajustes financeiros. Então, Resultado Primário: receitas –

despesas (sem incluir pagamentos de juros); e

t) Nominal: seja ele déficit, seja superávit, inclui pagamento de juros da dívida (interna ou

externa), correção monetária e correção cambial. Então, Resultado Nominal refere-se a

receitas – despesas (inclui pagamentos de juros).

Page 76: Apostila de Economia e Mercado

72

As políticas fiscais referem-se às regras governamentais a respeito de tributos e taxas, bem como do

uso e do controle dos recursos assim obtidos pelas autoridades públicas e afetam o nível de atividade

econômica do país (LACOMBE, 2004). O governo pode assumir duas posturas de intervenção na economia:

u) Sentido expansivo: aumentar os gastos públicos e reduzir os impostos, com o objetivo de

ampliar a produção e o emprego na economia.

v) caráter restritivo: reduzir a produção, proporcionando o aumento do desemprego: os gastos

públicos são diminuídos e os impostos são aumentados.

Normalmente, essas posturas são assumidas pelos governos em função dos seus objetivos de

política econômica. Portanto, antes de qualquer crítica, é importante entendermos o que o governo deseja.

Para aplicação das políticas econômicas, principalmente a política fiscal, devemos verificar quais os

resultados previstos. Se o alcance dos objetivos envolverem custos econômicos ou sociais elevados, ainda

que a eficácia seja comprovada, a política pode não ser recomendável.

O governo pode provocar déficit através da política fiscal expansiva, visando a incentivar um

aumento do nível de produção e emprego, ou melhor, elevar o nível de atividade da economia.

O aumento dos gastos públicos estimula um aumento da produção das firmas por duas vias:

w) Diretamente: quando o setor público compra bens e serviços das empresas e famílias.

x) Indiretamente: quando as famílias, de posse de uma renda maior, elevam a sua demanda por

bens de consumo, e, portanto, aumentam as vendas das que atuam neste setor.

A redução de impostos também estimula a produção, visto que permanecerá maior renda no setor

privado, mais reinvestimento mais, assim como um acréscimo da renda das famílias, podendo estas

aumentar o consumo. Logo uma redução dos impostos altera o nível de emprego e salário. Essa alteração no

nível de emprego e salário dependerá da propensão dos contribuintes a poupar, ou seja, o quanto da renda

disponível o contribuinte consegue poupar em determinado tempo.

Já o aumento dos impostos representa um vazamento da renda do setor privado, que poderia ser

alocada na compra de bens e serviços no mercado. Dessa forma, age sobre a demanda agregada (todas as

demandas do país) no sentido oposto ao de suas despesas, ou seja, reduz a produção.

Como você observou, o aumento dos gastos públicos estimula o nível de atividade econômica

direta e indiretamente (através do consumo). Devido a esse estímulo indireto ao consumo, podemos dizer

que os gastos do governo têm um "efeito multiplicador" sobre a atividade econômica, porque resultam em

um aumento mais que proporcional na demanda agregada e também no PIB. Ou seja, um aumento dos

gastos do governo provocará igual aumento da renda da economia. À medida que esse primeiro aumento da

renda começa a estimular novos gastos de consumo, a demanda agregada por bens e serviços é novamente

acrescida. Assim, esses novos gastos de consumo vão gerar um novo aumento da renda da economia.

Geralmente, essa maior tendência a consumir acontece nas economias menos desenvolvidas (países

subdesenvolvidos), onde existe um alto grau de concentração de renda (ou número elevado de famílias de

baixa renda em comparação com as de renda elevada). Nesses países, quando há um aumento na renda, a

Page 77: Apostila de Economia e Mercado

73

tendência maior é a de consumir, e não a de poupar. Assim, um pequeno aumento dos gastos do governo é

capaz de produzir um grande impulso na demanda agregada e também no nível de atividade da economia.

Dessa forma, podemos concluir que um aumento de gasto público (G) gera aumento no emprego

(E), que gera mais salários (W), o que faz aumentar a renda (Y) e aumentar o consumo (C).

Aumentando o consumo, aumenta a receita (R) do governo, pois mais impostos serão recolhidos. E

assim sucessivamente.

Ao longo do século XX, na maioria dos países, o setor público aumentou sua participação na

atividade econômica, o que o fez incorrer em custosos déficits (particularmente com o pagamento de juros).

Isso implica necessidades crescentes de financiamento. Para atender a essas necessidades, podemos contar

com três procedimentos:

y) Impostos: ainda que apareçam como uma forma natural de financiar gastos públicos,

apresentam uma série de limitações, pois, quando existe déficit, os impostos são

insuficientes para atender aos gastos. Além disso, seria uma medida impopular o aumento

dos impostos, e, em período de recessão, agravaria, ainda mais, a situação (pois inibiria a

produção privada, por exemplo).

z) Emissão de moeda: consiste na emissão de moeda (criação de dinheiro), pois, como já

vimos, o setor público, por meio do Banco Central, é o responsável pela emissão do

dinheiro. Com isso, poderíamos pensar que basta recorrer à emissão monetária para atender

às necessidades de financiamento do déficit. No entanto, este procedimento implicaria o

aumento da pressão inflacionária e a perda de valor do dinheiro.

aa) Emissão da dívida pública: quando o Estado põe à venda títulos públicos. Essa iniciativa

também tem implicações monetárias, dado que os fundos financeiros não são ilimitados e

que a emissão da dívida pública pode reduzir as possibilidades de financiamento da

iniciativa privada, assim como contribuir para aumentar a taxa de juros.

É a principal e a maior forma de receita do governo. Os impostos são uma imposição do Estado a

indivíduos, unidades familiares e empresas, para que paguem uma certa quantidade de dinheiro em relação a

determinados atos econômicos tais como consumo, salários, lucros etc.

Os impostos podem ser de diferentes tipos. Veja:

bb) Diretos: incidem sobre os indivíduos (contribuintes), e não sobre os bens. Exemplo: Imposto

de Renda;

cc) Indiretos: incidem sobre bens e serviços adquiridos pelas pessoas. Exemplos: Imposto sobre

Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), e Imposto sobre Produtos

Industrializados (IPI);

dd) Progressivos: é o caso do imposto direto, ou seja, quanto maior a renda, mais se paga de

imposto;

ee) Regressivos: é o caso do imposto indireto, ou seja, independentemente da renda, todos

pagam o mesmo imposto para adquirir os bens e serviços. Dessa forma, há uma incidência

maior do imposto sobre as pessoas que têm menor renda; e

ff) Proporcionais: seu percentual permanece constante em relação à renda.

6.8 PLANOS ECONÔMICOS

6.8.1 Plano Cruzado

Page 78: Apostila de Economia e Mercado

74

O Plano Cruzado foi um conjunto de medidas econômicas, lançado pelo governo brasileiro em 28

de fevereiro de 1986, com base no decreto-lei nº 2.283, de 27 de fevereiro de 1986, sendo José Sarney o

presidente da República e Dilson Funaro o ministro da Fazenda.

As principais medidas contidas no Plano eram:

gg) congelamento de preços de bens e serviços nos níveis do dia 27 de fevereiro de 1986;

hh) Congelamento da Taxa de Cambio por um ano em 13,84 Cruzados = 1 Dólar e 20,58

Cruzados = 1 Libra

ii) reforma monetária, com alteração da unidade do sistema monetário, que passou a

denominar-se cruzado (Cz$), cujo valor correspondia a mil unidades de cruzeiro;

jj) substituição da Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional ORTN, título da dívida pública

instituído em 1964, pela Obrigação do Tesouro Nacional (OTN), cujo valor foi fixada em

Cz$106,40 e congelado por um ano;

kk) congelamento dos salários pela média de seu valor dos últimos seis meses e do salário

mínimo em Cz$ 804,00, que era igual a Aproximadamente a US$ 67,00 de Salário Mínimo

ll) como a economia fora desindexada, institui-se uma tabela de conversão para transformar as

dívidas contraídas numa economia com inflação muito alta em dívidas contraídas em uma

economia de inflação praticamente nula;

mm) criação de uma espécie de seguro-desemprego para aqueles que fossem dispensados

sem justa causa ou em virtude do fechamento de empresas;

nn) os reajustes salariais passaram a ser realizados por um dispositivo chamado "gatilho

salarial" ou "seguro-inflação", que estabelecia o reajuste automático dos salários sempre que

a inflação alcançasse 20%

Além de Dilson Funaro, outros economistas participaram da elaboração do Plano, como João

Sayad, Edmar Bacha, André Lara Resende e Persio Arida. No dia 16 de janeiro, João Sayad, Persio Arida,

André Lara Resende, Oswaldo de Assis e Jorge Murad votaram a favor do Plano, ao passo que Dilson

Funaro, João Manuel Cardoso de Mello, Luiz Gonzaga Belluzzo, Andrea Calabi e Edmar Bacha acharam-no

muito arriscado. Com a recusa da maioria, João Sayad, Ministro do Planejamento, afirmou que iria pedir

demissão. Jorge Murad convenceu o seu sogro José Sarney a adotar o Plano Cruzado, apoiando Sayad,

Persio Arida, Andre Lara Resende e Jorge Murad, a favor do Plano.

Uma vez adotado, o plano logo conquistou maciço apoio popular.

A hiperinflação criou tumultos no dia-a-dia das pessoas, nas tarefas do cotidiano. Então, de repente a

gente acorda no dia 28 de fevereiro de 1986 e fala assim: acabou a inflação, a moeda é outra, corta

zeros, tudo agora vai ser diferente, tem uma "tablita" para você pagar suas contas e cobrar as dívidas

dos outros, e tudo é diferente. Os preços vão ser tabelados. Está aqui a tabela.

Assim, mesmo os seus opositores iniciais acabaram por apoiá-lo com entusiasmo. Todos

reivindicaram para si a paternidade do plano, enquanto fez sucesso, mas quando mostrou suas deficiências,

seus "pais" passaram a rejeitar o "filho".

O objetivo principal do plano foi conter a inflação e para isso foram adotadas várias medidas, sendo

as principais:

a) Substituição da moeda do Brasil de Cruzeiro para o Cruzado e divisão do valor de face por

1000, fazendo Cr$ 1.000,00 = Cz$ 1,00.

Page 79: Apostila de Economia e Mercado

75

b) Suspensão da correção monetária generalizada. A correção monetária provocava uma

indexação quase completa da economia e realimentava a expectativa inflacionária (Kirsten,

1986);

c) O congelamento de preços pelo prazo de um ano, isto é, a fixação de todos os preços nos

níveis de 27 de fevereiro de 1986 - medida adotada para eliminar a memória inflacionária. O

congelamento era fiscalizado por cidadãos que ostentavam, orgulhosos, buttons de fiscal do

Sarney, depredavam estabelecimentos que aumentavam preços e chegaram dar voz de

prisão a gerentes de supermercados;

d) Antecipação dos reajustes salariais, unificando a época dos dissídios, inclusive com

antecipação de 33% do salário mínimo (Kirsten, 1986);

e) Implantação da escala móvel de salários ou "gatilho salarial", isto é, correção automática

dos salários sempre que a inflação acumulada pelo IPCA ultrapassasse 20%.

Israel e Argentina já haviam implementado planos similares e uma adoção de um plano no Brasil

era questão de tempo pois a inflação de 12% a 14% ao mês era irreversível, mas ainda não explosiva

(Longo, 1986). Com isso, ainda não havia uma sincronização das datas de reajustes, apresentando

discrepâncias como o reajuste diário do câmbio do dólar e reajuste semestrais para salários, aluguéis e

prestações do SFH (Martone, 1986)

Um erro foi terem esquecido de trazer os preços a prazo de 30, 60, 90 dias ao seu valor presente a

vista. Em vez de congelamento, ocorreu um aumento de 17%, 34%. Produtos vendidos com 30 dias tiveram

um aumento real de 17%, a inflação media da época embutida nos preços. Produtos como brinquedos que

tinham 180 dias de prazo, tiveram aumentos reais de 256%, no caso de empresas do setor de brinquedos

como, por exemplo a Trol, de propriedade do ministro da fazenda. Persio Arida se desculpou do erro,

alegando que estudara Argentina e Israel que estavam em hiper-inflação, quando não há mais vendas a

prazo. Este erro na propria regra de congelamento desorganizou os preços relativos da economia, paralisou a

produção por um mes e criou a famosa briga pelo "deflator" onde fornecedores e clientes discutiam novos

preços reais.

O plano começou a fracassar exatamente devido ao desequlíbrio dos preços relativos da economia.

Por não equalizarem o valor presente dos preços, muitos produtores que corrigiam seus preços entre dia 1 a

15 dos mês, ficaram com o preço tabelado abaixo da rentabilidade desejada ou até mesmo abaixo do custo

de produção: algo que ou inviabilizava a venda dos produtos para o consumo, ou levava a uma queda na sua

qualidade. Saíram beneficiadas, as empresas que reajustaram seus preços nos dias anteriores ao plano.

Como o congelamento não permitiu o ajuste dos preços sujeitos à sazonalidade, houve um

desequilíbrio de preços. E como resultado disso, vieram o desabastecimento de bens e o surgimento de ágio

para compra de produtos escassos, principalmente os que se encontravam na entressafra (carne e leite) e de

mercados oligopolizados (automóveis).

Além desses fatores, alguns economistas apontam o abono concedido ao salário mínimo(aumento

real de 16%), e ao funcionalismo público (abono de 8%) como responsável por um aumento do consumo -

algo que pressionou ainda mais a demanda, impedida de ser contrabalanceada por um aumento de preços.

Ausência de controle de gastos do governo

Page 80: Apostila de Economia e Mercado

76

Outros fatores que levaram ao fracasso do plano:

a) a falta de medidas econômicas por parte do governo para controlar os gastos públicos;

b) o congelamento da taxa de câmbio, algo que levou o país a perder uma parcela considerável

de reservas internacionais;

c) os juros da economia estavam negativos, algo que desestimulava a poupança e pressionava

o consumo.

Algumas medidas corretivas ainda foram tomadas pelo governo. A proximidade das eleições,

entretanto, fez com que o governo evitasse medidas impopulares que garantissem a sobrevivência do Plano.

Só depois das eleições - em que, aliás, o PMDB elegeu 22 governadores e o PFL, também governista, 1

governador -, o governo impôs tais medidas - por exemplo, o descongelamento de preços. Mas já no ano

seguinte, a inflação se reaceleraria num grau maior que o do anterior ao plano.

Para muitos oposicionistas - entre eles, Delfim Netto -, o Plano Cruzado era inconsistente, populista

e eleitoreiro: um plano que visava apenas a aumentar a popularidade do governo e de seus candidatos

durante a eleição.

