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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE LETRAS Aquisição das fricativas /f/, /v/, /R/ e /Y/ do Português Brasileiro Carolina Cardoso Oliveira Dissertação de Mestrado 2002

Aquisição das fricativas /f/, /v/, / R/ e / Y/ do ...§ões... · PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE LETRAS Aquisição das fricativas /f/, /v/,

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE

DO SUL

FACULDADE DE LETRAS

Aquisição das fricativas /f/, /v/, /R/ e /Y/ do Português

Brasileiro

Carolina Cardoso Oliveira

Dissertação de Mestrado

2002

SUMÁRIO

LISTA DE SÍMBOLOS..........................................................................xii

LISTA DE TABELAS.............................................................................xii

LISTA DE FIGURAS..............................................................................xv

RESUMO.............................................................................................xviii

ABSTRACT............................................................................................xix

1 INTRODUÇÃO......................................................................................1

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.........................................................3

2.1 AQUISIÇÃO FONOLÓGICA......................................................................3

2.2 GEOMETRIA DE TRAÇOS........................................................................5

2.3 FONOLOGIA MÉTRICA...........................................................................11

2.3.1 O ACENTO EM PORTUGUÊS.............................................................................16

3 METODOLOGIA................................................................................18

3.1 BANCOS DE DADOS.................................................................................18

3.2 INFORMANTES........................................................................................19

3.3 CORPUS......................................................................................................21

3.4 INSTRUMENTO DE ANÁLISE...............................................................24

3.4.1 PACOTE VARBRUL.................................................................................................24

3.5 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS.................................................................26

3.5.1 VARIÁVEIS DEPENDENTES..............................................................................26

3.5.2 VARIÁVEIS LINGÜÍSTICAS INDEPENDENTES.........................................27

3.5.2.1 Tonicidade.............................................................................................27

3.5.2.2 Posição na palavra..................................................................................28

3.5.2.3 Número de sílabas ................................................................................29

3.5.2.4 Contexto fonológico precedente............................................................29

3.5.2.5 Contexto fonológico seguinte................................................................30

3.5.3 VARIÁVEL EXTRALINGÜÍSTICA INDEPENDENTE................................31

3.5.3.1 Faixa etária.............................................................................................32

3.6 CODIFICAÇÃO DAS VARIÁVEIS............................................................33

3.7 AMALGAMAÇÕES.....................................................................................33

3.8 CRUZAMENTOS.......................................................................................34

4 DESCRIÇÃO DOS DADOS................................................................35

4.1 FONEMA /f/..............................................................................................35

4.1.1 FAIXA ETÁRIA..........................................................................................................35

4.1.1.1 Faixas etárias simples.............................................................................36

4.1.1.2 Faixas etárias amalgamadas...................................................................38

4.1.2 TONICIDADE............................................................................................................40

4.1.3 CONTEXTO PRECEDENTE................................................................................41

4.1.4 CONTEXTO SEGUINTE.......................................................................................42

4.1.5 POSIÇÃO NA PALAVRA........................................................................................42

4.1.6 NÚMERO DE SÍLABAS .........................................................................................43

4.1.7 OMISSÕES E OUTRAS REALIZAÇÕES............................................................43

4.1.8 CRUZAMENTOS.......................................................................................................45

4.1.8.1 Posição na palavra x faixa etária............................................................46

4.1.8.2 Posição na palavra x tonicidade.............................................................47

4.1.8.3 Tonicidade x número de sílabas............................................................48

4.2 FONEMA /v/.............................................................................................49

4.2.1 FAIXA ETÁRIA..........................................................................................................49

4.2.1.1 Faixas etárias simples.............................................................................50

4.2.1.2 Faixas etárias amalgamadas..................................................................52

4.2.2 NÚMERO DE SÍLABAS..........................................................................................54

4.2.3 TONICIDADE...........................................................................................................55

4.2.4 CONTEXTO PRECEDENTE................................................................................56

4.2.5 CONTEXTO SEGUINTE.......................................................................................57

4.2.6 POSIÇÃO NA PALAVRA........................................................................................57

4.2.7 OMISSÕES E OUTRAS REALIZAÇÕES............................................................58

4.2.8 CRUZAMENTOS.......................................................................................................59

4.2.8.1 Posição na palavra x faixa etária............................................................60

4.2.8.2 Posição na palavra x tonicidade.............................................................61

4.2.8.3 Tonicidade x número de sílabas............................................................62

4.3 FONEMA /š/............................................................................................63

4.3.1 FAIXA ETÁRIA..........................................................................................................63

4.3.1.1 Faixas etárias simples.............................................................................64

4.3.2 POSIÇÃO NA PALAVRA........................................................................................66

4.3.3 CONTEXTO PRECEDENTE ...............................................................................67

4.3.4 CONTEXTO SEGUINTE ......................................................................................68

4.3.5 TONICIDADE............................................................................................................68

4.3.6 NÚMERO DE SÍLABAS .........................................................................................69

4.3.7 OMISSÕES E OUTRAS REALIZAÇÕES............................................................70

4.3.8 CRUZAMENTOS.......................................................................................................71

4.3.8.1 Posição na palavra x faixa etária............................................................71

4.3.8.2 Posição na palavra x tonicidade.............................................................73

4.3.8.3 Tonicidade x número de sílabas ...........................................................74

4.4 FONEMA /ž/.............................................................................................75

4.4.1 FAIXA ETÁRIA..........................................................................................................75

4.4.1.1Faixas etárias simples..............................................................................76

4.4.2 CONTEXTO SEGUINTE.......................................................................................78

4.4.3 POSIÇÃO NA PALAVRA........................................................................................79

4.4.4 CONTEXTO PRECEDENTE................................................................................79

4.4.5 TONICIDADE............................................................................................................80

4.4.6 NÚMERO DE SÍLABAS..........................................................................................81

4.4.7 OMISSÕES E OUTRAS REALIZAÇÕES............................................................82

4.4.8 CRUZAMENTOS.......................................................................................................83

4.4.8.1 Posição na palavra x faixa etária............................................................83

4.4.8.2 Posição na palavra x tonicidade.............................................................85

4.4.8.3 Tonicidade x número de sílabas.......................................................86

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS....................................................87

5.1 QUANTO À FAIXA ETÁRIA.....................................................................87

5.2 QUANTO À TONICIDADE......................................................................92

5.3 QUANTO AO CONTEXTO PRECEDENTE..........................................93

5.4 QUANTO AO CONTEXTO SEGUINTE................................................94

5.5 QUANTO AO NÚMERO DE SÍLABAS..................................................94

5.6 QUANTO À POSIÇÃO NA PALAVRA.....................................................95

5.7 QUANTO A OMISSÕES E OUTRAS REALIZAÇÕES...........................96

5.7.1 OMISSÕES DE SÍLABA .........................................................................................96

5.7.2 OMISSÕES DE SEGMENTO................................................................................98

5.7.3 SUBSTITUIÇÕES.....................................................................................................100

5.7.3.1 Substituições em /f/ e /v/...................................................................100

5.7.3.2 Substituições em /š/ e /ž/..................................................................102

5.7.3.3 Faixa etária das substituições..............................................................105

5.8 Implicações para a fonoaudiologia............................................................107

6 CONCLUSÃO.....................................................................................109

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................111

ANEXO A – Ficha de levantamento e codificação dos dados para os

fonemas em estudo................................................................................117

ANEXO B – Símbolos usados para codificar variáveis.........................118

LISTA DE SÍMBOLOS

C ⇒ consoante

V ⇒ vogal

R ⇒ raiz

PC ⇒ ponto de consoante

CO ⇒ cavidade oral

LAR ⇒ laríngeo

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Produção do fonema /f/ quanto à faixa etária......................................36

TABELA 2 – Produção do fonema /f/ quanto à faixa etária amalgamada.................39

TABELA 3 – Produção do fonema /f/ quanto à tonicidade.........................................40

TABELA 4 – Produção do fonema /f/ quanto ao contexto precedente.....................41

TABELA 5 – Produção do fonema /f/ quanto ao contexto seguinte.........................42

TABELA 6 – Produção do fonema /f/ quanto à posição na sílaba............................42

TABELA 7 – Produção do fonema /f/ quanto ao número de sílabas.........................43

TABELA 8 – Omissões e outras realizações na aquisição do fonema /f/................44

TABELA 9 – Omissões e outras realizações amalgamadas na produção de

/f/.................................................................................................................................45

TABELA 10 – Cruzamento dos fatores posição na palavra e faixa etária........46

TABELA 11 – Cruzamento dos fatores posição na palavra e tonicidade.........47

TABELA 12 – Cruzamento dos fatores tonicidade e número de sílabas.........48

TABELA 13 – Produção do fonema /v/ quanto à faixa etária..........................50

TABELA 14 – Produção do fonema /v/ quanto à faixa etária amalgamada...53

TABELA 15 – Produção do fonema /v/ quanto ao número de sílabas..........54

TABELA 16 – Produção do fonema /v/ quanto à tonicidade..........................55

TABELA 17 – Produção do fonema /v/ quanto ao contexto precedente......56

TABELA 18 – Produção do fonema /v/ quanto ao contexto seguinte...........57

TABELA 19 – Produção do fonema /v/ quanto à posição na palavra............57

TABELA 20 – Omissões e outras realizações na produção do fonema /v/...58

TABELA 21 – Omissões e outras realizações amalgamadas..............................59

TABELA 22 – Cruzamento dos fatores posição na palavra e faixa etária........60

TABELA 23 – Cruzamento dos fatores posição na palavra e tonicidade.........61

TABELA 24 – Cruzamento dos fatores tonicidade e número de sílabas.........62

TABELA 25 – Produção do fonema /š/ quanto à faixa etária..........................64

TABELA 26 – Produção do fonema /š/ quanto à posição na palavra............66

TABELA 27 – Produção do fonema /š/ quanto ao contexto precedente.......67

TABELA 28 – Produção do fonema /š/ quanto ao contexto seguinte...........68

TABELA 29 – Produção do fonema /š/ quanto à tonicidade...........................68

TABELA 30 – Produção do fonema /š/ quanto ao número de sílabas...........69

TABELA 31 – Omissões e outras realizações na aquisição do fonema /š/....70

TABELA 32 – Omissões e outras realizações amalgamadas..............................71

TABELA 33 – Cruzamento dos fatores posição na palavra e faixa

etária.............................................................................................................................72

TABELA 34 – Cruzamento dos fatores posição na palavra e tonicidade.........73

TABELA 35 – Cruzamento dos fatores tonicidade e número de sílabas.........74

TABELA 36 – Produção do fonema /ž/ quanto à faixa etária..........................76

TABELA 37 – Produção do fonema /ž/ quanto ao contexto seguinte...........78

TABELA 38 – Produção do fonema /ž/ quanto à posição na palavra............79

TABELA 39 – Produção do fonema /ž/ quanto ao contexto precedente......79

TABELA 40 – Produção do fonema /ž/ quanto à tonicidade..........................80

TABELA 41 – Produção do fonema /ž/ quanto ao número de sílabas...........81

TABELA 42 – Omissões e outras realizações na aquisição do fonema /ž/....82

TABELA 43 – Omissões e outras realizações amalgamadas..............................82

TABELA 44 – Cruzamento dos fatores posição na palavra e faixa etária........84

TABELA 45 – Cruzamento dos fatores posição na palavra e tonicidade.........85

TABELA 46 – Cruzamento dos fatores tonicidade e número de sílabas.........86

TABELA 47 – Idades de aquisição em Rangel (1998).........................................89

TABELA 48 – Diferença de aquisição entre pares surdo/sonoro.....................90

TABELA 49 – Diferença de idade de aquisição nas posições de onset absoluto

e medial........................................................................................................................90

TABELA 50 – Sílabas favoráveis à produção das fricativas...............................92

TABELA 51 – Contextos precedentes favoráveis à produção das fricativas...93

TABELA 52 – Contextos seguintes favoráveis à produção das fricativas........94

TABELA 53 – Omissões de segmento nas diferentes sílabas............................99

TABELA 54 – Produções por faixas etárias na aquisição de /f/e /v/...........105

TABELA 55 – Produções por faixas etárias na aquisição de /š/ e /ž/..........106

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Representação da estrutura arbórea segundo Clements e Hume

(1995, p.249)..................................................................................................................7

FIGURA 2 – Representação das consoantes segundo Clements e Hume (1995,

p.292)..............................................................................................................................8

FIGURA 3 – Representação geométrica do /f/.....................................................9

FIGURA 4 – Representação geométrica do /v/....................................................9

FIGURA 5 – Representação geométrica do /š/...................................................10

FIGURA 6 – Representação geométrica do /ž/..................................................10

FIGURA 7 – Representação da relação entre elementos prosódicos................12

FIGURA 8 – Representação da ‘árvore’ (Liberman e Prince, 1977, p.264)......13

FIGURA 9 – Representação da grade métrica (Liberman e Prince, 1977,

p.309)............................................................................................................................14

FIGURA 10 – Representação da grade métrica de Halle e Vergnaud, 1987

(Collischonn, 1999, p.126)........................................................................................14

FIGURA 11 – Representação da consoante final abstrata.................................17

FIGURA 12 – Quadro com o número de informantes selecionados no Banco

de Dados INIFONO.................................................................................................20

FIGURA 13 – Quadro com o número de informantes selecionados no Banco

de Dados INIFONO.................................................................................................20

FIGURA 14 – Quadro com as palavras descartadas com /f/............................22

FIGURA 15 – Quadro com as palavras descartadas com /v/...........................22

FIGURA 16 – Quadro com as palavras descartadas com /š/............................23

FIGURA 17 – Quadro com as palavras descartadas com /ž/...........................23

FIGURA 18 – Quadro com as variáveis dependentes - /f/ e /v/....................26

FIGURA 19 – Quadro com as variáveis dependentes - /š/ e /ž/....................26

FIGURA 20 – Quadro com as diferentes possibilidades de tonicidade em que

/f/ e /v/ podem ocorrer, no PB.............................................................................27

FIGURA 21 – Quadro com as diferentes possibilidades de tonicidade em que

/š/ e /ž/ podem ocorrer, no PB.............................................................................28

FIGURA 22 – Quadro com as diferentes possibilidades de posição na palavra

em que /f/ e /v/ podem ocorrer, no PB...............................................................28

FIGURA 23 – Quadro com as diferentes possibilidades de posição na palavra

em que /š/ e /ž/ podem ocorrer, no PB...............................................................28

FIGURA 24 – Quadro com as diferentes possibilidades de número de sílabas

em que /f/ e /v/ podem ocorrer, no PB...............................................................29

FIGURA 25 – Quadro com as diferentes possibilidades de número de sílabas

em que /š/ e /ž/ podem ocorrer, no PB...............................................................29

FIGURA 26 – Quadro com as diferentes possibilidades de contexto

precedente em que /f/ e /v/ podem ocorrer, no PB..........................................30

FIGURA 27 – Quadro com as diferentes possibilidades de contexto

precedente em que /š/ e /ž/ podem ocorrer, no PB..........................................30

FIGURA 28 – Quadro com as diferentes possibilidades de contexto seguinte

em que /f/ e /v/ podem ocorrer, no PB...............................................................31

FIGURA 29 – Quadro com as diferentes possibilidades de contexto seguinte

em que /š/ e /ž/ podem ocorrer, no PB...............................................................31

FIGURA 30 – Quadro com as faixas etárias - /f/ e/v/......................................32

FIGURA 31 – Quadro com as faixas etárias - /š/ e /ž/....................................33

FIGURA 32 – Gráfico de produção do fonema /f/...........................................38

FIGURA 33 – Gráfico de produção do fonema /f/ quanto à faixa etária

amalgamada.................................................................................................................39

FIGURA 34 - Gráfico de produção do fonema /v/............................................52

FIGURA 35 - Gráfico de produção do fonema /v/ quanto à faixa etária

amalgamada.................................................................................................................54

FIGURA 36 – Gráfico de produção do fonema /š/...........................................66

FIGURA 37 - Gráfico de produção do fonema /ž/............................................78

FIGURA 38 - Gráfico de aquisição dos 4 fonemas em estudo..........................88

FIGURA 39 – Quadro com sugestões de palavras para terapia.......................108

RESUMO

A presente pesquisa descreve a aquisição das fricativas /f/, /v/, /š/ e

/ž/ do português brasileiro, em posição de onset simples (absoluto e medial),

por crianças com desenvolvimento normal, e idade entre 1:0 e 3:8 anos. Os

dados utilizados nesta pesquisa fazem parte dos Bancos de Dados INIFONO

(crianças com idade entre 1:0 e 1:11 anos) e AQUIFONO (crianças com idade

entre 2:0 e 7:1 anos). Procurou-se observar o que ocorria quando a criança não

produzia um dos segmentos em estudo e quando estes eram substituídos. Para

realizar a análise dos dados fez-se uso da Geometria de Traços e da Fonologia

Métrica. Os dados utilizados foram submetidos à análise estatística pelo

conjunto de programas que fazem parte do Pacote VARBRUL.

ABSTRACT

This study describes the acquisition of the Brazilian Portuguese

fricatives /f/, /v/, /š/ e /ž/ by children with ages between 1:0 – 3:8, with

normal phonological development. The sample comes from the INIFONO

and AQUIFONO data bases. Statistic analysis was carried out using the

VARBRUL program and the results were analysed according to Geometry of

Phonological Features and Metrical Phonology.

1. INTRODUÇÃO

A aquisição da fonologia do português falado no Brasil vem sendo

bastante estudada nas últimas décadas. No processo de aquisição e

desenvolvimento da linguagem infantil alguns traços distintivos, estruturas

silábicas e posições na palavra são adquiridos precocemente, enquanto outros

são adquiridos tardiamente.

O tema central desta dissertação é a aquisição das consoantes fricativas

/f/, /v/, /š/ e /ž/ por crianças brasileiras, na posição de onset (absoluto e

medial), na faixa etária de 1:0 a 3:8 anos.

Apesar do grande número de pesquisas realizadas na área de aquisição e

desenvolvimento da linguagem, não há um estudo específico sobre estas

referidas fricativas no português brasileiro, razão pela qual esses segmentos

foram escolhidos como tema desta pesquisa. Outro fator que motivou esta

escolha foi a diferença de tempo de aquisição existente dentro da classe das

fricativas, e o fato de alguma das fricativas serem consideradas de aquisição

tardia.

Este trabalho também espera complementar a descrição da classe das

fricativas, visto que Savio (2001) estudou a aquisição das fricativas /s/ e /z/

em onset e em coda.

Também relevante para justificar a realização desta pesquisa é o

trabalho realizado no Centro de Estudos sobre Aquisição e Desenvolvimento

da Linguagem (CEAAL) do Programa de Pós-Graduação em Letras da

PUCRS, sob a orientação da Profa. Dr. Regina Ritter Lamprecht, no Projeto

“A fonologia do Português na faixa etária de 1:0 e 2:0 anos”.

Nesta investigação descrever-se-á a aquisição das fricativas /f/, /v/,

/š/ e /ž/do português brasileiro; verificar-se-á a ordem de aquisição dos

fonemas nas diferentes posições da sílaba; o que ocorre quando não são

produzidos; as variáveis lingüísticas e extra-lingüística relevantes na aquisição;

se a aquisição destes fonemas é um processo linear ou gradual; se as teorias

Autossegmental e Métrica explicam de forma adequada a aquisição das

fricativas.

Além de preencher uma lacuna na descrição do PB, este estudo

também traz contribuições para a fonoaudiologia na medida em que traz

informações para o estabelecimento de padrões na aquisição fonológica

normal.

Este trabalho está estruturado da seguinte maneira: no capítulo 2, tem-

se uma revisão bibliográfica sobre a aquisição fonológica e sobre as teorias

utilizadas, ou seja, Autossegmental e Métrica.

O capítulo 3 descreve a metodologia adotada neste trabalho, ou seja,

informações sobre o banco de dados, informantes, corpus, Programa

VARBRUL, e variáveis.

No capítulo 4, tem-se a descrição dos resultados da análise estatística

com as variáveis selecionadas, bem como as não selecionadas pelo Programa

VARBRUL.

O capítulo 5 apresenta a análise e a discussão dos resultados através das

teorias Autossegmental e Métrica.

No capítulo 6, tem-se as conclusões obtidas através desta pesquisa.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 AQUISIÇÃO FONOLÓGICA

A aquisição da fonologia de uma língua implica o aprendizado de vários

aspectos relacionados aos sons que compõem o sistema daquela língua.

Segundo Mota (1996), a criança deve aprender quais são os sons que são

contrastivos em sua língua, quais são as estruturas silábicas permitidas, quais os

sons que são possíveis em cada posição silábica, quais as seqüências de sons

que podem ocorrer em uma mesma sílaba, onde fica o acento em cada palavra.

A grande maioria das crianças aprende todos esses aspectos sem apresentar

dificuldades e somente a partir das evidências do input; não há um ensino

direto dessas habilidades no desenvolvimento normal.

