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Arquitetura da memória: inventário de edificações antigas dos municípios no oeste catarinense Márcio Luiz Rodrigues 1 Resumo: o artigo apresenta parte dos resultados alcançados pelo projeto de pesquisa “Arquitetura da Memória: inventário de edificações antigas dos municípios de Campo Erê, Cunha Porã, Pinhalzinho, São Carlos e Saudades”, projeto de pesquisa realizado pela equipe do Museu Histórico de Pinhalzinho, nos anos de 2014/15. Esse projeto de pesquisa foi apresentado e contemplado na edição de 2013 do Edital Elisabete Anderle de Estímulo a Cultura, viabilizado pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC). Sobre o Museu Histórico de Pinhalzinho Localizado atualmente na avenida Porto Alegre, n. 2590, bairro Baixada Pioneira, no município de Pinhalzinho/SC, o Museu Histórico de Pinhalzinho é uma instituição museológica nascida em 03 de setembro de 1988 2 com o objetivo de preservar a memória e o patrimônio cultural da comunidade local e regional (oeste catarinense) através de objetos, fotos, documentos, depoimentos e outros, evidenciando aspectos históricos ligados a uma população formada por caboclos e descendentes de grupos étnicos como alemães, italianos, poloneses e outros. Vinculado a Secretaria de Educação e Cultura do município de Pinhalzinho/SC, o Museu Histórico de Pinhalzinho atualmente destaca-se como uma instituição de pesquisa na área cultural nos segmentos de Patrimônio Material e Imaterial (segmentos de significativa relevância na compreensão sobre a constituição e os desdobramentos históricos ligados formação sociocultural da região oeste catarinense) e pela realização de ações ligadas a Educação Patrimonial. O público alvo das ações educativas desenvolvidas pelo Museu Histórico de Pinhalzinho compreende alunos da rede de ensino (fundamental, médio e superior, pública e particular) e sociedade em geral, como forma de socializar os resultados das pesquisas realizadas pelo museu. Com a integração das ações com a sociedade em geral nos últimos anos, o Museu Histórico de Pinhalzinho homogeneizou a participação dos grupos detentores da sabedoria (indígenas, caboclos e descendentes de alemães, italianos, poloneses e outros), 1 Graduado em História pela Universidade Comunitária Regional de Chapecó (UNOCHAPECÓ), com especialização em História Regional pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Possuí mestrado com mesma titulação pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo (UPF), bolsa CAPES. É colaborador no Museu Histórico de Pinhalzinho desde o ano de 2009 e a partir do ano de 2016 assume a coordenação da instituição. 2 Lei municipal n. 673 de 03 de setembro de 1988. Mais informações ver anexo A.

Arquitetura da memória: inventário de edificações antigas dos

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Page 1: Arquitetura da memória: inventário de edificações antigas dos

Arquitetura da memória: inventário de edificações antigas dos municípios no oeste

catarinense

Márcio Luiz Rodrigues 1

Resumo: o artigo apresenta parte dos resultados alcançados pelo projeto de pesquisa

“Arquitetura da Memória: inventário de edificações antigas dos municípios de Campo Erê,

Cunha Porã, Pinhalzinho, São Carlos e Saudades”, projeto de pesquisa realizado pela equipe

do Museu Histórico de Pinhalzinho, nos anos de 2014/15. Esse projeto de pesquisa foi

apresentado e contemplado na edição de 2013 do Edital Elisabete Anderle de Estímulo a

Cultura, viabilizado pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC).

Sobre o Museu Histórico de Pinhalzinho

Localizado atualmente na avenida Porto Alegre, n. 2590, bairro Baixada Pioneira, no

município de Pinhalzinho/SC, o Museu Histórico de Pinhalzinho é uma instituição

museológica nascida em 03 de setembro de 1988 2 com o objetivo de preservar a memória e o

patrimônio cultural da comunidade local e regional (oeste catarinense) através de objetos,

fotos, documentos, depoimentos e outros, evidenciando aspectos históricos ligados a uma

população formada por caboclos e descendentes de grupos étnicos como alemães, italianos,

poloneses e outros. Vinculado a Secretaria de Educação e Cultura do município de

Pinhalzinho/SC, o Museu Histórico de Pinhalzinho atualmente destaca-se como uma

instituição de pesquisa na área cultural nos segmentos de Patrimônio Material e Imaterial

(segmentos de significativa relevância na compreensão sobre a constituição e os

desdobramentos históricos ligados formação sociocultural da região oeste catarinense) e pela

realização de ações ligadas a Educação Patrimonial.

