Apostila Filtros Felipe Borges

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  • 8/19/2019 Apostila Filtros Felipe Borges

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    Introdução a Filtragem Digital de Sinais

    Felipe Borges Cunha

    6 de janeiro de 2009

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    Introdu瘠ao a Filtragem Digital de Sinais 

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    Sumário

    1 Introdução ao estudo de sinais e sistemas lineares 1

    1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   11.1.1 Rúıdo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   21.1.2 Filtragem e Modelagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   3

    1.2 Tipos e Classificações de Sinais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   41.3 Sistemas lineares e o prinćıpio da superposição . . . . . . . . . . . . .   7

    1.3.1 Tipos de sistemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   71.3.2 Modelos de convolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   101.3.3 Transformada de Laplace, Transformada Z e funções de trans-

    ferência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   12

    2 Representações de Fourier e análise espectral 192.1 Série de Fourier em tempo cont́ınuo . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   192.2 Série de Fourier em tempo discreto . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   242.3 Transformada de Fourier em tempo cont́ınuo . . . . . . . . . . . . . .   262.4 Transformada de Fourier em tempo discreto . . . . . . . . . . . . . .   302.5 Análise da resposta em freqüência de sistemas lineares . . . . . . . .   33

    3 Teoria da amostragem 433.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   433.2 Amostragem de funções exponenciais periódicas . . . . . . . . . . . .   443.3 Teorema de Nyquist-Shannon . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   47

    3.3.1 Formulação matemática do processo de amostragem . . . . . .   473.4 Reconstrução de sinais amostrados . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   51

    4 Filtragem digital de sinais 554.1 Introdução ao processamento digital de sinais . . . . . . . . . . . . .   55

    4.1.1 Sistemas vistos como filtros . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   574.2 Tipos de filtros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   57

    4.2.1 Filtros digitais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   584.3 Critérios de especificação de filtros . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   62

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    iv SUM  ́ARIO 

    4.3.1 Filtros ideais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   62

    4.3.2 Filtros reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   634.3.3 Transformações de freqüência . . . . . . . . . . . . . . . . . .   68

    4.4 Funções de aproximação para protótipos analógicos de filtros . . . . .   704.4.1 Butterworth . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   714.4.2 Chebyshev . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   754.4.3 Chebyshev inverso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   784.4.4 Outras funções de aproximação . . . . . . . . . . . . . . . . .   80

    4.5 Equivalentes discretos de filtros analógicos . . . . . . . . . . . . . . .   814.6 Realização de filtros digitais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   83

    Introdu瘠ao a Filtragem Digital de Sinais 

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    Caṕıtulo 1

    Introdução ao estudo de sinais e

    sistemas lineares

    Este caṕıtulo aborda de forma rápida e introdutória alguns conceitos matemáticosbásicos aplicados à teoria de controle e processamento de sinais. O material cobertoaqui abrange apenas os tópicos e idéias que, mais tarde, serão de alguma utilidadeno desenvolvimento do formalismo matemático para a śıntese de filtros digitais eà compreensão dos conceitos relacionados à análise no domı́nio da freqüência. Issoinclui: propriedades básicas de sinais, sistemas dinâmicos lineares, soma e integral

    de convolução, autofunções de sistemas lineares, transformada de Laplace, transfor-mada Z, e discretização de equações diferenciais. Para aqueles que já tiveram contatocom as teorias de análise de sinais e sistemas lineares, a leitura deste caṕıtulo não énecessária, mas pode ser muito útil como revisão. Já para aqueles que não tiveramum curso elementar nessa área, este caṕıtulo serve de fundamento para os assuntosabordados no decorrer do curso; serve também como guia para aqueles que desejaremaprofundar a teoria de sistemas dinâmicos lineares.

    1.1 Introdução

    O projeto de sistemas de controle pode ser dividido em duas etapas principais. Aprimeira etapa consiste na modelagem do sistema que se deseja controlar. A segundaetapa consiste na escolha de uma estratégia de controle e no desenvolvimento esintonia dos respectivos controladores.

    A estratégia de controle escolhida pode induzir alterações no projeto do sistemaa ser controlado. No caso de um processo petroqúımico, por exemplo, pode sernecessário incluir válvulas de controle que não estavam inicialmente previstas noprojeto. A escolha da estratégia de controle também determina a necessidade de semedir certas variáveis.

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    2 INTRODUÇ ˜ AO AO ESTUDO DE SINAIS E SISTEMAS LINEARES 

    O que chamamos de sistema de controle   é um conjunto de dispositivos projetados

    para processar os sinais resultantes das medições das variáveis de processo e gerar,a partir desse processamento, sinais de comando para os elementos finais que vãoatuar de volta no processo com o objetivo de control á-lo. Fecha-se assim a chamadamalha de controle realimentado.

    O dispositivos usados para executar o  processamento   desses   sinais , desde amedi̧cão das variáveis de processo até a atuação no próprio processo, são generica-mente chamados instrumentos . Tais instrumentos podem ser implementados a par-tir de diferentes princı́pios f́ısicos, como por exemplo pneumáticos, eletromecânicos,eletrônicos analógicos, hidráulicos e eletrônicos digitais.

    Excetuando-se os elementos primários de medição e elementos finais de controle,

    como válvulas, motores e atuadores hidráulicos, a grande maioria dos instrumentoshoje em dia são eletrônicos digitais, e quase sempre, microprocessados. Deste modo,toda informação manipulada por tais dispositivos precisam ser primeiro convertidasem sinais elétricos, em geral, tensão ou corrente em faixas padronizadas, sendo,em seguida, convertidos em sinais digitais, que são conjuntos de śımbolos binárioschamados   bits   representados eletronicamente por ńıveis discretos de tensão. Esteprocesso de  digitaliza瘠ao   será visto com maiores detalhes no Caṕıtulo 3.

    1.1.1 Rúıdo

    −0.5

    0

    0.5

    1

    1.5

    2

    Processo

    −0.5

    0

    0.5

    1

    1.5

    2

    Ruido

    −2 −1 0 1 2 3 4 5 6−0.5

    0

    0.5

    1

    1.5

    2

    Ruido interferindo no processo

    Figura 1.1: Variável de processo contaminada como rúıdo.

    Seja na forma analógica (tensão ou corrente) seja na forma digital (seqüênciasde bits), os sinais são representações análogas das variáveis do processo, porém

    Introdu瘠ao a Filtragem Digital de Sinais 

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    1.1. Introdu瘠ao 3 

    contaminadas com   rúıdo. Chamamos de rúıdo toda variação de um sinal que não

    seja causada pela dinâmica própria do processo. Algumas das principais fonte deruı́do são:

    •   não idealidades intŕınsecas aos instrumentos de medição

    •   interferência eletromagnética

    •  baixa isolação nos condutores de sinal elétrico

    •   turbulências nos fluidos de processo

    •   transições de fase nos fluidos de processo

    •   vibrações mecânicas em máquinas rotativas

    ou ainda fontes aleatórias desconhecidas1. Em geral, o rúıdo apresenta uma baixacorrelação com as variações de sinal provocadas pela dinâmica do processo. Issoacontece porque as variações das variáveis de processo e as variações dos ruı́dos sãoprovocadas por fontes excitadoras diferentes na grande maioria da vezes.

    Existem numerosas técnicas para se eliminar ou reduzir o rúıdo em sinais. Nestecurso, abordaremos a mais comum de todas elas: a filtragem no domı́nio da freqüência.

    Daremos ênfase a técnicas digitais de filtragem, uma vez que estas podem serimplementadas em qualquer dispositivo digital programável de processamento desinais; desde SDCD’s a microcomputadores de uso geral. Muitos instrumentos paraaplicação em controle de processos já dispõem até mesmo de funções especı́ficas paraeste fim.

    1.1.2 Filtragem e Modelagem

    Conforme foi dito no ińıcio, uma das etapas do desenvolvimento de um sistema decontrole consiste na modelagem do processo que se deseja controlar. Nesta etapa de

    modelagem, quase sempre há a necessidade de se estimar parâmetros do modelo apartir de dados reais obtidos por meio de testes práticos na planta. Esses dados, viade regra, estão contaminados com rúıdo, e este rúıdo, principalmente após digital-ização do sinal, pode provocar erros nos algoritmos de estimação de parâmetros.  Éconveniente, portanto, realizar a filtragem do rúıdo antes de se efetuar a identificaçãode parâmetros do modelo.

    1Defeitos em componentes dos equipamentos também podem provocar rúıdo nas variáveis deprocesso. Porém, não se recomenda o uso de filtros para a eliminação de tais efeitos. A maneiraadequada de eliminar este tipo de rúıdo é efetuar manutenção nos equipamentos.

    Felipe Borges Cunha 

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    4 INTRODUÇ ˜ AO AO ESTUDO DE SINAIS E SISTEMAS LINEARES 

    Todo processo de identificação de sistemas passa primeiro por um pré-tratamento

    dos dados. A filtragem do rúıdo constitui uma das posśıveis etapas neste pré-tratamento. Este curso tem como objetivo principal dar noções básicas de pro-cessamento de sinais no domı́nio da freqüência para que se possa desenvolver filtrosdigitais adequados para o pré-tratamento de dados com vistas a identificação demodelos de processos2.

    Este primeiro caṕıtulo revisa conceitos matemáticos básicos para o processa-mento de sinais. O capı́tulo 3 introduz o teorema da amostragem, necessário sempreque se deseja converter sinais analógicos em digitais. O caṕıtulo 4 trata dos con-ceitos básicos da filtragem, aplicáveis tanto no caso analógico como no caso digital,bem como das funções matemáticas que sintetizam filtros reais. Os métodos de

    transformação de filtros analógicos em filtros digitais também são discutidos.

    1.2 Tipos e Classificações de Sinais

    Chamamos de sinal   uma fun瘠ao  que modela o comportamento de alguma grandezaf́ısica de interesse com respeito a uma ou mais variáveis independentes. Para ospropósitos deste curso, será suficiente definirmos uma única variável independente,que será o tempo, e os sinais serão sempre funções escalares do tempo3. Destaforma, praticamente todos os conceitos matemáticos associados a funções de uma

    única variável são aplicáveis a sinais. Os sinais são portanto os modelos matemáticosde grandezas do mundo real.

    Alguns critérios de classificação são utilizados para explicitar propriedades úteisao estudo dos sinais.