A aquisição fonológica é parte do processo de Aquisição da Linguagem

e permite à criança lidar com o sistema de sons de sua língua, levando ao

incremento de todas as outras habilidades lingüísticas.

Até os quatro anos, crianças com desenvolvimento normal adquirindo

o português brasileiro (PB) são capazes de produzir e usar contrastivamente os

sons de sua língua materna. Conforme Hernandorena (1990), a árdua tarefa de

discriminar fones, fonemas e traços distintivos, aplicar regras fonológicas e

morfofonêmicas, respeitar restrições selecionais e seqüenciais é dominada

bastante cedo pela criança.

Há uma variabilidade individual muito significativa entre as crianças, e

os estudos de aquisição revelam que, mesmo existindo padrões gerais, existem

também, segundo Bates, Dale e Thal (1997) e Lamprecht (1993),

características individuais marcantes, tanto na idade como no ritmo de

aquisição, que precisam ser consideradas como dados a mais nos estudos

fonológicos. Porém, é consenso que esta variação tem limites, é uma

variabilidade regida por restrições universais.

Em vista disto, foram feitos vários trabalhos a fim de ajudar a

esclarecer o processo de aquisição da linguagem. Em sua fase inicial os estudos

eram realizados a partir de dados coletados longitudinalmente. Entre os mais

citados encontra-se o de Leopold (1939-49), que acompanhou o

desenvolvimento de sua filha, e o de Roger Brown (1973), que observou, por

aproximadamente dois anos, o desenvolvimento de Adam, Eve e Sarah.

Sobre o Português Brasileiro também foram desenvolvidos estudos

baseados em dados de coletas longitudinais. Podemos citar o de Lamprecht

(1990), que estudou o perfil de aquisição de 12 crianças na faixa etária de 2:9 a

5:5; o de Santos (1990), sobre 4 crianças com idade entre 2:2 e 2:8 anos; o de

Rosa (1992), sobre o desenvolvimento fonológico normal do Português no

período entre 2:8 e 3:2; o de Ilha (1993), que observou o desenvolvimento

fonológico de crianças com idade entre 1:8 e 2:3 anos; e o de Rangel (1998),

que apresentou os dados de aquisição de 3 crianças na faixa etária de 1:6 a 3:0.

Há também estudos realizados a partir de dados obtidos por coletas

transversais. Dentre eles, destacamos o de Hernandorena (1990), sobre a

aquisição fonológica do português com base em traços distintivos; o de

Miranda (1996), referente à aquisição das róticas do Português Brasileiro; o de

Fronza (1999), referente ao nó laríngeo e ao nó ponto de C no processo de

aquisição normal e com desvios; o de Mezzomo (1999), que estudou os

padrões de aquisição das consoantes em posição de coda medial na faixa etária

de 1:4 a 3:10; e o de Savio (2001), referente à aquisição das fricativas /s/ e /z/

em crianças na faixa etária de 1:0 a 3:0.

Dentre os estudos sobre a aquisição fonológica do Português Brasileiro

que referem as fricativas /f/, /v/, /š/ e /ž/, objetos de estudo desta pesquisa,

destacam-se os seguintes: o de Hernandorena (1990), que mostra que as

fricativas /š/ e /ž/ estão adquiridas plenamente em todas as posições aos

quatro anos; o de Lamprecht (1990), que mostra ser comum (durante o

processo de aquisição) anteriorizar as fricativas /š/ e /ž/ para [s] e [z],

respectivamente; o de Ilha (1993), onde vê-se que, a partir de 1:8, as crianças já

têm os fonemas /f/ e /v/ adquiridos; o de Rangel (1998), que mostra ser

significativo o número de substituições na classe das fricativas; e o de Fronza

(1999), onde vemos que, a partir de um ano e seis meses, as crianças já têm, no

seu inventário fonológico, os fonemas /f/ e /v/.

2.2 GEOMETRIA DE TRAÇOS

A Fonologia Autossegmental surgiu como resposta aos problemas

apresentados pelos modelos lineares, ou seja: a) a relação de bijetividade e b) a

caracterização dos segmentos como conjunto de traços sem nenhuma

estrutura interna.

A Fonologia Autossegmental vê os traços distintivos como as unidades

básicas de representação fonológica. Esta teoria foi proposta inicialmente por

Goldsmith (1976), a partir de um estudo sobre o tom. Mas foi somente na

década de 80 que apareceram os primeiros estudos aplicando esta teoria aos

dados da fala infantil.

Goldsmith notou que, embora os segmentos fossem eliminados,

algumas características do tom eram mantidas, estendendo-se a outras vogais

da palavra. Esse fato veio provar, mais tarde, que um traço pode espraiar-se,

ligando-se, não-linearmente, a mais de um segmento.

A Fonologia Autossegmental passou a defender que o segmento

apresenta uma estrutura interna, ou seja, que existe a hierarquia entre os traços

que compõem determinado segmento da língua. Para Hernandorena (1999),

esta estrutura deve ser capaz de mostrar quais os traços que podem ser

manipulados isoladamente ou em conjunto.

Segundo Hernandorena (1993), os traços distintivos são, portanto,

unidades mínimas capazes de cumprir três funções básicas: a) descrever as

propriedades físicas que entram na composição do som; b) diferenciar itens

lexicais; c) agrupar os sons em classes naturais, isto é, classes de segmentos

relacionados por compartilharem propriedades (traços distintivos).

Na Fonologia Autossegmental, os traços são dispostos em ‘tiers’ (ou

camadas) onde funcionam de modo parcialmente autônomo. Os elementos no

mesmo ‘tier’ são ordenados seqüencialmente, enquanto que os elementos em

‘tiers’ diferentes não são ordenados e se relacionam uns com os outros por

meio de linhas de associação.

Com o propósito de representar formalmente a hierarquia existente

entre os traços fonológicos e o fato de que os traços podem ser manipulados,

Clements (1985) organizou um modelo de representação, a ‘Geometria de

Traços’, que dispõe os traços como mostrado na Figura 1.

A

B C D a E b c d e f g FIGURA 1 - Representação da estrutura arbórea segundo Clements e

Hume (1995, p. 249)

Para Clements e Hume (1995), o nó da raiz (A) domina todos os traços

e dele partem os demais galhos. Este nó é composto de uma matriz de traços:

[aproximante], [soante] e [vocóide], cuja função é dividir os segmentos em

classes maiores (obstruintes, nasais, líquidas e vogais).

Os nós ‘B’, ‘C’, ‘D’ e ‘E’ representam os nós de classe que dominam os

nódulos terminais (a, b, c, d, e, f, g) que são os valores dos traços e funcionam

como unidades ou classes naturais em regras fonológicas.

Conforme Clements e Hume (1995), os nós são ligados por linhas de

associação, que não podem se cruzar no mesmo plano. Ademais, existe entre

os traços uma relação de dependência, sendo que o traço do nó imediatamente

superior domina o do nó inferior e a mudança do nó superior implica

alteração do nó inferior. A maneira como os traços são dispostos e agrupados

em nós não varia de língua para língua.

Para Hernandorena (1996), a Geometria de Traços possibilita o

entendimento da existência e do funcionamento da estrutura do segmento não

só no seu comportamento na fonologia das línguas, mas também no processo

de aquisição da linguagem. Através da Geometria de Traços, é possível

constatar claramente quando um processo é considerado natural na língua,

pois, para a teoria, o que é natural implica somente uma alteração na estrutura

arbórea.

Seguindo essa representação, a organização hierárquica das consoantes,

portanto, é a mostrada na Figura 2.

X [-+ soante] Raiz [-+ aproximante] [- vocóide] Laríngeo [nasal] [aspirado] [glotal] [sonoro] Cavidade oral [contínuo] Ponto de C [labial] [coronal] [dorsal] [anterior] [distribuído]

FIGURA 2 - Representação das consoantes segundo Clements e Hume

(1995, p. 292)

As representações geométricas dos segmentos /f/, /v/, /š/ e /ž/,

objetos de estudo desta pesquisa, de acordo com o modelo de Clements e

Hume (1995), são as que seguem nas figuras 3 a 6.

/f/ R [-soante] [-vocóide] [-aproximante] Laríngeo CO [-sonoro] [+contínuo] PC [labial]

FIGURA 3 - Representação geométrica do /f/ /v/ R [-soante] [-vocóide] [-aproximante] Laríngeo CO [+sonoro] [+contínuo] PC [labial] FIGURA 4 - Representação geométrica do /v/

/š/ R [-soante] [-vocóide] [-aproximante] Laríngeo CO

[-sonoro] [+contínuo] PC [coronal] [-anterior]

FIGURA 5 - Representação geométrica do /š/

/ž/ R [-soante] [-vocóide] [-aproximante] Laríngeo CO [+sonoro] [+contínuo] PC [coronal] [-anterior]

FIGURA 6 - Representação geométrica do /ž/

Na Fonologia Autossegmental existem princípios que impõem limites à

aplicação de regras. São eles: a) o ‘princípio de não-cruzamento de linhas de

associação’, que proíbe o cruzamento de linhas de associação; b) o ‘princípio

do contorno obrigatório’, pelo qual elementos adjacentes idênticos são

proibidos; e c) a ‘restrição de ligação’, que diz que as linhas de associação em

descrições estruturais são interpretadas exaustivamente.

Para Rangel (1998), a Fonologia Autossegmental (assim como outros

modelos teóricos) fornece condições para que se proceda a uma análise

contrastiva entre o sistema fonológico infantil e o sistema fonológico adulto,

permitindo ver, com maior clareza, a construção dos segmentos durante a

aquisição da linguagem.

2.3 FONOLOGIA MÉTRICA

No modelo gerativo de Chomsky e Halle (1968), o acento era tratado

como um traço, era considerado uma propriedade de um som: as vogais eram

[+ac.] ou [-ac.]. O fato de os aspectos supra-segmentais da fala, como acento e

tom, não terem um tratamento adequado na proposta da Fonologia Gerativa

Padrão levou ao surgimento da Fonologia Métrica (Liberman e Prince, 1977).

A Fonologia Métrica tem por objetivo descrever e formalizar os padrões

acentuais e de ritmo da fala.

A partir das novas concepções de Liberman e Prince (1977), o acento

passa a ser entendido como o resultado da estruturação hierárquica dos

constituintes prosódicos, cujas unidades básicas são a sílaba, o pé e a palavra, o

que reflete uma descrição não-linear do acento.

A Fonologia Métrica considera o acento propriedade da sílaba e não de

um segmento. Segundo esse novo modelo teórico, somente uma sílaba pode

ser portadora do acento primário. O “acento passa a ter caráter relacional: não

é mais um traço, mas uma proeminência que nasce da relação entre os

elementos prosódicos: sílaba(σ), pé (∑), palavra fonológica (ω)”

(Hernandorena, 1999, p.76). A sua representação se faz como mostra a Figura

7.

Palavra ω

/ \ pé + pé ∑

/ \ sílaba + sílaba σ

forte fraca

FIGURA 7 – Representação da relação entre elementos prosódicos

É preciso saber como a sílaba se organiza em pés métricos e qual é a

posição do elemento dominante (sílaba forte) para poder estabelecer o

algoritmo acentual de uma língua.

Liberman e Prince (1977), que foram os primeiros estudiosos a criticar

o modelo de Chomsky e Halle (1968), elaboraram uma nova teoria de acento e

ritmo lingüístico. São duas as idéias básicas dessa teoria: primeiro, a

representação da noção de proeminência relativa em termos de uma relação

definida em estrutura de constituintes (binários); segundo, a representação de

certos aspectos da noção de ritmo lingüístico em termos do alinhamento de

material lingüístico em uma grade métrica.

Liberman e Prince (1977) ilustraram dois tipos de formalização lexical

assumidos pela fonologia métrica: a ‘árvore’ e a ‘grade métrica’.

Na árvore métrica, cujos ramos (binários) são rotulados em termos de

forte (S) e fraco (W), o forte sempre será o portador do acento primário.

Portanto, a proposta é que os pés são binários, formados de elementos s/w ou

w/s.

S

W W S / \ / \ / \ S W S W S W │ │ │ │ │ │ re con ci li a tion FIGURA 8 - Representação da ‘árvore’ (Liberman e Prince, 1977,

p. 264)

Além da representação da árvore métrica, que expressa muito bem a

noção de proeminência relativa, Liberman e Prince (1977) utilizam também a

grade métrica, que se presta de maneira satisfatória para expressar o ritmo, já

que esse pressupõe alternâncias, que podem ser mais bem demonstradas pela

grade.

A grade métrica contém níveis, onde as vogais são numeradas. Na 1ª

linha, as vogais recebem um número, da esquerda para a direita; na 2ª linha, só

as vogais mais proeminentes recebem um número; na 3ª linha, apenas a sílaba

mais proeminente é numerada. Quanto mais extensa for a coluna, maior será

sua força.

O objetivo da grade é criar um padrão alternante, evitando choques de

acento.

S

W W S / \ / \ / \

S W S W S W re con ci li a tion 1 2 3 4 5 6 7 8 9

10 FIGURA 9- Representação da grade métrica (Liberman e Prince, 1977,

p. 309)

Segundo Hernandorena (1999), a árvore métrica representa

basicamente as relações de proeminência entre constituintes métricos, sílabas e

outros, mas não indica diretamente qual é o mais proeminente de toda a

seqüência, e a grade métrica representa os elementos mais proeminentes de

uma seqüência, mas não os analisa em constituintes.

Tal duplicidade nos modos de representação do acento era indesejável,

e por esse motivo os estudos que se seguiram a Liberman e Prince (1977)

procuraram reduzir a representação a apenas um dos modos.

Halle e Vergnaud (1987) apresentam uma proposta em que a grade,

agora formada por asteriscos, é enriquecida pela formação de constituintes,

cujos limites são indicados por parênteses.

( * ) linha 2 (* .) (* .) linha 1 (* *) (* *) linha 0

bor bo le ta

FIGURA 10 – Representação da grade métrica de Halle e Vergnaud (1987)(Collischonn, 1999, p.126)

A grade métrica pressupõe um espaço para cada sílaba. Na linha 0

marca-se cada espaço por meio de um asterisco, formando-se os constituintes.

Na linha 1 apenas os elementos mais fortes recebem um asterisco. E na linha

2, apenas o cabeça de toda a seqüência recebe um asterisco.

A construção da grade métrica é feita por um algoritmo, e este possui

alguns parâmetros: a direção (direita para esquerda ou vice-versa), o tamanho

dos constituintes (binários, ternários ou ilimitados) e a posição do cabeça (à

direita ou à esquerda).

A combinação desses parâmetros define os seguintes tipos de

constituintes, conforme exemplificam Halle e Vergnaud (1987):

a) ilimitado, com cabeça à esquerda: * . . . . ( * * * * *) b) ilimitado com cabeça à direita: . . . . * (* * * * * ) c) binário de cabeça à esquerda: * . (* *) d) binário de cabeça à direita: . * (* *)

Segundo Collischonn (1999), a atribuição do acento obedece também a

princípios universais, que impedem que um mesmo algoritmo construa

constituintes binários e ternários ao mesmo tempo, ou que construa

seqüências de constituintes degenerados, e, por outro lado, que também

exigem que a estrutura métrica seja transparente, de modo que se possa dizer,

a partir de uma palavra, o algoritmo que a gerou. Outro princípio importante é

o ‘Princípio da Bijetividade’, que exige que todo constituinte tenha um cabeça

e que todo cabeça faça parte de um constituinte.

2.3.1. O ACENTO EM PORTUGUÊS

Considerando que o português estrutura as sílabas em pés métricos

binários de cabeça à esquerda, para fins deste trabalho adotar-se-á a análise de

Bisol (1992).

Em sua análise, Bisol (1992, p.69) argumenta que o acento é atribuído

pela seguinte regra:

(1) Regra do Acento Primário

Domínio: a palavra i. Atribua um asterisco (*) à sílaba pesada final, isto é, sílaba de

rima ramificada. ii. Nos demais casos, forme um constituinte binário (não-

iterativamente) com proeminência à esquerda, do tipo (* .), junto à borda direita da palavra.

A autora faz uma distinção entre verbos e não-verbos; para fins desta

pesquisa só será utilizada a parte dos não-verbos.

No caso dos nomes e adjetivos, segundo Bisol (1992), a palavra fica

entendida como radical + vogal temática ou marca de gênero, que pode estar

ausente. A flexão, que não interfere, fica fora deste domínio. A regra é cíclica.

A extrametricidade, que tem o poder de tornar invisíveis certos

segmentos periféricos, nos nomes, incide sobre exceções: a) palavras com

acento na 3ª sílaba e b) palavras terminadas em consoante ou ditongo com

acento não-final. Nas palavras do grupo (a), a extrametricidade se aplica à

sílaba final (árvo<re>); no grupo (b), o elemento extramétrico é coda silábica

(lápi<s>).

Para Bisol (1992), os nomes oxítonos terminados em vogal, por

exemplo, ‘café’, são considerados como se tivessem uma consoante final,

abstrata, na forma lexical.

σ σ / \ / | \ C V C V C | | | | | k a f ε FIGURA 11 –Representação da consoante final abstrata

Em palavras não derivadas (‘café’, ‘jacaré’) esta consoante fica em

posição de coda e, quando não ligada a nó de raiz, é apagada. Em palavras

derivadas, por ressilabação, passa para a posição de ataque. Por exemplo,

ka.fεC + eira = ka.fe.tey.ra

3 METODOLOGIA

O capítulo referente à metodologia desta pesquisa sobre a aquisição

das fricativas /f/, /v/, /š/ e /ž/ traz informações referentes aos Bancos de

Dados, às faixas etárias, ao corpus, ao Programa VARBRUL, e à definição

das variáveis lingüísticas e extralingüística.

3.1 BANCO DE DADOS

Os dados utilizados nesta pesquisa fazem parte de dois Bancos de

Dados que pertencem ao CEAAL (Centro de Estudos sobre Aquisição e

Desenvolvimento da Linguagem) da PUCRS e ao Mestrado em Letras da

Universidade Católica de Pelotas (UCPEL): o INIFONO e o AQUIFONO.

O INIFONO é composto de gravações e transcrições da fala de 96

crianças entre 1:0 e 2:0 anos, divididos em faixas etárias de um mês. Já o

AQUIFONO é constituído de amostras da fala de 310 crianças com idades

entre 2:0 e 7:1 anos, distribuídos em faixas etárias de dois meses.

Todos os informantes apresentam desenvolvimento fonológico

normal, são falantes monolíngües do português brasileiro e residentes nas

cidades de Porto Alegre e Pelotas, ambas no Rio Grande do Sul.

Os registros do Banco de Dados INIFONO foram coletados

transversalmente por meio de brinquedos que tentam representar as palavras

contidas no instrumento proposto por Yavas, Hernandorena e Lamprecht

(1991). Este instrumento é composto de cinco figuras temáticas que, através

da nomeação espontânea, visa a obter dados da fala de crianças. Para o Banco

de Dados AQUIFONO, os registros também foram coletados

transversalmente e obtidos através da aplicação do instrumento acima referido.

Cada gravação tem uma duração de, aproximadamente, trinta a sessenta

minutos. Os dados estão armazenados em fitas-cassete e com transcrição

fonética ampla. Todas as transcrições foram revisadas por mais de uma

pessoa.

3.2 INFORMANTES

Quanto ao número de informantes, para o presente estudo, foram

utilizados os dados de todos os informantes do Banco INIFONO que

apresentaram palavras em que houve a ocorrência ou a possibilidade de

ocorrência dos fonemas /f/, /v/, /š/ e/ž/ , tendo em vista a baixa produção

lingüística nas primeiras faixas etárias. Obtiveram-se, assim, 42 informantes do

sexo feminino e 17 do sexo masculino para os fonemas /f/ e/v/, conforme o

quadro que segue:

Faixa etária Feminino Masculino Faixa etária 1:0 0 0 Faixa etária 1:1 2 0 Faixa etária 1:2 1 0 Faixa etária 1:3 1 3 Faixa etária 1:4 2 0 Faixa etária 1:5 2 1 Faixa etária 1:6 4 1 Faixa etária 1:7 4 1 Faixa etária 1:8 6 2 Faixa etária 1:9 5 4 Faixa etária 1:10 6 2 Faixa etária 1:11 8 4 FIGURA 12 - Quadro do número de informantes selecionados no Banco de Dados INIFONO

Para os fonemas /š/ e /ž/, obteve-se 31 informantes do sexo feminino

e 14 do sexo masculino, conforme o quadro abaixo.

