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UNIVESIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA DE MÚSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA APRENDIZAGEM DE VIOLÃO EM UM CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA A DISTÂNCIA: RELAÇÕES ENTRE ESTUDANTES E MATERIAL DIDÁTICO EDGAR MARQUES SALVADOR 2013

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UNIVESIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA DE MÚSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

APRENDIZAGEM DE VIOLÃO EM UM CURSO DE LICENCIATURA

EM MÚSICA A DISTÂNCIA: RELAÇÕES ENTRE ESTUDANTES E

MATERIAL DIDÁTICO

EDGAR MARQUES

SALVADOR

2013

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EDGAR MARQUES

APRENDIZAGEM DE VIOLÃO EM UM CURSO DE LICENCIATURA

EM MÚSICA A DISTÂNCIA: RELAÇÕES ENTRE ESTUDANTES E

MATERIAL DIDÁTICO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação

em Música da Escola de Música da Universidade Federal

da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau

de Mestre em Música. Área de concentração: Educação

Musical

Orientadora: Prof. Drª. Ana Cristina Gama dos Santos

Tourinho

SALVADOR

2013

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Ficha catalográfica

M357 Marques, Edgar

Aprendizagem de violão em um curso de licenciatura em música a

distância: relações entre estudantes e material didático / Edgar Marques. -

Salvador, 2013.

x, 85 f.: il.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Música da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia,

como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Música.

Área de concentração: Educação Musical

Orientadora: Profa. Dra. Ana Cristina Gama dos Santos Tourinho

1. Música – Instrução e ensino 2. Educação musical 3. Violão – estudo

I. Título.

CDD 780.7

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Copyright by

Edgar Marques

Janeiro, 2013

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Okê arô

Odò ìyá

Epa bàbá

À vocês, dedico este trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à Deus.

À Sr. Rei Divisaura, por ter me guiado durante a realização deste trabalho.

À CAPES, pelo financiamento desta pesquisa.

Ao Programa de Pós-Graduação em Música e à Universidade Federal da Bahia.

À Professora Cristina Tourinho, pela confiança e orientação em minha carreira

profissional e acadêmica.

À Helena Müller de Souza Nunes, pela oportunidade de ter trabalhado no

PROLICENMUS.

À Helena Müller de Souza Nunes e Paulo Braga, pelas valiosas contribuições para este

trabalho.

À Bruno Westermann, Glória Cecília, Mariana Ribas, Mariana Terra, pelo

acolhimento em sua casa.

À Felipe Rebouças e Adriano Oliveira, pelo apoio na realização desta pesquisa e pela

estadia durante a coleta de dados.

Aos estudantes do polo de Irecê, por se disponibilizarem para a realização desta

pesquisa.

Aos amigos que de alguma forma me ajudaram a desenvolver e concluir este trabalho.

À Roberta Rodrigues e Luana Rodrigues, pelo amor e paciência durante a realização

deste trabalho. Amo vocês.

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RESUMO

O presente trabalho investigou a aprendizagem de violão a distância no curso de

Licenciatura em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e universidades

parceiras (PROLICENMUS). Utilizando a abordagem metodológica do Estudo de Caso

múltiplo, selecionamos três estudantes de um dos polos situados na Bahia e analisamos o

processo de aprendizagem de violão dos estudantes deste polo, verificando como o material

didático de violão orientou o estudo, e como este material auxiliou a prática de instrumento do

estudante. A revisão de bibliografia e a fundamentação teórica deste trabalho se concentraram

na literatura de Educação a Distância e Educação Musical. Os dados revelaram que a maneira

que as Unidades de Estudo orientam a prática de violão do estudante varia de acordo com a

utilização de cada estudante. Os estudantes que se declararam iniciantes ao entrar no curso

demonstraram maior interesse em consultar as Unidades de Estudo e interagir com os tutores

para estudar violão. Nos participantes que se declararam ser mais experientes ao ingressar no

curso, este comportamento foi menos acentuado.

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ABSTRACT

The present work investigated the guitar distance learning, with the Music Graduation

at the Rio Grande do Sul University, and other partner universities (PROLICENMUS). Using

a methodological approach from the Multiple Case Study, we selected three students from one

of the areas located in Bahia, and we analyzed the guitar learning process from the students of

this area, verifying how the guitar books guided the study, and how they helped at the student

music instrument practice. The review of the bibliography and the theoretical foundation of

this work were concentrated in the literature of the Distance Learning Education and Music

Education. The data revealed that the way the Units of Study guided the acoustic guitar

practice of the student varies according to the practice of each student. Students that declared

themselves as beginners, when they subscribed in the course, demonstrated a great interest at

consulting the Units of Study, and interact with their tutors to study guitar. The students that

stated they had more experience, when they subscribed, the above behavior was less noted.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS.............................................................................................................v

RESUMO............................................................................................................................. .....vi

ABSTRACT.............................................................................................................................vii

LISTA DE EXEMPLOS.......................................................................................................viii

INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1

CAPÍTULO 1: A ESTRUTURA DA DISCIPLINA VIOLÃO NO PROLICENMUS E

SUAS UNIDADES DE ESTUDO ........................................................................................ 5

1.1 O E-Book Violão do CAEF .......................................................................................... 8

1.2 Transformações das Unidades de Estudo .................................................................... 10

1.3 A equipe de produção das Unidades de Estudo ........................................................... 12

1.4 Elaboração das Unidades de Estudo de violão ............................................................. 13

1.5 Sistema de avaliação do PROLICENMUS .................................................................. 15

1.6 Avaliação da interdisciplina S.I. violão ....................................................................... 16

CAPÍTULO 2: EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E O ENSINO DE VIOLÃO A

DISTÂNCIA ....................................................................................................................... 18

2.1 Ensino a distância ...................................................................................................... 18

2.2 Ensino de violão à distância ....................................................................................... 20

2.3 Papel do tutor e dinâmica de tutorias .......................................................................... 25

CAPÍTULO 3: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................ 27

3.1 Distância Transacional ............................................................................................... 27

3.1.1 Diálogo ................................................................................................................ 28

3.1.2 Estrutura ............................................................................................................. 32

3.1.3 Relação entre Distância Transacional, Diálogo e Estrutura ................................... 33

3.2 Aprendizagem Musical ............................................................................................... 35

3.3 Comportamento reflexivo do estudante ....................................................................... 39

CAPÍTULO 4: METODOLOGIA..................................................................................... 41

4.1. Universo da pesquisa e perfil da amostra ................................................................... 43

4.2. Coleta de dados ......................................................................................................... 44

4.3. Instrumentos de coleta .............................................................................................. 45

4.3.1. Questionários ..................................................................................................... 45

4.3.2. Análise dos questionários ................................................................................... 48

4.3.3. Filmagens ........................................................................................................... 49

4.3.4. Análise das filmagens ......................................................................................... 51

4.3.5. Entrevistas ......................................................................................................... 53

4.3.6. Análise documental ............................................................................................ 54

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CAPÍTULO 5: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS COLETADOS ....... 56

5.1 Fábio ......................................................................................................................... 57

5.2 Vanessa ..................................................................................................................... 63

5.3 Isaac ........................................................................................................................... 67

CAPÍTULO 6: CONCLUSÃO ......................................................................................... 73

6.1 Considerações sobre os dados .................................................................................... 73

6.2 Considerações finais ................................................................................................... 75

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 77

APÊNDICE ....................................................................................................................... 81

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LISTA DE EXEMPLOS

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: ESTUDANTE PRATICANDO AO COMPUTADOR

FIGURA 2: VISUALIZAÇÃO DA UNIDADE DE ESTUDO

FIGURA 3: PARTITURA ASSUM PRETO, COMPASSOS 16 AO 19

FIGURA 4: PARTITURA ASSUM PRETO, COMPASSOS 4 AO 8

LISTA DE TABELAS

TABELA 1: DISTÂNCIA TRANSACIONAL

TABELA 2: ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO 1

TABELA 3: CONCEITOS DE FÁBIO EM SEMINÁRIO INTEGRADOR VIOLÃO

TABELA 4: CONCEITOS DE VANESSA EM SEMINÁRIO INTEGRADOR VIOLÃO

TABELA 5: CONCEITOS DE ISAAC EM SEMINÁRIO INTEGRADOR VIOLÃO

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho investigou o processo de aprendizagem de violão no curso

Licenciatura em Música a distância da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

e Universidades Parceiras (PROLICENMUS). Antes de introduzir o leitor à pesquisa

propriamente dita, é importante que seu contexto e suas particularidades sejam conhecidos. O

PROLICENMUS está inserido no programa Pró-Licenciaturas do Ministério da Educação

(MEC) e teve abrangência nacional, com 11 polos em cinco estados da federação, sendo eles

o Rio grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo, Bahia e Rondônia. O corpo docente deste

curso é formado por professores da UFRGS, e de diversas Universidades parceiras (UFBA,

UFES, UDESC, UNIR, UFAL, UFMT), que são responsáveis pela elaboração dos materiais

didáticos1 de cada disciplina. Os professores contam com o apoio de uma equipe de

profissionais denominados tutores que, sob supervisão, os auxiliam na elaboração de

conteúdos e atividades, aproximando as estratégias de ensino-aprendizagem à realidade dos

estudantes. Também cabe a este profissional movimentar-se no sentido de interagir com os

estudantes e, a partir deste contato próximo, auxiliar nos processos de avaliação discente.

Há três tipos de tutores: tutores na universidade, tutores residentes e tutores

itinerantes. O tutor na universidade tem a atribuição de auxiliar os professores em todas as

atividades descritas acima, e interagir à distância com alunos e tutores residentes. Tutores

residentes são profissionais que residem nas cidades onde o polo está situado, e são

responsáveis pelo atendimento presencial dos estudantes, acompanhando-os em suas

atividades acadêmicas, além de interagirem à distância com professores e tutores da

universidade (UFRGS, 2007). No que se refere ao instrumento, o tutor residente orienta o

estudante em suas dificuldades técnicas e musicais. O tutor itinerante não reside na cidade do

1 O material didático deste curso foi composto por Unidades de Estudo. Sua definição encontra-se no capítulo 1

deste trabalho.

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polo, e sua atribuição principal é realizar visitas periódicas aos polos para atender

determinadas áreas de conhecimento. Em geral, estes profissionais estão comprometidos com

a prática instrumental (UFRGS, 2007).

A motivação para o desenvolvimento desta pesquisa surgiu durante a atuação deste

autor como tutor do PROLICENMUS. Trabalhando presencialmente no polo de Cristópolis,

colaborando com a equipe de produção das Unidades de Estudo (UE) e correção das

avaliações, percebi algumas dificuldades que os estudantes apresentavam em seu processo de

aprendizagem de violão, e o reflexo disto em suas avaliações. Uma das hipóteses levantadas

foi que, por não ser necessário ter conhecimento prévio em Música, ou tocar um instrumento

para ingressar no curso, os estudantes que entraram iniciantes ficavam defasados em relação

aos que entraram iniciados, por não terem um background de estratégias para estudar o

instrumento. Contudo, independente do nível instrumental ou musical antes do ingresso no

curso, problemas semelhantes foram detectados em suas performances nos momentos de

tutoria e avaliação em quesitos como fluência, expressividade e leitura musical, de forma mais

ou menos acentuada.

A intenção da equipe na elaboração das Unidades de Estudo de violão era que estas

fossem autoexplicativas, sendo o tutor um mediador dos conteúdos, “promovendo interação

entre os participantes, encorajando e, na medida do possível, resolvendo dúvidas de

conhecimento específico” (UFRGS, 2007, p.23). No que diz respeito ao atendimento de

instrumento, este profissional conceitualmente apenas sanaria dúvidas sobre aspectos técnicos

e musicais de um repertório pré-estudado. Mas o comportamento que constatei empiricamente

foi que, durante as tutorias de violão, muitos erros elementares, como divisão rítmica, notas,

dedilhado, eram frequentemente cometidos. A primeira impressão foi que os estudantes não

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consultavam as Unidades de Estudo antes das tutorias, ou as consultavam de um modo que

não era efetivo para que conseguissem compreender o processo de estudo da peça.

Partindo destas inquietações, surgiu a seguinte pergunta: como as Unidades de Estudo

auxiliaram o estudante no estudo de violão, e como estas UEs de violão foram utilizadas pelo

estudante no estudo do instrumento PROLICENMUS? Além disso, buscou-se identificar

como os estudantes utilizavam as estratégias indicadas no material didático, verificar se estas

estratégias eram claras e suficientes para serem seguidas, descrever e analisar o processo de

aprendizagem individual.

Para fundamentar o estudo foram utilizadas as teorias de Moore & Kearsley (2007) e

John Sloboda (2008). De acordo com a teoria da Distância Transacional, em cursos EaD,

devido à distância física, falhas na comunicação e compreensão podem ocorrer entre

professores e estudantes, “um espaço psicológico de potenciais mal entendidos, que precisam

ser corrigidos através instrução pedagógica e técnicas especiais de ensino”. Este espaço

psicológico é a Distância Transacional. (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 240). O grau de

Distância Transacional determina os comportamentos de ensino, organização, planejamento,

apresentação de conteúdos e interação, e as variáveis determinantes da extensão dessa

distância são o diálogo, estrutura, programa e autonomia.

No que diz respeito à aprendizagem musical, Sloboda (2008) propôs a Teoria

Sistêmica de Produção. Uma das premissas para aquisição de habilidades é transformar o

conhecimento “factual” em “procedimental”, e uma das maneiras para isto é controlar o

conhecimento por objetivos. O princípio desta teoria é a fragmentação dos objetivos de

aprendizagem.

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A abordagem metodológica utilizada foi o estudo de caso múltiplo. O universo da

pesquisa foram os estudantes de violão do polo de Irecê, matriculados no semestre de 2011.2.

Os instrumentos de coleta de dados foram questionários, entrevistas, observação e análise

documental. Foram aplicados 2 questionários: um de sondagem, para identificar o perfil dos

estudantes, e outro durante o período de observação, com questões relativas ao estudo de

instrumento deste período. Os participantes foram filmados por 3 semanas em 3 momentos de

estudo distintos: o primeiro contato com a Unidade de Estudo, durante a prática de violão,

durante as tutorias. Ao final das observações, os participantes foram entrevistados.

O estudo revelou que a maneira que as unidades de estudo orientam a prática de violão

do estudante varia de acordo com a utilização de cada estudante. A estratégia central das

Unidades de Estudo é notada em todos os participantes.

Esta dissertação está dividida em seis capítulos. No primeiro capítulo o leitor é

apresentado à abordagem de ensino de violão neste curso a distância. São descritos os

materiais para o ensino de violão, a equipe de elaboração destes materiais, dinâmica de

trabalho desta equipe e sistema de avaliação. O segundo capítulo é dedicado à revisão de

literatura e introduz as teorias que fundamentaram esta pesquisa. No terceiro capítulo contém

a fundamentação teórica deste trabalho, descrevendo as teorias que serviram de aporte para a

análise dos dados. O quarto capítulo dedica-se à descrição da metodologia utilizada,

explicitando como os dados foram coletados e analisados. No quinto capítulo apresento os

dados coletados, descrevendo os participantes selecionados para o estudo. Por fim, os dados

são discutidos e as conclusões explicitadas no capítulo 6.

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CAPÍTULO 1

A ESTRUTURA DA DISCIPLINA VIOLÃO NO PROLICENMUS E

SUAS UNIDADES DE ESTUDO

Em cursos presencias de qualquer tipo, as aulas são ministradas em salas próprias por

um professor que é responsável por mediar os conteúdos. Já na modalidade à distância, em

alguns cursos, a sala de aula passa a ser o espaço denominado Ambiente Virtual de

Aprendizagem (AVA). Este espaço fornece o suporte para a integração de diversas mídias, a

fim de apoiar diversas situações no processo de aprendizagem e viabilizar as interações entre

professores e estudantes (MARTINS; CAMPESTRINI, 2007). O AVA escolhido pelo

PROLICENMUS foi a plataforma Moodle, site desenvolvido para o oferecimento e

desenvolvimento de cursos através da internet.

No PROLICENMUS, os conteúdos são mediados, organizados e disponibilizados

através de Unidades de Estudo, e correspondem a uma aula da semana de cada interdisciplina2

(WESTERMANN, 2010; WEBER, NUNES, 2009). Santos & Silva afirmam que “o material

didático de cursos a distância deve destinar-se a orientar o estudo, promover a ampliação do

conhecimento, facilitar a compreensão crítica dos conteúdos, instigar o hábito de pesquisa e

promover a avaliação do processo de aprendizagem” (SANTOS; SILVA, 2009 p. 237). A

concepção destas autoras sobre material didático para cursos a distância está em consonância

com a proposta de UE utilizada no PROLICENMUS. De acordo com Weber & Nunes, a

Unidade de Estudo deve ser “um facilitador de aprendizagem, organizada de maneira clara e

uniforme, economizando o tempo e o esforço para compreendê-la enquanto estrutura e

2 Neste curso adotou-se o termo interdisciplina pelo fato dos conteúdos das matérias do mesmo eixo estarem

vinculadas entre si (UFRGS, 2007).

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garantindo suporte ao que efetivamente deve ser compreendido pelo aluno, que é o

conteúdo que veicula” (WEBER; NUNES, 2009, p. 4).

As UEs, disponibilizadas semanalmente na plataforma Moodle, foram desenvolvidas

em apresentações de power point, com uma estrutura dividida em cinco tópicos com

diferentes funções e níveis de aprofundamento daquilo que é estudado, e assim denominados:

Apresentação, Conteúdo, Atividades, Material de Apoio, e Referências. A apresentação

situou o estudante sobre o que era estudado na Unidade de Estudo da semana através da

súmula, objetivos e avaliação de interação com a unidade. No conteúdo eram

disponibilizados os textos pelos quais os estudantes desenvolveriam sua aprendizagem, e a

estes textos eram vinculados links que remetiam a arquivos de áudio, vídeo, animações, assim

como outros textos complementares. No caso das Unidades de Estudo da interdisciplina de

Seminário Integrador3 violão, estes links remetiam o estudante ao Objeto Virtual de

Aprendizagem E-Book violão Acompanhamento, que será descrito mais adiante. Em

atividades eram exercitados os conteúdos propostos na unidade, estimulando a reflexão e a

pesquisa daquilo que foi estudado. No material de apoio era proposta a continuação e

aprofundamento do que foi trabalhado no conteúdo, indicando leituras ou audições sobre o

assunto estudado. As referências eram a listagem do material bibliográfico que foi utilizado

para a elaboração da Unidade de Estudo. A estrutura aqui descrita é idêntica em todas as UEs

de todas as interdisciplinas. Contudo, cada interdisciplina tinha autonomia para modificar a

estrutura interna das unidades, de acordo com as especificidades da área de conhecimento. No

semestre, cada interdisciplina continha 15 Unidades de Estudo semanais.