Nas eleições de novembro, o PMDB obteve a maioria absoluta das cadeiras no Congresso Nacional.

Foi até cunhada, por isso tudo, a expressão "Estelionato Eleitoral". Seja como for, o plano naufragou de vez

logo após as eleições. A população se revoltou com quebra-quebra de ônibus e invasão de supermercados. A

hiperinflação se instalou, sem controle.

O Plano Cruzado não apenas fracassou, como dele resultaram muitas ações judiciais até hoje em

curso, na qual cidadãos comuns exigem de bancos e governos a reparação das perdas monetárias sofridas.

"Cada brasileira ou brasileiro será um fiscal dos preços em qualquer lugar do mundo. Ninguém poderá, a

partir de hoje, praticar a industria da remarcação. O estabelecimento que o fizer poderá ser fechado, e esta

prática ensejará a prisão dos representantes"

6.8.2 Plano Collor I E II

O Plano Collor é o nome dado ao conjunto de reformas econômicas e planos para estabilização da

inflação criados durante a presidência de Fernando Collor de Mello (1990-1992), sendo o plano estendido

até 31 de julho de 1993, quando foi substituído pelo embrião do que vinha a ser o Plano Real, implantado

oficialmente em 1994. O plano era oficialmente chamado Plano Brasil Novo, mas ele se tornou associado

fortemente a figura de Collor, e "Plano Collor" se tornou nome de facto.

O plano Collor combinava liberação fiscal e financeira com medidas radicais para estabilização da

inflação. As principais medidas de estabilização da inflação foram acompanhadas de programas de reforma

de comércio externo, a Política Industrial e de Comércio Exterior, mais conhecida como PICE, e um

programa de privatização intitulado Programa Nacional de Desestatização, mais conhecido como PND.

A teoria do plano econômico foi desenvolvida pelo economista Antônio Kandir. O plano

efetivamente implementado foi desenvolvido pelos economistas Zélia Cardoso de Mello, Antônio Kandir,

Ibrahim Eris, Venilton Tadini, Luís Otávio da Motta Veiga, Eduardo Teixeira e João Maia.

Page 81: Apostila de Economia e Mercado

77

Três planos separados para estabilização da inflação foram implementados durante os dois anos do

governo Collor. Os dois primeiros, Plano Collor I e II, foram encabeçados pela ministra da Fazenda Zélia

Cardoso de Mello. Em maio de 1991, Zélia foi substituída por Marcílio Marques Moreira, que instituiu um

plano homônimo, o Plano Marcílio .

O Brasil sofreu por vários anos com a hiperinflação: em 1989, o ano antes da posse de Collor, a

média mensal da inflação foi de 28,94%. O Plano Collor procurava estabilizar a inflação pelo

"congelamento" do passivo público (tal como o débito interno) e restringindo o fluxo de dinheiro para parar

a inflação inercial.

A rápida e descontrolada remonetização da economia é tida como a causa das falhas dos planos de

estabilização da inflação adotados anteriormente. O governo Collor teria de garantir uma remonetização

"ordenada" e "lenta", a fim de manter a inflação para baixo. Para o controle da velocidade da remonetização,

poder-se-ia utilizar uma combinação de ferramentas econômicas, tais como impostos, taxas de câmbio,

crédito e taxas de juros.

Nos poucos meses que sucederam a implantação do plano, a inflação continuou a crescer. Em

janeiro de 1991, nove meses após o início do plano, a inflação reduziu, atingindo a taxa de 20% por mês.

O congelamento causou uma forte redução no comércio e na produção industrial. Com a redução da

geração de dinheiro de 30% para 9% do PIB, ele retirou 80% da moeda em circulaçao a taxa de inflação caiu

de 81% em março para 9% em junho. O governo enfrentou duas escolhas: poderia segurar o congelamento e

arriscar uma recessão devido a redução dos ativos, ou remonetizar a economia através do descongelamento e

correr o risco do retorno da inflação.

O fracasso do Plano Collor I no controle da inflação é creditado pelos economistas keynesianos e

monetaristas à falha do governo Collor de controlar a remonetização da economia. O governo abriu várias

"brechas" que contribuíram para o aumento do fluxo de dinheiro: os impostos e as contas do governo

emitidos antes do congelamento poderiam ser pagos com o velho Cruzado, criando uma forma de "brecha de

liquidez", que foi plenamente explorada pelo setor privado. Várias exceções aos setores individuais da

economia foram abertas pelo governo, como nas poupanças de aposentados, e o "financiamento especial" na

folha de pagamento do governo.

Por último, o governo foi incapaz de reduzir despesas, limitando sua capacidade de usar muitas das

ferramentas acima mencionadas. Os motivos vão desde o aumento do compartilhamento da receita de

impostos federais com os estados até a cláusula de "estabilidade de emprego" para os funcionários públicos,

instituída na Constituição Brasileira de 1988, que preveniu o tamanho da redução tal como anunciada no

começo do plano. Estes economistas vindicados como Bresser Pereira e Mário Henrique Simonsen, ambos

os ex-ministros das Finanças, tinham previsto, no início do plano, que a situação fiscal do governo tornaria

impossível o plano de trabalho.

Segundo o acadêmico Carlos Eduardo Carvalho, Professor do Departamento de Economia da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a medida política executada pelo Governo Collor, que ficou

Page 82: Apostila de Economia e Mercado

78

conhecida como confisco, não fazia parte, originalmente, do Plano Collor e tem origem num consenso entre

os candidatos à presidência da época: Fernando Collor de Mello, Ulysses Guimarães e Luiz Inácio Lula da

Silva. O confisco já era um tema em debate entre os candidatos à eleição presidencial: A gênese do Plano

Collor, ou seja, como e quando foi formatado o programa propriamente dito, desenvolveu-se na assessoria

de Collor a partir do final de dezembro de 1989, depois da vitória no segundo turno. O desenho final foi

provavelmente muito influenciado por um documento discutido na assessoria do candidato do PMDB,

Ulysses Guimarães, e depois na assessoria do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, entre o primeiro

turno e o segundo. Apesar das diferenças nas estratégias econômicas gerais, as candidaturas que se

enfrentavam em meio à forte aceleração da alta dos preços, submetidas aos riscos de hiperinflação aberta no

segundo semestre de 1989, não tinham políticas de estabilização próprias. A proposta de bloqueio teve

origem no debate acadêmico e se impôs às principais candidaturas presidenciais. Quando ficou claro o

esvaziamento da campanha de Ulysses, a proposta foi levada para a candidatura de Luiz Inácio Lula da

Silva, do PT, onde obteve grande apoio por parte de sua assessoria econômica e chegou à equipe de Zélia

depois do segundo turno, realizado em 17 de dezembro.

O plano foi anunciado em 16 de março de 1990, um dia após a posse de Collor. Suas políticas

planejadas incluíam:

a) 80% de todos os depósitos do overnight, das contas correntes ou das cadernetas de

poupança que excedessem a NCz$50mil (Cruzado novo) foram congelados por 18 meses,

recebendo durante esse período uma rentabilidade equivalente a taxa de inflação mais 6%

ao ano.

b) Substituição da moeda corrente, o Cruzado Novo, pelo Cruzeiro à razão de NCz$ 1,00 =

Cr$ 1,00

c) Criação do IOF, um imposto sobre as operações financeiras, sobre todos os ativos

financeiros, transações com ouro e ações e sobre todas as retiradas das contas de poupança.

d) Foram congelados preços e salários, sendo determinado pelo governo, posteriormente,

ajustes que eram baseados na inflação esperada.

e) Eliminação de vários tipos de incentivos fiscais: para importações, exportações, agricultura,

os incentivos fiscais das regiões Norte e Nordeste, da indústria de computadores e a criação

de um imposto sobre as grandes fortunas.

f) Indexação imediata dos impostos aplicados no dia posterior a transação, seguindo a inflação

do período.

g) Aumento de preços dos serviços públicos, como gás, energia elétrica, serviços postais, etc.

h) Liberação do câmbio e várias medidas para promover uma gradual abertura na economia

brasileira em relação à concorrência externa.

i) Extinção de vários institutos governamentais e anúncio de intenção do governo de demitir

cerca de 360 mil funcionários públicos, para redução de mais de 300 milhões em gasto

administrativos.

O segundo plano Collor iniciou-se em janeiro de 1991. Ele incluiu novos congelamentos de preços

e a substituição do taxas de overnight com novas ferramentas fiscais que incluíam no seu cálculo as taxas de

produção antecipada de papéis privados e federais.

O plano conseguiu produzir apenas um curto prazo de queda na inflação, que retornou a subir

novamente em maio de 1991.

Page 83: Apostila de Economia e Mercado

79

Em 10 de maio de 1991, Zélia foi substituída no Ministério da Fazenda por Marcílio Marques

Moreira, um economista formado pela Georgetown University que era embaixador do Brasil nos Estados

Unidos na época de sua nomeação.

Plano Marcílio foi considerado mais gradual do que seus antecessores, utilizando uma combinação

de altas taxas de juros e uma política fiscal restritiva. Ao mesmo tempo, os preços foras liberados e um

empréstimo de US$2 bilhões do Fundo Monetário Internacional garantiram as reservas internas.

As taxas de inflação durante o Plano Marcílio permaneceram nos níveis da hiperinflação. Marcílio

deixou o Ministério da Fazenda ao seu sucessor, Gustavo Krause, em 2 de outubro de 1992. O presidente

Fernando Collor de Mello já havia saído do governo devido ao impeachment pelo Congresso quatro dias

antes, em 28 de setembro de 1992, por acusações de corrupção em um esquema de tráfico de influência,

marcando o fim das tentativas de seu governo de acabar com a hiperinflação.

Entre o fim do Plano Marcílio e o começo do próximo plano, o Plano Real, a inflação continuou a

crescer, atingindo 48% em junho de 1994.

6.8.3 Plano real

Plano Real foi um programa brasileiro com o objetivo de estabilização econômica, iniciado

oficialmente em 27 de fevereiro de 1994 com a publicação da Medida Provisória nº 434 no Diário Oficial da

União. Tal Medida Provisória instituiu a Unidade Real de Valor (URV), estabeleceu regras de conversão e

uso de valores monetários, iniciou a desindexação da economia, e determinou o lançamento de uma nova

moeda, o Real.

O programa foi o mais amplo plano econômico já realizado no Brasil, e tinha como objetivo

principal o controle da hiperinflação que assolava o país. Utilizou-se de diversos instrumentos econômicos e

políticos para a redução da inflação que chegou a 46,58% ao mês em junho de 1994, época do lançamento

da nova moeda. A idealização do projeto, a elaboração das medidas do governo e a execução das reformas

econômica e monetária contaram com a contribuição de vários economistas, reunidos pelo então Ministro da

Fazenda Fernando Henrique Cardoso.

O presidente Itamar Franco, autorizou que os trabalhos se dessem de maneira irrestrita e na máxima

extensão necessária ao seu êxito, o que tornou o Ministro da Fazenda no homem mais forte e poderoso de

seu governo, e no seu candidato natural à sua sucessão. Assim, Fernando Henrique Cardoso elegeu-se

Presidente do Brasil em outubro do mesmo ano.

O Plano Real mostrou-se nos meses e anos seguintes o plano de estabilização econômica mais

eficaz da história, reduzindo a inflação (objetivo principal), ampliando o poder de compra da população, e

remodelando os setores econômicos nacionais.

Aqui jaz a moeda que acumulou, de julho de 1965 a junho de 1994, uma inflação de 1,1 quatrilhão

por cento. Sim, inflação de 16 dígitos, em três décadas. Ou precisamente, um IGP-DI de

1.142.332.741.811.850%. Dá para decorar? Perdemos a noção disso porque realizamos quatro

reformas monetárias no período e em cada uma delas deletamos três dígitos da moeda nacional. Um

descarte de 12 dígitos no período. Caso único no mundo, desde a hiperinflação alemã dos anos 1920.

Page 84: Apostila de Economia e Mercado

80

Em 19 de maio de 1993 Fernando Henrique Cardoso foi convidado ao cargo de Ministro da

Fazenda pelo Presidente Itamar Franco, assumindo perante o país o compromisso de acabar com a inflação,

ou pelo menos reduzi-la. Fernando Henrique era sociólogo de renome no Brasil e no exterior, e vinha

ocupando o cargo de Ministro das Relações Exteriores. O novo ministro foi então recebido com entusiasmo,

pois refletia uma possibilidade real de solução dos problemas, principalmente devido à sua capacidade

intelectual e conhecimento social em nível global. Liderou então um time de economistas de renome para

elaborar um plano de combate a inflação. Participaram da elaboração Persio Arida, André Lara Resende,

Gustavo Franco, Pedro Malan, Edmar Bacha, Clóvis Carvalho, Winston Fritsch, entre outros.

Em 1º de agosto de 1993, o ministro promoveu a sétima mudança de moeda do Brasil, de Cruzeiro

para Cruzeiro Real, para efeito de ajuste de valores. A intenção do governo era repetir mais uma vez a

prática de "cortar três zeros", porém, no mesmo mês de lançamento do Cruzeiro Real a inflação foi de

33,53%, e em janeiro de 1994, de 42,19%.

A partir de 28 de fevereiro de 1994, como efeito da Medida Provisória nº 434, iniciou-se a

publicação dos valores diários da Unidade Real de Valor (URV) pelo Banco Central. A URV serviria como

moeda escritural para todas as transações econômicas, com conversão obrigatória de valores, promovendo

uma desindexação geral da economia. A MP nº 343 foi reeditada pelas MPs nº 482 e nº 457, e transformada

posteriormente nas leis nº 8.880 e nº 9.069.

A partir de 1º de março de 1994, passou a vigorar a Emenda Constitucional nº 10, que criou o

Fundo Social de Emergência (FSE) considerado essencial para o êxito do plano. A emenda produziu a

desvinculação de verbas do orçamento da União, direcionando os recursos para o fundo, que daria ao

governo margem para remanejar e/ou cortar gastos supérfluos. Os gastos do governo contribuíam

grandemente para a hiperinflação, uma vez que a máquina do Estado brasileiro era grande, dispendiosa e

ávida por mais gastos. Poucas horas antes, o Ministro FHC foi à televisão e, em pronunciamento oficial em

rede nacional, deu um ultimato ao Congresso Nacional para que aprovasse a emenda à Constituição Federal.