O público alvo das ações educativas desenvolvidas pelo Museu Histórico de

Pinhalzinho compreende alunos da rede de ensino (fundamental, médio e superior, pública e

particular) e sociedade em geral, como forma de socializar os resultados das pesquisas

realizadas pelo museu. Com a integração das ações com a sociedade em geral nos últimos

anos, o Museu Histórico de Pinhalzinho homogeneizou a participação dos grupos detentores

da sabedoria (indígenas, caboclos e descendentes de alemães, italianos, poloneses e outros),

1 Graduado em História pela Universidade Comunitária Regional de Chapecó (UNOCHAPECÓ), com especialização em

História Regional pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Possuí mestrado com mesma titulação pelo Programa

de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo (UPF), bolsa CAPES. É colaborador no Museu Histórico de

Pinhalzinho desde o ano de 2009 e a partir do ano de 2016 assume a coordenação da instituição. 2 Lei municipal n. 673 de 03 de setembro de 1988. Mais informações ver anexo A.

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como forma de sistematizá-los como as principais fontes de conhecimento histórico

(“saber/fazer”), passados de geração para geração que, em muitos casos não são encontrados

dentro dos principais espaços de ensino e aprendizagem.

Atualmente o Museu Histórico de Pinhalzinho conta com uma equipe de

colaboradores/professores ligados às áreas de História, Pedagogia, Língua Portuguesa, Artes e

Ciências Biológicas, sendo caracterizada também como uma instituição interdisciplinar. A

presença de uma equipe ligada a diferentes áreas do conhecimento nas ações desenvolvidas

pelo museu é considerada fundamental para a permanência/funcionamento da instituição, uma

vez que essas ações vêm elencar os mais variados segmentos da sociedade local e regional.

Essa diversificação profissional também vem fomentar a parceria do museu com diferentes

instituições de ensino e aprendizagem, como forma de integração cultural.

No ponto de vista da estrutura física, o Museu Histórico de Pinhalzinho tem sua sede

uma área aproximada de cento e oitenta metros quadrados (180 m²), distribuída em sala para

exposição de longa duração, salvaguardando o acervo de objetos doados pela comunidade

com o parecer do Conselho Consultivo3; sala de exposições temporárias, espaço destinado a

exposições itinerantes de curta duração; sala temática contemplando aspectos da História

Regional com desenhos e objetos tridimensionais; sala de reserva técnica, espaço para

conservação e acomodação de objetos que estão fora da exposição de longa duração e, por

fim, sala para realização de práticas lúdico-pedagógicas para aproximadamente 40 pessoas.

Além das demais dependências como banheiros, cozinha e hall de entrada.

O Museu Histórico de Pinhalzinho apresenta-se também na atualidade como um

espaço de pesquisas acadêmicas ligadas a diversas áreas do conhecimento, em especial

aquelas ligadas às Ciências Humanas e Sociais no segmento do Patrimônio Cultural (material

e imaterial) ligados à história local e da região oeste catarinense. Dessa forma o Museu

Histórico de Pinhalzinho se propõe estudar, compreender e socializar o patrimônio histórico e

cultural da região oeste catarinense de forma interdisciplinar, respeitando as diferenças e as

singularidades que o compõe a sociedade da região, contribuindo de forma direta, em ações

de combate à discriminação e a xenofobia social.

3 O Conselho Consultivo é composto atualmente de sete pessoas com representantes ligados ao museu, poder público

municipal e a comunidade civil. O conselho foi oficializado no ano de 2013, pelo decreto número 66/2015. Para mais

informações ver anexo B.

Page 3: Arquitetura da memória: inventário de edificações antigas dos

Guardar, guardar, guardar... As coleções como ponto de partida para o surgimento dos

primeiros museus.

De origem grega “Museion” significa, entre outros conceitos, templo das musas e em

especial a deusa da memória Mnemonise4. Esses templos eram considerados lugares ligados a

diferentes formas de contemplação e veneração à memória.