Faixa etária Feminino Masculino Faixa etária 1:0 0 0 Faixa etária 1:1 0 0 Faixa etária 1:2 0 0 Faixa etária 1:3 1 1 Faixa etária 1:4 2 1 Faixa etária 1:5 2 1 Faixa etária 1:6 3 1 Faixa etária 1:7 3 2 Faixa etária 1:8 5 1 Faixa etária 1:9 3 2 Faixa etária 1:10 5 2 Faixa etária 1:11 7 3 FIGURA 13 – Quadro do número de informantes selecionados no Banco de Dados INIFONO

Assim, devido à grande disparidade entre informantes do sexo

masculino e feminino, foi descartada a análise da variável sexo em favor da

manutenção de todos os dados.

Já no Banco de Dados AQUIFONO, foram selecionados, para os

quatro fonemas em estudo, quatro informantes por faixa etária, sendo dois

informantes de cada sexo.

Foram selecionados os sujeitos com idade fixada, inicialmente, em um

ano, para verificar a partir de que faixa etária há a possibilidade de ocorrência

ou a ocorrência dos segmentos em questão. A idade máxima foi de dois anos e

nove meses para os fonemas /f/ e /v/, e de três anos e nove meses para os

fonemas /š/ e /ž/. O critério de seleção dessas idades para o levantamento

baseou-se nas pesquisas prévias sobre aquisição do português, tais como:

Hernandorena (1990), no seu estudo sobre o estabelecimento de padrões com

base em traços distintivos, mostra que as fricativas /f/ e /v/ estão plenamente

adquiridas com 2:0 - 2:1; Ilha (1993), que estudou o desenvolvimento

fonológico em crianças normais com idade entre 1:8 e 2:3, encontrou que as

fricativas /f/ e/v/ já constam no inventário fonológico das crianças antes de

1:8; Fronza (1999), estudando o nó laríngeo e o nó ponto de C, mostrou que

/š/e /ž/ já aparecem como fonemas em crianças com 1:6. Já o intervalo entre

as faixas etárias segue a própria divisão dos Bancos de Dados, ou seja, um mês

para o INIFONO e dois meses para o AQUIFONO.

3.3 CORPUS

A amostra utilizada nesta pesquisa é uma parte desses Bancos de

Dados, sendo composta por 67 entrevistas do Banco de Dados INIFONO e

44 do Banco de Dados AQUIFONO.

Inicialmente, foram selecionadas das transcrições fonéticas as palavras

em que há ocorrência ou possibilidade de ocorrência dos fonemas /f/, /v/,

/š/ e /ž/. Após, foi feito o registro gráfico dos dados, em fichas (Anexo A).

Posteriormente, foi feita a codificação destes dados, buscando levantar todas

as possibilidades de análise da produção ou não dos fonemas em questão,

enfatizando a interferência de variáveis lingüísticas e da variável extralingüística

idade. Após a codificação, os dados foram digitados dentro de arquivos

fornecidos pelo pacote VARBRUL e analisados pelo conjunto de programas

que fazem parte do pacote.

Foram descartadas do corpus todas as ocorrências de palavras que

sofreram epêntese, metátese ou assimilação, por tratar-se de fenômenos que

devem ser estudados separadamente. Nos quadros abaixo temos a relação das

palavras descartadas e a idade em que elas foram produzidas.

Palavra Idade Realização sofá 1:6 [tu ‘ta] faz 1:10;2 [fa ‘zi] elefante 1:11 [fã ‘fãnči] fósforo 2:2 [‘f⊃suru] fósforo 2:2 [‘f⊃tu] fósforo 2:5 [‘f⊃tu] fósforo 2:5 [‘f⊃rsu] perfume 2:9 [fe’fumi] fósforo 2:9 [‘f⊃suro]

FIGURA 14 - Quadro com as palavras descartadas com /f/

Palavra Idade Realização vovô 1:5 [pã’pãw] escova 1:5 [‘koko] lavar 1:6 [va’va] cavalo 1:7 [wa’waw] vovó 1:9 [do’d⊃] cavalo 1:11 [va’vaw] cavalo 1:11 [ka’kalu] árvore 2:1 [‘favi] escova 2:5 [si’kova] FIGURA 15 – Quadro com as palavras descartadas com /v/

Palavra Idade Realização

cachorro 1:5 [ko´ki] caixa 1:6 [´tata] chapéu 1:7 [pe´pew] chapéu 1:8 [pa´pew] chocolate 2:1 [koko´lači] chinelo 2:2 [ni´nεlu] cachorro 2:10 [ka´RoRu] chaleira 3:3 [šar´nεla]

FIGURA 16 – Quadro com as palavras descartadas com /š/ Palavra Idade Realização dirigir 1:7 [ĵi´že] laranja 1:11 [a´lãla] laranja 2:4 [ra´žãna] refrigerante 2:8 [fi´fãnči] refrigerante 3:4 [lele´lãnči] FIGURA 17 – Quadro com as palavras descartadas com /ž/

O critério adotado neste estudo para considerar os segmentos fricativos

(/f/, /v/ /š/ e /ž/) como adquiridos é o de 85% de produção correta em

duas faixas etárias seguidas. Este número foi definido a partir de outros

trabalhos já realizados na área de aquisição, tais como Hernandorena (1990) e

Miranda (1996), que consideraram um segmento adquirido com 85% de

realização correta, Azambuja (1998), Fronza (1999) e Savio (2001), que

consideraram 86%, e Hernandorena e Lamprecht (1997), com 90%.

Considera-se que o emprego adequado acima de 85% é indício de uso

efetivo do segmento, sendo as variações que ocorrem consideradas

insuficientes para causar instabilidade no seu emprego.

3.4 INSTRUMENTO DE ANÁLISE

3.4.1 PACOTE VARBRUL

A análise estatística contribui significativamente no tratamento dos

dados de um trabalho desta natureza. Para tanto, foi utilizado o pacote

VARBRUL, responsável pelo tratamento estatístico dos dados. A razão pela

escolha de um programa como este vem de sua já comprovada eficiência para

analisar dados lingüísticos em grande quantidade, fornecendo freqüências e

probabilidades.

Apesar de ser um programa específico para a área da variação, o

VARBRUL já foi utilizado com sucesso em dados da aquisição da linguagem

(Miranda, 1996; Mezzomo, 1999; Savio, 2001, entre outros). Seu uso se

justifica por ele selecionar variáveis lingüísticas e, por isso, servir à aquisição da

linguagem.

Conforme Scherre (1993, p.1), o VARBRUL foi desenvolvido “com o

objetivo de implementar modelos matemáticos que procuram dar

tratamento estatístico adequado a dados lingüísticos variáveis”.

São dez os programas que constituem o Pacote: CHECTOK,

READTOK, MAKECELL, IVARB, TVARB, CROSSTAB, TEXSORT,

TSORT, MVARB e CONTUP. Neste estudo, no entanto, apenas alguns deles

serão utilizados.

Primeiramente, os dados devem ser codificados de acordo com os

símbolos criados pelo pesquisador. Do mesmo modo, a lista das variáveis,

com seus respectivos fatores, recebe codificação própria. Os dados e as

variáveis são digitados separadamente, criando os arquivos com as

especificações .dat e .esp, respectivamente.

O CHECKTOK, primeiro programa a ser utilizado, lê os arquivos de

especificações e dados, e gera um arquivo corrigido (.cor). De acordo com

Espiga (2001), o programa critica a qualidade dos dados, ou seja, verifica se os

mesmos estão de acordo com a codificação informada no arquivo de

especificações. Os dados corrigidos servirão de input para o READTOK. O

READTOK, efetua as transformações nos dados corrigidos pelo

CHECKTOK e gera novos dados com as modificações. O arquivo gerado

contém somente dados passíveis de computação.

O MAKECELL lê os arquivos de condições e de dados corrigidos,

gerando um arquivo de células. Se houver situações de knockout, estas serão

denunciadas pelo programa. O knockout caracteriza a aplicação ou a não-

aplicação categórica da variante considerada, quanto a um certo fator.

O IVARB lê o arquivo de células e gera um arquivo de resultados.

Nesta etapa (Espiga, 2001), o VARBRUL calcula, além dos percentuais de

aplicação da variável dependente, os pesos relativos de todos os fatores de

cada variável independente. O programa também fornece a ordem de

significância das variáveis independentes na aplicação do valor considerado na

análise.

Como o IVARB trabalha com variáveis dependentes binárias, o

VARBRUL também dispõe do programa TVARB, para variáveis dependentes

com três variantes, e do programa MVARB, para variáveis dependentes com

quatro ou mais variantes.

Há outro programa também utilizado neste trabalho, o CROSSTAB.

Este programa permite o cruzamento dos percentuais atribuídos a dois grupos

de fatores especificados e verifica a presença de cruzamentos vazios.

3.5 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS

3.5.1 VARIÁVEIS DEPENDENTES

As variáveis dependentes desta pesquisa foram estabelecidas com o

objetivo de observar a realização ou não-realização dos fonemas /f/, /v/, /š/

e /ž/. O valor “1” representou as realizações corretas, enquanto as omissões e

substituições foram categorizadas como “0”. Dessa forma realizou-se uma

análise binária e, posteriormente, é que os casos de omissão e outras

realizações foram categorizadas em um segundo grupo, codificadas com

números de 2 a 7.

Variáveis dependentes Fonema /f/ Fonema /v/ Palavra alvo Realização Palavra alvo Realização 1. Realização do segmento garrafa [ga’afa] vela [’vεla] 2. Omissão do segmento elefante [‘ãnĉi] vermelho [e’metu] 3. Omissão de sílaba formiga [’miga] televisão [tele´zãw] 4. Troca de [sonoro] perfume [‘vumi] sorvete [‘feĉi] 5. Troca de [contínuo] fogão [po’gãw] verde [’beĵi] 6. Troca de ponto feijão [si’zãw] * * 7. Troca por semivogal foi [’woy] violão [wo’lãw] * sem ocorrência Figura 18 – Quadro com as variáveis dependentes -/f/ e /v/

Variáveis dependentes Fonema /š/ Fonema /ž/ Palavra alvo Realização Palavra alvo Realização

1. Realização do segmento bruxa [‘bruša] girafa [ži’afa] 2. Omissão do segmento chinelo [i’nεlu] geladeira [ela’dela] 3. Omissão de sílaba chapéu [‘pε] geladeira [la’dela] 4. Troca por [+ anterior] chapéu [sa’pεw] jacaré [zaka’rε] 5. Troca de [sonoro] cheia [‘žeya] queijo [‘kešu] 6. Troca de [contínuo] chinelo [ki’nεlu] jogar [do’ga] 7. Troca de ponto xícara [‘fikara] jacaré [vaka’lε] FIGURA 19 – Quadro com as variáveis dependentes - /š/ e /ž/

3.5.2 VARIÁVEIS LINGÜÍSTICAS INDEPENDENTES

As variáveis lingüísticas independentes utilizadas para este estudo são as

seguintes: tonicidade, posição na palavra, número de sílabas, contexto

fonológico precedente e contexto fonológico seguinte

3.5.2.1 Tonicidade

Um número grande de trabalhos tem mostrado que a tonicidade é um

fator importante no processo de aquisição de fonologia. A literatura relativa à

aquisição da fonologia tem mostrado que as sílabas átonas são as mais

propícias a sofrer processos fonológicos (para o PB, Miranda, 1996;

Azambuja, 1998; Mezzomo, 1999).

Para Mezzomo (1999), a sílaba pretônica mostrou-se facilitadora na

aquisição da coda com fricativa; já para Miranda (1996), com relação ao r-

fraco, a favorecedora foi a sílaba tônica .

Tonicidade Fonema /f/ Fonema /v/ Postônica /ga’Rafa/ /’šave/ Tônica /ka’fε/ /vo’vo/ Pretônica /fo’gãw/ /avi’ãw/ Pre-pretônica /figu’riña/ /arvore’ziña/ FIGURA 20 – Quadro com as diferentes possibilidade de tonicidade em que /f/ e /v/ podem ocorrer, no PB

Tonicidade Fonema /š/ Fonema /ž/ Postônica /’bišo/ /’beyžo/ Tônica /’šikara/ /’žura/ Pretônica /ši’nεlo/ /ži’rafa/ Pre-pretônica /šoko’late/ /žaka’rε/ FIGURA 21 – Quadro com as diferentes possibilidade de tonicidade em que /š/ e /ž/ podem ocorrer, no PB

3.5.2.2 Posição na palavra

Os fonemas aqui estudados podem ocupar a posição de onset absoluto

e medial da palavra. A importância desta variável já foi destacada por inúmeros

estudos de aquisição (Para o PB, Yavas, 1988; Hernandorena, 1990;

Lamprecht, 1990, 1995; Miranda, 1996).

Em Savio (2001) vemos que o fonema /s/ é adquirido aos 2:0, em

posição de onset medial, e aos 2:6 em posição de onset absoluto. Também para

Rangel (1997) a posição de onset medial é a primeira a ser estabelecida na

aquisição das fricativas. A variável posição na palavra foi formulada para que

se pudesse testar sua influência na produção dos fonemas em estudo.

Posição na palavra Fonema /f/ Fonema /v/ Onset absoluto /’faka/ /ver’meλo/ Onset medial /ka’fε/ /ka’valo/ FIGURA 22 – Quadro com as diferentes possibilidades de posição na palavra em que /f/ e /v/ podem ocorrer, no PB

Posição na palavra Fonema /š/ Fonema /ž/ Onset absoluto /ša’ve/ /žela’deyra/ Onset medial /ka’šoRo/ /Re’l⊃žyu/ FIGURA 23 – Quadro com as diferentes possibilidades de posição na palavra em que /š/ e /ž/ podem ocorrer, no PB

3.5.2.3 Número de sílabas

A seleção desse fator para a análise da aquisição das fricativas baseou-se

no fato de o mesmo já ter-se mostrado relevante em outras análises. Para

Mezzomo (1999), as trissílabas favorecem a aquisição de coda com fricativas.

Número de sílabas Fonema /f/ Fonema /v/ Monossílaba /’foy/ /’vay/ Dissílaba /’faka/ /’vaka/ Trissílaba /ži’rafa/ /es’kova/ Polissílaba /kafε’ziño/ /trave’seyru/ FIGURA 24 – Quadro com as diferentes possibilidades de número de sílabas em que /f/ e /v/ podem ocorrer, no PB

Número de sílabas Fonema /š/ Fonema /ž/ Monossílaba /’ša/ /’ža/ Dissílaba /’šave/ /žor’naw/ Trissílaba /’šikara/ /že’lado/ Polissílaba /šoko’late/ /diri’žindo/ FIGURA 25 – Quadro com as diferentes possibilidades de número de sílabas em que /š/ e /ž/ podem ocorrer, no PB

3.5.2.4 Contexto fonológico precedente

A escolha desta variável se justifica pela importância dada a ela nos

estudos de aquisição fonológica normal (Para o PB, Hernandorena, 1990;

Azambuja, 1998; Miranda, 1996; Mezzomo, 1999; Savio, 2001).

Para citar dois exemplos, nos dados de Mezzomo (1999) vemos que as

vogais /ε/ e /a/ e as consoantes coronais são os ambientes que mais

favorecem a produção da coda fricativa. Para Savio (2001), as vogais /i/ e /u/

são as que mais favorecem a produção do fonema /z/.

Contexto fonológico precedente

Fonema /f/ Fonema /v/

/a/ /šafa’ris/ /ka’valo/ /e/ /ele’fãnte/ /Re’vista/ /ε/ * /’lεva/ /i/ /dife’rente/ /aniver’saryu/ /o/ /so’fa/ /’ovo/ /⊃/ * /es’c⊃va/ /u/ /pãn’tufa/ /’šuva/ /w/ * /ow’vido/ Vazio /’fala/ /vio’lãw/ /s/ /’f⊃sforo/ /esvazi’ou/ /r/ /’garfo/ /ser’veža/ /n/ * * * sem possibilidade de ocorrência no corpus FIGURA 26 – Quadro com as diferentes possibilidades de contexto precedente em que /f/ e /v/ podem ocorrer, no PB

Contexto fonológico precedente

Fonema /š/ Fonema /ž/

/a/ /bo’Raša/ /vi’ažen/ /e/ /fe’šou/ /i’greža/ /ε/ * /ko’lεžyu/ /i/ /’bišo/ /Reližy’ãw/ /o/ /bo’šeša/ /’ože/ /⊃/ * /Re’l⊃žyu/ /u/ /’bruša/ /’suža/ Vazio /šoko’late/ /žela’deyra/ /n/ /lãn’šãndo/ /la’rãnža/ * sem possibilidade de ocorrência no corpus FIGURA 27 – Quadro das diferentes possibilidades de contexto precedente em que /š/ e /ž/ podem ocorrer, no PB

3.5.2.5 Contexto fonológico seguinte

Analisou-se o ambiente lingüístico posterior às fricativas, considerando

a hipótese da possível interferência dele no processo de aquisição. Outros

estudos (Miranda, 1996; Mezzomo, 1999, Savio 2001) já fizeram uso desta

variável.

Savio (2001) encontrou que a vogal seguinte /e/ é mais favorecedora

na produção do fonema /s/.

Contexto fonológico seguinte

Fonema /f/ Fonema /v/

/a/ /’faka/ /’vaka/ /e/ /dife’rente/ /’verde/ /ε/ /ka’fε/ /’vεla/ /i/ /gar’fiño/ /avi’ãw/ /o/ /’fogo/ /vo’vo/ /⊃/ /’f⊃to/ /’v⊃lta/ /u/ /’furo/ /vul’kãw/ Vogal nasalizada /ele’fante/ /esko’viña/ FIGURA 28 – Quadro das diferentes possibilidades de contexto seguinte em que /f/ e /v/ podem ocorrer, no PB

Contexto fonológico seguinte

Fonema /š/ Fonema /ž/

/a/ /’šave/ /’suža/ /e/ /bo’šeša/ /žela’deyra/ /ε/ * /tižε’liña/ /i/ /’šikara/ /ži’rafa/ /o/ /ka’šoRo/ /žor’naw/ /⊃/ /’š⊃ra/ /’ž⊃ya/ /u/ /’šuva/ /’žura/ Vogal nasalizada /’šãw/ /fey’žãw/ * sem possibilidade de ocorrência no corpus FIGURA 29 – Quadro das diferentes possibilidades de contexto seguinte em que /š/ e /ž/ podem ocorrer, no PB

3.5.3 VARIÁVEL EXTRALINGÜÍSTICA INDEPENDENTE

A única variável extralingüística independente analisada neste estudo é a

faixa etária.

3.5.3.1 Faixa etária

Esta variável é de grande importância quando se estuda aquisição da

linguagem. Através dela é possível saber se há linearidade na aquisição

fonológica, ou se ocorrem regressões. Savio (2001) encontrou quedas na

produção do fonema/z/ nas Faixas etárias 1:10 e 1:11. É também possível

estabelecer parâmetros que são essenciais para as pesquisas sobre desvios e

para aplicação clínica.

Faixas etárias Idade * Faixa etária 1:0 1:0;0 – 1:0;29 Faixa etária 1:1 1:1;0 – 1:1;29 Faixa etária 1:2 1:2;0 – 1:2;29 Faixa etária 1:3 1:3;0 – 1:3;29 Faixa etária 1:4 1:4;0 – 1:4;29 Faixa etária 1:5 1:5;0 – 1:5;29 Faixa etária 1:6 1:6;0 – 1:6;29 Faixa etária 1 :7 1:7;0 – 1:7;29 Faixa etária 1:8 1:8;0 – 1:8;29 Faixa etária 1:9 1:9;0 – 1:9;29 Faixa etária 1:10 1:10;0 –1:10;29 Faixa etária 1:11 1:11;0 – 1:11;29 Faixa etária 2:0 2:0;0 – 2:1;29 Faixa etária 2:2 2:2;0 – 2:3;29 Faixa etária 2:4 2:4;0 – 2:5;29 Faixa etária 2:6 2:6;0 – 2:7;29 Faixa etária 2:8 2:8;0 – 2:9;29 * em anos: meses; dias FIGURA 30 – Quadro das faixas etárias - /f/ e /v/

Faixas etárias Idade* Faixa etária 1:0 1:0;0 – 1:0;29 Faixa etária 1:1 1:1;0 – 1:1;29 Faixa etária 1:2 1:2;0 – 1:2;29 Faixa etária 1:3 1:3;0 – 1:3;29 Faixa etária 1:4 1:4;0 – 1:4;29 Faixa etária 1:5 1:5;0 – 1:5;29 Faixa etária 1:6 1:6;0 – 1:6;29 Faixa etária 1 :7 1:7;0 – 1:7;29 Faixa etária 1:8 1:8;0 – 1:8;29 Faixa etária 1:9 1:9;0 – 1:9;29 Faixa etária 1:10 1:10;0 –1:10;29 Faixa etária 1:11 1:11;0 – 1:11;29 Faixa etária 2:0 2:0;0 – 2:1;29 Faixa etária 2:2 2:2;0 – 2:3;29 Faixa etária 2:4 2:4;0 – 2:5;29 Faixa etária 2:6 2:6;0 – 2:7;29 Faixa etária 2:8 2:8;0 – 2:9;29 Faixa etária 2:10 2:10;0 – 2:11 ;29 Faixa etária 3:0 3:0;0 – 3:1;29 Faixa etária 3:2 3:2;0 – 3:3;29 Faixa etária 3:4 3:4;0 – 3:5;29 Faixa etária 3:6 3:6;0 – 3:7;29 Faixa etária 3:8 3:8;0 - 3:9;29 * em anos: meses; dias FIGURA 31 – Quadro das faixas etárias - /š/ e /ž/

3.6 CODIFICAÇÃO DAS VARIÁVEIS

Nesta etapa foram criados símbolos para cada variante das variáveis

definidas, pois para utilizar os programas do pacote VARBRUL, as

informações devem estar codificadas.