    Critério 1.1.  Tempo cont́ınuo X Tempo discreto:

    Quando o domı́nio da função que representa um sinal for um conjunto cont́ınuo,como por exemplo o conjunto dos números reais, dizemos que o sinal é um sinal em tempo cont́ınuo. Este é o caso para todos os sinais analógicos. Funções de tempocont́ınuo tem seus valores definidos para todo e qualquer instante de tempo.

    Representaremos o tempo cont́ınuo como   t  e funções em tempo cont́ınuo comof (t). Fica impĺıcito que  t ∈ R, ou seja

    f   :  R → R2Para um tratamento abrangente sobre filtros analógicos e suas implementações ver [1] e suas

    referências.3Sistemas cujas variáveis são funções de apenas uma variável independente são descritos por

    equações diferenciais ordinárias. Estes são chamados de   sistemas a parˆ ametros concentrados .Quando há mais de uma variável independente, por exemplo, tempo e espaço, o modelo do sistemaexige que se usem equações diferenciais parciais e o sistema é dito ser de   parˆ ametros distribuı́dos 

    Introdu瘠ao a Filtragem Digital de Sinais 

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    1.2. Tipos e Classifica瘠oes de Sinais 5  

    Quando a variável independente de um sinal é elemento de um conjunto discreto,

    como por exemplo o conjunto dos números inteiros, dizemos que se trata de um sinal em tempo discreto. A função que o representa está definida apenas para os instantesdiscretos de tempo definidos pelos elementos do domı́nio discreto em questão. Ex-istem sinais que são naturalmente de tempo discreto, com por exemplo, o valor dacotação de uma ação no fechamento do pregão da bolsa de valores. Este é um indi-cador que só se define no momento do fechamento do pregão. O próximo valor, sóestará disponı́vel, no fechamento do dia seguinte. Porém, os casos que mais nos in-teressam correspondem a sinais de tempo discreto obtidos por  amostragem  de sinaisem tempo cont́ınuo. Vermos no caṕıtulo 3 que a amostragem é um dos principaispassos para a digitalização de um sinal e que existem crit́erios bem definidos para

    a escolha do intervalo de amostragem  T . Por hora, consideremos que este intervaloé dado e que desejamos obter a representação em tempo discreto para uma certafunção de tempo cont́ınuo  f (t). Neste caso, ao amostrarmos o sinal  f (t) segundoum peŕıodo de amostragem de  T  segundos, teremos as amostras dadas por

    f (nT ) =  f (t)|t=nT    (1.1)

    onde n   é um número inteiro, que chamaremos de tempo normalizado. Formalmente,seu valor é definido como a razão entre o valor de   t   e a duração do intervalo deamostragem  T   sempre que esta razão for um número inteiro.

    n =  t

      t

    T  ∈ Z

    Para finalizar o processo de amostragem, tomamos a   fun瘠ao amostrada   f (nT ) edefinimos a partir dela a  fun瘠ao de tempo discreto  f [n] segundo a relação

    f [n] = f (nT ) (1.2)

    Deste modo, convencionaremos que funções em tempo discreto têm seus argumen-tos representados por  n  e indicados entre colchetes, enquanto que funções de tempo

    contı́nuo têm argumentos representados por  t   entre parênteses4. Vale ressaltar que,apesar de funções em tempo discreto terem sua variável   independente  no conjuntodos números inteiros, a variável  dependente , ou seja, o valor da função, pode variarcontinuamente ao longo de todo o conjunto dos números reais. Representando sim-bolicamente:

    f   :  Z → R

    Critério 1.2.   Sinais Determińısticos X Sinais Estocásticos:

    4Esta convenção não é universal. Alguns autores a adotam, outros não.

    Felipe Borges Cunha 

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    6 INTRODUÇ ˜ AO AO ESTUDO DE SINAIS E SISTEMAS LINEARES 

    Um sinal determińıstico é aquele cuja função que o descreve assume uma forma

    matemática bem definida e que para cada valor da variável independente tal funçãoassocia um valor bem definido da variável dependente.

    Um sinal estocástico, ao contrário, só pode ser representado por suas estat́ısticas,tais como média, variância, momentos de ordem superior, distribui̧cões de probabili-dades. A função que o descreve não pode ser matematicamente explicitada. Apenasseus parâmetros estatı́sticos são conhecidos. A maioria dos rúıdos enquadram-senesta categoria.

    Critério 1.3.  Sinais Pares X Sinais  Ímpares:Sinais pares são descritos por funções pares, ou seja, possuem a seguinte pro-

    priedade: f (t) = f (−t) (1.3)Sinais ı́mpares, por sua vez, são aqueles descritos por funções ı́mpares, possuindo

    a seguinte propriedade:f (t) = −f (−t) (1.4)

    Exercı́cio 1.1.  Mostre que todo sinal pode ser representado pela soma de duascomponentes. Uma dada por um sinal par e outra dada por um sinal ı́mpar. Esteresultado também é válido para sinais em tempo discreto? Justifique.

    Critério 1.4.   Sinais Periódicos X Sinais Não Periódicos

    Um sinal periódico  f (t) é aquele para o qual existe um valor da constante T   quesatisfaz a condição

    f (t) = f (t + T ) (1.5)

    para todo  t. O menor valor de  T  que atende a essa condição é chamado de  peŕıodo fundamental . Qualquer múltiplo inteiro do perı́odo fundamental, também é umperı́odo do sinal  f (t). O inverso do peŕıodo fundamental é chamado de freqüênciafundamental.

    f 0  =  1

    T   (1.6)

    Define-se também a freqüência angular fundamental, dada por

    ω0 = 2πf 0 = 2π

    T   (1.7)

    Exercı́cio 1.2.  Sendo  j   a unidade imaginária e sendo  ω0   e Ω0   números reais, de-termine sob que condição o sinal em tempo cont́ınuo f (t) = e jω0t é períodico e sobque condição o sinal em tempo discreto  f [n] = e jΩ0n é periódico.

    Critério 1.5.  Sinais de Energia X Sinais de PotênciaDefinimos de forma abstrata os conceitos de energia e potência de um sinal por

    analogia com circuitos elétricos. Se um certo sinal f (t) representar uma fonte de

    Introdu瘠ao a Filtragem Digital de Sinais 

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    1.3. Sistemas lineares e o princı́pio da superposi瘠ao 7 

    tensão que alimenta um resistor de 1, 0Ω, a potência instantânea dissipada no resistor

    vale p(t) = f 2(t) (1.8)

    Esta é então a definição de potência instantânea de um sinal5. A energia do sinalentre os instantes de tempo  a e  b  vale então

    E ab =

       ba

    f 2(t)dt   (1.9)

    A energia total do sinal corresponde então a

    E   = limT →∞

       T 2−T 

    2

    f 2(t)dt   (1.10)

    E sua potência média corresponde a

    P   = limT →∞

    1

       T 2

    −T 2

    f 2(t)dt   (1.11)

    Quando a energia total de um sinal é finita, ou seja 0 < E < ∞, dizemos tratar-se de um   sinal de energia . Para sinais de energia, a potência média   P   definidaem (1.11) tende a zero. Quando a potência média de um sinal é finita, ou seja

    0  < P

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    8 INTRODUÇ ˜ AO AO ESTUDO DE SINAIS E SISTEMAS LINEARES 

    relações que governam a dinâmica do processo, ou seja, a forma com a variação de

    uma variável interfere, ao longo do tempo, nas variações das outras variáveis.Modelos para uso em controle de processos são, em geral, modelos dinâmicos.

    Os modelos dinâmicos são estruturas matemáticas que relacionam as variáveis deentrada com as variáveis de sáıda de um processo. Variáveis de entrada são todosos sinais cujas causas são externas ao processo e que influenciam na sua operação;geralmente simbolizadas como   u(t) ou   u[n], conforme trate-se de um modelo emtempo cont́ınuo ou em tempo discreto. Variáveis de sáıda são sinais gerados peloprocesso e podem ser acessados externamente, inclusive influenciando na operaçãode outros processos. Geralmente, os sinais de sáıda são simbolizadas por   y(t) ouy[n] para tempo cont́ınuo e discreto respectivamente.

    Muitos processos reais são multivariáveis, ou seja, possuem múltiplas entradas emúltiplas sáıdas, também chamados MIMO (Multiple Input Multiple Output ). Demodo geral, cada sáıda pode sofrer influência de todas as entradas. Processos maissimples, com apenas um sinal de entrada e um sinal de sáıda, são chamados mono-variáveis, ou SISO (Single Input Single Output ). Nos concentraremos em sistemasmonovariáveis neste curso.

    Figura 1.2: Representação simbólica de um sistema na forma de diagrama de bloco,relacionando a entrada com a sáıda.

    A descrição matemática de um modelo dinâmico em tempo cont́ınuo para umprocesso monovariável pode ser expressa na forma de uma equação diferencial dotipo:

    dny(t)

    dtn  , . . . ,

     dy(t)

    dt  , y(t),

      dmu(t)

    dtm  , . . . ,

     du(t)

    dt  , u(t)

    = 0 (1.12)

    Quando se trata de um modelo em tempo discreto a sua descrição matemática podeser dada por uma equação a diferenças com a seguinte forma geral:

    y[n], y[n − 1], . . . , y[n − N ], u[n], u[n − 1], . . . , u[n − M ] = 0 (1.13)Tanto as equações diferenciais quanto as equações a diferenças expressam as relaçõesdinâmicas entre as variáveis dos modelos, motivo pelo qual tais modelos são chamamosde  sistemas dinˆ amicos .