Na atualidade os museus são representados por inúmeros acervos e constituem-se

como espaços de salvaguarda, visitação e pesquisa para as diferentes áreas de conhecimento.

Para Desvallées e Mairesse (2014, p. 64), os museus podem designar tanto as instituições de

salvaguarda, como os estabelecimentos concebidos “para realizar a seleção, o estudo e a

apresentação de testemunhos materiais e imateriais do Homem e do seu meio”. De certo, os

museus de hoje e de outrora, apresentam-se como testemunhos materiais em diferentes

acervos, tendo como inciativa primária a prática de colecionar diferentes objetos.

Do latim Collectione, o ato de colecionar pode significar, entre outras definições, a

forma mais adequada de não deixar cair no esquecimento momentos significativos na vida de

uma pessoa ou um determinado grupo social. Contudo, o ato de colecionar ajudou a

proporcionar o surgimento dos primeiros acervos ligados a museus ainda na passagem da

Idade Média para a Idade Moderna (séculos XV e XVI).

As chamadas coleções principescas, aos poucos, deram espaços à introdução de novos

objetos, formando os “Gabinetes de Curiosidade”. Esses gabinetes,

[...] buscavam simular, [...] grande quantidade de espécies variadas, objetos e seres

exóticos, vindos de terras distantes, em arranjos quase sempre caóticos. Com o

tempo, tais coleções se especializaram. Passaram a ser organizadas a partir de

critérios que obedeciam a uma ordem atribuída à natureza, acompanhando os

progressos das concepções científicas nos séculos XVII e XVIII. Abandonavam,

assim, a função exclusiva de saciar a mera curiosidade, voltando-se para a pesquisa e

a ciência pragmática e utilitária. (JULIÃO, 2006, p. 32).

Em suas diferentes composições, os gabinetes de curiosidades proporcionariam novas

formas de associar as coleções ao subjetivo e ao status quo de seus colecionadores. Exemplo

4 Mnemósine é a deusa grega da memória e era considerada poderosa, pois, a memória é considerada um dom que diferencia

os humanos dos demais seres vivos. Esse dom que permite representar, entre outros aspectos, a possibilidade de raciocinar

para prever e antecipar os resultados durante a vida, base para a civilização. Mnemósine era filha da primeira geração de

divindades na Grécia, tendo como pais Urano e Gaia. Existem poucas histórias sobre ela, sendo mencionada apenas em

alguns poemas antigos que relatam sua bondade com a humanidade. Após Zeus ter vencido a guerra contra seus inimigos

(Titãs) e se estabelecido como o líder dos deuses, preocupava-se com o esquecimento de suas decisões e feitos. Para

preservar a memória de suas ações se vestiu como um pastor e foi encontrar Mnemósine que durante nove noites teve seu

desejo atendido: meses depois Mnemósine deu à luz a nove filhas, uma para cada noite, conhecidas como as musas.

(FRANCHINI; SEGANFREDO, 2007).

Page 4: Arquitetura da memória: inventário de edificações antigas dos

disso são as coleções ligadas a produções de obras de arte (quadros, afrescos, estatuas e

estatuetas, livros, joias e bens exóticos oriundos de regiões como a Ásia, África e América

entre outros) onde o acesso era restrito a uma elite ligada à nobreza e o clero.

Especificamente essas coleções estavam representavam não só os objetos na sua

integralidade, mas aspectos que despertavam em seus pares sentimentos atrelados a cores,

sons, cheiros, etc. Pontualmente, essas coleções poderiam ser consideradas como

“dispositivos para a memória”, responsáveis direta e indiretamente pela revitalização da

mesma. Por fim, as coleções podem ser caracterizadas, por excelência, o método mais

contundente de manter lembranças, repassadas de geração para geração.

O surgimento dos gabinetes de curiosidade e sua gama diversificada de objetos,

posteriormente veio proporcionar o surgimento dos primeiros museus na Europa e mundo

afora. Na Europa, entre os séculos XV a XVI, as coleções e seus respectivos acervos, ganham

novo impulso através do advento do movimento renascentista desencadeando, entre outros

fatores, profundas mudanças nas áreas do conhecimento como política, religião, economia,

etc.