3 Interdisciplina responsável pelo ensino de instrumento neste curso, com o objetivo de capacitar os estudantes a

usar o violão em sua prática docente (UFRGS, 2007, WESTERMANN, 2010).

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Algumas funcionalidades da plataforma Moodle, como os fóruns de discussão e os

questionários, que eram disponibilizados em cada unidade de estudo de cada interdisciplina,

contribuíram para a complementação das Unidades de Estudo. Além disso, outras ferramentas

da plataforma possibilitaram ao curso a criação de um layout próprio, mantendo assim a

identidade de todas as unidades do curso (WEBER; NUNES, 2009). As UEs eram

organizadas por cores, que correspondiam a cada semana do semestre. A ideia de variar as

cores das unidades nas diferentes semanas pretendeu orientar o estudante em relação à

organização de seu tempo e situá-lo em relação ao fluxograma do curso (WESTERMANN,

2010). A publicação de cada unidade de cada interdisciplina acontecia semanalmente, em um

dia próprio. As UEs de Seminário Integrador violão eram disponibilizadas para o estudante

toda segunda-feira, por exemplo. Acreditamos que a publicação semanal das UEs foi outro

fator relevante para a organização do estudo, pois dava ao estudante tempo para compreender

e aprofundar os conteúdos trabalhados durante as quatro horas de estudo semanal, contendo a

ansiedade para se apropriar de novos assuntos, evitando pular etapas importantes do processo

de aprendizagem.

O ensino de instrumento neste curso localizava-se no eixo4 curricular Condução e

Finalização, e faziam parte da interdisciplina Seminário Integrador. Esta interdisciplina

permeou todo o curso, integrando todos os conhecimentos trabalhados nas demais

interdisciplinas, através da performance instrumental (UFRGS,2007; WESTERMANN,

2010). Neste curso, o eixo Execução Musical dedicou-se à execução de atividades musicais

individuais e em grupo, visando a formação do estudante para atuação como professor de

música na escola básica (UFRGS. 2007; WESTERMANN, 2010), não cabendo a este eixo o

4 O currículo do PROLICENMUS foi estruturado a partir de cinco eixos: estruturação musical, tópicos em

Educação, formação geral, execução musical, condução e finalização (UFRGS, 2007)

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ensino de instrumentos em sentido restrito. A execução instrumental era uma das habilidades

que devia ser integrada aos demais conhecimentos trabalhados nos demais eixos, para a

atuação do estudante como professor. A proposta de ensino de instrumento neste curso foi

capacitar o futuro professor da escola básica para utilizar o instrumento como ferramenta de

sua prática docente, de acordo com as necessidades da turma. Os instrumentos ofertados pelo

curso nesta edição foram violão e teclado, cada um com o seu E-Book próprio. No próximo

tópico será explicado o E-Book violão e como ele era utilizado para o ensino de instrumento

no curso.

1.1 O E-Book violão do CAEF

O E-Book violão acompanhamento foi o Objeto Virtual de Aprendizagem (OVA)

desenvolvido no âmbito do Centro de Artes e Educação Física da UFRGS (CAEF/UFRGS)

para o ensino de violão a distância. Na época em que foi concebido, seu propósito foi dar

suporte a cursos de formação continuada oferecidos pela Rede Nacional de Formação

Continuada de Professores da Educação Básica, na qual o CAEF estava inserido. Com o

tempo, consolidou-se como um repositório de arquivos digitais para o ensino de violão,

organizados em 15 unidades para serem seguidas sequencial e progressivamente por nível de

dificuldade. Contudo, para o estudante mudar de unidade não era necessário o domínio pleno

do conteúdo, apesar de recomendado (UFRGS, s/d). Esta proposta originalmente não

pretendeu suplantar as aulas presenciais de violão, mas ser um “facilitador para atendimentos

mais esparsos que as tradicionais aulas presencias e tutorias” (UFRGS, s/d). Cada unidade

trazia uma música, e a partir dela eram trabalhadas as habilidades musicais previstas para a

unidade.

O ensino de violão através do E-Book violão acompanhamento fundamentou-se no

método Musicalização de Adultos Através da Voz (MAaV). Este método teve seu aporte

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teórico na abordagem multimodal, que consiste na utilização das diferentes teorias de

aprendizagem, conforme sua adequação a contextos e funções. Nunes (2005) afirma que

qualquer método apoiado em uma abordagem multimodal “não resulta da aplicação ortodoxa

de nenhuma teoria, mas da utilização de ideias de cada uma delas, no contexto em que se

tornem mais adequadas, a partir do princípio de se buscar coerência na diversidade” (NUNES,

2005, p. 16). Esta abordagem considera que todos os indivíduos são capazes de aprender, que

a aprendizagem é potencializada quando professores e estudantes conhecem seu jeito próprio

de adquirir conhecimento, e que o sucesso da aprendizagem está relacionado com a visão que

o estudante tem de si próprio em relação a sua capacidade de aprender (NUNES, 2005).

Ao ter os contatos iniciais com uma determinada área do conhecimento, a fim de

proporcionar referenciais seguros para aprendizagem, o estudante precisa ter “a percepção fiel

da natureza do conhecimento, de forma a criar uma moldura adequada à aquisição contínua de

estágios de maturidade crescente (NUNES, 2005, p. 17). Mesmo quando o estudante trabalha

uma música de forma simplificada, ele é desafiado a conhecer todos os elementos que fazem

parte da obra musical, e inseri-los em sua performance à medida que sua técnica permita a

execução destes elementos. O estudante é incentivado a apresentar resultados

“reconhecidamente parciais e temporariamente definitivos” (NUNES, 2005, p.18) de seu

estudo. Isto se justifica por acreditar-se que formação do instrumentista é processo contínuo

de manutenção e ampliação de suas habilidades técnicas e musicais, e por isso, ele nunca

estará definitivamente pronto, mas em constante processo de aperfeiçoamento.

Com o advento do PROLICENMUS, o propósito deste E-Book foi apoiar as UEs de

Seminário Integrador violão para o ensino de violão a distância. A partir deste curso, a

organização, tanto do ponto de vista micro como macro, passou a ser feita de modo diferente.

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10

As unidades do E-Book deixaram de ser uma sequência de apoio para um curso presencial

completo e passaram a ser organizadas com o intuito de trazerem formatos de estudo

diretamente direcionados à EaD, de acordo com o semestre letivo do curso de Licenciatura. A

partir disso, cada unidade passou a ser equivalente a um semestre letivo. Os componentes

internos da cada unidade do E-Book foram organizados de acordo com o planejamento e as

necessidades de armazenamento dos arquivos de cada semestre. Por exemplo: no diretório

denominado “Extras” ficavam os vídeos e partituras da sequência didática destinada a ensinar

peças solo; já em “Acompanhamento de Melodias” ficaram as canções de acompanhamento e

os arquivos que faziam parte de seu ensino, como partituras cifradas e vídeos.

1.2 Transformações das Unidades de Estudo

O PROLICENMUS foi um projeto inovador e inédito. Assim, a maneira de ensinar

violão através das Unidades de Estudo foi mudando à medida que o conhecimento da própria

equipe de autoria aumentava durante o curso. A estrutura geral das UEs descrita

anteriormente permaneceu, mas a estrutura interna sofreu algumas alterações. As explicações

acerca dos procedimentos de estudo e orientações gerais eram dadas inicialmente em forma de

texto, e links remetiam o estudante ao E-Book violão para o acesso às mídias digitais, como

vídeos, imagens e animações, com demonstrações sobre os procedimentos de estudo do

conteúdo trabalhado. Essa possibilidade quebrou a linearidade normalmente encontrada nos

textos escritos, permitindo ao estudante acessar informações diversas sobre aquilo que é

estudado através dos links dispostos no texto. Essa característica de o texto não ter fim nele

mesmo, podendo ser remetido a outros textos e arquivos, denomina-se hipertextualidade

(NEDER, 2005). Nesta época, os arquivos encontrados no E-Book eram apenas a extensão do

texto escrito, não eram interligados e não possuíam recursos de interatividade.

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Com a constante pesquisa e reflexão sobre o material produzido, a equipe de produção

das Unidades de Estudo da interdisciplina Seminário Integrador violão alterou a dinâmica de

ensino de instrumento. As explicações e demonstrações dos procedimentos de estudo foram

condensadas em um único vídeo, que passamos a chamar de videoaula, que era

disponibilizada em um link no tópico conteúdos de cada UE. A partir desta alteração no modo

de ensinar violão através das UEs, os textos escritos instruíam o estudante apenas com

informações gerais sobre o funcionamento da interdiscplina, enquanto o conteúdo musical era

transmitido através da videoaula.

Neder (2005) afirma que a interatividade está relacionada com a possibilidade de

interferência, modificação e escolha de caminhos no processo de aprendizagem. Neste

sentido, o software Vídeo Interativo de Aprendizagem (VIA), desenvolvido por Schramm

(2011) contribuiu de forma significativa para o formato destas videoaulas. Com os recursos de

interatividade elaborados, o estudante teve a possibilidade de acessar outros arquivos na

mesma videoaula, dispostos em links planejados para aparecer em locais previamente

determinados. Estes recursos de interatividade foram construídos sobre imagens simples,

permitindo a interação do estudante através do mouse e teclado, sendo possível induzir as

reações dos estudantes (NUNES; SCHRAMM, 2011). Em alguns casos, o estudante era

confrontado com indicações verbais acerca da manipulação da videoaula, como a repetição de

algum trecho do vídeo, por exemplo. Estes fatores agregaram a videoaula a possibilidade de o

estudante conduzir sua aprendizagem da maneira que julgasse mais conveniente, adotando

uma dinâmica própria para a utilização do material.

1.3 A equipe de produção das Unidades de Estudo

A elaboração de materiais didáticos para cursos a distância envolve o trabalho em

equipe, com profissionais de áreas distintas, que trabalham de forma integrada a fim de

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garantir coerência no resultado final (PEREIRA; SCHMITT; DIAS, 2007). A dinâmica de

trabalho para a elaboração do material didático acontece de diferentes formas, cabendo ao

professor, em consonância com o projeto político pedagógico do curso, decidir como este

trabalho será realizado (RIBEIRO; MILL; OLIVEIRA, 2010). No PROLICENMUS os

professores eram responsáveis pela autoria das Unidades de Estudo, e contavam com o apoio

de uma equipe de tutores que, sob supervisão, os auxiliavam na elaboração e

operacionalização dos conteúdos e atividades, aproximando as estratégias de ensino-

aprendizagem à realidade dos estudantes (UFRGS, 2007). As UEs da interdisciplina

Seminário Integrador violão foram confeccionadas por uma equipe coordenada pela Profa.

Cristina Tourinho, com 5 tutores atuantes em polos situados na Bahia e no Rio Grande do Sul.

Estes profissionais eram encarregados, junto com a professora responsável, pelo

planejamento, elaborações de textos, arquivos e questionários que integravam as UEs da

interdisciplina. Eles interagiam a distância com estudantes dos diferentes polos através dos

fóruns e corrigiam as avaliações. Uma característica importante desta equipe de profissionais

foi a participação de tutores que atuavam nos polos, pois isto possibilitou que informações

preciosas sobre a realidade e as necessidades dos estudantes fossem consideradas no

planejamento e elaboração de cada unidade de estudo. Além disso, todos os integrantes da

equipe eram violonistas experientes, tanto no que diz respeito à execução instrumental, quanto

à prática pedagógica. Este autor foi um dos integrantes desta equipe e as reflexões e

experiências vivenciadas foram bastante significativas para a concepção desta pesquisa.

Esta equipe trabalhou em conjunto com um designer instrucional e gráfico

encarregado da revisão e adequação dos aspectos visuais das unidades, e por disponibilizar os

materiais na plataforma Moodle. Um grupo de informatas foi responsável pela programação

das mídias digitais que compunham as UEs. Esta dinâmica de trabalho está de acordo com as

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recomendações de Nascimento (2007), no que se refere à elaboração em equipe de materiais

didáticos para cursos a distância. Para a referida autora, uma equipe elaboradora de materiais

didáticos para cursos a distância deve ser formada por especialistas na área do conhecimento,

na área pedagógica e de informática. Esta combinação entre as equipes proporcionou o

equilíbrio entre os aspectos educacionais, tecnológicos e gráficos, gerando UEs com

qualidade educacional, proporcionando o aprendizado do estudante sobre aquilo que foi

estudado (NASCIMENTO, 2007; BEHAR, 2009).

1.4 Elaboração das Unidades de Estudo de violão

A dinâmica de planejamento e elaboração das UEs configurou-se em uma rotina que

consistia em reuniões presenciais ao final de cada semestre, onde os integrantes da equipe

planejavam os conteúdos musicais a serem trabalhados, os repertórios vinculados aos

conteúdos, as metodologias de ensino, e o cronograma de trabalho para o período.

A dinâmica de trabalho para a elaboração do material consistiu na divisão das

unidades entre os integrantes da equipe, e cada profissional era responsável por escrever os

textos, confeccionar partituras, elaborar roteiros e gravar os vídeos de uma determinada UE.

Os rascunhos dos textos eram compartilhados com todos os integrantes da equipe em editor

de textos online, o Google Docs, de modo que todos os membros da equipe tinham acesso e

podiam editá-los simultaneamente. Neste espaço, síncrona e assincronamente, todos os

membros podiam acrescentar suas contribuições sobre um único texto, dinamizando o

processo. Caso fosse necessário, a equipe realizava reuniões síncronas através do Skype,

software que permite a comunicação entre duas ou mais pessoas ao mesmo tempo, através da

internet. Toda a dinâmica de trabalho para a elaboração das UEs aconteceu online, pois cada

membro morava em uma cidade diferente. Este processo foi bastante significativo para a

elaboração das unidades, pois as discussões e revisões em conjunto possibilitaram a confecção

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de um material com maior qualidade, tanto pela correção de possíveis erros de instrução,

quanto pela discussão de estratégias de ensino que seriam mais adequadas para os estudantes

deste curso. O fato de os tutores da equipe atenderem os estudantes presencialmente foi

significativo para a elaboração de estratégias de ensino mais próximas à realidade do público

atendido. Diante desta dinâmica de trabalho, podemos afirmar que a elaboração das Unidades

de Estudo se deu de forma colaborativa, uma vez que a produção individual contou com a

colaboração dos demais membros da equipe, havendo diálogo entre as necessidades dos

alunos e uma proposta pedagógica adequada aos mesmos.

O repertório previsto para o semestre era constituído de peças solo, canções de

acompanhamento, músicas para execução em dupla ou em conjunto, e exercícios técnicos.

Cada elemento que compunha o programa foi agrupado em pontos organizados por nível de

dificuldade técnica e musical. Ao ponto C pertenciam as peças e exercícios mais simples, o

ponto B continha o repertório de nível médio, e o ponto A o programa com nível avançado.

No semestre 2011.2, devido às atividades de formatura dos alunos, como recital, estágio e

TCC, o programa do semestre foi reduzido, contemplando os pontos A e ponto C, com 4

Unidades de Estudo elaboradas para cada ponto. As demais UEs do referido semestre foram

dedicadas à revisão dos conteúdos da interdisciplina que foram trabalhados nos semestres

anteriores. A organização do repertório por nível de dificuldade possibilitou ao estudante

praticar e se manter no programa que fosse mais adequado às condições técnicas e musicais

daquele momento, sem que o estudante fosse obrigado a avançar no repertório. O estudante

podia praticar o ponto C durante todo o semestre, caso fosse necessário ou recomendado pelos

tutores e professora, sem ter a necessidade de estudar os outros pontos que tecnicamente ainda

eram difíceis. Contudo, o estudante era estimulado a conhecer as músicas que pertenciam aos

outros pontos, mesmo que estas não fizessem parte de seu repertório. Assim, apesar de as UEs

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de Seminário Integrador violão serem as mesmas5 para todos os estudantes, podemos afirmar

que a estratégia de dividir o repertório em pontos possibilitou aos estudantes maior liberdade

para aprender os conteúdos, respeitando assim seu tempo de aprendizagem individual. Outro

aspecto importante para isto foi o sistema de avaliação adotado pela interdisciplina. O sistema

de avaliação do curso e da interdisciplina Seminário Integrador violão serão explicados nos

próximos tópicos.

1.5 Sistema de avaliação do PROLICENMUS

O sistema de avaliação do PROLICENMUS foi estruturado em três níveis,

chamados de N1, N2 e N3.

A avaliação de nível 1 correspondeu ao acompanhamento dos conteúdos, e o

comprometimento do estudante na realização das atividades propostas. Através desta

avaliação buscou-se compreender as dificuldades individuais do estudante em relação aos

conteúdos trabalhados, seu processo de estudo, como acontecia a interação com tutores e

professores para orientação. O instrumento padrão para esta avaliação foram os questionários

disponibilizados semanalmente em cada unidade de estudo, em todas as interdisciplinas

(UFRGS, 2010; NUNES, 2010; WESTERMANN, 2010).

Já a avalição de nível 2 considerou a qualidade dos trabalhos e provas realizadas

pelos estudantes em cada interdisciplina, numa perspectiva mais tradicional de “prova”. Neste

nível de avaliação, o estudante realizou atividades presenciais, no polo, a fim de verificar a

aprendizagem dos conteúdos de cada interdisplina, a partir dos instrumentos e critérios

utilizados (UFRGS, 2007). Estas avaliações foram corrigidas pelos professores e tutores de

cada interdisplina.