Em 30 de março, Rubens Ricupero assumiu o Ministério da Fazenda para substituir Fernando

Henrique, que deixou o governo para se candidatar a presidência da República. Em 30 de junho de 1994,

encaminhou ao presidente Itamar Franco a exposição de motivos para a implantação do Plano Real.

Ricúpero caiu meses depois, em setembro, devido a repercursão na imprensa do que se chamou "Gafe da

Parabólica", assumindo em seu lugar Ciro Gomes, na época membro do PSDB.

Em 1º de julho de 1994 houve a culminância do programa de estabilização, com o lançamento da

nova moeda, o Real (R$). Toda a base monetária brasileira foi trocada de acordo com a paridade legalmente

estabelecida: CR$2.750,00 para cada R$1,00. A inflação acumulada até julho foi de 815,60%, e a primeira

inflação registrada sob efeito da nova moeda foi de 6,08%, mínima recorde em muitos anos.

Devido a corrida inflacionária, entre 1967 e 1993 o Brasil teve seis moedas diferentes, a saber:

Cruzeiro Novo (1967), Cruzeiro (1970), Cruzado (1986), Cruzado Novo (1989), Cruzeiro (1990) e Cruzeiro

Page 85: Apostila de Economia e Mercado

81

Real (1993). O total de inflação acumulado nesse período foi de aproximadamente 1.142.332.741.811.850%

(IGP-DI).

O resultado positivo do Plano Real tem influenciado a política econômica brasileira desde então.

Resumo do plano

O Plano Real foi um programa definitivo de combate a hiperinflação implantado em 3 etapas, a

saber:

a) Período de equilíbrio das contas públicas, com redução de despesas e aumento de receitas, e

isto teria ocorrido nos anos de 1993 e 1994;

b) Criação da URV para preservar o poder de compra da massa salarial, evitando medidas de

choque como confisco de poupança e quebra de contratos;

c) Lançamento do padrão monetário de nome Real, utilizado até os dias atuais.

Após a implantação do plano, durante mais de seis anos, uma grande sequência de reformas

estruturais e de gestão pública foram implantadas para dar sustentação a estabilidade econômica, entre elas

destacam-se: Privatização de vários setores estatais, o Proer, a criação de agências reguladoras, a Lei de

Responsabilidade Fiscal, a liquidação ou venda da maioria dos bancos pertencentes aos governos dos

estados, a total renegociação das dívidas de estados e municípios com critérios rigorosos (dívida pública),

maior abertura comercial com o exterior, entre outras.

Um funcionário da Casa da Moeda, responsável pelo projeto artístico da empresa, relatou a uma

revista que o primeiro comunicado sobre uma outra nova moeda foi feito em novembro de 1993, e a sua

produção se iniciou em janeiro de 1994, estabelecendo um recorde. O Plano Real teria sido idealizado entre

setembro de 1993 (época do lançamento do Cruzeiro Real) e julho de 1994 (lançamento do Real).

Principais medidas

O programa brasileiro de estabilização econômica seguiu as seguintes linhas mestras (com efeito

sinérgico):

Desindexação da economia

Medida Adotada: O ajuste e reajuste de preços e valores passaram a ser anualizados e obedeceriam

as planilhas de custo de produção.

Justificativa: Era necessário interromper o círculo vicioso de corrigir valores futuros pela inflação

passada, em curtos períodos de tempo. Essa atitude agravava a inflação, tornando-a cada vez maior. Era

comum acontecer remarcação de preços várias vezes num mesmo dia.

Privatizações

Medida Adotada: A troca na propriedade de grandes empresas brasileiras eliminou a obrigação

pública de financiar investimentos (que causam inflação se for feito pelo governo através da emissão de

moeda sem lastro) e possibilitou a modernização de tais empresas (sob controle estatal havia barreiras

impeditivas para tal progresso, como burocracia e falta de recursos).

Justificativa: A iniciativa privada tem meios próprios de financiar os investimentos das empresas, e

isto não produz inflação, e sim, desenvolvimento, porque não envolve o orçamento do governo. Este deve

Page 86: Apostila de Economia e Mercado

82

alocar recursos para outras áreas importantes. E ainda, na iniciativa privada não há as regras administrativas

orçamentárias e licitatórias, que prejudicam a produção das empresas e a concorrência perante o mercado.

Equilíbrio fiscal

Medida Adotada: Corte de despesas e aumento de cinco pontos percentuais em todos os impostos

federais.

Justificativa: A máquina administrativa brasileira era muito grande e consumia muito dinheiro para

funcionar. Havia somente no âmbito federal 100 autarquias, 40 fundações, 20 empresas públicas (sem contar

as empresas estatais), além de 2 mil cargos públicos com denominações imprecisas, atribuições mal

definidas e remunerações díspares. Como o país não produzia o suficiente, decidiu-se pelo ajuste fiscal, o

que incluiu cortes em investimentos, gastos públicos e demissões. Durante o governo FHC,

aproximadamente 20 mil funcionários foram demitidos do governo federal.

Abertura econômica

Medida Adotada: Redução gradual de tarifas de importação e facilitação da prestação de serviços

internacionais.

Justificativa: Havia temor de que o excesso de demanda por produtos e serviços causasse o

desabastecimento e a remarcação de preços, pressionando a inflação (fato ocorrido durante o Plano Cruzado

em 1986). Existia também a necessidade de forçar o aperfeiçoamento da indústria nacional, expondo-a a

concorrência, o que permitiria o aumento da produção no longo prazo, e essa oferta maior de produtos

tenderia a acarretar uma baixa nos preços.

Contingenciamento

Medida Adotada: Manutenção do câmbio artificialmente valorizado.

Justificativa: Com efeito da valorização do Real, esperava-se um aumento das importações, com

aumento da oferta de produtos e aperfeiçoamento da indústria nacional via concorrência com produtos

estrangeiros.

Políticas monetárias restritivas

Medida Adotada: Aumento da taxa básica de juros e da taxa de depósito compulsório dos bancos.

Justificativa: A taxa de juros teve inicialmente dois propósitos: financiar os gastos públicos

excedentes até que se atingisse o equilíbrio fiscal, e reduzir a pressão por financiamentos, considerados

agentes inflacionários (esfriamento da economia). Os financiamentos chegaram ter o prazo de quitação

regulado pelo governo.

O compulsório dos bancos teve o propósito de reduzir a quantidade de dinheiro disponível para

empréstimos e financiamentos dos bancos, uma vez que são obrigados a recolher compulsoriamente uma

parte dos valores ao Banco Central.

Não fazê-lo (o plano) ou é incapacidade ou, o que é pior, imoralidade pela conivência com a

exploração do povo e a injustiça social. — Fernando Henrique, em artigo publicado na Folha de

S.Paulo.

Page 87: Apostila de Economia e Mercado

83

Efeitos imediatos

O efeito regulador do Plano Real foi imediato e muito positivo em seu propósito. A inflação

calculada sobre a URV nos meses de sua vigência (abril a junho) ficou em torno de 3%, enquanto que a

inflação em Cruzeiros Reais (CR$) foi de cerca de 190%. Até o início da circulação do Real (R$), em 1º de

julho de 1994, a inflação acumulada foi de 763,12% (no ano) e 5.153,50% (nos últimos 12 meses).

A inflação que antes consumia o poder aquisitivo da população brasileira, impedindo que as

pessoas permanecessem com o dinheiro por muito tempo, principalmente entre o banco e o supermercado,

estava agora controlada. O efeito imediato, e mais notável do Plano Real, foi a aposentadoria da máquina-

símbolo da inflação, a "remarcadora de preços do supermercado" presente no comércio. O consumidor de

baixa renda foi o principal beneficiário.

Durante muitos anos a correção monetária foi uma salvaguarda que permitia aos brasileiros que

tinham maior poder aquisitivo defender-se parcialmente da corrosão do valor real da moeda, com aplicações

bancárias de rendimento diário como o "overnight". A grande maioria da população, entretanto, não tinha

acesso a esses mecanismos e sofria com a desvalorização diária dos recursos recebidos como salário,

aposentadoria ou pensão, sendo os maiores prejudicados com a alta inflação.

Não por acaso, após a implantação do Plano Real a taxa de consumo de itens antes "elitizados"

como o iogurte explodiu nas classes C e D da população.

Segundo estudos da Fundação Getúlio Vargas - (FGV), houve entre 1993 e 1995 uma redução de

18,47% da população miserável do país fruto do sucesso do plano. Um dos melhores índices da história.

Também se considera como efeito direto do plano a vitória do candidato do governo, Fernando

Henrique (PSDB-SP), nas eleições presidenciais de 1994.

O Plano Real enfrentou três grandes crises mundiais: a Crise do México (1995), a Crise Asiática

(1997-1998) e a Crise da Rússia (1998). Em todas essas ocasiões o Brasil foi afetado diretamente, pois

estava em reformas e necessitava de recursos, investimentos e financiamentos estrangeiros. Grandes somas

de dinheiro deixaram o Brasil em cada um desses momentos devido ao medo que os grandes investidores

tinham com os mercados emergentes. Ao menor indício de crise em qualquer um desses países, uma massa

de investidores corria para buscar refúgio em moedas fortes, como o Dólar americano, a Libra esterlina ou

ainda o Euro. Outros aproveitavam esses movimentos para especular fortemente contra as moedas dos

emergentes, na intenção de obter grandes lucros em curto espaço de tempo, esvaziando as reservas em

moeda estrangeira dessas nações. Isso contaminava negativamente as contas de diversos países, causando

um efeito cascata globalizado.

Como essas crises deixavam o Brasil sem meios de financiar seu plano de estabilização, o governo,

fragilizado, via-se obrigado a aumentar a taxa básica de juros para remunerar melhor esses capitais, numa

tentativa de impedí-los de abandonar o país. O objetivo era evitar um "defaut", ou seja, uma quebra

generalizada que empurrasse o país a uma moratória externa. A taxa de juros do Brasil chegou a 45% ao ano

Page 88: Apostila de Economia e Mercado

84

em março de 1999. Como conseqüência, houve maior endividamento público, mais cortes de gastos

públicos, retração de alguns setores da economia e desemprego.

Outras crises menores, apesar de não prejudicarem tanto o processo de controle da inflação do

Brasil, que já estava consolidado, trouxeram efeitos negativos na taxa de crescimento econômico. A Crise da

Argentina (2001), a Crise de 11 de setembro (2001), a Crise Eleitoral (2002) e a Crise do Apagão (2001)

ajudaram a derrubar a taxa anualizada de crescimento do PIB pois também forçaram o aumento da taxa de

juros interna. A crise do Apagão teve a causa ligada diretamente ao Plano Real, uma vez que o plano trouxe

a ampliação do poder de compra da população, aumento do consumo, aumento da produção (que geram

maior consumo de energia elétrica), somados ao recuo dos investimentos públicos nos setores estatais de

energia (como parte do programa de estabilização econômica).

Efeitos em longo prazo

Os efeitos em longo prazo esperado à época do lançamento do Plano Real foram:

a) Manutenção de baixas taxas inflacionárias e referências reais de valores;

b) Aumento do poder aquisitivo das famílias brasileiras;

c) Modernização do parque industrial brasileiro;

d) Crescimento econômico com geração de empregos.

6.9 FORMAS DE FINANCIAMENTO IMOBILIÁRIO

6.9.1 Financiamento Bancário

O financiamento imobiliário é a forma mais comum de comprar casa própria no Brasil e em

Portugal. Antes de você escolher um financiamento imobiliário você deve ler sobre o assunto para perceber

como fazer a melhor escolha do banco e deve entender as diferentes formas de amortização do

financiamento.

Existem vários bancos e várias modalidades de financiamento de imóveis por onde você pode

escolher. O truque está em encontrar o melhor financiamento para o seu caso. As taxas de juro, valores do

financiamento, prazos de pagamento e tipos de amortização são só alguns fatores que influenciam a escolha

do financiamento imobiliário.

Para a maioria das pessoas o financiamento imobiliário é a decisão económica mais importante das

suas vidas. Por isso vale a pena você gastar algumas horas ou dias a ver todas as opções que estão

disponíveis pois você vai pagar essas prestações durante os próximos 15 a 30 anos da sua vida.

O financiamento de imóveis serve para as pessoas que querem comprar uma casa, apartamento ou

imóvel comercial e não tem dinheiro para pagar à vista. Ao escolher um financiamento imobiliário é

importante escolher o tipo de financiamento adequado à sua compra. Os financiamentos tem diferenças

consoante o valor do imóvel e o tempo e a prestação que você está disposto a pagar.

Ao fazer um financiamento imobiliário você deve procurar informações em vários bancos para

poder encontrar o melhor empréstimo imobiliário para você. Como é lógico não deve ir somente a um banco

e ficar logo com a primeira opção que lhe aparece à frente. Você vai ver todas as opções que encontrar e ver

Page 89: Apostila de Economia e Mercado

85

quais são as ofertas mais vantajosas para escolher o financiamento imobiliário com a melhor taxa de juro,

melhor sistema de amortização e reajuste.

Recomendações para fazer um crédito imobiliário da melhor forma:

a) Comece a tratar do financiamento imobiliário com bastante antecedencia. A pressa é a

inimiga da perfeição e neste caso você deve procurar pelo melhor financiamento, comparar

os diferentes bancos e ter o crédito aprovado

b) Existem limites nos valores das prestações que podem ir até 35% dos seus ganhos líquidos

ou 30% dos ganhos brutos. Na minha opinião você não deve ultrapassar os 25% da sua

renda líquida.

c) Deve sempre escolher o prazo mais curto para pagar o empréstimo imobiliário

d) Deve dar a maior entrada possível para diminuir o valor do financiamento

e) Faça a escolha acertada do sistema de amortização da dívida

f) Se ao longo da vida ganhar dinheiro extra deve fazer a liquidação antecipada do

empréstimo. Assim vai pagar uma pequena taxa de pagamento antecipado mas acaba por

poupar muito nos juros.

Se você tem uma renda baixa não se preocupe, normalmente existem financiamentos imobiliários

para rendas altas e baixas. Desde que você tenha renda comprovada não há impedimento nenhum de

encontrar um financiamento imobiliário.

Existem algumas regras e restrições dos financiamentos imobiliários que são impostas pelo Banco

Central do Brasil. A análise do seu pedido de financiamento imobiliário dura entre 20 e 40 dias a ser

processada pelo banco. Desta forma os créditos imobiliários não são coisa rápida de fazer pois vão surgir

atrasos e você vai ter que fazer simulações para diferentes financiamentos em bancos diferentes.

A idade mínima para quem quer fazer um financiamento imobiliário é de 21 anos e a idade máxima

é de acabar o financiamento com 75 anos de idade.