    Descrições matemáticas que relacionam diretamente as entradas com as sáıdasdos sistemas são modelos do tipo  externo, também chamados de modelos  entrada-sáıda . A equação (1.12) é um exemplo deste tipo de modelo. Além das entradas e

    Introdu瘠ao a Filtragem Digital de Sinais 

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    1.3. Sistemas lineares e o princı́pio da superposi瘠ao 9 

    sáıdas, os sistemas possuem também variáveis internas, conhecidas como vari´ aveis de 

    estado, simbolizadas por  x(t), que, de maneira geral, podem não estar dispońıveispara medição. Modelos matemáticos que, além das entradas e sáıdas, descrevemtambém o comportamento das variáveis de estado são chamados modelos  internos ,ou modelos em  espaço de estados . Modelos em espaço de estados são sempre rep-resentados por um sistema de equações diferenciais de primeira ordem que define aequa瘠ao de estados 6 e um sistema de equações algébricas que define a  equa瘠ao das sáıdas , conforme a equação (1.15)

    ẋ1(t) = F 1(x1, x2, . . . , xn, u1, u2, . . . , u p)ẋ2(t) = F 2(x1, x2, . . . , xn, u1, u2, . . . , u p)...ẋn(t) = F n(x1, x2, . . . , xn, u1, u2, . . . , u p)

    y1(t) = G1(x1, x2, . . . , xn, u1, u2, . . . , u p)y2(t) = G2(x1, x2, . . . , xn, u1, u2, . . . , u p)...yq(t) = Gq(x1, x2, . . . , xn, u1, u2, . . . , u p)

    (1.14)

    A este conjunto de equações, dá-se o nome de modelo em espaço de estados, quecostuma ser simplificado adotando-se a notação vetorial

    ẋ(t) = F (x(t), u(t))

    y(t) = G(x(t), u(t))(1.15)

    O primeiro paradigma no estudo de sistemas dinâmicos são os chamados   sis-temas lineares . Dizemos que um sistema é linear se a ele se aplica o prinćıpio dasuperposição. De modo simplificado, o prinćıpio da superposição estabelece que umsistema é linear se, e somente se, a resposta do sistema a uma combinação linear desinais de entrada é também uma combinação linear dos sinais de sáıda, ponderadapelos mesmos coeficientes. Simbolicamente:

    u1(t) → y1(t)u2(t) → y2(t)

    ...uN (t) → yn(t)

    ⇔N i=1

    αiui(t) →N i=1

    αiyi(t) (1.16)

    Esta propriedade é muito importante e útil na teoria de sistemas. Se conhecermospreviamente as respostas do sistema a um certo conjunto de sinais básicos   ui(t),

    6O śımbolo ẋ  representa a primeira derivada de   x   em relação ao tempo, e é conhecida comonotação de Newton, enquanto que o śımbolo  dx/dt  corresponde à notação de Leibniz.

    Felipe Borges Cunha 

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    10 INTRODUÇ ˜ AO AO ESTUDO DE SINAIS E SISTEMAS LINEARES 

    i  = 1, 2, . . . , N  , podemos calcular a resposta do sistema a qualquer outra entrada

    que possa ser decomposta em uma combinação linear dos N  sinais ui(t). Levando emconta que o conjunto de todas as funções constitui um espaço vetorial de dimensãoinfinita, se o conjunto de sinais {ui(t)}   formar uma base do espaço de funções,qualquer função poderá ser expressa como combinação linear dos elementos destabase. Essa é uma das idéias que formam o fundamento da teoria de sistema lineares.

    Um sistema pode ser também invariante no tempo. Isso significa que um mesmosinal de entrada aplicado ao sistema em instantes diferentes, produzirá o mesmosinal de sáıda deslocado no tempo. Simbolicamente:

    u(t)

    →y(t)

      ⇒  u(t

    −t0)

    →y(t

    −t0) (1.17)

    1.3.2 Modelos de convolução

    Considere um sistema liner e invariante no tempo denotado por  H. Definimos afunção   h(t) como sendo a resposta do sistema H   a uma excitação na forma deimpulso unit´ ario. A função impulso unitário em tempo cont́ınuo é definida por suaspropriedades dadas por

    δ (t) =   0, t = 0   (1.18)e      ∞

    −∞

    δ (t)dt = 1 (1.19)

    Esta segunda propriedade da função impulso unitário estabelece que a área sobseu gráfico é unitária. Como conseqüência das duas propriedades dadas por (1.18)e (1.19), pode-se mostrar que o valor de  δ (t) para  t = 0 tende a infinito7.

    A área sob o gráfico da função impulso também é chamada de  peso  ou  força  doimpulso. Quando multiplicado por uma constante  C , o impulso  Cδ (t) passa a terpeso  C . Outra propriedade importante é a propriedade de  amostragem ,  sele瘠ao  oupeneiramento, a qual afirma que

       ∞−∞

    f (t)δ (t − t0)dt =  f (t0).   (1.20)

    Exercı́cio 1.3.   Demonstre a propriedade da função impulso unitário dada por(1.20).

    7A função impulso unitário, também conhecida como   fun瘠ao “delta” de Dirac , faz parte dafamı́lia das chamadas   fun瘠oes singulares . A função   δ (t) pode ser modelada por um processo delimite aplicado a pulsos de área unitária de diferentes formas. Sua definição rigorosa depende dateoria das fun瘠oes generalizadas , ou   teoria das distribui瘠oes . Para uma abordagem mais profundasobre este tema ver [2, 3, 4] e as referências citadas nestes.

    Introdu瘠ao a Filtragem Digital de Sinais 

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    1.3. Sistemas lineares e o princı́pio da superposi瘠ao 11

    Em tempo discreto a função impulso unitário é definida por

    δ [n] =

      0, n = 01, n = 0

      (1.21)

    Figura 1.3: Funções impulso unitário em tempo cont́ınuo e em tempo discreto.

    Exercı́cio 1.4.   O impulso em tempo discreto também possui a propriedade deamostragem. Obtenha a expressão matemática que define esta propriedade a partirde uma analogia com o caso em tempo cont́ınuo dado por (1.20).

    Se um sistema for ao mesmo tempo linear e invariante no tempo, é posśıvelmostrar que sua sáıda pode ser calculada diretamente a partir da entrada pelaexpressão

    y(t) =   ∞

    −∞

    h(t − τ )u(τ )dτ    (1.22)

    que é conhecida como integral de convolu瘠ao e se denota de forma simplificada comoy(t) = h(t) ∗ u(t) . Se o sistema for em tempo discreto, sua sáıda é dada por

    y[n] =∞

    k=−∞

    h[n − k]u[k] (1.23)

    que é a soma de convolução, denotada de forma resumida por  y[n] = h[n] ∗ u[n]. Ademonstração destes resultados pode ser encontrada em [5, 6, 7].

    Exerćıcio 1.5.  Mostre que a convolução é uma operação que possui as propriedadescomutativa, distributiva e associativa.

    Exerćıcio 1.6.  Mostre que a convolução de uma função f (t) com um impulso deslo-cado de   t0  segundos, dado por   δ (t − t0), é a função  f (t) deslocada dos mesmos   t0segundos, dada por  f (t − t0).

    As funções  h(t) e  h[n] são, na verdade, modelos dos sistemas, no sentido de quecontém informação sobre a sua dinâmica. De acordo com sua definição,   h(t) é a

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    12 INTRODUÇ ˜ AO AO ESTUDO DE SINAIS E SISTEMAS LINEARES 

    resposta do sistema a um impulso unitário que ocorre no instante   t  = 0. Isso nos

    leva a uma importante constatação. Se o impulso ocorre em   t  = 0 a resposta dosistema ao impulso só deve existir para  t ≥ 0. Caso contrário, se o sistema exibissevalores da sáıda não nulos para t

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    1.3. Sistemas lineares e o princı́pio da superposi瘠ao 13  

    podemos entender o sistema dinâmico linear

     H como um operador linear no espaço

    das funções, do mesmo modo como as matrizes quadradas são operadores lineares nosespaços vetoriais. Partindo desta analogia, podemos estender aos sistemas dinâmicoslineares os conceitos de autovalores e autovetores.

    Consideremos um sistema linear invariante no tempo representado pelo operadorH{·} excitado pela função

    u(t) = est (1.29)

    onde  s  é uma constante independente de  t, e calculemos a resposta  y(t).

    y(t) = H{est} =    ∞

    −∞

    h(t − τ )esτ dτ    (1.30)

    Efetuando a mudança de variáveis γ  = t − τ  ficamos com

    y(t) =

       ∞−∞

    h(γ )es(t−γ )dγ    (1.31)

    y(t) = est   ∞−∞

    h(γ )e−sγ dγ    (1.32)

    A integral no segundo membro de (1.32), após efetuada a integração e avaliados oslimites, torna-se independente da variável de integração γ , e seu valor dependerá doparâmetro  s. O valor da integral é então uma função do parâmetro  s. Denotando-a

    por  H (s), ficamos com:y(t) = est · H (s) (1.33)

    Reconhecendo o fator  est como a própria função de entrada  u(t) dada inicialmente,percebemos que, para um sistema linear, a resposta  y(t) a uma entrada  u(t) = est éa própria entrada multiplicada por um fator  H (s) que independe de  t. Ou seja:

    y(t) = H (s) · u(t) (1.34)Dito de outra forma, a sáıda é um múltiplo da entrada, e o fator de proporcionali-dade é uma constante  H (s). Analogamente ao autovetor de uma matriz, a função

    est

    é uma autofunção dos sistemas lineares invariantes no tempo. O autovalor cor-respondente é o fator  H (s), que de acordo com (1.32) é dado por

    H (s) =

       ∞−∞

    h(t)e−stdt   (1.35)

    que pode ser reconhecida como a transformada bilateral de Laplace de  h(t). Se osistema for causal, (1.35) se reduz a transformada unilateral de Laplace

    H (s) =

       ∞0

    h(t)e−stdt   (1.36)

    Felipe Borges Cunha 

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    14 INTRODUÇ ˜ AO AO ESTUDO DE SINAIS E SISTEMAS LINEARES 

    Esse fator constante H (s), quando encarado como uma função da variável complexa

    s  é chamado de  fun瘠ao de transferência  do sistema.Assim como a função de resposta ao impulso   h(t), a função de transferência

    H (s) também é um modelo matemático do sistema. Como   H (s) é transformadade Laplace de  h(t), ambas as representações contém a mesma informação. Dizemosque  h(t) é um modelo no domı́nio do tempo e  H (s) é um modelo no domı́nio da freq¨ uência complexa , pois o parâmetro  s  é uma variável complexa com dimensão defreqüência.

    Exerćıcio 1.7.  Mostre que a função u[n] = z n, em que z   é uma constante complexa,é autofunção dos sistemas lineares invariantes no tempo em tempo discreto, ou seja:

    u[n] = z n ⇒   y[n] = H (z ) · z n (1.37)onde

    H (z ) = Z {u[n]} =∞

    n=−∞

    h[n] · z −k (1.38)

    é a transformada Z   de  h[n].A função  H (z ) dada por 1.38 tem, para sistemas em tempo discreto, o mesmo

    significado que H (s) para sistemas em tempo cont́ınuo. Também ela recebe o nomede função de transferência, às vezes chamada de fun瘠ao de transferência pulsada   [8].

