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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS)
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL (PROPUR)
GRUPO DE PESQUISA LABORATÓRIO DE ESTUDOS URBANOS (LEURB)
CURSO DE EXTENSÃO EM PLANEJAMENTO URBANO
ENCONTRO 9: QUESTÕES ECONÔMICAS
PALESTRANTE CLARICE MARASCHIN
A PRODUÇÃO DA CIDADE: LOCALIZAÇÃO, USO DO SOLO E EXTERNALIDADES
CLARICE MARASCHIN
Faculdade de Arquitetura UFRGS
Departamento de Urbanismo
Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional
Relação entre os usos do solo e a cidade, com ênfase na estrutura e dinâmica territorial
das atividades urbanas. Discutir as lógicas e os princípios básicos da relação entre as atividades e o espaço urbano bem como dos fatores que afetam a localização e o
arranjo espacial dos usos do solo na cidade. Problematizar o processo de estruturação espacial das atividades nas cidades.
Uso do Solo
• Uso do solo: finalidade para a qual a terra é usada pela população humana local e pode ser definida como as atividades humanas que estão diretamente relacionadas à terra, fazendo uso de seus recursos ou tendo um impacto sobre eles (Almeida et al, 2005).
• Uso do solo: designação genérica dos tipos de atividades sociais desenvolvidas no espaço urbano.
Atividade Urbana
• Ação humana individual ou coletiva, de qualquer natureza ou objetivo, praticada no interior do espaço urbano
• São consideradas dinâmicas de curto prazo;
• Tem ciclos muito curtos (por exemplo, horários comerciais, fluxos rotineiros de ida ao trabalho, etc);
• Mudam mais rapidamente (localização residencial e de serviços, rotas de deslocamentos, etc., são os elementos mais rapidamente mutáveis no sistema urbano).
Atividades
• Classificação econômica:
• Setor primário • Setor secundário • Setor terciário
Atividades Urbanas
•Classificação (Echenique, 1976):
• em lugares (estacionárias): produtiva (trabalho)
reprodutiva (morar, estudar, recrear, etc)
associativa (religiosa, política, sindical, etc)
• entre lugares: fluxos (circulação veículos, pedestres)
Uso do Solo
Classificações usuais do uso do solo:
• residencial
• comercial / serviços
• industrial
• Institucional,
• Vias, circulação, etc.
Exemplo de mapa temático de uso do solo
Representação do Uso do Solo
Representação do Uso do Solo
Exemplos de mapas temáticos de uso do solo
Uso do Solo
• Distribuição de atividades: as atividades urbanas são interdependentes entre si e com as características do espaço urbano.
• As decisões de localização no espaço urbano buscam satisfazer as necessidades e anseios dos agentes sociais (famílias, empresas, estado, mercado imobiliário, etc.) (Correa, 2004)
• A localização de atividades segue lógicas que podem ser identificadas.
Uso do Solo
• Na maioria das sociedades ocidentais, os usos do solo são definidos principalmente através do mercado, com maior ou menor presença de regulação pública.
• Em tais sociedades, portanto a estrutura espacial existente na cidade é o produto de milhões de ações que os indivíduos tomaram no passado. Poderia se suspeitar que o resultado de tais ações individuais não coordenadas seria o caos.
• Contudo, a história da ciência sugere o contrário: quanto maior o número de atores individuais num sistema, mais fortes as regularidades que o mesmo vai exibir. (Fujita, 1989)
Lógica de localização comercial/serviços
• Facilidade de acesso da cidade: proximidade com os usuários.
• Comerciantes e prestadores de serviço buscam o centro da cidade, que tende a ser o lugar mais acessível para todos. Lá conseguem estar expostos a um maior número de usuários possíveis.
• Comerciantes e prestadores de serviços também dependem de proximidade a outros comerciantes e prestadores de serviço complementares e mesmo concorrentes.
• A lógica de localização comercial, assim, tende a criar concentração e formação de pólos, linhas e centros.
Usos do Solo
Lógica de localização residencial
• A aglomeração de comércio e serviços nos centros urbanos cria uma polaridade para emprego e consumo que influencia a localização residencial.