Mesmo que você tenha uma conta num banco eles vão pedir todos os seus documentos e alguns

bancos querem que você tenha uma conta corrente para fazer a candidatura ao financiamento imobiliário e

em todos os bancos deve abrir uma conta correntista se o crédito for aprovado nessa instituição bancária.

Os documentos que você precisa para fazer o financiamento imobiliário são os seguintes:

a) Carteira de identidade

b) Certidão de nascimento ou de casamento

c) Fotocopia da Carteira de trabalho

d) Comprovativo de renda dos últimos 3 meses se você for assalariado

e) Declaração do Imposto de Renda e/ou declaração do contador

f) Certidão forense e federal para comprovar se existem processos criminais ou judiciais

contra que requer o financiamento

g) Cadastro de Pessoa Física – CPF

Se o seu crédito for aprovado você vai receber uma carta de crédito que é válida durante 30 dias e

pode ser prorrogada por mais 30 dias se a instituição aceitar. De seguida você deve assinar um compromisso

ou contrato de promessa de compra e venda com o agente imobiliário ou vendedor do imóvel e deve levar

esse contrato e a documentação do imóvel ao seu banco para finalizar o financiamento. Nesta altura você

deve ter atenção aos prazos para fazer tudo em seu tempo.

Page 90: Apostila de Economia e Mercado

86

6.9.2 Consórcio imobiliário

Consórcio é uma forma associativa de pessoas físicas ou jurídicas, que se reúnem em grupo

fechado, para obter um capital ou coleta de poupança para adquirir, mediante pagamento de contribuições

mensais, não só idêntica espécie de bens imóveis ou móveis duráveis em quantidade equivalente ao número

de integrantes do grupo, mas também serviço turístico.

Por meio de autofinanciamento, utilizando sistema combinado de sorteios e lances, ficando o

montante sob Fiscalização bancária. (Maria Helena Diniz).

-Ex: Ricardo Gérson, Andréa, Gustavo e Maria eram vizinhos e queriam comprar uma TV para

cada um. O preço da TV era R$ 1000.00. Nenhum deles dispunha desta quantia.

Gustavo sugeriu então que cada um deles contribuísse com R$ 200.00 todo mês para comprar a TV.

Mas quem iria receber a TV primeiro? A solução foi fazer um sorteio entre os cinco a cada mês.

1º mês 2º mês 3º mês 4º mês 5º mês TOTAL

RICARDO 200* 200 200 200 200 1000

GERSON 200 200 200* 200 200 1000

GUSTAVO 200 200* 200 200 200 1000

MARIA 200 200 200 200* 200 1000

ANDRÉA 200 200 200 200 200* 1000

TOTAL 1000 1000 1000 1000 1000 5000

*sorteado no mês.

Como podemos observar pelo quadro acima, ao final dos cinco meses, todos os vizinhos pagaram

R$ 1000.00 e compraram sua TV. Foi desta forma que começaram a surgir. Na década de 1960, os primeiros

grupos de consórcio no Brasil. Eram pessoas que se reuniam para formar poupança e adquirir um bem.

Gera-se uma poupança destinada à compra de bens móveis duráveis, imóveis e serviços turísticos.

As contribuições pagas ao grupo devem ser iguais para todos e destinam-se periodicamente, a

contemplar seus integrantes com crédito, que será utilizado na compra do bem ou serviço turístico, indicado

em contrato, até que todos sejam satisfeitos.

a) Contribuição (feita por todos) - Crédito

b) Assegura igualdade de condição para a compra do bem ou serviço turístico.

c) É um sistema cooperativo.

d) Consórcio como aliado da economia no combate à inflação brasileira – Equilíbrio entre

oferta e procura.

e) Poupa-se primeiro, para depois comprar, não comprometendo a renda futura do consumidor.

f) Proporciona oportunidade de compra de bens e serviços a grupos de pessoas de menor

renda, sem o desembolso de uma entrada ou até mesmo percentual sobre o valor do bem.

Page 91: Apostila de Economia e Mercado

87

As operações de consórcio tiveram origem no Brasil no início dos anos sessenta, em razão da

carência de instituições financeiras empenhadas na concessão de financiamentos à aquisição de bens, aliada

à necessidade das indústrias recentemente instaladas escoarem sua produção.

Resolução do Conselho Monetário Nacional n° 67, de 21 de setembro de 1967: a primeira norma

específica para as operações de Consórcio.

Lei n° 5.768, de 20 de dezembro de 1971: determinou que essas atividades dependeriam de prévia

autorização do Ministério da Fazenda

1981: Foi criado o serviço de atendimento ao consorciado, destinado a prestar informações sobre a

sistemática do Consórcio, a idoneidade de empresas, além de buscar soluções para casos concretos.

Circular n° 2.071, de 31 de outubro de 1.991: estabeleceu a obrigatoriedade da remessa ao Banco

Central de dados sobre as operações de consórcio por parte das Administradoras.

O grupo de consórcio é uma sociedade de fato, autônoma, com patrimônio próprio. constituído na

data da realização da primeira assembléia geral ordinária.

Vale ressaltar que não é permitido a formação nem o funcionamento de grupo para aquisição de

bens por meio de sociedade em conta de pat1icipação, por falta de respaldo legal.

O contrato é de adesão

E possível comprar com o crédito quando a pessoa for contemplada, qualquer bem que esteja no

mesmo segmento do que estiver definido no contrato.

Para proteger os interesses dos consumidores, o Banco Central determinou os itens que um termo

de adesão ou contrato de consórcio deve ter. Eles são as principais informações que você precisa saber para

escolher bem a administradora.

A administradora de consórcio é a prestadora de serviços com a função de gestora dos negócios do

grupo, nos termos do contrato.

É a empresa especializada na organização e administração dos grupos de consórcios para aquisição

de bens e serviços turísticos.

Para atuar no Sistema de Consórcios a Administradora deverá ter. obrigatoriamente. autorização do

Banco Central do Brasil.

BCB é a autoridade competente para os assuntos relativos ao Sistema de Consórcios. atuando como

órgão normatizador e fiscalizador do exercício da atividade de Administração de Grupos de Consórcios.

As administradoras de Consórcios que atuam no Brasil estão representadas por 2 entidades de

classe:

ABAC (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcio)

SINAC (Sindicato Nacional das Administradoras de Consórcio)

Desempenham papel essencial no aperfeiçoamento das normas e dos mecanismos do Sistema.

atuando como interlocutórias da classe perante autoridades competentes e consorciados.

Page 92: Apostila de Economia e Mercado

88

Uma administradora de grupos de consórcios baseia-se na legislação em vigor para gerir e

administrá-las, e não em Súmulas. visto que as mesmas não têm força de lei e nem capacidade para

regulamentar o funcionamento de pessoas jurídicas, no caso, as administradoras de consórcios.

Vale ressaltar que não é permitido a formação nem o funcionamento de grupo para aquisição de

bens por meio de sociedade em conta de participação, por falta de respaldo legal.

As administradoras de consórcio (exceto as associações ou entidades civis sem fins lucrativos)

devem ter como objeto EXCLUSIVO de sua atividade a administração de grupos de consócio.

A administradora de Consórcio deve elaborar, remeter ao Banco Central do Brasil e publicar suas

demonstrações financeiras, bem como as dos grupos de consórcio, a partir da data de publicação da

autorização para administrar grupo de consórcio no Diário Oficial da União.

O controle societário de administradoras de consórcio não pode ser exercido por fundações.

entidades fechadas de previdência complementar. entidades abertas de previdência privada ou empresas sob

seu controle societário.

O consorciado deve ser pessoa física ou jurídica que integra o grupo como titular de cota

numericamente identificada e assume a obrigação de contribuir para o atingimento integral de seus

objetivos. A administradora de consórcios é a prestadora de serviços com a função de gestora dos negócios

do grupo, nos termos do contrato.

O grupo que é uma sociedade de fato é representado pela administradora, ativa ou passivamente,

para defesa dos direitos e interesses coletivamente considerados, e para a execução do contrato de consórcio.

Um grupo é autônomo em relação aos demais, possuindo patrimônio próprio, que não se confunde com o da

administradora. O interesse do grupo prevalece sobre os interesses individuais dos consorciados (art. 1º e

parágrafos 1º a 6º do Regulamento).

A administradora deverá exigir do consorciado, por ocasião da adesão ao grupo, declaração de

situação econômico-financeiro compatível com a participação no grupo, sem prejuízo da apresentação de

documento previstos no contrato de adesão relativos às garantias, quando da contemplação (art. 5°,

parágrafo Único, do Regulamento).

Os créditos correspondentes á participação da administradora, seus Sócios, gerentes. Diretores e

prepostos com função de gestão nos grupos de consorcio administrados devem ser atribuídos Após a

contemplação de todos os demais consorciados do grupo, salvo se todos os participantes do grupo

declinarem formalmente dessa prerrogativa, não admitida a ressalva se o beneficiário for a administradora.

As operações do sistema de Consórcio apenas poderão ser realizadas mediante prévia anuência da

Secretaria da Receita Federal. e a sociedade, para funcionamento de Consórcio, dependerá de autorização do

Ministério da Fazenda. que exigiu prova da idoneidade financeira. econômica e gerencial da empresas.

apresentação de estudos da viabilidade do plano e das formas e condições de emprego das importâncias a

receber.

Page 93: Apostila de Economia e Mercado

89

Os interessados, para participarem do plano, deverão inscrever-se, assinando termos de registro e de

responsabilidade, devendo ter, portanto, capacidade jurídica.

A autorização para operações do sistema de Consórcio, concedida em caráter pessoal e

Intransferível salvo prévia ratificação da Secretaria da Receita Federal, considerar-se-á cancelada nos casos

de alteração do contrato social de que resulte mudança ou substituições de Sócios.

A capacidade financeira das pessoas jurídicas que requererem autorização pela primeira vez será

comprovada mediante integralização de, no mínimo, Cinqüenta por cento do capital social, com recursos

Próprios, em moeda corrente ou aplicações em títulos Públicos, comprovados pela Última declaração de

bens apresentada ou por meio de documentas hábeis.

A capacidade gerencial será aferida pelo exame de reclamações procedentes contra a requerente e

pelo cumprimento de normas da legislação de Consórcio.

Para obter tal autorização a requerente deverá especificar a quantidade de cotas a serem utilizadas,

por espécie de bens objeto de cada grupo a ser organizado, dando informações sobre os respectivos preços,

anexando, se associação ou sociedade Anônima, não só os documentos comprobatórios da existência legal

da pessoa jurídica. da capacidade financeira, econômica e da idoneidade, do atendimento do limite mínimo

do capital integralizado, patrimônio líquido ou social, da não ocorrência de títulos protestados, da

inexistência de débito tributário federal, mas também documento demonstrativo da situação dos grupos já

autorizados e a minuta do regulamento do plano, da proposta de adesão e dos contratos de garantia.

O certificado de autorização, emitido pela Secretaria da Receita Federal, habilitará a administradora

a operar no mercado de consórcios, terá validade pelo prazo de doze a vinte e quatro meses.

O Consórcio visa à obtenção de recursos para a aquisição de bens móveis duráveis, novos, de

fabricação nacional ou estrangeira: bens imóveis e serviços turísticos, envolvendo bilhetes de passagem

aérea e/ou pacotes turísticos.

O contrato deverá ser feito por escrito e devidamente registrado (Regulamento aprovado pela

circular n. 2.766/97: Lei n. 8.934/94. art. 32. II. b)

O contrato de adesão é o instrumento que, afirmado pelo consorciado e pela administradora, cria

vínculo jurídico e obrigacional entre as partes e pelo qual o consorciado formaliza seu ingresso em grupo de

consórcio, estando nele expressas as condições da operação de consórcio bem como os direitos e deveres

dos contratantes.

Do contrato de adesão a grupo de consórcio, observando-se o art. 54 da Lei n.º 8.078/90 e o art. 3º

do Regulamento aprovado pela Circular n. 2.766/97, deverão constar:

a) a identificação completa das pm1es contratantes:

b) a descrição do bem, conjunto de bens ou serviços turístico, bem como o critério para

definição de seu preço:

c) a fixação da taxa de administração

d) o prazo de duração do contrato

e) as obrigações financeiras do consorciado:

Page 94: Apostila de Economia e Mercado

90

f) contratação de seguro

g) inadimplemento contratual

h) despesas realizada com escritura, taxas, emolumentos e registro das garantias prestadas, pois

a administradora definirá o tipo de garantia conforme a natureza do bem

i) antecipação da taxa de administração:

j) compra e entrega do bem, por solicitação do consorciado, em praça diversa daquela

constante do contrato de adesão:

k) entrega a pedido do consorciado, de segundas vias de documentos:

l) cobrança de taxa bancária, quando o pagamento for efetuado por meio de instituição

financeira:

m) cobrança de taxa, sobre os montantes não procurados pelos consorciados ou excluídos

n) as condições para concorrer á contemplação por sorteio e sua forma, bem como as regras da

contemplação por lance:

o) a possibilidade ou não de antecipação de pagamento por consorciado não contemplado, se

for o caso, e da antecipação de pagamento por consorciado contemplado, bem como as

condições dessas antecipações:

O grupo será formado a partir da realização da primeira assembléia geral ordinária. convocada pela

administradora, observando a adesão de 70% dos participantes previstos para o grupo.

Nesta primeira assembléia, serão determinados os representantes do grupo, que deverá ser, no

mínimo três, os quais terão acesso a todos os demonstrativos e documentos relacionados às operações

efetuadas pelo grupo, assim como auxiliaram na fiscalização dos atos da administradora.

Ainda neste primeiro momento, a administradora deverá fornecer, obrigatoriamente, uma relação

com nome, endereço e telefone de todos integrantes do grupo, podendo, contudo, o consorciado manter-se

em anonimato desde que comunique previamente, por escrito, à administradora.

Caso a administradora não aprove a constituição do grupo até 90 dias após a sua formação, deverá

devolver ao grupo integralmente todos os valores pagos, acrescidos dos rendimentos líquidos provenientes

de sua aplicação financeira.

O prazo de duração do grupo é o lapso de tempo que o consorciado dispõe para p pagamento do

preço do bem ou serviço contratado. Esse prazo será prefixado pela administradora e constará

obrigatoriamente de contrato. Apesar de não existir mais uma determinação do prazo mínimo ou máximo

para a sua existência, costuma-se obedecer aos seguintes prazos:

O número de participantes do grupo será sempre o dobro do número de meses estipulado para a

duração do grupo.