Os símbolos utilizados encontram-se no Anexo B.

3.7 AMALGAMAÇÕES

Após realizar a primeira rodada do programa IVARB e estabelecer as

faixas etárias de aquisição, selecionaram-se variantes que poderiam ser

amalgamadas.

Para realizar as amalgamações, dois ou mais fatores são agrupados e

recodificados, necessitando-se, portanto, da criação de um novo arquivo de

condições e de um novo arquivo de células para executar uma rodada dos

dados do VARB2000. Uma reanálise foi feita por meio do teste log-likelihood,

também conhecido como teste do Qui-quadrado. Com esse teste constataram-

se as amalgamações válidas e, também, as que não o eram.

Neste estudo, o critério utilizado para realizar amalgamações é o de

peso relativo próximo.

3.8 CRUZAMENTOS

Algumas variáveis foram cruzadas a fim de investigar a interferência das

mesmas no fenômeno em questão, pois, a partir dessas comparações

controladas, podem ser feitas generalizações válidas.

Para a execução de cada cruzamento, foi necessária a criação de um

arquivo de condições correspondente, no qual foi inserido um novo grupo

contendo o cruzamento em questão.

4 DESCRIÇÃO DOS DADOS

Neste capítulo encontra-se a descrição dos resultados das rodadas

referentes aos fonemas em estudo.

4.1 FONEMA /f/

As variáveis selecionadas pelo Programa VARBRUL como relevantes

no processo de aquisição da fricativa /f/ foram faixa etária e tonicidade.

Optou-se por também expor os demais resultados encontrados em função de

um dos objetivos da pesquisa, que é o de trazer subsídios para a terapia

fonoaudiológica.

4.1.1 FAIXA ETÁRIA

A análise dos dados passou por duas etapas. Na primeira, a fim de se

estabelecer uma linha desenvolvimental de aquisição do fonema /f/, foram

obtidos os resultados de cada faixa etária estabelecida para esta pesquisa. Na

segunda etapa, amalgamaram-se algumas faixas etárias.

4.1.1.1 Faixas etárias simples

Tabela 1– Produção do fonema /f/ quanto à faixa etária

Faixa etária Peso Percentual Freqüência Faixa etária 1:0 * * * Faixa etária 1:1 # 100% 1/1 Faixa etária 1:2 * * * Faixa etária 1:3 # 0% 0/1 Faixa etária 1:4 * * * Faixa etária 1:5 * * * Faixa etária 1:6 .20 71% 5/7 Faixa etária 1:7 .04 50% 2/4 Faixa etária 1:8 .21 71% 10/14 Faixa etária 1:9 .35 88% 23/26 Faixa etária 1:10 .67 97% 32/33 Faixa etária 1:11 .55 95% 58/61 Faixa etária 2:0 .24 85% 17/20 Faixa etária 2:2 .36 90% 28/31 Faixa etária 2:4 .68 96% 23/24 Faixa etária 2:6 # 100% 33/33 Faixa etária 2:8 .75 97% 36/37

Input .95 Significância .018 # knockout * sem possibilidade de ocorrência

Conforme a Tabela 1, as crianças vão adquirindo o fonema /f/

gradativamente. Porém, através do peso relativo, nas faixas etárias 1:7, 1:11 e

2:0 observa-se uma queda.

Nas primeiras faixas etárias é interessante observar que na faixa etária

1:1 e na faixa etária 1:3 só há uma possibilidade de ocorrência deste fonema.

Somente a partir da faixa 1:6 é que as possibilidades de realização vão surgindo

e aumentando gradativamente.

Analisando o peso, tem-se, nas faixas etárias 1:10 (.67) e 1:11 (.55), um

grande aumento na realização correta do segmento. Mas nas duas faixas

seguintes, 2:0 (.24) e 2:2 (.36), a produção do segmento sofre uma queda.

A partir da faixa etária 2:4 (.68) é que o segmento se estabiliza e atinge

pesos relativos elevados. É interessante observar que na faixa etária 2:6 o

percentual de produções corretas atinge 100%.

Os pesos relativos visualizados na Tabela 1 foram retirados da

interação com os fatores selecionados. Os demais pesos, de variáveis não

selecionadas, expostos neste capítulo, foram retirados das interações com

melhor significância, ou seja, os valores mais próximos ao zero.

Analisando a Tabela 1 através da porcentagem, para possível

comparação com os demais trabalhos da área que não usaram peso relativo

(Lamprecht, 1990; Hernandorena, 1990; Miranda, 1996; Mezzomo, 1999;

Sávio, 2001), encontramos uma pequena queda na faixa etária 1:7, onde a

produção correta cai para 50%.

Pode-se dizer que, a partir da faixa etária 1:9, com 88% de produção

correta, o fonema /f/ está adquirido, pois as quedas que ocorrem após esta

idade não conduzem o percentual a menos que 85%, que é o padrão

estabelecido para este trabalho. No entanto, nessa faixa o peso ainda é muito

baixo.

Na Figura 32, através do percentual, observa-se o processo de aquisição

do fonema /f/. Verifica-se que a aquisição se dá de maneira praticamente

crescente, havendo pequenas quedas, conforme já mencionado.

FIGURA 32 – Gráfico da produção do fonema /f/

4.1.1.2 Faixas etárias amalgamadas

As faixas etárias foram amalgamadas seguindo o critério de peso

relativo próximo.

As primeiras faixas, com peso relativo muito baixo, foram agrupadas

formando o Grupo Etário 1. Foi incluída neste grupo a faixa 1:9 que, embora

tendo atingido 88% de produção correta conforme referido acima, teve um

peso baixo (.35).

No Grupo Etário 2 agruparam-se as faixas em que houve um aumento

significativo do peso.

No Grupo Etário 3 amalgamaram-se as faixas seguintes em que os

pesos foram baixos, ou seja, onde ocorreu a queda na produção.

No Grupo Etário 4 tem-se as faixas com pesos relativos altos, onde o

fonema encontra-se plenamente adquirido.

produção de /f/

0102030405060708090100

1.1 1.3 1.6 1.7 1.8 1.9 1.101.11 2.0 2.2 2.4 2.6 2.8

faixas etárias

percentuais

Seqüência1

Tabela 2 – Produção do fonema /f/ quanto à faixa etária amalgamada

Grupo etário Peso Percentual Freqüência Grupo Etário 1 (1:1, 1:3, 1:6, 1:7, 1:8, 1:9)

.16 77% 41/53

Grupo Etário 2 (1:10, 1:11) .51 96% 90/94 Grupo Etário 3 (2:0, 2:2) .24 88% 45/51 Grupo Etário 4 (2:4, 2:6, 2:8) .82 98% 92/94

Input .96 Significância .018

Através da Tabela 2, pode-se constatar que no GE1 o peso é muito

baixo (.16), no GE2 essa variável tem peso relativo acima de .50, mas em

seguida há uma queda e no GE3 o peso cai para .24 No GE4 é que o peso

atinge um valor elevado, .82.

Mas, novamente, olhando-se para a porcentagem vê-se que, a partir do

GE2 o percentual está acima dos 85%. A queda existente no GE3 não é

inferior ao critério de 85%.

FIGURA 33- Gráfico da produção de /f/ quanto à faixa etária

amalgamada

Faixas etárias amalgamadas

0102030405060708090100

GE1 GE2 GE3 GE4

grupos etários

percentuais

Seqüência1

4.1.2 TONICIDADE

Tabela 3 – Produção do fonema /f/ quanto à tonicidade

Tonicidade Peso Percentual Freqüência Exemplos Postônica .60 95% 39/41 /ga’Rafa/ Tônica .56 94% 167/177 /ka’fε/ Pretônica .35 86% 59/69 /fo’gãw/ Pré-pretônica .03 60% 3/5 /figu’riña/

Input .96 Significância .018

No que se refere à variável tonicidade, observa-se que a posição

postônica (.60) é a mais favorecedora para a produção correta do /f/, seguida

de perto pela posição tônica (.56).

A pretônica (.35) e a pré-pretônica (.03) não se mostram como

favorecedoras para a produção do /f/.

Observando a Tabela 3 vê-se que a sílaba tônica teve maior número de

possibilidades de realização da fricativa /f/, 177, enquanto que a pretônica

teve 69 possibilidades, a postônica 41 e a pré-pretônica somente 5

possibilidades de realização. Lembrando sempre que esta freqüência decorre

da língua, mais especificamente do vocabulário infantil (palavras usadas por e

para crianças entre 1:0 e 3:8), não dependendo do desempenho da criança.

4.1.3 CONTEXTO PRECEDENTE

Tabela 4 - Produção do fonema /f/ quanto ao contexto precedente Contexto precedente

Peso Percentual Freqüência Exemplos

/e/ .74 97% 35/36 /ele’fãnte/ Vazio .52 90% 132/147 /’fala/ /a/ .46 93% 54/58 /šafa’ris/ /o/ .32 93% 14/15 /so’fa/ /r/ .27 89% 25/28 /’garfo/ /i/ # 100% 2/2 /ĵife’rente/ /u/ # 100% 2/2 /pãn’tufa/ /s/ # 100% 4/4 /’f⊃sforo/ Input .96 Significância .47 # knockout

Observando a Tabela 4, vê-se que o contexto precedente mais

favorável à produção do /f/ é a vogal coronal /e/ (.74).

Em segundo lugar, vê-se o contexto precedente vazio (.52), o que

corresponde à posição de início de palavra. É interessante notar que foi o

contexto com maior possibilidades de ocorrência, 147 palavras.

O fonema /f/ apresentou 100% de produção correta quando

precedido pelas vogais /i/ e /u/ e pela fricativa /s/, mas a freqüência foi

baixa, no máximo quatro possibilidades de ocorrência.

4.1.4 CONTEXTO SEGUINTE

Tabela 5 - Produção do fonema /f/ quanto ao contexto seguinte Contexto seguinte

Peso Percentual Freqüência Exemplos

/i/ .75 96% 22/23 /gar’fiño/ /ε/ .75 98% 40/41 /ka’fε/ /e/ .66 89% 25/28 /dife’rente/ /u/ .48 92% 44/48 /’furo/ /o/ .41 87% 47/54 /’fogo/ Vogal nasalizada .35 94% 15/16 /ele’fãnte/ /a/ .29 89% 56/63 /’faka/ /⊃/ # 100% 19/19 /’f⊃to/ Input .97 Significância .19 # knockout

O contexto seguinte que mostrou-se mais favorecedor à produção do

fonema /f/ foi a vogal labial /⊃/, com 100% de produção correta em 19

possibilidades de ocorrência.

Também apresentaram pesos relativos altos as vogais coronais /i/ (.75),

/ε/ (.75) e /e/ (.66).

4.1.5 POSIÇÃO NA PALAVRA

Tabela 6 - Produção do fonema /f/ quanto à posição na palavra Posição na palavra

Peso Percentual Freqüência Exemplos

Onset medial .57 94% 136/145 /ka’fε/ Onset absoluto .43 90% 132/147 /’faka/

Input .93 Significância .214

Em relação à posição na palavra, o onset medial mostrou-se mais

favorecedor à produção da fricativa /f/ (.57). O onset absoluto apresentou um

peso de .43.

É interessante observar que o número de freqüência de ocorrências do

fonema é quase o mesmo nas duas posições silábicas: 145 possibilidades na

posição de onset medial e 147 possibilidades para onset absoluto.

4.1.6 NÚMERO DE SÍLABAS Tabela 7 - Produção do fonema /f/ quanto ao número de sílabas

Número de sílabas

Peso Percentual Freqüência Exemplos

Polissílaba .60 92% 47/51 /kafε’ziño/ Dissílaba .59 95% 148/156 /’faka/ Trissílaba .30 87% 65/75 /ži’rafa/ Monossílaba .20 80% 8/10 /’foy/

Input .97 Significância .068

Para a produção do /f/, o que mostrou-se mais favorecedor foi a

palavra polissílaba (.60), com 51 possibilidades de ocorrência.

Em segundo lugar vê-se a dissílaba (.59), mas com uma freqüência de

ocorrência bem maior, 156 possibilidades de produção.

Como menos favorecedoras tem-se a trissílaba (.30), com 75 palavras, e

a monossílaba (.20), com apenas 10.

4.1.7 OMISSÕES E OUTRAS REALIZAÇÕES

No corpus desta pesquisa a fricativa /f/ teve 292 possibilidades de

ocorrência, sendo que foi produzida corretamente 268 vezes (92%).

Nos casos em que não houve a produção correta (8%), os dados foram,

inicialmente, codificados como segue abaixo:

Tabela 8 - Omissões e outras realizações na aquisição do fonema /f/

Ocorrências Porcentagem Exemplos

Omitiu segmento 4 1% elefante -[‘ãnči] Omitiu sílaba 5 2% formiga - [‘miga] Substituição de [sonoro]

5 2% perfume - [‘vumi]

Substituição de [contínuo]

7 3% fogão - [po’gãw]

Substituição de [ponto]

2 0% feijão - [si’zãw]

Substituição por semivogal

1 0% foi – [‘woy]

Verifica-se que a não-realização do segmento ocorreu em 9 palavras

(2%) do corpus, sendo que: em 4 palavras (1%) não houve a produção do

segmento, e em 5 palavras (2%) não houve a produção da sílaba portadora do

segmento em questão.

Também ocorreram substituições: 5 substituições (2%) envolvendo o

traço sonoro; 7 substituições (3%) envolvendo o traço contínuo; 2

substituições (0%) de ponto; e uma substituição (0%) por semivogal.

Em razão de as omissões e não-realizações constituírem poucos dados,

amalgamaram-se as variáveis a fim de dar maior sustentação às afirmações. As

amalgamações realizadas encontram-se na tabela abaixo.

Tabela 9 - Omissões e outras realizações amalgamadas na produção de /f/

Fonema /f/

Ocorrência Porcentagem

Omissões 9 3% Substituições 14 5% Substituição envolvendo traços de raiz

1 0%

Tem-se, então, 9 omissões (3%) do segmento /f/; 14 substituições

(5%); e apenas 1 substituição envolvendo traços de raiz (0%).

4.1.8 CRUZAMENTOS

A fim de verificar a influência das variáveis envolvidas na produção do

/f/, fizeram-se cruzamentos entre as variáveis lingüísticas e a variável extra-

lingüística.

Serão apresentados os resultados dos cruzamentos que foram

selecionados pelo Programa VARBRUL e os que a autora desta pesquisa

julgou interessantes.

4.1.8.1 Posição na palavra x faixa etária Tabela 10 – Cruzamento dos fatores posição na palavra e faixa etária

Posição na palavra Faixa etária Onset absoluto Onset medial

Percentual Peso Freqüência Percentual Peso Freqüência Faixa etária 1:0 * * * * * * Faixa etária 1:1 * * * 100% # 1/1 Faixa etária 1:2 * * * * * * Faixa etária 1:3 0% # 0/1 * * * Faixa etária 1:4 * * * * * * Faixa etária 1:5 * * * * * * Faixa etária 1:6 60% .18 3/5 100% # 2/2 Faixa etária 1:7 50% .06 1/2 50% .06 1/2 Faixa etária 1:8 60% .24 3/5 78% .26 7/9 Faixa etária 1:9 94% .63 17/18 75% .18 6/8 Faixa etária 1:10 95% .64 19/20 100% # 13/13 Faixa etária 1:11 93% .57 28/30 97% .67 30/31 Faixa etária 2:0 78% .24 7/9 91% .38 10/11 Faixa etária 2:2 82% .33 9/11 95% .55 19/20 Faixa etária 2:4 100% # 15/15 89% .39 8/9 Faixa etária 2:6 100% # 18/18 100% # 15/15 Faixa etária 2:8 92% .70 12/13 100% # 24/24

Input .93 Significância .580 * sem ocorrência # knockout

Analisando a Tabela 10, verifica-se que a partir de 1 ano e 9 meses o

/f/ está estabelecido na posição de onset absoluto. Ocorre uma queda, tanto

no percentual quanto no peso, nas faixas 2:0 e 2:2, e o percentual fica abaixo

dos 85%.

Nas duas faixas seguintes, 2:4 e 2:6, o percentual é de 100% de

produção correta, com freqüências de 15 e 18 produções, respectivamente.

Na posição de onset medial, a estabilidade na produção ocorre a partir

da faixa 1:10. As quedas que ocorrem após esta faixa não ficam abaixo dos

85%, que é o critério estabelecido para esta pesquisa, embora em termos de

peso a queda seja significativa.

Destaca-se aqui que, quando se trata de idade de aquisição, o percentual

é importante e tem que ser usado para comparações com demais trabalhos da

área.

4.1.8.2 Posição na palavra x tonicidade

Tabela 11 – Cruzamento dos fatores posição na palavra e tonicidade

Posição na palavra Tonicidade Onset absoluto Onset medial

Percentual Peso Freqüência Percentual Peso Freqüência Tônica Ex. faca, café

94% .55 78/83 95% .58 89/94

Pretônica Ex. fogão, diferente

86% .33 51/59 80% .24 8/10

Postônica Ex. garrafa

! ! ! 95% .60 39/41

Pré-pretônica Ex. figurinha

60% .10 3/5 * * *

Input .93 Significância .093 * sem ocorrência ! impossível na língua

Através da Tabela 11, verifica-se que, na posição de onset absoluto, a

sílaba tônica é a que apresenta maior influência, .55. A pretônica apresenta .33.

Para a posição de onset medial, a postônica apresenta o mesmo

percentual da tônica, 95%, mas a postônica tem o peso um pouco maior, .60,

enquanto que a tônica apresenta .58.

4.1.8.3 Tonicidade x número de sílabas

Tabela 12 - Cruzamento dos fatores tonicidade e número de sílabas

Número de sílabas Tonicidade Monossílaba Dissílaba Trissílaba Polissílaba

Perc Peso Freq Perc Peso Freq Perc Peso Freq Perc Peso Freq Tônica Ex. foi, faca, garfinho, telefone

80% .22 8/10 96% .64 100/104 92% .45 23/25 95% .56 36/38

Pretônica Ex. fechar, formiga, telefonar

! ! ! 92% .44 33/36 72% .15 18/25 100% # 8/8

Postônica Ex. garfo, girafa

! ! ! 94% .51 15/16 96% .63 24/25 * * *

Pré-pretônica Ex. formiguinha

! ! ! ! ! ! * * * 60% .10 3/5

Input .94 Significância .100 * sem ocorrência # knockout ! impossível na língua

Analisando a Tabela 12 referente ao cruzamento da variável tonicidade

com o número de sílabas, vê-se que as palavras monossílabas são tônicas por

natureza.

Nas dissílabas, o que mostra-se como favorecedor é a tônica, com .64,

seguido pela postônica, com .51.

A postônica é a mais favorecedora para as palavras trissílabas (.63). Em

segundo lugar tem-se a tônica (.45).

Nas palavras polissílabas, a pretônica apresenta 100% de produção

correta, mas apenas 8 ocorrências.

A tônica apresenta .56, com uma freqüência de 36 produções corretas

em 38 possibilidades.

4.2 FONEMA /v/

As variáveis selecionadas pelo Programa VARBRUL como relevantes

no processo de aquisição da fricativa /v/ foram faixa etária e número de

sílabas. Serão apresentados os resultados dos demais variáveis, conforme

explicitado no item 4.1.

4.2.1 FAIXA ETÁRIA

Em relação ao fonema /v/, a análise dos dados também passou por

duas etapas. Na primeira, com o objetivo de estabelecer uma linha

desenvolvimental de aquisição do fonema /v/, obteve-se os resultados de cada

faixa etária estabelecida para esta pesquisa. Na segunda etapa amalgamaram-se

algumas faixas etárias.