Fatos como o surgimento da imprensa por Gutemberg em 1440, a chegada dos

portugueses ao Cabo Bojador na costa do Continente Africano em 1434 e o descobrimento de

um novo continente em 1492 (denominado posteriormente com Continente Americano), entre

outros acontecimentos, proporcionariam a ampliação das coleções e uma revitalização dos

acervos, em um olhar mais apurado pelo homem da época sobre os objetos: o homem nesse

período apresenta um aperfeiçoamento de sua visão através de novos conhecimentos

científicos e humanistas, naquilo que alguns estudiosos denominariam posteriormente de

“Iluminismo” (século XVIII).

No entanto, mesmo com a ampliação das coleções e o restabelecimento dos acervos

como campo de pesquisas, seu acesso estava vinculado, pelo menos até fins do século XVIII,

a nobres e parte do clero, sendo restritos a maioria da população em geral. Contudo, a partir

do advento da Revolução Francesa em 1789, as coleções e os acervos começam deixar de

lado esse caráter elitista e passam por uma democratização. Ou seja, se antes estavam ligados

apenas a uma pequena parcela da sociedade, agora estariam à disposição, ainda que de forma

tímida, há diferentes segmentos da sociedade. O acesso de forma diversificada das coleções e

acervos resultaria a ampliação de estudos, os quais privilegiariam desde a natureza dos

objetos que os compunham, até as concepções cientificas vinculada a formação dos mesmos.

Page 5: Arquitetura da memória: inventário de edificações antigas dos

Mais tarde, nos anos novecentos (século XIX de 1800 a 1900), as coleções e os

acervos veem contribuir de forma significativa junto aos movimentos nacionalistas europeus.

Isto é: apresentavam-se como forma de reunir e preservar objetos e materiais ligados a

grandes líderes políticos, com o objetivo de despertar o sentimento de nacionalidade frente

aos seus respectivos públicos. Exemplo disso foi, entre outras constatações, a produção

sistemática de estátuas e estatuetas, por diversas nações, representando heróis de batalha e

chanceleres num fato conhecido por alguns estudiosos como estatuonamia: produção material

focada nas particularidades ligadas a personagens históricos enaltecendo aspectos como

política, economia, campanhas de guerra e outras particularidades.

Passado a efervescência dos movimentos nacionalistas europeus no século XIX, a

primeira metade do século XX, vislumbra-se as primeiras legislações ligadas às coleções e os

acervos, desencadeando, de forma clara, as primeiras concepções ligadas ao ramo da

Museuologia5. Como exemplo disso, pode-se citar a criação do Conselho Internacional de

Museus (ICOM) um ano após o término da Segunda Guerra Mundial, em 1944. A criação

ICOM esteve pautada no objetivo de regulamentar os acervos nos museus da Europa em

espaços aberto ao público e, ao mesmo tempo, como um campo de investigação sobre as

evidências materiais deixadas pelo homem. O ICOM, através do seu conselho internacional,

regulamentou não só os tramites ligados aos museus europeus, mas serviu de base para os

futuros museus mundo afora.

A atuação do conselho internacional do ICOM trouxe para os museus novas luzes

tanto no que tange as iniciativas referentes ao surgimento de novos acervos, como também a

valorização e preservação dos acervos de longa data. O ICOM veio estabelecer normas para

que os museus, através de seus respectivos acervos, meios de comunicar ao público as

evidências materiais das gerações passadas em ações lúdicas ligadas ao processo de ensino e

aprendizagem denominado atualmente como Educação Patrimonial6. Assim, novos e acervos

de longa data, contam atualmente com o respaldado de um conjunto de leis e decretos,

especificando o que deve ser um museu.

5 De acordo com Araújo (2012) a museologia pode ser estabelecida como campo de práticas e conhecimentos históricos

milenares. Constituída cientificamente recentemente, um pouco mais de um século, o autor esclarece que a museologia

engloba conhecimentos oriundos de diversas áreas e disciplinas científicas, conformando um quadro de conhecimento plural. 6 Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico e Nacional (IPHAN), Educação Patrimonial são todos os processos

educativos que primem à construção coletiva do conhecimento entre os agentes sociais na participação efetiva das

comunidades detentoras do patrimônio cultural. Fonte: http://portal.iphan.gov.br. Acesso em: 25/05/2016.