"Art. 5. O Número máximo de participantes de cada grupo, na data de sua constituição, será o

resultado da multiplicação do número de meses fixado para sua duração pela quantidade de créditos prevista

para contemplação mensal, só podendo ser o grupo convocado para constituição após a adesão de, no

mínimo, 70% (setenta por cento) da quantidade máxima de participantes prevista para o grupo."

(Regulamento anexo à Circular 2.766/97 do BACEN)

O grupo de Consórcio poderá ser constituído por bens ou serviços de preços diferenciados

pertencentes a uma das seguintes classes.

Page 95: Apostila de Economia e Mercado

91

Classe I: veículo automotor (automóveis, camionetas, utilitários, buguies, motocicletas, motonetas,

ciclomotores, triciclos, ônibus, microônibus, caminhões, tratores, etc.) aeronave, embarcações, máquinas e

equipamentos agrícolas e equipamentos rodoviários, nacionais ou importados.

Classe II: produtos eletroeletrônicos e demais bens móveis duráveis ou conjunto de bens móveis,

nacionais ou importados, excetuados os referidos na Classe I.

Classe III: bens imóveis que poderão ser residenciais, comerciais, rurais, construídos ou na planta e

terrenos.

Classe IV: serviços turísticos que poderão ser bilhetes de passagem aérea, pacotes turísticos

incluindo-se transporte aéreo, terrestre, marítimo, hospedagem, regime de pensão etc.

A regulamentação atual admite a constituição de grupos de bens e veículos usados. Todavia a

formalização dos grupos deve ser efetuada tendo como referência um percentual do bem ou do veículo novo.

O interessado poderá aderir ao grupo de consórcio em duas hipóteses específicas:

a) Grupo em formação: a administradora ainda está reunindo as pessoas em número

suficiente que permita atingir o objetivo do Consórcio, ou seja, contemplação de todos os

seus integrantes em prazo predeterminado.

b) Grupo já formado (que já está operando): se dá através de três maneiras:

c) (cota vaga: essa cota de participação não tem titular e está disponível à comercialização. A

aquisição da cota é feita diretamente com a administradora.

d) (cota de reposição: é a cota adquirida de consorciado que foi excluído do grupo. A aquisição

também é feita diretamente com a administradora.

e) (Cota de transferência (cessão de contrato de participação com a anuência da

administradora): você compra a cota diretamente do consorciado. Você estará assumindo,

portanto, integralmente os direitos e as obrigações do consorciado que está sendo

substituído.

O consorciado que estiver em dia com o pagamento das prestações mensais, residuais, multas e

juros poderá transferir a terceiro o contrato, mediante trespasse ou endosso no verso do título desde que haja

anuência da entidade de Consórcio.

E o valor resultante da aplicação do percentual ideal mensal sobre o valor da categoria, acrescido

do valor do prêmio do seguro prestamista, se houver.

O valor da prestação será a soma das importâncias referentes ao fundo comum, ao fundo de reserva

(se existente), seguro, (se contratado) e a taxa de administração.

Valor da parcela = FC + FR + S + TA

É permitida a cobrança, no ato da venda, do percentual de antecipação da taxa de administração

sobre o valor do crédito. Quando cobrado, o referido percentual deverá ser deduzido mensalmente da taxa de

administração.

A administradora pode ou não cobrar. No caso de bens imóveis ela gira em torno de 2%. Para os

eletrodomésticos e automóveis, varia entre 1% e 2%. Esta taxa precisa estar especificada no contrato e é

cobrada apenas uma vez. Pode também ser incluída na primeira mensalidade ou cobrada no momento da

contratação do consórcio. No segmento de imóveis, ela pode ser dividida nas 3 primeiras mensalidades.

Page 96: Apostila de Economia e Mercado

92

E o valor que todo consorciado paga para tornar um fundo destinado a atribuir crédito para

aquisição do bem. Como a referência do consórcio é o valor do bem indicado no contato, a contribuição ao

fundo comum é calculada tomando-se por base o respectivo preço urgente no dia da assembléia mensal.

A taxa de administração não se confunde com os juros cobrados nas modalidades de financiamento.

A taxa de administração, indicada no contrato, é a remuneração da administradora pelos serviços prestados

na formação, organização e administração do grupo até o seu encerramento. Cobre os custos com

funcionários, encargos, impostos. etc.

Esta taxa tica entre 10% e 20% ao ano, Na pesquisa por administradora é possível comparar qual a

taxa média de administração por segmento, bem como a taxa média de mercado naquele segmento.

O fundo de reserva consiste em um percentual de até 5% sobre o valor do bem, com a finalidade

principal suprir eventual insuficiência de receita do grupo, enfim, é um fundo de proteção destinado a

garantir funcionamento do grupo em determinadas situações.

O consorciado estará sujeito ao pagamento deste fundo desde que sua cobrança esteja prevista em

contrato. O raciocínio é o mesmo adotado para a taxa de administração.

A arrecadação para o fundo de reserva será suspensa se o saldo atingir o preço de uma unidade de

maior valor do bem objeto de consorcio, devendo a cobrança ser retomada quando o montante disponível for

inferior àquele limite.

Os recursos do Fundo de Reserva são utilizados para:

a) Cobertura de eventual insuficiência de receita nas assembléias ordinárias mensais, de torna

a permitir a distribuição de, no mínimo, um crédito para a compra do bem:

b) Cobertura de despesas com devolução ao participante desistente ou excluído;

c) Pagamento de débitos de consorciados inadimplentes, após esgotados todos os meios de

cobrança admitidos em direito:

d) Devolução aos consorciados que não tenham sido excluídos ou desistentes, do saldo

existente ao término das operações do grupo, proporcional às suas prestações mensais

pagas.

Os critérios mencionados estão de acordo com as normas estabelecidas pelo Banco Central

(Circular N° 2.766, de 1/9/97).

O seguro é sempre pago sobre o saldo devedor e quita o consorcio em caso de morte do titular.

O consorciado estará sujeito, ainda ao pagamento de prêmios de seguro nos termos do contrato.

Ex. Seguro de quebra de garantia Seguro de vida

O seguro da quebra de garantia destina-se a cobrar o inadimplente no pagamento

das prestações vincendas dos consorciados contemplados.

Ex. no caso de consórcio de automóvel.

Se o bem for roubado e o consorciado não tiver contratado um seguro, o seguro por quebra de

garantia cobre o prejuízo, já que o bem é a própria garantia do consorciado, e as mensalidades continuam a

ser cobradas. As taxas deste seguro são, em média, 0.084% do valor da prestação.

Page 97: Apostila de Economia e Mercado

93

O seguro de vida, também chamado de seguro PRESTAMISTA, tem como finalidade, no eventual

falecimento do consorciado, quitar o saldo devedor de quota e restituir aos herdeiros valores relativos às

mensalidades pagas por aquele até a ocorrência do Óbito. Caso não tenha havido contemplação, a quota,

devidamente quitada, aguardará contemplação por sorteio.

As parcelas somente sofrem reajuste se houver aumento/redução no preço do bem. O crédito

sempre acompanhará p preço de tabela.

Ocorre quando o valor vigente pago pelo consorciado inferior ou superior ao valor da parcela

devido ao grupo, vigente na data da assembléia.

A diferença de parcela, transformada em percentual sobre o preço do bem, é acrescida ou deduzida

na próxima mensalidade devida pelo consorciado.

Ocorre quando existir aumento do bem entre a data da remessa do extrato de pagamento e a data da

assembléia de contemplação, quando o consorciado efetuar o pagamento e houver aumento do bem entre a

data do pagamento e a assembléia seguinte, ou no caso de a condição do saldo do seguro passar de uma

assembléia para outra e ocorre nesse meio tempo um aumento no preço do bem.

E o percentual mensal devido pelo consorciado, obtido através da divisão de 100% pelo número de

meses de duração do grupo ou da quota, quando a adesão do consorciado ocorrer após a realização da

primeira assembléia.

Pagamento antecipado de prestações: Verificar no contrato as condições para o pagamento

antecipado de prestações. Ver se a ordem de quitação é direta ou inversa. Se a ordem é inversa, a

antecipação de pagamento quitará as prestações vincendas a contar da Última. Se a ordem é direta, o valor

antecipado indicará o número de parcelas consecutivas pagas, retomando-se a seguir os pagamentos a serem

efetuados nas datas do respectivo vencimento.

O saldo devedor compreende o valor não pago das prestações e das diferenças de prestações, bem

como qualquer outros responsabilidades financeiras não pagas, prevista no contrato.

A aquisição total do saldo devedor somente pode ser obtida pelo consorciado contemplado cujo

crédito tenha sido utilizado, observadas as disposições contratuais, encerrando sua participação no grupo,

com a conseqüente liberação das garantias o oferecidas, se for o caso.

O reajuste deve acompanhar o valor do bem no mercado.

Os juros moratórios estão limitados a 1 % ao mês.

As multas, limitadas a 2010 do valor da prestação em atraso.

As datas de vencimentos das prestações mensais são fixados pela administradora e será sempre

anterior à data da realização de assembléia de contemplação.

O consorciado devedor:

a) não poderá votar nas Assembléias Gerais Extraordinárias:

b) não poderá participar do sorteio e/ou do lance, dependendo do que dispuser o contrato:

Page 98: Apostila de Economia e Mercado

94

c) arcará com juros de 1 % ao mês e multa de 2%, sobre as parcelas não pagas, cujo valor será

calculado sobre o preço atualizado do bem ou serviço:

d) caso já esteja com a posse do bem e o atraso for superior a 30 dias, a administradora poderá

executar as garantias fornecidas pelo consorciado, além de cobrar a multa e os juros:

e) se o não contemplado atrasar mais de uma prestação, poderá ser excluído do grupo

conforme estiver estabelecido no contrato.

Do valor a ser restituído ao excluído poderá ser aplicada cláusula penal em virtude da quebra de

contrato. A quebra do contrato pelo excluído afeta tanto o grupo como a administradora. por isso, a cláusula

penal poderá ser instituída em favor do grupo e da administradora.

É a forma legal do consorciado ser o escolhido para receber o bem (crédito) a que tem direito. A

contemplação é a própria essência do contrato, já que a finalidade do consórcio é contemplar os integrantes

do grupo com crédito, para ser utilizado na compra do bem ou serviço turístico especificado no contrato.

A contemplação do consorciado, a quem é atribuído crédito para aquisição do bem ou serviço

turístico, ocorre mensalmente nas Assembléias Gerais Ordinárias.

As contemplações dependem da existência de recursos no grupo. Serão liberados tantos créditos

quantos forem compatíveis com o saldo financeiro do grupo. Podendo, desta forma, ocorrer um número

maior de contemplações a cada mês, como também é possível que não os haja, em alguns meses, caso o

número de inadimplentes do grupo esteja muito alto.

Sendo assim, a administradora é responsabilizada pelos prejuízos que causar ao consorciado

contemplado, caso dê procedência à contemplação sem a existência de recursos suficientes.

A contemplação é feita exclusivamente por duas modalidades:

Sorteio.

É feita através do sistema de globo: geralmente, nos grupos locais ou de menor porte, as

assembléias são realizadas através de um bingo, já nos grupos regionais e/ou nacional (grande porte) são

realizadas através da extração de Loterias Federais.

É utilizada uma urna onde são colocadas bolas numeradas que identifica cada cliente. Retira-se uma

das esferas, e o consorciado que tiver o número compatível com a esfera receberá uma ordem de

faturamento (antiga ordem de crédito) para a aquisição do bem.

É importante ressaltar que todos os participantes do grupo concorrem em absoluta igualdade de

condições, mas para que se assegure o direito de participar do sorteio, o consorciado deve estar em dia com

o pagamento de suas contribuições mensais.

Caso o consorciado deixe de pagar parcela mensal até a data estabelecida (data do vencimento)

perderá o direito de concorrer ao sorteio, podendo, ainda, ser excluído do grupo se as parcelas vencidas

forem superiores a duas.

A administradora deverá comunicar ao consorciado contemplado ausente à assembléia geral

ordinária sua contemplação, por meio de carta ou telegrama notificatório, cuja expedição deverá ser feita até

Page 99: Apostila de Economia e Mercado

95

o 3º dia útil após a sua realização. O consorciado tem 15 dias úteis para manifestar-se, por escrito, sobre seu

interesse em adquirir o bem ou determinar outro momento para a sua aquisição.

O consorciado, em determinados casos, por falta de comunicação do resultado do sorteio, por

mudança de endereço, por doença ou até mesmo por desinteresse, poderá ultrapassar o prazo (15 dias), e

receber a carta de crédito da administradora sem que tenha ido a sua sede. Mas, para tanto é cobrado uma

multa administrativa.

b.Lance.

Ocorre o lance quando o consorciado oferece um valor para levar o bem numa espécie de leilão.

Fica com o bem quem fizer a maior oferta, dependendo, previamente, das regras estabelecidas no contrato.

Deve ocorrer, somente, após a contemplação por sorteio ou se esta não for realizada por

insuficiência de recursos.

Os critérios para desempate deverão ser definidos no contrato por adesão, geralmente é feito por

sorteio entre os empatados ou por apresentação de lances adicionais.

É subdividido em:

b.1 Lance Fixo:

a administradora delimita um percentual pré-estabelecido do valor do bem ou uma quantidade exata

de prestação vincendas a serem ofertadas.

b.2 Lance Livre:

é todo lance livre ofertado distinto do lance fixo.

A oferta por lance poderá ser feita pelo próprio consorciado da seguinte forma:

I. Apresentado oralmente no ato da Assembléia Geral Ordinária de Contemplação.

II. Através de impressos próprios: Fax, correio ou correio eletrônico (e-mail)

Os lances via e-mail deverão ser enviados com no mínimo 24hs de antecedência. Os demais

poderão sê-los em qualquer dia durante o horário comercial na sede da administradora ou em filiais ou em

estabelecimentos de revendas conveniados. São colocados numa espécie de urna própria lacrados pela

matriz da administradora. Na data estipulada a administradora romperá o lacre e em ata própria é lavrado o

registro de todos os lances na presença de dois consorciados convidados.

O vencedor será aquele cujo lance representar o maior percentual do preço do bem ou do maior

número de prestações. Logo o consorciado que oferecer o maior valor terá a oportunidade de obter o seu

bem antes dos outros concorrentes.

O lance perdedor poderá ser utilizado (opcional) pelo consorciado para quitar as parcelas a serem

vencidas, a partir da ultima desde que tenha feito o depósito de 03 dias contratados da cobrança.