5 A interdisciplina Seminário Integrador não fez divisão de turma. Todos os estudantes do curso acessavam as

mesmas unidades de estudo.

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Na avaliação de nível 3 “é onde o aluno apresenta publicamente, em forma

presencial, individual e/ou coletiva, os resultados práticos de seus estudos e/ou pesquisas”

(NUNES, 2010, p. 1221). Uma banca de professores aplicou este nível de avaliação durante

os Seminários Integradores Presenciais, orientando os estudantes e verificando sua capacidade

de integrar os conteúdos das diferentes interdisciplinas (UFRGS, 2007). A nota gerada nesta

avaliação era a mesma para todos os estudantes de um mesmo polo (UFRGS, 2010).

O conceito final da avaliação de cada interdisciplina era alcançado através da média

simples entre os conceitos de cada nível de avaliação.

1.6 Avaliação da interdisciplina S.I. violão

As avaliações de Seminário Integrador violão foram realizadas através da gravação

do repertório em vídeo, e pareceres com feedback sobre a performance dos estudantes

descreviam os pontos positivos e negativos e o que precisava ser melhorado. Contudo, o

sistema de avaliação de violão passou por detalhamentos e reformulações ao longo do curso.

Em 2008 e 2009.1, o estudante realizava uma gravação ao fim do semestre, que correspondia

à avaliação final da interdisciplina. A partir de 2009.2, a quantidade de gravações aumentou

para três durante o semestre. As gravações eram realizadas no polo, sob responsabilidade do

tutor, e aconteciam ao final da publicação das unidades com o repertório de cada ponto de

prova. O estudante era obrigado a realizar apenas a gravação do final do semestre. Contudo,

mesmo que o resultado da execução não estivesse como desejado pelo estudante, a

participação em todas as gravações era altamente estimulada, a fim de obter o

acompanhamento mais próximo da aprendizagem do estudante. Em 2011.1 a quantidade de

gravações aumentou para quatro, sendo uma gravação para cada ponto de prova, mais a

gravação do final do semestre. Já em 2011.2, os pontos de prova foram o C e A. Foram

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realizadas três gravações, sendo uma para cada ponto a fim de acompanhar o

desenvolvimento do estudante, e a última para atribuição de conceito.

Para a aprovação do estudante no semestre era necessário, pelo menos, a execução do

repertório do ponto C, que contemplasse, parcial ou integralmente, os parâmetros de

avaliação. Estes parâmetros eram execução de notas corretas, fluência e presença de recursos

expressivos. Este ponto podia ser estudando durante todo o semestre, sem a imposição de

repertório mais avançado por parte da interdisciplina. Porém, se o estudante não executasse

algum ponto de prova com qualidade, a recomendação dada era continuar estudando o mesmo

ponto e gravá-lo novamente. Estes fatores garantiram que o estudante aprendesse em seu

tempo próprio, mesmo com a publicação de novas Unidades de Estudo, com novas músicas.

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CAPÍTULO 2

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E O ENSINO DE VIOLÃO A DISTÂNCIA

Este capítulo apresenta a revisão de literatura e introduz as teorias que fundamentaram

esta pesquisa. Estruturamos o capítulo em três tópicos: ensino a distância, o ensino de violão a

distância, papel do tutor e dinâmica de tutorias.

2.1 Ensino a distância

Para Moore & Kearsley a “Educação a distância é o aprendizado planejado que ocorre

normalmente em um lugar diferente do local de ensino, exigindo técnicas especiais [...] de

instrução, comunicação por meio de várias tecnologias [...]” (MOORE; KEARSLEY, 2007, p.

2). De acordo com esses autores, a Educação a Distância se dá essencialmente pela separação

física e/ou temporal entre professor, aquele que media o conteúdo, e o estudante, que aprende.

Porém o tipo de mediação pode variar a depender das tecnologias utilizadas para a veiculação

dos conteúdos. Segundo Rezende & Dias (2010), em Educação a Distância os conteúdos

podem ser veiculados através de material didático, sistemas de videoconferência, tutoria e

avaliação. A escolha do recurso tecnológico depende da filosofia do curso, das

especificidades da área de conhecimento, e vai determinar o tipo de interação entre conteúdo,

professores e estudantes, que pode ser síncrona ou assíncrona. No PROLICENMUS, a

veiculação dos conteúdos se deu através de Unidades de Estudo, conforme explicado no

capítulo 1, e a interação entre estudantes e conteúdo aconteceu de forma assíncrona, através

das UEs, e síncrona, em tutorias presenciais e durante os Seminários Integradores presenciais.

Ribeiro, Mill & Oliveira (2010) trazem os conceito de Educação a Distância

assíncrona customizada e cadenciada. Na abordagem customizada, os estudantes tem

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liberdade de escolher as disciplinas, escolher horários e datas para começar e terminar

as disciplinas. A assíncrona cadenciada tem como característica disciplinas, programas e datas

fixas para todos os estudantes (RIBEIRO, MILL, OLIVEIRA, 2010). Para os autores, a

escolha da abordagem cadenciada padroniza as relações de ensino-aprendizagem de tal forma,

que impõe aos estudantes o ritmo de sua aprendizagem. De acordo com a classificação destes

autores, o modelo de EaD adotado pelo PROLICENMUS foi assíncrona cadenciada. Porém,

acreditamos que esta escolha não engessou o ritmo de aprendizagem, uma vez que os

estudantes tinham liberdade de acessar e estudar os conteúdos da forma que lhe fosse mais

conveniente. No que se refere à aprendizagem de violão, a divisão do repertório por pontos e

o sistema de avaliação possibilitaram ao estudante tocar o repertório mais adequado ao seu

nível técnico, sem forçá-lo a aprender músicas que ainda não podiam sem tocadas com

qualidade.

Aretio (2001) chama atenção para dois tipos de diálogos existentes, que independem

da sincronia dos participantes em relação a tempo e espaço: o diálogo real, aquele que

acontece de forma direta entre professores e estudantes através de e-mail, telefone, chat; e o

simulado, que é estabelecido através do material didático, seja impresso ou digital. Para Peters

(2010), a função do texto no material didático, além de instruir o estudante e veicular os

conteúdos, é simular o diálogo entre professor e estudante através de perguntas ou conselhos

sobre o assunto estudado. Acreditamos que estes recursos pedagógicos podem motivar o

estudante a estudar e interagir com o material didático. Contudo, apesar de simular uma

conversação, acreditamos que não há diálogo neste tipo de interação. De acordo com Moore

& Kearsley (2007), o estudante pode interagir com o material e fazer perguntas, mas se este

material não responde a pergunta, não há diálogo entre as partes. Acreditamos que o material

didático pode oferecer recursos de comunicação, como fóruns de discussão e chats, para

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através destes recursos o diálogo ser estabelecido entre estudantes, professores e tutores. O

conceito de diálogo adotado neste trabalho está explicado no capítulo 3.

2.2 Ensino de violão à distância

Como em toda ação educativa, planejamento é uma questão fundamental para uma

aula bem sucedida. No entanto, alterações neste planejamento podem ocorrer a qualquer

momento a depender do retorno dos estudantes durante a aula; intervenções verbais e não

verbais imediatas podem ocorrer à medida que as alterações no planejamento são necessárias.

Na Educação a Distância, o planejamento minucioso das atividades também é um fator

importante, pois a depender dos recursos utilizados para mediação do conteúdo, não é

possível alterar o planejamento, nem intervir de modo imediato com estudante

(WESTERMAN; MARQUES, 2011). O planejamento aqui mencionado é relativo tanto ao

processo de orientação do estudo de repertório, quanto aos recursos tecnológicos utilizados

para veicular os conteúdos, tais como a videoconferência, texto associados a mídias digitais, e

a videoaula. A escolha da estrutura utilizada pelo curso determina a possibilidade de

intervenções verbais e não verbais imediatas por parte do professor.

Os recursos tecnológicos estão relacionados à estrutura utilizada para o

desenvolvimento do curso, que por sua vez influenciam no diálogo entre professor e

estudante. A estrutura e o diálogo são importantes no desenvolvimento e no planejamento das

aulas a distância, uma vez que estes fatores determinam o nível de Distância Transacional,

que segundo Moore:

“é o hiato de compreensão e comunicação entre professores e alunos causado

pela distância geográfica que precisa ser suplantada por meio de procedimentos

diferenciadores na elaboração da instrução e na facilitação da interação”

(MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 240).

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Esta é uma das teorias que fundamentam este trabalho. Os conceitos de diálogo e

estrutura foram explicados com maiores detalhes no capítulo 3.

As estratégias utilizadas para a concepção do ensino de violão à distância adotado no

PROLICENMUS consistiram em determinar a Distância Transicional compatível com a

situação de ensino-aprendizagem (PETERS, 2010). Para este autor, a Distância Transacional

está relacionada com a possibilidade de estudantes e professores interagirem, é influenciada

pela programação prévia das instruções dadas ao aluno, e pode ser determinada pela escolha

dos recursos de mediação dos conteúdos e pelas ferramentas adotadas para estabelecer a

comunicação entre professores e estudantes, a fim de aumentar a interação e diálogo. Apesar

de a teoria citada ser de autoria de Michel Moore (2007), os comentários de Otto Peters

(2010) complementaram a nossa concepção de ensino de violão através de videoaula,

principalmente quando ele se refere a programação prévia das instruções. Estes são alguns dos

princípios para a elaboração das videoaulas para ensino de violão no PROLICENMUS, que

será explicada mais adiante.

Como explicado no capítulo anterior, o ensino de violão na proposta do

PROLICENMUS se deu através de Unidades de Estudo, que passaram por algumas alterações

ao longo o curso, privilegiando o uso de videoaula para o ensino de instrumento. Com as

mudanças internas na concepção das UEs, os procedimentos de estudo de violão passaram a

ser explicados e demonstrados através de videoaulas, que eram disponibilizadas no conteúdo

de Unidades de Estudo de violão. Nunes & Schramm (2011) acreditam que a utilização da

videoaula para o ensino de instrumento a distância é um método mais condizente com a

modalidade EaD:

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A utilização de texto, nesses casos, é pouco relevante para orientar ou

esclarecer as dúvidas do aluno. Como é preciso que o professor exemplifique,

até por repetidas vezes, de que maneira se executa uma determinada passagem

de uma peça, por exemplo, a primeira alternativa na qual se conseguiu pensar

foi a gravação de videoaulas (NUNES, SCHRAMM, 2011, p. 6)

Nestas videoaulas havia dois tipos de vídeo: o apreciativo, com o registro da execução

completa da obra musical, e o explicativo, com instruções passo a passo sobre o estudo da

peça. O vídeo apreciativo neste contexto tem papel significativo para a aprendizagem musical.

Para Santiago (2001) o aprendizado e a construção da interpretação musical acontecem numa

“tentativa de encontrar coerência, e esta coerência será encontrada a partir da criação da

imagem total da peça, pois de outra forma, ao expressá-la em som ela ficará fragmentada”

(SANTIAGO, 2001).

As videoaulas foram planejadas e estruturadas com detalhes acerca dos procedimentos

de estudo do repertório dado, e o estudante podia interagir com seu conteúdo através de

recursos visuais planejados (NUNES; SCHRAMM, 2011), escolhendo os trechos da música

que considerava relevantes, acessando informações mais detalhadas sobre as instruções dadas.

Santos & Silva definem a didática como “uma atividade educacional especializada,

que se preocupa com os problemas de ensino, buscando orientar esse processo” (SANTOS;

SILVA, 2009, p. 232). Nesta perspectiva, o processo de ensino de violão à distância no

PROLICENMUS, inicialmente, buscou orientar o processo de aprendizagem a partir das

estratégias e metodologias advindas do ensino presencial, tanto na abordagem tutorial quanto

na coletiva, adaptadas para a EaD através dos recursos tecnológicos que compõem as

Unidades de Estudo deste curso. Com o tempo, passou cada vez mais a pesquisar uma

metodologia própria, que emergisse da eficiência efetivamente construída e analisada, de

EaD.

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A imitação e a fragmentação musical foram algumas das estratégias adotadas para

ensinar violão à distância. Tourinho (2002, 2007) afirma que a aprendizagem por imitação

pode acontecer a partir da auto-observação, comparação e avaliação, e destaca a importância

do professor neste processo, sendo ele referencial para que os estudantes o utilizem como

modelo para sua aprendizagem. Assim, os estudantes podem identificar as dificuldades em

sua execução sem que seja necessária intervenção verbal, ou explicitação de apontamentos

por parte do professor. Em cursos mediados pela internet, os vídeos que compõem o material

didático podem ser utilizados como referencial, mas perceber falhas e saber como corrigi-las

sem intervenção presencial exige que o aluno tenha uma postura autônoma e reflexiva sobre

sua aprendizagem (MARQUES, 2010). Este processo de aprendizagem por imitação, de

acordo com as ideias de Schön (2000) sobre aprender conhecendo-na-ação, é um processo que

se dá pela experimentação tácita e espontânea que podemos executar, mas que não somos

capazes de descrevê-la verbalmente (SCHÖN, 2000). No caso da imitação do vídeo, o aluno

aprende observando o violonista mais experiente e executando após, ou junto com o vídeo. O

estudante aprende, fazendo. Um fator importante a ser destacado é que, sendo proposta do

PROLICENMUS a formação de professores para Escola Básica, podemos afirmar que a auto-

observação e avaliação estabelecida entre tutores, professores e vídeos das Unidades de

Estudo ocorreu tanto do prisma da prática instrumental quanto da prática docente, com vistas

à sua inserção na sala de aula como educador musical.

A fragmentação e o detalhamento das instruções foram estratégias utilizadas, na

tentativa de evitar erros de compreensão sobre as instruções de estudo encontradas nos

conteúdos das UEs de Seminário Integrador violão (MOORE, KEARSLEY, 2007; PETERS,

2010). Para auxiliar o estudante na aprendizagem da peça, esta era fragmentada em excertos a

partir da previsão dos possíveis problemas técnicos e musicais, e para estes excertos eram

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elaborados vídeos com as demonstrações e explicações sobre os procedimentos de estudo. Em

determinado repertório, apenas separar os trechos mais difíceis não era suficiente para a

compreensão e aprendizagem da música. Nestes casos, eram previstos os problemas de

execução dento de cada excerto, e algumas sugestões de como estudá-lo eram explicadas e

demostradas nos vídeos. Um fator importante, no que se refere à previsão e separação destes

excertos, é que eles sempre faziam parte de uma ideia musical, como uma frase ou semifrase

da peça e, ao tocá-lo inteiro, tinha-se uma ideia contextualizada, e não apenas um conjunto de

notas sem sentido.

Estes vídeos com a fragmentação da música foram apoiados nas ideias de Sloboda

(2008), no que se refere à Aprendizagem Musical. Segundo o autor, na aquisição de uma

habilidade é importante estabelecer objetivos e, em algumas situações, precisa-se determinar

subobjetivos para o objetivo principal. Estes subobjetivos são a fragmentação do objetivo

principal em etapas menores. (SLOBODA, 2008).

Os procedimentos explicados eram sugestões de estratégias para aprender a música e

estudar os possíveis trechos em que havia dificuldade. Juntamente com esta fragmentação

dirigida, o estudante era sempre incentivado a tomar decisões sobre seu estudo, estimulando

assim seu comportamento autônomo (MOORE, KEARSLEY, 2007). É importante salientar

que a minúcia no planejamento e na fragmentação das aulas de violão à distância não

pretendeu suplantar a relação professor e estudante, nem a importância do diálogo nas aulas a

distância. Neste processo o tutor residente teve um papel fundamental, colaborando com

intervenções diretas junto ao estudante, viabilizando o diálogo mais dinâmico que o

estabelecido através dos fóruns das Unidades de Estudo.

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2.3 Papel do tutor e dinâmica de tutorias

Para Mattar (2012), o tutor tem papel intelectual e pedagógico. Neste sentido, este

profissional desenvolve atividades com o grupo, estimula a pesquisa e avaliação, “coordena

discussões, encorajando a construção do conhecimento” (MATAR, 2012, p. 26). A concepção

deste autor sobre o tutor de cursos a distância se alinha com o conceito do PROLICENMUS

sobre este profissional. Para este curso, o tutor é um mediador dos conteúdos, que promove

interação entre os estudantes, encoraja, e na medida do possível resolve dúvidas de

conhecimento específico (UFRGS, 2007). No processo de ensino-aprendizagem apoiado por

tutoria, os estudantes podem tiram dúvidas e consultar o instrutor diretamente, tendo, na

medida do possível, respostas imediatas para seus questionamentos. Além disso, o curso

permite ao tutor fazer intervenções imediatas no processo de aprendizagem do estudante, e

possibilita ao educando observar o tutor e os colegas.

As tutorias presenciais de violão seguiam uma dinâmica parecida com aquilo que

normalmente se faz em aulas presenciais com abordagem de ensino coletivo. A finalidade

destes encontros semanais era verificar o aproveitamento do conteúdo estudado, sanar dúvidas

e orientar os alunos na resolução de problemas técnicos e musicais. Iahn, Magalhães & Bentes

(2008) destacam as relações interpessoais e emocionais como questão importante no processo

de ensino-aprendizagem:

Os sujeitos responderam como aspectos positivos a presença física do professor

para tirar dúvidas no momento que surgem, o contato direto com o professor, a

possibilidade de o profissional sentir as dificuldades do grupo e alterar o

encaminhamento da aula, a possibilidade de improvisações. (IAHN,

MAGALHÃES, BENTES, 2008, p.10).

Quando um aluno apresentava dificuldade em um trecho da musica durante as tutorias,

uma das recomendações dadas aos tutores era a de aplicar as estratégias previstas nas

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videoaulas. Isto se assemelha ao que Galindo (2000) chamou de estudo dirigido, que consiste

em o professor/tutor estudar com o aluno a música passo a passo (GALINDO, 2000, apud

CRUVINEL, 2005). É importante frisar que esta era uma recomendação, mas cada tutor tinha

liberdade para orientar o aluno de acordo com sua necessidade.