4.2.1.1 Faixas etárias simples

Tabela 13 – Produção do fonema /v/ quanto à faixa etária

Faixa etária Peso Percentual Freqüência Faixa etária 1:0 * * * Faixa etária 1:1 .05 33% 1/3 Faixa etária 1:2 * * * Faixa etária 1:3 .19 67% 4/6 Faixa etária 1:4 .09 50% 2/2 Faixa etária 1:5 # 100% 5/5 Faixa etária 1:6 .19 71% 15/21 Faixa etária 1:7 .17 68% 13/19 Faixa etária 1:8 # 100% 29/29 Faixa etária 1:9 .69 96% 44/46 Faixa etária 1:10 .59 93% 67/72 Faixa etária 1:11 .60 94% 64/68 Faixa etária 2:0 .24 74% 20/27 Faixa etária 2:2 .35 84% 38/45 Faixa etária 2:4 .79 97% 32/33 Faixa etária 2:6 .41 86% 24/28 Faixa etária 2:8 .62 93% 28/30

Input .92 Significância .050 # knockout * sem possibilidade de ocorrência

Analisando a Tabela 13, nota-se que na faixa etária 1:1 há apenas 3

possibilidades de ocorrência do fonema /v/. Essa baixa freqüência segue até a

faixa etária 1:5.

A partir da faixa etária 1:6 aumenta o número de possibilidades de

ocorrência, mas o peso relativo permanece baixo: faixa etária 1:6 (.16), faixa

etária 1:7 (.13).

Na faixa 1:8 obteve-se 100% de produção correta em 29 palavras.

Na faixa etária seguinte (1:9), o peso é elevado (.69), apresentando uma

freqüência de 44 produções corretas em 46 possibilidades de ocorrência.

O peso mantém-se elevado nas faixas 1:10 (.59) e 1:11 (.60).

Na faixa etária 2:0 há uma queda acentuada do peso (.24) e também das

possibilidades de ocorrência (27 palavras).

Aos 2:2 o peso ainda permanece baixo (.35), voltando a subir aos 2:4

(.79).

Aos 2:6 vê-se nova queda (.41), mas aos 2:8 o peso sobe para .62.

Na análise da porcentagem nota-se que até 1:7 os valores são baixos.

Na faixa etária 1:5 obtém-se 100% de produção correta, mas o número de

palavras é de apenas 5.

Da faixa etária 1:8 até a 1:11 o percentual se mantém acima dos 85%.

Na faixa 2:0 há uma queda, e o percentual atinge 74%.

Na faixa 2:2, a porcentagem se mantém abaixo do critério estabelecido,

ficando com 84%.

Pode-se dizer que a partir de 1:8 o fonema /v/ encontra-se adquirido,

seguindo os critérios adotados nesta pesquisa. Há uma queda nas faixas 2:0 e

2:2, justamente evidenciando a dificuldade do /v/, que é sonoro, em relação

ao /f/, surdo.

FIGURA 34 – Gráfico da produção de /v/

Analisando-se a Figura 34, observa-se que o processo de aquisição do

fonema /v/ não é linear.

4.2.1.2 Faixas etárias amalgamadas

As faixas etárias foram amalgamadas seguindo o critério de peso

produção de /v/

0102030405060708090100

1.1 1.4 1.6 1.8 1.10 2.0 2.4 2.8

faixas etárias

percentuais

Seqüência1

relativo próximo.

As primeiras faixas etárias, com pesos baixos, foram amalgamadas

formando o GE1.

No GE2, foram amalgamadas as faixas seguintes em que os pesos

estavam altos. As próximas faixas, onde houve queda no peso, foram

amalgamadas formando o GE3.

No GE4, amalgamaram-se faixas com pesos altos e a faixa 2:6 que,

apesar de o peso estar mais abaixo que as demais, o percentual é acima dos

85%.

Tabela 14 – Produção do fonema /v/ quanto à faixa etária amalgamada

Grupo etário Peso Percentual Freqüência Grupo Etário 1 (1:1, 1:3, 1:4, 1:5, 1:6, 1:7)

.16 69% 40/58

Grupo Etário 2 (1:8, 1:9, 1:10, 1:11)

.63 95% 204/215

Grupo Etário 3 (2:0, 2:2)

.35 81% 58/72

Grupo Etário 4 (2:4, 2:6, 2:8)

.59 92% 84/91

Input .91 Significância .002

Após a amalgamação, vê-se que no Grupo Etário 1 o peso (.16) e a

porcentagem (69%) são baixos.

Há um aumento no GE2, onde o peso passa a ser de .63, e a

porcentagem atinge os 95%.

No GE3, nota-se uma queda, tanto no peso (.35) quanto no percentual

(81%).

O GE4 apresenta peso de .59 e percentual de 92%.

Conforme mencionado no item anterior, vê-se que, a partir de 1:8, o

fonema /v/ encontra-se adquirido, ocorrendo uma queda aos 2:0 e aos 2:2,

voltando a se estabelecer a partir dos 2:4.

FIGURA 35 – Gráfico da produção do fonema /v/quanto à faixa

etária amalgamada

4.2.2 NÚMERO DE SÍLABAS

Tabela 15 - Produção do fonema /v/ quanto ao número de sílabas

Faixas etárias amalgamadas

0102030405060708090100

GE 1 GE2 GE3 GE4

grupos etários

percentuais

Seqüência1

Número de sílabas

Peso Percentual Freqüência Exemplos

Trissílaba .53 88% 138/156 /es’kova/ Dissílaba .53 88% 157/178 /’vaka/ Polissílaba .28 77% 37/48 /trave’seyru/ Monossílaba # 100% 54/54 /’vay/

Input .91 Significância .002 # knockout

As palavras monossílabas mostraram-se favorecedoras para a produção

do fonema /v/ com 100% de produção correta em 54 possibilidades de

ocorrência.

As trissílabas e as dissílabas obtiveram o mesmo peso (.53), ambas com

freqüências altas: 156 possibilidades de ocorrência para palavras com três

sílabas e 178 para palavras com duas sílabas.

As palavras polissílabas são as menos favorecedoras (.28) para o

fonema /v/, com 48 possibilidades de ocorrência.

4.2.3 TONICIDADE

Tabela 16 - Produção do fonema /v/ quanto à tonicidade

Tonicidade Peso Percentual Freqüência Exemplos Tônica .60 92% 193/209 /vo’vo/ Postônica .51 90% 54/60 /’šave/ Pretônica .40 84% 129/153 /avi’ãw/ Pré-pretônica .20 71% 10/14 /arvore’ziña/

Input .92 Significância .032

Conforme a Tabela 16, vê-se que a sílaba tônica é a mais favorável à

produção do fonema /v/ (.60), com uma freqüência alta, 209 palavras.

A postônica apresenta .51 mas uma freqüência menor, apenas 60

palavras. As pretônicas, com uma freqüência alta, 153 possibilidades de

ocorrência, apresentam um peso baixo (.40), enquanto que as sílabas pré-

pretônicas apresentam uma freqüência baixa, 14 palavras, e um peso muito

baixo, .20.

4.2.4 CONTEXTO PRECEDENTE

Tabela 17 - Produção do fonema /v/ quanto ao contexto precedente Contexto precedente

Peso Percentual Freqüência Exemplos

/o/ .66 93% 54/58 /’ovo/ /r/ .63 94% 16/17 /ser’veža/ /i/ .54 88% 7/8 /aniver’saryu/ Vazio .52 90% 171/190 /vio’lãw/ /a/ .47 88% 103/117 /ka’valo/ /u/ .24 78% 7/9 /’šuva/ /e/ .19 68% 19/28 /Re’vista/ /ε/ # 100% 1/1 /’lεva/ /⊃/ # 100% 2/2 /es’c⊃va/ /w/ # 100% 5/5 /ow’vido/ /s/ # 100% 1/1 /esvazi’ow/ Input .92 Significância .049 # knockout

Conforme a Tabela acima, percebe-se que a vogal /o/ é a mais

favorecedora à produção do /v/ (.66).

Com .63 temos o /r/, mas convém salientar que a freqüência é mais

baixa se comparado à vogal /o/, apenas 17 palavras.

A vogal /i/ apresenta peso de .54 com apenas 8 possibilidades de

ocorrência.

O contexto vazio foi o que apresentou maior número de possibilidades

de ocorrência (190), mas o peso permaneceu mediano (.52).

O fonema /v/ obteve 100% de produção correta quando precedido

pelas vogais /ε/ e /⊃/, o glide /w/ e a fricativa /s/, mas com freqüências

baixas: 1 possibilidade de ocorrência com a vogal /ε/, 2 possibilidades com a

vogal /⊃/, 5 possibilidades com a coda com o glide /w/ e 1 possibilidade

com a coda com fricativa.

4.2.5 CONTEXTO SEGUINTE

Tabela 18 - Produção do fonema /v/ quanto ao contexto seguinte Contexto seguinte

Peso Percentual Freqüência Exemplos

/ε/ .69 94% 99/108 /’vεla/ /o/ .62 93% 65/70 /vo’vo/ /a/ .58 92% 99/108 /’vaka/ Vogal nasalizada .55 93% 26/28 /esko’viña/ /i/ .42 85% 94/111 /avi’ãw/ /⊃/ .42 84% 27/32 /’v⊃lta/ /e/ .31 81% 46/57 /’verde/ /u/ # 100% 12/12 /’vulkãw/

Input .92 Significância .192 # knockout

Analisando a Tabela acima, percebe-se que o fonema /v/ obteve 100%

de produção correta quando seguido da vogal /u/, porém a freqüência da

mesma é baixa em relação aos demais contextos: 12 possibilidades de

ocorrência.

A vogal /ε/ apresenta um peso favorecedor, .69, e uma freqüência de

108 palavras. Com peso favorecedor também, temos a vogal /o/ (.62) e a

vogal /a/ (.58).

As vogais nasalizadas obtiveram .55 mas uma freqüência baixa em

relação aos demais contextos, apenas 28 palavras.

4.2.6 POSIÇÃO NA PALAVRA

Tabela 19 - Produção do fonema /v/ quanto à posição na palavra

Posição na palavra

Peso Percentual Freqüência Exemplos

Onset medial .53 88% 217/248 /ka’valo/ Onset absoluto .47 90% 169/188 /ver’meλo/

Input .91 Significância .209

O onset medial, com .53, é o mais favorecedor à produção correta da

fricativa /v/.

O onset absoluto obteve peso de .47. É interessante notar que, para o

onset medial, obteve-se 248 palavras; já para o onset absoluto, o número de

possibilidades foi de 188.

4.2.7 OMISSÕES E OUTRAS REALIZAÇÕES

A fricativa /v/ apresentou 436 possibilidades de ocorrência neste corpus,

sendo produzida corretamente 386 vezes.

Nas 50 palavras em que não houve a realização do /v/, encontram-se 5

omissões do segmento (1% do corpus); 10 omissões da sílaba que continha o

fonema em questão (3%); 8 substituições de traço sonoro (2%); 18

substituições envolvendo o traço contínuo (4%); 9 substituições por

semivogais (2%), conforme a Tabela 20, abaixo:

Tabela 20 - Omissões e outras realizações na aquisição do fonema /v/

Ocorrências Porcentagem Exemplos

Omitiu segmento

5 1% Vermelho – [e’metu]

Omitiu sílaba 10 3% Televisão – [tele’zãw] Substituição de [sonoro]

8 2% Sorvete – [‘feči]

Substituição de [contínuo]

18 4% Verde – [‘beĵi]

Substituição de [ponto]

* * *

Substituição por semivogal

9 2% Violão – [wo’lãw]

* sem ocorrência

Amalgamaram-se dados a fim de dar maior consistência aos resultados

obtidos. O resultado pode ser visto na Tabela 21.

Tabela 21 - Omissões e outras realizações amalgamadas na produção de /v/

Fonema /v/

Ocorrências Porcentagem

Omissões 15 4% Substituições 26 6% Substituições envolvendo traços de raiz

9 2%

Ocorreram 15 omissões (4%); 26 substituições (6%) e 9 substituições

envolvendo traços de raiz (2%).

4.2.8 CRUZAMENTOS

Para o fonema /v/ também realizaram-se cruzamentos entre as

variáveis lingüísticas e a variável extra-lingüística.

Serão apresentados os resultados dos cruzamentos selecionados pelo

Programa VARBRUL e aqueles que a autora desta pesquisa julga procedentes.

4.2.8.1 Posição na palavra x faixa etária

Tabela 22 - Cruzamento dos fatores posição na palavra e faixa etária

Posição na palavra Faixa etária Onset absoluto Onset medial

Percentual Peso Freqüência Percentual Peso Freqüência Faixa etária 1:0 * * * * * * Faixa etária 1:1 0% # 0/1 50% .09 1/2 Faixa etária 1:2 * * * * * * Faixa etária 1:3 100% # 2/2 50% .14 2/4 Faixa etária 1:4 50% .14 1/2 50% .06 1/2 Faixa etária 1:5 100% # 2/2 100% # 3/3 Faixa etária 1:6 70% .19 7/10 73% .22 8/11 Faixa etária 1:7 64% .16 7/11 75% .20 6/8 Faixa etária 1:8 100% # 12/12 100% # 17/17 Faixa etária 1:9 100% # 25/25 90% .48 19/21

Faixa etária 1:10 97% .85 35/36 89% .45 32/36 Faixa etária 1:11 92% .51 33/36 97% .76 31/32 Faixa etária 2:0 86% .63 6/7 70% .19 14/20 Faixa etária 2:2 73% .27 11/15 90% .46 27/30 Faixa etária 2:4 100% # 10/10 96% .70 22/23 Faixa etária 2:6 100% # 10/10 78% .25 14/18 Faixa etária 2:8 89% .46 8/9 95% .74 20/21

Input .91 Significância .151 * sem ocorrência

# knockout

Observando a Tabela 22, vê-se que, em posição de onset absoluto, o

/v/ encontra-se estabelecido a partir de 1 ano e 8 meses. Ocorre uma pequena

queda na faixa de 2:0, mas esta queda não é inferior aos 85%.

Aos 2:2 a queda é inferior ao critério estabelecido, atingindo 73%. As

faixas seguintes, 2:4 e 2:6, têm 100% de produção correta, ambas com

freqüências de 10 palavras.

Na posição de onset medial, o /v/ também encontra-se estabelecido na

faixa etária de 1:8. Vê-se uma queda aos 2:0, baixando o percentual de

produção correta para 70%. Aos 2:2, o percentual se eleva para 90%; aos 2:4,

para 96%. Aos 2:6, tem-se outra queda (78%). Aos 2:8 o percentual volta a

subir, atingindo 95% de produções corretas.

4.2.8.2 Posição na palavra x tonicidade

Tabela 23 - Cruzamento dos fatores posição na palavra e tonicidade

Posição na palavra Tonicidade Onset absoluto Onset medial

Percentual Peso Freqüência Percentual Peso Freqüência Tônica Ex. vaca, cavalo

95% .70 102/107 89% .49 91/102

Pretônica Ex. vassoura, avião

86% .41 59/69 83% .37 70/84

Postônica Ex. chave

! ! ! 90% .51 54/60

Pré-pretônica Ex. vestidinho, arvorezinha

67% .19 8/12 100% # 2/2

Input .90 Significância .027 * sem ocorrência # knockout

! impossível na língua

Este cruzamento foi selecionado pelo Programa VARBRUL como

relevante.

Através da Tabela 23, pode-se afirmar que a sílaba tônica é a mais

favorável na posição de onset absoluto, com .70. A pretônica, na posição de

onset absoluto, apresenta .41.

Na posição de onset medial, a postônica é a mais favorecedora (.51),

seguida pela tônica, (.49). A pré-pretônica apresenta 100% de produção

correta, mas a freqüência é de apenas 2 palavras.

4.2.8.3 Tonicidade x número de sílabas

Tabela 24 – Cruzamento dos fatores tonicidade e número de sílabas

Número de sílabas Tonicidade Monossílaba Dissílaba Trissílaba Polissílaba

Perc Peso Freq Perc Peso Freq Perc Peso Freq Perc Peso Freq Tônica Ex. vó, vaca, revista, escovinha

100% # 54/54 90% .28 86/96 89% .27 47/53 100% # 6/6

Pretônica Ex. voar, avião, ovelhinha

! ! ! 88% .80 37/42 88% .80 65/74 73% .60 27/37

Postônica Ex. chave, árvore

! ! ! 85% .23 34/40 100%

# 20/20 * * *

Pré-pretônica Ex. ventilar, arvorezinha

! ! ! ! ! ! 67% .69 6/9 80% .82 4/5

Input .90 Significância .010 * sem ocorrência # knockout

! impossível na língua

Este cruzamento foi selecionado pelo Programa VARBRUL como

significativo.

Com relação às palavras monossílabas, pode-se observar, como se sabe,

que são tônicas, com 100% de produções corretas em 54 possibilidades de

ocorrência.

As dissílabas são favorecidas na sílaba pretônica, com .80. A sílaba que

apresentou maior número de ocorrências foi a tônica, com 96 palavras.

A postônica é a mais favorecedora para palavras trissílabas, com 100%

de produção correta em 20 ocorrências. A pretônica apresenta um peso (.80)

muito favorecedor. Também com peso elevado tem-se a pré-pretônica, com

.69.

A sílaba tônica apresenta 100% de produção correta em palavras

polissílabas, mas com apenas 6 ocorrências. A pré-pretônica é a que apresenta

peso mais elevado, .82, novamente com poucas ocorrências, apenas 5.

A pretônica apresenta .60 para palavras polissílabas em 37

possibilidades de produção.

4.3 FONEMA /š/

As variáveis selecionadas pelo Programa VARBRUL como

relevantes no processo de aquisição da fricativa /š/ foram faixa etária e

posição na palavra. Como para os fonemas anteriores, optou-se por expor

os demais resultados encontrados.

4.3.1 FAIXA ETÁRIA

A análise dos dados passou por apenas uma etapa. A fim de se

estabelecer uma linha desenvolvimental de aquisição do fonema /š/, foram

obtidos os resultados de cada faixa etária estabelecida para esta pesquisa.

Não realizaram-se amalgamações devido à discrepância dos valores dos

pesos relativos.

4.3.1.1 Faixas etárias simples

Tabela 25 – Produção do fonema /š/ quanto à faixa etária

Faixa etária Peso Percentual Freqüência Faixa etária 1:0 * * *

Faixa etária 1:1 * * * Faixa etária 1:2 * * * Faixa etária 1:3 .22 50% ½ Faixa etária 1:4 .45 67% 2/3 Faixa etária 1:5 .20 33% 1/3 Faixa etária 1:6 .14 29% 5/17 Faixa etária 1:7 .31 55% 6/11 Faixa etária 1:8 .33 48% 13/27 Faixa etária 1:9 .43 65% 15/23 Faixa etária 1:10 .20 39% 16/41 Faixa etária 1:11 .35 60% 34/57 Faixa etária 2:0 .23 38% 8/21 Faixa etária 2:2 .30 50% 13/26 Faixa etária 2:4 .53 70% 19/27 Faixa etária 2:6 .80 90% 18/20 Faixa etária 2:8 .46 65% 24/37 Faixa etária 2:10 .75 85% 17/20 Faixa etária 3:0 .77 88% 30/34 Faixa etária 3:2 .73 85% 23/27 Faixa etária 3:4 .60 78% 25/32 Faixa etária 3:6 .93 96% 26/27 Faixa etária 3:8 # 100% 17/17 Input .71 Significância .001 * sem ocorrência # knockout

Através da Tabela 25, acima, vê-se que a aquisição do fonema /š/ não é

linear.

Nas primeiras faixas etárias percebe-se que são poucas as possibilidades

de produção: faixa etária 1:3, 2 possibilidades; faixa etária 1:4, 3 possibilidades;

faixa etária 1:5, 3 possibilidades. A partir da faixa etária 1:6 é que este número

aumenta.

Nas faixas 1:6 (.14); 1:7 (.31); 1:8 (.33); 1:9 (.43); 1:10 (.20); 1:11 (.35);

2:0 (.23) e 2:2 (.30), o peso mantém-se muito baixo.

A partir dos 2:4, o peso eleva-se, atingindo .53, e aos 2:6, atinge .80.

Aos 2:8 tem-se uma queda e o peso atinge .46. Eleva-se a partir da faixa

2:10 (.75), atingindo .77 aos 3:0, e .73 aos 3:2.

Aos 3:4 ocorre nova queda (.60). Aos 3:6 constata-se peso favorecedor

(.93), e aos 3:8 ocorre knockout com 100% de produção correta..

Através da porcentagem percebe-se, mais uma vez, que a aquisição do

fonema /š/ não é linear.

O fonema se estabiliza aos 2:6, com 90%. Aos 2:8 há uma queda, e o

percentual cai para 65%.

Nas faixas seguintes, 2:10; 3:0 e 3:2, o percentual se mantém elevado,

com 85%, 88% e 85%, respectivamente.

Na faixa etária 3;4 há uma queda e o percentual atinge 78%.

Aos 3:6, tem-se 96% de produções corretas, e aos 3:8, 100%.

Portanto, pode-se dizer que o /š/ está adquirido a partir dos 2:10.