A administradora tem 03 dias para indicar o lance vencedor. Será desclassificado caso não cumpra

o recolhimento da importância dada. O prazo para integralização do lance vencedor, em espécie ou cheque,

é de 24 hs após a sua confirmação e dentro do expediente bancário.

O lances deverão ser oferecidos em:

Page 100: Apostila de Economia e Mercado

96

Percentuais do preço:

a) Nos grupos de consorcio vinculados ao preço do bem.

b) Em múltiplos do valor da prestação mensal:

c) Nos grupos de consórcio vinculados a índice de preços.

d) O valor do lance mínimo deverá ser de 10% (dez por cento), e o lance máximo é o saldo

devedor, ou seja, não pode ser superior ao número de prestações vincendas.

10.3. Utilização do crédito contemplado.

O consorciado contemplado terá direito ao credito correspondente ao valor do bem objeto de seu

grupo até o 3º dia Útil a realização da assembléia.

Aadministradora entrega o bem ou uma ordem de faturamento que será usada na compra do bem.

Aordem é o procedimento mais comum, porque dar maior liberdade ao consumidor na escolha do produto,

mas com uma ressalva: Só poderá optar por bem ou serviço diverso do indicado cm contrato se a escolha

recair em bens ou serviços pertencentes à mesma classe.

Os recursos referidos permaneceram depositados cm conta vinculada, até o último dia anterior ao

da utilização na torna contratual revertendo os rendimentos líquidos provenientes de sua aplicação financeira

cm favor do consorciado contemplado.

Se o grupo de consorcio estiver vinculado ao preço do bem. o credito será correspondente ao valor

deste no mercado, pois o crédito acompanha a evolução do preço.

Se o grupo de consorcio estiver vinculado a índice de preço, o crédito será o correspondente ao

valor atingido pela evolução do índice até o momento da contemplação. Neste caso, se o bem adquirido for

de preço:

Superior ao crédito, acrescido da aplicação financeira, o consorciado tica responsável pela diferença

de preço se houver:

Interior ao crédito, acrescido da aplicação financeira, a diferença, a critério do consorciado, deverá

ser utilizada para pagar parcelas que estão por vencer, como antecipação, na ordem inversa, ou na compra de

outro(s) bem(ns).

O crédito ticará depositado em aplicação financeira do Banco Central durante treze dias. se

transcorrido esse prazo, o bem não for comprado, o dinheiro voltará para o saldo do grupo.

Para a aquisição do bem, o consorciado:

a) Disporá de crédito na torna da lei.

b) Deverá apresentar os documentos relativos as garantias.

c) Deverá comunicar a administradora a sua opção de compra. Caso não queira optar pela

aquisição do bem estipulado no contrato, solicitar a autorização de faturamento do bem,

com os seguintes dados:

Identificação completa do contemplado e do vendedor do bem, com endereço e o número de

inscrição no cadastro de pessoas físicas (CPF) ou do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ):

Page 101: Apostila de Economia e Mercado

97

As características do bem ou serviço, objeto da opção e as condições de pagamento acordadas entre

o contemplado e o vendedor:

O bem será entregue ao integrante do grupo, quando:

a) A realização do pagamento de todas as prestações (inclusive as atrasadas ).

b) Após a aprovação dos documentos de garantias diretamente pelo vendedor (veículos) ou

pelo revendedor conveniado e determinado pela administradora.

Caso a administradora do consórcio se recuse a entregar o bem ao consorciado contemplado, o

lesado deverá propor ação de execução de obrigação de fazer, além de perdas e danos.

O consorciado poderá optar por outro da mesma espécie, de fabricação nacional ou estrangeira, que

poderá ser novo (O km), ou usado com até 03 anos de uso, incluindo o de fabricação, com nota fiscal,

certificado de garantia de funcionamento de câmbio e motor no prazo de três meses ou 5.000 km, fornecido

por pessoa jurídica que tenha por objetivo social a comercialização de veículos automotores.

Se o bem do objeto do Consórcio for retirado de linha de fabricação.

Os consorciados não contemplados juntamente com a administradora decidirão:

Pela escolha de outro similar.

Pelo encerramento do grupo.

As prestações dos consorciados contemplados permaneceram no valor anterior, a não ser que o bem

sofria aumento de preço.

As prestações dos consorciados ainda não contemplados serão calculadas com base no preço do

novo bem, na data da substituição. Caso já tenha sido paga importância superior ao novo preço vigente, a

diferença deve ser devolvida independentemente de contemplação, na medida da disponibilidade de recursos

do grupo.

As administradoras têm direito a inserir garantias no contrato para assegurar que os consorciados

paguem as prestações. No caso de bens móveis, pode ser a alienação fiduciária. Já para bens imóveis, usa-se

a hipoteca e/ou alienação fiduciária. E para serviços turísticos, a garantia pode ser em forma de um seguro

de quebra de garantia. No caso da alienação fiduciária, a real proprietária do bem é a administradora. O

consorciado tem a posse do bem e só se torna proprietário após o pagamento de todas as parcelas. Já na

hipoteca, o consorciado possui a posse e a propriedade do bem.

Além dessas garantias, seu contrato pode especificar outras garantias complementares

proporcionais às prestações a vencer. São garantias que você terá que apresentar quando for contemplado e

quiser utilizar o seu crédito.

O consorciado poderá retirar-se do grupo em decorrência da não observância do disposto nos

incisos do art. 25 do regulamento anexo da Circular 2.766/71 do BACEN, desde que não tenha ocorrido

ainda a contemplação:

Art. 25. Na primeira assembléia geral ordinária do grupo a administradora:

I comprovará a comercialização de, no mínimo, 70% (setenta por cento) das cotas do grupo;

Page 102: Apostila de Economia e Mercado

98

II - promoverá a eleição de, no mínimo, 3 (três) consorciados que, na qualidade de representantes

do grupo e com mandato não remunerado, auxiliarão na fiscalização dos atos da administradora na condução

das operações de consórcio do respectivo grupo e terão acesso, em qualquer data, a todos os demonstrativos

e documentos pertinentes às operações do grupo, não podendo concorrer à eleição funcionários, sócios,

gerentes, diretores e prepostos com poderes de gestão da administradora ou das empresas a ela ligadas:

III - deixará à disposição dos consorciados que tenham o direito de voto nas assembléias gerais,

fornecendo cópia sempre que solicitada, relação contendo o nome e o endereço completo dos consorciados

do grupo. Apresentando, quando for o caso, documento em que esteja formalizada a discordância do

consorciado com a divulgação dessas informações;

IV - fornecerá todas as informações necessárias para que os consorciados decidam sobre a

modalidade de aplicação financeira mais adequada para os recursos coletados, bem como sobre a neces-

sidade ou não de conta individualizada para o grupo;

V - registrará na ata o nome e o endereço dos responsáveis pela auditoria externa contratada e.

quando houver mudança, anotará na ata da assembléia seguinte ao evento os dados relativos ao novo auditor.

Nesta hipótese, o consorciado terá direito à devolução dos valores por eles pagos a qualquer título,

acrescidos dos rendimentos financeiros líquidos provenientes de sua aplicação financeira.

A desistência do consorciado se concretizará mediante pedido expresso do participante. Neste caso,

também haverá devolução dos valores pagos a qualquer título, de imediato, acrescidos dos rendimentos

provenientes de sua aplicação financeira, desde que não haja concorrido à contemplação em assembléia

geral ordinária e tenha desistido no prazo de sete dias da assinatura do contrato de adesão, sempre que a

contratação ocorrer tara de dependência da administradora: nos demais casos serão devolvidas apenas as

quantias pagas ao fundo comum e ao fundo de reserva.

A exclusão por inadimplência poderá ocorrer independentemente de notificação ou interpelação

judicial, em caso de falta de pagamento de duas ou mais prestações mensais consecutivas ou alternadas.

Antes da exclusão, o participante inadimplente poderá restabelecer seus direitos, mediante o pagamento das

respectivas prestações e diferenças de prestações em atraso, com seus valores reajustados, acrescidos dos

juros e da multa moratória estipulados no contrato.

Aos participantes excluídos ou desistentes, ou aos seus sucessores, serão devolvidas as quantias por

eles pagas aos fundos comuns e de reserva, no prazo de 60 dias após colocado à disposição dos consorciados

do grupo o Último crédito devido para a compra do bem.

Caso o consorciado faltoso já tenha sido contemplado, este não poderá ser retirado do consórcio, a

não ser que devolva o bem. A restituição das parcelas quitadas terá descontada, além da vantagem

econômica auferida com a fruição, os prejuízos que o desistente ou inadimplente causar ao grupo.

U grupo se encerrará até sessenta dias após a contemplação de todos os consorciados do grupo,

devendo a administradora aos consorciados que não tenham utilizado o crédito, que o dinheiro está à sua

Page 103: Apostila de Economia e Mercado

99

disposição. Essa comunicação deverá ser feita também aos demais consorciados que ainda tenham algum

dinheiro a receber.

A administradora deverá colocar á disposição os créditos na seguinte ordem:

a) Consorciados que não tenham utilizado o crédito:

b) Excluídos e desistentes, valores relativos a devolução das quantias pagas, aplicando-se as

regras estabelecidas pelo Banco Central:

c) Demais Consorciados.

6.9.3 Arrendamento Mercantil (Leasing)

Segundo a Lei 6.099/1974, com suas alterações, considera-se arrendamento mercantil o negócio

jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na

qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora,

segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta.

O advogado Franco Alves Sabino, define o Contrato de Arrendamento Mercantil como um negócio

jurídico em que o titular da propriedade do bem, móvel ou imóvel, cede a outrem, pessoa jurídica ou pessoa

natural (chamada de arrendatária), o uso e gozo da posse direta da coisa objeto da avença, por prazo certo e

determinado.

Muitas vezes, o bem objeto do leasing é comprado pelo arrendador de comum acordo

com o arrendatário.

Assim, ao final do contrato, o arrendatário tem a possibilidade de exercer três

alternativas:

a) devolver o bem à empresa de Arrendamento Mercantil;

b) renovar o contrato de arrendamento por novo prazo determinado;

c) optar pela compra do bem mediante o pagamento do valor residual estipulado no contrato.

Sem que haja a possibilidade do exercício de uma dessas opções, não há que se falar em leasing.

Leaseback ou Arrendamento Mercantil Financeiro é a operação em que a empresa proprietária de

um imóvel, que o utiliza como sede ou fábrica, o vende para um capitalista (empresa de arrendamento

mercantil) e este aluga o imóvel à mesma empresa vendedora, que o está ocupando.

Esta é uma forma de conseguir capital de giro pelas empresas que estão com muito investimento em

imóveis.

Trata-se também de uma forma de planejamento tributário tendo em vista que no decorrer do tempo

do contrato o valor do imóvel vai ser contabilizado como despesa dedutível para efeito do cálculo do IRPJ -

Imposto de Renda da Pessoa Jurídica e da CSLL - Contribuição Social sobre o Lucro Líquido.

Os contratos de arrendamento de imóveis geralmente são feitos por 10 (dez) anos enquanto que a

depreciação é em 25 anos.

6.9.4 Regras para Utilização do FTGS

Page 104: Apostila de Economia e Mercado

100

O FGTS é um assunto que sempre gera dúvidas sobre sua utilização. Aqui listei regras dos

principais pontos, porém elas estão sujeitas a alterações por parte da Caixa Econômica Federal.

O FGTS poderá ser utilizado na aquisição de imóvel residencial urbano concluído:

a) Na compra à vista, para pagamento total ou parcial do preço de aquisição do imóvel,

havendo, nesse último caso, necessidade de complementação com recursos próprios;

b) Na compra à prazo, com financiamento na modalidade do SFH, para pagamento parcial do

imóvel pretendido, havendo ainda a possibilidade de complementação com recursos

próprios;

c) No consórcio de imóveis, para pagamento de lance na obtenção da Carta de Crédito ou

como complementação do valor da Carta de Crédito para pagamento da parcela de recursos

próprios.

Não é permitido o uso do FGTS nas seguintes operações:

d) Nova utilização para aquisição do mesmo imóvel, antes de completados três anos desde a

última utilização para aquisição;

e) Aquisição de imóvel comercial;

f) Reforma, ampliação e/ou melhoria de imóvel residencial ou comercial;

g) Realização de infra-estrutura interna;

h) Aquisição de lotes e terrenos;

i) Aquisição destinada exclusivamente a moradia para familiares, dependentes ou terceiros.

Sobre o imóvel:

O imóvel deverá estar concluído e destinar-se, obrigatoriamente, a instalação de residência do

comprador, cujos recursos do FGTS estão sendo utilizados;

O imóvel deverá estar localizado no município onde o comprador exerça a sua ocupação principal,

em município limítrofe ou integrante da respectiva região metropolitana, ou, ainda, no município onde o

comprador comprovar que reside, há pelo menos um ano;

j) Ter valor de avaliação na data da contratação de até, atualmente, R$ 500.000,00;

k) Ser residencial urbano;

l) Apresentar, na data da avaliação, plenas condições de habitabilidade e ausência de vícios de

construção;

m) Estar devidamente matriculado no Cartório de Registro de Imóveis de sua circunscrição.

Do titular da conta vinculada do FGTS:

n) Não ser proprietário, usufrutuário, cessionário ou promitente comprador de outro imóvel

residencial (inclusive apart-hotel residencial), concluído ou em construção:

o) Financiado pelo SFH, em qualquer parte do território nacional;

p) No município onde exerça a sua ocupação principal, nos municípios limítrofes e na região

metropolitana, ou no atual município de residência.

q) Deverá contar com o mínimo de 3 anos de trabalho sob o regime do FGTS. O mesmo será

requerido caso o cônjuge também deseje utilizar seu FGTS;

r) A utilização do FGTS poderá ser feita por mais de um trabalhador, independentemente da

existência de grau de parentesco entre eles, desde que atendam aos demais requisitos para a

operação;

s) No caso de cônjuge: podem ser utilizados os recursos, independentemente do regime de

casamento, desde que figurem na escritura como adquirentes do imóvel;

Page 105: Apostila de Economia e Mercado

101

t) No caso de União Estável: é permitida desde que possa ser comprovada e que ambos

figurem na escritura como adquirentes do imóvel;

u) O proprietário (ou cônjuge) não pode possuir fração igual ou superior a 40% de imóvel

residencial, concluído ou em construção.

O FGTS também poderá ser utilizado para abatimento dos valores das prestações e para redução ou

quitação do saldo devedor de financiamentos na modalidade do SFH.