    A transformada Z  portanto, é o equivalente em tempo discreto da transformada deLaplace. Do mesmo modo que a transformada de Laplace, a transformada Z   estásujeita a questões relacionadas com a convergência do somatório que a define, bemcomo a questões relativas à unicidade da transformada inversa. Não aprofundaremosaqui essas questões. Para uma discussão mais profunda sobre existência e unicidadeda transformada de Laplace e da transformada Z  ver [5, 6, 4].

    Assim como a transformada de Laplace, a transformada Z   tem sua versão uni-lateral para sinais causais.

    H (z ) = Z {u[n]} =∞

    n=0

    h[n] · z −k (1.39)

    Exercı́cio 1.8.  Mostre que, se  U (z ) é a transformada Z  de  u[n], entãoZ {u[n − k]} = z −k · U (z ) (1.40)

    Equações diferenciais, equações a diferenças e função de transferência emZ

    Partindo da hipótese da linearidade e invariância no tempo, chegamos aos modelos desistemas em tempo cont́ınuo e em tempo discreto dados pelas respostas aos impulsos

    Introdu瘠ao a Filtragem Digital de Sinais 

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    1.3. Sistemas lineares e o princı́pio da superposi瘠ao 15  

    h(t) e  h[n] e pelas funções de transferência  H (s) e  H (z ) respectivamente. Porém,

    na prática, tais funções não estão dispońıveis. O modelo ao qual se tem acesso é, namelhor das hipóteses, uma equação diferencial na forma (1.12). Quando o sistemaé linear e invariante no tempo, esta equação se resume a uma equação diferenciallinear de coeficientes constantes dada por

    andny(t)

    dtn  + . . . + a1

    dy(t)

    dt  + a0y(t) = bm

    dmu(t)

    dtm  + . . . + b1

    du(t)

    dt  + b0u(t) (1.41)

    Se além de linear e invariante no tempo, o sistema for causal, teremos que  m ≤ n.A equação diferencial (1.41) fornece um modelo impĺıcito do processo, no sentidode que a relação entre a entrada  u(t) e a saı́da  y(t) é dada de forma indireta pelas

    relações entre suas derivadas. Para obtermos a sáıda  y(t) para uma dada entrada,precisamos resolver a equação diferencial. O método da convolução já fornece umaforma explı́cita para a sáıda em função da entrada, porém, é necessário conhecer aresposta ao impulso unitário h(t). Para se obter  h(t), recaı́mos novamente na neces-sidade de se resolver a equação diferencial (veremos um exemplo disso na Seção 2.5,Exemplo 2.5). Isto sugere que a informação contida em  h(t) é a mesma contida naequação diferencial. Para confirmarmos esta afirmação, apliquemos a transformadade laplace à equação (1.41) considerando todas as condições iniciais nulas.

    Landny(t)

    dtn  + . . . + a1

    dy(t)

    dt  + a0y(t) = Lbm

    dmu(t)

    dtm  + . . . + b1

    du(t)

    dt  + b0u(t)

    (1.42)

    ansnY (s) + . . . + a1sY (s) + a0Y (s) = bms

    mU (s) + . . . + b1sU (s) + b0U (s)

    (ansn + . . . + a1s + a0) Y (s) = (bms

    m + . . . + b1s + b0) U (s)

    Y (s) =  bms

    m + . . . + b1s + b0ansn + . . . + a1s + a0

    · U (s) = H (s) · U (s)

    H (s) =   bmsm + . . . + b1s + b0

    ansn + . . . + a1s + a0(1.43)

    A equação (1.43) define a mesma função de transferência dada por (1.36) con-siderando condições iniciais nulas. Deste modo, tanto a equação diferencial, quantoa resposta ao impulso, quanto a função de transferência são modelos válidos dosistema e contém as mesmas informações sobre sua dinâmica8.

    8Estamos considerando implicitamente que o sistema está inicialmente relaxado, ou seja, suascondições iniciais são nulas. Caso esta condi̧cão não esteja atendida os três modelos não sãonecessariamente equivalentes [7].

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    16 INTRODUÇ ˜ AO AO ESTUDO DE SINAIS E SISTEMAS LINEARES 

    Como vimos, a aplicação da transformada de Laplace à derivada de ordem  k  da

    função  y(t) considerando condições iniciais nulas, leva a

    L

    dky(t)

    dtk

    = skY (s).

    Portanto, podemos dizer que a variável  s, representa no domı́nio da freqüência, aoperação de diferenciação.

    Analisemos agora o que acontece em tempo discreto. Considere uma equaçãodiferencial de primeira ordem dada por

    y(t) =

     du(t)

    dt   (1.44)

    representando um sistema cuja sáıda é a derivada da entrada. Pela definição daderivada9

    y(t) = du(t)

    dt  = lim

    ∆t→0

    u(t + ∆t) − u(t)∆t

      (1.45)

    Vamos agora discretizar10 este sistema a um intervalo de amostragem   T . Temosentão que o menor ∆t  posśıvel é ∆t =  T . Portanto, ficamos com a seguinte aprox-imação da derivada:

    y(nT ) =

      du(t)

    dtt=nT 

     u(nT  + T )

    −u(nT )

    T    (1.46)

    Transformando agora para o tempo normalizado  n segundo (1.2) teremos

    y[n] =  1

    T   (u[n + 1] − u[n]) (1.47)

    Tomando a transformada Z  de (1.47) temos

    Y (z ) =  1

     ∞

    n=0 u[n + 1]z −n − U (z )

    Fazendo a mudança de variáveis k =  n + 1

    Y (z ) =  1

     ∞k=1

    u[k]z −(k−1) − U (z )

    9Na verdade, esta é a definição da derivada lateral pela direita. Para que a derivada de umafunção exista no ponto  t   é necessário que as derivadas laterais à esquerda e à direita existam e sejaiguais.

    10Detalhes da teoria da amostragem serão vistos no Caṕıtulo 3

    Introdu瘠ao a Filtragem Digital de Sinais 

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    1.3. Sistemas lineares e o princı́pio da superposi瘠ao 17  

    Y (z ) =  1

    ∞k=1

    u[k]z −k − U (z )

    Quando  k  = 1,  n  = 0, logo o primeiro termo do somatório é o valor de  u[n] paran   = 0. Supondo que  u[n] é um sinal causal, ou seja,   u[n] = 0 para todo   n <   0,podemos acrescentar ao somatório o termo nulo   u[n] para   n   = −1 sem alterar oresultado do somatório. Mas para  n  = −1 temos que k  = 0, logo, basta substituir olimite inferior do somatório, que agora fica

    Y (z ) =  1

    T z 

    k=0

    u[k]z −k

    −U (z )

    Reconhecendo este somatório como a transformada Z   de  u[k], temos

    Y (z ) =  1

    T   (zU (z ) − U (z )) (1.48)

    Comparando (1.48) com (1.47) podemos perceber que o produto pela variável   z no domı́nio da freqüência, corresponde ao avanço de uma unidade no domı́nio dotempo. Percebe-se também que, a aproximação da derivada dada por (1.46) é umsistema não causal, pois em (1.47), o valor de   y[n] depende de um valor futurou[n + 1]. Comparando este resultado com a equação (1.40) obtida no Exerćıcio 1.8,

    vemos que o produto pela variável z −1 equivale a uma operação de atraso unitáriono tempo discreto.

    Exercı́cio 1.9.  Obtenha a versão em tempo discreto da equação (1.45) utilizandopara aproximar a derivada a expressão de definição da derivada lateral esquerda.Compare o resultado obtido com a equação (1.48).

    Resposta:

    y[n] =  1

    T   (u[n] − u[n − 1])   ←Z −→   Y (z ) =   1

    U (z ) − z −1U (z )   (1.49)

    De modo geral, podemos aproximar qualquer equação diferencial para uma ex-pressão equivalente em tempo discreto usando o procedimento do Exerćıcio 1.9.A equação resultante envolve sempre versões deslocadas no tempo dos sinais  y[n]e  u[n]. Tais equações são denominadas  equa瘠oes a diferenças   e são o equivalenteem tempo discreto das equações diferenciais. O procedimento descrito aqui con-siste na obtenção de uma aproximação numérica da equação diferencial por umaequação a diferenças. Existem formas de se obter a equação a diferenças equiva-lente a uma dada equação diferencial de forma anaĺıtica sem a necessidade de serecorrer a aproximações. O procedimento para isto requer o conhecimento da teo-ria de sistemas lineares em espaço de estados e pode ser encontrado nas referências

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    18 INTRODUÇ ˜ AO AO ESTUDO DE SINAIS E SISTEMAS LINEARES 

    [7, 9, 10]. Outras formas de discretização por aproximação também são posśıveis.

    As diferenças residem essencialmente na expressão usada para aproximar em termosdiscretos a operação cont́ınua da derivada. Algumas das abordagens mais usadaspodem ser encontradas em [11]

    Não abordaremos aqui as técnicas para resolução de equações a diferenças11.Apenas precisamos conhecê-las para usá-las mais adiante, no Caṕıtulo 4 no desen-volvimento de algoritmos de implementação de filtros digitais. Para tanto, bastaentendermos a relação entre o atraso no domı́nio do tempo e o produto por  z −1 nodomı́nio da freqüência dada por (1.40).

    Exemplo 1.1.   Considere um sistema em tempo cont́ınuo inicialmente relaxado

    descrito pela seguinte equação

    y(t) = c1 · u(t) + c2 ·   t−∞

    u(τ )dτ    (1.50)

    onde  u(t) é um sinal causal. Obtenha um modelo discretizado deste sistema comperı́odo de amostragem T  e encontre sua função de transferência no domı́nio Z .

    Como o sistema está inicialmente relaxado, podemos efetuar a derivada daequação (1.50) sem perda de informação. Logo

    dy(t)

    dt

      = c1· du(t)

    dt

      + c2·

    u(t) (1.51)

    Discretizando esta equação pela aproximação da derivada lateral esquerda temos

    y[n] − y[n − 1] = (c1 + T c2) · u[n] − c1 · u[n − 1] (1.52)

    Note que esta é uma equação a diferenças que expressa o valor de  y[n] em funçãode seu valor anterior e da entrada atual e anterior. Em outras palavras,  y[n] nãodepende de valores futuros, e portanto, o sistema é causal. Efetuando a transformadaZ  em (1.52) teremos

    1 − z −1 · Y (z ) = (c1 + T c2) − c1z 

    −1 · U (z ) (1.53)Y (z )

    U (z ) = H (z ) =

     (c1 + T c2) − c1z −11 − z −1   (1.54)

    A equação (1.50) pode ser identificada como a expressão no domı́nio do tempode um controlador PI, e a eq. (1.54) corresponde a sua função de transferênciadigitalizada.