No polo onde foi realizada esta pesquisa, o tutor marcava os dias e horários para a

tutoria, assim como e ficava de plantão o polo, disponível para atender os estudantes à medida

que eles o procurassem. Nas tutorias de violão observadas, constatamos duas dinâmicas de

trabalho: a orientação do estudo dos estudantes a partir do acesso a Unidade de Estudo, com

prática simultânea, e a orientação das dúvidas a partir do que os estudantes apresentavam ao

tutor, sem a utilização simultânea da UE. Em alguns momentos, alguns estudantes praticavam

violão na mesma sala onde o tutor trabalhava com outras atividades que não correspondiam

ao atendimento de violão. Mas e ao perceber problemas na prática do estudante, o tutor tinha

a iniciativa em atendê-lo.

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CAPÍTULO 3

FUNDAMENTAÇÃO TEORICA

Este capítulo é dedicado ao aporte teórico deste trabalho, e aos principais autores que

o fundamentam. Trato aqui das teorias de Educação à Distância sob a ótica dos autores

Michel Moore e Greg Kearsley (2007), e Otto Peters (2010). A abordagem de Aprendizagem

Musical utilizada neste trabalho foi de John Sloboda (2008). Donald Schön (2000) foi

utilizado como complemento da concepção de Aprendizagem Musical utilizada neste

trabalho, no que diz respeito ao comportamento reflexivo do estudante. O capítulo está

estruturado em três seções. A primeira é sobre a teoria da Distância Transacional, com os

subtópicos, Diálogo, Estrutura e a relação entre estes elementos. Na segunda, disserto sobre

Aprendizagem Musical. A terceira é dedicada ao comportamento reflexivo, no que se refere à

aprendizagem e suas relações com a Aprendizagem Musical tratada neste estudo.

3.1. Distância Transacional

O ensino à distancia foi definido por Michel Moore, em 1972 como um conjunto de

métodos de instrução em que o ensino é realizado separado, temporal e/ou fisicamente, da

aprendizagem. Esta separação demanda que a comunicação entre professores e estudantes seja

facilitada através de texto impresso, mídia eletrônica, ou outros mecanismos de interação.

(MOORE; KEARSLEY, 2007). Já nesta época era evidente a importância das TICs como

facilitadora da comunicação na Educação a Distância, tanto no que diz respeito à instrução,

quanto na facilitação da comunicação entre professores e estudantes.

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28

A partir da constatação de que não havia uma teoria sistematizada de EaD, Moore

desenvolveu em 1986 a teoria da Distância Transacional. A concepção desta teoria partiu da

análise da estrutura e da elaboração de vários cursos onde os comportamentos de ensino

aconteciam separadamente dos comportamentos de aprendizagem. De acordo com esta teoria,

em situações de ensino aprendizagem, devido à separação física, falhas na comunicação e

compreensão podem ocorrer entre estudantes e professores, “um espaço psicológico de

potenciais mal entendidos, que precisam ser corrigidos através instrução pedagógica e

técnicas especiais de ensino”. Este espaço psicológico é a Distância Transacional. (MOORE;

KEARSLEY, 2007, p. 240). O autor ressalta que a Distância Transacional é um efeito

pedagógico causado pela distância física. Contudo, a Distância Transacional pode acontecer

em situações de ensino onde professores e estudantes estejam no mesmo espaço, ao mesmo

tempo. Em uma aula coletiva de violão, um determinado apontamento do professor, ou uma

observação feita por um colega pode ser mal compreendida por algum participante desta aula.

Neste caso, houve Distância Transacional em uma situação presencial.

O grau de Distância Transacional determina os comportamentos de ensino,

organização, planejamento, apresentação de conteúdos e interação. As variáveis

determinantes da extensão dessa Distância Transacional são o diálogo, estrutura, programa e

autonomia. Para esta pesquisa consideramos apenas as variáveis diálogo e estrutura, pois a

investigação busca compreender os comportamentos de aprendizagem do estudante e sua

relação com o material da interdisciplina.

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3.1.1 Diálogo

O termo diálogo designa a conversação entre uma ou várias pessoas (HOUAISS,

2008). Para Moore & Kearsley o termo diálogo, dentro da teoria da Distância Transacional

“ajuda a focalizar a inter-relação de palavras e ações e quaisquer outras interações de

professor e aluno quando um transmite a instrução e o outro responde” (MOORE;

KEARSLEY, 2007, p. 241). A partir da definição do termo na teoria, podemos afirmar que

neste trabalho, nas situações de tutoria, o diálogo aconteceu verbalmente, em forma de

questionamentos ou instruções de ambas as partes envolvidas, ou em forma de gesto e

demonstrações de exemplos executados ao instrumento, por exemplo.

A extensão e a qualidade dos diálogos foram definidas pela proposta pedagógica do

curso, pela personalidade dos envolvidos neste diálogo, e por fatores ambientais. Entre estas

variáveis, destacamos aqui os fatores ambientais, por considerarmos como variável mais

significativa para o estudo proposto. Entre os fatores ambientais estiveram a interação em

grupos, a linguagem e os meios de comunicação.

Os autores afirmam que o aprendizado em grupo, assim como a dimensão deste grupo

são fatores que interferem na qualidade do diálogo, pois acredita-se que o diálogo entre um

instrutor e um estudante pode ser mais efetivo que o diálogo entre um instrutor e um grupo de

estudantes (MOORE; KEARSLEY, 2007). Na interdisciplina Seminário Integrador violão, a

comunicação a distância entre professores, tutores e estudantes aconteceu prioritariamente

através de fóruns. Todos os estudantes da interdisciplina tinham acesso a esse canal de

comunicação e podiam interagir uns com os outros. Mesmo em um espaço onde o grupo de

estudantes era grande, buscou-se estabelecer um diálogo com cada estudante, respondendo

seus questionamentos de forma personalizada, para que a dúvida de fato fosse sanada. Além

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disso, por ser um espaço aberto a todos os estudantes, tornou-se um espaço colaborativo, uma

vez que a dúvida de um estudante pode ser a mesma de outros, que pode ser complementada,

tanto em sua problematização quanto em sua solução.

No que se refere à linguagem, acredita-se que um dos fatores que contribuíram

positivamente para a o diálogo entre professores e estudantes no PROLICENMUS foi o

idioma utilizado nas Unidades de Estudo, que é o idioma materno dos estudantes. Neste

estudo consideramos esta variável como a linguagem utilizada, seja em texto, vídeo, verbal ou

não verbal, que foi adotada nas Unidades de Estudo para instruir os estudantes sobre os

procedimentos de estudo do repertório proposto. Isto é, embora estivéssemos sempre usando

a língua materna, além da linguagem verbal das instruções das videoaulas, havia a leitura e

interpretação do texto escrito e a interação dos estudantes em fóruns e outras formas

assíncronas. Todas estas formas são elementos constitutivos da linguagem.

Para Moore & Kearsley, os meios de comunicação utilizados em um curso a distância

são as variáveis ambientais mais importantes para definir o grau de diálogo entre professores

e estudantes. Este diálogo pode acontecer com maior ou menor grau a depender da

possibilidade de interação, da sincronia das interações, da velocidade de troca de informação,

e interações individuais ou em grupo. Os autores exemplificam:

Por exemplo, em um curso por correspondência ou em um curso online, cada

aluno estabelece um diálogo com o instrutor por e-mail ou por correspondência

pelo correio. Por ser escrito, trata-se de um diálogo altamente estruturado e, no

caso da correspondência por correio, um diálogo lento. (MOORE,

KEARSLEY, 2007, p. 241).

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Em nosso caso, como utilizamos a internet para postagem das Unidades de Estudo e

tutorias presenciais, provavelmente houve um diálogo menos estruturado, devido à velocidade

da troca de informações e das contribuições de cada um (MOORE, KEARSLEY, 2007).

No que se refere à presença temporal das partes:

A áudio conferência por telefone geralmente é um processo em que ocorre

muito diálogo. No entanto, conforme mencionado anteriormente, em virtude da

áudio conferência ser baseada em um grupo, haverá menos diálogo para cada

aluno individual que em um curso online (MOORE, KEARSLEY, 2007, p.

241).

Apesar de a áudio conferência possibilitar a troca de informação de maneira mais

dinâmica e interação mais direta que as estabelecidas em fóruns de discussão, na áudio

conferência o diálogo é comprometido devido à falta de individualidade das interações. O

meio pelo qual os conteúdos das interdiciplinas eram veiculados foi a Unidade de Estudo. A

utilização de comunicação síncrona por meio de conferências em áudio ou vídeo não foi

adotada pelo PROLICENMUS para o intermédio dos conteúdos. Uma das razões para esta

medida foi a baixa qualidade da conexão de internet encontrada em algumas cidades que

possuíam polo do curso. Contudo, no período em que os alunos realizaram as atividades

relativas ao estágio e ao TCC, alguns professores utilizaram da videoconferência para orientar

os estudantes.

Quando não há troca informação nem interação entre professores e estudantes, mesmo

quando interagindo com material didático do curso, não existe diálogo. Um exemplo disso

são os cursos gravados e transmitidos pela televisão.

Quando assiste a essas fitas de televisão, um aluno pode realmente se

manifestar verbalmente, dando uma resposta a algo que o professor diz na fita,

porém, como não existe feedback para o instrutor, ele não é capaz de responder

ao aluno e não ocorre diálogo (MOORE, KEARSLEY, 2007, p. 241).

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As Unidades de Estudo, em um primeiro momento, funcionaram como um material

didático pronto. Mas, a partir do momento em que os alunos tiveram a possibilidade de se

manifestar e ter retorno de suas dúvidas ou afirmações, estabelecia-se o diálogo. Neste estudo,

consideramos o diálogo estabelecido nos fóruns de discussão das Unidades de Estudo, e nas

tutorias presenciais. No capítulo Metodologia, tópico 4.3.4 foram descritos, categorizados e

explicados os comportamentos para a análise do diálogo.

3.1.2 Estrutura

O termo estrutura, ainda segundo Moore & Kearsley, está relacionado aos elementos

que compõem um curso. Estes elementos são objetivos de aprendizado, conteúdos,

apresentação das informações, atividades, que são determinados pela proposta pedagógica do

curso, nível dos estudantes, natureza do conteúdo e meios de comunicação empregados

(MOORE, KEARSLEY, 2007). O cuidado com cada detalhe que envolve a elaboração dos

elementos citados acima, a presença de um roteiro fixo, pré-definido, sem possibilidades de

alteração para adaptar-se às necessidades dos estudantes, e o ritmo unificado de interação com

o conteúdo são alguns dos elementos que tornam um curso bastante estruturado. Tomemos

novamente como exemplo dado pelos autores, um curso veiculado pela televisão, como no

caso do Telecurso6:

Um programa de televisão gravado, por exemplo, não apenas acarreta uma

ausência de diálogo, mas também é bastante estruturado, com praticamente

toda a atividade do instrutor e cada segundo do tempo indicados por um roteiro

e cada parte do conteúdo é pré-determinada. Existe pouca ou nenhuma

oportunidade para qualquer desvio de acordo com as necessidades de todos os

alunos. (MOORE; KEARSLEY, 2007, p. 243).

6 É uma tecnologia educacional que oferece ensino gratuito veiculado pela televisão.

http://www.telecurso2000.org.br/#

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Este exemplo evidencia que a presença de um roteiro rígido e a impossibilidade de

alterações no planejamento para atender às necessidades individuais são as características

principais de um curso com alto grau de estrutura. Sobre a concepção de estrutura de Michel

Moore (2007), Peters (2010) complementa:

ela não está aberta a intervenções espontâneas e desdobramentos imprevistos,

mas, sim, é fechada, por estar voltada de modo consequente para a consecução

de um objetivo, planejada passo a passo, regulamentada quanto ao tempo, bem

como controlada e avaliada uniformemente (PETERS, 2010, p. 86).

Contudo, em cursos mediados pela internet, apesar do cuidado com elementos da

estrutura, nota-se uma preocupação em atender as necessidades individuais dos estudantes.

Em cursos online [...], os materiais em áudio e vídeo podem ser sincronizados

para terem um relacionamento muito próximo com as páginas específicas do

guia de estudos ou na web, e as discussões on-line podem ser organizadas

cuidadosamente, de modo que cada aluno seja incluído em uma sala de bate-

papo on-line de acordo com um plano cuidadosamente elaborado (MOORE;

KEARSLEY, 2007, p. 243).

Em cursos on-line há a possibilidade de individualizar as relações com estudante, a

fim de atender às necessidades particulares e estruturar a didática para que a aprendizagem

seja efetiva.

Neste conceito de estrutura proposto por Moore, está contida a estrutura de ensino do

curso. Esta se dá pela seleção e definição dos objetivos de aprendizagem, escolha dos

conteúdos e estratégias de ensino, emprego de metodologias que tornem o processo de

aprendizagem mais eficiente, e avaliação da eficácia dos objetivos alcançados (PETERS,

2010). A estrutura de ensino de violão a distância no PROLICENMUS por texto associado ao

vídeo, e por meio de videoaula foi descrita no capítulo 1 deste trabalho.

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3.1.3 Relação entre Distância Transacional, Diálogo e Estrutura

A Distância Transacional está relacionada com o grau de diálogo e estrutura presentes

em um curso. Nenhum diálogo e muita estrutura denotam muita Distância Transacional. À

medida que há mais diálogo e menos estrutura, a Distância Transacional é menor. Vamos nos

utilizar de Peters (2010) para explicar o conceito desta relação:

A função transacional é determinada pela medida em que docentes e discentes

podem interagir [...] (diálogo), porém ela é influenciada pela medida em que o

caminho a ser seguido no estudo está pré-fixado (estrutura) por meio de

programas de ensino preparados. [...] a distância transacional atinge seu auge

quando docentes e discentes não tem qualquer intercomunicação e quando o

programa de ensino está pré-programado em todos os detalhes e prescrito

compulsoriamente, sendo que, consequentemente, necessidades individuais não

podem ser respeitadas. (PETERS, 2010, p. 63).

A tabela abaixo demonstra como está entendida, segundo os autores, a relação entre

diálogo, estrutura e Distância Transacional. (MOORE, 1977, apud PETERS, 2010, p. 64).

Distância

transacional

Tipo Exemplo Sigla

Maior Programa de ensino sem

diálogo e sem estrutura

Estudo independente com

base em leitura própria

-D -S

Programa de ensino sem

diálogo, mas com estrutura.

Programas didáticos no rádio

e televisão

-D -S

Programa de ensino com

diálogo e estrutura

Curso de estudo a distância

típico

+D +S

Menor Programa de ensino com

diálogo e sem estrutura

Assistência tutorial segundo

Carl Rogers

+D -E

Tabela 1: Distância Transacional.

O propósito desta teoria neste estudo foi verificar a Distância Transacional presente na

interação dos estudantes com as Unidades de Estudo da interdisciplina, Seminário Integrador

violão. A presença de iniciativa dos estudantes em tirar dúvidas em fóruns, tutorias, e o

conteúdo destas interações foram analisadas para verificar o diálogo.

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Sobre a impossibilidade de desvios do planejamento em curso com alto grau de

estrutura, Peters (2010) afirma que, “aos estudantes restaria quase nenhuma oportunidade para

se desviar do rumo didático ou para variá-lo, a fim de respeitar as necessidades individuais no

estudo e seguir inspirações espontâneas” (PETERS, 2010, p. 87). A estrutura das unidades no

presente trabalho foi analisada a partir das possibilidades que o material didático ofereceu aos

estudantes de conduzir sua aprendizagem, e da rigidez didática do material. Além disso, foi

analisado o diálogo educacional proposto pelas Unidades de Estudo. A estrutura didática, a

seleção de objetivos, as estratégias e métodos empregados para os objetivos serem alcançados

foram avaliados a partir desta teoria.

3.2 Aprendizagem Musical

Assim como em outras áreas do desenvolvimento humano, a habilidade musical é

construída sobre uma base de competências e vocações inerentes (SLOBODA, 2008).

Segundo Slobada, em 1950, Jean Piaget trouxe a hipótese de que a nossa capacidade

de aprendizagem em certa idade é determinada pelas características gerais do nosso sistema

intelectual nesta certa idade.

[...] a razão pela qual as crianças não parecem ser capazes de dominar com

maestria e confiabilidade certos conceitos matemáticos até por volta dos 7 anos

é que, até essa idade, elas não tem o tipo de recursos cognitivos que lhes

permitam compreender certas noções necessárias, como a transitividade ou a

conservação (SLOBODA, 2008, p. 257).

De acordo com esta hipótese, o desenvolvimento cognitivo é explicado a partir da

aquisição ordenada de habilidades e estruturas cognitivas gerais, que estão envolvidas em

diversas habilidades específicas. Isto significa que, para adquirir uma nova habilidade, o

indivíduo necessita possuir as ferramentas cognitivas necessárias, ou outras habilidades que o

ajudam a adquirir uma nova habilidade. Assim como no desenvolvimento humano geral, a

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36

aquisição de habilidades musicais depende da faixa etária, nível de cognição e entorno social

em que o indivíduo se encontra. Observando o desenvolvimento musical de indivíduos,

podemos encontrar sequências de atividades musicais apropriadas para cada idade, devido às

capacidades cognitivas gerais que estas atividades requerem.

A enculturação é uma sequência de habilidades musicais, que podem ser adquiridas

espontaneamente por uma comunidade de crianças, ou em nosso caso, de adultos, que

pertençam a uma mesma cultura e que tenham a mesma idade, e “é caracterizada por uma

ausência de esforço autoconsciente, bem como pela ausência de instrução explícita”

(SLOBODA, 2008, p. 259). Os principais elementos da enculturação são o conjunto de

capacidades que estão presentes no indivíduo desde seu nascimento, o conjunto de

experiências que a cultura proporciona ao indivíduo ao longo de sua vida, e o sistema

cognitivo geral, que muda rapidamente à medida que são adquiridas novas habilidades.

Ao contrário da enculturação, no nosso caso, a prática instrumental envolveu esforço

autoconsciente para adquirir a habilidade desejada, instrução explícita, e valorização da

excelência na execução de uma determinada habilidade. De acordo com Sloboda, “de modo

geral, parece que o treino musical tende mais a contribuir para o aprofundamento do

conhecimento e realização no âmbito de uma habilidade em particular, do que a ter

implicações gerais para o sistema cognitivo como um todo” (SLOBODA, 2008, p. 260).