6.10 FORMAS DE INVESTIMENTO

6.10.1 CDB

É um título de captação de recursos do setor privado, cujas taxas são expressas em % ao ano. É o

mais procurado pelo fato de ser transferível por endosso nominativo, ou seja poder ser vendido a qualquer

hora dentro do prazo contratado com pequeno deságio. É conhecido como depósito a prazo.

A medida provisória 542 do Plano Real estabelece que, para os títulos pré-fixados, o prazo mínimo é de 30,

60 ou 90 dias. Para os títulos indexados em TR , o prazo mínimo é de 120 dias.

6.10.2 CDI

As instituições financeiras disputam no mercado os recursos disponíveis para captação. Devido à

volatilidade das taxas dos diferentes papéis em mercado, os recursos financeiros disponíveis estarão

procurando as melhores aplicações, quer seja em CDB, LC ou LI.

De forma a garantir uma distribuição de recursos que atenda ao fluxo de recursos demandados pelas

instituições, foi criado, em meados da década de 1980, o CDI. Os Certificados de Depósito Interbancário são

os títulos de emissão das instituições financeiras, que lastreiam as operações do mercado interbancário. Suas

características são idênticas às de um CDB, mas sua negociação é restrita ao mercado interbancário. Sua

função é, portanto, transferir recursos de uma instituição financeira para outra. Em outras palavras, para que

o sistema seja mais fluido, quem tem dinheiro sobrando empresta para quem não tem.

As operações se realizam fora do âmbito do Banco Central, tanto que, neste mercado, não há

incidência de qualquer tipo de imposto, as transações são fechadas por meio eletrônico e registradas nos

computadores das instituições envolvidas e nos terminais da Câmara de Custódia e Liquidação (CETIP). A

maioria das operações é negociada por um só dia, como no antigo overnight.

Portanto, pode-se definir como sua função manter a fluidez do sistema, ou seja, quem tem dinheiro

em excesso empresta para quem estiver precisando. Grande parte das operações é negociada com período de

apenas um dia. Apesar disso, tem as vantagens de ser rápido, seguro e não sofrer nenhum tipo de taxação.

Agora, os CDI's também podem ser negociados em prazos mais dilatados e com taxas pré-fixadas e pós-

fixadas. Os Certificados de Depósitos Interbancários negociados por um dia, também são denominados

Depósitos Interfinanceiros e detém a característica de funcionarem como um padrão de taxa média diária, a

CDI over.

Page 106: Apostila de Economia e Mercado

102

As taxas do CDI over vão estabelecer os parâmetros das taxas referentes às operações de

empréstimos de curtíssimo prazo, conhecidas como hot Money que embute, na maioria dos casos, o custo do

CDI over acrescido de um spread mínimo, além do custo do PIS.

A taxa média diária do CDI é utilizada como parâmetro para avaliar a rentabilidade de fundos,

como os DI, por exemplo. O CDI é utilizado para avaliar o custo do dinheiro negociado entre os bancos, no

setor privado e, como o CDB (Certificado de Depósito Bancário), essa modalidade de aplicação pode render

taxa de prefixada ou pós-fixada.

Como o CDI quantifica o custo do dinheiro para os bancos em um determinado dia, ele é utilizado

pelo mercado como parâmetro para fundos de renda fixa e DI. O CDI é usado também como parâmetro para

operações de Swap (contrato de troca de qualquer tipo, seja ele de moedas, commodities ou ativos

financeiros), na Bolsa de Mercadoria & Futuros (BM&F) para o ajuste diário do DI futuro.

6.10.3 Mercado de Ações

O mercado de ações é um ambiente público e organizado para negociação de alguns títulos

mobiliários (ações, opções de ações etc.). As transações podem ocorrer por intermédio das bolsas de valores

ou nos chamados mercados de balcão (mercados em que são comercializados títulos não negociados em

bolsas, dentro das normas legais previstas em lei e regulamentos, sem coordenação de entidades privadas de

autorregulação).

Nas economias modernas, a grande maioria das operações no mercado acionário ocorrem por

intermédio das bolsas de valores. Para investir em ações é necessário que o investidor procure uma

corretora, que mantém funcionários especializados em orientar a seleção dos papéis de acordo com os

objetivos definidos pelo aplicador.

Uma ação é o título ou valor mobiliário de renda variável, emitido por determinada sociedade

anônima, que representa a menor fração do capital da empresa emitente. O investidor em ações é um

coproprietário da sociedade anônima da qual é acionista, participando dos seus resultados. As ações são

conversíveis em dinheiro, a qualquer tempo, pela negociação em mercado de bolsa ou em mercado de

balcão.

Este tipo de investimento é classificado como de renda variável. A rentabilidade variável das ações

é composta por dividendos, participação nos resultados e benefícios concedidos pela empresa, e/ou por

eventual ganho de capital na venda da ação.

Apesar de todas as sociedades anônimas possuírem o seu capital dividido em ações, somente as que

forem emitidas por companhias de capital aberto registradas na Comissão de Valores Mobiliários podem ser

negociadas publicamente.

A propriedade da ação é representada pelo certificado de ações ou pelo extrato de posição

acionária. Estes documentos são emitidos, respectivamente, pela própria companhia ou por uma instituição

contratada pela sociedade anônima para o atendimento aos acionistas.

Page 107: Apostila de Economia e Mercado

103

A ação preferencial é um tipo de parcela representativa do capital social de uma empresa, sem

direito a voto, e com prioridade na distribuição de dividendos. Na extinção da empresa os detentores deste

tipo de ação tem prioridade na restituição do capital.

Tipo de ação que confere ao acionista o direito de voto em assembleias gerais da empresa emitente,

além de proporcionar participação não preferencial deste acionista nos resultados financeiros da mesma.

Ação de fruição é o tipo de ações que já foram amortizadas, ou seja, a companhia antecipou ao

acionista a quantia a que ele teria direito no caso de liquidação da companhia. Somente o Estatuto Social ou

a Assembleia Geral Extraordinária da companhia poderá autorizar esta operação.

Quanto à forma, as ações serão nominativas, emitidas em nome de seu titular, o qual estará inscrito

no Livro de Registro de Ações Nominativas. O controle da posição dos titulares poderá também ser feito por

instituições financeiras especificamente autorizadas pela Comissão de Valores Mobiliários - CVM, sendo

essas ações apresentadas na forma escritural.

6.10.4 Fundos Imobiliários

Os Fundos Imobiliários, à semelhança dos fundos de ações, renda fixa, derivativos, etc., são

regulados, fiscalizados e têm seu funcionamento autorizado pela CVM – Comissão de Valores Mobiliários,

por se tratar de captação de recursos do público para investimento. A quota de um fundo imobiliário é valor

mobiliário, conforme estabelece o artigo 3º da Lei 8.668/93. Aliás, um fundo imobiliário é bastante

semelhante a uma empresa de capital aberto, com seus acionistas, aumentos de capital, assembleias,

distribuições de resultado, etc.

Os Fundos Imobiliários são formados por grupos de investidores com o objetivo de aplicar

recursos, solidariamente, em todo o tipo de negócios de base imobiliária, seja no desenvolvimento de

empreendimentos imobiliários ou em imóveis prontos. Do patrimônio de um fundo podem participar um ou

mais imóveis, parte de imóveis, direitos a eles relativos, etc. Com a regulamentação introduzida pela

Instrução CVM nº 472, que vigora desde 03/12/2008, estes fundos podem investir em vários títulos e valores

mobiliários que tenham como foco e/ou lastro principal o mercado imobiliário.

Atualmente já estão em funcionamento mais de 90 fundos imobiliários no Brasil, com patrimônio

total em torno de 6 bilhões de reais. O modelo de FII adotado no Brasil possui as seguintes características:

d) Pode ser constituído de bens e direitos imobiliários, além dos outros ativos citados no artigo

45 da Instrução CVM nº 472, que podem ser utilizados para integralização;

e) É, obrigatoriamente, administrado por instituição financeira;

f) Não tem personalidade jurídica própria. A instituição financeira que o administra

"empresta" sua personalidade jurídica ao fundo, tornando-se proprietária fiduciária dos bens

integrantes do patrimônio, os quais não se comunicam com o patrimônio da instituição;

g) O fundo pode manter parte de seu patrimônio em caixa, tendo em vista sua necessidade de

liquidez. O saldo em caixa deve ser aplicado em ativos de renda fixa;

h) Para os casos de fundos destinados a construir imóveis, as integralizações podem ser

parceladas em séries. Os fundos podem, também, efetuar aumento de capital mediante a

emissão de novas quotas;

Page 108: Apostila de Economia e Mercado

104

i) É um fundo fechado, ou seja, não permite resgate das quotas. O retorno do capital investido

se dá através da distribuição de resultados, da venda das quotas ou, quando for o caso, na

dissolução do fundo com a venda dos seus ativos e distribuição proporcional do patrimônio

aos quotistas.

Atualmente, mais de uma dúzia de Fundos Imobiliários são negociados na BM&F BOVESPA,

com boa liquidez e distribuição mensal de rendimentos. E o que é melhor: os rendimentos distribuídos são

isentos de Imposto de Renda se o investidor for Pessoa Física, tiver menos do que 10% das cotas do Fundo,

o qual, por sua vez, deve possuir mais de 50 cotistas e ter suas cotas negociadas exclusivamente em Bolsa.

Os fundos imobiliários são fundos fechados e funcionam de forma semelhante às ações das

empresas. Quando o investidor quer adquirir cotas ou alienar parte ou todo seu investimento, basta negociar

cotas na BM&F BOVESPA.

Os fundos imobiliários brasileiros, em sua maioria, são proprietários de imóveis geradores de

renda frequente, tais como: shopping centers, edifícios comerciais, hospitais, centros de distribuição e

logística, etc.

Essa é a forma mais moderna e eficiente de se investir em imóveis, sem ter que se preocupar com a

administração direta dos empreendimentos. Além disso, através destes fundos os investidores têm acesso a

negócios imobiliários de alto nível, alguns deles com inquilinos de excelente qualidade, como por exemplo a

Caixa Econômica Federal, BB, Petrobrás, etc.

Vantagens dos Fundos Imobiliários:

a) Distribuição freqüente de rendimentos

b) Isenção de IR para Pessoas Físicas

c) Acesso a grandes empreendimentos

d) Transparência e agilidade das operações de compra e venda via Bolsa

e) Fiscalização da CVM

f) Administração obrigatória por Instituição Financeira

g) Desburocratização dos investimentos imobiliários

Riscos

a) Risco do Investimento: MÉDIO

b) Patrimônio Garantido: NÃO

c) Duração recomendada para o investimento: LONGO PRAZO

QUESTIONÁRIO

a) Quais são as funções da moeda?

b) Qual a diferença entre papel-moeda e moeda fiduciária?

c) Como é controlada a oferta de moeda pelo banco central?

d) Motivos para se obter moeda?

e) Qual o meio de pagamento mais líquido entre o imóvel e o papel-moeda?

Page 109: Apostila de Economia e Mercado

105

f) O que é política econômica?

g) Quais os fatores foco de uma política econômica?

h) Quais são os problemas de uma política de estabilização? De crescimento? E distribuição de

renda?

i) O que é política monetária? O que mais pode influir na atividade imobiliária?

j) Quais os tipos de administração de taxas de câmbio?

k) O que é política fiscal? Como a política fiscal pode atuar sobre o setor imobiliário?

l) Qual o órgão que regula os financiamentos imobiliários na CEF? E qual que regula os

seguros relacionados com a atividade imobiliária?

m) Por que o plano cruzado não deu certo?

n) Por que o plano Collor não deu certo?

o) O que é um fundo imobiliário?

p) Como pode ser composta sua carteira de investimentos?

q) Quais as vantagens de investir nele?

7 ECONOMIA INTERNACIONAL

O comércio pode ser bom para todos. Comércio entre países não é como competição esportiva, em

que um lado ganha e o outro, necessariamente, tem que perder.

Na realidade, o que pode acontecer é que o comércio entre os países pode ser bom para ambas as

partes. O comércio permite que os países ou regiões se especializem naquilo que fazem melhor e possam

desfrutar, assim, de uma maior quantidade de produtos e serviços.

Você já percebeu que a maioria dos objetos que adquirimos para o nosso consumo e bem-estar do

dia a dia foram produzidos em um lugar distante, isto é, em um outro país?

Observe que consumimos automóveis fabricados no Japão, eletroeletrônicos e brinquedos da China,

produtos farmacêuticos da Europa e petróleo da Argélia, na África. Claro que em contrapartida, exportamos

para as populações residentes nessas e em outras regiões uma variedade de produtos como aviões, madeira,

frutas, soja etc.

Diante desta citação podemos definir o comércio internacional como sendo todas essas trocas de

bens e serviços que ocorrem através de fronteiras internacionais. As dimensões dadas algumas vezes ao

tratamento do comércio entre países podem sugerir que apenas os governos tomam decisões a respeito do

comércio. Em se tratando das economias de mercado, cabe sinalizar que a maior parte das decisões que

determinam a magnitude, o conteúdo e a direção do comércio são tomadas pelas famílias e empresas.

Contudo, é claro que, em alguns momentos, os governos podem, evidentemente, agir através de mecanismos

de política econômica (incentivos fiscais, subsídios, política cambial etc.) e políticas protecionistas (taxação

na importação de alguns bens, fixação de quotas de importação e até barreiras fitossanitárias. A importância

despertada pelas relações comerciais e o ganho obtido do comércio mundial geraram teorias econômicas

próprias. Foi neste cenário que economistas como Adam Smith e David Ricardo foram considerados os

precursores em questões relativas às trocas no comércio internacional, sendo que Adam Smith concebeu a

ideia de ―vantagens absolutas‖ de comércio e tornou bem mais explícitas as razões pelas quais a participação

nas trocas internacionais seria interessante a uma nação. Smith (1981) acreditava que o comércio

Page 110: Apostila de Economia e Mercado

106

internacional somente seria possível quando o tempo de trabalho necessário para produzir um determinado

produto fosse inferior ao do outro país.

Em outras palavras, podemos afirmar que cada nação deve se especializar na oferta de mercadorias

cujos custos de produção sejam menores que os das outras nações. Como exemplo, Adam Smith valeu-se

das relações comerciais entre Portugal (tradicional país produtor de vinhos) e Inglaterra (tradicional país

produtor de tecidos).

Pela teoria proposta, se Portugal tivesse que deslocar parte de seu capital, empregado na produção

de vinhos, para produzir tecidos, certamente obteria menos tecidos e com qualidade inferior aos tecidos

ingleses. Logo, concluímos que a contribuição de Smith para a teoria do comércio exterior provocou muitos

debates e contribuiu, principalmente, para o surgimento de outras novas proposições.