• Morar nas proximidades desses centros significa facilidade de acesso a ambos; a competição por essas localizações provoca o aumento do custo (preços e aluguéis sobem) e conseqüentemente a também concentração de habitação nessas áreas, que tenderão a ter apartamentos menores e maior concentração de edifícios residenciais (densidade).
Porto Alegre
Houston, EUA
Localização residencial e segregação sócio-espacial na cidade capitalista • Classes altas: poder de escolha da localização (Villaça, 2001), critérios de
qualidade do sítio e aprazibilidade (Hoyt, 1948; Cabral,1982)
• Classes Médias: direcionadas pelas classes altas, proximidade a infra-estrutura e equipamentos;
• Classes baixas: proximidade à indústria, cidades dormitório, periferias distantes;
• Ocupações irregulares, “sobras” da cidade e áreas não vigiadas, encostas de morro, fundos de vale, áreas de preservação...
Mercado Imobiliário
• Principal vetor de estruturação do uso residencial do solo formal das grandes cidades latino-americanas (Abramo, 2007)
• Segmentação/ segregação • Oferta: segmentado, busca demanda solvável
• Demanda: homogeneidade sócio-espacial das áreas residenciais, famílias desejam estar próximas aos seus próximos
Mercado Imobiliário
• Produção de imóveis: indústria que visa lucro e não “suprir necessidades das pessoas”.
• A oferta de imóveis não é independente da demanda, mas ela orienta a demanda. Nem todas as demandas serão atendidas. O processo de produção é contínuo: a indústria tem que produzir e vender.
Mercado Imobiliário
• A produção imobiliária é ininterrupta e relativamente independente. Por conseqüência, a cidade não está em equilíbrio (como nos modelos clássicos).
Mercado Imobiliário
• Competição espacial: a competição entre empresas tende a uniformizar os lucros. Daí a busca permanente por baixar custos de construção e conseguir terra de baixo custo.
• A terra é comprada em localizações sem grande valor imobiliário, e vendida como parte de uma nova incorporação, como “nova boa localização”.
• A descoberta ou criação de novas localizações é imediatamente seguida por outros incorporadores e as vantagens tendem a desaparecer (Harvey, 1987).
Mercado Imobiliário
• Forças centrífugas: busca contínua por novos locais que permitam o lucro excedente, conduz ao espalhamento da cidade.
• Forças centrípetas: a competição de mercado conduz os incorporadores a compartilharem as novas localizações descobertas, criando novas aglomerações. Isto ocorre até o ponto em que as vantagens iniciais se tornem desvantagens.
• Noção de desenvolvimento desigual (Harvey): ilhas de desenvolvimento rápido e limitado, continuamente emergindo na cidade.
A geografia desigual da distribuição do uso do solo
residencial em Porto Alegre
Nucleação de comércio e serviços
• A partir de uma certa extensão urbana, passa a ser conveniente para certos serviços de menor porte e mais voltados à habitação se localizar fora do centro urbano e mais próximo a determinados tipos de consumidores, formando, com isso, centros locais, secundários.
• Por outro lado, com o crescimento urbano, serviços originalmente localizados no centro urbano principal, podem considerar a mudança para centros secundários, em função de congestionamento, custo, etc.
Localização dos
estabelecimentos
varejistas nos
trechos de rua
(ponderado) RAIS, 2010
7.599 trechos
possuem comércio
na cidade, ou seja,
quase 26% dos
trechos.
Acessibilidade Aglomeração espacial
Uma ‘massa’ de atividades inter-relacionadas:
centros e policentros distribuição de empregos centros especializados
consumo, e produção (Anas et al, 1998)
Padrões de concentração espacial e populacional
Deslocamentos (fluxos)
•A distribuição de fluxos no espaço urbano tem relação com a configuração (malha urbana), mas considerando que os deslocamentos são feitos com motivos específicos, as atividades que atraem usuários também orientam e polarizam os fluxos.
Acessibilidade
•A acessibilidade é considerada um aspecto essencial na análise urbana, sendo utilizada para explicar desde o crescimento das cidades até a localização das funções e o arranjo do uso do solo (Ingram,1971).
Comércio Familiar (sem funcionários)
Comércio de Grande Porte (acima de 50 funcionários).