    11Para uma introdução aos métodos de solução de equações a diferenças veja [12]

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    Caṕıtulo 2

    Representações de Fourier e

    análise espectral

    Este capı́tulo é um resumo das técnicas de análise de Fourier em tempo cont́ınuoe em tempo discreto. Filtros de sinais, sejam eles anaĺogicos ou digitais, operamno domı́nio da freqüência. O que um filtro efetivamente “filtra”, ou seleciona, sãoas faixas de freqüência em que os sinais possuem energia, separando as faixas deinteresse, correspondentes à dinâmica do processo, daquelas faixas correspondentesàs freqüências de rúıdo. Para compreender adequadamente de que forma os filtros

    operam, é necessário, portanto, conhecer os métodos de análise de sinais e sistemasno domı́nio da freqüência. Tais métodos são fundamentados na análise de Fourier.As seções de 2.1 a 2.4 apresentam um resumo do formalismo matemático das técnicasde análise de Fourier. Aqueles que já dominam tais técnicas podem se limitar a fazeruma leitura diagonal e passar à seção 2.5, onde técnicas de Fourier são usadas naanálise da resposta em freqüência de sistemas lineares.

    2.1 Série de Fourier em tempo cont́ınuo

    Considere novamente a função (1.29). Se desejarmos avaliar as respostas do sis-

    tema a entradas senoidais de diferentes freqüências basta fazer com que o númerocomplexo   s   =   σ  + j ω   seja puramente imaginário impondo   s   =   jω . Chamamoseste procedimento de análise da  resposta em freq¨ ûencia   em   regime permanente . Aequação (1.31) torna-se então

    y(t) =

       ∞−∞

    h(τ )e jω(t−τ )dτ    (2.1)

    Dáı resulta que

    y(t) = e jωt   ∞−∞

    h(τ )e− jωτ dτ    (2.2)

    19

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    20 REPRESENTAÇ ˜ OES DE FOURIER E AN ́ALISE ESPECTRAL

    A integral da equação (2.2) corresponde à transformada de Fourier da função h(t) e

    podemos representá-la por

    H ( jω) =

       ∞−∞

    h(τ )e− jωτ dτ.   (2.3)

    Deste modo temosy(t) = H ( jω) · e jωt .   (2.4)

    Sendo assim, exponenciais com argumento puramente imaginário, também são aut-ofunções de sistemas lineares invariantes no tempo1 e o autovalor  H ( jω) é a funçãode transferência em regime permanente dada pela transformada de Fourier de  h(t).

    Funções do tipo  e jωt

    assumem valores complexos, pois

    e jωt = cos(ωt) + jsen(ωt)

    onde o parâmetro  ω  desempenha o papel de freqüência angular. No mundo real ossinais são funções de valor real. Isso significa que, para tratar sinais reais usandoa teoria das autofunções, precisamos sempre nos valer dos pares complexos conju-gados e jω e  e− jω . Neste sentido, para exponenciais complexas, existe o conceito defreqüência negativa, uma vez que

    e− jωt = cos(

    −ωt) + jsen(

    −ωt)

    Como cosseno é uma função par e seno é uma função ı́mpar, temos

    e− jωt = cos(ωt) − jsen(ωt)

    Desta forma, as exponenciais com freqüência negativa anulam as partes imagináriasdas exponenciais de freqüência positiva.

    Para tirarmos proveito do princı́pio da superposição, devemos procurar formasde representar os sinais de entrada como combinação linear de autofunções. Destemodo, o cálculo da sáıda se resume à mesma combinação linear das autofunçõesponderadas pelos seus respectivos autovalores.

    Analisaremos primeiro sinais de entrada representados por funções periódicas detempo cont́ınuo. Já sabemos que funções periódicas atendem a condição (1.5) comperı́odo fundamental   T   e freqüência fundamental   ω0   = 2π/T . Toda função cujafreqüência é  kω0, ou seja, um múltiplo inteiro de  ω0, também possui perı́odo  T   =2π/ω0  que atende à equação (1.5). Portanto, qualquer combinação linear de funçõesperiódicas cujas freqüências sejam múltiplos inteiros de ω0  serão também periódicase com peŕıodo  T 2. Se tomarmos então uma combinação linear de autofunções na

    1Compare com a expressão (1.34).2A demonstração deste resultado é deixada como exercı́cio.

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    2.1. Série de Fourier em tempo cont́ınuo 21

    forma   e jkω0t teremos um sinal periódico de perı́odo   T   = 2π/ω0. Tal combinação

    linear pode ser expressa como

    f (t) =k

    F [k]e jkω0t (2.5)

    onde cada  F [k] é o coeficiente da componente de freqüência  kω0, também chamadade  harmˆ onico  de ordem  k. Conforme já discutimos, a cada freqüência, associamossua freqüência simétrica para tornar o resultado do somatório em (2.5) um valorreal. Deste modo, o ı́ndice  k  do somatório tem que variar entre valores simétricos.Como o espaço das funções tem dimensão infinita, os limites do somatório em (2.5)

    têm que ser infinitos para que possamos representar o maior número posśıvel defunções periódicas. Logo

    f (t) =∞

    k=−∞

    F [k]e jkω0t (2.6)

    A equação (2.6) é conhecida como a expansão em série exponencial de Fourierda função  f (t). Para determinar os coeficientes  F [k], basta multiplicar a equação(2.6) por  e jmω0 e integrar sobre um peŕıodo3. Devido ao fato de que componentesharmônicas de freqüências distintas são funções ortogonais, todos os termos no ladodireito da equação se anularão exceto um. Este único termo que sobra é justamentea componente harmônica de ordem  k =  m. Resulta então que:

    F [k] =  1

     T 

    f (t)e− jkω0tdt   (2.7)

    O sı́mbolo T    significa que a integral é avaliada em qualquer intervalo de larguraT .

    A equação (2.6) é chamada  equa瘠ao de śıntese  da série de Fourier enquanto que(2.7) é chamada  equa瘠ao de an´ alise  da série de Fourier. O conjunto dos coeficientesF [k] para cada valor de  k  pode ser entendido como uma função discreta da variávelk, que é a ordem do harmônico de freqüência  ωk  = kω0. A variável discreta  k  pode

    então ser interpretada como uma freqüência normalizada, pois  k  =  ωk/ω0. A funçãocomplexa  F [k] possui a seguinte propriedade4:

    F ∗[k] = F [−k] (2.8)3A convergência da série de Fourier de uma função  f (t) se aplica apenas aos pontos onde  f (t)

    é contı́nua. Nas descontinuidades de  f (t), sua série de Fourier converge para a média aritméticados limites laterais da descontinuidade. Além disso, a convergência da série de Fourier tem comocondição suficiente o atendimento às condições de Dirichlet. Maiores detalhes em [3] e [12]

    4Esta propriedade só se verifica quando a imagem da função  f (t) está contida no conjunto dosnúmeros reais, ou seja,  f   é uma função real da variável  t.

    Felipe Borges Cunha 

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    22 REPRESENTAÇ ˜ OES DE FOURIER E AN ́ALISE ESPECTRAL

    onde o śımbolo

     ∗  significa o complexo conjugado. O módulo do complexo  F [k] é

    conhecido como espectro de magnitude  do sinal f (t) enquanto que o ângulo de  F [k]é chamado de  espectro de fase   de  f (t).

    Exercı́cio 2.1.  Demonstre a propriedade (2.8) e mostre que a parte real de  F [k] éuma função par e a parte imaginária de  F [k] é uma função ı́mpar. Mostre tambémque a magnitude de  F [k] é uma função par e a fase de  F [k] é uma função ı́mpar.

    Exemplo 2.1.  Obtenha os espectros de magnitude e fase do sinal peri ódico dadopor

    f (t) =   A, t0 + nT < t < t0 + τ  + nT 0, t0 + τ  + nT < t < t0 + (n + 1) T 

      (2.9)

    Em primeiro lugar, devemos reconhecer que este é um sinal periódico. Traçandoo seu gráfico, obtemos a figura 2.1. Este sinal é conhecido como  porta peri´ odica .

    Figura 2.1: Gráfico da função  porta peri´ odica .

    Substituindo o valor de  f (t) na equação de análise, obtemos

    F [k] =  1

       t0+τ t0

    Ae− jkω0tdt   (2.10)

    que integrando fica

    F [k] =  A

    T   ·

      1

    − jkω0e− j kω0t

    t0+τ 

    t0

    e após substituir os limites de integração

    F [k] = A

    T   ·   1− jkω0

    e− j kω0(t0+τ ) − e− j kω0t0

    Desmembrando o   τ   do expoente da primeira exponencial em 2 · τ /2 e somando esubtraindo  τ /2 do expoente da segunda exponencial ficamos com

    F [k] = A

    T  ·   1− jkω0

    e− jkω0(t0+

    τ 2+ τ 

    2) − e− jkω0(t0+ τ 2− τ 2 )

    Introdu瘠ao a Filtragem Digital de Sinais 

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    2.1. Série de Fourier em tempo cont́ınuo 23 

    Após alguma manipulação algébrica

    F  [k] = A

    T   ·   2

    kω0

    e j kω0

    τ 2 − e− j kω0 τ 2

    2 j

    e− j kω0(t0+

    τ 2 )

    Reconhecendo a função entre parênteses como a forma de Euler do seno e arrumandoos termos, ficamos com

    F [k] = Aτ 

    T  ·

    sen

    kω0τ 2

    kω0

    τ 2

    · e− jkω0(t0+ τ 2 ) (2.11)

    Calculando o módulo desta expressão obtemos

    |F [k]| =A τ 

    · sen

    kω0 τ 2

    kω0τ 2

    (2.12)e para a fase temos

    /F [k] = −kω0

    t0 + τ 

    2

      (2.13)

    Trançando os gráficos de magnitude e fase em função de  k, temos a figura 2.2.Essas representações gráficas da magnitude e fase da função  F [k] são chamadas

    de  espectros . Essa denominação se justifica se lembrarmos que a variável indepen-dente k  pode ser interpretada como uma freqüência normalizada. Cada componenteharmônica de ordem k  possui um coeficiente f [k] que representa quanto da potênciatotal do sinal periódico  f (t) está presente naquela componente de freqüência  kω05.O gráfico da Fig.2.2 deixa claro, para o exemplo estudado, que as componentesde freqüência mais intensas são aquelas próximas da origem, sendo a maior delasquando  k  = 0, que representa a intensidade da componente constante do sinal. Defato, o sinal representado por (2.9) possui um valor médio positivo, que corresponde justamente à intensidade da componente de freqüência nula e aumenta com a razãoćıclica  τ /T .