Segundo Sloboda e a nossa concepção, a prática esteve relacionada às experiências

específicas em nível de excelência.

A partir desta concepção de treino, Sloboda (2008) propôs uma teoria para embasar as

generalizações sobre as questões de ensino e aprendizagem musical. Uma das premissas para

aquisição de habilidades é transformar o conhecimento “factual” em “procedimental”, e uma

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das maneiras para isto é controlar o conhecimento por meio de objetivos. A Teoria Sistêmica

de Produção tem como princípio a fragmentação dos objetivos de aprendizagem. Sloboda

explica:

A sensação de uma multidão de exigências e da impossibilidade de atendê-las

todas é uma característica do começo do aprendizado em qualquer atividade

[...] Simplesmente, há coisa demais para pensar e lembrar [...] O aprendiz

sortudo terá disponível uma estratégia possivelmente ensinada por um bom

professor ou um bom manual, que pode ajudar a evitar bloqueio. A estratégia

consiste em quebrar a habilidade a ser aprendida em um conjunto de

componentes que podem ser adquiridos passo a passo (SLOBODA, 2008, p.

287).

Uma das características do Sistema de Produção é hierarquizar objetivos e

subobjetivos. Sloboda traz o exemplo de um clarinetista cujo é objetivo tocar um dó central, e

a partir deste objetivo descreve procedimentos para alcança-lo. Se o objetivo principal não for

alcançado, objetivos secundários são determinados para alcançar o objetivo principal, tocar o

dó central.

Se o instrumentista tiver a sorte de estar com os dedos na posição necessária,

então tudo que lhe restará fazer é soprar e seu objetivo será alcançado. No

entanto, os seus dedos não estiverem posicionados de forma correta, então

precisará posicioná-los corretamente. Nesse caso ele deixa de lado por um

instante o seu objetivo principal, que é tocar o dó central e envereda na direção

de um objetivo subsidiário que é colocar os dedos na configuração correta

(SLOBODA, 2008, p. 290).

Os procedimentos adotados para alcançar os objetivos são chamados de regras de

produção, e cada regra é constituída de uma ação para uma determinada situação de

aprendizagem. A ideia de fragmentar os objetivos de aprendizagem é o que define a Teoria

Sistêmica de Produção. Em nosso caso, as músicas eram fragmentadas em frases, e com estas

frases os procedimentos de estudo eram demonstrados e explicados nos vídeos. Nós

consideramos que cada frase da música era um objetivo a ser alcançado, para que na medida

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em que as frases fossem aprendidas os estudantes as agrupassem, tocando assim a música

completa. Nesta mesma frase eram previstos uma série de problemas técnicos e musicais que

podiam surgir, como uma digitação equivocada, ou um procedimento técnico específico que o

estudante não fazia e inviabilizava a execução fluente do trecho. A partir disto, eram definidos

objetivos secundários e seus respectivos procedimentos de estudo, para que o estudante

pudesse executar cada o objetivo principal com êxito.

O ensaio é provavelmente o método que os músicos mais utilizam para aquisição de

habilidades de execução, e sua quantidade e natureza são um dos fatores determinantes em

sua qualidade (SLOBADA, 2008). O modo como acontecem estes ensaios ainda é pouco

conhecido, e a literatura que trata deste assunto conta com observações informais e

experiências pessoais. Contudo, algumas generalizações podem ser obtidas através destas

experiências (SLOBADA, 2008).

Os músicos iniciantes tendem a adotar a estratégia de repetir os trechos muitas vezes,

até que eles fiquem bons. “Sua estratégia principal parece ser a de simplesmente tocar uma

mesma passagem por muitas vezes, esperando que, como se fosse possível, que ela fique boa

como se fosse uma roupa que está sendo passada ferro” (SLOBODA, 2008, p. 118). Contudo,

os professores e instrumentistas experientes defendem que os trechos problemáticos devem

ser fragmentados em pequenas partes (SLOBODA, 2008).

Sloboda afirma que um dos problemas mais recorrentes em instrumentistas de nível

mediano é a associação de trechos pequenos quando a execução é interrompida. Um pequeno

trecho é executado por associação em relação ao trecho que precedente, e quando a execução

é interrompida, “não há como salvar a performance” (SLOBODA, 2008, p. 118).

O exemplo ilustra bem esta situação:

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“Como professor, já notei que os alunos conseguem ter acesso a uma peça

memorizada apenas em alguns pontos. Se, durante a execução, são

interrompidos para um discussão, precisam retornar a um dos pontos de entrada

para continuarem a performance” (SLOBODA, 2008, p. 118).

Estes fatores fazem com que o instrumentista iniciante, ao interromper a execução por

causa de algum problema, geralmente retorne ao início da seção, ao invés de retornar ao início

do trecho que estava praticando. Isto pode fazer com que os trechos selecionados para a

prática sejam mais extensos. Já os instrumentistas experientes acreditam que se o

instrumentista tem conhecimento pleno de uma obra musical, ele é capaz de executá-la a

partir de qualquer ponto da música (SLOBODA, 2008). As UEs buscaram orientar os

estudantes para evitar a repetição pura e simples, sem atentar para o que exatamente precisava

ser corrigido. Contudo, devido à diversificada experiência musical dos estudantes ao

ingressarem no curso, consideramos que os participantes poderiam não seguir a risca às

instruções dadas nas unidades, estabelecendo estratégias próprias para a aprendizagem das

músicas. A utilização desta teoria para a compreensão da aprendizagem de violão foi

associada à ideia de Schön (2000) sobre reflexão-na-ação, e é descrita a seguir.

3.3 Comportamento reflexivo do estudante

Para Schön (2000) as ações adotadas pelos estudantes em seu processo de estudo são

consideradas um comportamento reflexivo. Durante uma ação, alguma surpresa, um fato

inesperado, um erro pode ocorrer a durante situação de aprendizagem, e para corrigir este

erro, pode-se refletir sobre a ação que causou este erro após o fato, ou durante o fato. Quando

refletimos durante a ação, no momento da ação, em um período de tempo onde se pode

interferir na ação em desenvolvimento, estamos refletindo-na-ação (SCHÖN, 2000).

Nas seções de estudo observadas analisamos o comportamento dos estudantes na

aquisição de habilidades ao violão, para verificar se os estudantes adotavam a fragmentação

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como estratégia de aprendizagem, se determinavam objetivos e subobjetivos na sua aquisição

de habilidades. Como esta pesquisa contou com participantes de perfis7 distintos, iniciados ao

violão antes do curso, mas nenhum em nível de excelência, e partindo do princípio colocado

por Sloboda sobre a aprendizagem da execução musical por iniciantes, consideramos que a

fragmentação de trechos com problema pode ser realizada dentro de um trecho mais extenso

da música, por acreditarmos que o instrumentista menos experiente tende a retornar ao início

da seção quando algum problema surge na execução (SLOBODA, 2008). A presença de

fragmentação no estudo destes participantes foi considerada um comportamento reflexivo, e a

partir deste comportamento pretendeu-se verificar os resultados da aprendizagem dos

estudantes e sua relação com as estratégias adotadas.

Neste capítulo foi apresentado o aporte teórico deste trabalho, e as teorias que

fundamentaram a análise dos dados coletados nesta pesquisa. A iniciativa em estabelecer

diálogo, presencial ou virtualmente, a estrutura das Unidades de Estudo, e as estratégias

adotadas para a aprendizagem de violão foram os pontos principais para a análise do

comportamento dos estudantes ao aprender violão e a sua relação com as Unidades de

Estudos. No próximo capítulo descrevo a metodologia empregada nesta pesquisa e a

utilização das teorias aqui explicitadas para a elaboração das categorias de análise.

7 O perfil da amostra esperada para este estudo e a descrição dos participantes são relatados nos capítulos 4 e 5.

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CAPÍTULO 4

METODOLOGIA

A abordagem metodológica adotada para esta investigação é o estudo de caso. Trata-se

de um estudo com a intenção de compreender os fenômenos em seu contexto real

(MARTINS, 2008; YIN, 2010; CERVO, BERVIAN, 1983). Para Yin (2010) “o estudo de

caso é usado em muitas situações, para contribuir ao nosso conhecimento dos fenômenos

individuais, grupais organizacionais, sociais, [...]” (YIN, 2010, p.24). Kemp & Adelman

(1995) acreditam que o objetivo do estudo de caso é relatar detalhadamente os eventos e suas

relações internas e externas. O pensamento destes autores converge com o de Yin (2010), no

que se refere à abordagem de estudo de caso. Segundo este autor “é uma investigação

empírica, que investiga um fenômeno contemporâneo [...] em seu contexto da vida real,

especialmente quando os limites entre fenômeno e o contexto não são claramente evidentes”

(YIN, 2010, p. 39).

A pesquisa pretendeu descrever o processo de aprendizagem de violão a distância,

investigando como as Unidades de Estudo disponibilizadas no Moodle auxiliaram o estudante

a estudar violão no PROLICENMUS, e como estas UEs foram utilizadas pelo estudante no

estudo do instrumento neste curso. Temos os seguintes objetivos específicos:

Identificar como o estudante utiliza as indicações de cada unidade de estudo.

Identificar como o estudante utiliza as estratégias indicadas no material didático.

Verificar se as estratégias indicadas suficiente claras para serem seguidas.

Descrever a rotina de estudo do aluno.

Analisar o processo de aprendizagem individual baseado nos passos acima.

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Para Robert Yin, “o projeto é a sequência lógica que conecta os dados empíricos às

questões de pesquisa iniciais do estudo e, finalmente, às suas conclusões” (YIN, 2010, p.48).

As questões levantadas para o desenvolvimento desta pesquisa surgiram a partir da

observação dos alunos de um dos polos situados na Bahia, e da participação deste pesquisador

na equipe de produção dos materiais didáticos da interdisciplina destinada ao ensino de

violão. Os objetivos descritos acima foram alicerçados pela questão norteadora deste estudo, e

seu planejamento metodológico tem relação com todos os aspectos da investigação, desde os

detalhes da coleta até a análise dos dados, possibilitando ao pesquisador responder todas as

questões envolvidas na pesquisa (FLICK, 2009). Foram coletados dados dos participantes em

três momentos distintos, no que se refere ao estudo de violão: o acesso dos estudantes às

Unidades de Estudo da interdisciplina, o momento de prática de violão, e as tutorias

presenciais. O momento do acesso dos estudantes às UEs pretendeu verificar como os

estudantes se apropriam do conteúdo para estudar. O segundo momento foi a prática de violão

do estudante sobre o repertório proposto para a semana após o acesso do conteúdo no Moodle,

para verificar as estratégias de estudo utilizadas pelos estudantes. Por fim o momento de

atendimento presencial com o tutor, no polo. Os instrumentos utilizados para a coleta de

dados deste estudo serão descritos mais adiante.

Apesar de ser a aprendizagem de violão na modalidade a distância o meio pelo qual os

estudantes estão inseridos neste estudo, não há como desconsiderar que o aprendizado

acontece de forma individual, mesmo quando o sistema é destinado ao coletivo. Sendo assim,

consideramos que o foco do estudo está sobre a aprendizagem de cada estudante, uma vez que

seu processo foi investigado profundamente, em seu contexto real, e sem que o pesquisador

participasse do processo de aprendizagem, ou nas tomadas de decisões de cada estudante.

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43

Definimos que cada participante desta investigação representou um caso independente, pois o

processo de estudo de cada participante foi analisado individualmente, e suas descobertas não

foram apenas sobre a aprendizagem de violão a distância, mas sobre a aprendizagem enquanto

estudantes do curso. Sendo assim, consideramos que a abordagem metodológica empregada

nesta pesquisa foi um estudo de caso múltiplo, pois temos, em um mesmo estudo, mais de um

caso independente (YIN, 2010).

4.1. Universo da pesquisa e perfil da amostra

Segundo Hill & Hill (2005) a natureza e a dimensão do universo da pesquisa são

definidas pelos objetivos do estudo. O universo escolhido para este estudo foram os alunos do

PROLICENMUS matriculados na interdisciplina Seminário Integrador violão. Foram alunos

do mesmo curso, frequentaram o mesmo polo, foram atendidos presencialmente pelos

mesmos tutores, e tiveram acesso às mesmas Unidades de Estudo. Não houve divisão de

turmas da interdisciplina Seminário Integrador. Todos tiveram acesso ao mesmo repertório, ao

mesmo tempo.

O polo escolhido para o desenvolvimento desta pesquisa estava localizado na cidade

de Irecê, um dos quatro polos situados no estado da Bahia. Os critérios para a escolha deste

polo foram a quantidade de alunos que elegeram o violão8 como opção de instrumento neste

curso, e o pesquisador não ter contato pessoal com os alunos deste polo antes do início da

pesquisa. Sendo assim, foram excluídos os polos de Salvador, São Félix e Cristópolis. O polo

de Salvador foi desconsiderado, devido à amostra ser pouco significativa para esta pesquisa,

com apenas um aluno matriculado na interdisciplina voltada à pratica do violão. Já São Félix,

pela amostragem não preencher todos os quesitos para a amostra pretendida, e o fato deste

pesquisador ter atuado como tutor itinerante de violão neste polo. Cristópolis também foi

8 Os estudantes deste curso tiveram duas opções de instrumento acompanhador, teclado ou violão, que foram

escolhidos no semestre de 2008. 2.

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44

excluído devido ao contato pessoal com os estudantes deste polo, desta feita como tutor

residente. Consideramos o relacionamento direto dos estudantes com o pesquisador como um

fator prejudicial a esta pesquisa, pelo risco de comprometer a isenção durante a coleta e

análise de dados.

Em princípio, a amostra seria composta por alunos que apresentaram as características

esperadas no que se refere às habilidades com o violão e leitura musical antes do início do

curso. Entre os possíveis participantes da pesquisa, eram esperados três perfis distintos:

estudantes que não tocavam violão e não liam partitura antes de ingressar no curso; estudantes

que ingressaram tocando violão, em nível iniciante ou avançado; e estudantes que não

tocavam violão, mas tocavam outros instrumentos e liam música antes do início do curso. O

conhecimento destes perfis foi constatado empiricamente, durante as correções de avaliações,

e em conversas com os tutores deste polo. Contudo, selecionamos estudantes que não

apresentaram exatamente as características descritas acima. As razões para esta escolha e o

perfil da amostra final são descritos no capítulo 5.

4.2 Coleta de dados

Em cada semana do semestre foi publicada para os estudantes uma nova unidade de

estudos da interdisciplina Seminário Integrador violão. Em termos de avaliação semestral, na

época da pesquisa, os estudantes deviam executar pelo menos 2 peças musicais referentes a

um conjunto considerado como mínimo para avaliação – o ponto C - , e no final do período de

4 semanas realizar a gravação deste repertório. A coleta de dados limitou-se ao período em

que a primeira unidade com repertório que foi divulgada para os alunos, até a primeira

gravação do repertório disponibilizado, no semestre de 2011.2. A expectativa era que, com os

dados coletados neste período, pudéssemos traçar um panorama acerca do estudo de violão

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45

destes alunos, começando com a primeira música estudada, em seu primeiro contato, até o

momento em que o repertorio é executado para fins de avaliação.

4.3 Instrumentos de coleta

Utilizamos nesta pesquisa instrumentos variados para coletar os dados no campo,

estratégia normalmente utilizada em pesquisas qualitativas (ALVES-MAZZOTTI;

GEWANDSZNAJDER, 2004). No que se refere ao estudo de caso, é desejável ter mais de um

instrumento para a coleta de evidências, e estes dados podem ser complementares (YIN,

2010). Os próximos tópicos se debruçam sobre os instrumentos de coleta empregados e sua

utilização no campo.

4.3.1. Questionários

Para elaboração de um questionário é preciso ter em mente os objetivos da pesquisa e

decidir as perguntas utilizadas para obter as descobertas (HILL; HILL, 2005). A coleta de

dados iniciou-se com a aplicação do questionário de sondagem junto aos estudantes do polo

de Irecê. O intuito deste questionário foi, além de convidar os alunos para participar da

pesquisa, levantar dados sobre o seu perfil. Pretendia-se descobrir se os alunos deste polo

tinham as características previstas para o perfil da amostra. Além disso, foram inseridas

perguntas relativas à organização do estudo de instrumento (local, horários, tempo de estudo)

e à utilização do material didático.

Decidimos elaborar um questionário (Questionário 1) com perguntas fechadas –

quando as respostas são escolhidas pelo respondente a partir de um conjunto de alternativas -,

e abertas – quando requerem resposta dissertativa. Contudo, apenas perguntas relativas à

identificação dos participantes foram redigidas de forma aberta. As demais perguntas foram

fechadas, com escalas de medida distintas. Apesar das perguntas fechadas gerarem uma

quantidade pequena de dados, e geralmente serem aplicadas quando se pretende obter dados

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quantitativos (HILL; HILL, 2005), acreditamos que foi a escolha mais adequada para a

obtenção de dados neste momento do estudo, pois as informações necessárias para a

identificação dos estudantes pertencentes aos possíveis perfis da amostra não podiam ser

subjetivas. Além disso, acreditamos que perguntas fechadas são mais adequadas para

questionários respondidos sem a presença do pesquisador.

A elaboração e aplicação de questionários devem estar de acordo com a realidade dos

respondentes. Cuidados com o vocabulário utilizado e o tamanho do questionário são quesitos

significativos para verificar se o instrumento de coleta é compatível com os inquiridos (HILL,

HILL, 2005; MARTINS, 2008). As perguntas foram elaboradas com texto conciso e direto,

para assegurar que as questões fossem compreendidas pelos respondentes. O grau de

escolaridade e nível cultural dos estudantes foram considerados na elaboração das questões,

para que fossem suficientemente claras para serem respondidas sem esclarecimentos do

pesquisador.

Antes da aplicação do questionário no campo, elaboramos um pré-teste do

questionário com estudantes do polo de São Félix. Após análise, constamos a necessidade de

elaborar instruções mais claras sobre como responder as perguntas, e reformulamos algumas

questões, para que ficassem mais claras para o respondente.