Page 6: Arquitetura da memória: inventário de edificações antigas dos

No Brasil, o surgimento dos primeiros museus vai seguir a mesma trajetória europeia,

apresentando influências tanto no que se refere às ações de conservação e preservação dos

acervos, tanto pela legislação vigente sobre os mesmos. As primeiras iniciativas ligadas à

temática de museus são atreladas com a vinda da família da Família Real Portuguesa em

1808. Após a chegada da família, há o ponta pé para a aplicação de um conjunto de ações que

veio reestruturar os aspectos citadinos de cidades como Salvador e Rio de Janeiro para

atender as exigências culturais ligadas a nobreza portuguesa.

Dessa reestruturação resulta-se, entre outras iniciativas, o surgimento do Museu Real,

criado em 1818, conhecido atualmente como Museu Nacional. O surgimento do Museu Real

vai desencadear o surgimento de outros museus no Brasil com renome internacional como

Museu do Exército, criado em 1824, o Museu da Marinha, criado em 1868, o Museu

Paranaense no Estado do Paraná em 1876, o Instituto Histórico e Geográfico da Bahia no ano

de 1894 e em 1894 o Museu do Ipiranga.

No entanto, é somente no ano de 2009, com a promulgação da Lei 11.906, juntamente

com o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), meios de assegurar, entre outras funções, a

implementação de políticas públicas específicas aos museus no Brasil. Segundo a lei, é

considerando como instituição museual “os centros culturais [...] que possuem acervos e

exposições abertas ao público, com o objetivo de propiciar a ampliação [...] identitária, a

percepção crítica da realidade cultural brasileira, o estímulo à produção do conhecimento e à

produção de novas oportunidades de lazer [...]”. (Art. 3º, § 1. Fonte:

http://www.planalto.gov.br/ccivil03/Ato2007-2010/2009/Lei/L11904. Acesso em:

27/05/2016).

Arquitetura da memória: inventários das casas antigas no oeste catarinense

“Arquitetura da memória: inventário de edificações antigas dos municípios de Campo

Erê, Cunha Porã, Pinhalzinho, São Carlos e Saudades, foi um projeto de pesquisa

apresentado pelo Museu Histórico de Pinhalzinho ao Edital Elisabete Anderle de Estímulo a

Cultura, no ano de 2013. Edital promovido anualmente pela Fundação Catarinense a Cultura

(FCC), órgão vinculado à Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte de Santa Catarina. Edital

tem como objetivo, entre outras intenções, de premiar ações ligadas ao âmbito da cultura

catarinense como forma de reconhecimento e fomento da área cultural.

Page 7: Arquitetura da memória: inventário de edificações antigas dos

O projeto teve como principal objetivo pesquisar, identificar, mapear e inventariar

casas antigas (construídas entre as décadas de 1940 e 1960) nos municípios catarinenses de

Campo Erê, Cunha Porã, Saudades, Pinhalzinho e São Carlos. A escolha desses municípios se

deve ao contexto histórico de emancipação política e administrativa de ambos, os quais

apresentam características remanescentes do processo de colonização ocorrido na região oeste

catarinense. Processo que envolveu, na sua grande maioria, caboclos e descendentes de

italianos e alemães.

A pesquisa foi dividida em suas etapas, a saber: 1) pesquisa de campo e compilação

das informações e compilação das imagens e informações colhidas durante a pesquisa de

campo. Durante a primeira etapa as ações foram representadas pela identificação, por meio de

pesquisa de campo, de residências construídas no período (recorte temporal) proposto pelo

projeto e a relevância histórica em que ambas tiveram no processo de emancipação dos

municípios citados. Especificamente houve iniciativas como a elaboração de entrevistas orais

(39 no total) com o consentimento dos depoentes7, produção fotográfica e audiovisual (20

casas), mais levantamento bibliográfico. Essas ações foram previamente agendadas visando

investigar o contexto em que as casas foram construídas, as técnicas de construção utilizadas e

as memórias dos moradores que a elas estão vinculadas. Nessa essa etapa houve também a

colaboração de diferentes setores da sociedade dos municípios envolvidos (lideranças

comunitárias e agentes ligados às instituições culturais), no âmbito de identificar as moradias

relacionadas com a proposta do projeto.