    Ao variarmos o valor de  τ , alteramos apenas a razão ćıclica da onda quadrada,mas não variamos o seu peŕıodo fundamental. Conseqüentemente, as distânciasentre as componentes harmônicas kω0  não mudam. Apenas a envoltória do espectro

    se modifica. Observe na Fig.2.3 como o pico de magnitude em   k  = 0 se reduz àmedida que a razão  τ /T  diminui.

    A expressão entre parênteses na equação (2.11) corresponde a uma função impor-tante na teoria de processamento de sinais e recebe um nome especial:  seno cardinal ,e é denotada por:

    Sinc(x) = sen(πx)

    πx  (2.14)

    5A equivalência entre o cálculo da potência de um sinal no domı́nio do tempo e no domı́nio dafreqüência é garantida pelo teorema de Parseval. Para maiores detalhes, ver [2].

    Felipe Borges Cunha 

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    24 REPRESENTAÇ ˜ OES DE FOURIER E AN ́ALISE ESPECTRAL

    0

    0.05

    0.1

    0.15

    0.2

           M     a     g     n       i      t     u       d     e

    −25 −20 −15 −10 −5 0 5 10 15 20 25−1000

    −500

    0

    500

    1000

    Ordem da componente harmonica (k)

           F     a     s     e

    Figura 2.2: Espectros de magnitude e fase da função porta periódica com   t0   = 0,T   = 1 e  τ  = 0, 2.

    Se a expressarmos normalizando a variável independente por um fator  π , tal funçãorecebe o nome de  fun瘠ao de amostragem  (ou função  Sample ) e é expressa como6

    Sa(x) = sen(x)

    x  (2.15)

    2.2 Série de Fourier em tempo discreto

    Funções periódicas em tempo discreto também podem ser representadas por sériede Fourier. Não demonstraremos aqui a dedução da série, pois o princı́pio funda-

    mental é o mesmo que foi usado no tempo cont́ınuo, ou seja, representar funçõesperiódicas com combinação linear das autofunções exponenciais limitando a análisea autofunções com freqüências harmônicas7.

    6A diferença na representação do seno cardinal e da função de amostragem é somente o fatorde escala  π   na variável independente.   É preciso ser cauteloso com o uso das notações Sinc(x) eSa(x), pois na literatura encontramos divergências nas suas definições. Nas referências [6] e [2],por exemplo, as definições de Sinc(x) são diferentes. Outros autores se referem a esta funçãocomo fun瘠ao de interpola瘠ao, denominação que se tornará clara no Capı́tulo 3. Na dúvida, deve-serecorrer à notação explı́cita sen(x)/x.

    7Uma dedução da série de Fourier em tempo discreto pode ser encontrada em [6]

    Introdu瘠ao a Filtragem Digital de Sinais 

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    2.2. Série de Fourier em tempo discreto 25 

    τ = 0,2 T

    τ = 0,1 T

    τ = 0,05 T

    Figura 2.3: Gráficos de F[k] para  t0 = −τ /2 e valores diferentes de  τ .

    A equação de śıntese da série de Fourier em tempo discreto de uma funçãoperiódica  f [n] com perı́odo fundamental  N  e freqüência fundamental Ω0  = 2π/N   é

    f [n] =

    k=N 

    F [n]e jkΩ0n.   (2.16)

    A equação de análise é

    F [k] =   1N 

    n=N 

    f [n]e− jkΩ0n.   (2.17)

    Note que, em tempo discreto, tanto o sinal  f [n] como seu espectro  F [k] são funçõesperiódicas das variáveis discretas n  e  k. As autofunções que servem de base para aconstrução da série são  e jkΩ0n para  N   valores consecutivos de  k.

    Exerćıcio 2.2.  Diferentemente das funções periódicas em tempo cont́ınuo, as funçõesperiódicas em tempo discreto não necessitam de infinitas componentes harmônicaspara compor sua expansão em série de Fourier (compare a eq.(2.6) com a eq.(2.16)).

    Felipe Borges Cunha 

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    26 REPRESENTAÇ ˜ OES DE FOURIER E AN ́ALISE ESPECTRAL

    Se uma dada função  f [n] é periódica com perı́odo  N , então sua expansão em série

    de Fourier necessita no máximo de  N  componentes harmônicas de freqüências. Ex-plique por quê (Sugestão: Determine a condição que a freqüência angular Ω devesatisfazer para que  e jΩn seja uma função periódica e use a eq.(3.2)).

    2.3 Transformada de Fourier em tempo cont́ınuo

    A série de Fourier, conforme vimos até agora, é uma forma de representar sinaisperiódicos como combinação linear de autofunções dos sistemas lineares invariantesno tempo. Estes sinais periódicos são sempre sinais de potência, conforme definido na

    seção 1.2. Como em tempo cont́ınuo, o espaço das funções periódicas tem dimensãoinfinita, esta combinação linear pode ter infinitos termos. Porém, cada termo possuiuma freqüência que é um múltiplo inteiro da freqüência fundamental do sinal a serrepresentado.

    A questão que se coloca agora é: Podemos representar funções não periódicas,em particular, sinais de energia na forma de combinação linear de autofunções dotipo  e jω0t? A resposta é sim.

    Inicialmente consideremos a função periódica genérica f  p(t) de peŕıodo T  mostradano gráfico da Fig.2.4 cujo espectro é dado pela equação de análise da série de Fourier.

    F [k] =

      1

    T  

      T 2

    −T 2

    f  p(t)e

    − jkω0t

    dt   (2.18)

    A função periódica  f  p(t) é recuperada através da equação de śıntese

    f  p(t) =∞

    k=−∞

    F [k]e jkω0t (2.19)

    Se fizermos o perı́odo  T  tender a infinito, no limite, a função  f  p(t) passa a sernão periódica, e a representaremos então por  f (t). Simultaneamente teremos

    T  → ∞ ⇒

      ω0 → dωkω0 → ω

      (2.20)

    Definindo  T  · F [k] = F ( jω) e multiplicando a equação de análise or  T , teremos nolimite

    F ( jω) =

       ∞−∞

    f (t)e− jωtdt   (2.21)

    Já para a equação de śıntese, multiplicando e dividindo por  ω0 = 2π/T   teremos

    f  p(t) =∞

    k=−∞

    F [k] T 

    2πe jkω0tω0   (2.22)

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    2.3. Transformada de Fourier em tempo cont́ınuo 27 

    Figura 2.4: Limite de uma função periódica com o peŕıodo tendendo a infinito.

    No limite então, o somatório se transforma numa integral, pois a variável discretakω0  se torna uma variável contı́nua  ω.

    f (t) =  1

       ∞−∞

    F ( jω)e jωtdω   (2.23)

    As equações (2.21) e (2.23) são respectivamente as equações de análise e śınteseda   transformada de Fourier em tempo cont́ınuo. Note que a (2.21) correspondeexatamente à mesma função obtida em (2.3) por outro caminho.

    Exemplo 2.2.  Calcular a transformada de Fourier do pulso quadrado dado por

    f (t) =

      1, t0 ≤ t ≤ t0 + τ 0,   caso contrário

      (2.24)

    Utilizando a equação de análise (2.21) temos

    F ( jω) =

       t0+τ t0

    1 · e− jωtdt   (2.25)

    F ( jω) = −   1 jω

     · e− jωtt0+τ 

    t0

    = −  1 jω

     · e− jω(t0+τ ) − e jωt0   (2.26)Felipe Borges Cunha 

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    28 REPRESENTAÇ ˜ OES DE FOURIER E AN ́ALISE ESPECTRAL

    −30 −20 −10 0 10 20 30

    −0.4

    −0.2

    0

    0.2

    0.4

    0.6

    0.8

    1

    1.2

    Frequencia Angularω (rad/s)

              F          (          j        ω          )

    Figura 2.5: Espectro cont́ınuo da função pulso.

    F ( jω) =

    1 − e− jωτ 

     jω

    e− jωt0 =

    e jω

    τ 2 · e− jω τ 2 − e− jω τ 2 · e− jω τ 2

     jω

    e− jωt0 (2.27)

    F ( jω) = τ 

    e jω

    τ 2 − e− jω τ 2

    2 j

    ·   1

    ω τ 2

    · e− jω(t0+ τ 2 ) (2.28)

    F ( jω) = τ sen ω

    τ 2

    ω τ 2 ·e− jω(t0+

    τ 2) (2.29)

    F ( jω) = τ  · Sa

    ωτ 

    2

    · e− jω(t0+ τ 2 ) (2.30)

    Note que o espectro F ( jω) é uma função contı́nua da freqüência e que sua magnitudedepende de uma função seno cardinal. O termo exponencial em

    t0 +

      τ 2

    só contribui

    com um ângulo de fase.Para facilitar a visualização do espectro, consideremos o caso particular em que

    t0  = − τ 2 . A figura 2.5 mostra o espectro do sinal dado por (2.24). Note que à medidaque o valor da freqüência aumenta, a intensidade de  F ( jω) tende a diminuir, porémnunca estabiliza no valor nulo, oscilando assintoticamente em torno do zero.

    Exemplo 2.3.  Transformada de Fourier de sinais periódicos:   Seja  f (t) umafunção periódica com peŕıodo  T . Qual é a sua transformada de Fourier?

    Sabemos que a série de Fourier de  f (t) é dada por

    f (t) =∞

    k=−∞

    F [k] · e jkω0t

    onde  ω0  = 2π/T . Se aplicarmos diretamente a equação de análise da transformadade Fourier à função periódica f (t), veremos que a integral não converge. Utilizaremos

    Introdu瘠ao a Filtragem Digital de Sinais 

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    2.3. Transformada de Fourier em tempo cont́ınuo 29 

    o seguinte artif́ıcio. Considere um impulso em freqüência deslocado em  kω0   dado

    por  δ (ω − kω0). Sua transformada inversa de Fourier é1

       ∞−∞

    δ (ω − kω0) · e jωtdω =   12π

       ∞−∞

    δ (ω − kω0) · e jkω0tdω

    =  1

    2πe jkω0t

       ∞−∞

    δ (ω − kω0)dω =   12π

    e jkω0t

    ou seja:

    1

    2π e jkω0t

    ←TFTC 

    −−−−→   δ (ω − kω0) (2.31)onde TFTC significa Transformada de Fourier em Tempo Cont́ınuo.