Devido à distância entre o polo a residência deste pesquisador – cerca de 500 Km -

optamos pela aplicação de questionário online. Esta ferramenta é vantajosa quando os

participantes não são facilmente acessíveis, como foi o caso dos participantes, que acessavam

a web regularmente (FLICK, 2009). O site escolhido para a elaboração deste formulário foi o

http://www.encuestafacil.com. É um site desenvolvido especialmente para a elaboração de

questionários em pesquisas e possui diversas possibilidades de configurações na elaboração

das perguntas. Uma característica interessante deste site é a possibilidade de elaborar

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47

perguntas ocultas vinculadas às respostas. As perguntas ocultas só aparecem para o

respondente se a opção de resposta escolhida for relevante para a pergunta aparecer. Assim,

podemos controlar a extensão do questionário, evitando que perguntas desnecessárias

aparecessem se estas não fossem relevantes para o respondente.

Apesar das vantagens na escolha de um formulário online, tivemos alguns problemas

em sua aplicação. Os alunos foram convidados por e-mail, através de uma lista fornecida pelo

tutor residente, e o termo de consentimento foi enviado em anexo, explicando os objetivos e

procedimentos deste estudo. Após uma semana do envio do convite aos estudantes, apenas

dois alunos haviam respondido ao questionário. Umas das hipóteses para a pouca participação

até aquele momento foi de que os alunos estivessem ocupados com outras tarefas, ou que não

quisessem acrescer mais nenhuma demanda ao trabalho semanal. Isto fez com que o

pesquisador enviasse novamente o convite de participação, desta vez reformulando o texto.

Hill & Hill acreditam que conhecer o local, ou responsáveis pelo local onde será aplicado o

formulário são estratégias eficientes para o reconhecimento do campo e viabilizar a

cooperação dos respondentes. A estratégia recomendada pelos autores foi bastante útil para a

solução dos problemas apresentados na aplicação deste questionário. Conversando com os

tutores daquele polo, eles relataram que os estudantes abriram o convite, tinham

conhecimento que se tratava de uma pesquisa, e que compreenderam que sua participação não

era obrigatória. Segundo os tutores, embora interessados, os estudantes postergaram o envio

da resposta, ou não compreenderam que a participação deles era essencial para a realização

desta pesquisa. Isto levou a mais uma semana de espera. Com o cronograma apertado e sem

possibilidade de flexibilização, decidimos pedir aos tutores que enfatizassem aos alunos que o

convite fora reenviado, solicitando que respondessem com brevidade caso se

disponibilizassem a colaborar. A participação dos tutores foi essencial após este reenvio, pois

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48

os mesmos também disponibilizaram um computador com o formulário na tela, facilitando o

acesso. Após esta medida conseguimos 16 formulários respondidos, número satisfatório para

a continuação da pesquisa.

Elaboramos um segundo questionário (Questionário 2) para ser aplicado durante o

período de observações. O intuito deste foi obter informações sobre a frequência de estudo

semanal, tempo diário de estudo, utilização das Unidades de Estudo e participação nas tutorias

durante as três semanas de filmagem no campo. A cada semana foi entregue ao estudante um

formulário impresso com perguntas abertas e fechadas, sendo que as questões eram as

mesmas para todos os formulários aplicados nas diferentes semanas, mudando apenas o

repertório ao qual se referia. Apesar de o questionário possuir perguntas abertas, estas

demandavam respostas objetivas.

4.3.2 Análise dos questionários

Como explicado anteriormente, a aplicação do Questionário 1 teve o objetivo de

convidar os alunos do polo para participarem da pesquisa e identificar os respondentes que

possuíam as características do perfil da amostra. As perguntas elaboradas para o questionário

foram organizadas em três categorias: identificação dos participantes, experiência musical

prévia em relação à execução do violão e leitura musical, organização do estudo de violão.

Esta última categoria se referiu à frequência semanal de estudo, tempo diário de estudo,

ambiente onde o estudante praticava o instrumento, utilização das Unidades de Estudo em sua

rotina de estudos. O formulário completo pode ser conferido no apêndice deste trabalho. A

partir destas categorias, as respostas foram analisadas e os perfis dos participantes foram

identificados.

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49

Tabela 2 - Análise do Questionário 1.

O questionário 2 colheu informações sobre a rotina de estudo semanal dos estudantes,

utilização das UEs e participação nos encontros presencias com o tutor no período da coleta

de dados. Estas informações foram cruzadas com as análises das filmagens e entrevistas, e

estão descritas no capítulo 5.

4.3.3 Filmagens

No período determinado para a coleta de dados, os estudantes foram observados em

seu estudo de violão em três momentos distintos: no primeiro contato com a unidade de

estudo da interdisplina Seminário Integrador violão, nos momentos de prática de violão, e nas

tutorias de violão, no polo. O momento de prática de violão se refere ao momento que o

estudante pratica violão individualmente, ou com os colegas. Todos os momentos de estudo

foram registrados em vídeo, para posterior transcrição e análise.

O primeiro contato com o conteúdo a ser estudado se dá através do computador. Para

registrar este momento utilizamos dois modos de capturar as imagens. Uma câmera registrou

aquilo que o aluno fazia em frente ao computador, e um software de monitoramento de

computadores registrou o que o estudante fez ao computador durante o estudo. As duas

imagens foram editadas, com o objetivo de sincronizá-las e pôr ambas em uma única tela,

permitindo assim a observação simultânea daquele momento.

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50

Figura 1 – Estudante praticando ao computador.

Vale salientar que, apesar de utilizarmos a edição de vídeo para o registro das

observações, este procedimento pretendeu viabilizar um modo de observar o participante

estudando ao computador por ângulos distintos, não alterando as informações coletadas para

análise. Nos momentos de prática de violão e tutorias, não foi necessário edição de imagens.

O pesquisador esteve presente no local das observações todo o tempo, em regime de

plantão. Na medida em que os participantes da pesquisa compareciam ao polo, eram

agendadas e executadas as filmagens conforme dia e horário que os estudantes pretendiam

praticar violão. Quando os alunos estavam em momento de observação, em qualquer

momento de estudo, o pesquisador se ausentava do espaço, deixando-os a vontade para

estudar. Em alguns momentos outros alunos, participantes ou não da pesquisa, entravam na

sala e participavam tanto do estudo dos colegas quanto das tutorias. Por isso, eventualmente o

pesquisador voltava à sala onde ocorriam os registros de observação para verificar o

funcionamento e ângulo da câmera. Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2004) argumentam

que a presença prolongada do pesquisador no campo minimiza a interferência do mesmo na

situação observada. Apesar da presença eventual do pesquisador durante as filmagens,

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51

acreditamos que isto não influenciou significativamente o comportamento dos estudantes ao

estudar violão e interagir com colegas e tutores.

Consideramos que a técnica de observação adotada foi não participante, uma vez que

a ação observada não foi alterada pela presença do pesquisador. (FLICK, 2009). Optamos por

este tipo de observação, pois “permite o registro do comportamento em seu contexto

temporal-espacial” (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 2004, p. 164). Além

disso, acreditamos que este modo de observar foi o mais adequado para os objetivos desta

pesquisa. Descrever o processo de estudo de violão do modo mais fidedigno possível requer

do pesquisador um comportamento que não cause interferência no processo dos estudantes.

Deste modo, podemos garantir confiabilidade aos dados.

4.3.4 Análise das filmagens

A codificação e a categorização dos dados carregam consigo a teoria e o material de

pesquisa (BAUER, 2011). Para a análise do conteúdo das filmagens, elaboramos categorias de

análise, que foram criadas a partir dos objetivos de pesquisa, com base nos conceitos de

Aprendizagem Musical e Distância Transacional, que fundamentam esta pesquisa. Contudo,

algumas categorias foram levadas em consideração após a transcrição das gravações, uma vez

que certos comportamentos só foram notados durante este processo. Para Bauer (2011), a

análise deve ser feita através de categorias independentes, e a fusão de seus conceitos deve ser

evitada. Apoiados neste princípio, apesar das relações existentes entre as categorias,

elaboramos categorias individuais para a análise dos dados. Vale salientar que as categorias

aqui apresentadas se referem às análises dos três momentos de estudo filmados. As categorias

para análise das filmagens são:

Identificação do erro: comportamento do estudante ao apresentar algum tipo de

dificuldade durante a execução ao violão. Está relacionado ao ato de, ao acontecer algum

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52

problema durante a performance, interromper a execução e repetir o trecho musical onde o

erro ocorreu. Contudo, entendemos que a repetição de um trecho com problema pode ser

executado dentro de um trecho mais extenso da música, por acreditamos que o instrumentista

menos experiente tende a retornar ao início da seção quando algum problema surge na

execução (SLOBODA, 2008). O ato de interromper a execução e tocar algo que não esteja

relacionado à música estudada não foi considerado identificação do erro.

A verbalização é um método utilizado em diversas pesquisas para identificar

problemas de aprendizagem (NIELSEN, 1997; PERRAUDEU, 2009). Ao pesquisar sobre o

processo de aprendizagem de um organista, Nielsen (1997) coletou os dados solicitando que o

estudante verbalizasse simultâneamente durante a prática. Apesar de este método ser bastante

utilizado em pesquisas sobre aprendizagem, optamos por não solicitar ao estudante a

verbalização do problema, por acreditar que esta ação poderia comprometer a veracidade das

estratégias utilizadas pelo estudante, induzindo o participante a adotar as recomendações

dadas nas Unidades de Estudo. Além disso, devido ao perfil dos estudantes, não tínhamos

garantia de que este procedimento seria seguido por todos, uma vez que os estudantes podiam

não identificar os problemas em sua execução.

Fragmentação: comportamento do estudante na solução dos problemas técnicos e

musicais. Está relacionado ao ato de estabelecer metas para o estudo a partir de excertos da

música, ou separar elementos de um determinado trecho, e estudá-los individualmente. Esta

categoria está diretamente ligada às ideias de Sloboda (2008), no que diz respeito à aquisição

de habilidade musical. Para o autor, “a estratégia consiste em quebrar a habilidade a ser

aprendida em um conjunto de componentes que podem ser adquiridos passo a passo”

(SLOBODA, 2008, p. 287).

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Estratégias adotadas: comportamento do estudante ao praticar violão. Refere-se às

estratégias gerais que o estudante adota ao aprender e estudar uma música. Sloboda (2008)

afirma que o planejamento da aprendizagem de uma música acontece em um processo de

tentativa e erro (SLOBODA, 2008). Isto significa que no processo de aprendizagem de uma

música, o estudante pode utilizar diversas estratégias, até encontrar a mais adequada para sua

aprendizagem. Esta categoria está associada à descrição da rotina de estudo de violão do

participante, um dos objetivos desta pesquisa.

Iniciativa em estabelecer diálogo: comportamento relativo ao estudante, tutor ou

professor dirigir-se um para o outro, verbalmente ou demonstrando algo com o instrumento,

para tirar dúvidas, apontar problemas, ou sugerir estratégias para resolver as dificuldades

técnicas e musicais acerca da execução do violão. O diálogo se refere à inter-relação de

palavras e ações entre professor e estudante no processo de construção do conhecimento

(MOORE; KEARSLEY, 2007). Esta categoria refere-se ao diálogo e sua influência na

Distância Transacional apresentada.

Execução das instruções dadas nas Unidades de Estudo: Refere-se à verificação da

utilização de estratégias de estudo adotadas pelo participante e sua relação com o material

didático estudado.

Influência do tutor e dos colegas no processo de estudo: Refere-se à verificação da

utilização de estratégias de estudo adotadas pelo participante orientadas pelo tutor ou colegas.

4.3.5 Entrevistas

Ao final das filmagens dos momentos de estudo de violão, os participantes foram

entrevistados e as conversas foram registradas em vídeo, para posterior transcrição. Os

tópicos para a entrevista foram elaborados com base na análise dos questionários aplicados,

nas observações preliminares durante as filmagens, e no aporte teórico deste estudo.

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54

Decidimos realizar uma entrevista semiestruturada, em que o entrevistado descreve os fatos

de forma livre, não seguindo o roteiro e ordem das perguntas de forma rígida, assemelhando-

se com uma conversa (MARTINS, 2008; ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER,

2004). Segundo Rosa e Arnoldi (2008), o roteiro deste tipo de entrevista deve ser elaborado

de modo que o entrevistado “verbalize seus pensamentos, tendências e reflexões sobre os

temas apresentados” (ROSA; ARNOLDI, 2008, p.30-31). O roteiro de entrevistas não tem

perguntas fechadas. O entrevistado é solicitado a descrever os fatos que lhe são questionados,

sem limitações para respostas. Contudo, apesar da liberdade para descrever os fatos, em

alguns momentos foram colocadas perguntas mais direcionadas na questão de pesquisa

(FLICK, 2009).

4.3.6 Análise documental

Para complementar as informações obtidas em questionários, entrevistas e

observações, foram analisados documentos referentes às avaliações dos participantes, como

planilhas de notas e pareceres, para conhecer o perfil de rendimento destes estudantes ao

longo do curso. Acreditamos que este fator tem ligação direta com comportamento do

estudante para praticar violão. Estes dados são discutidos no próximo capítulo.

As Unidades de Estudo da interdisciplina de violão foram analisadas a fim de verificar

a presença de instruções relativas aos procedimentos de estudo de violão, e quais as

estratégias sugeridas para a resolução de eventuais problemas durante a execução de uma

música. Os dados desta análise foram cruzados com os comportamentos apresentados nas

filmagens, para verificar a influência do material didático no processo de estudo dos

participantes.

O Projeto Individual Progressivo (PIP) é uma interdisciplina do eixo condução e

finalização, que se constitui de um portfólio para planejamento individual do estudante para o

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cumprimento da matriz curricular durante todo o curso (UFRGS, 2007). O estudante foi

incentivado a planejar seu percurso acadêmico a cada semestre, organizando seus horários

para as suas atividades através do projeto individual de estudos (PIE). A indicação para o

estudo diário do instrumento fazia parte dos critérios de organização do estudo semanal, o que

demostra uma preocupação do curso com prática do instrumento. Barry & Hallam afirmam

que o controle do tempo de estudo é um dos fatores para uma prática musical eficaz (Barry;

Hallan, 2002, apud Santiago, 2009). Porém, o de controle do tempo de estudo na proposta do

PROLICENMUS não estava relacionado à prática de instrumento voltado à performance de

excelência, onde os problemas são identificados e resolvidos no menor tempo possível, e o

instrumento é praticado à exaustão. O planejamento do estudo pretendeu ajudar o estudante a

ordenar seu tempo de trabalho, organizando assim seu estudo e desenvolvendo sua autonomia

(MOORE; KEARSLEY, 2007). Além disso, o objetivo do curso no que se refere à

aprendizagem de violão é instrumentalizar o professor da escola básica em suas aulas, para

acompanhar seus estudantes.

Os dados relativos à organização do estudo de violão foram cruzados com o período

de observação e com os resultados nas avaliações do semestre correspondente.

Por fim, a interação à distância entre professores, tutores e estudantes foi verificada

através dos fóruns de dúvidas disponibilizados em cada unidade de estudos. Delimitamos a

quantidade de fóruns analisados no período que vai desde o início do semestre 2011.2, até a

semana relativa à primeira gravação do semestre. Definimos duas categorias para nortear a

análise dos fóruns: presença de postagens feitas pelos participantes da pesquisa, e conteúdo

relativo à iniciativa em tirar dúvidas a respeito de procedimentos de estudo de violão.

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CAPÍTULO 5

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS COLETADOS

Para Robert Yin, ao explanar sobre um fenômeno estipula-se um conjunto de

elementos que podem explicar como, ou porque este evento aconteceu. “Os elos causais

podem refletir os insights críticos ao processo [...] ou a teoria” (YIN, 2010, p. 170). Partindo

dos princípios deste autor sobre análise de evidências em Estudos de Caso, após triangulação

de todos os dados, foram elaboradas narrativas sobre cada caso, evidenciando os dados mais

importantes para as reflexões.

Achamos conveniente fazer alguns esclarecimentos sobre a coleta de dados e os

participantes estudados. Dos 17 estudantes que responderam ao questionário de sondagem,

apenas 7 continuaram na pesquisa para a fase de observações e entrevistas. Alguns não

continuaram por serem reprovados em alguma interdisciplina em 2011.1, e por isso foram

excluídos do curso. Os demais desistiram de colaborar com a pesquisa por estarem ocupados

com atividades pessoais e do próprio curso.

Com a saída destes participantes, a ideia inicial de selecionar um estudante para cada

perfil da amostra não pode ser cumprida. O perfil da amostra esperada foi o seguinte:

estudantes que quando ingressaram no curso, não tocavam violão e não liam partitura;

estudantes que ingressaram no curso tocando violão, mas não liam partitura; e aqueles que

sabiam ler partitura, mas não tocavam violão. Dos estudantes que continuaram participando

da pesquisa, todos entraram no curso tocando violão, e dois deles declararam ler partitura

antes de ingressar no PROLICENMUS.

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57

A rotina de estudo de violão dos participantes desta pesquisa foi acompanhada por três

semanas, e neste período, pretendíamos registrar pelo menos um momento de estudo de cada

participante. Estes momentos de estudo foram o acesso do participante a Unidades de Estudo,

a prática de violão, e as tutorias presenciais de violão. Porém, não cumprimos esta etapa

integralmente com todos os participantes, pois alguns faltaram ao encontro marcado para o

registro das observações.

Devido à falta dos perfis pretendidos para o estudo, e a falta de registro de observação

de alguns estudantes, decidimos estabelecer os seguintes critérios para a escolha dos

participantes: ser acompanhado em três momentos de estudo, e participar da primeira

gravação relativa à avaliação da interdisciplina. Dos 7 participantes restantes, apenas 3

atenderam a estes critérios, sendo que 2 deles tinham um perfil muito parecido em relação ao

conhecimento prévio de música antes do início do curso.