Após deu-se início a segunda etapa, com a catalogação e descrição histórica de cada

habitação, reunindo informações de forma sistemática, resultando em: 1) Exposição itinerante

com 25 painéis evidenciando as principais imagens e trechos dos depoimentos relacionados às

casas; 2) Catálogo contendo informações históricas, dados geográficos, imagens e trechos dos

depoimentos orais; 3) Oficinas com professores da rede de ensino público/particular, mais

ações educativas de Educação Patrimonial nos cinco municípios envolvidos no projeto; 4) E

por fim, socialização com a comunidade em geral com o objetivo de proporcionar a

possibilidade de estudar, conhecer e identificar as representações do Patrimônio Cultural

Material em habitações edificadas dentro do processo de colonização da região oeste

catarinense. A elaboração desse material (Painéis fotográficos e catálogo) veio contribuir para

7 Ver anexo C modelo de autorização utilizado pela equipe do Museu Histórico de Pinhalzinho para a realização da pesquisa

de campo.

Page 8: Arquitetura da memória: inventário de edificações antigas dos

a difusão do conhecimento histórico dos municípios envolvidos no projeto de pesquisa

(Campo Erê, Cunha Porã, Pinhalzinho, São Carlos e Saudades) e da região oeste catarinense,

identificando vivências/experiências dos personagens envolvidos.

Em relação ao item 3 e 4 do paragrafo anterior, ações de socialização do projeto e seus

resultados, verificou-se uma ótima ressonância com a comunidade em geral, principalmente

com a rede de ensino escolar em diferentes áreas de conhecimento. Abaixo apresenta-se

algumas imagens das oficinas de Educação Patrimonial realizadas nas dependências do

Museu Histórico de Pinhalzinho, com alunos da rede de ensino básico do município de

Pinhalzinho/SC.

As oficinas estiveram pautadas no exercício de observação/reflexão sobre os painéis

fotográficos, mais aula expositiva elencando as etapas do projeto e a importância da iniciativa

no contexto contemporâneo. Para maior interação dos alunos durante a ação educativa,

verificou-se também a necessidade da apresentação de algumas ferramentas de trabalho de

época, ligadas a carpintaria, como forma de proporcionar melhor percepção dos alunos em

questões como tempo de construção e técnicas utilizadas para a feitura das casas, questões

topográficas (clima, relevo e vegetação), memória e história, entre outras questões.

Imagem I – Exposição e ferramentas de trabalho na ação educativa (Educação

Patrimonial) com alunos do ensino fundamental

A imagem revela a exposição das seguintes ferramentas: Cunha em ferro fundido, Enxó, Formão em ferro

fundido, Marreta de dois quilos em ferro fundido, Puá e Serrotes. Fonte: acervo fotográfico digitalizado do

Museu Histórico de Pinhalzinho. Pinhalzinho/SC, 2016.

Page 9: Arquitetura da memória: inventário de edificações antigas dos

Imagem II – Ação educativa (Educação Patrimonial) com alunos do ensino fundamental

Aqui a imagem mostra atividade pautada na observação/reflexão de painéis fotográficos, mediadas pelo

professor/monitor do Museu Histórico de Pinhalzinho. Fonte: acervo fotográfico digitalizado do Museu

Histórico de Pinhalzinho. Pinhalzinho/SC, 20162.

Imagem III – Ação educativa (Educação Patrimonial) com alunos do ensino

fundamental

Após a mediação do professor/monitor do Museu Histórico de Pinhalzinho, os alunos são instigados a fazer o

exercício de observação, apontamentos os conhecimentos assimilados. Fonte: acervo fotográfico digitalizado

Museu Histórico de Pinhalzinho. Pinhalzinho/SC, 2016.

Page 10: Arquitetura da memória: inventário de edificações antigas dos

Imagem IV– Ação educativa (Educação Patrimonial) com alunos do ensino médio

Na imagem observa-se ação educativa com aula expositiva elencando as etapas do projeto e a importância da

iniciativa no contexto contemporâneo. Fonte: acervo fotográfico digitalizado do Museu Histórico de

Pinhalzinho. Pinhalzinho/SC, 2016.

Considerações finais

Este texto procurou descrever de forma breve ações desenvolvidas pelo Museu

Histórico de Pinhalzinho vinculadas ao projeto de pesquisa intitulado “Arquitetura da

Memória: inventário de edificações antigas dos municípios de Campo Erê, Cunha Porã,

Pinhalzinho, São Carlos e Saudades”. Projeto de pesquisa considerado e relevância, pois

aborda, através de fotografias, municípios que apresentam aspectos históricos bem distintos

no processo de colonização da região oeste catarinense, onde suas emancipações, ocorridas

entre as décadas de 1940 3 1970, culminou na formação de uma sociedade multicultural com

a presença na sua grande maioria, caboclos e colonos descendentes de italianos e alemães.