Comércio de Pequeno Porte (1-10 funcionários)
Comércio de Médio Porte (11-50 funcionários)
Malha urbana e padrão de acessibilidade
A disposição relativa de espaços tem o poder de criar uma hierarquia espacial onde algumas, sendo mais acessíveis
possuem maior vocação para atividades polarizadoras.
Análise de Sintaxe Espacial Cores quentes: espaços mais integrados Cores frias: espaços mais segregados Atlanta, EUA Medida de Integração Global
Configuração espacial da RMPA Acessibilidade regional Fonte: Ugalde e Rigatti, 2006
Inter-relações
• A acessibilidade é um dos principais determinantes do potencial de desenvolvimento de um local e, portanto, do valor da terra.
• É importante destacar que a acessibilidade é fortemente influenciada pela ação do poder público (abertura de vias, construção de viadutos, dotação de transporte coletivo, metrôs, ciclovias, construção de escolas e demais equipamentos, etc.).
• Assim, os investimentos públicos tem forte poder de modelar os valores do solo e, portanto, a maneira como o solo será usado.
(Levy, 1997).
Estrutura espacial urbana e sistema de atividades
• A acessibilidade relativa de certas áreas do sistema urbano ocasiona a sua ocupação com atividades que se beneficiam da grande exposição ao público.
• Essa ocupação geral competição, o que conduz a especialização desses lugares e concentração de atividades comerciais e de serviço.
• Nesse sentido, a estrutura espacial oportuniza a formação de centralidade, uma reforçando a outra.
Relação entre forma urbana e sistema de atividades • Economias de aglomeração: a maioria das atividades urbanas se
beneficiam da aglomeração por razões funcionais e econômicas.
• As atividades residenciais, sendo concentradas, permitem a oferta de melhor infraestrutura e melhores serviços a custos individuais menores.
• As atividades comerciais complementares (diferentes tipos de comércio ) concentradas em polos atraem mais consumidores e vendem mais; mesmo as atividades comerciais concorrentes (mesmo tipo de comércio) sendo concentradas permitem um controle de cada um sobre os demais concorrentes
Inter-relações
•Os valores do solo influenciam fortemente a intensidade do desenvolvimento (densidade de construção)
•A razão principal para construir intensamente em determinado terreno é economizar um recurso escasso: terra (Levy, 1997)
Referências bibliográficas
ABRAMO, Pedro. A Cidade COM-FUSA. A mão inoxidável do mercado e a produção da estrutura urbana nas grandes metrópoles latino-americanas. In: R. B. Estudos Urbanos e Regionais, v.9, n.2, nov. 2007.
ALMEIDA, Cláudia; MONTEIRO, Antônio e CÂMARA, Gilberto. Modelos de Simulação e Prognósticos de Mudanças de Uso do Solo Urbano: Instrumento para o Subsídio de Ações e Políticas Públicas Urbanas. XI Encontro Nacional da ANPUR, Salvador, 2005.
CABRAL, Gilberto Flores. Distribuição Espacial dos Usos Residenciais do Solo – o caso de Porto Alegre. Dissertação Mestrado. PROPUR/UFRGS, 1982.
CORREA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. 4 ed. São Paulo, Ed. Ática, 2005.
FUJITA, Masahisa. Urban Economic Theory – Land Use and City Size. Cambridge University Press, 1989.
GROWTHER, David e ECHENIQUE, Marcial. Desarrollo de un Modelo de Estructura Urbana Espacial. in: La Estructura del Espacio Urbano. Martin,L., March, L.,Echenique, M. Ed. Gustavo Gilli, Barcelona, 1975.
INGRAM, D. R. The Concept of Accessibility: A Search for an Operational Form. Regional Studies. Vol. 5, 1971.
VILLAÇA, Flávio. Espaço Intra-Urbano no Brasil. 2 ed. São Paulo. Studio Nobel: FAPESP: Lincoln Institute, 2001.
LEVY, John M., Contemporary Urban Planning. 4th Ed. New Jersey, Prentice Hall, 1997.
UGALDE, Cláudio e RIGATTI, Décio. Configuração Espacial e Desenvolvimento Urbano-Regional.
SEVTSUK, Andres. Path and Place: A Study of Urban Geometry and Retail Activity in Cambridge and Somerville, MA. Department of Urban Studies and Planning. Cambridge, MIT. PhD. 2010.