Entre estes 7 participantes, um deles não teve sua tutoria registrada. Porém, ao

contrário dos participantes que não tiveram todos os momentos de estudo registrados por não

comparecerem ao encontro marcado, a tutoria deste participante não foi observada porque ele

não participava destes encontros presenciais. Sendo assim, decidimos estudá-lo, por acreditar

que este comportamento diferenciado em relação aos demais participantes podia nos revelar

dados que não seriam encontrados nos demais participantes. Os próximos tópicos apresentam

a análise dos dados dos participantes estudados. Optamos por preservar a identidade dos

estudantes do curso, dando aos participantes desta pesquisa nomes fictícios.

5.1 Fábio

Fábio atua como professor particular de violão, tem 22 anos, é solteiro e não possui

filhos, não frequentava outro curso de graduação na época que era estudante do curso de

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Licenciatura em Música. Antes de ingressar no PROLICENMUS ele tocava violão, lia cifras e

partitura. Afirma que sua aprendizagem de violão antes de ingressar no curso foi autodidata.

No questionário de sondagem, Fábio declarou que estudava violão todos os dias, entre 50

minutos e 1 hora. Já em seu plano de estudo para este mesmo semestre, ele programou

praticar o instrumento 6 dias por semana, 3 horas por dia. Fábio não conseguiu cumprir o

plano de estudo por causa do seu trabalho como professor particular de violão. A atividade

profissional de Fábio comprometeu sua rotina de estudo de violão.

[...] estive dando aulas de violão no início do semestre. Mas assim que pude,

deixei de fazê-lo para me dedicar melhor ao curso [...].

Trecho do relato do PIE de Fábio.

No período de observações, a frequência de estudo de violão de Fábio foi menor que a

declarada, mas a duração de algumas seções foi acima do planejado. Na primeira semana

Fábio declarou ter praticado violão 4 dias, 2 horas a cada dia. Já na segunda semana a

frequência diminuiu para 2 dias, 45 minutos por dia. Na última semana declarou ter estudado

5 dias, 2 horas por dia. Neste período não foi possível saber do participante o motivo das

oscilações em sua rotina de estudo. Acreditamos que isto aconteceu por causa das atividades

de Estágio Curricular Supervisionado, que na época estava em fase de finalização.

Fábio não participou das tutorias e não acessou as Unidades de Estudo quando

praticava o instrumento. Ao ser perguntado sobre o motivo de não frequentar os encontros

presenciais de violão, Fábio deu a seguinte declaração:

Eu procuro o tutor pra tirar dúvidas. Como eu te disse, é uma coisa muito

rápida. Agora, tutoria costuma ser uma coisa mais demorada, costuma colocar

conhecimentos muito básicos. E aí eu me sinto realmente deslocado.

Trecho da transcrição da entrevista de Fábio.

A justificativa de Fábio para não frequentar as tutorias é complementada em outro

trecho da entrevista, quando ele tem a iniciativa de falar sobre estudo em grupo. Fábio

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59

considera que seu nível técnico e musical, assim como seu ritmo de aprendizagem, é diferente

dos demais colegas de polo. Estes fatores fizeram Fábio tomar a decisão de não frequentar as

tutorias, por acreditar que sua presença podia prejudicar os colegas e ele próprio.

É que eu tenho um ritmo muito acelerado, muito rápido, e então muitas vezes

eu não posso estar estudando em grupo se o grupo está em um ritmo e eu estou

com a cabeça lá na frente, tô questionando outras coisas que podem até

complicar o aprendizado dos outros né.

Trecho da transcrição da entrevista, Fábio.

Fábio considera que os encontros presenciais de violão no polo que frequenta

trabalham o repertório em um nível elementar. Ele acredita que procurar o tutor para tirar

dúvidas pontuais se adequa melhor ao seu ritmo de aprendizagem

Edgar: [...] quando você tem um trecho com dificuldade, um trecho que você

não aprendeu direito, que precisa ser melhor estudado, como você faz pra

resolver esse problema?

Fabrício: Eu geralmente procuro o tutor [...] Porque que eu falei de procurar

o tutor antes, porque as dúvidas principais que me ocorrem com relação a

troca de dedos, porque aqui e não aqui, esse tipo de dúvida só o tutor

presencial mesmo pra resolver.

Trecho da transcrição da entrevista de Fábio.

O fato de considerar que dúvidas de cunho técnico só podem ser resolvidas

presencialmente pode ser um dos fatores que levam Fábio a não consultar as Unidades de

Estudo para resolver estas dúvidas relativas à execução do instrumento.

Fábio declara que acessa as Unidades de Estudo para saber o repertório da unidade da

semana. Para ele, o fato de tocar violão antes do início do curso lhe forneceu estratégias de

estudo suficientes para aprender o repertório sem consultar as UEs.

Eu geralmente leio os materiais de apoio, leio o conteúdo, a apresentação.

Leio até as atividades, inclusive. E geralmente faço o questionário depois de

ler o conteúdo. Às vezes eu não gosto de ler o material de apoio. [...]

Geralmente eu pratico as unidades fora da plataforma. Tipo no youtube, no 4

shared [...] O que está sendo mostrado no vídeo é um processo básico o

suficiente pra quem já toca violão há 2 anos conhecer, e teoricamente já usar

né. Então quer dizer... É isso, o vídeo mostra processos que eu já conheço.

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60

Trecho da transcrição da entrevista de Fábio.

Assim como nas tutorias, Fábio acredita que o repertório é tratado de forma bastante

simplificada nas Unidades de Estudo, e por isso, não pratica o repertório através das UEs. Em

entrevista Fábio descreveu seu processo de estudo de violão:

Eu preciso dividir a música em partes, em partes compreensíveis. Isso

geralmente pega um compasso inteiro e acaba no próximo compasso. E ai

acabando isso eu pego esse compasso, o próximo até a cabeça do próximo. Se

a frase fizer mais sentido juntando o próximo, beleza, eu pego ele inteiro.

Depois disso, quantas frases já formadas eu consiga executar, mesmo que não

perfeitamente, mas elas já fazem um sentido na minha cabeça, aí eu passo a

estudar por frases.

Trecho da transcrição da entrevista de Fábio.

O processo de estudo descrito por Fábio se assemelha às orientações dadas em

diversas de Unidades de Estudo.

Disponibilizamos aqui os excertos desta peça, e estes estão divididos em

trechos correspondentes às semifrases, [...] Estude cada trecho

separadamente, e em seguida junte-os, buscando o máximo de fluidez possível

[...].

Trecho do conteúdo da Unidade de Estudo 85 de Seminário Integrador violão.

Esta unidade não pertenceu ao semestre que foram coletados os dados, mas a

escolhemos pelo fato de as instruções de estudo das UEs de 2011.2 serem todas narradas no

vídeo, e por demonstrar que a estratégia de estudar a música por trecho foi uma instrução dada

pelas Unidades de Estudo em semestres anteriores.

Por não participar das tutorias e não praticar com auxílio das Unidades de Estudo,

constatamos que, apesar de utilizar estratégias sugeridas nas UEs, há uma contradição entre o

processo descrito e realizado por Fábio. A aprendizagem da peça inicia com a consulta de

Fábio a um site de cifra, e partir deste material e da percepção musical, ele canta a melodia e

escreve a harmonia do trecho em forma de cifra, na partitura. Após este processo, ele inicia a

leitura da peça, no primeiro momento com pequenos trechos, e em seguida toca trechos

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61

grandes, sem colocar em prática aquilo que ele descreve em entrevista. A estratégia de estudo

descrita por Fábio está de acordo com as orientações dadas nas Unidades de Estudo, mas as

estratégias que ele apresentou nas observações são diferentes daquelas contidas nas UEs e na

declaração dele na entrevista. É importante esclarecer que as instruções das UEs são sugestões

para guiar o estudo de violão dos alunos, e que o estudante sempre foi estimulado a refletir

sobre seu próprio estudo, compreendendo assim a sua maneira de aprender.

Fábio identifica problemas em sua execução e usa da fragmentação para resolver estes

problemas. Porém, ele apresentou este comportamento apenas quando o problema esteve

relacionado às notas da peça. Quando o problema era relativo à divisão rítmica, o erro era

ignorado.

Fábio toca do início até o compasso 9. Com pestana na quinta casa, errando

as colcheias dos compassos 2 e 6. Toca sem ler a partitura. Quando erra

alguma nota, para a execução e procura a nota correta. Quando corrige a

nota, segue a execução do trecho.

Trecho da transcrição da prática de violão de Fábio.

Em alguns casos ele identifica o erro e fragmenta, mas o trecho isolado não tem

relação com o problema em sua execução.

Fábio toca do início até o compasso 9. Na primeira posição, erra as colcheias

dos compassos 2 e 6. Para no compasso 9. Repete algumas vezes o trecho do

compasso 7 ao 8.

Trecho da transcrição de estudo individual de Fábio.

Uma estratégia de estudo apresentada apenas por Fábio foi o uso de softwares para

tirar dúvidas sobre a execução dos trechos da música. Fábio afirma utilizar editor de

partituras para resolver problemas rítmicos.

Porque no editor eu consigo ouvir. É claro que eu poderia procurar os vídeos

né. Mas no editor eu posso ouvir só aquele trecho que eu tenho dificuldade,

não os outros que eu não quero ouvir alguém tocar.

Trecho da transcrição da entrevista de Fábio.

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62

Pelo fato de com a Unidade de Estudo Fábio não conseguir isolar um trecho focado,

ele prefere utilizar o editor de partitura. Porém, na videoaula que compõe a Unidade de estudo

a música é fragmentada em excertos, e ao lado do player do vídeo encontra-se a partitura da

música. Sendo assim, é possível isolar o trecho em que o estudante tem dúvida e visualizar

sua execução.

Figura 2: Visualização da Unidade de Estudo.

As avaliações feitas por Fábio apresentam uma oscilação entre conceito mínimo e o

máximo para aprovação, conforme a tabela abaixo.

Fábio

2009.1

A

2009.2

C

2010.1

A

2010.2

C

2011.1

C

2011.2

D

Recuperação

2011. 1

C

Tabela 3: Conceitos de Fábio em Seminário Integrador violão.

Os conceitos apresentados nas avaliações de Fábio em 2009.1 e 2010.1 revelam que

ele executou o repertório atendendo os critérios para nota máxima, sobretudo em 2010. 2, que

além de executar com qualidade, escolheu um repertório mais sofisticado. A partir de 2010. 2

Fábio obteve aprovação com conceito mínimo, e em 2011.2, semestre em que foi realizada a

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63

coleta de dados desta pesquisa, Fábio foi reprovado em sua avaliação, mas foi aprovado na

recuperação.

O parecer da primeira gravação de violão de 2011.2 recomenda que Fábio estude por

trechos e corrija as notas. Ele declara ter este comportamento ao estudar violão, mas isto não

foi verificado em suas observações. Apesar de durante seu estudo ele identificar os erros de

nota, em sua avalição ele apresenta problemas em relação à execução das alturas. O parecer

não chama atenção para problemas relacionados à divisão rítmica, apesar de ser o tipo de erro

que Fábio não corrigiu durante a seção de estudo observada. Quando observamos Fábio

estudando Assum Preto, a partitura da música tinha os baixos escritos em mínimas, mas ele

executou com ritmo sincopado, como no vídeo da avaliação.

Assum Preto: os movimentos de mão esquerda do aluno são muito amplos, o

que prejudica sua execução em termos de fluência e precisão técnica. Deve

trabalhar trechos curtos da peça procurando economia de movimento. Revisar

a partitura, pois há notas erradas. Leitura: boa leitura.

Parecer de avaliação da gravação 1 de Fábio.

Pelos dois conceitos dos semestres anteriores, e pela análise da primeira gravação de

avaliação de 2011.2 realizada por Fábio, acreditamos que o comportamento de Fábio ao

estudar violão, a organização do tempo de estudo, e o fato de não se orientar pelas UEs foram

fatores que prejudicaram seu desempenho na avaliação final deste semestre.

Fábio apresenta interação nos fóruns, trocando mensagens com os colegas e tutores.

Mas as mensagens não se referem à execução de violão, nem seu processo de estudo e

aprendizagem.

5.2 Vanessa

Vanessa tem 38 anos, trabalha na indústria, é solteira e não possui filhos. No período

em que a pesquisa foi realizada ela estudava apenas no PROLICENMUS. Antes de ingressar

no curso ela tocava violão, lia cifras, mas não lia partitura. Aprendeu a tocar antes em aulas

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64

particulares. Porém, o nível de execução era bem elementar, tocando poucos acordes,

conforme ela descreve em entrevista.

Edgar: Você começou do zero, Vanessa?

Vanessa: Eu já tocava algumas coisinhas, mas bem pouco.

Edgar: Que coisinha você tocava, por exemplo?

Vanessa: Eu tocava música de dois acordes, pouca coisa mesmo.

Edgar: Quais acordes você sabia?

Vanessa: C, D, Em, G.

Trecho da transcrição da entrevista de Vanessa.

Esta participante planejou praticar violão 6 dias por semana, 2 horas por dia. Contudo,

no relatório do PIE a participante declarou que o tempo disponível não era suficiente para se

apropriar de todos os conteúdos. Antes das observações, ela declarou que a sua rotina de

estudo de violão consistia em praticar 3 a 4 dias por semana, entre 40 e 50 minutos. Já no

período da coleta de dados, a rotina de estudo declarada foi de 7 dias por semana, entre 30 e

50 minutos por seção de estudo. Nota-se uma diferença considerável entre o que Vanessa

planejou e executou em relação à prática do instrumento.

Declara participar das tutorias, e acessar as Unidades de Estudo para tirar dúvidas nas

seções de prática de violão que não foram registradas. Estes comportamentos foram

comprovados nos registros de observação dos momentos de estudo. O primeiro acesso de

Vanessa à Unidade de Estudo se resume em assistir à execução completa e à explicação e

alguns procedimentos de estudo. Não usa instrumento, não toca junto com o vídeo.

Os conceitos obtidos por Vanessa foram, exceto no semestre 2009.1, o mínimo

necessário para aprovação.

Vanessa

2009.1

A

2009.2

C

2010.1

C

2010.2

C

2011.1

C

2011.2

D

Recuperação

2011.2

D

Tabela 4: Conceitos de Vanessa em Seminário Integrador violão.

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65

No semestre de 2009. 1, o conceito era atribuído apenas à qualidade do repertório

executado, independente do ponto escolhido. A partir de 2009.2 gravações avaliavam a

qualidade da execução e o repertório escolhido. A presença constante de conceito C revela

que a estudante sempre executava o repertório tecnicamente mais simples.

Quando os problemas são identificados, Vanessa apresenta o comportamento de

fragmentar a música em trechos para aprendê-la. Porém, em alguns casos ele precisa da

intervenção do tutor para identificar o problema. Este trecho onde Vanessa pratica violão

com a ajuda do tutor ilustra o que foi descrito acima.

Vanessa toca do compasso 4 ao 7, errando ritmo do baixo.

Tutor toca o trecho do compasso 4 ao 7.

Vanessa toca do compasso 4 ao 7 algumas vezes. Acerta uma, erra nota e

ritmo do baixo do compasso 7 nas demais.

Tutor toca o trecho do compasso 4 ao 7.

Vanessa toca o trecho do compasso 4 ao 7. Erra a nota do baixo do compasso

7.

Vanessa repete o trecho, Vacila no ritmo do baixo do compasso 7.

Vanessa repete algumas vezes o trecho corretamente.

Transcrição da prática de violão de Vanessa.

Neste caso, o tutor intervém demonstrando a execução correta do trecho, para auxiliar

Vanessa na correção do erro. Esta situação de estudo demonstra que a repetição de alguns

erros pode ser consequência do processo de aprendizagem individual. Mesmo identificando o

problema, leva-se certo tempo para aprender a forma correta de executar. Isto se confirmou na

análise da avaliação de Vanessa, pois um dos erros mencionados foi relativo ao trecho

descrito acima, quando o tutor intervém no estudo de Vanessa.

Assum Preto: os movimentos amplos da mão esquerda prejudicam sua

execução em termos de fluência e precisão. Além disso, deve revisar a

partitura, pois há ritmos e notas erradas. [...]

Parecer de avaliação da gravação 1 de Vanessa.

Isto nos revela que, quando estuda sozinha, algum trecho com problema de execução

passa despercebido, e por isso continua praticando errado.

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66

Em outro momento do estudo individual de violão de Vanessa, quando ela pratica sem

o auxílio do tutor, a estratégia de fragmentar a música para aprendê-la permanece, mas alguns

erros passam despercebidos.

Vanessa toca do compasso 16 ao19 corretamente.

Vanessa toca algumas vezes do compasso 16 ao19. Erra o baixo do compasso

17.

Vanessa toca do compasso 16 ao19 uma vez corretamente.

Vanessa toca várias vezes do compasso 16 ao19. Erra o baixo do compasso

17. Erra em algumas repetições, para a execução e toca o trecho completo

com o erro do baixo do compasso 17.

Trecho da transcrição do estudo individual de Vanessa

Podemos constatar que a identificação dos problemas depende em alguns momentos

da intervenção do tutor, mas a estratégia de fragmentar a música é um comportamento que

independe da presença do tutor no estudo de Vanessa.

A participante declara que aprendeu a utilizar esta estratégia com as Unidades de

Estudo.

Edgar: E essa estratégia de estudar por partes, você sabe me dizer onde você

aprendeu? De onde veio essa estratégia?

Vanessa: Dos vídeos.

Trecho da transcrição da entrevista de Vanessa.

Vanessa apresenta iniciativa em tirar dúvidas com o tutor. As dúvidas são relativas à

execução de trechos que ela não percebe se está executando corretamente.

Vanuza diz: É tudo ré aqui né Felipe, os baixos nessa parte (se referindo

trecho do compasso 17 ao 18). É.

Tutor: Sim. Toque aí

Vanuza toca do compasso 16 ao 19. Erra o baixo do compasso 19.

Felipe diz: Agora que é lá. Junto com esse lá é um lá. Olhe aí.

Transcrição tutoria Vanessa.

Figura 3: Partitura Assum Preto, compassos 16 ao 19.

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67

A partir da iniciativa de Vanessa em tirar dúvida, o tutor orienta a estudante. Ela

também tem esta iniciativa com os colegas.

Vanessa diz: É o que?