Detentor de uma nova formulação à proposta apresentada por Adam Smith sobre o comércio entre

nações, Ricardo desenvolveu sua principal contribuição ao pensamento econômico: a Teoria das Vantagens

Comparativas. Para expor sua teoria, Ricardo também partiu do exemplo do comércio entre Portugal e

Inglaterra, usado por Adam Smith que tem como pressuposto a especialização de cada país na exportação do

produto do qual tem vantagem comparativa melhor.

Um país tem vantagem comparativa na produção de um bem se tiver um custo de oportunidade

menor que outro país na produção deste mesmo bem.

A comparação do preço interno com o preço praticado internacionalmente para o mesmo produto,

portanto, com a mesma qualidade, indica que, se houver diferença entre eles (computado o custo de

transporte), a região que tem menor preço tem vantagem comparativa na produção desse bem. Isto significa

que o preço praticado lá fora reflete o custo de oportunidade do produto internamente. Portanto, o comércio

entre os países se baseia, em linhas gerais, na vantagem comparativa. Segundo Mankiw (2005, p. 177), ―[...]

o comércio é benéfico, porque permite que cada país se especialize em produzir aquilo que faz melhor‖.

Você já ouviu falar que a atividade comercial pode vir a ser uma via de mão dupla?

Isso mesmo, a atividade comercial pode ser uma via de mão dupla, pois o comércio aumenta o nível

do bem-estar econômico do país quando os ganhos dos beneficiados superam as perdas dos prejudicados.

Logo, quando formos analisar quem ganha e quem perde com o comércio internacional, precisamos levar

em conta essa realidade. Isto torna o debate sobre o tema bastante entusiasmado, pois a definição da melhor

política comercial para um país precisa considerar efetivamente quem vai ganhar e quem vai perder, o que

não é fácil, pois quando isto ocorre, sempre temos uma disputa política.

Apesar de importante para os países, o comércio internacional é realizado, na prática, seguindo-se

uma série de restrições, que variam de intensidade de acordo com o país. Tais restrições são necessárias,

pois visam a proteger certos setores considerados estratégicos para a indústria nacional, impedindo, dessa

forma, por exemplo, o avanço do desemprego no país e o aumento da dependência externa. Outros

argumentos que podemos destacar são aqueles ligados aos setores da segurança nacional, proteção à

Page 111: Apostila de Economia e Mercado

107

indústria nascente e competição desleal. E, por fim, aqueles ligados à proteção como estratégia para

melhorar a barganha com os parceiros comerciais.

Diante desta situação os governos adotam políticas protecionistas para protegerem seus produtos,

suas indústrias, enfim, sua economia. Estas práticas visam o favorecimento do produtor nacional frente aos

concorrentes estrangeiros. Assim podemos afirmar que as medidas protecionistas são tomadas para proteger

o mercado nacional. Buscando oferecer este amparo contamos com alguns instrumentos:

r) Impostos de importação (tarifas): valor adicional cobrado sobre as importações.

s) Quotas à importação: estabelecimento de quantidades fixas de importação.

t) Subsídios à exportação: benefícios concedidos aos produtores nacionais com vistas a

ampliar o volume exportado.

u) Política cambial: envolve a administração monetária realizada pelas autoridades para a taxa

de câmbio do país. e

v) Regulamentações administrativas: imposição de normas a produtos importados, com o

objetivo de se restringirem as importações, como barreiras sanitárias, padrões de qualidade

etc.

Por fim podemos dizer que o comércio internacional deve ser o objetivo das nações, num cenário

de competições igualitárias entre as indústrias nacionais e estrangeiras. É fundamental, nesse sentido, a ação

do governo, promovendo uma política industrial de longo prazo e abertura econômica graduada, que não

venha a trazer perdas, e sim benefícios para a nação.

Por sua vez, as políticas comerciais estão sujeitas às normas da OMC – Organização Mundial do

Comércio, órgão criado no ano de 1995 em substituição ao GATT – Acordo Geral de Comércio e Tarifas,

órgão instituído no imediato pós II Guerra Mundial para regular as relações comerciais entre os países. A

OMC tem como propósito coibir políticas protecionistas e práticas de dumping no comércio mundial; para

tanto, possui poder de estabelecer normas e sanções entre os países membros. Dentre outras funções,

destacam-se:

w) gerenciar os acordos multilaterais de comércio de bens e serviços e direitos de propriedade

industrial;

x) administrar o entendimento sobre soluções de controvérsias;

y) servir de fórum para as negociações;

z) supervisionar as políticas nacionais; e

aa) cooperar com outras organizações internacionais.

Regionalização do Comércio Internacional

A regionalização do comércio mundial tem-se constituído numa das características marcantes da

globalização econômica. Países formam blocos econômicos iniciados a partir de acordos comerciais que

evoluem no curso das transações, alcançando a união aduaneira, mercado comum e união econômica, até

lograr a integração econômica ampla. No propósito de intensificar o comércio entre si, países desenvolvem

diversos propósitos, desde a redução de barreiras tarifárias até a adoção de políticas tarifárias comuns. Em

certos espaços regionais, países adotam moeda única e a política macroeconômica segue padrão comum

entre os países membros.

Page 112: Apostila de Economia e Mercado

108

Na América Latina, destaca-se o mercado regional, MERCOSUL – Mercado Comum do Sul. Neste

mercado, muitos produtos não possuem impostos de importação e são reduzidas as barreiras não-tarifárias.

Países parceiros desenvolvem políticas explícitas de intensificação do comércio intra-bloco. Dentre os

objetivos a serem alcançados neste mercado estão: findar a restrição à mobilidade de trabalho e capital,

harmonizar as políticas econômicas nacionais e criar uma moeda única.

Outro bloco econômico em destaque é o NAFTA – North American Free Trade Agreement- criado

em 1989, trata-se de uma ampliação do acordo de livre comércio que existe entre os EUA e o Canadá desde

1989, passando a incluir o México em 1994. A meta é a eliminação das tarifas alfandegárias entre esses três

países num prazo de quinze anos. Fonte: Lacombe (2004). A pretensão deste mercado, segundo o interesse

coordenado pelos Estados Unidos, é estender sua área de atuação para toda a América, unindo 32 países

através da ALCA – Associação de Livre Comércio das Américas, instituída em 1994. No momento, alguns

países relutam em integrar este bloco sob temor de submissão ao poder da economia dos Estados Unidos.

Cita-se, ainda, como bloco econômico relevante a EU – União Européia. Esta organização foi

constituída em 1992, em substituição a CEE – Comunidade Econômica Européia. O padrão cooperativo

entre países desta região vem desde a década de 1950. Atualmente, 27 países membros atuam em mercado

único, adotando política aduaneira comum e moeda única, na maioria de seus representantes. Além disso,

procuram desenvolver de forma coordenada atividades judiciais e de defesa dos países participantes.

QUESTIONÁRIO

bb) Como pode ser definido o comércio internacional?

cc) Qual a função do setor privado e do setor público?

dd) O comércio internacional possui suas diretrizes de base em quais pensadores? E quais são as

suas teorias?

ee) Quais são as funções dos acordos de comércio entre os países?

ff) Quais são os instrumentos de protecionismo a serem utilizados pelos países?

8 ECONOMIA SOCIAL

Os indicadores econômicos são grandezas de caráter económico expressos em valor numérico onde

algumas das principais utilidades são por exemplo:

gg) Aferição dos níveis de desenvolvimento de países, regiões, empresas podendo

hh) naturalmente fazer-se a comparação entre estas.

ii) Compreender, informar e prever o comportamento de uma economia.

jj) Ajuizar a política económica do governo

8.1 ÍNDICE GERAL DE PREÇOS - DISPONIBILIDADE INTERNA (IGP-DI)

É obtido a partir de uma média do Índice de Preços no Atacado (IPA), Índice de Preços ao

Consumidor (IPC) e Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), com ponderações 06 (seis), 03 (três) e

01 (um) respectivamente. As coletas de preços abrangem os municípios de Rio de Janeiro e São Paulo para o

Page 113: Apostila de Economia e Mercado

109

IPC, 19 capitais para o INCC, e as capitais e algumas regiões produtoras no caso do IPA (apesar do cálculo

não ser regionalizado).

O IGP-DI foi durante mais de quarenta anos empregado como principal indicador da inflação

brasileira. Contudo, atualmente, sua metodologia vem sendo alvo de algumas críticas relevantes,

especialmente por adotar uma estrutura de ponderação antiga, baseada no começo dos anos de 1960, não

captando as enormes transformações estruturais verificadas na economia do país ao longo dos últimos

quarenta anos. Ademais, a pesquisa de preços no atacado embute uma apreciável distorção por captar os

valores de tabela e não os de transação, anulando assim a possibilidade de incorporação de descontos ou de

ágios registrados nas operações comerciais.

Os levantamentos de campo são realizados no mês-calendário (01 a 30 ou 31) e a parte de varejo

tem como público-alvo a população com rendimento entre 01 e 33 salários mínimos. Sua utilização principal

é na atualização dos valores de contratos.

8.2 ÍNDICE GERAL DE PREÇOS DE MERCADO (IGP-M)

Apresenta praticamente as mesmas características e limitações do IGPDI. A diferença principal

corresponde à periodicidade da coleta dos preços, cobrindo o intervalo entre os dias 21 do mês anterior e 20

do mês corrente. Atualmente é utilizado especialmente nos contratos de reajustes de tarifas de telefonia e de

energia elétrica. Surgiuem1989, na época da hiperinflação indexada, dada a necessidade de os agentes

econômicos, notadamente aqueles atuantes no mercado financeiro, disporem de um índice de atualização de

preços logo no começo do mês.

8.3 ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR AMPLO (IPCA)

Este índice reflete as variações dos preços dos bens e serviços consumidos por famílias com renda

mensal urbana entre 01 e 40 salários mínimos, independentemente da fonte. Os preços são pesquisados em

dez regiões metropolitanas: Belém, Recife, Fortaleza, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo,

Curitiba, Porto Alegre e Goiânia, além do Distrito Federal. O peso dos produtos é fornecido pela Pesquisa de

Orçamentos Familiares (POF), realizada entre 01 de outubro de 1995 e 31 de setembro de 1996.

O índice nacional é determinado a partir da agregação dos índices regionais, ponderados pelo

rendimento total urbano, extraído da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). O IPCA é

adotado pelo Banco Central do Brasil para a fixação das metas de inflação do país, acordadas entre o

governo brasileiro e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

8.4 ÍNDICE NACIONAL DE PREÇOS AO CONSUMIDOR (INPC)

Este índice capta a evolução de uma cesta de produtos consumidos por famílias com rendimento

entre 01 e 08 salários mínimos, provenientes exclusivamente do trabalho assalariado urbano. O indicador

Page 114: Apostila de Economia e Mercado

110

cobre as mesmas regiões metropolitanas do IPCA e a agregação é efetuada pela população residente urbana,

levantada pelo Censo Demográfico.

8.5 ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR (IPC)

Calcula a variação de preços de bens e serviços para famílias que ganham entre 01 e 20 salários

mínimos no município de São Paulo. É utilizado para reajustar impostos estaduais e municipais no Estado de

São Paulo.

8.6 INCC

Concebido com a finalidade de aferir a evolução dos custos de construções habitacionais,

configurou-se como o primeiro índice oficial de custo da construção civil no país. Foi divulgado pela

primeira vez em 1950, mas sua série histórica retroage a janeiro de 1944. De inicio, o índice cobria apenas a

cidade do Rio de Janeiro, então capital federal e sua sigla era ICC.

Nas décadas seguintes, a atividade econômica descentralizou-se e o IBRE passou a acompanhar os

custos da construção em outras localidades. Além disso, em vista das inovações introduzidas nos estilos,

gabaritos e técnicas de construção, o ICC teve que incorporar novos produtos e especialidades de mão-de-

obra.

Em fevereiro de 1985, para efeito de cálculo do IGP, o ICC deu lugar ao INCC, índice formado a

partir de preços levantados em oito capitais estaduais. No processo de ampliação de cobertura, o INCC

chegou a pesquisar preços em 20 capitais. Atualmente a coleta é feita em 7 capitais (São Paulo, Rio de

Page 115: Apostila de Economia e Mercado

111

Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Porto Alegre e Brasília). O índice é divulgado nas versões 10, M

e DI.

8.7 ÍNDICE FIPEZAP

A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e o ZAP Imóveis lançarão o índice Fipezap

de preços de imóveis anunciados, que calculará a evolução dos preços imobiliários. Inicialmente, serão

analisados os resultados de sete das principais regiões do País: os municípios de São Paulo, Rio de Janeiro,

Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Salvador e o Distrito Federal.

Segundo a Fipe, o índice será composto pela variação de preços dos imóveis anunciados no ZAP,

que totalizam, em média, 190 mil unidades todos os meses. A Fipe fará a ponderação dos dados, utilizando a

renda dos domicílios, de acordo com levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE).

Na primeira divulgação, o índice apresentará as variações em São Paulo e no Rio de Janeiro desde

janeiro de 2008, com dados mensais e anuais. A pesquisa é aberta ao público e poderá ser consultada no site

da Fipe e no ZAP Imóveis.

"O Fipezap vem para atender o mercado imobiliário como um todo, agentes e consumidores, tão

carente de informações confiáveis. Não existe, atualmente, um índice de valorização de imóveis que

tenha tamanha abrangência. Queremos preencher essa lacuna", afirma Eduardo Gama Schaeffer,

diretor de Marketing e Produto do ZAP.

8.8 TR – TAXA REFERENCIAL DE JUROS

Taxa criada em 1991, durante o Plano Collor II, para servir de referência para as transações

financeiras realizadas no País, atuando como uma taxa básica referencial dos juros a serem praticados no

mês. Esta taxa é calculada pelo BACEN (Banco Central) com base em uma amostra dos juros pagos pelos

CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) das trinta maiores instituições financeiras selecionadas, sendo

eliminadas as duas de menor e as duas de maior taxa média. A base de cálculo da TR (Taxa Referencial de

Juros) é o dia de referência, sendo calculada no dia útil posterior. Sobre a média apurada das taxas dos

CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) é aplicado um redutor que varia mensalmente. Atualmente é

utilizada para o cálculo do rendimento de vários investimentos, tais como títulos públicos, caderneta de

poupança e outras operações, tais como empréstimos do SFH, pagamentos a prazo e seguros em geral.

QUESTIONÁRIO

a) Qual a função dos índices econômicos?

b) Qual a finalidade dos índices para as construtoras?

c) Qual a finalidade do índice FIPEZAP?