    Deste modo, cada componente de freqüência  e jkω0t possui uma transformada deFourier na forma de um impulso na freqüência  kω0. Usando a equação (2.31) paracalcular a transformada de Fourier de  f (t) teremos

    F{f (t)} =∞

    k=−∞

    F [k] · F e jkω0t

    F{f (t)} =∞

    k=−∞

    2πF [k] · δ (ω − kω0) (2.32)

    Desta forma, a transformada de Fourier, apesar de ter sido deduzida partindodo prinćıpio de que a função a ser transformada era não periódica, também podeser aplicada a funções periódicas. A equação (2.32) afirma que a transformadade Fourier de uma função periódica é uma seqüência de impulsos na freqüênciaponderados pelos coeficientes da série de Fourier correspondente e multiplicados por2π.

    Exercı́cio 2.3.  Calcule a transformada de Fourier dos seguintes sinais:

    a)   f (t) = cos (ω0t + φ).

    b)   f (t) = sen (ω0t + φ).

    c)   f (t) = e−αt,   para  t ≥ 0.

    d)   f (t) =∞

    n=−∞

    δ (t − nT ). Sugestão: use a equação (2.32).

    Felipe Borges Cunha 

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    30 REPRESENTAÇ ˜ OES DE FOURIER E AN ́ALISE ESPECTRAL

    Exercı́cio 2.4.  Mostre que a transformada de Fourier da convolução entre duasfunções é o produto das transformadas de Fourier de cada uma das funções.

    f (t) ∗ g(t) ←TFTC  −−−−→ F ( jω) · G( jω) (2.33)

    Exercı́cio 2.5.  Mostre que a transformada de Fourier do produto duas funções é aconvolução das transformadas de Fourier de cada uma das funções.

    f (t) · g(t) ←TF −−→   12π

      F ( jω) ∗ G( jω) (2.34)

    2.4 Transformada de Fourier em tempo discreto

    Usando o mesmo racioćınio que conduziu à dedução da transformada de Fourier emtempo cont́ınuo a partir da série de Fourier em tempo cont́ınuo, podemos estabelecera transformada de Fourier em tempo discreto a partir da série de Fourier em tempodiscreto. Esta nova transformada permite então expressar funções não periódicasem tempo discreto por combinação linear de autofunções dadas por  e jΩn, em que Ωé uma variável cont́ınua.

    As equações de śıntese e análise da transformada de Fourier em tempo discretosão respectivamente

    f [n] =  1

     2π

    e jΩ · e jΩndΩ (2.35)

    e jΩ

    =∞

    n=−∞

    f [n] · e− jΩn (2.36)

    A dedução da transformada de Fourier em tempo discreto a partir da série de Fourierem tempo discreto é deixada como exerćıcio para o leitor.

    Note que, apesar do sinal  f [n] ser uma função discreta do tempo, seu espectro

    e jΩ

      é uma função cont́ınua da freqüência. Além disso, enquanto   f [n] é umafunção não periódica do tempo, seu espectro   F 

    e jΩ

      é uma função periódica dafreqüência e seu perı́odo é sempre 2π.

    Exemplo 2.4.  Considere o pulso exponencial decrescente dado por

    f [n] =

      αn, n ≥ 00, n

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    2.4. Transformada de Fourier em tempo discreto 31

    −2 0 2 4 6 8 10Tempo discreto normalizado (n)

            f        [      n        ]

    Figura 2.6: Pulso exponencial decrescente em tempo discreto.

    Calcule a transformada de Fourier do sinal  f [n] e trace os gráficos de magnitudee fase do espectro de  f [n].

    e jΩ

    =∞

    n=0

    αn · e− jΩn =∞n=0

    α · e− jΩn

    Como o termo exponencial tem sempre magnitude unitária, a convergência do so-matório só depende de  α. Como 0 < α

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    32 REPRESENTAÇ ˜ OES DE FOURIER E AN ́ALISE ESPECTRAL

    Observando a Fig.2.7, notamos que os espectros de magnitude e fase são, de

    fato, funções periódicas com perı́odo 2π. Esta é uma caracterı́stica dos espectros detodo sinal em tempo discreto; quer seja ele peri ódico ou não no domı́nio do tempo.Esta propriedade dos sinais em tempo discreto leva a uma interpretação interessantesobre o domı́nio da freqüência para tais sinais. A periodicidade pode ser entendidacomo um retorno da função  F 

    e jΩ

     ao mesmo ponto; o que leva a uma topologiacircular do espaço das freqüências de sinais em tempo discreto, como pode ser vistona figura 2.8.

    Figura 2.8: Topologia circular do espaço das freqüências em tempo discreto.

    Introdu瘠ao a Filtragem Digital de Sinais 

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    2.5. Análise da resposta em freqüência de sistemas lineares 33 

    2.5 Análise da resposta em freqüência de sistemaslineares

    Até agora, vimos que há formas de representar sinais de diversos tipos por meio dediferentes representações de Fourier. Todas elas são combinações lineares de auto-funções de sistemas lineares invariantes no tempo. Todas elas também nos fornecemfunções no domı́nio da freqüência que representam a intensidade de cada compo-nente de freqüência presente no sinal analisado. Nosso objetivo agora é descobrircomo essas representações de Fourier no domı́nio da freqüência podem ser úteis naanálise de sistemas lineares.

    Já sabemos que a resposta de um sistema linear em tempo cont́ınuo pode serdada pela integral de convolução

    y(t) = h(t) ∗ u(t) =   ∞−∞

    h(t − τ )u(τ )dτ 

    onde   h(t) é a resposta do sistema a uma excitação na forma de impulso unitárioδ (t). Sabemos também que a convolução é uma operação comutativa, ou seja

    y(t) = u(t) ∗ h(t) =   ∞−∞

    h(τ )u(t − τ )dτ 

    Expressando  u(t − τ ) pela equação se śıntese (2.23) teremosu(t − τ ) =   1

       ∞−∞

    U ( jω)e jω(t−τ )dω

    Usando esta expressão de  u(t − τ ) na integral de convolução teremos

    y(t) = u(t) ∗ h(t) =   12π

       ∞−∞

    h(τ )

       ∞−∞

    U ( jω)e jωte− jωτ dω dτ 

    Como   ω   e   τ   são variáveis independentes entre si, podemos inverter a ordem dasintegrais em ω  e  τ .

    y(t) = u(t) ∗ h(t) =   12π

       ∞−∞

       ∞−∞

    h(τ )e− jωτ dτ U ( jω)e jωtdω

    Reconhecendo a integral interna como a transformada de Fourier de  h(t), podemosescrever

    h(t) ∗ u(t) =   12π

       ∞−∞

    H ( jω) U ( jω)e jωtdω

    O termo do segundo membro é justamente a equação de śıntese aplicada ao produtoH ( jω) · U ( jω). Em outras palavras,  H ( jω) · U ( jω) é a transformada de Fourier de

    Felipe Borges Cunha 

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    34 REPRESENTAÇ ˜ OES DE FOURIER E AN ́ALISE ESPECTRAL

    h(t)

    ∗u(t). Desta forma, onde antes havia uma integral de convolução entre duas

    funções no domı́nio do tempo, agora há um produto entre funções no domı́nio dafreqüência. Usando uma notação mais compacta

    h(t) ∗ u(t) ←TFTC −−−−→ H ( jω) · U ( jω).   (2.38)A equação (2.38) afirma então que a operação de convolução no tempo se converteem produto na freqüência8.

    É importante notar que a função  H ( jω) contém em si as mesmas informaçõessobre o modelo do processo que   h(t), pois a transformação de uma na outra ébiunı́voca. A função  H ( jω) é uma   fun瘠ao de transferência  do sistema, do mesmomodo que a função H (s) dada pela equação (1.36). A diferença é que  H ( jω) nos dá

    uma visão mais voltada para a resposta em freqüência do sistema, ou seja, a maneiracomo o sistema processa as diferentes componentes de freqüência da entrada  u(t) emregime permanente; enquanto que  H (s) direciona a análise para o comportamentotransitório da resposta do sistema diante de variações na sua entrada.

    A propriedade dada por (2.38) sugere então um método para determinar a re-sposta de sistemas lineares sem a necessidade do cálculo da integral de convolução.Basta transformar as funções   h(t) e   u(t) para sua representação no domı́nio dafreqüência, multiplicá-las e então efetuar a transformação inversa através da equaçãode śıntese apropriada. Esta abordagem, contudo é mais do que um método práticopara computar a resposta de um sistema linear. As representações dos sinais no

    domı́nio da freqüência podem fornecer uma compreensão adicional sobre a dinâmicado sistema. Considere o exemplo a seguir.

    Exemplo 2.5.  Considere o circuito dado esquematicamente pela figura 2.9

    Figura 2.9: Modelo esquemático do circuito RC.Utilizando a lei das malhas de Kirchhoff, chega-se à seguinte equação diferencial

    que modela este circuito

    u(t) = R · C  · dy(t)dt

      + y(t) (2.39)

    8Esta propriedade também é válida no domı́nio da transformada de Laplace. Essa e outras pro-priedades das representações de Fourier podem ser encontradas nas referências [5, 6, 2], bem comouma abordagem completa sobre as representações de Fourier, incluindo tabelas de transformadase suas propriedades.

    Introdu瘠ao a Filtragem Digital de Sinais 

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    2.5. Análise da resposta em freqüência de sistemas lineares 35 

    Considerando a tensão   u(t) da fonte como variável de entrada e a tensão   y(t)

    sobre o capacitor como variável de sáıda, desejamos calcular a resposta do sistemaa uma excitação permanente do tipo

    u(t) = A · cos(ω0 · t),   (2.40)

    sendo  A uma amplitude constante e  ω0  uma freqüência constante.Uma das formas de se resolver este problema é tratá-lo de modo particular e

    calcular diretamente a solução da equação diferencial que modela o circuito. Estemétodo, porém, só nos dá uma visão limitada do sistema, pois revela apenas seucomportamento para a entrada espećıfica considerada. Uma vez que o sinal da

    fonte excitadora é uma função senoidal, podemos utilizar o método da resposta emfreqüência, calculando o produto  H ( jω) · U ( jω). Evitamos assim ter que resolver aequação diferencial, além do que, a função  H ( jω) sendo conhecida, permite que seinvestigue o comportamento do sistema para qualquer valor possı́vel de  ω.