Isaac diz: Dó, mi. Mi com o baixo em lá.

José mostra o final da semifrase para Vanessa, cantando as notas.

Vanessa imita o trecho demostrado e explicado por José e Isaac.

Vanuza pra tica o trecho.

Transcrição tutoria Vanessa

Esta participante não registrou participação nos fóruns de discussão das UEs de 2011.

2. Isto demonstra que a estudante prefere tirar dúvidas presencialmente, por esta interação

possibilitar o feedback verbal e visual para a solução de suas dúvidas. Durante o estudo

individual de Vanessa nota-se que em alguns momentos o erro é identificado, mas não é

corrigido. Nestes casos a intervenção do tutor foi fundamental para identificação e solução do

problema.

5.3 Isaac

Isaac tem 38 anos, casado, possui filhos, é professor da rede municipal de ensino e

frequentava apenas o curso de Licenciatura em Música. Antes de ingressar no

PROLICENMUS ele tocava violão, guitarra, contrabaixo e bateria. Declara que aprendeu a

tocar estes instrumentos sozinho, com auxílio dos irmãos e do pai. No Questionário 1 ele

declarou que lia cifras, mas não tinha conhecimento sobre leitura de partitura. Porém, em

entrevista, Isaac afirma ter noções de leitura musical, o que parece ser uma contradição. Na

época em que o Questionário 1 foi aplicado o estudante declarou que sua frequência de estudo

semanal era entre 5 e 6 dias por semana, mas não marcava o tempo de cada seção de estudo.

Esta informação não coincide com seu Projeto Individual de Estudos (PIE). Este participante

planejou estudar violão 3 dias por semana, 1 hora por dia. Contudo, em seu relato do PIE,

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68

declara não cumprir integralmente o planejamento de estudos devido às atividades pessoais e

falta de esforço para cumprir o planejamento.

Apesar de ter feito todo o cronograma de estudos e realizá-lo, não consegui

por completo, faltou talvez um esforço maior que por parte de outras

atividades pessoais impediram de me dedicar mais. Acredito que mesmo assim,

consegui alcançar o meu objetivo final realizando pelo menos 90% de todo o

cronograma.

Trecho do relato do PIE de Isaac.

No período em que os dados foram coletados apliquei questionários a cada semana,

para obter dados sobre a rotina de estudo dos participantes quando esta prática não podia ser

observada. Na primeira e segunda semanas de coleta de dados, Isaac declarou ter estudado 5

dias a cada semana, entre 30 minutos e 1 hora em cada seção de estudo. Além disso, declarou

ter acessado às Unidades de Estudo para tirar dúvidas e participou das tutorias. Já na terceira

semana declarou ter estudado apenas 3 dias, entre 30 e 40 minutos. Apesar de ter dito que

frequentou tutorias na terceira semana, não consta o registro desta participação no diário de

campo e nas filmagens. A rotina de estudo apresentada pelo estudante coincide com a

declaração dada no questionário de sondagem.

As avaliações de Isaac demonstram bom desempenho ao longo do curso, apresentado

execuções fluentes e com expressividade, segundo critérios estabelecidos para avaliação no

tópico 1.6. A tabela a seguir apresenta a média final nas avaliações do Seminário Integrador

violão a partir do semestre 2009.1.

Isaac

2009.1

A

2009.2

A

2010. 1

B

2010.2

A

2011.1

B

2011.2

C

Tabela 5: Conceitos de Isaac em Seminário Integrador violão.

Os conceitos apresentados em 2009.1 e 2009.2 foram relativos a uma única avaliação

no semestre. A partir de 2010.1 os conceitos foram atribuídos de acordo com a execução do

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69

repertório relativo a cada ponto de prova, como explicado também no tópico 1.6. Isto

demonstra que, além de executar o repertório com qualidade, ele escolhia programa de nível

técnico mais elevado. Vale ressaltar que, para tocar os pontos com níveis mais altos de

exigência, o estudante era previamente autorizado a partir da gravação dos pontos mais

simples. O nível de execução apresentado por Isaac se manteve na gravação 1 de 2011.2. O

parecer desta avaliação diz o seguinte:

Assum Preto: peça muito bem tocada, com exceção do trecho final. Poderia

tocar com andamento mais lento. Terezinha de Jesus: canção muito bem

tocada e cantada.

Parecer de avaliação da gravação 1 de Isaac.

Acreditamos que o bom desempenho nestas avalições está relacionado à rotina de

estudos e ao seu nível técnico ao ingressar no PROLICENMUS.

Na observação do estudo individual, Isaac identifica os problemas que surgem em sua

execução e se utiliza da fragmentação como estratégia de estudo. Porém, em alguns

momentos, mesmo quando identificados, os problemas não são corrigidos. Uma das razões

para Isaac não resolver os problemas identificados é que a fragmentação do trecho não

corresponde ao erro apresentado.

Isaac toca do início da peça até peça até o compasso 11. Erra as colcheias do

compasso 6, mas não para a execução. Repete alguma vezes a melodia do

compasso 8. Segue tocando do compasso 8 até o compasso 11.

Trecho da transcrição da prática de violão de Isaac.

Isaac identifica o problema, pois ele para a execução no compasso seguinte àquele em

que houve o erro e repete o trecho. Porém, a repetição possui o mesmo erro cometido

anteriormente. Isaac identifica os problemas durante a execução e usa de fragmentação para

resolvê-los, mas em alguns casos a fragmentação perde sua eficiência, pois ele repete os

trechos com os mesmos erros. Em outros momentos, a fragmentação é relativa ao trecho exato

onde ocorreu problema.

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70

Segue tocando do compasso 8 até o compasso 11. Erra as notas do compasso

10. Para a execução e toca a melodia do compasso 10 com as notas erradas.

Trecho da transcrição da prática de violão de Isaac.

Isaac confirma em entrevista que utiliza a fragmentação musical como estratégia de

estudo. Apesar de as Unidades de Estudo trabalharem o conteúdo da música através da

fragmentação e do tutor utilizar as UEs em suas tutorias, Isaac reconhece esta estratégia como

uma indicação do tutor.

Inclusive essa é a orientação que Felipe nos dá sempre. Não conseguiu fazer,

estude aquele trecho. Só passe para outro quando você conseguir fazer este. E

geralmente eu faço isso, quando eu tenho esse problema eu faço isso.

Trecho da transcrição da entrevista de Isaac.

Isaac utiliza os excertos sugeridos na unidade para aprender a música tocando junto

com o vídeo, ou em momento separado. Este comportamento é apresentado quando o

estudante é observado ao estudar acessando a Unidade de Estudo, e no atendimento presencial

com o tutor. A prática dos excertos junto com o vídeo foi uma recomendação do tutor e da

própria unidade.

Nas tutorias de violão, a estratégia inicial sugerida pelo tutor foi solfejar a música,

para fixar a melodia. Após esta etapa, o planejamento foi praticar a música conforme as

instruções da unidade de estudo.

Mas o que eu tinha em mente era fazer um pouco do que tá sugerido na videoaula

junto, pelo menos o início né [...] Depois a gente pode trabalhar outros aspectos da

música. [...] A gente pode fazer solfejo, porque a gente já vai memorizando quais são

as notas, e aí fica mais fácil de lembrar depois.

Trecho da transcrição da tutoria de Isaac.

Isaac utiliza o solfejo para aprender algum trecho em que ele tem dificuldade. Esta

estratégia é muito reforçada pelo tutor residente que atendeu aos participantes no período em

que este estudo foi realizado. Esta estratégia foi identificada como influência do tutor, embora

algumas Unidades de Estudo anteriores também dessem esta sugestão.

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71

Nas interações entre Isaac e o tutor que o atende presencialmente, há iniciativa de

diálogo por parte do tutor e do estudante. O tutor fez intervenções verbais pontuais quando

Isaac apresentava alguma falha na execução que ele próprio não percebia. O estudante se

reportou ao tutor para tirar dúvidas, mas os questionamentos não eram relativos à sua

execução da música. Isaac também apresentou diálogo com os colegas, auxiliando-os em

alguma dificuldade que ele notava.

Isaac mostra a Diana o baixo na nota ré, no final da semifrase.

Isaac diz: Baixo em ré.

Diana diz: É junto?

Isaac diz: Não. Ré, ré.

Trecho da transcrição da tutoria de Isaac

Figura 4: Partitura Assum Preto, compassos 4 ao 8.

O fato de ele perceber problemas na execução dos colegas e ajudá-los nos monstra que

Isaac tem noção de como a peça deve ser executada, mas quando ele está tocando, às vezes,

não corrige os próprios problemas.

Isaac não apresentou nenhuma participação nos fóruns, tanto das Unidades de Estudo

relativas ao período da coleta de dados quanto das demais UEs.

Para Isaac, a contribuição das Unidades de Estudo para o seu aprendizado de violão se

limitou à digitação adotada para executar as peças.

Edgar: O que tá escrito ali em termos de digitação, que dedo deve usar, você entende

bem?

Isaac: Entendo. Mas nem sempre eu faço como tá.

Edgar: Por que não?

Isaac: Às vezes esqueço bastante. Assim, foi como eu falei antes, eu não me ligo

bastante no que tá ali. O uso da mão direita, por exemplo.

Trecho da transcrição da entrevista de Isaac

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72

Apesar de evidenciar a questão mecânica como uma das principais contribuições das

Unidades de Estudo para seu aperfeiçoamento, Isaac declara que não seguia as sugestões de

digitação, por não considerar isto um fator significativo para a qualidade de sua execução.

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CAPÍTULO 6

CONCLUSÃO

Após a apresentação dos dados coletados de cada caso, fizemos algumas relações entre

os perfis de cada participante, o seu comportamento de estudo e os resultados apresentados

em avaliações do repertório estudado. Para o fechamento do capítulo e desta dissertação,

fizemos algumas considerações sobre a pergunta de pesquisa e os objetivos deste estudo.

6.1 Considerações sobre a análise dos dados

Todos os participantes demonstraram a capacidade de identificar problemas em sua

execução e utilizaram a fragmentação musical como estratégia de estudo. Porém, a maneira

como este comportamento se apresentou variou em cada caso. A utilização das Unidades de

Estudo para a prática do instrumento também variou.

Embora tenha ingressado no PROLICENMUS tocando violão e lendo partitura, a

experiência prévia de Fábio não evitou que seu estudo apresentasse erros não identificados,

principalmente no que se refere à divisão rítmica. Fábio não participava das tutorias e

consultava o tutor para tirar dúvidas pontuais sobre problemas técnicos. O único momento de

diálogo registrado entre Fábio e o tutor de violão do polo foi para consultar a digitação

adequada de um trecho da peça Assum Preto. A digitação escolhida por Fábio causou

problemas de sonoridade e fluência no trecho que estudava naquele momento. Na seção de

estudo observada ele concorda com a sugestão do tutor, e estuda fragmentando o trecho. Mas

na gravação de avaliação ele executa a peça utilizando a digitação anterior, que causou

problemas em sua execução. Os problemas apresentados por Fábio neste lugar em particular

não tem relação com a estratégia que ele utiliza, mas com a decisão dele em executar o trecho

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74

com uma digitação que não era adequada para seu nível técnico. A experiência prévia

de Fábio não foi suficiente para escolhas mais pertinentes da execução deste trecho.

Dos três casos, apenas Fábio utilizou recursos que não faziam parte das Unidades de

Estudo, como a consulta de sites e a utilização de softwares, para auxiliar seu estudo.

Extrapolar o conteúdo que as Unidades de Estudo propõem, assim como adotar estratégias

próprias para a aprendizagem foi um comportamento estimulado por professores e tutores do

curso, em todas as interdisciplinas. O que chama atenção no caso de Fábio é que este

comportamento foi uma negação ao material do próprio curso, por não considerá-lo

apropriado para seu nível de execução e ritmo de aprendizagem. Por este mesmo motivo ele

não participou dos encontros presenciais.

No que se refere à organização temporal do estudo, Fábio e Isaac tiveram este quesito

comprometido por causa de compromissos pessoais. A estrutura familiar (ser casado, possuir

filhos), não foi um fator relevante para o comprometimento da rotina de prática do

instrumento. A rotina de Vanessa se manteve constante no período em que ela foi observada.

Vanessa orienta sua prática de violão pelas Unidades de Estudo, e participa

constantemente das tutorias. Esta foi a participante que frequentou mais encontros presenciais

durante o período de observações. Em seu estudo, Vanessa também apresentou erros que não

foram identificados. Porém, houve inciativa de Vanessa em tirar dúvidas com o tutor e seguir

as orientações dadas. Embora já tocasse violão, o nível de execução era elementar.

Acreditamos que este comportamento de estudo de Vanessa tem uma relação direta com a

experiência prévia desta estudante antes do início do curso.

Em seu estudo de violão, Isaac identifica os problemas, utiliza a fragmentação para

estudar, mas este processo em alguns pontos acontece de modo desorganizado, pois o trecho

fragmentado por Isaac em alguns momentos não correspondia ao local onde ocorreu o

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75

problema. Sua frequência de estudo se manteve regular, exceto na última semana de

observação, quando outras atividades curriculares sobrecarregaram seu tempo de trabalho.

Pelo comportamento e organização de estudo apresentada por Isaac, acreditamos que o bom

desempenho de Isaac em suas avalições se deve à sua experiência prévia ao curso, que,

segundo descrição dele, não era iniciante. Este último fator também tem relação com o modo

como Isaac interagia com o tutor nos encontros presenciais.

Em tutorias, quando Isaac teve iniciativa em dialogar com o tutor, o conteúdo das

conversas não teve relação direta com problemas relacionados à sua execução. As perguntas

eram relativas a alguma instrução da Unidade de Estudo, no intuito de confirmar se

compreendeu corretamente. Isto evidencia que, para Isaac, as orientações das Unidades não

eram suficientemente claras para a compreensão dos procedimentos de estudo.

6.2 Considerações finais

A maneira como estas unidades orientam a prática de violão do estudante varia de

acordo com a utilização de cada estudante. A estratégia central das UEs é notada em todos os

participantes do estudo, mas a postura de negação ao material, ou a crença que o melhor

caminho era tirar dúvidas presencialmente influenciou o comportamento dos estudantes em

relação ao acesso e utilização do material em sua prática.

A Distância Transacional foi significativa nos três casos estudados, principalmente no

que se refere ao comportamento dos estudantes em relação aos erros durante a execução. O

diálogo a distância foi um comportamento constatado em apenas um dos casos, mas o

conteúdo das mensagens não era relativo à execução de violão. Sendo assim, nenhum dos

casos estabeleceu diálogo efetivo à distância. Todo diálogo diretamente ligado a problemas de

execução foi estabelecido presencialmente, o que demonstra uma preferencia por este tipo de

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interação. A iniciativa destas interações variou em cada caso, e um dos fatores ligados a isto

foi a experiência prévia de cada estudante antes de ingressar no curso.

A estrutura das Unidades de Estudo se apresentou adequada para a aprendizagem de

violão a distância. As estratégias sugeridas foram compreendidas e aplicadas pelos estudantes,

e quando aplicadas demonstraram ser eficientes. Aqueles problemas que ocorreram nas seções

de estudo e se repetiram nas avaliações foram uma consequência de não se perceber os

problemas durante a execução.

Os dados demonstraram que há uma relação entre a experiência prévia e o modo como

os estudantes utilizaram as UEs para estudar violão. Os estudantes que se declararam

iniciantes ao entrar no curso demonstraram maior interesse em consultar as Unidades de

Estudo e interagir com os tutores para estudar violão. Nos participantes que declaram ser mais

experientes ao ingressar no curso, este comportamento foi menos acentuado.

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APÊNDICE

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QUESTIONÁRIO 1

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QUESTIONÁRIO 2

Questionário Semanal

Nome:______________________________________________________________

1) Você estudou em casa na semana da Unidade 109?

( ) Sim

( ) Não

2) Quantos dias você estudou na semana da Unidade 109?

______________________________________________________________________

3) Por quanto tempo em cada momento de estudo?

______________________________________________________________________

4) Você acessou a vídeo aula para tirar dúvidas durante seu estudo?

( ) Sim

( ) Não

5) Você participou das tutorias de violão?

( ) Sim

( ) Não

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TERMO DE CONSENTIMENTO

Caro aluno,

Sou Edgar Marques, tutor e membro da equipe de produção de Seminário Integrador –

Violão. Você está sendo convidado a participar de uma pesquisa de Mestrado no Programa de

Pós-Graduação da Universidade Federal da Bahia (UFBA) sobre Aprendizagem de violão a

distância no PROLICENMUS.

Para participar desta pesquisa você deve ser aluno do PROLICENMUS, ser aluno de

violão e estar devidamente matriculado no curso. Leia este documento com atenção para

entender o que você precisará fazer para colaborar com esta pesquisa, caso aceite este convite.

O objetivo desta pesquisa é compreender como se dá a Aprendizagem de violão a

distância, no contexto do PROLICENMUS. Para que este objetivo seja alcançado, preciso

coletar alguns dados através das seguintes ferramentas:

Questionários, que serão enviados por e-mail;

Filmagens do seu momento de estudo individual de violão, e de suas tutorias de

instrumento no polo;

Entrevistas, também realizadas no polo.

É importante deixar claro que esta pesquisa não tem nenhuma relação com sua vida

acadêmica. Nada que for dito ou filmado terá influência sobre sua avaliação de violão no

PROLICENMUS, e os seus dados de identificação serão mantidos em sigilo. As informações

coletadas serão utilizadas apenas para a pesquisa realizada na UFBA, e poderão ser

apresentadas em algum evento científico; contudo, os seus dados de identificação ainda serão

mantidos em sigilo.

A participação nesta pesquisa é voluntária, e para autorizar a utilização dos dados que

você fornecerá, preciso que você preencha e assine este termo de consentimento. Sendo

assim, conto com sua contribuição e autorização para o desenvolvimento desta pesquisa.

Um forte abraço,

Edgar Marques – Pesquisador

Declaração de participação

Declaro que li e compreendi os detalhes deste documento, estando de acordo com todos

os itens acima colocados.

Nome do aluno:_________________________________________________________

Assinatura:_________________________________________Data:________________