FIGURA 36 – Gráfico da produção de /š/

4.3.2 POSIÇÃO NA PALAVRA

Tabela 26 – Produção do fonema /š/ quando à posição na palavra

Posição na palavra

Peso Percentual Freqüência Exemplos

Onset medial .60 73% 197/269 /ka’šoRo/ Onset absoluto .37 57% 116/203 /ša’ve/

Input .73 Significância .000

Em relação ao fonema /š/, pode-se perceber, analisando a Tabela 26,

que o onset medial (.60) é o mais favorecedor à produção desta fricativa. O

/š/ em posição de onset medial ocorreu 269 vezes, sendo produzido

corretamente 197 vezes, ou seja, em 73% das vezes. O peso foi de .60.

O /š/ em onset absoluto teve uma freqüência de 203 palavras, sendo

produzido corretamente 116 vezes, apresentando um percentual de 57%, e um

peso de .37.

produção de /š/

0102030405060708090100

1.3 1.5 1.7 1.9 1.11 2.2 2.6 2.1

0 3.2 3.6

faixas etárias

percentuais

Seqüência1

4.3.3 CONTEXTO PRECEDENTE

Tabela 27 – Produção do fonema /š/ quando ao contexto precedente

Contexto Precedente

Peso Percentual Freqüência Exemplos

/i/ .67 73% 35/48 /’bišo/ /u/ .61 84% 37/44 /’bruša/ /a/ .59 74% 83/112 /bo’Raša/ /e/ .59 67% 41/61 /fe’šou/ Vazio .36 57% 115/201 /šoko’late/ /n/ .34 50% 2/4 /lãn’šãndo/ /o/ # 0% 0/2 /bo’šeša/

Input .73 Significância .000 # knockout

O contexto precedente que mostrou-se mais favorecedor à produção

do /š/ foi a vogal /i/, com peso .67 em 48 possibilidades de ocorrência.

Em segundo lugar tem-se a vogal /u/, com peso de .61 em 44

possibilidades de produção.

A vogal /a/ apresenta .59, em 112 possibilidades de produção.

Em duas possibilidades de ocorrência do fonema /š/ precedido da

vogal /o/ ele não foi produzido corretamente nenhuma vez.

4.3.4 CONTEXTO SEGUINTE

Tabela 28 – Produção do fonema /š/ quando ao contexto seguinte Contexto Seguinte

Peso Percentual Freqüência Exemplos

/o/ .58 73% 58/79 /ka’šoRo/ /i/ .57 72% 94/130 /’šikara/ /u/ .53 69% 50/72 /’šuva/ /a/ .42 59% 91/155 /’šave/ /e/ .35 52% 13/25 /a’šey/ Vogal nasalizada .34 50% 4/8 /’šãw/ /⊃/ # 100% 3/3 /’š⊃ra/

Input .67 Significância .047 # knockout

A vogal /o/ foi a que mostrou-se mais favorecedora à produção da

fricativa /š/, com peso de .58. A fricativa teve a vogal /o/ como ambiente

seguinte em 79 palavras, sendo produzida corretamente 58 vezes.

A vogal /i/ apresentou peso de .57, em 130 possibilidades de

produção.

Em terceiro lugar, a vogal /u/, com peso de .53 em 72 possibilidades

de produção.

O fonema /š/ apresentou 100% de produções corretas quando

precedido pela vogal /⊃/, mas em apenas 3 possibilidades de produção.

4.3.5 TONICIDADE

Tabela 29 – Produção do fonema /š/ quando à tonicidade Tonicidade Peso Percentual Freqüência Exemplos Postônica .64 76% 103/135 /’bišo/ Tônica .51 67% 143/214 /’šikara/

Pretônica .36 53% 50/95 /ši’nεlo/ Pré-pretônica .28 61% 17/28 /šoko’late/

Input .73 Significância .000

Analisando a Tabela 29 acima, vê-se que a sílaba postônica foi a que

mostrou-se mais favorecedora à produção do fonema /š/, com .64. A

postônica ocorreu 135 vezes e foi produzida corretamente 103 vezes.

A sílaba tônica apresentou um peso de .51 em 214 possibilidades de

produção.

Como menos favorecedoras têm-se a pretônica(.36) e a pré-pretônica

(.28), com 95 e 28 possibilidades de produção, respectivamente.

4.3.6 NÚMERO DE SÍLABAS

Tabela 30 – Produção do fonema /š/ quando ao número de sílabas

Número de sílabas

Peso Porcentagem Freqüência Exemplos

Polissílaba .56 72% 33/46 /šoko’late/ Trissílaba .53 69% 113/169 /’šikara/ Dissílaba .48 64% 161/250 /’šave/ Monossílaba .30 46% 6/13 /’ša/

Input .67 Significância .274

As palavras polissílabas mostraram-se mais favorecedoras à produção

do /š/, com peso de .56.

As trissílabas apresentaram um peso de .53, sendo produzidas

corretamente 113 vezes em 169 possibilidades.

As dissílabas são as que apresentaram o maior número de

possibilidades de ocorrência, 250, e foram produzidas corretamente 161 vezes,

com peso de .48.

Como menos favorecedoras têm-se as monossílabas, com peso de .30

em apenas 13 possibilidades de produção.

4.3.7 OMISSÕES E OUTRAS REALIZAÇÕES

Tabela 31 - Omissões e outras realizações na aquisição do fonema /š/

Ocorrências Porcentagem Exemplos Omitiu segmento

13 4% chinelo – [i’nεlu]

Omitiu sílaba 9 3% chapéu – [‘pε] Substituição de [anterior]

89 22% chapéu – [sa’pεw]

Substituição de [sonoro]

4 1% cheia – [‘žeya]

Substituição de [contínuo]

38 11% chinelo – [ki’nεlu]

Substituição de [ponto]

6 2% chave – [‘fave]

Através dos dados da Tabela 31, conclui-se que a substituição pelo

traço [+anterior] é responsável pelo maior número de casos de não-realização

correta na produção do /š/. Dos 36% de não-realização correta do fonema

/š/, 22% devem-se à substituição do traço [- anterior] pelo [+anterior].

Dentre as substituições também ocorreram: substituição do valor do

traço [sonoro] (1%); substituição envolvendo o traço [contínuo] (11%); e

substituição de ponto (2%).

Foram constatados também casos de omissão do segmento (4%), e de

omissão da sílaba portadora do segmento (3%).

A fim de se trabalhar com maior número de dados, foram realizadas

amalgamações, como mostra a Tabela 32 abaixo.

Tabela 32 - Omissões e outras realizações amalgamadas na produção de /š/

Fonema /š/ Ocorrências Porcentagem

Omissões 22 7% Substituição de [anterior]

89 22%

Substituições 10 3% Substituição de [contínuo]

38 11%

Após a amalgamação, têm-se 22 casos de omissões (7% do corpus); 89

substituições envolvendo o traço [anterior] (22%); 38 substituições

envolvendo o traço [contínuo] (11%); e 10 substituições (3%), que envolvem

os traços [sonoro] e de ponto de articulação.

4.3.8 CRUZAMENTOS

A fim de verificar a influência das variáveis envolvidas na produção do

fonema /š/, fez-se cruzamentos entre as variáveis lingüísticas e variável extra-

lingüística.

Serão apresentados os resultados dos cruzamentos que foram

selecionados pelo Programa VARBRUL e os que a autora desta pesquisa

julgou interessantes.

4.3.8.1 Posição na palavra x faixa etária

Devido ao grande número de variáveis envolvidas neste cruzamento,

não foi possível realizar uma rodada no Programa VARBRUL para obter os

pesos relativos. Conforme já mencionado, quando fala-se em idade de

aquisição nesta pesquisa, utiliza-se o critério de porcentagem que está

apresentado a seguir.

Tabela 33 - Cruzamento dos fatores posição na palavra e faixa etária

Posição na palavra Faixa etária Onset absoluto Onset medial

Percentual Freqüência Percentual Freqüência Faixa etária 1:0 * * * * Faixa etária 1:1 * * * * Faixa etária 1:2 * * * * Faixa etária 1:3 * * 50% 1/2 Faixa etária 1:4 * * 60% 2/3 Faixa etária 1:5 0% 0/1 50% 1/2 Faixa etária 1:6 17% 1/6 36% 4/11 Faixa etária 1:7 0% 0/3 75% 6/8 Faixa etária 1:8 39% 7/18 67% 6/9 Faixa etária 1:9 63% 5/8 67% 10/15 Faixa etária 1:10 13% 2/16 56% 14/25 Faixa etária 1:11 43% 6/14 65% 28/43 Faixa etária 2:0 31% 4/13 50% 4/8 Faixa etária 2:2 25% 3/12 71% 10/14 Faixa etária 2:4 54% 7/13 86% 12/14 Faixa etária 2:6 100% 8/8 83% 10/12 Faixa etária 2:8 67% 12/18 63% 12/19 Faixa etária 2:10 83% 10/12 88% 7/8 Faixa etária 3:0 86% 12/14 90% 18/20 Faixa etária 3:2 77% 10/13 93% 13/14 Faixa etária 3:4 67% 8/4 85% 17/20 Faixa etária 3:6 100% 12/12 93% 14/15 Faixa etária 3:8 100% 8/8 100% 9/9

* sem ocorrência # knockout

Analisando a Tabela 33, verifica-se que a partir de 3 anos e 6 meses o

/š/ está estabelecido na posição de onset absoluto. Antes desta faixa o /š/

atinge 100% de produção correta aos 2 anos e 6 meses, mas aos 2:8 cai para

67% e aos 2:10 fica em 83%.

O percentual fica acima dos 85% na faixa 3:0, mas novamente há uma

queda na faixa 3:2, onde o percentual fica em 77%. Aos 3:4 cai ainda mais, fica

em 67%.

Na posição de onset medial, a estabilidade na produção ocorre a partir

da faixa 2:10, com 88% de produção correta. As quedas que ocorrem após esta

faixa não ficam abaixo dos 85%, que é o critério estabelecido para esta

pesquisa.

4.3.8.2 Posição na palavra x tonicidade

Tabela 34 - Cruzamento dos fatores posição na palavra e tonicidade

Posição na palavra Tonicidade Onset absoluto Onset medial

Percentual Peso Freqüência Percentual Peso Freqüência Tônica Ex. chave, achou

60% .43 58/96 72% .56 85/118

Pretônica Ex. chapéu, cachorrinho

52% .35 40/77 56% .39 9/16

Postônica Ex. bicho

! ! ! 76% .61 103/135

Pré-pretônica Ex. chocolate

61% .43 17/28 * * *

Input .67 Significância .006 ! impossível na língua * sem ocorrência

Através da Tabela 34, verifica-se que, na posição de onset absoluto, as

sílabas tônica e pré-pretônica são as que apresentam maior influência, ambas

com peso de .43. A pretônica apresenta .35.

Para a posição de onset medial, a postônica é a mais favorecedora com

.61. A tônica apresenta peso de .56 e a pretônica .39.

4.3.8.3 Tonicidade x número de sílabas

Tabela 35 - Cruzamento dos fatores tonicidade e número de sílabas

Número de sílabas Tonicidade Monossílaba Dissílaba Trissílaba Polissílaba

Perc Peso Freq Perc Peso Freq Perc Peso Freq Perc Peso Freq Tônica Ex. chá, chave, xícara, bolachinha

46% .29 6/13 61% .43 59/96 72% .55 66/92 92% .85 12/13

Pretônica Ex. chapéu, chinelo, cachorrinho

! ! 35% .21 14/40 66% .48 29/44 67% .49 6/9

Postônica Ex. bicho, borracha

! ! 78% .63 87/112 73% .56 16/22 * * *

Pré-pretônica Ex. chafariz, chocolate

! ! ! ! ! 40% .24 2/5 65% .47 15/23

Input .68 Significância .085 * sem ocorrência ! impossível na língua

Analisando a Tabela 35, vê-se que as monossílabas (sempre tônicas)

apresentam peso de .29.

Nas dissílabas, o que mostra-se como mais favorecedor é a postônica,

com .63, seguida pela sílaba tônica, com .43.

A postônica é a mais favorecedora para as palavras trissílabas (.56). Em

segundo lugar tem-se a tônica (.55).

Nas palavras polissílabas, a tônica apresenta-se como a mais

favorecedora, com .85 e uma freqüência de 12 produções corretas em 13

possibilidades.

A pretônica apresenta .49 e a pré-pretônica peso de .47.

4.4 FONEMA /ž/

As variáveis selecionadas pelo Programa VARBRUL como relevantes

no processo de aquisição da fricativa /ž/ foram a faixa etária e o contexto

seguinte. Como nos demais fonemas, optou-se por expor os demais resultados

encontrados em função de um dos objetivos da pesquisa, que é o de trazer

subsídios para a terapia fonoaudiológica.

4.4.1 FAIXA ETÁRIA

A análise dos dados do fonema /ž/, quanto à variável faixa etária, da

mesma forma que para o fonema /š/, foi realizada em uma etapa. Foram

obtidos os resultados de cada faixa etária estabelecida para esta pesquisa, não

realizando-se amalgamações devido aos valores distintos dos pesos relativos.

4.4.1.1 Faixas etárias simples

Tabela 36 – Produção do fonema /ž/ quanto à faixa etária

Faixa etária Peso Percentual Freqüência Faixa etária 1:1 * * * Faixa etária 1:2 * * * Faixa etária 1:3 * * * Faixa etária 1:4 # 100% 1/1 Faixa etária 1:5 * * * Faixa etária 1:6 .12 45% 5/11 Faixa etária 1:7 # 0% 0/2 Faixa etária 1:8 .14 40% 2/5 Faixa etária 1:9 .25 44% 4/9 Faixa etária 1:10 .16 33% 3/9 Faixa etária 1:11 .21 46% 16/35 Faixa etária 2:0 .40 67% 10/15 Faixa etária 2:2 .27 52% 12/23 Faixa etária 2:4 .33 61% 17/28 Faixa etária 2:6 .76 89% 17/19 Faixa etária 2:8 .86 94% 17/18 Faixa etária 2:10 .56 79% 15/19 Faixa etária 3:0 .57 79% 26/33 Faixa etária 3:2 .66 85% 28/33 Faixa etária 3:4 .62 81% 17/21 Faixa etária 3:6 # 100% 26/26 Faixa etária 3:8 .90 95% 21/22

Input .76 Significância .014 * sem possibilidade de ocorrência # knockout

Através da Tabela 36, observa-se que os pesos relativos mostram-se

favoráveis à produção da fricativa /ž/ nas faixas 2:6, 2:8, 3:2, 3:4 e 3:8.

É interessante observar que até a faixa 1:6 praticamente não há

possibilidades de ocorrência deste fonema. Da faixa etária 1:6 até a faixa etária

1:10, a freqüência de palavras é muito baixa. A partir da faixa 1:11 é que este

valor aumenta.

Nas faixas 1:11 (.21), 2:0 (.40), 2:2 (.27) e 2:4 (.33) o peso ainda é

bastante baixo.

Nas faixas 2:6 (.76) e 2:8 (.86) tem-se um aumento do peso, indicando

que o segmento está entrando em fase de estabilização.

Nas faixas 2:10 (.56) e 3:0 (.57) há uma queda e o peso permanece em

um estágio neutro.

Nas faixas 3:2 (.66), 3:4 (.62) e 3:8 (.90) o peso é mais elevado e mostra-

se como favorecedor à produção da fricativa. Podendo considerar-se então,

que o /ž/ está adquirido aos 2:6 anos.

Analisando a Tabela 36 através do percentual, vê-se que o segmento

começa a se estabelecer a partir dos 2:6 (89%), atingindo 94% aos 2:8. Aos

2:10 e aos 3:0 o percentual tem uma queda, atingindo 79% de produções

corretas. Na faixa seguinte, 3:2, atinge 85%, ocorrendo uma pequena queda na

faixa 3:4, onde o percentual fica em 81%.

As duas faixas que seguem, 3:6 e 3:8, apresentam percentuais de 100%

e 95%, respectivamente. Portanto, com 2:6 anos o fonema /ž/ encontra-se

adquirido.

Na Figura 37, observa-se, através do percentual, o processo de

aquisição do fonema /ž/. Verifica-se que a aquisição não é totalmente linear,

conforme já mencionado para as outras fricativas.

FIGURA 37 – Gráfico da produção de /ž/

4.4.2 CONTEXTO SEGUINTE

Tabela 37 – Produção do fonema /ž/ quando ao contexto seguinte

Contexto Seguinte

Peso Percentual Freqüência Exemplos

/u/ .70 73% 8/11 /’žura/ /i/ .63 78% 60/77 /ži’rafa/ /e/ .51 79% 42/53 /žela’deyra/ /a/ .49 74% 90/122 /’suža/ /o/ .31 59% 24/41 /žor’nal/ Vogal nasalizada .31 45% 10/22 /fey’žãw/ /ε/ # 100% 2/2 /tižε’liña/ /⊃/ # 100% 1/1 /’ž⊃ya/ Input .80 Significância .034 # knockout

Analisando a variável contexto seguinte, percebe-se que a vogal mais

favorecedora à produção de /ž/ é a vogal /u/ (.70).

Também favorecedora é a vogal /i/, com peso de .63. É interessante

ressaltar que a freqüência de possibilidades da vogal /i/ é bem maior do que a

da vogal /u/, 77 contra 11, respectivamente.

produção de /z/

0102030405060708090100

1.4 1.7 1.9 1.11 2.2 2.6 2.1

0 3.2 3.6

faixas etárias

percentuais

Seqüência1

A vogal /ε/e a vogal /⊃/ apresentaram 100% de produção correta,

mas com freqüências muito baixas: 2 produções para o /ε/ e apenas 1

produção para o /⊃/.

4.4.3 POSIÇÃO NA PALAVRA Tabela 38 – Produção do fonema /ž/ quando à posição na palavra

Posição na palavra

Peso Percentual Freqüência Exemplos

Onset absoluto .57 75% 127/170 /žela’deyra/ Onset medial .43 69% 110/159 /Re’l⊃žyu/

Input .80 Significância .083

Em relação à posição na palavra, o onset absoluto mostrou-se mais

favorecedor (.57) à produção do que o onset medial (.43).

O onset absoluto teve 170 possibilidades de ocorrência, enquanto que o

onset medial teve 159.

4.4.4 CONTEXTO PRECEDENTE Tabela 39 – Produção do fonema /ž/ quando ao contexto precedente Contexto Precedente

Peso Percentual Freqüência Exemplos

/n/ .71 87% 33/38 /la’rãnža/ /⊃/ .57 78% 39/50 /Re’l⊃žyu/ Vazio .50 74% 128/174 /žela’deyra/ /e/ .35 59% 19/32 /i’greža/ /u/ .31 55% 6/11 /’suža/ /i/ .30 53% 8/15 /Reliži’ãw /a/ .27 50% 3/6 /vi’ažen/ /ε/ .27 50% 1/2 /ko’lεžyu/ /o/ # 0% 0/1 /’ože/

Input .74 Significância .054 # knockout

Quanto à variável contexto precedente, o contexto que mostrou-se

mais favorecedor à produção do /ž/ foi a consoante nasal /n/, com .71, o que

significa estrutura silábica CVC, ou seja, a coda nasal precedendo o fonema

/ž/.

Também favorecedora é a vogal /⊃/, com peso de .57.

O contexto precedente vazio foi o que obteve maior freqüência, 174

possibilidades, mas o peso manteve-se neutro (.50).

As vogais menos favorecedoras neste ambiente são o /a/ e o /ε/,

ambas com pesos de .27 em freqüências muito baixas. A vogal /a/ apresentou

uma freqüência de 6 palavras, e a vogal /ε/ apresentou apenas duas

possibilidades de ocorrência.

É interessante notar que a vogal /o/, como contexto precedente ao

fonema /ž/, ocorreu apenas uma vez.

4.4.5 TONICIDADE

Tabela 40 – Produção do fonema /ž/ quando à tonicidade

Tonicidade Peso Percentual Freqüência Exemplos Pretônica .56 77% 75/97 /ži’rafa/ Postônica .51 73% 84/115 /’beyžo/ Pre-pretônica .50 72% 52/72 /žaka’rε/ Tônica .35 59% 26/44 /’žura/ Input .73 Significância .187

A sílaba que mostrou-se mais favorecedora à produção do /ž/ foi a

pretônica, com .56 em 97 possibilidades de ocorrência.

Em segundo lugar vê-se a postônica, com .51 de peso e 115

possibilidades de produção.

É interessante notar que a sílaba que mostrou-se como menos

favorecedora à produção desta fricativa foi a sílaba tônica, com peso de .35,

sendo produzida corretamente 26 vezes em 44 possibilidades.

4.4.6 NÚMERO DE SÍLABAS

Tabela 41 – Produção do fonema /ž/ quando ao número de sílabas

Número de sílabas

Peso Percentual Freqüência Exemplos

Trissílaba .56 77% 146/190 /želado/ Polissílaba .51 74% 39/53 /diri’žindo/ Dissílaba .38 62% 50/81 /žor’nal/ Monossílaba .20 40% 2/5 /’ža/

Input .73 Significância .039

A palavra trissílaba mostrou-se mais favorecedora à produção correta

de /ž/(.56). Em segundo lugar tem-se a polissílaba (.51).