Ainda em relação os municípios citados no projeto, observa-se uma estrutura física

atual, tanto na área urbana como no meio rural, grande número de moradias de madeira

produzidas por pessoas onde o principal ofício para época se resumia na carpintaria. Oficio

que aproveitando os recursos materiais de um contexto onde a matéria-prima em abundância

provinha de árvores de grande porte, ajudou a criar moradias com estilos próprios, capaz de

expressar uma cultura rica e singular. O carpinteiro era o único que dominava as técnicas e

sistemas de construção precisas e a fusão do “saber/fazer”, adquiridos de forma gradativa,

Page 11: Arquitetura da memória: inventário de edificações antigas dos

desenvolvendo-se na prática, a partir das trocas de informações com outros saberes oriundos

de grupos como indígenas e caboclos.

Por essa razão, o projeto de pesquisa apresentado ao Edital Elisabete Anderle de

Estímulo a Cultura, edição de 2013 e viabilizado pela Fundação Catarinense de Cultura

(FCC), proporcionou além de seus produtos (cartilha e painéis fotográficos) a ampliação do

acervo (oral e fotográfico) do Museu Histórico de Pinhalzinho. A ampliação do acervo do

museu veio contribuir também, de forma significativa, para o desenvolvimento de ações

ligada a Educação Patrimonial, voltadas a rede de ensino de diferentes áreas de conhecimento

e a certificação da instituição como espaço de pesquisa e auxílio acadêmico.

Page 12: Arquitetura da memória: inventário de edificações antigas dos

REFERÊNCIAS:

ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. Museologia: correntes teóricas e consolidação científica.

Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio do

Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio (PPG-PMUS) da Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UNIRIO), vol. 5, n. 2, p. 31-54, 2012.

DEVALLÉS, André; MAIRESSE, François. Conceitos-chave de museologia. Bruno Brullon

e Marilia Xavier Cury, tradução e comentários. Florianópolis: Fundação Catarinense de

Cultura (FCC), 2014.

FRANCHINI, A. S.; SEGANFREDO, Carmen. As 100 melhores histórias da mitologia:

deuses, heróis, monstros e guerras da tradição greco-romana. Porto Alegre: L&PM, 2007.

JULIÃO, Letícia. Apontamentos sobre a História do Museu. Caderno de diretrizes

museológicas. Brasília: Ministério da Cultura, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional (IPHAN), Departamento de Museus e Centros Culturais, Belo Horizonte: Secretaria

de Estado da Cultura/ e Superintendência de Museus, 2006. 2º Edição.

ZANI, Antônio Carlos. Arquitetura em madeira. Londrina/PR: EDUEL, 2013.

SITE CONSULTADO:

http://www.planalto.gov.br/ccivil03/ato2007-2010/2009/Lei/L11906.htm.

http://portal.iphan.gov.br.

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Anexo A

Page 14: Arquitetura da memória: inventário de edificações antigas dos
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Anexo B

Page 16: Arquitetura da memória: inventário de edificações antigas dos
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Anexo C- Modelo de autorização utilizado durante a realização da pesquisa de campo

no projeto de pesquisa “Arquitetura da Memória: inventário de edificações antigas dos

municípios de Campo Erê, Cunha Porã, Pinhalzinho, São Carlos e Saudades”.

A U T O R I Z A Ç Ã O

Eu, _____________________________________________________, portador (a) da cédula

de identidade nº ______________________, autorizo a gravação em vídeo da imagem e depoimentos

bem como a veiculação da imagem e depoimentos em qualquer meio de comunicação para fins

didáticos, de pesquisa e divulgação de conhecimento científico sem quaisquer ônus e restrições.

Fica ainda autorizada, de livre e espontânea vontade, para os mesmos fins, a cessão de

direitos da veiculação das imagens e depoimentos não recebendo para tanto qualquer tipo de

remuneração.

____________________________/SC, _______________ de 20___.

Assinatura do (a) responsável legal ___________________________________.