    O problema que se coloca então é como obter  H ( jω). Sabemos que  H ( jω) é atransformada de Fourier da função  h(t), que é a resposta do sistema a uma entradaem impulso unitário  δ (t). Precisamos agora calcular a sáıda  y(t) para uma entradau(t) =  δ (t), considerando que o sistema está inicialmente relaxado. O único pontode partida de que dispomos é o modelo do sistema na forma de equação diferencial(2.39). Voltamos então ao problema inicial. A solução da equação diferencial para

    uma função de excitação dada. A diferença agora é que o sinal de entrada consid-erado não é uma entrada qualquer, e sim uma função impulso unitário. Conformefoi visto na Seção 1.3.2, o conhecimento da resposta  h(t) nos permitirá calcular aresposta do sistema para qualquer sinal de entrada genérico  u(t) usando a integralde convolução.

    Sabemos que para   t <  0 a função impulso é nula. Sabemos também que, porser o modelo de um circuito real, o sistema dado por (2.39) tem que ser causal.Portanto, a sua resposta ao impulso para   t <   0 tem que ser nula. Para   t   = 0 afunção impulso é infinita, porém sua integral é finita. Calculemos então a respostay(t) para  t ≤ 0+. Integrando a equação (2.39)

       0+

    −∞

    u(t)dt =   0+

    −∞

    RC dy(t)

    dt  + y(t)

    dt

    Substituindo o valor de  u(t)

       0+−∞

    δ (t)dt =  RC 

       0+−∞

    dy(t)

    dt

    dt +

       0+−∞

    y(t)dt

    1 = RC  · y(t)|0+−∞ + 0 ⇒ 1 = RC  · (y(0+) − y(−∞)) = RC y(0+)

    Felipe Borges Cunha 

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    36 REPRESENTAÇ ˜ OES DE FOURIER E AN ́ALISE ESPECTRAL

    Ou seja,

    y(0+) =   1RC 

    Calculemos agora a resposta ao impulso para   t >   0. Neste caso, a excitaçãoé nula, conforme a definição da função impulso pela equação (1.18). Portanto, asolução de (2.39) resume-se à solução da equação homogênea

    R · C  · dy(t)dt

      + y(t) = 0 (2.41)

    Temos então que

    R · C  · dy(t) = −y(t)dtSeparando as variáveis

    R · C  · dyy

      = −dt

    Calculando a integral indefinida de ambos os membros   dy

    y  = −

       dt

    RC 

    ln(y) = −   tRC 

     + ln(K )

    onde ln(K ) é uma constante de integração arbitrária. Calculando a exponencial deambos os membros temos que

    y(t) = K  · e−   1RC t

    A presença da constante arbitrária  K  na solução da equação diferencial representaum grau de liberdade para se ajustar a solução à condição inicial, ou seja, o valorde  y(0+). Teremos então

    y(0+) = K  · e−   1RC (0+) ⇒ K  = y(0+) =   1RC 

    Portanto, a resposta  y(t) a uma entrada  u(t) na forma de impulso unitário é

    h(t) =  1

    RC  · e−   1RC t (2.42)

    De posse de h(t), calcularemos agora sua transformada de Fourier  H ( jω). Comoh(t) = 0 para todo  t

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    2.5. Análise da resposta em freqüência de sistemas lineares 37 

    =

      1

    RC  ·  11

    RC  + jω ·  e

    −(   1RC + jω)t∞0 =

    1RC 

    1RC 

     + jω   (2.43)

    De posse da função de transferência  H ( jω), precisamos agora representar o sinalde entrada   u(t) no domı́nio da freqüência. Como   u(t) é um sinal periódico, suaexpansão em série de Fourier é

    cos(ω0t) = 1

    2 · e jω0t + 1

    2 · e− jω0t (2.44)

    Conforme a equação (2.4), as exponenciais do tipo  e jωt são autofunções dos sistemaslineares invariantes no tempo. Sendo assim, a entrada   u(t) = cos(ω0t), conforme

    expressa por (2.44), é uma superposição de autofunções. A resposta do sistema aesta entrada pode então ser calculada usando a equação (2.4) para cada componentede freqüência de  u(t). Sendo assim,

    y(t) = H ( jω)ω=ω0

    · 12 · e jω0t + H ( jω)

    ω=−ω0

    ·  12 · e− jω0t

    y(t) =1

    RC 1

    RC  + jω0

    ·  12 · e jω0t +

    1RC 

    1RC 

     − jω0·  1

    2 · e− jω0t

    Note que, para cada uma das componente exponenciais, há um coeficiente invari-ante no tempo, mas que é função da freqüência angular de cada componente do sinalde entrada  u(t). As freqüências ω0  e −ω0  são simétricas. Portanto, as componentesexponenciais de freqüência   ω0   e −ω0   são complexos conjugados, assim como seusrespectivos coeficientes  H ( jω0) e  H (− jω0). Expressando esses coeficientes na suaforma polar, temos

    y(t) = 1

    2 ·

    1RC  

      1RC 

    2+ ω02

    · e jφ · e jω0t + 12 ·

    1RC  

      1RC 

    2+ ω02

    · e− jφ · e− jω0t

    onde  φ = tg−1(−ω0RC ). Ficamos então com

    y(t) =1

    RC    1RC 

    2+ ω02

    ·  12 · e j(ω0t+φ) + e− j(ω0t+φ)

    que é equivalente a

    y(t) =1

    RC    1RC 

    2+ ω02

    · cos(ω0t + φ) (2.45)

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    Neste exemplo, comparando   y(t) dado por (2.45) com   u(t) dado por (2.40),

    podemos perceber que a resposta do circuito da figura 2.9 a uma tensão excitaçãosenoidal consiste exatamente em um sinal senoidal do mesmo tipo com  amplitude e fase modificadas . As alterações de amplitude e fase que o sistema provoca naentrada  u(t) para gerar a sáıda  y(t) são dependentes das caracteŕısticas do circuitoe da freqüência do sinal de entrada u(t). Isto é evidenciado pela expressão de H ( jω)dada pela equação (2.43). Por isso, damos a esta técnica o nome de   an´ alise da resposta em freq¨ ûencia . A maneira como o sistema altera amplitude e fase do sinalde entrada é dada diretamente pela sua função de transfer̂encia. A amplitude dosinal de entrada é multiplicada pela magnitude da função de transferência calculadaem  ω  =  ω0, enquanto que a fase do sinal de entrada é somada com o ângulo de fase

    da função de transferência, também para  ω = ω0.À luz deste exemplo, podemos perceber que qualquer sinal que possa ser ex-

    presso como superposição de autofunções, será processado pelos sistemas linearesdesta mesma forma:  ganho de amplitude   e  deslocamento de fase . Por este motivo,é conveniente interpretarmos os sistemas lineares como dispositivos que alteram ascaracteŕısticas do sinal de entrada em função das freqüências de suas componentesexponenciais periódicas do tipo   e jωt. Dáı vem o conceito de filtro de sinais. Umsistema linear pode ser projetado para atenuar as componentes de freqüências inde-sejadas. Se, por exemplo, um sinal de freqüência baixa está contaminado com rúıdode freqüências altas, um filtro corretamente projetado pode ser capaz de eliminar,

    ou atenuar, essa interferência indesejada.Vejamos o caso do exemplo 2.5. Consideremos que R  = 16, 0kΩ e  C  = 1, 0µF .A função de transferência  H ( jω) fica

    H ( jω) =  62, 5

    62, 5 + jω

    Suponha que a tensão de entrada represente a medição de uma variável de processocontaminada com rúıdo de 60Hz proveniente da alimentação elétrica dos instru-mentos. O circuito da figura 2.9 funcionará como filtro analógico, atenuando acomponente do rúıdo e permitindo a passagem das variações de processo, que nestecaso, são mais lentas que as do rúıdo, como pode ser visto no gráfico da figura 2.10.

    Note como a variável de processo tem um comportamento dinâmico sub-amortecido.A freqüência desta variação é de 5Hz enquanto que o rúıdo é de 60Hz. Logicamente,as componentes do sinal referentes à variação própria do processo não é imune aosefeitos do uso do filtro. Estas também são alteradas pela função de transferênciado filtro. A melhor maneira de avaliar essa influência é representá-la graficamenteem função da freqüência. Traçamos então os chamados gráficos de resposta emfreqüência. Como a função de transferência é uma função complexa de variável real,sua representação gráfica teria que levar em conta parte real e parte imagin ária. Aoinvés disso, preferimos representar graficamente sua forma polar, pois já vimos que

    Introdu瘠ao a Filtragem Digital de Sinais 

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    2.5. Análise da resposta em freqüência de sistemas lineares 39 

    −0.2 −0.1 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5

    0

    1

    2

    Sinal com ruido

    −0.2 −0.1 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5

    0

    1

    2

    Sinal filtrado

    Figura 2.10: Resultado da filtragem de um sinal por um circuito RC dimensionadopara atenuar rúıdo de 60Hz.

    a magnitude e o ângulo de fase tem um significado f́ısico de crucial importância nofuncionamento do filtro. A magnitude da função  H ( jω) é então

    |H ( jω)| =1

    RC    1RC 

    2+ ω2

    (2.46)

    e o ângulo de fase é/H ( jω) = tg−1(ωRC ) (2.47)

    A figura 2.11 traz os gráficos de magnitude e fase em função da freqüência angularω. Note os valores de magnitude e fase para a freqüência   ωr   do rúıdo e para afreqüência natural amortecida  ωd  da variação do processo.

    O resultado que vimos no Exerćıcio 2.1 pode ser estendido para todos os quatrotipos de representações de Fourier. Portanto, os gráficos de resposta em freqüênciaH ( jω) também apresentam simetria par para o espectro de magnitude e sime-tria ı́mpar para o espectro de fase, como pode ser visto na figura 2.11. Por issocostuma-se representar graficamente apenas a metade direita do gráfico, correspon-dente às freqüências positivas. Além disso, para visualizarmos no gráfico uma faixade freqüências mais extensa, costuma-se usar escala logaŕıtmica para o eixo hori-zontal. No caso do gráfico de magnitude, como a mesma representa um ganho de

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