A dissílaba apresentou peso de .38, e a monossílaba, a menos

favorecedora, .20.

É interessante notar que a trissílaba obteve 190 possibilidades de

ocorrência, a polissílaba 53, a dissílaba 81 e a monossílaba apenas 5 palavras.

4.4.7 Omissões e outras realizações

Tabela 42 - Omissões e outras realizações na aquisição do fonema /ž/

Ocorrências Porcentagem Exemplos Omitiu segmento

9 4% geladeira – [ela’dela]

Omitiu sílaba 9 4% geladeira – [la’dela] Substituição de [anterior]

52 18% jacaré – [zaka’rε]

Substituição de [sonoro]

3 1% queijo – [‘kešu]

Substituição de [contínuo]

13 5% jogar – [do’ga]

Substituição de [ponto]

6 2% jacaré – [vaka’lε]

Através da Tabela 42 acima, constata-se que as crianças do corpus

tendem a realizar substituições com o /ž/ quando não conseguem produzi-lo

corretamente; foram realizadas 52 substituições envolvendo o traço [anterior]

(18%); 3 substituições do traço [sonoro] (1%); 13 substituições envolvendo o

traço [contínuo] (5%) e 6 substituições de ponto (2%).

Ocorreram 9 omissões do segmento (4%) e 9 omissões da sílaba

portadora do /ž/ (4%).

Novamente foram realizadas amalgamações. Os resultados podem ser vistos na Tabela 43 abaixo.

Tabela 43 - Omissões e outras realizações amalgamadas na produção de /ž/

Fonema /ž/ Ocorrências Porcentagem

Omissões 18 7% Substituição de [anterior]

52 18%

Substituições 9 4% Substituição de [contínuo]

13 5%

As omissões representam 7% do corpus; as substituições do valor do

traço [anterior] correspondem a 18%; as substituições envolvendo o traço

contínuo, 5%; e outras substituições([soante] e ponto), 4%.

4.4.8 CRUZAMENTOS

Como para os demais fonemas, realizaram-se cruzamentos entre as

variáveis lingüísticas e a variável extra-lingüística.

Serão apresentados os resultados dos cruzamentos selecionados pelo

Programa VARBRUL e aqueles que a autora julga procedentes.

4.4.8.1 Posição na palavra x faixa etária

Neste cruzamento não foi possível obter o peso relativo devido ao

grande número de faixas etárias. Mas é importante lembrar que nesta pesquisa,

para falar em idade de aquisição, sempre considerou-se o percentual para

possíveis comparações com demais trabalhos da área. Os resultados

encontram-se na Tabela 44.

Tabela 44 - Cruzamento dos fatores posição na palavra e faixa etária

Posição na palavra Faixa etária Onset absoluto Onset medial

Percentual Freqüência Percentual Freqüência Faixa etária 1:0 * * * * Faixa etária 1:1 * * * * Faixa etária 1:2 * * * * Faixa etária 1:3 * * * * Faixa etária 1:4 100% 1/1 * * Faixa etária 1:5 * * * * Faixa etária 1:6 33% 1/3 50% 4/8 Faixa etária 1:7 0% 0/1 0% 0/1 Faixa etária 1:8 0% 0/2 67% 2/3 Faixa etária 1:9 40% 2/5 50% 2/4 Faixa etária 1:10 33% 1/3 33% 2/6 Faixa etária 1:11 55% 6/11 42% 10/24 Faixa etária 2:0 50% 3/6 78% 7/9 Faixa etária 2:2 38% 6/16 86% 6/7 Faixa etária 2:4 63% 10/16 58% 7/12 Faixa etária 2:6 100% 10/10 78% 7/9 Faixa etária 2:8 91% 10/11 100% 7/7 Faixa etária 2:10 75% 6/8 82% 9/2 Faixa etária 3:0 84% 16/19 71% 10/14 Faixa etária 3:2 100% 19/19 64% 9/14 Faixa etária 3:4 86% 12/14 71% 5/7 Faixa etária 3:6 100% 12/12 100% 14/14 Faixa etária 3:8 92% 12/13 100% 9/9

* sem ocorrência # knockout

Através da Tabela 44 acima, vê-se que, em posição de onset absoluto, o

/ž/ encontra-se adquirido a partir de 2 anos e 6 meses. Ocorre uma queda nas

faixas 2:10 e 3:0, em que o percentual fica abaixo dos 85%. A partir da faixa

3:2, onde obtém-se 100% de produções corretas, o percentual se mantém

acima dos 85%.

Na posição de onset medial, o /ž/ só é adquirido aos 3 anos e 6 meses,

ou seja um ano depois.

4.4.8.2 Posição na palavra x tonicidade

Tabela 45 - Cruzamento dos fatores posição na palavra e tonicidade

Posição na palavra Tonicidade Onset absoluto Onset medial

Percentual Peso Freqüência Percentual Peso Freqüência Tônica Ex. jura, ajuda

65% .67 11/17 56% .49 15/27

Pretônica Ex. girafa, queijo

80% .62 66/83 64% .22 9/14

Postônica Ex. sujo

! ! ! 73% .49 84/115

Pré-pretônica Ex. jacaré, refrigerador

72% .41 50/69 67% .15 2/3

Input .77 Significância .071 ! impossível na língua

Através da Tabela 45, pode-se afirmar que a sílaba tônica é a mais

favorável em posição de onset absoluto, com peso de .67. Com peso de .62 vê-

se a pretônica.

Na posição de onset medial, a postônica e a tônica apresentam o

mesmo peso, .49. Destaca-se que a postônica apresenta 115 possibilidades de

produção, enquanto que a tônica apresenta somente 27 palavras.

4.4.8.3 Tonicidade x número de sílabas

Tabela 46 - Cruzamento dos fatores tonicidade e número de sílabas

Número de sílabas

Tonicidade Monossílaba Dissílaba Trissílaba Polissílaba Perc Peso Freq Perc Peso Freq Perc Peso Freq Perc Peso Freq

Tônica Ex. já, jura, ajuda, laranjinha

40% .14 2/5 54% .46 13/24 80% .54 8/10 60% .41 3/5

Pretônica Ex. jornal, gelado, religião

! ! ! 74% .85 28/38 80% .52 41/51 75% .49 6/8

Postônica Ex. beijo, colégio

! ! ! 47% .24 9/19 78% .48 75/96 * * *

Pré-pretônica Ex. jacaré, joaninha

! ! ! ! ! ! 69% .35 22/32 75% .48 30/40

Input .74 Significância .595 * sem ocorrência ! impossível na língua

Para as palavras monossílabas, que são tônicas, a freqüência foi de

apenas 5 palavras, atingindo um peso de .14.

As dissílabas são favorecidas na pretônica, com peso de .85.

A tônica é a mais favorecedora para as palavras trissílabas, com peso de

.54. A postônica foi a que apresentou maior número de possibilidades de

ocorrência, 96 palavras.

Nas palavras polissílabas, a tônica apresenta-se como a mais

favorecedora, com peso de .85 e freqüência de 12 produções corretas em 13

possibilidades. A pretônica apresentou peso de .49 e a pré-pretônica peso de

.47.

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo serão expostos os comentários pertinentes a respeito

dos resultados da análise estatística apresentada no capítulo 4.

5.1 QUANTO À FAIXA ETÁRIA

Este fator foi selecionado como relevante pelo Programa VARBRUL

para a produção dos quatro fonemas em estudo, ou seja, /f/, /v/, /š/ e /ž/.

Em todos os quatro casos houve queda de produção em, no mínimo, uma

faixa etária, mostrando que o domínio desses fonemas não é linear, mas

gradual.

FIGURA 38 – Gráfico de aquisição dos 4 fonemas em estudo

Estes dados corroboram o trabalho de Hernandorena (1990), que

considerou a aquisição como um processo gradativo, mas não linear, devido às

formas regressivas de uso.

Uma das possíveis explicações para as quedas na produção pode ser o

aumento de complexidade, para a criança, de um outro componente da língua,

tal como o componente sintático, o semântico, o morfológico ou pragmático,

que leva a criança a dividir sua atenção entre mais fatores lingüísticos. Segundo

Yavas, Hernandorena e Lamprecht (1991), para a grande maioria das crianças,

o aumento da complexidade de um determinado componente da língua tem

efeito sobre a precisão de outros aspectos.

Rangel (1998), em seu estudo longitudinal de 3 crianças com

desenvolvimento fonológico normal, mostra diferenças individuais

significativas na aquisição, conforme Tabela 47 abaixo.

Produções de /f/, /v/, /s/ e /z/

0102030405060708090100

1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 1.10 2.0 2.4 2.8 3.0 3.4 3.8

faixas etárias

percentuais f

vsz

TABELA 47 - Idades de aquisição em Rangel (1998) f v s z š ž

Tatiana 1:9;13 1:7;25 1:9;13 1:10;22 1:9;13 1:11;19 João 2:1;14 2:1;14 2:0;26 2:9;7 2:4;0 -- Rafael 2:2;4 2:1;20 2:1;20 2:2;4 2:6;5 2:6;5 -- não apareceu até 3:0;29.

Como se vê, as diferenças individuais ficam muito claras em um estudo

de caráter longitudinal.

Por vezes, a idade de aquisição é idêntica, como acontece para o /v/ na

fala de João (2:1;14) e de Rafael (2:1; 20), e para o /s/ na fala dos mesmos

meninos (João – 2:0;26; Rafael – 2:1;20). Mas as fricativas [-anterior] mostram

grandes discrepâncias cronológicas: /ž/ já está adquirido aos 1:11;19 por

Tatiana e não é adquirido por João até 3:0;29, já por Rafael é adquirido aos

2:6;5, o que representa uma diferença de 7 meses; o /š/ já está adquirido aos

1:9;13 por Tatiana mas novamente aos 2:6;5 por Rafael, em uma diferença de 9

meses.

Essas diferenças são tanto mais significativas se levarmos em conta a

pouca idade dos sujeitos.

Já nesta pesquisa, de caráter transversal, constatou-se que o fonema /f/

está adquirido pela criança a partir de 1 ano e 9 meses. Já o fonema /v/ está

adquirido com 1 ano e 8 meses.

O fonema /š/ está adquirido aos 2:10, enquanto que o /ž/ está aos 2:6.

É interessante destacar a discrepância existente na idade de aquisição

dos fonemas /š/ e /ž/ em posição de onset absoluto e medial, conforme

Tabela abaixo.

TABELA 48 - Diferenças de idade de aquisição nas posições de onset absoluto e medial.

/š/ /ž/ Diferença

Onset absoluto 3:6 2:6 1 ano Onset medial 2:10 3:6 8 meses Diferença 8 meses 1 ano

Pode-se ver que, para o fonema /š/ há 8 meses de diferença entre a

aquisição do onset medial e o onset absoluto. Já para o fonema /ž/, o onset

absoluto surge 1 ano antes do onset medial. Igualmente de 1 ano é a diferença,

em posição de onset absoluto, da aquisição do /ž/ para o /š/.

Esta discrepância talvez possa ser explicada em função do processo

articulatório. Segundo Albano (2001, p.208), a agilidade e a relativa

independência da ponta da língua como articulador parecem decisivas na

distribuição das coronais entre as duas posições.

Esperar-se-ia que, de acordo com a literatura da área da fonologia e da

aquisição, os fonemas [-sonoro] fossem adquiridos antes dos [+sonoro], mas

não foi o padrão encontrado nesta pesquisa em relação à classe das fricativas,

como mostra a Tabela 49.

TABELA 49 - Diferença de aquisição entre pares surdo/sonoro

Fricativa [-son]

Idade de aquisição

Fricativa [+son]

Idade de aquisição

Diferença entre pares

f 1:9 v 1:8 1 mês š 2:10 ž 2:6 4 meses *s 2:6 *z 2:0 6 meses

* Dados de Savio (2001) – posição de onset

Esse fato também é corroborado pelos dados de Savio (2001). Em seu

trabalho Savio mostrou que o fonema /s/ encontra-se adquirido aos 2:6 na

posição de onset, e o /z/ aos 2:0.

Embora à primeira vista esses dados pareçam ir contra as leis

implicacionais de Jakobson (1968), Clements (em comunicação pessoal)

chamou atenção para o fato de que há línguas no mundo em que ocorre o

segmento sonoro do par sem ocorrer o segmento surdo. Após verificação em

Maddieson (1984) encontrou-se que, de 51 línguas no mundo que possuem a

fricativa sonora /v/, em 11 línguas este fonema ocorre sem o seu par surdo

/f/, ou seja, 21,5% das línguas que contêm o /v/ não contêm o /f/.

Em relação ao /ž/ encontrou-se que esta fricativa sonora ocorre em 51

línguas do mundo, sendo que em duas não ocorre o seu par surdo: em 3,9%

das línguas o /ž/ ocorre sem o /š/.

Portanto, o exame das línguas do mundo corrobora a coerência dos

resultados aqui encontrados.

Uma tendência universal (Locke, 1983) que se confirma nos dados

desta pesquisa é a de que os sons [+anteriores] são adquiridos antes dos sons

[-anteriores], ou seja, a ordem de aquisição das fricativas é labiais>coronais

[+ ant]>coronais [-ant].

É muito interessante destacar que, apesar de os fonemas [+sonoro]

serem adquiridos antes dos [-sonoro] na classe das fricativas (conforme Tabela

49), os [+sonoro] apresentam mais quedas durante o processo de aquisição,

evidenciando assim a dificuldade esperada do [+sonoro] em relação ao [-

sonoro] (Figura 38). Esse fato também foi encontrado nos dados de Savio

(2001).

5.2 QUANTO À TONICIDADE

Este fator foi selecionado como relevante pelo VARBRUL para a

produção da fricativa /f/.

Analisando-se a variável tonicidade, encontrou-se que, para as fricativas

surdas /f/ e /š/, a sílaba que mostrou-se mais favorecedora foi a sílaba

postônica. Em ambos os fonemas a sílaba tônica ficou em segundo lugar, com

peso acima de .50.

Para a fricativa /v/ encontrou-se que a sílaba tônica é a mais

favorecedora, e a postônica em segundo lugar, também com peso acima de

.50.

Já para o fonema /ž/, a sílaba pretônica foi a mais favorável.

Novamente em segundo lugar vê-se a postônica, com peso acima de .50.

Interessante é que a sílaba tônica foi a sílaba menos favorecedora, com peso de

.35.

Savio (2001) encontrou a pretônica como favorecedora para o fonema

/z/ e a postônica para o /s/.

De acordo com a literatura em geral a sílaba tônica é a mais favorável à

produção e à mais perceptível para a criança. Os dados desta pesquisa

mostram que, de uma maneira geral, na classe das fricativas a sílaba postônica

é a mais favorecedora, conforme Tabela 50.

TABELA 50 - Sílabas favoráveis à produção das fricativas

Pretônica Tônica Postônica f + ++ v ++ + *s ++ *z ++ š + ++ ž ++ +

* Dados de Savio (2001) ++= sílaba mais favorável à produção + = segunda sílaba mais favorável à produção

5.3 QUANTO AO CONTEXTO PRECEDENTE

De acordo com Lowe (1996), o ambiente lingüístico pode influenciar a

produção de um som, ou seja, pode facilitar ou inibir a articulação precisa do

mesmo.

O contexto precedente que mostrou-se mais favorecedor à produção

das fricativas /f/ e /v/ foram as vogais médias. Para o /f/, a vogal /e/; para o

/v/, a vogal /o/ e a coda com /r/.

Em ambos os fonemas o contexto precedente vazio obteve peso acima

de .52; igualmente em ambos foi o contexto com o maior número de

possibilidades de ocorrência.

Em relação aos fonemas /š/ e /ž/, houve uma diferença. Apesar de

serem fonemas tão semelhantes os contextos precedentes favorecedores são

bem distintos. Para o fonema /š/, encontrou-se as vogais altas como

favorecedoras. Lembre-se que a palatalização ocorre com vogais altas, em geral

no contexto seguinte, mas também pode ser no antecedente. Já para o /ž/, o

mais favorecedor é coda com nasal.

Novamente vê-se que o contexto precedente vazio foi o que

apresentou maior possibilidades de ocorrência.

Savio (2001) também encontrou vogais altas como facilitadoras para o

fonema /z/. Para o /s/ o que favorece são vogais nasalizadas, /ε/, /a/ e /o/.

TABELA 51 - Contextos precedentes favoráveis à produção das fricativas

Contexto precedente f Vogal média /e/ v Vogal média /o/ e coda com /r/ *s Vogal nasalizada, /ε/, /a/ e /o/ *z Vogais altas

š Vogais altas ž Coda com nasal * Dados de Savio (2001)

5.4 QUANTO AO CONTEXTO SEGUINTE

O contexto seguinte que mostrou-se mais favorecedor à produção das

fricativas /f/ e /v/ foi a vogal média /ε/, que em português só ocorre em

sílaba tônica. Para o fonema /f/ também mostraram-se favorecedoras as

vogais médias /⊃/ e /e/, e a vogal alta /i/; também favorável para o /v/ é a

vogal média /o/ e a alta /u/.

Para os fonemas /š/ e /ž/ vê-se as vogais altas como as mais

favorecedoras à produção correta, para o /š/ a vogal mais favorecedora em

posição de contexto seguinte é a vogal /i/, para a boa produção de /ž/ são as

vogais /i/ e /u/. O fonema /š/ também apresenta como facilitadora a vogal

média /o/. Novamente se vê as vogais com as quais ocorre a palatalização

favorecendo a aquisição das fricativas palatais.

Savio (2001) encontrou a vogal /e/ como a mais favorável à produção

de /z/; enquanto que para a produção de /s/, em contexto seguinte, o que

mostrou-se mais facilitador foram as vogais nasalizadas e a vogal alta /u/.

TABELA 52 - Contextos seguintes favoráveis à produção das fricativas

Contexto seguinte

f Vogais médias/⊃/, /ε/ e /e/, vogal alta /i/ v Vogais médias /ε/ e /o/ e a alta /u/ *s Vogal nasalizada e vogal alta /u/ *z Vogal média /e/ š Vogal alta /i/ e a média /o/ ž Vogais altas * Dados de Savio (2001)

5.5 QUANTO AO NÚMERO DE SÍLABAS

Este fator foi selecionado pelo Programa VARBRUL como relevante

na produção da fricativa /v/.

Diferentemente do referido em alguns trabalhos sobre aquisição, de

que quanto menor o número de sílabas, mais acurada a produção das crianças,

não foi evidenciado aqui esse padrão. Pelo contrário, o que encontrou-se foi

que, para as fricativas surdas /f/ e /š/, as palavras polissílabas foram as mais

favorecedoras; para a sonora /ž/ foram as trissílabas que mostraram-se mais

favoráveis, e para o fonema /v/ foram as palavras monossílabas.

É importante ressaltar o fato de as palavras monossílabas serem as

menos favorecedoras à produção do /f/, /š/ e /ž/.

Fato relevante é o grande número de palavras monossílabas no

vocabulário infantil no PB (talvez também no dos adultos) com o fonema /v/.

Neste corpus foram encontradas 54 ocorrências de palavras monossílabas com

/v/; 13 com /š/; 10 com /f/, e apenas 5 com /ž/.

5.6 QUANTO À POSIÇÃO NA PALAVRA

Em razão do fato de várias pesquisas terem verificado ser a posição um

fator significativo na aquisição de sons da língua, a determinação do sistema

fonológico deve ser feita de acordo com o conjunto de fones empregados

contrastivamente conforme a posição que podem ocupar na estrutura da sílaba

e da palavra (Hernandorena, 1990, p. 51). Os fonemas aqui em estudo podem

ocupar somente a posição de onset, ou seja, onset absoluto ou onset medial.

A variável posição na palavra foi selecionada como relevante pelo

Programa VARBRUL na produção do fonema /š/.

Em Hernandorena (1990) vê-se que a classe das fricativas é a de

aquisição mais tardia em início de sílaba.

Para os fonemas /f/, /v/ e /š/, a posição de onset medial foi a que

mostrou-se mais favorável à produção correta. Estes dados corroboram os

dados de Rangel (1998), onde vê–se que, em relação às fricativas,

considerando a posição na estrutura da sílaba e da palavra, a posição de onset

medial é a primeira a se estabelecer .

Para o fonema /ž/, a posição mais facilitadora à produção é a posição

de onset absoluto. Lembre-se da grande discrepância mencionada no item 5.1,

sobre as idades de aquisição para /š/ e /ž/ em posição de onset absoluto e

medial.

Savio (2001) encontrou que para a fricativa sonora /z/ o onset medial

era mais facilitador que o onset absoluto, enquanto que para a fricativa surda

/s/ o onset absoluto era melhor.

5.7 QUANTO A OMISSÕES E OUTRAS REALIZAÇÕES

5.7.1 OMISSÕES DE SÍLABA

No corpus desta pesquisa ocorreram 33 casos de omissão da sílaba

com fricativa. Foram 5 omissões de sílabas que continham o fonema /f/, 10

omissões com o /v/, 9 com o fonema /š/ e 9 com o fonema /ž/.

Em somente um dos casos ocorreu a omissão da sílaba tônica, e a

postônica nunca foi omitida.

Esses resultados serão discutidos à luz da Fonologia Métrica.

Os exemplos expostos abaixo baseiam-se na análise de Bisol (1992)

para o pé do Português, ou seja, pé troqueu de cabeça à esquerda.

Nos casos envolvendo o fonema /f/, ocorreu apenas uma omissão da

sílaba pré-pretônica, como no caso de [mi’giña] para ‘formiguinha’; as demais

omissões foram todas da sílaba pretônica, como [‘miga] para ‘formiga’, [‘maša]

para ‘fumaça’, conforme vê-se abaixo.

(* .) (* .) /formi’giña/ → [mi’giña] (* .) (* .) /for’miga/ → [‘miga] (* .) (* .) /fu’masa/ → [‘maša]

Nas omissões envolvendo o fonema /v/ ocorreu uma omissão da

sílaba pré-pretônica, [či’ĵiñu] para ‘vestidinho’. As demais omissões foram

todas envolvendo a sílaba pretônica, e todas foram com a palavra ‘televisão’.

(* .) (* .) /vesti’diño/ → [či’ĵiñu] (*) (*) /tele’vizãw/ → [tele’zãw]

Todas as omissões que ocorreram com o fonema /š/ envolveram a

sílaba pretônica, como em:

(* .) (* .) /šupeta/ → [‘peta] (*) (*) /ša’pεw/ → [‘pεw]

O fonema /ž/ foi o único que apresentou caso de omissão de sílaba

tônica, que foi o caso de [‘da] para ‘ajuda’. Os demais casos de omissão

envolvendo o fonema /ž/ ocorreram em sílabas pré-pretônicas, como em:

(* .) (*) /a’žuda/ → [‘da] (* .) (* .) /žela’deyra/ → [la’dera] (* .) (* .) /žoa’niña/ → [i’ña]

Estes dados evidenciam que as sílabas fora do pé do acento sempre são

as atingidas por casos de omissões de sílaba no processo de aquisição das

fricativas. Em 33 casos de omissão de sílaba, houve 31 de omissão da

pretônica e 1 da pré-pretônica, portanto fora do pé do acento. Só houve uma

omissão da tônica – a sílaba forte do pé. Esta parece ser uma evidência forte

de que as crianças antes de 2:4 (idade em que terminam as omissões) já têm

conhecimento a respeito do pé da língua.

Para complementar essa análise, foram tomados os dados em que se

baseia Savio1 (2001), e procedeu-se a um levantamento para verificar as

omissões ocorridas no processo de aquisição dos fonemas /s/ e /z/. Com

relação a omissões de sílaba para o fonema /s/, encontraram-se omissões em

sílabas pré-pretônicas ([ka’gado] para /estra’gado/) e pretônicas ([’patu] para

/sa’pato/).

No caso do fonema /z/, o único caso de omissão de sílaba encontrado

envolveu a postônica ([‘me] para /’meza/). A análise dos dados de Savio

confirma portanto, a estabilidade do pé métrico na aquisição.

1 Agradeço a Carla Baggio Savio pela gentileza em ceder-me os dados

5.7.2 OMISSÕES DE SEGMENTO

Ocorreram 31 casos de omissão de um dos fonemas em estudo, ou

seja, de /f/, /v/, /š/ ou /ž/. Tendo em vista a influência do pé mostrada na

seção 5.7.1, acima, fez-se um levantamento procurando verificar a influência

do acento também no apagamento de fonema, conforme vê-se na Tabela 53.

Tabela 53 - Omissões de segmentos nas diferentes sílabas

Sílaba Fonema

Pré-pretônica Pretônica Tônica Postônica Total

Omissão de /f/ 0 1 3 0 4 Omissão de /v/ 1 2 2 0 5 Omissão de /š/ 1 6 6 0 13 Omissão de /ž/ 4 4 1 0 9 Total 6 13 12 0 31

Segundo a Tabela 53 acima, não ocorreu omissão de nenhum dos

fonemas em estudo quando estes se encontravam em sílaba postônica.

Conforme mencionado no item 5.2 deste capítulo, a sílaba postônica é a mais

favorecedora para a produção de /f/ e /š/, e é a segunda melhor para a

produção de /v/ e /ž/.

As sílabas mais atingidas por omissão do segmento na aquisição das

fricativas são as sílabas pretônicas e as tônicas. Quanto à pretônica, ocorre o

mesmo que na omissão de sílaba, isto é, a posição fora do pé favorece o

apagamento, mas quanto à tônica é o oposto. Como se viu, a criança não

apaga a sílaba tônica, pois estaria mexendo no pé, mas apaga fonemas em

sílaba tônica, pois esta é apenas uma mudança de estrutura de sílaba, não

interfere no padrão acentual da língua.

O levantamento realizado nos dados de Savio (2001) para verificar as

omissões dos segmentos /s/ e/z/ encontrou que estes fonemas foram

omitidos quando encontravam-se, principalmente, em sílaba tônica ([‘uku] para

/‘suko/ e [de’oyto] para /de’zoyto/). Destaca-se que o segmento /S/ foi

omitido principalmente em posição de coda medial ([pa’ta] para /’pasta/).

Não se encontrou nenhuma omissão destes segmentos em sílaba postônica.

Vê-se, portanto, que a sílaba postônica é absolutamente estável: tanto

como sílaba do pé quanto como estrutura de sílaba.

5.7.3 SUBSTITUIÇÕES

No corpus desta pesquisa encontraram-se casos de substituições de

[contínuo], de [sonoro], de [anterior], por semivogal e de traço de ponto.

5.7.3.1 Substituições em /f/ e/v/

Analisando os resultados encontrados para os fonemas /f/ e /v/,

percebe-se que a substituição que mais ocorreu foi a substituição envolvendo

o traço [contínuo], por exemplo, [po’gãw] para /fo’gãw/ e [ka’balu] para

/ka’valo/. Esta substituição correspondeu a 3% do corpus em relação ao

fonema /f/, e a 4% para o fonema /v/. A substituição é ilustrada na visão da

Geometria de Traços.

/f, v/ [p, b] R R CO → CO

[+ cont] [- cont] [labial] [labial]

Outra substituição encontrada é a substituição do traço sonoro. Esta

substituição correspondeu a 2% do corpus, tanto para o fonema /f/

(/per’fume/ – [‘vumi]) quanto para o fonema /v/ (/sorvete/ – [‘feči). A

substituição é ilustrada na visão da Geometria de Traços.

/f/ [v] R R ← LAR → LAR [- sonoro] [+ sonoro]

No corpus desta pesquisa só houve uma ocorrência de substituição do

fonema /f/ por uma semivogal, que foi o caso de /foy/ para [woy].

/f/ [w]

R [- soante] R [+ soante] [-vocóide] → [+ vocóide] [- aproximante] [+ aproximante]

Em relação ao fonema /v/, a substituição por semivogal representou

2% do corpus, por exemplo, [wo’lãw] para /violãw/ . Esta substituição, tanto

para o fonema /f/ como para o /v/, apesar de apresentar baixa freqüência,

não era esperada, pois mexe em traços de raiz.

/v/ [w] R [- soante] R [+ soante] [- vocóide] → [+ vocóide] [- aproximante] [+ aproximante]

As substituições envolvendo traço de ponto não tiveram ocorrência no

corpus desta pesquisa tratando-se do fonema /v/. Na aquisição do fonema

/f/ ocorreram poucos casos, como, por exemplo, /fey’žãw/ para [si’zãw],

não atingindo mais que 1% do corpus.

/f/ [s, z, š, ž]

R R CO → CO PC PC │ │ [labial] [coronal]

5.7.3.2 Substituições em /š/ e/ž/

Em relação aos fonemas /š/ e /ž/ percebe-se que as substituições

ocorreram em maior número do que para /f/ e /v/.

Os fonemas /š/ e /ž/ foram preferencialmente substituídos por /s/ e

/z/, respectivamente (/’šave/ - [‘savi] e /ža’nεla/ - [za’nεla]. Essa substituição,

em que ocorre somente uma mudança no traço [anterior], correspondeu a

22% do corpus em relação ao fonema /š/, e a 18% em relação ao fonema /ž/.

A substituição é ilustrada na visão da Geometria de Traços.

/š,ž/ /s, z/ R R

CO → CO PC PC

[coronal] [coronal] [- ant] [+ ant]

Savio (2001) encontrou a substituição do [anterior], no sentido + → -,

portanto o contrário do apontado nesta pesquisa, como a substituição mais

freqüente na aquisição de /s/ e /z/. Reforçando esses dados, vê-se que esta

instabilidade no traço [anterior], referida como “confusão das fricativas” por

Teixeira (1980), leva à substituição de emprego entre elas próprias. Segundo

Hernandorena (1990), essa instabilidade no valor do traço não ocorre

somente no corpus da faixa etária como um todo, mas há muitos casos de

ocorrência no corpus de uma mesma criança.

A anteriorização, segundo Lamprecht (1990, p. 261), pode ser um

processo que, embora não sendo empregado por todas as crianças, persiste

por bastante tempo naquelas em que é encontrado.

Vaucher (1996), em seu estudo com crianças com desvios fonológicos,

encontrou que, dos 46 sujeitos de sua pesquisa, 34 alteraram o traço [anterior],

indicando um percentual de ocorrência de 42,75% (236/552). A alteração mais

freqüente ocorreu entre vinte e cinco sujeitos; esta aconteceu na direção - → +

com um percentual de ocorrência de 49, 68%.

Outra substituição freqüente envolvendo /š/ e /ž/ é a substituição

envolvendo o traço [contínuo]. Em relação ao fonema /š/ esta substituição

correspondeu a 11% do corpus, e para /ž/ a 5%, como, por exemplo,

/ši’nεlo/ para [ki’nεlu] e /žo’gar/ para [do’ga].

/š,ž/ /plosivas/

R R CO → CO

[+ cont] [- cont]

Referente ao valor [+ contínuo], Hernandorena (1990) mostra que a

alteração para [- contínuo] ocorre basicamente por substituição de

consoantes fricativas, atingindo somente em dois casos a classe das líquidas.

No mesmo estudo de Vaucher (1996) com crianças com desvios

fonológicos evolutivos, dos 46 sujeitos estudados 15 alteraram o traço

[contínuo], indicando um percentual de ocorrências de 12,68% (137/1080).

A alteração mais freqüente ocorreu na direção + → -, quando 8 sujeitos

realizaram um percentual de ocorrências de 27,32%.

As substituições envolvendo traço [sonoro] (/’šeya/ - [‘žeya] e /’keyžo/

- [‘kešu]) e traço de ponto (/’šikara/ - [‘fikara] e /žaka’rε/ - [vaka’lε]) não

atingiram mais que 2% do corpus desta pesquisa na aquisição de /š/ e /ž/.

/š/ [ž]

R R

← LAR → LAR

[- sonoro] [+ sonoro]

/š, ž/ [f, v]

R R

CO → CO

PC PC

│ │ [coronal] [labial]

Em sua tese, Hernandorena (1990) mostra que o traço [coronal] é

alterado tanto em onset absoluto como em onset medial, predominando esta

posição em substituições na classe das fricativas.

Hernandorena (1994), em seu artigo sobre as palatais, propõe que

talvez as crianças possam considerar as fricativas palatais /š/ e /ž/, bem como

o /λ/ e o /ñ/, como consoantes complexas. Um dos argumentos da autora

seriam as substituições que as crianças fazem durante a aquisição destes

fonemas por semivogais. No entanto, no corpus desta pesquisa não

encontraram-se dados para corroborar esta posição.

5.7.3.3 Faixa etária das substituições

Fazendo-se uma análise com relação à faixa etária em que ocorrem as

substituições, omissões e produções corretas na aquisição de /f/, /v/, /š/ e

/ž/, tem-se o seguinte resultado:

TABELA 54 - Produções por faixas etárias na aquisição de /f/ e /v/

Faixa

etária /f/ /v/

Omissão│ Substituição de/por Omissão│ Substituição de/por síl seg [son] pon semi [cont] Prod síl seg [son] pon semi [cont] Prod 1:0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1:1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 2 0 1 1:2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1:3 0 1 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 4 1:4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 2 1:5 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 5 1:6 2 0 0 0 0 0 5 1 4 0 0 0 1 15 1:7 0 0 1 0 1 0 2 0 1 1 0 0 4 13 1:8 1 1 2 0 0 0 10 0 0 0 0 0 0 29 1:9 0 2 0 0 0 1 23 0 0 0 0 2 0 44 1:10 0 0 0 1 0 0 32 1 0 3 0 1 0 67 1:11 2 0 0 0 0 1 58 0 0 0 0 0 4 64

2:0 0 0 2 0 0 1 17 1 0 3 0 1 2 20 2:2 0 0 0 1 0 2 28 1 0 1 0 0 5 38 2:4 0 0 0 0 0 1 23 1 0 0 0 0 0 32 2:6 0 0 0 0 0 0 33 3 0 0 0 0 1 24 2:8 0 0 0 0 0 1 36 0 0 0 0 1 0 28 Prod = produções corretas

TABELA 55 - Produções por faixas etárias na aquisição de /š/ e /ž/

Faixa etária

/š/ /ž/

Omissão│ Substituição de/por Omissão│ Substituição de/por Síl seg [son] pon [ant] [cont] Prod síl seg [son] pon [ant] [cont] Prod 1:0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1:1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1:2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1:3 0 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1:4 0 0 0 0 0 1 2 0 0 0 0 0 0 1 1:5 1 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1:6 2 0 0 1 5 4 5 2 2 0 0 1 1 5 1:7 1 1 0 0 1 2 6 0 0 0 0 2 0 0 1:8 1 2 0 0 7 4 13 0 0 1 1 1 0 2 1:9 1 1 0 1 3 2 15 2 1 1 0 1 0 4 1:10 1 3 0 3 11 7 16 0 0 0 0 6 0 3 1:11 2 1 0 0 13 7 34 0 3 0 2 12 2 16 2:0 0 5 0 0 5 3 8 2 0 0 1 2 0 10 2:2 0 0 1 0 7 5 13 2 0 0 1 3 5 12 2:4 0 0 0 0 7 1 19 1 2 0 0 7 1 17 2:6 0 0 0 0 2 0 18 0 0 1 0 1 0 17 2:8 0 0 2 0 10 1 24 0 0 0 0 1 0 17 2:10 0 0 0 0 3 0 17 0 0 0 0 4 0 15 3:0 0 0 0 0 4 0 30 0 0 0 1 3 3 26 3:2 0 0 1 0 3 0 23 0 0 0 0 4 1 28 3:4 0 0 0 0 6 1 25 0 1 0 0 3 0 17 3:6 0 0 0 0 1 0 26 0 0 0 0 0 0 26 3:8 0 0 0 0 0 0 17 0 0 0 0 1 0 21 Prod = produções corretas

Observando as Tabelas 54 e 55 acima podemos concluir que o traço

[contínuo] se estabiliza antes do traço [anterior], pois as substituições que

envolvem o [contínuo] terminam, em sua grande maioria, em faixas anteriores

às faixas em que terminam as substituições envolvendo o traço [anterior].

Teixeira (1985, p. 188) diz que a anteriorização – bem como a

dessonorização – é um processo que não existe no início da aquisição. Os

resultados desta pesquisa corroboram esta afirmação, pois a anteriorização

acontece a partir de 1:5, e só aumenta nas faixas 1:8 – 1:10; enquanto que a

dessonorização aparece para /f/ e /v/ a partir de 1:7 e para /š/ e /ž/ a partir

de 1:8, e não aumenta nunca.

Como salienta Hernandorena (1993), a ocorrência de substituições

š→s, ž →z, pode significar o entendimento da subcategorização do traço

[anterior] em relação ao traço [coronal], uma vez que apenas a coronalidade

seria, inicialmente, adquirida pela criança, sendo feita a distinção quanto ao

traço [anterior] numa etapa subseqüente. Ainda segundo Hernandorena (1990,

p.235), os traços secundários [anterior] e [alto] são efetivamente os últimos a

ter seu valor distintivo adequadamente empregado.

Os fonemas /f/ e /v/, que são adquiridos antes de /š/ e /ž/, também

sofrem substituições envolvendo o traço [contínuo] a partir dos 1:6, ou seja,

um traço que, naquele momento, ainda não está estabilizado.

5.8 IMPLICAÇÕES PARA A FONOAUDIOLOGIA

Mesmo não tendo como objetivo principal a terapêutica

fonoaudiológica, esta pesquisa procura trazer maiores subsídios para a atuação

clínica.

A partir de um estabelecimento do perfil de aquisição das fricativas /f,

v, š, ž/ em crianças com desenvolvimento fonológico normal, o

fonoaudiólogo é capaz de reconhecer e detectar precocemente casos

desviantes.

O presente trabalho também oferece dados que podem nortear o

terapeuta na seleção das palavras utilizadas na reabilitação dos pacientes que

não fazem uso adequado das fricativas, pois estes vocábulos não devem ser

selecionados ao acaso. Devem ser considerados diversos aspectos: tonicidade,

som precedente, som seguinte, número de sílabas e posição silábica.

Assim, algumas palavras serão apresentadas como modelo,

considerando os resultados encontrados nesta pesquisa.

/f/ /v/ /š/ /ž/ Ideal (possui todas as variantes facilitadoras)

blefe novela, perversa

Gorducho jumento

Boa (possui três variantes facilitadoras)

café, elefante

vela, sorvete

Bruxa, Cachorro

anjinho, girafa

Regular (possui duas variantes facilitadoras)

feijão verde Chinelo jacaré

FIGURA 39 – Quadro com sugestões de palavras para terapia

6 CONCLUSÃO

Esta pesquisa buscou descrever a aquisição normal dos fonemas /f/,

/v/, /š/ e /ž/ em posição de onset (absoluto e medial) por crianças de 1:0 a

3:8 anos, falantes monolíngües do português brasileiro. Os dados coletados

foram submetidos à análise estatística do programa VARBRUL e,

posteriormente, analisados à luz da Geometria de Traços e da Fonologia

Métrica.

Através dos resultados encontrados foi possível chegar a algumas

conclusões que serão expostas a seguir.

- Constataram-se diferentes etapas de aquisição na classe das fricativas:

primeiro tem-se o /v/ e o /f/, depois /z/ e /s/, e por último, o /ž/ e o /š/.

- A idade de aquisição dos fonemas estudados foi: /v/ com 1:8 > /f/

com 1:9 > /ž/ com 2:6 > /š/ com 2:10.

- Destaca-se o fato de o par sonoro ser adquirido antes do surdo.

Embora isto não esteja de acordo com Jakobson, verifica-se que nas línguas

do mundo há casos em que ocorre o fonema sonoro sem ocorrer o seu par

surdo.

- A variável faixa etária foi selecionada como a mais relevante na

aquisição para os quatro fonemas em estudo. As demais variáveis selecionadas

foram: tonicidade (para o /f/), número de sílabas (para o /v/), posição na

palavra (para o /š/) e contexto seguinte (para o /ž).

- A aquisição mostrou não ser linear para nenhum dos fonemas, sempre

ocorreram quedas de produção durante o processo de aquisição, sendo que as

fricativas [+son] sofrem mais quedas durante este processo.

- De um modo geral, para as fricativas, quanto maior for a palavra

melhor para a sua produção.

- As substituições encontradas podem ser adequadamente explicadas

pela Geometria de Traços, enquanto que as omissões, explicadas pela

Fonologia Métrica.

- As substituições mais encontradas na aquisição de /f/ e /v/ foram as

que envolveram a substituição do traço [contínuo]; para /š/ e /ž/ foram as

que envolveram o traço [anterior].

- As sílabas contendo as fricativas em exame e que fazem parte do pé

da língua nunca são omitidas pelas crianças.

- Nos casos de omissão de segmento, a sílaba postônica é a mais

preservadora.

- Com esta pesquisa, aliada ao trabalho de Savio sobre /s/ e/z/,

completa-se o quadro de aquisição das fricativas.

Os objetivos desta pesquisa foram atingidos. Acredita-se que tragam

contribuições para o conhecimento sobre a aquisição fonológica do português

brasileiro, para a descrição do PB, e para subsidiar a terapia fonoaudiológica.

Contudo, algumas questões merecem ser mais bem investigadas, como,

por exemplo, as diferenças entre os sexos na realização dos segmentos em

estudo, e a verificação da facilitação das variáveis apontadas aqui como

facilitadoras na produção das fricativas.

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